rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve...

23
1 LUCAS PEDROZO ANGÉLICA REGINATTO MIORANDO HISTÓRIAS DE CAÇADAS E ACONTECIMENTOS NAS VICINAIS DE RORAINÓPOLIS

Transcript of rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve...

Page 1: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

1

LUCAS PEDROZO ANGÉLICA REGINATTO MIORANDO

HISTÓRIAS DE CAÇADAS E ACONTECIMEN

TOSNAS VICINAIS

DE RORAINÓPOLIS

2018

Page 2: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Pesquisador Histórico PrincipalLUCAS PEDROZO

Pesquisador Histórico SecundárioSIDLER GARRIDA PEIXOTO

Digitação e adaptação das histórias ANGÉLICA REGINATTO MIORANDO

LUCAS PEDROZO

Ilustração e ImagemANGÉLICA REGINATTO MIORANDO

RevisãoMARIA GEORGINA S. PINHO

2

Page 3: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Rorainópolis- RR2018

AO LEITOR

Ao querido leitor curioso, afirmamos que essas histórias são baseadas em fatos reais que foram relatadas por antigos moradores que também não acreditavam no misticismo até se encontrarem frente a frente.

3

Page 4: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Para efeitos fantásticos incrementamos alguns detalhes e renomeamos personagens para preservar a identidade do verdadeiro.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................06O GRITO NA VARRIDA (VICINAL 01)...................................07

A LOIRA DA GARUPA (VICINAL 03).....................................10

O BICHO QUE ANDA E NINGUÉM VER – (VICINAL 06).12

A BOLA DE FOGO – (VICINAL 06)..........................................13

A QUEDA DA PONTE (VICINAL 06).......................................15

O BICHO CABELUDO (VICINAL 09)......................................16

4

Page 5: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

GLOSSÁRIO

Espera: Local em que se espera uma um animal para a captura.

Foco: Iluminação da lanterna Montar: estrutura de madeira composta de

vigas para suportar uma pessoa a dois metros de distância do solo para melhor visualização.

Jirau: estrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita de pneu.

5

Page 6: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

INTRODUÇÃO

Esta obra é baseada em histórias contadas nas vicinais pertencentes ao Município de Rorainópolis- RR foram coletadas em reuniões de caçadores e de pessoas que vivem nas vicinais.

Algumas dessas histórias ocorreram no tempo em que Rorainópolis era apenas uma Vila, conhecida como Vila do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), porque anteriormente era um local com o Projeto de Assentamento localizada a 291 km da Capital de Roraima, além disso o projeto da BR 174 estava em processo de asfaltamento do trecho entre as capitais: Boa Vista e Manaus.

Nesse período muitas famílias de diversas partes do Brasil, especialmente as nordestinas, povoaram o município em busca de emprego e moradia. Com a expansão populacional, Rorainópolis foi desmembrada do município de São Luiz do Anauá.

6

Page 7: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

O GRITO NA VARRIDA (VICINAL 01)

A história começa ainda no tempo em que a Vila do INCRA tinha poucos moradores, e que somente existiam a Vicinal Um e a Vicinal Dois.

A maioria dos moradores da Vila do INCRA trabalhava para a abertura da BR 174. A estrada era o projeto de interligação entre as capitais Manaus e Boa Vista.

Certo dia, no horário do almoço, no alojamento da cozinha, o responsável pela obra, Seu Sabá, notou que o mantimento estava ficando escasso para a semana e conversou com dona Maria, a Cozinheira, e decidiram pedir ajuda para o grupo de homens trabalhadores:

- Pessoal, a carne está acabando! Há algum de vocês que queira caçar? As armas estão aqui! Quem quiser ir não precisa trabalhar de tarde! (Disse Seu Sabá)

Os trabalhadores que estavam almoçando ficaram se olhando, e nesse momento dois deles decidiram ir à caçada.

- Nós vamos, chefe! Eu e Jão! (Disse Francisco)Então, Seu Sabá liberou os dois. E assim, por

volta das quatro horas, os dois partiram para a Vicinal Um.

Após andar aproximadamente três quilômetros da Vila encontraram um local propício para a caçada, e ali fizeram uma varrida para se locomoverem sem chamar a atenção de animais, e cada um ficou de um lado.

7

Page 8: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Na escuridão da floresta, por volta da meia noite, estavam os dois cansados de esperar sem sucesso, quando Jão percebeu uma movimentação estranha muito perto de onde ele estava, e logo após ouviu um grito estrondoso e aterrorizante que seus ouvidos ficaram zumbindo.

Com muito medo por não ter reconhecido o grito, resolveu não ligar sua lanterna para não enxergar tal assombração ou do que se tratava.

Passado alguns segundos, chega perto dele Francisco e pergunta:

- Você está ficando doido? Por que gritou desse jeito?

Jão, de tão assombrado, nem lhe responde.Francisco ainda zangado, diz: - Eu vou é me embora!E Jão tremendo lhe acompanha.

Passado alguns dias, outro trabalhador chamado Pedro pergunta para Jão:

- E a caçada daquele dia? Como foi?E Jão respondeu:- Estava boa! Porém não andou caça alguma.

Exclamou Pedro:- Pois eu vou lá é hoje! Ver o que sucede!

8

Page 9: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

No outro dia, por volta de uma hora da madrugada, Pedro chega assombrado e todo suado perto da rede de Jão no acampamento.

- Jão! Por acaso vocês ouviram um grito na varrida? (pergunta Pedro todo ofegante)

E Jão respondeu:- Sim! - E por que você não me falou? (perguntou

Pedro)- Porque fiquei com medo do grito e nem tive

coragem de ligar a lanterna. (Responde Jão)

Então Pedro revela:- Pois eu tive! - Pois me fale o quê que era! (Falou Jão).- Eu também não sei o que era! Pois quando eu

foquei não tinha nada lá. (Disse Pedro).

Então Jão lhe fala:- Meu camarada, se fosse eu teria saído

correndo.E finaliza Pedro: - E por que quê tu acha que estou todo suado?

9

Page 10: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

A LOIRA DA GARUPA (VICINAL 03)

Certo dia, Alexandre se arrumava para uma festa de aniversário muito tradicional de uma antiga moradora da Vicinal Três. Alexandre, em sua moto Titã, percorre os vários quilômetros em poucos

minutos para chegar à festa antes das dezenove horas.No decorrer da festa, Alexandre se diverte

contando histórias de terror com seus amigos e fica pensativo com uma história da própria Vicinal. Pela madrugada, quase terminado a festa, ele lembra que não foi para dormir e percebe que está muito tarde para retornar para Rorainópolis, lugar da sua moradia.

Se despedindo da aniversariante, Alexandre monta em sua moto Titã e parte ainda pensativo.

No decorrer de sua viagem ainda na Vicinal lembra que tem que passar por uma reserva que possui várias lendas, porém, passando por lá esquece, e avista uma mulher muito bela de cabelos loiros que

10

Page 11: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

caminhava pela reserva. Alexandre para a moto ao lado da moça e forçando uma voz galanteadora lhe oferece uma carona. A moça, aceita a oferta, sobe na moto e o agarra com força.

Alexandre sorridente e feliz prossegue a viagem. Antes mesmo que terminasse o percurso em estrada de barro da Vicinal, Alexandre pergunta à moça:

- Qual é o seu nome? E o que você estava fazendo na reserva a essa hora?

A moça misteriosa responde:- Eu estava te esperando para você acreditar na

minha história...Alexandre não entendendo a resposta meio que

sem sentido, inclina-se levemente para trás ainda pilotando e pergunta:

- Como é?!E percebeu que ela não está mais na garupa da

moto.

11

Page 12: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

O BICHO QUE ANDA E NINGUÉM VER – (VICINAL 06)

Alguns anos atrás, dois moradores da Vicinal “Seis” combinaram para uma caçada a noite. Seu José, um morador antigo, convida Fabrício, um recém-chegado do Maranhão, para fazer uma caçada na mesma noite.

Por volta das 17 horas daquele dia, partiram os dois da casa de Seu José para a fundiária do seu lote.

Ao se aproximar da fundiária, Seu José deixa Fabrício em uma boa “espera”, e continua a adentrar na mata. Enquanto isso, Fabrício sobe em seu montar e se prepara para a caçada em uma noite de aventura, entretanto as horas passavam e percebeu que, provavelmente, não seria uma boa caçada, por isso resolveu tirar um cochilo, quando de repente acorda com um barulho desconhecido de algo que se aproxima e logo fica ansioso.

12

Page 13: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Fabrício, ao perceber que o barulho estava bem perto, resolveu focar com sua lanterna de quatro elementos, porém não conseguiu enxergar a origem das pisadas, e ficou bastante nervoso e começou a procurar por todos os lados, até que percebeu que algo estaria ali passando e por mais que Fabrício focasse só via as folhas se mexerem e os galhos quebrarem.

Fabrício, assustado e com medo, pensa em correr e ir embora, porém lembra que não conhece a floresta daquele lote e é obrigado a esperar o Seu José até o amanhecer. Já pela manhã, Fabrício fica indignado com Seu José e o questiona:

- Mas por que só agora, Seu José?! Seu José responde:- Fabrício, pra falar a verdade, pela primeira vez

na minha vida eu tive medo de voltar para casa à noite, mas não me pergunte o porquê, porque eu nem

vi!

A BOLA DE FOGO – (VICINAL 06)

Poucos quilômetros dentro da Vicinal “Seis”, conta-se que algum tempo

atrás, vivia Dona Socorrinha, uma senhorinha que esbanjava simpatia quando o assunto era fazer galinhada. Seu extenso quintal era um local aberto com uma cerca de arame liso, equilibradas por velhas estacas.

Todo dia, Dona Socorrinha ficava atenta ao galinheiro, principalmente quando lavava suas louças antigas no jirau. E dia sim e dia não, coletava os ovos

13

Page 14: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

das suas quarenta galinhas, sem contar os pintinhos que a cada dia desaparecia um.

Seu marido, um dia, ao chegar do trabalho, deparou-se com um dos cachorros vira-latas sem dono, correndo das vassouradas de Dona Socorrinha, mas o que mais ficava zangado era perceber que o cão corria abocanhado com uma de suas franguinhas. Todo o galinheiro entrava em alvoroço:

- Eu mato esse cachorro do cão uma hora dessas! (gritava Socorrinha zangada jogando forte sua vassoura)

Uma semana depois a mesma cena se repetia, e mais outra franguinha era abocanhada pelo bando de cachorros. Até que se criou uma rotina de vigília diária para preservar a vida de suas galinhas.

Porém, certa tardinha, no dia em que seu marido chegaria somente de noite, Dona Socorrinha escutou um alvoroço e as galinhas todas assustadas cacarejando sem parar. Dona Socorrinha saiu correndo com um pedaço de taco improvisado em direção ao galinheiro e foi enxotando os cachorros:

- Passa daqui seus cãos do demônio!Porém, não acha nenhum cachorro, mas

percebe um clarão atrás de uma árvore perto do galinheiro onde estavam as galinhas alvoroçadas.

A mulher, ao se aproximar da árvore, percebeu que saia dela uma bola de fogo que pairava no ar. Uma bola de chamas que flutuava poucos metros do chão sem rumo. E Dona Socorrinha impressionada ficou trêmula e desmaiou.

14

Page 15: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

A QUEDA DA PONTE (VICINAL 06)

Há mais de dez anos, conta-se que Maria Vilaça morava na Vicinal “Seis” há tanto tempo que conhecia todos os buracos e valas da estrada como a palma de sua mão, porque diariamente pilotava sua moto FAN 125 para seu trabalho de auxiliar de serviços gerais na Vila Rorainópolis.

15

Page 16: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Certo dia, Maria Vilaça, ao chegar do trabalho é avisada que teria que retornar à Vila para trazer um parente que chegaria de viagem provavelmente no ônibus das dez horas, mas mesmo assim, Maria decide sair mais cedo, umas sete horas da noite para poder ainda naquele dia abastecer sua moto.

No caminho da Vila, Maria cantarolava distraída dentro de seu capacete azul marinho até avistar na beira da ponte um ser estranho: Um bicho muito peludo com pelagem preta e seus olhos grandes e vermelhos lhe olhando.

Dessa forma, Maria Vilaça, que andava quarenta quilômetros por hora, reduziu a velocidade de sua moto para poder passar pela ponte de madeira e tremendo de medo, fechou os olhos e caiu da ponte desmaiada.

Conta-se ainda que algumas pessoas que vinham da Vila de volta para a casa, perceberam o acidente e conseguiram socorrer a mulher desmaiada. Entretanto, depois daquele dia, nunca mais Maria Vilaça andou sozinha de moto, e dizem ainda que vendeu seu terreno para morar na capital.

O BICHO CABELUDO (VICINAL 09)

Conta-se que em agosto de 2007, uma mulher chamada Rosana estava grávida de sete meses, sentiu

16

Page 17: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

um enorme desejo de comer carne de caça. Seu marido Luiz resolveu ir caçar para assim, matar a vontade da mulher, por acreditar na lenda de que se não cumprir seu desejo, a criança poderia nascer com cara de caça.

Luis, ao se preparar para a caça, fala para a mulher:

- Mulher! Vou pra Nove e só volto amanhã!Logo sua esposa questiona:-Mas, amor! E as histórias do mês de agosto da

Vicinal “Nove”? - Mas mulher, que besteira! Isso é só história!

(Respondeu Luis com tom de arrogância).Então disse a mulher preocupada:- Então vai! Mas tome cuidado!E parte Luiz de Rorainópolis em direção à

Vicinal “Nove”.Enquanto amarrava as varas de sua “espera”,

Luiz pensava nas histórias que quando adolescente ouvia sobre aquela Vicinal, e sem medo finaliza.

Ao cair da tarde, Luiz sobe para armar sua rede. Ao amarrar o primeiro lado, escuta um grito bastante assombroso e desconhecido. Ele para o que está fazendo e fica com a expectativa de ouvir novamente, o que acontece minutos depois, bem mais próximo dele. Então, ele resolve

amarrar-se em uma das duas árvores no alto da espera. Segura sua arma firme, e pensa:

- Será uma onça ou um pássaro?E espera, até que se aproxima dele um bicho

grande e peludo, andando como uma pessoa, porém, lentamente.

17

Page 18: rl.art.br · Web viewestrutura de madeira com um metro de comprimento levemente inclinado serve como suporte para lavar louças e roupas contendo em cima uma bacia com água feita

Quando Luis percebe que o bicho está vindo em sua direção, fica com muito medo.

Ao aproximar dele, quase passando debaixo de sua espera, o bicho vê a vara do montar e olha para cima, dá um grito e encara Luiz com seus olhos negros escondidos entre seus pelos. Luiz encarando de volta, pensa com medo:

- Se esse bicho tentar subir, eu atiro!O animal olhando de um lado para o outro,

abaixa-se, passa por baixo do montar, e vai embora. Ao perder o animal de vista, Luis salta do montar deixando tudo para trás e corre desesperado em direção à estrada.

Conta-se ainda que os pertences de Luis se encontram ainda no mesmo lugar, e que ninguém se dispôs a procurar.

18