Rodrigo Hisgail Nogueira - Kibutz Yotvata: O papel da pequena comunidade no setor agroindustrial da...

69
RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA KIBUTZ YOTVATA: O papel da pequena comunidade no setor agroindustrial da economia israelense. Resultado final do Programa de Iniciação Científica – PIBIC/PUC-SP Prof. Dr. César Roberto Leite da Silva Orientador Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária PUC – São Paulo Março - 2007

Transcript of Rodrigo Hisgail Nogueira - Kibutz Yotvata: O papel da pequena comunidade no setor agroindustrial da...

RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA

KIBUTZ YOTVATA:

O papel da pequena comunidade no setor agroindustrial da economia israelense.

Resultado final do Programa de Iniciação Científica – PIBIC/PUC-SP

Prof. Dr. César Roberto Leite da Silva

Orientador

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária

PUC – São Paulo

Março - 2007

RODRIGO HISGAIL DE ALMEIDA NOGUEIRA

KIBUTZ YOTVATA:

O papel da pequena comunidade no setor agroindustrial da economia israelense.

Iniciação Científica submetida à

apreciação da banca

examinadora do Departamento

de Economia, como exigência

parcial para a obtenção do grau

de iniciando científico em

ciências econômicas, elaborada

sobre a orientação do Professor

César Roberto Leite da Silva.

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária

PUC – São Paulo

Março - 2007

1) Página de aprovação

Esta iniciação científica foi examinada pelos professores abaixo relacionados e aprovada com nota final ---,--- (--------------------------------------------------) Nomes legíveis dos examinadores (orientador e demais membros da banca ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________

2) Autorização para consulta e reserva de direitos autorais

Autorizo a disponibilização desta iniciação científica na Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da PUC – São Paulo para consulta pública e utilização como referência bibliográfica, mas sua reprodução total ou parcial somente pode ser feita mediante autorização expressa do autor, nos termos da legislação vigente sobre direitos autorais. São Paulo, ____ de ____________ de ______ Assinatura: ______________________

AGRADECIMENTOS

Pela incrível experiência quero agradecer...

À minha tia Fani, pensadora que acaba de reflorescer para o bem da humanidade.

À minha mãe, Elinée, y a la nena, Isabella, pelo carinho de todos os dias.

À querida tia Alzira, pela pincelada final.

Ao amigo Kiki Mayer e a sua querida família Rony, Peleg, Sol, Aviv e Sky, que

sabem preparar um delicioso shabat à brasileira com direito a feijoada.

Aos meus avós, Hesel, Minde, Jacy, Agostinho e Betty pelas lições e todo o

conforto que apenas vocês podem me proporcionar. Tio Ezra, de Roma, e tia Helena,

de Tróia.

Ao Prof. César, que me orientou com o seu conhecimento.

Aos meus primos Léo e Anne Joels, pelas tardes e duras traduções.

Aos amigos Ricardo Ergas, Myriam Arinoviche, Naomi Sheizaf, Maximilian

Siegel e Dov Goldman, por toda a ajuda.

Ao amigo economista Gil Kassow, pela sugestão.

Ao PIBIC-CEPE e ao Projeto Yeladim, pelo incentivo.

Ao meu chefe, Valter Wolf, pelas férias que me permitiram finalizar este

conteúdo.

Ao totó.

In memmorian a Mario Haytman, lutador nato que clamava pelo bem-estar do

próximo. Que Deus o tenha.

“Muitos kibutzim estão assistindo a uma crise sócio-econômica.

Alguns iniciaram mudanças em direção à privatização e a diferenciação de salários entre os seus membros. O estilo de vida que os seus moradores, os kibutzniks, conhecem por décadas está mudando. Em alguns kibutzim a crise é séria, porém, em outros, a crise fica por detrás do crescimento que se inicia” (ASKENAZI, 2004, p. 4).

NOGUEIRA, Rodrigo Hisgail de Almeida. Kibutz Yotvata: O papel da pequena

comunidade no setor agroindustrial da economia israelense. São Paulo - SP,

2007. [Iniciação Científica – Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade

e Atuária – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo].

RESUMO

KIBUTZ YOTVATA conta a história de um movimento de retorno, iniciado em

meados do século XX, em que judeus oriundos de diversas partes do mundo rumam a

Israel para pôr fim às velhas ordens sócio-culturais da época. Além de historiografar

o conceito sobre os kibutzim e discutir as suas implicações na atualidade, evidencia-

se o caso específico da comunidade de Yotvata enfatizando sua principal atividade

econômica, que é a produção de derivados de leite. O objetivo desta pesquisa é

promover o debate a respeito do potencial econômico de pequenas comunidades,

através do dimensionamento dos resultados alcançados pelos kibutzim no que tange a

economia de Israel. O trabalho baseou-se em pesquisas e entrevistas em campo,

análises bibliográficas sobre o assunto, que incluiu visitas e consultas a bibliotecas

em Israel e no Brasil, bem como a utilização de artigos de jornal, revistas e acessos

aos materiais disponíveis na web. KIBUTZ YOTVATA estuda o processo de mudança

ideológica presente nos kibutzim na atualidade, das quais se destaca as formulações

marxianas do processo de mais valia. Contrário a utopia comunal que deu origem à

formação dos kibutzim, verifica-se, nos dias de hoje, um século após o seu

surgimento, um movimento comunitário que presencia um conflito entre o “sujeito

coletivo” e o “sujeito individual”. Mais do que uma simples mudança de

comportamento, tal cenário coloca em xeque a existência de um modelo que têm

contribuído significativamente com a geração de riqueza e renda para a economia do

país. Apesar das dificuldades, KIBUTZ YOTVATA é um exemplo de sucesso de um

arranjo produtivo baseado no estreito espírito de cooperação existente em uma

sociedade. PIBIC-CEPE

Palavras-chave: kibutz, agroindústria, derivados do leite.

SUMÁRIO

Introdução: As rosas do deserto..................................................................................01

1- Kibutz, a ousadia de um movimento.......................................................................05

1.1- Origem e significado................................................................................05

1.2- As primeiras Aliah’s................................................................................06

1.3- O primeiro plano agrícola........................................................................08

1.4- A Guerra da Independência.....................................................................10

1.5- Estrutura regional dos povoados..............................................................12

1.6- A Revolução Industrial............................................................................14

1.7- “O Embate entre o coletivo e o indivíduo no kibutz de hoje”.................15

1.8- Potencial econômico................................................................................17

2- O arrojo econômico em Eretz Israel.......................................................................20

2.1- A demografia em Israel, aspectos geográficos e o clima.........................20

2.2- Cenário econômico e a agricultura de ponta............................................21

2.3- O setor leiteiro: um exemplo em O&M – Organização e Métodos.........26

3- Yotvata....................................................................................................................35

3.1- A contraposição nos novos tempos..........................................................35

3.2- A leiteria e o seu funcionamento.............................................................42

Conclusão....................................................................................................................55

5- Referências Bibliográficas......................................................................................59

1

INTRODUÇÃO – AS ROSAS DO DESERTO

O sol batia a pino. O ônibus carregado trazia turistas irritados e uma meia dúzia

de soldados largados no chão com suas M-16 enroscadas no pescoço. Com a

backpack lotada, o desembarque ocorre após a exaustiva viagem desde o Norte do

país e o viajante finalmente se depara com o forte calor do deserto desconhecido.

Certamente passava dos 40ºC. O corpo molenga que dava sinais de cansaço

começava a se desidratar de forma lenta e gradual. Pedras robustas apontam para o

horizonte distante. A sede era grande, mas enfim era chegado o lugar de destino.

Na encruzilhada, entre aquela cafeteria no meio do nada e a estrada que ligava a

lugar nenhum, uma rápida olhada era suficiente para estranhar aquelas verdes folhas

penduradas nas árvores. Ao cruzar o portão do kibutz, rosas floridas lhe davam as

boas-vindas. E por um segundo: que lugar maluco é esse? Na mente, espaço apenas

para encontrar um beco, ou outra fonte de água qualquer. De longe, ainda, a torneira

mal fechada refletia as gotas que brotavam e caiam em direção à pequena poça que

se formava no chão.

Em meio à hostilidade da natureza, qualquer um que chegasse a Yotvata naquela

tarde era direcionado ao refeitório, onde a jovem senhora aguardava em tom solene

por cada um dos visitantes que aos poucos começavam a se aglomerar. Na mesa

cumprida onde a refeição era apreciada, a salada mista de idiomas dava início ao

flerte dos mais de quarenta vindos de diversos cantos do mundo.

Em direção ao cômodo, o russo visivelmente perturbado fazia gestos de mímica a

fim de fazê-lo compreender. Um cigarro. Tudo bem! Valentin tinha 18 anos, vinha

da Sibéria e assim como muitos outros, aspirava definitivamente um lugar na Terra

de Israel. Único desta região, ele foi o que mais se destacou nas aulas de hebraico

quando então também começou a balbuciar algumas palavras de inglês e arriscar

sílabas no espanhol.

Passado alguns dias, o velho argentino em tom de suspense aprontava o discurso

em meio ao clima de festa. Às principais regras estavam prontas a serem lançadas.

“O refeitório é o centro do terreno. Qualquer sinal de bomba ou tremor corra direto

ao bunker mais próximo. Se por acaso estiver em casa vá para debaixo da mesa.

2

Drogas não são permitidas e podem culminar em expulsão. Para quem precisar,

condoms ficarão à disposição. Três refeições são diariamente servidas. As roupas

devem ser lavadas à lavanderia. Cada um recebe um número. Meias e roupa de

baixo, apenas, devem ser entregues à parte. As aulas de hebraico são diárias, hora de

manhã, hora à tarde. No shabat, dia alegre, cada um pode acompanhar à sua família

adotiva e apreciar o banquete”. Por fim. “O trabalho é uma surpresa. Um dia aqui,

outro dia ali”.

Ao cair de toda noite, antes do jantar, a planilha era pontualmente colocada no

mural de recados, bem ao lado da ilustração em que o sorridente camelo dizia: Adoro

beber água! À coluna com os nomes impressos correspondia outra com a indicação

do posto de trabalho. Caso o felizardo(a) não fosse escalado para trabalhar de

madrugada na cafeteria da estrada, deveria aguardar o outro dia para pagar pelo

aluguel da sua estada. No miznon, como era chamada a cafeteria, além do “choco” e

do milk shake, outros diversos doces, sorvetes e sanduíches podiam ser consumidos

após o chão estar varrido, as verduras cortadas e toda a louça lavada.

Para muitos outros, acordar às cinco horas da manhã era quase uma rotina. Em

meio a bocejos de uma noite de sono interrompida, o motor da perua era ligado

enquanto cada um tomava seu assento. Tudo pronto, ela finalmente partia em direção

às plantações. Após as primeiras horas ainda no sereno da noite, o esforço da colheita

era então descontínuo pelos primeiros raios de luz vindos das montanhas, que

grandiosamente se empunham do outro lado da fronteira. Aos poucos, os vibrantes

raios começavam a ganhar intensidade até que então, o sol, imponente, se armava

para avisar aos outros que se levantassem para dar início às demais atividades. Uma

equipe se organizava para colocar o café, a outra auxiliava na preparação do almoço

e assim sucessivamente. Havia ainda aqueles que ajudavam na manutenção do

jardim, ou na lavanderia, na máquina de lavar pratos, no curral das vacas, na leiteria,

na marcenaria, até que de repente, todos estavam inseridos na harmonia que

compreendia o dia-a-dia daquela comunidade.

O estudo a seguir foi inspirado na experiência vivida no kibutz Yotvata durante o

segundo semestre de 2004.

3

À medida que o espírito sionista ganhava força, o retorno aspirava ao sonho dos

jovens, que chegavam ávidos a participar da construção de uma nova vida em Eretz

Israel.

O kibutz (em hebraico: קיבוץ; plural: kibutzim: קיבוצים) representa um

experimento israelense e parte de um dos maiores movimentos comunitários da

história. O sentido etimológico da palavra kibutz é “grupo”. Sua formação, além de

contribuir para a fundação do Estado de Israel, apresenta fundamental importância,

sobretudo para a economia do país. “Em 2005, 116.000 pessoas residiam nos 266

kibutzim existentes no país” (PAVIN, 2006, p.3).

Considerados anteriormente como comunidades socialistas utópicas, hoje os

kibutzim formam parcerias com empresas capitalistas que surgiram como meio

alternativo para suprir as suas novas necessidades. Ainda que o principal fundamento

e a base para sua existência continuem a ser a parceria existente entre os seus

membros, “o conflito entre os interesses pessoais e os interesses coletivos provoca

hoje um clima de tensão permanente” (ROSENTHAL, 1992, p. 71).

No entanto, políticas de incentivo à formação de kibutzim surgiram como meio

para o desenvolvimento da sociedade, especialmente através da formação de postos

de trabalho pelo país. Acompanhou ao ressurgimento desse interesse uma esperança

de que estas comunidades pudessem contribuir para a hegemonia de uma nação.

O principal objetivo proposto pelos kibutzim é promover a sobrevivência e o

bem-estar dos seus membros estimulando processos locais de desenvolvimento ao

longo do tempo.

A existência de um conglomerado com posse dos próprios meios produtivos

deixa de lado o julgamento político-ideológico e cede espaço para a percepção de um

novo modelo de empreendimento, que similarmente, é um processo para se alcançar

o desenvolvimento humano de uma maneira inclusiva, interligada, igualitária,

prudente e segura.

Neste sentido, o desafio desta pesquisa é avaliar a contribuição dos kibutzim

de Israel como um modelo de sucesso para a economia do país e possibilitar a

indagação sobre novas alternativas que ajudem a promover outras economias

em estágio inicial de desenvolvimento.

4

Para elaboração do trabalho, segue-se à linha teórica do “desempenho econômico

como função dos aspectos institucionais de uma sociedade”. Para ilustrar, faz-se

referência a Yotvata e à agroindústria leiteira na qual se insere. Discute-se a respeito

da interação entre os vários agentes envolvidos no processo e suas transformações.

Da cooperação, peça fundamental para o funcionamento e bem-estar social, o

movimento perde espaço para o surgimento de um crescente espírito egocentrista,

marca decisiva dos novos tempos.

5

CAPÍTULO 1 – KIBUTZ, A OUSADIA DE UM MOVIMENTO

1.1 Origem e significado

Os kibutzim surgiram através da necessidade de ajuda mútua e apresentavam uma

meta econômica e outra ideológica. No início, estas comunidades eram formadas por

grupos de jovens judeus voluntários vindos de toda parte do mundo, os quais viviam

em casas simples, feitas de madeira, sem banheiro ou eletricidade. A larga unidade

de produção coletiva apresentava seus membros como proprietários conjuntos dos

meios de produção, da repartição social e das atividades econômicas. O trabalho na

terra era uma variável importante do sionismo. “Sua componente econômica pregava

o retorno ao cultivo da terra como principal ocupação dos judeus, substituindo assim

as ocupações típicas dos judeus europeus: possuir pensões e lojas de penhora,

praticar ‘comércio pequeno’, etc” (SILVER-BRODY, 1998, p.33-36, apud

WIKIPEDIA, 2006, on line).

“O contraste das perseguições sangrentas frente à descoberta da democracia política, do socialismo e da igualdade, levaram os jovens judeus a se apegar aos movimentos que lutavam por estes valores reprimidos durante muitas gerações vividas sob opressão. Eles lutavam contra a falta de sentido de suas próprias vidas. Alguns, por exemplo, negaram sua existência judaica e se converteram em sociais nacionalistas. Outros, mais identificados com o bolchevismo, transformaram-se em socialistas democráticos. Aqueles que tinham aspiração de retornar a sua existência judaica, imbuídos da convicção de que os judeus teriam o direito de desenvolver sua própria terra, foram os primeiros sionistas e começaram a retornar à Palestina no princípio do século XX” (ROSENTHAL, 1992, p. 12).

A posse de bens materiais nunca foi um conceito adotado pela filosofia

kibutziana. Notavelmente correlato ao “Modelo do Ciclo de Vida do Consumo e da

6

Poupança1”, o dinheiro excedente era direcionado à poupança para garantir

segurança ao futuro da comunidade. A hipótese do Ciclo de Vida foca indivíduos,

que planejam seu comportamento de consumo e poupança no decorrer de longos

períodos com a intenção de alocar seu consumo da melhor maneira possível por toda

a sua vida (Figura nº. 1.1). “Trata-se de uma vivência socialista e puramente coletiva,

cujo sentido é o de compartilhar totalmente todos os bens” (Op. cit., 1992, p. 46).

Figura nº. 1.1 Durante a vida

ativa (WL), o indivíduo poupa, construindo ativos. No final da vida de trabalho, o indivíduo passa a viver desses ativos, despoupando para os próximos anos (NL X WL), até o fim da vida. O consumo é constante no nível C durante a vida. Todos os ativos foram usados no fim da vida.

Despoupança

Poupança

TempoNLWL0

C

YL

WRmax

Ativos

Renda, Consumo, Poupanças e Riquezas no Ciclo de VidaFonte: Elaboração do autor baseado em DORNBUSCH & FISCHER, 2002, p. 310

Despoupança

Poupança

TempoNLWL0

C

YL

WRmax

Ativos

Despoupança

Poupança

TempoNLWL0

C

YL

WRmax

Ativos

Renda, Consumo, Poupanças e Riquezas no Ciclo de VidaFonte: Elaboração do autor baseado em DORNBUSCH & FISCHER, 2002, p. 310

1.2 As primeiras Aliah2’s

Interessados em desenvolver as comunidades agrícolas e estabelecer vilas como

as que existiam na Europa Oriental, as Moshavot, os primeiros povoados judeus em

Israel surgiram entre os anos de 1882 e 1890, durante a primeira Aliah. Nela, 15.000

famílias oriundas principalmente do sul da Rússia mudaram-se para a Palestina com

a intenção de lá viver. Como as barreiras eram muito grandes, principalmente em

detrimento das autoridades Turcas que habitavam a região e pela falta de

1 A Figura nº. 1 foi desenvolvida por Franco Modigliani, prêmio Nobel de Economia em 1985, em “The Life Cycle Hypothesis of Saving, the Demand for Wealth and Supply of Capital”, Social Research, v.33, n. 2, 1966. 2 Termo empregado para expressar o retorno dos judeus à Palestina, atual Estado de Israel.

7

conhecimento técnico, os Moshavot logo entraram em colapso. Neste estágio, judeus

riquíssimos, como Edmond, o Barão de Rothschild, resolveram ir a Israel (ainda

Palestina) com o intuito de fazer consideráveis investimentos nas fazendas, enviando

especialistas para ensinar viticultura, como método de especialização. Em 1898 havia

22 das novas vilas judias no país, a maior parte delas baseada em monocultura, com

plantações de frutas e vegetais. Em 1900, a Jewish Colonization Association (JCA),

fundada em 1891, passou a atuar como financiadora de crédito para as fazendas

comunitárias. Além de tirar o gerenciamento da administração do Barão de

Rothschild, a associação desenvolveu um arranjo de atividades para estabelecer um

treinamento aos trabalhadores dos assentamentos, baseado na colheita de cereais

(Settlement Department of Jewish Agency, 1974, p. 35 e 36).

Durante a segunda Aliah muitos dos novos imigrantes quiseram trabalhar na

Palestina. Primeiramente, conseguiram trabalho em vilas, cujos empregadores eram

quase que exclusivamente árabes, e depois, em 1908, começaram a fundar seus

próprios povoados. Assim, no ano seguinte, um grupo de sete trabalhadores levantou

o primeiro kevuzah - o mesmo que kibutz ou vila coletiva - chamado Deganya. “As

idéias centrais seriam de que o dinheiro não circularia nesta comunidade, a

propriedade privada seria abolida e não se utilizaria o trabalho assalariado”

(ROSENTHAL, 1992, p. 8). Após este, outros também se sucederam, começando por

campos de colheita e gradualmente adicionando novos tipos de agricultura,

plantações de frutas e a criação de animais. Os assentamentos cresceram

vagarosamente, mas apenas firmaram-se em 1918, no final da Primeira Guerra

Mundial, quando contava com 47 vilas judaicas no país, muitas delas financiadas

pela Organização Sionista (Settlement Department of Jewish Agency, 1974, p. 37).

Em 1919, quando se teve inicio a terceira Aliah, as atividades foram realizadas

pelo Departamento de Assentamentos da Organização Sionista e muita atenção foi

dada ao ideário. O ideal do Kevuzah ou Kibutz - o ultimo termo primeiramente usado

em um grande assentamento em En-Harod, fundado em 1921 - foi todo definido,

bem como aspectos práticos sobre o trabalho. Na mesma época, Eliezer Joffe, um

dos fundadores da leiteria Tnuva, sugeriu um novo tipo de assentamento – as vilas

cooperativas com poucos titulares, os moshavim – que foram desenvolvidas por

trabalhadores das proximidades. Enquanto os kibutzim foram gerados como fazendas

8

auxiliares para trabalhadores de origens diferentes, os moshavim foram sucedidos por

assentados independentes. Com a aquisição de áreas adicionais em Haifa e no vale

do Rio Jordão, a rede expandiu-se. Os assentamentos estabelecidos pela Organização

Sionista foram baseados principalmente na fazenda diversificada, incluindo

plantação de frutas, produção nos campos, e gado. Algumas vilas privadas, baseadas

principalmente em frutas cítricas, também progrediram, e moshavim foram fundados,

principalmente por assentados da classe média, que construíram grande parte através

de próprio esforço financeiro, solicitando, portanto menos ajuda do Departamento de

Assentamentos Sionista (Op. cit., 1974, p. 39).

1.3 O primeiro plano agrícola

Como algumas características da unidade coletiva, ou fazenda, ainda não haviam

sido bem definidas, tais como o seu tamanho e a variedade do portfólio agrícola, foi

realizado, em 1929, o comitê Executivo da Organização Sionista. Seu propósito foi

discutir a respeito de índices e critérios mais claros à realidade das fazendas, nas

diferentes partes do país. Foi examinado o tamanho da estrutura necessária para o

sustento das famílias, os equipamentos e fornecimentos necessários por unidade

coletiva, e o melhor tipo de gado para cada região. Em áreas irrigadas, como no vale

do Jordão, ao norte do país, foram concedidas 25 dunams (6,25 acres ou 2,53

hectares) para cada fazenda. Em áreas não irrigadas ou parcialmente irrigadas, como

no vale do Jezreel, ao sul, 140 a 280 dunams (35-70 acres ou 14,18 – 28,35 hectares).

Este foi o primeiro avanço sobre o plano da agricultura baseado nas condições

naturais do país. Como a irrigação era em plano extensivo, foi proposto reduzir as

unidades de fazenda, a fim de criar métodos intensivos para facilitar a máxima

utilização dos recursos naturais da terra e manter o princípio do “trabalho pessoal”,

para que ambos, moshavim e kibutzim aderissem. O sistema também possibilitou que

cada assentamento se tornasse uma unidade autônoma, quase independente dos

fornecimentos externos e capazes, se necessário, de subsistirem isoladamente a um

estado de sitio. A “diversificada fazenda orgânica” tornou-se um tipo prevalecente na

agricultura judaica. A partir de então, kibutzim e moshavim passaram a recrutar

9

novos membros e a criar regulamentos para os assentamentos afiliados a fim de

acabarem com os problemas econômicos até então vivenciados.

Entre o começo dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial (1939), um grande

número de projetos para assentamentos especiais foi realizado. O “Projeto Mil

Famílias” - que no seu termino apresentou somente algumas poucas centenas de

famílias - começou em 1932, principalmente com a presença de jovens alemães

fugitivos do terror nazista e conduziu à busca de diversas vilas em várias partes do

país. O levante árabe de 1936-39 inspirou novos métodos de montar postos de guarda

na madrugada. A Organização Sionista agiu rapidamente na construção dos

assentamentos e decidiu montar pontos fortes em áreas judaicas que não haviam sido

previamente povoadas, a fim de criar um novo mapa da colonização judaica em caso

da divisão territorial ser adotada. Ao todo, 53 novas vilas, a maioria baseada em

fazendas diversificadas, foram levantadas neste período. Apesar das restrições, o

estabelecimento destas novas vilas continuou durante e depois da Segunda Guerra

Mundial, quando muitas vilas foram fundadas (Tabela nº. 1.1). Depois do fim do

holocausto, novo esforço foi feito para estender a área dos assentamentos judaicos,

especialmente ao norte do deserto do Neguev, onde 11 assentamentos foram

levantados em uma única noite. Outros sete foram levantados em 1947, e um duto de

irrigação foi colocado até o centro do país para poder abastecê-los com água.

Tabela nº. 1.1

unidades habitantes unidades habitantes unidades habitantes unidades habitantes1919

00 21 4.950 21 4.95014 32 11.000 3 400 4 180 39 11.58022 34 11.540 11 1.410 19 1.190 64 14.140

1941 45 63.240 94 24.820 87 23.190 226 111.25044 44 76.000 99 29.500 111 33.500 254 139.000

1948 15 24.160 99 30.142 159 54.208 273 108.510onte: Elaboração do autos baseado em dados do Settlement Department of Jewish Agency , 1974, p. 96

19

19

F .

Ano Moshavot Moshavim Kibutzim TotalAssentamentos agrícolas judaicos e população residente antes do surgimento do Estado de Israel

10

1.4 A Guerra da Independência

Porém, a guerra da Independência de 1948 mostrou a ampla influência exercida

pelos assentamentos para assegurar o controle da região. Praticamente em todas as

áreas em que havia assentamentos judaicos, resistia-se às invasões árabes armadas e

ajudavam a determinar as correntes para a consolidação do Estado judaico. As

condições políticas e econômicas foram completamente transformadas e esta situação

conduziu a uma nova forma de organização aos assentamentos. A severa escassez de

comida nos primeiros anos obrigou a um imediato crescimento na produção das

fazendas. No mesmo período houve muita oferta de emprego aos novos imigrantes,

que careciam de qualquer tipo de vocação. A terra deixou de ser um problema, uma

vez que largas áreas foram desocupadas após o conflito.

Diversos projetos de assentamentos agrícolas foram lançados pelo Departamento

de Assentamentos da Agência Judaica, que era responsável pelo plano, execução e

supervisão do trabalho, tais como planejamento dos prédios, fornecimento de água,

redes de irrigação, provisão de equipamentos, sementes, gado e orientação dos

métodos de trabalho. Desta maneira, as comunidades rurais foram sendo

gradativamente integradas. Fazendeiros veteranos foram enviados para viver nas

vilas como instrutores e, inicialmente, para ajudar os vilarejos a resolverem seus

problemas sociais. No princípio, os assentados foram largamente empregados na

construção de prédios - ou no caso de abandono de vilas árabes -, em reforma de

casas, pavimentação de estradas e infra-estrutura. Após a realização destas atividades

estruturais, os assentados passaram a viver da produção de suas fazendas. Os

agrônomos, engenheiros e arquitetos do Departamento Central e do escritório

regional do Departamento Sionista supervisionavam o trabalho dos homens no

campo e, em conjunto com o Ministério da Agricultura, coordenaram a escolha da

produção e dos métodos de cultivo de acordo com o clima e condições do solo de

cada região, em várias partes do país.

11

Tabela nº. 1.2

Em cada um destes dois períodos -

1948/49 e 1950/51 -, cerca de 100 novos

assentamentos foram fundados em razão do

abandono de vilas árabes nas montanhas de

Jerusalém e da Galiléia e, posteriormente,

do deserto do Neguev. Os assentamentos

das fronteiras só foram estabelecidos para

servirem como postos para as Forças de

Defesa Israelense3 (FDI), criadas neste

período. Entre os anos de 1947 - quando

anunciada a decisão da ONU para a

independência de Israel - e 1972, 465 novas

vilas estabeleceram-se (Tabela nº. 1.2). E ao

seu redor, novas comunidades urbanas

surgiam.

Ano Moshavim Kibutzim Total1948 5 20 251949 60 42 1021950 114 13 1271951 24 7 311952 12 3 151953 36 9 451954 8 2 101955 12 4 161956 12 8 201957-60 14 4 181961-64 2 4 61965-67 2 2 41968-72 24 22 46Total 325 140 465Fonte: Elaboração do autos baseado em dados do Settlement Department of Jewish Agency, 1974, p. 97.

Assentamentos agrícolas judaicos fundados após o surgimento do Estado de

Israel

Um aspecto especial deste período foi o aumento da popularidade do moshav,

que antes da independência não superava o número de kibutzim. Das novas vilas

fundadas a partir do final de 1972, 325 eram moshavim e somente 140 eram kibutzim.

A principal razão para a mudança foi o contexto étnico e social dos novos imigrantes.

Antes de 1948, os imigrantes de origem européia pretendiam se tornar fazendeiros.

Os recém-chegados, por outro lado - mais da metade vindos da Ásia e da África -,

eram colocados no país sem qualquer tipo de conhecimento prático ou preparação

ideológica. No filme “Um Herói de Nosso Tempo” (Va, Vis et Deviens, 2006), por

exemplo, o diretor Radu Nihaileanu bem ilustrou como ocorreu o processo de

3 “As Forças de Defesa de Israel (Tzavá Haganá le Israel), foram formadas durante a Independência. No período entre 1948 e 1949, quando Israel enfrentou os exércitos dos países árabes que não aceitavam o estabelecimento do Estado Judeu, as antigas facções armadas dos sionistas foram reunidas e aparelhadas com armas e munição (...) As FDI situam-se hoje entre as mais bem reputadas forças de combate do mundo, tendo tido que defender Israel em cinco grandes conflitos desde a sua criação” (WIKIPÉDIA, 2007, on line).

12

migração dos judeus vindos da Etiópia4. Estes imigrantes, fugindo da ideologia

característica aos kibutzim, dificilmente se adequariam a esta estrutura preferindo o

emprego nos moshavim, que apresentam tipo de vida mais similar às existentes das

vilas de onde vieram.

1.5 Estrutura regional dos povoados

Até 1953, a maioria das novas vilas era baseada na fazenda diversificada, que

basicamente desenvolvia produtos frescos, especialmente leite, ovos, vegetais e

frutas. A partir deste ano, modificações substanciais foram introduzidas em algumas

das recentes regiões assentadas. Nas montanhas e no Neguev - cujas condições

climáticas e naturais do deserto nunca foram favoráveis -, a tecnologia de produção

tinha aumentado. A melhoria da mecanização rural deu início à grande

especialização e o modelo de fazenda diversificada foi gradualmente abandonado ou

modificado. Fazendas especializadas foram construídas de acordo com as condições

domésticas e específicas de cada lugar, bem como da demanda de mercado

internacional por produtos típicos, como a tâmara. Assim, cada região passou a ser

responsável por um determinado ramo da agricultura, bem como para produção

industrial destinada à exportação ou à substituição de importação.

Ao invés de cada vila permanecer fechada, com economia e unidade social

independentes, elas foram integradas em uma eficiente estrutura regional. Um

modelo deste tipo foi inicialmente adotado nos povoados do Neguev, fundado entre

1951 e 1952, os quais foram agrupados ao redor de um centro rural e comercial. O

modelo é baseado em planos econômicos, que compreendem todos os povoados

agrícolas e urbanos de uma mesma região. Neste aspecto, é preciso enfatizar a

importância operacional e econômica desta estrutura regional, que consiste em uma

diferença particular desses tipos de povoados. O fato da proximidade da fábrica com

a fonte de matéria-prima resulta em um maior valor agregado ao produto que, em

4 Além das dificuldades e todos os preconceitos recebidos, os judeus etíopes representavam as camadas mais baixas da sociedade. Em 2005, após a aprovação de diversas leis de incentivo, esta fase de ostentações foi superada e levou a inserção deste grupo à sociedade.

13

contrapartida, colabora com um maior desenvolvimento da região. As vilas ou

povoados eram assim colocadas em grupos de quatro ou cinco em volta de um centro

rural, que providenciava as facilidades necessárias, enquanto uma comunidade da

cidade servia toda a região. Somente facilidades cotidianas, tais como berçário, mini-

mercado, posto de saúde, sinagoga, refeitório e lavanderia situavam-se dentro das

próprias vilas. Outros serviços, como escolas, centro esportivo e anfiteatro ficavam

localizados no centro rural, enquanto outras especificidades como hospitais e

shopping centers, eram localizadas na cidade da região (Figura nº. 1.2). Assim, o

abastecimento para as grandes comunidades fez com que os serviços ficassem mais

baratos, acessíveis e eficientes. Já, as indústrias, principalmente como as de

processamento de plantas e vegetais, eram situadas nas cidades, onde recebiam as

matérias-primas. Assim, entre outras conseqüências, tais políticas econômicas de

cunho regional, baseada em aspectos étnicos e culturais de um povo judeu vindo de

várias partes do mundo, proporcionavam atividades para os desempregados e

prevenia o empobrecimento ou abandono destas áreas rurais do país.

Figura nº. 1.2

Estrutura econômica regional dos povoados do Negev à partir da década de 50. Fonte: Elaboração do autor, baseado em imagens do Eye on Israel, 2006, on line.

Kibutzim/ povoadosCentro regional e comercialCidade regional

Estrutura econômica regional dos povoados do Negev à partir da década de 50. Fonte: Elaboração do autor, baseado em imagens do Eye on Israel, 2006, on line.

Kibutzim/ povoadosCentro regional e comercialCidade regional

14

A estrutura regional também facilitou a grande integração entre assentados de

diferentes partes do mundo que, pelas várias origens, encontravam, anteriormente,

dificuldade para viver nas proximidades. Ainda que cada vila fosse formada por um

grupo étnico particular, todos usufruíam das mesmas facilidades providas pelo centro

rural, onde a integração acontecia entre os moradores das diferentes vilas. Assim, o

processo gradual de integração iniciou a cooperação regional entre os diversos

kibutzim, que começavam a estabelecer joint ventures (empreendimentos

conjuntos/parcerias) entre si. Um típico exemplo é o de um concilio regional entre os

kibutzim do Neguev que, juntos, integram alguns empreendimentos, tais como

fábricas de refrigeração, de algodão e de embalagens de papelão, um abatedouro de

aves, além de serviços como anfiteatro, ginásio de esportes, escola, lavanderia,

dentre outros.

1.6 A Revolução Industrial

A partir de 1966, a contribuição econômica que os assentamentos trouxeram para

os planos originais do país passou a fazer parte dos planos de desenvolvimento

nacional elaborados pelas autoridades. A Agência Judaica e os Ministérios da

Construção, Trabalho e da Agricultura montaram um centro de estudos rural e

urbano para investigar os problemas envolvendo a criação de novos métodos e

modificações para os modelos de assentamentos. Como resultado inicial foi realizada

a complementação do Condutor Territorial de água construído quase há 20 anos, que

passou a conduzir água do Kineret, ao Norte, para o Neguev, ao Sul.

Antes do estabelecimento do Estado de Israel, os kibutzim já haviam dado início

à ramificação da produção, migrando parte de seu capital para a indústria nascente. O

Kibutz Degania, por exemplo, ajustou sua produção para fabricação de ferramentas

de corte do diamante, faturando milhões de dólares ao ano. O kibutz Hatzerim e o

Daan, seu concorrente, têm uma fábrica para produzir equipamentos para irrigação

através de uma técnica de gotejamento desenvolvida pelos engenheiros das próprias

comunidades. O empreendimento de Hatzerim, chamado Netafim, é uma corporação

15

multinacional que fatura acima de US$300 milhões ao ano. Maagan Michael, outro

kibutz, desenvolveu uma fábrica de plásticos e equipamentos médicos. As empresas

de Maagan Michael ganham mais de US$100 milhões ao ano (WIKIPEDIA, 2006,

on line).

Uma grande onda de industrialização marcou os anos 1960. Hoje, depois de mais

de 40 anos, apenas 15% dos membros dos kibutzim praticam atividades ligadas à

agricultura. A industrialização dos kibutzim surgiu tanto num momento em que os

trabalhos agrícolas já não eram bastante para absorver todos os membros do kibutz,

como quando do início de pressões de demanda por parte do Estado de Israel.

Durante os anos 50 e 60, em razão dos altos déficits comerciais, o país aguardava

uma oportunidade para reverter a sua balança comercial. Aos kibutzim foi atribuída a

responsabilidade de produzir.

1.7 “O embate entre o coletivo e o indivíduo no kibutz de hoje5”

Uma nova concepção começou a ter expressão logo depois da “Guerra dos Seis

Dias”, em 1967, e da “Guerra de Yom Kypur”, em 1973. Após a perda de mais de

2.300 soldados, o rápido processo de viver “o hoje” tornou-se cada vez mais

predominante também nos movimentos kibutzianos e a idéia de “kibutz” foi-se

desintegrando. “A juventude não encontrava a menor motivação para continuar este

caminho e o que eles procuraram desde então fui a sua individualidade”

(ROSENTHAL, 1992, p. 83).

O emprego sazonal sempre foi um ponto de controvérsia no movimento

kibutziano. Durante o tempo da colheita, quando era necessário muito esforço braçal,

os kibutzim não empregavam “não-membros” ou “não-moradores” para auxílio

destas atividades. Hoje, somente 38% dos empregados do kibutz são membros da

comunidade (WIKIPEDIA, 2006, on line). Nos anos 70, os kibutzim passaram a

empregar palestinos. Atualmente, tailandeses, filipinos e chineses correspondem pela

grande contingência de mão-de-obra barata presente nos assentamentos. “Por todo o

5 Título usado na tese de mestrado em Serviço Social por ROSENTHAL, Ruth Ellen.

16

país, mais de 26 mil tailandeses estão trabalhando na agricultura, um elemento que se

tornou vital para a economia do país” (HEBRAICA, 2007, p. 41).

Segundo moradores, severas transformações podem ser vistas na unidade coletiva

e da sentença que deu origem ao ideário da coletividade kibutziana, “a cada um de

acordo com sua habilidade, a cada um de acordo com sua necessidade”, parece ter

cedido espaço “a cada um de acordo com suas preferências, a cada um de acordo

com suas pretensões”. “O ‘kibutz-lugar6’ está se tornando, hoje em dia, cada vez

mais predominante. A identificação com ‘kibutz-caminho7’ está se distanciando cada

vez mais dos seus membros (...) de forma que indivíduo e coletivo procuram uma

forma ponderada de sobrepujar tais contradições.” (ROSENTHAL, 1992, p. 70, 88).

As primeiras mudanças foram notadas quando da cobrança por utilidades

domésticas. Quando a eletricidade era gratuita, os membros não mostravam interesse

em conservá-la, a ponto de deixarem suas máquinas de ar-condicionado funcionando

ininterruptamente, mesmo quando ausentes da residência. Em 1980, os kibutzim

começaram a cobrar pelo uso da energia, fazendo com que cada membro tivesse

realmente uma arrecadação pessoal para pagar suas contas. O refeitório também foi

um dos primeiros a ter seu serviço alterado. Quando o alimento era gratuito e três

refeições eram feitas diariamente, os membros não tinham a percepção do enorme

desperdiço produzido. Hoje em dia 75% dos kibutzim cobram do membro o preço da

alimentação feita em seus refeitórios, da mesma forma que ocorre em um restaurante

do tipo self-service. As atividades do grupo são muito menos eficientes do que no

passado, e talvez, o exemplo mais claro de como os kibutzim abandonaram o

princípio da igualdade é a execução de salários diferenciados. Assim, um gerente de

fábrica receberia hoje um salário real muito maior do que um trabalhador do “chão

de fábrica” ou do trabalhador agrícola. Desde os anos 1970, o prestígio dos kibutzim

foi sendo ignorado pelos israelenses e a imagem de pioneiros ou auto-suficientes

passou a dar espaço ao ideal do consumidor independente. Assim, o kibutz apresenta,

atualmente, alterações em sua estrutura original de modo a colocar em xeque seu

escopo de ação no atual cenário globalizado. 6 Expressão usada pela autora para designar as necessidades individuais acima das necessidades coletivas. 7 Expressão usada pela autora para mostrar que o interesse do coletivo sobrepõe-se às necessidades individuais.

17

Segundo o economista Mário Haytman, um dos primeiros moradores do kibutz

Yotvata, as principais dificuldades do modelo econômico encontrado nestes tipos de

comunidades surgiram através das diferentes perspectivas adotadas pelas gerações

que se sucederam à formação dos kibutzim.

“O problema mais grave que enfrentamos refere-se às segundas e

terceiras gerações. Isso é um problema grande porque em nenhuma sociedade ou lugar do mundo, 100% dos filhos fazem o que os pais querem. Por outro lado, existem no momento entre 25% e 30% dos filhos que voltam a querer viver como nós. Não é muito para a comunidade, mas é muito, proporcionalmente, se comparado ao que acontece no resto do mundo. Se você considerar as sociedades do mundo verá que não há 30% dos filhos que vivam com os pais e que tenham os mesmos objetivos ou as mesmas metas econômicas”.

1.8 Potencial econômico

Figura nº. 1.3

Participação dos kibutzim no PEA e no PIB de Israel em 2004Fonte: Elaboração do autor baseado em dados de KIA, 2006, on line e CBS, 2006, on line

N = 56,5 bilhões de dólares

10%

90%

kibutzim Outros

N = 3.751 milhões de trabalhadores

1%

99%

Participação dos kibutzim no PEA e no PIB de Israel em 2004Fonte: Elaboração do autor baseado em dados de KIA, 2006, on line e CBS, 2006, on line

N = 56,5 bilhões de dólares

10%

90%

kibutzim Outros

N = 3.751 milhões de trabalhadores

1%

99%

1%

99%

Com a cooperação, subsídios gerados e a regulamentação estatal dos diversos

setores da economia, estas comunidades agro-industriais autogeridas - que

correspondem a apenas 1% dos mais de 3,7 milhões de trabalhadores que compõem a

População Economicamente Ativa (PEA) de Israel - são capazes de movimentar mais

de 10% de toda a atividade comercial do país, além de 7,2% do total das exportações,

18

5,2% dos investimentos e 9,2% do emprego industrial (Figura nº. 1.3). Ao contrário

do que pressupunha a economia clássica, os kibutzim pouco falharam em seus

empreendimentos, de maneira que continuam fazendo investimentos agressivos nas

novas empresas criadas. Hoje, a maioria dos kibutzim já está no ponto break-even

(lucro) econômico.

As indústrias do kibutz produzem artigos de metal, eletro-eletrônicos, plástico e

borracha, alimentos processados, materiais óticos e vidro, têxtil e couro, artigos de

medicina e produtos químicos, materiais de escritório, materiais para construção,

brinquedos, jóias, instrumentos musicais, além dos alimentos. Em 2004, suas vendas

totalizaram US$4,44 bilhões, incluindo US$1,33 bilhão do valor das exportações

(Tabela nº. 1.3). As principais filiais da indústria do kibutz são as de plástico e de

borracha (38% de todas as vendas), seguida por alimento (18% de vendas totais) e do

metal (14% de vendas totais). As indústrias do kibutz exportaram 45% de sua

produção, comparado a uma média nacional de aproximadamente 38% das vendas.

Os principais exportadores são as indústrias de plásticos e borracha, e alimento, que

correspondem juntos a 51.5% da exportação nacional (Op. cit., 2006, on line).

As indústrias dos kibutzim mantêm altos níveis de investimentos, que são

estimados em US$187 milhões. Este capital foi investido na construção de novas

empresas, renovação e modernização das fábricas existentes e na garantia da elevada

qualidade empregada.

Tabela nº. 1.3

SetorTotal de vedas (milhões US$)

Exportações (milhões US$)

Investimentos (milhões US$)

Número de trabalhadores

Número de fábricas

lástico e Borracha 1.376 558 83 9.763 79limento 657 221 28 3.339 36etais e Maquinaria 511 184 22 5.112 61apel e Papelão 221 32 7 1.412 20letro-eletrônico 188 82 5 1.880 28extil e Couro 223 104 20 1.578 23ateriais de construção 188 27 9 1.212 15édico e Químico 115 48 7 1.052 17tico e Vidro 76 45 2 784 9óveis e madeira 45 1 2 666 14

nagem e Arte 31 27 1 334 13erviços Industriais 31 2 1 461 18otal de Indústrias 3.662 1.331 187 27.593 333mpresas na região 779 4.919

Total de todas as empresas 4.441 1.331 187 32.512 333Fonte: Elaboração do autor baseado em dados do Kibbutz Industries Association (KIA), on line

Estatísticas das Indústrias dos Kibutzim de acordo com o setor (2004)

PAMPETMMÓMJardiSTE

19

No passado, a típica empresa kibutziana era de posse total do kibutz ou da

parceria entre diversos kibutzim. Recentemente, o elevado investimento para

expansão e modernização, junto com o crescente custo empregado na área de

marketing, forçou as indústrias do kibutz a considerarem novas joint ventures. Mas

agora, ao invés destas parcerias estratégicas serem entre os próprios kibutzim, elas

são realizadas com investidores e sócios nacionais e estrangeiros. Graças ao seu

elevado grau de inovação, as indústrias dos kibutzim também passaram a investir

grandes somas em pesquisa e desenvolvimento. Desta maneira, muitos projetos

receberam a colaboração de Institutos Científicos israelenses e o apoio do Ministério

da Indústria. Assim, “o sonho dos kibutzim empregados à criação de um Israel

‘socializante’ perderam o significado. Eles ficam cada vez mais parecidos com

empresas comuns” (CARLOS, 2005, p. A13).

20

CAPÍTULO 2 – O ARROJO ECONÔMICO EM ERETZ ISRAEL

2.1 A demografia em Israel, aspectos geográficos e o clima

Figura 2.1

Israel está localizado no Oriente

Médio e faz fronteira com os Estados do

Líbano e da Síria, ao Norte; Jordânia, ao

Leste; Mar Vermelho, ao Sul, e Egito e

Mar Mediterrâneo, a Oeste. Está situado

no ponto de encontro de três continentes:

Europa, Ásia e África (Figura 2.1). Fonte: WikipediaPosição Geográfica de IsraelFonte: WikipediaPosição Geográfica de IsraelFonte: WikipediaPosição Geográfica de Israel

O país ocupa uma área de 20.700 km² e pode ser comparado, em área (km²), com

o estado de Sergipe no Brasil. “Embora pequeno em tamanho, Israel apresenta a

variedade topográfica de um continente (IMFA, 2000, on line). Seu formato

meridional fornece desde montanhas cobertas de florestas e verdes vales férteis até

desertos montanhosos, sem falar no Mar Morto, o ponto mais baixo da Terra.

Aproximadamente metade da área do país é semi-árida.

As condições climáticas regionais são bastante variadas: na planície costeira, o

verão é quente e úmido e o inverno, ameno e chuvoso. Nas regiões montanhosas, o

verão é seco, sendo o inverno moderadamente frio, com chuvas e às vezes com um

pouco de neve. No vale do Rio Jordão, o verão é quente e seco e o inverno é

agradável. Finalmente no Sul, nas regiões semi-áridas, o dia é muito quente e a noite

bastante fria.

De acordo com o censo de 2005, o país contava com uma população de

aproximadamente sete milhões de habitantes, dos quais 76% eram judeus, 16,3%

muçulmanos, 2,1% cristãos e 1,6% drusos. Os 3,9% restantes não foram

classificados por religião (WIKIPÉDIA, 2007, on line).

Hebraico e Árabe correspondem aos idiomas oficiais do país, enquanto Russo,

Inglês, Espanhol, Francês, Yiddish e Romeno são vastamente usados pelos

21

estrangeiros que vivem na região. Um índice de educação aponta que 4,6 % da

população acima de 15 anos eram analfabetas neste período.

Jerusalém é a capital e o núcleo espiritual do país, enquanto Tel Aviv é o centro

da vida industrial, comercial, financeira e cultural. Haifa é o importante ponto

setentrional e Beer Sheva é o maior pólo urbano localizado ao Sul.

2.2 Cenário econômico e a agricultura de ponta

Devido à política do setor público, que não privatiza setores monopolizados,

como eletricidade, transporte, portos, telégrafos, água e combustíveis, Israel é

enquadrado na 50ª colocação, junto ao México e à França, segundo o índice

elaborado pelo Instituto Cato8 (AURORA, 2004, p. 11). Costumeiramente conhecido

pelo envolvimento em muitos dos conflitos bélicos existentes no Oriente Médio, este

jovem Estado, com apenas 59 anos de existência, atualmente apresenta cenário

econômico instável, cuja estagnação aparece presente em boa parte de seus

mercados. desenvolvimento

Segundo os informes do PNUD9, Israel é o país do Ocidente que apresenta o

maior índice de mão-de-obra desperdiçada. Nesta região, onde muitos adultos

escolhem não sair de casa para trabalhar, 10,7% do total de desocupados vivem

apoiados nos subsídios gerados pelo Estado. Ainda assim, o país é classificado na 23ª

colocação segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH10). O relatório de

2003 do National Insurance Institute11 (Instituto de Segurança Social), agência do

governo a cargo da segurança nacional, mostra que a pobreza é o novo inimigo de

8 Segundo o lema “liberdade individual, limitação governamental, mercados livre e paz”, o Instituto Cato (http://www.cato.org/), sediado nos Estados Unidos, é um organismo privado que se dedica à pratica da investigação de temas econômicos e sociais em 123 paises. O índice compõe 38 variáveis que qualificam cada país segundo temas como estrutura legal, relações, direito de privacidade, comércio internacional e dimensão do governo. 9 PNUD (Programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é uma rede mundial de ampliação de práticas que promove incentivos econômicos para os países onde atua. 10 O IDH parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Além de computar o PIB per capita, o IDH também considera dois outros componentes: longevidade e educação. (UNDP, 2006, on line). 11 Home page: http://www.gov.il/FirstGov/TopNavEng/Engoffices/EngAuthorities/Engbtl/

22

Israel. Segundo o relatório, ainda que com renda per capita anual superior a US$

17.000, mais de 22% da população israelense está abaixo da linha da pobreza (Figura

nº. 2.2). Trata-se de 1,43 milhões de pessoas “pobres12” de uma total de 7 milhões de

habitantes, dentre os quais 680.000 são crianças. A maioria deste contingente

(48,4%) é formada pela comunidade árabe presente na Cisjordânia e na faixa de

Gaza, que além de uma média de quatro filhos por família, também não permite com

que a mulher saia para trabalhar, a fim de ajudar no orçamento familiar. O restante é

composto por famílias ultra-ortodoxas (27,6%) e imigrantes (17,7%). Jerusalém é a

cidade com maior percentual de pobres (33,2%), seguida por Beer Sheva (21,8%),

Ashdod (17,7%), Haifa (17,5%), Natania (17,3%) e Hólon (15,4%). O relatório

também afirma que o aumento da pobreza é resultado da política de corte das ajudas

de custo e subsídios oferecidos à população carente (Op. cit., 2004, p. 13).

Entretanto, há quem diga que os elevados gastos militares são os principais culpados

por esta situação. “Nos anos 50 e 60, Israel foi um dos países mais igualitários entre

os ocidentais. Tornou-se um dos mais injustos a partir dos anos 80, quando os gastos

militares já representavam 32% do orçamento israelense” (CARLOS, 2005, p. A13).

Figura nº. 2.2

39,3%

33,3%

22,8%

4,6%

Desempregados

1 chefe de família

Idosos

2 chefes de família

Distribuição de pobres por tipo de famíliaFonte: Elaboração do autor baseado em AURORA, 2003, p. 13

N = 1,43 milhões de pessoas

39,3%

33,3%

22,8%

4,6%

Desempregados

1 chefe de família

Idosos

2 chefes de família

Distribuição de pobres por tipo de famíliaFonte: Elaboração do autor baseado em AURORA, 2003, p. 13

N = 1,43 milhões de pessoas

12 Em 2003, se entendia por “pobre” qualquer lar que tivesse renda inferior a: 1 pessoa (1.736 shékels ou US$387); 2 pessoas (2.777 shékels ou US$620); 3 pessoas (3.680 shékels ou US$821); 4 pessoas (4.443 shékels ou US$991); 5 pessoas (5.207 shékels ou US$1.162); e 6 pessoas (5.901 shékels ou US$1.317). Muitos trabalhadores não recebem o salário mínimo de 3.335 shékels ou US$744, em razão do temor de ficar sem trabalho.

23

Quanto aos índices financeiros, Israel aparece na 15ª posição entre os países do

globo que apresentam a maior taxa de juros nominal. No terceiro trimestre de 2006, a

rentabilidade dos títulos do seu Tesouro apontava em 5,4%, pouco abaixo do juro

médio de 6,85% registrado pelos países em desenvolvimento, no mesmo período

(BALBI, 2006, p. B5 apud KHAIR, 2006, p.4). Com a inflação projetada pelo Índice

de Preços ao Consumidor13 (IPC) para 2,7%, Israel passou a assumir a 10ª posição

dentre os países com a taxa de juros real mais elevada do mundo (FOLHA DE SÃO

PAULO, 2006, p. B3), que aponta uma previsão de 2,7% para 2006 (Quadro nº. 2.1).

Quadro nº. 2.1

Evolução dos indicadores financeiros em Israel nos últimos 15 anos

Fonte: Elaboração do autor baseado em informações do Central Bureau of Statistics (CBS), 2006, on line

-5,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006(e)

Taxa de juros nominal Índice de preços ao consumidor Taxa de juros real

2,7%

5,4%

Evolução dos indicadores financeiros em Israel nos últimos 15 anos

Fonte: Elaboração do autor baseado em informações do Central Bureau of Statistics (CBS), 2006, on line

-5,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006(e)

Taxa de juros nominal Índice de preços ao consumidor Taxa de juros real

2,7%

5,4%

Assim, esses números mostram que o Banco Central continua com uma política

de baixo interesse para estimular o crescimento, se comparado aos índices

apresentados no início da década anterior. “Quando a taxa de juros dos títulos

públicos é superior ao rendimento esperado dos ativos de capital, os detentores de

recursos monetários optam pela compra de títulos – e não realizam investimentos”

(CARVALHO et al., 2000, p. 168). Desta maneira, as oportunidades em

investimentos produtivos diminuem e intimidam a aquisição de novos ativos 13 “O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede o custo da compra de uma cesta básica de bens e serviços que representa as compras dos consumidores urbanos. Ocasionalmente a cesta de bens é modificada para permanecer representativa aos padrões reais de consumo”. (DORNBUSCH & FICHER, 2002, p. 49).

24

produtivos. “Uma máquina somente é adquirida quando o seu rendimento esperado é

superior à taxa de juros, de tal forma que a liquidez relativa seja compensada pela

sua eficiência marginal do capital14” (Op. cit., 2000, p. 169).

Ainda assim, há quem diga que uma política monetária expansionista produziria

efeitos desprezíveis sobre a renda. Este modelo ficou conhecido como pessimismo

das elasticidades e caracteriza a situação descrita pela Síntese Neoclássica como

armadilha da liquidez, na qual todo o aumento da oferta de moeda é transformado

em “fundos especulativos” ao invés de “fundos produtivos”. “Sob esta condição,

somente uma política fiscal expansionista pode afetar consideravelmente a renda”

(Op. cit., 2000, p. 193). De acordo com um estudo publicado pelo Ministério das

Finanças, em Israel, a redução de impostos favoreceu principalmente os setores mais

ricos. A contribuição dos setores que apresentam receita mais elevada,

correspondentes aos 10% mais altos, sobre o total de impostos, reduziu de 73%, em

2003, para 70%, em 2004. Embora com uma política fiscal expansionista, o salário

médio dos 10% mais ricos é 40 vezes superior ao salário médio dos 10% mais pobres

(AURORA, 2005, p. 12).

O setor agrícola em Israel caracteriza-se por um sistema de produção intensivo,

que se utiliza de políticas específicas e da alta tecnologia empregada. O

desenvolvimento do sistema de irrigação baseados em gotejamento de água

propiciou, entre outros, a exportação do know-how e foi uma das principais

ferramentas utilizadas para superar os problemas de escassez da água. Em termos

gerais, o dinamismo do setor agrícola deve-se à estreita cooperação entre cientistas,

assessores, produtores e agricultores que, juntos, têm articulado o estímulo ao avanço

tecnológico nesta esfera. Como resultado, isto gerou uma agricultura moderna em um

país cuja metade do seu território é definida pela geografia desértica. Além da sua

importância como a maior fornecedora de alimentos para o mercado local, seus

produtos típicos também respondem pelo abastecimento do mercado internacional.

Em 2004, a agricultura israelense foi responsável por 1,4% dos US$ 117,5 bi

correspondentes ao PIB do país. Neste período, aproximadamente 70.000 pessoas

com renda média de US$ 2.100 ao mês estavam diretamente empregadas na

14 Este termo foi usado por Keynes no seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda para designar a taxa de rendimentos esperado de um ativo de capital.

25

agricultura respondendo por 2,5% do total da força de trabalho (DRORI & BRAWN,

2005, p. 6).

Kibutzim e moshavim contabilizam hoje 83% da produção agrícola do país. O

restante é atribuído às vilas árabes distribuídas pelas áreas rurais, que se concentram

principalmente na produção de cabras e ovelhas, além de vegetais, colheita de grãos

e oliva (HOJMAN & MALUL, 2005, p. 12).

26

2.3 O setor leiteiro: um exemplo em O&M - Organização e Métodos

Figura nº. 2.3

Principais fábricas e fazendas de leite em IsraelFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on line

Fábricas

Fazendas

Principais fábricas e fazendas de leite em IsraelFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on line

Fábricas

Fazendas

A indústria de leite - um dos

mais controlados e regulamentados

mercados da economia israelense –

fornece, aproximadamente, para

toda a demanda doméstica por

produtos lácteos de vaca, ovelha e

cabra. Israel é um dos mercados que

mais consomem produtos à base de

leite no mundo. Mais de 1.500 tipos

de queijos, iogurtes, sobremesas e

bebidas lácteas são encontrados nas

prateleiras dos supermercados do

país tornando possível a expansão

do setor. “O paladar do israelense,

que se habituou a consumir produtos

lácteos pelo menos duas vezes ao

dia impulsionou, em 2004, a

indústria leiteira a registrar US$ 407

milhões em lucro de uma receita

anual de US$ 1,7 bilhão” (ZILCER,

2005, p. 9). O processamento do

leite é feito nas fazendas –

moshavim e kibutzim - localizadas

nas montanhas, vales e desertos do

país, cujo clima é caracterizado por

um longo e quente verão (Figura nº.

2.3).

27

A indústria de leite em Israel teve início em 1927, quando uma cooperativa

chamada “Tnuva” surgiu com o propósito de lidar com a produção leiteira (Op. cit.,

2005, p.8). Hoje, a Tnuva, maior leiteria de Israel, processa mais de 70 milhões de

litros de leite por mês e concentra quase 75% do mercado. As marcas Tara e Strauss-

Yotvata, por sua vez, coletam e processam, respectivamente, 120 milhões e 115

milhões de litros de leite por ano e concentram 11% e 10% do mercado. Os 5%

restantes do mercado correspondem a outras pequenas leiterias que produzem juntas

mais de 40 milhões de litros de leite por ano (Figura nº. 2.4).

Figura nº. 2.4

Distribuição do mercado entre as leiterias de Israel em 2004Fonte: Elaboração do autor baseado em ZILCER, 2005, p. 8

N = 1,14 bilhões de litros de leite processados

74%

11%6%

4%1%

4%

TnuvaTaraStrauss

YotvataGadOutras

Distribuição do mercado entre as leiterias de Israel em 2004Fonte: Elaboração do autor baseado em ZILCER, 2005, p. 8

N = 1,14 bilhões de litros de leite processados

74%

11%6%

4%1%

4%

74%

11%6%

4%1%

4%

TnuvaTaraStrauss

YotvataGadOutras

O setor de leite em Israel se configura no chamado mercado oligopolista. O

oligopólio se apresenta como uma estrutura de mercado na qual apenas algumas

empresas competem entre si, obstruindo ou dificultando a entrada de novas

empresas.

28

“As economias de escala podem tornar não lucrativo o fato de que mais do que algumas poucas empresas coexistam no mercado; as patentes ou o acesso à tecnologia poderão servir para excluir potenciais concorrentes; a necessidade de despender dinheiro para poder tornar uma marca conhecida e obter reputação no mercado poderá obstruir a entrada por parte de novas empresas; e as empresas já atuantes poderão tomar medidas estratégicas para desestimular a entrada de novas concorrentes” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 560).

Nesta composição, a mercadoria comercializada pode ou não ser diferenciada15, e

o poder de monopólio16 e a lucratividade das indústrias oligopolistas dependerão da

forma com que elas interagem entre si. Os preços e a produção de equilíbrio de uma

empresa oligopolista, todavia, serão elaborados com base no comportamento

estratégico das suas concorrentes que, ao mesmo tempo, terão as suas decisões

tomadas dependendo das decisões da própria empresa. Este conceito foi explicado

claramente pela primeira vez em 1951, pelo matemático John Nash e ficou conhecido

como Equilíbrio de Nash17.

O conluio ou cartel18 é ilegal nos mercados israelenses19. Mesmo assim, para que

haja a condução a lucros maiores, as empresas podem cooperar entre si através de um

entendimento implícito, por meio do qual todas concordem em manter os seus preços

elevados. Entretanto, se uma empresa adotar uma política de preço menor que a dos

seus concorrentes isto pode gerar medidas retaliatórias e batalhas de preços e o

15 A diferenciação de produtos pressupõe que “cada empresa vende uma marca ou versão de um produto que difere em termos de qualidade, aparência ou reputação, e cada empresa é a única produtora de sua própria marca” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 551). No mercado de leite, em Israel, os consumidores vêem a marca de cada empresa como algo diferente. A diferença está praticamente no aroma, na consistência e na reputação da empresa. Consequentemente, embora um consumidor prefira uma marca à outra, não pagará um valor muito maior caso esta decida elevar demasiadamente o seu preço. 16 O monopólio é um mercado no qual existe apenas um vendedor, porém, muitos compradores. A curva de demanda deste mercado tende à infinita inelasticidade, pois relaciona o preço recebido pelo monopolista com a quantidade a ser vendida por ele. Assim, o monopolista é o mercado, tendo completo controle sobre a quantidade de produto que será colocada à venda. “É por este motivo que as leis antitrustes proíbem as empresas de monopolizar a maioria dos mercados” (Op. cit, 1994, p 423). 17 No Equilíbrio de Nash “ada empresa está fazendo o melhor que pode em função daquilo que estão fazendo as suas concorrentes”. Este importante conceito, que foi ilustrado pelo diretor Ron Howard no filme A Beautiful Mind (Uma Mente Brilhante, 2001), é um dos principais temas estudados na disciplina de Teoria dos Jogos, que difunde a sua aplicação para uma ampla variedade de problemas estratégicos. 18 “Em um cartel os produtores explicitamente concordam em cooperar, por meio de um acordo que determina preços e níveis de produção” (Op. cit, 1994, p. 593). 19 Ver Israel Antitrust Authority. Disponível em <http://www.antitrust.gov.il/Antitrust/en-US>.

29

conluio implícito torna-se demasiadamente frágil. Assim, “as empresas oligopolistas

quase sempre apresentam uma forte tendência de manter a estabilidade,

particularmente no que tange aos preços” (Op. cit., 1994, p. 585). É por este motivo

que a rigidez de preços se tornou uma característica do setor de leite em Israel. Aqui,

o mecanismo das forças de mercado é totalmente diferente do que poderia ocorrer no

lessaiss faire, no qual uma grande oferta poderia conduzir a uma redução nos preços

ou, ao contrário, uma forte demanda pudesse pressionar a sua elevação. “No setor

leiteiro de Israel, os preços são artificialmente estabelecidos pelo governo e não pelo

mercado” (MELLUL, 1994, on line). Desta maneira, todo produto deve obter a

aprovação governamental de preços para que possa ser lançado. “A empresa é livre

para vender por menos, mas não pode vender por mais” (Op. cit., 1994, on line).

O país conta com organizações, como a Israel Dairy Board (IDB), que foi

juntamente formada e gerenciada por representantes das fazendas leiteiras – como

kibutzim e moshavim -, das leiterias e do governo de Israel para administrar a

produção no setor. A IDB trata de gerar e organizar a sinergia entre as entidades

ativas neste mercado a fim de orientar a busca pelo melhor negócio, programar

políticas governamentais, gerar estratégias de produção, elaborar campanhas de

marketing, programas de reciclagem, além de promover o consumo de leite e

derivados para a expansão do mercado nacional. Outras ações, também realizadas,

dizem respeito ao desenvolvimento da cooperação internacional a fim de encorajar

relações comerciais entre fazendas leiteiras e indústrias do setor, em Israel e no

exterior (TAMIR, 2005, p. 7). Assim, a participação da IDB é fortemente assimilada

na mediação e regulamentação do mercado. Nesta estrutura, a IDB desenvolve

manuais sobre alimentação animal, acasalamento, produção de leite, treinamento,

programas para processamento dos derivados do leite, fornecimento de material

genético, entre outros.

Aliada à IDB, a Israel Cattle Breeders Association (ICBA) é a representante de

todas as fazendas de gado leiteiro em Israel. Durante os últimos 80 anos, a

organização tem oferecido assistência às necessidades dos seus membros e às

indústrias satélites conectadas à indústria. A principal atividade da ICBA diz respeito

ao gerenciamento do “Quadro Nacional do Rebanho”. Trata-se de um sistema de

30

informações que recebe, processa e monitora informações enviadas diretamente

pelos fazendeiros, laboratórios de saúde e companhias de inseminação, a fim de

garantir o controle da qualidade do leite e outros serviços nacionais de extensão.

Israel possui aproximadamente 110.000 vacas em ordenha, 90% das quais registradas

no Livro de Rebanho Israelense (EZRA, 2005, p. 24 e 25). Com isso, o país

proporciona aos seus produtores informações multidisciplinares para o

gerenciamento das decisões. A vaca israelense possui a mais alta produção média de

leite e sólidos do mundo. Em 2004, kibutzim e moshavim apresentaram uma

produção média de leite de 11.058 kg/vaca/ano e 10.008 kg/vaca/ano e uma

produção média de proteína e gordura de 740,4 kg/vaca/ano e 662,5 kg/vaca/ano,

respectivamente (HOJMAN & MALUL, 2005, p. 12).

Em um setor no qual empresários, produtores e o Estado atuam em parceria, de

maneira sincronizada e organizada, os subsídios e o protecionismo passam a ser

condições fundamentais para o seu desenvolvimento. Métodos eficientes e interesses

comunitários gerais proporcionam, assim, com que a toda a cadeia seja capaz de

desenvolver uma forma de arranjo produtivo economicamente eficiente.

Segundo o professor Douglass North20:

“Para que o processo social impessoal de coordenação econômica que costumamos chamar de mercado possa gerar o desenvolvimento e eficiência econômica é necessária à presença de um conjunto especial de instituições jurídicas, políticas e econômicas, as quais, (...) aliadas à tecnologia empregada, afetam os custos de transação e transformação (produção)” (NORTH, 1994, p. 05 e 13).

Apesar do alto custo gerado com o frete e das limitações ocasionadas pela

sensibilidade natural do produto, a intensa competição e a saturação do mercado

israelense têm, por outro lado, encorajado os grandes produtores a iniciar programas

de exportação para além das suas fronteiras. “Atualmente, produtos a base de leite

20 Douglass C. North dedicou sua vida pesquisando a respeito de instituições sociais e prosperidade. Do original intitulado Transaction Costs, Institutions, and Economic Performance, publicado no volume 30 da série Occasional Papers, editada pelo International Center of Economic Growth (ICEG), em 1992, foi contemplado em 1993 com o Prêmio Nobel em Economia.

31

são exportados para os Estados Unidos, especialmente para o consumo kosher21”

(ZILCER, 2005, p. 8). Entretanto, nos mercados vizinhos, formados basicamente por

países árabes, o potencial de consumo passa a ser reduzido em razão dos baixos

salários. Já no mercado europeu, que além dos fortes incentivos fiscais, também

apresenta restrições comerciais à entrada de produtos estrangeiros, a exportação

termina sendo objeto de retaliação.

A produção de leite em Israel é projetada sob um sistema de cotas, as quais o

volume anual é dividido em cotas mensais (Tabela nº. 2.1). A regulamentação das

cotas fornecidas por kibutzim e moshavim é baseada no mínimo fornecimento de

leite necessário à subsistência que, em números, representa 2,3 milhões de litros de

leite/ano e 300 mil litros de leite/ano, respectivamente, em 2004.

Tabela nº. 2.1

Jan 8,56% 8,56%Fev 8,06% 16,62%Mar 9,28% 25,90%Abr 9,08% 34,98%Mai 9,29% 44,27%Jun 8,47% 52,74%Jul 8,32% 61,06%Ago 7,62% 68,68%Set 7,19% 75,87%Out 7,69% 83,56%Nov 7,84% 91,40%Dez 8,60% 100,00%Fonte: Elaboração do autor baseado em dados da Leiteria Yotvata

Quota acumulada em 2004

Mês Estação Cota Acumulado

Primavera

Verão

Outono

Inverno

A regulamentação fiscal é bem alta por parte do Estado que, além de não permitir

a entrada de qualquer mercadoria à base de leite vinda do mercado internacional não

concede acordos de preço entre as concorrentes. O governo também não permite a

comercialização das cotas entre povoados distintos, como no caso de kibutzim e

moshavim, em que o primeiro sempre estaria apto a comprar a cota do segundo,

muito mais frágil financeiramente. A comercialização das cotas é geralmente feita de

21 Conceito usado dentro da comunidade judaica mundial como uma "garantia da qualidade de alimentos supervisionados por um rabino ou rabinato”.

32

forma integral. Quando um kibutz percebe, por exemplo, a sua incapacidade em

continuar administrando o seu rebanho, torna-se apto a vender as suas cotas. A

reforma ambiental feita pelo Ministério do Meio-Ambiente, por exemplo, obrigou as

fazendas a adotar uma nova rede de tratamento de esgoto contra a ação nociva aos

lençóis freáticos. Com isso, a lei forçou o “afunilamento” dos produtores, que

passam agora a juntar os seus rebanhos em razão dos expressivos investimentos a

serem realizados. Mesmo com a concessão de 40% de financiamento por parte do

próprio Ministério, o resultado desta política apresentou um considerável decréscimo

no número de fazendas produtoras de leite ao longo dos últimos anos (Quadro nº.

2.2).

Quadro nº. 2.2

Número de fazendas fornecedoras de leite e cota média anual por fazenda

Núm

ero

de fa

zend

as

Cot

a m

édia

anu

al p

or fa

zend

a

Número de fazendas Cota Média por fazenda (mil litros)Fonte: Elaboração do autor baseado em informações do IDB, 2005, p. 12

1445 14071321

12501178

11331083

778 799863

960993 1015

1059

0

O “preço base” do leite pago ao produtor reflete uma quantidade mínima de

sólidos (proteína e gordura) existentes na matéria-prima e é originado a partir de um

acordo entre governo, produtores e indústrias de leite. Sua formação resume o custo

médio de produção, mais um retorno acordado para o trabalho dos produtores e do

200

400

800

1000

1200

1400

1600

1998 1999 2000 2001 2002 2003 20040

200

400

600

800

1000

1200

600

Número de fazendas fornecedoras de leite e cota média anual por fazenda

Núm

ero

de fa

zend

as

Cot

a m

édia

anu

al p

or fa

zend

a

Número de fazendas Cota Média por fazenda (mil litros)Fonte: Elaboração do autor baseado em informações do IDB, 2005, p. 12

1445 14071321

12501178

11331083

778 799863

960993 1015

1059

0

400

800

1000

1200

1400

1600

1998 1999 2000 2001 2002 2003 20040

200

400

600

800

1000

1200

600

200

33

capital investido. (Tabela nº. 2.2). O custo médio de produção é estabelecido através

de uma pesquisa realizada a cada dois anos pelo país, que analisa e elabora

detalhadamente os custos e o preço pago às fazendas produtoras de leite.

Tabela nº. 2.2

Custos (2000) US$/litro % do totalRação 0,186 50,8%Mão-de-obra 0,086 23,6%Manutenção 0,022 5,9%Outros custos 0,058 15,9%Custos de capital 0,037 10,2%Rendas oriundas da venda de bezerros -0,027 -7,4%Outras rendas -0,014 -3,8%Preço do leite no portão da fazenda 0,349 95,4%Entrega e impostos cobrados pela IDB 0,017 4,6%Preço do leite no portão da fábrica 0,366 100,0%Fonte: ICBA, 2006, on line

Composição do preço do leite em Israel em 2000

A qualidade do leite é um assunto para ampla oportunidade de negócio, pois

levam em consideração as propriedades dos principais componentes do leite, tais

como a composição química, teste de sabor, a possível presença de substancias

estranhas, ação de microorganismos patogênicos, condições sanitárias no lugar de

sua produção, tratamento higiênico e processo entre produção e consumo.

O princípio fundamental do pagamento por qualidade é de que o melhor leite

deve ter um preço maior do que o leite de menor qualidade. Esta diferença deve ser

considerada como um prêmio dado ao leite de alta qualidade ou como uma dedução

do preço do leite de baixa qualidade. Contudo, esta separação acontece por duas

razões: pagar aos produtores uma soma justa para o leite que eles fornecem e para

dar-lhes orientação sobre o tipo de leite considerado desejável. Assim, além do bom

leite apresentar preço mais elevado e mais baixo custo do que o leite de pior

qualidade, ainda influencia os métodos e tendências de produção, estimula seu

aperfeiçoamento, sua manutenção, higiene e composição de qualidade.

Desta maneira, o pagamento por qualidade tem ambos os efeitos, econômicos e

psicológicos. Ele deve refletir o valor de mercado do leite ou dos produtos derivados

de diferente qualidade, bem como influenciar o produtor para adaptar os métodos

para o tipo e padrão higiênico que lhe dará o melhor rendimento na rede. Contudo,

34

existe um limite para a quantidade extra que deve ser pago ao leite de alta qualidade

ao de média qualidade que pode, por exemplo, ser determinado pela abundância de

fornecimento ou o estado da economia do mercado. Trata-se, no entanto, de um de

círculo vicioso. Se não existe demanda de mercado para o leite de alta qualidade, este

não será produzido e então não haverá possibilidade de aumentar a qualidade do leite

produzido visto a geração de custos mais elevados. O aspecto psicológico do

pagamento por qualidade consiste na mais proveitosa linha de trabalho que o

produtor de Israel vem seguindo e que não reflete na rentabilidade. Por exemplo, o

fato de que o pagamento tenha sido fixado de acordo com a gordura contida na

matéria-prima pode causar a iniciativa para o aumento na proporção de gordura no

leite produzido, ainda que no cálculo final seja demonstrado que o pagamento

adicional tenha sido insuficiente para, no mínimo, cobrir os custos de produção

investidos para aumentar a quantidade de gordura no leite.

Incentivos financeiros também são auferidos para encorajar os produtores de leite

a aumentar sua produção mensal. A fim de regularizar o fornecimento do leite à

indústria durante o ano, principalmente nos meses de verão, quando há aumento da

demanda e escassez da produção, as fábricas geram empréstimos aos produtores para

tentar evitar o alto custo para estocá-lo na forma pulverizada e, assim, encarecer a

produção. “O excesso do leite produzido no inverno é convertido em leite-em-pó e

manteiga. Em 2004, 7.300 toneladas de leite-em-pó foram produzidas em Israel”

(ZILCER, 2005, p. 8). Com isso surge um novo problema que diz respeito à

importação de leite-em-pó do mercado internacional, onde o custo do mesmo insumo

é encontrado a preços muito mais atraentes. Na Nova Zelândia, por exemplo, o

governo oferece subsídios que garantem metade do preço da matéria-prima se

comparada àquela encontrada em Israel. Como resultado, uma medida que ameaça

tanto a redução da cota para o produtor, como também a diminuição do preço pago

pelo fornecimento do leite.

35

CAPÍTULO 3 – YOTVATA

3.1 A contraposição nos novos tempos

Em dezembro de 1957, os habitantes do Nahal, Ein Radian, mudaram seu nome

para o então Kibutz Yotvata. O nome Yotvata (em português: Jotbatá) é encontrado

na Bíblia, em Deuteronômio, capítulo 10, versículo 7º, como sendo o nome de um

caminho por onde passava um córrego de águas, usada pelas crianças de Israel na

travessia entre o Egito e a terra de Canaã. Seus fundadores se assentaram, em 1957, e

receberam a responsabilidade e o desafio de levantar um estabelecimento agrícola no

coração do deserto, 42 km ao Norte da cidade de Eilat, ao sul de Israel (YOTVATA,

2004, on line).

O maior de todos os kibutzim do Aravá22, Yotvata possui a maior comunidade da

região. A população flutuante é de aproximadamente 500 pessoas, sendo que 265 são

membros da sociedade e, na sua maioria, chefes de família. Por ser o maior,

concentra muitos serviços que são compartilhados com as outras comunidades

regionais, tais como escola e posto-médico. Serviços como refeitório, lavanderia,

piscina e diversas outras atividades também são oferecidos para seus membros, que

se dividem na realização das tarefas, Entre elas, destacam-se, a marcenaria,

agricultura, jardinagem, cozinha, além da pecuária leiteira e da própria fábrica de

laticínios (Figura nº. 3.1).

Diferente de muitos outros kibutzim, que hoje em dia enfrentam diversas

mudanças ideológicas, Yotvata, após cinqüenta anos de vida, ainda não sentiu a

necessidade de se desfazer da estrutura que o originou. Uma das grandes razões para

esta estabilidade é a sua participação no oligopólio setorial de leite, que lhe garante

autonomia econômica no país. Entretanto, é indubitável o fato desta eficiência

empresarial dentro de Yotvata ser a pré-condição básica para eficácia social e

existência da sua comunidade.

22 Faixa desértica que se estende por toda a fronteira entre Israel e Jordânia.

36

Figura nº. 3.1

Área escolar

Área residencialrefeitório

administração

posto médico

cafeteria e restaurante

Fábrica de embalagens

Cultivo de manga, tâmara e demais hortifrutigranjeiros

Jordânia

fronteira

Sede regional

Em razão da sua localização, no extremo sul do país, o kibutz Yotvata enfrenta

problemas bem diferentes dos que ocorrem nas outras comunidades.

Atualmente, o kibutz busca novas fontes de trabalho que geram ocupação para

seus membros e incentivam o desenvolvimento de novas atividades. Com isso, seu

objetivo é possibilitar maior autonomia frente à leiteria, que hoje contribui com

Rodovia do Arava

Eilat

Tel Aviv

ginásio de esportes

portaria

campo de futebol

estábulo das vacas

ordenhadeiras

depósitoda ração

ferraria

leiteria

oficinas

refrigeradormini-mercado

lavanderia

Vista aérea do Kibutz Yotvata em 2005Fonte: Elaboração do autor, baseado em imagens de Chalav Acher (Outro Leite), 2005, capa.

Área escolar

Área residencialrefeitório

administração

posto médico

cafeteria e restaurante

Fábrica de embalagens

Cultivo de manga, tâmara e demais hortifrutigranjeiros

Jordânia

fronteira

Sede regional

Rodovia do Arava

Eilat

Tel Aviv

ginásio de esportes

portaria

campo de futebol

estábulo das vacas

ordenhadeiras

depósitoda ração

ferraria

leiteria

oficinas

refrigeradormini-mercado

lavanderia

Vista aérea do Kibutz Yotvata em 2005Fonte: Elaboração do autor, baseado em imagens de Chalav Acher (Outro Leite), 2005, capa.

37

aproximadamente 75% da receita da comunidade. A idéia é fazer com que os 250-

300 milhões de shékels23 (US$ 56-67 milhões) providos pela fábrica representem não

mais do que 50% da receita total do kibutz, ou seja, tentar aumentar em

aproximadamente 25% os índices atuais da receita gerada pelas outras atividades.

Através do envolvimento em novos mercados, o kibutz deveria encontrar meios de

gerar 250 milhões de shékels (US$ 56 milhões) adicionais, para não ficar à mercê de

eventuais ameaças ou crises no setor, que podem reverter em complicações à leiteria.

Não se trata apenas de trazer novos meios de produção. A dificuldade está em

encontrar atividades de maior valor agregado que acondicionem margens de lucro

superiores as de 20% oferecidas atualmente pela leiteria. Algumas idéias já existem e

são constantemente discutidas na Assembléia Geral do kibutz, onde cada membro é

livre para debater o seu próprio ponto de vista. Uma delas é a criação de uma

transportadora de bebidas que substitua as empresas que atualmente transportam os

produtos da leiteria aos principais centros comerciais do país. Para isso, porém, ao

menos uma dezena de membros deveria estar disposta a guiar a frota de caminhões24.

Mas, em razão da falta de interesse por este tipo de trabalho a idéia acaba sendo

abandonada e a oportunidade desaparece. O empecilho encontrado pela comunidade

para dar início a novos estudos de viabilidade econômica e financeira está na falta de

iniciativa e visão de negócios dos dirigentes. Além do risco de fracasso inerente a

qualquer novo negócio, a existência de uma comunidade para ser defendida, criada e

alimentada fez com que as decisões passassem a ficar cada vez mais complexas. Em

contrapartida, de tanto buscar e querer estar seguros de seu êxito, a comunidade se

arrisca a ficar cada vez mais vulnerável às crises e ameaças existentes. Para o Sr.

Haytman, a atual transição ideológica pela qual passa a comunidade, baseada na

exploração do homem pelo homem, é a principal responsável pela estagnação

econômica existente.

23 Moeda corrente de Israel. Símbolo: ₪. Em 2005, US$ 1 : ₪ 4,4820 (CBS, 2006, on line) 24 Neste ponto vale lembrar que, em Israel, diferente do Brasil, poucos são os casos em que os caminhoneiros têm mais do que 50 anos. Aos 55 anos, os caminhoneiros se aposentam, e por lei, eles são proibidos de dirigir.

38

“Seria uma maneira de oferecer aos membros uma forma de vida boa e decente. Antigamente, havia ao menos seis ou sete membros que a todo tempo trabalhavam nos caminhões. Hoje em dia não há mais. Se disser a um jovem que será preciso viajar, ele simplesmente não aceita porque às 16h quer estar com os seus filhos. Trata-se de uma mudança ideológica. Há dez anos, em Yotvata, se dissesse que na leiteria haveria obreiros assalariados, diriam que está louco. Naquele período não havia obreiros assalariados. Hoje em dia, trabalham 60 membros e mais ou menos 70 assalariados. Isso é uma mudança de ideologia. O kibutz, hoje em dia, fala em duas vozes. Por um lado fala-se em fraternidade, de economia solidária. Por outro, exploramos pessoas. O que simplesmente estamos fazendo é tapando-nos a vista e falando sem perceber o que temos à nossa frente. Paga-se aos assalariados e tudo fica resolvido. Passa-se a viver como um capitalista, ou de qualquer outra forma, que não aquela que havíamos escolhido (HAYTMAN, 2004)”.

A principal categoria do sistema marxiano, a mais-valia, oferece a chave para se

compreender toda a produção capitalista. Marx analisou com rigor histórico o

processo que deu origem a este modo de produção e buscou as premissas que

desvendavam o segredo da sua acumulação. Para ele, a assim chamada acumulação

primitiva é, principalmente, a dissociação entre produtor e seus meios de produção.

Para Marx, o único valor que realmente se cria no processo de produção é o valor

acrescentado pela nova quantidade de trabalho. Este valor se divide em trabalho

necessário, que reproduz o valor do trabalho, e em mais-trabalho, que excede o

trabalho necessário e cria a mais-valia. Na análise marxiana, o segredo do excedente

capitalista se esconde na jornada de trabalho: despojados dos meios de produção, o

trabalhador assalariado é obrigado a trabalhar mais do que o tempo necessário para

produzir seu sustento. Para viver, precisa entregar uma parte de seu tempo de vida ao

capital. Só assim o capital pode valorizar-se, criar mais-valia. O que, do ponto de

vista do capital, é mais-valia, do ponto de vista do trabalhador é mais-trabalho, que

supera a necessidade de manter sua vida. Assim, há dois métodos fundamentais para

aumentar o mais-trabalho. O primeiro chamado de mais-trabalho absoluto é o

prolongamento da duração do processo laboral, ou jornada de trabalho. O outro

chamado de mais-trabalho relativo – sendo fixa a duração da jornada – é o aumento

da produtividade, ou a intensificação do rendimento do trabalho, por meio do

desenvolvimento tecnológico. Para o autor, os desdobramentos na grande indústria

em relação à agricultura atuam na direção de revolucionar as relações de produção do

39

campo e patrocinar a mudança do camponês pelas relações de trabalho baseadas na

mão-de-obra assalariada. As necessidades de mudança social e as antíteses do campo

são, assim, igualadas às da cidade. No lugar da produção rotineira surge a aplicação

consciente da ciência e da tecnologia. A mais-valia cria, ao mesmo tempo, as

condições objetivas de uma síntese nova, mais desenvolvida, da união entre

agricultura (meio rural) e grande indústria (meio urbano). É um processo rico em

contradições. E junto com o progresso vem a anarquia da produção colocando para o

homem novos contra-sensos a serem superados. (MARX25, 1985, seções III e IV).

O kibutz mudou muito desde a época em que cada “membro” levantava cedo para

ir trabalhar e se dirigia ao local para o qual havia sido escalado. Naquela época, em

que o kibutz precisava de sua força, cada membro tinha que cumprir com a tarefa

estabelecida. O trabalho era uma meta por si só. Não importava o tipo de atividade

realizada, mas apenas que esta gerasse ganhos para possibilitar maior satisfação às

suas vidas. Hoje em dia, os membros querem decidir onde e com que trabalhar. O

trabalho tornou-se uma ferramenta, com a qual é determinado o nível de vida sócio-

econômico. Alguns deles, nem mesmo se esforçam em suas tarefas, ignoram a

importância de sua atividade e acomodam-se no trabalho dos demais. Compreensível

ou não, é incontestável o fato de que as relações humanas mudaram com o tempo.

“Na era do hipercapitalismo, as pessoas não apenas têm a impressão de que as possibilidades de encontrar a satisfação na vida são infinitas, como também são encorajadas a ser uma espécie de inventoras de si mesmas (...) nessa sociedade altamente individualizada, que prioriza as liberdades individuais sobre as causas de um grupo, o indivíduo enfrenta um ansioso e provocante dilema: ‘Quem eu sou para mim mesmo? ’” (SALECL, 2005, p. 11).

Outro problema observado refere-se à geração mais idosa que, ao sair da sua vida

economicamente ativa, não recebe novas tarefas para desenvolver. À medida que esta

geração não tem trabalho, aumentam os gastos com saúde e manutenção. Além dos

problemas naturais da velhice, os idosos passam a se sentir mal por não encontrar o

25 Traduzido MARX, Karl. Das Kapital – Kritik der politischen Okonomie. Ester Band. In: Karl Marx – Friederich Engels Werke (MEW). Band. 23. Dietz Verlag, Berlim, 1977. De acordo com a 4.ª edição revisada e editada por Friederich Engels. Hamburgo, 1890.

40

que fazer. Assim, faz-se necessário ao movimento kibutziano encontrar e construir

uma maneira de suprir as necessidades das pessoas que querem trabalhar e interagir.

Averiguam-se, ainda, problemas de cunho social que embora aparentemente

menos importantes, não deixam de ser menos evidentes. A cobiça de alguns

membros que não ocupam posições de destaque é um destes casos. A leiteria, por

exemplo, que eventualmente oferece benefícios-extras aos seus trabalhadores - como

viagens de férias, a fim de comemorar os bons resultados alcançados – gerou

conturbações dentro da comunidade. Alguns acreditavam que o melhor a fazer era

partilhar o prêmio entre todos da comunidade, ao invés de garantir benefícios para os

membros que trabalham na leiteria. Todavia, como a leiteria se converteu numa

empresa capitalista, nada se pôde fazer para influenciar nestas decisões. A distinção

salarial por critérios de responsabilidade é outro objeto de discórdia que vem sendo

abafada pela maioria, que vota pelos métodos originais do “coletivismo”,

permanentemente mantidos.

Contudo, ao tratar a questão do ponto de vista econômico, nota-se que os riscos

podem ser ainda maiores. Assim, uma crise no setor de lácteos, por exemplo, poderia

aniquilar com a existência do espírito comunitário. A dependência econômica

apoiada na leiteria traz um risco permanente para a vida do kibutz. Além do mercado

alimentício ser pouco rentável, não atinge os percentuais de ganhos dos mais altos,

quando comparado a setores da tecnologia da informação (TI) ou de eletro-

eletrônicos. O ramo também é totalmente dependente da matéria-prima fresca. Ainda

que com a existência do leite-em-pó, que poderia substituir esta necessidade, a

produção do chamado “leite puro para consumo” deve ser obrigatoriamente feito

com o leite fresco tirado da vaca. Este fato faz com que o mercado fique ainda mais

vulnerável às crises no setor. Assim, uma infecção de febre aftosa sobre o rebanho -

como as ocorridas em muitos países da América do Sul, dentre eles Brasil, Uruguai,

Paraguai, Peru, Chile, Venezuela e Equador - obrigaria o sacrifício de todo o gado e

consequentemente, a falência da fábrica de leite. Se, por outro lado, houvesse outro

centro de produção, esta crise, na pior das hipóteses, poderia ser equilibrada pelos

adventos deste outro centro produtivo e a comunidade não permaneceria à mercê da

leiteria. Seria menos danoso. Entretanto, havendo apenas um centro produtivo que

41

gera 75% de receita do kibutz, como existe hoje, o risco de desestruturação torna-se

realmente grande.

Estrategicamente, a união da leiteria de Yotvata com a empresa Strauss, em 1998,

não deixou de apresentar seus perigos à comunidade, já que esta nova empresa

passou a contabilizar 51% dos ativos da leiteria, na posição de sócia majoritária. A

decisão da Strauss em ter-se tornado uma companhia de capital aberto permanece à

deriva de qualquer ação especulativa, fazendo com que suas negociações afetem nas

atividades da leiteria. No momento da união, muitos membros não aceitaram a

relação de trabalho que passaria a prevalecer na leiteria e apenas alguns poucos

permaneceram nesta atividade. Com isso, gerou-se oportunidade para a entrada da

mão-de-obra assalariada de fora do kibutz às atividades da leiteria. Como

conseqüência houve a migração dos salários, que seriam destinados à repartição da

comunidade, para a mão dos assalariados.

Figura nº. 3.2

Densidade populacional do Estado de Israel em 2005Fonte: CENTRAL BUREAU OF STATISTICS, 2006, on lineDensidade populacional do Estado de Israel em 2005Fonte: CENTRAL BUREAU OF STATISTICS, 2006, on lineDensidade populacional do Estado de Israel em 2005Fonte: CENTRAL BUREAU OF STATISTICS, 2006, on line

Também já não há argumentos

econômicos ou financeiros que defendam

a permanência física da leiteria no extremo

sul do país, senão o de uma planta

industrial já montada e a pouca mão-de-

obra especializada que existe. Atualmente,

a leiteria está localizada no próprio kibutz

Yotvata, longe dos principais centros de

distribuição, tais como Tel Aviv, Haifa e

Beer Sheva, concentrados na porção norte

do país (Figura nº. 3.2). O alto custo com

transporte, associado à crescente mão-de-

obra trazida de fora, poderia servir de

argumento para a Strauss decidir

transportar a fábrica para outra localidade

ocasionando, assim, novas dificuldades

para a comunidade do kibutz.

42

Porém, o maior perigo ao qual Yotvata está sujeito é o de que os membros não

queiram seguir compartilhando os ideais. Se isto ocorrer, todas as necessidades

primárias e os benefícios comuns, tais quais educação, saúde, refeitório, lavanderia,

sistemas de saneamento e eletricidade, cederiam espaço a uma nova dinâmica de vida,

diferente daquela que o originou.

3.2 A leiteria e o seu funcionamento.

A leiteria de Yotvata foi fundada em 1962 com o objetivo de processar o leite do

próprio rebanho às necessidades de Eilat, a cidade mais próxima da região. A sua

criação colocou por terra errôneas teorias de que naquele lugar, no meio do deserto,

os rebanhos de leite não seriam praticáveis. Assim, tanto a sua idealização, como o

funcionamento do seu projeto tornaram-se realidade. Acreditou-se, desde o início,

que mesmo com o árduo calor e a água salina do deserto seria possível cultivar

produtos para a alimentação do gado e estabelecer um rebanho capacitado.

Nos anos seguintes, a leiteria passou a produzir entre 500-800 mil litros de leite

por ano e a linha de produção foi limitada ao leite, aos iogurtes e aos cremes de leite.

A fábrica foi inteiramente colocada em funcionamento por quatro membros, dando-

lhe, então, uma atmosfera familiar. A partir de 1979, a leiteria de Yotvata expandiu

seu mercado para o norte, na cidade de Beer Sheva, e hoje seus produtos são

encontrados por todo o país. A variedade dos produtos cresceu com a inclusão do seu

famoso leite achocolatado, o choco Yotvata, bem como dos danones, iogurtes com

frutas, pudins, flans, além dos queijos brancos.

A mudança administrativa ocorrida, após a fusão com a Strauss, permitiu com

que a leiteria desse um grande salto qualitativo no ano 2000. Além da instalação de

novos recursos da tecnologia da informação e comunicação (TIC), que garantiu o

aumento de 20% nos ativos da empresa, a marca ganhou reconhecimento nacional

que, senão maior, passou a ser ao menos igual ao da própria Strauss, ou até mesmo

da sua sócia, a multinacional Danone. A leiteria, deste modo, se tornou referência em

consumo de leite em todo o país. O efeito da mudança refletiu também sobre a linha

de produtos, que a partir de então foi dividida. As linhas de iogurtes, flans e danones

43

passariam a ser integralmente produzidas pela Strauss, e a linha de bebidas lácteas

ficaria sob responsabilidade de Yotvata.

Quanto ao processamento do leite, o de Yotvata é considerado o mais avançado

quando comparado a outras empresas do setor, tanto em Israel, como no ranking

internacional. Além de vida útil bem acima da normal, seus produtos apresentam

todas as conformidades solicitadas pelos padrões internacionais, tais quais adequados

controles de frescor e qualidade, de acordo com os padrões ISO 9002 e ISO 14001.

No início de 2002, foi decidido pela então leiteria Strauss-Yotvata o

desenvolvimento de produtos que também atendessem às necessidades dos

religiosos, os produtos kosher. Ainda que com alto potencial para demanda, o

público religioso não podia ser atendido. Por esta razão foi adquirida uma nova

planta industrial, chamada Aviv, que com a aprovação do rabinato passou a produzir

para este novo nicho. Atualmente, a leiteria Aviv produz uma variedade de 12

produtos.

Como estratégia para maximizar os lucros, a leiteria incrementa o volume das

suas vendas e tenta gerar e agregar maior valor aos seus produtos. Segundo Dubby

Goldman, diretor de produção da fábrica, “o grande enigma da leiteria de Yotvata é

de como manter suas altas taxas de crescimento, conforme vinha praticado entre os

anos de 1998 e 2004, quando obteve 110% de crescimento”. Atualmente, seu

faturamento é da ordem de 300 milhões de shékels (US$ 67 milhões). A fábrica

conta com 120 funcionários, dos quais aproximadamente 50% são assalariados e não

residentes do kibutz. Anualmente são recebidos 40 milhões de litros de leite como

matéria-prima e produzidos 60 milhões de litros em bebidas a base de leite para

consumo. A distribuição de lucro da leiteria é dividida entre Yotvata e sua sócia

majoritária, a companhia Strauss, de maneira que uma parte é direcionada à re-

capitalização, ou investimentos em ativos, enquanto a outra é destinada à receita do

kibutz e, posteriormente, dividida entre os seus membros.

Toda a regulamentação e transparência entre os agentes do processo de produção

são vitais para o funcionamento e credibilidade do setor. O incentivo fiscal gerado a

produtores e fabricantes e o próprio relacionamento entre ambos são as peças

fundamentais para o progresso do sistema.

44

Em Yotvata, o processo de compra, produção e distribuição dos produtos lácteos

atravessam diversas fases da cadeia produtiva, como segue: alimentação e vacinação

dos rebanhos, sistema de ordenha, transporte e fornecimento do leite para a leiteria,

controle de qualidade, recepção do leite, tratamento, preparação dos produtos,

empacotamento da produção e distribuição dos produtos finais para os principais

centros de distribuição.

Hoje, o rebanho do kibutz Yotvata é considerado grande para os padrões

israelenses. Conta com 590 vacas em ordenha da raça holando-israelense, que é uma

variação da holando-americana, porém adaptada para o clima desértico. Em 2003, a

equipe de trabalhadores recebeu o prestigioso prêmio "Kaplan", em razão dos

eficientes métodos de trabalho utilizados, bem como pela qualidade da ração dada às

vacas, que leva em conta as difíceis condições climáticas do Arava.

Metade do orçamento destinado ao rebanho das vacas é gasto em alimentação.

Por isso, a maneira como a ração é administrada reflete diretamente à qualidade, bem

como os percentuais de gordura e proteína do leite produzido. A receita do rebanho é

oriunda da venda do leite à leiteria, da venda dos bezerros - que não são

domesticados - e das vacas velhas vendida ao abate. A dieta alimentar do rebanho é

elaborada pelo Sr. Zeev, membro do kibutz e um dos mais respeitados agrônomos de

Israel. Seu objetivo é a maximizar a produção do leite com a realização do menor

investimento necessário (Figura nº. 3.3). “A regra de que o lucro é maximizado

quando a receita marginal for igual ao custo marginal é válida para todas as

empresas, sejam competitivas ou não” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 320).

Figura nº. 3.3

Uma empresa escolhe o nível de produção q*, de tal forma que o lucro, correspondente à diferença AB entre a receita R e o custo C, é maximizado. Neste nível de produção, a receita marginal (isto é, a inclinação da curva da receita) é igual ao custo marginal (isto é, a inclinação da curva de custo) (Op. cit., 1994, p. 321).

Nível de Produção(unidades por período)

Cus

to, R

ecei

ta, L

ucro

s($

por

per

íodo

)

q*q0

L (q)

R (q)C (q)

A

B••

Maximização de lucros a curto prazoFonte: Elaboração do autor baseado em PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 321

Nível de Produção(unidades por período)

Cus

to, R

ecei

ta, L

ucro

s($

por

per

íodo

)

q*q0

L (q)

R (q)C (q)

A

B••

Maximização de lucros a curto prazoFonte: Elaboração do autor baseado em PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 321

45

A elaboração da ração consiste na mistura de vários ingredientes, dentre os quais

soja, milho, trigo, ervilha, cevada, algodão, adubo, água, sal e vitaminas. O alimento

é inicialmente lançado no interior da caçamba de um caminhão informatizado que,

posteriormente, tritura os alimentos. Em seguida a ração é repartida entre os cinco

grupos pertencentes ao rebanho, de acordo com a quantidade a ser consumida por

cada animal (Figura nº. 3.4). Segundo um dos tratadores dos animais, o chileno Max,

que há poucos anos reside em Yotvata, “é importante que quando as vacas retornem

da ordenha, a comida esteja colocada, para que ao invés de se estirarem para dormir,

elas voltem a comer enquanto aguardam a ordenha seguinte”.

Enquanto cada grupo aguarda para receber a ordenha, os animais são refrescados

com esguichos de água que, segundo os especialistas, os ajuda a relaxar das altas

temperaturas do deserto (Figura nº. 3.5). Posteriormente, cada grupo, na sua vez,

segue para o ordenhador mecânico, no formato de um “carrossel” na horizontal,

capaz de realizar 48 ordenhas simultâneas. O “carrossel” possui um módulo remoto

que calcula e monitora a quantidade de litros de leite a serem ordenhados, bem como

a distância percorrida diariamente por cada um dos animais. Através de um processo

de pressão e sucção a vácuo das suas válvulas, cada um dos 48 ordenhadores

mecânicos realiza a ordenha. Em seguida, cada vaca recebe na região mamária uma

loção esterilizante de iodo líquido, como medida profilática às doenças infecciosas.

Antes de retornar ao estábulo, todo animal é rigorosamente pesado, logo que sai do

“carrossel”. Três ordenhas são diariamente feitas em todo o rebanho – às 5hs, às 12hs

e às 20h.

Figura nº. 3.4 Figura nº. 3.5

Distribuição da ração entre os grupos do rebanhoFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on line

Distribuição da ração entre os grupos do rebanhoFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on line

Ducha de água antes da ordenha matinalFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on lineDucha de água antes da ordenha matinalFonte: HOJMAN & MALUL, 2004, on line

46

Ainda que com o grande número de animais, apenas três trabalhadores são

necessários à realização desta tarefa: enquanto os dois primeiros são os responsáveis

pela colocação das válvulas e pela esterilização dos animais, o terceiro, além de levar

todo o rebanho para o ordenhador, também leva o leite aos recém-nascidos. Em

Yotvata, cada vaca produz de 25 a 35 litros de leite/dia, o que perfaz um total de 18 a

23 mil litros de leite produzidos diariamente no kibutz.

A matéria-prima, o leite, ainda é, em princípio, fornecida pelo próprio rebanho do

kibutz Yotvata. Entretanto, outros 12 fornecedores, dentre kibutzim e moshavim da

região, também fazem parte deste arranjo produtivo e respondem por 85% do

fornecimento de leite à leiteria (Tabela nº. 3.1).

Tabela nº. 3.1

Yotvata 5.790.938 14%Elifaz 2.623.476 6%Tallim 2.708.476 7%Masavi Sada 2.851.900 7%Ketura 2.848.000 7%20 Refet 2.364.791 6%Noah Rarif 2.285.000 5%Lotan 2.623.476 6%Grofit 2.846.810 7%Moshava Ovdim1 3.513.409 8%Iael 2.708.476 7%Ralav Arava 5.658.182 14%Samar 2.769.066 7%TOTAL 41.592.000 100%1 sete produtores

Fonte: Elaboração do autor baseado em dados da LeiteriaYotvata

Percentual do produtor

Fornecimento de leite em 2004

Produtor Fornecimento anual (litros)

Deste modo, a leiteria recebe diariamente cerca de 114 mil litros de leite. A

matéria-prima vinda dos outros kibutzim é transportada em tanques refrigerados a

4ºC durante um prazo de até 1,5 dias. Já o leite do rebanho de Yotvata, após a

ordenha, segue através de um sistema de tubulação esterilizado e sem qualquer

contato manual direto para um reservatório, onde é automaticamente resfriado para

0ºC, a fim de resguardar suas propriedades alimentícias. Em seguida, o leite é

armazenado em reservatórios maiores, os silos, de onde segue, junto ao leite de

todos os outros kibutzim, para ser processado. O leite de um dia nunca pode ser

47

misturado com o do dia anterior sendo submetido ao sistema FIFO (first in, first out

- o primeiro que entra é o primeiro que sai).

O tratamento e armazenamento do leite precisam seguir alguns métodos de

controle de qualidade, que devem ser preservados durante todo o processo de

produção. Isto permite, por exemplo, com que seja inspecionada a provável causa da

excessiva produção de bactérias, bem como a evidência de mastites, adulterações,

entre outros. “A plataforma de recebimento do leite é o ponto chave na relação de

sua qualidade com seus produtos. Por isso, a pessoa que o inspeciona é a figura

chave do processo” (ABOUSSALAM, 1962, p. 67). O teste de plataforma tem como

objetivo aprovar ou reprovar a chegada do leite e por isso deve ser feito de forma

rápida e eficaz. Segundo Kiki Mayer, diretor de recepção e relacionamento entre os

fornecedores de leite, “hoje em dia, em razão de novos métodos de adulterações,

Yotvata conta equipamentos específicos para análise de acidez, antibiótico, proteína

e água”. Todos os dados referentes à origem do leite – como fornecedor, número do

caminhão, nome do motorista e número da nota fiscal – são armazenados no sistema

operacional para que possam ser gerenciados. Mayer afirma que “em caso de

rejeição da matéria-prima, o leite não é recebido e ao fornecedor nada é creditado”.

Finalmente aceito, o leite é submetido aos testes de composição - gordura, proteína,

lactose, células somáticas, sedimentos e coliformes - para determinar as bases do seu

pagamento.

Pronto para ser utilizado, o leite passa pelo processo de infusão – composto por

um método simultâneo de pasteurização e homogeneização – que garante, entre

outros, a eliminação de bactérias patogênicas que azedam o leite, a elaboração do

sabor e a mistura de todos os componentes para a formação do produto final. Feita a

infusão, os produtos são resfriados e transferidos para suas respectivas embalagens.

Em seguida, as embalagens são colocadas em pallets e direcionadas ao refrigerador,

de onde só saem para serem levadas às centrais de distribuição, de onde são

posteriormente encaminhadas aos mais de cinco mil pontos de venda espalhados por

todo o país.

O maior mercado de consumo dos produtos lácteos se concentra no centro-norte

do país, onde estão localizadas as maiores cidades de Israel. Tel Aviv, Haifa e Beer

48

Sheva representam à leiteria as suas três centrais de distribuição, cada qual recebendo

65%, 20% e 15% da totalidade da produção, respectivamente.

Todos os produtos da leiteria, incluindo leite e seus derivados são produzidos

com a mais alta tecnologia e mão-de-obra especializada, pertencentes ao kibutz, ou

mesmo à cidade vizinha, Eilat. No que se refere às bebidas lácteas, o atual mercado

israelense garante espaço para o “leite branco”, o “leite em cultura”, que apresenta

maior percentual de cálcio, e às “bebidas lácteas com sabor”. Segundo Goldman, “a

previsão para a produção em Yotvata é estimada em um intervalo que varia entre 14 e

21 dias, em virtude, principalmente, da sensibilidade ao perecimento deste portfolio

de produtos”.

Conforme definição pelo Estado tanto do congelamento dos preços, como à cota

e à própria produção, o “leite branco”, que contém 2% de gordura, é caracterizado

pelo baixo dinamismo de mercado e alto grau de concorrência, ainda que a sua

produção gere pequena margem de lucro.

Apesar da forte competição, a linha do chamado “leite em cultura” representa o

maior volume de produção para Yotvata, que mantém a segunda posição neste

mercado, atrás da líder Tnuva. Trata-se do único mercado em expansão na linha de

lácteos. Substitutos perfeitos do “leite branco”, as linhas do “leite em cultura”

gradativamente atraem os consumidores, que passam a substituir o consumo do

primeiro pelo segundo. Segundo Pindyck, “dois bens são substitutos perfeitos

quando é constante a taxa marginal de substituição de um pelo outro” (PINDYCK &

RUBINFELD ,1994, p. 84).

Outro aspecto diz respeito à inserção do “leite em cultura” na competição pelos

mercados discriminados.

“O ideal seria poder cobrar mais dos consumidores que estejam dispostos a pagar mais do que P, captando, portanto, uma parte do excedente do consumidor (...) A discriminação de preços do terceiro grau divide os consumidores em dois ou mais grupos. Esta é a forma predominante de discriminação de preço. No caso da empresa produtora de bebidas, ou dos produtos alimentícios Premium versus produtos não-Premium, a própria etiqueta faz a divisão dos consumidores, já que muitos estariam dispostos a pagar mais por uma marca de nome, embora o produto não-Premium seja idêntico ou quase idêntico, e, portanto, mais barato”. (Op. cit. p. 483,491).

49

O “choco”, espécie de achocolatado e carro chefe na linha de “lácteos com

sabores”, é hoje, nas suas diversas versões de embalagens – 250ml, 330ml, 0,5l, 1l e

2l - o produto que gera maior margem de lucro à empresa. “Com lucro estimado

entre 75-80% do total do portfolio, o produto consome aproximadamente 30-35% da

matéria-prima recebida e garante a Yotvata o controle do mercado de ‘lácteos com

sabores’, no qual chega a possuir 60% de market share” (MAYER, 2004).

A linha de vitaminas e milk shakes são sazonalmente lançadas e permanecem no

portfolio por períodos de até seis meses. Entretanto, estes produtos, que incrementam

o leque de “lácteos com sabores” estão sujeitos a deixar o mercado no mesmo

instante em que sua escala de produção for insuficiente para geração de lucro. “A

operação em maior escala permite com que administradores e funcionários se

especializem em suas tarefas e façam uso de instalações e equipamentos mais

especializados e de grande escala” (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 243).

Assim, a grande dificuldade da produção experimental surge mediante ao

encarecimento da produção em pequena escala.

Por fim, a linha do chamado salty cream (iogurte salgado), completamente

dominada pela concorrente Tnuva, não sofre qualquer intenção de desenvolvimento

ou fortalecimento. Sua produção fundamentalmente existe pelo reaproveitamento do

excesso de gordura retirada do leite recém-saído da vaca, em proporções médias de

3-4% para a produção dos produtos lácteos com menos porcentagem desta

substância.

No mercado de bebidas lácteas não existe guerra de preços. Por um lado, porque

o congelamento aplicado pelo Estado ao preço do “leite branco” não permite

qualquer tipo de variação inflacionária. E, por outro, porque no mercado de “leite

com sabores”, onde há grande disputa com a Tnuva, Yotvata mantém uma estratégia

de elevação de até 20% do seu preço acima do preço da concorrente. A qualidade e a

durabilidade dos produtos garantem a Yotvata o reconhecimento do consumidor, que

atribui à marca a de melhor satisfação entre as concorrentes. Para que isso seja

constatado, basta andar pelas ruas, verificar as prateleiras dos supermercados ou

questionar uma criança.

Para o seu crescimento, Yotvata busca a especialização dos seus fornecedores. A

partir dos incentivos auferidos pela leiteria, os produtores garantem que a qualidade

50

do leite supere a média do fornecimento no país. Tal medida faz com que a marca

alcance maior credibilidade diante de seus consumidores, além de atrair novos

fornecimentos, antes dirigidos para os concorrentes (Quadro nº. 3.1).

Quadro nº. 3.1

Modalidade FinanceirosEmpresa Critério Incentivo Critério Incentivo Incentivo

Fonte: Elaboração do autor baseada em dados da Israel Dairy Board (IDB) e Leiteria Yotvata

IDB

Desconto de 1% no pagamento

Empréstimos a juros de 0,25%/ mês e

pagtos. em fornecimento de leite

Yotvata menos de 140.000 cél. somáticas/ml

Qualidade do leite Células somáticas presentes no leite

menos de 30.000 bactérias/ml

Desconto de 0,4% no pagamento

menos de 230.000 cél. somáticas/ml - -

menos de 5.000 bactérias/ml

Desconto de 1% no pagamento

Incentivos extras oferecidos por Yotvata ao produtor, pelo fornecimento do leite de boa qualidade

O incentivo extra sobre a qualidade chegou ao patamar de 5.000 bactérias/ml de

leite após uma medida que teve início com 10.000 bactérias/ml de leite, sendo

reduzida paulatinamente, a fim de não haver desestímulo aos produtores.

O incentivo às células somáticas será provavelmente extinto, pois o número com

menos de 230.000 cel. somáticas/ml de leite, estipulado pela IDB, é suficiente para

garantir a ótima qualidade do leite a ser consumido.

Yotvata possui uma estratégia de marketing para cada uma de suas linhas de

produtos, averiguadas pela variedade de embalagens (Figura nº. 3.6). Desta maneira,

além do atendimento ao público infanto-juvenil, principal nicho, também recebe

aprovação do público adulto. Para desenvolvê-las, diversas tentativas são realizadas

de acordo com a preferência do público. Deste modo, as embalagens em saquinhos,

as líderes de venda, vão para mini-mercados, escolas e camping de verão, enquanto

as garrafas de 1 e 2 litros, destinadas às famílias, são entregues nos grandes

supermercados.

Neste aspecto, a parceria com a empresa Strauss não surgiu simplesmente para

alcançar o domínio do mercado de bebidas lácteas, mas também para pulverizar sua

distribuição por todos os cantos e não somente no Centro-Sul do país. Desta maneira,

seja pelo menor custo pago aos comerciais de televisão e revistas ou pelo melhor

posicionamento nos pontos de venda (PDVs) usados nos supermercados, Yotvata

ganhou maior força para continuar competindo.

51

Figura nº. 3.6

250 ml 330 ml 1 l 2 l 1 l 500 ml

CHOCO Yotvata – Família de embalagensFonte: Leiteria Yotvata

250 ml 330 ml 1 l 2 l 1 l 500 ml250 ml 330 ml 1 l 2 l 1 l 500 ml

CHOCO Yotvata – Família de embalagensFonte: Leiteria Yotvata

No atual cenário da economia israelense, a saturação do setor de bebidas lácteas

já é uma ameaça para a leiteria. Segundo Dubby Goldman, “a única saída é a criação

de novos tipos, ou linhas de produtos, que além da incessante busca pela melhoria da

qualidade e maior valor agregado, também possam gerar novas oportunidades”.

Já a recente sociedade da empresa Tara com a Companhia Coca-Cola não chega a

ser motivo de preocupação para Yotvata. Mas um alerta foi lançado e a hipótese de

que uma companhia possa vir a disputar seu principal mercado - o de “lácteos com

sabores” - não foi descartada. Todas as decisões da leiteria, desde os novos

investimentos até os critérios para relação com os fornecedores precisam receber o

aval do Sr. Nir, membro do kibutz que, desde 1997, está no comando da companhia.

Entre outras mudanças, ele decidiu realizar a parceria junto com a empresa Strauss e

substituir a mão-de-obra não especializada do kibutz pela mão-de-obra assalariada

vinda das imediações. Como resultado, obteve-se 20% de incremento sobre o

faturamento do ano de 2003, além da especialização das atividades da leiteria.

Para redução dos custos, algumas medidas são apresentadas, entre elas, a

customização do frete referente ao transporte da mercadoria que, em dada época,

teve seu preço elevado em apenas 4%, após um aumento de 25% do preço do barril

do petróleo. Assim, o preço que antes era de 0,72 shékel/litro (US$ 0,16/litro) passou

a ser 0,75 shékel/litro (US$ 0,17/litro), ao invés de 0,90 shékel/litro (US$ 0,20/litro).

52

Licitações para a construção de estradas de ferro poderiam gerar alternativas à

redução dos custos, embora já aprovadas, ainda não foram iniciadas pelo governo.

Quanto aos investimentos internos, eles devem ser solicitados por cada chefe de

setor diretamente à comissão diretora da fábrica que, por sua vez, pode ou não deferir

o pedido. Uma vez aprovada, a solicitação segue para a direção da Strauss para uma

nova rodada de aceitação, mediante a análise dos relatórios de target e budget

(objetivos e orçamento).

A administração dos fornecedores é feita pela leiteria, que controla diariamente a

entrega do leite e os pagamentos a cada fornecedor. Além disso, oferece créditos

quinzenais antecipados e bonificações, que são pagos no encerramento de cada mês.

As bonificações obedecem a um sistema rígido e uniforme de pagamento a seus

fornecedores, baseado no volume individual (sistema de cotas) e na qualidade do

leite entregue. Se no inverno a produção não exceder a cota, no verão serão pagos

75% adicionais ao preço do leite para a produção acima da cota. Já, se no inverno a

produção exceder a cota, além de serem pagos apenas 45% do preço do leite à

produção excedente – que nem mesmo cobre os custos de transporte e armazenagem

– é oferecido apenas 30% do preço do leite para a produção acima da cota do verão

do mesmo ano. Este incentivo pressiona os produtores a regularem o ciclo de seus

rebanhos de forma que a maximização da produção, que geralmente ocorre no 3º mês

após o parto, ocorra justamente no primeiro mês da estação do verão, quando há

aquecimento da demanda pelo produto. Todavia, como a vaca dificilmente acasala-se

sob as altas condições de temperatura do período de verão (40ºC-45ºC), poucas são

as chances de que uma inseminação gere resultado (20% de sucesso). Estas

bonificações correspondem hoje ao principal fator de incentivo à especialização do

produtor (Figura nº. 3.7).

A leiteria de Yotvata apresenta ótimo relacionamento com seus fornecedores. De

maneira geral, cada fornecedor visitado mostra-se contente e cada vez mais

incentivado a dar continuidade ao trabalho. Os poucos casos de desentendimentos

registrados foram contornados com sucesso.

53

Figura nº. 3.7

Ciclo de produção da vaca em IsraelFonte: Elaboração do autor

Outono

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

CriaSecagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Habitual

Outono

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

Cria

Secagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Ideal

Ciclo de produção da vaca em IsraelFonte: Elaboração do autor

Oton

ou

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

CriaSecagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Habitual

Oton

ou

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

CriaSecagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Oton

ou

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

CriaSecagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Habitual

Outono

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

Cria

Secagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Ideal

Outono

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

Cria

Secagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Outono

10

11

12 1

2

3

4

5

67

8

9

VerãoPrim

avera

Inverno

Cria

Secagem

Maximizaçãoda produção

1ª tentativa de inseminação

Ciclo Ideal

A leiteria conta, hoje, com uma equipe de engenharia formada por quatro

especialistas, membros do kibutz responsáveis pelo sistema de automação, que há

mais de 15 anos vem sedo desenvolvido em suas instalações. Seus esforços são

concentrados tanto no monitoramento do sistema já instalado quanto no

desenvolvimento de novas técnicas que visam à expansão do parque industrial e à

redução dos custos correntes. Trata-se, portanto, do desenvolvimento de métodos

sofisticados para o controle de toda operação e processamento dos produtos, que vai

desde a recepção da matéria-prima até a montagem dos pallets destinados à

distribuição para o consumidor final. Toda criação, design e tecnologia são criados

pela própria equipe.

Deste processo fazem parte diversos grupos de máquinas, cada qual dirigida para

uma diferente etapa de produção. Destacam-se, entre elas, o complexo de máquinas

para limpeza e higienização dos equipamentos - as quais armazenam ácidos e fortes

detergentes industriais -; as máquinas de resfriamento e congelamento da matéria-

prima; para pasteurização e homogeneização (infusão); e para o empacotamento do

produto final, dentre outras. Todas as válvulas são monitoradas por uma interface

que liga tais máquinas a um computador central, permitindo o gerenciamento e a

manutenção dos problemas de forma rápida, eficiente e menos custosa para a leiteria.

Assim, este sistema permite o gerenciamento de perdas e danos, que podem colocar

54

em risco as instalações. Para demonstrar a transparência e a qualidade do seu

trabalho, a equipe desenvolveu dentro do site do kibutz, uma página que exibe todos

os detalhes a respeito da sistemática criada. Desta maneira, todo membro pode ter

acesso para acompanhar as etapas de produção da fábrica.

Ainda que com potencial para expansão, os engenheiros acreditam que o

aumento do parque industrial já está muito perto do seu limite. Não por falta de

espaço, mas pela saturação do mercado que só lhes garante espaço para a adoção de

técnicas cada vez mais eficientes que contribuam com a diminuição dos custos de

produção.

Apesar do cenário difícil, tal medida garante que neste kibutz, no coração do

deserto, seja realmente possível que o empenho de um grupo de moradores supere

todas as adversidades naturais para que eles possam se tornar um exemplo de vitória

no país. Como um dos principais competidores do mercado de lácteos, Yotvata

destacou-se por sua ousadia e, ainda hoje, apesar das mudanças, permite com que os

seus moradores desfrutem dos benefícios construídos.

55

CONCLUSÃO

A investigação que agora toma o seu curso final não pretende sugerir um modelo

sócio-econômico que apresente uma resolução para os problemas existentes em uma

sociedade. Após séculos de estudos dos mais diversos economistas consagrados por

seus legados, seria muita pretensão querer diagnosticar e solucionar em tão poucas

páginas um rumo exato para qualquer problema de escassez em sociedades tão

diferentes espalhadas pelo mundo. Afinal, “o desempenho econômico é função das

instituições26 e da sua evolução” (NORTH, 1994, p. 9).

Pelo contrário, este estudo retrata a ousada atitude de jovens judeus oriundos de

todos os cinco continentes, que desafiaram suas vidas em busca de um ideal e do

sonho de autonomia frente a um período bastante conturbado, cheio de guerras e

perseguições, como ocorrido no século XX.

Mas não se pode deixar de considerar as expressivas conseqüências econômicas

registradas no país em razão da existência dos kibutzim. É inconcebível pensar a

trajetória do Estado de Israel sem levar em conta o importante papel que o kibutz

desempenhou pela luta da sua independência e estruturação do caráter econômico do

país. Baseado em projetos socialistas “a comunidade kibutziana produziu uma

mudança drástica na velha ordem social: no sistema da propriedade, nos métodos de

produção, na divisão de trabalho, nas bases familiares, no sistema educacional e no

caráter das relações humanas” (ROSENTHAL, 1992, p. 47).

No período de pressões mercantis, que marcaram os anos 50 e 60, quando o país

precisava reverter sua balança comercial, mais uma vez as pequenas comunidades

foram acionadas para ajudar. Assim, inspirados por um espírito de ação conjunta, os

tais kibutznics novamente salvaram a pátria. A partir de então os assentamentos, de

forma mais do que justificada, passaram a fazer parte dos planos de desenvolvimento

de Israel. A agricultura passou então a interagir com a indústria e cedeu espaço às

atividades agro-industriais. Depois disso, novas tecnologias ganharam espaço para

desenhar o novo portfolio oferecido pelas comunidades.

26 Segundo o autor, as instituições constituem as regras do jogo, formais e informais, de uma sociedade, ou seja, os limites estabelecidos pelo homem para disciplinar as interações humanas.

56

É bem verdade que estes “laboratórios” de pesquisa e desenvolvimento

começaram a perceber mudanças no seu dia-a-dia. Nos anos 70, o mundo capitalista

ganhou força e, nos 80 e 90, passou a ter mais expressão por todo o país. Apesar de

toda a resistência criada, até mesmo estes assentamentos oriundos por ideais

comunitários começaram a viver a temida globalização capitalista. Indiferente, não

fazia mais sentido às novas gerações fomentar os sonhos dos seus pais ou avós.

Novos modelos de negócios, mais ágeis e dinâmicos, começaram a prevalecer e os

kibutzim lentamente começaram a sucumbir. Como diria Charles Darwin27, “a

Seleção Natural28 é o processo essencial da evolução” e, assim, quem obtiver a

melhor destreza em seus movimentos estará mais apto à sobrevivência.

Atualmente, porém, é importante salientar que apenas 1% dos mais de 3,7

milhões de trabalhadores espalhados pelos kibutzim de Israel é capaz de movimentar

mais de 10% de toda a atividade comercial do país. Com mais de um século de

existência, fica mais do que evidente que o potencial de pequenas comunidades

distribuídas pelo país pôde ser uma alternativa consistente para o desenvolvimento da

economia desta região.

Entretanto, a situação macroeconômica instável de Israel dificulta a criação de

novas frentes de trabalho associadas à geração de renda da população. “Os

israelenses atualmente preferem ficar em casa recebendo dinheiro do seguro

desemprego a pegar na enxada” (HEBRAICA, 2007, p. 41). Ao invés de promover

políticas monetárias expansionistas, o governo vem ineficientemente aplicando

incentivos fiscais, que não têm conseguido nem mesmo solucionar a problemática da

pobreza.

Embora haja a exportação dos produtos agrícolas para a Europa, Japão e EUA,

kibutzim e moshavim atualmente encontram na mão-de-obra de tailandeses o sucesso

27 “Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" - do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life -, ele introduziu a idéia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza” (WIKIPÉDIA, 2007, on line). 28 “O conceito básico de seleção natural é que as condições ambientais (isto é, a "natureza") selecionam quão bem uma determinada característica de um organismo que ajuda na sobrevivência e reprodução desse organismo. À medida que as condições ambientais não variem, ou permaneçam suficientemente similares, essas características continuam a ser adaptativas e elas tornar-se-ão mais comuns na população” (WIKIPÉDIA, 2007, on line).

57

por detrás da agricultura de ponta do deserto e, assim, dão mais uma amostra da sua

nova face, expressa pela constante busca pela mais-valia.

Contudo, da mesma forma que no mercado de lácteos, o apoio governamental se

expande para várias outras áreas e tem um propósito econômico que vai além do

lucro: ajudar os produtores a planejar a sua produção e estruturar uma economia

segura, de forma que o alinhamento dos preços ao mercado garanta benefícios

mútuos a produtores e consumidores. Em razão dos baixos custos de transação29, o

mercado pôde beneficiar-se das informações sobre as mercadorias comercializadas,

levando à sua expansão. Isso explica como o país consegue ter sucesso nas suas

relações de troca, permitindo maiores ganhos comerciais e garantindo o bom

funcionamento do seu sistema econômico. Assim, “um mercado eficiente é

conseqüência das instituições que, em determinado momento, oferecem avaliação e

execução contratuais de baixo custo” (NORTH, 1994, p. 12).

Em Yotvata, assim como nos outros diversos kibutzim existentes no país, os

benefícios destas políticas são conferidos à medida que sua produção integra este

propósito. Ainda que diversos desses assentamentos venham encontrando

dificuldades para continuar a sua existência, o kibutz Yotvata vem bravamente

resistindo às diversas pressões e obtendo êxito no mercado para o qual está inserido.

Entretanto, “para que a eficiência seja duradoura, é essencial que a instituição

apresente políticas econômicas flexíveis, que se adaptem as novas oportunidades

existentes (...) Tem que oferecer incentivos para a aquisição de conhecimentos e

instrução, promover inovações e estimular a disposição de correr riscos” (Op. cit.,

1994, p. 13).

Embora seja excepcional a existência de um mercado ideal, sendo os perdedores

compensados para que a transação seja compensatória também para eles – tudo isso a

um custo de transação zero, no qual, em última instância, resultaria no mais alto

ganho agregado possível –, a tarefa a ser cumprida será estruturar o arcabouço

institucional de cada nação de forma a chegar o mais próximo possível deste modelo.

(Op. cit., 1994, p. 20). 29 Custos de transação podem ser definidos como aqueles a que estão sujeitas todas as operações de um sistema econômico, que, no entanto, não produzem nada do que os indivíduos consomem tais quais a burocracia, o tamanho do mercado, o cumprimento das obrigações assumidas e a ideologia existente em um país.

58

Fica assim a sugestão a fim de que melhor se possa compreender que os

incentivos prestados às pequenas comunidades - sejam elas um kibutz, moshav,

cluster ou qualquer outro tipo de APL (arranjos produtivo local) – apresentam o

potencial de criar vários caminhos alternativos para colaborar de forma decisiva para

o melhor desempenho econômico de um país. Contudo, apenas com a divulgação

efetiva dos seus resultados é que se terá uma avaliação precisa dos custos e

benefícios de tais políticas e alternativas.

59

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABOUSSALAM, M. World Milk Organization. Milk Hygiene: Hygiene in Milk

Production, Processing and Distribution. Geneva, 1962.

ASHKENAZI, Eli. No money for jingles in kibbutz campaign. Haaretz: News. Tel

Aviv , December 29, 2004. p. 4.

AURORA, Jornal. 1,43 millones de habitantes vivían bajo el umbral de la pobreza

em 2003. Eilat, 25 de noviembre de 2004.

AURORA, Jornal. La reforma favoreció a los ricos. Cuaderno de Economía. Eilat,

2005. p. 12.

AURORA, Jornal. Situación Económica y Social de Israel. Cuaderno de Economía.

Eilat, 29 de julio a 04 de agosto de 2004. p. 11.

BALBI, Sandra. Brasil poderia economizar R$ 67 bi com juro, diz estudo. Jornal

Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. São Paulo, 02 de dezembro de 2006.

p. B5.

CARLOS, Newton. Pobreza é o novo inimigo de Israel. Jornal Folha de São Paulo:

Caderno Mundo. São Paulo, 29 de novembro de 2005. p. A13

CARVALHO, F. J. C. & SOUZA, F. E. P. & SICSÚ, J. & PAULA, L. F. R. &

STUDART, R. Economia Monetária e Financeira: Teoria e prática. Editora

Elsevier. 9ª reimpressão. Rio de Janeiro, 2000.

CENTRAL BUREAU OF STATISTICS. Financial and capital markets. Disponível

em <http://www.cbs.gov.il/ yarhon/i13_e.htm>. Acesso em 19/12/2006.

CENTRAL BUREAU OF STATISTICS. Population density by natural regions, 2005.

Disponível em <http://gis.cbs.gov.il/shnaton57/density2006.pdf>. Acesso em

18/12/2006.

CENTRAL BUREAU OF STATISTICS. Statistical Abstract of Israel: Average

representative exchange rates for foreign currencies. Disponível em

<http://www1.cbs.gov.il/shnaton57/ st17_13.pdf>. Acesso em 19/12/2006.

60

CENTRAL BUREAU OF STATISTICS. Statistical Abstract of Israel: Establishments,

jobs, revenue, labor cost and wages of employees, by industry (division).

Disponível em <http://www1.cbs.gov.il/shnaton57/st20_03x.pdf>. Acesso em

26/12/2006.

CHALAV ACHER, Revista. Kibutz pequeno, sabor grandioso. Número 3. Yotvata,

Agosto de 2005.

DORNBUSCH, R. & FISCHER, S. Macroeconomia. Editora Makron Books. Quinta

edição. São Paulo, 2002.

DRORI, Shayke & BRAWN, Meir. The Dairy Industry in Israel. The Dairy Industry

in Israel, 2004. Israel, 2005.

EYE ON ISRAEL. Disponível em <http://www.eyeonisrael.com/Israel-touring-

map.html>. Acesso em 14/12/2006.

EZRA, Ephraim. The Dairy Industry in Israel, 2004. Israel, 2005.

FOLHA DE SÃO PAULO, Jornal. Analistas esperavam redução menor no juro.

Caderno Dinheiro. São Paulo, 31 de agosto de 2006. p. B3.

GOLDMAN, Dubby. Entrevista realizada pelo autor. Arquivado em K-7. Yotvata,

dezembro de 2004.

HAYTMAN, Mário. Entrevista realizada pelo autor. Arquivado em K-7. Yotvata,

dezembro de 2004.

HEBRAICA, Revista. A história de um moshav no Neguev. Revista Hebraica:

viagem. São Paulo, janeiro de 2007.

HOJMAN, Daniel & MALUL, Yossi. The Dairy Industry in Israel, 2003. Israel,

2004. Disponível em <http://www.icba-israel.com/dairy-industry-2003.pdf>.

Acesso em 21/12/2006.

HOJMAN, Daniel & MALUL, Yossi. The Dairy Industry in Israel, 2004. Israel,

2005.

ISRAEL CATTLE BREEDERS ASSOCIATION. Producer Prices for Raw Milk.

Disponível em <http://www.icba-israel.com/icba-prod-price.htm>. Acesso

em 23/12/2006.

ISRAEL DAIRY BOARD & ISRAEL CATTLE BREEDERS ASSOCIATION. The

Dairy Industry in Israel. Israel, 2005.

61

ISRAEL DAIRY BOARD. Milk Quality. Disponível em <http://www.israeldairy.com

/welcome.htm?page=http://www.israeldairy.com/info/about/about.htm>.

Acesso em 21/12/2006.

ISRAEL MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS. Israel em resumo. Disponível em <

http://www.mfa.gov.il/MFAPR/Facts+About+Israel/ISRAEL+EM+RESUM

O.htm>. Acesso em 09/01/2007.

KHAIR, Amir. Ortodoxos x Desenvolvimentistas. Juros e Inflação em Países

Emergentes. Disponível em <http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/

ortodoxosxdesenvolvimentistas_1_.pdf?PHPSESSID=90220540a456c40cf41

8d4f0b7265bb4> Acesso em 19/12/2006.

KIBBUTZ INDUSTRIES ASSOCIATION. Disponível em <http://www.kia.co.il/

infoeng /about.htm>. Acesso em 10/12/2006.

MARX, K. – O Capital. Livro I. Editora Nova Cultural. Segunda edição. São Paulo,

1985.

MAX. Entrevista realizada pelo autor. Arquivado em K-7. Yotvata, dezembro de

2004.

MAYER, Kiki. Entrevistas realizadas pelo autor. Yotvata, setembro e outubro de

2004.

MELLUL, Corinne. E. The milk Sector in Israel. 1994. Disponível em

<http://www.israeleconomy.org/mellul.htm>. Acesso em 15/04/2005.

NORTH, Douglass C. Custos de transação, instituições e desempenho econômico.

Editor Instituto Liberal. Rio de janeiro, 1994.

PAVIN, Avraham. The Kibbutz Movment: Facts and Figures 2006. Research and

Documentation Center of the Kibbutz Movment. Israel, 2006.

PINDYCK, R. S. & RUBINFELD, D. L. – Microeconomia. Editora Makron Books.

Segunda edição. São Paulo, 1994.

ROSENTHAL, Ruth Ellen. O embate entre o coletivo e o indivíduo no kibutz de

hoje. Mestrado em Serviço Social. PUC –SP. SÃo Paulo, 1992.

SALECL, Renata. Sobre a felicidade: ansiedade e consume na era do

hipercapitalismo. Tradução: Marcelo Rezende. São Paulo. Editora Alameda,

2005.

62

SETTLEMENT DEPARTMENT OF JEWISH AGENCY. Immigration & Settlement -

Israel Pocket Library. Jerusalém, 1974.

SILVER-BRODY, Vivienne. Documentors of the Dream: Pioneer Jewish

Photographers in the Land of Israel 1890-1933. Magnes Press of the Hebrew

University, 1998. ISBN 0827606575

TAMIR, Liron. The Dairy Industry in Israel, 2004. Israel, 2005.

UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Human Development

Index. Dispononível em http://hdr.undp.org/hdr2006/ press/releases/LP2-

HDR06_HDI.pdf. Acesso em 10/09/2007.

WIKIPÉDIA. A economia do Kibbutz. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/

wiki/Kibutz>, acesso em 10/12/2006.

WIKIPÉDIA. Charles Darwin. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/

Charles_Darwin#Evolu.C3.A7.C3.A3o_por_sele.C3.A7.C3.A3o_natural>.

Acesso em 05/01/2007.

WIKIPÉDIA. Demographics od Israel. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/

Demographics_of_Israel#Languages>. Acesso em 09/01/2007.

WIKIPÉDIA. Forças de defesa de Israel. Disponível em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tzav%C3%A1_Hagan%C3%A1_le_Israel.

Acesso em 17/02/2007.

WIKIPÉDIA. Seleção natural. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/

Sele%C3%A7%C3%A3o_natural>. Acesso em 05/01/2007.

YOTVATA, Kibbutz. A brief history. Disponível em <http://www.Yotvata.org.il/

MainengFrameset.htm>. Acesso em 07/05/2004.

ZILCER, Doron. The Israeli Dairy Processing Industry. The Dairy Industry in

Israel, 2004. Israel, 2005.