Ribeiro Pedro Figueiredo
-
Upload
alan-sousa-faria -
Category
Documents
-
view
60 -
download
0
Transcript of Ribeiro Pedro Figueiredo
-
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUO
PEDRO MIRANDA DE FIGUEIREDO RIBEIRO
Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de
melhoria contnua em uma empresa da indstria de linha
branca.
So Carlos
2012
-
2
PEDRO MIRANDA DE FIGUEIREDO RIBEIRO
Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de
melhoria contnua em uma empresa da indstria de linha
branca.
Trabalho de concluso de curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produo da Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Engenheiro de Produo Mecnica.
rea de Concentrao: Engenharia de Produo
Orientador: Prof. Dr. Kleber Francisco Esposto
So Carlos
2012
-
3
Resumo
RIBEIRO, P. M. F. Aplicao da Metodologia A3 como instrumento de melhoria
contnua em uma empresa da indstria de linha branca. Trabalho de concluso
de curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produo da Escola de
Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.
Uma das problemticas observadas nas organizaes o modo no qual o conceito
de melhoria contnua integrado rotina do trabalho. Desde os anos 50 esta
preocupao vem ganhando espao ao passo que os conceitos de qualidade so
integrados em todos os nveis organizacionais. Neste cenrio, a presente
monografia visa apresentar o uso da metodologia A3 como ferramenta para relato e
resoluo de problemas. O pensamento A3, oriundo da Toyota, foi adotado como
objeto de estudo devido ao seu poder de sustentao da sistemtica PDCA e a
filosofia Lean, intrnsecos. Para anlise e reflexo do uso da metodologia A3, esta foi
aplicada em uma indstria da linha branca por meio de uma pesquisa-ao. Neste
estudo, buscou-se a reduo da no qualidade dos produtos por meio de propostas
de melhoria nos processos de Gesto da Qualidade da empresa.
Palavras-chaves: Pensamento A3, Gesto da Qualidade, Produo Enxuta.
-
4
Abstract
RIBEIRO, P. M. F. Application of the A3 Methodology as a tool for continuous
improvement in a company of the white goods industry. Graduation work
submitted to the Department of Production Engineering of the Engineering School of
So Carlos, University of So Paulo.
One of the issues observed in organizations is the way in which the concept of
continuous improvement is integrated into the work routine. Since the 50s this
concern has been gaining space whereas the quality concepts are integrated into all
organizational levels. In this scenario, the present paper aims to present the A3
methodology as a tool for report and problem solving. The A3 thinking, arising from
Toyota, was adopted as object of study due to its power to sustain the PDCA
systematically and the Lean philosophy, inherent in its construction. For analysis and
reflection of the usage of the A3 methodology, this one was applied in an industry of
the white goods by means of an action-research. The aim of this study was to find a
reduction of the non-quality of the products by proposal of improvement in the
processes of Quality Management of the company.
Keywords: A3 Thinking, Quality Management, Lean Manufacturing.
-
5
Lista de Figuras
FIGURA 01 - A TRILOGIA DE JURAN. .............................................................................. 14 FIGURA 02 - INTER-RELAO ENTRE O CONCEITO DE QUALIDADE, GESTO DA QUALIDADE E
ELEMENTOS QUE A COMPEM. ................................................................... 16 FIGURA 03 - O CICLO DE CONTROLE. ............................................................................. 19 FIGURA 04 - VISO GERAL DA GARANTIA DA QUALIDADE NO PROCESSO. ........................... 20 FIGURA 05 - CONTRAMEDIDAS DE PREVENO CONTRA A REINCIDNCIA DE ANOMALIAS DE
ACORDO COM HOSOTANI. .......................................................................... 22 FIGURA 06 - "4 PS" DO MODELO TOYOTA. ..................................................................... 29 FIGURA 07 - PROCESSO DE SOLUO PRTICA DE PROBLEMAS DA TOYOTA. ..................... 33 FIGURA 08 - CONJUGAO DOS CICLOS DE MANUTENO E MELHORIA QUE COMPEM O
MELHORAMENTO CONTNUO. ...................................................................... 34 FIGURA 09 - MODELO A3 ............................................................................................. 35 FIGURA 10 - PROCESSO DE SOLUO PRTICA DE PROBLEMA ......................................... 40 FIGURA 11 - MTODOS DE TOMADA DE DECISO DA TOYOTA. .......................................... 45 FIGURA 12 - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ................................................................... 47 FIGURA 13 - CICLO DE PESQUISA-AO ......................................................................... 50 FIGURA 14 - RELATRIO A3 DE 10/08/2010 .................................................................. 57 FIGURA 15 - RELATRIO A3 DE 31/08/2010 .................................................................. 64 FIGURA 16 - RELATRIO A3 DE 14/09/2010 .................................................................. 69 FIGURA 17 - RELATRIO A3 DE 06/10/2010 .................................................................. 72 FIGURA 18 - PROPOSTA MAQ ...................................................................................... 76 FIGURA 19 - PROPOSTA ANDON .................................................................................... 78 FIGURA 20 - FLUXO DO HELP CHAIN .............................................................................. 80
-
6
Lista de Tabelas
TABELA 1 - VARIVEIS QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DO INSPETOR. ................... 24 TABELA 2 - TEORIAS CLSSICAS DE MOTIVAO E O MODELO TOYOTA. ............................ 26
-
7
Lista de Siglas
CIQ Central de Informaes da Qualidade
FPY First Pass Yield
IRC ndice de Reclamao de Clientes
LAP Laboratrio de Anlise de Produto
MAQ Matriz de Auto-Qualidade
OS Ordem de Servio
PPM Partes por milho
QRQC Quick Response Quality Control
STP Sistema Toyota de Produo
T/C Tempo de ciclo
-
8
Sumrio
Resumo ....................................................................................................................... 3
Abstract ....................................................................................................................... 4
Lista de Figuras ........................................................................................................... 5
Lista de Tabelas .......................................................................................................... 6
Lista de Siglas ............................................................................................................. 7
Sumrio ....................................................................................................................... 8
1. Introduo .......................................................................................................... 10
1.1. Contextualizao e Justificativa .............................................................. 10
1.2. Formulao do Problema e Objetivos da Pesquisa ............................... 10
1.3. Organizao do Texto ............................................................................... 11
2. Reviso Bibliogrfica .......................................................................................... 12
2.1. Gesto da Qualidade ................................................................................ 12 2.1.1. Origem e Definio .................................................................................. 12
2.1.1.1. Gurus da Qualidade ......................................................................... 12 2.1.1.2. Definio da Qualidade .................................................................... 15 2.1.1.3. Nveis de Gesto .............................................................................. 16
2.1.2. Custos de Qualidade ............................................................................... 17 2.1.2.1. Categorias ........................................................................................ 18
2.1.3. Controle da Qualidade ............................................................................. 18 2.1.3.1. Anlise de Anomalia ......................................................................... 19 2.1.3.2. Inspeo e Erros .............................................................................. 23
2.1.4. Desenvolvimento de Equipes .................................................................. 24 2.1.4.1. Teorias da Motivao ....................................................................... 25
2.2. Sistema Toyota de Produo ................................................................... 27 2.2.1. Jidoka ...................................................................................................... 29 2.2.2. 5s ............................................................................................................. 30 2.2.3. Melhoria Contnua ................................................................................... 31 2.2.4. Relatrio A3 ............................................................................................. 34
2.2.4.1. Os 7 Elementos do Pensamento A3 ................................................ 36 2.2.4.2. Metodologia A3 ................................................................................ 39 2.2.4.3. Pr-requisitos para uma Reunio Eficiente ...................................... 44 2.2.4.4. Tomada de Deciso ......................................................................... 44
3. Desenvolvimento do Trabalho ............................................................................ 47
3.1. Caracterizao da Empresa ..................................................................... 47 3.1.1. Estrutura Organizacional Envolvida ......................................................... 47
3.2. Metodologia de Pesquisa ......................................................................... 48 3.2.1. Classificao da Pesquisa ....................................................................... 48 3.2.2. Planejamento da Pesquisa ...................................................................... 49
3.2.2.1. Pr-passo (contexto e proposta) ...................................................... 51 3.2.2.2. Seis-passos principais ...................................................................... 52 3.2.2.3. Meta-passo para monitoramento ...................................................... 54
-
9
3.3. Relato e Anlise do Desenvolvimento da Pesquisa ............................... 54 3.3.1. Ciclo 1 Primeiro contato ....................................................................... 55
3.3.1.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 55 3.3.1.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 60
3.3.2. Ciclo 2 Avanos na anlise .................................................................. 63 3.3.2.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 63 3.3.2.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 66
3.3.3. Ciclo 3 Comunicao ............................................................................ 68 3.3.3.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 68 3.3.3.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 70
3.3.4. Ciclo 4 Amadurecimento do pensamento ............................................. 71 3.3.4.1. Relato das Atividades do A3 ............................................................ 71 3.3.4.2. Anlise dos Resultados .................................................................... 73
3.4. Propostas Geradas pelo A3 ..................................................................... 73
4. Consideraes Finais e Concluso .................................................................... 82
5. Referencias Bibliogrficas .................................................................................. 84
-
10
1. Introduo
1.1. Contextualizao e Justificativa
Nas ltimas dcadas, mudanas de paradigma na relao indstria e cliente
vem exigindo das corporaes o reposicionamento das estratgias e mudanas na
cultura de seus negcios. Uma vez que diversas empresas esto inseridas no
mercado e dispe de produtos semelhantes, estratgias de liderana em custo no
so suficientes para a atrao de novos clientes, colocando a Qualidade como fator
de diferenciao competitiva para a conquista dos mercados de consumo.
A busca pela Qualidade vem mostrando avanos desde o fim da Segunda
Guerra Mundial, principalmente pelos modelos de Gesto da Qualidade propostos
pelos Japoneses na dcada de 70. No mesmo perodo, surge a Toyota, empresa
que hoje carrega junto a sua imagem o conceito de Qualidade. Pode-se dizer que tal
imagem foi construda em paralelo ao sistema Lean de produo desenvolvido pelos
mesmos, que hoje dito como uma das tendncias corporativas, tendo como uma
de suas principais caractersticas a busca incessante pela melhoria contnua.
A construo de um modelo industrial voltado a melhoria contnua traz
consigo a cobrana por projetos e performance, e consequentemente a cobrana
por resultados. Adiciona-se a esta realidade a exigncia por profissionais
empreendedores em todos os nveis organizacionais das empresas, de maneira a
alimentar suas reas de trabalho com novas ideias e propostas.
Apresentada esta situao, o TCC tem como objetivo ilustrar o uso do
relatrio A3 como ferramenta de modelagem do pensamento em um caso ocorrido
em uma indstria do segmento de linha branca, que tinha como objetivo a
elaborao de propostas para a melhoria da gesto da qualidade.
1.2. Formulao do Problema e Objetivos da Pesquisa
Uma vez atuando nas aes de gesto da qualidade de uma indstria do
segmento de linha branca, o autor/pesquisador teve como atividade gerar uma
proposta de melhoria de qualidade que resultasse na reduo da no qualidade dos
produtos percebidos em campo, tendo os processos internos de fabricao como
seu escopo de atuao.
-
11
Este observao inicial resultou no seguinte problema de pesquisa, ilustrado
pela questo: Como chegar a uma proposta de melhoria de qualidade nos processos
internos de fabricao de uma indstria de linha branca? Com este questionamento
deu-se incio a elaborao do presente trabalho.
Para a resoluo desta problemtica a mentalidade A3 para gerenciamento
foi escolhida para o estudo deste trabalho. Desta forma, o presente estudo tem
como objetivo relatar e refletir sobre o uso da metodologia A3 na reduo da no
qualidade por meio de uma pesquisa-ao empregada em uma indstria de linha
branca, em um caso de gesto da qualidade.
1.3. Organizao do Texto
O texto do Trabalho de Concluso de Curso est distribudo em cinco
captulos. O primeiro deles a parte introdutria do trabalho, que apresenta de
forma sucinta, o contexto, justificativa, formulao do problema e objetivos,
ilustrando as motivaes do presente trabalho.
O segundo captulo traz uma reviso bibliogrfica com informaes
pertinentes ao entendimento do campo semntico tratado na pesquisa-ao. Os
temas abordados so relacionados ao ambiente de atuao da pesquisa e os
conceitos estudados durante a realizao desta, tendo destaque para conceitos de
Gesto da Qualidade, Sistema Toyota de Produo e Pensamento A3.
Em complementao ao captulo 2, o terceiro captulo tem como objetivo
demonstrar como a aplicao do estudo foi desenvolvido pelo autor. Tal explanao
se d por meio de uma breve caracterizao da empresa na qual o estudo foi
realizado, seguido do relato das atividades realizadas durante o mesmo. Ainda neste
captulo, quatro ciclos do desenvolvimento do pensamento A3 so analisados com o
fim de reflexo e aprendizado.
O quarto captulo, responsvel pelo fechamento do trabalho, so encontradas
reflexes crticas, contribuies e consideraes finais da investigao empregada.
Por ultimo, tem-se o capitulo cinco, no qual apresentada toda a bibliografia
utilizada de fonte para o desenvolvimento deste trabalho.
-
12
2. Reviso Bibliogrfica
2.1. Gesto da Qualidade
Os conceitos de qualidade vm sofrendo mudanas constantes ao longo das
ultimas quatro dcadas, tornando-se fora vital para as indstrias. A qualidade saiu
de um patamar secundrio, que visava apenas aspectos tcnicos - aes
operacionais focadas em pequenas melhorias de processos - para um nvel
estratgico, crucial para a competitividade das empresas. Essas mudanas
decorrem da nova viso mercadolgica aderida ao longo destes anos, no qual o
cliente assume a figura central dos objetivos da qualidade por meio de requisitos
para produtos e servios.
2.1.1. Origem e Definio
No passado, a qualidade dependia daquele que o produzia, no caso o arteso,
porm este sabia que a reputao e comercializao de seus produtos dependiam
da satisfao de seus clientes. Com a Revoluo Industrial no incio do sculo XX, e
o advento da produo em massa, iniciou-se a prtica de inspeo do produto. Nos
anos seguintes, novos conceitos de qualidade surgiram, mas foi na dcada de 50
que a gesto da qualidade tomou fora a partir de novas filosofias, conceitos e
tcnicas propostas pelos Gurus da Qualidade.
2.1.1.1. Gurus da Qualidade
Muitos tericos ajudaram a construir o que chamamos hoje em dia de
qualidade, porm alguns tiveram um papel crucial, contribuindo com suas ideias,
de tal forma que foram intitulados de gurus da qualidade.
W. Edwards Deming
Um dos mais reconhecidos e influentes pioneiros da qualidade no Japo e
Estados Unidos, Deming teve como grande contribuio o ciclo PDCA e os
conceitos filosficos e culturais da qualidade, conhecidos por 14 pontos de Deming,
descritos a seguir (CARPINETTI, 2010):
-
13
I. Busque constantemente a melhoria do produto e do servio, objetivando a
competitividade, a sustentabilidade do negcio e a gerao de empregos.
II. Faa com que a administrao tenha liderana, assuma novos desafios e
responsabilidades; uma mudana de filosofia.
III. No faa da inspeo o seu nico meio para atingir a qualidade.
Qualidade deve ser incorporada em toda empresa.
IV. No priorize negcios baseando-se apenas nos oramentos.
V. Diminua os custos ao mesmo tempo em que melhora a qualidade e a
produtividade.
VI. D treinamento no local de trabalho.
VII. Estabelea a liderana. Fazer com que pessoas e mquinas trabalhem
melhor papel da liderana.
VIII. Elimine o medo entre os trabalhadores. Torne o ambiente mais eficaz para
o trabalho.
IX. Quebre as barreiras entre os departamentos. As pessoas devem trabalhar
em equipe.
X. Elimine slogans, exortaes e metas numricas para a fora de trabalho.
Evite um ambiente adverso.
XI. Elimine quotas numricas e gerenciamento por objetivos. Substitua por
liderana.
XII. Remova as barreiras que impedem os trabalhadores de sentirem
satisfao e orgulho pelo seu trabalho.
XIII. Promova um forte programa de educao, treinamento e auto melhoria.
XIV. Faa da transformao um trabalho de todos.
Joseph M. Juran
Semelhante a Deming, Juran tambm realizou trabalhos no Japo e Estados
Unidos. Um de seus trabalhos, a Espiral do Progresso da Qualidade, mostra o
aspecto evolutivo do cliente medida que informaes so coletadas e
retroalimentadas ao ciclo produtivo (CARPINETTI, 2010). Outra contribuio valiosa
foi a Trilogia de Juran (Figura 1), composto pelo planejamento da qualidade, que
estabelece os objetivos de desempenho e o plano de aes para atingi-los; o
controle da qualidade, que consiste em avaliar o desempenho operacional e intervir
-
14
quando necessrio; e a melhoria da qualidade, que busca aperfeioar os processos
e produtos da empresa para novos nveis (CARVALHO et al., 2005).
Planejamento da
Qualidade
Controle da Qualidade (durante a execuo do
trabalho)
Zona Original do Controle
da Qualidade
Nova Zona do
Controle da
Qualidade
Pico de
Natureza
Aperfeioamento
da Qualidade
Desperdcio de
Natureza Crnica
Tempo
Porc
enta
gem
de D
efe
itos
Inc
io d
a E
xecuo
do T
rabalh
o
40
20
0
Figura 1 - A Trilogia de Juran. Fonte: JURAN (1991, p.20)
Philip B. Crosby
Seu programa de Zero Defeito, que tinha um forte apelo gerencial e
motivacional em fazer certo na primeira vez, tornou-o um dos gurus da qualidade.
Assim como Deming, Crosby possui seus prprios 14 pontos de qualidade
(CARVALHO et al., 2005):
I. Obter da alta gesto o compromisso com a qualidade.
II. Promover equipes de melhoria da qualidade em todos os setores.
III. Utilizar indicadores da qualidade na identificao de oportunidades de
melhorias.
IV. Levantar os diversos custos da qualidade ou decorrentes da m qualidade.
V. Disseminar e conscientizar para toda a empresa a importncia da qualidade
nos produtos e servios.
VI. Implantar o sistema de ao corretiva.
VII. Planejar o programa zero defeito.
-
15
VIII. Treinar os supervisores e demais responsveis.
IX. Criar o dia do zero defeito.
X. Definir metas e objetivos a serem alcanados.
XI. Erradicar as causas de erros.
XII. Valorizar e reconhecer publicamente os funcionrios e equipes que atingem
os objetivos. No envolva dinheiro no reconhecimento.
XIII. Instaurar crculos de qualidade para monitorar o processo.
XIV. Buscar a melhoria continua atravs da reviso constante dos itens anteriores.
Kaoru Ishikawa
Ishikawa foi importante na difuso de ferramentas e tcnicas de anlise e
solues de problemas de gerenciamento da rotina; em especial as setes
ferramentas da qualidade: anlise de Pareto; diagrama de causa-efeito; histograma;
folhas de controle; diagramas de escada; grficos de controle e fluxos de controle
(CARVALHO et al., 2005).
2.1.1.2. Definio da Qualidade
Qualidade um termo usado tanto na indstria quanto no cotidiano, sendo
encontrados mltiplos sentidos para o seu significado. Juran (1991) define qualidade
por meio de dois significados:
A qualidade consiste nas caractersticas do produto que vo ao encontro das
necessidades dos clientes, e dessa forma proporcionam a satisfao em
relao ao produto.
A qualidade a ausncia de falhas.
Juran (1991) complementa que a funo qualidade o conjunto das
atividades por meio do qual atingimos a adequao ao uso, no importando em que
parte da organizao essas atividades so executadas. J Carpinetti (2010)
conceitua qualidade como satisfao dos clientes. Esta definio contempla
adequao ao uso ao mesmo tempo em que contempla conformidade com as
especificaes do produto.
A satisfao do cliente quanto qualidade de um produto, segundo Carpinetti
(2010), depende da qualidade percebida, que a relao entre expectativa sobre o
-
16
produto no momento da aquisio e a perspectiva adquirida sobre o produto no
momento do consumo.
2.1.1.3. Nveis de Gesto
Apesar das varias definies dadas qualidade, faz-se necessrio trazer este
conceito para o mbito organizacional. Carvalho et al. (2005) ilustra por meio da
Figura 2 as inter-relaes entre o conceito de qualidade, gesto da qualidade e
elementos que a compem.
estabelecer os objetivos, processos e recursos para
cumprir os objetivos da qualidade
cumprir os objetivos e
requisitos da qualidade
prover confiana que os requisitos da
qualidade so cumpridos
GESTO DA QUALIDADE
atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organizao com relao
qualidade
QUALIDADE
habilidade de um conjunto de caractersticas de um produto, processo ou sistema em atender aos
requisitos dos clientes e outra partes interessadas
aumentar a eficcia e
eficincia
Planejamento da
Qualidade
Controle da
Qualidade
Garantia da
Qualidade
Melhoria da
Qualidade
Figura 2 - Inter-relao entre o conceito de qualidade, gesto da Qualidade e
elementos que a compem. Fonte: CARVALHO et al. (2005, p. 87)
Segundo Carpinetti (2010) as atividades da gesto da qualidade no ciclo de
vida do produto podem ser agrupadas em dois nveis de gesto:
Nvel estratgico: Tem como objetivo tornar a empresa apta a atender os
requisitos dos clientes ao mesmo tempo em que atinge resultados financeiros
satisfatrios. As decises estratgicas de como competir no mercado devem
guiar os esforos de melhoria da qualidade e reduo de desperdcios.
-
17
Nvel operacional: Tem como objetivo garantir que os atributos do produto e
requisitos do cliente sejam atendidos. Ademais, deve-se buscar a reduo
dos custos de no qualidade e outros desperdcios que geram ineficincia do
sistema produtivo.
2.1.2. Custos de Qualidade
De acordo com Juran (1997), a expresso Custo de Qualidade um tanto
quanto confusa, uma vez que inclui duas ideias distintas: os investimentos feitos
para tornar os produtos vendveis e os desperdcios devido a deficincias. A fim de
minimizar esta confuso, ele concentra-se no termo Custo de M Qualidade, e o
define como sendo aqueles custos que desapareceriam se nossos produtos e
processos fossem perfeitos.
Qualidade e custo, fatores de competitividade entre as organizaes, so
assuntos cada vez mais tratados com ateno pelas empresas. Carvalho et al.
(2005) ressalta que em mercados cada vez mais competitivos, no suficiente ter a
satisfao dos clientes, preciso ter a sua plena satisfao para poder fideliz-los.
Estudos na Alemanha e nos Estados Unidos mostram que atrair um novo cliente
custa em mdia, seis vezes mais do que manter um existente.
Juran (1991) identifica quais so os principais motivos que levam as
empresas a avaliarem os seus custos da qualidade, descrevendo-os em cinco
objetivos fundamentais:
I. Quantificar o tamanho do problema da qualidade em uma linguagem que
tenha impacto sobre a alta administrao.
II. Identificar as principais oportunidades para a reduo dos custos.
III. Identificar as oportunidades para diminuir a insatisfao do consumidor e
as respectivas ameaas facilidade de venda.
IV. Expandir os controles oramentais e de custos.
V. Estimular o aperfeioamento por meio de divulgao.
-
18
2.1.2.1. Categorias
Os custos de qualidade so classificados de diferentes maneiras por
diferentes autores. Juran (1991) resume estes custos em quatro grandes categorias:
Custos de falhas internas: So custos associados aos defeitos no
detectados antes da transferncia do produto ao consumidor. Estes custos
desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos.
o Sucata, retrabalho, analise de falhas, inspeo 100% para classificao,
reinspeo, perdas evitveis de processo e desvalorizao.
Custos de falhas externas: So custos associados aos defeitos que so
encontrados aps a transferncia do produto ao consumidor. Estes custos
desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos.
o Despesas com garantia, correo das reclamaes, material devolvido e
concesses.
Custos de avaliao: So os custos incorridos das atividades de verificao
do grau de conformidade com os requisitos de qualidade.
o Inspeo e testes no recebimento, inspeo e testes durante o processo,
inspeo e testes finais, auditorias de qualidade do produto, manuteno
da preciso dos equipamentos, avaliao de estoques e servios e
materiais para a inspeo e teste.
Custo de preveno: So os custos incorridos para manter em nveis mnimos
os custos de falha e de avaliao.
o Planejamento da qualidade, anlise dos produtos novos, planejamento de
processos, controle de processo, auditoria da qualidade, avaliao da
qualidade do fornecedor e treinamento.
2.1.3. Controle da Qualidade
O controle da qualidade consiste em um processo regulador pelo qual o
desempenho real da qualidade medido e comparado com os objetivos da
qualidade, tendo como consequncia uma ao sobre a diferena. A esta srie
universal de etapas dado o nome de Ciclo de Controle (Figura 3). O ciclo comea
com a definio do assunto que deve ser regulado. Posteriormente, um padro
estipulado como referncia para controle. Um sensor faz a aferio das medidas e
-
19
um avaliador compara o desempenho real com o objetivo. Caso o desempenho real
no atenda o objetivo, so acionados meios para estabelecer o status quo (JURAN,
1991).
Para Juran (1997), existem quatro nfases distintas de controle. A primeira
nfase o controle de partida de uma operao, que consiste em apertar ou no o
boto da partida. A segunda o controle de operao, que ocorre durante a
operao do processo, e tem como finalidade tocar ou parar o processo. A terceira
o controle de produto, que s ocorre aps certa quantidade de produtos j terem
sido fabricados, e tem como finalidade decidir se o produto esta ou no conforme.
Por ltimo existe a nfase em controle de instalaes, que consiste na manuteno
das instalaes fsicas como equipamentos, instrumentos e ferramentas.
2.1.3.1. Anlise de Anomalia
Por melhores que sejam as condies de trabalho, sempre ter uma parcela
da produo que no atender as especificaes, o defeito zero impossvel.
Portanto, cabe a ns reduzirmos a disperso dos resultados. Campos (2004)
propem uma viso geral da garantia da qualidade baseada no diagrama de causa-
efeito de Ishikawa (Figura 4), criando um critrio que prioriza as necessidades das
pessoas, os padres de trabalho e a melhoria contnua.
Figura 3 - O ciclo de controle. Fonte: JURAN (1991, p. 226)
-
20
Figura 4 - Viso geral da garantia da qualidade no Processo. Fonte: CAMPOS (2004, p. 140)
O f
luxogra
ma
det
alhad
o d
o
pro
cess
o
pe
a fu
nd
amen
tal
par
a a
gar
anti
a d
a qual
idad
e.
Mat
ria
s-P
rm
asE
quip
amen
tos
Info
rma
es
Cond
ies
A
mbie
nta
isP
esso
asP
roce
dim
ento
s
Pro
du
to
As
cond
ies
am
bie
nta
is
dev
em s
er e
spec
ific
adas
:
po
eira
, te
mper
atura
, um
idad
e,
etc.
4A
s pes
soas
dev
em e
star
tr
einad
as e
est
a
capac
ita
o d
eve
ser
aud
itad
a.
56
Os
pro
ced
imen
tos
dev
em e
star
pad
roniz
ados
e o t
rabal
ho d
eve
esta
r co
nfo
rme
os
pad
res
.
O p
rod
uto
dev
e at
end
er
s es
pec
ific
aes
den
tro d
a m
xim
a
confi
abilid
ade
econm
ica
vi
vel
.O
s pro
ced
imen
tos
de
insp
eo
dev
em s
er a
ud
itad
os.
7
Os
inst
rum
ento
s d
e m
edid
a d
evem
ser
afe
rid
os
per
iod
icam
ente
.Est
a af
eri
o
dev
e se
r au
dit
ada.
3
Inte
rrup
es p
rovoca
m
var
ia
es e
def
eito
s.
Os
equip
amen
tos
no
dev
em
par
ar.M
anute
n
o p
ara
mx
ima
confi
abilid
ade
e d
isponib
ilid
ade.
A
man
ute
n
o d
eve
ser
aud
itad
a.
2
Os
forn
eced
eres
dev
em
ser
aud
itad
os
em s
eus
sist
emas
da
qual
idad
e.
1
-
21
Qualquer desvio das condies normais de operao uma anomalia e exige
uma ao corretiva. Porm, o que se v nas indstrias brasileiras que os nveis
operacionais e de superviso no tem o conhecimento de suas prprias funes ao
se deparar com uma anomalia (CAMPOS, 2004).
Segundo Campos (2004), a funo do operador cumprir procedimentos
operacionais padro, para a sua prpria segurana e bem-estar, para a satisfao
dos seus clientes e para a garantia da sobrevivncia da empresa. Caso ocorra uma
anomalia (tanto as boas quanto as ruins) o operador deve relat-la aos supervisores.
Aos supervisores cabem trs papis em seu trabalho: verificar o cumprimento
dos procedimentos operacionais padro e treinar seus operadores, conduzir o
tratamento de anomalias (Figura 5) e ajudar a resolver os problemas da gerncia
(CAMPOS, 2004).
-
22
Reescreva o padro em conformidade
com o mtodo atual
Reescreva o padro usando diagramas e
figuras para fcil
compreeno
Reveja o padro sob o ponto de vista
tcnico
No est numa forma utilizvel
Os operadores tm dificuldade em
entender
No prtico ou no conduz a bons
resultados
O Procedimento Padro
apropriado?
Existe Procedimento
Padro?
Prepare um procedimento operacional padro e garanta que todos os operadores
sejam treinados
Investigue a Causa
432
1
Remova o Sintoma
Ocorrncia de Anomalia
O Procedimento Padro estava
sendo cumprido?
Os operadores no compreendem o
padro
Os operadores no possuem habilidade
para cumprir o padro
Os operadores nosentem necessidade
de cumprir o padro
As condies de trabalho so
inadequadas
Procedimento fcil de errar ou equipamento
complicado
Treine os operadores de acordo com os
padres
D treinamento tcnico aos operadores ou os
recoloque para
trabalhos diferentes
Instrua e guie os operadores a cumprir
padres
Melhore as condies de trabalho
Melhore os mtodos de trabalho, introduzindo
mecanismos prova de
erro
7 8 965
No
No
No
Sim
Sim
Sim
Figura 5 - Contramedidas de preveno contra a reincidncia de anomalias de
acordo com Hosotani. Fonte: CAMPOS (2004, p. 68)
-
23
2.1.3.2. Inspeo e Erros
De acordo com Juran e Gryna (apud JURAN, 1992), os inspetores devem
estar preparados para tomar trs decises cardiais para poder determinar a
disposio de um produto com base em sua qualidade:
Deciso sobre conformidade Para julgar se o produto est de acordo com
as especificaes.
Deciso sobre adequao ao uso Para decidir se um produto no conforme
adequado ao uso.
Deciso sobre comunicao Para decidir o que deve ser comunicado para
as pessoas de dentro e de fora.
Juran (1992) afirma que a eficcia da inspeo depende do comportamento
do inspetor. Por ser um processo que depende da deciso individual em diversos
momentos, a inspeo est merc do erro humano. A Tabela 1 mostra os fatores
que apresentam um efeito inter-relacionado na eficincia, produtividade,
confiabilidade e exatido do inspetor.
Deve-se salientar que os erros dos inspetores encontram-se em cerca de
20% do todo inspecionado, ou seja, pode-se garantir 80% de acurcia na inspeo
(JURAN, 1992). Para classificar esses erros, Juran (1992) prope uma classificao
dos erros dos inspetores em trs categorias:
Erro tcnico Falta de aptido para o trabalho; falta de conhecimento devido
educao ou treinamento profissional insuficiente; falta de habilidade
devido ausncia de talento natural ou do macete para realizar o trabalho.
Erro no-intencional No momento em que o erro cometido, o inspetor nem
mesmo percebe que est cometendo um erro.
Erro consciente Fraude, simplificao, esquiva e arredondamento.
-
24
Tabela 1- Variveis que influenciam o comportamento do inspetor. Fonte: JURAN (1992, p. 135)
2.1.4. Desenvolvimento de Equipes
Parte do sucesso da Toyota referncia em trabalho em equipe ocorre
devido ao equilbrio entre o trabalho individual e o trabalho em equipe, e entre a
excelncia individual e a eficincia em equipe. Todos entendem a importncia do
trabalho, porm h conscincia de que as equipes no realizam o trabalho com
agregao de valor, e sim os indivduos. Cabe s equipes coordenarem o trabalho,
as reunies e sugerir novas ideias, porm frequentemente o trabalho detalhado
realizado na individualidade. Por esse motivo deve-se dar importncia na triagem
dos futuros funcionrios, pois somente com indivduos excelentes sairo equipes
excelentes (LIKER, 2005).
-
25
Blanchard, Carew e Parise-Carew (apud LIKER, 2005), defendem a premissa
de que os grupos de trabalho necessitam de um tempo para o seu desenvolvimento;
no se pode criar altas expectativas ao reunir excelentes profissionais em um curto
espao de tempo. Blanchard descreve quatro estgios do desenvolvimento de uma
equipe:
Estgio 1: Orientao Sob forte orientao de um lder, o grupo deve
entender a misso bsica, as ferramentas que sero utilizadas e as regras de
envolvimento.
Estgio 2: Insatisfao Aps o incio do trabalho os indivduos ainda sentem
a necessidade de orientao, ainda no compreendem a dinmica social e
percebem as dificuldades do trabalho.
Estgio 3: Integrao Comea o esclarecimento do papel de cada um no
grupo e dos processos. No se faz mais necessria a presena constante do
lder.
Estgio 4: Produo O grupo tem conscincia de suas prprias tarefas e
funciona em alto desempenho.
2.1.4.1. Teorias da Motivao
Na literatura encontramos uma vasta gama de tericos e suas teorias da
motivao humana. No h como dizer que existe uma teoria mais correta, durante
as atividades dos trabalhadores todos os conceitos ditados pelos tericos podem
estar presentes ao mesmo tempo, como tambm podem estar ausentes, depende
muito do contexto em que o grupo esta inserido. Na Toyota pode-se observar a
presena do conceito de cinco grandes tericos, conforme descrito na Tabela 2
(LIKER, 2005).
-
26
Tabela 2 - Teorias clssicas de motivao e o Modelo Toyota. Fonte: LIKER (2005, p. 196)
De acordo com Campos (2004) a motivao ou sade mental (moral)
afetada por cinco pr-condies:
Fisiolgicas: Defenda um salrio cada vez maior para a sua equipe de acordo
com o valor que cada um agrega.
Segurana: A segurana deve estar presente no lar, na comunidade e no
emprego. Mantenha sempre reduzido as pessoas no seu quadro, mas
garanta a sua permanncia na empresa.
Sociais: Promova atividades em grupo na rea de trabalho, busque a amizade
entre o grupo.
Estima: Promova e reconhea os feitos pessoais de seus trabalhadores
perante o grupo.
Auto-realizao: Dentro do possvel, aloque as pessoas em atividades que as
agradem. Promova treinamentos e o auto-aprendizado.
-
27
2.2. Sistema Toyota de Produo
Na dcada de 1980, a Toyota pela primeira vez chamou a ateno mundial
mostrando que os veculos japoneses duravam mais que os americanos, tornando-
se sinnimo de qualidade e eficincia. Porm, somente por volta dos anos 1990 que
o mundo percebeu que havia algo de especial acontecendo naquela empresa.
Atravs de trabalhos de Womack, Jones e Ross, a Toyota foi descrita como uma
empresa que concebia e fabricava veculos velozes e confiveis a um custo
competitivo, graas consistncia de seus processos e produtos, e a velocidade de
resolver os seus problemas.
O Sistema Toyota de Produo (STP) a base para o movimento da
produo enxuta, que vem tomando fora nos ltimos 10 anos como tendncia
industrial. De acordo com Womack e Jones (2004), a produo enxuta definida
como um processo de cinco princpios: definir o valor do cliente, definir o fluxo de
valor, criar um fluxo contnuo, puxar a produo a partir do cliente e buscar a
perfeio.
O fundador do STP, Taiichi Ohno1 (1988 apud LIKER, 2005, p.29), descreve o
seu sistema da seguinte maneira:
O que estamos fazendo observar a linha do tempo desde o momento em que o cliente nos faz um pedido at o ponto em que recebemos o pagamento. E estamos reduzindo essa linha do tempo, removendo as perdas que no agregam valor.
Segundo Liker (2005), a excelncia da Toyota baseada em melhoria da
qualidade e ferramentas como just-in-time, kaizen, fluxo unitrio de peas,
autonomao (jidoka) e nivelamento da produo (heijunka). Mas o verdadeiro
sucesso da empresa no est nas ferramentas utilizadas e sim na filosofia
empresarial baseada na compreenso das pessoas, motivao e liderana.
Em seu trabalho, Liker (2005) descreve 14 princpios que julga serem os
alicerces do Sistema Toyota de Produo, podendo ser divididos em quatro
subgrupos, os 4 Ps do Modelo Toyota, ilustrados na Figura 6 (LIKER, 2005):
1P Filosofia de Longo Prazo
Basear as decises administrativas em uma filosofia de longo prazo, mesmo
em detrimento de metas financeiras.
1 OHNO, T. Toyota production system: beyond large-scale production. Portland: Productivity Press,
-
28
2P O Processo Certo Produzir os Resultados Certos
Criar um processo de fluxo contnuo para trazer os problemas tona.
Evitar superproduo por meio de sistemas puxados.
Nivelar a produo (heijunka).
Instaurar a cultura de resolver problemas e fazer certo na primeira vez.
Padronizar tarefas, criando uma base para a melhoria contnua e a
capacitao dos funcionrios.
Utilizar gesto visual para que nenhum problema fique oculto.
Utilizar somente tecnologias que atendam completamente as necessidades
dos funcionrios e processos.
3P Valorizao da Organizao Atravs do Desenvolvimento de seus
Funcionrios e Parceiros.
Desenvolver lderes que compreendam a filosofia do trabalho e ensinem
outros colaboradores.
Desenvolver equipes e pessoas que sigam a filosofia da empresa.
Respeitar a sua rede de parceiros e de fornecedores desafiando-os e
ajudando-os a melhorar.
4P A Soluo de Problemas na Origem Estimula a Aprendizagem
Organizacional.
Observar por si mesmo a situao para s ento compreender
completamente o problema (genchi genbutsu).
Implementar rapidamente aps uma tomada de deciso; que por meio de um
processo lento e por consenso, tenha considerado completamente todas as
opes.
Refletir incansavelmente (hansei) e buscar a melhoria contnua (kaizen) para
s assim se tornar uma organizao de aprendizagem.
-
29
Resp
eito
e tra
balh
o G
ench
iNomenclatura
ToyotaSoluo
de
problemas
(Aprendizagem
e melhoria
contnua)
Funcionrios e parceiros
(respeit-los, desafi-los e
desenvolve-los)
Processo
(Eliminao de perdas)
Filosofia
(Pensamento de longo prazo)
D
esa
fio K
aiz
en
em
equip
e G
enbuts
u
Desa
fio
Aprendizagem organizacional contnua atravs do Kaizen
Ver por si mesmo para compreender a situao (Genchi Genbutsu)
Tomar decises lentamente, atravs de consenso, considerando
completamente todas as opes; implement-las com rapidez (Nemawashi)
Desenvolver lderes que vivenciem a filosofia
Respeitar, desenvolver e desafiar o pessoal e as equipes
Respeitar, desafiar e auxiliar os fornecedores
Criar um fluxo de processo para trazer os problemas tona Utilizar sistemas de puxar para evitar a superproduo
Nivelar a carga de trabalho (produo nivelada)
Parar quando houver problema de qualidade (autonomao)
Padronizar tarefas para melhoria contnua
Usar controle visual para que os problemas no passem despercebidos
Usar somente tecnologia confivel totalmente testada
Basear as decises administrativas em uma filosofia de
longo prazo, mesmo em detrimento de metas
financeiras de curto prazo
Figura 6 - "4 Ps" do Modelo Toyota. Fonte: LIKER (2005, p. 28)
2.2.1. Jidoka
Um dos pilares do STP, o jidoka tambm chamado de autonomao
(equipamento dotado de inteligncia para desligarem-se quando apresentar
problema), teve seu incio com as invenes de Sakichi Toyoda que revolucionaram
o tear mecnico. Uma dessas invenes era um dispositivo que detectava quando
um fio havia se partido, fazendo o tear mecnico parar automaticamente quando se
ocorre o rompimento, evitando que o defeito se repetisse. O jidoka incorporado ao
STP devido importncia dada de se produzir de forma correta j na primeira vez,
que mais eficaz e menos oneroso que prticas de inspeo e posteriores
concertos (LIKER, 2005).
Sobek e Smalley (2010) questionam porque algum iria querer interromper a
linha de produo? A resposta que os lderes da Toyota no querem parar a linha,
afinal, a parada de linha custa caro empresa e acarreta em atrasos nas entregas
aos clientes. Com essas paradas, os lderes desejam revelar os problemas para que
as pessoas que trabalham nos processos atuem na causa fundamental, deste modo
fortalecendo o processo. Liker (2005) salienta que trazer continuamente os
problemas tona e resolv-los quando ocorrem, so procedimentos que eliminam
as perdas, aumentam a produtividade e deixam para trs os concorrentes que fazem
as linhas de montagem funcionarem sem parar, deixando os problemas se
acumularem.
-
30
Quando um equipamento interrompido na Toyota, bandeiras ou luzes,
geralmente acompanhadas de alertas sonoros, so utilizadas para sinalizar a
anomalia e acionar ajuda para a resoluo do problema. Este sistema de sinalizao
chamado de andon, que significa sinal de luz para pedir ajuda. O sistema tem
como funo sinalizar para todos os envolvidos a existncia de um problema que
deve ser resolvido em sua causa raiz, servindo de fasca para o acionamento de
toda a cadeia de ajuda (LIKER, 2005).
Liker (2005) ressalta que no adianta despender dinheiro nos mais modernos
e melhores sistemas de sinalizao se os conceitos de qualidade no estejam
enraizados na empresa, deixando claro que no h transigncia quando se trata de
qualidade. O andon s funciona quando os funcionrios so ensinados quanto
importncia da ferramenta, que trazer tona os problemas para que sejam
rapidamente resolvidos. Esta ferramenta, devido ao seu feedback muito rpido, tem
grande poder de modificao comportamental, pois mesmo sendo um feedback
negativo, por ser uma advertncia impessoal, as pessoas sabem os resultados de
seu trabalho de forma natural. Porm, a menos que se tenha um processo de
soluo de problemas bem estabelecido e que as pessoas o sigam, no h motivos
para a utilizao do andon.
2.2.2. 5s
Nos anos 70 e 80, peregrinaes de americanos em fbricas japonesas da
Toyota eram corriqueiras, e a primeira impresso era invariavelmente que as
fbricas eram to limpas que dava para comer no cho. Na cultura japonesa era de
se estranhar a surpresa dos americanos, afinal, achavam natural e se sentiam no
direito de trabalharem em lugares limpos e organizados. No Japo, uma srie de
atividades para eliminar as perdas que contribuem para erros, defeitos e acidentes
de trabalho chamado de programa 5S.
De acordo com Liker (2005), os 5S so:
Seiri (Classificar) Classificar os itens, separar o til do intil e eliminar o que
no for necessrio.
Seiton (Organizar) Organizar e manter as coisas em um local pr-
determinado.
-
31
Seiso (Limpar) Limpar com frequncia, facilitando a exposio de condies
anormais que possam causar problemas nos equipamentos ou prejudicar a
qualidade.
Seiketsu (Padronizar) Padronizar procedimentos que facilitem a
manuteno dos trs primeiros S.
Shitsuke (Disciplinar) Criar a disciplina necessria para manter bom
ambiente de trabalho e promover a melhoria contnua.
Para Liker (2005), ao no utilizar o 5S, ocorre o encobrimento de problemas, que
vo se acumulando ao longo dos anos e acabam tornando-se uma disfuno aceita
no trabalho. O controle visual em um ambiente de trabalho fundamental para
informar ao trabalhador como o trabalho deve ser executado e se h algum desvio
de padro. Este aspecto visual significa poder enxergar rapidamente um processo,
um equipamento, uma informao, um funcionrio exercendo o seu trabalho e
instintivamente perceber qual o padro que esta sendo usado para aquela
atividade.
2.2.3. Melhoria Contnua
Nos dias de hoje difcil imaginar uma empresa que ir desenvolver um
produto e explor-lo durante anos com a mesma vantagem competitiva original. Para
a sobrevivncia das empresas no sculo XXI necessrio adaptao, inovao e
flexibilidade, alm do atributo mais importante, a habilidade de aprender. Senge2
(1990 apud LIKER, 2005, p.244) define uma organizao de aprendizagem como um
lugar
[...] onde as pessoas continuamente expandem sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde novos e extensos padres de pensamento so alimentados, onde a aspirao coletiva liberada e onde as pessoas constantemente esto aprendendo a aprender juntas.
De acordo com Liker (2005), a melhoria contnua s deve ser iniciada aps os
processos estarem estveis e padronizados, porque neste momento possvel
2 SENGE, P. M. The Fifth Discipline: The Art and Practice of the Learning Organization. New York: Doubleday, 1990, p. 1.
-
32
visualizar as perdas e ineficincias, sendo uma oportunidade nica para aprender
continuamente a partir das melhorias impostas. Para se tornar uma organizao de
aprendizagem deve-se ter estabilidade de pessoal, sistema lento de promoo e um
sistema de sucesso que proteja a base do conhecimento organizacional.
Segundo Dennis (2007), o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA) uma
expresso do mtodo cientfico ao qual nossa sociedade deve sua prosperidade; o
modelo mental mais importante na busca da melhoria contnua. Pode-se definir os
quatro estgios do ciclo PDCA como (SHOOK, 2008):
Planejar (Hiptese) Identificar os problemas existentes, definir metas
para um processo e propor aes.
Fazer (Experimentar) Promover mudanas ou gerar novos processos.
Verificar (Refletir) Avaliar e aprender com os resultados.
Agir (Ajustar) Incorporar o aprendizado e promover a padronizao e
estabilizao do processo.
Outra ferramenta que integra a melhoria contnua a anlise Cinco Por
Qus, que consiste em chegar raiz do problema perguntando por que cinco
vezes. Ao contrrio de outro grande mtodo de soluo de problemas, o Seis Sigma,
o cinco por qus se baseia na simplicidade, afinal, a maioria dos problemas no
requer anlises complexas, mas sim uma soluo detalhada e esmerada (LIKER,
2005). Shook (2008) adiciona que a utilizao eficiente do cinco por qus pode evitar
que a vida busca por resposta torne-se uma perseguio pelos responsveis. A
Figura 7 mostra o mtodo de aplicao do cinco por qus na Toyota.
-
33
Figura 7 - Processo de soluo prtica de problemas da Toyota. Fonte: LIKER (2005, p.149)
-
34
No entanto, Campos (2004) alerta que mesmo que voc tenha um bom
processo em mos, e esse venha sofrendo constantes melhorias e resultados
confiveis, uma alterao no cenrio pode gerar uma sequncia de eventos como a
mudana nas necessidades dos seus clientes, a entrada de novos concorrentes no
mercado, o surgimento de novos materiais e novas tecnologias, que far com que o
seu processo se torne obsoleto. Portanto, conforme pode ser visto na Figura 8,
muito embora as melhorias sucessivas sejam importantes, necessrio
constantemente questionar os seus produtos e seus processos.
2.2.4. Relatrio A3
O relatrio A3, assim chamado devido ao tamanho do papel usado
tradicionalmente em sua confeco, a base do sistema de gerenciamento Toyota,
sempre buscando o aperfeioamento dos funcionrios, por meio do dilogo e da
anlise. O relatrio busca identificar a situao atual, a natureza do problema, a
gama de contramedidas possveis, a melhor contramedida, as maneiras de coloc-la
em prtica e a evidncia de que o problema foi efetivamente solucionado (Figura 9).
Figura 8 - Conjugao dos ciclos de manuteno e melhoria que compem o
melhoramento contnuo. Fonte: CAMPOS (2004, p.185)
-
35
Que
ati
vidad
e se
ro
nece
ssr
ias
para
a im
plem
enta
o
e qu
em s
er
resp
ons
vel p
elo
qu
e qu
ando?
Qua
is s
o o
s in
dic
ador
es d
e des
empe
nho
ou d
e pr
ogre
sso?
-
Inco
rpor
e um
gr
fico
de
Gan
tt o
u dia
gram
a si
mila
r qu
e m
ostr
a as
a
es/r
esul
tados
, cro
nogr
ama
e re
spon
sabili
dad
es. P
ode
incl
uir
det
alhe
s so
bre
for
mas
es
peci
fica
s de
impl
emen
ta
o.
Qua
l a
sua
pro
post
a pa
ra a
ting
ir a
sit
ua
o fu
tura
, a
cond
io
alv
o?
Com
o su
as c
ontr
amed
idas
rec
omen
dad
as a
feta
m a
cau
sa
raiz
par
a at
ingi
r a
met
a?
Qua
l a
(s)
caus
as(s
) ra
iz d
o pr
oble
ma?
-
Sel
ecio
ne a
fer
ram
enta
de
anl
ise
de
prob
lem
as m
ais
s
impl
es q
ue m
ostr
e cl
aram
ente
a r
ela
o c
ausa
e e
feit
o.
Que
res
ulta
dos
esp
ecf
icos
so
exig
idos
?
Com
o es
to
as c
oisa
s ho
je?
-
Mos
tre
visu
alm
ente
uti
lizan
do
quad
ros,
gr
fico
s,
des
enho
s, m
apas
, etc
.
Por
qu
est
fal
ando
sobre
isso
?
Tt
ulo:
Sob
re o
que
voc
es
t f
alan
do?
I. C
onte
xto
II. C
ondi
es
atua
is
III.
Obje
tivo
s/M
etas
IV. A
nlis
e
V. C
ontr
amed
idas
pro
post
as
VI.
Pla
no
Qua
l o
pro
ble
ma?
Res
p./D
ata
VII
. Aco
mpa
nham
ento
Que
pro
ble
mas
pod
em s
er a
ntec
ipad
os?
-
Ass
egur
ar u
m P
DCA
con
tnu
o. -
Cap
ture
e c
ompa
rtilh
e o
apre
ndiz
ado.
Figura 9 - Modelo A3 Fonte: SHOOK (2008, p.08)
-
36
Sobek e Smalley (2010) definem o relatrio A3 como uma poderosa
ferramenta que busca estabelecer uma estrutura concreta para implementar a
gesto PDCA, ao mesmo passo que ajuda os autores do relatrio a uma
compreenso mais profunda do problema, das oportunidades e das novas ideias
sobre como atacar o problema. O A3 facilita a coeso e o alinhamento interno da
organizao em relao ao melhor curso de ao. Shook (2008) enfatiza que o
relatrio A3 orienta o dilogo e a anlise, sendo uma ferramenta poderosa na
elaborao de contramedidas eficazes baseadas em fatos.
Para se entender a fora do relatrio A3 e o pensamento que existe por trs
dele, necessrio ter o entendimento do ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA). Porm,
podemos diferenciar os mtodos de acordo com a sua origem. O PDCA, de origem
ocidental, tem a tendncia de nos orientar para resultados de curto prazo; segue-se
em frente quando o problema resolvido. J o relatrio A3, de origem na Toyota
japonesa, o processo pelo qual os resultados so conquistados to importante
quanto resoluo do problema; busca-se sempre o aprendizado e evita-se a
recorrncia do problema. Costuma-se dizer que se a Toyota e uma empresa
americana enfrentarem um mesmo problema, a americana vai gastar os trs
primeiros meses com planejamento, os trs seguintes com implementao e os
ltimos seis meses com ajustes e correes de detalhes. Ao passo que na Toyota,
gastaria onze meses com planejamento e um ms com Implementao (SOBEK;
SMALLEY, 2010).
2.2.4.1. Os 7 Elementos do Pensamento A3
Sobek e Smalley (2010) caracterizam a mentalidade por trs do sistema A3
em sete elementos:
Processo de raciocnio lgico
Padres de pensamento bem estruturados por relatrios A3 ajudam a
promover e reforar processos de raciocnio lgico completos, de forma a atacar
todos os detalhes importantes, levando em considerao os diversos caminhos em
potencial e os efeitos da implementao; antecipando possveis obstculos e
contingncias.
-
37
O poder do A3 est em criar abordagens socialmente construdas e
consistentes, de modo que os membros da organizao passem menos tempo
correndo sem sair do lugar ou tentando descobrir como outra pessoa esta
abordando uma mesma situao.
Objetividade
Cada pessoa v o mundo com os seus prprios olhos, uma realidade
diferente para cada indivduo, sendo que cada pessoa tende a acreditar que a sua
viso a certa. Em uma organizao, os indivduos possuem um entendimento
suficiente comum para poderem trabalhar em conjunto, porm, quando vamos mais
afundo nos detalhes da situao, o entendimento comum comea a desmoronar e
afloram-se as diferenas de como vemos a realidade.
O pensamento A3 tenta reconciliar os diversos pontos de vista, j que uma
viso da situao que inclui mltiplas perspectivas costuma ser mais objetiva que
qualquer ponto de vista isolado. a busca de uma representao compartilhada
para uma realidade compartilhada.
Resultados e processos
Todas as organizaes so orientadas para resultados, porm, atingir metas
com processos descuidados inadmissvel; o fim no justifica os meios. Espera-se
no pensamento A3 o desenvolvimento pessoal na conquista de resultados, de modo
a ficar clara a compreenso do problema, a investigao de alternativas para a
soluo e o entendimento da proposta em um contexto maior. A conquista de
resultados acidentalmente ou pela sorte, no vale muito a longo prazo.
Os resultados so a resposta de nossa compreenso. Os maus resultados
no apenas deixam de fazer a organizao avanar, mas tambm refletem uma m
compreenso do problema; uma situao que precisa ser consertada.
Sntese, destilao e visualizao
Os relatrios A3 so propositalmente breves, mas sua brevidade no o
objetivo em si, e sim um benefcio secundrio que surge de seu processo de
elaborao. A brevidade fora a sntese da aprendizagem adquirida durante a
pesquisa sobre o problema. A elaborao do A3 faz com que informaes, das mais
-
38
variveis fontes, se interajam em um retrato coerente da situao e da ao futura
recomendada.
Porm, nem todas as informaes obtidas merecem o mesmo destaque.
Cabe ao autor destilar todas as informaes coletadas at obter um retrato
sintetizado dos pontos cruciais necessrios para o posicionamento e entendimento
adequado da partes envolvidas.
A maneira mais eficiente de transmitir informaes por meio de desenhos e
grficos; que com o auxlio da narrao do autor pode fornecer uma quantidade
incrvel de detalhes. Um simples desenho do processo e do problema pode eliminar
mil palavras, alm do tempo e da energia necessrios para explic-las.
Alinhamento
Com o consenso, a equipe rene esforos para superar obstculos e realizar
mudanas. Ao colocar no papel os principais fatos, d aos afetados pelas decises
do A3 algo concreto com o qual pode concordar ou discordar.
O pensamento A3 requer uma comunicao tridimensional: horizontal
(atravs da organizao), vertical (em toda a hierarquia) e em profundidade (para
frente e para trs no tempo). Funcionalmente, a equipe de soluo de problemas se
comunica horizontalmente com outros grupos na organizao que podem ser
afetados pela mudana proposta. A equipe tambm se comunica verticalmente com
a linha de frente para ver como estes sero afetados, e com gerentes em nveis
superiores da hierarquia para determinar se alguma questo ampla no foi
trabalhada. No menos importante, leva-se o histrico da questo em considerao
para a anlise de solues anteriores, alm da incluso de possveis exigncias
futuras.
Coerncia interna e consistncia externa
O estabelecimento de um fluxo lgico e de um padro generalizado de
soluo de problemas um dos segredos do relatrio A3, que busca aumentar a
visibilidade da coerncia ou a falta dessa, na abordagem usada.
Na elaborao do A3:
o O tema deve ser consistente com as metas.
o O diagnstico da situao atual se alinha com o tema.
-
39
o A anlise da causa fundamental segue diretamente da anlise da situao
atual.
o As solues propostas impactam as causas fundamentais identificadas.
o O plano de implementao aciona as solues.
o O plano de acompanhamento testa os resultados das solues, em
contraste com as metas estabelecidas no comeo do relatrio.
Ponto de vista sistmico
Na busca pela manuteno de um ponto de vista sistmico, o indivduo deve
ser orientado a desenvolver uma compreenso profunda do propsito das melhorias
em ao, de como as melhorias fazem avanar as metas, das necessidades e
prioridades da organizao, tal como seu papel se encaixa no contexto e afeta
outras partes da organizao.
Para o bem geral da organizao, o solucionador de problemas deve
compreender a situao em um contexto suficientemente amplo. preciso evitar
solues que resolvem os problemas de uma parte da organizao e criem outros
em outra parte.
2.2.4.2. Metodologia A3
A elaborao de relatrios A3 importante, mas no mais importante
quanto s atividades executadas na criao do relatrio e as conversas que os
relatrios ajudam a gerar. Para Shook (2008), um relatrio A3 deve contar uma
histria, de forma que qualquer pessoa possa entend-la. No deve ser um relatrio
que trabalhe metas e problemas de maneira isolada e esttica. Espera-se do
relatrio um comeo, meio e fim; uma narrativa padronizada que compartilhe a
histria completa, relacionando elementos especficos, sequenciando os fatos e
informando as causas. Segundo Dennis (2007), da natureza humana pular as
etapas do processo de raciocnio A3, isso ocorre devido ansiedade por novas
respostas, no seguindo um caminho claro e conciso em sua busca.
A partir de observaes e pesquisas na Toyota, Sobek e Smalley (2010)
prope um processo geral para abordar problemas que ocorrem durante o trabalho.
O processo proposto (Figura 10), apesar de aparentar ser serial, tem uma natureza
interativa; quando necessrio os passos so repetidos, remediando quaisquer falhas
-
40
e lidando com preocupaes que surgiram em fases anteriores. Shook (2008)
salienta que o processo A3 deve incorporar todo o rigor minucioso do ciclo PDCA
em seu processo, enfatizando o aprendizado em cada etapa do caminho.
7
Obter aprovao
5
Criar o plano de acompanhamento
4
Criar o plano de implementao
3
Criar contramedidas e visualizar o estado futuro
2
Identificar a causa fundamental
1
Entender a situao atual
9
Executar o plano de acompanhamento
8
Executar o plano de implementao
6.D
iscu
tir
co
m a
s p
art
es a
feta
da
s
Problema percebido
Metas Atingidas?
10
Estabelecer padro do processo
No
Sim
Agir
Verificar
Executar
Planejar
Figura 10 - Processo de soluo prtica de problema Fonte: SOBEK; SMALLEY (2010. P.43)
Os sete primeiros passos representam a etapa Planejar do ciclo PDCA, aps
o passo de aprovao entramos na etapa Executar seguida pela etapa Verificar. Se
as metas forem atingidas entra-se na etapa final Agir, caso ao contrrio comea tudo
-
41
de novo. A seguir uma explanao mais detalhada de todos os passos (SOBEK;
SMALLEY, 2010):
Entender a situao atual
Neste passo espera-se o entendimento completo do problema, no contexto no
qual ocorre. A importncia de visualizar o contexto se deve ao fato de que muitas
vezes o segredo para resolver um problema est em um detalhe esquecido, que
ningum tenha notado.
O primeiro passo que o solucionador de problemas deve executar ir
fisicamente ao local real onde o problema ocorreu e observar a situao em primeira
mo (gemba). Durante esta atividade deve-se conversar com os envolvidos na
busca de informaes de onde, quando e sob quais condies o problema ocorreu,
alm de confrontar o que deveria estar acontecendo e no est, ou o que est
acontecendo e no deveria.
Esta fase pode ser comparada com a cena de um assassinato. A menos que
o investigador analise por si mesmo pouco tempo depois do fato, com sua viso
especializada, antes que a cena seja contaminada, no conseguir ver as
evidncias necessrias para capturar o assassino.
Assim, ir ao gemba e poder observar e entender como o sistema funciona a
maneira mais eficaz de verificar e atualizar a imagem mental que representa com
mais fidelidade a realidade. O prximo passo desenhar uma figura ou diagrama
que ilustre a situao, o processo ou o sistema atual e os problemas observados, de
forma a criar uma documentao que possa ser compartilhada.
Identificar a causa fundamental
Quando se depara com um problema na origem, costuma ser relativamente
simples identificar a causa direta do problema. No entanto, raro que a causa mais
obvia seja a causa fundamental.
Cabe ao solucionador de problemas realizar observaes e experimentos na
busca pela causa fundamental, aquela que, se resolvida, eliminar todas as
ocorrncias futuras do problema. A abordagem dos cinco porqus ou Seis Sigma
so ferramentas que podem auxiliar nesta descoberta.
-
42
Geralmente, os problemas so resultados de atividades mal especificadas,
relaes obscuras ou caminhos complicados e indefinidos. Spear and Bowen (1999)
propem quatro regras para projetar o sistema de trabalho:
o As atividades devem ser especificadas de acordo com contedo,
sequncia, durao e resultado.
o As relaes entre clientes e fornecedor devem ser claras, diretas e
binrias.
o As rotas dos produtos ou bens devem ser simples e diretas.
o As melhorias devem ser realizadas de acordo com um mtodo cientifico,
sob orientao e nos nveis mais baixos da organizao.
Criar contramedidas e visualizar o estado futuro
Aps estabelecer a causa fundamental, deve-se pensar nas mudanas
necessrias no sistema atual que trabalhem a(s) causa(s). A Toyota chama essas
medidas especficas de contramedidas, que devem ser projetadas para prevenir a
recorrncia do problema.
Com a criao das contramedidas de se esperar uma visualizao do
estado futuro, que deve ser representado graficamente, ilustrando como o novo
sistema, processo ou procedimento ir operar depois que as contramedidas forem
implementadas.
Neste momento, o solucionador deve compartilhar as mudanas propostas
para os representantes dos grupos que sero impactados pela soluo. Dentro do
possvel, o feedback dos envolvidos devem ser levados em considerao, com isso,
espera-se enriquecer a proposta e evitar problemas posteriores.
Criar um plano de implementao
Com as contramedidas e o estado futuro bem definidos parte-se para a
implementao, uma fase que pode se tornar problemtica. Em algumas
organizaes, as boas ideias vm tona apenas para serem abandonadas, pois no
h um caminho claro para sua implementao.
A implementao faz parte de qualquer proposta de soluo de problema, ela
consiste de tarefas exigidas para realizar as contramedidas propostas, dos
responsveis por cada atividade e de quando a atividade ser completada. A
ferramenta 5W1H (Who, What, Where, When, Why e How) pode ser utilizada para
-
43
esta tarefa. Paralelamente, um plano de colaborao deve ser criado para que as
pessoas listadas nas atividades concordem em executar suas tarefas dentro dos
prazos estipulados.
Criar um plano de acompanhamento
Aps todas as atividades at agora descritas, de se esperar que haja um
comparativo peridico entre os resultados estipulados e os resultados reais; logo
criado um plano de acompanhamento.
O acompanhamento tem como benefcios determinar se o que foi
implementado teve algum efeito, se o aprendizado sobre o mtodo A3 gerou o real
entendimento da situao atual, e por ltimo mostrar que a organizao est
prestando ateno nos problemas, atravs do acompanhamento de indivduos
importantes e gerentes.
Obter aprovao
Qualquer mudana deve ser aprovada antes de ser executada. Pode parecer
uma regra burocrtica, mas ela tem um papel crtico no modelo A3. A aprovao,
acima de tudo, uma oportunidade explcita de mentoramento, o que d ao gerente
a oportunidade de orientar o solucionador, refinar suas habilidades de deduo e
investigao, ajudar a construir suas capacidades comunicativas e expandir sua
rede social. Outro aspecto importante que o processo de aprovao garante o rigor
e a objetividade do processo e a profundidade do entendimento conquistado.
Executar os planos de implementao e acompanhamento
Aps a aprovao, o plano de implementao executado, sempre seguindo
ao mximo o que foi planejado. Paralelamente, o plano de acompanhamento inicia-
se. Dependendo desses resultados, dois cursos de ao so possveis. Caso os
resultados sejam satisfatrios, as mudanas so estabelecidas como processo
padro e os resultados so disseminados. Caso os resultados no sejam
satisfatrios, voltam-se os esforos em descobrir por que os resultados no foram
atingidos e aes corretivas so realizadas.
-
44
2.2.4.3. Pr-requisitos para uma Reunio Eficiente
De maneira geral, grande parte das empresas sofre com reunies de
propsitos vagos e formato inapropriado. comum se deparar com reunies no qual
as pessoas atrasam ou at mesmo no comparecem, somente a pessoa que
preside a reunio se prepara e recursos visuais ocasionais e pouco comunicativos
so utilizados. Ou seja, um mtodo demorado, pesado e dispendioso de se chegar a
uma deciso (LIKER, 2005).
Uma das grandes vantagens de se usar a comunicao no formato A3 a
eficincia que se obtm nas reunies. Liker (2005) define seis pr-requisitos para
uma reunio eficiente:
Os objetivos da reunio devem ser claros e exequveis.
As pessoas primordiais para a reunio devem comparecer.
Previamente, os participantes devem estar cientes dos objetivos e se
prepararem para a reunio.
Os recursos visuais devem ser explorados com objetividade. O formato A3
extremamente eficaz.
O mximo possvel de informaes deve ser compartilhado antes da reunio.
O tempo gasto durante a reunio deve ser focado na soluo de problemas.
A reunio deve seguir o seu agendamento. Comea e termina na hora
marcada.
2.2.4.4. Tomada de Deciso
Para Toyota, o caminho pelo qual percorre para se chegar deciso to
importante quanto qualidade da deciso. Investir tempo e esforo para fazer as
coisas direito imperativo. O segredo da Toyota para uniformizar e tornar perfeita a
implementao de novas iniciativas o planejamento cuidadoso, que pode ser
visualizado na Figura 11 (LIKER, 2005).
-
45
Segundo Liker (2005) a completa considerao na tomada de deciso inclui
cinco elementos principais:
Descobrir o que realmente esta acontecendo.
Compreender as causas subjacentes que explicam a aparncia da superfcie.
Considerar amplamente as alternativas de soluo e desenvolver um
raciocnio detalhado para a soluo preferida.
Construir o consenso na equipe, incluindo os funcionrios internos e parceiros
externos.
Usar veculos de comunicao muito eficientes e concisos, de preferncia em
apenas um lado de uma folha de papel.
De acordo com Shook (2008, p.69), a tomada de deciso deve ocorrer por
meio do nemawashi, termo japons que se refere ideia de que:
[...] antes de voc poder colocar uma planta em um solo totalmente novo, deve retir-la com suas razes intactas para que possa enraizar em seu novo local e assegurar o crescimento orgnico e sustentvel [...].
O Nemawashi tem como misso a tomada de deciso lentamente por
consenso, considerando completamente todas as opes para s assim
implement-las com rapidez. O que o diferencia o seu processo, onde muitas
pessoas apresentam ideias do problema estudado e buscam um consenso no
Figura 11 - Mtodos de tomada de deciso da Toyota. Fonte: LIKER (2005, p.238)
-
46
mesmo momento; logo, elaborada uma proposta formal que comea a circular
amplamente pela administrao. Deste modo, quando a proposta apresentada ao
alto nvel de gerncia, em busca de aprovao, o assunto j esteve em pauta e a
deciso j foi tomada (LIKER, 2005).
-
47
3. Desenvolvimento do Trabalho
3.1. Caracterizao da Empresa
A pesquisa-ao foi desenvolvida em uma multinacional atuante na indstria
de eletrodomsticos, da qual detentora de uma grande fatia do market-share
nacional e internacional. Com tradio no mercado nacional, e com marcas voltadas
a diferentes classes econmicas, seus produtos podem ser encontrados em grande
parcela dos lares brasileiros.
A razo de seu sucesso se d pela inovao e qualidade de seus produtos.
Presente entra as empresas com o maior numero de registro de patentes no Brasil e
uma das primeiras a empregarem o uso da metodologia Seis Sigma, em busca da
excelncia operacional da qualidade, so fatos que justificam a fora de suas
marcas.
No Brasil, suas unidades produtivas so voltadas para quatro grandes
negcios: refrigerao, lavanderia, tratamento de ar e coco. A unidade em que o
trabalho foi realizado consta com aproximadamente de trs mil colaboradores, sendo
esta a nica unidade da empresa dedicada ao negcio coco no pas. Vale
ressaltar que o escopo de atuao do presente trabalho se restringiu somente no
negcio de coco, caracterizado por foges e cooktops.
3.1.1. Estrutura Organizacional Envolvida
Para facilitar o entendimento das reas e pessoas envolvidas da empresa na
pesquisa, uma esquematizao macro dos departamentos se faz necessria (Figura
12). Salienta-se tambm que no projeto teve-se a participao direta ou indireta de
gerentes, chefes, supervisores, engenheiros, analistas, inspetores e operadores.
Fbrica
Qualidade
Interna Externa Planejamento Informao
Montagem Industrial LEAN
Figura 12 - Estrutura Organizacional
-
48
3.2. Metodologia de Pesquisa
A importncia da adoo de uma metodologia cientfica se faz necessria
para se traar o caminho das pedras pelo qual o pesquisador ir percorrer durante
seu estudo. Este caminho ir ajud-lo a refletir e abrir seus olhos para o inesperado.
Porm, este caminho nem sempre controlvel e estar sujeito a mudanas de
curso ou alteraes. Logo, necessria a utilizao da criatividade e imaginao
para contornar os obstculos inerentes de qualquer estudo (SILVA; MENEZES,
2005).
Desta forma, a definio da metodologia adotada para o estudo se mostra
crucial, porm no imutvel para se alcanar os objetivos do estudo. Demo3 (1996
apud SILVA; MENEZES, 2005) salienta que h de se adicionar as atividades
rotineiras de pesquisa uma prtica sistemtica de questionamentos e crticas,
estando preparado para intervir na realidade na qual a pesquisa est inserida ou na
prpria pesquisa.
3.2.1. Classificao da Pesquisa
Seguindo critrios sugeridos por Silva e Menezes (2005), quanto a sua
natureza, a presente pesquisa pode ser classificada como pesquisa aplicada, com o
intuito de gerar conhecimento para futuras aplicaes do A3 na gerao de
propostas de melhorias na indstria. Segundo seus objetivos, caracteriza-se por ser
uma pesquisa exploratria, que busca tornar claro as reflexes e problemticas que
ocorrem na elaborao de propostas dentro de uma grande organizao.
Do ponto de vista da abordagem aplicada, pode-se enquadrar o estudo como
pesquisa qualitativa, no qual o ambiente de uma indstria de eletrodomsticos de
linha branca foi a fonte direta para a coleta dos dados e o pesquisador o responsvel
pelas aes. Quanto ao procedimento tcnico adotado, foi feita a escolha da
pesquisa-ao, devido coexistncia de uma pesquisa com uma ao da qual o
pesquisador estava envolvido (SILVA; MENEZES, 2005).
De uma maneira simplista, Tripp (2005) define a pesquisa-ao como uma
forma de investigao-ao a partir de tcnicas de pesquisa consagradas para
3 DEMO, P. Pesquisa e construo de conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
-
49
indicar a deciso tomada em busca de melhorar a prtica. Bryman (apud TURRIONI;
MELLO, 2011) adiciona que a pesquisa-ao promove a colaborao entre o
pesquisador e o cliente na anlise e posterior ao para a resoluo de um
problema em comum, do qual um conhecimento emprico ser gerado.
Para Turrioni e Mello (2011) apropriado o emprego da pesquisa-ao
quando a descrio do desdobramento das aes de um grupo se faz necessria
para explicar e justificar o motivo das decises e aes tomadas durante as
mudanas e melhorias apresentadas, e consequentemente aprender com estas.
De acordo com Mello et al. (2012) o processo de iniciao de uma pesquisa-
ao se difere dos outros mtodos tradicionais. Ao contrrio de se motivar o
desenvolvimento da pesquisa a partir de lacunas na literatura, parte-se de
problemas vivenciados em organizaes para a pesquisa de possveis solues na
literatura.
De maneira geral, a pesquisa-ao tem como caracterstica ser uma pesquisa
paralela ao e no uma pesquisa sobre uma ao, buscando a soluo conjunta
de problemas organizacionais e sociais, sendo realizada com a colaborao direta
dos envolvidos no sistema, em uma sequncia de eventos direcionados ao
aprendizado cientfico (COUGHLAN; COGHLAN, 2002).
3.2.2. Planejamento da Pesquisa
Tipicamente, em uma pesquisa acadmica que emprega a pesquisa-ao
como tcnica, deve-se notar que dois projetos de pesquisa-ao estaro ocorrendo
em paralelo. O primeiro seria o projeto com o qual o pesquisador est envolvido com
a organizao, tendo a ocorrncia desde independentemente do que est sendo
estudado. O segundo seria a tese do projeto da pesquisa-ao, que deve ser
alimentado por meio de questionamentos levantados no projeto organizacional.
(COUGHLAN; COGHLAN, 2002).
Assim, para que no haja a confuso e conflito de interesses entre ambas as
pesquisas se faz necessrio a realizao de um planejamento da pesquisa que
absorva esta caracterstica singular. Neste trabalho, pode-se delinear um projeto
buscando uma proposta de melhoria para a organizao participante ao mesmo
-
50
passo que uma pesquisa-ao estrutura o caminho a ser percorrido para realizar tal
objetivo.
Segundo Thiollent (1986), mesmo com o planejamento pr-definido em fases,
a sequncia sempre ser infringida devido a imprevistos, sendo necessria a criao
de um planejamento flexvel. Para se ter uma bssola nas atividades dos
pesquisadores, importante definir um ponto de partida e um ponto de chegada do
projeto, pois esperado que no entremeio, uma infinidade de caminhos surja em
funo das circunstncias. normal que haja um vaivm dentro da estrutura
planejada, a fim de adaptar a pesquisa de acordo com as preocupaes
circunstanciais e do grupo de pesquisadores inseridos na investigao.
Para a conduo da pesquisa-ao deste trabalho foram adotados os passos
propostos por Turrine e Melo (2011) para a Engenharia de Produo, que nada mais
so do que a unio das ideias de Coughlan e Coghlan (2002) e Thiollent (1986)
divididas em trs passos: o pr-passo, os seis-passos principais e o meta-passo
para monitoramento. Tais fases so mostradas na Figura 13 e esto detalhadas a
seguir de acordo com o projeto.
Monitoramento
Coleta de dados
Planejamento das
aes
Realimentao dos dados
Anlise dos dados
Avaliao
Implementao
Contexto & Proposta
6. Realizar
seminrios
1. Diagnstico
da situao
4. Elaborar
referencial terico
2. Definir o tema
da pesquisa
3. Definir a
problematica
5. Definir
hipteses
Figura 13 - Ciclo de pesquisa-ao
-
51
Fonte: TURRIONI; MELLO (2011, p.173)
3.2.2.1. Pr-passo (contexto e proposta)
A. Diagnstico da situao:
Para dar incio pesquisa, foi necessrio contextualizar a situao da
corporao e negcio no qual esta est atrelada. Para que as agressivas novas
metas de qualidade fossem atingidas, a empresa buscava melhorias na eficincia de
suas atividades e/ou mudana de seus procedimentos. A partir disso, nasceu a
oportunidade para o pesquisador/autor realizar um trabalho voltado na rea da
Qualidade Interna, j que este j estava familiarizado com a Qualidade Externa da
empresa. Por meio de um processo de imerso nos processos internos da empresa
e entrevistas com todos os nveis envolvidos, deu-se incio ao levantamento dos
problemas que integrassem as duas reas e estivessem alinhados com a meta
mxima do departamento.
B. Definir o tema da pesquisa:
Devido dificuldade de esquematizar um raciocnio lgico para a elaborao
de uma melhoria a partir das observaes realizadas e contrastar a prtica com a
teoria, foi delimitado que os temas de pesquisa para o trabalho seriam os conceitos
de Gesto da Qualidade devido rea de atuao do trabalho; o Lean devido
tendncia industrial e a importncia de seus conceitos de melhoria contnua; e por
fim, a metodologia A3 como ferramenta para a organizao das ideias.
C. Definir a problemtica:
A investigao deve ser desencadeada a partir da colocao dos principais
problemas da pesquisa de forma a dar sentido ao tema escolhido (THIOLLENT;
1986). Neste trabalho, o autor considerou como problemticas a necessidade de
elaborar um projeto de melhoria que atenda as necessidades situacionais do cliente
(Departamento da Qualidade), a vasta amplitude do escopo de atuao no qual o
trabalho est inserido e a complexidade das atividades e fluxos produtivos. Adiciona-
se a essas problemticas, a ausncia de um conhecimento prvio de ferramentas
para a modelagem do pensamento por parte do pesquisador.
-
52
D. Elaborar referencial terico:
As atividades de levantar material terico e exemplos prticos do uso do
pensamento A3 foram definidas em paralelo com a reviso dos conceitos dos
autores de Gesto da Qualidade e Lean.
E. Definir hipteses:
Foram definidos como hipteses os questionamentos levantados pelo autor
ao fim do passo de Diagnstico da Situao. Estas seriam:
Implicaes de que existem diversas oportunidades de melhoria nos
processos da qualidade interna so verdadeiros?
O modelo de pensamento A3 pode ser usado para a elaborao de u