Revista RD Ideias Educação

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REPÓRTER DIÁRIO 2º Ciclo de Palestras Novembro 2011 EDUCAÇÃO REGIONAL desafios e oportunidades

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REPÓRTER DIÁRIO2º Ciclo de PalestrasNovembro 2011

EDUCAÇÃO REGIONALdesafios e oportunidades

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Índice

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RD Ideias é uma publicaçãodo Jornal Repórter Diário

Jornalista responsável: Airton Resende

Edição:Maria do Socorro Diogo

Reportagem: Aline Bosio, Carolina Neves, Larissa Marçal, Leandro Amaral, Tiago Oliveira e Rafael Nunes

Comercial:Claudia Plaza e Eduardo Bonelli Martins

Fotos: Marciel Peres, Carolina Neves e Divulgação

Projeto gráfico:Rubens Justo

Editoração eletrônica:Flória Napoli

Endereço:Rua Álvares de Azevedo, 210 - Centro - Santo André

Telefones: 4427-7800 - 4436-3965

www.reporterdiario.com.br

Impressão: Logus Gráfica

Capa: Lucas Carbhiaki Prudente - aluno do ensino fundamentalEMEIEF Professor José Lazzarini Junior, de Santo André.

CARTA AO LEITOR Educação tem de ser prioridade

PONTO DE VISTA Plano Nacional de Educação e o ABCD paulista

ENTREVISTA Haddad defende união de forças para Educação

DEBATE Ciclo de Palestras RD debate futuro da Educação no ABCPelo segundo ano consecutivo o Repórter Diário reuniu especialistas do governo e da sociedade civil para debater assuntos de interesse da região.

PNE Plano Nacional de Educação busca evitar erros do passadoProjeto de lei 8.035/2010 no Congresso Nacional traça 20 metas e várias diretrizes que, aprovado, promoverá grandes mudanças na área de Educação até 2020.

PROJETO Plano Regional pode ser mais adequadoAs diretrizes do PNE são únicas para todos os municípios brasileiros, porém parte das metas já foi alcançada em algumas cidades e no ABC a proposta é criar um modeloexclusivo para a região.

PROFESSORAo mestre com carinho?Considerada um dos principais pilares de sustentação nacional, a profissão de professor hoje é uma das mais desvalorizadas no Brasil. Baixos salários, perda de autoridade e falta de atualização alimentam o ‘apagão’ de novos profissionais.

INCLUSÃOABC desperdiça bolsas do Prouni Auditoria do TCU indica que 30% das 919 mil vagas abertas no Prouni até 2011não foram preenchidas; no ABC o índice não é muito diferente.

INADIMPLÊNCIALei do calote está na berlinda Dirigentes de escolas privadas reclamam dos prejuízos da lei nº 9.870/1999, que permite aos estudantes inadimplentes a permanecerem na escola até o final do contrato.

PAISExcesso de liberdade à criança desafia educadores Profissionais de educação da área de comportamento aponta o reflexo escolar do distanciamento dos pais sobre a transmissão de valores aos filhos.

MEIO AMBIENTEEducação ambiental começa com os pequenos Antes tratada superficialmente, a Educação Ambiental ganhou espaço fixo na sala de aula, apesar da crítica de que o modelo está ultrapassado.

TRABALHOMercado de trabalho necessita de líderesPara dirigentes do mundo corporativo, o estudante que consegue aprender na prática tem grande diferencial no mercado de trabalho, hoje carente de líderes.

32º Ciclo de Palestras

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REPÓRTER DIÁRIO

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Airton Resende

Diretor de

Redação do jor nal

Repórter Diário

O Brasil subiu para a 84ª posição entre os

187 países no ranking 2011 do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), na avaliação

do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD). O índice varia de 1 a

0, do país mais desenvolvido para o menos

desenvolvido, e mede as condições de saúde,

educação e renda de cada local. O IDH do Brasil

passou de 0,715 em 2010 para 0,718 em 2011, o

que nos mantém na categoria dos países com

desenvolvimento humano alto. A Noruega, com

índice de 0,943, lidera o ranking e o Congo é o

lanterninha, com IDH de 0,286.

Apesar da evolução, o Brasil perde até

mesmo para seus irmãos latino-americanos.

O Chile está em 44º lugar, Argentina em 45º,

Uruguai em 48º e Cuba em 51º. A renda

nacional bruta per capita puxou o ranking,

com crescimento de 39%. No quesito

educação, os dados não mudaram e indicam

que o Brasil tem muita lição a fazer na área. A

média de anos de escolaridade é de 7,2 anos,

contra 12,6 anos da Noruega.

Mais que reflexão, o resultado requer ações

imediatas, concretas. O Plano Nacional de

Educação, que está a caminho, pode ajudar o

Brasil a galgar melhores índices. O PNE ainda é

projeto de lei, mas está na agenda do País para

ser aprovado e, principalmente, ser cumprido

em todas as suas 20 metas e inúmeras diretrizes.

Isso se quisermos crescer de fato. O Brasil está

atrasado há décadas em educação e depende, e

muito, do plano para evoluir, ser respeitado

enquanto nação e ser competitivo

economicamente.

De tão importante, o PNE norteou o nosso 2º

Ciclo de Palestras, em outubro.

Em quatro painéis, trouxemos à discussão os

Educação temde ser prioridade

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Carta ao Leitor

principais gargalos e oportunidades na

Educação regional. Com suporte do Consórcio

Intermunicipal Grande ABC e do Centro

Universitário Fundação Santo André, o debate

reuniu especialistas e cinco secretárias de

Educação do ABC. Entre outros resultados,

nasceu a proposta de criação do Plano de

Educação Regional.

Ideia ousada sim, mas necessária para garantir o

sucesso do PNE na região. Propostas assim

tivessem sido feitas no passado o Brasil já estaria

em melhores patamares no IDH. É preciso

acreditar que é possível ir além e correr atrás. Os

municípios unirem-se na adoção de ações

comuns, seguirem os exemplos que deram

certo, aproveitarem as oportunidades e

acabarem com os gargalos.

Os professores é um deles. Importante referência

na vida de qualquer criança, a categoria precisa

novamente ser valorizada em seus salários e

receber capacitação permanente. Os mestres

precisam urgente voltar a ser respeitados antes

que o Brasil sofra um apagão de novos

profissionais. Como nos disse o professor Enio

Borba Carti, numa excelente reportagem sobre o

assunto, estamos no subsolo do poço.

O IDH do Brasil também poderia ser melhor se

as bolsas do Prouni não fossem tão

desperdiçadas pela simples falta de

comunicação do sistema com as escolas em

estimular os nossos jovens a ingressarem nas

universidades e atenderem, com qualidade, as

necessidades do crescente mercado de trabalho,

tão carente hoje de profissionais qualificados.

A Educação precisa ser de fato prioridade para

todos nós se quisermos subir bons degraus no

ranking do IDH em 2012. E o ABC tem todas as

condições de ajudar o Brasil neste desafio.

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O Brasil vive hoje uma nova etapa em

sua história. As políticas sociais e eco-

nômicas implementadas nos últimos oito

anos pelo governo do ex-presidente Lula,

com continuidade pela presidente Dilma,

ajudaram a reduzir a desigualdade e oferecer

novas oportunidades para milhões de brasi-

leiras e brasileiros.

A expectativa para os próximos anos é de

consolidação destas conquistas e do aperfei-

çoamento de diversas políticas públicas volta-

das à garantia dos direitos sociais. O País

emerge para um futuro promissor

que exigirá de seus cidadãos um

novo compromisso para seu

desenvolvimento.

A educação, como direito bási-

co, tem tido no novo cenário

avanços importantes, que vão

além do debate da expansão e da

garantia de vaga a cada cidadão

em idade escolar ou fora dela. Se

no passado tínhamos a necessidade de

ampliar o acesso de nossas crianças e jovens

à escola, atualmente nos debruçamos sobre

o desafio de dar mais qualidade ao ensino

público e valorizar os professores, cuja profis-

são foi historicamente sendo precarizada.

A agenda nacional, que tem sido constru-

ída, parece priorizar essa questão e está

expressa no PL 8.035/2010 do Plano Nacional

de Educação (PNE), em debate na Câmara

Federal. Através de 20 metas e 185 estraté-

gias, traça um novo rumo da educação nacio-

nal para os próximos 10 anos.

A mobilização em torno dos recursos a

serem destinados ao setor tem ganhado

força e toda a sociedade civil já debate a

Plano Nacional de Educaçãoe o ABCD paulista

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Ponto de Vista

necessidade de aumentar o volume de recur-

sos investidos. Movimentos sociais propõem

a modificação da meta prevista no projeto

original de investimento de 7% do PIB para

10% até o fim desta década. Impossível?

Parece que não.

Nos últimos anos os recursos destinados à

educação vêm num ritmo crescente que nos

remete a um estado de alerta positivo. Em

2003, a área contava com orçamento de R$ 19

bilhões. Em oito anos o volume mais que tripli-

cou e chegou a R$ 60 bilhões em 2010.

Portanto, o momento é de mobi-

lização em torno da discussão para

vislumbrarmos um país que está na

iminência de se transformar numa

grande potência econômica. E o

investimento em educação, além

de estratégico, é fundamental para

atingirmos essa condição.

A região do ABCD paulista, como

uma das maiores e entre as mais

importantes regiões do Brasil, não pode ficar à

margem do debate. O Consórcio Intermunicipal

Grande ABC, por meio do Grupo de Trabalho da

Educação, tem pautado essa questão e propõe

a elaboração de um plano regional de ações

para os próximos 10 anos que, em sintonia com

esse novo Brasil, invista cada vez mais em políti-

cas de educação.

Ampliarmos a cobertura da educação infantil,

entendida como fase importante para o sucesso

escolar de nossas crianças, e melhorar a qualida-

de de nossas escolas com mais investimentos na

formação e carreira dos professores que transi-

tam entre as sete cidades da região são ações

fundamentais para o avanço do ABCD paulista. A

hora é essa, não percamos mais tempo!

Por Lucia Couto (*)

Lucia Couto (*) é secretária de Educação de Diadema e coordenadora do Grupo de Trabalho da Educação do Consórcio Intermunicipal Grande ABC

“A região não

pode ficar à

margem do

debate”

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Entrevista

Fernando Haddad está no Ministério da

Educação há oito anos, primeiro como

secretário executivo e depois como titular da

Pasta, cargo que exerce desde julho de 2005.

Prestes a deixar o posto para embarcar na

empreitada eleitoral da disputa pela Prefeitura

de São Paulo, o ministro salienta que os gover-

nos Lula e Dilma são os primeiros autorizados a

afirmar que promoveram avanços significativos

na educação brasileira, não apenas no aspecto

quantitativo, mas principalmente na dimensão

qualitativa. “Desde o governo Lula e agora com

a presidenta Dilma Rousseff, o Brasil promove a

maior reforma educacional que este País já viu.

As gerações futuras irão colher os benefícios do

que estamos realizando hoje”, diz.

Entre as iniciativas na Pasta, Haddad destaca

o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego). Voltado às escolas

federais e técnicas, o programa visa expandir e

democratizar a oferta de cursos técnicos e pro-

fissionais de nível médio e de cursos de forma-

ção inicial e continuada para trabalhadores. “O

Pronatec vai fazer história”, acredita.

Outra intervenção citada por Haddad é o

Plano Nacional de Educação que, ainda está

longe de ser aprovado. Com mais de 3 mil

emendas, o projeto tramita no Congresso. O

Plano, com objetivos a serem alcançados até

2020, traz duas metas relacionadas à formação

de professores, um dos principais gargalos: a

garantia, em regime de colaboração entre a

União, Estados e Municípios, de que todos os

professores da educação básica passem a ter

formação específica de nível superior, e a diplo-

mação de 50% dos professores da educação

básica em nível de pós-graduação lato e stricto

sensu, além da garantia a todos de formação

continuada na área de atuação.

Haddad defende uniãode forças para Educação

“Gerações futuras

irão colher os

benefícios do que

realizamos hoje”

Fernando Haddad

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Segundo dados de 2009, do MEC, o Brasil

contou com 270 mil licenciados, número acima

dos 100 mil necessários para a reposição dos

quadros nas escolas. “O problema é saber por

que esses novos professores não exercem a

profissão?”, questiona o ministro.

Fernando Haddad ressalta que o PNE pro-

põe a equiparação salarial do professor com a

remuneração média das demais carreiras com

mesmo nível de escolaridade até 2020. Os pro-

fissionais do magistério público são a primeira

categoria a ter piso salarial nacional definido na

Constituição Federal. O ministro é favorável ao

PNE Regional proposto no Ciclo de Palestras RD

Ideias Educação.

Sobre as polêmicas envolvendo o ENEM

(Exame Nacional do Ensino Médio), Haddad

acredita que problemas pontuais surgidos nos

últimos três anos não representam entraves. Ao

contrário, o ministro aposta que as qualidades

da prova devem se sobressair a ponto de extin-

guir o vestibular. Em 2009, houve vazamento

de conteúdo na gráfica que pertence ao Grupo

Folha e a prova do ENEM foi adiada. Em 2010,

houve erros de impressão de cadernos de per-

guntas. Ano passado, 14 questões vazaram

numa escola de Fortaleza, capital cearense.

RD Ideias: O Repórter Diário promoveu

em outubro último um ciclo sobre Educação e

um dos palestrantes sugeriu que o ABC faça

um plano regional. O senhor concorda?

Fernando Haddad: Se os Estados e

Municípios começarem um debate sobre os

seus próprios planos, não vai acontecer o que

ocorreu com o plano anterior, que foi aprova-

do, mas não houve mobilização para aprova-

ção dos planos estaduais e municipais. E a

educação básica é estadual e municipal. Não é

federal.

RD Ideias: A saída do Ministério, por conta

da candidatura, não vai prejudicar o andamen-

to dos projetos?

Haddad: O principal projeto era o Pronatec

que foi aprovado e sancionado, pois era a pre-

ocupação não deixar o Ministério antes da

aprovação. Também tem a probabilidade de

votação importante da lei que cria empresa

pública de hospitais universitários, que está

bem encaminhada. Tem também a lei de car-

gos para as universidades federais, que é preo-

cupação dos reitores para que a expansão não

sofra nenhum problema, além, evidentemente,

do Plano Nacional de Educação, que tem pers-

pectiva de ser votado em 2012.

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RD Ideias: O senhor tem dito que o Pronatec

fará história. Por quê?

Haddad: O Pronatec prevê a expansão das

escolas técnicas federais, o apoio federal aos

governos estaduais que quiserem ampliar sua

rede própria de escolas técnicas, como é o

caso do Centro Paulo Souza aqui em São Paulo;

as parcerias com o Senai e Senac para que

ampliem suas atividades, sobretudo voltadas a

estudantes do ensino médio; e ao trabalhador

desempregado, para que ele possa se qualifi-

car e ocupar vaga no mercado de trabalho. O

programa é muito abrangente e dialoga bas-

tante com a agenda dos trabalhadores.

RD Ideias: Qual a situação das escolas técni-

cas federais?

Haddad: Pouca gente sabe que havia lei da

época do Fernando Henrique Cardoso proibin-

do a expansão da rede federal de educação

profissional. O Congresso tinha aprovado uma

lei que restringe a capacidade de ampliar a

rede própria. Isso vigorou de 1998/2004, quan-

do foi revogada pelo presidente Lula. A partir

de 2005 nós damos impulso ao maior progra-

ma de expansão na rede federal de educação

profissional com a inauguração de 214 escolas

técnicas em todo País. A presidente Dilma lan-

çou o plano de novas 208 escolas técnicas.

Estamos falando de 422 unidades de educação

profissional. Durante um século foram constru-

ídas apenas 140 escolas. São Paulo, que tinha

apenas três, já tem 30 e o objetivo é chegar a

38 até 2014. Esse programa vai ser uma das

grandes marcas do governo Dilma.

RD Ideias: Os jovens serão beneficiados de

que forma?

Haddad: O Pronatec prevê investimentos

de R$ 2 bilhões na oferta de bolsas-formação

para alunos do ensino profissionalizante até o

final de 2012. Com isso, será possível garantir

educação de tempo integral aos jovens que

frequentam o ensino médio, com o cumpri-

mento do currículo normal somado ao ensino

de profissão em outro período. A bolsa-forma-

ção está prevista no Pronatec e a ideia é que as

bolsas cubram todos os custos referentes ao

curso, além do transporte e alimentação dos

estudantes.

RD Ideias: Os professores reclamam da

baixa remuneração. Isso vai mudar?

Haddad: Se eu fosse apontar as metas que

mais dialogam com os principais problemas da

educação brasileira, diria que são as metas rela-

cionadas ao magistério, no que diz respeito à

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Estudantes fazem o

Exame Nacional do

Ensino Médio, que

colocará 1 milhão

de jovens na

universidade, apenas

com o Prouni

formação e à remuneração. Sabemos que o

magistério brasileiro tem remuneração 60%

da média das demais profissões com nível

superior. Se quisermos valorizar a educação,

não há como dissociar a modernização da

educação da valorização daqueles que são

responsáveis pela área. Temos meta específi-

ca, que também conta com estratégicas

específicas de equalizar a remuneração

média do professor vis-a-vis a remuneração

média com nível superior.

RD Ideias: Mesmo com os problemas nas

últimas edições, o senhor defende o formato

do ENEM?

Haddad: Quem é contra o ENEM, penso

que está errado, de se colocar contra um pro-

grama que beneficiou tantas pessoas. Só

com o ProUni (Programa Universidade para

Todos), o ENEM colocará 1 milhão de jovens

de baixa renda na universidade. O crime se

combate com polícia, inquérito e investiga-

ção. Nós não podemos partidarizar um exame

que todo o País tem desenvolvido. As pesso-

as conseguem discernir esses episódios pon-

tuais, dois dos quais foram criminosos, o

roubo da prova na gráfica em 2009 e a divul-

gação das questões do pré-teste em 2011.

RD Ideias: O senhor defende o fim do ves-

tibular?

Haddad: É preciso acabar com o vestibular,

que é um grande mal que se fez à educação

brasileira, porque você não organiza o ensino

médio com cada instituição fazendo um pro-

grama de vestibular diferente. O ENEM é o

que há de mais moderno no mundo e tem

problemas em diversos países, mas temos de

aprender a enfrentar esse negócio. O paulista-

no tinha 10 mil vagas na USP, com 75% dessas

vagas preenchidas por alunos da escola parti-

cular. Agora o jovem de escola pública tem

150 mil bolsas do Prouni e 150 mil bolsas das

federais fazendo o ENEM em São Paulo.

Mudou a vida dele.

RD Ideias: Mas sem o vestibular, conti-

nuaria apenas com uma edição do ENEM

por ano?

Haddad: Se nós tivermos mais de uma

edição, teremos menos atropelos, mais par-

ceiros, mais empresas interessadas em traba-

lhar com o sistema público. Com mais de uma

edição por ano do ENEM, o número de inscri-

tos em cada prova seria menor. O aluno vai

fazer mais de um exame por ano, isso vai ser

bom, vai gerar menos angústia.

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Debate"Estamos no rumo certo, só falta avançar na qualidade”

MÁRIO REALI

ODUVALDO CACALANO

AIRTON RESENDE

"As discussões devem deixar a política de lado e olhar o cidadão”

"A mídia deve sempre facilitar o debate para a sociedade”

Ciclo de Palestras RD debate futuro da Educação no ABC

Pelo segundo ano consecutivo, o Repórter

Diário reuniu especialistas do governo e da

sociedade civil para debater assuntos de interes-

se da região, com o 2º Ciclo de Palestras RD –

Educação. O encontro aconteceu no dia 20 de

outubro de 2011, na Fundação Santo André, e

discutiu o tema ‘Construção da Educação Regional

com Olho no Futuro’.

Quatro painéis temáticos - O Plano Nacional

de Educação e os Desafios dos Municípios,

Desafios e Oportunidades da Rede Particular,

Educação e Mercado de Trabalho, e Educação e

Meio Ambiente - sintetizaram, por meio de

especialistas e representantes da área, as grandes

chances de melhoria e os entraves na educação

do Brasil, principalmente, da região.

O encontro contou com a inédita participa-

ção direta de cinco secretárias de Educação do

ABC; além de Mário Reali, prefeito de Diadema e

presidente do Consórcio Intermunicipal Grande

ABC; e Oduvaldo Cacalano, reitor do Centro

Universitário Fundação Santo André, e

atraiu cerca de 200 profissionais e estudantes de

Pedagogia .

O Plano Nacional de Educação (PNE), em

aprovação no Congresso Nacional, dominou as

discussões, porque determinará 20 metas e dire-

trizes a serem cumpridas pela próxima década e

vêm atacar de frente problemas graves na área.

Ao analisarem o PNE frente à realidade do ABC,

os palestrantes aventaram a criação de um Plano

Regional de Educação, com objetivos mais ousa-

dos, como zerar o déficit de 20 mil vagas em cre-

ches nos sete municípios.

Airton Resende, diretor do Repórter Diário,

idealizador do Ciclo, destacou a importância de a

sociedade civil acompanhar os trabalhos no

Congresso, principalmente de temas importan-

tes, como Educação. “Muitas vezes os deputados

têm visão diferente do que a sociedade almeja

2º Ciclo de Palestras RD - Educação

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sobre um assunto, então a mídia precisar dar

sua contribuição. Só assim será possível fazer

com que o cidadão se aproprie do que de fato

é dele e participe, efetivamente, das discus-

sões”, defendeu.

Ao abrir o encontro, Mário Reali, salientou

que o debate promovido pelo Repórter Diário

é oportuno, tendo em vista as discussões que

tangem a importância da qualificação profis-

sional para que o País consiga alavancar o

desenvolvimento.

“Também é importante que todos os atores

envolvidos na Educação em nosso País partici-

pem efetivamente da construção das metas e

diretrizes do PNE. O envolvimento da sociedade

é importante para que tudo que for aprovado

seja, de fato, colocado em prática”, argumentou.

Reali destacou a proximidade com o Ministério

da Educação e os desafios que a região ainda

precisa vencer. “Estamos no caminho certo, só

precisamos evoluir na qualidade”, disse.

Oduvaldo Cacalano, também defendeu o

debate contínuo de assuntos relevantes

como o futuro da Educação, mas fez uma

ressalva. “As discussões devem sempre levar

em consideração o cidadão e deixar a política

de lado”, recomendou.

Secretárias Cleide

Bochixio (Santo

André), Margaret

Freire (Mauá) Lucia

Couto (Diadema),

Cleuza Repulho (São

Bernardo) e Rosi de

Marco (Ribeirão Pires)

participaram do

encontro

O Ciclo de Palestras abriu com o painel ‘O Pla-

no Nacional de Educação e os Desafios dos Mu-

nicípios’ sobre o projeto de lei 8.035/2010, tido

como fundamental para a melhoria na qualida-

de do ensino no País, mas que pode não surtir

um efeito tão visível no ABC.

O sociólogo César Callegari, membro da Câ-

mara de Educação Básica do Conselho Nacional

de Educação, defendeu a criação de um Plano

Regional que contenha metas mais ousadas

se comparadas com as que permeiam o docu-

mento nacional.

“O grande desafio é fazer um trabalho articula-

do pensando o ABC de forma diferente. Por meio

do Consórcio, que já tem experiência em debates

com as sete cidades, é possível desenvolver texto

regional com metas e desafios que vão além do

PNE. Isso é importante, porque a região já atingiu

muitas das metas propostas, então seria neces-

sário adequar estes pontos e até mesmo ampliar

algumas metas”, disse o palestrante.

Entre as ideias de Callegari está o aumento

do percentual mínimo de investimento dos or-

Plano Nacional tem metas ousadas

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çamentos municipais destinados para Educação.

“Se hoje a lei obriga que o mínimo aplicado na

Pasta seja 25%, por que não ampliar para 26% ou

27%? Com certeza a região se destacaria muito

no cenário nacional com este tipo de mudança”,

disse o sociólogo, também diretor do SESI. O pai-

nel foi mediado por Lucia Helena Couto, coorde-

nadora do GT da Educação do Consórcio.

Aplicação do PIB não agrada educadores

O relator do Plano Nacional da Educação na

Câmara dos Deputados, Angelo Vanhoni (PT-PR),

definiu em 8% do PIB (Produto Interno Bruto) a

meta de investimento público na área pelos pró-

ximos 10 anos, o que significa 1% a mais que a

proposta inicial. Atualmente, o Brasil destina 5%

do PIB na Pasta.

“O PNE prevê que a partir de 2016 os alunos

ficarão na escola dos 4 aos 17 anos. Esta mudança

vai exigir investimentos em infraestrutura, expan-

são da rede e salário dos professores. Há a neces-

sidade de aumento de recursos”, defendeu a

secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza

Repulho, também diretora da Undime (União dos

Dirigentes Municipais de Educação). “Acredito

que 10% seria o ideal, mas isso poderia ser

implantado de forma gradual”, sugeriu.

A apresentação do relatório foi adiada diversas

vezes, principalmente no início de dezembro

devido, justamente, a conversas e acordos sobre a

meta de investimento. A maior parte das cerca de

3 mil emendas apresentadas pediam a elevação

do investimento para 10% do PIB.

Profissionais e

estudantes da

área de Pedagogia

deram atenção às

apresentações

“ O grande desafio

é fazer um trabalho

articulado pensando o

ABC de forma diferente “

César Callegari

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Santos Rosa, acredita que formação conjunta

é o caminho ideal para realizar mudanças na

área educacional e formar profissionais

melhores capacitados. “A universidade tem de

interagir com poder público e a comunidade

para acompanhar a demanda”, disse. Para o

educador, o mercado exige inovação cons-

tante. “Precisamos formar o aluno para pensar

no futuro. Porém, não adianta inovarmos o

tempo todo sem pensar no cotidiano ou na

formação do cidadão”, afirmou.

Para atender sempre às necessidades do

mundo corporativo, o Senac (Serviço Nacional

de Aprendizagem Comercial) utiliza pesquisas

realizadas a partir das demandas na elabora-

ção do currículo dos cursos.

Mas a unidade em Santo André esbarra

numa questão anterior aos cursos técnicos:

problemas na formação básica dos alunos.

Glaudisséia Furlan, gerente local, conta que,

embora não seja de sua responsabilidade, a

instituição auxilia os alunos em tarefas nas

quais encontram mais dificuldade. “O poder

público precisa aprimorar muito a formação

básica para que possamos oferecer um ensino

técnico ou superior de melhor qualidade”,

reclamou Glaudisséia.

Não é novidade o enorme benefício da

aproximação entre a academia e o mercado

de trabalho para qualquer nação ter profis-

sionais melhor qualificados e, com isso,

alcançar o desenvolvimento. Porém, a rela-

ção entre as duas partes ainda precisa ser

colocada em prática de forma mais efetiva.

O assunto foi o tema do segundo painel do

Ciclo de Palestras: Educação e Mercado de

Trabalho – Oportunidades x Demandas,

mediado por Margaret Franco Freire, secre-

tária de Educação de Mauá.

José Luis Laporta, coordenador de Eventos

e Concursos do Centro Universitário Fundação

Santo André, alerta que os principais desafios

das instituições de ensino superior são prepa-

rar o jovem para o mercado de trabalho, des-

cobrir qual será a carreira do futuro e adaptar-

se rapidamente às mudanças do mercado.

“Uma pesquisa feita em setembro de 2010

pela Data Popular aponta que 75% dos jovens

concordam que ter um diploma só vale a pena

se o ensino for bom e os prepararam, de fato,

para encarar o mercado lá fora”, aponta.

Com a mesma linha de pensamento, o

pró-reitor de Graduação da UFABC

(Universidade Federal do ABC), Derval dos

Integração com empresas precisa melhorar MARGARET FREIRE

JOSÉ LUIS LAPORTA

GLAUDISSÉIA FURLAN

DERVAL SANTOS ROSA

"Plano Regional pode melhorar a qualidade da Educação”

“Instituições de ensino têm hoje vários desafios frente ao tema”

"Antes de tudo, governo precisa aprimorar a formação básica”

"Formação conjunta é o caminho ideal para mudanças”

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Público e privadode mãos dadas?

Os desafios e as oportunidades das escolas

particulares também fizeram parte do debate

do Ciclo de Palestras. Valmor Bolan, sociólogo e

consultor da Anhanguera Educacional, aprovei-

tou a para criticar a falta de entrosamento entre

o poder público e a iniciativa privada. “Não pre-

cisamos que os deputados apontem como

devemos trabalhar. Precisamos ser ouvidos”,

disse. “Os atores da iniciativa privada precisam

participar efetivamente das discussões acerca

da Educação, porque tais escolas contribuem, e

muito, para o ensino no País”, disse Bolan.

Oswana Famelli, presidente da Associação das

Escolas Particulares do ABC, também defendeu

união. “A qualidade pode avançar muito se o

público e privado derem as mãos”, destacou

durante o painel, mediado por Cleide Bauab Eid

Bochixio, secretária de Educação de Santo André.

Oswana relatou que, apesar da dianteira na

qualidade, a escola particular enfrenta desafios

que podem ser superados com políticas. “O

governo deixa de investir R$ 26 bilhões – valor

estimado de quanto custaria bancar todos os

alunos da rede privada no País. Porém, a cada R$

100 de mensalidade, temos de reservar R$ 46

para pagar impostos”, calculou a dirigente.

Meio ambiente foi assunto de painel

De olho nas futuras gerações e na preserva-

ção do planeta, especialistas apresentaram no

quarto painel do Ciclo exemplos de como

anda a relação entre a Educação e o Meio

Ambiente na região.

A bióloga Sandra Gaspar apresentou alguns

programas desenvolvidos em Santo André,

como o Vivágua, que busca sensibilizar estudan-

tes e educadores para temas relevantes do coti-

diano e relacionados ao meio ambiente, como

água e esgoto, resíduos sólidos e biodiversidade.

Mestre em Administração, Sandra apresentou o

Programa de Formação de Agentes Ambientais

Mirins, que envolve estudantes de sete a 12 anos,

e o Gehidro, voltado à gestão comunitária de

microbacias hidrográficas.

Outra ação de sucesso apresentada foi o pro-

jeto da AES Eletropaulo para Consumo

Consciente de Energia Elétrica. O programa leva

o tema para escolas com objetivo de incentivar o

consumo consciente de energia. “Na hora de

desenvolver um projeto como este é necessário

deixar claro aos alunos que meio ambiente não

se trata apenas de florestas, mas do local onde se

vive”, avaliou Heloisa Melillo, presidente da Melillo,

responsável pela elaboração do programa.

CLEIDE BOCHIXIO

SANDRA GASPAR

VALMOR BOLAN

HELOISA MELILLO

"Se derem as mãos a qualidade pode avançar”

"Temos de sensibilizar para temas do cotidiano”

"Não precisamos que ensinem a trabalhar”

"Precisamos dizer que meio ambiente não é só floresta”

Page 14: Revista RD Ideias Educação

14

Plano Nacional de Educação busca evitar erros do passado

PNE

O projeto de lei do Plano Nacional de

Educação (PL 8.035) apresentado pelo

governo federal em dezembro de 2010 traça 20

metas e uma série de diretrizes para serem aplica-

das na área de Educação até 2020. Esta é a segun-

da versão do plano. A primeira entrou em vigor

em 2001 e também apontava objetivos para os

10 anos seguintes.

Algumas das diretrizes apontadas no novo

PNE são a erradicação do analfabetismo, universa-

lização do atendimento escolar, superação das

desigualdades educacionais e valorização dos

profissionais de Educação.

O texto prevê ainda a melhoria na qualidade

de ensino e promoção de sustentabilidade sócio-

ambiental. Se todas as promessas forem cumpri-

das, a Educação no Brasil pode experimentar uma

melhora significativa. O principal desafio, no

entanto, é sair da teoria para a prática.

O balanço do primeiro PNE mostra que apenas

parte das metas estabelecidas foram alcançadas.

O Ministério da Educação trabalha para que o

fracasso não se repita. A falta de recursos é apon-

tada como o principal motivo pelo insucesso do

PNE original. O então presidente Fernando

Henrique vetou o aumento de repasse do PIB

para o setor, que passaria para 7%.

Mas o percentual de repasse foi apenas um

dos pontos do PNE vetados à época. O texto

original previa, ainda, a ampliação do Renda

Mínima – embrião do Bolsa Família –, expan-

são do programa de crédito educativo e a

criação do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Superior.

“O Plano era bom, mas enfrentou proble-

mas, um deles o veto do então presidente

Fernando Henrique Cardoso ao aumento do

repasse, de 5,1% para 7% do PIB destinado à

Educação”, avalia a presidente da União

Nacional dos Dirigentes Municipais de

Educação e secretária de Educação de São

Bernardo, Cleuza Repulho.

Uma das metas do Plano anterior era

erradicar o analfabetismo do Brasil até

2010. A parcela de analfabetos no País

diminuiu nos últimos anos, mas ainda atin-

ge cerca de 10% da população.

Outro objetivo era garantir o acesso à

EJA (Educação de Jovens e Adultos) para

pelo menos metade dos brasileiros que

não terminaram o ensino fundamental.

Entretanto, os avanços alcançados foram

suficientes para incluir apenas cerca de

30% da faixa da população.

" Creio que 10% não seja um índice muito viável; 7% é mais dentro da nossa realidade"

"Esta mudança vai exigir investimentos em infraestrutura, expansão da rede e mais salário"

CLEUSA REPULHO

CESAR CALLEGARI

Palestrantes

Page 15: Revista RD Ideias Educação

15

PNE anterior previa

garantir o acesso à

EJA (Educação de

Jovens e Adultos) para

metade dos brasileiros

que não concluíram o

ensino fundamental

As 20 metas do PNEUniversalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda população de 6 a 14 anos.Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade.Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.Atingir as seguintes médias nacionais para o IDEB:

Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores.

Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.Garantir, em regime de colaboração entre a União, Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.Assegurar, no prazo de 2 anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos sistemas de ensino.Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB do País.

IDEB 2011 2013 2015 2017 2019 2021Anos iniciais do ensino fundamental

Anos finais do ensino fundamental

Ensino médio

4,6

3,9

3,7

4,9

4,4

3,9

5,2

4,7

4,3

5,5

5,0

4,7

5,7

5,2

5,0

6,0

5,5

5,2

Page 16: Revista RD Ideias Educação

16

Plano Regional pode ser mais adequado

Projeto

As 20 metas para a Educação no Brasil por

meio do Plano Nacional, que traça série

de diretrizes e objetivos na área até 2020,

podem estar defasadas em algumas regiões do

País. Isto porque a situação de algumas das

propostas previstas no projeto de lei não é a

mesma em todas cidades.

As diretrizes do Plano Nacional são únicas

para todos os municípios brasileiros, no entan-

to, parte das metas já foi alcançada em algumas

cidades. Por este motivo, os especialistas defen-

dem que o ABC deve contar com um plano

personalizado, adaptado especialmente à reali-

dade da região.

Uma das metas previstas no PNE é elevar a

taxa de alfabetização da população com 15

anos ou mais para 93,5% até 2015. A busca por

este indicador faz sentido em cidades, como de

Alto Alegre, em Roraima, onde 17% dos jovens

e adultos são analfabetos. Em São Bernardo, o

índice chega a 3% na mesma faixa etária.

“O ABC deveria traçar metas e até estabele-

cer novos objetivos para a Educação”, defende

César Callegari, sociólogo, diretor de Operações

do SESI-SP e membro da Câmara de Educação

Básica do Conselho Nacional de Educação.

“O grande desafio é fazer um trabalho articu-

lado pensando o ABC de forma diferente. Por

meio do Consórcio Intermunicipal Grande ABC,

que já tem experiência em debates que envol-

vem as sete cidades, é possível desenvolver

texto regional com metas e desafios específicos

que vão além do que propõe o Plano Nacional

de Educação”, afirma César Callegari.

Para especialistas, o

ABC deve contar

com um plano

personalizado,

adaptado à

realidade da região

Page 17: Revista RD Ideias Educação

17

A diferente realidade da Educação nas

sete cidades é um dos desafios a serem

enfrentados para viabilizar o Plano

Regional de Educação. As secretarias de

cada município precisam estabelecer

diálogo para traçar metas em comum

entre os municípios.

“Estamos elaborando uma estratégia

para organizar o Plano Regional de

Educação, tentando elaborar proposta,

levando em consideração os planos

municipais”, explica a secretária de

Educação de Diadema, Lucia Helena Couto,

também diretora do Grupo de Trabalho da

Educação do Consórcio Intermunicipal.

Na avaliação de Lucia Couto, alguns

temas são comuns para todos os

municípios do ABC, o que justificaria a

criação de Plano Regional proposto.

“Questões como a expansão da cobertura

da educação infantil e a valorização da

carreira do professor são desafios em toda

a região”, avalia.

A secretária de Educação de Santo

André, Cleide Bauab Eid Bochixio, alerta:

“Assim como o Plano Nacional, o regional

só dará certo se não for tão burocrático”.

Grupo de Trabalho

Educação do

Consórcio,

coordenado por

Lucia Couto,

considera que

alguns temas do

PNE são comuns

para toda a região

Proposta localé bem recebida

A presidente do Conselho Municipal de

Educação de Mauá, Diana Maria de Morais

considera positiva a iniciativa de criação do

Plano Regional de Educação. “Acho que é

uma ideia boa, é viável. Há problemas que

atingem toda a região, como falta de vagas",

opina a conselheira. Diana considera que as

cidades da região já atingiram outras metas

previstas no Plano Nacional.

Enquanto o Plano Regional de Educação

não sai do papel, os municípios da região

procuram estabelecer metas próprias. Exem-

plo é Mauá que revisou em abril de 2011 o

Plano Municipal de Educação, com o obje-

tivo de adequar o texto às diretrizes do PNE.

“Na verdade, Mauá já tem um plano mu-

nicipal, que foi aprovado em 2004, e que é

válido até 2014”, explica a secretária de Edu-

cação do Município, Margaret Franco Freire.

“Mas, fizemos uma revisão e estamos finali-

zando o texto para entregar para a rede”, ex-

plica a secretária.

Page 18: Revista RD Ideias Educação

18

Ao mestre com carinho?

Professor

25 anos de Magistério, 19 em sala de aula,

além de outros quatro em especializa-

ção. Com uma vida profissional inteira dedicada à

Educação, Vera Fraga, professora nas redes públicas

de Santo André e São Bernardo, é mais um dos

milhares de brasileiros que escolheram a carreira de

professor como grande paixão profissional.

Entretanto, o sentimento atual da educadora em

relação à escolha reflete o mau momento que o

setor vive no País. O que era considerado um dos

principais pilares de sustentação, hoje é tido como

emprego dos mais desvalorizados no Brasil – e é

claro, em baixa.

“Quando iniciei a minha vida acadêmica, há 25

anos, a gente tinha um ideal de melhorar a escola

pública. De alguns anos para cá, ela até melhorou

em ofertas de vagas, mas não há mais a mesma

qualidade. Não se investiu no preparo dos profes-

sores”, afirma. “Peguei a transição de uma escola

autoritária para o período democrático do País.

Havia respeito com o professor. Hoje isso não existe

mais”, aponta. O mesmo sentimento é comparti-

lhado por boa parte de quem vive o cerne da

educação no ABC atualmente.

Mariana Freitas Martin Bianco, 27 anos, cursa o

4º semestre de Pedagogia. Mal entrou de cabeça

no Magistério e já encara a dificuldade da profissão.

“Há uma ideia fantasiosa da carreira, que vai mudan-

do quando se vê a realidade”, diz. Exemplo vivo do

dia a dia a qual o profissional de Educação está

exposto, Mariana mal se formou e já tem objetivo

traçado: não pretende dar aula. “Fui buscar

Pedagogia como um complemento. Não tenho

intenção de dar aula. Se fosse cursar por esse moti-

vo, não sei nem se o faria”, diz.

Formada em Odontologia, Mariana pretende

auxiliar a irmã na direção de uma escola em São

Bernardo, a Crerser. Outro problema que acende o

sinal de alerta no professor que entra no mercado é

a falta de prestígio com pais e alunos. Quem déca-

das atrás tinha a imponência de ser chamada de

mestre, a pessoa mais respeitada em uma sala de

aula, hoje está longe disso.

“Imagine trabalhar e ser desafiado, desacatado,

ignorado e até ofendido diariamente. A sociedade

precisa entender que o alfabetizador deveria ter

respeito muito grande. Hoje o professor é um ser

desgastado, é qualquer um na sociedade”, desaba-

fa Vera Fraga. E o alerta não é para menos. Quem

viveu em ambas as situações, do mais alto respeito

com a profissão até o descaso atual faz o alerta:

caso não haja medidas enérgicas, em 10 anos o

professor pode ser um profissional de certa rarida-

de no mercado de trabalho.

Antes profissão

glamourosa e

respeitada, professor

está em baixa e corre

risco de ‘apagão’

nos próximos anos;

profissionais da área

cobram investimento

e envolvimento da

sociedade

Page 19: Revista RD Ideias Educação

19

Page 20: Revista RD Ideias Educação

20

“Só se faz um país com professores”. A frase

extraída da canção “O Professor”, de Celso

Viáfora, faz jus à necessidade de qualquer

nação que almeje voos mais altos no que

tange ao índice de desenvolvimento de sua

população. Mas o que fazer se, diante de

desafios colocados em sala de aula, como o

desrespeito e, principalmente, a desvaloriza-

ção da profissão, há outro agravante ainda

maior? Sim, o salário de um educador ainda

é unanimidade quando se fala na dificulda-

de da profissão.

Em média, um profissional brasileiro de

Magistério possui piso salarial de R$ 1.024, cal-

culado à carga semanal de 40 horas de traba-

lho, de acordo com levantamento do MEC

(Ministério da Educação). No ABC, o cenário

varia de acordo com poder econômico de

cada cidade, no que diz respeito às redes

municipais, além da formação de cada profis-

sional contratado pelo governo do Estado ou

escolas particulares. Os rendimentos do edu-

cador na região vão desde um piso de R$

1.124, pago em Mauá (por uma carga horária

de 20 horas semanais), até a diferença gritante

Salários defasadosdesvalorizam mestre

“É preciso ter uma política educacional no

Brasil e olhar o que dá certo lá fora para se ade-

quar à nossa identidade. Será necessária uma

década, no mínimo, para se mudar o que ocorre

hoje. A educação precisa ser tratada com a

mesma vontade e respeito que as finanças do

País. Senão não vamos mudar nada”, garante

Oswana Fameli, diretora regional do Sieeesp

(Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do

Estado de São Paulo) e presidente da AEPS- ABC

(Associação de Escolas Particulares do ABC). O

pouco, ou quase inexistente em alguns casos,

envolvimento dos pais na educação dos filhos é

outro ponto questionado pelo professorado.

Mas o que fazer para mudar esse quadro

com perspectivas tão ruins? “A gente defende a

comunidade na escola. Teria de haver envolvi-

mento da família na vida do aluno, de se preo-

cupar com a qualidade do ensino. Hoje a preo-

cupação com a nota do filho é maior do que

com a qualidade do ensino. Só que às vezes um

5 é mais representativo que um 10”, aponta

Aloísio Alves da Silva, presidente do Sinpro

(Sindicato dos Professores do ABC).

“O Brasil avançou quando criou o piso nacio-

nal para o Magistério e diretrizes para a carreira.

Agora o próximo desafio é cumprir o que foi

estabelecido”, cita Cleuza Repulho, secretária de

Educação de São Bernardo.

Salário do professor

da região vai de

R$ 1.124 a R$ 6.638,

conforme o município

ALOISIO ALVES SILVA"Às vezes, nota 5 é mais representativa que 10"

Page 21: Revista RD Ideias Educação

21

com a vizinha São Caetano, que chega a

pagar até R$ 6.638 a um professor de ensino

médio – por 220 horas/aula mensais – com

vasta formação e tempo de “casa”.

No âmbito estadual, os valores são pouco

melhores, mas não muito distantes do menor

salário da região: R$ 1.665 por carga de traba-

lho de 40 horas semanais. Chega-se assim à

conclusão de que o ensino privado deve ofe-

recer oportunidades salariais muito mais em

conta. Nem sempre. É exatamente aí que os

dados são mais alarmantes e dão claro sinal

de desencorajamento na profissão. As remu-

nerações mais baixas no ensino privado do

ABC, segundo dados do Sinpro (Sindicato

dos Professores do ABC), são de R$ 754 e R$

843, para profissionais de educação infantil e

pré-escola e 1º a 5º anos do ensino funda-

mental, respectivamente. “O menor salário na

rede particular, em 22 horas semanais, era de

R$ 375 há 10 anos. Hoje esse valor está em R$

754. Se compararmos com a evolução do

salário mínimo nos últimos anos, há defasa-

gem”, afirma Aloísio Alves da Silva, presidente

do Sindicato dos Professores do ABC.

De fato, o professorado do ABC tem visto

evolução salarial nos últimos 10 anos.

Comparando os números de 2001 com os

atuais, o aumento tem sido gradativo – lento,

mas em andamento. Em São Bernardo, o pro-

fissional da Educação que trabalhava 40

horas semanais recebia por mês R$ 1.364 no

início de carreira. Hoje, o mesmo nível de

profissional chega a receber R$ 2.215. Ainda

assim, quem atua no meio considera pouco

em razão da importância da profissão.

“Quem se forma em ótimas universidades

vai para a área acadêmica ou outras esferas

de ensino, por salário melhor”, garante Vera

Fraga, professora em São Bernardo e Santo

André. A saída encontrada pelas três esferas

de ensino para amenizar a situação tem sido

garantir a evolução salarial de acordo com o

grau de especialização dos profissionais;

quanto melhor for o currículo do professor,

mais recheado (ou menos vazio, dependen-

do do caso) será o holerite no final do mês.

Expectativa é que

o ensino privado

ofereça melhor

condição salarial

São Bernardo faz parceria com a USP

Parcerias com centros universitários para

cursos de pós-graduação e mestrados têm

sido comuns no ensino. “O salário da rede

ainda não é o ideal. Mas estamos apostando

numa discussão madura sobre carreira e for-

mação. Além da discussão do estatuto, hoje

perto de 800 professores fazem pós-gradua-

ção na USP com financiamento integral da

Prefeitura”, aponta a secretária de Educação de

São Bernardo, Cleuza Repulho.

A solução para o problema é vista como

medida a médio e longo prazos: reformula-

ção geral na base do ensino brasileiro a partir

da União, seguindo por Estado e municípios,

com salários mais atrativos. “A situação hoje

poderia ser melhor. Mas é um trabalho que

não se dá de uma hora para outra. É um pro-

cesso que está se iniciando e é longo. Temos

de valorizar mais o docente da educação

básica, ter remuneração mais adequada. A

valorização financeira e do status da profissão

se perdeu com o tempo, é preciso incremen-

tar esse setor”, garante Derval dos Santos

Rosa, pró-reitor de Graduação da UFABC

(Universidade Federal do ABC).

Page 22: Revista RD Ideias Educação

22

Pesquisa aponta

que apenas

2% dos jovens

buscam carreira no

Magistério “Estamos no subsolo do fundo do poço. Vai

levar uma década para começar a mudar as coi-

sas do jeito que elas estão colocadas. É preciso

ter uma melhoria no ambiente de trabalho do

professor. Não se trata apenas de dinheiro, mas

tem algo a ver com a valorização profissional.

Nem dobrar os salários adianta mais”, afirma Enio

Borba Carti, professor de Licenciatura e

Engenharia da Fundação Santo André. Para pio-

rar, o déficit de professores em sala de aula no

Brasil já chega a 300 mil profissionais, segundo o

Conselho Nacional de Educação.

“Se não houver uma mudança, em 10 anos

não teremos mais professores no mercado.

Hoje em dia já temos professores mal forma-

dos, já começa aí. Para se ter ideia, a última

reforma no ensino superior é de 1969. Eu

tenho certeza disso (jovem não querer a car-

reira de Magistério). Já é a segunda opção de

muita gente. Pra seguir nessa vida é preciso

gostar muito do que faz”, lamenta Oswana

Famelli, diretora regional da Sieeesp (Sindicato

dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de

São Paulo) e presidente da AESP-ABC

(Associação de Escolas Particulares do ABC).

"Estamos no fundodo poço", diz docente

Procura-se professorSe o cenário parece pessimista em torno do dia

a dia dos professores espalhados nas salas de aula

de todo o Brasil, a situação também apresenta

sinais críticos quando se fala da formação de pro-

fissionais do setor. Pesquisa realizada em 2009,

pelas fundações Victor Civita e Carlos Chagas,

apontou desinteresse geral pela carreira em sala

de aula entre jovens que cursam o ensino médio.

Dos cerca de 1,5 mil alunos entrevistados, de

escolas públicas ou privadas, apenas 2% colocar-

am a carreira como primeira opção no vestibular

nas áreas de Pedagogia ou outras licenciaturas;

outros poucos 9% sinalizaram seguir a carreira

pedagógica no setor de escola básica.

O mesmo levantamento coloca 32% dos

entrevistados avaliando a sala de aula como

possível ambiente de trabalho. Os principais

motivos apontados para o desinteresse pela

vida escolar vão desde a desvalorização salari-

al, foco dos jovens entrevistados, até a falta de

identificação com a profissão. Na pesquisa, o

jovem considera a profissão pouco (e muito)

atraente. Se salários não são considerados

ideais e se a figura do professor deixou de ser

importante na moldagem de alunos, não é de

se estranhar que quem está a um passo do

mercado de trabalho refute a profissão.

ENIO BORBA CARTI"Nem dobrar os salários adianta mais; é preciso valorização"

Page 23: Revista RD Ideias Educação

23

REDE MUNICIPAL

SANTO ANDRÉ – 2.083 professores atualmente.Em 2001, eram 1.719Salário inicial: R$ 2.160 (40h semanais) - com graduação o professor pode receber até R$ 2.622Menor valor pago por hora-aula: R$ 10,80 (com magistério, para o ensino médio)Maior valor pago por hora-aula: R$ 27,15 (formação com doutorado - pós-graduação strictu sensu)SÃO BERNARDO – 4.142 professores (3.410 em 2001) Salário atual24h – R$ 1.329 (ref. inicial) e R$ 3,012 (ref. final)30h – R$ 1.661 (ref. inicial) e R$ 3.765 (ref. final)40h – R$ 2.215 (ref. inicial) e R$ 5.020 (ref. final)Salário em 200124h – R$ 818 (ref. inicial) e R$ 1.678 (ref. final)30h – R$ 1.023 (ref. inicial) e R$ R$ 2.098 (ref. final)40h – R$ 1.364 (ref. inicial) e R$ 2.797 (ref. final)SÃO CAETANO – 837 professores - Professor de 1º ao 5º ano - 131 horas/mês (nível I): R$ 1.579,24- Professor de 6º ao ensino médio – 105 horas aula/mês – desde 1985 na rede (nível II): R$ 3.116. (um recém-admitido recebe R$ 3.126, com 210 horas aula/mês)- Professor de ed. infantil – 131 horas aula/mês: R$ 1.579,24- Professor nível I admitido em março de 1992: R$ 2.627,86- Professor nível I admitido em janeiro de 2011: R$ 1.579,24

- Professor nível I com aulas extras, ou seja, dobra período – leciona 232 horas aula/mês contratado em fevereiro de 1987: R$ 5.556,01 Salário mais baixo:Nível 1 - R$ 1.579,24Nível 2 – R$ 927,91 (50 horas/aula)Salário mais alto:R$ 3.266,13 (sem dobra); R$ 5.556,01 (com dobra)R$ 6.638,01 (220 horas/aula)DIADEMA – não divulgou número de professores Piso em 2001 – R$ 726, por carga horária de 31h semanais e formação de ensino fundamental, e R$ 1.072 (magistério). Concluindo ensino superior, salário do professor ia para R$ 2.095Professor de ensino fundamental em 2001 – R$ 1.439Hoje é R$ 2.095.MAUÁ – não divulgou a quantidade de professores Piso – R$ 1.124, por 20h semanais e R$ 2.120 por 40h semanais. Teto – R$ 2.707RIBEIRÃO PIRES – 864 professores na rede (carga horária entre 22 e 44 horas semanais)Professor de desenvolvimento infantil e fundamental IPiso salarial – R$ 1.188,00 Teto salarial – R$ 2.141,90Professor de ensino fundamental II (hora/aula)R$9,83 (piso) - R$ 7,82 (teto)RIO GRANDE DA SERRA - não informou dados sobre os salários de professores da rede municipal

Fontes: Prefeituras do ABCDMRR, Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro-ABC)

Diferença salarial do ABC

ENSINO PARTICULAR

6 mil professores (Santo André, São Bernardo e São Caetano)

Salário mais baixo da rede: R$ 754 (educação infantil e pré-escola) e R$ 843 (educação infantil e 1º a 5º ano do ensino fundamental) Faixa salarial (hora-aula)- 6º ao 9º ano: R$ 9,97 - ensino médio: R$ 11,10 - Cursos de formação inicial e continuada de

REDE ESTADUAL

220 mil professores – 185.5 mil em 2001Salário-base (40h semanais): R$ 1.665

Com níveis de progressão acadêmica, salário pode chegar a até R$ 5.361.

trabalhadores e educação técnica de nível médio: R$ 10,13 - Curso pré-vestibular: R$ 15,49 Em 2001Ensino infantil e pré-escola: R$ 375 Educação infantil e 1ª a 4ª séries: R$ 429Ensino fundamental, curso técnico e profissionalizante: R$ 5 Ensino médio e cursos livres: R$ 5,65 Curso pré-vestibular: R$ 7,89

Page 24: Revista RD Ideias Educação

24

ABC desperdiça bolsas de estudo do Prouni

Inclusão

Considerado um dos principais benefícios

voltados ao estudante de baixa renda no

Brasil, o Prouni (Programa Universidade para

Todos) parece ainda não ter caído, definitivamen-

te, nas graças do universitário brasileiro. Criado no

governo Lula, em 2004, para garantir bolsa de

estudos ao aluno da rede pública que pretende

estudar em universidades particulares, o progra-

ma conta com considerável taxa de ociosidade.

Auditoria realizada pelo TCU (Tribunal de Contas

da União) em março de 2011 mostrou que apro-

ximadamente 30% do total de vagas abertas até

hoje (919 mil até o segundo semestre de 2011)

não foram preenchidas.

Na prática, isso significa que um a cada 10 alu-

nos que não têm como frequentar universidade

paga – mas que poderia se beneficiar com o pro-

grama – passa longe do ensino superior. Quem

vive de perto o problema atribui o fato à ausência

de divulgação. O ‘hiato’ ocorre nas duas pontas do

processo. “É um efeito automático. As escolas não

estão plenamente envolvidas. O candidato ao

Prouni é do ensino médio, logo, falta um trabalho

de divulgação maior juntos às escolas, de região

em região do País, com as faculdades que pos-

suem convênio”, afirma o sociólogo Walmor Bolan,

presidente da Conap (Comissão Nacional de

Acompanhamento de Controle Social do Prouni).

No ABC, a estimativa da comissão aponta taxa

de ociosidade similar à média brasileira. Varia entre

25% e os mesmos 30% do País. Segundo levanta-

mento do Semesp (Sindicato das Entidades

Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino

Superior do Estado de São Paulo), a taxa é ainda

maior se forem contadas apenas as vagas do

Estado: 36%. Ao todo, o programa possui 1,6 mil

instituições de ensino credenciadas em todo o

Brasil. Em troca das vagas, cerca de 10% da carga

total disponibilizada pela instituição, o governo

federal concede benefícios fiscais às universidades.

Na tentativa de diminuir a quantidade de vagas

abertas, o governo vem sinalizando algumas fren-

tes, uma delas extinguir as bolsas parciais (entre

25% e 50% de desconto). Assim, se um aluno que

procura a bolsa de estudo concedida por meio do

ProUni é um estudante que não tem condições de

bancar os estudos, pelo menos na teoria ele não

teria condições de pagar uma mensalidade,

mesmo que parte dela. Para atrair adesões, o MEC

(Ministério da Educação) sinalizou em 2011 a

extinção das bolsas não integrais, a partir de 2012.

Outra medida é dar isenção fiscal às instituições de

ensino superior de acordo com o número de

vagas preenchidas, ao invés de ofertadas.

Cerca de 30% das 919

mil de vagas abertas

pelo programa até agora

não foram preenchidas,

segundo auditoria feita

pelo Tribunal de Contas

da União

Page 25: Revista RD Ideias Educação

A Conap também está de olho na ociosidade de

vagas com a criação das Colaps, as comissões

locais do órgão nas universidades. “A gente quer

fazer uma marcação cerrada nas vagas, nos alunos

em relação a taxas de evasão e também nas pró-

prias universidades. Serão micro divulgações em

cada escola para atrair atenção do aluno. É um

trabalho mais detalhado, que não adianta só pas-

sar propaganda na televisão”, garante Bolan.

Para se candidatar ao Prouni, o estudante deve

necessariamente ter estudado em escola pública

ou ter sido bolsista integral em alguma instituição

particular, além de necessariamente ter realizado

prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino

Médio), que serve como parâmetro para a conces-

são ou não do Prouni.

EVASÃO – Se por um lado parte das vagas ofe-

recidas pelo Prouni tem histórico de ociosidade,

por outro a média de evasão de quem contava

com a bolsa do programa foi menor nos últimos

anos. A comparação foi feita pelo MEC via Inep

(Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira), em relação com demais estudantes da

rede privada de ensino superior. Nos últimos dois

anos, 15,6% dos que estudavam em universidade

particular do País abortaram os planos de se for-

mar. No mesmo período, 4% dos estudantes

beneficiados pelo Prouni largaram os estudos.

2010Santo André: 2.159São Bernardo: 1.965São Caetano: 754Diadema: 282Mauá: 116Ribeirão Pires: 58Rio Grande da Serra: 0

2011Santo André: 1.932São Bernardo: 2.299São Caetano: 460Diadema: 286Mauá : 143Ribeirão Pires: 3Rio Grande da Serra: 0

Informações para o candidato:www.siteprouni.mec.gov.br ou tel. 0800-616161

Ofertas na região

Page 26: Revista RD Ideias Educação

A lei nº 9.870/1999, que trata das mensali-

dades escolares para os ensinos básico e

superior, permite aos estudantes inadimplentes a

permanecerem nas escolas até o final do con-

trato. Para os empresários de educação, a situa-

ção causa grande prejuízo às instituições de

ensino, que se tornam refém do aluno.

A reclamação é que a lei cria estímulo à

inadimplência, tanto que recebeu o apelido de

lei do calote. “Temos feito ações para criar uma

moralização explícita, porque alguém paga

essa conta”, afirma Oswana Famelli, presidente

da Associação das Escolas Particulares do

Grande ABC (AESP-ABC) e diretora regional do

Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no

Estado de São Paulo (Sieeesp).

Oswana diz que tem conversado com todas

as esferas públicas com objetivo de fomentar

mobilização para mudar a legislação. Mas para

ser alterada, a medida precisa encontrar eco

também no Congresso Nacional.

O principal argumento de quem é contra a lei

do calote é a comparação com os procedimen-

tos na área da saúde. Nesta, o contratante que

deixar de pagar mais de duas mensalidades terá

seu contrato automaticamente rescindido. O

artigo 6º da Constituição Federal de 1988 versa

sobre os direitos sociais, que são aqueles consi-

derados essenciais, os quais devem ser assegura-

dos aos cidadãos. Apesar de a Carta Magna tratar

os dois temas de forma idêntica, equiparando-

os sob o prisma da importância, na prática, existe

essa “incoerência”.

Nos dois temas, cabe ao Poder Público garan-

tir a prestação dos serviços essenciais de saúde e

educação, os quais podem, ainda, ser prestados

pela iniciativa privada, conforme expressamente

previsto no texto constitucional.

Nessa vertente, não se justifica, portanto,

segundo Oswana, a divergência entre o regra-

mento da assistência privada à saúde e o dos

serviços privados de educação no que diz res-

peito ao tratamento da inadimplência. “Tenho

certeza que as escolas poderiam rever os valo-

res se não existisse a lei do calote”, destaca

Famelli. “Tudo fica mais caro, porque nós reco-

lhemos impostos até mesmo por aqueles que

não pagam”, lembra, ao exemplificar que a

“conta não fecha” sem uma mensalidade nos

atuais patamares.

Segundo o diretor de assuntos econômicos-

da Federação Nacional das Escolas Particulares,

Henrique Zaremba, não se pode generalizar os

inadimplentes. Para o dirigente, o que deve

Lei do caloteestá na berlinda

Inadimplência

Em 2010, o índice de

inadimplência no

ABC - o menor do

Estado - foi de 7% e

este ano, a média

ficou em 4,5%,

segundo o Seeesp.

"As escolas poderiam

rever valores se não

tivesse essa lei”

Oswana Fameli

"O maior problema é

o pai peverso, esperto,

o pipoca”

Henrique Zaremba

26

Page 27: Revista RD Ideias Educação

ficar claro é que existem dois tipos de inadim-

plentes. Um é aquele que sempre existiu, o

devedor circunstancial: um pai que perdeu o

emprego, um caso de doença na família. Com

estes, a escola sempre se deu bem, resolveu o

problema e nunca teve nenhum conflito maior.

“No entanto, existe outro tipo de devedor, o

perverso, o institucional, que a medida provisó-

ria nº1930 de 1999 criou. É o pai esperto ou pai

pipoca, que muda o filho de escola todos os

anos e vai se beneficiando da lei, sem pagar as

mensalidades”., afirma o diretor da Federação

Nacional das Escolas Particulares.

ABC - Felizmente, as escolas particulares da

região possuem o menor índice de inadimplên-

cia do Estado, segundo levantamento do

Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no

Estado de São Paulo (Sieeesp).

Em 2010, o índice regional foi de 7% e no ano

passado, a média ficou em 4,5%. Na cidade de

São Paulo, a média de 2011 sinalizou para 11%.

“As escolas não querem punir as famílias que

deixam de pagar as mensalidades, mas sim,

dialogar sobre o papel fundamental que as

escolas exercem na formação do estudante. É

um trabalho de conscientização”, ressalta

Oswana Fameli.

Planos de saúde são alvo de comparação

O inciso II do parágrafo único do art. 13 da lei

dos planos de saúde (lei nº 9.656/98), com a reda-

ção dada, pela medida provisória nº 2.177-44/2001

contempla a possibilidade de rescisão contratual

por inadimplemento superior a 60 dias, consecuti-

vos ou não, nos 12 últimos meses do contrato

No caso da assistência à saúde, é permitido às

empresas do setor se defenderem da inadimplên-

cia ao protagonizar a suspensão ou rescisão con-

tratual pelo não-pagamento.

Para Oswana Famelli, não permitir às institui-

ções de educação superior privadas dispor de

meios efetivos de conter o problema, através da

suspensão ou rescisão contratual por inadimplên-

cia sob o argumento de ser educação um direito

público social é, no mínimo, uma afronta ao prin-

cípio constitucional da igualdade.

Os defensores do fim da lei do calote apregoam

alteração e tratamento diferenciados a alunos que

estudam em cursos superiores visando a permitir

não só a rescisão contratual como a desobrigação

da entrega de diplomas para alunos inadimplentes

em virtude do não pagamento da mensalidade.

27

As escolas

particulares da

região possuem o

menor índice de

inadimplência

do Estado

Page 28: Revista RD Ideias Educação

28

Excesso de liberdade à criança desafia educadores

Pais

Mãe, mulher, profissional, dona de casa,

esposa, estudante, voluntária. A mulher

do século 21 sofre as consequências de conquis-

tas desde os manifestos iniciados por Simone de

Beuavoir, filósofa e feminista francesa, que decidiu

ser professora antes de se tornar uma das maiores

escritoras do mundo. O direito de construir car-

reira trouxe à mulher desafios, como trabalhar fora

e ao mesmo tempo cuidar da educação da prole.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

do IBGE, realizada em 2009, revela que na região

Sudeste, ao menos 27,95% das mulheres são eco-

nomicamente ativas. Outro trabalho, Retratos das

Desigualdades de Gênero e Raça, elaborado pelo

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),

em parceria com o Fundo de Desenvolvimento

das Nações Unidas para a Mulher, indicou que 2,2

milhões de brasileiras em 2006 já chefiavam a casa.

A mudança na organização da estrutura fami-

liar foi radical e os pais passaram a contar com

participação de parentes na criação dos filhos. Isso

resultou num novo modelo de comportamento.

A educação rígida, ficou permissiva, liberal.

“Esse contexto chegou à escola”, diz Cleonice

Lussitch, professora do Estado. Segundo a educa-

dora, a ausência dos pais é minimizada com presen-

tes e omissão. “As crianças fazem leitura própria e

manipulam a situação”, lamenta.

Ao contrário desse contexto Olga Aparecida

Luiz, empresária e mãe de Bianca, estudante da 6°

série, defende que é possível não ser permissiva.

“Acho importante impor limites e regras”, conta.

Josenilda Oliveira decidiu deixar o cargo de

promotora de vendas para cuidar do filho Gabriel

Henrique, hoje com 10 anos, após acidente com o

menino. O maior tempo em casa refletiu nas notas

de Gabriel. “Antes ele tirava sete e agora é só 10”,

conta a mãe, que hoje é podóloga.

Olga Aparecida

Luiz acredita que

é possível exercer

vários papéis sem ser

permissiva, porque

isso é importante para

a filha Bianca

Page 29: Revista RD Ideias Educação

Apesar de muitos atribuírem à escola a fun-

ção de passar valores, os educadores dizem que

esse papel tem de vir de casa. Como disse Jean

Piaget, defensor da Teoria de Estágios, que con-

trapunha o ensino autoritário, herdado no sécu-

lo 19, o professor não ensina, mas arranja modos

de a própria criança descobrir.

Teresa Helena Schoen, responsável pelo

setor de Psicopedagogia do Centro de Aten-

dimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp

(Universidade Federal de São Paulo), reclama

que muitos pais passaram a responsabilidade

da educação para a escola. “Quando a criança

chega à sala de aula questiona por que tem de

fazer aquilo, se em casa recebe tudo na mão,

por que tem de ficar na carteira se em casa ele

faz o que quer. Vivemos numa época em que

não se pode dizer não para a criança”, lamenta

a especialista da Unifesp.

"Pais devem passar valores e não a escola"O segredo para resgatar a disciplina, segundo

Teresa Helena Schoen é colocar regras e exigên-

cias. “Elas são importantes para a convivência e

para a formação”, conta. A psicopedagoga de-

fende, no entanto, que não devem ser levadas

ao extremo as regras e compara a imposição à

pescaria em alto mar, em que é necessário soltar

e puxar a rede para conseguir fisgar o peixe.

Teresa Helena Schoen e Cleonice de Almeida

Cunha Lussitch dizem que é preciso repensar

a forma de passar o conteúdo ao aluno, como

optar por aulas menos expositivas, pois dificul-

tam a bagunça, ou mesmo formar fila antes

de entrar na sala de aula. “A criança começa a

entender que tem o seu espaço e que precisa

respeitar o do próximo”, afirma Teresa. Ensinar o

estudante desde pequeno a fazer as tarefas so-

zinho e a trabalhar em grupo também ajudam,

segundo a psicopedagoga.

“Quando a criança chega

à sala de aula questiona

por que tem de fazer

aquilo, se em casa recebe

tudo na mão"?

Teresa Helena Shoen

Page 30: Revista RD Ideias Educação

30

Meio Ambiente

Educação ambiental começa com os pequenos

C onsiderado bandeira mundial entre

países e lideranças mundiais, o tema

meio ambiente tem criado raízes na educa-

ção brasileira. Antes superficial nas escolas,

hoje a educação ambiental é prática constan-

te e com peso e, principalmente, gerado

resultados, mesmo que ainda distantes de

conscientização geral dos mais jovens. No

ABC, a educação ambiental é praticada na

sala de aula desde cedo em toda a rede de

ensino, pública e particular .

“A gente acredita que é preciso fazer esse

trabalho desde cedo com as crianças, envol-

vendo também os pais”, afirma Marlene Bertelli

de Souza, coordenadora pedagógica da

Educação Infantil do Colégio Singular. Desde

2002, a escola trabalha com atividades voltadas

ao meio ambiente, do reaproveitamento de

materiais, para a elaboração de brinquedos, até

amostras de qualidade da água, plantio de

árvores e reciclagem. Conforme o aluno avan-

ça, o conteúdo é aprofundado na sala de aula,

durante o ensino médio.

“O trabalho vira parte de conteúdo interdis-

ciplinar. A gente tem essa expectativa de que

eles (alunos) sejam mais conscientes quando

adultos”, diz Marlene. De fato, a educação

ambiental só começou a sair do discurso e

tomar espaço nas salas de aula no Brasil a partir

de abril de 1999. À época, o então presidente

Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei

9.795, que instituía política nacional e cobrava a

promoção do tema nas escolas.

Segundo a legislação, as escolas devem,

obrigatoriamente, fomentar o tema a partir da

educação básica até o ensino médio. “Quanto

mais cedo, melhor; e de preferência na prática.

Não adianta colocar uma criança ou adolescen-

te numa sala de aula e começarmos a dizer pra

eles quanto tempo o metal demora pra se

degradar na natureza. Devemos fazer com que

eles ‘coloquem a mão na massa’”, afirma a enge-

nheira ambiental Hemily Rigo, que também

considera fundamental a introdução da educa-

ção ambiental desde cedo.

A prática já é disseminada em quem estuda o

tema. “Lá atrás, na faculdade, fizemos um diagnós-

tico de água numa escola de São Sebastião.

Explicamos como eram feitas as análises de água e

o porquê ela ia se degradando desde a nascente

até o mar. Mostramos que a perda da qualidade

era, em grande parte, culpa da comunidade que

descartava o lixo errado. Acredito que plantamos

uma "sementinha" nas crianças, pois todas saíram

conscientes que faziam parte do problema e pode-

riam também fazer parte da solução”, afirma.

"O trabalho vira parte do conteúdo interdisciplinar"

"Devemos fazer o aluno colocar a mão na massa"

MARLENE BERTELLIDE SOUZA

HEMILY RIGO

Page 31: Revista RD Ideias Educação

31

Page 32: Revista RD Ideias Educação

32

Outro exemplo de que a educação ambiental

ganha espaço nas escolas da região fica por conta

da parceria entre Santo André e São Bernardo com

a empresa Evoluir Cultural. Ambas as cidades colo-

caram em prática o projeto Escolas Sustentáveis.

São 10 escolas – abrangendo cinco mil alunos –

apontadas pelos municípios para receber o pro-

grama, voltado ao consumo consciente. O projeto

é bancado por empresas, via lei Rouanet. “São 200

escolas no Brasil, mais de mil professores e 50 mil

alunos sob o programa. Há resultados espetacula-

res em termos de comportamento de quem par-

ticipa. Os próprios alunos passam a cobrar das

escolas ecopontos. Há transformação no contexto

do bairro também, com engajamento para cobrar

o poder público”, garante Fernando Monteiro,

diretor da empresa.

Na prática, a empresa faz diagnóstico a respeito

da demanda local, no que tange ao meio ambien-

te. Em seguida, os professores são capacitados,

conforme a necessidade da escola. Similar aos

casos do Singular, o Escolas Sustentáveis é voltado

para crianças, entre 6 e 14 anos. No ABC, o projeto

foi bancado pelo grupo Rhodia. “Estamos em con-

versa para ampliar o número de escolas atendidas

, diz Monteiro. No Brasil, o projeto originário de

Curitiba atende 200 escolas, totalizando cerca de

mil professores e 50 mil alunos.

Tema é modismo no meio corporativo

A prática de ações ambientais não se

resume apenas à área de ensino. No mundo

corporativo, a valorização do meio ambien-

te é prática comum. Considerado impor-

tante para o setor, o tema virou obrigação e

até modismo.

“Há uma cobrança grande do mercado,

da legislação em si, com certificações ISOs,

além de uma exigência internacional. Mas

nem sempre as empresas entendem essa

importância, fazem algum tipo de promo-

ção ao meio ambiente por obrigação legal

ou uma ação de marketing”, garante Aílton

Pinto Alves Filho, professor e coordenador

do curso de pós-graduação em Gestão

Ambiental e Empresarial da FEI (Fundação

Educacional Inaciana).

Para o professor, esse tipo de iniciativa

tem de ser contínua. "Senão não entra na

cultura da empresa”, conclui. Exemplo de

ações permanentes é feito no Grand Plaza,

em Santo André, que possui sistema pró-

prio de tratamento de esgoto e reuso de

água.

Desde 2008, o shopping trata cerca de 4

milhões de litros de água por mês, reutiliza-

da na rega de jardins, lavagem de pisos e

descargas sanitárias. O resultado é econo-

mia de 25% do consumo de água e R$ 1,2

milhões a menos de gastos desde que o

shopping center iniciou o projeto.

O mesmo procedimento ocorre na

Bridgestone, que trata 100% da própria

água utilizada e a reutiliza na linha de pro-

dução da fábrica. A educação ambiental

voltada aos funcionários da indústria, em

ambos os casos, ainda não é prioridade.

“Quem cria uma cultura ambiental tem

ganhos, que nem sempre financeiramente

são os mais importantes. A imagem da

empresa cresce no mercado, além de

melhorar a relação com o consumidor”,

garante o professor da FEI.

Projetos Escolas

Sustentáveis, da

Evoluir, é voltado para

crianças de 6 a 14 anos

Municípios buscam ajuda especializada

AÍLTON PINTO ALVES FILHO

"Quem cria cultura ambiental tem ganho, como de imagem"

WAVERLY NEUBERGER"A educação é um processo reflexivo, que envolve o homem"

Page 33: Revista RD Ideias Educação

33

"Foco migrou da prevenção para conservação"Se por um lado a prática de educação ambi-

ental começa a virar rotina entre as escolas, por

outro há quem garanta que o tema, na forma

como é tratado em sala de aula, é ultrapassado. A

explicação é relativamente simples: o que antes

era tratado como ponto de partida para a preser-

vação do meio ambiente, hoje já é visto como

ponto distante diante das necessidades atuais. A

avaliação é da coordenadora do curso de Gestão

Ambiental da Universidade Metodista de São

Paulo, Waverly Neuberger.

Para Waverly, a educação ambiental já é algo

ultrapassado. “Se não houver um foco no ambi-

ente das pessoas e da economia que as envolve

isso vai acabar esbarrando na boa vontade do ser

humano para trazer algum resultado”, afirma.

O modelo, segundo a professora, adotado nas

salas de aula está em processo de mudança. “Vejo

com prazer que o foco migrou da prevenção para

a conservação, que é poder manter a natureza

com as pessoas, em convívio. Na década de 1980

era o contrário. Acho um erro pensar só no ponto

de vista da natureza em si. A educação é um pro-

cesso reflexivo, para organizar e ver ideias diferen-

tes, que envolve o homem também”, cita.

Mesmo com a mudança no foco da Educação

Ambiental, Waverly acredita que ainda é cedo para

apontar ganhos reais em relação aos alunos que

foram os primeiros da “turma”. Entretanto, ela vê

com otimismo possíveis resultados do trabalho

iniciado na década de 1990. “A educação ambien-

tal ainda é muito recente. Hoje as primeiras crian-

ças ligadas aos eixos transversais estão com idade

para entrar na faculdade. É difícil ainda avaliar se há

resultados. Percebe-se uma mudança de atitude,

embora ainda não se sinta o efeito de fato”, aponta.

Especialista diz

ainda é cedo para

colher resultados da

política de educação

ambiental iniciada na

década de 1990

Page 34: Revista RD Ideias Educação

34

Mercado de trabalho necessita de líderes

trabalho

É chegada a hora de buscar colocação no

mercado de trabalho e, com isso, a respon-

sabilidade de escolher boa carreira e faculdade ou

escola que ofereça ensino satisfatório. Professores

com alta qualificação, completa infraestrutura,

ensino na prática. Tudo isso costuma ser tática

comum das universidades para atrair candidatos

aos exames vestibulares. Mas isso é suficiente?

Para Derval dos Santos Rosa, pró-reitor da

UFABC (Universidade Federal do ABC) , o mercado

hoje exige formação ampla. Muito mais do que

dominar um idioma estrangeiro, ter curso de gra-

duação reconhecido, fazer estágios e oferecer

aptidão técnica aprofundada, o candidato precisa

ter base de conhecimento que possibilite ampliar

o escopo de atuação.

“O profissional tem de dominar desde as mais

recentes tecnologias até as questões sociais. Saber

como usar o conhecimento para o bem da socie-

dade”, afirma Rosa. Criada há seis anos, a UFABC tem

a grade baseada em apenas dois bacharelados:

ciência e tecnologia, e ciência e humanidades.

As disciplinas são organizadas por eixos de atua-

ção, em que o aluno pode aprender sobre energia,

estruturas das matérias, e também sobre comuni-

cação e humanidades. O aluno tem liberdade de

escolher se quer ou não aprender determinado

assunto. “Esse tipo de formação respeita vontades e

a sua possibilidade de acesso a diversas áreas do

conhecimento”, afirma.

Para o engenheiro José Luiz Albertin, diretor

de Conhecimento da SAE BRASIL, o estudante

que consegue aprender na prática tem grande

diferencial no mercado. “O fato de as empresas e

faculdades desenvolverem parcerias para fortale-

cer a formação é um caminho acertado, mas não

resolve tudo”, adverte.

Albertin aponta o ramo da engenharia em que

os profissionais vêm de longa carreira de estudo,

com cursos de excelência que exigem empenho

no período integral e bom capital de investimen-

JOSÉ LUIZ ALBERTIN

"O Brasil não forma líderes, forma apenas alunos".

"O profissional de hoje tem de dominar até as questões sociais".

DERVAL DOS SANTOS ROSA

Projetos com conceito

multidisciplinar

permitem aos futuros

profissionais terem

ampla visão do

campo de aplicação

Page 35: Revista RD Ideias Educação

35

to. São várias as chances para esse profissional, que

mesmo com aprendizagem na prática, às vezes,

não consegue se colocar no mercado de trabalho.

Para Albertin, o engenheiro não pode estar vol-

tado para o mundo interno da sua atuação, precisa

estar voltado para a sociedade. “E para pensar des-

sa maneira o jovem teria de ter formação sobre o

meio ambiente, fatores urbanos e conhecimento

apurado sobre a cultura de onde vai atuar. O Brasil

não forma líderes, apenas alunos. Bons alunos, mas

que não têm esse conjunto”, diz.

O executivo comenta que desde a pré-escola

até a faculdade é raro ver projetos multidiscipli-

nares em que se pode ter visão ampla do campo

de aplicação. “Os cursos são muito acadêmicos, as

faculdades esquecem que a função do estudante

no mercado será servir a sociedade”, defende.

Segundo Albertin, nos Estados Unidos, o enge-

nheiro com três anos de faculdade pode dar um

tempo, ir para o mercado de trabalho, ver na prá-

tica se é isso mesmo que quer e depois continuar

com o curso.

Alguns projetos como o Baja e o Aerodesign da

SAE se destacam pelo fato de o estudante poder

aprender na prática como se projeta e constrói um

veículo funcional. “Não ganham pontos adicionais

nas matérias, mas certamente uma visão diferen-

ciada em qualquer empresa”, completa.

O mercado de trabalho está na pauta cada

vez mais das escolas públicas e particulares. No

Arbos, em Santo André, estudantes do ensino

médio têm aulas de direito e empreendedoris-

mo. “Queremos formar o aluno não apenas para

o vestibular. Queremos ajudar nosso aluno a se

tornar questionador, comunicativo”, afirma Ma-

rio Francisco Cia, diretor do colégio.

Em São Caetano, a escola municipal Professo-

ra Alcina Dantas Feijão oferece a oportunidade

da escolha entre fazer um curso só acadêmico

ou em paralelo ao profissionalizante. As opções

são logística, processamento de dados, adminis-

tração, publicidade e contabilidade.

A escola ainda possui parcerias com o Con-

selho Regional de Contabilidade, que premia os

melhores alunos; e com a Bovespa que concede

cursos nas bolsas de valores e promove desafios

para os alunos elaborarem projetos. “Os forman-

dos têm a tarefa de produzir monografia sobre o

tema que quiserem. É outra maneira de incen-

tivar a pesquisa aprofundada e preparar para

o ambiente da universidade”, afirma a diretora

Márcia Gallo.

Preparação às vezes começa cedo

Projeto Baja da SAE

Brasil estimula a

aprender na prática

o desenvolvimento

e produção de um

veículo off road

funcional

Page 36: Revista RD Ideias Educação

3º Ciclo de Palestras RD Ideias

Mobilidade Urbana

www.reporterdiario.com.brTels: 4427-7800 • 4436-3965 • 4437-1171

INTEGRAÇÃO DE TRANSPORTESVIABILIDADE DO MONOTRILHO NO ABC

LOGÍSTICA REGIONALMOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL

Março de 2012 – Santo André

Como o ABC pode alcançar uma mobilidade

sustentável, acessível a todos? Para analisar o cenário e

debater propostas e desafios, o Repórter Diário realizará

o 3º Ciclo de Palestras RD Ideias - Mobilidade Urbana,

com a participação de gestores e especialistas na área.

Você está convidado.

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Programa: