RevistaMeb4 Flauta
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Flauta doce como instrumento artstico: uma experincia em sala de aula Luciana Aparecida Schmidt dos SantosUniversidade Estadual de Londrina - [email protected]
Miguel Pereira dos Santos JuniorUniversidade Estadual de Londrina / [email protected]
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Resumo: A auta doce um dos instrumentos mais utilizados em projetos e escolas para o ensino de msica, principalmente depois da implantao da lei n 11.769/2008. No entanto, como de baixo custo e de fcil e rpida emisso sonora, esse ins-trumento frequentemente considerado como um simples meio de iniciao musical. Na maioria das escolas, a auta doce no apresentada como um instrumento artstico, de forma que os alunos no sentem vontade de continuar se dedicando ao seu estudo. No presente artigo, procura-se relatar como o mtodo Suzuki pode auxiliar na prtica de um ensino musical ecaz, com ideias simples e criativas, que envolvem professor, aluno e famlia.
Palavras-chave: auta doce, Suzuki, ensino.
The recorder as an artistic instrument: an experience in the classroom
Abstract: The recorder is one of the most widely used musical instruments in projects and schools for the music education, especially after the implementation of law No. 11,769/2008. However, as low-cost, quick and easy sound, this instrument is often regarded as a simple means of musical initiation. Thus, in most schools, the recorder is not presented as an artistic instrument, so that students do not feel the urge to continue devoting to its study. In this article I wanted to report how the Suzuki method can assist in the practice of a eectual musical education, with simple and creative ideas, involving teacher, student and family.
Keywords: recorder, Suzuki, teaching/music education
SANTOS, Luciana Aparecida Schmidt dos; JUNIOR, Miguel Pereira dos Santos. Flauta doce como instrumento artstico: uma experincia em sala de aula. Msica na Educao Bsica. Londrina, v.4, n.4, novembro de 2012.
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prtica de instrumentos musicais vem ocorrendo nas escolas por
meio de projetos e aulas curriculares ou mesmo como parte das aulas de artes1. A au-
ta doce tem sido um dos instrumentos escolhidos, principalmente porque de baixo
custo (no incio das aulas, geralmente solicitado um modelo estudantil e de plstico) e
de fcil transporte e tem uma emisso sonora muito fcil e rpida de ser aprendida em
estudos iniciais.
Dentre as vrias opes e caminhos para se ensinar a prtica desse instrumento, exis-
te a possibilidade de se misturar e adaptar mtodos a cada contexto de ensino-aprendi-
zagem. Dentre eles, considera-se que a Educao do Talento2 (Suzuki, 1994) pode trazer
timas contribuies para o trabalho nas escolas, mesmo que nesse contexto seja difcil
de ter aulas individuais e que o foco principal nem sempre seja o instrumento, mas a
aula de msica:
outra questo que diferencia o trabalho com a flauta doce na escola que a aula de msica o centro da proposta, um conceito mais amplo que o de aula de flauta. Isto , a flauta doce um dos recursos a ser utilizado no fazer musical, no o nico (Beineke, 2003, p. 86).
A maior parte das atividades apresentadas neste artigo est alicerada no mto-
do Suzuki, j que Katherine White3 adaptou para a auta doce aquilo que
Suzuki observou, acreditou e praticou no ensino do violino. Pro-
pomos que tais atividades sejam aplicadas em escolas de
ensino regular, em turmas desde os ltimos nveis da educa-
o infantil at o quinto ano do ensino fundamental. Escla-
recemos que as fontes da proposta so os encontros
entre os professores suzuki, os diversos trabalhos j
existentes e a nossa experincia em sala de aula.
O princpio fazer tudo passo a passo...
O ensino da
1. So muitos os exemplos de trabalhos, citaremos trs, conscientes de que existem muitos outros: Lenga la lenga (Viviane Beineke), Flauta, flautinha e flauto (Quinta Essentia Quarteto de flautas doces) e Projeto Guri (AAPG Associao dos Amigos do Projeto Guri).2. Educao do talento o nome usado para designar uma proposta de educao musical desenvolvida pelo violinista japons Shinichi Suzuki. Tal proposta foi inicialmente pensada para o ensino e aprendizagem da msica (do violino) por crianas, no contexto japons. Desde sua criao, na dcada de 1930, e sua posterior aplicao dentro e fora do Japo, o mtodo Suzuki tem sido adaptado para diversos instrumentos, culturas e realidades, sendo utilizado em vrios pases do mundo, inclusive no Brasil. (Ilari, 2011, p. 187).3. Katherine Caldwell White: flautista americana que estudou com Suzuki no Japo e adaptou o mtodo Suzuki para a flauta doce na dcada de 1970. Foi ela quem selecionou todo o repertrio e, como principal diferena em relao a outros mtodos, introduziu as notas graves no incio do estudo. Maiores informaes: http://suzukiassociation.org/people/katherine-caldwell-white/.
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Atividades com a presena da famlia
Para saber mais...O mtodo Suzuki baseia-se nas observaes sobre a aprendizagem da lngua ma-terna. Ao observar bebs e crianas, Suzuki percebeu que todas, sem exceo, aprendiam o idioma materno, inclusive os acentos e as particularidades de dialetos especcos, sem fazer grandes esforos. Suzuki tambm constatou que a apren-dizagem do idioma materno acontece por meio da interao com os membros de sua famlia, sobretudo com a me (Ilari, 2011, p.189).
Suzuki defende a presena da famlia no processo de ensino-aprendizagem das
crianas. Em escolas de msica ou em estdios de professores do mtodo, existem aulas
individuais e coletivas com a presena - e participao - dos pais. No entanto, nas escolas
de ensino regular, no existe nem a possibilidade de aula individual e, mais difcil ainda,
nem a da presena dos pais nas aulas. Assim, para que a relao tridica entre pais, pro-
fessores e alunos acontea, outras formas de aproximar a famlia precisam existir.
Suzuki acredita que a participao dos pais importante porque cabe a eles motivar a criana na difcil tarefa da prtica instru-mental diria, que, por sua vez, ajuda a desenvolver na criana a persistncia necessria ao estudo de um instrumento musical (Ilari, 2011, p.199).
Sugestes para aproximar a famlia no processo de ensino-aprendizagem:
Tarefas que envolvam pesquisa e auxlio dos pais;Cartazes nos corredores e locais de acesso dos pais na escola;Avaliaes descritivas;Recados via agenda - ou outro meio adquirido pela escola - para parabenizar os alunos ou informar fatos ocorridos em sala de aula;E-mails com sugestes de escuta e/ou leitura;Portflios audiovisuais;Depoimentos de profissionais da rea;Participao em feiras e mostras cientficas;Disponibilizao de CDs ou DVDs para apreciao em casa;Apresentaes musicais;Trabalhos sociais, entre outros.
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Atividades de postura e disciplina
Os alunos entendem e compreendem que toda atividade, brincadeira ou jogo ne-
cessitam de regras e comprometimentos. Vrios artifcios e recursos podem mostrar
como se colocar em p, a postura correta dos ps para o cumprimento, a posio de
descanso para o incio da performance. Podem mostrar tambm como preparar as mos,
onde e qual mo colocada para se conseguir equilibrar a auta, para no deixar a auta
cair no cho, etc. Enm, todos os passos que fazem parte do bonito som a ser tocado e
escutado.
Preparando-se para tocarP
Posio de cumprimento: oi p!
Posio de descanso: ps juntos.
Posio de cumprimento: oi p!
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Bebs e crianas pequenas no fazem distino entre trabalho e brincadeira. So automotivados a aprender, e se empenham no aprendizado com uma intensidade impressionante, explorando a maravilha do mundo externo com alegria e entusiasmo (Toda criana pode, 2003, p. A7).
Tendo sido construdo o conhecimento do corpo e de como se comportar diante do
instrumento e da plateia, inicia-se ento o momento de ensinar o respeito pelo outro e
pela msica. A autoconana e a segurana para segurar seu instrumento e poder iniciar
sua msica do espao satisfao de simplesmente fazer msica! Em momentos como
estes, os alunos precisam de bons exemplos. Ento, o professor que nutrido de diversi-
dade musical, de exemplos musicais precisos e de uma rotina de estudo e dedicao ao
seu instrumento, ter uma turma de autistas que respeitam o seu entorno, valorizam
a msica e, alm de se comportarem bem diante das situaes do dia a dia, irradiaro
alegria e prazer ao fazer msica.
Atividades de apreciao e de contextualizao
O contato com o instrumento e seu contexto pode ocorrer bem antes, em anos
anteriores ao aprendizado de sua prtica...
Posio para tocar: ps ligeiramente afastados.
ltimos ajustes...
Posio para tocar: ps ligeiramente afastados
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importante que os alunos tenham contato com instrumentos de qualidade, com
prossionais que estejam atuando e trabalhando para que a auta doce continue sen-
do um instrumento de excelncia. Escutar gravaes, assistir a vdeos, manipular autas
de diferentes tamanhos e receber visitas valorizam o trabalho e fortalecem o desenvol-
vimento musical, aguando o senso crtico dos alunos. Dessa forma, eles sabero que
aprender a tocar auta doce no simplesmente um primeiro degrau para o instrumen-
to que pretendem tocar futuramente e sim uma aprendizagem que prepara o caminho
para uma excelncia musical em performance!
O contexto das atividades relatadas uma aula de msica, na qual se utiliza o ma-
terial intitulado Cadernos de Msica 4 (Santos, Santos e Cacione, 2010, p. 104-115). Du-
rante o ano so construdos com os alunos um portflio em caderno e um portflio au-
diovisual das atividades realizadas em sala. Nos vdeos sobre a auta doce, a professora
aproveita o espao para apresentar e explicar aspectos relacionados ao instrumento e
oferecer dicas de estudo. O resultado surpreendente a cada ano, pois o estudo em casa
melhora em qualidade, sendo o prprio vdeo utilizado pelos alunos para rever conte-
dos e estudar para as provas.
Flauta doce baixo
4. Este material comeou a ser utilizado em 2007 (antes de ser publicado na revista MEB em 2010); desde ento os pais comearam a receber filmagens das aulas de msica.*
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Em 2011, o portflio contou com trs depoimentos de renomadas educadoras mu-
sicais e instrumentistas: Shinobu Saito5, que apresentou um breve histrico do mtodo
Suzuki no Brasil; Renata Pereira6, que comentou sobre o uso da auta doce no ensino das
escolas regulares; Mary Waldo7, que incentivou o estudo de auta doce pelos alunos da
educao infantil e das sries iniciais do ensino regular8.
Atividades de articulaoA tcnica da auta doce implica o desenvolvimento de trs habilidades diferencia-
das. A primeira a habilidade de coordenao dos dedos (dedilhado); esta de todas a
mais fcil de aprender e ensinar. As outras duas, a habilidade de controlar o ar-sopro e
a da articulao (da lngua), so mais complicadas de ensinar e aprender, uma vez que
so invisveis. O trabalho de conhecer o bocal e fazer com que a lngua obedea aos
movimentos necessrios para uma boa articulao pode ser realizado de forma ldica
e prazerosa, utilizando-se a prpria auta ou objetos e materiais alternativos e criativos.
A articulao inicial o trabalho com a slaba TU staccato e, no decorrer do proces-
so, outras articulaes vo sendo aprendidas por meio de experimentaes, estudos e
comparaes.
Por que escolher a slaba TU no incio do trabalho?
Na tcnica de articulao da auta doce, temos dois tipos de articulao:
simples e dupla. As simples so aquelas em que a lngua faz um movimento
completo para apenas uma consoante, T, D e R. A dupla a combinao
das consoantes simples T, D e R, mais duas guturais como K e G.
O T uma articulao enftica, precisa e muito direta, pois a ponta da
lngua est mais prxima do canal da auta. Remonta aos primeiros mto-
dos de auta doce utilizados no sculo XVII, tanto na Itlia quanto na Frana.
De acordo com o estudo de Aguilar, alm do contexto da obra musical como um
todo, que precisa ser considerado, a acstica do ambiente pode inuir na escolha da
articulao (Aguilar, 2008, p. 144). Portanto, como as turmas do ensino regular tendem
a ser numerosas e as salas de aula (e os locais de apresentao) nem sempre possuem
uma acstica ideal para as performances, a consoante T, por ser oclusiva dental (Agui-
lar, 2008), auxilia na interpretao das peas, resultando em um som mais claro e preciso.
5. Teacher Trainer Certificate da Associao Suzuki Americana (SAA).6. Doutoranda e Mestre em Msica pela USP, flautista e professora suzuki de flauta doce. 7. Suzuki Recorder Teacher Trainer in North America and Latin America USA.8. O portflio audiovisual parte da avaliao da aula de msica; portanto, apenas os pais e alunos da escola tm acesso a ele, mas pos-svel assistir a um vdeo que mostra um resumo da implantao dos cadernos de msica depois de vrias apresentaes e comunicaes em simpsios e congressos, inclusive da ABEM. Segue o link: http://www.maededeus.edu.br/ensino_fundamental_musica.aspx.
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Tirinhas de papel
Bolinha de sabo
Cachimbo de brinquedo
A vogal U, conforme Aguilar (2008), a mais indicada nos livros de auta doce
disponveis em portugus, pois esta vogal ajuda a posicionar os lbios corretamente no
instrumento (Aguilar, 2008, p. 145). No entanto, a mesma autora arma que a variao
da vogal no inui tanto no resultado sonoro comparado s consoantes, o que signica
que cada realidade far escolhas pertinentes ao seu contexto (Aguilar, 2008, p.147).
Seguem alguns exemplos de crianas menores praticando a articulao:
O aluno posicionar pedaos de l, fitas ou papel prximos boca e falar ou can-tar a slaba TU para treinar sua pontaria, ou seja, a direo do seu sopro. Brinquedos como cachimbos com bolinhas tambm apresentam bons resultados.
Bolinha de sabo: soprar variando a quan-tidade de ar obtendo tamanhos ou quantida-de diferentes de bolas. Tal brincadeira ajudar o aluno no sopro suave, que necessrio prin-cipalmente na regio grave das notas.
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Atividades de afinao
No mtodo Suzuki, para cada instrumento, existe um repertrio comum que pode
ser utilizado pelos alunos. Esse repertrio compilado em uma srie de livros, cada um
dos quais com gravaes em CD para o aluno escutar e se familiarizar com a msica que
estiver estudando. Assim, alm de ter referncias corretas de anao e interpretao,
ele pode conhecer o repertrio que tocar em aula, o que faz uma grande diferena,
pois tocar o que conhecido mais interessante e prazeroso. Paralelamente, o professor
pode oferecer vdeos e outros CDs de autistas e grupos diversos.
O fato de existir um repertrio comum para as turmas contribui para o sucesso da
performance, pois favorece a ocorrncia de uma ajuda mtua entre os alunos (alunos
mais adiantados ajudam os iniciantes, irmos se ajudam na escola e em casa). Assim, o
respeito entre os alunos trabalhado e praticado dia a dia.
QUINTA ESSENTIA QUAR-TETO DE FLAUTAS DOCES: um dos quartetos mais atuantes do Brasil. Alm de tima performance e divulgao da msica para flauta doce no Brasil e no mundo, esse quar-teto leva sua msica s escolas. Vale destacar que um dos integrantes Re-nata Pereira uma das principais divulgadoras do mtodo Suzuki para flauta doce no Brasil.
Estudo entre irmos
Apresentaes do projeto Flauta, Flautinha, Flauto! em escolas de ensino fundamental no Estado de So Paulo. 2012. Crdito: 5E divulgao
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Outro recurso muito ecaz no trabalho da anao a ta adesiva. Seu uso reco-
mendado pelo mtodo Suzuki de auta doce, independentemente da idade do aluno,
para que ele se concentre apenas em outros aspectos da produo do som no instru-
mento. No prefcio do primeiro volume do mtodo Suzuki para auta doce, Katherine
White deixa uma orientao para os professores de alunos iniciantes:
A fim de obter um maior desempenho no Volume 1 e res-pectivas gravaes, altamente recomendado que o buraco do polegar da flauta doce e os seis buracos seguintes sejam cobertos provisoriamente com fitas adesivas. Os professores podem remo-ver as fitas adesivas de acordo com o progresso do aluno. Inde-pendentemente da idade, desta maneira, os alunos podem focar a sua ateno na respirao, produo do som bonito, e articulao (tonguing) (White apud Suzuki, 1997).
A primeira nota a ser aprendida o r grave. Dessa forma, a criana se preocupar
com o sopro, que precisa ser suave para a produo da nota (alm de articular a slaba
TU). Seus dedos so auxiliados pela ta adesiva que fecha cada um dos orifcios. Ao
conseguir um sopro suave, o aluno ouvir um som anado, pois, diferentemente das
notas agudas, na auta doce, o limite da quantidade de ar para a produo da nota r
mais facilmente percebido pelos alunos. Desta maneira, o desenvolvimento auditivo do
aluno no ser prejudicado.
O prximo passo trabalhar para que os dedos dos alunos permaneam sobre os
orifcios (nesta etapa, o aluno j coloca as mos, esquerda e direita, na ordem correta). A
consequncia natural do trabalho a independncia dos dedos, por exemplo, levantar o
dedo que est no orifcio nmero quatro para fazer a nota f#. Assim, o aluno obtm sua
primeira formatura, pois tirar sua primeira ta adesiva. Chegado este dia, toda a turma
estar em festa, pois , sem dvida, uma grande conquista.
Nota r grave com auxlio da fita adesiva
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A prxima nota a ser aprendida ser o f# grave, j que o dedo indicador (mo di-
reita) possui uma independncia em relao aos demais e proporciona ao aprendiz o
alcance de mais um passo (com sucesso) em seu aprendizado. Em seguida, ser a nota
mi grave, com a retirada da ta adesiva do orifcio nmero seis; depois a nota sol, com a
retirada da ta do orifcio nmero cinco; e assim por diante, sempre respeitando o de-
senvolvimento e o tempo de cada aluno.
Nota mi grave
Nota f# grave
Nota sol grave
Atividades de leitura e notao musical
Assim como a criana aprende a ler e a escrever depois de estar uente na habilida-
de da fala, no se aconselha que a criana que aprende um instrumento pelo mtodo
Suzuki aprenda a ler e a escrever msica antes de tocar ou mesmo simultaneamente a
isso. Para alunos Suzuki, o desenvolvimento de habilidades auditivas e cinestsicas pre-
cedem adio de referncias visuais (Toda criana pode, 2003, p. A 23). Faz-se neces-
srio que o ambiente seja preparado e tambm que seja estimulante. Nesta fase, vrias
brincadeiras podem ser realizadas:
Brincar com o parmetro do som altura: com as letras correspondentes s arti-culaes, as crianas podem criar sua partitura no cho, escrevendo uma sequncia de
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sons mais agudos ou graves existentes na msica. Elas podem, ainda, inventar grcos
e desenhos, registrando suas msicas com legendas e pequenas explicaes. Assim, de-
senvolvem seu senso crtico diante das propostas que lhe so feitas.
A oportunidade de grafar suas criaes ou sons produzidos pelo educador ou colegas obriga o aluno a fazer escolhas, refletir e analisar de forma crtica a eficcia de suas expresses grficas, comparando-as com as demais (Cuervo, 2009, p. 37).
Brincar de escrever: assim como os alunos da educao infantil so incentivados leitura da lngua materna, os aprendizes musicais podem realizar atividades que contem-
plem cdigos e smbolos musicais que eles vero e aprendero mais tarde no momento
do aprendizado da notao convencional. Simples atividades de desenhar bolinhas ou
de faz-las com papel crepom servem de incentivo para ler e escrever msica, desde
que sejam realizadas em um contexto signicativo para eles.
Atividade de leitura e notao musical
Atividade de leitura e notao musical
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Tocando em dueto
Tocando em grupo
Atividades de interpretao, improvisao e composio
Durante o ano letivo, os alunos so envolvidos em diversos projetos planejados
na escola. Nesses momentos, eles desejam contribuir para o desenvolvimento das aes
propostas e realizam brincadeiras que modicam parte do resultado sonoro. Por exem-
plo: melodias como samba lel podem ser tocadas com variao de andamento ou
mesmo modicando a escala (tocar em modo menor), colocando vibrato e mudando a
articulao.
Atividades que envolvem outros instrumentos (xilofone e pandeiro, por exemplo)
abrem possibilidades de criao de arranjos. Tambm so apreciadas as vivncias de
composio e/ou improvisao nas formas binria, ternria e rond. Nesses momentos,
os alunos testam suas habilidades e despertam sua criatividade, principalmente quando
essas atividades so gravadas ou lmadas para que seja realizada uma autoavaliao do
trabalho desenvolvido. Esse aspecto vem de encontro a um importante trabalho reali-
zado por Beineke (1997), que apresenta uma viso crtica de muitos mtodos de auta
doce, analisando-os da tica de Swanwick:
nossos alunos no aprendem todos da mesma forma, no tm a mesma relao com a msica, estabelecem significaes dife-rentes para o processo de aprendizagem, fazem suas prprias escolhas. Da mesma maneira, ns, professores, a cada aula encon-tramos solues diferentes para a ao pedaggica. Atravs do estudo, da pesquisa, da reflexo sobre a nossa prtica e sobre o nosso prprio fazer musical, poderemos construir alternativas me-todolgicas mais eficazes, mais coerentes e aprender mais msica (Beineke, 1997, p. 86).
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Prazer e diverso em tocar!
Atividades que envolvam experimentar outros tamanhos de flautas, completar as notas que faltam em uma melodia conheci-da, criar um final diferente para uma msica escolhida em sala ou, ainda, propor composies em determinadas formas ou sequn-cias de notas podem proporcionar momentos ricos em desco-bertas e aprendizagem, alm de desenvolver o senso crtico dos alunos. Um bom exemplo de atividades nesse formato, as quais podem inspirar e ser aplicadas por professores no intuito de criar seus prprios momentos musicais, est no livro Sonoridades Bra-sileiras: mtodo para flauta doce soprano. Segue sua referncia:WEILAND, Renate; SASSE, ngela; WEICHSELBAUM, Anete. Sono-ridades brasileiras: mtodo para flauta doce soprano. Curitiba: DeArtes UFPR, 2008.
Os professores e educadores musicais podem e devem buscar por momentos musicais nicos para eles e seus alunos, passo a passo.
Prazer e diverso em tocar!
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RefernciasAGUILAR, Patrcia M. Fala auta: um estudo sobre as articulaes indicadas por Silvestro Ganassi (1535) e Bartolomeo Bismantova (1677) e sua aplicabilidade a intrpretes brasileiros de auta doce. Dissertao (Mestrado) Universidade de Artes de Campinas. Programa de Ps-Graduao em Msica. Campinas, 2008.
BEINEKE, Viviane. A educao musical e a aula de instrumento: uma viso crtica sobre o ensino da auta doce. Expresso, Revista do Centro de Artes e Letras da UFSM, Ano 1, N 1/2, 1997, p. 25-32.
BEINEKE, Viviane. O ensino da auta doce na educao fundamental. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana. Ensino de Msica: propostas para pen-sar e agir em sala de aula. So Paulo: Moderna, 2003, p.86-100.
CUERVO, Luciane. Musicalidade na performance com a auta doce. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educao. Programa de Ps-Graduao em Educao. Porto Alegre, 2009.
ILARI, Beatriz. Shinichi Suzuki - A educao do talento. In: MATEIRO, Teresa; ILA-RI, Beatriz. Pedagogias em Educao Musical. Curitiba: Ibpex, 2011, p. 185-218.
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SUZUKI, Shinichi. Educao amor: um novo mtodo de educao. Traduo de Anne Corinna Gottber. 2 edio. Santa Maria: Pallotti, 1994.
SUZUKI, Shinichi. Suzuki: Recorder School. Volume 1. USA: Alfred Publishing Co., 1997.
TODA CRIANA PODE. Uma introduo Educao Suzuki. Material cedido aos professores do curso introdutrio de treinamento do professor SAA. Associao Suzuki das Amricas, 2003.
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