Ribeiro & Guzzo 2014 - PPP Copy

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83 Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): reflexões críticas sobre ações e dilemas profissionais Pesquisas e Práticas Psicossociais, 9(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2014 Psicologia no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): reflexões críticas sobre ações e dilemas profissionais 1 Psychology in the Unified Social Assistance System (SUAS, per original acronym): critical reflections on professional actions and dilemmas Psicología en el Sistema de Asistencia Social (SUAS): Reflexiones críticas sobre la actuación profesional y los dilemas Maisa Elena Ribeiro 2 Raquel Souza Lobo Guzzo 3 Resumo Este trabalho visa a problematizar a inserção e atuação do psicólogo no SUAS. Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada no Materialismo Histórico Dialético. Foram analisadas as referências técnicas do CFP e registros de diários de campo de eventos públicos sobre o tema. As análises explicitaram as contradições entre o que é proposto na legislação e referências técnicas com o que é vivenciado pelos profissionais. Dentre os problemas, estão: formação em psicologia e reprodução de práticas hegemônicas, falta de espaços para reflexão da prática e condições e vínculos de trabalho precarizados. No entanto, apesar desses problemas, a pesquisa identificou práticas convergentes com as demandas do SUAS como: inserção na comunidade, intervenções grupais e algumas estratégias de superação dos problemas por meio da organização coletiva e participação política. A partir dessas análises, propõem-se a Psicologia Comunitária e a Psicologia Social da Libertação como referenciais para subsidiar a atuação do psicólogo no SUAS. Palavras-chave: psicologia crítica; psicologia e políticas públicas; Sistema Único de Assistência Social; psicologia social da libertação; psicologia comunitária. Abstract This paper aims to discuss the insertion and the performance of the psychologist in the SUAS. This is a qualitative study in Dialectical and Historical Materialism. The CFP’s technical references and field daily minutes from public events on the topic were analyzed. The analyses rendered explicit the contradictions between what is proposed in the legislation and in the technical references and what is actually experienced by the professionals. Some of the problems are: education in psychology and reproduction of hegemonic practices; lack of spaces for reflection on the practice; poor working conditions and relations. However, in spite of these problems, the research identified practices converging with the demands from SUAS, such as: insertion into the community; group interventions; and some strategies to overcome the problems by means of collective organization and political participation. Based on these analyses, the Community Psychology and the Liberation Social Psychology are proposed as references to support the practice of the psychologist at SUAS. Keywords: critical psychology; psychology and public policies; Unified Social Assistance System; liberation social psychology; community psychology. 1 Este artigo é parte da dissertação de Mestrado da primeira autora financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), defendida em dezembro de 2013. 2 Graduada em Psicologia pela PUC Minas, Mestre em Psicologia pela PUC Campinas, no grupo de pesquisa Avaliação e Intervenção psicossocial: prevenção, comunidade e libertação. Endereço para correspondência: Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Faculdade de Psicologia, Pós Graduação Em Psicologia. Av. John Boyd Dunlop, s/n, Jardim Ipaussurama, Campinas, SP, CEP: 13.100-101. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Mestre e Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo. Pós-doutorado em Estudos Comunitários e Prevenção pela University of Rochester, USA. Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Endereço eletrônico: [email protected]

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A história da psicologia social

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS):

    reflexes crticas sobre aes e dilemas profissionais1

    Psychology in the Unified Social Assistance System (SUAS, per

    original acronym): critical reflections on professional actions and

    dilemmas

    Psicologa en el Sistema de Asistencia Social (SUAS): Reflexiones

    crticas sobre la actuacin profesional y los dilemas

    Maisa Elena Ribeiro2

    Raquel Souza Lobo Guzzo3

    Resumo

    Este trabalho visa a problematizar a insero e atuao do psiclogo no SUAS. Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada no

    Materialismo Histrico Dialtico. Foram analisadas as referncias tcnicas do CFP e registros de dirios de campo de eventos pblicos sobre o tema. As anlises explicitaram as contradies entre o que proposto na legislao e referncias tcnicas com o que vivenciado pelos

    profissionais. Dentre os problemas, esto: formao em psicologia e reproduo de prticas hegemnicas, falta de espaos para reflexo da

    prtica e condies e vnculos de trabalho precarizados. No entanto, apesar desses problemas, a pesquisa identificou prticas convergentes

    com as demandas do SUAS como: insero na comunidade, intervenes grupais e algumas estratgias de superao dos problemas por meio

    da organizao coletiva e participao poltica. A partir dessas anlises, propem-se a Psicologia Comunitria e a Psicologia Social da

    Libertao como referenciais para subsidiar a atuao do psiclogo no SUAS.

    Palavras-chave: psicologia crtica; psicologia e polticas pblicas; Sistema nico de Assistncia Social; psicologia social da libertao;

    psicologia comunitria.

    Abstract

    This paper aims to discuss the insertion and the performance of the psychologist in the SUAS. This is a qualitative study in Dialectical and

    Historical Materialism. The CFPs technical references and field daily minutes from public events on the topic were analyzed. The analyses rendered explicit the contradictions between what is proposed in the legislation and in the technical references and what is actually experienced by the professionals. Some of the problems are: education in psychology and reproduction of hegemonic practices; lack of

    spaces for reflection on the practice; poor working conditions and relations. However, in spite of these problems, the research identified

    practices converging with the demands from SUAS, such as: insertion into the community; group interventions; and some strategies to overcome the problems by means of collective organization and political participation. Based on these analyses, the Community Psychology

    and the Liberation Social Psychology are proposed as references to support the practice of the psychologist at SUAS.

    Keywords: critical psychology; psychology and public policies; Unified Social Assistance System; liberation social psychology; community

    psychology.

    1 Este artigo parte da dissertao de Mestrado da primeira autora financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (CNPq), defendida em dezembro de 2013. 2 Graduada em Psicologia pela PUC Minas, Mestre em Psicologia pela PUC Campinas, no grupo de pesquisa Avaliao e Interveno psicossocial: preveno, comunidade e libertao. Endereo para correspondncia: Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, Faculdade

    de Psicologia, Ps Graduao Em Psicologia. Av. John Boyd Dunlop, s/n, Jardim Ipaussurama, Campinas, SP, CEP: 13.100-101. Endereo

    eletrnico: [email protected] 3 Mestre e Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de So Paulo. Ps-doutorado em Estudos

    Comunitrios e Preveno pela University of Rochester, USA. Professora titular da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas. Endereo

    eletrnico: [email protected]

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    Resumen

    Este trabajo se propone analizar la insercin y el psiclogo en SUAS. Se trata de un estudio cualitativo basado en el materialismo histrico

    dialctico. Se analizaron los antecedentes tcnicos del Consejo Federal de Psicologa registros y diarios de campo de eventos pblicos sobre

    el tema. El anlisis aclar las contradicciones entre lo que se propone en la legislacin Y referenciales tcnicos, lo que es experimentado por los profesionales. Entre los problemas se encuentran: la capacitacin en psicologa y reproduccin de las prcticas hegemnicas, la falta de

    espacios para la reflexin de la prctica, las condiciones y los contratos de trabajo precarios. Sin embargo, a pesar de estos problemas, la

    investigacin identific las prcticas convergentes con las demandas del SUAS como su inclusin en la comunidad, las intervenciones de grupo, y algunas estrategias para superar los problemas a travs de la organizacin colectiva y la participacin poltica. A partir de estos

    anlisis, se propone la Psicologa Comunitaria y Psicologa Social de la Liberacin como puntos de referencia para subsidiar el psiclogo en

    el SUAS.

    Palabras-clave: psicologa crtica, psicologa y poltica pblica, Asistencia Social Unificado, psicologa social de la liberacin, psicologa

    comunitaria.

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    Introduo

    Quando a psicologia foi instituda como

    profisso no Brasil, por meio da Lei 4.119/62

    (Brasil, 1962), a formao e a atuao do psiclogo

    estruturaram-se em torno de trs principais reas: a

    clnica, a escolar e a industrial. Dentre essas reas, a

    que mais teve destaque na formao e prtica foi a

    rea clnica, com a concepo clssica de atuao

    individualizada e voltada para as classes mdia e

    alta da populao. Tal concepo trouxe algumas

    consequncias para a atuao do psiclogo, porque,

    ao reproduzir noes de atendimento

    individualizado e curativo, os psiclogos,

    geralmente, se remetiam somente a fenmenos

    mentais e pessoais, desconsiderando as influncias

    que os contextos sociais, econmicos e polticos

    exerciam sobre o sujeito (Botom, 1979/2010;

    Ferreira Neto, 2004; Yamamoto, 2007).

    O lema do compromisso social da psicologia

    surge a partir das crticas relativas ao carter

    elitista, individualista e predominantemente clnico

    da profisso. Com a promulgao da Constituio

    brasileira de 1988 (Brasil, 1988), foram

    implementadas diversas polticas pblicas no

    campo da seguridade social, impulsionando a

    insero do psiclogo nos servios pblicos. No

    entanto, a efetivao do compromisso social da

    psicologia no deve ficar restrita ampliao do

    mercado de trabalho em polticas sociais. O

    compromisso est, essencialmente, em discutir o

    que realmente a psicologia tem a contribuir nesses

    novos contextos de atuao (Yamamoto; 2007;

    Yamamoto & Oliveira, 2010).

    No que diz respeito Poltica Nacional de

    Assistncia Social (PNAS), a pesquisa realizada por

    Macedo et al. (2011) contabilizou no Cadastro

    Nacional do Sistema nico de Assistncia Social

    (CadSUAS)4, entre julho de 2010 e janeiro de 2011,

    8.079 psiclogos atuando no Sistema nico de

    Assistncia Social (SUAS). Com esse nmero, os

    psiclogos aparecem como a segunda categoria

    profissional mais presente no SUAS, o que

    demonstra a grande expanso e representao da

    psicologia nessa poltica pblica.

    A prtica do psiclogo no SUAS foge dos

    padres tradicionais da psicologia desde a clientela

    que vai atender aos espaos que vai ocupar e as

    aes que sero propostas. No entanto, pesquisas na

    rea apontam alguns questionamentos acerca dessa

    4 O CadSUAS uma ferramenta de gesto do MDS de uso

    obrigatrio que permite a atualizao e o monitoramento dos servios, da rede socioassistencial e dos demais rgos

    governamentais, conselhos, fundos e trabalhadores do SUAS

    (Macedo et al. 2011, p. 482).

    insero. As pesquisas realizadas por Senra (2005)

    e Senra e Guzzo (2012) discutem que os psiclogos

    que esto atuando no SUAS queixam-se de que a

    graduao em psicologia oferece poucos subsdios

    para a atuao nesse contexto e que, apesar da

    existncia de referncias tcnicas e parmetros para

    a atuao do psiclogo no SUAS, ainda h a

    prevalncia de prticas tradicionais da psicologia

    predominantemente clnicas e individuais. A esse

    respeito, Ximenes, Paula e Barros (2009) discutem

    que a insero do psiclogo no SUAS tem que ser

    acompanhada pela reflexo de sua prtica, uma vez

    que a simples reproduo de prticas tradicionais da

    psicologia favorece a manuteno das

    vulnerabilidades e desigualdades sociais, alm de

    essas prticas repercutirem uma atuao

    descontextualizada da realidade e da poltica

    pblica, nas quais esto sendo inseridas (Senra &

    Guzzo, 2012).

    Andrade e Romagnoli (2010), ao discutirem

    sobre a atuao do psiclogo no SUAS, ressaltam

    que ainda h um abismo entre o saber acadmico e

    a realidade cotidiana dos profissionais, uma vez

    que, na formao inicial em nvel de graduao,

    ainda prevalece uma hegemonia da nfase clnica,

    voltada para o atendimento individual, enquanto o

    campo da Psicologia Comunitria pressupe um

    outro modelo de atuao. Alm do problema da

    formao e construo do conhecimento, Cardoso e

    Costa (2010) apontam que tanto a populao quanto

    os gestores do SUAS mantm uma viso do

    psiclogo como aquele profissional que faz

    psicoterapia e solicitam dele aes apenas

    relacionadas a essa dimenso de sua prtica.

    Diante desse panorama, faz-se necessria a

    construo de metodologias alternativas s

    tradicionalmente realizadas pela cincia

    psicolgica, as quais devem ultrapassar os limites

    das salas de atendimento e ampliar suas anlises

    para alm da perspectiva individualizante. Nesse

    sentido, os desafios para o psiclogo vo alm da

    atuao tcnica (abordagens e metodologias

    psicolgicas), pois envolvem aspectos polticos e

    institucionais que perpassam sua prtica, o que

    demanda desse profissional um olhar e

    posicionamento crtico diante da realidade com que

    se defrontar (CFP, 2013; Macedo et al., 2011;

    Senra & Guzzo, 2012; Ximenes et al., 2009).

    A partir dos argumentos trazidos pelas

    pesquisas supracitadas, levantam-se dois aspectos

    relevantes: o primeiro refere-se carncia na

    formao por parte dos psiclogos quanto sua

    insero no SUAS; o segundo evidencia que a

    insero desse profissional nas polticas pblicas

    ainda carece de reflexes polticas, tericas e

    metodolgicas. Nesse sentido, a presente pesquisa

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    visa a problematizar a insero do psiclogo no

    SUAS para identificar e discutir as aes realizadas

    e os problemas vivenciados pelos psiclogos nesse

    contexto.

    Questo Social, Polticas Sociais e Polticas

    Pblicas

    A questo social definida por Yamamoto

    (2007) como o conjunto de problemas polticos, sociais e econmicos postos pela emergncia da

    classe operria no processo de constituio da

    sociedade capitalista (p. 31). Considera-se, portanto, que tais problemas so resultado de um

    fenmeno denominado por Marx de lei da acumulao capitalista, segundo a qual, no modo de produo capitalista, a produo da riqueza

    social implica, necessariamente, na reproduo

    contnua da pobreza (Paulo Netto, 2011, p. 23). No ltimo relatrio, lanado pelo Programa das

    Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

    em 2013, o Brasil apresentou o ndice de

    Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,727, sendo

    considerado um pas com IDH elevado. No entanto,

    como ressaltado no relatrio, ao mesmo tempo em

    que o IDH apresenta progresso, o ndice de

    desigualdade tambm cresce. Nesse aspecto, o

    relatrio do PNUD (2013) ressalta que

    o progresso exige mais do que uma melhoria mdia

    do IDH. No ser desejvel, nem sustentvel, que os

    progressos no IDH sejam acompanhados pelo

    aumento das desigualdades de rendimento, padres

    insustentveis de consumo, despesas militares

    elevadas e uma fraca coeso social. (p. 3)

    Tais aspectos ressaltam a importncia de aes

    intersetoriais para que todas as pessoas tenham seus

    direitos sociais mnimos garantidos. No Brasil, com

    a promulgao da Constituio de 1988, o Estado

    se responsabiliza, oficialmente, por garantir os

    direitos sociais da populao, ou seja, garantir as

    condies mnimas necessrias para a

    sobrevivncia e desenvolvimento das pessoas. So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a

    moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social,

    a proteo maternidade e infncia, a assistncia

    aos desamparados na forma desta Constituio (Constituio da Repblica Federativa do Brasil de

    1988, Artigo 6).

    No que diz respeito s aes no mbito da

    assistncia social, em 1993, foi aprovada a Lei

    Orgnica da Assistncia Social LOAS (Lei n 8.742), que, logo em seu primeiro artigo, anuncia

    seu carter universal e no-contributivo (Brasil,

    1993). Em 2004, foi aprovada a PNAS, que

    possibilitou uma organizao nacional da prestao

    de servios da assistncia social. At 2004, mesmo

    com a Constituio de 1988 e a LOAS de 1993, as

    aes da assistncia eram desarticuladas,

    fragmentadas e pontuais, o que impossibilitava o

    avano em relao garantia e efetivao dos

    direitos sociais, como ressaltado por Macedo et al.

    (2011) ao discutirem a desmobilizao das polticas

    sociais ao longo dos anos 1990 e incio dos anos

    2000:

    Assim, na contramo do seu marco legal, a

    Assistncia Social foi marcada em todo este perodo

    por um conjunto de aes fragmentadas,

    desarticuladas e sobrepostas, devido pulverizao

    de seus segmentos em vrios setores ministeriais, e

    devido sua fragilidade institucional, retomou o

    carter imediatista, sem muito impacto ou

    efetividade quanto s questes sociais. (p. 481)

    Com a aprovao da PNAS, comea a ser

    implementado o SUAS, que tem por finalidade a

    unificao e normatizao da oferta de servios

    socioassistenciais em todo o territrio nacional. No

    entanto, mesmo com a unificao dos servios, a

    PNAS ressalta que estes devem desenvolver suas

    aes de acordo com as demandas regionais

    suscitadas em seus territrios (Brasil, 2004).

    O SUAS organizado em trs nveis de

    proteo social: bsica e especial de mdia e alta

    complexidade. A proteo social bsica

    representada pelos Centros de Referncia da

    Assistncia Social (CRAS), alocados nas regies

    com altos ndices de vulnerabilidade social, e

    congrega programas e servios voltados para a

    preveno de violao de direitos e promoo

    social dos usurios, famlias e comunidades. A

    proteo social especial de mdia complexidade

    representada pelo Centro de Referncia

    Especializado da Assistncia Social (CREAS), que

    rene servios e programas destinados s pessoas

    que j tiveram seus direitos violados. J a proteo

    social especial de alta complexidade tambm

    destinada s pessoas que sofreram algum tipo de

    violao de direitos, com o agravante de terem os

    vnculos familiares fragilizados e/ou rompidos e

    que, por isso, necessitam de acolhimento

    institucional de curta ou longa permanncia (Brasil,

    2004, 2009).

    Em 2006, foi criada a Norma Operacional

    Bsica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-

    RH/SUAS), que estabelece um nmero mnimo de

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    profissionais necessrios em cada servio de acordo

    com o nmero de usurios e/ou famlias atendidos.

    Alm disso, a NOB-RH/SUAS orienta que a forma

    de contratao dos trabalhadores do SUAS deve

    ocorrer por concurso pblico. E tambm orienta a

    implantao da Poltica de Educao Permanente

    nos municpios, visando constante formao e

    aprimoramento dos profissionais (Brasil, 2006).

    A formulao de polticas pblicas expressa,

    portanto, um importante mecanismo de luta pela

    garantia dos direitos sociais, embora elas, por si

    ss, no sejam suficientes para a efetivao e

    concretizao de tais direitos, uma vez que

    pesquisas sobre a implementao do SUAS

    demonstram diversas limitaes para sua plena

    efetivao, tais como: vnculos precrios de

    trabalho, falta de infraestrutura dos servios, falta

    de participao popular e cooptao dos conselhos

    municipais, vis clientelista e abuso de poder dos

    gestores, terceirizao dos servios, falta de

    qualificao dos trabalhadores, burocratizao das

    aes, rotatividade de projetos e profissionais, falta

    de participao dos usurios no processo de

    construo e avaliao das aes destinadas a eles

    (Mollo, 2013; Moreira, 2008; Raichelis, 2010;

    Yamamoto & Oliveira, 2010).

    Dessa forma, pensar o papel da psicologia nas

    polticas pblicas pensar em todo este contexto de

    conflitos e contradies entre os discursos

    propagados e a realidade vivenciada pelos

    profissionais e usurios. Portanto, para vislumbrar

    as possibilidades de atuao do psiclogo nesse

    contexto, imprescindvel considerar o

    desenvolvimento dessas polticas e a prpria

    profisso na sociedade capitalista (Guzzo &

    Lacerda, 2007; Yamamoto & Oliveira, 2010).

    Perspectivas crticas em Psicologia: Psicologia

    Social da Libertao e Psicologia Comunitria

    A Psicologia Crtica um movimento de

    resistncia Psicologia tradicional, com o intuito de

    construir uma anlise ante as prticas dominantes e

    legitimadas pela Psicologia e buscar as contradies

    das ideias que so propagadas como naturais. Trata-

    se de um movimento dialtico que no visa a dar

    explicaes de carter apenas subjetivo, mas a

    levantar as contradies e a revelar as tticas

    polticas e ideolgicas obscurecidas que permeiam

    a prtica do psiclogo. A principal crtica feita

    Psicologia tradicional que ela tem servido como

    ferramenta ideolgica para a manuteno do modo

    de produo capitalista e favorecimento da classe

    dominante, contribuindo para a discriminao,

    opresso e negligncia das pessoas que vivem em

    situao de vulnerabilidade (Parker, 2007).

    Dentre as perspectivas crticas psicologia

    hegemnica, destacam-se os referenciais tericos da

    Psicologia Social da Libertao e da Psicologia

    Comunitria. Tais abordagens tm como princpio a

    participao ativa da comunidade no processo de

    estudo e compreenso dos problemas que vivencia.

    As intervenes devem partir de uma realidade

    prtica e emprica a serem construdas junto com a

    comunidade e pressupem que os sujeitos que

    sofrem diretamente os problemas da comunidade

    possam perceber-se enquanto membros da mesma e

    conscientizar-se das problemticas que vivenciam,

    para que possam vislumbrar, conjuntamente,

    possibilidades de enfrentamento e superao desses

    problemas (Martn-Bar, 1986/2011; Montero,

    1999, 2004).

    Tais perspectivas revolucionam as formas de

    aplicao do conhecimento psicolgico e a forma

    de o profissional se relacionar com a comunidade,

    pois rompem com prticas diretivas e descritivas da

    Psicologia tradicional que creem em um suposto

    saber preconcebido que pode ser aplicado e

    reproduzido individualmente em qualquer contexto

    (Martn-Bar, 1986/2011; Montero, 1999). Os

    psiclogos, ao darem grande relevncia para as

    caractersticas pessoais e interpessoais, acabam

    encobrindo as questes sociais, polticas e

    econmicas que esto envolvidas na construo da

    subjetividade e sofrimento do sujeito. A reduo

    aos processos individuais e subjetivos revela uma

    tendncia da Psicologia tradicional a personificar e

    psicologizar todos os processos, no dando

    respostas satisfatrias aos reais motivos do

    sofrimento de grande camada da populao. Como

    diz Martn-Bar (1986/2011): O psicologismo tem servido para fortalecer, direta ou indiretamente, as

    estruturas opressivas ao desviar a ateno delas

    para os fatores individuais e subjetivos (p. 183). Para a superao dessas tendncias

    psicologizantes, Matin-Bar (1986/2011) defende

    que a realidade concreta ou verdade prtica tem

    primazia sobre o idealismo ou verdade terica. Ou

    seja, o conhecimento precisa ser produzido a partir

    do conhecimento da realidade e sempre visa a uma

    prxis, isto , a uma ao com intuito de

    transformao das condies de vida das classes

    marginalizadas.

    Segundo Paulo Freire (1979), a caracterstica

    principal do ser humano que o diferencia dos outros

    animais sua capacidade de agir conscientemente

    sobre a realidade objetivada: precisamente isto, a prxis humana, a unidade indissolvel entre minha ao e minha reflexo sobre o mundo (p. 15). No entanto, tomar conscincia no representa

    em si todo o processo de conscientizao, pois, para

    Paulo Freire, a conscientizao envolve uma

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    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    reflexo crtica sobre a realidade percebida e sobre

    si mesmo alm de uma ao sobre a realidade.

    nesse processo de conscientizao que o sujeito

    pode desenvolver estratgias de resistncia diante

    das condies de explorao e opresso s quais

    est submetido, buscando coletivamente o

    fortalecimento, autonomia e libertao de sua

    classe.

    A partir desses mesmos pressupostos, a

    psicologia comunitria surge como uma rea da

    Psicologia Social que se prope a deselitizar a

    psicologia e, por meio da insero na comunidade,

    buscar construir estratgias para a melhoria das

    condies de vida das pessoas pobres e/ou que

    vivenciam situaes de vulnerabilidade. Para tanto,

    os psiclogos comunitrios devem partir das

    necessidades e carncias da comunidade atendida,

    para construir, junto com a populao, as

    possibilidades de interveno (Campos, 1999).

    As propostas da Psicologia Comunitria e da

    Psicologia Social da Libertao convergem com os

    objetivos da PNAS, uma vez que ambas visam ao

    desenvolvimento e promoo social da populao

    com o intuito de lidar com as sequelas advindas da

    questo social.

    Mtodo

    Caracterizao da pesquisa

    Foi realizada uma pesquisa qualitativa

    fundamentada no Materialismo Histrico Dialtico

    (MHD), cujo objeto de estudo foi a insero do

    psiclogo no SUAS. O MHD um mtodo de

    pesquisa oriundo da teoria marxista, que busca a

    construo do conhecimento a partir da realidade

    concreta para evidenciar as contradies,

    relacionando-as com suas mltiplas determinaes.

    Tais determinaes no representam leis naturais,

    mas tendncias histricas, isto , condies que so

    construdas histrica e socialmente, e contemplam,

    portanto, a atividade humana (Martins, 2006; Paulo

    Netto, 2011).

    Passos para a busca de informaes e fontes

    Para a coleta de informaes, foram utilizadas

    as tcnicas de pesquisa bibliogrfica e observao

    participante. Para o registro das informaes, foi

    utilizada a tcnica de dirios de campo.

    A pesquisa bibliogrfica uma tcnica que

    utiliza fontes bibliogrficas para coleta de

    informao e anlise (Gil, 1999). Nesta pesquisa,

    foram identificadas, nos sites do Centro de

    Referncias Tcnicas em Psicologia e Polticas

    Pblicas (CREPOP)5 e do CFP, as Referncias

    Tcnicas relacionadas atuao do psiclogo nos

    servios do SUAS, totalizando quatro Referncias

    que foram lidas e analisadas: CFP e CFESS (2007)

    e CFP (2007, 2011, 2013).

    A outra fonte de informao foram 12 dirios

    de campo, construdos a partir das reflexes da

    pesquisadora, durante a participao em eventos

    pblicos sobre o tema (seminrios, fruns, debates

    etc.), que reuniam diversos trabalhadores do SUAS

    de nveis de escolaridade mdio e superior. Dentre

    os profissionais com ensino superior, estavam

    presentes, principalmente, psiclogos e assistentes

    sociais que discutiam sobre o seu cotidiano de

    trabalho. Nesses encontros, era utilizada a tcnica

    de observao participante, que se caracteriza pela

    insero e interao do pesquisador no grupo, o

    qual pretende estudar, tendo como objetivo

    conhecer o grupo a partir dele mesmo (Gil, 1999;

    Queiroz, Vall, Souza, & Vieira, 2007). Para o

    registro e organizao das informaes levantadas

    nesses eventos, foi utilizado o Dirio de Campo,

    uma tcnica que visa a auxiliar o pesquisador na

    sistematizao e reflexo das informaes

    levantadas no campo. O Dirio de Campo a

    descrio, anlise e interpretao do pesquisador

    acerca do que foi observado e vivenciado (Montero,

    2006).

    Os 12 dirios de campo foram organizados e

    codificados no protocolo de organizao das fontes

    de informao de acordo com o local em que foi

    realizada a observao. Os seis dirios de campo

    decorrentes das observaes no Grupo de Trabalho

    do Conselho Municipal de Direitos da Criana e do

    Adolescente correspondem aos DC1.1 a DC1.6. Os

    dois dirios de campo advindos da Consulta Pblica

    do CREPOP so os DC2.1 e DC2.2. As duas

    reunies da Roda de Conversa do Conselho

    Regional de Psicologia (CRP) e do Conselho

    Regional de Servio Social (CRESS) so os DC3.1

    e DC3.2. E, finalmente, os dois ltimos dirios de

    campo, DC4.1 e DC4.2, foram elaborados a partir

    da participao no Frum Estadual de

    Trabalhadoras(es) do SUAS do estado de So

    Paulo.

    Procedimento de anlise

    Foi realizada a leitura do material (Referncias

    Tcnicas e Dirios de Campo) e utilizada a tcnica

    de anlise de contedo para apreenso de um

    5 O CREPOP um centro de pesquisa do CFP criado em 2006, que produz Referncias Tcnicas para orientar a atuao dos

    psiclogos que atuam em servios vinculados a polticas

    pblicas (CREPOP, 2013).

  • 89

    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    conjunto de temas e significados relacionados aos

    objetivos da pesquisa (Chizzotti, 2011).

    Posteriormente, foram construdas duas categorias

    que representam as unidades de anlises

    identificadas a partir dos sentidos obtidos dos

    registros das informaes. A primeira categoria,

    denominada Aes, identificou as atividades e prticas realizadas pelo psiclogo nos servios do

    SUAS; e a segunda categoria, nomeada

    Problemas, organizou as dificuldades e dilemas dos profissionais em relao ao seu exerccio

    profissional.

    Resultados e Discusso

    A apresentao e discusso dos resultados

    foram realizadas levando em conta as categorias de

    sentido formadas aps a releitura dos documentos

    gerados pela coleta das informaes tanto

    decorrentes da anlise das referncias tcnicas

    quanto das anotaes dos dirios de campo.

    Aes

    Foram identificadas sete aes realizadas pelo

    psiclogo no SUAS: Atendimentos Individuais;

    Intervenes grupais; Aes psicossociais;

    Trabalho Interdisciplinar; Articulaes coletivas e

    participao poltica; Registros de informaes; e

    Insero na comunidade.

    Os Atendimentos individuais renem uma

    srie de atividades do psiclogo de atendimento e

    escuta individual dos usurios e/ou famlias, dentre

    elas: psicoterapia, acolhimento, entrevistas, triagem

    e planto psicolgico. Tais atividades tm o intuito

    de acolher o usurio no servio, esclarecendo

    dvidas e possibilitando que o usurio conhea e se

    aproxime do servio.

    O fato de os profissionais realizarem atividades

    de atendimento individual no SUAS no representa,

    em si, um problema. No entanto, o que se evidencia

    nos dados analisados que h uma confuso entre atendimentos individuais para acolhida com

    psicoterapia (DC2.1). Muitas vezes, os atendimentos individuais para contato com a

    famlia e aprofundamento de compreenso dos

    casos so confundidos com a prtica de psicoterapia

    (CFP, 2011, 2013; CFP & CFESS, 2007).

    A pesquisa de Beato et al. (2011) identifica um

    problema da identidade profissional dos psiclogos

    que trabalham no SUAS, demonstrando que, muitas

    vezes, esses profissionais s se identificam como

    psiclogos quando realizam atendimento

    individual. Tal apontamento demonstra que a

    formao e a prtica profissional ainda so

    fortemente marcadas pelas prticas hegemnicas da

    psicologia, prticas essas que tendem a restringir a

    interveno ao atendimento individual e

    interpretaes subjetivas dos problemas trazidos

    pelos usurios.

    Segundo as referncias tcnicas (CFP, 2007,

    2013), o psiclogo no deve realizar a psicoterapia

    nos CRAS e CREAS. As prticas do psiclogo no

    SUAS devem estar voltadas para o conhecimento

    das necessidades, potencialidades e experincias da

    populao atendida, visando ao desenvolvimento da

    autonomia e cidadania. O que caracteriza o papel

    do psiclogo no SUAS o seu olhar para a

    dimenso subjetiva, ou seja, como cada sujeito se

    organiza e se apropria das condies sociais que o

    cercam e como vivencia essa realidade. Isso o que

    caracteriza a singularidade do sujeito, que no est

    deslocada do contexto histrico-cultural no qual ele

    se desenvolve. Nesse sentido, a singularidade e o

    contexto social so partes indissociveis da

    realidade e vo se construindo dinmica e

    relacionalmente no cotidiano dos usurios e da

    comunidade como um todo. Outra ao realizada

    pelo psiclogo so as Intervenes grupais, que

    contemplam as atividades que o psiclogo realiza

    em grupo, dentre elas: atendimentos familiares,

    atividades socioeducativas, oficinas, palestras,

    cursos profissionalizantes, grupos psicoteraputicos

    e grupos de convivncia, entre outros. O CFP

    (2007, 2013) ressalta a importncia das

    intervenes em grupos e justifica tal alternativa

    para que a reflexo e busca de estratgias, para

    resoluo dos problemas, sejam discutidas

    coletivamente, possibilitando espaos de

    participao e mobilizao social, e contribuindo

    para a organizao comunitria.

    Em um registro dos Dirios de Campo, a fala

    de um psiclogo exemplifica sua experincia com

    essa modalidade de interveno:

    Em uma das atividades com adolescentes em

    cumprimento de medidas socioeducativas, organizei

    os adolescentes em trs grupos: dois grupos seriam

    partidos polticos e o outro grupo seria o jri. Os

    grupos que eram partidos polticos tinham que

    levantar os problemas que eles vivenciavam na sua

    cidade, propor solues para estes problemas e

    defenderem suas propostas para o jri que, por sua

    vez, elegia as melhores solues e propostas

    apresentadas. (DC3.2)

    Consideramos que tal experincia revela uma

    interveno exitosa do psiclogo no SUAS, uma

    vez que rompe com as prticas tradicionalmente

    clnicas e individuais. Alm disso, tal tipo de

  • 90

    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    interveno favorece o processo de conscientizao

    dos usurios, fazendo-os refletir sobre sua

    realidade, perceber-se como parte dos

    acontecimentos sociais e polticos e vislumbrar

    possibilidades de ao diante dos problemas. Outra

    ao foi identificada nesta pesquisa como uma

    daquelas que podemos denominar como parte do

    grupo das Aes psicossociais. Nessa subcategoria,

    foram reunidas todas as atividades denominadas

    como psicossociais, dentre elas esto: anlise

    psicossocial, interveno psicossocial e

    acompanhamento psicossocial. A anlise

    psicossocial nos documentos examinados est

    relacionada ao conhecimento da realidade da

    comunidade e dos usurios. A interveno

    psicossocial e o acompanhamento psicossocial

    esto relacionados s aes realizadas por

    profissionais de diferentes reas com o intuito de

    conhecer o indivduo e/ou famlia identificando demandas explicitas e implcitas, levando em conta

    seu contexto social, cultural, a rede que acessa e/ou

    conta, as dificuldades vivenciadas, expectativas

    dentre outros aspectos (CFP, 2013, p. 68). As aes psicossociais, uma das principais

    intervenes do psiclogo no SUAS, refletem a

    compreenso de que os problemas que chegam aos

    servios trazem aspectos psicolgicos e sociais que

    esto inter-relacionados. Como discutido por

    Guzzo, Moreira e Mezzalira (2011), o termo

    psicossocial representa a integralidade do sujeito e

    cabe a todos os profissionais que trabalham no

    SUAS, independentemente de sua formao,

    compreender e intervir nos aspectos e dimenses

    psicossociais presentes no cotidiano de vida das

    pessoas usurias do sistema pblico. O que se

    percebeu nos registros de dirios de campo que os

    profissionais se remetem ao termo psicossocial para

    falar da interveno realizada pelo psiclogo

    juntamente com o assistente social: Somos a dupla psicossocial do servio (DC1.3). Essa foi a fala de uma psicloga para falar do acompanhamento de

    um caso que realizava juntamente com a assistente

    social do servio.

    O trabalho interdisciplinar uma prtica

    recorrente nos dois corpus de informao

    analisados. Nessa subcategoria, foram elencadas as

    aes que so planejadas e realizadas pelo

    psiclogo, juntamente com profissionais de outras

    reas, principalmente assistentes sociais. Dentre

    essas aes, esto: reunies de equipe, discusso de

    caso, visitas domiciliares, atendimentos em grupos

    e atendimentos individuais, dentre outras. O

    trabalho interdisciplinar possibilita que o psiclogo

    compartilhe as aes e demandas com tcnicos de

    outras reas com o intuito de desenvolver

    compreenses mais ampliadas e aes mais

    integrais (CFP, 2007, 2013). Outra ao

    identificada faz parte de um grupo que podemos

    denominar como Articulaes coletivas e

    Participao poltica. Nesse item, foram

    destacados alguns exemplos de aes, como

    participao nos espaos de controle social e

    organizao de seminrios para discusso de

    problemticas levantadas nos servios, dentre

    outras aes coletivas. Nos registros de dirio de

    campo, uma trabalhadora reflete acerca da

    importncia da articulao coletiva e engajamento

    poltico dos profissionais: Diante dos diversos problemas que a poltica de assistncia social vem

    enfrentando no municpio, o grande desafio a

    questo da participao efetiva no controle social (DC1.3).

    Tal exemplo demonstra o potencial de ao

    coletiva e poltica para o enfrentamento dos

    problemas, o que converge com os pressupostos da

    Psicologia Comunitria e Social da Libertao. E

    tambm vai ao encontro da afirmao de Raichelis

    (2010) de que a atuao no SUAS demanda, alm

    da formao terica e tcnica, a formao poltica

    do profissional.

    O registro de informaes tambm uma

    prtica cotidiana do trabalho do psiclogo no

    SUAS, pois o momento em que o profissional

    registra as informaes do usurio ou famlia

    atendida, identificando suas intervenes,

    acompanhamento e avaliaes do caso. O CFP

    (2013) levanta dois tipos de registro de informao:

    o registro nos pronturios e os relatrios tcnicos.

    Os relatrios tcnicos devem conter o

    acompanhamento e anlise do profissional em

    relao aos usurios, mas no deve se confundir

    com laudos periciais, sendo estes de

    responsabilidade das equipes do sistema judicirio

    (Brasil, 2011; CFP, 2013). Nessa categoria, tambm

    foram reunidas as atividades burocrticas realizadas

    pelo profissional como preenchimento de cadastros,

    relatrios dos programas governamentais e demais

    aes burocrticas solicitadas pela gesto.

    A ltima ao identificada refere-se insero

    na comunidade. Segundo o CFP (2007, 2013), a

    partir da insero na comunidade que o psiclogo

    ir conhecer o contexto no qual est inserido e

    identificar in loco as demandas a serem trabalhadas

    e as potencialidades a serem desenvolvidas na

    comunidade. Tal atividade envolve desde conversas

    informais com moradores e lideranas comunitrias

    at visitas domiciliares, que so momentos em que

    o profissional tem acesso e conhecimento das

    condies em que vivem as comunidades, famlias,

    sua dinmica, valores, problemas e potencialidades.

    Nesse sentido, as referncias apontam para a

    importncia do reconhecimento e valorizao do

  • 91

    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    saber popular para a construo conjunta das aes,

    visando a romper com a onipotncia do saber do

    profissional. Nos dirios de campo, a insero na

    comunidade apareceu, principalmente, por meio da

    realizao de visitas domiciliares para

    acompanhamentos dos casos (DC1.2).

    Consideramos que a insero na comunidade

    uma prtica essencial para atuao do psiclogo no

    SUAS e corrobora a proposta da Psicologia

    Comunitria e Psicologia Social da Libertao, que

    visam aproximao e fortalecimento das

    comunidades e rompimento com as prticas

    hegemnicas da rea (Martn-Bar, 1986/2011;

    Montero, 1999, 2004). A insero na comunidade

    possibilita que o profissional desconstrua seus

    preconceitos acerca da populao atendida e

    identifique estratgias de enfrentamento e

    superao criadas pela comunidade diante dos

    problemas, o que permite construir um trabalho

    com, e no para os usurios do SUAS.

    Problemas

    Foram identificados, nas referncias tcnicas e

    dirios de campo, cinco problemas: precarizao

    das condies de trabalho; dificuldade na

    articulao com a rede socioassistencial e demais

    polticas pblicas; ausncia de formao continuada

    e avaliao do trabalho; abuso de poder; falta de

    identidade com o SUAS; e desmobilizao dos

    trabalhadores.

    A Precarizao das condies de trabalho

    um problema recorrente em todo o material

    analisado, que est relacionado a vnculos de

    trabalho precarizados e/ou falta de infraestrutura

    dos servios. As queixas dos profissionais esto,

    principalmente, relacionadas a: falta de concursos

    pblicos; contrataes temporrias e terceirizao;

    baixos salrios; falta de isonomia profissional;

    nmero insuficiente de funcionrios; rotatividade

    de profissionais nos servios; acmulo e desvio de

    funes; falta de materiais para realizao das

    atividades; e falta de transporte para realizao de

    visitas domiciliares entre outros problemas tambm

    identificados em outras pesquisas sobre o tema

    (Beato et al., 2011; Macedo & Dimenstein, 2009,

    2012; Mollo, 2013; Moreira, 2008; Senra & Guzzo,

    2012; Yamamoto & Oliveira, 2010).

    No DC3.2, foi identificado o desvio de funo

    em que psiclogas so contratadas como

    trabalhadoras de nvel mdio, mas acabam

    exercendo a funo de profissionais de Psicologia:

    Sou contratada como educadora social, mas s vezes sou solicitada para fazer acolhimento e

    escuta psicolgica, mesmo sendo contratada e

    recebendo como educadora social (DC3.2).

    Esse problema revela a dificuldade de insero

    dos psiclogos nesse campo de trabalho, o que faz

    com que os mesmos se submetam a outros

    empregos que no exijam ensino superior. A

    precarizao das condies de trabalho permeia o

    cotidiano no s dos psiclogos, mas de todos os

    trabalhadores do SUAS, o que evidencia a

    contradio entre diretrizes propostas pela PNAS

    (Brasil, 2004), NOB-RH/SUAS (Brasil, 2006) e

    CFP (2007, 2011, 2013) e realidade vivenciada

    pelos trabalhadores e usurios.

    Outro problema identificado a dificuldade de

    Articulao com a rede socioassistencial e

    demais polticas pblicas. Esse problema revela

    que o princpio da intersetorialidade, orientado pela

    PNAS e Referncias Tcnicas do CFP, est longe

    de se efetivar. Apesar de as Referncias Tcnicas e

    Dirios de Campo apresentarem algumas iniciativas

    de intersetorialidade, efetivar essa diretriz ainda

    um desafio, pois h confuso acerca do papel de

    cada servio na rede socioassistencial e demais

    polticas pblicas. Muitas vezes, a intersetorialidade

    concebida pelos profissionais apenas como a

    prtica de encaminhamento e no apresenta uma

    articulao efetiva (CFP, 2013). E, ainda, como

    destacado por uma trabalhadora, registrado no

    DC1.2, diante dos vrios problemas que encontram

    no cotidiano do servio, os encontros para

    articulao com a rede so mais uma troca de

    cobranas do que construo de estratgias

    conjuntas:

    As equipes esto desistentes e resistentes e se

    encontram nas reunies de rede no mais para o

    enfrentamento dos problemas, mas para o

    afrontamento entre si. H uma falta de abertura para

    discusso, chegam com os discursos prontos e saem

    dessas reunies da mesma maneira que entraram.

    (DC1.2)

    A terceira subcategoria dos Problemas foi a

    ausncia de formao continuada e avaliao do

    trabalho, que reuniu queixas relacionadas falta de

    superviso, capacitaes e avaliao das aes. Na

    pesquisa realizada pelo CREPOP, 74,3% dos

    psiclogos entrevistados relatam que no foram

    realizadas avaliaes das aes que realizam no

    servio (CFP, 2013). Nos Dirios de Campo, os

    profissionais justificam a falta de reflexo das aes

    devido ao excesso de demanda: Quem est na prtica tem que responder com aes imediatas,

    muitas vezes sem a devida reflexo (DC1.5). Alm disso, no dirio de campo DC1.2, os participantes

    se queixam ainda de que, quando saem do seu

  • 92

    Ribeiro, M. E.; & Guzzo, R. S. L. Psicologia no Sistema nico de Assistncia Social (SUAS): reflexes crticas

    sobre aes e dilemas profissionais

    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    espao de trabalho para participarem de espaos de

    discusso e debate, tais atividades no so

    reconhecidas como parte de seu trabalho, o que

    tambm contraria as orientaes do CFP e do MDS

    acerca da importncia da educao permanente. Em

    relao a esse aspecto, uma trabalhadora do DC3.1

    faz a seguinte afirmao: Faltam espaos de reflexo acerca do trabalho, o trabalhador tem um

    pblico em situao de vulnerabilidade e

    explorao, mas ningum olha para a

    vulnerabilidade e condio de explorao do

    prprio trabalhador do SUAS. Essa afirmao traz, alm do problema da falta

    de avaliao do trabalho, a precarizao das

    condies de trabalho discutido anteriormente. Tal

    problema o tema da campanha lanada pelo

    Frum Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores

    do SUAS (FNTSUAS)6 no dia 21 de setembro de

    2013, cujo lema foi Nosso trabalho com direitos

    direito social para voc, que defende a contratao

    por concursos pblicos e luta contra a precarizao

    do trabalho no SUAS. Tal ao representa uma

    ao importante de mobilizao poltica dos

    trabalhadores.

    Outro problema levantado refere-se ao abuso

    de poder por parte dos gestores que impem aos

    profissionais algumas aes que no correspondem

    s diretrizes da PNAS e nem competem ao servio.

    Dentre esses problemas, foram identificados:

    prtica do clientelismo; assdio moral aos

    funcionrios; favorecimento de funcionrios que

    ocupam cargos de confiana sem terem o perfil ou

    conhecimento para exercerem a funo exigida ao

    cargo; e cooptao dos rgos de controle social,

    dentre outros problemas que contrariam os direitos

    sociais e interesses pblicos. Nos registros do

    DC3.2, o abuso de poder foi identificado quando

    alguns participantes discutiram sobre uma reunio

    de formao que participaram: Essas reunies so momentos em que as pessoas vo para engolir um

    prato que j est pronto e que eles no foram

    chamados para construir. Em outra reunio registrada no DC4.1, os

    trabalhadores tambm trouxeram diversas queixas

    relacionadas forma de realizao das

    Conferncias Municipais de Assistncia Social, em

    que os trabalhadores trazem a percepo de que as conferncias so feitas mais em cumprimento de

    tarefas do que para realmente efetivar a

    participao popular, uma vez que h pouca

    divulgao e informao aos usurios.

    6 O FNTSUAS tem um blog em que disponibiliza informaes

    sobre suas aes. O endereo online

    http://fntsuas.blogspot.com.br/

    O abuso de poder demonstra que, apesar de a

    assistncia social ser um direito social, como

    apresentado na Constituio, LOAS e PNAS, tal

    direito ainda est longe de se efetivar. A forma com

    que alguns profissionais e gestores concebem e

    executam o SUAS ainda est relacionada

    filantropia e prtica de clientelismo, como

    destacado por Mollo (2013). O abuso de poder

    demonstra tambm, conforme discutido por Bonfim

    (2010), que, muitas vezes, interesses privados so

    colocados como pblicos em detrimento das

    pessoas que deveriam ser beneficiadas com os

    servios.

    O ltimo problema apareceu apenas nos

    Dirios de Campo e remete Falta de Identidade

    com o SUAS e desmobilizao poltica dos

    trabalhadores, identificada no DC3.1:

    H uma baixa densidade poltica e identitria dos

    trabalhadores: no h uma identificao dos

    profissionais com a poltica de assistncia social,

    nem uma unio dos trabalhadores pela luta por seus

    direitos. Esses trabalhadores se ramificam entre

    pblicos/privados, estaduais/municipais, com ensino

    superior/mdio, se fragmentando e entrando em

    conflito entre si ao invs de se unirem para lutar

    pelas causas que tm em comum.

    Segundo essa trabalhadora, as dificuldades

    vivenciadas nos servios so comuns a todos os

    trabalhadores desse contexto e no a essa ou quela

    classe profissional. Por isso, a importncia de se

    articularem, coletivamente, contra os diversos

    problemas enfrentados.

    Outro aspecto que merece destaque a falta de

    identificao com o trabalho no SUAS e reflete

    tambm na identidade e mobilizao dos

    profissionais: Os trabalhadores se identificam como trabalhadores das ONGs e no do SUAS e a

    maioria dos psiclogos que eu conheo trabalham

    no SUAS por falta de opo e no por identificao

    com a demanda e espao de trabalho (DC3.2). Tal fala reflete que a terceirizao dos servios do

    SUAS contribui para a desmobilizao dos

    trabalhadores e revela tambm a falta de

    identificao dos psiclogos com o trabalho no

    SUAS. Alm disso, todos os problemas discutidos

    anteriormente com condies precrias de trabalho,

    abuso de poder, dificuldades de articulao com a

    rede socioassistencial e demais polticas pblicas e

    a falta de formao contribuem significativamente

    para a desmobilizao dos trabalhadores.

  • 93

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    Pesquisas e Prticas Psicossociais, 9(1), So Joo del-Rei, janeiro/junho 2014

    Concluso

    A insero do psiclogo no SUAS representa

    um avano na busca pela deselitizao e

    compromisso social da profisso. No entanto, a

    atuao do psiclogo nesse contexto traz desafios

    para a Assistncia Social e para a Psicologia. Os

    desafios da Assistncia Social contemplam a busca

    de alternativas para a superao de problemas que

    atingem todos os usurios e trabalhadores do

    SUAS, inclusive os psiclogos. Dentre eles,

    destacamos os seguintes: conseguir realizar de

    forma efetiva a intersetorialidade; romper com

    concepes assistencialistas e prticas clientelistas;

    efetivar o controle social; enfrentar a precarizao

    dos servios de vnculos de trabalho e infraestrutura

    dos servios; e efetivar as orientaes da NOB-RH

    SUAS. Esses problemas, como discutido

    anteriormente, esto relacionados criao e

    desenvolvimento das polticas sociais no sistema

    capitalista.

    J os desafios para a Psicologia referem-se ao

    desenvolvimento de uma cincia que corresponda

    s demandas do exerccio profissional do psiclogo.

    Na anlise das aes realizadas pelo psiclogo no

    SUAS, coexistiram aes que demonstram uma real

    mudana de perspectiva e inovao acerca da

    prtica do psiclogo, mas tambm se observam

    aes que refletem uma permanncia de velhas

    prticas e paradigmas da Psicologia tradicional.

    Dentre as aes que anunciam novas possibilidades,

    destacamos: os trabalhos em grupo, a insero na

    comunidade, trabalho interdisciplinar, participao

    poltica e intersetorialidade. Todas essas atividades

    demonstram um movimento de ampliar as

    compreenses e intervenes para alm do

    indivduo, buscando compreenses e aes mais

    integrais.

    Diante dessas anlises, percebem-se momentos

    de convergncia e discrepncia entre orientaes e

    aes do psiclogo no SUAS e reafirma-se a

    relevncia da Psicologia Social da Libertao e

    Psicologia Comunitria como referenciais tericos

    e metodolgicos da Psicologia que respondem

    adequadamente demanda de atuao do psiclogo

    nos servios do SUAS. Tal defesa deve-se ao

    carter epistemolgico dessas teorias que apontam

    para uma construo do conhecimento que seja com

    e para as pessoas que sofrem diretamente com os

    problemas da desigualdade social.

    Diante disso, uma vez que estamos em um

    momento histrico de grande expanso do nmero

    de psiclogos no SUAS, faz-se necessrio que os

    cursos de graduao em Psicologia atentem para a

    formao de um profissional que tenha

    conhecimento terico e tcnico, para atuar de forma

    adequada nesse contexto. Nessa perspectiva, o

    grande desafio para o psiclogo no SUAS

    desenvolver conhecimentos e prticas que

    promovam a mudana dentro de uma sociedade que

    favorea aes de manuteno. Por isso, preciso

    que se trabalhe tambm a conscientizao da

    prpria classe profissional desde a formao. Tal

    defesa corrobora a discusso de Raichelis (2010) de

    que a insero profissional, no campo da

    Assistncia Social, demanda uma formao terica,

    tcnica e poltica.

    Apesar da precarizao dos servios e

    condies de trabalho do profissional nesse

    contexto, a insero do psiclogo, nesses espaos,

    abre a possibilidade de trabalhar o fortalecimento e

    conscientizao das pessoas para reivindicarem

    seus direitos. nessa possibilidade que o psiclogo,

    enquanto trabalhador dos servios dessa poltica

    pblica, pode contribuir, tendo em vista essa

    realidade de conflitos e tenses que encontrar no

    seu exerccio profissional.

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