Revista Volver - 2ª edição

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SURFING Então: rapidinho, me diz uma coisa: quem é que tá certo nesse rolo lá da Ucrânia, os palestinos ou os judeus? Eu tô do lado dos gays nessa confusão porque todo mundo sabe que parto natural é mais saudável que cesariana ainda mais se liberar a maconha, putaquepariu, esse país vai virar uma terra de evangélicos talibãs, porque eu não acredito em homeopatia, sabe, é como eu sempre digo: torcida única nos estádios e não se discute, a comissão da verdade é fundamental para construir a memória nacional e não permitir o esquecimento de que ninguém pode viver sem comer carne, ora bolas, então tem mesmo é que trazer a pena de morte para a pauta da sociedade e se posicionar por uma maior regulação nos mercados financeiros, já que, se a cerveja não for artesanal, nem vem, porque eu vou de bicicleta para o trabalho, para a escola, para a merda se for preciso e eu acho que a Isis Valverde tinha que ter ficado com o Cauã, mas Paris dá para fazer em cinco dias, Roma tu faz em três e Amsterdam dois é mais do que suficiente, porém com tanto médico aí pra que trazer cubanos se o negócio agora é apostar em franjas e mechas, ora, tem mesmo é que proibir a energia nuclear porque essa conversa de cotas é racismo ao contrário e, hoje em dia, é mais perigoso tomar água de garrafa do que da torneira porque está escancarado que o futebol brasileiro passa por uma crise de talentos e educação a gente traz de casa, escola tem que ensinar, e eu não leio a literatura contemporânea brasileira de jeito nenhum, afinal só como orgânico, pois tem que demolir essas casinhas velhas e levantar prédios novos e seguros, mas, claro, tem que parar de dar esmola, meu amigo, e, entre chineses e americanos, eu só bebo vinho tinto a 18 graus, porque se for olhar bem aborto é crime, sem dúvida, é evidente que político é tudo igual, ainda mais que as experiências com células tronco são o futuro porque eu não consigo ler no computador, prefiro o cheirinho do livro impresso e vou cortar glúten e lactose da minha alimentação porque no verão o negócio vai ser encurtar a altura das saias, desde que não se fique dando emprego pra haitiano, é, eu acho que aquele avião da Malásia foi sequestrado, lógico, né, todo mundo sabe que essa história de aquecimento global é lobby e tem mesmo que multar quem joga lixo na rua, tem que maneirar no sal porque ele é o grande vilão e acreditar no agronegócio porque a vocação do país é exportar soja, ainda mais que a Mangueira vai ser campeã, não tenho dúvidas de que essa é única saída para a crise ucraniana. {1} ESTOU FAZENDO DE TUDO PARA NÃO FAZER NADA. UM ELOGIO À SUPERFÍCIE (COM A AJUDA DE PESSOA, WILDE, LEMINSKI E ANA C.) Mar, meu último refúgio e a minha conciliação com a perda. O útero regressado. Eu só tinha de caminhar e seguir, até onde não desse mais pé porque um dia a gente cansa de ter chão. ELE RESPIRAVA SILÊNCIO. NÃO QUERIA ENTRAR. ENTROU. A NAVE ACOLHEDORA COMO O ESTÔMAGO DE UMA BALEIA. TUDO MORTO, REPOUSANDO. O SOL JÁ MORRERA FAZIA TEMPO E SEU CORPO AGORA REPOUSAVA NERVOSO SOBRE O BANCO ESCURO DE MADEIRA. A epiderme terrestre é tão fina que sua es- pessura poderia ser comparada à da cas- ca da maçã em relação ao fruto. No en- tanto, é na camada orgânica que cobre a esfera mineral do planeta, sob a proteção gasosa da atmosfera, que está a vida. Na superfície. A superfície está entre o interno e o exter- no. Da fricção das duas partes vêm os estímulos que engendram nossos pen- samentos, julgamentos e ações. Ela é o campo onde ocorrem as experiências, onde os sentidos se organizam no co- nhecimento. No mundo de aparências da superfície, é preciso entender os da- dos fornecidos pelos sentidos, porque é impossível ter acesso a essência alguma que não seja aparente. Aos 14 anos, tive contato com a poesia de Fernando Pessoa, através de uma edição de bolso portuguesa, contendo alguns de seus poemas mais conhecidos. Entre eles, havia parte da série O guardador de re- banhos, escrita pelo heterônimo Alberto Caeiro, o camponês de palavras simples que atacavam, não sem ironia, religião e metafísica. Ambas doutrinas do profundo e do invisível. O mistério das cousas, onde está ele? Onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? A ideia de que não há sentido oculto nas coisas imiscuiu-se entre as minhas pró- prias desde cedo. Mais ou menos na mes- ma época, conheci a máxima esteticista de Oscar Wilde, proferida por seu cíni- co personagem Lord Henry no romance O retrato de Dorian Gray, de 1891. Só pessoas rasas não julgam pelas aparên- cias. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível. Diferente de Caeiro/Pessoa que dizem não haver mistério, Henry/Oscar defendem que o mistério existe, no entanto, ele não está nas profundezas, está diante de nós. Desde seu início, a humanidade tenta olhar e decifrar o mistério que a cerca. Ou como disse o poeta Paulo Le- minski (a frase, extraída do Cata- tau, serve de epígrafe para o livro Agora é que são elas): Ana C. percebeu como as aparências, ao mes- mo tempo, nos suprem o convencimento dos fatos e nos tiram as esperanças da salvação que viria da profundidade misteriosa (e ina- cessível). O profundo confunde os incautos que o tomam por sabedoria. É nas aparências que repousa o juízo e o sentido. O trecho a seguir foi extraído de um depoimento da au- tora que está no livro Crítica e tradução: AGORA QUERIA DIZER UMA OUTRA COISA. VOCÊ FALOU EM ENTRE... OS ENTREMENTES, AS ENTRELINHAS DO TEXTO. QUER DIZER, É UMA COISA QUE EU ACREDITO... EU ACHO QUE, NO MEU TEXTO E ACHO QUE EM POESIA, EM GERAL, NÃO EXISTE ENTRELINHA. NÃO ACHO QUE EXISTA ISSO CHAMADO ENTRELINHA. ENTRELINHA É UMA MISTIFICAÇÃO. EXISTE A LINHA MESMO, O VERSO MESMO. O QUE É ENTRELINHA? VOCÊ ESTÁ BUSCANDO O QUÊ? O QUE NÃO ESTÁ ALI? PODE EXISTIR O NÃO DITO, O QUE NÃO... MAS ENTRELINHA ACHO QUE NÃO EXISTE. Ao contrário do clichê que prega que um texto diz pelas entrelinhas, Ana C. acreditava que entre uma linha e outra não há nada, apenas o vazio da página. O que está, o que significa, está na linha. Na superfície. AS APARÊNCIAS ENGANAM, MAS, ENFIM, APARECEM, O QUE JÁ É ALGUMA COISA, COMPARANDO COM OUTRAS QUE, VAMOS E VENHAMOS, TALVEZ, NEM TANTO. Leminski não é bobo. Se as aparências en- ganam, é porque nos deixamos ingenu- amente enganar por elas, ineptos para apreender os sinais que se mostram diante de nós. A poetisa Ana Cristina Cesar, revelando um insight semelhante ao de Leminski, certa vez escreveu que: AS APARÊNCIAS DESENGANAM. TÃO E os gays estão tão gays Os homofóbicos tão homofóbicos Os negros tão negros Racistas tão racistas E os certos de que estão certos Estão tão certos de que estão certos E os errados tão errados Meu cachorro está tão meu cachorro O miserável tão miserável Até os russos estão tão russos Ucranianos, ucranianos Muçulmanos muçulmanos E os ciclistas tão ciclistas Os musculosos tão musculosos Magras tão magras Milionários tão trilionários E os bandidos, esses, estão tão bandidos E os solitários todos estão tão solitários E os ecologistas tão ecologistas Os cervejeiros tão cervejeiros Torcedores estão tão torcedores Os evangélicos, evangélicos Desempregados, desempregados Mal educados, mal educados Ansiosos, ansiosos E os opostos estão tão opostos Os neonazistas estão tão neonazistas E os pacíficos tão pacíficos O pedinte tão pedinte O esgoto tão esgoto A vítima tão vítima O raivoso tão raivoso A buzina tão buzina Vegano tão vegano Gaúcho tão gaúcho E o famoso está tão famoso Que eu fico tão. {2} {3} {4} {5} {6}

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Segunda edição da Revista Volver - Provocações verbo-visuais, com a temática "superfície".

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Page 1: Revista Volver - 2ª edição

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A epiderme terrestre é tão fina que sua es-pessura poderia ser comparada à da cas-ca da maçã em relação ao fruto. no en-tanto, é na camada orgânica que cobre a esfera mineral do planeta, sob a proteção gasosa da atmosfera, que está a vida.

na superfície.A superfície está entre o interno e o exter-

no. da fricção das duas partes vêm os estímulos que engendram nossos pen-samentos, julgamentos e ações. Ela é o campo onde ocorrem as experiências, onde os sentidos se organizam no co-nhecimento. no mundo de aparências da superfície, é preciso entender os da-dos fornecidos pelos sentidos, porque é impossível ter acesso a essência alguma que não seja aparente.

Aos 14 anos, tive contato com a poesia de fernando Pessoa, através de uma edição de bolso portuguesa, contendo alguns de seus poemas mais conhecidos. Entre eles, havia parte da série o guardador de re-banhos, escrita pelo heterônimo Alberto Caeiro, o camponês de palavras simples que atacavam, não sem ironia, religião e metafísica. Ambas doutrinas do profundo e do invisível.

o mistério das cousas, onde está ele? onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?

A ideia de que não há sentido oculto nas coisas imiscuiu-se entre as minhas pró-prias desde cedo. Mais ou menos na mes-ma época, conheci a máxima esteticista de oscar Wilde, proferida por seu cíni-co personagem lord henry no romance o retrato de dorian gray, de 1891.

só pessoas rasas não julgam pelas aparên-cias. o verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível.

diferente de Caeiro/Pessoa que dizem não haver mistério, henry/oscar defendem que o mistério existe, no entanto, ele não está nas profundezas, está diante de nós. desde seu início, a humanidade tenta olhar e decifrar o mistério que a cerca.

ou como disse o poeta Paulo le-minski (a frase, extraída do Cata-tau, serve de epígrafe para o livro Agora é que são elas):

Ana C. percebeu como as aparências, ao mes-mo tempo, nos suprem o convencimento dos fatos e nos tiram as esperanças da salvação que viria da profundidade misteriosa (e ina-cessível). o profundo confunde os incautos que o tomam por sabedoria. É nas aparências que repousa o juízo e o sentido. o trecho a seguir foi extraído de um depoimento da au-tora que está no livro Crítica e tradução:

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Ao contrário do clichê que prega que um texto diz pelas entrelinhas, Ana C. acreditava que entre uma linha e outra não há nada, apenas o vazio da página. o que está, o que significa, está na linha.

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Page 2: Revista Volver - 2ª edição

provocaçõesverbovisuais

provocaçõesverbovisuais

#02/04 SUPERFÍCIENOVEMBRO 2014

ISSN 2358-0240

IdEAlIzAdoREs E EdItoREsfabriano Rocha, fernando Ramos e Vitor Mesquita

PRodUção E ExECUção

tIRAgEM700 exemplares

fInAnCIMEnto

fAqUIRpor Vitor Mesquita

não deixe a superfície se tornar confortável.Procure escapar do molde porque o

ambiente urbano tem pressa em te adequar. E vai insistir!

Perceba o valor das relações táteis, visuais e imaginárias sempre a lembrar que os outros também são superfícies!

ásperas, aderentes, lisas ou magnéticas. Com arestas e até polidas.

Então, exercite o atrito! talvez ele te provoque um peso verdadeiro e revele em dobras necessárias o teu pertencimento. o teu lugar. tua ambiência.

A revista Volver #2 tem como tema sUPERfÍCIE para que você entre em contato, descole profundidades e descubra novas possibilidades verbo-visuais a fim de praticar o Eu-Coletivo.

boa leitura.

“superfície” é uma daquelas palavras que dão certo trabalho aos dicionaristas.

É que, dependendo do contexto, ela pode ter significados sutilmente diferentes. quando se trata de arte, por exemplo, em termos teóricos e históricos, o tema “superfície” já rendeu laudas e mais laudas – e muitas boas obras. foi por causa de lucio fontana – me parece – que, para algumas vertentes artísticas, “superfície” deixou de significar somente aquele tecido branco que se esconde por trás das tintas e passou a ser um problema de espacialidade e de materialidade. daí que, para a arte, já faz tempo – embora muita gente não saiba –, “superfície” deixou de ser apenas mais uma palavrinha descritiva para se tornar um “tema” em si mesmo – ou um “problema”, dependendo de quem olha.

Em suma, “na arte como na vida”, as superfícies são fatos estéticos por excelência. Elas são tudo que os olhos conseguem enxergar, tudo que os dedos conseguem tocar, tudo que a pele consegue sentir. desde um ponto de vista químico, por assim dizer, também os sabores são fenômenos de superfície – assim como os sons o são para a física. E se arranharmos (ou cortarmos, como fez fontana) uma superfície, haverá grandes probabilidades de nos encontrarmos com outra(s) superfície(s)... ou com o vazio...

- Então, ou é superfície ou é vazio?

não, porque, isso (arranhar ou cortar) podemos também fazer científica ou figurativamente, e daí, sabe-se lá o que poderemos encontrar para além das superfícies.

Vejamos, por exemplo, a seguinte afirmação de lucile e jean-Pierre garnier-Malet:

dA PRofUndIdAdE dAs sUPERfÍCIEspor Fabriano Rocha

UMA PEdRA tEM UM EnVoltóRIo tão EstáVEl qUE nos PARECE InERtE. EntREtAnto, EM sEU IntERIoR, ConstItUÍdo PoR PARtÍCUlAs EM AgItAção PERMAnEntE, ExIstE VIdA REAl.

– Uma pedra viva...

E que tal esta frase do dr. david hawkins[1]:

no MUndo oRdInáRIo, só sE PodE toCAR A sUPERfÍCIE dAs CoIsAs, MAs A EssênCIA MAIs PRofUndA dE qUAlqUER CoIsA sE AChA MEsClAdA CoM A EssênCIA MAIs PRofUndA dE todAs As oUtRAs CoIsAs.”

Claro que, algumas pessoas, ao lerem essas palavras, vão se perguntar:

– A que espécie de misticismo se está dando voz aqui?

Incentivaremos os leitores a não se deterem na superficialidade do discurso e deixaremos o google responder por nós.

Agora, voltando às superfícies, penso que se elas são só aparências, penso também que nem todas as aparências são só superfícies – se é que me faço entender. E não gostaria de terminar dizendo que a profundidade está para além das superfícies porque, na verdade vou terminar dizendo que as superfícies são o começo da profundidade – e acho que isso não é pouco pra terminar!

folheemos então esta nova edição da Volver e vejamos o que os nossos colegas têm a dizer sobre o assunto.

[1] não confundir com Richard dawkins, nem com stephen hawking!

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MARCos sARI VOLVER#2 sUPERfÍCIE

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Page 6: Revista Volver - 2ª edição

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Page 7: Revista Volver - 2ª edição

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Page 8: Revista Volver - 2ª edição

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Page 9: Revista Volver - 2ª edição

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Page 16: Revista Volver - 2ª edição

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AlexAndRA PeRnAu Zombie 1 nanquim sobre papel, pintura digital

natural de Porto Alegre, RS. Ilustradora e animadora, com tra-balho focado no cruzamento de meios tradicionais e digitais de desenho e pintura. Bacharel em artes visuais pela uFRGS; atualmente cursando produção multimídia no Senac [email protected]

AnA FloReS Camélias, 2005 Óleo sobre tela Acervo do MARGS

Artista visual, trabalha com cerâmica, desenho e pintura. Ba-charel em artes plásticas pelo Instituto de Artes da uFRGS e mestre em design pela escola de engenharia e Faculdade de Arquitetura da uFRGS. Seu trabalho foi mostrado em exposi-ções individuais e coletivas, tendo recebido diversos prê[email protected]

BRuno AlGARVe Pássaro (da série Animais de arame) Arte digital

Formado em design gráfico pela uFSM, RS. Ilustra desde 2004. http://[email protected]

deBoRA KuteR FloReS Passarada, 2014 Arte vetorial

na pintura, teve como tutores leda Flores, nere Pretto, Brit-to Velho, tania Couto, Cae Braga, Ana Flavia Baldisseroto. em 2009, iniciou o curso de design gráfico no uniRitter em Por-to Alegre, RS. dedica-se ao design de superfície. https://www.facebook.com/deborakf?fref=ts [email protected]

eduARdo MIotto Chromazonas 1 Óleo sobre tela

Pintor e artista gráfico. Bacharel em pintura pelo Institu-to de Artes Visuais da uFRGS. Atuou em diversas agências de design e publicidade. Suas obras fazem parte de diversos acervos particulares e institucionais.http://www.eduardomiotto.com.brhttp://facebook.com/eduardo.miotto1

FABIo ZIMBReS Sem título, 2014 Fotografia

Quadrinista, ilustrador, designer e editor, é criador das edi-ções tonto. Colaborou com quadrinhos e ilustração em di-versas publicações no Brasil e exterior: A Folha de São Pau-lo, Zero Hora, Chiclete com Banana, Animal, dundum, Comix 2000, lapiz Japonés, lapin, Que Suerte, Rosetta e outras. É autor dos livros Vida boa (coletânea das tiras), Música para antropomorfos, Feliz e o apocalipse segundo dr. Zeug. Fez ilustrações para o livro Panamá ou as aventuras de meus sete tios, de Blaise Cendrars, editado na espanha pela Media Vaca. Representado em São Paulo pela galeria [email protected]

FedeRICo leÓn nAIFleISCH (KIRAn) Sem título Fotografia

natural da Argentina, é fotógrafo desde 1987. em 2005, esta-beleceu-se em Porto Alegre, onde tem documentado ativida-des socio culturais. tem partipado de exposições individuais e coletivas desde 2008. [email protected]

{01} Gabriel Pardal

{02} leo Felipe

{03} lima trindade

{04} Jeferson tenório

{05} Reginaldo Pujol Filho

{06} Reginaldo Pujol Filho

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GABRIel AlBReCHt FItARellI Jornada noite adentro, 2014 Arte vetorial

Cursando 2º semestre de design gráfico no uniRitter em Porto Alegre, RS. [email protected]://www.behance.net/fitta

JoSÉ FRAnCISCo AlVeS Procedimentos II, 2001 Acervo Prefeitura de Gravataí

tecido de algodão, aço Inox, instrumentos cirúrgicos e outros elementos

médicos-veterinários, livro “Anatomie et Physiologie Humaines”, Antoine

PIZon, octave doin editeur, Paris, 1909.

Professor de escultura do Atelier livre da Prefeitura de Porto Alegre e curador independente. Atuou como escultor mais intensamente entre 1988 e 2002, com prêmios e parti-cipações em mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Possui obras em acervos de museus e instituições de arte em cinco estados [email protected]

leAndRo MACHAdo livro, 2014 Recorte com estilete sobre livro didático

Bacharel em artes plásticas – habilitação pintura pela uFR-GS, em 2003. especialização em saúde mental (Hospital Psi-quiátrico São Pedro), Residência Integrada em Saúde, esco-la de Saúde Pública, Porto Alegre, RS, de 2005 a 2007.licenciatura em educação artística, uFRGS, 2007. tem par-ticipado de exposições individuais e coletivas e recente-mente expôs uma série de fotografias de plantas [o jardim] na Galeria dos Arcos, usina do Gasômetro, Porto Alegre, RS. [email protected]

leonARdo CAStIlHoS VAlle Sem título, 2013 Pastel seco e grafite sobre papel

Ingressou no bacharelado em artes visuais da uFRGS em 2010. tem se dedicado ao desenho e realiza pesquisas para-lelas em pintura, fotografia e design. Participou da 8ª Bie-nal do Mercosul como mediador e assistente de produção, e atualmente trabalha no núcleo de design de Superfície da ufrgs. neste ano, expôs coletivamente no Acervo Indepen-dente, e individualmente, no Ateliê Contextura, e no espaço Ado Malagoli, no Instituto de Artes/[email protected]

MARCoS SARI Superfície35x50 Fotografia

Artista visual graduado no Instituto de Artes da uFRGS em 2003. Fez parte do torreão, em Porto Alegre, onde partici-pou ativamente dos cursos e ateliers abertos até 2009. Vem apresentando seu trabalho desde 2001 em mostras individu-ais e coletivas com intervenções cromáticas, fotografias e instalações nas quais a pintura e o espaço tridimensional são temas recorrentes. Foi bolsista da Fundação Iberê Camargo em 2010 e fez parte da 8ª Bienal do Mercosul em 2011. Vive e trabalha em Porto Alegre. Coordena desde 2003 o Proje-to Meio juntamente com daniele Marx entre Porto Alegre e Amsterdam. em 2014 passa a fazer parte do Plataforma es-paço de Criação em Porto Alegre. em 2013 funda com An-gélica Segui o otto Sitio - local de convívio, investigações e trocas poéticas junto à natureza. [email protected]

RAFAel SICA ordinário nanquim sobre papel

natural de Pelotas, RS. Considerado um dos mais importan-tes autores de sua geração, venceu por duas vezes o Prê-mio hq Mix, nas categorias novo talento (2005) e Web Qua-drinhos (2009), por seus Quadrinhos ordinários publicados na internet. Ilustrou o conto João Sortudo para a coletâ-nea Irmãos Grimm em quadrinhos (desiderata, 2007), e pu-blicou uma seleção de 115 de seus Quadrinhos ordinários na antologia ordinário (Cia. das letras, 2011), além do álbum tobogã (narval, 2013) pelo selo da coleção 1000, novela (Be-belBooks, 2014) e FIM – Fácil e Ilustrado Manifesto (Beleléu). tem participado de exposições individuais e coletivas. https://www.flickr.com/photos/sicarafael/[email protected].

RoSelI JAHn da leveza, 2014 Serigrafia, tinta caligráfica e nanquim sobre papel

Graduou-se, em 1975, no Instituto de Artes da uFRGS. em 1973, ainda estudante, recebeu o “Primeiro Grande Prêmio Aquisição na II Mostra universitária de teatro e Artes Plásticas”, realizada pela uFRGS. entre 1974 e 1977, assessorou o pintor e professor Ado Malagoli (1906–1994) na restauração de obras de impor-tante valor histórico e artístico dos acervos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). em 1977, ingressou como professora no Insti-tuto de Artes/uFRGS, atuando especialmente em disciplinas de desenho. também em 1977, recebeu o “Grande Prêmio do Sa-lão de desenho do Rio Grande do Sul”, promovido pelo MARGS. em 1996, com a tese teórico-prática intitulada do espaço e da Intenção do desenho, obteve o diploma de estudos Aprofunda-dos em História, teoria e Prática das Artes pela universidade de Ciências Humanas de estrasburgo, na França. desenvolveu em 2000-2001 uma coleção em cristal de Murano para a empresa italiana Arcade. Com diversas exposições individuais e exposi-ções coletivas, tem obras nos acervos da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, do MACRS e do MARGS. http://www.roselijahn.com [email protected]

SeRGIo RodRIGueZ

Sem título, 2012 (parte do zine Mutatis) Intervenção digital sobre colagem

Artista visual residente em São leopoldo. Integrante e membro fundador do coletivo de arte e design Máfia líquida. Realizou sua primeira exposição individual em 1996, participou de coletivas e salões de arte. Foi premiado no xIV Salão de Artes Visuais da Camara Municipal de Porto Alegre com a obra outdoor, que figura no acervo do MACRS, e recentemente a obra Vai Vendo integra o acervo do MARGS. Colaborou na revista Prego edição #6. Participou dos eventos Feira Plana, Parada Gráfica e osso lançando sua segunda HQ, zines e artes grá[email protected] www.flickr.com/people/spontorodriguez/

tÉtI WAldRAFF

Passeio em Pinto Bandeira...Galharedos 1 Caneta posca sobre papel

Artista plástica e arte educadora graduada pela uFRGS. Vive e trabalha em Porto Alegre, RS, e no distrito de Faria lemos, in-terior de Bento Gonçalves, RS. Participa desde os anos de 1980 de exposições coletivas no Brasil e no exterior. Sua exposição individual mais recente, téti Waldraff – Jardim de flor (MACRS, 2014), com curadoria de Paula Ramos e organizada como uma pequena antologia, articulou trabalhos de 1983 até 2014, apre-sentando desenhos, objetos e instalações. em 2012, recebeu o prêmio Projeto MAC21 – Artes Visuais Funarte/Minc/MACRS. [email protected]

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#02/04 SUPERFÍCIE NOVEMBRO 2014