ROMPENDO OS MUROS DAS IMAGENS: MULHERES … · Segundo Kabenguele Munanga, o belo é subjetivo e se...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X ROMPENDO OS MUROS DAS IMAGENS: MULHERES NEGRAS NO GRAFFITI Bianca Dantas Gomes da Silva 1 Resumo: Esta comunicação pretende compreender como as mulheres negras atuam no mundo do graffiti e quais são as possíveis transformações presentes nesse campo majoritariamente ocupado por representações masculinizadas. Atém-se a produção de duas grafiteiras negras do sudeste brasileiro, a Negahamburguer de São Paulo/SP e a Criola, de Belo Horizonte/MG, artistas que utilizam a característica comunicativa do graffiti para difundir mensagens que transpõem padrões de cultura disseminados pelas grandes mídias. O graffiti surge nos muros como uma tentativa de romper com o cinza produzido pela poluição exprimindo contestações através de mensagens diretas e produzindo uma arte condizente com esse tempo: volátil a cada instante. Essa característica comunicativa permite que as mensagens sejam transmitidas por meio de linguagens dinâmicas, de modo a evidenciar sua representação artística e política ao emitir as vozes suprimidas pelas constantes transformações sociais. Neste contexto, as mulheres negras produtoras de graffiti adotam tais características para reivindicarem o direito ao espaço público, expressarem suas próprias percepções da realidade e, sobretudo, assumirem o papel de agência nessa manifestação cultural. Isto posto, investigaremos a produção artística das duas grafiteiras: ambas vivem em regiões de grandes centros urbanos, iniciaram seus trabalhos no universo do graffiti por afinidades com o movimento e utilizam suas artes para contestar padrões sociais. Palavras-chave: Mulheres Negras. Graffiti. Teorias de Gênero. O graffiti presente desde as pinturas rupestres surge como uma necessidade humana de registrar o seu tempo. A prática ganha notoriedade na sociedade contemporânea a partir da década de 1960, com as movimentações de jovens negros, hispânicos e caribenhos nas periferias de Nova Iorque através do Movimento Hip-Hop; com as manifestações dos estudantes na capital parisiense em Maio de 1968; em forma de resistência e denúncia à Ditadura Civil e Militar no Brasil, fazendo dos muros um veículo de comunicação; e também como expressão cultural das periferias brasileiras com dado a chegada do movimento Hip-Hop no país. Considerado uma forte expressão da arte de rua, o graffiti presente nos muros urbanos apresenta elementos correspondentes à comunicação não verbal, ressaltando a importância da imagem ao registrar fenômenos que fogem à fala (Maresca, 1995). Responsável por difundir nos muros as diferentes perspectivas geradas pelo Hip-Hop, o graffiti compõe um dos elementos do movimento, acompanhado pelo o rap, expressão musical realizada pelos MC’s, o break em que as b-girls e os b-boys manifestam as contestações através do corpo e o DJ, responsável por mixar músicas de diferentes gerações, promovendo o resgate e o diálogo com seus antepassados. Viviane Magro (2003) foi pioneira ao investigar a produção de graffiti sob a perspectiva de gênero, observando as estratégias de jovens e adolescentes na região periférica de Campinas/SP que participavam de um universo historicamente remetido às representações masculinas. A partir do 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, UNESP - Universidade Estadual Paulista. Integra o NEGAr Núcleo de Estudos de Gênero de Araraquara/UNESP. Araraquara, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected].

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

ROMPENDO OS MUROS DAS IMAGENS: MULHERES NEGRAS NO GRAFFITI

Bianca Dantas Gomes da Silva1

Resumo: Esta comunicação pretende compreender como as mulheres negras atuam no mundo do graffiti e quais são as

possíveis transformações presentes nesse campo majoritariamente ocupado por representações masculinizadas. Atém-se

a produção de duas grafiteiras negras do sudeste brasileiro, a Negahamburguer de São Paulo/SP e a Criola, de Belo

Horizonte/MG, artistas que utilizam a característica comunicativa do graffiti para difundir mensagens que transpõem

padrões de cultura disseminados pelas grandes mídias. O graffiti surge nos muros como uma tentativa de romper com o

cinza produzido pela poluição exprimindo contestações através de mensagens diretas e produzindo uma arte condizente

com esse tempo: volátil a cada instante. Essa característica comunicativa permite que as mensagens sejam transmitidas

por meio de linguagens dinâmicas, de modo a evidenciar sua representação artística e política ao emitir as vozes

suprimidas pelas constantes transformações sociais.   Neste contexto, as mulheres negras produtoras de graffiti adotam

tais características para reivindicarem o direito ao espaço público, expressarem suas próprias percepções da realidade e,

sobretudo, assumirem o papel de agência nessa manifestação cultural. Isto posto, investigaremos a produção artística

das duas grafiteiras: ambas vivem em regiões de grandes centros urbanos, iniciaram seus trabalhos no universo do

graffiti por afinidades com o movimento e utilizam suas artes para contestar padrões sociais.

Palavras-chave: Mulheres Negras. Graffiti. Teorias de Gênero.

O graffiti presente desde as pinturas rupestres surge como uma necessidade humana de

registrar o seu tempo. A prática ganha notoriedade na sociedade contemporânea a partir da década

de 1960, com as movimentações de jovens negros, hispânicos e caribenhos nas periferias de Nova

Iorque através do Movimento Hip-Hop; com as manifestações dos estudantes na capital parisiense

em Maio de 1968; em forma de resistência e denúncia à Ditadura Civil e Militar no Brasil, fazendo

dos muros um veículo de comunicação; e também como expressão cultural das periferias brasileiras

com dado a chegada do movimento Hip-Hop no país. Considerado uma forte expressão da arte de

rua, o graffiti presente nos muros urbanos apresenta elementos correspondentes à comunicação não

verbal, ressaltando a importância da imagem ao registrar fenômenos que fogem à fala (Maresca,

1995).

Responsável por difundir nos muros as diferentes perspectivas geradas pelo Hip-Hop, o

graffiti compõe um dos elementos do movimento, acompanhado pelo o rap, expressão musical

realizada pelos MC’s, o break em que as b-girls e os b-boys manifestam as contestações através do

corpo e o DJ, responsável por mixar músicas de diferentes gerações, promovendo o resgate e o

diálogo com seus antepassados.

Viviane Magro (2003) foi pioneira ao investigar a produção de graffiti sob a perspectiva de

gênero, observando as estratégias de jovens e adolescentes na região periférica de Campinas/SP que

participavam de um universo historicamente remetido às representações masculinas. A partir do

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara,

UNESP - Universidade Estadual Paulista. Integra o NEGAr – Núcleo de Estudos de Gênero de Araraquara/UNESP.

Araraquara, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected].

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estudo empírico e analítico, Magro verifica os desafios materiais e simbólicos presentes no ato de

grafitar, como os altos custos dos sprays e o desafio de ocupar o espaço público. Ao romperem as

esferas do espaço privado, essas jovens vivenciam o processo de autoafirmação identitária, se

posicionando socialmente por meio da arte, da cultura e da ação política. A autora observa que o

Hip-Hop no Brasil possui a característica de promover o autoconhecimento às/aos jovens, à medida

que as/os ajudam a compreender a diáspora africana por meio da linguagem oral, corporal e

imagética, possibilitando reconstruir a identidade negra no novo mundo (Magro, 2003).

Nesse sentido, nos perguntamos: e as mulheres negras produtoras de graffiti? Quais são suas

atuações nesse universo? Como enfrentam o racismo e o machismo ainda presentes na sociedade

atual? A considerar que a população negra permanece enfrentando os estigmas discriminatórios

oriundos do período colonial escravocrata (FREYRE, 2003; RODRIGUES, 2010; FERNANDES,

2008; ORTIZ, 1994), os estudos acerca das mulheres negras contribuem para fornecer perspectivas

diferentes da história, ao observá-las enquanto participantes ativas das transformações sociais. As

contribuições epistemológicas do Feminismo Negro (GONZALEZ, 1982, 1984; CARNEIRO,

2011; RIBEIRO, 2015), nos apontam a proposta de investigações acerca da participação das

mulheres negras na História (Gonzalez, 1984), observando suas ações enquanto agentes do processo

de construção e transformação cultural, de modo a contribuir para a compreensão da formação e

desenvolvimento das estruturas sociais do país.

As mulheres antes vistas meramente como companheiras afetivas dos grafiteiros (Weller,

2005), passam a reivindicarem o direito de ocupar o espaço público, expressar suas próprias

demandas, suas visões de mundo e demonstrar suas vivências no espaço urbano, à medida que

assumem a condição de agentes da produção cultural. Margarida Morena (2011), pesquisadora do

graffiti feito por mulheres em Salvador/Bahia, considera que as grafiteiras ao ocuparem um espaço

de predominância masculina, rompem duas vezes com a ordem normativa, oriunda do sexismo e do

machismo. Nessa perspectiva, as mulheres negras ao ocuparem os espaços urbanos para promoção

da arte, rompem também com estigmas racistas e com o histórico processo de invisibilidade

herdado do período colonial, demonstrando seu protagonismo na criação e produção cultural, bem

como nos processos de transformação social.

Produção de novas imagens: o graffiti feito por Criola e Negahamburguer

Criola e Negahamburguer são artistas visuais e grafiteiras que se aproximaram do universo

do graffiti por afinidades com o movimento, utilizando seus trabalhos para contestar padrões sociais

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de beleza, corpo e estética, apresentando novas formas de representação de diferentes corpos. O

corpo pode ser compreendido enquanto o primeiro instrumento do ser humano (Mauss, 1974 apud

Gomes, 2003), o qual possibilita o contato com diferentes percepções, bem como está sujeito a

constantes alterações provocadas pelo meio social, sendo constantemente modelado e modificado.

Ou seja, cada sociedade tem sua forma de ensinar a usar o corpo, à medida que é a representação

exterior do que somos, é nosso contato com o mundo, com o outro e por isso carrega a ideia de

relação (Gomes, 2003, p.80).

Evelyn Queiróz, a ilustradora que criou a Negahamburguer, começou a desenhar desde

criança. Embora tenha frequentado escolas de design, não concluiu as graduações. Seus desenhos

são oriundos de sua experiência, de suas vivências e por isso, estão em constante mudança.

Desenvolveu a personagem ainda na adolescência, quando começou a grafitar e levou cerca de dois

anos para chegar aos traços encontrados em seus desenhos. Foi desenvolvendo a personagem ao

longo desse processo, incorporando discussões sobre a violência contra as mulheres, feminismo,

racismo e machismo. Suas ilustrações mostram que as mulheres são plurais e que não se encaixam

em padrões pré-estabelecidos. Segundo a artista, a personagem surgiu:

(...) quando eu quis começar a fazer graffiti. A Negahamburguer surgiu da minha vontade

de não querer que minhas ilustrações fossem 'em vão'. Eu quis anexar à imagem que eu crio

uma mensagem importante. Mas não uma mensagem qualquer. Uma mensagem que mexa

com a opinião, que ajude de uma forma mais inusitada a entender os problemas que existem

na sociedade, com foco no feminismo e seus conceitos. Foi quando pensei em criar uma

personagem que fosse tudo isso, e a nomeei de Negahamburguer, em homenagem à minha

boneca que me acompanha há 25 anos" (NEGAHAMBURGUER, 2015)2.

Evelyn Negahamburguer ficou conhecida pelo seu projeto Beleza Real, em que retratava os

relatos de pessoas que se identificavam com seus desenhos, por meio de graffiti, lambes e aquarelas.

Com uma campanha de financiamento colaborativo, o projeto virou um livro com 53 relatos sobre

casos de violência sexual e/ou psicológica contra a mulher, em que a artista tinha como principal

objetivo.

(...) mostrar [as histórias] de um jeito bonito, a superação que ela [mulher] pode ter naquele

caso. E pra quem não tem nem noção – que tem muita gente também que não tem noção do

que acontece com a mulher – [dos] vários casos de (...) estupro, de tentativa de suicídio...

que são essas histórias que eu recebo (...) de muita humilhação por ser gorda, por ser magra,

por ser... enfim... por ser fora do padrão. (...) Eu tento pegar a parte positiva daquela fala e

transformar em desenho (NEGAHAMBURGUER, 2015).3

2 Entrevista concedida ao portal Modefica. Disponível em <http://www.modefica.com.br/conheca-uma-artista-evelyn-

queiroz-a-garota-por-tras-da-negahambuguer/#.WVugGLBtm00>. Acesso 20 jun 2017. 3 Entrevista concedida ao programa Art é Arte, da Rede TVT. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?

v=K7CwQw3u4NM>. Acesso 20 jun 2017.

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Se cada grupo cultural define o que é belo, falar de corpos nos remete a pensar os padrões de

beleza impostos a eles. Segundo Kabenguele Munanga, o belo é subjetivo e se fixa no olho do

contemplador (Munanga, 1988 apud Gomes, 2003), ou seja, a concepção do que é belo varia em

cada cultura. Ao pensarmos nos padrões hegemônicos presentes na sociedade brasileira, nos

remeteremos aos padrões eurocêntricos incondizentes com a realidade social do país, em que mais

da metade da população se autodeclara negra (Censo do IBGE, 2010)4. Gomes aponta que a partir

do século XV, se construiu um padrão hegemônico de beleza e proporcionalidade baseado na

Europa colonial. Esse ideal de beleza visto por alguns como universal é, (“...) construído

socialmente, num contexto histórico, cultural e político, e por isso mesmo pode

ser ressignificado pelos sujeitos sociais” (Gomes, 2003, p.81).

Tainá Lima apresenta em seus trabalhos medidas para contestar o padrão hegemônico de

beleza, trazendo em seus graffiti representações oriundas de matrizes africadas. A grafiteira mais

conhecida como Criola, acentua a importância de seu trabalho em recriar a imagem da população

negra, rompendo com a figura inferiorizada, ressaltando seus significados e sua

beleza. Para Nilma Gomes, a herança ancestral africana recriada no Brasil orienta e traz inspiração

para os negros da diáspora (Gomes, 2003, p.79), mesmo que de forma inconsciente. A grafiteira

mineira considera que a maior motivação para suas criações, é ter e dar voz a mulheres que ainda

não se conscientizaram do seu poder, do seu direito e da sua voz. Ter sua arte como um veículo de

transmissão de mensagens impactantes capazes de promoverem mudanças comportamentais e

estruturais, a impulsiona a prosseguir com seus trabalhos. Segundo Criola:

Isso me faz querer pintar e usar os muros como suporte. Essas reflexões que decorrem da

minha vivência como mulher negra e também a soma das vivências da minha mãe e da

minha avo, enfim da ancestralidade feminina que permeia o meu sangue, me trazem muita

força. Minha avo e a minha mãe acabam sendo também as minhas duas maiores inspirações

quando o assunto se trata de quais sentimentos e elementos eu preciso resgatar e

materializar nas ruas (CRIOLA, s/d)5.

O fato de não ver mulheres negras serem bem representadas tanto nas ruas, quanto em

campanhas publicitárias e mídias televisivas, motivou Criola a buscar ferramentas para desenvolver

seus trabalhos. Como uma crítica as representações objetificadas das mulheres negras, Criola se

4 Disponível em <http://www.brasil.gov.br/educacao/2012/07/censo-2010-mostra-as-diferencas-entre-caracteristicas-

gerais-da-populacao-brasileira>. Acesso 29 jun 2017. 5 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017.

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expressa nas ruas para dar voz a essas mulheres, a esse lugar do qual eu faço parte e pra que seja

ampliada a visão acerca da mulher negra brasileira, para que ela seja valorizada6.

Nilma Gomes considera que em uma sociedade racista, há várias estratégias para discriminar

o negro, como transformar as diferenças inscritas no corpo em marcas de inferioridade e

estabelecer padrões de superioridade, beleza e feiura. Sendo assim, Gomes observa que o cabelo

crespo é um dos argumentos usados para retirar o negro do lugar da beleza, e estuda como as

formas de cuidado com o cabelo crespo apresentam impressões de uma herança cultural africana.

Em um dos seus trabalhos de maior destaque Orí - a raiz negra que sustenta é a mesma que

floresce. Criola representa as matrizes africanas através das raiz, criando uma metáfora com os

cabelos crespos, que assim como as raízes podem crescer livres para florescer e ganhar força. Em

iorubá, ori significa cabeça e condiz com a parte do corpo que melhor representa a ancestralidade

africana.

José Carlos Rodrigues , aponta que a forma de manipular o corpo pode significar hierarquia,

idade, símbolo de status e poder. O corpo expressa metaforicamente os princípios estruturais da

vida coletiva (...) [podendo] simbolizar aquilo que uma sociedade deseja ser, assim como o que se

deseja negar (Rodrigues, 1986 apud Gomes, p. 79, 2003). Ou seja, o corpo se apresenta como um

importante mecanismo de inclusão e exclusão social à medida que sofre padronizações do

coletivo. Segundo Leandro José dos Santos (2007), a corporalidade é manipulada para mascarar

relações sociais, comerciais, relações de poder e dominação de um segmento populacional em

detrimento do outro.

Portanto, a hierarquização racial no Brasil parte de um sistema de representações construído

socialmente por meio de tensões, conflitos, acordos e negociações sociais (Gomes, 2003). Ao

considerar esse pressuposto, a figura da mulher negra carrega marcas de estigma de inferioridade,

em (...) torno da submissão, da sensualidade, do perigo e do prazer (...) relacionado à pobreza, à

miséria e à desordem (...) [se tornando] um ser duplamente discriminado: por ser mulher e por ser

negra (Santos, p.15, 2007). Para Nilma Gomes, a diferença entre negros e brancos foi:

Construída, pela cultura, como uma forma de classificação do humano (...) essas diferenças

foram transformadas em formas de hierarquizar indivíduos, grupos e povos. As

propriedades biológicas foram capturadas pela cultura e por ela transformadas. Esse

processo, que também acontece com o sexo e a idade, apresenta variações de uma

sociedade para outra (GOMES, 2003, p.76).

6 Entrevista a TV Campos de Minas. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Ky7QadcdomE>. Acesso 28

jun 2017.

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As teorias racialistas do século XIX adotavam medidas e análises craniométricas para

identificar uma beleza associada à evolução e a perfeição. O corpo e a corporeidade foram

importantes ferramentas para regular hábitos e comportamentos humanos. Segundo Santos, os

corpos negros foram apresentados como uma característica negativa pela teoria científica do século

XIX, pois sinalizavam representações sócio-culturais e político-religiosas contrastantes à ideologia

da classe dominante e à estética clássica (Santos, 2007, p.20), enquanto a feminilidade foi

construída como a principal via de contato com o prazer, o mistério e a desordem. Santos entende

que o fato de o imaginário da sociedade escravista não ter se alterado com a passagem para o

trabalho livre, fez com que se mantivesse os (...) mecanismos de dominação encontrados

anteriormente, alimentando o imaginário brasileiro com a imagem que liga a negritude a um

passado de escravização (Santos, 2007, p.20). Desta maneira, Criola e Negamburguer apresentam

novas perspectivas acerca da história e das possíveis representações no universo do graffiti.

As diferentes óticas das produtoras de graffiti

Criola – o corpo ancestral como expressão

Criola considera que o graffiti é uma arte democrática7 e vê a importância das pessoas

estarem em contato com essa arte. Embora haja muita curiosidade acerca do graffiti são poucas as

pessoas que sanam suas dúvidas com aquelas e aqueles que realmente realizam a prática, sendo essa

uma das origens do preconceito.

"Vejo muitas pessoas definindo o que é [graffiti], o diferenciando de [pixação], sem ao

menos considerar as definições dos próprios autores. As pessoas parecem ter doutorado

quando o assunto é street art, principalmente depois da ação do prefeito de São Paulo, sem

procurar entender essa manifestação urbana. Levando em consideração a origem do termo

“graffiti”, que não pode ser traduzido por grafite: (...) se eu fizer sem pedir autorização ao

morador ele é irregular. Mas se eu for autorizada, ele deixa de ser grafite e passa a ser um

mural. Isso porque a essência conceitual do [grafitti] é marginal e ilegal" (CRIOLA, 2017)8.

A grafiteira se considera feminista por ser mulher e por não querer ver outras mulheres

sofrendo com o machismo. Desse modo, ela não vê uma necessidade de levantar uma bandeira, pois

acredita que ser feminista é partilhar desse desejo: “(...) Eu sou feminista porque eu sou mulher, não

7 Entrevista a TV Campos de Minas. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Ky7QadcdomE>. Acesso 28

jun 2017. 8 Entrevista concedida ao portal Tão Feminino. Disponível em < http://www.taofeminino.com.br/cultura/entrevista-

grafiteiras-nina-pandolfo-taina-lima-criola-s2136247.html> Acesso 20 jun 2017.

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quero morrer por ser mulher e não quero que nenhuma mulher seja aniquilada pela violência

machista. Se você é mulher e concorda comigo, pasme! Você é feminista e nem sabia!"9

Figura 1 – Projeto “Orí A raiz negra que sustenta é a mesma que floresce”;

Graffiti representando os cabelos crespos.10

Nesse sentido, Criola diz já ter sofrido preconceito por ser mulher, tendo sua arte

questionada devido a os seus poucos anos no graffiti. Entretanto, considera que esse preconceito

seja oriundo de uma estrutura social machista. Quando questionada se já sofreu preconceito por ser

mulher no graffiti, Criola afirma:

Sim. Sinto, mas nao exclusivamente por conta do meu trabalho ou por conta dos colegas

em si. E sim porque vivemos numa sociedade estruturalmente machista, homofobica e

racista. Os homens, dessa forma, sao desde cedo ensinados em sua esmagadora maioria a

nos silenciar a todo momento, a nao escutarem, a interromperem a nossa fala,

ridicularizando e questionando a validade do que apresentamos enquanto mulheres. E o pai,

e o amigo, o tio, o vizinho. Nao precisamos ir longe. E importante que ao se reconhecerem

parte de uma estrutura machista os homens tenham humildade e consciencia necessaria para

se calarem e escutar o que temos a dizer, ja que essa desconstrucao masculina parte de um

processo primeiramente de escuta e ser um homem que apoia o feminismo ja te obriga a ter

essa postura. Quando isso nao ocorre talvez seja necessario rever e refletir sobre a sua real

empatia a causa feminista (CRIOLA, s/d)11.

Criola tem a arte como seu instrumento de cura, para além da militância negra, das questões

estéticas e do feminismo. Vivencia a arte para se conhecer, se reconhecer e se transformar, sendo

um veículo importante para se conectar com as pessoas. Desse modo, considera essa sua principal

fonte de inspiração: as pessoas que encontra em seu cotidiano. A combinação de cores e vivências

são expressas em seus trabalhos

9 Entrevista concedida ao portal Tão Feminino. Disponível em < http://www.taofeminino.com.br/cultura/entrevista-

grafiteiras-nina-pandolfo-taina-lima-criola-s2136247.html> Acesso 20 jun 2017. 10 Foto por Athos Souza. Disponível em <http://www.conexaocultural.org/blog/2014/11/criola-do-preconceito-a-arte-

urbana/>. Acesso 29 jun 2017. 11 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017.

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Para alem de me inspirar em artistas, escritores, filosofos e etc, eu me inspiro com mais

profundidade e verdade em pessoas negras comuns que cruzam o meu caminho no dia a

dia. No percurso dentro do busao, entre um graffiti e outro, no perfil do Ori da vozinha que

benze a criancada do bairro. As vezes a combinacao de cores da camisa que o velhinho,

vendedor de frutas na rua do meu bairro, usou em determinado dia me inspira a criar ate um

conceito e sentimento por tras das cores que utilizo em um graffiti (CRIOLA, s/d)12.

Negahamburguer – a real beleza fora do padrão

Autodidata, Evelyn começou a desenhar ainda criança. Chegou a frequentar escolas de

design, mas não concluiu as graduações. Seus desenhos são oriundos de sua experiência, de suas

vivências e por isso estão em constante mudança. Nesse universo se deparou com o ativismo negro,

e acredita que o mundo das artes ainda necessite considerar mais os trabalhos de artistas negros e

negras. Segundo Evelyn:

Ainda é necessário ampliar as possibilidades para que artistas negros sejam valorizados no

mercado das artes. Acredito que, com muita luta, estamos aparecendo e nos mostrando cada

dia mais, mas ainda há chão pela frente (NEGAHAMBURGUER, 2015)13.

Segundo Evelyn, sua arte é feita para as mulheres, como uma forma de comunicar e de

trocar experiências com elas. Seu interesse pelo feminismo lhe fez buscar mais informações à

medida que recebia os relatos e os desenhava, de modo que seus desenhos são resultado dessa troca.

Tenta demonstrar em seus trabalhos “(...) coisas do cotidiano de mulheres que (...) de algum modo

não se aceita, [são] sempre julgadas e muito cobradas. [Dos] (...) problemas com estereótipo, com

muitas cobranças de ser o que elas não são... aí eu quis colocar esse tema no meu desenho”

(Negahamburguer, 2015)14.

Evelyn comenta que em alguns espaços de graffiti, os grafiteiros viam a sua presença como

um possível interesse afetivo a eles, e não como uma prática de grafitar, assim como eles. Segundo

a artista:

No graffiti tinha muito homem. Quando eu quis começar, tem uns cinco anos [2014]... você

vai num evento de graffiti e tem uns caras – não eram do meu ciclo – (....) acham que você

tá lá pra pintar por causa deles, pra se mostrar pra eles, sabe? Ahh... ela tá aqui no nosso

rolê, sabe? Ou ela quer se mostrar pra gente, ou ela quer parecer que é melhor que a gente,

ou ela quer dar pra gente. Não consideram que você está lá porque gosta de pintar também

(NEGAHAMBURGUER, 2014).15

12 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017. 13 Entrevista concedida ao portal Modefica. Disponível em <http://www.modefica.com.br/conheca-uma-artista-evelyn-

queiroz-a-garota-por-tras-da-negahambuguer/#.WVugGLBtm00> Acesso 20 jun 2017. 14 Entrevista concedida ao programa Art é Arte, da Rede TVT. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?

v=K7CwQw3u4NM>. Acesso 20 jun 2017. 15 Entrevista concedida ao Portal Capitolina. Disponível em <http://www.revistacapitolina.com.br/capitolina-entrevista-

negahamburguer/ > . Acesso 20 jun 2017.

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Dentre outros projetos, Evelyn participou da campanha Todo dia é dia 18, promovida pelo

Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Interlagos, em que registrou

em forma de desenho 12 relatos de crianças violentadas. Entre os anos de 2014 e 2015, foram

lançados 12 cartazes – um por mês – com frases de crianças e adolescentes. A campanha tinha

como objetivo sensibilizar a população sobre a violência sexual infanto-juvenil ao longo do ano, e

promover os meios de denúncia, como o Disque 100 (serviço gratuito e anônimo de denúncia

mantido pela Secretaria de Direitos Humanos).

Figura 2 – À esquerda, o livro “Beleza Real”.

À direita, a campanha “Todo dia é dia 18”, promovida pelo CEDECA Interlagos/SP16.

Rompendo os muros das imagens

As formas de expressar e de viver o corpo são oriundas da educação e de toda a sociedade

da qual se faz parte, bem como do lugar que se ocupa nela. O social faz parte das menores ações

humanas, embora possa parecer insignificante ou não ser apresentado de forma consciente, define o

certo e errado, o belo e o feio.

Em vista disso que o trabalho realizado por Criola e Negahamburguer assume o

compromisso de ressignificar as concepções de beleza e promover novas perspectivas.

Recentemente em março desse ano (2017), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher,

ambas foram convidadas pela marca de cerveja Skol para recriarem suas campanhas machistas. Por

16 Foto do livro por Ludmilla Rossi. Disponível em <https://www.juicysantos.com.br/mais/arte-e-design/a-beleza-real-

da-negahamburger/>. Acesso 29 jun 2017. Cartazes da campanha disponível em <http://periferiaemmovimento.com.br/

a-dor-nos-relatos-de-criancas-e-adolescentes-que-sofreram-violencia-sexual/>. Acesso 29 jun 2017.

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meio do projeto Repôster17, a empresa publicitária responsável pelas campanhas da Skol, convidou

dentre elas, mais quatro ilustradoras para reconstruir seus antigos anúncios publicitários.

Isso evidencia que seus graffiti ultrapassam os limites dos muros e geram repercussões na

opinião pública, à medida que evidenciam a importância dos corpos simbolizarem diferentes

identidades sociais e valorizarem as marcas de suas vivências.

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Breaking the walls of images: Black women in graffiti

Astract: This communication intends to comprehend how black women act in the graffiti ground

and which are the possible transformations present in this field that it is mostly occupied by

markedly male representations. Based on the case study of two black female peripheral graffiti

artists, Negahamburguer from São Paulo and Criola from Belo Horizonte, in which they use the

communicative characteristics of graffiti in order to spread messages that cross the cultural patterns

widespread by the mainstream media. The Graffiti emerges in the walls as an attempt of break with

grey caused by pollution expressing contestation through direct messages and creating an arte that

accords with this present time: volatile in every instant. In this context, the black women that

produce graffiti enhance such characterizes in order to claim the right to use the public space, to

express their own perceptions of reality and overall, to assume a protagonist role in this cultural

manifestation.  For that matter, this research will investigate the artistic production of two female

graffiti artists from the southeast of Brazil, Negahamburguer and Criola. Both live in regions with

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

big urban centers and also began their work in the graffiti universe through affinity with the

movement and use their art in order to contest social patterns.

Keywords: Black Woman. Graffiti. Gender Studies.