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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTOUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIAPROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN – FUE ­ Centro de Educação

TEORIA HUMANISTA

A   teoria   rogeriana   surge,   no   início   da   década   de   60,   na   psicologia 

americana, num movimento conhecido como psicologia humanista ou terceira 

força.

Esta nova corrente não  tinha a pretensão de  revisar  ou adaptar  alguma 

escola   de   pensamento   já   existente,   como   o   fizeram   os   neobehavioristas   e 

neofreudianos.  Pretendia sim,  como o próprio termo ­   terceira força ­ indica, 

substituir   o   behaviorismo   e   a   psicanálise,   as   duas   maiores   forças   da 

psicologia até então.

Podemos   destacar   alguns   pontos   essenciais,   ou  pressupostos   da 

psicologia humanista:

1 ­ Ênfase na experiência consciente;

2 ­ crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano;

3   ­   concentração  no   livre­arbítrio,  na  espontaneidade  e  no  poder  de 

criação do indivíduo;

4 ­ estudo de tudo que tenha relevância para a condição humana.

Também chamadas de  terapias do crescimento, as terapias humanistas 

derivaram, em parte, do trabalho de Kurt Lewin (1890­1947, Teoria do Campo). 

Trabalhavam com pessoas de saúde mental normal ou média objetivando elevar 

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seus   níveis   de   consciência,   ajudá­las   a   se   relacionar   melhor   consigo 

mesmas e com os outros e  libertar  potenciais  ocultos de criatividade e 

auto­desenvolvimento.  Tinham   por   objetivo   incrementar   a   saúde 

psicológica e a auto­realização.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES:

 ­ ABRAHAM MASLOW (1908­1970)

­ CARL ROGERS (1902­1987)

Carl   Rogers,   psicoterapeuta   americano   conhecido   por   uma 

abordagem popular  da psicoterapia:  a  terapia centrada na pessoa  ou 

terapia centrada no cliente.   Partindo de suas experiências com esta 

terapia, Rogers procurou aplicar seus princípios à educação, na forma da 

não­diretividade.

Para Rogers, o ideal de homem para a sociedade atual é um homem 

criativo  e   inovador  no  campo do conhecimento  e  não   repetidor  da 

ciência do passado.

A   teoria   rogeriana,   baseada   na   filosofia   humanista,   encara   o 

conhecimento   como   uma   pirâmide   invertida,   cuja   base   é   subjetiva   e 

pessoal.

  

          EU

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O indivíduo é visto como  pessoa com valor próprio indiscutível, 

aberto às experiências e, devido a esta abertura, percebe de maneira livre 

e inteira todos os estímulos que provenham do organismo e do ambiente, 

lindando conscientemente com eles. Para QUELUZ (1984,   p. 8), nesta 

perspectiva “o indivíduo passa a aceitar­se como um ser em processo, em 

desenvolvimento, e a viver mais intensamente cada momento.”

A teoria da aprendizagem de Rogers encontra­se implícita na teoria 

da   psicoterapia.   Rogers   descobriu   na   sua   experiência   de   terapeuta   o 

mecanismo de toda aprendizagem, confirmando esta descoberta na sua 

experiência de professor.

Para   Rogers,   a   escola   pode   realizar   este   ideal   de   mudança,   à 

medida   que,   consciente   de   seu   papel   de   não   mais   ensinar   alguém, 

acreditar   que   a   responsabilidade   da   educação   está   no   próprio 

estudante.

    

Como se percebe, é o estudante quem possui forças de crescimento, 

auto­avaliação e auto­correção. O processo ensino­aprendizagem centra­

se no aluno e atribui ao professor e à escola o papel de facilitadores da 

aprendizagem  do aluno,  criando condições  favoráveis que  liberem sua 

capacidade de aprender.

ALUNO  centro do processo, em função dele se dirigem todos os 

                         componentes curriculares

PROFESSOR     facilitador da aprendizagem

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Em sua obra “Liberdade para aprender” (1973), Rogers defende a 

tese de que o conhecimento só pode ocorrer a partir do homem, que 

livre faz seu caminho para conhecer.

Nesta perspectiva, o indivíduo, consciente de si mesmo, conhecedor 

da   sociedade   em   que   vive,   sentir­se­á   em   estado   de   aprendizagem 

contínua e se verá construtor de si mesmo e do seu futuro.

Em “Liberdade para aprender” (1973), Rogers, destaca ainda alguns 

princípios da aprendizagem não­diretiva.

PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA 

ROGERIANA

1 ­ Os seres humanos têm natural potencialidade de aprender.

2 ­ A aprendizagem significativa verifica­se quando o estudante 

percebe que a matéria a estudar se relaciona com os seus próprios 

objetivos.

3 ­ A aprendizagem envolve mudança na organização de cada 

um ­ na percepção de si mesmo ­ é ameaçadora e tende a suscitar 

reações.

4   ­   As   aprendizagens   que   ameaçam   o   próprio   ser   são   mais 

facilmente percebidas e assimiladas quando as ameaças externas 

se reduzem a um mínimo.

5   ­   Quando   é   fraca   a   ameaça   ao   “eu”   pode­se   perceber   a 

experiência sob  formas diversas,  e a aprendizagem ser  levada a 

efeito.

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6   ­   É   por   meio   de   atos   que   se   adquire   aprendizagem   mais 

significativa.

7   ­   A   aprendizagem   é   facilitada   quando   o   aluno   participa 

responsavelmente do seu processo.

8   ­   A   aprendizagem   auto­iniciada   envolve   toda   a   pessoa   do 

aprendiz ­ seus sentimentos tanto quanto sua inteligência ­ é a mais 

durável e impregnante. 

9   ­   A   independência,   a   criatividade   e   a   autoconfiança   são 

facilitadas quando a autocrítica e a auto­apreciação são básicas e a 

avaliação feita por outros tem importância secundária.

10 ­ A aprendizagem mais útil, no mundo moderno, é a do próprio 

processo de aprendizagem, uma contínua abertura à experiência e 

à incorporação dentro de si mesmo, do processo de mudança.

Utilizando as palavras de  QUELUZ  (1984)  pode­se afirmar  que a 

educação humanista tem por objetivo 

fazer   do   homem   um   ser   da   transformação   do 

mundo, o coloca no centro das suas preocupações, 

a fim de prepará­lo para caminhar ao encontro dos 

outros, do mundo e de si mesmo e, desse encontro, 

retornar   aos   outros,   ao   mundo   e   a   si   mesmo, 

sabendo­se transformado e   transformando e que, 

portanto,   viver   como   pessoa   é   saber­se   sempre 

nesse processo. (QUELUZ, 1984, p. 4)

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A FACILITAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Rogers preconizou uma revolução na educação, defendendo que o 

objetivo   do   sistema   educacional   deve   partir   da   natureza   dinâmica   da 

sociedade, caracterizada por MUDANÇA.

Dentro deste sistema precisamos desenvolver um clima propício ao 

crescimento   pessoal,   no   qual   não   se   tema   a   inovação,   no   qual   a 

criatividade  de   todos  os   interessados  seja  expressa.  Desta  maneira,  o 

indivíduo ­ aluno ou professor ­ poderá ter oportunidade de esforçar­se em 

busca do seu crescimento pessoal.

O ponto central do sistema de ensino, na concepção rogeriana é o 

desenvolvimento de pessoas plenamente atuantes.

Segundo MILHOLLAN & FORISHA,

Rogers   postula   que   o   objetivo   educacional,   se 

quisermos sobreviver,  deve   tornar­se  a   facilitação 

de  mudança e  aprendizagem.  Por  esse ponto  de 

vista,  o  único  indivíduo educado é  o  homem que 

aprendeu a aprender; que aprendeu a adaptar­se e 

mudar,  que percebe que nenhum conhecimento é 

seguro   e   que   só   o   processo   de   buscar 

conhecimento dá  alguma base para a segurança. 

(1978, p. 176­7)

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O professor, numa perspectiva não­diretiva de educação, é apenas 

um facilitador da aprendizagem. Para Rogers,  um facilitador é  apenas 

um recurso vivo em relação ao aprendiz; que só pode funcionar em uma 

relação interpessoal com o aprendiz.

Rogers distingue algumas qualidades que devem existir na relação 

interpessoal facilitador­aprendiz:

1º ­ REALIDADE  ou GENUINIDADE­ para ser facilitador, o indivíduo 

precisa despojar­se do tradicional “papel” de ser “o professor” e tornar­se 

uma   pessoa   real   com   seus   alunos.  Precisa   aceitar   seus   próprios 

sentimentos e não esconder nada dos alunos, ser autêntico.

2º ­ ACEITAÇÃO ­ é preciso aceitar o outro como um indivíduo digno 

e de valor  único.  É  a  aceitação do outro como uma pessoa separada, 

digna   por   seu   próprio   direito   e   merecedora   da   plena   oportunidade   de 

buscar, experimentar e descobrir aquilo que é engrandecedor do eu.

3º   ­   COMUNICAÇÃO   ­    em   qualquer   relação   que   deva   ocorrer 

aprendizagem, precisa haver comunicação entre as pessoas envolvidas. 

Aprendizes,  para  serem bem sucedidos  em suas   tarefas,  precisam de 

comunicação. Precisam ser compreendidos, não avaliados, não julgados, 

não ensinados.

É   básico   em   todas   as   atitudes   dentro   desta   perspectiva,   ter 

confiança na capacidade do indivíduo humano, para desenvolver sua 

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própria   potencialidade.  Só   com   esta   confiança   pode   ser   facilitada   a 

aprendizagem, oferecidas oportunidades e dada liberdade.

Rogers  considera  que uma aprendizagem  foi   facilitada  quando o 

estudante participa responsavelmente do processo de aprendizagem.

Aprender a ser aprendiz,  isto é,  ser  independente, criativo e auto­

confiante  é  mais   facilitado  quando a  autocrítica  e  auto­avaliação  são 

básicas   e   a   avaliação   por   outros   tem   importância   secundária.   Numa 

concepção   rogeriana   de   educação,   a   avaliação   é,   portanto,  auto­

avaliação.

A aplicação da teoria de Rogers em nosso sistema de ensino formal 

não é   tarefa  fácil,  sendo,  inclusive, considerado por muitos uma utopia, 

mas   as   polêmicas   trazidas   para   o   campo   da   educação   muito   têm 

beneficiado a reformulação  do ensino. Afinal, aprender pelo próprio gosto 

é a maneira mais rica de aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MILHOLLAN, Frank, FORISHA, Bill E. Skinner X Rogers; maneiras contrastantes de encarar a educação. São Paulo: Summus, 1978.

MIZUKAMI, Maria da Graça N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.QUELUZ,   Ana   Gracinda.  A   pré­escola   centrada   na   criança;  uma   influência   de   Carl   R. 

Rogers. São Paulo: Pioneira, 1984.ROGERS, Carl R.  Terapia centrada no paciente. São Paulo: Martins Fontes, 1975.___. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973.___. Tornar­se pessoa. 2. ed. Lisboa: Moraes, 1961.SCHULTZ,   Duane P.,    SCHULTZ,  Sydney  Ellen.   História  da psicologia moderna. 8. ed. 

rev. ampl. São Paulo: Cultrix, 1996.

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