Revista SPECTRUM Nº 08

47
Revista do Comando-Geral do Ar Nº 08 - Maio 2004

description

Revista do Comando-Geral do Ar Nº 08 - Maio 2004 Comandante-Geral-do-Ar Ten.-Brig.-do-Ar José Carlos Pereira Míssil Infravermelho: Operacionalidade Baseada em Pesquisa Aplicada.............................37 O Uso da Transformada de Wavelets em Deinterleaving......................................................... 23 Aplicação de Inteligência Artificial em Comando e Controle................................................27 Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.

Transcript of Revista SPECTRUM Nº 08

Page 1: Revista SPECTRUM Nº 08

Revista do Comando-Geral do Ar Nº 08 - Maio 2004

Page 2: Revista SPECTRUM Nº 08

ÍndiceExpedienteComandante-Geral-do-ArTen.-Brig.-do-Ar José Carlos Pereira

Chefe do Estado-Maior do COMGARMaj.-Brig.-do-Ar Roberto Geraldo Pimenta Ribeiro

Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. José Eduardo Portella AlmeidaTen.-Cel.-Av. Edílson Hiroshi EndoMaj.-Av. Luiz Alberto Pereira BianchiMaj.-Av. Marcelo Boaventura Leite CardosoCap.-Av. Marcelo Vellozo MagalhãesCap.-Av. Antônio Ferreira de Lima JúniorCap.-Av. Sidney César Coelho Alves1S BCO Márcio Rodrigues de Carvalho2S SAD Ivana Maria Muro Sorroche2S SAD Alexandre Oliveira Fernandes2S BCO Márcio Reis Ramos

ColaboraçãoCentro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)

Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 – Tel/Fax: (12) 3921-0121CEP 12243-630 – São José dos Campos – SPe-mail: [email protected]

ImpressãoGráfica e Editora Itamarati Ltda.SIG Quadra 02 nº 400 - CEP 70610-420 Brasília – DFPabx (61) 343-1833 - Fax (61) 343-1099e-mail: [email protected]

Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.

Caso o leitor deseje fazer parte da lista de assinantes,favor entrar em contato com o Conselho Editorial no e-mail [email protected], informando endereçoe telefone para contato.Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são de ex-clusiva responsabilidade de seus autores. Estão autori-zadas transcrições integrais ou parciais das matériaspublicadas, desde que mencionados o autor e a fonte eremetido um exemplar para o COMGAR.

Centro de Guerra Eletrônica do COMGAR (CGEGAR)SHIS – QI 05 – Área Especial 1271615-600, Brasília DFTel: (61) 364-8990 – Fax: (61) 364-8076e-mail: [email protected] versão eletrônica desta revista pode ser encontra-da no portal da Força Aérea Brasileira na Internet:www.fab.mil.br

Editorial ..................................................................... 4

Histórico do COMGAR .............................................. 5

Entrevistas .................................................................. 9

Composição do COMGAR ....................................... 12

Assimetria Militar: como obtê-la .............................. 13

Relacionamento entre Bases e Unidades AéreasResponsabilidades de Organizações Militares Interdependentes ... 17

O Uso da Transformada de Wavelets emDeinterleaving ......................................................... 23

Aplicação de Inteligência Artificial emComando e Controle ................................................ 27

Capacitação Científica para Aplicação Operacional: a Aeronave Furtiva Brasileira ................................... 32

Míssil Infravermelho: OperacionalidadeBaseada em Pesquisa Aplicada. ............................ 37

Integração Digital de Aviônicos por BarramentoMIL-STD-1553B ....................................................... 42

Colaboradores ........................................................ 46

Page 3: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○4

Spectrum

Editorial

COMGAR 35 ANOS

Aniversários têm sido, ao longo da história, uma ponderável motiva

ção para que grupos e pessoas reflitam sobre si mesmas e tentem se

posicionar em relação aos seus próprios limites. Embora admita ser

esta a regra geral, ando com a sensação de uma sociedade cada vez mais

débil na sua autocrítica, cada vez com mais medo de se olhar no espelho da

vida e reconhecer alguma feiúra, deformidade ou alguma bruxa obstinada

pela verdade.

Estamos no aniversário do Comando-Geral do Ar, presumivelmente um

tempo de reflexão e de espelhos. Mas o tempo é curto e os espelhos parecem

embaçados. Ou, talvez, nossa memória esteja curta e nossos olhos embaça-

dos. Talvez haja problema com óculos e nuvens. Talvez não haja nada. Aliás,

não há nada.

Estamos no aniversário de nosso Comando, de nossa casa, de quase

trinta mil homens e mulheres espalhados pelo país, dedicados a alguma mis-

são e compondo um grande quadro de poder militar autêntico, legítimo e fiel

a seus princípios. Esta é a hora de eliminar fantasias e fantasmas, hora de

assepsia, hora de olhar o espelho e ver uma Força Aérea digna de uma nação

livre, soberana e feliz. Uma nação sem cães raivosos, sem agiotagem de

almas, sem a cultura da miséria, industrialização de incompetência ou acei-

tação da fatalidade.

A hora é de fazermos nosso próprio destino, de não temer urros e lati-

dos, de juntar nossas feiúras e deformidades e, com elas, construir a visão

harmoniosa do futuro. E ter muito orgulho de tudo isso. É hora de coesão, de

estar junto, de enxergar além do espelho, de perceber além da vã percepção,

de acreditar além do futuro provável. É hora de passar por cima do mal, mas

com cuidado para não machucá-lo; ele será a testemunha de nosso progres-

so, de nossa ordem, de nossa vitória. Contato, companheiros!

Ten.-Brig.-do-Ar – JOSÉ CARLOS PEREIRAComandante-Geral do Ar

O Ten.-Brig.-do-Ar José

Carlos Pereira ingressou na For-

ça Aérea em março de 1958 e

foi declarado Aspirante em de-

zembro de 1963.

Piloto de Caça, atuou

como tal até o posto de Tenen-

te-Coronel, tendo sido Opera-

ções do 1º/4º GAV, instrutor de

Caça por 6 anos, Comandante

do lendário e controvertido

Esquadrão Seta, além de ter

passado por longo período no

1º Grupo de Caça.

Serviu nos Estados-Maio-

res do COMGEP e do

COMGAR, no Gabinete Mili-

tar da Presidência da Repúbli-

ca, no CISA, atual SECINT, e

na Junta Interamericana de

Defesa, em Washington.

Como Oficial-general foi

Chefe de Logística do antigo

EMFA, Comandante da Acade-

mia da Força Aérea Brasileira,

Chefe do Estado-Maior do

COMGAR, Comandante da

Defesa Aérea Brasileira e, atu-

almente, é o Comandante-Ge-

ral do Ar. Possui 18 condeco-

rações e é casado.

Page 4: Revista SPECTRUM Nº 08

5

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Histórico do COMGAR

ALMANAQUE ESSENCIAL – 35 ANOS

1941 – 20 de janeiro: Cria-se o Ministério

da Aeronáutica com os meios existentes da

Marinha, Exército e Departamento da Aeronáu-

tica Civil, do então Ministério de Viação e

Obras Públicas. O Decreto de criação é volta-

do essencialmente para permitir a instalação

do novo organismo, sem abordagens específi-

cas quanto à organização operacional. O novo

Ministério deveria funcionar com os saldos de

verbas existentes e mais um crédito especial

de mil contos de réis.

1942 – 14 de julho: Decreto organiza a

Força Aérea Brasileira. Em meio à Segunda

Guerra Mundial, a primeira estrutura aplicada

à Força revela claramente a influência do pen-

samento estratégico da época e estabelece os

fundamentos que nortearão a Instituição nas

décadas seguintes. O Ministro é o Comandan-

te, e o conceito operacional dominante está

voltado para a estruturação por tarefa especi-

alizada. A Infantaria de Guarda é estabelecida

em suas linhas gerais.

1967 – 25 de fevereiro: Entra em vigor o

Decreto-Lei 200 que moderniza a Administra-

ção Federal, colocando o país em ambiente

de modernidade e alterando profundamente

os usos e costumes administrativos.

1967 – 31 de março: Em cumprimento ao

Decreto-Lei 200, é emitido o Decreto nº

60.521, que estabelece a estrutura básica da

organização do Ministério da Aeronáutica. O

conceito de Unidade de Comando é fixado,

por meio da idéia de Grande Comando, no

qual se insere o Comando-Geral do Ar, conce-

bido neste Decreto, com objetivo de centrali-

zar o comando de todo o segmento aéreo com-

batente. Na linha de subordinação permane-

ceram os antigos conceitos de organização por

tarefas especializadas. As Zonas Aéreas não

foram subordinadas ao COMGAR, ficando li-

gadas à Força Aérea Brasileira cujo Coman-

dante era o Ministro. Ficou estabelecido um

prazo de cinco anos para completar-se a

reestruturação e ativação de todos os órgãos

previstos no Decreto.

1968 – 15 de junho: É criado o Núcleo

do Comando do Comando-Geral do Ar.

1969 – 20 de maio: É ativado o Comando

do Comando-Geral do Ar, com sede provisó-

ria no Estado da Guanabara.

Page 5: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○6

Spectrum

Organograma da Estrutura Organizacional do Comando-Geral do Ar na atualidade

1973: As Zonas Aéreas recebem a deno-

minação de Comandos Aéreos Regionais e

passam à subordinação do COMGAR.

1975: O QG do COMGAR transfere-se do

Rio de Janeiro para Brasília, ocupando instala-

ções do prédio do Ministério onde hoje está

instalada a Secretaria de Economia e Finanças

da Aeronáutica. Com o término da construção

do prédio Anexo, passou a ocupar o segundo

andar daquela instalação.

2003 – junho: O QG transfere-se para a

área militar contígua à Base Aérea de Brasília,

ocupando instalações que anteriormente per-

tenciam ao CENIPA e SERENG-6. Com isso,

passa a integrar o complexo operacional com-

posto pelo COMDABRA, VI COMAR,

CINDACTA 1, HFAB, CENIPA e BABR, além do

Aeroporto Internacional e sua estrutura de apoio.

A partir de 2000, a estrutura do COMGAR

Organograma da Estrutura do Comando-Geral do Ar em sua ativação (Portaria nº 37/GM7, de 20 de maio de 1969)

foi sendo atualizada gradativamente e em bus-

ca de modernos conceitos, tanto no campo das

Operações Aéreas como em setores específi-

cos, como Comando e Controle, Operações

Terrestres, Inteligência de Combate e Instrução

Tática e Especializada. A passagem da

COMARA à subordinação do COMGAR per-

mitiu dispor de vigoroso instrumento de Enge-

nharia Operacional e de pronta-resposta.

No presente momento, o efetivo deste

Comando, incluindo seu QG, é de 27.757

militares (44,6% do efetivo da Força). São 07

Comandos Aéreos Regionais, o COMDABRA,

03 Forças Aéreas, a COMARA, 19 Bases Aére-

as, 38 Unidades Aéreas, o Esquadrão

Aeroterrestre de Salvamento, o Centro do Cor-

reio Aéreo Nacional, 04 Batalhões Especiais

de Infantaria, 02 Grupamentos de Apoio e 19

Prefeituras de Aeronáutica.

Page 6: Revista SPECTRUM Nº 08

7

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tão logo seja aprovada a reestruturação da

Aeronáutica, provavelmente ainda em 2004, o

COMGAR passará a denominar-se Comando-

Geral de Operações Aéreas. A sigla permane-

ce, a saga idem. Cada dia é e será momento de

transformação para melhor, momento para re-

jeitar firmemente a estagnação da vida e o ato-

leiro do obsoletismo intelectual. Há que se hon-

rar o passado, os que nos antecederam e a con-

fiança dos que acreditaram e acreditam.

Voar, Combater e Vencer.

Page 7: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○8

Spectrum

Ten.-Brig.-do-Ar Sócrates da Costa Monteiro

de 18/04/1989 até 02/03/1990 Ten.-Brig.-do-Ar Marcio Terezino

Drummond de 02/03/1990 até 25/11/1991

Ten.-Brig.-do-Ar Ivan Moacyr Frota de 25/11/1991 até 12/08/1993

Ten.-Brig.-do-Ar Carlos de Almeida Baptista

de 12/08/1993 até 04/08/1994 Ten.-Brig.-do-Ar Ronald Eduardo Jaeckel

de 04/08/1994 até 08/08/1997 Ten.-Brig.-do-Ar Walter Werner Bräuer

08/08/1997 até 07/08/1998

Ten.-Brig.-do-Ar Henrique Marini e Souza 07/08/1998 até 02/08/2001

Page 8: Revista SPECTRUM Nº 08

9

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ENTREVISTAS

Aedição de 35 anos do COMGAR da

revista Spectrum, oportunamente, en-

trevistou dois militares que participa-

ram da gênese desse Grande-Comando. Con-

forme veremos a seguir, foram entrevistados o

segundo comandante, Ten.-Brig.-do-Ar ARY

PRESSER BELO, que esteve à frente do

COMGAR de março de 1969 a abril de 1970,

e um graduado, SO OSWALDO COSTA

CORRÊA, que era cabo quando o COMGAR

foi criado, em 1969, e acompanhou a movi-

mentação do Comando para Brasília, em 1975.

Foram os militares que presenciaram os anos

iniciais deste Grande Comando e concederam

uma pequena parcela de suas lembranças aos

leitores da Spectrum.

Ten.-Brig.-do-Ar ARY PRESSER BELO

Natural da Cidade de São Leopoldo - RS,

nascido em 07 de setembro de 1911, o Ten.-

Brig.-do-Ar Ary Presser Belo foi o segundo

Comandante-Geral do Ar, quando este ainda

era Núcleo. Após o Comando, foi também

Chefe de Gabinete do então Ministro da Aero-

náutica Ten.-Brig.-do-Ar Clóvis Monteiro

Travassos. Achá-lo não foi tarefa fácil, mas va-

leu a pena.

SPECTRUM: Brigadeiro Presser Belo,

como se deu à indicação do senhor para o

Comando do COMGAR?

TB PRESSER BELO: Bom, o COMGAR ti-

nha pouco mais de um ano de existência e era

comandado pelo Maj.-Brig. Newton Ruben

Sholl Serpa e lembro que fui designado para

comandar o Núcleo do Comando-Geral do Ar

pelo então Ministro da Aeronáutica Marechal-

do-Ar R/R Márcio de Souza e Mello, este no

seu segundo mandato de Ministro.

SPECTRUM: Qual a motivação maior na-

quela época para se criar o COMGAR?

TB PRESSER BELO: A motivação maior era

subordinar a aviação da Força Aérea Brasilei-

ra a um mesmo Comando visto que, antes do

COMGAR, os meios aéreos eram subordina-

dos às antigas Zonas Aéreas (atuais COMAR),

tornando o Comando fragmentado.

SPECTRUM: Como foi a transferência do

COMGAR para Brasília?

TB PRESSER BELO: O Ten.-Brig.-do-Ar

Délio Jardim de Matos transferiu a sede do Rio

de Janeiro para Brasília, através de ato de ins-

talação do COMGAR, sendo que a efetivação

da transferência ocorreu meses depois.

SPECTRUM: Qual a importância do

COMGAR dentro da Força Aérea naquela

época?

TB PRESSER BELO: Naquele tempo, ficou

a cargo do COMGAR encarnar o braço

operacional e armado da Aeronáutica, a qual

existiria para apoiar os vetores e Unidades

Operacionais da Força Aérea comandada pelo

Comando-Geral do Ar.

SPECTRUM: Qual o fato marcante na épo-

ca do seu Comando? Ações de grande vulto?

Page 9: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○10

Spectrum

TB PRESSER BELO: Eu fiquei pouco tem-

po à frente do Núcleo do COMGAR, mais

precisamente um ano e um mês, e devido a

estar na sua fase embrionária, preparando sua

estrutura organizacional e seus regulamen-

tos, não se teve oportunidade da participa-

ção do COMGAR em quaisquer dessas situ-

ações.

SPECTRUM: E de algum fato pitoresco?

TB PRESSER BELO: Ah sim... Lembro-me

que como não havia rancho no prédio (o nú-

cleo do COMGAR estava instalado na anti-

ga PANAIR onde hoje é o III COMAR), o efe-

tivo deslocava-se até o rancho da Zona Aé-

rea para realização das refeições, entretan-

to, o caminho não era tão fácil assim, pois

havia alguns cachorros amarrados no trajeto

e eram cachorros ferozes e os militares eram

obrigados a fazer longos desvios. Depois fi-

camos sabendo que os cachorros pertenci-

am a um oficial que os alimentava com as

sobras do rancho.

Atualmente, o Ten.-Brig.-do-Ar Ary

Presser Belo, está com 93 anos de idade e mora

em Teresópolis – RJ. Mesmo com a idade avan-

çada, nos proporcionou momentos de refle-

xão ao passado... É curioso saber que seu ir-

mão, Ruy Presser Belo, também oficial da Ae-

ronáutica, foi o primeiro piloto a fazer a rota

da região norte nas asas do Correio Aéreo Na-

cional.

Ao Ten.-Brig.-do-Ar Presser Belo as nos-

sas homenagens e agradecimentos.

SO Oswaldo Costa Corrêa

O SO Oswaldo é natural do Rio de Janei-

ro, nascido em 27 de dezembro de 1936, ten-

do como data de praça na FAB, 11 de julho de

1955.

SPECTRUM: Quando é que o senhor foi

para o COMGAR?

SO OSWALDO: Fiz parte do primeiro efe-

tivo do COMGAR, quando ele foi criado em

1969. Na época eu estava na graduação de

Cabo, do efetivo do quadro complementar de

Administração. Permaneci até junho de 1970,

quando fui transferido para Brasília já no

COMDA (Comando de Defesa Aérea), perma-

necendo naquele Comando até 1975. Após a

vinda do COMGAR para Brasília, fui convida-

do a voltar a servir lá, onde permaneci até ir

para a reserva remunerada na graduação de

Suboficial, em 1990.

SPECTRUM: O senhor lembra onde foram

fixadas as primeiras instalações do COMGAR?

SO OSWALDO: Bom, na época, existia

uma empresa aérea chamada PANAIR do Bra-

sil. Essa empresa faliu, e o Ministério da Aero-

náutica destinou o local para ser a primeira

sede do COMGAR. Hoje, o III COMAR está

instalado no local.

SPECTRUM: Houve algum grande evento

Page 10: Revista SPECTRUM Nº 08

11

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

organizado pelo COMGAR nos seus primei-

ros anos de criação?

SO OSWALDO: Sim. Nesta época, o

COMGAR já estava sediado em Brasília. O

primeiro evento de vulto, coordenado pelo

COMGAR, foi a Manobra Militar denominada

MR/76 (Manobra Real), ocorrida na Região

Central do Brasil, no ano de 1976. O efetivo

desdobrado foi formado por militares da FAB,

empregando Unidades Aéreas, Unidades de

Comunicação e Unidades de Apoio Logístico.

Os objetivos da MR/76 foram avaliar a mobili-

dade da Força Aérea, a eficiência das Unida-

des de Transporte Aéreo, a eficiência do Siste-

ma de CTA e da Defesa Aérea, a aplicação dos

manuais de Doutrina e Emprego da Força Aé-

rea, dentre outros.

Também me recordo do COMGAR ter

sido um dos primeiros Grandes Comandos a

ser deslocado para Brasília. Ocupou quase todo

o segundo andar do prédio principal do então

Ministério da Aeronáutica, tendo como o seu

primeiro Ministro em Brasília o Ten.-Brig-do-

Ar. Délio Jardim de Mattos.

SPECTRUM: Quais foram os primeiros

setores criados no COMGAR?

SO OSWALDO: Os primeiros setores do

COMGAR foram criados em 1976 e foram os

seguintes: Seção de Pessoal, Seção de Investi-

gação e Justiça, Seção de Operações, Seção

de Material e Logística, Seção de Legislação.

SPECTRUM: O senhor lembra de algum

fato pitoresco ocorrido nos primeiros anos do

COMGAR?

SO OSWALDO: Certamente. Lembro-me

que, mais ou menos em 1976, o COMGAR

saiu do prédio principal e foi para o 2º andar

do Edifício Anexo do, então, Ministério da

Aeronáutica. Após termos nos instalados no

Edifício Anexo, verificamos que havia um au-

ditório muito bom, com possibilidade de ser

feito um bom proveito dele. Lembro-me, tam-

bém, que SO SAD Prado e eu gostávamos

muito de filmes, além disso, o SO Prado, antes

de ser militar da FAB, já havia trabalhado em

salas de projeção de filmes. Aí surgiu a idéia

de, também, fazer um cinema daquele auditó-

rio. Na época, o SO Prado tinha um vizinho

conhecido dele, que trabalhava na alfândega

de Brasíli, e já tinha sondado a possibilidade

dele ter um projetor por lá. Esse conhecido já

havia separado um Projetor de Filmes 35 mm

e estava esperando apenas que alguém fosse

apanhá-lo. Nessa iniciativa tivemos a coope-

ração dos Chefes do Estado-Maior e do Gabi-

nete do COMGAR. Conseguimos, também,

uma breve reforma do auditório com a aquisi-

ção de novas cadeiras e a troca das persianas

por cortinas escuras. O teor das filmagens era

variado e ia desde documentário, conseguidos

na EMBRAFILMES e Embaixadas, como por

exemplo, as da Alemanha, França, Coréia e

Japão, por intermédios dos secretários das

mesmas, e filmes retirados de canais de televi-

são, como por exemplo, a Rede Globo. A pro-

jeção dos filmes era feita, diariamente, no ho-

rário do almoço e tinha como público os mili-

tares e civis que prestavam serviço em todo o

prédio do Ministério da Aeronáutica. A sua

divulgação era feita através de cartazes, fixa-

dos nos quadros de avisos dos diversos Co-

mandos, bem como em todo o prédio do Mi-

nistério. Todos os dias, o cinema ficava lotado,

inclusive com pessoas assistindo os filmes em

pé.

Até 1990, quando o SO Oswaldo foi para

a reserva remunerada, o cinema ainda estava

funcionando, e o projetor ainda se encontra

no auditório do atual Comando-Geral do Ar.

Page 11: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○12

Spectrum

Composição Atual do COMGAR

O Estado-Maior do COMGAR

Àfrente do COMGAR, o Comandante-

Geral do Ar conta, para o exercício

das suas atribuições, no contexto da

estrutura organizacional deste Grande Coman-

do, com um Estado-Maior, o EMGAR, consti-

tuído pelo conjunto de Seções e Órgãos, que

tem como finalidade assessorá-lo no trato dos

diversos assuntos e atividades diretamente li-

gados ao cumprimento da sua missão.

O trabalho do EMGAR desenvolve-se,

desta forma, sob a orientação do Comandan-

te, a partir do planejamento, supervisão e co-

ordenação das atividades do Programa de Tra-

balho Anual destinado ao preparo e emprego

dos Comandos Aéreos e Forças Aéreas subor-

dinadas, no diversificado leque das suas mis-

sões específicas. Atua, além disso, nas inúme-

ras tarefas administrativas, em diferentes fun-

ções, no campo dos recursos humanos,

logístico, orçamentário, organização e legisla-

ção, e capacitação técnico-especializada, bem

como naquelas relacionadas com o desenvol-

vimento dos estudos e projetos de interesse,

com vistas à evolução operacional da Força.

Compõem, portanto, o Estado-Maior do

COMGAR, para execução das suas atribuições:

• Chefe;

• Seção de Pessoal (A-1);

• Seção de Inteligência (A-2);

• Seção de Operações (A-3);

• Seção de Logística (A-4);

• Seção de Planejamento e Orçamentário

(A-5);

• Seção de Organização e Legislação (A-6);

• Seção de Doutrina (A-7);

• Centro de Operações Terrestres do

COMGAR (COTAR);

• Centro de Guerra Eletrônica do

COMGAR (CGEGAR); e

• Esquadrão de Inteligência de Combate

(EIC).

Centro de Comando e Controle de OperaçõesAéreas (CCCOA)

Uma Força Aérea pode preparar-se para aguerra, mas sempre haverá limitações, pois arealidade do combate, as baixas, e os estressesimpostos ao combatente não podem ser simu-lados. Neste aspecto, reside a importância doadestramento através de manobras simuladase reais. A sua correta utilização, a freqüência eo modo com que são executadas, bem comoos ensinamentos extraídos, poderão fazer a di-ferença entre a vitória e a derrota.

Preparar equipagens e comandantes parasituações de combate não é uma tarefa sim-ples. Quanto maior a aproximação do cenáriode uma guerra por meio de simulações, maio-res serão as dificuldades para o planejamento,a execução e o controle das manobras, razãoessa da existência do CCCOA emassessoramento à nobre missão do COMGAR.

A FAB aprimora, dentro das limitaçõesexistentes, a sua operacionalidade através demanobras reais, supervisionadas e coordena-das pelo CCCOA.

Da análise do planejamento e da execu-ção das manobras é possível a visualização defatores que, em maior ou menor grau, interfe-rem no aproveitamento final pretendido. Algunsdeles devem ser administrados, modificados ouaté mesmo eliminados, para a otimização daatividade de treinamento como um todo.

Finalizando, o grande desafio, portanto, con-siste na utilização racional desse importante ins-trumento de preparação para o combate, em-pregando planejamentos adequados aos meiosexistentes, a supervisão, a execução e a avalia-ção dos resultados obtidos, em todos os níveisdo processo de Comando e Controle.

Page 12: Revista SPECTRUM Nº 08

13

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Assimetria Militar: como obtê-la

Aassimetria militar ocorre quando há algum fator que causa uma grande diferença em favor de um dos beligerantes. “Os mongóis, sob

comando de Genghis Khan e seus sucessores, muitasvezes usavam de mobilidade superior, velocidadeoperacional, inteligência, sincronização, treinamen-to e moral para esmagar os inimigos em campanhasrelâmpagos”. Outros conquistadores, tais como osromanos e astecas, tiveram tecnologia, disciplina, trei-namento e liderança superior ao do adversário nocampo de batalha.

No entanto, nunca houve, na história, períodode assimetria militar de maior freqüência e intensida-de como a que tem ocorrido nos últimos cinqüentaanos. Esse fenômeno deve-se à espetacular evoluçãotecnológica e conceptual de meios e métodos aplica-dos ao espaço de batalha.

Há várias formas de classificar a assimetria mili-tar: nível da guerra (político-estratégico, militar-estra-tégico, operacional, tático ou uma combinação de-les); valores; organização; perspectivas de tempo di-ferentes (curto ou longo prazo); tipo de ocorrência(intencional ou à revelia); de força de vontade; etc.No entanto, qualquer que seja a classificação esco-lhida, a assimetria sempre será tecnológica, conceptualou ambas ao mesmo tempo (caso mais extremo deassimetria).

ASSIMETRIA TECNOLÓGICAAssimetrias tecnológicas têm sido comuns na

história militar, particularmente nos conflitos entre umestado industrialmente avançado contra um atrasa-do, tais como as guerras imperiais da Europa dos sé-culos XIX e XX. Num dos conflitos daquela ocasião,Hillaire Belloc salientou a confiança européia naassimetria tecnológica quando escreveu: “aconteçao que acontecer, nós temos o canhão Maxim e elesnão o têm” . O fato é que na Batalha de Matabele 50soldados, com apenas quatro canhões Maxim, con-seguiram se defender contra 5.000 guerreiros daque-la cidade.

Durante as guerras, a vantagem tecnológica temsido apontada como o fator de assimetria entre forçasarmadas. Há, no entanto, um outro viés maisdeterminante, que, por ser amorfo, intangível e quaseimperceptível, é menos comentado: a assimetriaconceptual.

ASSIMETRIA CONCEPTUALAssimetria conceptual ocorre quando um dos

beligerantes desenvolve, inova e explora um concei-to de guerra, uma concepção de emprego, um mo-delo, um método, uma tática ou, até mesmo, um pro-cedimento operacional, de modo a obter vantagemsobre o oponente. “Isto significa agir, organizar e pen-

sar com fins a maximizar o poder relativo, tirar pro-veito das fraquezas do inimigo ou ganhar maior liber-dade de ação”.

Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a“blitzkrieg” (guerra-relâmpago), durante um ou doisanos, foi uma inovação tática alemã que causouassimetria nos campos de batalha europeus.

A assimetria conceptual, aliada a uma flexibili-dade doutrinária, foi um dos fatores responsáveis pe-las seguidas vitórias de Israel contra as nações Árabes(Guerra dos Seis Dias em 1967, Yom Kippur em 1973e Vale do Bekaa em 1982).

Em nenhum desses conflitos Israel possuía van-tagem numérica, mas soube compreender e explorarmelhor a assimetria conceptual. Note-se, ainda, quena Guerra do Yom Kippur eram os Árabes que possu-íam a supremacia tecnológica: o SAM-6 (míssil su-perfície-ar) era guiado pelo primeiro radar comtecnologia Doppler, permitindo acompanhar e aba-ter aviões israelenses voando próximo ao solo; o mís-sil SAM-7, portátil, era algo inusitado; e o canhão ZSU-23-4 foi o primeiro de uma série de “hard kill” quepassaria a existir no espaço de batalha.

A despeito dessas vantagens do lado árabe e deter sofrido pesadas baixas no início do conflito, Israelmudou sua concepção de emprego em pleno anda-mento da batalha, passou a utilizar-se de supressãode defesa aérea e adaptou a tecnologia para superaras ameaças existentes: maximizou a assimetriaconceptual.

O mesmo não ocorreu no lado árabe, que tinhatecnologia, mas pecava conceitualmente,minimizando o efeito letal das suas forças armadas.

A maior sinergia ocorre quando há coincidên-cia temporal entre as assimetrias conceptual etecnológica. “Isto ocorreu na Guerra do Golfo em1991, quando a Força de Coalizão, liderada pelosEstados Unidos da América, explorou os conceitosde poder aéreo, centro de gravida de, guerra no co-mando e controle e guerra eletrônica; utilizou-se daconcepção de emprego denominada de paralisia es-tratégica; empregou tática de ataques paralelos; ebuscou atuar numa arena (noturno e fora do alcancedo armamento inimigo)” , para maximizar sua van-tagem tecnológica, submetendo o oponente a múlti-plas crises, que ocorreram tão rapidamente que elenão conseguiu responder com eficácia a qualquer umadelas.

Essa assimetria devastadora ocorreu, principal-mente, durante os dois primeiros dias da Guerra doGolfo, quando centenas de aeronaves da coalizãoatingiram, entre outros alvos, o sistema de defesa aé-rea, usinas de energia elétrica, instalações de pesqui-

Narcelio Ramos Ribeiro - Cel. - Av

Page 13: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○14

Spectrum

sa nuclear, o quartel general das forças armadas, tor-res de telecomunicações, “bunkers” de comando,órgãos de inteligência e um palácio presidencial doIraque. Esses ataques ocorreram tão rapidamente con-tra diversos centros de gravidade do Iraque, que opaís, em considerável medida, foi imobilizado e aguerra, decidida naquelas poucas horas.

PRINCIPAIS CAUSAS DA ASSIMETRIAAs principais causas de assimetria militar estão

relacionadas à quantidade de aportes financeiros des-tinados às atividades de defesa e à capacidade de ino-vação do pessoal das Forças Armadas.

A obtenção de tecnologia condizente com asnecessidades das Forças Armadas Brasileiras requerquantidade vultosa de recursos financeiros, nem sem-pre disponível. A implementação de processos e es-truturas capazes de transformar o potencial dos recur-sos humanos, empregados nas atividades de defesa,em capacidade, para inovar e obter ou minimizar aassimetria conceptual, no entanto, pode ser realizadadentro do orçamento existente, pois não requer vul-tosas quantias.

A fantástica evolução, que tem ocorrido a partirdo século passado, deve-se à intensificação de for-mação nos níveis de pós-graduação “stricto sensu”(mestrado e doutorado). O homem avançou nos maisdiversos ramos do conhecimento. Teses foram desen-volvidas, resultando em inovação e assimetria nosvários campos de competição humana. As organiza-ções e os países que mais investiram neste nível deeducação foram aqueles que mais obtiveram vanta-gens competitivas. Esse fenômeno também tem ocor-rido nas atividades de defesa.

Na área militar, a formação no nível de pós-gra-duação permite a uma Força Armada desenvolver,entender e explorar, com maior probabilidade desucesso, os conceitos de guerra, as concepções deemprego, os modelos, métodos, táticas, procedimen-tos operacionais e as tecnologias utilizadas nos cená-rios de crise ou guerra.

SITUAÇÃO CONCEPTUALNas últimas décadas, o Brasil construiu uma

relevante base científica, tendo alcançado nívelde excelência internacional em várias áreas daciência. O número de trabalhos científicos cres-ceu de 3 mil para 11 mil entre os anos de 1981 e2001 e o resultado deste esforço manifesta-seinclusive na crescente participação do País naprodução científica mundial, que saltou de 0,4%,em 1981, para 1,4%, em 2001.

A área militar contribuiu para essa evolução: oIPD, IME, IPQM, ARAMAR, o complexo industrial dedefesa e, principalmente, o CTA/ITA buscaram a ino-

vação tecnológica. No entanto, na área operacionalnão se obteve resultados conceptuais em igual pro-porção.

Esse fato requer reflexão, pois, se for considera-do o mesmo período (1981 a 2001), percebe-se queum significativo número de oficiais realizou cursosde pós-formação, conforme figura a seguir.

Analisando a figura 1, nota-se que aproximada-mente 1.100 oficiais realizaram curso de pós-forma-ção por ano. No período de 20 anos (1981 a 2001),este número ficou perto de 20.000 militares. A ques-tão é que quase nenhuma inovação, que resultasseem assimetria conceptual, foi desenvolvida nestescursos, apesar da energia despendida e dos custosfinanceiros para ministrá-los.

Esses cursos de pós-formação não possuem osrequisitos necessários para serem consideradosmestrado ou doutorado e, portanto, não geram tesesque possam resultar em inovação e, conseqüentemen-te, assimetria conceptual.

A falta de programa de busca de excelência é aprincipal causa da evolução conceptual vagarosa queocorre nas Forças Armadas Brasileiras. Esse fato nãodesperta muita atenção, porque é pouco perceptível,é intangível. Para fundamentar essas afirmações, seráfeita, a seguir, uma análise dessa realidade.

No século XX, vários conceitos de guerra foramdesenvolvidos e aplicados no espaço de batalha, den-tre os quais cita-se: Guerra Eletrônica; Complexos eSistemas de Objetivos; Análise Operacional;“Command and Control Warfare”; “InformationWarfare”; “Network Centric Warfare”; etc. Todos elesforam desenvolvidos ou pela Inglaterra ou pelos Esta-dos Unidos da América, exatamente os dois paísesque mais investem em programa de busca de exce-lência conceptual.

Esses mesmos países também desenvolveram,no fim do século passado, concepções de empregocomo paralisia estratégica e ataques paralelos, quetêm sido aplicados nos conflitos assimétricos dos últi-mos 15 anos.

Vários modelos operacionais e logísticos, tam-bém, foram desenvolvidos na ciência e arte da guer-ra, dos quais destaca-se a teoria dos cinco anéis deWarden (desenvolvido a partir de uma tese), que éaplicada na identificação de centros de gravidade nasações ofensivas e defensivas.

O emprego eficaz e eficiente das forças milita-res depende das seguintes atividades consideradas bá-sicas: comando e controle; logística; guerra eletrôni-ca; inteligência de combate; análise operacional; eoperações psicológicas.

A realidade é que os países que possuem pro-

Page 14: Revista SPECTRUM Nº 08

15

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

grama de pós-graduação em assuntos relacionados àdefesa geram quase todas teorias, inovações eassimetria conceptual nessas atividades.

PROCESSOS E ESTRUTURA PARA OBTENÇÃO DE

ASSIMETRIA

O hoje pujante complexo aeronáutico de SãoJosé dos Campos tem sua origem na decisão tomadana década de 40, com a criação do InstitutoTecnológico da Aeronáutica (ITA), para capacitar re-cursos humanos especializados e desenvolver umasólida base de conhecimento e pesquisa científica deponta, que pudessem ser aplicados na inovação.

A EMBRAPA é outro caso notável. O programade busca de excelência dessa organização foi respon-sável pela transformação do então “infértil” cerradobrasileiro em uma das áreas mais competitivas emtodo o mundo. Constitui-se em cabeça do sistema deinovação do agronegócio.

O complexo aeronáutico, a indústria petrolíferae o agronegócio brasileiro têm dois pontos em co-mum: são exemplos de liderança internacional; e fo-ram estabelecidos a partir de programa de busca deexcelência.

Numa busca de institucionalização da excelên-cia na área operacional, o Comandante da Aeronáu-tica emitiu a portaria 941/GC3, de 11 Dez 2001, quecriou, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),o Programa de Pós-Graduação em AplicaçõesOperacionais (PPGAO), nos níveis de Mestrado eDoutorado, nas áreas de Comando e Controle, Guer-ra Eletrônica, Análise Operacional e Armamento Aé-reo, com a finalidade de formar militares e civis parao exercício de atividades de análise, síntese, avalia-ção, pesquisa e desenvolvimento de concepções,métodos, modelos, conceitos, táticas, procedimentose tecnologias, todas relacionadas com aplicaçõesoperacionais.

Esse programa tem por objetivo atender às ne-cessidades operacionais de busca da excelência, vi-sando à geração e ao domínio do conhecimento nosníveis estratégico, operacional e tático. Os temas dasteses de mestrado e doutorado são propostos peloEMAER, COMGAR ou outros setores interessados,caracterizando um retorno quase que imediato doinvestimento.

Além disso, há, também, dois cursos de pós-graduação lato sensu (especialização) com duraçãode 15 meses: um em guerra eletrônica (Curso de Es-pecialização em Análise de Ambiente Eletromagnéti-co – CEAAE, já na sua 6ª edição) e outro em análiseoperacional (em fase de preparação para sua 1ª edi-ção).

Apesar desse pioneirismo e das sábias decisõesdas autoridades da Aeronáutica, no sentido de im-plantar um programa de busca de excelência, esteautor propõe um salto maior, para fins de reflexão:substituição gradual do curso de aperfeiçoamento pormestrado nas áreas de comando e controle, logística,guerra eletrônica, análise operacional, inteligência decombate, sistemas de armas e operações psicológi-cas, a fim de desenvolver conceitos de guerra, con-cepção de emprego, modelos, métodos, táticas, pro-cedimentos operacionais e, em caso excepcional,tecnologias.

Pode-se depreender algumas vantagens dessaampliação do programa: os custos com cada alunoserá, praticamente, os mesmos que se tem com o aper-feiçoamento; um número maior de teses será desen-volvido e resultará, em parte, em inovação, contribu-indo para a obtenção da assimetria conceptual; crianicho de excelência em defesa; atrai outros paísespara a esfera de influência do Brasil, pois poderão seroferecidas vagas a outras forças armadas de interesse;diminui ou acaba com a dependência intelectual edoutrinária em relação aos EUA e Inglaterra (princi-palmente), além de fornecer à indústria de defesa na-cional uma visão conceptual mais adequada ao de-senvolvimento e comercialização de tecnologia dedefesa; possibilita a geração de novos conhecimen-tos (Know-Why), que resultem em conceitos de guer-ra, concepções de emprego, modelos, métodos, táti-cas, procedimentos e tecnologias; amplia a capaci-dade de otimização e utilização dos meios existentesna FAB; aumenta a capacidade de tirar proveito dasconcepções e dos recursos técnicos do inimigo; asForças Armadas Brasileiras serão as únicas, abaixo dalinha do equador, a possuírem programa semelhante,que não apenas causa assimetria operacional, mas,principalmente, contribui para aumentar o poder dedissuasão; e o Brasil se estabelecerá como um líderconceptual neste complexo negócio denominado“DEFESA”.

Nos últimos sessenta anos, quase todos os con-ceitos de guerra, concepções de emprego, modelos,métodos, táticas e, até mesmo, procedimentosoperacionais para a utilização eficaz do Poder Militarforam desenvolvidos por, basicamente, três países: AInglaterra; os Estados Unidos da América; e Israel.Coincidentemente, esses países venceram todos osembates em que se envolveram neste período, poispossuíam um dos maiores fatores de assimetria: Pro-gramas de Busca da Excelência em Defesa.

“A vitória sorri para aqueles que antecipam asmudanças de características da guerra, e não para osque esperam para adaptarem-se, após elas ocorre-rem”. Giulio Douhet

Page 15: Revista SPECTRUM Nº 08

Revista Spectrum nº 08 – Mai 2004

ERRATA

Solicitamos, aos senhores leitores, considerar as alterações abaixo, necessárias ao perfeito entendimento do artigo “Assimetria Militar – como obtê-la”: Pág. Coluna Parágrafo Correção 14 2ª 1º parág., final, após:

“...percebe-se que um significativo número de oficiais realizou cursos de pós-graduação, conforme figura a seguir.”

Inserir o quadro: MÉDIA ANUAL POR FORÇA SINGULAR

TIPO DE CURSO

MB EB FAB

APERFEIÇOAMENTO 150 400 110

COMANDO E ESTADO-MAIOR

90 120 100

POLÍTICA E ESTRATÉGIA

50 50 40

TOTAL POR ANO 290 570 250

Page 16: Revista SPECTRUM Nº 08

17

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Relacionamento entre Bases e Unidades AéreasResponsabilidades de Organizações Militares Interdependentes

Carlos de Almeida Baptista Jr – Cel.-Av

Tive o privilégio de Comandar, por qua-

tro anos, uma Unidade Aérea em im-

plantação.

Durante todo aquele tempo, e indepen-

dente dos óbices cotidianos, limitações e al-

gumas diferenças de opiniões, o apoio incon-

dicional que eu e meus comandados recebe-

mos dos Comandantes de minha Base-sede,

através de um relacionamento respeitoso e de

amizade, foi decisivo para que “nossas mis-

sões” tenham sido cumpridas com êxito.

“Assumo o cargo de Comandante da BaseAérea de Uaupés”

“Assumo o cargo de Comandante do 4º/3º Grupo de Aviação”

Depois de muitos anos de dedicação à

Força Aérea, esses deveriam ser os dias mais

felizes e promissores de nossas carreiras.

O processo de seleção dos Comandantes

das Bases (BAe) e Unidades Aéreas (UAe) su-

bordinadas ao Comando-Geral do Ar busca,

através de informações e julgamentos de toda

ordem, dotá-las de oficiais com reconhecido

desempenho, capazes de administrá-las por

períodos longos o suficiente para melhorar seus

padrões de eficiência, aperfeiçoar seus siste-

mas administrativos e operacionais, conquis-

tar a confiança dos homens e mulheres que as

compõe; em suma, COMANDAR.

Saber que passamos por tal seleção, e que

em nós foram depositadas tantas expectativas,

é sempre motivo de orgulho pessoal e profissi-

onal.

Paradoxalmente, a superação dos óbices

futuros, a íntima insegurança quanto às nossas

reais potencialidades, a necessidade de con-

tarmos com outras organizações, e até mesmo

com muita sorte, faz com que cada novo Co-

mandante, independente de sua experiência

ou nível do comando, misture àquele orgulho

profissional uma boa dose de desconforto e

insegurança.

Dois anos mais tarde, ao entregarmos

aquele mesmo cargo que assumimos com sa-

tisfação e receios, lá estamos nós, novamente

em um “Pátio da Bandeira ou de Estaciona-

mento de Aeronaves”, com sentimentos bem

diferentes: alívio e senso do dever cumprido.

O que aconteceu entre esses dois dias vai

ficar marcado, para sempre, em nossas vidas

profissionais e pessoais. Conhecemos a soli-

dão do comando, enfrentamos inúmeras res-

trições, fizemos amigos, acertamos e erramos,

decidimos, lideramos homens livres, aprende-

mos com nossos comandados, fomos compre-

endidos ou não, compreensivos ou inflexíveis...

vencemos ou perdemos.

Independente dos desafios e lições apren-

didas, fomos capazes de identificar, desde os

primeiros dias, que nossa missão – Comandar

uma Base ou Unidade Aérea – guardava uma

interdependência com todas as Organizações

Militares que dividiam o mesmo espaço físico

daquele quartel.

Identificamos, ainda, que interdependên-

cia, em uma instituição baseada na hierarquia

e disciplina, não é característica fácil de ser

observada, a menos que as regras e atribui-

ções estejam completamente definidas nas

normas que regem cada uma das funções.

Nesse cenário, não deveria haver tanto espa-

ço para o bom-senso, “achismos”, ou uma li-

nha divisória tão etérea entre as atribuições de

cada Comandante.

Ainda nesse período, fomos atores de si-

tuações indesejáveis e que já havíamos teste-

munhado anteriormente. Pensávamos poder

agir diferentemente, evitar os atritos, respeitar

a missão de nossos companheiros (indepen-

dente de sermos mais antigos ou não), sem os

quais nossa própria missão estaria comprome-

tida.

Page 17: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18

Spectrum

Passados dois anos, precisamos reavaliar

os motivos que fizeram nossos desejos não

serem completamente atingidos, senão por nós,

pelas dezenas de Comandantes que assumem

os mesmos postos a cada período de dois anos.

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é

o de iniciar um debate acerca dos limites de

competência entre os Comandantes das Bases

Aéreas e Unidades Aéreas subordinadas ao

Comando-Geral do Ar, a fim de serem evita-

das superposições de responsabilidades e, con-

seqüentemente, atritos indesejáveis para o bom

desempenho de cada uma dessas funções.

Inicialmente, e com base no contido no

Manual do Comando da Aeronáutica 10-4

(MCA 10-4) – Glossário da Aeronáutica, o tra-

balho ratifica a correta classificação das Uni-

dades Aéreas como sendo Organizações Mili-

tares, entendimento básico para que os objeti-

vos propostos sejam atingidos.

Discutindo Conceitos BásicosAo assumir uma nova função, julgamo-

nos, via de regra, não completamente prepa-

rados.

Os novos desafios, o medo do desconhe-

cido e as expectativas de nossos novos subor-

dinados parecem pressionar nossa autocrítica.

Um novo Comando está sempre permeado

pelo ineditismo.

Apesar de termos desenvolvido, individu-

almente, ferramentas diferentes para vencer

cada uma das situações anteriormente

vivenciadas, o cargo de Comandante de uma

Base ou Unidade Aérea nos exigirá, cada vez

mais, um embasamento doutrinário comple-

to, nem sempre fornecido pelos cursos e está-

gios aos quais nos submetemos ao longo da

carreira.

A possibilidade de desconhecermos até

mesmo conceitos básicos poderá comprome-

ter nossa missão.

Quantos de nós, militares da Força Aé-

rea, seríamos capazes de responder, com con-

vicção, às seguintes perguntas:

• Bases Aéreas e Unidades Aéreas são OM?

• O que está por trás da frase “assumo o

cargo de Comandante”?

• Qual a diferença entre subordinação

administrativa e apoio administrativo?

Independente de “acharmos” banais, as

diferentes respostas e justificativas, a cada uma

dessas perguntas, seriam capazes de encher

páginas de opiniões divergentes. E são exata-

mente essas divergências que, potencializadas

frente à inconfessável insensatez de algumas

pessoas, e tão bem estudada por Bárbara

Tuchman1 , geram a maioria dos atritos entre

profissionais tão cuidadosamente selecionados.

Vejamos, pois, o que preceitua o MCA 10-

4 sobre alguns termos relacionados a essas

questões2 :

Apesar de nossa legislação básica pare-

cer suficientemente clara sobre o

enquadramento de todas as Bases e Unidades

Aéreas como Organizações Militares, bem

como das responsabilidades e atribuições de

cada um de seus comandantes, nossa legisla-

ção complementar (Regulamentos de Bases e

Unidades Aéreas, Atos de Criação e Ativação,

Diretrizes de Comando, Programas de Traba-

lho, Regimentos Internos etc.) e, principalmen-

te, nossa cultura organizacional induzem à

interpretação errada de que “as Bases Aéreas

são Organizações Militares e as Unidades Aé-

reas ... bem ... as Unidades Aéreas são apenas

Unidades Aéreas”.

Apesar de ter buscado, durante os levan-

tamentos realizados para este estudo, não me

foi possível determinar, com exatidão, a ori-

gem desse “misinterpretation”, embora algu-

mas alterações na estrutura e funcionamento

da Força Aérea possam ter contribuído para o

Page 18: Revista SPECTRUM Nº 08

19

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

quadro atual, conforme veremos a seguir:

Heranças das Esquadrilhas de AdestramentoAs “Esquadrilhas de Adestramento”, que

no passado foram dotadas de estruturas e mei-

os aéreos comparáveis às atuais Unidades Aé-

reas, davam aos Comandantes das Bases Aé-

reas responsabilidades pela administração,

emprego, instrução e disciplina de um com-

ponente aéreo considerável.

Apesar de, nos dias atuais, o emprego

operacional da FAB estar baseado, em última

instância, em Unidades Aéreas Isoladas, subor-

dinadas a “Forças Aéreas Especialistas3 ”, e in-

tegrantes de uma cadeia de subordinação di-

ferente daquelas às quais estão submetidas as

Bases Aéreas, nossa cultura organizacional tei-

ma em imputar aos Comandantes de Bases

parte das responsabilidades que, por leis e re-

gulamentos, não são suas, mas dos Coman-

dantes das Unidades Aéreas.

Nesse sentido, não me parece adequado

que o Comandante de uma Unidade Aérea,

buscando cumprir a missão atribuída por uma

Força Aérea Especialista, tenha parcelas das

atividades integrantes do seu Programa de Ins-

trução (administração, disciplina, instrução

terrestre etc.) subordinadas às BAe, ao invés

de tê-las, simplesmente, apoiadas por aquelas

OM, conforme preconiza o Art. 1º do Regula-

mento de Bases Aéreas.

Logicamente, não faz parte do objetivo

deste trabalho questionar os pilares básicos da

hierarquia e disciplina, como pode parecer à

primeira vista (mesmo porque a disciplina será,

sempre, responsabilidade do Comandante da-

quela guarnição), mas definir claramente os

limites de responsabilidade de cada um da-

queles profissionais que foram investidos de

um cargo de Comando.

Com base nessas premissas, atribuir a um

Comandante de BAe a responsabilidade, por

exemplo, pela rotina diária de uma UAe, pelo

cumprimento ou não das suas atividades ter-

restres (tiro com armas portáteis, aulas de re-

gulamentos, programa de condicionamento

físico etc.) e mesmo pelos índices de disponi-

bilidade dos meios aéreos, parece-me inade-

quado, a menos que tal responsabilidade seja

proveniente de uma incapacidade para apoiar

tais atividades (questões relacionadas aos ESM,

rancho, hospital etc.).

Apesar do parágrafo acima registrar alguns

dos casos clássicos de indefinições de respon-

sabilidades nesse relacionamento entre Orga-

nizações Militares distintas, prefiro encará-los

como paradigmas criados pela nossa cultura

organizacional, merecedores, portanto, de

reavaliações periódicas e legislação adequa-

da.

Paradigmas X LegislaçãoDurante os estudos para a confecção des-

te artigo, e com base em conversas com atuais

e ex-comandantes, verifiquei, com clareza, que

muitas das indefinições sobre os limites de res-

ponsabilidade entre nossos Comandantes não

são oriundas, como pode ter parecido até ago-

ra, apenas da insensatez, falta de bom senso

ou mesmo da cultura organizacional existen-

te.

Muitas das dúvidas levantadas dizem res-

peito à interpretação que se faz da legislação

em vigor. Vejamos, por exemplo, através do

raciocínio dedutivo, e a partir da premissa bá-

sica de que “Uma Unidade Aérea é uma Or-ganização Militar”, algumas dúvidas suscita-

das pela leitura de documentos normativos em

vigor:

• Se o ofício é o documento previsto para

comunicações externas entre Organizações

Militares, por que as Unidades Aéreas não ex-

pedem ofícios?

• Se a primeira punição de um militar

deve ser aplicada pelo Comandante de sua

OM, por que não é o Comandante da UAe

Page 19: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20

Spectrum

que aprova a dos militares de seu efetivo?

• Por que aos Comandantes das BAe têm

sido submetidos os requerimentos para trans-

ferências por interesse particular dos militares

efetivos das UAe?

• Se ao Comandante da OM é dada a res-

ponsabilidade pela avaliação dos oficiais de

seu efetivo (ICA 36-4), por que alguns Coman-

dantes de BAe se julgam responsáveis por esta

tarefa?

Essas são, à guisa de exemplos, algumas

das dúvidas que permeiam o relacionamento

entre nossos Comandantes, e originadas de

uma legislação não tão clara quanto deveria

ser a que estabelece os limites de competên-

cia de cada um.

Como se pode notar, diversos são os exem-

plos e pontos de conflitos a que estão subme-

tidos nossos Comandantes de Bases e Unida-

des. Poder-se-ia preencher páginas sobre o as-

sunto, algo que extrapolaria os objetivos des-

sa publicação.

Entretanto, e por julgarmos ser este o ponto

focal de grande parte do “misinterpretation”

envolvido nesse relacionamento, a discussão

sobre o relacionamento administrativo (de

apoio ou de subordinação) entre esses dois ti-

pos de Organização Militar ocupará as linhas

finais desta argumentação.

Subordinação (Apoio) AdministrativaCorrendo o risco de tornar o assunto por

demais teórico, mas certo de que a compreen-

são de algumas expressões poderá nos ajudar

na elucidação dessas questões, recorro nova-

mente ao Glossário do Comando da Aeronáu-

tica (MCA 10-4), que assim define os termos

que guardam relação com a questão acima:

Oriunda de legislação administrativa, a

interpretação do que vem a ser “esclarecimento

de todos os atos administrativos e disciplina-

res”, constante da definição de subordinação

administrativa, toma um caráter, para nós mi-

litares, de atitudes relacionadas apenas a trans-

gressões disciplinares, o que não me parece

ter sido a intenção original do legislador ao

tratar de um relacionamento administrativo

entre órgãos distintos.

Parece-me, antes de tudo, relacionar-se à

necessidade de publicidade, transparência e

controle que devem caracterizar os atos admi-

nistrativos, de quaisquer órgãos públicos, bem

como a possibilidade de serem punidos os

agentes que não cumprirem as legislações es-

pecíficas.

Apesar desse entendimento particular, e

por não haver qualquer dúvida sobre a ascen-

dência disciplinar de qualquer militar sobre

aqueles que lhe são subordinados, passemos

a avaliar o significado da subordinação admi-

nistrativa propriamente dita.

Para tal, recorro mais uma vez a conver-

sas que tive, no período de produção deste

artigo, com diversos companheiros, no intuito

de buscar, na própria Força, situações que

melhor exemplificassem esta relação adminis-

trativa de subordinação entre duas Organiza-

ções Militares, que devem funcionar

harmonicamente independente do grau hierár-

quico de seus Comandantes.

O Grupamento de Apoio de Brasília – GAP-BRComo Unidade Gestora Executora (UGE)

do prédio-sede do Comando da Aeronáutica,

o GAP-BR é o órgão responsável pelo

gerenciamento e processamento dos recursos

creditícios, financeiros e pela gestão

patrimonial de diversas Organizações Milita-

res (classificadas como Unidades Gestoras

Responsáveis – UGR), a maior parte das quais

comandadas por oficiais generais.

Apesar de o GAP-BR, no que tange ao re-

lacionamento de uma UGE com suas UGR, ter

a si subordinadas administrativamente Orga-

nizações Militares tais como o EMAER,

Page 20: Revista SPECTRUM Nº 08

21

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

COMGEP, DEPENS, CCA-BR etc., não há,

como se poderia imaginar, qualquer interfe-

rência nas Ações de Comando daqueles órgãos,

embora seu Chefe tenha, em última análise,

responsabilidades administrativas relacionadas

às UGR subordinadas, o que lhe confere a prer-

rogativa de conhecer e avaliar a pertinência

de todos os atos administrativos por elas reali-

zados. É, enfim, um relacionamento técnico-

administrativo, não havendo subordinação de

ações inerentes a cada uma das OM, que não

as puramente voltadas para a administração

dos recursos e patrimônio.

A exemplo do GAP-BR, todas as Bases

Aéreas são Unidades Gestoras Executoras, pos-

suindo, sob sua subordinação administrativa,

as Unidades Aéreas4 , fato que, além de

otimizar os recursos materiais e pessoais exis-

tentes, possibilita às Unidades Aéreas grande

flexibilidade e concentração de esforços no

cumprimento de sua missão: o vôo.

A partir desses exemplos, o seguinte

questionamento parece inevitável:

Existe algum aspecto, na subordinação das

Unidades Aéreas às Bases Aéreas, que pode

dificultar a delimitação das responsabilidades

de cada um de seus Comandantes?

A resposta à pergunta, que logicamente

penso ser afirmativa, deve ter sua origem em

diversos fatores, inclusive nos listados abaixo,

para os quais ações corretivas poderiam ser

estudadas:

•Os Comandantes das Bases são mais an-

tigos que os das Unidades Aéreas;

• Os Comandantes das BAe são oriundos,

via de regra, de uma das Unidades Aéreas

sediadas, conhecendo profundamente suas ca-

racterísticas, funcionamento e óbices. Esse fato,

aliado à ascendência hierárquica e ao descon-

forto típico de oficiais aviadores que deixam o

ambiente “aéreo” para uma atividade quase

que puramente administrativa, pode ser, em

grande parte, a origem da falsa impressão de

que ainda são os maiores responsáveis pelas

decisões que afetam as Unidades Aéreas

sediadas;

• Por não terem sido alocados, pelo me-

nos nos últimos dez anos, recursos orçamen-

tários destinados à “vida vegetativa” das Uni-

dades Aéreas, seus Comandantes dependiam,

para o cumprimento de suas missões, dos cré-

ditos alocados aos Planos de Trabalho das Ba-

ses Aéreas, que nem sempre eram priorizados

de acordo com suas necessidades. Felizmen-

te, e com o fito de sanar tal deficiência, o Pla-

no de Ação do Comando da Aeronáutica 2004

alocou recursos próprios para as Unidades

Aéreas e de Aeronáutica subordinadas ao

COMGAR, passando cada Comandante a dis-

por de todos os meios materiais necessários

ao cumprimento de suas missões;

• Os recursos alocados às Bases Aéreas

têm sido insuficientes para atendimento de suas

próprias necessidades, exigindo priorizações

que, por vezes, vão de encontro às solicita-

ções das UAe. Também neste aspecto, a

alocação de recursos próprios para as Unida-

des Aéreas, já a partir deste ano, mostra-se

como uma importante ferramenta em prol de

uma melhor delimitação das atribuições de

nossos Comandantes;

•Os Comandantes das UAe não são ade-

quadamente preparados para a gestão de re-

cursos orçamentários e financeiros, o que os

torna, por vezes, incapazes de entenderem as

limitações de apoio exigidas às Bases Aéreas;

Responsabilidade x AutoridadeDa cultura organizacional à manutenção

de antigos paradigmas, da legislação existente

à personalidade de cada indivíduo, diversas

têm sido as causas de atritos entre aqueles dois

profissionais aos quais nos referimos no início

deste artigo – nossos Comandantes de Bases eUnidades Aéreas, e sobre os quais a Força

Page 21: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22

Spectrum

Aérea tem depositado as melhores esperanças

de um futuro promissor.

A fim de sanar tais deficiências, o Coman-

do da Aeronáutica tem buscado alocar, em

cada Organização Militar, os recursos neces-

sários ao cumprimento de suas missões (equi-

pamentos, pessoal e créditos orçamentários),

incentivado o debate, aprimorado a legisla-

ção etc.

Entretanto, nenhum manual, recursos

abundantes, treinamento técnico, equipamento

moderno ou qualquer atitude que vise a

minimizar tais agruras serão suficientes, a me-

nos que cada militar conheça e respeite as atri-

buições que lhe foram determinadas, e para

as quais foi investido de autoridade compatí-

vel.

Referências Bibliográficas1 A Marcha da Insensatez – De Tróia ao

Vietnã.2 Todos os grifos do autor.3 Considerando, para fins desse artigo, as

OM com ascendência operacional direta

sobre as UAe (COMARES, 2ª, 3ª e 5ª FAe)4 A algumas BAe, subordinam-se outras

OM, como a 2ª FAe e o CECAN, UGR’s

da BAGL.

Page 22: Revista SPECTRUM Nº 08

Revista Spectrum nº 08 – Mai 2004

ERRATA

Solicitamos, aos senhores leitores, considerar as alterações abaixo, necessárias ao perfeito entendimento do artigo “Relacionamento entre Bases e Unidades Aéreas”: Pág. Coluna Parágrafo Correção 18 2ª 2º, final, após:

“Vejamos, pois, o que preceitua o MCA 10-4 sobre alguns termos relacionados a essas questões2:”

Inserir o quadro:

19 1ª 2º parág., final, após: “...nossa cultura organizacional teima em imputar aos Comandantes de Bases parte das responsabilidades que, por leis e regulamentos, não são suas, mas dos Comandantes das Unidades Aéreas.”

Inserir o qu

Decorrespode outra venha aautoridadregulameadministrdisciplina

Dede tropabase, aadministr Armadas

1. Autoregudirigiaspefunçã

2. Ato o3. Unid

área

ORGANIZAÇÃO MILITAR nominação genérica dada à unidade , repartição, estabelecimento, navio, rsenal ou qualquer outra unidade ativa tática ou operativa das Forças.

COMANDO ridade decorrente de leis e lamentos, atribuída a um militar para r e controlar forças, sob todos os ctos, em razão de seu posto e o. u efeito de comandar. ade ou Unidades, Organização ou sob o comando de um militar.

adro:

nominden qualq ter e d ntos ação de u

COMANDANTE nação genérica dada ao militar, te a de Diretor, a de Chefe ou auer denominação que tenha ou aquele que, investido deecorrente de leis e de

, for responsável pela, emprego, instrução ema organização militar.

Page 23: Revista SPECTRUM Nº 08

20 1ª 6º parág., final, após: “...recorro novamente ao Glossário do Comando da Aeronáutica (MCA 10-4), que assim define os termos que guardam relação com a questão acima:”

Inserir o quadro:

ORGANIZAÇÃO APOIADORA

Organização militar que seja sede de uma unidade aérea. Uma organização poderá ser, simultaneamente, organização apoiadora e unidade operadora, caso possua aviões orgânicos em sua dotação.

APOIO ADMINISTRATIVO

Provimento de meios e de ações necessárias ao funcionamento de determinada organização apoiada.

SUBORDINAÇÃO ADMINISTRATIVA

Relação de dependência caracterizada pelo esclarecimento de todos os atos administrativos e disciplinares que uma organização deve à autoridade a que estiver subordinada administrativamente.

ATO ADMINISTRATIVO

Toda a manifestação unilateral de vontade da Administração Pública, que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir ou declarar direitos, impor obrigações aos administrados ou a si própria.

Page 24: Revista SPECTRUM Nº 08

23

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Uso da Transformada de Wavelets em Deinterleaving

Fruto de um Trabalho de Graduação da

Engenharia Eletrônica do ITA, este arti-

go apresenta os resultados obtidos no

deinterleaving de sinais de RF, através do uso

da transformada de wavelets, para aplicações

em sensores de Guerra Eletrônica. Parte essen-

cial de processadores de sistemas RWR e ESM,

o deinterleaving pode ser realizado através de

diversas técnicas, contudo, a abordagem ado-

tada representa uma inovação tecnológica sob

domínio do COMAER. Os resultados, obtidos

através de simulações e de implementação em

DSP, mostraram-se consistentes com o esperado.

IntroduçãoPara localizar e identificar emissões de

radares em um teatro de operações, os siste-

mas usados são o RWR (Radar WarningReceiver) e o ESM (Electronic SupportMeasurements). O RWR é um receptor que

informa o piloto sobre as emissões de radares

presentes na área que representem ameaças

iminentes. O ESM, por sua vez, apresenta mai-

ores precisão de DF e sensibilidade, em rela-

ção ao RWR, o que permite aos operadores

obterem a requerida consciência situacional

aos operadores. A figura 1 mostra o display de

um RWR apresentando informações ao piloto

sobre as múltiplas ameaças presentes no am-

biente em que a aeronave está inserida. A par-

tir da identificação da emissão, medidas de

proteção ou de ataque eletrônico eficazes po-

dem ser tomadas.

Em linhas gerais, equipamentos RWR ou

ESM típicos são compostos, basicamente, por

um conjunto de antenas, um receptor de mi-

croondas, um processador e uma interface com

o operador e/ou com o sistema aviônico. Este

conjunto tem a capacidade de receber múlti-

plos sinais em diversas modulações, medir as

suas principais características e direções de

origem, classificá-los e apresentar os dados aos

operadores, através de interface gráfica, ou à

rede associada por meio de enlace de dados.

As antenas, o receptor e o processador têm

funções complementares para a apresentação

de dados aos operadores ou à rede. No con-

junto de antenas, podem ser usadas

Omnidirecionais (provêem 360º de cobertura

em azimute), Diretivas (DF-Direction Finding)

ou uma combinação das duas. O sinal prove-

niente das antenas é dividido em diversas ban-

das por um multiplexador e enviado ao recep-

tor. A tecnologia empregada no receptor de-

pende do tipo de performance exigida nos re-

quisitos do sistema. Os receptores podem ser

de Abertura Larga; Super-heteródino de banda

estreita ou de banda larga; Canalizado; Acusto-

óptico; Microscan; ou Digital[4]. O receptor

deve medir as características do sinal recebi-

do e gerar uma palavra descritiva para o

processador. Um processador deverá ser ca-

paz de executar as seguintes funções[5]:

Deinterleaving, Cálculo do PRI, Identificação

do radar, Rastreamento (tracking) e Revisiting.

Dentre as funções listadas acima, o

deinterleaving consome boa parte dos recur-

sos do processador. O deinterleaving tem como

objetivo detectar a presença de trens de pul-

sos periódicos e estimar seus parâmetros. Como

diversos trens de pulsos são recebidos de dife-

rentes fontes, considerando um ambiente ele-

tromagneticamente denso, sistemas RWR e

ESM têm que separar e gravar os dados dos

diversos trens de pulsos para poder compará-Figura 1: Display de um RWR apresentando informações ao piloto sobre asmúltiplas ameaças presentes no ambiente em que a aeronave está inserida.

André L. Pierre Mattei - Maj.-Av.Jorge Maurício Motta - Cap.-Av.

Prof. Dr. Osamu Saotome

Page 25: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○24

Spectrum

los com uma biblioteca de emissores. Dados

como tempo de chegada (TOA – Time ofArrival), direção de chegada (DOA – DirectionOf Arrival), freqüência, etc. podem ser usados

para a separação dos trens pulsos recebidos.

Este trabalho se concentra na realização

de um algoritmo e de um circuito eletrônico

capaz de realizar o deinterleaving. Ele é a con-

tinuidade do trabalho iniciado por MOLINA,

2002, em seu Trabalho de Graduação no ITA.

Para separar os sinais recebidos, as técnicas

comumente empregadas são as de histograma

e de periodograma. Neste trabalho foram

implementados em DSP (Digital SignalProcessor), Texas TMS320C6711, algoritmos de

detecção de intervalos de repetição de pulsos,

de seqüências de pulsos radar intercalados,

usando a técnica de wavelets. O objetivo des-

tas implementações foi verificar a eficácia e a

eficiência dos algoritmos baseados na análise

espectral de wavelets.

Deinterleaving Através da Transformada deWavelets

A transformada de wavelets é um meio

de determinar o período T de um trem de pul-

sos recebido por sistemas RWR ou ESM. Con-

siderando que normalmente mais de um trem

de pulso é recebido pelo sistema de detecção,

estes acabam entrelaçados, misturados. A trans-

formada opera neste entrelaçamento, determi-

nando cada um dos períodos T das compo-

nentes. A transformada de wavelets é robusta

contra pulsos perdidos e jitter, e, além disso, é

sensível para seqüências de pulsos simples,

complexas e stagger.Pode-se exemplificar o processo de

deinterleaving através do caso de haver a re-

cepção de três sinais. Como os pulsos detecta-

dos se misturam no receptor, o processador

deverá ser capaz de identificar os trens de pul-

sos individuais, referentes a cada radar. Para

tanto, cada pulso interceptado será compara-

do aos demais, a fim de verificar se foi origina-

do da mesma fonte. Os parâmetros comumente

utilizados para efetuar esta comparação são a

freqüência, a diferença de TOA (?TOA) e o AOA

dos pulsos recebidos. Contudo, o uso de um

ou mais parâmetros pode ser necessário, de-

pendendo do sinal recebido.

Os radares modernos empregam diversas

técnicas para dificultar a sua detecção e a sua

identificação. Por exemplo, se dois pulsos fo-

rem muito próximos em freqüência, estes po-

dem ser considerados como vindos de um

mesmo radar pelo receptor. Ou ainda, se o ra-

dar muda sua freqüência a cada pulso, torna-

se difícil utilizá-la como referência. Um argu-

mento similar pode ser aplicado à diferença

de TOA. Para radares com salto em freqüên-

cia (frequency hopping) e PRI (Pulse RepetitionInterval) ágil, o AOA é o parâmetro mais efi-

caz para comparação. Através da comparação

dos parâmetros, os pulsos interceptados podem

ser separados em trens de pulsos de diferentes

radares.

Algoritmos Clássicos de DeinterleavingExistem vários algoritmos destinados à

realização do deinterleaving, dentre esses, as

técnicas clássicas estão o histograma e o

periodograma.

Histograma dos tempos de chegada

(TDOA histogramming) – Esta técnica consis-

te em realizar o histograma dos tempos de che-

gada para efetuar um levantamento prévio dos

PRI existentes. Feito isto, todos os tempos de

chegada referentes aos PRI detectados são re-

tirados da seqüência de pulsos intercalados.

Este processo é repetido até que não haja mais

nenhum valor remanescente para análise. As

complicações inerentes a este método são: fal-

so alarme em múltiplos do PRI verdadeiro; fa-

lha na detecção de seqüências complexas de

pulsos; é um procedimento de alta demanda

computacional; e seu histograma produz um

Page 26: Revista SPECTRUM Nº 08

25

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

conjunto de falsos alarmes que mascaram os

PRI verdadeiros.

Periodograma – Consiste na busca de um

periodograma para as freqüências de repeti-

ção de pulsos, produzindo picos nas PRF (Pul-se Repetition Frequency) referentes aos sinais

intercalados. As complicações inerentes a este

método são: falso alarme em múltiplos da PRF

verdadeira; falha na detecção de seqüências

de pulsos curtas; falha na detecção de seqüên-

cias complexas de pulsos; e estratégia de bus-

ca ineficiente.

Usando Wavelets no DeinterleavingUma técnica alternativa, que vem sendo

pesquisada e está apresentando excelentes re-

sultados, é a utilização da Transformada de

Wavelets Contínua. Nesta técnica, os tempos

de chegada são representados como uma

superposição de impulsos e, a seguir, aplica-

se transformada de wavelets contínua ao si-

nal, baseada em uma wavelet mãe. Os PRI são

obtidos pelos picos do espectro global de

wavelets que ultrapassam um determinado

valor (threshold). Sobre o uso de wavelets em

deinterleaving, veja DRISCOLL e HOWARD,

1999.

Dentre as vantagens desta abordagem,

destacam-se a necessidade de um número re-

duzido de pulsos interceptados para efetuar

uma correta detecção dos PRI dos sinais (apro-

ximadamente 10 pulsos), a eficiência na

detecção de PRI complexos dos tipos staggere wobulated e o baixo índice de falsos alar-

mes.

A Figura 2 ilustra alguns dos resultados

obtidos. Para testar o algoritmo de

deinterleaving, foram usados 6 sinais diferen-

tes. Três dos sinais eram simples, com as se-

guintes PRI: 8, 14 e 21 ms; e três eram stagger,com as seguintes PRI: 3, 5 e 10 ms. O número

de pulsos detectados foi: 10 para os simples e

20 para os stagger. A figura 2 apresenta os re-

sultados em gráficos bidimensionais, criados

por meio do uso de abordagens Morlet e Re-

tangular (os detalhes fogem ao escopo deste

artigo). Pode-se verificar que os sinais gerados

e misturados foram separados e identificados.

ConclusãoNo contínuo esforço para o domínio das

tecnologias envolvidas em receptores de Guer-

ra Eletrônica, o ITA e o CTA atuam em diversas

áreas. Tendo iniciado as atividades em 1998,

o Laboratório de Guerra Eletrônica fomenta a

geração de diversos trabalhos de Graduação e

de Pós-Graduação, visando o domínio dos

conhecimentos necessários ao desenvolvimen-

to de sistemas para Unidades Operacionais do

Ministério da Defesa.

Gerado a partir de um Trabalho de Gra-

duação do ITA, este trabalho usou algoritmos

que empregam a transformada de waveletspara realizar o deinterleaving de sinais emiti-

dos por radares. Os resultados mostraram-se

consistentes com o emitido e demonstram a

validade da técnica e suas vantagens em rela-

ção às técnicas tradicionais.

O uso de wavelets no deinterleaving re-

presenta um avanço em relação à

histogramação e ao periodograma, por reali-

zar a função desejada com maior eficácia e

Figura 2 – Gráficos representativos dos sinais identificados, através de wavelets.(a) Escalogramas bidimensionais e

(b) Espectro global de wavelets.

Page 27: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○26

Spectrum

com menor consumo computacional do

processador. Os resultados obtidos represen-

tam um passo importante para o domínio das

tecnologias presentes em sistemas embarcados

de Guerra Eletrônica.

Referências Bibliográficas[1] DRISCOLL, D. E. e HOWARD, S. D. The

Detection of Radar Pulse Sequences by

Means of a Continuous Wavelet Trans-

form. IEEE Proceedings on InternationalConference, Acoustics, Speech, and SignalProcessing. 1999, vol. 3, p. 1389-1392.

[2] MOLINA, A. L. B. Uma Investigação do

Sistema de Software do Receptor deAlerta Radar RWR ELT-156X. Trabalho de

Graduação, Instituto Tecnológico de

Aeronáutica, 2002.

[3] MOTTA, J. M. O Uso da Técnica daTransformada de Wavelets Contínua emDeinterleaving. Trabalho de Graduação,

Instituto Tecnológico de Aeronáutica,

2003.

[4] NERI, F. Introduction to ElectronicDefense Systems. USA: Artech House Inc.,

2nd Ed., 2001.

[5] TSUI, J. Digital Techniques for WidebandReceivers. USA: Artech House Inc., 1995.

Page 28: Revista SPECTRUM Nº 08

27

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Aplicação de Inteligência Artificial em Comando e Controle

1. Inteligência Artificial

Inteligência Artificial é uma das ciências

mais novas da atualidade, tendo surgido

após a II Guerra Mundial. O nome Inteli-

gência Artificial foi utilizado pela primeira vez

em 1956. Desde então não parou de se alas-

trar, atingindo uma grande variedade de cam-

pos, indo de áreas de propostas mais gerais -

como aprendizado e percepção - a tarefas es-

pecíficas como jogos de xadrez, provador au-

tomático de teoremas de matemática, escritor

de poesia, e diagnosticador de doenças [1].

Inteligência Artificial (IA) diz respeito às

faculdades humanas responsáveis pelo enten-

dimento e criação, enquanto que Comando e

Controle (C2) está relacionado com aplicação

da inteligência humana no gerenciamento de

alocação de recursos em um ambiente dinâ-

mico. A ligação entre os dois conceitos é in-

tuitivamente óbvia! Se o que se pretende é

entender ou acompanhar o processo de C2, é

preciso aplicar os conceitos de IA. [2].

Uma das maiores lacunas em nossa habi-

lidade em construir e organizar bons sistemas

de C2 está justamente em adequados modelos

que incluam o sistema como um todo e o ele-

mento humano.

Segundo Miles (1988), construir uma má-

quina que “pense” como um humano tornou-

se um desafio muito grande. Os esforços em

IA concentraram-se em algumas habilidades

dos humanos, que, obviamente, têm uma apli-

cação mais imediata: processamento da lin-

guagem natural, sistemas visuais, problemsolving, teoria de jogos, aprendizado, e repre-

sentação do conhecimento.

A maioria dos sistemas de C2 são com-

plexos, mal definidos, geralmente contém uma

certa dose de incerteza, podendo ter uma ou

várias soluções (ou até nenhuma). Nos mais

altos níveis de Comando e Controle, o papel

do homem é o de planejar e alocar recursos.

Porém, ele normalmente se encontra sob

estresse, sujeito a exercer o processo decisório

com idiossincrasias como conservação, satu-

ração, predições infundadas, hábito,

superconfiança (ou falta de confiança, às ve-

zes), falácia e pânico [5].

Para aliviar esta situação, a Inteligência

Artificial (IA) - baseada em sistemas

computacionais que assessoram ou substitu-

em os homens quando eles são muito caros,

muito vagarosos, ou comprometem a seguran-

ça - pode ser usada como uma técnica para

auxiliar a decisão e o planejamento, permitin-

do que o operador se concentre nas opções

oferecidas, permitindo determinar a solução

mais apropriada para o problema em questão.

As técnicas de IA, aliadas às tecnologias de

processadores concorrentes, oferecem a pos-

sibilidade de desenvolvimento de sistemas in-

teligentes de auxílio à decisão em C2 em tem-

po real.

A Inteligência Artificial fornece as ferra-

mentas para que os especialistas do conheci-

mento (comandantes) utilizem, em tempo real,

uma estrutura de controle baseada em siste-

mas especialistas que gerenciam sistemas de

alocação de recursos, efetivo de tropas, evo-

lução de situações e dinâmicos problemas de

estratégia. O fator diferencial do uso de IA é

que esta permite ao usuário solicitar aos siste-

mas especialistas o “raciocínio” utilizado por

trás das recomendações oferecidas em respos-

ta a uma situação emergencial, onde não há

tempo suficiente para analisar todas as opções[5].

2. Aplicações de IA em problemas de C2Dentro de toda a complexidade de C2,

há dois fatores relevantes: a modelagem da si-

tuação e a alocação de recursos. O primeiro

consiste no processo de construir um modelo

para o mundo real, tão fiel quanto possível.

Isto requer fusão de dados de todas as fontes e

Raimundo Nogueira Lopes Neto - Maj. Av.Prof. Dr. Karl Heinz Kienitz

Page 29: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28

Spectrum

avaliação dessa fusão, a fim de fazer uma in-

terpretação da situação tática presente. Predi-

ção também é requerida para entender o que

pode provavelmente acontecer, a fim de me-

lhorar o processo decisório. Quanto à alocação

de recursos, esta faz parte do processo

decisório e são direcionadas diretamente para

as Unidades envolvidas. Ambos os fatores ope-

ram de forma diferente com relação ao tempo

necessário para resposta[3].

Sistemas de Comando e Controle são res-

ponsáveis pelo gerenciamento de toda infra-

estrutura necessária para a defesa e para a guer-

ra, ou para qualquer sistema complexo e di-

nâmico de larga escala que lida com informa-

ção e alocação de recursos. Não há uma ade-

quada teoria para Comando e Controle, nem

uma metodologia definida para a sua estrutu-

ra [4].

Não é de surpreender afinal que os mais

altos níveis de C2 são basicamente uma ex-

tensão do processo decisório humano através

de procedimentos, organizações, equipamen-

tos, fusão de dados, avaliação de situações (ou

avaliação da ameaça) e alocação de recursos.

Sistemas de C2 estão entre os mais complexos

sistemas de gerenciamento de alocação de re-

cursos de tempo real e de larga escala conhe-

cidos pelo homem; sua efetividade é drastica-

mente limitada pela falta de velocidade, satu-

ração de dados e limites cognitivos do proces-

so decisório do homem. A efetividade de sis-

temas de C2 não são apenas processos

decisórios que selecionam a melhor opção,

mas também a criação, avaliação e refinamen-

to da situação em questão, e o que pode ser

feito a respeito (se necessário).

A maioria dos sistemas práticos de C2 são

baseados em ações de sistemas de informa-

ção, isto é, são concentrados na aquisição da

informação (incluindo a correlação, alteração

e roteamento) e comunicação, ou seja, mais

nos aspectos físicos do que nas análises das

entrelinhas do processo decisório propriamente

dito. O atual processo de C2 continua man-

tendo o processo decisório, apesar da tendên-

cia moderna dos sistemas de C2 de se torna-

rem mais sofisticados através:

•do aumento da velocidade, da

efetividade e da mobilidade dos modernos sis-

temas;

• do aumento do número, da diversidade

e da capacidade dos sensores que, aliados à

inteligência, são levados a uma explosão de

informações referentes ao problema enfrenta-

do; e

• do aumento do número de diferentes

tipos sensores do campos de batalha, que re-

quer um habilidoso gerenciamento do proble-

ma, envolvendo avaliação complexa e dinâ-

mica.

Está claro que a razão, a complexidade, a

dimensão e a incerteza dos eventos e da infor-

mação sobre os aspectos de C2 aumentam ra-

pidamente em situações de crise. Isto, associ-

ado à necessidade de decidir em tempo real

faz com que as tecnologias incorporadas em

sistemas de C2 sejam de grande valia para o

processo decisório [ 5].

Há dois subprodutos das discussões so-

bre solução de problemas gerais para onde os

pesquisadores estão orientando suas pesqui-

sas:

•linguagens de programação e ambien-

tes; e

• sistemas especialistas e ferramentas de

suporte.

2.1 Sistemas especialistasSegundo Miles (1988), a filosofia de um

sistema especialista é produzir uma solução

computacional para um problema, capturan-

do e codificando o conhecimento do especia-

lista humano, de forma que ele ou outros pos-

sam usá-lo. A forma com que o conhecimento

humano deve ser capturado é muito importante

Page 30: Revista SPECTRUM Nº 08

29

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

e deve estar explícita em uma linguagem cla-

ra. Isto faz o sistema ficar visível ao usuário,

para que possa mostrar que tipo de lógica foi

usada para se chegar à solução. Conhecimen-

to explícito e raciocínio utilizado para achar a

solução possível de ser avaliada são as princi-

pais características que distinguem os sistemas

especialistas de outros programas convencio-

nais.

Geralmente, a habilidade está na forma

de regras, e estas regras formam a base de co-

nhecimento do sistema. A estrutura de contro-

le do programa é usada para permitir que o

usuário acesse a base de conhecimento atra-

vés de consultas feitas à máquina. Essas con-

sultas podem gerar perguntas ao próprio usuá-

rio, até que o programa tenha evidências sufi-

cientes para gerar uma solução. Como comen-

tado anteriormente, o usuário poderá solicitar

ao sistema o processo de “raciocínio” utiliza-

do para atingir a solução, para que possa ser

averiguado quanto à lógica utilizada.

Sistemas especialistas têm sido desenvol-

vidos para uma grande quantidade de proble-

mas, mas muitos deles acabam sendo relacio-

nados nas seguintes categorias:

• classificação: diagnósticos médicos,

análise química, identificação de falhas, mi-

neração e prospecção de petróleo;

• interpretação da situação e

monitoramento: monitoração de máquinas in-

dustriais, monitoração de pacientes, avaliação

de situação tática e avaliação da ameaça; e

• planejamento e alocação de recursos:

planejamento de rotas, configuração de siste-

mas, preparação de Unidades para o combate

e alocação de alvo.

Os sistemas especialistas da categoria de

classificadores são os que estão com métodos

de desenvolvimento bem estabilizados. Eles

trabalham com conjunto de dados relativamen-

te estáveis, como, por exemplo, um conjunto

de sintomas ou resultados de testes.

A estrutura de regras neste tipo de sistema

especialista é chamada de rede de inferência

(Figura 1). Os estados objetivos representam

as conclusões possíveis e as evidências são li-

gadas por uma rede de inferências. Normal-

mente, há vários estágios do raciocínio antes

de se atingir o estado objetivo. As regras têm a

forma “se-condição-então-conclusão”. A cer-

teza da conclusão vai depender da certeza das

condições de entrada e do tipo de regra.

Os componentes de um sistema especia-

lista são (Figura 2):

• rede de inferência - o conhecimento

específico para o domínio do problema;

• motor de inferência - programa de con-

trole que aplica o conhecimento de uma ma-

neira apropriada, dependendo do tipo de con-

sulta que o usuário solicitou;

• sistema de explanação - durante a con-

sulta o usuário pode pedir explicações a res-

peito do raciocínio utilizado. Este é gerado com

um traçado das regras utilizadas até então e

através de consulta a rede de inferências;

• interface do usuário - permite ao usuá-

rio interagir com a base de conhecimento e

controlar as consultas; e

• compilador de conhecimento – muitas

ferramentas de sistemas especialistas incluem

um compilador para traduzir o conhecimento

expressado pelo usuário, para uma linguagem

Figura 1 - Exemplo de rede de inferência

Page 31: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30

Spectrum

especial na forma requerida pelo motor de

inferência.

As diversas situações encontradas e pos-

sibilidades de conclusões podem ser muito

grandes para ser especificados por nós em uma

rede de inferência. Uma estrutura que tem sido

usada em muitos problemas deste tipo é o

modelo blackboard (Figura 3). De acordo com

este modelo, vários especialistas observam e

modificam as informações do blackboard den-

tro de sua área de especialização. Os dados

são inseridos no blackboard e a ação dos es-

pecialistas é criar hipóteses para aumentar o

nível de conhecimento em estágios, para se

deduzir a solução. Em termos computacionais,

o componente central do modelo blackboardé a estrutura principal, o blackboard, que re-

presenta o estado atual do problema, incluin-

do as evidências e as inferências feitas até en-

tão. Um conjunto de regras chamadas fontes

de conhecimento representam o conhecimen-

to dos especialistas e estas são aplicadas aos

dados do blackboard para gerar futuras

inferências até a conclusão procurada. Para

aplicações em tempo real, para cada novo

dado de tempo que chega, resultados anterio-

res devem ser revistos, logo deverá haver um

mecanismo para reorganizar os conhecimen-

tos em uma apropriada seqüência. Este meca-

nismo de reorganização é também baseado em

regras que são mantidas em forma de meta-

conhecimento.

3 Considerações FinaisQuando a população da Terra atingiu 5

bilhões (oficialmente, em 11 de julho de 1987),

parecia estranho afirmar que havia uma escas-

sez de especialistas humanos. No entanto, isto

se tornou uma realidade devido a aumento do

tamanho e da complexidade dos empreendi-

mentos humanos. Hoje, para abrir uma firma

de baixa tecnologia com relativas chances de

sucesso é preciso muito mais do que uma boa

idéia e trabalho duro. Tem que ser levado em

consideração o tamanho do empreendimen-

to, o local e impostos associados, as leis fede-

rais e os regulamentos, etc. Haverá necessida-

de de planejamento financeiro, advogados,

analistas de mercado, engenheiros de software,

bem como outras especialidades. Tentar apren-

der e manter-se atualizado com tudo isso é ir-

racional. Tornar-se especialistas nas diversas

áreas, também não parece ser a solução. A sa-

ída poderia ser utilizar sistemas especialistas

para assessoramento nas diversas áreas neces-

sárias para o seu negócio. Hoje há sistemas

especialistas desenvolvidos para várias áreas

do conhecimento, como, por exemplo, mer-

cado de ações, planejamento financeiro, con-

Figura 2 - Componentes de um sistema especialista típico

Figura 3 - Estrutura de sistema Blackboard

Page 32: Revista SPECTRUM Nº 08

31

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

trole automatizado, manutenção de equipa-

mentos, controle de vôos, desenho e configu-

ração de computadores, etc. [ 6].

Sistemas de software convencionais têm

tido sucesso em lidar com dados e computa-

ção, mas a demanda agora é por sistemas que

integrem e controlam mecanismos de

sensoriamento, comunicação e alocação de

armas. Devido a complexidade de todos os

elementos envolvidos e das tarefas de Coman-

do e Controle, sistemas especialistas oferecem

uma solução flexível o suficiente para lidar com

todos os tipos de processamentos requeridos,

enquanto provê a essencial visibilidade para

os comandantes. O desenvolvimento de pro-

tótipos mais realistas é a maneira mais ade-

quada para inserir essa tecnologia aos siste-

mas de C2 [2].

4 Referências Bibliográficas[1] RUSSELL, E.; NORVIG, P. Artificial

Intelligence: A Modern Approach. 2nd. ed.

New Jersey, U.S: Prentice Hall, 2003.

[2] MILES, J. A. H. Artificial Intelligence and

Command and Control. In: HARRIS, C.J.

(Ed). Application of Artificial Intelligence

to Command and Control Systems.

London, U.K.: Peter Peregrinus, 1988. p.

1-17.

[3] SPROLES, N. Establishing Measures of

Effectives for Command and Control: A

System Engineering Perspective. Salisbury

South, Australia: Eletronics and Surveil-

lance Research Laboratory, 2001.

[4] HARRIS, C. J. and WHITE, I. (Ed). Ad-

vances in Command, Control and Com-

munications Systems. London, U.K.: Peter

Peregrinus, 1987.

[5] HARRIS, C.J. (Ed). Application of Artifi-

cial Intelligence to Command and Con-

trol Systems. London, U.K.: Peter

Peregrinus, 1988

[6] IGNIZIO, J. P. Introduction to Expert

Systems: The Development and Imple-

mentation of Rule-Based Expert Systems.

Singapore: McGraw-Hill. 1991.

Page 33: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32

Spectrum

Capacitação Científica para Aplicação Aperacional: a Aeronave Furtiva Brasileira

Jorge Luiz Schwerz – Cap.-Av.Profª Drª Mirabel Cerqueira Rezende

Imagine estar dentro de uma aeronave que

decole para interceptar um inimigo. Se

uma das aeronaves possuir uma RCS de 5

e a outra de 3, esta última detectaria a opo-

nente 10s antes de ser observada pelo opo-

nente. Entretanto, se a capacidade de detecção

fosse de 125km ao invés de 50km, o tempo de

detecção aumentaria para 20s, isto é, seriam

20s a mais para lançar um míssil ar-ar antes

mesmo de ser detectada. Sendo assim, o efei-

to surpresa devido a uma menor seção reta

radar torna-se preponderante [1].

Como no exemplo citado, ouve-se falar

de aeronaves stealth (do inglês: ação secreta,

furtiva) como aeronaves invisíveis ao radar,

imunes aos sistemas de defesa inimigos. A

aeronave com tecnologia stealth, também cha-

mada de aeronave furtiva, tem sido objeto de

muitas pesquisas e destaca-se em campanhas

militares nos dias atuais. Esse vetor nada mais

é do que uma aeronave que devolve para a

antena receptora do radar um sinal reduzido,

ou seja, possui uma Seção Reta Radar reduzi-

da.

O que é Seção Reta Radar - RCSA RCS (Radar Cross Section) – Seção Reta

Radar - é definida como a potência refletida

pelo alvo por unidade de ângulo sólido sobre

a densidade de potência incidente dividida por

4p. Pode-se entendê-la como a quantidade de

energia que o alvo devolve para o radar que o

iluminou, sendo medida em dBsm (dB relati-

vo a um metro quadrado) ou metros quadra-

dos[2]. Quanto menor a RCS de uma aerona-

ve, maior será a dificuldade da mesma ser de-

tectada por um radar.

A Figura 1 mostra valores típicos de RCS[2].

A Figura 2 ilustra um exemplo de medi-

ção monoestática (emissor e receptor na mes-

ma posição geográfica) da seção reta radar da

aeronave AT-26 Xavante, em vôo.

Para ser considerada stealth, uma aero-

nave deve ter a sua seção reta radar abaixo de

0,5m2 [3]. O foco principal deste trabalho é a

redução da seção reta radar. Porém, o concei-

to de aeronave stealth é bem mais amplo, não

sendo restrito apenas à redução da seção reta

radar. Para que uma aeronave passe desaper-

cebida, não se deve esquecer que aspectos re-

lacionados à detecção visual, infravermelha e

sonora também devem ser considerados.

Redução da Seção Reta RadarFatores determinantes da Seção Reta Radar

Para melhor entender como reduzir a se-

ção reta radar, faz-se necessário conhecer os

fatores que nela interferem, podendo-se citar

que esta é função da[4]:

• posição do transmissor em relação ao

alvo;

• posição do receptor em relação ao alvo;

• geometria do alvo e composição do ma-

terial;Figura 1 - Ordem de grandeza de RCS em m2 e dBsm, de alvos comuns[2].

Figura 2 - Medição monoestática da RCS da aeronave AT-26, em vôo.

Page 34: Revista SPECTRUM Nº 08

33

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

• orientação angular do alvo em relação

ao transmissor e ao receptor;

• freqüência ou comprimento de onda;

polarização do transmissor; e

polarização do receptor.

A redução da seção reta radar poderá ser

obtida por alguns dos artifícios apresentados a

seguir que, de uma maneira ou de outra, afe-

tam os fatores determinantes da RCS citados

anteriormente. Esses artifícios são[2]:

• formato do alvo;

• materiais absorvedores;

• cancelamento passivo, e

• cancelamento ativo.

Formato do AlvoNa consideração deste aspecto, a fusela-

gem da aeronave deve ser projetada para que

haja um retorno reduzido de onda para o radar

que a emitiu. Hoje em dia, até mesmo superfí-

cies primárias, como o leme de direção, têm a

sua utilização limitada para não gerarem diedros

e devolverem a radiação incidente diretamente

para o radar. A aeronave B-2 americana é um

exemplo disto, e utiliza-se de flaps para o con-

trole direcional. Neste contexto, toda superfí-

cie da aeronave deve ser o mais lisa possível,

com o mínimo de descontinuidades, evitando,

dessa maneira, que as ondas eletromagnéticas

que se propagam na superfície sejam refletidas

nessas descontinuidades da estrutura. O arma-

mento escamoteável confirma a utilização des-

ta teoria.

Além das preocupações citadas, não se

pode esquecer que as antenas, feitas para irra-

diar de maneira perfeita, são ótimos refletores

e podem chegar a representar até 50% da RCS

de uma aeronave[5]. As cavidades das aerona-

ves, notadamente a entrada de ar do motor e a

cabine do piloto são preocupações constan-

tes. Na primeira, utilizando-se materiais

absorvedores e na segunda uma finíssima pe-

lícula metálica, na qual a onda eletromagnéti-

ca é refletida em diferentes direções, pode-se

reduzir a RCS dessas cavidades.

É em função da influência gerada pelo

formato do alvo que se diz que boa parte da

seção reta radar é reduzida já na prancheta do

projetista e para ilustrar, há as fuselagens nada

convencionais de aeronaves como o B-2 e o

F-22 da figura 3, que aplicam os conceitos de

um formato “ideal” para uma seção reta radar

reduzida.

Materiais absorvedoresO segundo método de redução de seção

reta radar é por meio do uso de Materiais

Absorvedores de Radiação Eletromagnética

(MARE), ou seja, absorvedores da onda radar,

conhecidos também como RAM – RadarAbsorbing Material2. O termo MARE é

abrangente e engloba materiais como tintas[7],

espumas, tecidos, não-tecidos[8] (feltros) e híbri-

dos (Figura 4). Os materiais absorvedores se

valem de dois processos para reduzir as refle-

xões da estrutura: absorção e cancelamento.

(a)

(b)

Figura 3 - Aeronaves (a) B-2 e (b) F-22, exemplos de aeronaves stealth[6].

Page 35: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34

Spectrum

A absorção se refere à transferência de ener-

gia da onda para o material, quando esta incide

e se propaga por este. De maneira simplificada

pode-se assumir que a energia da onda é passa-

da para os elétrons livres e utilizada em fenô-

menos de inversão de spins dos elétrons, asse-

melhando-se à perda ôhmica encontrada em

condutores. Quando o material é mais espesso,

como por exemplo, as mantas de borracha, a

redução da radiação incidente pode ser aumen-

tada por meio do cancelamento por múltiplas

reflexões dentro do material, podendo tornar-

se o mecanismo primário de perda, sendo o

cancelamento mútuo das ondas preponderante

ao fenômeno de absorção.

Os materiais absorvedores de radiação

podem ser ainda divididos naqueles que ab-

sorvem os campos magnético ou elétrico ou,

ainda, a combinação de ambos, denominados

materiais absorvedores híbridos. Os

absorvedores dielétricos são obtidos a partir

da adição de pequenas partículas de carbo-

no[9], grafite, polímeros condutores[10] ou partí-

culas de metal pulverizadas em uma matriz de

resina. E, os absorvedores magnéticos pela in-

corporação de partículas magnéticas, como

ferritas[11] [12], à matriz polimérica. Os MARE

encontram aplicações nas faixas de freqüên-

cia de 30 MHz até 100 GHz.

Cancelamento passivoO cancelamento passivo consiste em ins-

talar elementos que cancelam passivamente a

onda incidente em uma determinada polari-

zação.

Como esta técnica é efetiva apenas em

uma banda estreita de freqüências e está res-

trita a uma determinada posição da aeronave,

é utilizada como complemento das anteriores.

Para que seja implementada, uma quan-

tidade considerável de informações sobre a

ameaça e o alvo é requerida: a freqüência do

radar inimigo, direção, polarização e RCS do

alvo que estará voltado para o radar[2]. A Figu-

ra 5 mostra o cancelamento passivo da onda

eletromagnética, utilizando-se dipolos e slots(pequenas fendas na fuselagem).

Cancelamento ativoSendo uma extensão do cancelamento

passivo, o cancelamento ativo trabalha em

cenários dinâmicos de ameaças. Enquanto o

cancelamento passivo é restrito a uma faixa

de freqüências e direção, esta metodologia

permite cobrir diversos ângulos e freqüências,

sendo necessário, no entanto, transmissores e

antenas que cubram previamente todos os ân-

gulos, freqüências, densidades de potências

incidentes e polarizações da ameaça que se

espera encontrar, tornando-se extremamente

difícil e cara a sua implementação. O uso des-

ta metodologia pode ser de dois tipos:

·totalmente ativo: o sistema de cancela-

Figura 4 - MARE (a) flexível à basede não-tecido/polímero condutor,(b) espuma de poliuretano/negrode fumo e (c) tinta absorvedora deradiação eletromagnética aplicadaem míssil ar-ar brasileiro.

(a)

(b)

(c)

Figura 5 - Cancelamento da onda eletromagnética utilizando-sedipolos e slots [ 2].

Page 36: Revista SPECTRUM Nº 08

35

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mento do sinal recebe, amplifica e retransmite

o sinal do alvo anulando o seu retorno;

·semi-ativo: onde não ocorre a emissão

de um novo sinal, mas a modificação do sinal

que retorna do alvo para o radar emissor.

A solução brasileiraDe modo a facilitar a compreensão da

dificuldade que é encontrada para que se con-

siga a redução da distância de detecção, é apre-

sentada a Figura 6[13], onde pode-se observar

que para se atingir uma redução de 50% na

distância de detecção é necessária uma redu-

ção da seção reta radar de 95%. Em resumo,

pode-se afirmar que para que se consiga uma

aeronave stealth é necessário um elevado in-

vestimento em diferentes tecnologias.

A solução brasileira se restringe em parti-

cularizar a utilização da aeronave e associar

sistemas de armas e de guerra eletrônica mais

acessíveis à Força Aérea.

A partir de informações da aeronave sele-

cionada: missão e seção reta radar, conjugadas

às informações sobre o inimigo: freqüências

nas quais operam os seus radares, direção do

feixe do radar e polarização de suas emissões

eletromagnéticas, será possível reduzir o cus-

to da tecnologia empregada na diminuição da

RCS.

Esta descrição é melhor visualizada com

a apresentação de um cenário, tendo uma ae-

ronave com formato convencional recebido a

missão de se aproximar à baixa altura para re-

alizar um ataque a um radar na banda X (8 -

12GHz). Neste exemplo, como o inimigo vai

se apresentar na parte frontal da aeronave (di-

reção do feixe inimigo), uma das possibilida-

des de redução da sua RCS seria a partir da

aplicação do material absorvedor na parte fron-

tal da sua estrutura. Se neste mesmo ambiente

existir o apoio de uma aeronave amiga fazen-

do interferência no radar inimigo, o efeito da

furtividade de nossa aeronave seria aumenta-

do pelo ruído causado ao radar.

O toque final de sucesso na missão pode-

ria ser dado pelos sistemas de lançamento de

armamento fora do alcance inimigo, aumen-

tando ainda mais as chances de sobrevivência

do vetor de ataque.

Entender a tecnologia que nos propicia

uma aeronave furtiva possibilita associar equi-

pamentos necessários a meios disponíveis.

Associar a estratégia do guerreiro ao conheci-

mento do pesquisador brasileiro, sempre trou-

xe para a Força Aérea grandes resultados. É

chegada a hora da aeronave furtiva brasileira

ser o fruto dessa associação.

(os autores agradecem as sugestões do Prof. Dr. Titular daDivisão de Eletrônica do ITA, José Edimar Barbosa Oliveira eProf. Dr. Inácio Malmonge Martim)

Referências Bibliográficas1 MENDES, E. A. B. Determinação Experi-

mental Monoestático da Seção Reta

Radar da antena VHF-2 da aeronave AT-

26 Xavante. 2003. 114 f. Trabalho indi-

vidual (Especialização em Análise de

Ambiente Eletromagnético) – Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, São José dos

Campos.2 JENN, D. C. Radar and Laser Cross Section

Figura 6 - Relação entre distância de detecção e RCS[13].

Page 37: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○36

Spectrum

Engineering. AIAA. Washington,DC.1995.3 BRASIL. Força Aérea Brasileira. Comando

Geral do Ar. MCA 500-2.4 KNOT, E.F.; SHAEFFER, J.F.; TULEY, M.T.

Radar Cross Section. 2a ed. Norwood,

MA: Artech House, 1993.5 NOHARA, E.L. Measurements in Micro-

wave Region. Notas de aula. Institute of

Radioengineering and Electronics -

Russian Academy of Sciences, Friazno,

Rússia. Fevereiro/Março de 2002.6 UNITED STATES AIR FORCE. Disponível

em: http://www.af.mil/Acesso em:18 ago.

2003.7 BISCARO, R. S., Silva, R. S., FAEZ, R.,

REZENDE, M. C. Adesão de pinturas

Poliuretânicas de uso aeronáutico em

alumínio com diferentes tratamentos

superficiais In: VI Congresso Brasileiro de

Polímeros e IX International

Macromolecular Colloquium, 2001,

Gramado - RS. Anais do VI Congresso

Brasileiro de Polímeros e IX International

Macromolecular Colloquium. , 2001.8 REZENDE, M. C., LOPES, C. M. A.

Nãotecido de poliacrilonitrila

impregnado com polipirrol: efeito do

tempo de dopagem na eficiência de

absorção de microondas In: 7o Congresso

Brasileiro de Polímeros - CBPol, 2003,

São Carlos/SP. Anais do 7o Congresso

Brasileiro de Polímeros - CBPol. São

Carlos/SP: ABPol, 2003. v.1. p.125 – 126.

9 REZENDE, M. C., PEIXOTO, G. G., LOPES,

C. M. A. Microwave absorption effective-

ness of nonwoven support impregnated

with carbon black In: International

Microwave and Optoelectronics confer-

ence - IMOC 2003, 2003, Foz do Iguaçú.

Proceedings of the 2003 SBMO/IEEE MTT-

S. Foz do Iguaçú: SBMO, 2003. v.1. p.771

– 774.10 MARTINS, C.R., FAEZ, R., REZENDE, M.C.

Microwave absorption properties of a

conductive thermplastic blend based on

polyanyne. Polymer Bulletin: , v.51,

p.321-326, 2004.11 REZENDE, M. C., DIAS, J. C., MARTIN, I.

M. Reflectivity in the microwave range of

polyurethane coating loaded with NiZn

ferrites. Materials Research. São carlos/SP:

, v.1, n.1, p.1 - 10, 2003.12 REZENDE, M. C., NOHARA, E. L., MAR-

TIN, I. M. Processamento e

caracterização de materiais absorvedores

de radiação eletromagnética baseados em

ferritas de microondas In: 47 Congresso

Brasileiro de Cerâmica, 2003, João

Pessoa/PB. Anais do 47 Congresso

Brasileiro de Cerâmica. SP/SP: Associação

Brasileira de Cerâmica, 2003. v.1. p.11.13 NOHARA,E.L. Métodos de Caracterização

de Materiais Absorvedores de Ondas

Eletromagnéticas. 3º Relatório Científico

FAPESP. Nov.2002.

Page 38: Revista SPECTRUM Nº 08

37

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Míssil Infravermelho:Operacionalidade Baseada em Pesquisa Aplicada.

Ricardo Augusto Tavares Santos – Cap.-Av.

Estatisticamente a arma mais efetiva usa-

da contra aeronaves é o míssil

infravermelho (IV).

O primeiro míssil IV a ser usado em um

cenário real foi o americano AIM-9 (Air

Intercept Missile-9). Estes mísseis foram dispa-

rados a partir de caças F-86 de Taiwan contra

aeronaves MIG-15 da Força Aérea Chinesa na

década de 50. Os resultados foram muito po-

sitivos para Taiwan e devastadores para os

chineses, resultando na decisão chinesa de não

mais fazer decolar suas aeronaves, pois, sim-

plesmente, explodiam no ar. Os mísseis eram

disparados a partir das seis horas das aerona-

ves chinesas e, pelo fato de serem passivos,

não eram detectados.

Na primeira Guerra do Golfo, conforme

mostra a tabela 1, os mísseis infravermelhos

foram responsáveis por 78% das aeronaves

aliadas abatidas durante o conflito [1].

Mais recentemente, na Guerra do Kosovo,

as aeronaves da OTAN evitavam ao máximo o

vôo abaixo de 15.000 ft a fim de evitar

engajamentos com mísseis SAM (superfície-ar)

IV [2].

Este artigo tem o objetivo de mostrar

como pesquisa aplicada e operacionalidade

podem trabalhar conjuntamente e produzir

conhecimento vital altamente vital para o de-

senvolvimento de sistemas bélicos, como mís-

seis ar-ar. O estudo do desenvolvimento do

míssil IV foi escolhido em função desta arma

ser utilizada em todos os conflitos modernos

que se tem notícia e porque, ao longo de seus

cinqüenta anos de desenvolvimento, incorpo-

rou adventos tecnológicos de vários campos

do conhecimento.

Para que possamos melhor compreen-

der os princípios físicos que regem seu funci-

onamento, é necessário tecer comentários so-

bre a radiação infravermelha, citando as leis

que direcionam as pesquisas nesta banda do

espectro. Após, pode-se falar mais diretamente

a respeito do míssil IV, suas divisões, gera-

ções e um pouco do funcionamento. Tudo

isso, com o objetivo de mostrar os resultados

obtidos em pesquisas feitas no CTA, por Ofi-

ciais que estão estudando para melhorar as

concepções técnicas e operacionais de Força

Aérea.

Entendendo a Radiação InfravermelhaA radiação infravermelha é a porção do

Espectro que se situa entre a faixa de luz visí-

vel e a de microondas, sendo dividido em qua-

tro bandas, conforme mostrado na tabela 2. É

proveniente da temperatura (calor) em que se

encontram corpos e objetos, por isso sua re-

gião dentro do espectro é conhecida como

região quente. Mais precisamente, todos os

corpos que se encontram acima do zero ab-

soluto (-273º C) emitem radiação, mudando

apenas o comprimento de onda em que a in-

tensidade da radiação é máxima. A intensi-

dade da radiação se relaciona com a tempe-

ratura através das Leis de Stefan-Boltzmann e

de Planck [3].

Page 39: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○38

Spectrum

O IV foi descoberto, em 1800, por Sir

William Herschel quando estudava os efeitos

do aquecimento pela luz solar na forma de

energia radiante que não podia ser vista. A

partir de 1860, vários estudos foram realiza-

dos e também propostas famosas teorias que

ainda hoje são as bases de todos os estudos e

projetos que envolvem esta banda do espec-

tro [4], podendo-se destacar:

•Lei dos Estados de Kirchoff;

•Lei do Deslocamento de Wien;

•Lei de Stefan-Boltzmann;

•Lei de Rayleigh-Jeans e

•Lei de Planck.

Todas essas leis são aplicadas neste traba-

lho, tendo as aeronaves como as suas princi-

pais emissoras considerando como fontes pri-

márias de radiação IV as partes quentes da tur-

bina, a pluma (gases quentes originários da

combustão da turbina) e fuselagem como um

todo.

O Míssil InfravermelhoNos dias de hoje, há uma grande varie-

dade de modelos de mísseis com guiamento

IV no mercado internacional. Cada modelo

pode se distinguir de outro em vários aspec-

tos, cabendo ao comprador escolher as carac-

terísticas que mais se adaptam às suas aerona-

ves e às ameaças que irá enfrentar. Além dis-

so, não se pode perder de vista a relação cus-

to-benefício, pois nem sempre o “Estado da

Arte” em tecnologia vai atender as expectati-

vas do usuário a um preço que justifique sua

compra. Para tanto, é necessário conhecimento

técnico que possibilite a compreensão do fun-

cionamento e a avaliação do desempenho de

alguns componentes do armamento, conhecer

bem os ambientes de emprego e avaliar a com-

patibilidade do armamento com as plataformas

disponíveis a serem empregadas.

O míssil IV é formado por cinco partes:

sistema de guiamento, sistema de pilotagem,

espoleta, cabeça de guerra e sistema propul-

sor [5]. Todas as partes são importantes para

haver um conjunto eficiente, mas os fatores

que, hoje em dia, determinam as diferenças

de performance entre os produtos ofertados são

o autodiretor, que faz parte do sistema de

guiamento, e o sistema propulsor.

O autodiretor processa e envia dados de

um alvo estacionário ou móvel a um sistema

de pilotagem. Este sistema é o que mais incor-

pora inovações tecnológicas, sendo um dos

principais responsáveis pela caracterização das

gerações de mísseis IV. Nas três primeiras ge-

rações de mísseis, os detectores eram

monocromáticos, trabalhavam em apenas uma

banda de freqüências, por isso não consegui-

am discernir entre a emissão de uma aeronave

ou de um flare. Também, pode-se dizer que

contavam com pouca ou nenhuma resistência

a medidas de ataque eletrônico. A diferença

entre as gerações é que, na primeira, o seeker,

que faz parte do autodiretor, não era refrigera-

do. Na segunda, o seeker passou a ser refrige-

rado e na terceira houve um ganho de sensibi-

lidade propiciando engajamentos sob qualquer

ângulo de visada (all aspect), pois passaram a

usar detectores fotônicos. Na quarta geração,

os mísseis incorporaram a discriminação

espectral (freqüência) entre aeronaves e flares.

Na quinta geração, o autodiretor utiliza um

Page 40: Revista SPECTRUM Nº 08

39

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

arranjo de detectores, através de dispositivos

focais planos matriciais ou através de

detectores em linha na forma de line scan, para

conseguir uma imagem do alvo. A partir daí,

ocorre uma comparação quadro a quadro do

alvo. Se o alvo lança um flare, este logo é des-

cartado, pois não faz parte da imagem anali-

sada. Além disso, passaram a contar com sis-

temas inerciais que propiciaram a capacidade

de lock-on-after-launch, normalmente quando

se utiliza o Helmet Mounted Display (HMD).

Quando se fala do Sistema de Propulsão,

não há muitas diferenças até a terceira gera-

ção. Nas quarta e quinta gerações alguns mís-

seis incorporaram inovações significativas

como o sistema de propulsão em dois estágios

(booster e sustainer), o controle vetorial de

empuxo (perfis aerodinâmicos ou pastilhas são

inseridos no fluxo dos gases do propelente a

fim de desviar o fluxo e assim obter altos fato-

res de carga, chegando a valores de 100 G),

conforme se vê na figura 1, e o aumento na

quantidade de energia armazenada nos

propelentes (passou-se de propelentes de base

dupla para propelentes baseados em

composite, que são mais estáveis e com maior

concentração de energia).

A seguir, a tabela 3 cita as várias gerações

de mísseis e suas principais características.

Figura 1: Defletores de jato da tubeira do Míssil AIM-9X [6}

Page 41: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○40

Spectrum

Observando a tabela ao lado, conclui-se

que a geração de um míssil é definida por suas

características intrínsecas e não por equipa-

mentos acessórios como o HMD. Além disso,

observa-se que a quinta geração de mísseis su-

perou em muitos aspectos as gerações anteri-

ores, promovendo melhorias na performance

de quase todos os subsistemas. Porém, cabe

ressaltar que é possível encontrar mísseis de

uma geração com algumas características de

outra geração. As fronteiras entre as gerações

são muito tênues e há muitos exemplos que

validam a informação anterior. Alguns dos re-

quisitos básicos que norteiam o desenvolvi-

mento de um míssil moderno são:

•Operação em qualquer condição de

tempo;

•Dispare e esqueça;

•Longo alcance;

•Baixa assinatura infravermelha e

ultravioleta;

•Capacidade de engajamento de alvos em

altos ângulos de visada;

•Guiamento preciso com discriminação

de alvo;

•Baixo custo;

•Resistência a contramedidas; e

•Compatibilidade entre diversos tipos de

aeronaves.

Pesquisa Aplicada à Necessidade OperacionalMas onde se quer chegar mostrando fatos

que chamam a atenção quanto à eficácia no

uso de armamentos IV, ao se verificar as leis

que regem a teoria básica das emissões IV ou

ao se entender como funciona um míssil IV? A

resposta não é muito simples. Não basta pos-

suir ou operar armamento inteligente ou de

última geração se não houver entendimento

do seu funcionamento, das suas limitações ou

dos resultados obtidos com seu uso. Para tan-

to, é necessário aliar conhecimento técnico à

doutrina de emprego, pois como visto no de-

senvolvimento deste trabalho, o míssil IV é a

junção de várias áreas do conhecimento em

uma única aplicação.

A 5ª geração de mísseis IV traz consigo

cinqüenta anos de pesquisa e desenvolvimen-

to que geraram grandes impactos nas doutri-

nas de emprego das Forças Aéreas que ope-

ram este tipo de armamento. Isto quer dizer

que a pesquisa andou lado a lado com o fator

operacional na forma de parceria.

Ciente da importância deste tipo associa-

ção, o Comando da Aeronáutica tem promo-

vido esta parceria e colhido excelentes resul-

tados. Através do convênio COMGAR – ITA,

estão sendo pesquisados diversos temas de

importância operacional, gerados por neces-

sidades de emprego em vários campos do co-

nhecimento. As linhas de pesquisa fazem par-

te de programas de Especialização, através do

Curso de Especialização em Análise de Ambi-

ente Eletromagnético – CEAAE, e de progra-

mas de Mestrado e Doutorado, através do Pro-

grama de Pós-Graduação em Aplicações

Operacionais – PPGAO.

Uma linha de pesquisa desenvolvida por

estes programas tem foco no infravermelho. A

necessidade de se pesquisar esta faixa do es-

pectro foi criada a partir da incorporação de

mísseis de terceira geração (com capacidade

all aspect) ao arsenal da FAB [5]. Hoje, têm-se

desenvolvido trabalhos que permitem enten-

der como as aeronaves emitem a radiação IV[5] [7] [8], como um míssil de quarta geração rea-

liza a discriminação espectral [9] e como estu-

dar meios para uma aeronave se evadir de um

ataque de míssil IV, a partir de simulações

computacionais [10]. Cada trabalho produzido

resultou em conhecimento estratégico, pois

não está disponível em nenhuma bibliografia.

Quando juntos, em futuro próximo, irão cau-

sar um profundo impacto operacional.

A partir desses trabalhos, pode-se afirmar

Page 42: Revista SPECTRUM Nº 08

41

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

que, hoje em dia, a probabilidade de um mís-

sil IV abater uma aeronave, sem um mínimo

de equipamentos de autodefesa, é muito gran-

de. É muito difícil para um piloto em uma mis-

são real, onde tem de gerenciar vários aspec-

tos do vôo ao mesmo tempo, identificar o dis-

paro de um míssil visualmente. Deve-se lem-

brar, ainda, que o míssil está navegando a uma

velocidade próxima de 2,5 mach, com capa-

cidade de manobrar a mais de 35 G e que pode

ser lançado sob qualquer ângulo de aspecto.

Em simulações realizadas durante as pesqui-

sas, após várias tentativas frustradas, obteve-

se êxito em apenas um tipo de manobra de-

fensiva durante o engajamento de uma aero-

nave de caça e um míssil semelhante ao MAA-

1, sem uso de flare [9]. Deve-se dizer que as

condições de contorno do lançamento eram:

o piloto sabia a posição e o momento de dis-

paro do míssil. Pode-se imaginar qual seria o

resultado se o alvo fosse uma aeronave de

transporte ou de patrulha ou um helicóptero.

Vale lembrar, ainda, que mísseis de ombro,

como o IGLA, são tão precisos que possuem

espoleta por impacto. Com base nestes estu-

dos e nas estatísticas citadas anteriormente,

pode-se entender a necessidade de se equipar

as aeronaves da FAB com dispositivos de au-

todefesa.

Hoje em dia a FAB já conta com Oficiais

Aviadores especialistas em Guerra Eletrônica

que são capazes de fornecer conhecimento

técnico e dar suporte à implementação de no-

vas Doutrinas de Emprego, nas diversas Avia-

ções. Esses Oficiais incorporam a experiência

operacional de empregar uma plataforma de

combate e o conhecimento técnico-científico

adquirido em linhas de pesquisa desenvolvi-

das pelos programas supracitados, pois fize-

ram parte dos programas. Além disso, podem

ser usados como elo de ligação entre os lados

puramente operacional e o puramente cientí-

fico. Por isso, ao incentivar o intercâmbio da

área operacional com a área científica, não só

no espectro do infravermelho, conclui-se que

a FAB ganhará em eficiência operacional.

A partir das premissas colocadas aqui, vis-

lumbra-se que o caminho escolhido não será

percorrido com facilidade ou rapidamente, mas

pode-se imaginar que sua escolha foi correta,

pois o aumento na eficiência de emprego será

baseado no conhecimento tecnológico aplica-

do à Área Operacional.

Bibliografia[1] TAYLOR, William. “Understanding the

Infrared Threat”. Journal of Electronic

Defense, Fevereiro de 1999.

[2] TAYLOR, Bill. “Pre-emptive vs. Reactive

Infrared Countermeasures”. Journal of

Electronic Defense, Março de 2000.

[3] HUDSON, Richard D. Jr. “Infrared

Engineering System”. John Wiley & Sons,

New York, 1969.

[4] KRUSE, Paul W. McGLAUCHLIN,

Laurence D., McQuistan, Richmond B..

“Elements of Infrared: generation, trans-

mission and detection”. John Wiley &

Sons, New York, second edition. Maio de

1963.

[5] TAVARES, Ricardo A. S. “Proposta de

Procedimento para a Medida do Envelope

Infravermelho de Aeronaves”. 2001. Tese

(Especialização em Análise de Ambiente

Eletromagnético) – Instituto Tecnológico

de Aeronáutica, São José dos Campos.

[6] Disponível em: http://

www.sistemasdearmas.hpg.ig.com.br

[7] MAGALHÃES, Luciano B. “Estudo de

Metodologia de Estimativa da Assinatura

Infravermelha de Aeronaves a Reação na

Faixa de 3 a 5 mm”. 2002. Tese

(Especialização em Análise de Ambiente

Eletromagnético) – Instituto Tecnológico

de Aeronáutica, São José dos Campos.

[8] JANHSEN, Bruno C. “Análise de

Page 43: Revista SPECTRUM Nº 08

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○42

Spectrum

Pedro Carlos da Silva Euphrásio 1S BMA

Integração Digital de Aviônicos por Barramento MIL-STD-1553B

Na década de 60 observou-se um au-

mento da quantidade de equipa-

mentos aviônicos embarcados,

compondo sistemas de complexa integração

nas aeronaves. A integração tornou-se neces-

sária para melhor distribuição das informações

entre os sistemas, pois os sistemas antigos

conectavam uma pequena quantidade de

aviônicos ponto-a-ponto (figura 1a) e, quando

uma informação era necessária a vários equi-

pamentos, várias ligações eram feitas entre eles.

Foi então criado um caminho de dados único

entre os equipamentos, comumente chamado

de barramento (figura 1b).

O aumento da complexidade dos equi-

pamentos embarcados resultou no crescimen-

to de interconexões entre os vários componen-

tes de uma aeronave e, conseqüentemente,

aumentando seu peso e tamanho. Para soluci-

onar esse problema, em 1968 a filial da SAE,

Aerospace Branch of the Society of Automotive

Engineers (Filial Aeroespacial da Sociedade de

Engenheiros de Automóvel), estabeleceu um

comitê com pessoas das áreas militar e indus-

trial para definir os requisitos básicos de um

barramento de dados serial (dados enviados

em um fluxo, um bit de cada vez, através do

barramento). O Departamento de Defesa dos

Estados Unidos denominou o projeto como

norma MIL-STD-1553 a fim de ser aplicada

pelos militares e seus contratantes. Esta norma

militar estabeleceu parâmetros técnicos e de

projeto para os processos, procedimentos, prá-

Figura 1a - conexão ponto-a-ponto. Figura 1b - conexão em barramento.

ticas e métodos que foram adotados como pa-

drão. Em 1978, a norma foi revisada e passou

a ser denominada MIL-STD-1553B.

A MIL-STD-1553B define as característi-

cas elétricas e de protocolo para um

barramento de dados e utiliza a multiplexação

por divisão no tempo (TDM), operando

assincronamente com comando e resposta,

sendo adequada para a utilização em aplica-

ções aeroespaciais. As informações que trami-

tam neste barramento são compartilhadas en-

tre os subsistemas aviônicos, tendo esta

integração algumas vantagens: eliminação da

duplicação de informações de sensores e

displays, ganhos de desempenho e segurança,

redução de custos e otimização de espaço na

aeronave.

Os requisitos básicos para a padroniza-

ção do barramento 1553B são:

•as informações devem ser transferidas

entre os terminais do barramento por um ca-

nal de comunicação serial digital;

•os requisitos de interface elétrica são de-

finidos por um padrão único para todos os ter-

minais e conexões do barramento; e

•as informações devem ser transferidas de

forma confiável, determinística e no formato

de comando / resposta.

A Estrutura da MIL-STD-1553B.O barramento MIL-STD-1553B foi proje-

tado para conexão de até 32 unidades, ou ter-

minais (módulos) no barramento. A estrutura

do 1553B é composta por três tipos de

módulos: Controlador do Barramento (Bus

Controller-BC), Terminal Remoto (Remote Ter-

mina-RT) e Monitor do Barramento (Bus

Monitor-BM). Cada módulo determina as fun-

ções dos terminais na estrutura do barramento.

Na figura 2 podemos ver um exemplo típico

de terminais integrados em um barramento

1553B.

Page 44: Revista SPECTRUM Nº 08

43

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Controlador do Barramento (BC)O BC transmite e recebe dados, coorde-

nando o fluxo de todas as transmissões no

barramento através de comandos para os RTs

em momentos pré-determinados. Todas as

transferências de comandos e dados no

barramento são iniciadas pelo BC, portanto

nenhuma comunicação pode ser iniciada por

outro terminal.

Monitor do Barramento (BM)É um terminal usado para monitoramento

do barramento de dados. Tem as tarefas de listar

o tráfego no barramento e a de extrair infor-

mação selecionada para utilização posterior.

Todas as informações obtidas, enquanto agin-

do como monitor, são usadas estritamente para

aplicações offline (gravação de teste em vôo,

registro para manutenção, análise de missão).

Em caso de falha no BC, o monitor do

barramento (BM) contém informações sufici-

entes para assumir a função de BC.

Terminal Remoto ou Remote Terminal (RT)Um terminal remoto é uma unidade da

aviônica projetada para transferir dados entre

o subsistema da aeronave a que pertence e o

barramento de dados. Ele recebe comandos e

envia respostas ao BC codificando e

decodificando as mensagens.

Definições das Palavras 1553BAs informações trafegam no barramento

em forma de palavras. Uma palavra do

barramento 1553B é formada por uma seqüên-

cia de 20 bits: 3 bits para o sinal de sincroni-

zação (sync),16 bits para dados, comando ou

estado e 1 bit de paridade.

As informações (palavras) que circulam no

barramento de dados podem ser de três tipos:

Palavra de Comando (Command Word – fig

3), Palavra de Estado (Status Word – fig 4) e

Palavra de Dados (Data Word – fig 5).

Fluxos de InformaçõesO barramento 1553B utiliza o princípio

de comando / resposta onde todas as recep-

ções de comando (sem erro) por um RT são

seguidas por uma transmissão de uma palavra

de estado (status word) do RT para o BC. Esta

troca de dados valida o recebimento do co-

mando pelo RT. Os tipos de transferências de

mensagens são BC-RT, RT-BC e RT-RT. O pro-

tocolo do barramento 1553B permite também

transmissão no modo difusão (broadcast) e

transferências especiais classificadas como

Mode Code (modo de operação especial que

os RTs assumem ao receber o código enviado

pelo BC).

Exemplo de Mensagem BC-RTA mensagem do Controlador do

Barramento para o Terminal Remoto (BC-RT) é

enviada por uma palavra de comando “rece-

ba” seguida das palavras de dados. Ao receber

Figura 2 - Exemplo de Terminais Integrados via Barramento 1553B

Page 45: Revista SPECTRUM Nº 08

as palavras, o terminal remoto responde com

uma palavra de estado informando se recebeu

a mensagem com ou sem erros (fig. 6).

Montagem Experimental do Barramento 1553BNo Laboratório de Guerra Eletrônica do

ITA foram feitas instalações de duas placas

padrão 1553B (modelo PASS-PCI-1 e ABI-PCI-

1) em slot PCI em dois computadores distintos

juntamente com cabos e terminadores de pa-

drão 1553B, conforme figura 7. Estas placas

foram emprestadas pela empresa Lunus Comér-

cio e Representações LTDA., representante da

SBS Technologies no Brasil.

A construção de um barramento 1553B

entre dois computadores possibilitou a reali-

zação de testes elétricos e de protocolo em

laboratório, facilitando a compreensão de con-

ceitos da norma MIL-STD-1553B e a verifica-

ção de possíveis falhas na construção do

barramento e na caracterização das mensa-

gens. Nos testes elétricos foram feitas verifica-

ções de alguns parâmetros como: níveis de ten-

são, impedância característica e continuida-

de. Nos testes de protocolo foram feitas medi-

das de tempo de reposta, intervalo entre men-

sagens, número máximo de envio e recebimen-

to de palavras de dados, entre outros.

Utilizando o software PASS3200, foram

realizadas simulações entre sistemas e

subsistemas de aviônica, onde se pôde

monitorar o tráfego de mensagens entre os ter-

minais remotos e o controlador do barramento.

Obteve-se como primeiro resultado uma

familiarização com o barramento 1553B, an-

tes de se iniciar testes de monitoramento em

aeronaves.

Utilização do Sistema PASS3200 para Leitura do1553B em Aeronaves da FAB.

Os mesmos meios de conexão (stubs,

conectores e transformadores), testados em la-

boratório, e a placa PASS-PCI-1 foram utiliza-

dos posteriormente em testes nas aeronaves A-

1 do 1º/16º GAv, na Base Aérea de Santa Cruz

e R-99B do 2º/6º GAv., na Base Aérea de

Anápolis.

No período de 22 a 24 de outubro de 2003

foram realizados testes no barramento 1553B

da aeronave A-1 5515 (figura 8). Nesse teste,

foi feito um levantamento dos terminais da

aeronave que estavam ligadas ao 1553B.

Após a identificação dos terminais, foi feita

a gravação das mensagens trocadas pelo HUD

(Head Up Display) com o BC/MC (Bus

Controller / Main computer). Logo em segui-

da, o HUD foi desligado e, no editor de termi-

nais remotos do software PASS3200, configu-

rou-se o respectivo endereço e subendereço

do HUD com as palavras de estado (status

word) corretas, para a transmissão e recepção

que deveria fazer com o BC/MC. O computa-

dor passou a trabalhar no modo ativo e o teste

foi realizado com sucesso, sem aviso de erros

enviados pelo BC/MC.

No dia 31 de outubro de 2003, no 2o/6o

GAv, na Base Aérea de Anápolis, foi feito o

monitoramento do barramento 1553B da ae-

ronave R-99B 6751, através de um cartão PASS-

PCMCIA-1 utilizado em um notebook (figura

9). Inicialmente, foi feito o monitoramento das

mensagens trocadas entre terminais remotos,

Figura 6 - Exemplo de Mensagem BC-RT

Figura 7 - Testes Elétricos e de Protocolo no Laboratório de GE no ITA.

Page 46: Revista SPECTRUM Nº 08

trabalhando no modo passivo.

Após o levantamento das mensagens, foi

feita a configuração de um terminal remoto no

editor de terminais do PASS3200, com seu

endereço e subendereço. A partir desse mo-

mento, o computador passou a trabalhar no

modo ativo no barramento 1553B do R-99B e

foi possível trocar mensagens entre o compu-

tador e a aeronave.

ConclusãoO Programa de Fortalecimento do Con-

trole do Espaço Aéreo prevê o

reaparelhamento da Força Aérea Brasileira.

As aeronaves incluídas nos processos de

compra e revitalização possuem modelos de

barramento de dados (ARINC 429, MIL-STD-

1553B) que permitem um maior controle e

uma maior integração entre sistemas. Tor-

na-se vital o conhecimento de como as no-

vas unidades de aviônica conversam entre

si. Esses sistemas precisam ser compreendi-

dos para que os dados fornecidos pelo fa-

bricante sejam verificados e testados pelas

equipes de recebimento, operação e manu-

tenção. A capacidade de caracterizar equi-

pamentos e sistemas é de fundamental im-

portância para se evitar má operação e gas-

tos em atualizações desnecessárias. A gera-

ção de conhecimento deve ser estimulada

para que os mantenedores e operadores se-

jam capazes de otimizar a utilização de no-

vos sistemas e o Ensino e a Pesquisa este-

jam síncronos, para um melhor aproveita-

mento na disseminação deste conhecimen-

to.

Referências Bibliograficas[1] EUPHRÁSIO, P.C.S. “Estudo da

Utilização de Placas PASS-PCI-1/1 e

ABI-PCI-1/1 para Aquisição e Controle

de Dados no Barramento MIL-STD-

1553B”, São José dos Campos, ITA, Dez

2003.

[2] Principles of MIL-STD-1553. Louisiana

NE, SBS Avionics Technologies, Sep

2000.

[3] An Interpretation of MIL-STD-1553B.

Louisiana NE, SBS Avionics Technolo-

gies, Aug 2000.

[4] PASS 3200 User’s Manual. Louisiana

NE, SBS Avionics Technologies, Sept

2001.

[5] SPITZER, C. R. Digital Avionics

Systems.New Jersey, Prentice Hall,

1987

[6] SPITZER, C. R The Avionics

Handbook.New York, CRC Press, 2001.

[7] MIL-STD-1553B Interface Standard for

Digital Time Division Command/

Response Multiplex Data Bus. DoD, 21

Sep 1978

[8] MIL-HDBK-1553A - Multiplex Applica-

tions Handbook. DoD, 1 Nov 1988.

[9] MIL-STD-1553 ABI/ASF User’s

Manual. Louisiana NE, SBS Avionics

Technologies, Sep 2000.

Figura 8 :Conexão 1553 no Nariz da Aeronave A-1 e noCompartimento do BC/MC

Figura 9 :Conexão 1553 no Interior da Aeronave R-99B

Page 47: Revista SPECTRUM Nº 08

Colaboradores

O Cel.-Av. Carlos deAlmeida Baptista Júnioré piloto de caça, tendoconcluído o CFOAV em1981, exercendo atual-mente a Chefia da Se-ção de PlanejamentoOrçamentário do Co-mando-Geral do Ar.Foi assessor do Orça-

mento da Comissão de Implantação do SIPAM,Oficial de Operações do 1º GDA e Coman-dante do 2º/6º GAv. Além dos cursos de car-reira, possui o de Especialização em Planeja-mento e Gestão Orçamentária e Financeira,na Escola Nacional de Administração PúblicaENAP.

O Prof. Dr. OsamuSaotome é Ph.D. emProcessamento Digitalde Sinais, com título ob-tido no Tokyo Institute ofTechnology (TIT) em1987. Atualmente, é

Professor Adjunto na Divisão de EngenhariaEletrônica - Departamento de Eletrônica Apli-cada, atuando em microprocessadores,processadores de sinais digitais, arquitetura decomputadores, algoritmos de processamentode sinais, coordenação de projetos. O Prof.Osamu tem orientado trabalhos de graduaçãoe de pós-graduação aplicados à Guerra Ele-trônica.

O Cap.-Av. JorgeMaurício Mottaconcluiu o CFOAvem 1994, é Primei-ro Piloto de Patru-lha e além dos cur-sos normais de car-reira possui o deGuerra Eletrônica eBacharelado em

Engenharia Eletrônica no ITA (2003). O Ca-pitão Maurício está sendo designado paraaplicar seus conhecimentos no sistemaSIVAM, devido aos seus trabalhos realiza-dos na graduação do ITA.

O Maj Av Raimun-do Nogueira LopesNeto é piloto decaça, tendo exerci-do como principaiscargos o de Oficialde Inteligência do1º/10º Grupo deAviação, Oficial de

Guerra Eletrônica do 1º/16º Grupo de Avi-ação e Oficial de Pessoal do 1º/4º Grupode Aviação. Possui os cursos operacionaisde Tática Aérea e Liderança de Esquadrãode Caça. Alé dos cursos de carreira, possuio Curso de Metodologia de Produção deInformações no CEFARH e pós-graduaçãoem Análise de Sistemas na PUC-RJ (LatuSensu). Atualmente está cursando omestrado no Programa de pós-graduaçãoem aplicações operacionais - PPGAO naárea de Comando e controle.

A Drª MirabelCerqueira Rezendeé bacharel em Quí-mica na UNESP deAraraquara (1980),Mestre em Ciênciaspelo Instituto de Fí-sica e Química pelaUSP de São Carlos(1985) e Doutora

em Engenharia Química pela POLI-USP(1991). É pesquisadora da Divisão de Ma-teriais (AMR)/IAE/CTA na área de materiaisdede 1985 e, atualmente, chefia a Subdi-visão de Compósitos da Divisão de Mate-riais do Instituto de Aeronáutica e Espaçodo CTA, sendo responsável pelas ativida-des de P&D em MARE no CTA.

O 1S BMAPedro Carlos da Sil-va Euphrásio é for-mado na especiali-dade Aeronavespela Escola de Espe-cialista de Aeronáu-tica em 1986, exer-ce atualmente traba-lhos no Laboratóriode Guerra Eletrônica

do ITA com equipamentos de simulação desinais radar (TS-100+), Simulador Virtual deGuerra Eletrônica (VIEWS), simulação e testesde validação, em laboratório, para equipamen-tos que utilizam o padrão MIL-STD-1553B.Possui os seguintes cursos: Básico de GuerraEletrônica (GITE), Processamento de Dados(Unitau), Confiabilidade em Sistemas Eletrô-nicos (ITA), Análise de Circuitos Eletrônicos As-sistida por Computador (ITA) e desenvolve tra-balho de mestrado, em barramento de dadospadrão MIL-STD-1553B (ITA).

O Cap.-Av. Jorge LuizSchwerz concluiu oCurso se Formaçãode Oficiais Aviadoresno ano de 1990. É lí-der de Esquadrão deAtaque, tendo reali-zado os Cursos Bási-co de Guerra Eletrô-nica, ano de 1997, e

o Curso Expedito de Guerra Eletrônica daMarinha do Brasil. Atualmente está cursandoo mestrado no Programa de pós-graduação emaplicações operacionais - PPGAO, na área deGuerra Eletrônica, no ITA.

O Cel.-Av NarcelioRamos Ribeiro é pi-loto de patrulha,concluiu o CFOAvem1980 e exerceatualmente o cargode Comandante daBase Aérea de Sal-vador. Possuio cur-so de Guerra Eletrô-

nica na Inglaterra (“Electronic WarfareDirectors”) e pós-graduação em Planejamen-to Estratégico e Qualidade Total pela AEUDF(Brasília). O Cel.-Av Narcelio tem vários arti-gos publicados nesta revista, bem como nasrevistas da UNIFA e O Patrulheiro.

O Cap.-Av.Ricardo AugustoTavares Santos é Pilo-to Operacional da Avi-ação de Transporte,concluiu o CFOAV em1993 e, atualmente, éaluno de mestrado noPrograma de Pós-gra-duação em Aplicações

Operacionais do ITA. Foi Instrutor de Vôoda AFA, desempenhando a funçãode Comandante de Esquadrilha, e Instrutordo Curso de Guerra Eletrônica para Cade-tes na AFA. Possui o Curso de Especializa-ção em Análise de Ambiente Eletromagné-tico no ITA.

O Maj.-Av. André L.Pierre Mattei con-cluiu o CFOAv em1987, é 1º Piloto dePatrulha e além doscursos normais decarreira possui osde Guerra Eletrôni-ca em Salvador(1990), Bacharela-

do em Engenharia Eletrônica no ITA (1996),Mestrado em Ciências no ITA (1997) e, atu-almente, cursa o MBA em Gestão Estraté-gica pelo ITA/ESPM. Exerce as funções degerente técnico dos projetos P-3BR e CL-Xe de instrutor do ITA na área de Guerra Ele-trônica. Realizou diversos trabalhos técni-cos em parceria com o COMGAR, colabo-rou na criação do Laboratório de Guerra Ele-trônica do ITA, coordena os Simpósios deGuerra Eletrônica desde 2000 e realizou aorientação de mais de uma dezena de tra-balhos acadêmicos de graduação e de pós-graduação aplicados à Guerra Eletrônica.

O Prof. Dr. KarlHeinz Kienitz é pro-fessor Adjunto IV,Departamento deSistemas e ControleChefe da Divisão deEngenharia Eletrôni-ca, ITA. Possui for-mação acadêmicapelo ITA em Enge-

nharia Eletrônica, ano de 1983, com pós-graduação nível Mestrado em EngenhariaEletrônica, Instituto Tecnológico de Aero-náutica (ITA), Doutorado em Ciências Téc-nicas pelo Institut für Automatik, Swiss Fed.Inst. of Technology Zürich e Estágio de pós-doutorado pelo Institut für Robotik undSystemdynamik, Deutsches Zentrum fürLuft- und Raumfahrt (DLR),Oberpfaffenhofen, Alemanha, novembro de1996 – outubro de 1997. É Capitão Enge-nheiro da Reserva desde setembro de 1993