Revolucao de Avis

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A revolução de Avís A segunda metade do século XIV foi também um período de grande expansão do reino de Castela, Espanha. Ainda empenhada na luta contra os mouros, a monarquia e a nobreza castelhanas ambicionavam anexar Portugal e outros reinos cristãos da península Ibérica. A influência dos castelhanos em Portugal aumentou quando uma filha do rei português D. Fernando casou-se com o rei de Castela, iniciando-se entre os portugueses uma grande discussão sobre a possibilidade da união dos dois reinos. Em meio à crise do feudalismo, grande parte dos nobres portugueses era favorável a uma união com Castela, pois um rei estrangeiro tenderia a permitir um aumento do poder particularista desses grandes senhores. Além disso, esses nobres portugueses desejavam participar das guerras das cruzadas dos castelhanos para conquistar novas terras e realizar saques contra os mouros no sul da Espanha e no norte africano. O povo, que era chamado de "arraia miúda", os mercadores e parte da nobreza tornaram-se os grandes defensores da independência do reino português contra ao expansionismo castelhano. Principalmente para a burguesia, era muito importante manter a soberania do país e um poder real que incentivasse o comércio, em vez de dedicar-se fundamentalmente ao cruzadismo e à conquista de terras. Em dezembro de 1383, com a morte de D. Fernando, sua filha assumiu o trono e os nobres palacianos tentaram consumar a união com Castela. A reação da "arraia miúda", do grupo mercantil e de elementos da nobreza lusa foi imediata. Uma revolta liderada pelo burguês Álvaro Pais e por Nuno Álvares Pereira, um nobre comandante do exército, expulsou do país os partidários de Castela e, logo depois, o povo aclamou rei a D. João, chamado Mestre de Avis, irmão bastardo e obscuro de D. Fernando. Enquanto tropas do rei de Castela, na tentativa de ajudar os seus aliados, invadiam Portugal, eram reunidas as Cortes para aprovar a indicação do novo rei. Na assembléia que reunia elementos do clero, nobreza e povo, a força da burguesia havia aumentado e a aceitação de D. João foi vitoriosa, depois de defendida habilmente pelo jurista João das Regras. Em agosto de 1385, as forças portuguesas, cuja infantaria era integrada principalmente pela "arraia miúda", obtiveram uma vitória decisiva sobre Castela, na batalha de Aljubarrota. D. João, consolidado no poder, iniciou a dinastia de Avis. Junto à nova família real, tornou-se crescente a força da burguesia e de uma nova nobreza, uma vez que inúmeros nobres das famílias mais antigas haviam abandonado o país. Essa situação iria favorecer a grande expansão comercial e marítima de reino português durante o século XV.

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A revolução de Avís

A segunda metade do século XIV foi também um período de grande expansão do reino de Castela, Espanha. Ainda empenhada na luta contra os mouros, a monarquia e a nobreza castelhanas ambicionavam anexar Portugal e outros reinos cristãos da península Ibérica. A influência dos castelhanos em Portugal aumentou quando uma filha do rei português D. Fernando casou-se com o rei de Castela, iniciando-se entre os portugueses uma grande discussão sobre a possibilidade da união dos dois reinos. Em meio à crise do feudalismo, grande parte dos nobres portugueses era favorável a uma união com Castela, pois um rei estrangeiro tenderia a permitir um aumento do poder particularista desses grandes senhores. Além disso, esses nobres portugueses desejavam participar das guerras das cruzadas dos castelhanos para conquistar novas terras e realizar saques contra os mouros no sul da Espanha e no norte africano.

O povo, que era chamado de "arraia miúda", os mercadores e parte da nobreza tornaram-se os grandes defensores da independência do reino português contra ao expansionismo castelhano. Principalmente para a burguesia, era muito importante manter a soberania do país e um poder real que incentivasse o comércio, em vez de dedicar-se fundamentalmente ao cruzadismo e à conquista de terras. Em dezembro de 1383, com a morte de D. Fernando, sua filha assumiu o trono e os nobres palacianos tentaram consumar a união com Castela. A reação da "arraia miúda", do grupo mercantil e de elementos da nobreza lusa foi imediata. Uma revolta liderada pelo burguês Álvaro Pais e por Nuno Álvares Pereira, um nobre comandante do exército, expulsou do país os partidários de Castela e, logo depois, o povo aclamou rei a D. João, chamado Mestre de Avis, irmão bastardo e obscuro de D. Fernando.

Enquanto tropas do rei de Castela, na tentativa de ajudar os seus aliados, invadiam Portugal, eram reunidas as Cortes para aprovar a indicação do novo rei. Na assembléia que reunia elementos do clero, nobreza e povo, a força da burguesia havia aumentado e a aceitação de D. João foi vitoriosa, depois de defendida habilmente pelo jurista João das Regras. Em agosto de 1385, as forças portuguesas, cuja infantaria era integrada principalmente pela "arraia miúda", obtiveram uma vitória decisiva sobre Castela, na batalha de Aljubarrota. D. João, consolidado no poder, iniciou a dinastia de Avis. Junto à nova família real, tornou-se crescente a força da burguesia e de uma nova nobreza, uma vez que inúmeros nobres das famílias mais antigas haviam abandonado o país. Essa situação iria favorecer a grande expansão comercial e marítima de reino português durante o século XV.