Rio Vermelho Folha do - Ubaldo Marques Porto...

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Casa de Cultura Carolina Taboada completa três anos de fundação. Página 6. O centenário de nascimento de Carybé. Página 10. Nelson e Patrícia Taboada foram os juízes da Festa de N. S. da Guia. Página 7. Homenagem à memória de Antonieta Taboada. Página 5. O Rio Vermelho nas lembranças de Renate Schueler, renomada pintora que reside nos Estados Unidos. Página 9. Rio Vermelho Folha do Nelson Taboada foi à posse do novo bispo de Barreiras Padre Ângelo esteve na posse do primeiro bispo de Camaçari Circuito Caramuru deverá ser oficializado A posse do novo arcebispo de Salvador Azul vai comandar a Festa de Yemanjá 2012 Nº 19 - MARÇO 2011 Leia todas as edições deste jornal no site: www.casataboada.com.br O JORNAL OFICIAL DO BAIRRO DO RIO VERMELHO, EDITADO PELA CENTRAL DAS ENTIDADES DO RIO VERMELHO - [email protected] O empresário Nelson Taboada, presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, compareceu à posse de dom Josafá Menezes no comando da Diocese de Barreiras, no oeste da Bahia. Na foto o presidente com o novo bispo. Página 4. O pároco do Rio Vermelho, Ângelo Magno Carmo Lopes, que também compareceu à posse de dom Josafá Mene- zes na Diocese de Barreiras, comandou uma grande co- mitiva do Rio Vermelho que foi à instalação da mais nova diocese do Brasil. Na foto o Padre Ângelo com dom João Carlos Petrini, primeiro bispo da Arquidiocese de Camaçari. Página 3. Com um show no Largo de Santana, os cantores Paulinho Boca de Cantor e Gereba lan- çaram o Circuito Caramuru, carnaval alternativo no Rio Ver- melho. O grupo musical Paraoano Sai Milhó (foto), precursor da idéia, pois se apresenta no Lar- go de Santana desde o carnaval de 2007, serviu como uma das referências de como a comuni- dade quer o carnaval no bairro: bandas no chão puxando o povo, sem cordas e sem parafernália eletrônica. O Conselho de Cultura e Turismo do Rio Vermelho está preparando o projeto para a sua oficialização pela Prefeitura. Página 12. No dia 25 deste mês, o novo ar- cebispo de Salvador, dom Murilo Krieger (foto), estará assumindo o co- mando da Arquidiocese de São Salva- dor da Bahia, a mais antiga do Brasil. Dom Murilo chega num instante delicado para os católicos do Rio Ver- melho, que não admitem mais que a senhora que tem feito uma agres- siva campanha contra a paróquia do bairro continue fazendo uso de um imóvel pertencente à Arquidiocese. Trata-se da histórica igrejinha que foi a matriz do Rio Vermelho até 26 de julho de 1967, quando foi inaugura- da a atual Igreja Matriz. Página 3. Dando um basta à irresponsabi- lidade do senhor que comandou as duas últimas festas no dia 2 de fevereiro, os antigos pescadores reassumiram o comando da tradi- cional Festa de Yemanjá. O líder do grupo é o pescador Jorge Amorim, mais conhecido como Azul (foto). Com ele, certamente, a credibili- dade da festa será restaurada e o céu do Rio Vermelho ficará azul no dia 2 de fevereiro de 2012. Página 11.

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Casa de Cultura Carolina Taboada completa três anos de fundação. Página 6.

O centenário de nascimento de Carybé. Página 10.

Nelson e Patrícia Taboada foram os juízes da Festa de N. S. da Guia. Página 7.

Homenagem à memória de Antonieta Taboada. Página 5.

O Rio Vermelho nas lembranças de Renate Schueler, renomada pintora que reside nos Estados Unidos. Página 9.

Rio VermelhoFolha do

Nelson Taboada foi à posse do novo bispo de Barreiras

Padre Ângelo esteve na posse do primeiro bispo de Camaçari

Circuito Caramuru deverá ser oficializado

A posse do novo arcebispo de Salvador

Azul vai comandar a Festa de Yemanjá 2012

Nº 19 - MARÇO 2011 Leia todas as edições deste jornal no site: www.casataboada.com.br

O JORNAL OFICIAL DO BAIRRO DO RIO VERMELHO, EDITADO PELA CENTRAL DAS ENTIDADES DO RIO VERMELHO - [email protected]

O empresário Nelson Taboada, presidente da Casa de Cultura

Carolina Taboada, compareceu à posse de dom Josafá Menezes

no comando da Diocese de Barreiras, no oeste da Bahia. Na foto

o presidente com o novo bispo. Página 4.

O pároco do Rio Vermelho, Ângelo Magno Carmo Lopes, que também compareceu à posse de dom Josafá Mene-zes na Diocese de Barreiras, comandou uma grande co-mitiva do Rio Vermelho que foi à instalação da mais nova diocese do Brasil. Na foto o Padre Ângelo com dom João Carlos Petrini, primeiro bispo da Arquidiocese de Camaçari. Página 3.

Com um show no Largo de Santana, os cantores Paulinho Boca de Cantor e Gereba lan-çaram o Circuito Caramuru, carnaval alternativo no Rio Ver-melho. O grupo musical Paraoano Sai Milhó (foto), precursor da idéia, pois se apresenta no Lar-go de Santana desde o carnaval de 2007, serviu como uma das referências de como a comuni-dade quer o carnaval no bairro: bandas no chão puxando o povo, sem cordas e sem parafernália eletrônica.

O Conselho de Cultura e Turismo do Rio Vermelho está preparando o projeto para a sua oficialização pela Prefeitura. Página 12.

No dia 25 deste mês, o novo ar-cebispo de Salvador, dom Murilo Krieger (foto), estará assumindo o co-mando da Arquidiocese de São Salva-dor da Bahia, a mais antiga do Brasil. Dom Murilo chega num instante delicado para os católicos do Rio Ver-melho, que não admitem mais que a senhora que tem feito uma agres-siva campanha contra a paróquia do bairro continue fazendo uso de um imóvel pertencente à Arquidiocese. Trata-se da histórica igrejinha que foi a matriz do Rio Vermelho até 26 de julho de 1967, quando foi inaugura-da a atual Igreja Matriz. Página 3.

Dando um basta à irresponsabi-lidade do senhor que comandou as duas últimas festas no dia 2 de fevereiro, os antigos pescadores reassumiram o comando da tradi-cional Festa de Yemanjá. O líder do grupo é o pescador Jorge Amorim, mais conhecido como Azul (foto). Com ele, certamente, a credibili-dade da festa será restaurada e o céu do Rio Vermelho ficará azul no dia 2 de fevereiro de 2012. Página 11.

Folha do Rio Vermelho

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Central das Entidades do Rio VermelhoA REPRESENTAÇÃO MÁXIMA DO RIO VERMELHO - FUNDADA EM 8 DE MAIO DE 2004

A UNIÃO QUE FAZ A FORÇAASSOCIAÇÃO DOS PERMISSIONÁRIOS DO MERCADO DO RIO VERMELHOASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGÊNCIAS DE VIAGENS DA BAHIA - ABAV

ASSOCIAÇÃO DOS PERMISSIONÁRIOS DO CEASA DO RIO VERMELHOCONSELHO DE CULTURA E TURISMO DO RIO VERMELHO – CONTURV

ACADEMIA DOS IMORTAIS DO RIO VERMELHO – ACIRV CONSELHO PAROQUIAL DO RIO VERMELHO-CONPARV

ASSOCIAÇÃO CULTURAL CABALLEROS DE SANTIAGOASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA CARAMURU – ASCAR

PARÓQUIA DE SANT’ANA DO RIO VERMELHOASSOCIAÇÃO YEMANJÁ DO RIO VERMELHO

CASA DE CULTURA CAROLINA TABOADA

Presidente: Clóvis Cavalcanti Bezerril - Vice-Presidente: Roberto Farias de Menezes - Diretor Ad-ministrativo-Financeiro: Ubaldo Marques Porto Filho - Diretor de Relações Comunitárias: Nelson Hanaque Esquivel. Conselho Fiscal: Ítalo Dattoli, Layrtton Chaves Borges, Antonio Carlos Ferreira Freire, Antonino Oliveira Viana, Eduardo Ávila de Oliveira e Roberto Falcão de Almeida Souza.

Sede: Rua Borges dos Reis 46, Rio Vermelho. Ed. Rio Vermelho Boulevard, Sala 105Salvador - Bahia. Cep 41950-600 - E-mail: [email protected]

DIRETORIA DA CENTRAL

ASSOCIAÇÃO CULTURAL HISPANO-GALEGA CABALLEROS DE SANTIAGOPresidenteSantiago Coelho Rodríguez Campo1º Vice-PresidenteJosé Luis Garrido Hermida2º Vice-PresidenteLaureano Ventin Corujeira1º SecretáriaAna Maria Casqueiro Andrés2º SecretárioCarlos Alberto Macedo Barral1º TesoureiroJosé Antonio Barcia Arruti2º TesoureiroManuel Miguez Garcia1º Diretor Cultural e ArtísticoCarlos Lorenzo Leiro2º Diretor Cultural e ArtísticoTomaz Puga Lopez1º Diretor de PatrimônioFrancisco Javier Piñeiro Garrido2º Diretor de PatrimônioJosé Rivas RodríguezDiretor AdministrativoFrancisco Ramón Martinez CuevasDiretor InstitucionalNelson Almeida TaboadaDiretor AcadêmicoAntônio Carlos Sanches CardosoDiretor de Planejamento e MarketingTiciano Luis Quintella CortizoDiretora para Mulher, Juventude e 3ª IdadeMaria de Fatima Lorenzo FigueiredoComissão FiscalFermin Soto LopezGumersindo Rios CastroJosé Fernandes BarreiroComissão de SindicânciaJoaquim Martinez BouzonJosé Teodosio RegueiraMiguel Joaquim Parada HermidaAssessores CulturaisFernando Antônio Castro BarreiroJosé Perez SanchezLuiz Fernando Pereira BernardezRodolfo Buonavita Baqueiro BarrosAssessores AcadêmicosFernando Cabus OitavenMarlene Campos Peso de AguiarAssessores Correspondentes com a EspanhaArthur Gerardo Rios MachadoJosé Faro RuaSeverino Piñeiro VidalVictor Fernando Ollero Ventin

CONSELHO DE CULTURA E TURISMO DO RIO VERMELHO (CONTURV) PresidenteUbaldo Marques Porto FilhoVice-PresidenteSydney Gomes de RezendeDiretor Administrativo-FinanceiroLayrtton Chaves BorgesDiretor de CulturaEduardo Ávila de OliveiraDiretor de TurismoAntônio Carlos Ferreira FreireConselho FiscalEdgar Viana FilhoÂngelo Magno Carmo LopesSantiago Coelho Rodriguez CampoRita de Cássia Santos SouzaEulírio MenezesGildásio Vieira de Freitas

ASSOCIAÇÃO DOS PERMISSIONÁRIOS DO MERCADO DO RIO VERMELHOPresidenteEduardo Bomfim de JesusVice-PresidenteJosé Batista dos SantosSecretário GeralDeijanira da Silva SantosTesoureiroAntônio Nunes FonsecaDiretor de EventosJosé Batista dos Santos JúniorConselho FiscalAlex Nunes SantosFirmino Rocha NetoTaiana Ferreira dos Santos

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGêNCIAS DE VIAGENS DA BAHIA - ABAV PresidentePedro Galvão1º Vice-PresidenteRogério Ribeiro Pereira2º Vive-PresidenteArmando Sampaio Silva 1ª SecretáriaSandra Regina Trigo2ª SecretáriaMaria Goretti Alencar1º TesoureiroBrasil Washington de Araújo Júnior2º TesoureiroManoel Figueiredo Sampaio FilhoDiretor Patrimonial e SocialVitor LoboConselho FiscalGiorgio MonnetMargareth Oliveira CarvalhoVirgínia Eliane Loiola

ACADEMIA DOS IMORTAIS DORIO VERMELHO (ACIRV) PresidenteUbaldo Marques Porto FilhoVice-PresidenteLuciano José Costa FigueiredoDiretor Administrativo Financeiro Roberto Farias de MenezesDiretor CulturalClóvis Cavalcanti BezerrilDiretor SocialNelson Hanaque EsquivelConselho FiscalMárcio Santos SouzaFlávio Damásio de PaulaHélio José Bastos Carneiro de CamposEduardo Ávila de OliveiraRoberto Falcão de Almeida SouzaGildásio Vieira de Freitas

CASA DE CULTURA CAROLINA TABOADAPresidenteNelson Almeida TaboadaVice-PresidenteCláudio Pinheiro TaboadaDiretor Administrativo-FinanceiroJaguaraci Xavier AraújoDiretor CulturalUbaldo Marques Porto FilhoDiretor de ComunicaçãoNelson José de CarvalhoConselho FiscalJosé Guido GrimaldiLuiz Clóvis Santos PereiraMaria Flávia Pinheiro TaboadaClóvis Cavalcanti BezerrilRoberto Farias de MenezesRoberto Pinheiro Taboada

PARÓQUIA DE SANT’ANA DO RIO VERMELHOPárocoPadre Ângelo Magno Carmo Lopes

CONSELHO PAROQUIAL DORIO VERMELHO (CONPARV)PresidentePe. Ângelo Magno Carmo Lopes Coordenador Administrativo-FinanceiroÍtalo Dattoli Coordenador LitúrgicoMiguel Dratovsky Júnior Coordenador de Ação SocialDercy Souza DatolliCoordenador de Eventos Eny Alves Braga Duran Coordenador de Relações ComunitáriasUbaldo Marques Porto FilhoCoordenador JurídicoRaul Affonso Nogueira Chaves FilhoCoordenador de Comunicação Rosana Ramos AraújoConselho Fiscal Antonino Oliveira VianaAntônio Lobo Leite FilhoAlyrio João DamascenoElisabete PalácioAnna Maria AlvesAurora Maria Nascimento Gomes

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA CARAMURU (ASCAR)PresidenteÍtalo DattoliVice-PresidenteAntônio Lobo Leite FilhoDiretor Administrativo-FinanceiroAntonino Oliveira VianaDiretor de Relações ComunitáriasAlyrio João DamascenoDiretor de Comunicação SocialRosana Ramos AraújoConselho FiscalUbaldo Marques Porto FilhoElisabete PalácioVanilde Araújo SouzaLuciano Souza SantosEduardo Ávila de OliveiraLuiz Fernando de Castro Monteiro

ASSOCIAÇÃO YEMANJÁ DO RIO VERMELHO PresidenteJorge Amorim (Azul) Vice-PresidenteGilson Alves dos Santos (Comprido)Diretor Administrativo-FinanceiroMário Augusto Oliveira Barreto (Mário da Moto)Diretor ExecutivoJerônimo Oliveira Chadud (Léo)Diretor da Festa de YemanjáJoaquim Manoel dos Santos (Manteiga)Diretora do Presente PrincipalValdelice Maria dos Santos (Mãe Aíce de Oxossi)Conselho FiscalEulírio Menezes (Tenente)Walter Reis de Freitas Júnior (Waltinho)Antônio Alves dos Santos (Poconé)Henrique Bispo da SilvaJanuário Moreira dos Santos (Januba)Noberto Manoel de Souza (De Pano)

ASSOCIAÇÃO DOS PERMISSIONÁRIOS DO CEASA DO RIO VERMELHOPresidenteRubina da Cunha MoraesVice-PresidenteCarlos Lineu Lima de PaulaTesoureiroJoão dos Santos BarbosaRelações PúblicasJoana SouzaConselho FiscalAmandia BarbosaTerezinha de JesusFlávio Luiz Ribeiro

Folha doRio VermelhoJornal Editado pela Central das Entidades do Rio Vermelho

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Editoração Eletrônica - Verbo de Ligação Ilustraçõ[email protected]

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MARÇO 2011

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do Rio Vermelho

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Carolina Taboada

Folha do Rio Vermelho

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MARÇO 2011

Arquidiocese de Salvador: Diocese de Camaçari:

Dom Murilo é o novo arcebispo Dom Petrini é o primeiro bispo

Problema no Rio Vermelho

A posse do novo arcebispo de São Salvador da Bahia, dom Mu-rilo Sebastião Ramos Krieger (na foto com o papa Bento XVI), será na Catedral Basílica, às 19 horas de 25 de março, Dia da Anunciação do Senhor. Ele substitui dom Geral-do Majella Agnelo, 77 anos, que se aposentou devido ao limite de idade (75 anos), conforme determina o Código de Direito Canônico. Catarinense de Brusque, dom Murilo Krieger nasceu a 19 de setembro de 1943. Recebeu a orde-nação sacerdotal na cidade natal, em 7 de dezembro de 1969, mas

A cerimônia da instalação canônica da mais nova diocese do Brasil foi no dia 19 de fevereiro de 2011, quando também se deu a posse do seu primeiro bispo, dom João Carlos Petrini. Trata-se da Diocese de Camaçari, desmembrada da Arquidiocese de Salva-dor e formada por 16 paróquias distribuídas por oito municípios: Camaçari, Dias D’Ávila, Simões Filho, Candeias, Madre de Deus, São Francisco do Conde, Terra Nova e São Sebastião do Passé. Após a solenidade da instalação do novo bispado, realizada na Catedral de São Tomás de Cantuária, sob a presidência do cardeal Geraldo Majella Agnelo e na presença do núncio papal, dom Lourenzo Baldisseri, e de uma delegação de Fermo, Itália, todos se dirigiram ao Estádio Municipal Armando Oliveira, onde milhares de pessoas assistiram a missa celebrada por dom Petrini e concelebrada por diversos bispos. Entre os presentes dezenas de párocos, sacerdotes, seminaris-tas, religiosos, religiosas, autoridades e os prefeitos da região da nova diocese, dentre eles o de Camaçari, Luiz Caetano, que tam-bém é o presidente da União dos Municípios da Bahia. O Rio Ver-melho se fez representar por uma numerosa delegação liderada pelo padre Ângelo Magno Carmo Lopes. Italiano de Fermo, nascido em 18 de novembro de 1945, o então missionário Petrini veio para o Brasil em 1970, enviado para atuar na Arquidiocese de São Paulo. Em Salvador chegou em 1989, para ser reitor do Seminário Propedêutico. Em 2005 foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador e tornou-se um amigo do Rio Vermelho, tendo presidido diversas solenidades na Igreja de Sant’Ana.

começou o ministério sacerdotal em Taubaté, São Paulo, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, onde fundou o Movimento Shalom, para jo-vens. Sucessivamente ocupou os seguintes cargos: reitor do Instituto Teológi-co SCJ, de Taubaté, bispo auxiliar de Florianópolis (SC), bispo da Diocese de Ponta Grossa (PR), bispo da Diocese de Maringá (PR) e arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis, que assumiu em 27 de abril de 2002. Foi o organizador do 15º Congresso Eucarístico Nacional, ocorrido em Flo-rianópolis, de 18 a 21 de maio de 2006. Dom Murilo é escritor, tendo dez livros publicados, dentre eles “Shalom, a Paz ao Alcance da Juven-tude”, editado pela Loyola.

Dom Murilo Krieger assume a Arquidiocese Primaz do Brasil num momento de uma crise que envolve a comunidade católica do bairro do Rio Vermelho, que tem como pivô uma senhora que não é e nunca foi paroquiana de Sant’Ana do Rio Ver-melho. Há alguns anos essa senhora assumiu, à revelia do páro-co local, a presidência do Centro Social Monsenhor Amílcar Marques, entidade fundada por senhoras católicas do Rio Ver-melho com o objetivo de auxiliar a Paróquia na prestação de as-sistência social aos paroquianos carentes. Através de contrato de comodato com a Arquidiocese a igrejinha do Largo de San-tana, desativada dos ofícios religiosos com a inauguração da nova Igreja Matriz, o Centro Social passou a ocupar o antigo templo. O Centro Social sempre teve na sua presidência uma pa-roquiana da confiança do pároco, Presidente de Honra da instituição beneficente. Tudo foi bem até que a atual presi-dente assumiu o comando da entidade e passou a mover cam-panhas de denúncias contra obras e melhorias na Igreja Ma-triz. O caso mais recente foi contra o funcionamento do sino eletrônico, que ela tentou calar, jogando fiscais da Prefeitura contra a Igreja e provocando uma grande celeuma pública. A imprensa chegou a criar um clima constrangedor entre prefeito João Henrique, que é evangélico, e o cardeal Geraldo Majella. A comunidade católica do Rio Vermelho não aceita mais essa senhora no comando (donde não quer mais sair) de uma entidade que ocupa um imóvel do patrimônio católico. Exige que a inimiga declarada da Paróquia do Rio Vermelho seja de-salojada da igrejinha do Largo de Santana. As alternativas são as seguintes:1. Renúncia da presidente do Centro Social, para que o pároco possa indicar um novo presidente, da sua confiança, para que os trabalhos sociais voltem a ter continuidade em parceria com a Paróquia, como sempre foi no passado;2. Devolução da igrejinha pelo Centro Social (que vá se instalar em outro imóvel, não pertencente ao patrimônio da Arquidio-cese), para que a Paróquia possa, através do Conselho Paroqui-al, assumir diretamente a oferta dos trabalhos sociais. Em caso de não atendimento imediato a uma dessas duas opções, a comunidade católica espera que a Arquidiocese inter-venha no caso, pedindo a desocupação do antigo templo. Em tempo: o contrato de comodato encontra-se vencido.

Dom Petrini no Rio Vermelho, presidindo a Santa Missa Solene no dia da padroeira do bairro, Senhora Sant’Ana, em 26 de julho de 2010.

Dom Petrini no Rio Vermelho, com o Padre Ângelo, em 26 de julho de 2010, participando da Ceia de Senhora Sant’Ana.

Dom Petrini no Rio Vermelho, em 26 de julho de 2010, recebendo do escritor Ubaldo Marques Porto Filho um exemplar do livro “Família Taboada na Bahia”, tendo no centro o

presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, Nelson Almeida Taboada.

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Folha do Rio Vermelho MARÇO 2011

Dom Josafá (á direita) na Igreja de Sant’Ana do Rio Vermelho, em 8 de dezembro de 2010, presidindo a Santa Missa Solene pelos 25 anos da ordenação sacerdotal

do padre Ângelo Magno Carmo Lopes, no centro.

No dia 22 de fevereiro, os visi-tantes foram recepcionados na residência do historiador do Rio Vermelho, Ubaldo Marques Porto Filho. A partir da esquerda: a esposa do escritor, Maria José Marques Porto, Victor Rodrí-guez, Maria Esther Martinez, Rita Manolestu e Victor Manolestu.

A família Martinez no Rio Vermelho, em 21 de junho de 1964: José (Pepe), Longina, Eliseo, Maria Esther e Jesus.

No dia 23 de fevereiro, os visitantes estiveram na sede da

Associação Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago.

A partir da esquerda: Rita e Vic-tor Manolestu; Victor Rodríguez

e Maria Esther; e o vice-presi-dente de Caballeros, Laureano

Ventin Corujeira.

Dom Josafá no Rio Vermelho, em 22 de fevereiro de 2011. Almoçou no restaurante do Hotel Mercure, com Ubaldo Porto, presidente da Academia dos Imortais do Rio Vermelho, Nelson Taboada, presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, e o

padre Ângelo Magno Carmo Lopes, pároco do Rio Vermelho.

Diocese de Barreiras:

Dom Josafá é o novo bispo

Rio Vermelho recepcionou visitantes galegos

A família Martinez no Rio Vermelho

A cerimônia de posse do novo bispo da Diocese de Barreiras, dom Josafá Menezes da Silva, no dia 26 de fevereiro de 2011, levou milhares de pessoas à Praça São João Batista, onde fica a catedral do mesmo nome, no centro da maior cidade do oeste baiano. Em área territorial é a mais extensa diocese no Estado da Bahia, estando formada por 14 municípios: Barreiras, Luís Edu-ardo Magalhães, São Desidério, Riachão das Neves, Formosa do Rio Preto, Santa Rita de Cássia, Wanderley, Cotegipe, Baianópolis, Cristópolis, Angical, Tabocas do Brejo Velho, Catolândia e Bre-jolândia. O evento constou de duas partes: a posse canônica, na Catedral de São João Batista, presidida pelo cardeal Geraldo Majella Agnelo, e de uma missa campal na presença de inúmeras autoridades ecle-siásticas, civis, militares, judiciárias e políticas, dentre elas o depu-tado federal Oziel Oliveira e os prefeitos das duas maiores cidades da região, Jusmari Oliveira, de Barreiras, e Humberto Santa Cruz, de Luís Eduardo Magalhães. Representando o bairro do Rio Vermelho, estiveram presentes três amigos do novo bispo diocesano: o padre Ângelo Magno Carmo Lopes, o diretor da Associação Comunitária Caramuru, An-tonino Oliveira Viana, e o presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, Nelson Almeida Taboada. Baiano de Salinas da Margarida, onde nasceu em 2 de janeiro de 1959, dom Josafá Menezes era bispo auxiliar na Arquidiocese de Salvador. Ele sucedeu dom Ricardo Weberberger, primeiro bispo de Barreiras, que ficou no cargo por 32 anos, até o seu fa-lecimento, em agosto de 2010, na Áustria, sua terra natal, onde se encontrava em tratamento de saúde.

Esteve no Rio Vermelho o casal Victor Rodríguez Rodríguez e Maria Esther Mar-tinez Diéguez, ambos espanhóis da Galícia, onde residem, em Vigo. Ela é sobrinha do padre Samuel Martinez Pérez, primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Luz, criada em 9 de julho de 1960, desmembrada da Paróquia de Sant’Ana do Rio Vermelho. Ele foi também um dos fundadores, em 22 de novembro de 1960, da As-sociação Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago, cuja primeira sede foi a Igreja de Nossa Senhora da Luz, no bairro da Pituba. Maria Esther também tem ligações fortes com o Rio Vermelho, pois na infância/adolescência morou e estudou no bairro, tendo sido aluna do Instituto Senhora San-tana e do Colégio Estadual Manoel Devoto. Seu pai, Eliseo Martinez Pérez era dono da Pastelaria Alvorada, no Largo de Santana. A família residiu no último pavimento do prédio da pastelaria (foto na página 10), o mesmo que havia sido ocupado pelo artista plástico Carybé. De dois em dois anos Maria Esther e Victor passam férias em Salvador e ficam no Rio Vermelho, hospedados no Pestana Hotel, Sempre têm a companhia dos amigos Rita e Victor Manolestu, residentes em Salvador, ela também ex-moradora do Rio Vermelho.

Do navio Monte Udala desembarcou no Rio de Janeiro, no dia 5 de setembro de 1961, uma família de galegos nascidos em Chandrexa de Queixa, na província de Ourense. Eram cinco pessoas, Eliseo Martinez Pérez, Longina Diéguez Vázquez e os filhos Jesus, José e Maria Ester. Dois dias depois, a família embarcou para o destino final, Salvador, indo morar na Pituba, bem perto da Igreja de Nossa Senhora da Luz, do Padre Samuel, irmão de Eliseo, que foi trabalhar na Baixa dos Sapateiros, gerenciando uma loja de móveis. No final de 1962, a família mudou-se para o Rio Vermelho, onde Eliseo havia adquirido, em sociedade com dois patrícios, a Pastelaria Alvorada, no Largo de Santana, que ocupava a parte térrea de um sobrado pertencente à família Taboada. A Pastelaria Alvorada, um dos mais importantes estabeleci-mentos comerciais do bairro, era a sucessora da histórica Confeitaria Oceâni-ca, inaugurada em 1914 pelo galego José Taboada Vidal. Muito educado, simpático e bastante comunicativo, Eliseo Martinez tornou-se rapidamente um comerciante muito querido no Rio Vermelho. O bar que funcionava dentro da pastelaria transformou-se logo num ponto de referência para os senhores e jovens que gostavam de uma cerveja bem gelada. No início de 1969, Eliseu vendeu a pastelaria e em abril retornou à Galí-cia com a família, onde já se encontrava o filho José Martinez Diéguez, que no ano anterior havia sofrido um deslocamento de retina e foi enviado à Espanha para ser operado no Centro de Oftalmología Barraquer, em Barce-lona, reconhecido como um dos melhores do mundo em cirurgias oculares. O problema com Pepe decretou o retorno da família a Chandrexa de Queixa.

Folha do Rio Vermelho

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MARÇO 2011

Maria Antonieta Cardoso de Almeida, chamada pelos familiares de Antonieta, ou simples-mente de Tiêta, nasceu no bairro do Canela, em Salvador, a 19 de fevereiro de 1913, dia de São Bonifácio. Após o falecimento da mãe, o pai alugou uma casa no Rio Vermelho, na Rua Guedes Cabral 12 (Casa do Azulejo), defronte à Praia de Santana e da Casa de Yemanjá, bem próximo do sobrado da família Taboada. Depois, seu pai passou para um outro endereço no Rio Vermelho: Rua da Paciência 32, uma casa com duas estatuetas, uma de cada lado do portão de entrada, ambas simbolizando um cão. Desde cedo Antonieta deu provas de que seria uma adulta voluntariosa, decidida e com visão progressista. Simpática e comunicativa, era dotada de uma enorme capacidade de liderança, que começou a exercitar na Paróquia de Sant’Ana do Rio Vermelho, cuja Igreja Matriz freqüentava com as-siduidade. Mesmo antes do casamento, em 13 de setembro de 1939, Antonieta já demonstrava possuir saudável influência sobre o noivo, Nelson Taboada Souza. Foi quem o incentivou a trocar o balcão da Pastelaria Globo por outro ramo comercial, que pudesse abrir portas para novos horizontes e negócios mais promissores. No Rio Vermelho, além da militância religiosa, Antonieta ficou conhecida pela bondade e dis-posição para ajudar os mais humildes nas horas das dificuldades. Na subida da Rua Visconde de Cachoei-ra, antiga Ladeira do Papagaio (final da atual Av. Cardeal da Silva), ficava a delegacia de polícia, chefiada por um jovem nascido e criado no bairro, Osório Cardoso Villas-Boas, que ali trancafiava os desordeiros e brigões. Vez por outra, atendendo aos apelos dos familiares dos detidos, Antonieta aparecia para pedir à autoridade policial, com quem possuía laços de parentesco (pelo ramo dos Cardoso), que soltasse fulano, sicrano ou beltrano. Osório sempre atendia, mas ao proceder a soltura avisava:

Homenagem à Antonieta Taboada

EM MEMÓRIA:

Pelo transcurso da data natalícia de Antonieta Taboada, o padre Ângelo Magno Carmo Lopes celebrou no dia 19 de fevereiro deste ano, na Igreja de Sant’Ana do Fio Vermelho, uma missa em ação de graças, encomen-dada pelo seu único filho, Nelson Almeida Taboada. Se viva estivesse, Antonieta Taboada estaria completando 98 anos nesse dia. Ela faleceu aos 90, em 19 de maio de 2003.

O Padre Ângelo logo após a missa com a família Taboada: Patrícia, Carolina e Nelson, respectivamente nora, neta e filho de Antonieta Taboada.

Uma vida marcante

Antonieta com o marido, Nelson Taboada Souza, e o filho, Nelson Almeida Taboada, 17 de maio de 1951.

Uma das últimas fotos do casal Taboada, com o pintor Aldemir Martins e o filho Nelson, em 1983.

Antonieta aos 87 anos.

Você está saindo porque teve uma madrinha forte. Vá agradecer à dona Antonieta Taboada. Mas fique sabendo de uma coisa, se voltar a ser preso, ela não vai lhe soltar pela segunda vez!

Dona de um coração grande e caridoso, Antonieta não podia ver ninguém sofrendo por doença. Providenciava médicos, remédios e até internamentos para os casos de intervenções cirúrgicas. Constantemente havia gente batendo à porta de sua residência, em busca da providencial caridade. Graças ao prestígio de Antonieta, que somado ao da cunhada Nilza Taboada, outra grande liderança dentro da comunidade católica do Rio Vermelho, Osório Villas-Boas obteve uma votação maciça no bairro quando se elegeu vereador, logo na primeira tentativa, em 1950. Foi reeleito em 1954 e 1958, nessa última já um destacado presidente do Esporte Clube Bahia. Muito dinâmica e querendo resolver seus afazeres sem depender de terceiros, aprendeu logo a dirigir, passando a fazer parte do reduzido grupo de mulheres que podiam ser vistas em Salvador ao volante de um carro. No Rio Vermelho foi, seguramente, a primeira a ter o seu próprio automóvel. Em 1955, Nelson e Antonieta deixaram o Rio Vermelho e foram morar na Barra Avenida, numa casa mais ampla e com piscina, com frente voltada à Rua Doutora Praguer Fróes e fundo para a Alameda Antunes. Nessa época, já faziam parte de um dos círculos da alta sociedade soteropolitana. Na casa da Barra, começou um novo ciclo na vida do casal. Foi quando Nelson tornou-se in-dustrial e se firmou definitivamente nos meios econômicos da Bahia. Existe um dito popular que afirma: “Por trás do sucesso de um homem há sempre uma grande mulher”. Nunca essa afirmativa foi tão verda-deira como no caso de Nelson. A parceria que ele formava com Antonieta não se resumia às obrigações matrimoniais. Ela era uma ativa conselheira e esteio na parte social. No comando da casa da Barra, Antonieta transformou-a num point da sociedade. Não da so-ciedade fútil, mas de uma sociedade produtiva e culta, integrada por industriais, empresários de outros segmentos, profissionais liberais, jornalistas, escritores e artistas plásticos, dentre outros. Enfim, na casa da Barra nasceu um novo núcleo da alta sociedade, liderado pelo casal Taboada. A casa ficou famosa pelos almoços aos sábados e domingos, onde a excelência das iguarias muito contribuiu para a consagração do bem-receber do casal, verdadeiro pólo aglutinador e cultivador de amizades. O dia 13 de setembro, aniversário de Nelson, entrou para o calendário da sociedade como o “Dia do Caruru de Antonieta e Nelson Taboada”. No livro “Bahia de Todos os Santos”, Jorge Amado o incluiu entre os três mais famosos da Bahia, citando-o como “... de farta, rica e saborosa comida de azeite-de-dendê”. Nos dias normais, passavam pela casa personalidades que iam do deputado federal João Calmon, um dos dirigentes dos Diários e Emissoras Associados, aos colegas de Nelson no Colégio An-tônio Vieira, dentre eles Mirabeau Sampaio e Jorge Amado, que compareciam acompanhados de suas esposas, Norma e Zélia Gattai. Nelson e Antonieta foram inclusive padrinhos no casamento de Paloma, filha de Zélia e Jorge. Gersina e Odorico Tavares também se tornaram freqüentadores habituais. E foi pelas mãos de Odorico, diretor dos Associados na Bahia, que o jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Associados, esteve na casa da Barra. Gostou da cozinha. Quando programava viajar à Bahia, mandava avisar que queria degustar as iguarias preparadas pela cozinheira Dudu, que trabalhou com Antonieta por 26 anos, até aposentar-se. Era uma negra de um metro e noventa, de porte elegante e que falava nagô e francês. Assim era a casa da Barra, sempre cheia, onde se misturavam famosos e não-famosos, paren-tes e não-parentes. Uma festa semanal, que durou até o final da década de 1970. Premido pelo progres-so e pela violência urbana, que transformou as casas em alvos fáceis, o casal foi residir num apartamento na Avenida Princesa Leopoldina, bairro da Graça, onde Nelson faleceu, em 30 de julho de 1983, aos 71 anos. Maria Antonieta Almeida Taboada sobreviveu ao marido por 19 anos. A longevidade garantiu-lhe conhecer a única neta, Carolina Soussa Taboada, sua última grande alegria. Dois anos depois, no dia 19 de março de 2003, Antonieta faleceu aos 90 anos, no Instituto Cárdio Pulmonar, localizado na divisa do Rio Vermelho com a Federação.

----------------------------Texto extraído do livro

“Nelson Taboada Souza, Benemérito da Indústria”, escrito por Ubaldo Marques Porto Filho.

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Folha do Rio Vermelho MARÇO 2011

Fundada em 25 de março de 2008, dia em que a inspiradora, Caro-lina Soussa Taboada, fazia sete anos de idade, a Casa de Cultura Caro-lina Taboada está completando três anos de profícuas atividades nos campos social, cultural e editorial. Em suas ações sociais tem ajudado diversos segmentos de comuni-dades carentes. No setor cultural tem participado de projetos em defesa da história do Rio Vermelho e de valorização do seu descobridor, Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru. Também tem apoiado iniciativas da As-sociação Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago, da Paróquia

de Sant”Ana do Rio Vermelho e da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim. Na parte editorial a Casa de Cultura Carolina Taboada já patrocinou a publicação de nove livros, 19 edições de jornais, cinco números de revistas e diversos folhetos, de várias entidades, dentre elas a Academia dos Imortais do Rio Vermelho, a Central das Entidades do Rio Vermelho, a Escola de Magistrados da Bahia e a Extensão do 2º Juizado Especial Criminal. Abaixo, o fac-símile das capas das publicações mais impor-tantes.

Casa de Cultura Carolina Taboada:

Três anos disseminando ações sociais e o saber

Carolina Taboada entre os pais, Nelson a Patrícia Taboada, e o padre Luiz Carlos Araújo, assinando como testemunha o livro do casamento dos médicos Analuzia Moscoso de Carvalho e André Luiz Lopes de Carvalho, na Basílica do Bonfim, em 13 de dezembro passado. Foto Kin Kin

Folha do Rio Vermelho

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MARÇO 2011

A Festa de Nossa Senhora da Guia na Igreja do Bonfim No Brasil, o início da devoção à Nossa Senhora da Guia, um dos muitos títulos atribuídos à Virgem Maria, deve-se ao capitão-de-mar-e-guerra Theodózio Rodrigues de Farias, que trouxe a imagem de Por-tugal, no mesmo navio em que veio a imagem do Nosso Senhor do Bonfim. Chegaram em Salvador no dia 18 de abril de 1745 e ficaram abrigadas na Igreja da Penha, na Ribeira, até a conclusão das obras da parte interna da Basílica do Bonfim, para onde foram transladadas em 24 de junho de 1754. A data litúrgica de Nossa Senhora da Guia é 15 de agosto, mas pode

ser em data móvel, de acordo com as conveniências de cada localidade. Em Salvador, a Devoção do Senhor do Bom Jesus do Bomfim conseguiu autorização do Vaticano para ser no segundo domingo após a Epifania do Senhor. Dessa forma, a comemoração é sempre no mês de janeiro. A festa de 2011, que começou no dia 17 (segunda-feira) e terminou no dia 23 (domingo, dia consagrado à Nossa Senhora da Guia), teve como juízes o casal Nelson Taboada e Patrícia Soussa Taboada. Ele é membro da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim, irmandade pro-motora das festividades na Basílica do Bonfim.

Patrícia e Nelson Taboada, juízes da festa, com Artur Napoleão Rego, juiz da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim.

Coronel Juliano Cardoso, chefe do Estado Maior da 6ª Região Militar, e esposa, paraninfos da noite de 17 de janeiro, com os juízes da festa, Patrícia e Nelson Taboada.

Nelson José de Carvalho e a esposa Sandra, com Patrícia e Nelson Taboada.

Os paraninfos e os juízes da festa com o padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, e membros da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim, uma das irmandades mais antigas e importantes do Brasil, fundada em 18 de abril de 1745.

Fotos Kin Kin

ENCONTRAM-SE DISPONÍVEIS PARA CONSULTAS OS SEGUINTES LIVROS SOBRE O RIO VERMELHO, ESCRITOS PELO HISTORIADOR DO BAIRRO,UBALDO MARQUES PORTO FILHO

Biblioteca Juracy Magalhães JúniorCalçadão da Rua Borges dos Reis, Rio Vermelho

Aberta de 2ª à 6ª das 8 às 17 horas - Aos sábados das 8h30 às 13 horasFones: 3116.5360 e 3116.5364 - E-mail: [email protected]

Rio Vermelho

Cartilha dos Logradouros doRio Vermelho

Diogo Álvares, o Caramuru

José Taboada Vidal,Benemérito doRio Vermelho

Nelson Taboada Souza, Benemérito da Indústria

Família Taboadana Bahia

Dois de Fevereirono Rio Vermelho

Dinha doAcarajé

Rio Vermelho,de Caramuru a

Jorge Amado

Notáveis doRio Vermelho

Biblioteca Juracy Magalhães Júnior

ACERVO DOCUMENTAL

SOBRE O RIO VERMELHO E SEU

DESCOBRIDOR

Folha do Rio Vermelho MARÇO 2011

Autor de treze livros, sendo dez dedicados ao Rio Vermelho, que lhe conferiram um recorde nacional, o de autor do maior número de obras sobre um bairro de cidade brasileira, o escritor Ubaldo Marques Porto Filho já colocou no forno mais quatro obras:

1.

2.

3.

4.

Nelson Almeida Taboada, Benemérito da CulturaBiografia do presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, que acaba de receber da Câmara Municipal de Salvador a Medalha Thomé de Souza. Nelson pertence a uma família com raízes históricas no Rio Vermelho, desde 1892. Rio Vermelho Cronológico, 1509-2009Fatos marcantes, registrados por datas, da história dos 500 anos do bairro desco-berto por Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru. Personalidades do Rio VermelhoPerfis de 70 personalidades falecidas que residiram no Rio Vermelho e tiveram destacada participação na vida do bairro, de Salvador ou da Bahia. Heróis e Vilões do Rio VermelhoHistórias da Demolição do Forte, do Aterramento da Praia da Mariquita, da Destruição da Fábrica de Papel, da Tentativa de Negação dos 500 Anos do Rio Vermelho, da De-limitação Geográfica do Rio Vermelho, do Embargo de Obras do Memorial Caramuru e de outras agressões e acontecimentos prejudiciais ao bairro, envolvendo erros, acer-tos, acusações, defesas e conseqüências, com o elenco dos vilões e heróis.

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Atendendo convite da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, a artista plástica Renate Schueler, residente nos Estados Unidos, virá a Salvador ex-clusivamente para fazer uma palestra no Espaço Caramuru, às 17 horas do dia 5 de julho deste ano. Criado dentro da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, pela Fundação Pe-dro Calmon, instituição vinculada à Secretaria de Cultura do Estado, o Espa-ço Caramuru tem sido no Rio Vermelho um importante local para a realização de colóquios e outras manifestações literárias, culturais e artísticas de interesse público, especialmente para a comunidade do bairro descoberto em 1509 por Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru. Será a primeira vez que o Espaço Caramuru receberá uma conferencista vinda diretamente do exterior. Alemã de Berlim, Renate Schueler já morou em três continentes, em 16 cidades de cinco países: Alemanha (Berlim, Sin-delfingen e Eppstein), Suiça (Zurique), Brasil (Salvador, São Paulo e Monte Verde), Portugal (Cascais) e Estados Unidos (Nova Iorque e West Islip, no estado de Nova Iorque; Boston, em Massachusetts; Englishtown, em Nova Jérsei; Rochester Hills, em Michigan; Bayonet Point e Palm Harbor, na Flóri-da). Atualmente reside em Clearwater Beach, um paraíso turístico na costa americana do Golfo do México, que fica a 20 km do Aeroporto Internacional de Tampa, na Flórida. Formada em secretária bilíngue, pelo Instituto Mackenzie, de São Paulo, Renate começou a trabalhar na presidência da Willys Overland do Brasil, montadora de grande importância na fase inicial da indústria automobilísti-ca nacional, fabricante de modelos famosos: Jeep Willys, Rural Willys e dos automóveis Dauphine, Aero-Willys e Itamaraty. Foi secretária executiva do Banco do Brasil em Nova Iorque, na requintada agência da Quinta Avenida. Também trabalhou na Alemanha, numa filial da americana IBM, a maior em-presa do mundo na área da tecnologia da informação. Essas foram algumas de suas ligações profissionais com organizações de grande porte. Paralelamente, desenvolveu uma bem sucedida carreira de artista plásti-ca, como desenhista e pintora. Suas obras se encontram espalhadas por dezenas de países. Estudou pintura em Berlim e Nova Iorque. Nos Estados Unidos também estudou arte no conceituado Detroit Institut of Art, sendo diplomada como orientadora de arte para visitantes de museus. A veia artística herdou do pai, Heinz Schueler, que durante 42 anos re-sidiu no Brasil, 40 deles em São Paulo. O começo da fase brasileira foi em Salvador, constituindo-se no maior mosaicista que passou pela Bahia no século XX. É também considerado pelos especialistas como o maior nome que o Brasil teve em mosaicos na segunda metade do século passado. Heinz Schueler morreu onde nasceu, na Alemanha, aos 84 anos, no dia 15 de outubro de 1995. Para falar desse notável mosaicista – que foi parceiro de Carybé em vários murais, dando vida com seus mosaicos aos desenhos do fenomenal artista ar-gentino-baiano –, ninguém melhor do que sua própria filha. A vida e a obra de Heinz Schueler fazem parte do conteúdo da palestra que Renate Schueler fará na Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, cujo tema é O Mosaicista Schueler no Brasil e sua parceria com Carybé. Poliglota, ela fala e escreve fluentemente o português. Na página seguinte deste jornal encontra-se o artigo “Lembranças do Rio Vermelho”, de sua autoria. A palestra do dia 5 de julho integra também a programação das homena-gens que a Academia dos Imortais do Rio Vermelho e o historiador do Rio Vermelho, Ubaldo Marques Porto Filho, estão prestando à memória de Heinz Schueler, pelos seus 100 anos de nascimento, completados no dia 2 de fe-vereiro de 2011.

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Folha do Rio Vermelho

Palestra de Renate Schueler no Espaço Caramuru será no dia 5 de julho

Folha do Rio Vermelho

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MARÇO 2011

Lembranças do Rio Vermelho

O gentil padre franciscano Anselmo (pernambucano que se encontrava na Alemanha e falava o alemão) pegou em minha mão, quando estávamos a bordo do navio inglês Alcantara, e disse : “Quando chegarmos em Salvador, na Bahia, você vai aprender uma nova língua, o português!” Contou com os meus dedos: “um, dois, três, quatro e cinco”. Fiquei contente por ele não continuar a contar na outra mão e pensei em seguida: que língua mais estranha, nunca irei aprendê-la! Nascida em Berlim, Alemanha, eu estava com 8 anos de idade e havia aprendido o dialeto suíço em nossa estada de um ano e meio em Zurique.DESEMBARQUE - A família de Heinz Schueler, “o artista alemão”, desembarcou no Brasil 453 anos depois do descobridor português Pedro Álvares Cabral. Chegamos no porto de Salvador no dia 17 de dezembro de 1953. Encorajado pelo senhor Ernesto Tobler (que conheceu na Suíça e que morava em Salvador), meu pai resolveu se estabelecer na capital baiana como artista especialista em mosaicos. Com a ajuda desse senhor iria conseguir as encomendas para desenvolver o seu trabalho. Sentíamo-nos como verdadeiros descobridores de uma nova terra.HOSPEDAGEM – Ficamos na Pensão Jansen, pertencente a um suíço, no Corredor da Vitória. Era um casarão com uma varanda enorme, onde serviam as refeições, numa longa mesa. As lagartixas brancas circulando pelas paredes foram uma surpresa para nós. Escutei os adultos comentarem que uma delas havia caído no prato da sopa de um hóspede. Por isso, em cada refeição, meus olhos ficavam atentos, fixados entre o teto e o meu prato. Tudo era diferente para mim, o clima, a floresta no fundo da pensão e os aromas e sabores da cozinha. Meu pai tinha me prometido que quando chegássemos na nova terra eu poderia comer quantos abacaxis quisesse. Havia conhecido essa fruta especial no último Natal que passei na Europa. Exagerei nos abacaxis e fiquei com febre. Com isso aprendi uma lição nova: podia comer de tudo, mas com moderação. Na minha timidez, não deixei que as empregadas negras e uniformizadas penteassem minhas tranças. Mais tarde, soube que pentear cabelos iguais aos meus, na cor de mel, era como obter uma boa sorte. Tentaram também pentear os cabelos de meu irmão de 4 anos, Fredy, loiro com sardas pelo rosto e olhos azuis claros. Ninguém o penteava, a não ser minha mãe Helene. Para preocupação de todos, fugiu uma das três cobras jiboias que estavam numa gaiola no jardim da pensão. Com meu pai eu pude chegar perto e conhecer o que era uma jiboia. Toda noite, antes de dormir, fazia questão de olhar debaixo de minha cama alta, para me certificar que ali não se encontrava a jiboia fujona.MUDANÇA PARA O RIO VERMELHO – Através da mãe do senhor Tobler, fomos residir na Rua Alagoinhas nº 24, no loteamento Parque Cruz Aguiar, bairro do Rio Vermelho. A casa ficava numa ladeira, com o fundo encostado num morro. Possuía uma escada na sala, para o andar dos quartos. Na frente existia uma varanda com uma bonita vista para a rua que ficava perto do mar... Mudamos para esta casa assim que as camas chegaram para todos, cadeiras para sentar e uma mesa para comer. Era o suficiente para nós. Depois, meus pais foram adicionando o que precisavam e as malas serviam para guardar nossos poucos pertences. Assim que subi a escada da casa, tomamos posse, meu irmão e eu, do quarto à direita. Meus pais ficaram no primeiro quarto à esquerda. O terceiro quarto ficou como ateliê do meu pai. O quarto no quintal ficou para os sacos de pedras dos futuros mosaicos. Enquanto meu pai esperava a chegada dessas pedras, para o seu primeiro mural de mosaicos, de pinguins para um bar, ele me levou, às sete horas da manhã, para a Praia de Santana, defronte à igrejinha no Largo de Santana. Depois fiquei sabendo que nessa praia se realizava no dia dois de fevereiro, dia do aniversário de meu pai, uma festa para a Rainha do Mar, Yemanjá. Fiquei encantada com a Praia de Santana, onde havia pedras de tamanhos e cores diferen-tes. Eu achei uma concha que serviu para um mosaico que meu pai fez com pedras do mar. Foi um Cristo carregando uma ovelha nos ombros. A concha que encontrei ele colocou numa perna da ovelha. Esse mosaico teve como adquirente uma família suíça, que o destinou a um mausoléu da própria família. Para grande alegria do nosso pai, as pedras encomendadas para os mosaicos chegaram depois de três semanas. Ele então se pôs a trabalhar com muita dedicação e não podíamos interrompê-lo quando estivesse no ateliê. À noite, após o jantar, sentávamos na varanda sem acender a luz, devido aos mosquitos. Observávamos os vaga-lumes voando, que se iluminavam como pequenas lâmpadas pisca-pis-cas. Escutávamos sons de tambores distantes. Minha mãe cantava suas canções em alemão, enquanto eu, sentada no degrau da escada, acompanhava em voz alta. Fascinavam-me os grilos cantarem e me intrigavam as formigas seguindo para o ninho num buraco. Era impressionante, elas acabavam com a folhagem de uma árvore pequena em uma noite. APRENDENDO O PORTUGUÊS – Em 1954 existiam 60 famílias alemãs radicadas em Salvador e meus pais aceitavam todos os conselhos que lhes davam. Um jovem filho de uma dessas famí-lias veio em nossa casa para ensinar o português aos meus pais e eu também recebi alguma ajuda. Lembro-me que a primeira palavra que aprendi em português foi com um desenho de uma “bola”. E assim fui aprendendo, para nunca mais parar. Mas foi na Escolinha do Parque, da professora Maria Helena Neves da Rocha, na Rua Con-quista, bem juntinho da minha casa, que realmente deslanchei no português. Em vez de ir ao terceiro ano primário, puseram-me no primeiro ano. Assim, os livros que meus pais trouxeram da Suíça, para a terceira classe, não serviram para nada. Uma vizinha, Zuleide Viana, um pou-quinho mais velha do que eu, que me dava sua atenção, foi a primeira amiga brasileira que tive. Ela tinha um irmão mais moço, Edgar Viana, o primeiro amiguinho no Brasil. Nunca me esqueci dos vendedores ambulantes que passavam em frente da nossa casa. Gritavam em voz alta: “Laranja, verduras, pão, leite, etc”. Levavam seus produtos dentro de um balaio grande, que conduziam equilibrando na cabeça, com energia e elegância. Os vendedores de laranjas apareciam montados em mulas ou jegues, com um caçuá (cesto fundo) em cada lado do animal. As laranjas tinham uma casca grossa e eram doces. O leiteiro vinha todos os dias, numa charrete puxada por um cavalo. Era um senhor sério e pontual. Um dia chegou uma empregada negra e bonita, chamada Marina. Minha mãe andava pela casa perguntando para ela, repetindo mil vezes uma só sentença: “Como se chama isto?”. Per-guntei para minha mãe porque a Marina não comia com garfo e faca, como eu e na mesa? Ela comia lá fora, ao lado da cozinha, sentada na escada para o quintal. Eu a havia surpreendido comendo com as mãos. Interessante foi que ela fez com a mão um bolinho de sua comida e colocou em minha boca. Marina me contava histórias e eu a ouvia muito bem, embora falasse pouco o português. Um dia, num fim de semana, ela nos presenteou com uma fruta estranha. Todos nós (meu pai, minha mãe, meu irmão e eu) experimentamos, mas não gostamos da jaca. Nos livramos dela antes que a Marina voltasse, na segunda-feira. Meu território para explorar o Rio Vermelho se estendia até onde eu podia ouvir minha mãe me chamando de volta. Inicialmente explorei o terreno baldio defronte da minha casa, onde existia uma mangueira imensa. Quando as mangas caíram no chão, com a ventania de uma chuva, eu as apanhei e levei para minha mãe, que fez uma deliciosa geléia. Foi nesse terreno

que encontrei o meu primeiro animal de estimação, um cágado. Levei-o para o nosso quintal e o alimentava com banana, alface e comidas que ele não encontrava no mato. O ROUBO – Uma manhã acordamos com uma grande decepção. Descobrimos que um ladrão entrou na casa enquanto dormíamos. A policia foi chamada, registrou a ocorrência e o fato foi noticiado num jornal. Meus pais perderam suas economias e seus relógios. Quando eu examinei minhas coisas, fiquei contente por não terem sido levadas minhas três bonecas. Mas o ladrão levou uma bolsinha com cédulas de dinheiro suíço de brinquedo. Fiquei com um sorriso na mente, pois sabia que ele não poderia trocar por dinheiro de verdade. Por causa do calor, dormíamos com as janelas abertas. Por uma delas o visitante indesejável entrou. O senhor Tobler arranjou um revólver e, para que todos ficassem sabendo da existência da arma, foi para o terreno da mangueira e deu dois tiros para o ar. Passamos a dormir com as janelas fechadas. Mas, mesmo assim, na noite seguinte, o ladrão tentou abrir a janela do dormitório de meus pais. Eles acordaram e papai estava pronto para acionar o revólver quando minha mãe suplicou para ele não atirar. UM VESTIDO POR UM PAPAGAIO – Quando minha mãe se sentiu confiante no português pas-sou a ir sozinha, de ônibus, ao centro da cidade, para comprar pão de trigo integral e maçãs, que não eram encontrados no Rio Vermelho. Vim da Suíça com um bonito vestido de tricô vermelho e bordado de mil cores. Nunca o havia usado em Salvador por causa do clima quente. Mas havia uma família que ia para Suíça de férias com uma filha de minha idade, que precisava de um vestido encorpado, próprio para temperaturas baixas. Surgiu então uma proposta: se eu entregasse o vestido ganharia um papagaio desta família. Esse foi o melhor negócio feito por mim, pois o louro foi um papagaio muito querido. Meu pai construiu um lugar especial para ele no quintal. Num domingo, quando a nossa família saiu para um passeio, o louro foi para o ponto mais alto do telhado da casa e ali ficou esperando pelo nosso regresso. Meu irmão não gostava dele, porque o papagaio imitava seus gritos quando ele era obrigado a tomar banho com sabão e dava gritos altos de protestos. Como todos riam da perfeita imitação do louro, meu irmão ficava muito zangado. O papagaio sabia que não era querido pelo Fredy e isto demonstrava quando deixávamos ele andar no quarto de meus pais, onde ficavam todos os pares dos sapa-tos da família. O papagaio, sistematicamente, atacava os calçados do meu irmão com o bico. Essa ave, tão linda e inteligente, com suas lindas cores (verde, amarelo e vermelho) fascina-va-me. Podia sentar na minha cadeira enquanto eu comia na mesa. Meu pai ensinava sons para o louro repetir. Evitávamos que além do quarto do meu pai, para não atacar os sapatos do meu irmão, que ele entrasse no ateliê, para não atrapalhar as obras de mosaicos em andamento.VISITAS A CARYBÉ – Um dia meu pai me levou para visitar um artista chamado Carybé, que também morava no nosso bairro. Fomos amavelmente recebidos por sua esposa, dona Nancy. Meu pai me apresentou como também sendo uma artista e isso me deixou muito orgulhosa. Eles se comunicavam em francês. Meu pai procurava um artista que tivesse um estilo apro-priado para fazer mosaicos e entre os desenhos de Carybé viu um com três baianas coloridas. Com esse desenho meu pai fez um mosaico para mostrar o valor da sua obra. Foi um sucesso. Viraram parceiros em diversas murais. Numa outra visita, sempre muito carinhoso comigo, Carybé me ofereceu seus desenhos rejeitados, para que eu pudesse desenhar do outro lado, porque papel sempre faltava entre os artistas. Passei então a ter dois mestres: meu pai, com seus mosaicos, e Carybé, com seus desenhos!CINE RIO VERMELHO – Na Alemanha minha mãe tinha uma costureira que vinha em casa cos-turar o que ela queria. Em Salvador os papéis se inverteram. Ela é que ia na casa da costureira, uma senhora que falava alemão. Foi ela quem costurou o meu primeiro vestido na Bahia. Vestia-o todo engomado. Com ele fui pela primeira vez sozinha assistir um filme na matinê dominical do Cine Rio Vermelho. MALÁRIA – Para nossa tristeza minha mãe apareceu um dia sentindo calafrios. Pediu uma colcha de plumas que veio da Suíça em nossa mudança e que nunca podia ser usada na Bahia, devido ao seu clima quente. Foi chamado o doutor Deocleciano Ignácio de Souza, médico que morava perto e era dono da Farmácia Santo Inácio, no Largo de Santana. A princípio ele pensou que fosse tifo, mas o resultado do exame mostrou que era malária. Em um ano, a febre ocorreu três vezes em minha mãe e uma vez em meu pai. Falaram em injeções para mim e meu irmão, mas no dia da chegada do enfermeiro com as injeções nos escondemos tão bem que escapamos das agulhadas. Os médicos recomendaram que a família se mudasse para uma cidade de clima frio. A PARTIDA – O anúncio de que íamos nos mudar para São Paulo, me deixou muito triste e tive de presentear o leiteiro com o meu querido papagaio, porque disseram que ele não iria sobreviver ao barulho do avião. O cágado voltou para o seu lugar de origem, o terreno da mangueira. A caminho de São Paulo fizemos uma parada no Rio de Janeiro, onde meus pais tinham alguns amigos. Em seguida, na capital paulista, uma nova pensão, uma nova casa, uma nova escola e uma nova amiga, Pamela Ludwig, americana que ainda não falava o português. Ela aprendeu comigo o português que eu tinha acabado de aprender no Rio Vermelho. SAUDADES – Eu falava com saudades daquela terra onde descobri um novo mundo que não existia igual. Eu pintava os vendedores ambulantes, as baianas com seus tabuleiros, as lavadei-ras com suas roupas limpas, os vendedores de moringas, de frutas, dos homens que subiam nos coqueiros, das jangadas, do mar, das praias lindas e dos navios que iam e vinham da Europa, sem saudades de lá, mas com saudades do meu mundo que foi o bairro do Rio Vermelho. Em meu coração encontra-se até hoje estas frases de canções famosas: ”Bahia, terra da felicidade / morena, eu ando louco de saudade…” e “Do barquinho que vai... e da tardinha que cai…”. Por isso, escolhi este lugar, onde estou vivendo agora, em frente ao mar, aqui em Clearwater Beach (sem montanhas), que mais se parece com o lugar da minha saudade, onde os barcos vão e voltam e o por do sol se deita no horizonte do mar…

Clearwater Beach, Flórida, EUA.Dois de fevereiro de 2011,

Dia do Centenário de Nascimento de Heinz Schueler, meu pai.

Renate SchuelerArtista Plástica Foto: Detlef Zielinski

Renate Schueler em seu ateliê na Flórida, Estados Unidos.

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Folha do Rio Vermelho MARÇO 2011

Centenário de Carybé teve repercussão nacional O Ministério da Cultura, através da Biblioteca Nacional, festejou o cen-tenário do nascimento de um dos gênios das artes plásticas com uma mostra de livros aberta ao público por 60 dias, em sua sede, no Rio de Janeiro. Denominada “100 anos de Carybé”, a exposição foi inaugurada no dia do aniversário do artista, 7 de fevereiro de 2011, que se vivo es-

tivesse estaria comemorando 100 anos. A Casa da Moeda do Brasil também homenageou o no-tável artista. Em solenidade realizada em Salvador, lançou uma medalha comemorativa aos 100 anos do argentino naturalizado brasileiro, que teve suas obras evidenciadas por um estilo peculiar, sem similar no mundo.

Hector Julio Páride Bernabó, ou sim-

plesmente Carybé, nasceu na cidade de

Lanús, no subúrbio de Buenos Aires, Ar-

gentina, no dia 7 de fevereiro de 1911.

Filho de italiano com brasileira, passou a

infância em Nápoles, a adolescência no

Rio de Janeiro e a juventude em Buenos

Aires, onde se iniciou no jornalismo, que

o levaria a um périplo pela América do

Sul.

Em 1938 Carybé esteve em Salvador.

A visita marcou profundamente o jovem

viajante, que se encantou com as bele-

zas naturais, com o casario, a capoeira, o

candomblé, o misticismo e o povo alegre

e hospitaleiro. Enfim, Salvador era a ci-

dade de todos os encantos, a Terra da Fe-

licidade.

Salvador não lhe saiu mais do pensa-

mento. Retornou em 1941 e repetiu a

dose em 1944. Mas, continuou viajando

pelo continente sul-americano, fazendo

reportagens e pintando quadros inspi-

rado nas paisagens e nos personagens

populares. Expunha suas obras em Bue-

nos Aires e no Rio de Janeiro.

Em 1950, já casado e com um filho,

resolveu vir para Salvador com a famí-

lia. Morou na casa de número 3614 da

Avenida Oceânica, no trecho do sopé do

Morro da Sereia, Rio Vermelho, o “bair-

ro dos artistas”. Porém, irrequieto e de

espírito nômade, Carybé retornaria à

Argentina, onde era artista premiado e

muito conhecido. Mas o feitiço baiano já

tinha produzido seus efeitos e trouxe o

viajante de volta.

Em 1961, aos 50 anos, chegou para

morar definitivamente em Salvador, em

caráter irreversível. E voltou também

para o Rio Vermelho, residindo desta

feita no segundo andar do sobrado n° 7

no histórico Largo de Santana, defronte à

praia do mesmo nome, porto dos pesca-

dores e local da Festa de Yemanjá, no dia

2 de fevereiro.

Finalmente Carybé havia se rendido

ao que chamava de “cidade dos sonhos”,

cheia de encantos, de diversidades e rica

culturalmente. Enxergou em Salvador

uma cidade plural, como ele, um artista

múltiplo. Além de jornalista era pesqui-

sador, historiador, escritor, ilustrador de

livros, cartunista, cenógrafo, desenhista,

gravador, muralista, escultor e pintor.

No Rio Vermelho chegou a iniciar a

construção de uma casa no Parque Cruz

Aguiar, num lote na confluência das ruas

Itabuna, Canavieiras e Feira de Santana.

Mas, preferiu vender o imóvel ainda ina-

cabado para fincar raízes no bairro de

Brotas, onde instalou a residência e o

ateliê definitivos.

A Bahia foi uma fonte de inspiração

permanente para centenas de imagens

fixadas num traço inconfundível, em es-

culturas, painéis, gravuras, desenhos,

aguadas e quadros a óleo. O nome Ca-

rybé virou sinônimo de arte da Bahia, que

se irradiou para o restante do país e pelo

mundo.

Carybé faleceu aos 86 anos, na noite

de 1º de outubro de 1997. Sofreu um

enfarte quando participava de um ritu-

al no terreiro de candomblé do Ilê Axé

Opô Afonjá, donde era Ogã confirmado,

“Ministro de Xangô”. Deixou mais de

cinco mil trabalhos que se encontram es-

palhados por diversas cidades brasileiras e

no exterior. No Museu Afro-Brasileiro de

Salvador encontram-se 27 painéis repre-

sentando os orixás, sendo o de Yemanjá

o mais marcante.

----------------------------Fontes:

1. Livro: Bahia Terra da Felicidade, de Ubaldo Marques Porto Filho2. Site: www.casadamoeda.gov.br

3. Site: www.bn.br

Caribé

A primeira residência em Salvador: esta casa vermelha na Avenida Oceânica 3614, Rio Vermelho.

A segunda residência no Rio Ver-melho: último andar deste prédio no Largo de Santana, pertencente à família Taboada.

O Largo de Santana no traço inconfundível de Carybé.

Cartaz da exposição na Biblioteca Nacional.

Reconhecido e premiado internacionalmente, Carybé possuia uma relação muito íntima com a Bahia, sendo fortemente influenciado pelos valores da sua cultura e pela miscigenação racial de um povo marcado pelo sincretismo religioso. Depois de muita andança, de déu em déu, ar-tista escolheu Salvador para a morada definitiva e o Rio Vermelho foi o primeiro bairro onde residiu na capital baiana.

Um artista múltiplo

Folha do Rio VermelhoMARÇO 2011

A famosa Festa de Yemanjá, que se realiza desde 1924, no dia 2 de fevereiro, na Praia de Santana, es-teve até 2009 sob o comando de pescadores que mantiveram o culto à orixá dentro dos preceitos religio-sos e obedecendo a todos os rituais que consagraram o Rio Vermelho como o local da maior manifesta-ção do mundo em reverenciamen-tos à Rainha do Mar. No entanto, por um cochilo dos pescadores que verdadeiramente são adeptos de Yemanjá, um aven-tureiro apossou-se da presidência da Colônia de Pesca Z-1, mediante um golpe e apoderou-se também da Festa de Yemanjá. Todos sa-biam que o oportunista não tinha qualquer ligação com o candom-blé e nenhuma experiência e ou qualquer participação em festas anteriores, nem mesmo como mero colaborador. Enfim, um desconhe-cido apareceu de repente no co-mando da tradicional e importante festa.

E logo no primeiro ano sob a liderança do golpista, houve uma grande decepção para as milhares de pessoas que foram ao amanhecer do dia 2 de fevereiro de 2010 levar suas oferendas à Yemanjá e participar da tradicional alvorada com fogos de artifício, anunciando a chegada do Presente Principal. Pela primeira vez não houve a alvorada festiva, pois o Presente Principal não che-gou no horário sagrado. Somente cinco horas depois, exatamente às dez da manhã, foi que o com-ponente principal da festa chegou ao barracão, quando Mãe Aíce, a ialorixá que comanda os preceitos já se encontrava desesperada com a quebra na ritualística religiosa. Somente essa falha imperdoável já justificava o afastamento do aven-tureiro do comando da festa. Porém, os pescadores deram-lhe a oportuni-dade de se redimir no ano seguinte. E novamente enganaram-se com o cidadão, um aventureiro que não tem nenhum compromisso

com a responsabilidade e nem com Yemanjá. Mas desta feita ele foi longe demais na irresponsabi-lidade, pois no dia 2 de fevereiro de 2011 aconteceu o inimaginável: simplesmente não teve o Presente Principal e o golpista fugiu do lo-cal da festa, talvez temendo um lin-chamento pelo povo de Yemanjá. Já passava das treze horas quando um grupo de antigos pescadores assumiu o comando da situação e retirou da Casa de Yemanjá uma pequena imagem de Yemanjá e a conduziu para o carramanchão, onde Mãe Aíce providenciou rapi-damente os preceitos com o pre-sente substituto, para que ele fosse levado ao mar. Já cansados com as desculpas esfarrapadas do aventureiro que se encastelou na Colônia de Pesca Z-1, que há dois anos não presta contas dos recursos financeiros recebidos dos órgãos públicos para a realiza-ção das festas, nem do dinheiro que os turistas e o povo de Yemanjá de-

posita na urna existente na Casa de Yemanjá, os pescadores que têm responsabilidade com Yemanjá re-solveram, finalmente ,afastar o aventureiro da Festa de Yeman-já. Em 2012 a Festa de Yemanjá será organizada pela Associação Yemanjá do Rio Vermelho. que pos-sui vasta experiência na Festa de Yemanjá, pois durante várias déca-das foi uma das figuras de proa na organização desse evento, de onde havia se afastado com a entrada do golpista na cena da festa. Assim, sob a égide da Associa-ção Yemanjá do Rio Vermelho, fun-dada e comandada por antigos pes-cadores, veteranos na organização da Festa de Yemanjá, que se encon-travam há dois anos afastados da organização do festejo que no dia 2 de fevereiro leva ao Rio Vermelho uma multidão calculada entre 150 e 200 mil pessoas, milhares delas vindas de todo o Brasil e de deze-nas de países.

Pescadores com credibilidade retomam o comando da Festa de Yemanjá

Um basta à irresponsabilidade:

Os diretores responsáveis pela Festa de Yemanjá 2012

PresidenteJorge Amorim (Azul). Pescador profissional e ex-secretário da Colônia de Pesca Z-1, de onde se afastou em 2009. Possui vasta ex-periência na Festa de Yemanjá, pois durante duas décadas foi uma das figuras de proa na organização desse evento, de onde havia se afastado com a entrada do golpista na cena da festa.

Diretor da Festa de YemanjáJoaquim Manoel dos Santos (Manteiga). Pescador profissional aposentado. É o decano da classe em participação na Festa de Yeman-já, onde começou em 1962. Profético, não concordou com a entrada do aventureiro no comando da festa. É uma das reservas morais e religiosas da festa.

Diretor Administrativo-FinanceiroMário Augusto Oliveira Barreto (Mário da Moto). Pescador profissional. É um jovem líder da classe pesqueira.

Diretor ExecutivoJerônimo Oliveira Chadud (Léo). Pescador profissional. É filho de um ex-presidente da Colônia de Pesca Z-1, Jorge Filho (Coap), que durante vários anos comandou a Festa de Yemanjá. Participa desta festa desde criança, levado pelo pai.

Vice-PresidenteGilson Alves dos Santos (Comprido). Pes-cador profissional e ex-tesoureiro da Colô-nia de Pesca Z-1. Na Festa de Yemanjá possui experiência de três décadas e foi uma das figuras exponenciais na organização desse evento até a entrada do golpista no coman-do da festa.

Diretora do Presente Principal Valdelice Maria dos Santos (Mãe Aíce de Oxossi). Ialorixá que comanda a par-te religiosa da Festa de Yemanjá há 18 anos. Ficou muito revoltada com a que-bra na tradição dos preceitos religiosos, em 2010 e 2011, por conta da irrespon-sabilidade do aventureiro que havia se apoderado do comando da festa.

11E-mail da Associação Yemanjá do Rio Vermelho: [email protected]

MARÇO 2011Folha do Rio Vermelho

12

Carnaval alternativo no Rio Vermelho:

Conturv está elaborando o projeto para a oficialização

do Circuito Caramuru

Paulinho Boca de Cantor e Gereba inauguraram o Circuito Caramuru Os cantores e compositores Paulinho Boca de Cantor (ex-morador do Rio Vermelho) e Gereba Barreto inauguraram, no dia 3 de março, quinta-feira de carnaval, o circuito car-navalesco do Rio Vermelho, ao qual deram o nome de Cara-muru, em homenagem ao descobridor do Rio Vermelho, co-fundador da Cidade do Salvador e Patriarca da Bahia. Além dos dois idealizadores do Circuito Caramuru, a grande atração da noite foi o bloco musical “Paroano Sai Milhó”, bastante aplaudido pela multidão concentrada no

Largo de Santana. Nascido no bairro da Saúde e com 47 anos de existência, o grupo se constitui num verdadeiro patrimônio cultural da Bahia. Com um conjunto vocal carnavalesco de excelente nível, é especialista na interpretação de músicas de sucesso dos antigos carnavais. Verdadeiro precursor do Circuito Caramuru, o “Paroano Sai Milhó” tem se apresentado no Rio Vermelho desde o carnaval de 2007. E deverá ser tomado como uma das referências para orientar a oficialização do Circuito Caramuru. A criação do Circuito Caramuru contou com o apoio do Conselho de Cultura e Turismo do Rio Vermelho, da Central das Entidades do Rio Vermelho e da Ad-ministração Regional do Rio Vermelho. O novo circuito carnavalesco, ainda não oficializado pela Prefeitura, foi muito bem recebido pela comunidade do bairro, pelo povo soteropolitano e turistas. Mereceu inclusive destaque nos órgãos da imprensa, especialmente da TV Bahia e dos jornais A Tarde e Correio.

Como não fazia parte da programação oficial do Carnaval de Salva-

dor, o Circuito Caramuru não pode ser inaugurado com o apoio de pa-

trocínios e nem com uma logística carnavalesca, que envolve trânsito,

segurança pública e outros serviços de infraestrutura. Mesmo assim foi

bem sucedido, obteve grande repercussão, teve a aprovação popular

e serviu para demonstrar que o Rio Vermelho realmente possui poten-

cial para a criação de um novo circuito oficial do carnaval, o quarto da

cidade, para atender a demanda reprimida dos bairros da Federação,

Brotas, Rio Vermelho, Nordeste, Amaralina, Pituba e outros do litoral

norte.

A pedido da própria Prefeitura, o Conselho de Cultura e Turismo

do Rio Vermelho (Conturv) vai enviar ao prefeito João Henrique a pro-

posta de como a comunidade do bairro quer que seja oficializado o Cir-

cuito Caramuru. O coordenador do projeto é o administrador e escritor

Ubaldo Marques Porto Filho, historiador do Rio Vermelho e do turismo

baiano, com livros e diversos trabalhos publicados sobre o assunto.

Ubaldo, que é especialista em cultura, turismo e marketing, trabalhou

na Bahiatursa em diversos períodos, onde ocupou cargos técnicos impor-

tantes. Foi inclusive o coordenador da implantação na Bahia do primeiro

Clube da Terceira Idade, fruto de um convênio da Embratur com a estatal

do turismo baiano.

“Estamos consultando moradores e entidades do Rio Vermelho, es-

pecialistas em carnaval, artistas que trabalham com o carnaval, agen-

tes culturais e diversos outros segmentos do carnaval e do turismo em

nossa cidade, para que o Circuito Caramuru efetivamente se consolide

como mais uma atração do calendário carnavalesco de Salvador”, afir-

ma o coordenador, que também preside o Conturv.

Ubaldo Porto informa ainda que já existe um consenso: “No Circuito

Caramuru não serão permitidos, em hipótese alguma, trios elétricos e

nem mini-trios. O carnaval do Rio Vermelho deverá ser exclusivamente

para a circulação dos blocos e grupos de foliões puxados por bandas

de sopro e percussão, desfilando no chão, sem qualquer parafernália

eletrônica. O desejo geral é também no sentido de ser no gênero do

Circuito Batatinha, no Pelourinho. Logicamente que o Circuito Cara-

muru terá algumas nuances especiais, para atender crianças, jovens e

adultos que querem brincar com tranquilidade, de forma democrática

e sem as entidades com as cordas e cordeiros que separam o povo dos

foliões. Tudo está sendo formatado no trabalho que o Conturv en-

caminhará ao Senhor Prefeito João Henrique”, concluiu o coordenador

do projeto.

Reunião na Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, que definiu o apoio oficial do bairro do Rio Vermelho à inauguração do Circuito Caramuru: Ubaldo Marques Porto Filho, presi-dente do Conturv; Gereba Barreto, um dos criadores do Circuito; Raimundo Bandeira, coordenador do Bloco da Cidadania; Eliana Mascarenhas, administradora regional da Prefeitura; e Clóvis Bezerril, presidente da Central das Entidades do Rio Vermelho.

Correio, 4 de março de 2011.

A Tarde, 4 de março de 2011.