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    Cristovam Buarque

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    A Revoluo Republicana na EducaoEnsino de qualidade para todos

    Cristovam Buarque

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    EDITORA MODERNA LTDA.

    Rua Padre Adelino, 758 Belenzinho

    So Paulo SP Brasil CEP 03303904

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    2011

    Impresso no Brasil

    ORGANIZAO E EDIO:COORDENAO EDITORIAL: Srgio Couto

    REVISO: Viviane T.MendesPROJETO E EDITORAO: Ricardo Postacchini

    COORDENAO DE PRODUO INDUSTRIAL: Wilson Aparecido TroqueIMPRESSO E ACABAMENTO:

    ISBN 978-85-16-06030-5

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    Dedicatria

    Aos que, no uturo, um dia, estudaro em cidades com

    Educao de Base Ideal, e a todos aqueles que, nos sculos

    anteriores, caram para trs porque no tiveram essa chance,

    por omisso de uma Repblica incompleta.

    O Brasil oi, por quatro sculos, uma colnia monarquis-

    ta na poltica, escravocrata na economia e na sociedade.

    Em 1889, por um golpe de estado, proclamamos a Rep-

    blica Poltica, mas no zemos a revoluo republicana no so-

    cial: continuamos uma sociedade dividida. Fizemos um grande

    caminho na miscigenao racial, mas no zemos a miscige-

    nao social que unica as classes azendo um povo. S uma

    revoluo republicana ser capaz de construir o povo brasi-

    leiro, sem a diviso entre elite e povo, um s povo, com

    diversidade de classes.

    Se a miscigenao racial se ez nas alcovas, e a Repblica

    poltica nos quartis e em uma esquina do Rio de Janeiro, a

    construo de um povo, a miscigenao social se az nas esco-

    las. Da o ttulo deste livro: A Revoluo Republicana. Adiada

    h 120 anos, ela s ser realizada quando o Brasil oerecer a

    mesma chance educacional a cada criana, em escolas com a

    mesma qualidade para todos.

    Cristovam Buarque

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    Nota

    Muitas destas ideias e propostas orientaram os trabalhosdo MEC no ano de 2003. Algumas oram implementadas, outras

    apresentadas Casa Civil como sugestes de Projetos de Lei a

    serem encaminhados ao Congresso Nacional pelo Presidente

    da Repblica. A mudana de administrao do MEC, em janei-

    ro de 2004, levou interrupo dessa concepo de revoluo

    na educao e suspenso das propostas. Desde aquele ano,

    apresentei boa parte delas no Senado Federal, na orma deProjetos de Lei. Algumas j oram aprovadas, sancionada e so

    leis. Outras esto em andamento. Em 2006, levei-as ao debate

    nacional, durante a campanha presidencial.

    Em 2007, uma primeira verso deste texto oi apresen-

    tada ao Ministro da Educao, Fernando Haddad, aps o pe-

    dido de sugestes eito pelo Presidente da Repblica, duran-

    te o primeiro lanamento do Plano de Desenvolvimento daEducao.

    Ao longo dos meses seguintes, o texto inicial oi amplia-

    do, levando em conta as sugestes que tenho recebido nas

    muitas palestras, entrevistas, encontros e conversas nas deze-

    nas de cidades visitadas pela CampanhaEducao J, levada

    adiante pelo Movimento Educacionista. Ele oi complementado

    graas tambm s nove audincias pblicas realizadas na Co-misso de Educao do Senado Federal, durante o perodo em

    que ui seu presidente (2006-2008). Foram 39 expositores, entre

    proessores, reitores, secretrios estaduais e municipais, preei-

    tos, ministros, representantes de sindicatos e de ONGs.1 Mais

    1 O resultado destas audincias oi publicado pelo Senado Federal sob o ttulo Ciclo de AudinciasPblicas: Ideias e Propostas para a Educao Brasileira & Plano Nacional de Educao PDE, 2009.

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    recentemente, em maio de 2011, apresentei essas propostas na

    Audincia da Comisso de Educao para debater o II PNE

    Plano Nacional de Educao.

    Apesar de todas as contribuies, esta verso correspon-de plenamente ao que venho deendendo h dcadas e que

    publiquei em novembro de 2007, acrescentando as revises

    de texto, atualizaes estatsticas e sugestes de colaborado-

    res. Entre esses, cito Waldery Rodrigues Jr., Christiana Ervilha,

    Fernanda Andrino, Ivnio Barros e Joo Luiz Homem de Car-

    valho. Apesar dessas contribuies e de toda a evoluo na sua

    elaborao, este texto continua tendo a mesma inteno: serum elemento para o debate que leve Revoluo Educacional

    Republicana de que o Brasil precisa. E toda a responsabilidade

    continua sendo minha.2

    Braslia, junho de 2011.

    Cristovam Buarque

    2 Os leitores interessados em obter as planilhas de clculos do projeto deste livro, bem como enviarcomentrios, crticas e dvidas, podem az-lo por e-mailpara [email protected] visitandoo websitedo livro (www.revolucaonaeducacao.org.br).

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    ndice

    Sumrio Executivo 9

    PARTE I: O QUADRO 15

    01. Introduo 15

    1.1 Um pas em risco 15

    1.2 A utopia educacionista 21

    02. A tragdia da educao brasileira 262.1 O baixo desempenho 26

    2.2 A desigualdade abismal 33

    2.3 Comparao internacional 39

    03. As consequncias da tragdia 43

    04. As causas da tragdia 49

    05. Como vencer os entraves 59

    PARTE II: AS PROPOSTAS 63

    0

    1. Transferir para o Governo Federal a responsabilidade com a Educa-

    o de Base 63

    02. Criar a Carreira Nacional do Magistrio 78

    03. Criar o Programa Federal de Qualidade Escolar para a Educao

    Integral em Escola com Horrio Integral 81

    04. Realizar a revoluo republicana na educao em todo o Pas,

    por meio da Cidade com Escola Bsica Ideal, em 20 anos, por cidades 82

    05. Definir padres nacionais para todas as escolas

    brasileiras 87

    06. E stabelecer uma Lei de Metas para a Educao e uma Lei de Respon-

    sabilidade Educacional 90

    07. Valorizar muito, formar bem, avaliar sempre, motivar constante-

    7

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    mente e cobrar respeito pelo Professor da carreira tradicional 92

    08. Implantar uma Rede de Centros de Pesquisas e Desenvolvimento da

    Educao 98

    09. Qualificar a infraestrutura 9910. Proteger as edificaes e os equipamentos escolares 101

    11. Universalizar a frequncia s aulas at a concluso do Ensino M-

    dio 104

    12. A Educao Ps-Bsica universalizar o Ensino Tcnico 109

    13. Envolver a universidade com a Educao de Base 112

    14. Substituir o Vestibular pelo Programa de Avaliao Seriada 113

    15. Criar o Carto Federal de Acompanhamento Escolar 11416. Erradicar o analfabetismo no Brasil 115

    17. Criar um Sistema Nacional de Avaliao e Fiscalizao da Educa-

    o de Base 119

    18. Garantir o envolvimento das famlias e os meios de comunicao

    na revoluo educacional 120

    19. Instituir um sistema de Premiao Educacional 123

    20. Implantar o Sistema Nacional Pblico de Educao de Base, consi-derar a possibilidade de parcerias pblico-privadas e criar o PROESB 124

    21. Retomar o Programa Educa Brasil 125

    22. O Pacto de Excelncia 125

    PARTE III: CUSTO E FINANCIAMENTO 129

    01. O custo de fazer 129

    02. O financiamento 134

    03. O custo de no fazer 137

    PARTE IV: CONCLUSO 141

    8

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    Sumrio Executivo

    O Brasil o primeiro em utebol e o 880 em educao. A

    razo simples. A bola redonda para todos, todos comeam a

    jogar aos quatro, e s abandonam quando querem; muitos no

    abandonam jamais. A escola redonda para alguns e quadrada

    para muitos; completamente dierente conorme a renda e o

    local onde est. Nela, uns poucos comeam aos dois anos de ida-

    de, depois de cuidados especiais na pr-inncia; so conortveis

    e bem equipadas, com proessores dedicados e competentes, as

    aulas so complementadas ao longo do dia. Estes estudam at a

    idade que desejam. Para outros, ela comea aos sete, tem pr-

    dios decadentes, no tem equipamentos, o dia de aula no passa

    de duas a trs horas, sem complementao. Estes normalmente a

    abandonam antes dos 15 anos. A escola brasileira um unil de

    excluso da imensa maioria da populao. Aproveitamos todos

    os ps e pernas dos jovens brasileiros, na procura daqueles com

    mais talentos, e criamos os melhores jogadores do mundo. Mas

    jogamos ora pelo menos 80% de nossos crebros, no lhes dando

    escola de qualidade, no os mantendo estudando.

    Este texto procura apresentar um caminho para arredon-

    dar todas as escolas do Brasil e garantir a chance de nelas

    manter todos os nossos jovens. H outros caminhos, mas esse

    um deles.

    Neste comeo de sculo, o desenvolvimento do Brasil

    esbarra em dois muros: a desigualdade que divide o pas e o

    atraso que o separa do resto do mundo desenvolvido. O muro

    da desigualdade separa, aqui dentro, uma parte da populao

    da outra; o muro do atraso separa o Brasil do resto do mundo

    desenvolvido.

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    Esses dois muros so antigos. O Brasil sempre oi um

    pas dividido. Mas at recentemente se acreditava que o uturo

    estava no crescimento econmico. E que o lento progresso da

    indstria nacional traria, um dia, um uturo brilhante.O Brasil comeou seu crescimento econmico, mas no

    se aproximou da utopia da equidade e do desenvolvimento. Ao

    contrrio, viu crescer o osso entre as classes sociais, atingindo

    um padro de apartheid, de apartao social. Para se desen-

    volver, a civilizao brasileira ter de derrubar seus dois muros.

    E isso s ser possvel com uma revoluo.

    Por mais que a economia cresa, sem uma revoluo queaproxime ricos e pobres, dando a todos a mesma chance de

    desenvolver plenamente seus talentos e seu potencial, o Brasil

    no derrubar esses muros, e continuar proundamente injus-

    to e desigual.

    Essa constatao deriva de outra: o bero da desigualda-

    de est na desigualdade do bero. O caminho rumo ao uturo

    desigual comea quando nascem as crianas. Algumas comem,outras no; algumas vo cedo para a escola, outras no; algu-

    mas permanecem na escola at a vida adulta, outras no. E,

    adultas, algumas conseguiro um bom emprego, graas sua

    ormao, outras no. No Brasil, a escola a grande brica da

    desigualdade.

    Por isso, o caminho para a revoluo est na educao.

    Uma educao que trate todas as crianas como brasileiras, etodos os brasileiros como cidados. Uma educao que seja res-

    ponsabilidade da Unio, e no mais de estados e municpios, e

    que independa da vontade dos preeitos e da renda das amlias.

    Uma educao que crie o nico capital necessrio para o desen-

    volvimento no sculo XXI: o capital conhecimento.

    Essas ideias esto detalhadas neste livro. H tambm um

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    tratamento analtico cuidadoso de como se dar a implemen-

    tao da proposta. Sobre esse tema veja a seguir os principais

    nmeros envolvidos na Revoluo Republicana da Educao.

    Antecipa-se o eliz resultado de constatar que ela possvel.A proposta contempla um cronograma de execuo, ini-

    ciando-se em 200 cidades no primeiro ano, onde sero insta-

    ladas as Escolas Ideais para uma revoluo educacional. Essas

    localidades sero denominadas de Cidades com Escola Bsica

    Ideal (CEBIs). Nessas cidades, as escolas disporo de toda a in-

    raestrutura para um ensino de primeirssima qualidade, similar

    s melhores experincias internacionais na rea educacional;seus proessores recebero um salrio que os motivem de-

    dicao integral, eciente e eetiva; os alunos disporo dos re-

    cursos tecnolgicos e tcnicos de ronteira na rea educacional;

    haver segurana, alimentao e tratamento mdico-odontol-

    gico que assegurem o cuidado necessrio para a aprendizagem

    de qualidade no sentido extremo da palavra.

    Ao longo de 20 anos todas as escolas tero o ormato daEscola Ideal. Mas a proposta contempla tambm uma melhoria

    do Sistema Tradicional (todas as demais escolas/cidades que

    no zerem parte das CEBIs).

    Os custos para realizar essa revoluo esto detalhados

    no Quadro 1 e na Figura 1 abaixo. Note que:

    a) H uma notria viabilidade na proposta.

    b) Os custos totais (soma para os sistemas adotados nasCEBIs e para o sistema tradicional) tendem a estabilizar-se em

    um patamar inerior a 6,5% do Produto Interno Bruto PIB

    (mesmo sob as condies educacionalmente ambiciosas e eco-

    nomicamente conservadoras de simulao dos parmetros usa-

    dos na proposta).

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    Quadro 1

    Custo de implementao da Revoluo Republicanana Educao (preos constantes de dez./2011)

    Ano de implementao 1 6 11 16 20

    PIB a preo constante(dez./2011, em R$ bilhes)

    4.137 4.796 5.560 6.446 7.255

    CEBI

    Nmero de alunos (milhes) 3,5 16,1 28,8 41,4 51,5

    Custo varivel (R$ Bilhes) 31,5 145,2 258,9 372,6 463,5

    Custo Fixo (R$ bilhes) 8,8 4,9 3,2 1,4 0,0

    Custo Total (xo + varivel) (R$bilhes) 40,3 150,1 262,0 374,0 463,5

    % do PIB 1,0% 3,1% 4,7% 5,8% 6,4%

    SEV

    Nmero dealunos (milhes) 48,0 35,4 22,7 10,1 0,0

    Custo adicional do salrio doprofessor (Delta) (R$ bilhes)

    118,7 87,5 56,2 25,0 0,0

    % do PIB 2,9% 1,8% 1,0% 0,4% 0,0

    TOTAL

    Nmero de alunos (milhes) 51,5 51,5 51,5 51,5 51,5

    Custo (R$bilhes) 159,0 237,6 318,3 398,9 463,5

    % do PIB 3,8% 5,0% 5,7% 6,2% 6,4%

    Elaborao prpria.*

    Figura 1

    Custos da Revoluo Republicana na Educao (% do PIB)

    8,00%

    6,00%

    1

    Custo das CEBIs

    Ano de Implementao da Proposta

    Custo de melhoria do

    sistema atual

    Custo total da

    Revoluo na Educao

    2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

    4,00%

    2,00%

    0,00%

    %doPIB

    Elaborao prpria.*

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    c) Em 20 anos pode-se azer uma revoluo na educao

    sem desrespeitar as restries oramentrias do governo.

    Os quadros 2 e 3 abaixo trazem ainda os principais pa-

    rmetros usados na proposta. Essa explicitao importantepara mostrar o zelo e o cuidado eito na anlise da viabilidade

    desta Revoluo na Educao. Note-se que em uno do pe-

    rodo de anlise (20 anos) h uma considervel sensibilidade

    dos resultados aos valores dos parmetros. Adotam-se, sempre

    que necessrio, valores conservadores e obtm-se um resulta-

    do robusto: possvel mudar radicalmente o ensino no Brasil,

    comeando pela Educao Bsica, elevando-a a padres dequalidade internacional.

    Quadro 2

    Parmetros, hipteses, resultados clculos utilizados na proposta

    Custo por aluno para ter PISA de excelncia nas CEBIs 9.000,00

    Custo por Aluno para Melhorar o Sistema Tradicional 4.000,00

    Salrio mdio pago aos professores (Escola Bsica) 2009 1.527,00

    Taxa de crescimento do PIB de 2012 at 2031 (hiptese conservadora) 3,0%

    Estimativa de crescimento real do PIB em 2011 4,0%

    Inao estimada para 2011 5,3%

    PIB nominal 2010 (R$ trilhes) 3,675

    PIB em dez./2011 (R$ trilhes) 4,017

    Relao aluno/professor 30

    Nmero de professores no 1 ano de implementao 116.667

    Gasto total estimado com salrio de professores (R$ bilhes),com 13,3 salrios/ano

    14,0

    Recurso disponvel no 1 ano para gastos, excludosalrio dos professores (R$ bilhes)

    17,5

    Elaborao prpria. *

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    Quadro 3

    Clculo do custo fxo CEBIs (ano 1)

    Nmero de alunos (milhes) 3,5

    Nmero de cidades (CEBIs) 200

    Nmero de alunos/CEBI 17.500

    Nmero de alunos/Escola Ideal 1.200

    Nmero de Escolas Ideais/CEBI 15

    R$ milhes/por escola 3,00

    Custo por CEBI (R$ milhes) 43,8

    Custo xo total (R$ bilhes) 8,8

    Nmero de escolas 2.917

    Elaborao prpria.*

    O texto a seguir traz, com detalhes, as motivaes para

    a proposta e suas ases de implementao. Analisa tambm os

    impactos que um sistema educacional de qualidade trar para

    o Brasil.

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    PARTE I: O QUADRO

    1. Introduo

    1.1 Um pas em risco

    A histria dos pases com elevados padres de civilizao

    est claramente dividida entre o perodo anterior e posterior

    universalizao da qualidade escolar. Os pases europeus mais

    desenvolvidos, que a partir do sculo XIX zeram suas reor-

    mas educacionais, so exemplos disso.

    Nesses pases, a revoluo coincide com os meados do

    sculo XIX, quando os pases hoje mais avanados zeram suas

    revolues, como Frana, Alemanha, Inglaterra e os pases es-

    candinavos. H at 150 anos, a Itlia no era um pas, apenas

    um conjunto de pequenos estados; oi a escola que unicou o

    conjunto e construiu uma Nao, levando as crianas a alar o

    mesmo idioma. No por coincidncia, oram os pases avessos

    a essas revolues que at recentemente se mantiveram mar-

    gem do desenvolvimento, como Portugal, Irlanda e Espanha.

    E oi a reorientao desses pases, a partir dos anos 1970, que

    lhes permitiu o salto dado recentemente.

    Os EUA, desde o incio, criaram centros de ensino su-

    perior e deram boa educao, inicialmente aos lhos da eli-

    te, logo depois a toda a populao. A libertao dos escravos

    coincide com a abertura de escolas para os libertos. Os estados

    do Sul, com segregao racial, se mantiveram atrasados com

    relao aos do Norte at a grande revoluo, que aconteceu

    quando as escolas de brancos se abriram para os negros.

    Nos anos 1950, a Finlndia era um pas pobre, recm-

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    -derrotado em guerra contra a URSS, recebendo ajuda da ONU

    para alimentar sua populao. A revoluo educacional eita a

    partir daquele momento a transormou em um centro industrial

    de bens de alta tecnologia, com uma das maiores renda percapita do mundo (US$34.585). Japo, Coreia, Malsia e Cinga-

    pura so exemplos de como superar as diculdades e o atra-

    so educando com qualidade todas as suas crianas. Nos anos

    1960, a Coreia tinha rendaper capita equivalente metade da

    brasileira (US$900 para a Coreia, US$1.800 para o Brasil); hoje

    tem o triplo (US$30.200 contra nossos US$10.900).

    Foi graas revoluo educacional que aqueles paseszeram suas revolues sociais, derrubaram o muro da desi-

    gualdadeque dividia suas sociedades e o muro do atraso que

    os separava dos pases com economia, sociedade e modelos

    civilizatrios avanados.

    Nenhum pas se desenvolveu sem educar sua populao.

    No apenas porque a educao instrumento undamental do

    crescimento econmico, mas tambm porque populao educada, em si, smbolo de progresso e civilizao. Isso ainda mais ver-

    dade neste novo sculo, no qual o principal recurso econmico

    o conhecimento. A Revista The Economistarma que agora, o

    investimento estrangeiro (capital internacional) passou a conside-

    rar a educao como vantagem comparativa undamental.1

    A realidade poltica e econmica do mundo global no

    deixa espao para uma revoluo nos moldes antigos: estati-zando a economia, echando as ronteiras, executando planeja-

    mento estatal. As caractersticas do avano tcnico e cientco

    no permitem entender a revoluo como resultado da luta de

    classes dentro do processo produtivo. A sociedade moderna j

    no se divide entre capitalistas e operrios, mas sim entre capi-

    1 Revista The Economist, 22/04/2011.

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    talistas e operadores de um lado, usando capital-conhecimento,

    e massas excludas de outro, sem o conhecimento necessrio

    para o salto que os aa evoluir de operrios para operadores.

    Para que um pas d um salto econmico, social e cultural,ele deve se transormar em centro criador de capital-conhecimen-

    to. Os velhos sistemas de produo, cujo valor vem do capital-

    -mquina, da quantidade de matria-prima e de mo de obra, j

    no respondem pelo valor dos produtos modernos. o acmulo

    de conhecimento embutido no produto que lhe agrega valor.

    O capital-conhecimento produto dos centros criadores

    de cincia e tecnologia, que no se desenvolvero sem a coopera-o entre empresas e universidades. Por sua vez, esses centros

    s contaro com o potencial intelectual da sociedade se rece-

    berem alunos bem preparados pela Educao de Base. O total

    potencial de inteligncia da sociedade no ser atingido se a

    Educao de Base com qualidade deixar uma nica criana de

    ora. Por isso, um pas s aproveita e desenvolve seu potencial

    de capital-conhecimento se todas as suas crianas estiveremem escolas de qualidade, desde as primeiras sries do Ensino

    Fundamental, at o nal do Ensino Mdio.

    No sculo XXI, vive-se um sistema mais prximo da apar-

    tao, o apartheid social, do que do desenvolvimento dual

    dos anos 1960 do sculo XX. como se uma cortina de ouro

    dividisse a humanidade, cortando cada pas em dois: uma parte

    educada e rica, e outra pobre e sem educao.A nica maneira de derrubar a cortina de ouro, ou de

    salt-la, ser educando as pessoas do lado excludo.2

    Mas insistimos no velho conceito de vantagem compa-

    rativa baseada na terra, nos incentivos scais, na taxa de ju-

    ros atrativa. Preerimos nos manter dependentes da vantagem

    2 VerA Cortina de Ouro. Buarque, Cristovam. Paz e Terra, 1994.

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    comparativa determinada pela qualidade do solo, produzindo

    acar, ca, algodo, ouro, erro, soja.

    Figura 2

    A cortina de ouro

    Co

    rtin

    ade

    ouro

    Co

    rtin

    ade

    ouro

    Pases com maioria da populao de baixa renda

    Pases com maioria da populao de alta renda

    Primeiro mundo internacional dos ricos Arquiplago dos pobres gulag social

    Elaborao prpria.*

    O Brasil continua se negando a azer sua revoluo edu-

    cacional. Mantm sua sociedade dividida, continua atrasado

    segundo todos os indicadores sociais. O resultado um pas

    dividido, atrasado, internacionalmente dependente e vulner-

    vel. O Brasil precisa azer sua revoluo, derrubar seus mu-

    ros. A nica possibilidade az-la educando sua populao:

    com uma revoluo na Educao de Base, uma reundao

    da universidade e a construo de um orte aparelho cientco

    e tecnolgico.

    Em janeiro de 2009, em Maragogi, Alagoas, ui apresen-

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    19

    tado a dois jovens senhores europeus que estavam no estado

    para azer novos investimentos. Logo de incio disseram ter de-

    sistido, por alta de mo de obra qualicada. Perguntei qual era

    o ramo de seus negcios e um deles disse: Somos criadoresde cavalos. Imaginei que buscavam no Brasil o baixo custo da

    terra, como desde a Colnia. Perguntei que qualicao pro-

    ssional exigiam dos trabalhadores que cuidariam dos cavalos.

    Com muita naturalidade, me explicaram: Nossos cavalos va-

    lem dois, trs, quatro milhes de reais. No podemos deix-los

    nas mos de trabalhadores que no leiam, nem entendam com

    detalhes as bulas dos remdios, que so escritas em ingls, por-que os remdios so importados. Nossos cuidadores de cavalos

    so veterinrios ou prossionais com ormao tcnica de nvel

    mdio, na rea de zootecnia. Alm disso, o acompanhamento

    de cada cavalo eito em tempo real, de Lisboa. Precisamos

    de trabalhadores amiliarizados com ossotwarese com o uso

    da internet.

    Essa histria demonstra a necessidade de educao nomundo moderno. por essa mesma razo que a revista Exa-

    me estampou na capa,3 em grandes letras, Procuram-se oito

    milhes de prossionais. Na matria, lemos que caso o pas

    mantenha, at 2015, um crescimento mdio de 4,6% ao ano,

    ser preciso um adicional de oito milhes de pessoas o equi-

    valente a toda a populao da ustria educadas e qualicadas

    para assumir unes cada vez mais sosticadas. E que entreas empresas, a disputa por gente nunca oi to grande.

    A disputa decorre de quatro atores: primeiro, porque

    nunca a qualicao prossional oi to importante para a pro-

    duo; segundo, porque a qualicao de hoje depende de

    boa base educacional, o que o Brasil no tem; terceiro, porque

    3 RevistaExame06/04/2011.

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    a alta de conscincia brasileira sobre a importncia da educa-

    o az com que nossa oerta esteja abaixo do necessrio; quar-

    to, porque mesmo a qualicao, insuciente, se d em reas

    dierentes daquelas de que a economia mais precisa.Mesmo com ligeiras melhoras, a educao brasileira vem

    provocando um apago intelectual. Existe uma brecha entre

    uma evoluo linear da Educao de Base e as exigncias de

    educao que crescem exponencialmente em todo o mundo.

    Figura 3

    Grfco simblico da evoluo da qualidade e das exigncias de educao

    Exigncias

    Educacionais

    Evoluo educacional

    Elaborao prpria.*.

    Nos ltimos meses, a mdia, os setores empresariais e l-

    deres polticos incluindo a prpria presidenta Dilma tm mani-

    estado preocupao com esse apago. Mas tm se concentradona necessidade de ormao prossional, em escolas tcnicas,

    que racassaro se os alunos no tiverem tido um bom Ensino

    Fundamental. Recentemente, diversos dirigentes de programas

    para ormao de prossionais tm reclamado da diculdade

    de cumprir seus programas, por causa da quantidade de jovens

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    21

    e adultos analabetos uncionais.4 Esse um caso extremo de

    despreparo, mas hoje, para ser um bom tcnico, alm de ler o

    aluno precisa de conhecimentos de matemtica, e um mnimo

    de amiliaridade com inormtica e idiomas estrangeiros.S isso seria suciente para mostrar que o Brasil est em

    srio risco de ver interrompido seu projeto de grande e mo-

    derna nao na economia. Mas, alm disso, a pouca educao

    que tem o Brasil est mal distribuda, ameaando e pondo em

    risco nossa estabilidade social em algum momento no uturo.5

    Hoje o Brasil um pas em risco de sucumbir no apago

    intelectual, cientco e tcnico, por alta de Educao de Basecom qualidade para toda a sua populao. O quadro de uma

    tragdia anunciada. Se houvesse uma guerra contra o Brasil,

    a estratgia mais ecaz do inimigo seria azer o que estamos

    azendo h dcadas: destruir a capacidade intelectual de nosso

    povo.

    Este texto concentra suas anlises e propostas no campo

    da Educao de Base: o principal vetor do progresso econ-mico e do salto social possvel e desejvel para construir uma

    utopia educacionista para o Brasil no sculo XXI.

    1.2 A utopia educacionista

    No mundo e no Brasil, o risco de catstroe visvel

    sob diversos pontos: o aquecimento global e os limites si-

    cos ao crescimento da economia; a desigualdade que cresce aponto de ameaar o sentimento de semelhana entre os seres

    4 Um comentrio a esse respeito oi eito ao autor deste texto pelo Secretrio de Estado Adjunto deTrabalho e Emprego de Minas Gerais, Helio Rabelo.5 Em abril de 1983, uma equipe de especialistas escreveu um texto simples, bem escrito e bemormatado, sobre a educao nos EUA, com o ttulo de Uma Nao em Risco. Naquele momento,o documento teve grande impacto e serviu para despertar as lideranas e a populao norte-ame-ricanas para reorientar a educao bsica daquele pas, que vinha perdendo qualidade. O originalpode ser encontrado no http://www2.ed.gov/pubs/NatAtRisk/risk.html

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    humanos; a incapacidade nacional de se proteger contra as

    vulnerabilidades nanceira, econmica, demogrca, sanitria,

    provocadas pela globalizao; a disperso de armas qumicas

    e nucleares. Soremos, alm disso, da alta de projetos utpi-cos, aliada a lideranas polticas sem propostas, prisioneiras do

    imediatismo, das pesquisas de opinio pblica e do marketing

    poltico, em um mundo que j global sem deixar de ser na-

    cional. O Brasil e o mundo precisam de uma utopia.

    S a educao pode incorporar as massas excludas e

    azer do Brasil um centro gerador de capital-conhecimento e

    uma sociedade justa, pelo acesso igual ao instrumento que per-mitir a ascenso social de todos os que se esorarem. E o

    ponto de partida a Educao de Base. O que transorma um

    operrio em operador e o inclui na modernidade seu grau

    de conhecimento para operar os modernos equipamentos pro-

    dutivos, para alar a lngua do mundo e das mquinas de hoje.

    O que exclui os operrios orados ao desemprego a alta de

    acesso educao.Os vetores para essa revoluo so baseados em: (i) edu-

    cao para todos, com amxima qualidade at o nal do

    Ensino Mdio, para assegurar a mesma chance entre classes so-

    ciais; (ii) equilbrio ecolgico para construir um modelo de de-

    senvolvimento sustentvel que assegure a mesma chance entre

    geraes, e (iii) a construo de um potentesistema cientfco

    e tecnolgico, capaz de azer do Brasil um centro de produoe acmulo do capital-conhecimento.

    A base necessria para essa revoluo est na efcincia

    social, poltica, econmica, gerencial, essencial para o Brasil

    dar os passos necessrios retomada do crescimento econmi-

    co e do equilbrio de suas contas pblicas, azer uncionar seu

    sistema de sade pblica, superar os apages na inraestrutura,

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    assegurar sistemas polticos e jurdicos conveis, manter a es-

    tabilidade monetria.

    Alm dessa base onde os dois vetores agiro, o Brasil

    precisa de medidas emergenciais para enrentar pelo menostrs problemas imediatos: o desempregoe aexcluso social,

    a violncia e a insegurana, a corrupoe aimpunidade.

    O conjunto desses princpios pode ser chamado de edu-

    cacionismo.6

    Figura 4

    O educacionismo

    Objetivo utpico

    Base eficiente

    Programasemergenciais

    Vetores darevoluo

    CorrupoViolnciaDesemprego

    Eficincia: nas finanas,na economia, sade,

    moradia, poltica, justia

    Ecologia: garantia dedesenvolvimento

    sustentvel

    Educao: escolascom a mesma

    qualidade para todos

    MESMA CHANCE

    Elaborao prpria*

    A utopia no est mais na iluso da igualdade da renda e

    do consumo, ecologicamente impossvel, salvo por um modelo

    autoritrio que limite o consumo por baixo. Para manter a uto-

    pia da liberdade, com o equilbrio ecolgico e a busca da igual-

    dade, a alternativa seria denir um limite superior para o con-

    6 O que Educacionismo. Buarque, Cristovam, So Paulo: Brasiliense, 2007.

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    sumo que depreda o meio ambiente, e um limite inerior que

    assegure a cada pessoa o mnimo necessrio sua subsistncia,

    ao mesmo tempo que se tolera um nvel de desigualdade de-

    corrente do talento, da perseverana e da vocao de cada um.Entre os limites, uma escada de ascenso social oerecida a

    todos: a escola de qualidade igual para todos. Pode-se con-

    siderar que a escada de ascenso social deve comear abaixo

    do limite social inerior. Mas neste texto, a opo oi considerar

    que esse limite represente a linha de sobrevivncia, garantida a

    todos por programas de assistncia social.

    Nesse vazio ideolgico, este texto tem como undamentoterico e ideolgico o objetivo de assegurar a mesma chance

    a cada brasileiro, independentemente da renda da sua amlia,

    da raa que tenha herdado e da cidade onde viva.

    Figura 5

    A escada da asceno social

    Limites do consumo

    Espao do consumo suprfluo

    a ser impedido por regras

    de proteo do meio ambiente

    Espao de desigualdade tolerada,

    definida pelo talento e persistncia

    Espao da excluso social

    a ser evitado por polticas sociais

    Escada de asceno social

    Rede de proteo social

    Elaborao prpria.*

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    25

    Se cada chins e cada indiano passassem a consumir o

    mesmo que um norte-americano, seria preciso aumentar em

    2,3 vezes o PIB mundial, o que seria impossvel por alta de

    energia, recursos naturais e at por alta de atmosera. A tabelaabaixo apresenta os resultados dessa simulao.

    Quadro 4

    Simulao do impacto do consumo potencial da China e da ndia 2008

    EUA China ndia Mundo

    Produto Interno Bruto,PIB (US$ milhes)

    14.591.381 4.326.996 1.159.171 60.521.123

    PIBper capita 2008 (US$) 47.982,18 3.266,40 1.016,82 9.036,65

    Consumo como % do PIB(tica da demanda)

    71 34 54 61

    (Despesas de) consumo privado 2008 (US$ milhes)

    10.359.880,51 1.471.178,64 625.952,34 36.917.885,03

    Consumo privadoper capita 2008 (US$)

    34.067,35 1.110,57 549,08 5.512,35

    Populao (milhes) 2008 304,1 1.324,70 1.114,0 6.697,30Fonte: Banco Mundial.Elaborao prpria.*

    A simples evoluo da educao no az a modicao

    necessria. Para mudar, a educao precisa de um salto revo-

    lucionrio. Assim aconteceu em todos os pases que investi-

    ram na educao de seus povos: por exemplo, no sculo XIX,

    nos pases escandinavos, no Japo, na Frana, na Alemanha,

    nos EUA; e no sculo XX, na Coreia, Irlanda e Espanha. As propostas aqui contidas no constituem um pro-

    jeto tradicional, dentro do atual marco da lenta evoluo

    da educao para mitigar a tragdia. Elas apresentam aes

    concretas que possibilitariam uma revoluo: azer com que,

    no Brasil, todas as escolas tenham a mesma qualidade, e

    garantam educao de qualidade igual para todos os brasi-

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    leiros, equivalente educao com a mxima qualidade dos

    pases bem educados.

    Essa revoluo seria iniciada de imediato (dois anos),

    por cidades, enquanto se evolui o sistema nas demais cida-des. Ao longo de 20 anos, as cidades revolucionadas teriam

    se espalhado, at todo o sistema educacional brasileiro apre-

    sentar as condies ideais.

    2. A tragdia da educao brasileira

    2.1 O baixo desempenhoA primazia absoluta da economia criou a expresso d-

    cada perdida para denir a alta de crescimento econmico

    nos anos 1980 do sculo XX. Mas ela escamoteou um sculo

    inteiro de educao que a populao brasileira perdeu, ao lon-

    go da histria republicana. Tivemos um sculo perdido em

    comparao a outros pases, que aproveitaram o sculo XX

    para dar um salto na educao de seus povos. Entramos nosculo XXI enrentando uma tragdia educacional.

    Quadro 5

    A educao bsica no Brasil Brasil, 2009 (1.000)

    Faixa etria Populao Estudantes Taxa de escolarizao % 1

    4 ou 5 anos 5.611 4.197 74,8

    6 a 14 anos 30.430 29.700 97,6

    15 a 17 anos 10.158 8.655 85,2

    18 a 24 anos 23.373 7.082 30,3

    25 anos ou mais 113.157 5.771 5,1

    Fonte: IBGE / PNAD 2009.Nota: 1. Percentagem de estudantes de um grupo etrio em relao ao total de pessoas do mesmo grupo etrio.

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    27

    Quadro 6

    Nmero de alunos por dependncia administrativa Brasil, 2009 (1.000)

    Federal Estadual Municipal Particular Total

    Alunos 217 20.737 24.315 7.309 52.580

    Fonte: MEC/Inep/Deed. Censo Escolar 2009/Sinopse do Professor 2009.

    Quadro 7

    Nmero de proessores por dependncia administrativa Brasil, 2009 (1.000)

    Federal Estadual Municipal Particular Mais de uma dependnciaadministrativa

    Total

    Professores 14 554 850 350 209 1.977

    Fonte: MEC/Inep/Deed. Censo Escolar 2009/Sinopse do Professor 2009.

    Quadro 8

    Relao aluno/proessor por dependncia administrativa Brasil, 2009 (%)

    Federal Estadual Municipal Particular Total

    Relao aluno/professor 13,7 28,6 24,2 16,8 26,6

    Fonte: MEC/Inep/Deed. Censo Escolar 2009.

    Quadro 9

    Nmero de estabelecimentos de Ensino Bsico,

    por responsabilidade de nvel ederativo Brasil, 2009

    Federal Estadual Municipal Particular Total

    Estabelecimentos 300 32.400 129.100 35.700 197.500

    Fonte: MEC/Inep/Deed. Censo Escolar 2009.

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    28

    Quadro 10

    Escolas pblicas sem equipamentos adequadosBrasil, 2009 (%)

    Ensino Fundamental Ensino Mdio

    Biblioteca 28 9

    Laboratrio de informtica 36 8

    Laboratrio de cincias - 44

    Quadra de esportes 40 19

    Internet 28 8

    TV com VCR ou DVD 8 2

    Fonte: MEC/Inep/Deed.Elaborao prpria.*

    Quadro 11

    Alunos da Educao Bsica em escolas pblicassem inraestrutura Brasil, 2009 (%)

    Ensino Mdio

    Sem gua ltrada prpria para consumo 9,9

    Sem abastecimento de gua por rede pblica 13,6

    Sem esgotamento sanitrio por rede pblica 39,4

    Sem coleta de lixo 9,2

    Fonte: IBGE/PNAD 2009.

    A consequncia dessa realidade que nossas crianas

    atravessam sua vida educacional como se passassem por um

    unil da excluso, da desigualdade e do atraso. Da excluso,porque menos de 40% das crianas terminam o Ensino Mdio;

    da desigualdade, porque o acesso completamente dierente

    conorme a renda amiliar; do atraso, porque o potencial de

    pelo menos 60% deixado para trs, ao longo do caminho

    educacional. Certamente mais do que isso porque, entre os

    que concluem o Ensino Mdio, no mximo metade teve uma

    Educao de Base minimamente satisatria para as exigncias

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    do mundo contemporneo. um unil da excluso social e da

    perverso poltica que permitiu o atual quadro e o mantm.

    O quadro a seguir retrata a distribuio momentnea de

    alunos em 2008, embora no indique que este seja o fuxo a serseguido a partir de hoje. Mas a repetio desse quadro ao lon-

    go dos ltimos anos permite considerar que o retrato de hoje

    o lme dos prximos anos, se uma revoluo no or eita.

    Figura 6

    O unil da excluso educacional Brasil, 20087

    Escola Pblica

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    Concluintes EF

    1

    2

    3

    Concluintes EM

    Ingresso Ensino Superior

    Concluintes Ensino Superior

    4.123.778

    3.866.676

    3.617.707

    3.590.858

    4.103.182

    3.486.708

    3.030.895

    2.763.901

    2.131.957

    478.966

    450.613

    443.193

    429.817

    414.701

    394.412

    378.336

    371.928

    339.733

    3.273.534

    2.430.942

    2.103.155

    1.556.545

    378.369

    342.025

    338.678

    302.070

    335.767

    183.085

    1.417.301

    553.744

    Escola Privada

    Ensino

    Fundamental

    Ensino

    Mdio

    Elaborao prpria.*

    Esse unil mostra a tragdia nacional, principalmente se consi-

    derarmos que o Brasil tem:7

    27% de suas crianas entre cinco e seis anos fora da

    escola,

    13.9 milhes de analfabetos com mais de 15 anos, e 1,8

    milho tm entre sete e 14 anos de idade, e

    7 Elaborao prpria a partir de dados do MEC/INEP.

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    Quase 37 milhes (19%) incapazes de ler ou escrever,

    apesar de terem sido ormalmente alabetizados.

    Alm disso, preciso analisar outros dados da tragdia.8

    66% das crianas com at seis anos de idade no estomatriculadas em creche ou pr-escola.

    A frequncia escola de crianas com at cinco anos

    de idade varia, conorme a renda amiliar, de 30% (os mais po-

    bres) a 55% (os mais ricos).

    2,4% das crianas entre seis e 14 anos jamais se matri-

    cularam.

    2,1 milhes de crianas com idade entre quatro e 14anos e 1,5 milho de jovens com idade entre 15 e 17 anos esto

    ora da escola. Em 2006, esses nmeros eram 2,9 milhes e 1,8

    milho, respectivamente, o que mostra um baixssimo grau de

    melhora na situao da matrcula sem considerar a qualidade

    do aprendizado.

    Somente 50,9% dos adolescentes entre 15 e 17 anos

    esto matriculados no Ensino Mdio. 150 mil crianas entre cinco e nove anos de idade, e 1,5

    milho entre 10 e 14, ainda precisam trabalhar.

    Cerca de um tero (34%) dos alunos brasileiros no

    conseguem completar o 5 ano do Ensino Fundamental na ida-

    de adequada (10 anos).

    Apenas cinco em cada 10 dos alunos matriculados ter-

    minam o Ensino Fundamental. Cerca de 60 milhes de jovens e adultos no conclu-

    ram o Ensino Fundamental.

    Entre os adolescentes entre 15 e 17 anos mais pobres,

    20% j deixaram a escola. Essa proporo cai para 7% entre os

    adolescentes mais ricos.

    8 Elaborao prpria a partir de dados divulgados recentemente pela UNESCO, OCDE, MEC/INEP,IBGE/PNAD.

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    2,7 milhes dos brasileiros com at 17 anos (19%) no

    requentam a escola por alta de vaga ou transporte escolar.

    Outros 900 mil (6%) no estudam porque precisam trabalhar.

    50,2% dos brasileiros no concluram o Ensino Fun-damental, e apenas 34% dos brasileiros concluram o Ensino

    Mdio, nem todos seguindo o ensino ormal.

    34,2% dos alunos do 5 ano (antiga 4 srie) dominam

    as habilidades elementares de portugus. Em matemtica, a si-

    tuao ainda pior: 32,6% dos alunos esto no 5 ano sem

    terem adquirido as competncias e habilidades necessrias.

    Entre 57 pases investigados, o Brasil cou em 54 po-sio no rankingque mede o desempenho de matemtica, em

    49 no de leitura e em 52 no de cincias.

    13% das crianas entre 10 e 14 anos de idade tm pelo

    menos dois anos de atraso escolar.

    Apenas quatro em cada 10 que se matricularam na 1

    srie do Ensino Fundamental terminam o Ensino Mdio, seis

    so deixados para trs. Destes, no mximo a metade 15 a 18%do total recebe uma educao bsica minimamente satisat-

    ria para enrentarem o mundo moderno.

    A mdia salarial dos professores do Ensino Bsico de

    R$1.527, mas 16 estados pagam menos do que esse valor.

    Quase metade (48%) dos professores sofrem da sndro-

    me da desistncia (Burnout): no reconhecem o prprio papel

    de motor da evoluo do aluno.Depois de terem sido excludas seis de cada 10 crianas

    brasileiras ao longo da Educao de Base, quase todos os que

    conseguem ultrapassar o Ensino Mdio conseguem vaga no

    Ensino Superior, seja em aculdade pblica ou particular. Por

    isso, os cursos superiores recebem alunos sem a qualicao

    necessria. bvio que, nessas condies, o Ensino Superior

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    perde um enorme potencial: alm dos seis crebros que -

    cam excludos, deixados para trs, menos da metade dos que

    entram no Ensino Superior tem ormao que lhes permitir

    seguir um bom curso universitrio. O Ensino Superior ca, por-tanto, comprometido.

    Dierentemente dos outros pases, onde quase todos

    terminam a Educao de Base e apenas parte consegue re-

    quentar o Ensino Superior, no Brasil a excluso ao longo da

    Educao de Base. Esse mais um exemplo de que o Brasil

    cuida primeiro do topo, para depois, um dia, cuidar da base

    da pirmide social. Dierente de pases onde todosterminam oEnsino Mdio, mas enrentam um processo que seleciona com

    rigor aqueles que daro o salto para o Ensino Superior. Alm

    disso, a Figura 6 mostra a injustia de que os alunos das escolas

    particulares migram para as aculdades estatais, gratuitas e de

    melhor qualidade, enquanto os que saem das escolas pblicas

    migram para as aculdades particulares, pagas e, muitas vezes,

    de qualidade inerior.Alm da tragdia nacional que representa esse perl da

    excluso, outra consequncia negativa direta j est no custo e

    racasso dos programas de educao de jovens e adultos. Com

    a simples necessidade de recuperar o que no oi eito no tem-

    po certo, o Brasil gasta atualmente R$11,5 bilhes anualmente

    nos diversos programas de Educao de Jovens e Adultos

    EJA, e sem obter os resultados satisatrios.No se deve esquecer, tambm, o custo elevado devido

    repetncia. Diversos clculos estimam um custo de R$10,6

    bilhes por ano devido repetncia. Esse o custo nanceiro,

    muito menor do que o social, psicolgico, econmico, da de-

    asagem de alunos, deslocados etariamente, na companhia de

    colegas muito mais jovens. Ainda pior quando alguns dirigen-

  • 8/3/2019 revoluo na educao

    34/146

    33

    tes governamentais resolvem o problema da repetncia com a

    chamadapromoo automtica.

    2.2 A desigualdade abismalAlm de atrasada, pobre e incompetente, a educao no

    Brasil uma brica de desigualdade. Em vez de criar identida-

    de e integrao nacional, a educao tem sido uma poderosa

    criadora de desigualdade, dependendo da renda amiliar, do

    nvel de escolarizao de seus pais ou da cidade onde a crian-

    a viva. As chances de requentar a escola so melhores para

    crianas brancas, de renda mdia ou alta, residentes no Sudes-te, Centro-Oeste ou Sul, cujas mes possuem alto nvel de es-

    colarizao. Para as demais, as chances de estudar e aprender

    so mnimas. Como resultado, temos milhes de brasileiros que

    simplesmente abandonam a escola, abrindo mo do seu uturo

    e das chances de uma vida digna, enquanto outros estudam

    por longos anos, em escolas de qualidade. O unil da excluso

    tambm um unil da desigualdade.9

    Todas as crianas ora da escola so lhas de pobres.

    Na escola pblica, quase todos so de amlia pobre ou

    de classe mdia baixa. De cada 100 que iniciam a 1a srie,

    metade abandona a educao antes de concluir o Ensino Fun-

    damental; e quase 70 abandonam a escola antes de terminar o

    Ensino Mdio.

    Na escola privada, ao contrrio, mais de 70 terminam oundamental, e 63 chegam ao nal do Ensino Mdio. A desi-

    gualdade social ca ainda mais visvel quando analisamos os

    alunos do ensino particular por classe social, considerando que

    h escolas privadas baratas requentadas por camadas pobres,

    e esses tambm cam para trs.

    9 Ver livro O Bero da Desigualdade, Salgado, Sebastio e Buarque, Cristovam. Braslia: UNESCO,Fundao Santillana, 2005, 2 edio 2006.

  • 8/3/2019 revoluo na educao

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    34

    No Brasil, uma pessoa de classe mdia/alta e alta recebe

    em mdia, com recursos privados ou pblicos, um total de

    R$200 mil a R$250 mil para sua educao da pr-escola uni-

    versidade, entre os quatro e os 24 anos de idade; desse valor, aEducao de Base nanciada pelas amlias, enquanto o Ensi-

    no Superior pago pela Unio. Enquanto isso, uma criana de

    classe pobre recebe em mdia um total de R$15 mil entre os 7

    e os 12 anos, quando abandona a escola. Essa talvez seja a mais

    vergonhosa desigualdade brasileira, porque a me de todas

    as demais desigualdades. Ainda mais grave: os primeiros tm

    em mdia seis horas dirias de atividades educacionais, para osoutros a mdia no chega a trs horas por dia.

    Outros indicadores de desigualdade:

    Quadro 12

    Probabilidade da escolaridade do flho em relao dos pais (%) Brasil, 1996

    Anos de estudo dos lhos

    0 2 4 6 8 10 11 13 16

    Anosdeestudo

    dospais

    0 33,9 23,7 18,5 10,7 5,7 1,7 4,2 0,7 1,1

    2 9,0 19,2 22,4 17,5 11,4 3,2 11,4 2,0 4,0

    4 2,8 5,9 15,7 15,5 15,2 6,0 22,0 5,5 11,6

    6 1,4 5,5 6,6 17,3 13,2 8,5 25,8 7,7 14,2

    8 1,4 2,4 4,1 8,7 13,7 6,1 28,8 10,4 24,4

    10 0,0 1,3 1,7 8,6 8,5 7,5 32,0 9,7 30,9

    11 0,4 1,2 1,8 5,1 6,5 5,1 32,6 11,8 35,8

    13 0,0 1,5 3,0 4,7 9,7 3,1 25,9 13,3 38,8

    16 08 0,7 0,9 2,7 3,8 2,0 16,2 13,0 60,0

    Fonte: Velloso e Ferreira (2003) a partir da PNAD 1996/IBGE.

  • 8/3/2019 revoluo na educao

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    35

    Quadro 13

    Desigualdades na escolarizao da populao brasileira de 15 oumais anos de idade, por regio e por cortes distintos Brasil, 2005 e 2009

    2005 2009

    Mdiade

    anosdeestudo

    Brasil: 7 anos Brasil: 7,5 anos

    Desigual-dade em anos

    de estudo

    Desi-gualdade

    relativa (%)

    Desigual-dade em anos

    de estudo

    Desi-gualdade

    relativa (%)

    Nordeste: 5,6 anosSudeste: 7,7 anos

    2,1 anos 37,5Nordeste: 6,3 anosSudeste: 8,2 anos

    1,9 ano 30,2

    Rural: 4,2 anosUrbana: 7,5 anos

    3,3 anos 78,6Rural: 4,8 anosUrbana: 8,0 anos

    3,2 anos 66,7

    Preta/Parda: 6,0 anosBranca: 7,8 anos

    1,7 ano 28,3Preta/Parda: 6,7 anosBranca: 8,4 anos

    1,7ano 25,4

    20% + pobres 4,6 anos20% + ricos 10,1 anos

    5,5 anos 119,620% + pobres 5,3 anos20% + ricos 10,5 anos

    5,2 anos 98,1

    Homens 6,8 anosMulheres 7,1 anos

    0,3 ano 4,4Homens 7,4 anosMulheres 7,7 anos

    0,3 ano 4,1

    Fonte: PNAD/IBGE/Sntese de Indicadores SociaisElaborao prpria.*

    Se mantiver esse ritmo 0,5 ano a mais na escolaridade

    do brasileiro em cada quatro anos , o Brasil levar quase 36

    anos (em 2045) para ter sua populao dos 4 aos 18 com 12

    anos de escolaridade. Essa uma marcha suicida.

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    36

    Quadro 14

    Persistncia de elevado nmero de analabetos de 15 anos ou mais,por regio e cortes distintos Brasil, 2005 e 2009

    2005 2009

    15 milhes 14,1 milhes

    Taxadeanalfabetosna

    populaode15anos

    ouma

    is

    Brasil: 11,1 Brasil: 9,7

    Desigualdadeem p.p.

    Desigualda-de relativa(%)

    Desigualdadeem p.p.

    Desigualda-de relativa(%)

    Nordeste: 21.9%Sudeste: 5.9%

    16,0 73,1Nordeste: 18,7%Sudeste: 5,7%

    13,0 69,5

    Rural: 25%Urbana: 8.4%

    16,6 66,4Rural: 22,8%Urbana: 7,4%

    15,4 67,5

    Preta/Parda: 15,4%Branca: 7.0%

    8,4 54,5Preta/Parda: 13,4%Branca: 5,9%

    7,5 56,0

    20% + pobres: 20,7%20% + ricos 2,1%

    18,6 89,920% + pobres: 17,4%20% + ricos: 2,4%

    15,4 88,5

    Fonte: IBGE/PNAD.Elaborao prpria.*

    Nesse ritmo, alabetizando um milho de jovens e adultos

    a cada quatro anos, o Brasil precisar de 60 anos para erradicar

    o analabetismo, o que uma imensa vergonha.

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    37

    Quadro 15

    Indicadores da evoluo do Ensino FundamentalBrasil, 2005 e 2009

    2005 2009

    Taxa de aprovao (%)* 72,9 74,6

    Taxa de repetncia (%)* 20,1 19,1

    Taxa de evaso (%)* 7,0 6,3

    IDEB** Brasil: 3,8 Brasil: 4,6

    IDEB Anos iniciais

    do ensino fundamental

    Pblico: 3,6 Pblico: 4,4

    Privado: 5,9 Privado: 6,4

    Menor AL: 2,5 Menor PA: 3,6

    Maior DF: 4,8 Maior DF e MG: 5,6

    IDEB Anos naisdo ensino fundamental

    Pblico: 3,2 Pblico: 3,7

    Privado: 5,8 Privado: 5,9

    Menor AL: 2,4 Menor AL: 2,9

    Maior SC: 4,3 Maior SC e SP: 4,5**Fonte: Taxas de transio calculadas pelo Censo Escolar MEC/Inep de 2008.**Fonte: Inep/MEC. O IDEB tem valores entre 0 e 10 e calculado em anos alternados a partir de 2005. A metaa ser atingida em 2021 6,0 anos iniciais e 5,5 nos anos nais do ensino fundamental.Elaborao prpria*.

  • 8/3/2019 revoluo na educao

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    38

    Quadro 16

    Indicadores da evoluo do Ensino MdioBrasil, 2005 e 2009

    2005 2009

    Taxa de aprovao* 67,1 66,3

    Taxa de repetncia* 22,6 23,1

    Taxa de evaso* 10,4 10,7

    Prop

    orodepessoasde15a17anos

    cursandooensinomdio(%)

    Brasil: 45,3 Brasil: 50,4

    Desigual-dade relativa

    (%)

    Desigual-dade relativa

    (%)

    Preta/Parda: 35,6

    59,0

    Preta/Parda: 43,5

    48,7

    Branca: 56,6 Branca: 60,3

    Rural: 24,7104,0

    Rural: 35,752,4

    Urbana: 50,4 Urbana: 54,4

    Nordeste: 30,190,7

    Norte/Nordeste:

    39,2 54,3

    Sudeste: 57,4 Sudeste: 60,5

    20% + pobres: 22,5

    232,0

    20% + pobres: 32

    143,420% + ricos: 74,7 20% + ricos: 77,9

    ndic

    ede

    Desenvolvim

    entoda

    EducaoB

    sica

    IDEB

    **

    Brasil: 3,4 Brasil: 3,6

    Pblico: 3,180,6

    Pblico: 3,464,7

    Privado: 5,6 Privado: 5,6

    Pior AM: 2,458,3

    Pior PI: 3,040,0

    Melhor SC: 3,8 Melhor PR: 4,2

    Fonte: IBGE/PNAD/Sntese de Indicadores Sociais.* Fonte: MEC/Inep 2008.** Fonte: Inep/MEC. O IDEB tem valores entre 0 e 10 e calculado em anos alternados a partir de 2005.Elaborao prpria*.

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    39

    O quadro acima resume os principais ndices para uma

    anlise do desempenho do Ensino Mdio. Em particular, a co-

    luna denominada Desigualdade Relativa mostra o quanto

    preciso ser eito para atingir uma igualdade de oportunidades.Por exemplo, os 20% mais ricos tm uma proporo de pessoas

    de 15 a 17 anos cursando o Ensino Mdio que 232% maior do

    que a participao dos 20% mais pobres.

    Nesse ritmo, de 5% a mais na taxa de concluso do Ensi-

    no Mdio a cada quatro anos, levaremos 40 anos para termos

    todos os alunos concluindo o Ensino Mdio. Mais uma dose do

    veneno em direo ao suicdio.

    2.3 Comparao internacional

    O resultado desse quadro vergonhoso que o Brasil tem

    um dos piores desempenhos mdios em todo o mundo, como

    se v nas tabelas a seguir, que refetem a avaliao eita pela

    Organizao de Cooperao para o Desenvolvimento Econ-

    mico OCDE, ormada por pases europeus e outros asso-ciados, para medir os resultados de questes postas a alunos

    desses pases, em temas de matemtica, cincias e leitura no

    seu prprio idioma.

    Nessas condies, o Brasil no se transormar em pro-

    dutor de capital-conhecimento, nesta poca em que esse o

    principal gerador de valor e riqueza, nem reduzir a desigual-

    dade social, em uma poca em que a ormao educacional o vetor da igualdade de oportunidades.

    Usaremos, em sesses posteriores, o desempenho do

    Brasil em leitura, no PISA, como um dos balizadores para o

    clculo do salrio do que chamaremos de proessor ederal,

    que ser empregado pelo programa Cidades com Escola Bsica

    Ideal.

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    40

    Quadro 17

    Ranking por desempenho no Programa Internacional de Avaliao Estudantil PISA 2009

    Desempenho em

    cincias leitura matemtica

    Finlndia 563 Coreia 556 Taipei 549

    Hong Kong 542 Finlndia 547 Finlndia 548

    Canad 534 Hong Kong 536 Hong Kong 547

    Taipei 532 Canad 527 Coreia 547

    Estnia 531 Nova Zelndia 521 Pases Baixos 531Japo 531 Irlanda 517 Sua 530

    Nova Zelndia 530 Austrlia 513 Canad 527

    Austrlia 527 Liechtenstein 510 Macau 525

    Pases Baixos 525 Polnia 508 Liechtenstein 525

    Liechtenstein 522 Sucia 507 Japo 523

    Coreia 522 Pases Baixos 507 Nova Zelndia 522

    Eslovnia 519 Blgica 501 Blgica 520

    Alemanha 516 Estnia 501 Austrlia 520

    Reino Unido 515 Sua 499 Estnia 515

    RepblicaTcheca

    513 Japo 498 Dinamarca 513

    Sua 512 Taipei 496 RepblicaTcheca

    510

    Macau 511 Reino Unido 495 Islndia 506ustria 511 Alemanha 495 ustria 505

    Blgica 510 Dinamarca 494 Eslovnia 504

    Irlanda 508 Eslovnia 494 Alemanha 504

    Hungria 504 Macau 492 Sucia 502

    Sucia 503 ustria 490 Irlanda 501

    Fonte: OCDE/ PISA Program for International Student Assessment.

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    Quadro 17

    Ranking por desempenho no Programa Internacional de Avaliao Estudantil PISA 2009

    Desempenho em

    cincias leitura matemtica

    Polnia 498 Frana 488 Frana 496

    Dinamarca 496 Islndia 484 Reino Unido 495

    Frana 495 Noruega 484 Polnia 495

    Crocia 493 RepblicaTcheca

    483 RepblicaEslovaca

    492

    Islndia 491 Hungria 482 Hungria 491

    Ltvia 490 Ltvia 479 Luxemburgo 490

    EUA 489 Luxemburgo 479 Noruega 490

    RepblicaEslovaca

    488 Crocia 477 Litunia 486

    Espanha 488 Portugal 472 Ltvia 486

    Litunia 488 Litunia 470 Espanha 480

    Noruega 487 Itlia 469 Azerbaijo 476

    Luxemburgo 486 RepblicaEslovaca

    466 Rssia 476

    Rssia 479 Espanha 461 EUA 474

    Itlia 475 Grcia 460 Crocia 467

    Portugal 474 Turquia 447 Portugal 466

    Grcia 473 Chile 442 Itlia 462

    Israel 454 Rssia 440 Grcia 459

    Chile 438 Israel 439 Israel 442

    Srvia 436 Tailndia 417 Srvia 435

    Bulgria 434 Uruguai 413 Uruguai 427

    Uruguai 428 Mxico 410 Turquia 424

    Fonte: OCDE/ PISA Program for International Student Assessment.

    - Continuao

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    Quadro 17

    Ranking por desempenho no Programa Internacional de Avaliao Estudantil PISA 2009

    Desempenho em

    cincias leitura matemtica

    Turquia 424 Bulgria 402 Tailndia 417

    Jordnia 422 Srvia 401 Romnia 415

    Tailndia 421 Jordnia 401 Bulgria 413

    Romnia 418 Romnia 396 Chile 411

    Montenegro 412 Indonsia 393 Mxico 406

    Mxico 410 Brasil 393 Montenegro 399

    Indonsia 393 Montenegro 392 Indonsia 391

    Argentina 391 Colmbia 385 Jordnia 384

    Brasil 390 Tunsia 380 Argentina 381

    Colmbia 388 Argentina 374 Colmbia 370

    Tunsia 386 Azerbajo 353 Brasil 370

    Azerbaijo 382 Catar 312 Tunsia 365

    Catar 349 Quirquisto 285 Catar 318

    Quirquisto 322 USA n/a Quirquisto 311

    Fonte: OCDE/ PISA Program for International Student Assessment.

    - Continuao

  • 8/3/2019 revoluo na educao

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    43

    3. As consequncias da tragdia

    A consequncia dessa tragdia palpvel: o Brasil no

    tem uturo. Porque o uturo de um pas tem a cara do seu sis-

    tema educacional. O uturo de um povo est em como suascrianas so educadas. Ao nascer, cada criana um tesouro. A

    educao o meio para ormar esse tesouro, at transorm-lo

    em um cidado capaz de:

    a) entender o mundo,

    b) deslumbrar-se com suas belezas,

    c) indignar-se com suas injustias e inecincias,

    d) agir para az-lo melhor, mais justo, mais belo,e) ter um ocio que lhe assegure um emprego e os ins-

    trumentos para transormar a realidade.

    A escola, a amlia, a mdia e tudo o mais que cerca as

    crianas vo apurando o tesouro, azendo dele um recurso pes-

    soal e social, econmico, cultural, cientco, tecnolgico, par-

    ticipante, solidrio. No Brasil, a escola pblica est em runas;

    as amlias, desarticuladas; os meios de comunicao no tmcompromisso com a educao; as cidades e o meio no qual a

    criana cresce no so educados, contaminam, no incentivam

    o educador nem permitem a competio entre os educados.

    O abandono da educao de nossas crianas az com

    que apenas 18% delas terminem o Ensino Mdio com uma qua-

    lidade razovel. Assim, o Brasil segue destruindo seu tesouro,

    abandonando-o, deixando-o para trs no caminho da educa-o. como se, a cada 100 poos de petrleo, o Brasil tapasse

    82, baseando seu uturo em apenas 1810. O Pas ca sem uturo

    porque destri seu maior potencial, em um tempo em que o

    10 Atribui-se a Golda Meir, uma das undadoras e ex-primeira-ministra de Israel, a seguinte rase:Felizmente, no temos petrleo, por isso somos obrigados a desenvolver nossa maior onte deenergia: o crebro de nosso povo.

  • 8/3/2019 revoluo na educao

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    44

    principal capital da economia o conhecimento. O diagrama

    abaixo mostra as consequncias da deseducao.

    Figura 7

    Eeitos da deseducao

    DESEDUCAO

    Desemprego

    Queda nacompetitividade

    ecnomicainternacional

    Violnciaurbanae rural

    Ineficinciaecnomica

    Desigualdadede renda

    Dependnciae perda desoberania

    Trabalhoinfantil

    PobrezaculturalApartaosocial

    Corrupo

    Atraso

    cientfico etecnolgico

    Queda naprodutividade

    Desaglutinaonacional

    Elaborao prpria.*

    At a dcada de 1980, era possvel acreditar que esses

    problemas sociais do nosso pas e dos demais pases latino-ame-

    ricanos decorriam do subdesenvolvimento econmico. Mas hoje

    h outra explicao: o atraso educacional. O amoso livro Veias

    Abertas da Amrica Latina, de Eduardo Galeano, publicado

    em 1971, responsabiliza o subdesenvolvimento pelo saqueio de

    riquezas naturais do continente, realizado pelas naes coloniza-

    doras e pelo sistema capitalista-imperialista. Na verdade, pior do

  • 8/3/2019 revoluo na educao

    46/146

    45

    que esse saqueio oi a condenao da Amrica Latina penria

    educacional. Mais grave do que a hemorragia de ouro oi o cons-

    trangimento intelectual; mais do que as veias abertas, o Brasil e a

    Amrica Latina oram condenados pelos neurnios tapados, porculpa no s dos colonialistas estrangeiros, mas sobretudo pela

    irresponsabilidade e egosmo das elites nativas.11

    Desemprego No passado, era causado pela alta de

    investimentos, mas essa no mais a causa. Atualmente, o in-

    vestimento no cria empregos na proporo de antes, quase

    sempre podendo at reduzir postos; e para aqueles criados,

    exige qualicao para o uso dos equipamentos modernos. EmSo Paulo, as agncias de empregos recebem diariamente mi-

    lhares de pessoas procurando trabalho; a maior parte sai sem

    conseguir uma posio, e muitas vagas cam sem ser preenchi-

    das, por alta de candidatos qualicados.

    Violncia urbana Era causada por razes culturais,

    que nos dierenciavam de outros pases, e pela alta de razes

    provocada por grandes migraes do campo para a cidade. To-dos acreditavam que cadeia, polcia e crescimento econmico

    reduziriam a violncia. Hoje, a violncia causada principal-

    mente pela alta de oportunidades decorrente da alta de uma

    educao universal de qualidade para todos.

    Inefcincia econmica Bastava qualicao pros-

    sional, garantida por cursos tcnicos intensivos. Hoje, qualquer

    curso tcnico exige, no mnimo, ormao educacional de nvelmdio. J passou o tempo em que um retirante nordestino, sem

    base educacional, se preparava em um curso do SENAI que lhe

    permitisse operar equipamentos industriais. Hoje, at mesmo

    os equipamentos agrcolas exigem um mnimo de capacitao

    em inormtica, at noes de ingls. Isso vale ainda mais para

    11 Desenvolvi essa ideia no livro O que o Educacionismo. So Paulo: Brasiliense, 2008. ColeoPrimeiros Passos, 330.

  • 8/3/2019 revoluo na educao

    47/146

    46

    o setor de servios, como o turismo. Alm disso, a ecincia

    econmica exige tambm um ambiente social educado.

    Pobreza cultural Acreditava-se que a cultura era uma

    consequncia do desenvolvimento econmico, graas inra-estrutura dada pela produo material. Isso era also antes, e o

    ainda mais agora, no mundo globalizado. Obviamente, todo

    povo tem uma riqueza cultural prpria e autnoma, mas uma

    cultura limitada, sem possibilidade de evoluir. Alm disso, a

    cultura local tende a se desvanecer, submergida pela invaso

    cultural externa. S um povo educado capaz de manter sua

    cultura, interagir com as culturas externas e desenvolver seupadro cultural.

    Apartao social Na economia dos pases desen-

    volvidos, a desigualdade ocorria dentro da integrao social.

    Dcadas de importao de um modelo de desenvolvimento

    inadequado para pases subdesenvolvidos provocaram um e-

    nmeno mais radical do que a desigualdade: o apartheid. Sua

    orma mais expressiva oi na rica do Sul, com a excluso ra-cial. No Brasil, existe um apartheidsocial, a apartao.12 Essa

    situao no ser resolvida pelo crescimento econmico no

    Brasil, como no oi o crescimento econmico que resolveu o

    apartheidna rica do Sul. L, a renda no permitia a integra-

    o racial; aqui, a renda no chegar aos escales ineriores,

    salvo nos mnimos valores de esmolas ociais.13 S ser poss-

    vel quebrar o apartheidsocial com uma revoluo educacionalque assegure a todas as crianas uma escola com a mesma

    qualidade.

    12 Ver do autor o livro O que Apartao: oApartheidSocial no Brasil. So Paulo: Brasiliense,1993. Coleo Primeiros Passos, 278.13 A rica do Sul derrubou o muro racial, mas no lugar est criando um muro social. H umabrazilianizao naquele pas. O corte j no por raa, mas por classe de includos e excludos,independente de serem brancos ou negros, substituindo-se o apartheidpela apartao. No Brasil,ao contrrio, a desigualdade vai orando um apartheidpelo aastamento das pessoas, por meiodeshoppingse condomnios. Ver O que Apartao : o ApartheidSocial brasileiro, obp. cit.

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    Baixos salrios mnimo e mdios Est certa a eco-

    nomia quando diz que os baixos salrios so decorrentes da

    baixa produtividade. Mas est errada quando reora a velha

    crena de que a produtividade aumenta graas apenas aosequipamentos vindos do capital. A alta produtividade induzida

    pelo capital exige uma alta qualicao prossional vinda da

    educao de todos. S uma radical revoluo educacional ser

    capaz de elevar a produo geral e de orar o aumento dos

    salrios mnimo e mdio.

    Desigualdade da renda Na viso da economia, a desi-

    gualdade decorria de apropriao mais do capital (por meio dolucro) do que do trabalho (por meio do salrio). No presente,

    a desigualdade se d por causa da desigualdade no acesso ao

    conhecimento. Um prossional bem educado e qualicado tem

    hoje um padro de vida prximo ao do dono de sua empresa,

    e muito dierente daquele dos trabalhadores sem qualicao.

    Dependncia e perda de soberania No mais o

    ato de dispor de indstrias que garante soberania, como seimaginava nos anos 1950. Na economia global, s a capacidade

    de interagir de orma interdependente oerece soberania. S

    um parque cientco e tecnolgico pode dar condies a um

    pas para assegurar menos vulnerabilidade no sistema econ-

    mico global. A produo de certos insumos e o desenvolvimen-

    to das tecnologias que ele produz azem um pas ser soberana-

    mente interdependente.Trabalho inantil O trabalho inantil sempre oi visto

    como decorrncia da necessidade de complementao da ren-

    da nas amlias pobres, um problema da economia. Mas sabe-se

    que uma amlia com um mnimo de educao, especialmente

    no caso da me, tem muito mais chances de manter seus lhos

    na escola, estudando em vez de trabalhar, ainda mais se contar

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    com um programa do tipo Bolsa-Escola. Por sua vez, o traba-

    lho inantil, retirando a criana da escola, reduz seu potencial

    intelectual.

    Atraso cientfco e tecnolgico At recentemente,pensava-se que o atraso cientco e tecnolgico era consequ-

    ncia da alta de recursos para comprar conhecimento. E que

    bastava uma universidade para que poucos alunos absorves-

    sem a tecnologia comprada. Hoje sabe-se que a renda vem

    do capital-conhecimento. Sem conhecimento no h capital.

    A compra de equipamentos no basta para que sejam usados.

    Alm disso, impossvel construir um grande parque cientcoe tecnolgico se apenas 18% da populao conclui o Ensino

    Mdio em condies de disputar uma vaga universitria, de

    se transormar em cientista, em um prossional capaz de se

    ajustar s necessidades do conhecimento moderno e az-lo

    avanar. A precariedade do Ensino Mdio a principal causa

    da baixa qualidade no ensino superior. Os proessores cam

    desmotivados, em uno da baixa preparao dos alunos, etranserem para o nvel superior o dever de superar as alhas

    do Ensino Mdio.

    Baixa produtividade A produtividade, como j oi

    mencionado, no mais resultado de uma uno em que o

    capital era determinante, com a mo de obra possuindo bai-

    xssima qualicao. No pode haver alta produtividade se os

    trabalhadores no possuem nem a educao necessria paraadquirir algum nvel de qualicao.

    Baixa competitividade O Brasil um dos pases com

    pior grau de competitividade entre os pases de renda mdia.

    Parte disso se deve a corrupo, burocracia e protecionismo

    inecincia, mas a razo principal o baixo grau de educao,

    que impede o desenvolvimento de uma sociedade competitiva.

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    Desaglutinao nacional A Frana e a Itlia eram pe-

    quenos principados, povos com lnguas dierentes. Foram aglu-

    tinadas pela unicao do idioma, ensinado em suas escolas.

    O Brasil nasceu com um s idioma, e est se desaglutinandopor causa da brecha social, da desigualdade de oportunidades,

    decorrentes da educao, e principalmente da brecha educa-

    cional. Com uma educao baixa e mal distribuda, se no os-

    se o rdio e a televiso nacional, at o idioma dos brasileiros

    comearia a se dierenciar entre os que tm e os que no tm

    instruo. S uma revoluo capaz de dar igualdade educacio-

    nal a todo brasileiro ser capaz de aglutinar o pas divididochamado Brasil.

    Baixo valor agregado na economia O Brasil surgiu

    da produtividade da terra, da produo de acar, ca, ouro.

    Depois, deu um salto para aproveitar seus recursos naturais

    com ajuda do capital mecnico importado. Hoje, o valor de um

    produto decorre, sobretudo, da quantidade de conhecimento

    que ele contm: da pesquisa para desenvolv-lo, do designpara apresent-lo, da publicidade para vend-lo.

    4. As causas da tragdia

    Oito causas explicam por que o Brasil despreza e destri

    seu maior patrimnio, os crebros dos brasileiros, e por que

    tem a pior educao entre pases com renda mdia e potencial

    econmico equivalente aos nossos.Cultural No damos importncia educao. Ao longo

    de nossa histria, a educao nunca oi importante. A infun-

    cia colonial portuguesa que dicultava o acesso s escolas, o

    ritual religioso de deixar aos sacerdotes catlicos a tarea de

    ler e aos is a tarea de ouvir e outras razes desconhecidas

    nos transormaram lentamente em um povo que no considera

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    a educao um valor undamental. Um brasileiro mdio ca

    transtornado quando encontra seu carro riscado, mas pouco se

    importa se seu lho passa o dia sem aula. Ele aceita satiseito

    que o lho deixe de estudar para se tornar jogador de utebol,mas reage se o aluno insiste em estudar para ser lsoo ou

    proessor primrio. Nada simboliza mais a educao do que a

    losoa e o magistrio. Mas, se um pai investe na educao de

    seu lho, e ele anuncia, aos 17 anos, que deseja ser lsoo

    ou proessor, o pai sente, em vez de orgulho, prejuzo pelo in-

    vestimento perdido. As classes mdia e alta do Brasil veem a

    Educao de Base como uma caderneta de poupana onde sedeposita um valor mensalmente, que ser retornado no uturo

    com o salrio do lho ormado, independente de seu saber, de

    sua cultura, de sua erudio.

    A cultura brasileira privilegia a produo material de or-

    ma muito mais intensa do que a produo intelectual. Isso ex-

    plica por que o Brasil esperou at o sculo XX para criar sua

    primeira universidade, o que aconteceu no porque se per-cebesse necessidade: a Universidade do Brasil, hoje UFRJ, oi

    criada em 1922 para atender ao capricho de um rei belga, que

    visitava o Brasil e queria um ttulo de doutor honoris causa.

    A educao no orgulho do povo brasileiro, que preere se

    vangloriar de sua indstria, agricultura, cerveja, de suas estra-

    das, do carnaval, do utebol, do tamanho dosshopping centers.

    Ideolgica Os dirigentes brasileiros, suas classes ri-cas e mdias, desprezam o povo, e por isso nunca tiveram

    compromisso com os servios necessrios s massas: sade,

    transporte, habitao, educao. Tudo dos pobres relegado.

    Temos aeroportos de padro europeu e pontos de nibus de

    padro aricano. Quando o controle areo entra em crise e os

    avies atrasam, o assunto vira matria em todos os jornais. Mas

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    os permanentes atrasos de nibus que deixam milhes nas pa-

    radas urbanas jamais se tornam notcia. Quando a elite poltica

    brasileira investe em benecios para as massas, porque essa

    a nica orma de se beneciar. A luta contra a plio e contra aAIDS um bom exemplo brasileiro, porque vrus no escolhem

    classe social: cuida-se de todos ou no se cuida de ningum.

    Desde a escravido, quando aos escravos era proibido estudar,

    at os dias de hoje, quando a educao do povo no vista

    como compromisso central dos governos. Ao longo de toda a

    nossa histria, a elite dirigente e as camadas de renda mdia ou

    alta sempre se sentiram descomprometidas com o povo.Em 1889, os republicanos gastaram longas horas discu-

    tindo onde colocar cada uma das estrelas no desenho de nossa

    bandeira, para representar a posio delas no dia 19 de novem-

    bro. Mas escreveram nela o lema Ordem e Progresso, esque-

    cendo-se de que 70% da populao de ento no sabia ler. No

    se lembraram dos analabetos. Cento e vinte anos depois, o

    nmero de adultos que no sabem ler e no conseguem iden-ticar nossa bandeira quase trs vezes maior do que no ano

    da proclamao da Repblica. a educao dos pobres a mais

    abandonada: temos escolas pblicas degradadas, mas algumas

    escolas privadas com a qualidade equivalente s melhores do

    mundo. As aculdades pblicas que recebem os lhos dos ricos

    tm o nvel de boas universidades do mundo, s no esto en-

    tre as melhores porque perdem milhes de crebros, deixadospara trs no decorrer da Educao de Base.

    Poltica Alm do desprezo pelo povo, que caracte-

    riza uma sociedade classista, aristocrtica ou escravocrata, a

    elite brasileira, talvez inconscientemente, protege seus lhos

    dos lhos do povo, assegurando-lhes o monoplio do ensino

    superior. contrria cota para negros, mas mantm a cota de

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    ingressos na universidade para ricos: quando deixa de oerecer

    aos pobres a chance de cursar um Ensino Mdio de qualidade,

    evita a concorrncia que beneciaria a maioria, que pobre.

    Se todos tivessem acesso mesma escola, a minoria os lhosdos ricos conquistaria um nmero muito menor de vagas do

    que a maioria os lhos dos pobres. Isso acontece com o ute-

    bol: todos tm a mesma oportunidade, porque a bola redon-

    da para todos, as regras so as mesmas, os campos de pelada

    tm as mesmas caractersticas para ricos e pobres. E por isso,

    so os lhos da maioria pobre que chegam seleo brasileira.

    A bola redonda para o rico e para o pobre, mas o lpis dopobre muito dierente do computador do rico.

    Financeira De tanto desperdiarem recursos, de tanto

    se endividarem para implantar um modelo econmico perver-

    so, de tanto criarem privilgios, os governos brasileiros com-

    prometeram seus recursos com o pagamento de dvidas, com a

    necessidade de supervits scais, com a manuteno de privi-

    lgios transormados em direitos constitucionais. No Brasil, huma lei de responsabilidade scal que manda prender o pre-

    eito que no pagar as dvidas de seu municpio com o banco,

    mas no h nenhuma punio prevista se ele echar escolas

    para pagar esse banco. H leis que asseguram aos servidores

    pblicos salrios equivalentes a quarenta salrios mnimos, mas

    no asseguram escolas para os lhos dos servidores de baixos

    salrios. E a populao, para comprar os produtos da indstria,endivida as amlias.

    O Brasil oi jogado em uma crise nanceira por causa dos

    desperdcios e vcios da elite rica, e usa seus erros, maldades

    e egosmos como desculpa para no investir na educao dos

    lhos de seu povo.

    Corporativa No Brasil, os que azem a educao colo-

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    cam em primeiro lugar os interesses do Estado e do governo,

    em segundo os interesses da escola, em terceiros dos proes-

    sores, por ltimo consideram os interesses das crianas e dos

    alunos. Quando se decide tomar uma medida minimamente l-gica de deesa dos interesses das crianas, como garantir vaga

    para todas elas, surgem vrios argumentos: no h dinheiro,

    a escola no suportaria, a qualidade vai cair, os proessores

    caro sobrecarregados. Raramente se pergunta onde caro

    as crianas se no garantimos vagas para elas. Nossos cursos

    de pedagogia e licenciaturas se organizam mais em uno dos

    interesses de pesquisas e das vaidades dos proessores univer-sitrios do que das necessidades das crianas. Dentro das esco-

    las, pedagogos se interessam mais em testar seus conhecimen-

    tos, escrever teses e provar sua sabedoria do que em ajudar as

    crianas a se ormarem.

    No Brasil, alunos so muitas vezes pretexto para os in-

    teresses de governos, proessores, vendedores de equipamen-

    tos, construtores de escolas, editores de livros e ornecedoresde merenda, e no a verdadeira razo de ser da educao: a

    garantia de que toda criana ter uma escola onde aprender

    a conhecer, usuruir e melhorar o mundo, independentemente

    da cidade onde nascer, da classe social de sua amlia, de sua

    raa ou gnero, tendo apoio para corrigir as decincias que

    porventura tenha.

    O propsito utpico Por 3/5 de toda a sua histria,o Brasil oi uma colnia explcita. At recentemente, ainda era

    uma colnia implcita. A independncia manteve o Pas como

    simples ornecedor de bens primrios, agrcolas ou minerais.

    Na segunda metade do sculo XX, o Brasil encontrou um pro-

    psito, importado: o crescimento econmico. Em uno dele,

    com uma vontade surpreendente para um pas desigual e poli-

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    ticamente dividido, usou todos os seus recursos, endividou-se,

    desvalorizou vergonhosamente sua moeda, provocou uma das

    maiores migraes internas j ocorridas na histria de qualquer

    pas, concentrou a renda, implantou um brutal regime ditatoriale, sobretudo, abandonou todos os demais setores, especial-

    mente a Educao de Base. O resultado oi o grande xito da

    economia e o grande racasso social e educacional.

    A descontinuidade Desde que comeou sua indus-

    trializao, o Brasil teve diversos governos, regimes democr-

    ticos ou ditatoriais, mas nunca mudou seu objetivo de bus-

    car o crescimento econmico. Governos se sucedem dandocontinuidade construo de hidreltricas e rodovias. Mas na

    educao, a cada governo s vezes at dentro do mesmo go-

    verno projetos iniciados so interrompidos ou substitudos.

    Falta continuidade de um ano para outro, de uma gerao para

    outra, o que termina inviabilizando todos os projetos, que ne-

    cessitam de tempo para amadurecerem.14

    As metas Quando se inicia uma hidreltrica, a meta conclu-la. Na educao brasileira, os projetos no tm metas.

    H dcadas existem programas de alabetizao, mas s em

    2003 oi criada uma Secretaria Especial com a tarea de cumprir

    a meta estabelecida de erradicar o analabetismo no prazo de

    quatro anos. Mas no ano seguinte, a Secretaria oi extinta, e a

    meta, abandonada. A matrcula oi ampliada sem uma meta de

    tempo para conseguir que todos estivessem alabetizados, ouque todos terminassem o Ensino Mdio. Sem metas, a educa-

    o no conclui seus projetos.

    As iluses da propaganda Uma das maneiras de no

    se resolver um problema escond-lo. Como se soressem de

    14 Em janeiro de 2004, o governo Lula mudou o Ministro da Educao. Seu sucessor, que azia par-te do mesmo governo, paralisou ou modicou drasticamente o que vinha sendo eito no perodoanterior, alm de abandonar as metas ento propostas.

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    uma miopia cultural que no d valor educao, e para no

    desviarem recursos de outros setores, nem ameaarem os in-

    teresses corporativos, mantendo os privilgios da classe e evi-

    tando admitir a necessidade de uma revoluo na educao,as elites dirigentes do Brasil enganam e se enganam: usam

    articios ilusrios, escondem os problemas e a dimenso da

    tragdia por trs de pelo menos seis iluses:

    a) Todos esto na escola. Essa uma das iluses mais

    aceitas, que esconde a realidade do quadro educacional brasi-

    leiro, por duas razes: Quando nos vangloriamos dos avanos

    ocorridos nos ltimos anos, e que nos levaram a ter 97,5% dascrianas matriculadas, desprezamos a gravidade de existirem,

    em pleno sculo XXI, pelo menos 2,5% que nem sequer se ma-

    triculam; comemoramos a matrcula dos 97,5%, e no nos des-

    culpamos pela vergonha de 2,5% ora da escola. Nosso orgulho

    deveria se transormar em um pedido de desculpas, mesmo

    considerando que h 20 anos a matrcula s chegava a 80%.

    Conundimos matrcula com requncia, requncia comassistncia, assistncia com presena, presena com permann-

    cia, permanncia com aprendizagem, aprendizagem com co-

    nhecimento. Desse modo no vemos nem nos concentrar em

    enrentar a tragdia de que pouco mais do que 30% dos nossos

    jovens terminaro o Ensino Mdio, e que, destes, menos da

    metade (apenas 18%) com um mnimo de qualidade.

    b) Estamos melhorando. No also dizer que estamosavanando, quando comparamos o Brasil de hoje com o de pou-

    cas dcadas atrs. Mas apesar da melhora, estamos cando para

    trs em relao aos pases emergentes com renda mdia equi-

    valente do Brasil. Tambm estamos cada vez mais atrasados

    em relao s crescentes exigncias de qualicao do mundo

    moderno. Melhoramos em ritmo linear, enquanto as exigncias

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    de conhecimento crescem em ritmo exponencial. claro que a

    brecha aumenta e chega ao nvel de apago intelectual.

    Em 1970, mesmo com apenas 80% de matrcula e com

    escolas sem qualidade, tnhamos uma situao educacionalprxima de pases como Irlanda e Coreia do Sul, que nos

    superaram e hoje avanam a um ritmo muito maior do que o

    nosso. Para no alar em Argentina, Uruguai, que sempre esti-

    veram nossa rente. Em educao, como em tudo mais, no

    basta melhorar; preciso avanar mais do que os outros, para

    no car para trs.

    Essa melhoria absolutamente insuciente, lenta, deixamilhes de crianas para trs por alta de qualicao, e a na-

    o para trs por alta de educao. Alm disso, a melhoria

    desigual dentro das nossas ronteiras. Alm de carmos para

    trs em relao ao resto do mundo, estamos deixando nossas

    crianas para trs, umas em relao s outras, dependendo da

    cidade onde nasam ou vivam, ou da renda de suas amlias.

    Alm de carmos para trs em relao a outros pases, estamosnos dividindo, criando uma brecha educacional dentro do nos-

    so prprio pas.15 A brecha educacional tender a permanecer,

    em uno de um descompasso entre oerta e demanda por

    mo de obra, com a ltima sempre maior do que a primeira.

    c) Temos escolas sucientes. Temos 197 mil escolas p-

    blicas e privadas de Ensino Bsico, das quais 162 mil so pbli-

    cas, para 48 milhes de crianas em idade escolar. Mas altamescolas em muitos lugares. Mais grave que a quase totalidade

    das escolas pblicas no podem ser consideradas escolas, so

    alsas-escolas, quase-escolas. No tm as condies mni-

    mas para serem chamadas de escolas do sculo XXI, nem se-

    quer as tinham na primeira metade do sculo XX. Na grande

    15 No incio de 2011, uma publicidade do MEC anuncia que a educao no Brasil est no bomcaminho, mas no diz que o azemos em ritmo de tartaruga, portanto, cando para trs.

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    maioria, no passam de restaurantes-mirins populares, aonde

    as crianas vo apenas pela merenda: sem aulas, sem deveres

    de casa, sem acompanhamento, algumas sem gua nem ba-

    nheiro, outras sem energia eltrica, sem todas as disciplinas,sem atividades complementares, quase nenhuma com horrio

    integral, muitas sem nem ao menos quadro-negro, para no

    dizer biblioteca e computadores.

    d) O problema da educao a alta de investimento.

    certo que no teremos uma boa educao gastando R$2.900,00

    por ano com a educao de cada criana: R$14,50 por dia de

    aula. Mas, se chover dinheiro no quintal de uma escola, elevira lama na primeira chuva. Os recursos adicionais devem ser

    aplicados de orma a chegar ao crebro de nossas crianas.

    preciso saber quanto, como, onde e quando aplicar os recur-

    sos, ou eles sero desperdiados.

    e) O Brasil tem um pequeno nmero de estudantes na

    universidade e precisa de mais vagas. Embora seja verdade que

    tenhamos poucos alunos no Ensino Superior em relao ao to-tal da populao, nosso maior problema que poucos alunos

    podem concorrer a uma vaga na universidade, porque pouco

    mais de 1/3 dos jovens terminam o Ensino Mdio, e, destes,

    no mais da metade tendo recebido um ensino de qualidade, e

    com ambio suciente para desejar entrar na universidade. Se

    verdade que temos poucos universitrios em proporo ao

    total da populao, temos um maior nmero de universitriosem proporo ao nmero dos que terminam o Ensino Mdio.

    De cada 4,6 milhes de alunos que entram no Ensino Funda-

    mental, somente 2,4 milhes o concluem; apenas 1,8 milho

    chegam ao nal do Ensino Mdio, 900 mil com qualidade para

    um bom curso universitrio. Mesmo assim, 1,7 milho entram

    na universidade, mais do que os que tm condies. Mais de

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    um milho desistem antes da concluso do curso superior, por

    alta de recursos para pagarem a mensalidade e por alta de

    ormao anterior para acompanharem seus cursos.

    Essa entrada automtica no Ensino Superior, aps a con-cluso do Ensino Mdio, no acontece em outros pases de-

    senvolvidos. Na Alemanha, somente 37% dos concluintes do

    Ensino Mdio ingressam na universidade; na Blgica, 31%; na

    Dinamarca, 59%; na Irlanda, 46%; e na Sua, somente 39%.

    Porm, todos esses pases tm ndice de concluso de Ensino

    Mdio superior a 90% da populao. Nesses casos, as oportu-

    nidades dignas de emprego e renda esto ao alcance de todos,e s buscam a universidade aqueles realmente interessados em

    uma carreira acadmica.

    ) preciso melhorar a qualidade da universidade, com

    mais recursos. Embora altem recursos para a universidade,

    investimentos adicionais no sero sucientes para melhor-la,

    enquanto no zermos a Revoluo na Educao de Base, para

    promover o potencial de 2/3 de nossos jovens que no termi-nam o Ensino Mdio, e a Reundao da Universidade, para

    ajust-la realidade do saber e velocidade com que ele avan-

    a no sculo XXI. O Brasil tem grandes jogadores de utebol

    porque todos tm acesso bola, comeam a jogar aos quatro

    anos de idade, jogam em campos perto de casa, e o talento vai

    sendo revelado entre os melhores e mais persistentes. Isso no

    acontece com a educao porque poucos tm acesso a livros,computadores, boas escolas. O Brasil nunca teve um Prmio

    Nobel de literatura, muito provavelmente porque ele azia par-

    te das dezenas de milhes de adultos que morreram desde a

    Proclamao da Repblica sem a oportunidade de aprender a

    ler e a gostar de ler. O mesmo vale para po