A paisagem da comunidade Riacho do Meio não se difere das paisagens do semiárido cearense. No Sertão Central do Ceará avistamos aos montes os pedregulhos, os morros embaçados no horizonte, as curvas onduladas e maliciosas, as veredas sem fim, a terra corada pela vermelhidão, a caatinga cinzenta e o clarão do Sol que com seus raios faz emergir o brilho do olhar de uma gente provida de resistência, de amizade pura, e de sentimento de pertencimento de Ser Tão.A comunidade fica na beira da estrada, passam linha de ônibus próximo e é um local de passagem entre os municípios de Choró e Canindé. Quem passa no Riacho do Meio não pode deixar de ver uma igrejinha de Jesus, Maria e José e uma linda sede da Associação Comunitária dos Agricultores (as) Familiares do Riacho do Meio construída pelo esforço dessa comunidade.

No dia do trabalhador, as famílias da comunidade começam a ocupar a calçada da igrejinha. De manhã bem cedo é realizado um café comunitário, é montada uma mesa grande e farta e cada família do Riacho do Meio contribui com uma doação, doa o que conseguiu colher, oferece, compartilha, troca e principalmente criam um espírito solidário entre as famílias da comunidade e quem estiver passando

pela estrada. Depois da celebração, que é realizada na igrejinha, as promessas são feitas, a mesa posta é compartilhada por todos, criando um verdadeiro clima de união e confraternização.

A solidariedade para a comunidade Riacho do Meio, não é sacrifício, ser solidário e promover a participação de todos em prol de um bem comum. É um dever de todos serem solidários e isso acontece de forma natural. Com a fé que essas famílias a todo ano renovam, também é renovado o espírito de solidariedade, de part ic ipação, de compart i lhamento de conhecimento e o de estado de graça. É uma graça ajudar o companheiro no seu plantio, na irrigação, na melhoria das sementes e principalmente no cuidado com a natureza. João Felix, agricultor e grande incentivador da melhoria da qualidade de vida desta comunidade relata “O que me motivou na questão da agroecologia, foi

Ceará

Ano 6 | nº 959 | Novembro | 2012Choró - Ceará

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Riacho do Meio: comunidade que luta pela

preservação das sementes crioulas.

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Comunidade Riacho do Meio, unidos pela melhoria da qualidade de vida

Casa de sementes recebendo intercâmbio Territorial

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perceber que a natureza estava e tá sendo destruída, as pessoas não escutam mais a natureza, eu escuto a terra gritar, e ela grita forte. E quem percebe isso é quem trabalha com agroecologia, o que me levou a trabalhar com agroecologia foi ver a necessidade de trabalhar com a terra de forma certa, e pensar que tudo isso vai ficar para os meus filhos e netos.”.

Os/as agricultores/as contam que todo o processo agroecológico veio com um projeto do algodão e foi nesse exato momento que os rumos da histór ia dessas famíl ias mudaram completamente. No começo, eram onze agricultores e agricultoras que iniciaram um processo de transição agroecológica, segundo os/as agricultores/as foi um processo lento . Para isso, precisava que as pessoas fossem comprometidas, que acreditassem nestas mudanças, que fossem até o fim neste processo da agricultura agroecológica. E isso aconteceu na comunidade, já que a cada dia aumenta o número de agricultores e agricultoras que participam da associação e da casa de sementes.

Atualmente, na casa de sementes 18 agricultores/as são associados e a intenção é que aumente o número dos participantes. Para isso, sempre a comissão organizadora da casa de sementes faz reuniões e debates para incentivar e motivar os agricultores e as agricultoras, já que a casa de sementes é um espaço de construção de conhecimento agroecológico e de incentivo ao resgate das sementes crioulas.

João Felix faz questão de salientar que, neste processo de construção do conhecimento agroecológico na comunidade Riacho do Meio, aumentou o número de agricultores e agricultoras que não queimam e nem utilizam agrotóxico no seu plantio: “A gente precisar dar o que a terra precisa, a gente conseguiu que 99% dos agricultores e agricultoras, não usassem mais agrotóxico, teve ano aqui que somente um agricultor usou agrotóxico de “birra” e “rincha” com o trabalho que a gente desenvolve. As pessoas estão, a cada dia, mais conscientes, já somos 99% e seremos 100%”.

O espaço onde fica a casa de sementes também é o espaço da associação. Lá, estão estocados diversos tipos de sementes, seu João Felix faz questão de falar o nome popular de cada tipo de feijão como: o farta guloso, o pingo de ouro, o barrigudo, o quarenta dias, o passe 10, o paulistinha, o goela de jacu, o boca de moça. Na casa também tem sementes de milho, de gengibre, de arroz, de coentro, de agrião, de jerimum, de girassol e de sabiá. A quantidade de sementes e a variedade ficam anotadas no caderninho do seu João Felix.

O resgate das sementes nativas e crioulas é também uma construção de conhecimento construída diariamente pelas famílias do Riacho do Meio. Antônia Dantas afirma “O nosso trabalho é fazer o resgate dessas sementes nativas e crioulas, e incentivar os agricultores a plantarem e a trocarem essas sementes que são nossas, quanto mais variedade de sementes a gente tiver, é melhor para nossa comunidade”.Já se passaram 9 anos que, com persistência, força, luta e dedicação, a comunidade vem dando largos passos na melhoria da qualidade de vida, na segurança alimentar e na construção da preservação da natureza e de suas sementes nativas. A comunidade não pensou na casa de sementes somente para eles, pensou em compartilhar com todo mundo, com os intercâmbios e visitantes que atravessam as estradas do Riacho do Meio.

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Associação da comunidade é um lugar de construção do conhecimento agroecológico.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

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