Revista Segurança Alimentar e Combate à Fome

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REDE DE BANCO DE ALIMENTOS SE CONSOLIDA EM TODO O MUNDO CENÁRIO NACIONAL DE COMBATE À FOME APRESENTA AVANÇOS E DESAFIOS GOVERNO, EMPRESAS E VOLUNTÁRIOS MOBILIZADOS CONTRA O DESPERDÍCIO Segurança alimentar e combate à fome para um mundo sustentável PUBLICAÇÃO-SÍNTESE DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR: SUSTENTABILIDADE E COMBATE À FOME I SALVADOR - BA I OUTUBRO DE 2013

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Por um mundo mais sustentável

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REDE DE BANCO DE ALIMENTOS SE CONSOLIDA EM TODO O MUNDO

CENÁRIO NACIONAL DE COMBATE À FOME APRESENTA AVANÇOS E DESAFIOS

GOVERNO, EMPRESAS E VOLUNTÁRIOS MOBILIZADOS CONTRA O DESPERDÍCIO

I

Segurança alimentare combate à fomepara um mundo sustentável

PUBLICAÇÃO-SÍNTESE DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR: SUSTENTABILIDADE E COMBATE À FOME I SALVADOR - BA I OUTUBRO DE 2013

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CONFERÊNCIARede Global de Banco de Alimentos: entender para solucionar

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SescRede de ações

sociais resgata a esperança

PAINEL 1Direito social, comida de

qualidade e desenvolvimento sustentável

INSTITUTO WALMART Investimento social para as pessoasviverem melhor

Qualidade e informação para garantir a

segurança alimentar

Voluntariado tem papel estratégico na

luta contra a fome

PAINEL 2Exemplos brasileiros já

conquistam e inspiram

Um dia para repensar o nosso papel no

mundo5

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Regulação e engajamento para preservara biodiversidade

Governo quer integração e parcerias com setor privado

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Um direito universal, uma luta constante

Por um desenvolvimento consciente e multidimensional

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O Dia Mundial da Alimentação é uma data apropriada para refletir, aprender e discutir sobre um pro-blema que tem mobilizado milha-res de entidades e milhões de pessoas ao redor do mundo: a fo-me e o desperdício de alimentos. Foi por isso que o Instituto Wal-mart e o Sesc, parceiros na mis-são de promover uma melhor distribuição dos alimentos, volta-da para a cidadania e a melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de pobre-za, escolheram o dia 16 de outubro de 2013 para realizar o primeiro Semi-nário Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Com-bate à Fome.

Realizado no teatro do Sesc (Casa do Comércio), em Salvador, na Bahia, o evento contou com pai-néis e conferências de especialis-tas de diversas áreas cujas pesquisas e formas de atuação convergiam para um único ponto: a erradicação da fome e da po-breza. Durante todo o dia, foram apresentados indicadores, pes-quisas, exemplos e perspectivas sobre o assunto, nos cenários na-cional e mundial.

No início do evento, representantes das instituições envolvidas fala-ram ao público. O diretor Paulo

Mindlin deu as boas-vindas pelo Instituto Walmart, e o gerente de Saúde e Ação Social do Departa-mento Nacional do Sesc, Irlando Moreira, destacou a importância da agenda. Também estiveram pre-sentes o vice-presidente da Feco-mércio da Bahia, Carlos Andrade, que representou o presidente Car-los Fernando Amaral na abertura; a secretária de Desenvolvimento da Bahia, Moema Gramacho; e a dire-tora do Sesc Bahia, Célia Batista.

A plateia, composta por assistentes sociais, estu-dantes, empresários e funcionários públicos, en-tre outros, participou ati-vamente dos debates, comentando, nos inter-valos, a importância da-

quele conhecimento para as ações que já são desenvolvidas Brasil afora.

Para além do benefício identifica-do pelos participantes presentes ao evento, o objetivo do Seminá-rio foi também multiplicar as boas ideias, compartilhando esse sa-ber entre todos os interessados no tema. Por isso, essas e outras informações também estão dis-poníveis na página criada exclusi-vamente para partilhar conteúdos da área, o blog seminariodesegu-rancaalimentar.wordpress.com. Confira e aproveite!

Oportunidade de partilharindicadores,pesquisas,exemplos e

perspectivas

Um dia para repensar o nosso papel no mundo

Salvador - BA • Outubro - 2013

SEMINÁRIO INTERNACIONALDE SEGURANÇA ALIMENTAR

Sesc, Instituto Walmart e representantes do Governo

participaram da abertura

O auditório do Teatro do Sesc, em Salvador, recebeu o público

O jornalista José Raimundo mediou os debates do evento

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Países como o Brasil têm tido um papel importante em mostrar que, onde existe pobreza e misé-ria, não dá para falar só em sus-tentabilidade ambiental. É preciso falar em sustentabilidade social. É importante falar de fome. É im-portante falar de desnutrição. Quem está com fome não se sus-tenta. Por isso, no Walmart nós temos algumas diretrizes interna-cionais de investimento social, e uma delas é a de nutrição e com-bate à fome, temas que nos foram apresentados por exemplos de países como Brasil e México.

Quando nós, do Instituto Wal-mart, conhecemos o projeto do banco de alimentos do Sesc, fica-mos curiosos com aquela ideia. Fomos aprender e claro que acha-mos o máximo. Nos unimos ao Programa Mesa Brasil Sesc, e es-sa parceria desde então só cres-ceu. Mais de dez anos se passaram, e hoje são mais de 150 lojas dos variados tamanhos doando regu-larmente para o banco de alimen-tos. Atendemos, junto com outros vários parceiros, cerca de 1.800 instituições e 300 mil pessoas de maneira regular. Todo esse traba-

Investimento social para as pessoas viverem melhor

Paulo Midlin Diretor do Instituto Walmart

lho tem tido uma influência muito importante dentro da empresa, reforçando com os 80 mil funcio-nários no Brasil a luta contra o desperdício, que já é forte para a gente, pois o Walmart tem, em to-dos os seus aspectos, uma cultura de combate a essa prática.

Entretanto, ainda há muito por fa-zer. Temos que manter a indigna-ção contra o fato de simplesmente jogar fora. Não dá para aceitar. A ideia de provocar esse Seminário foi justamente porque queremos manter a indignação de todo mun-do em alta, temos que trabalhar mais maneiras. No Walmart, esta-mos estudando mecanismos com a nossa área de segurança alimen-tar, pois mantemos a indignação de não ficar jogando fora. Por is-so, continuamente, reforçamos as parcerias, estudamos outras pos-sibilidades. Acreditamos no traba-lho em rede, na necessidade contínua de aprender, de discutir. Dessa forma, o Seminário aconte-ce porque, mais do que celebrar o Dia Mundial da Alimentação, a gente tem que tomar consciência desse problema que existe no mundo e no nosso país.”

O INSTITUTO WALMART

Está presente em 18 estados

do Brasil + DF + AP (Floresta Nacional)

558 lojas participam das ações

O Programa de Doação a Bancos de Alimentos

beneficiou cerca de

2 mil instituições

em 2013

Mais de

300.000 pessoas

assistidas por mês

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Irlando MoreiraGerente de Saúde e Ação Social do Departamento Nacional do Sesc

Rede de ações sociais resgata a esperança

O número de pessoas que passam fome no Brasil caiu em quase 10 milhões nos últimos anos, segun-do os dados mais recentes for-necidos pela Organização das Nações Unidas. Isso é significati-vo; no entanto, muita coisa ainda há para ser feita. Por isso, o Dia Mundial da Alimentação nos lem-bra a necessidade de unirmos es-forços em torno de um grave problema: a fome.

Por isso, há 10 anos, o Programa Mesa Brasil Sesc, junto a parcei-ros valorosos como o Instituto Walmart, trabalha nessa ques-tão com uma abordagem nacio-nal – trabalhos valorosos nessa área já vinham sendo desenvol-vidos em outras localidades, co-mo São Paulo, Ceará, Pernambuco e Paraná há quase 20 anos. Ao longo desse período, já foram mais de 250 mil toneladas de ali-mentos distribuídas em todo o país. Alimentos que complemen-taram refeições, aumentaram o seu valor nutricional e estimula-ram sorrisos.

A fome é um mal que cria deses-perança. E sua existência ao lado do desperdício torna esse quadro

ainda mais cruel. Há alimentos e há fome. Nós ainda somos inca-pazes de superar essas dificulda-des. Contudo, ao reunir esforços de empresas que doam, voluntá-rios que auxiliam e instituições que amparam, o Programa Mesa Brasil Sesc contribui para conter essa realidade, traçando um ca-minho digno e justo para a exis-tência humana.

Todos nós somos mais um elo dessa cadeia de ações que busca reduzir o número da fome e servir de modelo para futuras iniciati-vas. Todos integramos essa rede, pois somos multiplicadores de ideias. O que pretendemos com esse evento é simplesmente con-centrar esforços para um traba-lho cada vez mais abrangente e de grandes resultados. Hoje o Instituto Walmart abraçou de co-ração essa causa que defende-mos e se empenha em não só auxiliar as entidades e institui-ções com seus produtos, mas fa-zê-las crescer por meio de ações educativas e sociais, o que tam-bém é um dos pilares do nosso trabalho. Desejo que esse evento renda bons frutos, com iniciativas de sucesso.”

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CONFERÊNCIA

Rede Global de Banco de Alimentos: entenderpara solucionar

Encorajar, entusiasmar, conectar, resolver.

É com essas palavras que Jeffrey Klein define o

trabalho da Rede Global de Banco de Alimentos

(GFN), instituição presidida por ele, com atuação

em mais de 25 países. Destaque na programação

do Seminário Internacional de Segurança

Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome,

o norte-americano falou ao público sobre sua

experiência como consultor ao redor do mundo,

revelando semelhanças e diferenças entre vários

países, além de alguns exemplos dignos de serem

conhecidos e seguidos.

Jeffrey Klein (EUA)

Presidente e CEO da Rede Global de Bancos de Alimentos (GFN). Mestre em finanças pela Universidade de Georgetown. O americano integrou instituições financeiras como Citibank e Mellon Back e foi membro do conselho de empresas públicas e privadas, a exemplo da McCormick & Schmick, Chart House, Barri Financial Group e Progreso – esta última, uma firma de supermercado e distribuidora de alimentos, com a qual trabalha até hoje. Foi diretor de gerenciamento da Equity Group Investments.

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Apesar de reconhecer avanços alcan-çados especialmente no Brasil, Jeffrey não deixou de apontar as questões crí-ticas que nos impedem de conquistar índices ainda mais significativos. E o re-forço na comunicação é um dos desa-fios enfrentados. “Nos Estados Unidos, o conceito de banco de alimento já é bem familiar a todos, mas, no resto do mundo, é novo, muita gente não sabe do que se trata”, enfatizou. Além disso, ainda faltam políticas que garantam proteção legal àqueles que se prontifi-cam a ajudar. “Também no meu país, as pessoas físicas e as pessoas jurídi-cas ganham descontos nos impostos se ajudam o banco de alimentos”, con-cluiu o especialista.

FOME E DESPERDÍCIO EM NÚMEROS

A fome afeta hoje mais de 850 milhões de pessoas em todo o mundo.

Mais de 2 bilhões de pes-soas ainda vivem com menos de 2 dólares por dia (5 reais).

A criança cujo desenvolvi-mento físico e mental é retar-dado pela fome e pela subnutrição está prestes a perder de 5% a 10% em rendimentos duran-te seu período de vida.

O custo da subnutrição para o desenvolvimento econômi-co nacional é avaliado em 20 a 30 bilhões de dó-lares ao ano.

Um terço dos alimentos pro-duzidos para consumo hu-mano não chega a ser ingerido. Isso equivale a 1,3 bilhões de toneladas de alimentos perdidos a cada ano.

Fonte: Food and Agriculture Organization, órgão das Nações Unidas (FAO)

“Resta-nos encontrar o caminho para que as iniciativas sejam mais fortes, efetivas

e abrangentes”

Na luta contra o desperdício, a gestão é a alma do negócio. A frase pode até parecer estranha quando se fala de uma entidade que não visa lucros. Jeffrey Klein, entretanto, logo explica a asso-ciação. Com uma movimentada agen-da de visitas a governos, empresas e instituições beneficentes em vários paí-ses, o presidente da GFN revela que entender o país, o negócio e suas parti-cularidades e, assim, identificar solu-ções que se encaixem tanto em empresas como em comunidades é o segredo para que os bancos de alimen-tos cumpram seu papel. Mais do que uma ação humanitária, trata-se de um processo de otimiza-ção dos recursos e da força produtiva.

“Parte do nosso trabalho é de consultoria. A gente ajuda a entender o problema da fome, fazendo, por exemplo, análises de via-bilidade para bancos de alimentos”, ex-plica Jeffrey, revelando que a GFN também promove eventos para capaci-tar lideranças com treinamentos técni-cos, o chamado Leadership Institute. A ideia é ajudar a criar e fortalecer orga-nizações eficientes e sustentáveis que fornecem alternativas ecologicamente adequadas para o descarte do exce-dente de produtos comestíveis.

Para Jeffrey, é encorajador saber que o mundo tem comida suficiente para os quase 7 bilhões de pessoas que nele ha-bitam. O problema é que boa parte des-se alimento está no lugar errado, com a logística errada. “É difícil valorar o des-perdício, pois ele envolve perdas no meio de todo o processo. Entre as fa-zendas, as indústrias e os pontos de venda, há desperdício de água, emba-lagem, combustível, força de trabalho. É mais fácil jogar fora”, afirma o ameri-cano. Apesar disso, ele reconhece que hoje existe uma maior valorização da

cultura do reaproveita-mento em todo o mun-do, seja por uma questão financeira, política ou mesmo moral.

Segundo a análise do próprio Jeffrey, a varie-dade de bens produzi-

dos somada às iniciativas privadas e aos programas do governo já representam um cenário favorável ao combate à fo-me e ao desperdício. Não foi à toa que conseguimos, com a ajuda de progra-mas como o Fome Zero, do Governo Federal, importantes conquistas nos últimos anos. Resta-nos, contudo, en-contrar o caminho para que as iniciati-vas sejam mais fortes, efetivas e abrangentes. “Há diferentes agentes no mercado dos bancos de alimentos no Brasil, e isso é muito importante. O Programa Mesa Brasil Sesc é o maior e mais bem estruturado. Ficamos muito felizes com o programa”, afirmou Klein.

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Qual é a perspectiva da Rede Mundial de Banco de Alimentos diante da escassez e do desperdício no mundo? O futuro promete dias melhores?

JK: A Global FoodBanking Network/Re-de Global de Banco de Alimentos (GFN) acredita que o recente foco, nos últimos três ou quatro anos, na extensão do des-perdício global de alimentos e o reco-nhecimento do valor que os bancos de alimentos trazem para milhares de co-munidades ao redor do mundo pode le-var a um progresso significativo na redução da fome e da desnutrição. Para ser claro, a GFN não acredita que os bancos de alimentos irão acabar com a fome. E não acredita que eles irão aca-bar com a desnutrição. Mas a GFN sabe que os bancos de alimentos e as redes de organizações relacionadas à alimen-tação têm tirado dezenas de milhões de

pessoas da desnutrição e da fome crô-nica todos os dias. A GFN também acre-dita que esses números podem crescer expressivamente para centenas de mi-lhões com o rápido e saudável cresci-mento dos sistemas de bancos de alimentos e a expansão dos esforços para a utilização desses sistemas como pontes entre a necessidade e o supri-mento (desperdício). Tão importante quanto os serviços básicos dos bancos de alimentos, a natureza e a abrangên-cia da sua base de stakeholders unem pessoas do setor privado, do governo e da sociedade civil para contribuir para o sucesso do sistema de banco de ali-mentos. Muitas dessas pessoas não iriam se encontrar trabalhando juntas por outros objetivos. Essa é uma opor-tunidade maravilhosa de ver o impacto do banco de alimentos na comunidade e dos esforços colaborativos para con-quistar esse impacto e identificar ou-tros meios para que possam trabalhar juntos para mitigar a abrangência da fo-me. Então, sim, a GFN acredita que o futuro vai trazer dias melhores. É im-portante lembrar e focar nesses dias melhores para que conquistemos o re-sultado do trabalho duro, trabalho com-partilhado por todos os que se preocupam com o problema da fome e do desperdício.

Diante da sua experiência no Banco de Alimentos, como você enxerga o paradoxo do Brasil, que, mesmo sendo um dos maiores produtores de comida no mundo, ainda tem parte da população vitimada pela fome?

JK: Infelizmente, esse não é um parado-xo único do Brasil, virtualmente, todos os países, mesmo aqueles que são gran-des exportadores de comida, compar-tilham dessa realidade. O problema, pelo menos nos países mais desenvolvi-dos e naqueles que possuem forte agri-cultura e boa produção de comida, é menos relacionado à disponibilidade de comida e mais relativo ao acesso físico e econômico a essa comida. É comum que, de uma forma geral, a indústria do varejo não tenha presença nas áreas pobres das cidades. Os que residem em áreas mais rurais sofrem com a fal-ta de acesso, normalmente relacionada a problemas de infraestrutura, dificul-dade de transporte e escassez da pres-tação de serviços que inibem a população. Esse é o motivo pelo qual bancos de alimentos são essenciais. Eles estão relacionados à logística, pe-gando comida de onde há um amplo abastecimento e levando para onde ela é necessária.

Que fator mais implica na falta de comida: o desperdício ou a falta de engajamento da sociedade na promoção da distribuição igualitária de comida?

JK: Ambos os fatores contribuem de for-ma significativa para a falta de comida para certos segmentos da população. O primeiro deles, o desperdício, pode ser resolvido através da organização e coordenação de ajuda alimentar, como em redes de bancos de alimentos. Eles existem para coletar alimentos nutriti-vos, próprios para uso, antes que sejam desperdiçados. O segundo, a promo-ção social da distribuição igualitária de alimentos, é bem mais complexo. O setor comercial está focando, e real-mente deveria, nas implicações econô-micas da cadeia de distribuição e prováveis alvos produtivos. Essa não é uma coisa fundamentalmente ruim, promover o lucro é o trabalho do setor produtivo. Lembrando que é incum-bência da sociedade determinar qual é a melhor forma de cuidar daqueles que precisam de cuidado. Todos os setores da sociedade devem se engajar nesse diálogo e participar do desenvolvimen-to da infraestrutura apropriada identifi-cada nessas discussões.

ENTREVISTA Jeffrey Klein

É preciso acreditar em dias melhores

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.

O Presidente e CEO da Rede Global de Bancos de Alimentos, Jeffrey Klein, ao lado da coordenação nacional do Programa Mesa Brasil Sesc, Ana Barros, René Castro e Cláudia Roseno

Sandra, Gleyse e Marília comandaram o primeiro painel do Seminário

Painelistas e organizadores do Seminário comemoraram o sucesso do encontroKathleen, Alcione e Caio encerraram

as discussões do evento

A secretária de Meio Ambiente da Bahia, Moema Gramacho, destacou programas de combate à fome

Equipe do Programa Mesa Brasil Sesc, na Bahia, reunida com Jeffrey Klein durante o evento

Carlos Andrade, Célia Batista e Irlando Moreira

representaram o Sesc.

José Raimundo, jornalista e mediador do evento, Adriana Franco e Paulo

Mindlin, ambos do Instituto Walmart

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Cidadania, mudança cultural, desenvolvimento social inclusivo,

comida. “Afinal, a gente tem fome de quê?” Essa pode ser

uma pergunta bastante complexa e foi ela que deu início aos

debates do Seminário Internacional de Segurança Alimentar:

Sustentabilidade e Combate à Fome. Provocadas a responder

à questão, as painelistas Marília Leão, da Ação Brasileira pela

Desnutrição e Direitos Humanos (Abrandh), Sandra Maria

Chaves, nutricionista e professora da Universidade Federal da

Bahia (UFBA), e Gleyse Peiter, secretária-executiva do COEP/

Rede Nacional de Mobilização Social, falaram,

respectivamente, sobre alimentação como um direito social,

sistemas alimentares saudáveis e desenvolvimento social,

trazendo cenários e desafios sobre o tema.

PAINEL 1

Direito social, comida de qualidade e desenvolvimento sustentável

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1940 a 1960Concepção de

Josué de Castro

FOME:Questão social e política

1964 a 1984Ditadura Militar

FOME: Tema proibido

1985 a 2002Redemocratização do Brasil

FOME: O tema volta a ser debatido

2003 aos dias atuaisLançamento do Fome Zero

FOME: Erradicação é prioridade

do Governo Federal

A VISÃO SOBRE A FOME NO BRASIL

O caráter político do problema da fome deu o tom da palestra da especialista, que citou Josué de Castro, lembrando que a fome é uma doença social que re-presenta prejuízos para a economia de um país. E, para curar essa enfermida-de, só uma cidadania muito forte. “Quem defende a alimentação adequa-da está defendendo todos os outros di-reitos a uma vida digna”, comentou a especialista.

Entre os desafios que ainda se apresen-tam ao país, sobretudo no que diz res-peito às ações do poder público, Marília Leitão defende uma intervenção em ní-vel municipal no combate à fome. Ainda no sentido de se aproximar mais dos fo-cos onde o problema é mais grave, é importante conhecer e fortalecer as ONGs que se dedicam a diminuir as cau-sas e os efeitos da fome. Por fim, estimu-lar a participação social nas mais variadas instâncias é de grande importância. “O Brasil reduziu à metade a quantidade de pessoas que passam fome. Mas não po-demos perder o foco”, concluiu.

Um direito universal, uma luta constante

QUEM DEFENDE A ALIMENTAÇÃO ADEQUADA ESTÁ DEFENDENDO TODOS OS OUTROS DIREITOS A UMA VIDA DIGNA

Enfermeira-sanitarista, mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Políticas Públicas e em Saúde Pública, é conselheira titular do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão assessor da Presidência da República, e suplente da Comissão Intersetorial de Nutrição, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.

Marília Leitão

A humanidade chegou a um nível de conhecimento que, muitas vezes, im-pressiona. Mesmo assim, grande parte do planeta ainda sofre com a falta de acesso à alimentação adequada e pas-sa fome. Diante desse paradoxo social, Marília Leão, presidente da Ação Brasi-leira pela Desnutrição e Direitos Huma-nos (Abrandh), defende que, do ponto de vista das políticas públicas e do or-çamento destinado à causa, o Brasil já avançou bastante. Ainda é preciso, en-tretanto, reforçar a participação social e a integração entre os agentes.

De acordo com a especialista, no que diz respeito a políticas e legislação, o cenário é bastante positivo. Desde 2006, o Brasil já possui sua Lei Orgâni-ca de Segurança Alimentar e Nutricio-nal e apresenta um longo histórico de políticas públicas de segurança alimen-tar e nutricional, sendo o salário mínimo exemplo disso. “O problema é que o pú-blico não sabe trabalhar com o privado. E, quando a gente vê exemplos como o do Sesc e do Walmart, a gente percebe o quanto uma empresa pode fazer”, pontuou, lembrando ainda que é neces-sário lutar contra o assistencialismo.

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Ter acesso à comida não é o suficiente, é importante também garantir a quali-dade dessa comida. As mudanças na relação que o brasileiro possui com a comida têm refletido em graves proble-mas no que diz respeito à segurança ali-mentar e nutricional, como o aumento da obesidade no país. Para impedir que esse tipo de distorção continue a afetar a população, a professora Sandra Cha-ves defende mudanças tanto culturais quanto no reabastecimento e regulação por parte do governo.

“O padrão alimentar ditado pela dinâ-mica urbana de hoje faz com que o ser humano coma cada vez menos comida e mais produtos multiprocessados”, preocupa-se Sandra Chaves, tratando de distinguir alimentos (minimamente processados) dos produtos alimentí-cios (ultraprocessados e com muitas substâncias). Segundo dados apre-sentados pela professora, 14,8% dos brasileiros apresentam um quadro de excesso de peso ou obesidade, e os custos do Sistema único de Saúde (SUS) com patologias relacionadas com o sobrepeso é de quase R$ 500 milhões por ano.

No que diz respeito à participação do Estado nesse processo de consumo consciente e saudável de alimentos, a professora lembrou que o sistema ali-mentar é uma cadeia que envolve pro-dução, transporte, venda, compra e, finalmente, consumo dessa mercadoria. Por isso, o desenvolvimento de ações como uma política nacional de abaste-cimento e um fortalecimento da regula-ção é urgente. “Hoje existe uma série de políticas públicas para a agricultura fa-miliar, mas ainda é necessário que o Es-tado participe mais em pontos como a regulação e a informação”, afirmou a nutricionista.

Ainda nessa perspectiva do sistema ali-mentar como cadeia, é impossível dei-xar de pensar no impacto ambiental da agricultura de massa que existe hoje. Um grande percentual dos gases que provocam o efeito estufa vem da produ-ção de alimentos. “Não dá para voltar ao modelo de manejo totalmente natural, que é bastante caro. Temos que saber encontrar o meio-termo”, pontuou. An-tes de mais nada, lembra a professora, as pessoas têm o direito de saber o que estão comendo para que, a partir daí, possam reconstruir o hábito alimentar.

Fonte: Vigitel 2006 a 2011

OBESIDADE NO BRASIL EM COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES

14,8

20,5

25,127,6

BRASIL ARGENTINA CUBA EUA

Qualidade e informação para garantir a segurança alimentar

Formada em nutrição, fez mestrado em Saúde Pública e doutorado em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora da área de Políticas Públicas em Segurança Alimentar e Nutricional, ela atua como orientadora e professora da graduação e da pós-graduação da UFBA nas áreas de Saúde Coletiva, Metodologia da Pesquisa em Alimentos e Nutrição, Nutrição e Políticas Públicas e Segurança Alimentar e Nutricional.

Sandra Chaves

É NECESSÁRIO QUE O ESTADO PARTICIPE MAIS

EM PONTOS COMO A REGULAÇÃO E A

INFORMAÇÃO

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de ser basilar para outras políticas por se tratar de um tema multidisciplinar e intersetorial, esse tipo de abordagem estabelece os parâmetros para o mo-delo do desenvolvimento sustentável, antecipando problemas e suas conse-quentes soluções.

“Aqui no Brasil, nós temos a tradição de remediar, e não de prevenir”, co-mentou a painelista. Problemas recor-rentes como o da seca apontam para a necessidade de adaptar para reduzir vulnerabilidades. Para que essa adap-tação efetivamente aconteça, devem ser evitadas abordagens relacionadas a políticas assistencialistas. Como lem-brou Peiter em sua palestra, homens e mulheres precisam ser protagonistas do próprio desenvolvimento. Citando o sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o Betinho, ela lembra que, antes de tu-do, somos cidadãos.

Segundo Gleyse Peiter, que também é conselheira do Consea, atualmente há uma demanda grande por alimentos que não é atendida, ao mesmo tempo que a pressão pelo biocombustível é cada vez maior. Por isso, grandes exten-sões de terra que poderiam estar pro-duzindo alimentos para consumo interno são dedicadas a plantações para abas-tecer o mercado externo (soja) ou para produzir combustíveis (cana-de-açú-car). “A monocultura traz problemas pa-ra a segurança alimentar e nutricional, que precisa de biodiversidade”, alertou Peiter, lembrando ainda que o fortaleci-mento da agricultura local acaba por preservar a cultura também, através da gastronomia.

É nesse contexto que as ações desen-volvidas para garantir a segurança ali-mentar e nutricional se mostram como um importante ponto de partida. Além

Por um desenvolvimento consciente e

multidimensional

Crescimento é diferente de desenvolvi-mento, e isso muita gente já sabia. Mui-tos não sabem, entretanto, que aquilo que chamamos de desenvolvimento sus-tentável possui seis dimensões: social, econômica, ecológica, cultural, política e espacial. Foi para essa peculiaridade que chamou atenção a secretária-executiva da Rede Nacional de Mobilização (Coep), Gleyse Peiter. Para ela, o primeiro passo para garantir a tão falada e sonhada sus-tentabilidade é repensar culturalmente o consumo – inclusive o de alimentos.

Secretária-executiva do Coep, da Rede Nacional de Mobilização Social e, desde 2004, é conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que tem como principal objetivo garantir a segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada a todos brasileiros. Hoje ela coordena o grupo de trabalho Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade, ligado ao Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e o Laboratório Herbert de Souza – Tecnologia e Cidadania.

Gleyse Peiter

AQUI NO BRASIL, NÓS TEMOS A TRADIÇÃO DE REMEDIAR, E NÃO DE PREVENIR

População em 20107 bilhões

População em 20509 bilhões

Limites do planeta

Impacto ecológico do uso dos recursos globais

Parcela dos recursos utilizados pelos 20% mais pobres

UMA MUDANÇA NECESSÁRIA

Fonte: Oxfam - Crescendo para um futuro melhor

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Plateia atenta durante o primeiro painel do dia

A multidisciplinaridade do tema foi percebida nos

bate-papos do intervalo

Material gráfico incluiu folders com dados sobre o cenário nacional

Público foi recebido pela equipe do Seminário pela manhã

Integrantes do Programa Mesa Brasil Sesc

compareceram em peso

Boa participação evidenciou a importância do debate

O evento contou com 350 inscritos de todo o Brasil

Profissionais de diversas áreas compuseram o público

Em Salvador, os debates foram realizados em dois turnos

O coffee break também foi momento de troca de experiências

Participantes receberam material do evento

Page 15: Revista Segurança Alimentar e Combate à Fome

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A ideia de trabalhar em rede, já adotada pelos bancos

de alimentos em diversos países, pode ser aplicada

também de uma forma mais ampla.

A luta pela erradicação da fome e da miséria envolve

agentes dos mais variados setores, demandando

vontade política, engajamento social e muito

investimento. Para falar sobre o que já vem sendo

feito nesse sentido para além do Programa Mesa

Brasil Sesc, o segundo painel do Seminário contou

com a analista de políticas sociais do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate

à Fome, Kathleen Souza Oliveira; o diretor do Instituto

Ethos, Caio Magri; e a fundadora do Instituto Amigos

do Bem, a empresária Alcione Albanesi.

PAINEL 2

Exemplos brasileiros já conquistam e inspiram

26

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Além da iniciativa privada, o Estado também se articula para abastecer bancos de alimentos em todo o país. Especificamente no Brasil, há dez anos, esse tipo de iniciativa figura na política nacional através do Ministério de De-senvolvimento Social e Combate à Fo-me. Para traçar um panorama sobre o que vem sendo feito, a nutricionista e analista de políticas sociais do MDS, Ka-thleen Oliveira, ministrou palestra e ain-da anunciou uma importante parceria.

“No caso das ações do Governo Fede-ral, trabalha-se não apenas com a doação de alimentos, mas também com o Programa de Aquisição de Ali-mentos, em que o governo compra alimento do agricultor”, explicou a analista. Independente do caso, a ideia é, além de implementar – o que já foi feito em muitas áreas –, monitorar o funcionamento desses bancos e dar apoio técnico para que eles se susten-tem – etapas ainda em fase de estru-turação. Para ela, entretanto, ainda faltam articulação e integração gover-no-governo e governo-empresa.

“A relação entre o público e o privado ainda é complicada, pois não existe um código de ética sobre o assunto”, aler-tou Kathleen. Apesar de nem sempre ser fácil, o somatório de esforços do go-verno com as empresas é fundamental para que os benefícios sejam mais abrangentes e sustentáveis. Foi por isso que, em uma parceria inédita na área, o Programa Mesa Brasil Sesc assinou, ain-da em 2013, um acordo de cooperação com o MDS para fortalecer a rede na-cional de banco de alimentos e, no futu-ro, compor uma gestão compartilhada.

Ainda apresentando o planejamento do MDS na área, Kathleen Oliveira explicou que, assim como no caso da iniciativa privada, existe uma necessidade forte por parte do governo de otimizar os es-forços. “Nosso foco agora, por exem-plo, está nas Ceasas do Brasil. Passa muito alimento por ali e boa parte so-bra. Consideramos estratégica a inte-gração dos bancos de alimentos nesses espaços”, revelou a analista, afirmando ainda que o governo pretende aumen-tar o número de bancos de alimentos, que hoje é de 74, para 102 até 2015.

DISTRIBUIÇÃO DOS BANCOS DE ALIMENTOS GOVERNAMENTAIS PELO PAÍS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

74 unidades em funcionamento47 unidades em implantação

Governo quer integração e parcerias com setor privado

ASSIM COMO NO CASO DA INICIATIVA PRIVADA, EXISTE UMA NECESSIDADE FORTE POR PARTE DO GOVERNO DE OTIMIZAR OS ESFORÇOS

Analista do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e formada em Nutrição pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2000. Kathleen atua, há 11 anos, na área de saúde pública, na qual é mestra pela Fiocruz. Analista de Políticas Sociais especializada em Nutrição Clínica e Gestão de Políticas de Alimentação, já trabalhou na Secretaria de Saúde do Paraná e hoje é coordenadora-geral de Equipamentos Públicos da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan).

Kathleen de Sousa Oliveira

9

3

29

19

61

SulSudeste

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

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30 31

No trabalho de erradicação da fome e da pobreza, o governo investe, as em-presas criam boas estruturas e contam com uma ajuda imprescindível de vo-luntários. Trabalhos relevantes de dedi-cação e solidariedade podem ser conferidos em todo o mundo. Um exemplo desse engajamento é o que vem sendo desenvolvido pela Amigos do Bem, uma instituição fundada pela empresária Alcione Albanesi, em 1993, que luta no combate à fome no Sertão nordestino.

Convidada para apresentar o seu tra-balho como voluntária na causa, Alba-nesi exibiu um vídeo sobre a ONG que dirige e não hesitou em afirmar: “Tudo começa com o alimento. É a base de tudo”. Partindo desse princípio, a enti-dade procura os mais diversos tipos de parceria para levar cada vez mais co-mida a municípios pobres dos estados de Alagoas, de Pernambuco e do Cea-rá. Entre esses parceiros, está o Wal-mart, que realiza, em diversas lojas, campanhas de arrecadação de alimen-tos junto aos clientes, numa corrente de solidariedade loja-ONG-cidadão.

“Existe miséria em todos os lugares, mas, no Sertão nordestino, há povoados intei-ros sem comida e o pior: não há geração de empregos”, pontuou Albanesi. Por is-so, o trabalho da instituição vai além da entrega da comida arrecadada. Há uma preocupação em capacitar a população inserida em um contexto de pobreza e dificuldade. Mais uma vez, entra em ação o poder dos voluntários, que, por diver-sas ocasiões, ministram cursos e oficinas em áreas que vão desde a matemática e o português até esportes, música, dança e corte de cabelo.

Seja por meio de entidades organiza-das ou do trabalho “formiguinha” feito por pequenos grupos de pessoas, o im-portante, segundo a empresária paulis-ta, é fazer com que as pessoas se engajem de fato na causa. “A situação só pode ser revertida com a interven-ção humana. É um problema de todos nós”, defendeu durante sua palestra, provocando uma importante reflexão em todos os presentes: o que já faze-mos e o que mais podemos fazer para contribuir para a diminuição da miséria, da fome e do desperdício?

AMIGOS DO BEM

Voluntariado tem papel estratégico na luta contra a fome

A SITUAÇÃO SÓ PODE SER REVERTIDA COM A

INTERVENÇÃO HUMANA

Empresária e fundadora da instituição Amigos do Bem, que desde 1993 tem a missão de erradicar a fome e a miséria no sertão nordestino, por meio de ações educacionais e projetos autossustentáveis, ela foi vencedora do Projeto Generosidade 2007, da Editora Globo, e do Trip Transformador 2011, da Editora Trip.

Alcione de Albanesi

Funciona

desde 1993Atua em

4 cidades nordestinas

Possui 5 mil voluntários

PROJETOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE

• educação• esportes• cultura• culinária• agricultura• construção civil• combate à fome• saúde• formação profissional

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“Desperdício de alimentos na conjuntu-ra atual é crime de lesa-humanidade.” A frase é impactante, mas a verdade é que, no fundo, faz todo sentido. Essa é a ideia defendida pelo sociólogo Caio Magri, do Instituto Ethos, último paine-lista do Seminário. Para ele, mais do que pensar na questão humanitária imedia-ta, é importante perceber que algumas escolhas econômicas e sociais na área do agronegócio podem ter efeitos irre-versíveis para o planeta.

Pesquisas do Ministério do Meio Ambiente revelam que, ao longo da história, os homens utilizaram para sua alimenta-ção cerca de 3 mil espécies de produtos de natureza vegetal. Hoje apenas 15 es-pécies fazem a base da segurança ali-mentar de cerca de 80% das pessoas que vivem no planeta – soja, mandioca, milho e arroz, entre outras. Os números apresentados por Magri são o reflexo do que uma cultura de consumo não consciente é capaz de provocar. “Pre-cisamos discutir de uma forma mais profunda sobre a destruição da biodi-versidade e da incapacidade que a gen-te pode dispor, num médio e longo prazo, de alternativas para a segurança alimentar de produtos que já utilizamos na nossa história e que foram muito im-portantes para o desenvolvimento hu-mano”, enfatizou o sociólogo.

O momento é de contradição: é impor-tante gerar mais alimentos, mas temos a necessidade de preservar a biodiversida-de, que é a base da segurança alimentar dos povos. “Depender somente de 15 produtos que se encontram concentra-dos na mão de poucas empresas é extre-mamente preocupante do ponto de vista do acesso, da democracia”, diz Magri.

Por isso, apesar de já apresentar avan-ços no combate à fome e erradicação da miséria – investindo em políticas de fortalecimento da agricultura familiar e de distribuição de renda –, o governo brasileiro precisa também regular os impactos da atividade agroindustrial. Além de estimular a prática sustentável de produção e consumo, é necessário que o governo também seja capaz de estabelecer regras que garantam me-nor impacto, segundo o palestrante.

Regulação e engajamento para preservar a biodiversidade

Formado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Magri é o atual gerente executivo de Políticas Públicas do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Foi gerente de Políticas Públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e coordenador do Programa de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto/SP. Integrou em 2003 a assessoria especial do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Programa Fome Zero.

Caio Magri

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NA CONJUNTURA ATUAL É CRIME DE LESA-HUMANIDADE

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“Antes deste seminário, eu não tinha noção do cenário mundial do combate à fome, só conhecia a realidade brasileira. Além disso, os debates me ajudaram a entender o porquê da abordagem assistencialista ser tão combatida. Por fim, é sempre importante perceber o quanto o serviço social pode contribuir para a segurança alimentar e nutricional.”

Naiara Bispo Estudante de serviço social na União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime)

“No processo de distribuição de alimentos excedentes ainda em condições de consumo, o Programa Mesa Brasil Sesc conta com o auxílio inestimável de parceiros e voluntários. Apenas nos primeiros nove meses de 2013, o programa arrecadou, na Bahia, mais de 1 tonelada de alimentos e materiais de limpeza. Juntos, Sesc e Walmart continuarão trabalhando pela sustentabilidade e pelo combate à fome, fortalecendo uma grande rede de solidariedade.”

Carlos AmaralPresidente do Sesc Bahia

“A ideia é fazer a ponte entre as pessoas e os alimentos. Mais do que apenas repassar comida, é preciso conduzir para o consumo consciente e saudável. É difícil porque o hábito alimentar, muitas vezes errado, está muito enraizado na sociedade. Por isso, o programa busca estabelecer critérios para garantir refeições mais nutritivas.”

Marion CerqueiraNutricionista do MBS de Feira de Santana

“Tem garotos na comunidade que, às vezes, vão para a escola por causa da merenda. Da mesma forma, a boa alimentação acaba atraindo crianças para entidades que trabalham com esportes, educação, etc. Os meninos têm consciência do valor do alimento e multiplicam essa cultura. Isso se reflete diretamente na comunidade.”

Samuel Santana Presidente da Associação Beneficente Pernamboés

Quem acompanhou os debates e as palestras do Seminário

Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à

Fome aproveitou para tirar lições e ampliar seus conhecimentos sobre

o tema. Na plateia, estiveram assistentes sociais, estudantes,

representantes de ONGs, entre outros. Todos interessados e animados

diante das informações apresentadas. Confira o que algumas dessas

pessoas falaram sobre o evento e o tema de uma forma geral.

“As palestras trouxeram uma série de novidades para mim, como, por exemplo, a questão do prazo de validade para consumo dos alimentos, que é diferente do prazo para venda. O Programa Mesa Brasil Sesc tem me ensinado bastante sobre a alimentação ideal para as mais de 80 crianças que a minha instituição assiste.”

Liliana Mendonça Sociedade Beneficente Criança Feliz

“A demanda por alimentos é sempre muito grande, o que faz com que estejamos sempre envolvidos na captação de doadores, muito focados nas comunidades em que trabalhamos. Trabalhamos muito; entretanto, entendo que ainda precisamos correr muito atrás das ações educativas, que são muito importantes.”

Gracie Pereira Assistente social do Programa Mesa Brasil Sesc (MBS) Salvador

“Em meio aos painéis e debates, eu consegui enxergar várias pautas. Quando a gente se coloca em contato com essa gama de informações, fica mais atento. O dia de hoje, sem dúvida nenhuma, mudou minha percepção sobre o tema e alertou formadores de opinião sobre algo grave que está tão próximo a nós.”

José RaimundoJornalista e mediador dos debates do Seminário

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Esta publicação é uma consolidação do conteúdo abordado durante o Seminário Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome, realizado no dia 16 de outubro de 2013, em Salvador/BA.

Projeto editorial DIÁLOGO COMUNICAÇÃO INTEGRADA

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(81) 3426.2263

Jornalistas MÁRCIA GUENES (DRT/PE 1637) RENATA REYNALDO (DRT/PE 1902)

Produção de Conteúdo LAURA CORTIZO

Projeto Gráfico e Diagramação ISABELA FARIA BRUNO SOUZA LEÃO

Revisão RAFAEL FILIPE SOUZA JOSÉ BRUNO MARINHO

Fotografia MANUELA CAVADAS

Todo o conteúdo desta publicação se encontra disponível no blog do evento: seminariodesegurancaalimentar.wordpress.com

Permitida a reprodução desta obra desde que citada a fonte.

REALIZAÇÃO

PARCERIA APOIO LOCAL

O que você faz para mudar isso?

1/3 DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

DO PLANETA VAI PARA O LIXO.

QUASE 870 MILHÕES DE PESSOAS

PASSAM FOME NO MUNDO.

Page 21: Revista Segurança Alimentar e Combate à Fome

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