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O ROSÁRIO meditado pelo casal EDITORA AVE-MARIA Maria do Carmo Whitaker José Maria Whitaker Neto

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O ROSÁRIO meditado pelo casal

EDITORAAVE-MARIA

Maria do Carmo WhitakerJosé Maria Whitaker Neto

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Introdução

A oração do Rosário é uma das mais tradicionais da Igreja. Talvez uma das mais fáceis, já que é composta de orações que aprendemos quando crianças.

Essa oração ganha maior riqueza quan-do feita com a meditação de cada um de seus mistérios. É o Rosário meditado.

A reflexão de cada mistério, enquanto se vai rezando as ave-marias, abre uma inigua-lável oportunidade de nos aprofundarmos no significado de cada um dos momentos da vida de Jesus e de sua Mãe, que formam os mistérios do Rosário.

Procurando fazer da recitação do Rosá-rio uma expressão de nossa vida conjugal, reunimos pequenas reflexões que, intercala-das às ave-marias, nos ajudam na contem-plação de cada mistério. Elas facilitam e va-

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lorizam a meditação e nos fazem lembrar da missão do casal cristão.

Para nós, casais, é muito enriquecedor ligar os mistérios do Rosário com nossa vida cotidiana e com tudo o que representa para nós o sacramento do matrimônio, fonte per-manente de graças e santificação.

É nessa vivência diária e constante que se pratica a espiritualidade conjugal. É no dia-a-dia de nossa vida de casal que po-demos nos aproximar de Deus e aumentar nossa união com Ele.

E, meditando sobre os mistérios da vida de Cristo e da Sagrada Família, saberemos melhor conduzir e valorizar nossa vida con-jugal, aumentando nosso amor mútuo que é parte do próprio amor de Deus.

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A oração do Rosário

O legado do papa João Paulo II

Um dos legados deixados pelo papa João Paulo II nos últimos anos de seu pasto-reio foi a Carta Apostólica do Rosário da Vir-gem Maria. Trata-se de um apelo do Papa, lançado no início do 25o ano de seu ponti-ficado, convidando os cristãos a redescobri-rem a oração do Rosário, servindo-se dela para “contemplarem o rosto de Cristo na es-cola de Maria”1.

Identificando certa diminuição da práti-ca dessa oração e o risco de ser “debilitada no seu valor”2, o Papa salientou aspectos que a revigoram. Deixou claro que se trata de “um culto orientado ao centro cristológico da fé

1. João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, Paulinas: São Paulo, 2002, p. 59.

2. João Paulo II, o.c., p. 9.

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cristã, de forma que, “honrando a Mãe, me-lhor se conheça, ame e glorifique o Filho”3.

O significado do Rosário

O Rosário, que significa coroa de rosas, é uma das orações tradicionais da Igreja. Consiste na contemplação dos mistérios da vida de Jesus Cristo, tendo como elo, que formam uma corrente, as ave-marias. “Re-citar o Rosário nada mais é que contemplar com Maria o rosto de Cristo.”4 O Rosário tinha três partes: os mistérios gozosos, do-lorosos e gloriosos. Cada parte era tradicio-nalmente chamada de “terço”, porque cor-respondia à terça parte do Rosário. Cada terço era composto de cinco mistérios de nossa redenção.

Mistérios luminosos

O papa João Paulo II, em sua carta apostólica5, acrescentou um novo ciclo de mistérios, os luminosos, que tratam da vida pública de Jesus.

3. João Paulo II, o.c., p. 10. 4. João Paulo II, o.c., p. 8. 5. João Paulo II, o.c., p. 28.

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Foram denominados luminosos por-que o Papa vislumbrou mais um aspecto do coração de Cristo que faltava ser con-templado no Rosário: aquele em que Cris-to se mostra, de forma especial, como mis-tério da luz. Assim, ao rezarmos o Rosário, podemos penetrar na profundidade do “coração de Cristo, abismo de alegria, luz, dor e glória”6.

O Rosário completo é formado, atual-mente, por quatro partes: mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos. Pode-se escolher um desses ciclos de mistérios para rezar, segundo os dias da semana, como é tradicional na Igreja.

A segunda-feira e o sábado são dedica-dos aos mistérios da alegria; a quinta-feira, aos mistérios da luz; a terça e a sexta-feira, aos mistérios de dor; e a quarta-feira e o domin-go, aos mistérios de glória.7

6. João Paulo II, o.c., p. 29. 7. João Paulo II, o.c., p. 51.

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CICLO SEMANAL DO ROSÁRIO

Segunda Mistérios Gozosos

Terça Mistérios Dolorosos

Quarta Mistérios Gloriosos

Quinta Mistérios Luminosos

Sexta Mistérios Dolorosos

Sábado Mistérios Gozosos

Domingo Mistérios Gloriosos

Oração vocal e contemplativa

A recitação do Rosário permite desen-volver uma oração vocal e, também, uma oração mental, contemplativa, à medida que meditamos os principais episódios da vida de Jesus Cristo e de Maria, sua Mãe e Mãe da humanidade. De fato, ao serem enunciados os mistérios, é perfeitamente possível nos incluir nas cenas mais mar-cantes da vida de Jesus e penetrarmos na profundidade de seu significado.

Há quem se introduza nessas cenas pro-curando entender o valor e a importância do episódio. Há, ainda, aqueles que procuram delas participar como uma personagem a mais, dialogando com Cristo e sua Mãe, pro-curando descobrir qual é o impacto desses acontecimentos em suas vidas. E mais: pas-

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sam a viver os ensinamentos advindos da prática desse exercício espiritual.

Prática árida e aborrecida?

Considerado de modo superficial, o Ro-sário poderia ser visto, adverte o Papa8, como uma repetição constante de orações vocais, tornando-se uma prática árida e aborrecida. Entretanto, essa visão se transforma, se a reza do Rosário for considerada a expressão daquele amor que não se cansa de retornar à pessoa amada com manifestações que, ape-sar de semelhantes na sua demonstração, são sempre novas pelo sentimento que as invade. Pode alguém se cansar de ouvir do ser amado a sempre nova e penetrante frase: “eu amo você”?

Aprender a verdade sobre o ser humano

“Quem contempla Cristo, percorrendo as etapas de sua vida, não pode deixar de aprender dele a verdade sobre o homem.”9

Na luta diária para alcançar a santidade, temos de contemplar Cristo para aprender

8. João Paulo II, o.c., p. 39. 9. João Paulo II, o.c., p. 37.

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com Ele como se vive nesse mundo. Ele que passou pelas mesmas experiências que nós, conhecendo a fundo todos os acontecimen-tos humanos pelos quais passamos, poderá nos ajudar a corresponder à graça de poder viver a vida de Deus em nós.

Os mistérios da vida de Cristo contemplados pelo casal cristão

Ao contemplarmos os mistérios do Ro-sário, vivenciamos, um a um, os mistérios da salvação e da vida do Senhor e de sua Mãe, que se tornam presentes em nossas vidas. Certamente, por isso afirma o papa João Paulo II que “a simples oração do Ro-sário marca o ritmo da vida humana”10. Pa-rafraseando o Papa, pode-se dizer que os mistérios do Rosário rezados em casal mar-cam o ritmo de sua vida.

Como cristãos, recebemos o chamado universal à santidade. Ao recebermos o sa-cramento do matrimônio, esse chamado se concretizou na responsabilidade que um cônjuge assume sobre o outro, comprome-tendo-se a ajudá-lo a se santificar na cami-

10. João Paulo II, o.c., p. 7.

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nhada. Uma das maneiras de corresponder a esse chamado pode ser marcar nossa mar-cha diária pelos acontecimentos dos misté-rios que contemplamos ao rezar a parte do Rosário que escolhemos para cada dia.

Reflexo dos mistérios do Rosário na vida do casal

Esses mistérios têm reflexo em nossa vida de casal cristão. Contemplando e co-nhecendo melhor os mistérios da vida de Jesus e de sua Mãe, teremos uma ajuda para envolver nossas atitudes com as mesmas motivações, intenções e, principalmente, com o mesmo amor que moveu Jesus Cristo no seu relacionamento com todo o tipo de pessoas.

Espiritualidade conjugal

A vivência da espiritualidade conjugal não significa, tão-somente, oração feita em conjunto, marido e esposa. Espiritualidade conjugal é a vivência diária do sacramento do matrimônio que se manifesta em cada ato da vida do casal, oferecido a Deus e vivido com amor. A espiritualidade conjugal é o modo como o casal se relaciona com Deus, procu-

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rando aumentar sua união e viver intensa-mente em cada momento seu amor mútuo, que é a extensão do próprio amor divino.

Vinculação dos atos do dia-a-dia do casal aos atos da vida de Cristo

Várias frases mencionadas ao serem enunciados os mistérios, e antes de cada Ave--Maria, pretendem expressar alguns dos mais diversos modos de se viver a espiritualidade conjugal. Esses comentários ligam os atos mais corriqueiros da vida do casal aos mais importantes mistérios da vida de Cristo e da família de Nazaré. De fato, a contemplação de mistério em mistério, da vida do Reden-tor faz que tudo aquilo que Ele realizou aqui na terra seja profundamente compreendido pelo casal e modele sua existência.11

Que para nós, cristãos casados, o Rosá-rio seja mais um instrumento, entre tantos outros, que nos ajude a crescer na identi-ficação com Cristo, vivendo em nossa vida conjugal o mesmo amor que une as pessoas da Trindade.

11. João Paulo II, o.c., p. 19.

O Rosário meditado pelo casal

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Como o casal pode rezar o Rosário meditado

Colocar-se na presença de Deus

Deus se comunica conosco respeitando nosso modo de ser, nossa natureza. Pode-mos nos comunicar com Ele usando os mes-mos métodos empregados com as pessoas de nosso relacionamento, utilizando todos os nossos sentidos para expressarmos o que levamos na mente e no coração. Quando de-sejamos nos relacionar com alguém, inicia-mos por um cumprimento e algumas frases ou perguntas que nos ajudam a encontrar algo em comum com aquela pessoa. Depois, vamos tratando dos assuntos que interes-sam a um e ao outro, que, em geral, refletem nosso cotidiano e nos permitem aprofundar no conhecimento mútuo.

O casal coloca-se na presença de Deus pela troca de manifestações de carinho, por uma palavra de ânimo ou um gesto de deli-

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cadeza de um para o outro, pela dedicação às tarefas do lar, no acompanhamento dos filhos, mediante a ajuda a parentes, amigos e necessitados, pela oração e por tantas ou-tras maneiras de viver o seu amor.

A oração do Rosário meditado pode ser um excelente meio de comunicação do ca-sal com Deus.

Ao meditar sobre os vários episódios da vida de Jesus, o casal se aproxima de Deus e pode melhor expressar seu louvor, seu agra-decimento, sua adoração e, também, seus pedidos.

Uma pequena reflexão feita antes de cada Ave-Maria ajuda o casal a priorizar Deus no seu projeto de vida e a comunicar--se com Ele no seu modo de ser e da forma mais natural possível.

Sinal-da-cruz

Para iniciar a recitação meditada de um dos ciclos dos mistérios do Rosário, o casal coloca-se na presença de Deus fazendo o sinal-da-cruz.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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Credo

Em seguida, costuma-se recitar o Credo, colocando a profissão de fé como fundamen-to do caminho contemplativo que se desen-volve durante toda a oração do Rosário.12

Creio em Deus Pai todo-poderoso, cria-dor do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, que foi conce-bido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pi-latos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está sen-tado à direita de Deus Pai todo-poderoso de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna. Amém.

Contemplação dos mistérios: um instante de silêncio

Enuncia-se o mistério escolhido, confor-me o dia da semana, fazendo-se pequena pau-sa para breve reflexão sobre seu significado.

12. João Paulo II, o.c., p. 50.

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Cada mistério tem sua fundamentação bí-blica e a meditação sobre seu conteúdo prepa-ra o casal para ouvir o que Deus lhe quer dizer.

Pai-Nosso

Após o momento de silêncio, reza-se o Pai-Nosso.

Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso rei-no, seja feita a Vossa vontade, assim na ter-ra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofen-sas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Reflexões e ave-marias

Antes de se iniciar cada uma das dez ave-marias, lê-se em voz alta a reflexão su-gerida nas páginas seguintes, que pode ser meditada enquanto se reza a Ave-Maria.

Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulhe-res, e bendito é o fruto de vosso ventre, Je-sus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

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Glória

Completadas as dez ave-marias, reza--se o Glória, como um gesto de glorificação da Santíssima Trindade para louvar, adorar e agradecer as três pessoas divinas.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito San-to. Assim como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ao final de cada mistério, pode-se re-zar alguma jaculatória “para obter os frutos específicos da meditação desse mistério”13. Por exemplo:

Senhor Jesus, ajude-nos a viver a espi-ritualidade conjugal e a partilhar com os casais de nosso relacionamento a ex-periência de procurar obter os frutos da meditação do mistério que acabamos de contemplar.

OU

Senhor, que renovemos a cada dia o SIM que manifestamos no momento da celebração do sacramento do matrimô-nio, para que possamos compreender e viver o mistério que acabamos de con-templar.

13. João Paulo II, o.c., p. 48.

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Salve-Rainha

O ciclo dos mistérios é concluído com a oração Salve-Rainha, mediante a qual o casal revela seu amor e manifesta senti-mentos de louvor à Mãe de Deus e Rainha do universo.

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A Vós bra-damos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando nes-te vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mos-trai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ven-tre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria! Rogai por nós, santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém!

Conclusão

Finalmente, costuma-se rezar um pai--nosso, uma ave-maria e um glória pelas intenções do Papa, “para estender o olhar de quem reza, ao amplo horizonte das ne-cessidades da Igreja”14. É interessante essa

14. João Paulo II, o.c., p. 50.

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sugestão do Papa, que faz o cristão que reza se sentir inserido em um contexto maior, fa-zendo parte como cristão, ou como casal, de uma comunidade muito maior que é a Igre-ja, da qual ele é integrante e se torna respon-sável pelos demais.