Roberto - Kátia - Meios de Comunicação Social

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ESTADO E COMUNICAÇÃO SOCIAL: O DEBATE INACABADO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL BRASILEIRO – UMA CONSTRUÇÃO INTERROMPIDA ESTADO Y COMUNICACIÓN SOCIAL: El DEBATE PENDIENTE DE DESARROLLO SOCIAL BRASILEÑO, UMA CONSTRUCCIÓN INTERRUMPIDA Roberto de Paula 1 Kátia de Oliveira Silva 2 Dakari Fernandes Tessmann 3 RESUMO Problematiza a influência dos meios de comunicação de massa no processo de desenvolvimento da América Latina, especificamente no Brasil. Assinala que os meios de comunicação podem ser ideologicamente manipulados para a manutenção de determinada ordem social ou mesmo como instrumentos para veicular e cristalizar valores mercadológicos. Destaca a influência destes no processo histórico brasileiro. Por fim, aborda alguns elementos que caracterizaram o debate do desenvolvimento social brasileiro que foi interrompido por políticas alinhadas aos interesses do Imperialismo. Palavras-Chaves: Meios de Comunicação. Desenvolvimento Social. Ordem Jurídica. RESUMÉN Discute la influencia de los medios de comunicación en el proceso de desarrollo de América Latina, específicamente en Brasil. Señala que los medios pueden ser ideológicamente 1 Roberto de Paula – Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Professor. 2? Kátia de Oliveira Silva – Graduada em Pedagogia pela Faculdade Instituto Superior de Educação do Paraná. Especialização em Educação Especial. Professora. 3 Dakari Fernandes Tessmann – Especialista em Direito. Advogado. Professor na Faculdade de Direito de Alta Floresta.

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Bom artigo para avaliação dos meios de comunicação para ser compartilhado com a maioria das pessoas que gostam de ler!

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Trabalho Acadmico

ESTADO E COMUNICAO SOCIAL: O DEBATE INACABADO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL BRASILEIRO UMA CONSTRUO INTERROMPIDA

ESTADO Y COMUNICACIN SOCIAL: El DEBATE PENDIENTE DE DESARROLLO SOCIAL BRASILEO, UMA CONSTRUCCIN INTERRUMPIDARoberto de Paula

Ktia de Oliveira Silva

Dakari Fernandes Tessmann

RESUMO

Problematiza a influncia dos meios de comunicao de massa no processo de desenvolvimento da Amrica Latina, especificamente no Brasil. Assinala que os meios de comunicao podem ser ideologicamente manipulados para a manuteno de determinada ordem social ou mesmo como instrumentos para veicular e cristalizar valores mercadolgicos. Destaca a influncia destes no processo histrico brasileiro. Por fim, aborda alguns elementos que caracterizaram o debate do desenvolvimento social brasileiro que foi interrompido por polticas alinhadas aos interesses do Imperialismo.

Palavras-Chaves: Meios de Comunicao. Desenvolvimento Social. Ordem Jurdica.

RESUMN

Discute la influencia de los medios de comunicacin en el proceso de desarrollo de Amrica Latina, especficamente en Brasil. Seala que los medios pueden ser ideolgicamente manipulado para mantener un cierto orden social o incluso como instrumentos para transmitir cristalizan y los valores negociables. Destaca la influencia de stos en el proceso histrico brasileo. Por ltimo, se analizan algunos elementos que caracterizaron el debate en el desarrollo social brasileo que fue interrumpido por las polticas alineadas con los intereses del imperialismo.

Palabras clave: Medios de comunicacin. Desarrollo Social. Ordenamiento jurdico.1 INTRODUO

O presente artigo aborda pontos de interseco entre estado e novas tecnologias, bem como problematiza esses duas temticas, de modo concreto, no atual momento da sociedade brasileira. Vale assinalar que o texto no tem a preocupao em fazer um sobrevo pela histria, visto a brevidade do mesmo e o objetivo deste, que problematizar o papel exercido pelos meios de comunicao social e, questionar se essa importncia incide ou no no debate brasileiro sobre o que os socilogos denominam de debate sobre a construo ou reconstruo nacional.

No cenrio da chamada "globalizao", que justifica as opes dos temas escolhidos para o artigo, a discusso acerca do papel do estado na conduo dos destinos da sociedade emerge com fora e vitalidade. Assim, no caso especfico do Brasil, abre-se tarefa rida e difcil, porm necessria, em que o foco se desloca para as bases macroeconmicas de um determinado plano econmico (Plano Real) como se tivesse o poder de debelar todos os graves problemas sociais experimentados com cada vez mais agudeza. No calor do debate o papel dos meios de comunicao social ou de massa tem relevncia. Nesse passo, podem potencializar um papel transformador, reacionrio, reformista ou conformador da vontade da classe dominante.

Didaticamente, buscar-se- problematizar os temas articulados em dois momentos distintos: no primeiro, dentre outras possveis variveis de anlises, focou-se estritamente nos meios de comunicao social e no uso destes como instrumento para a manuteno do domnio ou imposio de um pas sobre outros externamente (imperialismo) ou, ainda, numa dimenso interna, como uma classe dominante pode manipular os meios e as informaes para a mantena do que est estabelecido (stablichment); no segundo momento, propor-se- a discusso ou rediscusso envolvendo o estado e a sociedade brasileira diante das transformaes experimentados pela nova ordem global, qual seja, saber se h uma viabilidade de um amplo debate sobre a construo nacional de um projeto de desenvolvimento social.

O pano de fundo da discusso levantada, a partir de alguns fundamentos verificados no processo histrico brasileiro, gira em torno da possibilidade ou no de alternativa propriamente dita, de uma construo de projeto nacional de desenvolvimento social que pode ser nominado de "a opo brasileira". Embora no seja simples a discusso, pois passa pela construo de um plexo de informao, pela abertura de uma ampla participao da sociedade e pela valorizao da atuao dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada, enfim passa pelo confronto o poder estabelecido, que possui, a priori, o monoplio de acesso e difuso via meios de comunicao de massa. Assim, a abertura de um debate de construo nacional significaria ativar uma teia ou rede de informaes de grupos com objetivo de potencializar foras discursivas capazes de enfrentar a hegemonia vigente.

2 OS MEIOS DE COMUNICAO DE MASSA COMO APARATO DO IMPERIALISMO: INFLUNCIA E DOMINAO

pacfico que os meios de comunicao de massa exerce um fascnio extraordinrio e ideolgico, servindo como instrumento a servio de uma ideologizao capaz de moldar conscincias, impor comportamentos e determinados padres sociais e morais.O uso maximizado dos meios de comunicao de massa empregado como tcnicas e mecanismos disciplinadores garantidores da conformidade de comportamentos dos indivduos a um conjunto de regras e princpios aprioristicamente definidos. Assim, consolida-se a ideia de uso das novas tecnologias de comunicao social por parte do sistema econmico vigente.Neste passo, o papel dos meios de comunicao de massa, dentro de um determinado pas, o de legitimar a dominao de uma classe sobre as outras, assim tambm, entre diversos pases, eles servem como legitimadores do imperialismo de um pas sobre outro.Trata-se de tcnica de tcnica descrita pela Sociologia como controle social, descrita de modo claro e distinto por Karl Mannheim (1971, p. 178) como o conjunto de mtodos pelos quais a sociedade influencia o comportamento humano, tendo em vista manter determinada ordem.Desta forma, a teoria universal da produo e recepo dos meios de comunicao tem que ser completada com outra teoria especial, que relacione os meios com as condies especficas de pases dominados ou dependentes, sobrevivncia da tradio oral, e presena de uma cultura de metrpole estranha.

Neste sentido, muito oportuna a considerao de Lwy (2008, p. 13) acerca da compreenso da ideologia em determinada sociedade ou cultura como agente estabilizador e garantidor de uma ordem que quer se impor: [...] ideologia o conjunto das concepes, ideias, representaes, teorias, que se orientam para a estabilizao, ou legitimao, ou reproduo da ordem estabelecida[...].Os meios de comunicao de massa foram introduzidos em sociedades, em que a defasagem entre os intelectuais sofisticados e os setores menos educados, e, frequentemente analfabetos, era de uma distncia abissal entre ambos. Assim, o uso instrumental dos meios de comunicao serviu para implantar valores imperialistas. Desta forma, se deu conta que o fluxo livre de informao, atravs dos meios de comunicao, poderia e deveria ser um fator de encorajamento de atitudes produtivas, padres sociais e novos costumes.

Neste passo, o uso instrumental dos meios de comunicao aprimorou-se pela transmisso via satlite, produo de programas educacionais em massa para pases e regies inteiras do mundo, a substituio de notcias locais importantes por notcias internacionais ideologicamente feitas ou apresentadas, principalmente como lazer, tudo isso mostra uma dimenso qualitativa nova, assumida decididamente pelos pases imperialistas para novas situaes.

No difcil concluir que os meios de comunicao influenciaram sobremaneira no s o cotidiano, mas uma tbua de valores da sociedade atual que perpassa as mais importantes dimenses da vida. Trata-se de uma gradual e consistente substituio da escola e da religio como aparato ideolgico de estado dominante e como instrumentos eficientes do imperialismo, para o reforo e perpetuao da condio de dependncia no interior mesmo das inteligncias e da alma dos dominados e colonizados.

Para camuflar a funo contrarrevolucionria que o imperialismo coloca nos meios de comunicao e na tecnologia das comunicaes e, consequentemente, nas mensagens de sua cultura de massa, transformou os meios de comunicao em agentes revolucionrios, e o fenmeno moderno da comunicao foi transformado numa revoluo. De fato, um dos primeiros passos da revoluo tecnolgica constituiu na colaborao, de maneira universal e absoluta, com governos autoritrios e na implantao de regimes que, mesmo sob a alcunha de revolucionrios e democrticos, laboraram em desfavor da participao popular e da cidadania.

Desta forma, h um fetiche que envolve o uso dos meios de comunicao e sua promoo funo de agente de novos processos sociais e fenmenos, mas que esconde, de uma maneira extremamente gil e sutil, tanto a identidade de seus manipuladores, como a funcionalidade das ideias e imagens que esses manipuladores espalham e propagam em desfavor do sistema social que eles patrocinam.

Theodor Adorno (2002, p. 11), na Dialtica do Esclarecimento, j revelava os contornos ideolgicos por meio da manipulao do rdio e cinema nestes termos:

A unidade visvel de macrocosmo e de microcosmo mostra aos homens o modelo de sua cultura: a falsa identidade do universal e do particular. Toda a cultura de massas em sistema de economia concentrada idntica, e o seu esqueleto, a armadura conceptual daquela, comea a delinearse. Os dirigentes no esto mais to interessados em escondla; a sua autoridade se refora quanto mais brutalmente reconhecida. O cinema e o rdio no mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade de que nada so alm de negcios lhes serve de ideologia. Esta dever legitimar o lixo que produzem de propsito. O cinema e o rdio se auto definem como indstrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais tiram qualquer dvida sobre a necessidade social de seus produtos.Em meio s consideraes sobre uma estratgia imperialista de dominao e o indelvel papel exercido pelos meios de comunicao de massa, que dentre outras consequncias, influencia a consolidao ou a cristalizao de determinados valores culturais, emerge um questionamento acerca do papel do Estado, da existncia ou no, da possibilidade ou no de se falar e se considerar a viabilidade de um projeto nacional frente s investidas imperialistas, como clara opo popular de incluso social, de promoo da dignidade humana e dos valores inerentes.

Concretamente: trata-se de problematizar se h, para o Brasil, condies econmica, sociais e polticas de se pensar num projeto nacional ou numa livre opo brasileira perante pases imperialistas e perante os blocos econmicos, ou necessariamente h que se pensar numa integrao latino-americana nos moldes da adoo de medidas inspiradas na tentativa da Unio Europeia?

3 DO PAPEL ENCOBRIDOR DO DISCURSO PROPOSITURA DE UM PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

De incio, cabe assinalar a constatao de que nos ltimos anos foram profundamente alterados os termos que organizam o debate poltico e cultural no Brasil. H uma tendncia de fortalecimento da ideia de que no h mais a possibilidade de um desenvolvimento em bases nacionais, a saber de um projeto brasileiro de desenvolvimento das condies materiais de reproduo da vida em todas as suas dimenses.

Em boa medida, cabe assinalar que os meios de comunicao so instrumentalizados como caixa de ressonncia do discurso construdo com a finalidade de afirmao da impossibilidade da construo de alternativas nacionais ao modelo de desenvolvimento atual, pautado no capital especulativo e na primazia das empresas multinacionais.

Neste sentido, o enfrentamento direto da questo social foi remetido a um futuro longnquo, cheio de precondies apriorsticas. Dramaticamente, alguns temas cruciais afetos sociedade, tais como: a acelerao do desenvolvimento; a diminuio das desigualdades regionais; a construo da identidade cultural, a integrao regional da Amrica Latina como um todo, deixaram de ser considerados relevantes. No palco das disputas discursivas, at o sentido da palavra "reforma" foi invertido.

Vale dizer que os temas importantes para o desenvolvimento de um projeto nacional foi relevado a um assunto j resolvido, como improcedente para ser debatido na arena da sociedade. Assim, as inflexes (e no reflexes) decisivas, complexas, altamente polmicas, foram apresentadas opinio pblica de forma simplria, como fatos consumados, cujas consequncias de longo prazo sequer precisam ser objeto de reflexes cuidadosas. Como prtica, tornou-se norma desqualificar o debate antes dele mesmo existir. Diante da imposio do pensamento nico e dominante, as indagaes passam a ser construdas de modo a confiscar a possibilidade de alternativas ao modelo atual, para depois lamentar-se cinicamente a ausncia dessas alternativas.

Por bvio, nesse ambiente, a mediocridade se move com altivez espantosa, cada vez mais arrogante e orgulhosa de si. Isso atinge de forma caricata a "cincia econmica", simulacro do sistema de reproduo da vida material, que abandonou sua condio de cincia social e sua profunda ligao com a histria, para se reduzir a uma tcnica de administrao de negcios e interesses privados.Tudo converge para se sentir s avessas o sentimento de que o Brasil era vivel e se encaminhava para um futuro melhor. A imagem de um pas do futuro deu lugar de um pas bloqueado, cuja construo se esgotou sem se ter completado nos anos 80. Essa desvalorizao sistemtica do ser brasileiro, enquanto sociedade e tbua de valores socioculturais, que j se tornou uma patologia, traz embutida a ideia de que a construo histrica de um projeto verdadeiramente brasileiro no tem mais viabilidade ou razo de ser.

Como consequncia, verifica-se que a sociedade brasileira, dotada de tamanho potencial deposita, utopicamente, toda esperana de desenvolvimento social num plano econmico anti-inflacionrio, como se tivesse o condo de solucionar todos os problemas enfrentados interna e externamente. Cabe, aqui, rememorar um elemento que est na base da formao cultural inculcada pelo colonizador, qual sejam os mitos e as tradies que aqui aportaram, a saber a crena e o mito do sebastianismo da cultura portuguesa.

Como acima se aventou, depositou-se elevada confiana no advento de planos econmicos que se sucederam. Alis, vive-se, na atualidade sob a gide de um plano, cujos limites todos pressentem, sem a vitalidade de impulsionar o pas para um salto de qualidade da vida econmica da Nao.

Soa pouco fecundo fazer memria do debate intelectual verificado at os anos 60, e, at mesmo impossvel pela brevidade deste trabalho acadmico, pois, voltado para problematizar, pesquisar e compreender o sentido da formao histrica do pas e as condies de modernizao do pas. Paradoxalmente, o Brasil de hoje, dotado de uma economia mais poderosa, de uma academia mais consolidada e de uma imprensa mais desenvolvida, parece ser mais incapaz de pensar-se. H uma espcie de limite epistemolgico imposto que impede as naes (lationoamericanas, sobretudo) de um posicionamento mais altivo diante do cenrio mundial, uma espcie de sndrome de subdesenvolvimento ou de dependncia (teoria da dependncia).

Na contramo da dependncia estrutura-se uma propositura pautada na ideia de desenvolvimento nacional que pode ter alcance regional. Assume-se como conceito de desenvolvimento, aquele descrito por Celso Furtado (1992, p. 40), como:

[...] esquemas explicativos dos processos sociais em que a assimilao de novas tcnicas e o consequente aumento de produtividade conduz melhoria do bem estar de uma populao com crescente homogeneizao social. Contrariamente, a noo de subdesenvolvimento advm de situaes em que aumentos de produtividade e assimilao de novas tcnicas no conduzem homogeneizao social, ainda que causem a elevao no nvel de vida mdio da populao.

Doutro lado, os integrantes da coalizo dominante so cegos para as consequncias do sistema que representam. Vale assegurar que isso no significa o desconhecimento dos impactos das medidas de austeridades impostas aos pases dominados. Sua forma de ver a sociedade pelo vis de variveis altamente selecionadas como o desempenho das bolsas de valores, a entrada de capital estrangeiro, as oportunidades de negcios, oculta um sofrimento humano crescente em escala cada vez mais assustadora.

Assim, enquadrada em seus termos e no modo de vida que propem, a pluralidade da experincia humana se transforma em simulacros. A liberdade se reduz ao seu precrio travestimento encontrado no mercado capitalista, tais como a liberdade reduzida a comprar e vender, a cultura se transformada em mercadoria da indstria do entretenimento, as pessoas passam a ser mensuradas pelo ter. Diante dessa viso minimalista e dominante, o desenvolvimento nada tem a ver com uma existncia melhor.

At mesmo entre os intelectuais, feitas as devidas excees, floresce um reacionarismo ilustrado narcisista, rigorista, formalista e excludente. Historicamente, a dissoluo do movimento estudantil como algo vivo facilitou a ascenso de uma teoria acadmica erudita, reacionria, pouco ousada, avessa aos riscos inerentes a qualquer posicionamento crtico, sempre pronta a encobrir com interminveis citaes a preguia e a incapacidade de criar. Trata-se de um exrcito de intelectuais de planto, sempre a postos a defender a higidez do sistema e a refutar qualquer sinal de afirmao dialtica a desafiar o pensamento posto. Neste sentido, a acomodao se torna realismo. Modismos e slogans passam condio de paradigmas.

Neste exato contexto, a mdia, em suas diversas facetas, tambm desempenha relevante papel nisso tudo. A ideia de que vivemos a "era da comunicao" d a entender que a comunicao se multiplica em uma rede cada vez mais ampla e difusa. Tal rede , de fato, cada vez mais ampla, mas , ambivalentemente, mais concentrada, tanto no que diz respeito ao seu controle, quanto aos contedos transmitidos. Deste modo, numa clara insero mercadolgica, a liberdade de expressar-se tornou-se to cara, com o custo crescente dos meios, que a comunicao de massas tem sido uma forma de cada vez menos gente dizer cada vez menos coisas a um nmero cada vez maior de pessoas, reduzidas passividade. O desenvolvimento dessa indstria, feito sem controle social, tem-se tornado um obstculo ao comunicativa das pessoas entre si. Vale frisar que a emergncia de meios alternativos de comunicao social abre a possibilidade da veiculao de ideias por parte dos movimentos sociais e organizaes da sociedade civil, entretanto sem o alcance que os meios representantes do mercado.

Verifica-se, num processo crescente, cada vez mais gente expulsa da sociedade civil, relegadas marginalidade, h um retorno uma espcie de "estado de natureza", que o estado da necessidade, marcado pela excluso e por uma competitividade selvagem e aniquiladora. Diminui o espao coberto por qualquer forma de contrato social. Perde-se, de forma irreversvel, direitos j conquistados ao preo de muita luta, inclusive os mais bsicos deles. Consequentemente, um grande nmero de pessoas passam a viver sem identidade social definida. A noo de direitos e deveres se enfraquece, e, de roldo, a cidadania se fragmenta.O retorno ao estado de necessidade, ao estado degenerativo da dignidade humana, no degrada a existncia apenas dos que j foram lanados nele. Nesse passo, no fosso comum da desigualdade social, todas as camadas sociais passam a experimentar uma ansiedade permanente sobre o presente e o futuro, uma tenso contnua. A existncia normal torna-se crtica, entra em crise e colapso. A possibilidade do desemprego torna-se iminente, a insegurana diante da violncia onipresente, a preocupao com o desamparo em caso de doena ou a chegada da velhice, as dvidas sobre o futuro dos filhos, tudo isso forma um cotidiano de misria material abrangente que a todos atinge.

Diante da instabilidade e crise, desaparece a ideia de que a vida pode e deve ter um horizonte amplo, slido e aberto. Nesse contexto, predomina a sensao de desgoverno das expectativas, de desestruturao social. Reina o sentimento de que tudo se torna precrio. Descortina-se a sensao do provisrio, do frgil, do especulativo, e a incerteza cruel se torna o pano de fundo que preside as aes. Programaticamente, a expectativa de ricos e pobres diferenciam-se: as elites sempre pensando no prximo bom negcio; o povo, na estratgia de sobrevivncia do prximo dia. H um descompasso total de expectativas.

Diante do quadro que se desenhou at aqui, ilusrio imaginar que uma sociedade possa ingressar em um perodo histrico com tais caractersticas sem enfrentar turbulncias ou transformaes mais ou menos traumticas. Este o maior sintoma da crise, qual seja, da realidade cotidiana nua e crua. Pois pertence natureza das crises que uma deciso esteja pendente e no tenha sido tomada. A soluo permanece incerta, mas certa a transformao das circunstncias vigentes, transformaes estas, ambivalentemente temidas ou desejadas, dependendo da classe social que a invoca. Desta forma, pressente-se que o fim do estado atual necessrio, embora no se saiba quando ou como.A crise se manifesta no nvel das instituies, aparece tambm em formas degeneradas, como a violncia, ou mesmo em forma organizada, tais como nas aes dos movimentos sociais. Alis, estes ltimos caracterizam-se pelo potencial de catalisar a energia necessria para a construo de uma contra-hegemonia, que precisa ser ao mesmo tempo intelectual, tica e poltica. Emerge aqui um novo horizonte, capaz de revelar que por mais forte que parea ser, a ideologia dominante no consegue alcanar tudo, nem redefinir todas as possibilidades do agir, do ver, sentir e pensar. Dialeticamente, a vida social recria constantemente as fraturas, recompe processos histricos, muito maiores do que se supe, por onde a crtica pode penetrar.

No acirramento de classes num embate por hegemonia, nasce alguns questionamentos, um deles relativo aos grupos dominantes e sobre a fonte de seu poder. Assim, numa cognio superficial, o poder advm da propriedade dos meios de produo, do dinheiro, da propriedade das estaes de rdio e televiso, dos partidos cartoriais, meios ilcitos de todos os tipos. Desta forma, compram o que precisam, inclusive conscincias merc da possibilidade de corrupo.

Doutro lado, a Histria mostra que enganam-se os que acreditam em uma hegemonia duradoura das foras do status quo, e no so poucos os exemplos de suplantao de uma classe por outra. Ainda que parea o contrrio, o projeto econmico que sustenta determinada classe no poder no tem consistncia perene, e, muito menos potencial estruturante para a sociedade em prazos longos. No momento em que no for mais possvel esconder suas imensas debilidades, e, num claro sintoma de esgotamento, revelarem o sacrifcio cotidiano de uma camada grande da populao, ento desencadeiam-se processos revolucionrios e poucas vozes intelectualizadas se levantaro para defender um sistema em runa. Aqui, abre-se a possibilidade discursiva, retrica e falaciosa das chamadas reformas.

Assim, no momento em que as contradies internas se acirrarem, emergir a vontade, que hoje latente, de mudanas que as prprias elites precisam apropriar-se dela, encenando no palco da poltica institucional a pea teatral e oficial das famigeradas reformas, que so remendos ou migalhas jogadas ao povo para saciar uma fome de transformao radical e sistemtica da realidade de excluso.

Destaque-se a compreenso autoral que somente os movimentos sociais podem lanar-se de forma decidida na construo desse caminho, que pressupe como base concreta para sua realizao a discusso do novo projeto social e econmico, pautado no ethos concreto do povo brasileiro e no num reclamo hegemnico de uma classe social que pauta os projetos de vida num enquadramento reducionista de um capitalismo predador.

Pensar um projeto nacional significa lanar-se numa empreitada, sabendo, de antemo, que se estar pisando em terreno minado, donde os interesses de classe afloram com predisposio a lanar mo de instrumentos extremos para a mantena no poder. Como j afirmado, a ideia de que existem alternativas, por si s, so portadoras de uma atitude incmoda, e no s para os representantes oficiais do sistema atual. Razo disso porqu desestabiliza discursos, posicionamentos, simulacros e atitudes que tm justificado o ceticismo, o conformismo, o pragmatismo e todas as demais formas de adeso envergonhadas ao sistema atual.

Vale reafirmar que no campo das disputas hegemnicas, o discurso que sustenta a impossibilidade de se pensar um projeto nacional de desenvolvimento e incluso social, resiste sua prpria deslegitimao e produz uma desconfiana acirrada e irracional na possibilidade de que haja outro caminho.A realidade concreta de excluso social e de marginalizao da populao de acesso a bens da vida digna, revelam o esgotamento do modelo econmico adotado em escala nacional, regional e mundial. Outrossim, a mera percepo da marginalizao em uma profundidade dramtica aponta para o campo da utopia de mudana e transformao, que desembocar, necessariamente, na quebra de paradigma do sistema vigente e na adoo de novas formas econmicas de reproduo da vida material.

4 CONCLUSONa Introduo do presente enunciou-se que se objetivava analisar e problematizar algumas temticas que envolvem o estado, sociedade e tecnologias, levando em considerao as transformaes recentemente experimentadas no contexto global atual, ainda que tenha se restringido a sondar o debate sobre a construo nacional no Brasil.

Metodologicamente, optou-se por dividir o estudo em dois tpicos temas distintos, quais sejam, (1) a questo da comunicao e o seu uso instrumental pelos pases ou classes dominantes; e, (2) a problematizao que envolve estado e sociedade brasileira diante do desafio estrutural do debate acerca de um projeto nacional de desenvolvimento social.Em linhas de concluso, h que se destacar o papel ambivalente que os meios de comunicao social podem representar, pois, se de um lado podem ser instrumentalizados por uma classe social para manter outra sob seu domnio, de outro, podem potencializar espaes de fluxo de informao e a organizao de teias ou redes alternativas capazes de agregar foras sociais num processo de transformao da realidade presente.

Desta forma, aplicando ao momento atual da sociedade brasileira, os meios de comunicao social ou as novas tecnologias sociais de comunicao, a priori, podem se converter em importantes mecanismos para o debate, discusso e aprofundamento de um projeto nacional de desenvolvimento social a partir da experincia concreta dos movimentos sociais que atuam na construo de propostas de reconstruo social. Outra tarefa a ser cumprida pelas novas mdias ou tecnologia o poder de mobilizar foras sociais e populao para agir ativamente neste processo.

Ainda em concluso final, diante da crise global que se instala em escala preocupante, devastando a economia de naes, o desenvolvimento social e o crescimento econmico no decorrero espontaneamente pela interao das foras de mercado, mas o desenvolvimento social fruto de uma ao poltica deliberada e com participao ampla da sociedade. Ocorre que, se as foras sociais dominantes so incapazes de promover essa poltica, o desenvolvimento exige uma efetiva participao dos atores envolvidos neste projeto e processo. Neste sentido, imprescindvel a atuao da populao e dos movimentos sociais.REFERNCIAS ADORNO, Theodor W. Indstria cultural e sociedade. Trad. Juba Elisabeth Levy. So Paulo Paz Terra, 2002.

FURTADO, Celso. Brasil a construo interrompida. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

LWY, Michael. Ideologias e cincia social: elementos para uma anlise marxista. So Paulo: Cortez, 2008.

MANNHEIM, Karl. Sociologia sistemtica: uma introduo ao estudo da sociologia. 2 ed. So Paulo: Pioneira, 1971.

POCHMANN, Mrcio. O desenvolvimento econmico brasileiro. Rio de Janeiro: Centro Internacional Celso Furtado de Polticas para o Desenvolvimento,2011. Roberto de Paula Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paran. Professor.

Ktia de Oliveira Silva Graduada em Pedagogia pela Faculdade Instituto Superior de Educao do Paran. Especializao em Educao Especial. Professora.

Dakari Fernandes Tessmann Especialista em Direito. Advogado. Professor na Faculdade de Direito de Alta Floresta.

Mrcio Pochmann enumera as trs reformas que no foram realizadas e poderia acelerar o desenvolvimento econmico brasileiro, nestes termos: Ao no promover a reforma agrria, o Brasil estimulou o xodo rural, trazendo para as cidades parte significativa da pobreza rural. Cem milhes de brasileiros deixaram o campo e incharam as cidades de hoje, o que condenou esses brasileiros a uma vida de grandes sacrifcios. No tivemos como atend-los satisfatoriamente quanto ao sistema educacional, de sade e habitacional, incluindo a o saneamento. A reforma agrria um princpio bsico do capitalismo que democratiza a cidade. Ao no fazer avanar a reforma tributria, um dos ditames fundamentais para o desenvolvimento, penalizaram-se os pobres, os que mais pagam impostos no pas. Aqueles que dirigem mais crticas ao sistema tributrio hoje so os que menos desembolsam. No temos um sistema tributrio adequado aos ricos, que se valem de brechas identificadas por especialistas em contencioso fiscal e acabam pagando muito menos. Portanto, o fato de no termos feito a necessria reforma fiscal fez com que a arrecadao geradora do fundo pblico recasse justamente sobre os pobres, os que menos tm acesso s polticas pblicas financiadas por tributos. A terceira reforma no promovida, a social, caso fosse realizada, permitiria a criao de um Estado de bem-estar social, como nos pases desenvolvidos, um Estado republicano, que universalizasse a educao, a sade e o sistema de transportes. (POCHMANN, Mrcio. O desenvolvimento econmico brasileiro. Rio de Janeiro: Centro Internacional Celso Furtado de Polticas para o Desenvolvimento,2011).