Ribeiro Pedro Figueiredo

86
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PEDRO MIRANDA DE FIGUEIREDO RIBEIRO Aplicação da Metodologia A3 como instrumento de melhoria contínua em uma empresa da indústria de linha branca. São Carlos 2012

Transcript of Ribeiro Pedro Figueiredo

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUO

    PEDRO MIRANDA DE FIGUEIREDO RIBEIRO

    Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de

    melhoria contnua em uma empresa da indstria de linha

    branca.

    So Carlos

    2012

  • 2

    PEDRO MIRANDA DE FIGUEIREDO RIBEIRO

    Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de

    melhoria contnua em uma empresa da indstria de linha

    branca.

    Trabalho de concluso de curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produo da Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Engenheiro de Produo Mecnica.

    rea de Concentrao: Engenharia de Produo

    Orientador: Prof. Dr. Kleber Francisco Esposto

    So Carlos

    2012

  • 3

    Resumo

    RIBEIRO, P. M. F. Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de melhoria

    contnua em uma empresa da indstria de linha branca. Trabalho de concluso

    de curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produo da Escola de

    Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.

    Uma das problemticas observadas nas organizaes o modo no qual o conceito

    de melhoria contnua integrado rotina do trabalho. Desde os anos 50 esta

    preocupao vem ganhando espao ao passo que os conceitos de qualidade so

    integrados em todos os nveis organizacionais. Neste cenrio, a presente

    monografia visa apresentar o uso da metodologia A3 como ferramenta para relato e

    resoluo de problemas. O pensamento A3, oriundo da Toyota, foi adotado como

    objeto de estudo devido ao seu poder de sustentao da sistemtica PDCA e a

    filosofia Lean, intrnsecos. Para anlise e reflexo do uso da metodologia A3, esta foi

    aplicada em uma indstria da linha branca por meio de uma pesquisa-ao. Neste

    estudo, buscou-se a reduo da no qualidade dos produtos por meio de propostas

    de melhoria nos processos de Gesto da Qualidade da empresa.

    Palavras-chaves: Pensamento A3, Gesto da Qualidade, Produo Enxuta.

  • 4

    Abstract

    RIBEIRO, P. M. F. Application of the A3 Methodology as a tool for continuous

    improvement in a company of the white goods industry. Graduation work

    submitted to the Department of Production Engineering of the Engineering School of

    So Carlos, University of So Paulo.

    One of the issues observed in organizations is the way in which the concept of

    continuous improvement is integrated into the work routine. Since the 50s this

    concern has been gaining space whereas the quality concepts are integrated into all

    organizational levels. In this scenario, the present paper aims to present the A3

    methodology as a tool for report and problem solving. The A3 thinking, arising from

    Toyota, was adopted as object of study due to its power to sustain the PDCA

    systematically and the Lean philosophy, inherent in its construction. For analysis and

    reflection of the usage of the A3 methodology, this one was applied in an industry of

    the white goods by means of an action-research. The aim of this study was to find a

    reduction of the non-quality of the products by proposal of improvement in the

    processes of Quality Management of the company.

    Keywords: A3 Thinking, Quality Management, Lean Manufacturing.

  • 5

    Lista de Figuras

    FIGURA 01 - A TRILOGIA DE JURAN. .............................................................................. 14 FIGURA 02 - INTER-RELAO ENTRE O CONCEITO DE QUALIDADE, GESTO DA QUALIDADE E

    ELEMENTOS QUE A COMPEM. ................................................................... 16 FIGURA 03 - O CICLO DE CONTROLE. ............................................................................. 19 FIGURA 04 - VISO GERAL DA GARANTIA DA QUALIDADE NO PROCESSO. ........................... 20 FIGURA 05 - CONTRAMEDIDAS DE PREVENO CONTRA A REINCIDNCIA DE ANOMALIAS DE

    ACORDO COM HOSOTANI. .......................................................................... 22 FIGURA 06 - "4 PS" DO MODELO TOYOTA. ..................................................................... 29 FIGURA 07 - PROCESSO DE SOLUO PRTICA DE PROBLEMAS DA TOYOTA. ..................... 33 FIGURA 08 - CONJUGAO DOS CICLOS DE MANUTENO E MELHORIA QUE COMPEM O

    MELHORAMENTO CONTNUO. ...................................................................... 34 FIGURA 09 - MODELO A3 ............................................................................................. 35 FIGURA 10 - PROCESSO DE SOLUO PRTICA DE PROBLEMA ......................................... 40 FIGURA 11 - MTODOS DE TOMADA DE DECISO DA TOYOTA. .......................................... 45 FIGURA 12 - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ................................................................... 47 FIGURA 13 - CICLO DE PESQUISA-AO ......................................................................... 50 FIGURA 14 - RELATRIO A3 DE 10/08/2010 .................................................................. 57 FIGURA 15 - RELATRIO A3 DE 31/08/2010 .................................................................. 64 FIGURA 16 - RELATRIO A3 DE 14/09/2010 .................................................................. 69 FIGURA 17 - RELATRIO A3 DE 06/10/2010 .................................................................. 72 FIGURA 18 - PROPOSTA MAQ ...................................................................................... 76 FIGURA 19 - PROPOSTA ANDON .................................................................................... 78 FIGURA 20 - FLUXO DO HELP CHAIN .............................................................................. 80

  • 6

    Lista de Tabelas

    TABELA 1 - VARIVEIS QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DO INSPETOR. ................... 24 TABELA 2 - TEORIAS CLSSICAS DE MOTIVAO E O MODELO TOYOTA. ............................ 26

  • 7

    Lista de Siglas

    CIQ Central de Informaes da Qualidade

    FPY First Pass Yield

    IRC ndice de Reclamao de Clientes

    LAP Laboratrio de Anlise de Produto

    MAQ Matriz de Auto-Qualidade

    OS Ordem de Servio

    PPM Partes por milho

    QRQC Quick Response Quality Control

    STP Sistema Toyota de Produo

    T/C Tempo de ciclo

  • 8

    Sumrio

    Resumo ....................................................................................................................... 3

    Abstract ....................................................................................................................... 4

    Lista de Figuras ........................................................................................................... 5

    Lista de Tabelas .......................................................................................................... 6

    Lista de Siglas ............................................................................................................. 7

    Sumrio ....................................................................................................................... 8

    1. Introduo .......................................................................................................... 10

    1.1. Contextualizao e Justificativa .............................................................. 10

    1.2. Formulao do Problema e Objetivos da Pesquisa ............................... 10

    1.3. Organizao do Texto ............................................................................... 11

    2. Reviso Bibliogrfica .......................................................................................... 12

    2.1. Gesto da Qualidade ................................................................................ 12 2.1.1. Origem e Definio .................................................................................. 12

    2.1.1.1. Gurus da Qualidade ......................................................................... 12 2.1.1.2. Definio da Qualidade .................................................................... 15 2.1.1.3. Nveis de Gesto .............................................................................. 16

    2.1.2. Custos de Qualidade ............................................................................... 17 2.1.2.1. Categorias ........................................................................................ 18

    2.1.3. Controle da Qualidade ............................................................................. 18 2.1.3.1. Anlise de Anomalia ......................................................................... 19 2.1.3.2. Inspeo e Erros .............................................................................. 23

    2.1.4. Desenvolvimento de Equipes .................................................................. 24 2.1.4.1. Teorias da Motivao ....................................................................... 25

    2.2. Sistema Toyota de Produo ................................................................... 27 2.2.1. Jidoka ...................................................................................................... 29 2.2.2. 5s ............................................................................................................. 30 2.2.3. Melhoria Contnua ................................................................................... 31 2.2.4. Relatrio A3 ............................................................................................. 34

    2.2.4.1. Os 7 Elementos do Pensamento A3 ................................................ 36 2.2.4.2. Metodologia A3 ................................................................................ 39 2.2.4.3. Pr-requisitos para uma Reunio Eficiente ...................................... 44 2.2.4.4. Tomada de Deciso ......................................................................... 44

    3. Desenvolvimento do Trabalho ............................................................................ 47

    3.1. Caracterizao da Empresa ..................................................................... 47 3.1.1. Estrutura Organizacional Envolvida ......................................................... 47

    3.2. Metodologia de Pesquisa ......................................................................... 48 3.2.1. Classificao da Pesquisa ....................................................................... 48 3.2.2. Planejamento da Pesquisa ...................................................................... 49

    3.2.2.1. Pr-passo (contexto e proposta) ...................................................... 51 3.2.2.2. Seis-passos principais ...................................................................... 52 3.2.2.3. Meta-passo para monitoramento ...................................................... 54

  • 9

    3.3. Relato e Anlise do Desenvolvimento da Pesquisa ............................... 54 3.3.1. Ciclo 1 Primeiro contato ....................................................................... 55

    3.3.1.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 55 3.3.1.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 60

    3.3.2. Ciclo 2 Avanos na anlise .................................................................. 63 3.3.2.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 63 3.3.2.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 66

    3.3.3. Ciclo 3 Comunicao ............................................................................ 68 3.3.3.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 68 3.3.3.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 70

    3.3.4. Ciclo 4 Amadurecimento do pensamento ............................................. 71 3.3.4.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 71 3.3.4.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 73

    3.4. Propostas Geradas pelo A3 ..................................................................... 73

    4. Consideraes Finais e Concluso .................................................................... 82

    5. Referencias Bibliogrficas .................................................................................. 84

  • 10

    1. Introduo

    1.1. Contextualizao e Justificativa

    Nas ltimas dcadas, mudanas de paradigma na relao indstria e cliente

    vem exigindo das corporaes o reposicionamento das estratgias e mudanas na

    cultura de seus negcios. Uma vez que diversas empresas esto inseridas no

    mercado e dispe de produtos semelhantes, estratgias de liderana em custo no

    so suficientes para a atrao de novos clientes, colocando a Qualidade como fator

    de diferenciao competitiva para a conquista dos mercados de consumo.

    A busca pela Qualidade vem mostrando avanos desde o fim da Segunda

    Guerra Mundial, principalmente pelos modelos de Gesto da Qualidade propostos

    pelos Japoneses na dcada de 70. No mesmo perodo, surge a Toyota, empresa

    que hoje carrega junto a sua imagem o conceito de Qualidade. Pode-se dizer que tal

    imagem foi construda em paralelo ao sistema Lean de produo desenvolvido pelos

    mesmos, que hoje dito como uma das tendncias corporativas, tendo como uma

    de suas principais caractersticas a busca incessante pela melhoria contnua.

    A construo de um modelo industrial voltado a melhoria contnua traz

    consigo a cobrana por projetos e performance, e consequentemente a cobrana

    por resultados. Adiciona-se a esta realidade a exigncia por profissionais

    empreendedores em todos os nveis organizacionais das empresas, de maneira a

    alimentar suas reas de trabalho com novas ideias e propostas.

    Apresentada esta situao, o TCC tem como objetivo ilustrar o uso do

    relatrio A3 como ferramenta de modelagem do pensamento em um caso ocorrido

    em uma indstria do segmento de linha branca, que tinha como objetivo a

    elaborao de propostas para a melhoria da gesto da qualidade.

    1.2. Formulao do Problema e Objetivos da Pesquisa

    Uma vez atuando nas aes de gesto da qualidade de uma indstria do

    segmento de linha branca, o autor/pesquisador teve como atividade gerar uma

    proposta de melhoria de qualidade que resultasse na reduo da no qualidade dos

    produtos percebidos em campo, tendo os processos internos de fabricao como

    seu escopo de atuao.

  • 11

    Este observao inicial resultou no seguinte problema de pesquisa, ilustrado

    pela questo: Como chegar a uma proposta de melhoria de qualidade nos processos

    internos de fabricao de uma indstria de linha branca? Com este questionamento

    deu-se incio a elaborao do presente trabalho.

    Para a resoluo desta problemtica a mentalidade A3 para gerenciamento

    foi escolhida para o estudo deste trabalho. Desta forma, o presente estudo tem

    como objetivo relatar e refletir sobre o uso da metodologia A3 na reduo da no

    qualidade por meio de uma pesquisa-ao empregada em uma indstria de linha

    branca, em um caso de gesto da qualidade.

    1.3. Organizao do Texto

    O texto do Trabalho de Concluso de Curso est distribudo em cinco

    captulos. O primeiro deles a parte introdutria do trabalho, que apresenta de

    forma sucinta, o contexto, justificativa, formulao do problema e objetivos,

    ilustrando as motivaes do presente trabalho.

    O segundo captulo traz uma reviso bibliogrfica com informaes

    pertinentes ao entendimento do campo semntico tratado na pesquisa-ao. Os

    temas abordados so relacionados ao ambiente de atuao da pesquisa e os

    conceitos estudados durante a realizao desta, tendo destaque para conceitos de

    Gesto da Qualidade, Sistema Toyota de Produo e Pensamento A3.

    Em complementao ao captulo 2, o terceiro captulo tem como objetivo

    demonstrar como a aplicao do estudo foi desenvolvido pelo autor. Tal explanao

    se d por meio de uma breve caracterizao da empresa na qual o estudo foi

    realizado, seguido do relato das atividades realizadas durante o mesmo. Ainda neste

    captulo, quatro ciclos do desenvolvimento do pensamento A3 so analisados com o

    fim de reflexo e aprendizado.

    O quarto captulo, responsvel pelo fechamento do trabalho, so encontradas

    reflexes crticas, contribuies e consideraes finais da investigao empregada.

    Por ultimo, tem-se o capitulo cinco, no qual apresentada toda a bibliografia

    utilizada de fonte para o desenvolvimento deste trabalho.

  • 12

    2. Reviso Bibliogrfica

    2.1. Gesto da Qualidade

    Os conceitos de qualidade vm sofrendo mudanas constantes ao longo das

    ultimas quatro dcadas, tornando-se fora vital para as indstrias. A qualidade saiu

    de um patamar secundrio, que visava apenas aspectos tcnicos - aes

    operacionais focadas em pequenas melhorias de processos - para um nvel

    estratgico, crucial para a competitividade das empresas. Essas mudanas

    decorrem da nova viso mercadolgica aderida ao longo destes anos, no qual o

    cliente assume a figura central dos objetivos da qualidade por meio de requisitos

    para produtos e servios.

    2.1.1. Origem e Definio

    No passado, a qualidade dependia daquele que o produzia, no caso o arteso,

    porm este sabia que a reputao e comercializao de seus produtos dependiam

    da satisfao de seus clientes. Com a Revoluo Industrial no incio do sculo XX, e

    o advento da produo em massa, iniciou-se a prtica de inspeo do produto. Nos

    anos seguintes, novos conceitos de qualidade surgiram, mas foi na dcada de 50

    que a gesto da qualidade tomou fora a partir de novas filosofias, conceitos e

    tcnicas propostas pelos Gurus da Qualidade.

    2.1.1.1. Gurus da Qualidade

    Muitos tericos ajudaram a construir o que chamamos hoje em dia de

    qualidade, porm alguns tiveram um papel crucial, contribuindo com suas ideias,

    de tal forma que foram intitulados de gurus da qualidade.

    W. Edwards Deming

    Um dos mais reconhecidos e influentes pioneiros da qualidade no Japo e

    Estados Unidos, Deming teve como grande contribuio o ciclo PDCA e os

    conceitos filosficos e culturais da qualidade, conhecidos por 14 pontos de Deming,

    descritos a seguir (CARPINETTI, 2010):

  • 13

    I. Busque constantemente a melhoria do produto e do servio, objetivando a

    competitividade, a sustentabilidade do negcio e a gerao de empregos.

    II. Faa com que a administrao tenha liderana, assuma novos desafios e

    responsabilidades; uma mudana de filosofia.

    III. No faa da inspeo o seu nico meio para atingir a qualidade.

    Qualidade deve ser incorporada em toda empresa.

    IV. No priorize negcios baseando-se apenas nos oramentos.

    V. Diminua os custos ao mesmo tempo em que melhora a qualidade e a

    produtividade.

    VI. D treinamento no local de trabalho.

    VII. Estabelea a liderana. Fazer com que pessoas e mquinas trabalhem

    melhor papel da liderana.

    VIII. Elimine o medo entre os trabalhadores. Torne o ambiente mais eficaz para

    o trabalho.

    IX. Quebre as barreiras entre os departamentos. As pessoas devem trabalhar

    em equipe.

    X. Elimine slogans, exortaes e metas numricas para a fora de trabalho.

    Evite um ambiente adverso.

    XI. Elimine quotas numricas e gerenciamento por objetivos. Substitua por

    liderana.

    XII. Remova as barreiras que impedem os trabalhadores de sentirem

    satisfao e orgulho pelo seu trabalho.

    XIII. Promova um forte programa de educao, treinamento e auto melhoria.

    XIV. Faa da transformao um trabalho de todos.

    Joseph M. Juran

    Semelhante a Deming, Juran tambm realizou trabalhos no Japo e Estados

    Unidos. Um de seus trabalhos, a Espiral do Progresso da Qualidade, mostra o

    aspecto evolutivo do cliente medida que informaes so coletadas e

    retroalimentadas ao ciclo produtivo (CARPINETTI, 2010). Outra contribuio valiosa

    foi a Trilogia de Juran (Figura 1), composto pelo planejamento da qualidade, que

    estabelece os objetivos de desempenho e o plano de aes para atingi-los; o

    controle da qualidade, que consiste em avaliar o desempenho operacional e intervir

  • 14

    quando necessrio; e a melhoria da qualidade, que busca aperfeioar os processos

    e produtos da empresa para novos nveis (CARVALHO et al., 2005).

    Planejamento da

    Qualidade

    Controle da Qualidade (durante a execuo do

    trabalho)

    Zona Original do Controle

    da Qualidade

    Nova Zona do

    Controle da

    Qualidade

    Pico de

    Natureza

    Aperfeioamento

    da Qualidade

    Desperdcio de

    Natureza Crnica

    Tempo

    Porc

    enta

    gem

    de D

    efe

    itos

    Inc

    io d

    a E

    xecuo

    do T

    rabalh

    o

    40

    20

    0

    Figura 1 - A Trilogia de Juran. Fonte: JURAN (1991, p.20)

    Philip B. Crosby

    Seu programa de Zero Defeito, que tinha um forte apelo gerencial e

    motivacional em fazer certo na primeira vez, tornou-o um dos gurus da qualidade.

    Assim como Deming, Crosby possui seus prprios 14 pontos de qualidade

    (CARVALHO et al., 2005):

    I. Obter da alta gesto o compromisso com a qualidade.

    II. Promover equipes de melhoria da qualidade em todos os setores.

    III. Utilizar indicadores da qualidade na identificao de oportunidades de

    melhorias.

    IV. Levantar os diversos custos da qualidade ou decorrentes da m qualidade.

    V. Disseminar e conscientizar para toda a empresa a importncia da qualidade

    nos produtos e servios.

    VI. Implantar o sistema de ao corretiva.

    VII. Planejar o programa zero defeito.

  • 15

    VIII. Treinar os supervisores e demais responsveis.

    IX. Criar o dia do zero defeito.

    X. Definir metas e objetivos a serem alcanados.

    XI. Erradicar as causas de erros.

    XII. Valorizar e reconhecer publicamente os funcionrios e equipes que atingem

    os objetivos. No envolva dinheiro no reconhecimento.

    XIII. Instaurar crculos de qualidade para monitorar o processo.

    XIV. Buscar a melhoria continua atravs da reviso constante dos itens anteriores.

    Kaoru Ishikawa

    Ishikawa foi importante na difuso de ferramentas e tcnicas de anlise e

    solues de problemas de gerenciamento da rotina; em especial as setes

    ferramentas da qualidade: anlise de Pareto; diagrama de causa-efeito; histograma;

    folhas de controle; diagramas de escada; grficos de controle e fluxos de controle

    (CARVALHO et al., 2005).

    2.1.1.2. Definio da Qualidade

    Qualidade um termo usado tanto na indstria quanto no cotidiano, sendo

    encontrados mltiplos sentidos para o seu significado. Juran (1991) define qualidade

    por meio de dois significados:

    A qualidade consiste nas caractersticas do produto que vo ao encontro das

    necessidades dos clientes, e dessa forma proporcionam a satisfao em

    relao ao produto.

    A qualidade a ausncia de falhas.

    Juran (1991) complementa que a funo qualidade o conjunto das

    atividades por meio do qual atingimos a adequao ao uso, no importando em que

    parte da organizao essas atividades so executadas. J Carpinetti (2010)

    conceitua qualidade como satisfao dos clientes. Esta definio contempla

    adequao ao uso ao mesmo tempo em que contempla conformidade com as

    especificaes do produto.

    A satisfao do cliente quanto qualidade de um produto, segundo Carpinetti

    (2010), depende da qualidade percebida, que a relao entre expectativa sobre o

  • 16

    produto no momento da aquisio e a perspectiva adquirida sobre o produto no

    momento do consumo.

    2.1.1.3. Nveis de Gesto

    Apesar das varias definies dadas qualidade, faz-se necessrio trazer este

    conceito para o mbito organizacional. Carvalho et al. (2005) ilustra por meio da

    Figura 2 as inter-relaes entre o conceito de qualidade, gesto da qualidade e

    elementos que a compem.

    estabelecer os objetivos, processos e recursos para

    cumprir os objetivos da qualidade

    cumprir os objetivos e

    requisitos da qualidade

    prover confiana que os requisitos da

    qualidade so cumpridos

    GESTO DA QUALIDADE

    atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organizao com relao

    qualidade

    QUALIDADE

    habilidade de um conjunto de caractersticas de um produto, processo ou sistema em atender aos

    requisitos dos clientes e outra partes interessadas

    aumentar a eficcia e

    eficincia

    Planejamento da

    Qualidade

    Controle da

    Qualidade

    Garantia da

    Qualidade

    Melhoria da

    Qualidade

    Figura 2 - Inter-relao entre o conceito de qualidade, gesto da Qualidade e

    elementos que a compem. Fonte: CARVALHO et al. (2005, p. 87)

    Segundo Carpinetti (2010) as atividades da gesto da qualidade no ciclo de

    vida do produto podem ser agrupadas em dois nveis de gesto:

    Nvel estratgico: Tem como objetivo tornar a empresa apta a atender os

    requisitos dos clientes ao mesmo tempo em que atinge resultados financeiros

    satisfatrios. As decises estratgicas de como competir no mercado devem

    guiar os esforos de melhoria da qualidade e reduo de desperdcios.

  • 17

    Nvel operacional: Tem como objetivo garantir que os atributos do produto e

    requisitos do cliente sejam atendidos. Ademais, deve-se buscar a reduo

    dos custos de no qualidade e outros desperdcios que geram ineficincia do

    sistema produtivo.

    2.1.2. Custos de Qualidade

    De acordo com Juran (1997), a expresso Custo de Qualidade um tanto

    quanto confusa, uma vez que inclui duas ideias distintas: os investimentos feitos

    para tornar os produtos vendveis e os desperdcios devido a deficincias. A fim de

    minimizar esta confuso, ele concentra-se no termo Custo de M Qualidade, e o

    define como sendo aqueles custos que desapareceriam se nossos produtos e

    processos fossem perfeitos.

    Qualidade e custo, fatores de competitividade entre as organizaes, so

    assuntos cada vez mais tratados com ateno pelas empresas. Carvalho et al.

    (2005) ressalta que em mercados cada vez mais competitivos, no suficiente ter a

    satisfao dos clientes, preciso ter a sua plena satisfao para poder fideliz-los.

    Estudos na Alemanha e nos Estados Unidos mostram que atrair um novo cliente

    custa em mdia, seis vezes mais do que manter um existente.

    Juran (1991) identifica quais so os principais motivos que levam as

    empresas a avaliarem os seus custos da qualidade, descrevendo-os em cinco

    objetivos fundamentais:

    I. Quantificar o tamanho do problema da qualidade em uma linguagem que

    tenha impacto sobre a alta administrao.

    II. Identificar as principais oportunidades para a reduo dos custos.

    III. Identificar as oportunidades para diminuir a insatisfao do consumidor e

    as respectivas ameaas facilidade de venda.

    IV. Expandir os controles oramentais e de custos.

    V. Estimular o aperfeioamento por meio de divulgao.

  • 18

    2.1.2.1. Categorias

    Os custos de qualidade so classificados de diferentes maneiras por

    diferentes autores. Juran (1991) resume estes custos em quatro grandes categorias:

    Custos de falhas internas: So custos associados aos defeitos no

    detectados antes da transferncia do produto ao consumidor. Estes custos

    desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos.

    o Sucata, retrabalho, analise de falhas, inspeo 100% para classificao,

    reinspeo, perdas evitveis de processo e desvalorizao.

    Custos de falhas externas: So custos associados aos defeitos que so

    encontrados aps a transferncia do produto ao consumidor. Estes custos

    desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos.

    o Despesas com garantia, correo das reclamaes, material devolvido e

    concesses.

    Custos de avaliao: So os custos incorridos das atividades de verificao

    do grau de conformidade com os requisitos de qualidade.

    o Inspeo e testes no recebimento, inspeo e testes durante o processo,

    inspeo e testes finais, auditorias de qualidade do produto, manuteno

    da preciso dos equipamentos, avaliao de estoques e servios e

    materiais para a inspeo e teste.

    Custo de preveno: So os custos incorridos para manter em nveis mnimos

    os custos de falha e de avaliao.

    o Planejamento da qualidade, anlise dos produtos novos, planejamento de

    processos, controle de processo, auditoria da qualidade, avaliao da

    qualidade do fornecedor e treinamento.

    2.1.3. Controle da Qualidade

    O controle da qualidade consiste em um processo regulador pelo qual o

    desempenho real da qualidade medido e comparado com os objetivos da

    qualidade, tendo como consequncia uma ao sobre a diferena. A esta srie

    universal de etapas dado o nome de Ciclo de Controle (Figura 3). O ciclo comea

    com a definio do assunto que deve ser regulado. Posteriormente, um padro

    estipulado como referncia para controle. Um sensor faz a aferio das medidas e

  • 19

    um avaliador compara o desempenho real com o objetivo. Caso o desempenho real

    no atenda o objetivo, so acionados meios para estabelecer o status quo (JURAN,

    1991).

    Para Juran (1997), existem quatro nfases distintas de controle. A primeira

    nfase o controle de partida de uma operao, que consiste em apertar ou no o

    boto da partida. A segunda o controle de operao, que ocorre durante a

    operao do processo, e tem como finalidade tocar ou parar o processo. A terceira

    o controle de produto, que s ocorre aps certa quantidade de produtos j terem

    sido fabricados, e tem como finalidade decidir se o produto esta ou no conforme.

    Por ltimo existe a nfase em controle de instalaes, que consiste na manuteno

    das instalaes fsicas como equipamentos, instrumentos e ferramentas.

    2.1.3.1. Anlise de Anomalia

    Por melhores que sejam as condies de trabalho, sempre ter uma parcela

    da produo que no atender as especificaes, o defeito zero impossvel.

    Portanto, cabe a ns reduzirmos a disperso dos resultados. Campos (2004)

    propem uma viso geral da garantia da qualidade baseada no diagrama de causa-

    efeito de Ishikawa (Figura 4), criando um critrio que prioriza as necessidades das

    pessoas, os padres de trabalho e a melhoria contnua.

    Figura 3 - O ciclo de controle. Fonte: JURAN (1991, p. 226)

  • 20

    Figura 4 - Viso geral da garantia da qualidade no Processo. Fonte: CAMPOS (2004, p. 140)

    O f

    luxogra

    ma

    det

    alhad

    o d

    o

    pro

    cess

    o

    pe

    a fu

    nd

    amen

    tal

    par

    a a

    gar

    anti

    a d

    a qual

    idad

    e.

    Mat

    ria

    s-P

    rm

    asE

    quip

    amen

    tos

    Info

    rma

    es

    Cond

    ies

    A

    mbie

    nta

    isP

    esso

    asP

    roce

    dim

    ento

    s

    Pro

    du

    to

    As

    cond

    ies

    am

    bie

    nta

    is

    dev

    em s

    er e

    spec

    ific

    adas

    :

    po

    eira

    , te

    mper

    atura

    , um

    idad

    e,

    etc.

    4A

    s pes

    soas

    dev

    em e

    star

    tr

    einad

    as e

    est

    a

    capac

    ita

    o d

    eve

    ser

    aud

    itad

    a.

    56

    Os

    pro

    ced

    imen

    tos

    dev

    em e

    star

    pad

    roniz

    ados

    e o t

    rabal

    ho d

    eve

    esta

    r co

    nfo

    rme

    os

    pad

    res

    .

    O p

    rod

    uto

    dev

    e at

    end

    er

    s es

    pec

    ific

    aes

    den

    tro d

    a m

    xim

    a

    confi

    abilid

    ade

    econm

    ica

    vi

    vel

    .O

    s pro

    ced

    imen

    tos

    de

    insp

    eo

    dev

    em s

    er a

    ud

    itad

    os.

    7

    Os

    inst

    rum

    ento

    s d

    e m

    edid

    a d

    evem

    ser

    afe

    rid

    os

    per

    iod

    icam

    ente

    .Est

    a af

    eri

    o

    dev

    e se

    r au

    dit

    ada.

    3

    Inte

    rrup

    es p

    rovoca

    m

    var

    ia

    es e

    def

    eito

    s.

    Os

    equip

    amen

    tos

    no

    dev

    em

    par

    ar.M

    anute

    n

    o p

    ara

    mx

    ima

    confi

    abilid

    ade

    e d

    isponib

    ilid

    ade.

    A

    man

    ute

    n

    o d

    eve

    ser

    aud

    itad

    a.

    2

    Os

    forn

    eced

    eres

    dev

    em

    ser

    aud

    itad

    os

    em s

    eus

    sist

    emas

    da

    qual

    idad

    e.

    1

  • 21

    Qualquer desvio das condies normais de operao uma anomalia e exige

    uma ao corretiva. Porm, o que se v nas indstrias brasileiras que os nveis

    operacionais e de superviso no tem o conhecimento de suas prprias funes ao

    se deparar com uma anomalia (CAMPOS, 2004).

    Segundo Campos (2004), a funo do operador cumprir procedimentos

    operacionais padro, para a sua prpria segurana e bem-estar, para a satisfao

    dos seus clientes e para a garantia da sobrevivncia da empresa. Caso ocorra uma

    anomalia (tanto as boas quanto as ruins) o operador deve relat-la aos supervisores.

    Aos supervisores cabem trs papis em seu trabalho: verificar o cumprimento

    dos procedimentos operacionais padro e treinar seus operadores, conduzir o

    tratamento de anomalias (Figura 5) e ajudar a resolver os problemas da gerncia

    (CAMPOS, 2004).

  • 22

    Reescreva o padro em conformidade

    com o mtodo atual

    Reescreva o padro usando diagramas e

    figuras para fcil

    compreeno

    Reveja o padro sob o ponto de vista

    tcnico

    No est numa forma utilizvel

    Os operadores tm dificuldade em

    entender

    No prtico ou no conduz a bons

    resultados

    O Procedimento Padro

    apropriado?

    Existe Procedimento

    Padro?

    Prepare um procedimento operacional padro e garanta que todos os operadores

    sejam treinados

    Investigue a Causa

    432

    1

    Remova o Sintoma

    Ocorrncia de Anomalia

    O Procedimento Padro estava

    sendo cumprido?

    Os operadores no compreendem o

    padro

    Os operadores no possuem habilidade

    para cumprir o padro

    Os operadores nosentem necessidade

    de cumprir o padro

    As condies de trabalho so

    inadequadas

    Procedimento fcil de errar ou equipamento

    complicado

    Treine os operadores de acordo com os

    padres

    D treinamento tcnico aos operadores ou os

    recoloque para

    trabalhos diferentes

    Instrua e guie os operadores a cumprir

    padres

    Melhore as condies de trabalho

    Melhore os mtodos de trabalho, introduzindo

    mecanismos prova de

    erro

    7 8 965

    No

    No

    No

    Sim

    Sim

    Sim

    Figura 5 - Contramedidas de preveno contra a reincidncia de anomalias de

    acordo com Hosotani. Fonte: CAMPOS (2004, p. 68)

  • 23

    2.1.3.2. Inspeo e Erros

    De acordo com Juran e Gryna (apud JURAN, 1992), os inspetores devem

    estar preparados para tomar trs decises cardiais para poder determinar a

    disposio de um produto com base em sua qualidade:

    Deciso sobre conformidade Para julgar se o produto est de acordo com

    as especificaes.

    Deciso sobre adequao ao uso Para decidir se um produto no conforme

    adequado ao uso.

    Deciso sobre comunicao Para decidir o que deve ser comunicado para

    as pessoas de dentro e de fora.

    Juran (1992) afirma que a eficcia da inspeo depende do comportamento

    do inspetor. Por ser um processo que depende da deciso individual em diversos

    momentos, a inspeo est merc do erro humano. A Tabela 1 mostra os fatores

    que apresentam um efeito inter-relacionado na eficincia, produtividade,

    confiabilidade e exatido do inspetor.

    Deve-se salientar que os erros dos inspetores encontram-se em cerca de

    20% do todo inspecionado, ou seja, pode-se garantir 80% de acurcia na inspeo

    (JURAN, 1992). Para classificar esses erros, Juran (1992) prope uma classificao

    dos erros dos inspetores em trs categorias:

    Erro tcnico Falta de aptido para o trabalho; falta de conhecimento devido

    educao ou treinamento profissional insuficiente; falta de habilidade

    devido ausncia de talento natural ou do macete para realizar o trabalho.

    Erro no-intencional No momento em que o erro cometido, o inspetor nem

    mesmo percebe que est cometendo um erro.

    Erro consciente Fraude, simplificao, esquiva e arredondamento.

  • 24

    Tabela 1- Variveis que influenciam o comportamento do inspetor. Fonte: JURAN (1992, p. 135)

    2.1.4. Desenvolvimento de Equipes

    Parte do sucesso da Toyota referncia em trabalho em equipe ocorre

    devido ao equilbrio entre o trabalho individual e o trabalho em equipe, e entre a

    excelncia individual e a eficincia em equipe. Todos entendem a importncia do

    trabalho, porm h conscincia de que as equipes no realizam o trabalho com

    agregao de valor, e sim os indivduos. Cabe s equipes coordenarem o trabalho,

    as reunies e sugerir novas ideias, porm frequentemente o trabalho detalhado

    realizado na individualidade. Por esse motivo deve-se dar importncia na triagem

    dos futuros funcionrios, pois somente com indivduos excelentes sairo equipes

    excelentes (LIKER, 2005).

  • 25

    Blanchard, Carew e Parise-Carew (apud LIKER, 2005), defendem a premissa

    de que os grupos de trabalho necessitam de um tempo para o seu desenvolvimento;

    no se pode criar altas expectativas ao reunir excelentes profissionais em um curto

    espao de tempo. Blanchard descreve quatro estgios do desenvolvimento de uma

    equipe:

    Estgio 1: Orientao Sob forte orientao de um lder, o grupo deve

    entender a misso bsica, as ferramentas que sero utilizadas e as regras de

    envolvimento.

    Estgio 2: Insatisfao Aps o incio do trabalho os indivduos ainda sentem

    a necessidade de orientao, ainda no compreendem a dinmica social e

    percebem as dificuldades do trabalho.

    Estgio 3: Integrao Comea o esclarecimento do papel de cada um no

    grupo e dos processos. No se faz mais necessria a presena constante do

    lder.

    Estgio 4: Produo O grupo tem conscincia de suas prprias tarefas e

    funciona em alto desempenho.

    2.1.4.1. Teorias da Motivao

    Na literatura encontramos uma vasta gama de tericos e suas teorias da

    motivao humana. No h como dizer que existe uma teoria mais correta, durante

    as atividades dos trabalhadores todos os conceitos ditados pelos tericos podem

    estar presentes ao mesmo tempo, como tambm podem estar ausentes, depende

    muito do contexto em que o grupo esta inserido. Na Toyota pode-se observar a

    presena do conceito de cinco grandes tericos, conforme descrito na Tabela 2

    (LIKER, 2005).

  • 26

    Tabela 2 - Teorias clssicas de motivao e o Modelo Toyota. Fonte: LIKER (2005, p. 196)

    De acordo com Campos (2004) a motivao ou sade mental (moral)

    afetada por cinco pr-condies:

    Fisiolgicas: Defenda um salrio cada vez maior para a sua equipe de acordo

    com o valor que cada um agrega.

    Segurana: A segurana deve estar presente no lar, na comunidade e no

    emprego. Mantenha sempre reduzido as pessoas no seu quadro, mas

    garanta a sua permanncia na empresa.

    Sociais: Promova atividades em grupo na rea de trabalho, busque a amizade

    entre o grupo.

    Estima: Promova e reconhea os feitos pessoais de seus trabalhadores

    perante o grupo.

    Auto-realizao: Dentro do possvel, aloque as pessoas em atividades que as

    agradem. Promova treinamentos e o auto-aprendizado.

  • 27

    2.2. Sistema Toyota de Produo

    Na dcada de 1980, a Toyota pela primeira vez chamou a ateno mundial

    mostrando que os veculos japoneses duravam mais que os americanos, tornando-

    se sinnimo de qualidade e eficincia. Porm, somente por volta dos anos 1990 que

    o mundo percebeu que havia algo de especial acontecendo naquela empresa.

    Atravs de trabalhos de Womack, Jones e Ross, a Toyota foi descrita como uma

    empresa que concebia e fabricava veculos velozes e confiveis a um custo

    competitivo, graas consistncia de seus processos e produtos, e a velocidade de

    resolver os seus problemas.

    O Sistema Toyota de Produo (STP) a base para o movimento da

    produo enxuta, que vem tomando fora nos ltimos 10 anos como tendncia

    industrial. De acordo com Womack e Jones (2004), a produo enxuta definida

    como um processo de cinco princpios: definir o valor do cliente, definir o fluxo de

    valor, criar um fluxo contnuo, puxar a produo a partir do cliente e buscar a

    perfeio.

    O fundador do STP, Taiichi Ohno1 (1988 apud LIKER, 2005, p.29), descreve o

    seu sistema da seguinte maneira:

    O que estamos fazendo observar a linha do tempo desde o momento em que o cliente nos faz um pedido at o ponto em que recebemos o pagamento. E estamos reduzindo essa linha do tempo, removendo as perdas que no agregam valor.

    Segundo Liker (2005), a excelncia da Toyota baseada em melhoria da

    qualidade e ferramentas como just-in-time, kaizen, fluxo unitrio de peas,

    autonomao (jidoka) e nivelamento da produo (heijunka). Mas o verdadeiro

    sucesso da empresa no est nas ferramentas utilizadas e sim na filosofia

    empresarial baseada na compreenso das pessoas, motivao e liderana.

    Em seu trabalho, Liker (2005) descreve 14 princpios que julga serem os

    alicerces do Sistema Toyota de Produo, podendo ser divididos em quatro

    subgrupos, os 4 Ps do Modelo Toyota, ilustrados na Figura 6 (LIKER, 2005):

    1P Filosofia de Longo Prazo

    Basear as decises administrativas em uma filosofia de longo prazo, mesmo

    em detrimento de metas financeiras.

    1 OHNO, T. Toyota production system: beyond large-scale production. Portland: Productivity Press,

  • 28

    2P O Processo Certo Produzir os Resultados Certos

    Criar um processo de fluxo contnuo para trazer os problemas tona.

    Evitar superproduo por meio de sistemas puxados.

    Nivelar a produo (heijunka).

    Instaurar a cultura de resolver problemas e fazer certo na primeira vez.

    Padronizar tarefas, criando uma base para a melhoria contnua e a

    capacitao dos funcionrios.

    Utilizar gesto visual para que nenhum problema fique oculto.

    Utilizar somente tecnologias que atendam completamente as necessidades

    dos funcionrios e processos.

    3P Valorizao da Organizao Atravs do Desenvolvimento de seus

    Funcionrios e Parceiros.

    Desenvolver lderes que compreendam a filosofia do trabalho e ensinem

    outros colaboradores.

    Desenvolver equipes e pessoas que sigam a filosofia da empresa.

    Respeitar a sua rede de parceiros e de fornecedores desafiando-os e

    ajudando-os a melhorar.

    4P A Soluo de Problemas na Origem Estimula a Aprendizagem

    Organizacional.

    Observar por si mesmo a situao para s ento compreender

    completamente o problema (genchi genbutsu).

    Implementar rapidamente aps uma tomada de deciso; que por meio de um

    processo lento e por consenso, tenha considerado completamente todas as

    opes.

    Refletir incansavelmente (hansei) e buscar a melhoria contnua (kaizen) para

    s assim se tornar uma organizao de aprendizagem.

  • 29

    Resp

    eito

    e tra

    balh

    o G

    ench

    iNomenclatura

    ToyotaSoluo

    de

    problemas

    (Aprendizagem

    e melhoria

    contnua)

    Funcionrios e parceiros

    (respeit-los, desafi-los e

    desenvolve-los)

    Processo

    (Eliminao de perdas)

    Filosofia

    (Pensamento de longo prazo)

    D

    esa

    fio K

    aiz

    en

    em

    equip

    e G

    enbuts

    u

    Desa

    fio

    Aprendizagem organizacional contnua atravs do Kaizen

    Ver por si mesmo para compreender a situao (Genchi Genbutsu)

    Tomar decises lentamente, atravs de consenso, considerando

    completamente todas as opes; implement-las com rapidez (Nemawashi)

    Desenvolver lderes que vivenciem a filosofia

    Respeitar, desenvolver e desafiar o pessoal e as equipes

    Respeitar, desafiar e auxiliar os fornecedores

    Criar um fluxo de processo para trazer os problemas tona Utilizar sistemas de puxar para evitar a superproduo

    Nivelar a carga de trabalho (produo nivelada)

    Parar quando houver problema de qualidade (autonomao)

    Padronizar tarefas para melhoria contnua

    Usar controle visual para que os problemas no passem despercebidos

    Usar somente tecnologia confivel totalmente testada

    Basear as decises administrativas em uma filosofia de

    longo prazo, mesmo em detrimento de metas

    financeiras de curto prazo

    Figura 6 - "4 Ps" do Modelo Toyota. Fonte: LIKER (2005, p. 28)

    2.2.1. Jidoka

    Um dos pilares do STP, o jidoka tambm chamado de autonomao

    (equipamento dotado de inteligncia para desligarem-se quando apresentar

    problema), teve seu incio com as invenes de Sakichi Toyoda que revolucionaram

    o tear mecnico. Uma dessas invenes era um dispositivo que detectava quando

    um fio havia se partido, fazendo o tear mecnico parar automaticamente quando se

    ocorre o rompimento, evitando que o defeito se repetisse. O jidoka incorporado ao

    STP devido importncia dada de se produzir de forma correta j na primeira vez,

    que mais eficaz e menos oneroso que prticas de inspeo e posteriores

    concertos (LIKER, 2005).

    Sobek e Smalley (2010) questionam porque algum iria querer interromper a

    linha de produo? A resposta que os lderes da Toyota no querem parar a linha,

    afinal, a parada de linha custa caro empresa e acarreta em atrasos nas entregas

    aos clientes. Com essas paradas, os lderes desejam revelar os problemas para que

    as pessoas que trabalham nos processos atuem na causa fundamental, deste modo

    fortalecendo o processo. Liker (2005) salienta que trazer continuamente os

    problemas tona e resolv-los quando ocorrem, so procedimentos que eliminam

    as perdas, aumentam a produtividade e deixam para trs os concorrentes que fazem

    as linhas de montagem funcionarem sem parar, deixando os problemas se

    acumularem.

  • 30

    Quando um equipamento interrompido na Toyota, bandeiras ou luzes,

    geralmente acompanhadas de alertas sonoros, so utilizadas para sinalizar a

    anomalia e acionar ajuda para a resoluo do problema. Este sistema de sinalizao

    chamado de andon, que significa sinal de luz para pedir ajuda. O sistema tem

    como funo sinalizar para todos os envolvidos a existncia de um problema que

    deve ser resolvido em sua causa raiz, servindo de fasca para o acionamento de

    toda a cadeia de ajuda (LIKER, 2005).

    Liker (2005) ressalta que no adianta despender dinheiro nos mais modernos

    e melhores sistemas de sinalizao se os conceitos de qualidade no estejam

    enraizados na empresa, deixando claro que no h transigncia quando se trata de

    qualidade. O andon s funciona quando os funcionrios so ensinados quanto

    importncia da ferramenta, que trazer tona os problemas para que sejam

    rapidamente resolvidos. Esta ferramenta, devido ao seu feedback muito rpido, tem

    grande poder de modificao comportamental, pois mesmo sendo um feedback

    negativo, por ser uma advertncia impessoal, as pessoas sabem os resultados de

    seu trabalho de forma natural. Porm, a menos que se tenha um processo de

    soluo de problemas bem estabelecido e que as pessoas o sigam, no h motivos

    para a utilizao do andon.

    2.2.2. 5s

    Nos anos 70 e 80, peregrinaes de americanos em fbricas japonesas da

    Toyota eram corriqueiras, e a primeira impresso era invariavelmente que as

    fbricas eram to limpas que dava para comer no cho. Na cultura japonesa era de

    se estranhar a surpresa dos americanos, afinal, achavam natural e se sentiam no

    direito de trabalharem em lugares limpos e organizados. No Japo, uma srie de

    atividades para eliminar as perdas que contribuem para erros, defeitos e acidentes

    de trabalho chamado de programa 5S.

    De acordo com Liker (2005), os 5S so:

    Seiri (Classificar) Classificar os itens, separar o til do intil e eliminar o que

    no for necessrio.

    Seiton (Organizar) Organizar e manter as coisas em um local pr-

    determinado.

  • 31

    Seiso (Limpar) Limpar com frequncia, facilitando a exposio de condies

    anormais que possam causar problemas nos equipamentos ou prejudicar a

    qualidade.

    Seiketsu (Padronizar) Padronizar procedimentos que facilitem a

    manuteno dos trs primeiros S.

    Shitsuke (Disciplinar) Criar a disciplina necessria para manter bom

    ambiente de trabalho e promover a melhoria contnua.

    Para Liker (2005), ao no utilizar o 5S, ocorre o encobrimento de problemas, que

    vo se acumulando ao longo dos anos e acabam tornando-se uma disfuno aceita

    no trabalho. O controle visual em um ambiente de trabalho fundamental para

    informar ao trabalhador como o trabalho deve ser executado e se h algum desvio

    de padro. Este aspecto visual significa poder enxergar rapidamente um processo,

    um equipamento, uma informao, um funcionrio exercendo o seu trabalho e

    instintivamente perceber qual o padro que esta sendo usado para aquela

    atividade.

    2.2.3. Melhoria Contnua

    Nos dias de hoje difcil imaginar uma empresa que ir desenvolver um

    produto e explor-lo durante anos com a mesma vantagem competitiva original. Para

    a sobrevivncia das empresas no sculo XXI necessrio adaptao, inovao e

    flexibilidade, alm do atributo mais importante, a habilidade de aprender. Senge2

    (1990 apud LIKER, 2005, p.244) define uma organizao de aprendizagem como um

    lugar

    [...] onde as pessoas continuamente expandem sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde novos e extensos padres de pensamento so alimentados, onde a aspirao coletiva liberada e onde as pessoas constantemente esto aprendendo a aprender juntas.

    De acordo com Liker (2005), a melhoria contnua s deve ser iniciada aps os

    processos estarem estveis e padronizados, porque neste momento possvel

    2 SENGE, P. M. The Fifth Discipline: The Art and Practice of the Learning Organization. New York: Doubleday, 1990, p. 1.

  • 32

    visualizar as perdas e ineficincias, sendo uma oportunidade nica para aprender

    continuamente a partir das melhorias impostas. Para se tornar uma organizao de

    aprendizagem deve-se ter estabilidade de pessoal, sistema lento de promoo e um

    sistema de sucesso que proteja a base do conhecimento organizacional.

    Segundo Dennis (2007), o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA) uma

    expresso do mtodo cientfico ao qual nossa sociedade deve sua prosperidade; o

    modelo mental mais importante na busca da melhoria contnua. Pode-se definir os

    quatro estgios do ciclo PDCA como (SHOOK, 2008):

    Planejar (Hiptese) Identificar os problemas existentes, definir metas

    para um processo e propor aes.

    Fazer (Experimentar) Promover mudanas ou gerar novos processos.

    Verificar (Refletir) Avaliar e aprender com os resultados.

    Agir (Ajustar) Incorporar o aprendizado e promover a padronizao e

    estabilizao do processo.

    Outra ferramenta que integra a melhoria contnua a anlise Cinco Por

    Qus, que consiste em chegar raiz do problema perguntando por que cinco

    vezes. Ao contrrio de outro grande mtodo de soluo de problemas, o Seis Sigma,

    o cinco por qus se baseia na simplicidade, afinal, a maioria dos problemas no

    requer anlises complexas, mas sim uma soluo detalhada e esmerada (LIKER,

    2005). Shook (2008) adiciona que a utilizao eficiente do cinco por qus pode evitar

    que a vida busca por resposta torne-se uma perseguio pelos responsveis. A

    Figura 7 mostra o mtodo de aplicao do cinco por qus na Toyota.

  • 33

    Figura 7 - Processo de soluo prtica de problemas da Toyota. Fonte: LIKER (2005, p.149)

  • 34

    No entanto, Campos (2004) alerta que mesmo que voc tenha um bom

    processo em mos, e esse venha sofrendo constantes melhorias e resultados

    confiveis, uma alterao no cenrio pode gerar uma sequncia de eventos como a

    mudana nas necessidades dos seus clientes, a entrada de novos concorrentes no

    mercado, o surgimento de novos materiais e novas tecnologias, que far com que o

    seu processo se torne obsoleto. Portanto, conforme pode ser visto na Figura 8,

    muito embora as melhorias sucessivas sejam importantes, necessrio

    constantemente questionar os seus produtos e seus processos.

    2.2.4. Relatrio A3

    O relatrio A3, assim chamado devido ao tamanho do papel usado

    tradicionalmente em sua confeco, a base do sistema de gerenciamento Toyota,

    sempre buscando o aperfeioamento dos funcionrios, por meio do dilogo e da

    anlise. O relatrio busca identificar a situao atual, a natureza do problema, a

    gama de contramedidas possveis, a melhor contramedida, as maneiras de coloc-la

    em prtica e a evidncia de que o problema foi efetivamente solucionado (Figura 9).

    Figura 8 - Conjugao dos ciclos de manuteno e melhoria que compem o

    melhoramento contnuo. Fonte: CAMPOS (2004, p.185)

  • 35

    Que

    ati

    vidad

    e se

    ro

    nece

    ssr

    ias

    para

    a im

    plem

    enta

    o

    e qu

    em s

    er

    resp

    ons

    vel p

    elo

    qu

    e qu

    ando?

    Qua

    is s

    o o

    s in

    dic

    ador

    es d

    e des

    empe

    nho

    ou d

    e pr

    ogre

    sso?

    -

    Inco

    rpor

    e um

    gr

    fico

    de

    Gan

    tt o

    u dia

    gram

    a si

    mila

    r qu

    e m

    ostr

    a as

    a

    es/r

    esul

    tados

    , cro

    nogr

    ama

    e re

    spon

    sabili

    dad

    es. P

    ode

    incl

    uir

    det

    alhe

    s so

    bre

    for

    mas

    es

    peci

    fica

    s de

    impl

    emen

    ta

    o.

    Qua

    l a

    sua

    pro

    post

    a pa

    ra a

    ting

    ir a

    sit

    ua

    o fu

    tura

    , a

    cond

    io

    alv

    o?

    Com

    o su

    as c

    ontr

    amed

    idas

    rec

    omen

    dad

    as a

    feta

    m a

    cau

    sa

    raiz

    par

    a at

    ingi

    r a

    met

    a?

    Qua

    l a

    (s)

    caus

    as(s

    ) ra

    iz d

    o pr

    oble

    ma?

    -

    Sel

    ecio

    ne a

    fer

    ram

    enta

    de

    anl

    ise

    de

    prob

    lem

    as m

    ais

    s

    impl

    es q

    ue m

    ostr

    e cl

    aram

    ente

    a r

    ela

    o c

    ausa

    e e

    feit

    o.

    Que

    res

    ulta

    dos

    esp

    ecf

    icos

    so

    exig

    idos

    ?

    Com

    o es

    to

    as c

    oisa

    s ho

    je?

    -

    Mos

    tre

    visu

    alm

    ente

    uti

    lizan

    do

    quad

    ros,

    gr

    fico

    s,

    des

    enho

    s, m

    apas

    , etc

    .

    Por

    qu

    est

    fal

    ando

    sobre

    isso

    ?

    Tt

    ulo:

    Sob

    re o

    que

    voc

    es

    t f

    alan

    do?

    I. C

    onte

    xto

    II. C

    ondi

    es

    atua

    is

    III.

    Obje

    tivo

    s/M

    etas

    IV. A

    nlis

    e

    V. C

    ontr

    amed

    idas

    pro

    post

    as

    VI.

    Pla

    no

    Qua

    l o

    pro

    ble

    ma?

    Res

    p./D

    ata

    VII

    . Aco

    mpa

    nham

    ento

    Que

    pro

    ble

    mas

    pod

    em s

    er a

    ntec

    ipad

    os?

    -

    Ass

    egur

    ar u

    m P

    DCA

    con

    tnu

    o. -

    Cap

    ture

    e c

    ompa

    rtilh

    e o

    apre

    ndiz

    ado.

    Figura 9 - Modelo A3 Fonte: SHOOK (2008, p.08)

  • 36

    Sobek e Smalley (2010) definem o relatrio A3 como uma poderosa

    ferramenta que busca estabelecer uma estrutura concreta para implementar a

    gesto PDCA, ao mesmo passo que ajuda os autores do relatrio a uma

    compreenso mais profunda do problema, das oportunidades e das novas ideias

    sobre como atacar o problema. O A3 facilita a coeso e o alinhamento interno da

    organizao em relao ao melhor curso de ao. Shook (2008) enfatiza que o

    relatrio A3 orienta o dilogo e a anlise, sendo uma ferramenta poderosa na

    elaborao de contramedidas eficazes baseadas em fatos.

    Para se entender a fora do relatrio A3 e o pensamento que existe por trs

    dele, necessrio ter o entendimento do ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA). Porm,

    podemos diferenciar os mtodos de acordo com a sua origem. O PDCA, de origem

    ocidental, tem a tendncia de nos orientar para resultados de curto prazo; segue-se

    em frente quando o problema resolvido. J o relatrio A3, de origem na Toyota

    japonesa, o processo pelo qual os resultados so conquistados to importante

    quanto resoluo do problema; busca-se sempre o aprendizado e evita-se a

    recorrncia do problema. Costuma-se dizer que se a Toyota e uma empresa

    americana enfrentarem um mesmo problema, a americana vai gastar os trs

    primeiros meses com planejamento, os trs seguintes com implementao e os

    ltimos seis meses com ajustes e correes de detalhes. Ao passo que na Toyota,

    gastaria onze meses com planejamento e um ms com Implementao (SOBEK;

    SMALLEY, 2010).

    2.2.4.1. Os 7 Elementos do Pensamento A3

    Sobek e Smalley (2010) caracterizam a mentalidade por trs do sistema A3

    em sete elementos:

    Processo de raciocnio lgico

    Padres de pensamento bem estruturados por relatrios A3 ajudam a

    promover e reforar processos de raciocnio lgico completos, de forma a atacar

    todos os detalhes importantes, levando em considerao os diversos caminhos em

    potencial e os efeitos da implementao; antecipando possveis obstculos e

    contingncias.

  • 37

    O poder do A3 est em criar abordagens socialmente construdas e

    consistentes, de modo que os membros da organizao passem menos tempo

    correndo sem sair do lugar ou tentando descobrir como outra pessoa esta

    abordando uma mesma situao.

    Objetividade

    Cada pessoa v o mundo com os seus prprios olhos, uma realidade

    diferente para cada indivduo, sendo que cada pessoa tende a acreditar que a sua

    viso a certa. Em uma organizao, os indivduos possuem um entendimento

    suficiente comum para poderem trabalhar em conjunto, porm, quando vamos mais

    afundo nos detalhes da situao, o entendimento comum comea a desmoronar e

    afloram-se as diferenas de como vemos a realidade.

    O pensamento A3 tenta reconciliar os diversos pontos de vista, j que uma

    viso da situao que inclui mltiplas perspectivas costuma ser mais objetiva que

    qualquer ponto de vista isolado. a busca de uma representao compartilhada

    para uma realidade compartilhada.

    Resultados e processos

    Todas as organizaes so orientadas para resultados, porm, atingir metas

    com processos descuidados inadmissvel; o fim no justifica os meios. Espera-se

    no pensamento A3 o desenvolvimento pessoal na conquista de resultados, de modo

    a ficar clara a compreenso do problema, a investigao de alternativas para a

    soluo e o entendimento da proposta em um contexto maior. A conquista de

    resultados acidentalmente ou pela sorte, no vale muito a longo prazo.

    Os resultados so a resposta de nossa compreenso. Os maus resultados

    no apenas deixam de fazer a organizao avanar, mas tambm refletem uma m

    compreenso do problema; uma situao que precisa ser consertada.

    Sntese, destilao e visualizao

    Os relatrios A3 so propositalmente breves, mas sua brevidade no o

    objetivo em si, e sim um benefcio secundrio que surge de seu processo de

    elaborao. A brevidade fora a sntese da aprendizagem adquirida durante a

    pesquisa sobre o problema. A elaborao do A3 faz com que informaes, das mais

  • 38

    variveis fontes, se interajam em um retrato coerente da situao e da ao futura

    recomendada.

    Porm, nem todas as informaes obtidas merecem o mesmo destaque.

    Cabe ao autor destilar todas as informaes coletadas at obter um retrato

    sintetizado dos pontos cruciais necessrios para o posicionamento e entendimento

    adequado da partes envolvidas.

    A maneira mais eficiente de transmitir informaes por meio de desenhos e

    grficos; que com o auxlio da narrao do autor pode fornecer uma quantidade

    incrvel de detalhes. Um simples desenho do processo e do problema pode eliminar

    mil palavras, alm do tempo e da energia necessrios para explic-las.

    Alinhamento

    Com o consenso, a equipe rene esforos para superar obstculos e realizar

    mudanas. Ao colocar no papel os principais fatos, d aos afetados pelas decises

    do A3 algo concreto com o qual pode concordar ou discordar.

    O pensamento A3 requer uma comunicao tridimensional: horizontal

    (atravs da organizao), vertical (em toda a hierarquia) e em profundidade (para

    frente e para trs no tempo). Funcionalmente, a equipe de soluo de problemas se

    comunica horizontalmente com outros grupos na organizao que podem ser

    afetados pela mudana proposta. A equipe tambm se comunica verticalmente com

    a linha de frente para ver como estes sero afetados, e com gerentes em nveis

    superiores da hierarquia para determinar se alguma questo ampla no foi

    trabalhada. No menos importante, leva-se o histrico da questo em considerao

    para a anlise de solues anteriores, alm da incluso de possveis exigncias

    futuras.

    Coerncia interna e consistncia externa

    O estabelecimento de um fluxo lgico e de um padro generalizado de

    soluo de problemas um dos segredos do relatrio A3, que busca aumentar a

    visibilidade da coerncia ou a falta dessa, na abordagem usada.

    Na elaborao do A3:

    o O tema deve ser consistente com as metas.

    o O diagnstico da situao atual se alinha com o tema.

  • 39

    o A anlise da causa fundamental segue diretamente da anlise da situao

    atual.

    o As solues propostas impactam as causas fundamentais identificadas.

    o O plano de implementao aciona as solues.

    o O plano de acompanhamento testa os resultados das solues, em

    contraste com as metas estabelecidas no comeo do relatrio.

    Ponto de vista sistmico

    Na busca pela manuteno de um ponto de vista sistmico, o indivduo deve

    ser orientado a desenvolver uma compreenso profunda do propsito das melhorias

    em ao, de como as melhorias fazem avanar as metas, das necessidades e

    prioridades da organizao, tal como seu papel se encaixa no contexto e afeta

    outras partes da organizao.

    Para o bem geral da organizao, o solucionador de problemas deve

    compreender a situao em um contexto suficientemente amplo. preciso evitar

    solues que resolvem os problemas de uma parte da organizao e criem outros

    em outra parte.

    2.2.4.2. Metodologia A3

    A elaborao de relatrios A3 importante, mas no mais importante

    quanto s atividades executadas na criao do relatrio e as conversas que os

    relatrios ajudam a gerar. Para Shook (2008), um relatrio A3 deve contar uma

    histria, de forma que qualquer pessoa possa entend-la. No deve ser um relatrio

    que trabalhe metas e problemas de maneira isolada e esttica. Espera-se do

    relatrio um comeo, meio e fim; uma narrativa padronizada que compartilhe a

    histria completa, relacionando elementos especficos, sequenciando os fatos e

    informando as causas. Segundo Dennis (2007), da natureza humana pular as

    etapas do processo de raciocnio A3, isso ocorre devido ansiedade por novas

    respostas, no seguindo um caminho claro e conciso em sua busca.

    A partir de observaes e pesquisas na Toyota, Sobek e Smalley (2010)

    prope um processo geral para abordar problemas que ocorrem durante o trabalho.

    O processo proposto (Figura 10), apesar de aparentar ser serial, tem uma natureza

    interativa; quando necessrio os passos so repetidos, remediando quaisquer falhas

  • 40

    e lidando com preocupaes que surgiram em fases anteriores. Shook (2008)

    salienta que o processo A3 deve incorporar todo o rigor minucioso do ciclo PDCA

    em seu processo, enfatizando o aprendizado em cada etapa do caminho.

    7

    Obter aprovao

    5

    Criar o plano de acompanhamento

    4

    Criar o plano de implementao

    3

    Criar contramedidas e visualizar o estado futuro

    2

    Identificar a causa fundamental

    1

    Entender a situao atual

    9

    Executar o plano de acompanhamento

    8

    Executar o plano de implementao

    6.D

    iscu

    tir

    co

    m a

    s p

    art

    es a

    feta

    da

    s

    Problema percebido

    Metas Atingidas?

    10

    Estabelecer padro do processo

    No

    Sim

    Agir

    Verificar

    Executar

    Planejar

    Figura 10 - Processo de soluo prtica de problema Fonte: SOBEK; SMALLEY (2010. P.43)

    Os sete primeiros passos representam a etapa Planejar do ciclo PDCA, aps

    o passo de aprovao entramos na etapa Executar seguida pela etapa Verificar. Se

    as metas forem atingidas entra-se na etapa final Agir, caso ao contrrio comea tudo

  • 41

    de novo. A seguir uma explanao mais detalhada de todos os passos (SOBEK;

    SMALLEY, 2010):

    Entender a situao atual

    Neste passo espera-se o entendimento completo do problema, no contexto no

    qual ocorre. A importncia de visualizar o contexto se deve ao fato de que muitas

    vezes o segredo para resolver um problema est em um detalhe esquecido, que

    ningum tenha notado.

    O primeiro passo que o solucionador de problemas deve executar ir

    fisicamente ao local real onde o problema ocorreu e observar a situao em primeira

    mo (gemba). Durante esta atividade deve-se conversar com os envolvidos na

    busca de informaes de onde, quando e sob quais condies o problema ocorreu,

    alm de confrontar o que deveria estar acontecendo e no est, ou o que est

    acontecendo e no deveria.

    Esta fase pode ser comparada com a cena de um assassinato. A menos que

    o investigador analise por si mesmo pouco tempo depois do fato, com sua viso

    especializada, antes que a cena seja contaminada, no conseguir ver as

    evidncias necessrias para capturar o assassino.

    Assim, ir ao gemba e poder observar e entender como o sistema funciona a

    maneira mais eficaz de verificar e atualizar a imagem mental que representa com

    mais fidelidade a realidade. O prximo passo desenhar uma figura ou diagrama

    que ilustre a situao, o processo ou o sistema atual e os problemas observados, de

    forma a criar uma documentao que possa ser compartilhada.

    Identificar a causa fundamental

    Quando se depara com um problema na origem, costuma ser relativamente

    simples identificar a causa direta do problema. No entanto, raro que a causa mais

    obvia seja a causa fundamental.

    Cabe ao solucionador de problemas realizar observaes e experimentos na

    busca pela causa fundamental, aquela que, se resolvida, eliminar todas as

    ocorrncias futuras do problema. A abordagem dos cinco porqus ou Seis Sigma

    so ferramentas que podem auxiliar nesta descoberta.

  • 42

    Geralmente, os problemas so resultados de atividades mal especificadas,

    relaes obscuras ou caminhos complicados e indefinidos. Spear and Bowen (1999)

    propem quatro regras para projetar o sistema de trabalho:

    o As atividades devem ser especificadas de acordo com contedo,

    sequncia, durao e resultado.

    o As relaes entre clientes e fornecedor devem ser claras, diretas e

    binrias.

    o As rotas dos produtos ou bens devem ser simples e diretas.

    o As melhorias devem ser realizadas de acordo com um mtodo cientifico,

    sob orientao e nos nveis mais baixos da organizao.

    Criar contramedidas e visualizar o estado futuro

    Aps estabelecer a causa fundamental, deve-se pensar nas mudanas

    necessrias no sistema atual que trabalhem a(s) causa(s). A Toyota chama essas

    medidas especficas de contramedidas, que devem ser projetadas para prevenir a

    recorrncia do problema.

    Com a criao das contramedidas de se esperar uma visualizao do

    estado futuro, que deve ser representado graficamente, ilustrando como o novo

    sistema, processo ou procedimento ir operar depois que as contramedidas forem

    implementadas.

    Neste momento, o solucionador deve compartilhar as mudanas propostas

    para os representantes dos grupos que sero impactados pela soluo. Dentro do

    possvel, o feedback dos envolvidos devem ser levados em considerao, com isso,

    espera-se enriquecer a proposta e evitar problemas posteriores.

    Criar um plano de implementao

    Com as contramedidas e o estado futuro bem definidos parte-se para a

    implementao, uma fase que pode se tornar problemtica. Em algumas

    organizaes, as boas ideias vm tona apenas para serem abandonadas, pois no

    h um caminho claro para sua implementao.

    A implementao faz parte de qualquer proposta de soluo de problema, ela

    consiste de tarefas exigidas para realizar as contramedidas propostas, dos

    responsveis por cada atividade e de quando a atividade ser completada. A

    ferramenta 5W1H (Who, What, Where, When, Why e How) pode ser utilizada para

  • 43

    esta tarefa. Paralelamente, um plano de colaborao deve ser criado para que as

    pessoas listadas nas atividades concordem em executar suas tarefas dentro dos

    prazos estipulados.

    Criar um plano de acompanhamento

    Aps todas as atividades at agora descritas, de se esperar que haja um

    comparativo peridico entre os resultados estipulados e os resultados reais; logo

    criado um plano de acompanhamento.

    O acompanhamento tem como benefcios determinar se o que foi

    implementado teve algum efeito, se o aprendizado sobre o mtodo A3 gerou o real

    entendimento da situao atual, e por ltimo mostrar que a organizao est

    prestando ateno nos problemas, atravs do acompanhamento de indivduos

    importantes e gerentes.

    Obter aprovao

    Qualquer mudana deve ser aprovada antes de ser executada. Pode parecer

    uma regra burocrtica, mas ela tem um papel crtico no modelo A3. A aprovao,

    acima de tudo, uma oportunidade explcita de mentoramento, o que d ao gerente

    a oportunidade de orientar o solucionador, refinar suas habilidades de deduo e

    investigao, ajudar a construir suas capacidades comunicativas e expandir sua

    rede social. Outro aspecto importante que o processo de aprovao garante o rigor

    e a objetividade do processo e a profundidade do entendimento conquistado.

    Executar os planos de implementao e acompanhamento

    Aps a aprovao, o plano de implementao executado, sempre seguindo

    ao mximo o que foi planejado. Paralelamente, o plano de acompanhamento inicia-

    se. Dependendo desses resultados, dois cursos de ao so possveis. Caso os

    resultados sejam satisfatrios, as mudanas so estabelecidas como processo

    padro e os resultados so disseminados. Caso os resultados no sejam

    satisfatrios, voltam-se os esforos em descobrir por que os resultados no foram

    atingidos e aes corretivas so realizadas.

  • 44

    2.2.4.3. Pr-requisitos para uma Reunio Eficiente

    De maneira geral, grande parte das empresas sofre com reunies de

    propsitos vagos e formato inapropriado. comum se deparar com reunies no qual

    as pessoas atrasam ou at mesmo no comparecem, somente a pessoa que

    preside a reunio se prepara e recursos visuais ocasionais e pouco comunicativos

    so utilizados. Ou seja, um mtodo demorado, pesado e dispendioso de se chegar a

    uma deciso (LIKER, 2005).

    Uma das grandes vantagens de se usar a comunicao no formato A3 a

    eficincia que se obtm nas reunies. Liker (2005) define seis pr-requisitos para

    uma reunio eficiente:

    Os objetivos da reunio devem ser claros e exequveis.

    As pessoas primordiais para a reunio devem comparecer.

    Previamente, os participantes devem estar cientes dos objetivos e se

    prepararem para a reunio.

    Os recursos visuais devem ser explorados com objetividade. O formato A3

    extremamente eficaz.

    O mximo possvel de informaes deve ser compartilhado antes da reunio.

    O tempo gasto durante a reunio deve ser focado na soluo de problemas.

    A reunio deve seguir o seu agendamento. Comea e termina na hora

    marcada.

    2.2.4.4. Tomada de Deciso

    Para Toyota, o caminho pelo qual percorre para se chegar deciso to

    importante quanto qualidade da deciso. Investir tempo e esforo para fazer as

    coisas direito imperativo. O segredo da Toyota para uniformizar e tornar perfeita a

    implementao de novas iniciativas o planejamento cuidadoso, que pode ser

    visualizado na Figura 11 (LIKER, 2005).

  • 45

    Segundo Liker (2005) a completa considerao na tomada de deciso inclui

    cinco elementos principais:

    Descobrir o que realmente esta acontecendo.

    Compreender as causas subjacentes que explicam a aparncia da superfcie.

    Considerar amplamente as alternativas de soluo e desenvolver um

    raciocnio detalhado para a soluo preferida.

    Construir o consenso na equipe, incluindo os funcionrios internos e parceiros

    externos.

    Usar veculos de comunicao muito eficientes e concisos, de preferncia em

    apenas um lado de uma folha de papel.

    De acordo com Shook (2008, p.69), a tomada de deciso deve ocorrer por

    meio do nemawashi, termo japons que se refere ideia de que:

    [...] antes de voc poder colocar uma planta em um solo totalmente novo, deve retir-la com suas razes intactas para que possa enraizar em seu novo local e assegurar o crescimento orgnico e sustentvel [...].

    O Nemawashi tem como misso a tomada de deciso lentamente por

    consenso, considerando completamente todas as opes para s assim

    implement-las com rapidez. O que o diferencia o seu processo, onde muitas

    pessoas apresentam ideias do problema estudado e buscam um consenso no

    Figura 11 - Mtodos de tomada de deciso da Toyota. Fonte: LIKER (2005, p.238)

  • 46

    mesmo momento; logo, elaborada uma proposta formal que comea a circular

    amplamente pela administrao. Deste modo, quando a proposta apresentada ao

    alto nvel de gerncia, em busca de aprovao, o assunto j esteve em pauta e a

    deciso j foi tomada (LIKER, 2005).

  • 47

    3. Desenvolvimento do Trabalho

    3.1. Caracterizao da Empresa

    A pesquisa-ao foi desenvolvida em uma multinacional atuante na indstria

    de eletrodomsticos, da qual detentora de uma grande fatia do market-share

    nacional e internacional. Com tradio no mercado nacional, e com marcas voltadas

    a diferentes classes econmicas, seus produtos podem ser encontrados em grande

    parcela dos lares brasileiros.

    A razo de seu sucesso se d pela inovao e qualidade de seus produtos.

    Presente entra as empresas com o maior numero de registro de patentes no Brasil e

    uma das primeiras a empregarem o uso da metodologia Seis Sigma, em busca da

    excelncia operacional da qualidade, so fatos que justificam a fora de suas

    marcas.

    No Brasil, suas unidades produtivas so voltadas para quatro grandes

    negcios: refrigerao, lavanderia, tratamento de ar e coco. A unidade em que o

    trabalho foi realizado consta com aproximadamente de trs mil colaboradores, sendo

    esta a nica unidade da empresa dedicada ao negcio coco no pas. Vale

    ressaltar que o escopo de atuao do presente trabalho se restringiu somente no

    negcio de coco, caracterizado por foges e cooktops.

    3.1.1. Estrutura Organizacional Envolvida

    Para facilitar o entendimento das reas e pessoas envolvidas da empresa na

    pesquisa, uma esquematizao macro dos departamentos se faz necessria (Figura

    12). Salienta-se tambm que no projeto teve-se a participao direta ou indireta de

    gerentes, chefes, supervisores, engenheiros, analistas, inspetores e operadores.

    Fbrica

    Qualidade

    Interna Externa Planejamento Informao

    Montagem Industrial LEAN

    Figura 12 - Estrutura Organizacional

  • 48

    3.2. Metodologia de Pesquisa

    A importncia da adoo de uma metodologia cientfica se faz necessria

    para se traar o caminho das pedras pelo qual o pesquisador ir percorrer durante

    seu estudo. Este caminho ir ajud-lo a refletir e abrir seus olhos para o inesperado.

    Porm, este caminho nem sempre controlvel e estar sujeito a mudanas de

    curso ou alteraes. Logo, necessria a utilizao da criatividade e imaginao

    para contornar os obstculos inerentes de qualquer estudo (SILVA; MENEZES,

    2005).

    Desta forma, a definio da metodologia adotada para o estudo se mostra

    crucial, porm no imutvel para se alcanar os objetivos do estudo. Demo3 (1996

    apud SILVA; MENEZES, 2005) salienta que h de se adicionar as atividades

    rotineiras de pesquisa uma prtica sistemtica de questionamentos e crticas,

    estando preparado para intervir na realidade na qual a pesquisa est inserida ou na

    prpria pesquisa.

    3.2.1. Classificao da Pesquisa

    Seguindo critrios sugeridos por Silva e Menezes (2005), quanto a sua

    natureza, a presente pesquisa pode ser classificada como pesquisa aplicada, com o

    intuito de gerar conhecimento para futuras aplicaes do A3 na gerao de

    propostas de melhorias na indstria. Segundo seus objetivos, caracteriza-se por ser

    uma pesquisa exploratria, que busca tornar claro as reflexes e problemticas que

    ocorrem na elaborao de propostas dentro de uma grande organizao.

    Do ponto de vista da abordagem aplicada, pode-se enquadrar o estudo como

    pesquisa qualitativa, no qual o ambiente de uma indstria de eletrodomsticos de

    linha branca foi a fonte direta para a coleta dos dados e o pesquisador o responsvel

    pelas aes. Quanto ao procedimento tcnico adotado, foi feita a escolha da

    pesquisa-ao, devido coexistncia de uma pesquisa com uma ao da qual o

    pesquisador estava envolvido (SILVA; MENEZES, 2005).

    De uma maneira simplista, Tripp (2005) define a pesquisa-ao como uma

    forma de investigao-ao a partir de tcnicas de pesquisa consagradas para

    3 DEMO, P. Pesquisa e construo de conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

  • 49

    indicar a deciso tomada em busca de melhorar a prtica. Bryman (apud TURRIONI;

    MELLO, 2011) adiciona que a pesquisa-ao promove a colaborao entre o

    pesquisador e o cliente na anlise e posterior ao para a resoluo de um

    problema em comum, do qual um conhecimento emprico ser gerado.

    Para Turrioni e Mello (2011) apropriado o emprego da pesquisa-ao

    quando a descrio do desdobramento das aes de um grupo se faz necessria

    para explicar e justificar o motivo das decises e aes tomadas durante as

    mudanas e melhorias apresentadas, e consequentemente aprender com estas.

    De acordo com Mello et al. (2012) o processo de iniciao de uma pesquisa-

    ao se difere dos outros mtodos tradicionais. Ao contrrio de se motivar o

    desenvolvimento da pesquisa a partir de lacunas na literatura, parte-se de

    problemas vivenciados em organizaes para a pesquisa de possveis solues na

    literatura.

    De maneira geral, a pesquisa-ao tem como caracterstica ser uma pesquisa

    paralela ao e no uma pesquisa sobre uma ao, buscando a soluo conjunta

    de problemas organizacionais e sociais, sendo realizada com a colaborao direta

    dos envolvidos no sistema, em uma sequncia de eventos direcionados ao

    aprendizado cientfico (COUGHLAN; COGHLAN, 2002).

    3.2.2. Planejamento da Pesquisa

    Tipicamente, em uma pesquisa acadmica que emprega a pesquisa-ao

    como tcnica, deve-se notar que dois projetos de pesquisa-ao estaro ocorrendo

    em paralelo. O primeiro seria o projeto com o qual o pesquisador est envolvido com

    a organizao, tendo a ocorrncia desde independentemente do que est sendo

    estudado. O segundo seria a tese do projeto da pesquisa-ao, que deve ser

    alimentado por meio de questionamentos levantados no projeto organizacional.

    (COUGHLAN; COGHLAN, 2002).

    Assim, para que no haja a confuso e conflito de interesses entre ambas as

    pesquisas se faz necessrio a realizao de um planejamento da pesquisa que

    absorva esta caracterstica singular. Neste trabalho, pode-se delinear um projeto

    buscando uma proposta de melhoria para a organizao participante ao mesmo

  • 50

    passo que uma pesquisa-ao estrutura o caminho a ser percorrido para realizar tal

    objetivo.

    Segundo Thiollent (1986), mesmo com o planejamento pr-definido em fases,

    a sequncia sempre ser infringida devido a imprevistos, sendo necessria a criao

    de um planejamento flexvel. Para se ter uma bssola nas atividades dos

    pesquisadores, importante definir um ponto de partida e um ponto de chegada do

    projeto, pois esperado que no entremeio, uma infinidade de caminhos surja em

    funo das circunstncias. normal que haja um vaivm dentro da estrutura

    planejada, a fim de adaptar a pesquisa de acordo com as preocupaes

    circunstanciais e do grupo de pesquisadores inseridos na investigao.

    Para a conduo da pesquisa-ao deste trabalho foram adotados os passos

    propostos por Turrine e Melo (2011) para a Engenharia de Produo, que nada mais

    so do que a unio das ideias de Coughlan e Coghlan (2002) e Thiollent (1986)

    divididas em trs passos: o pr-passo, os seis-passos principais e o meta-passo

    para monitoramento. Tais fases so mostradas na Figura 13 e esto detalhadas a

    seguir de acordo com o projeto.

    Monitoramento

    Coleta de dados

    Planejamento das

    aes

    Realimentao dos dados

    Anlise dos dados

    Avaliao

    Implementao

    Contexto & Proposta

    6. Realizar

    seminrios

    1. Diagnstico

    da situao

    4. Elaborar

    referencial terico

    2. Definir o tema

    da pesquisa

    3. Definir a

    problematica

    5. Definir

    hipteses

    Figura 13 - Ciclo de pesquisa-ao

  • 51

    Fonte: TURRIONI; MELLO (2011, p.173)

    3.2.2.1. Pr-passo (contexto e proposta)

    A. Diagnstico da situao:

    Para dar incio pesquisa, foi necessrio contextualizar a situao da

    corporao e negcio no qual esta est atrelada. Para que as agressivas novas

    metas de qualidade fossem atingidas, a empresa buscava melhorias na eficincia de

    suas atividades e/ou mudana de seus procedimentos. A partir disso, nasceu a

    oportunidade para o pesquisador/autor realizar um trabalho voltado na rea da

    Qualidade Interna, j que este j estava familiarizado com a Qualidade Externa da

    empresa. Por meio de um processo de imerso nos processos internos da empresa

    e entrevistas com todos os nveis envolvidos, deu-se incio ao levantamento dos

    problemas que integrassem as duas reas e estivessem alinhados com a meta

    mxima do departamento.

    B. Definir o tema da pesquisa:

    Devido dificuldade de esquematizar um raciocnio lgico para a elaborao

    de uma melhoria a partir das observaes realizadas e contrastar a prtica com a

    teoria, foi delimitado que os temas de pesquisa para o trabalho seriam os conceitos

    de Gesto da Qualidade devido rea de atuao do trabalho; o Lean devido

    tendncia industrial e a importncia de seus conceitos de melhoria contnua; e por

    fim, a metodologia A3 como ferramenta para a organizao das ideias.

    C. Definir a problemtica:

    A investigao deve ser desencadeada a partir da colocao dos principais

    problemas da pesquisa de forma a dar sentido ao tema escolhido (THIOLLENT;

    1986). Neste trabalho, o autor considerou como problemticas a necessidade de

    elaborar um projeto de melhoria que atenda as necessidades situacionais do cliente

    (Departamento da Qualidade), a vasta amplitude do escopo de atuao no qual o

    trabalho est inserido e a complexidade das atividades e fluxos produtivos. Adiciona-

    se a essas problemticas, a ausncia de um conhecimento prvio de ferramentas

    para a modelagem do pensamento por parte do pesquisador.

  • 52

    D. Elaborar referencial terico:

    As atividades de levantar material terico e exemplos prticos do uso do

    pensamento A3 foram definidas em paralelo com a reviso dos conceitos dos

    autores de Gesto da Qualidade e Lean.

    E. Definir hipteses:

    Foram definidos como hipteses os questionamentos levantados pelo autor

    ao fim do passo de Diagnstico da Situao. Estas seriam:

    Implicaes de que existem diversas oportunidades de melhoria nos

    processos da qualidade interna so verdadeiros?

    O modelo de pensamento A3 pode ser usado para a elaborao de u