Rotativismo

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A questão do regime apresentava-se nos fins do século XIX e inícios do XX como um dos grandes problemas da sociedade portuguesa. O sistema político que vigorava era a Monarquia Constitucional, com dois partidos monárquicos que iam alternando no poder: o Partido Regenerador (do líder emblemático Fontes Pereira de Melo e Hintze Ribeiro) e o Partido Progressista (de Anselmo Braamcamp Freire e José Luciano de Castro), nascido da fusão, em 1876, dos partidos histórico e reformista. Era o chamado ROTATIVISMO. Os reis D. Luís e D. Carlos ajustaram-se bem a este modelo de funcionamento, pouco intervindo na política. As vantagens dessa alternância eram a descompressão das tensões, pois cada um dos partidos sabia que chegaria a sua vez de alcançar o poder. Um dos aspectos negativos do rotativismo era o de funcionar na base de um dualismo partidário, não dando hipóteses a novos partidos de aceder à política oficial, a não ser por compromisso com os grandes partidos. Por outro lado, os governos para se manterem no poder precisavam do apoio das duas Câmaras (a do Senado e a dos Deputados); era portanto necessário que o partido chamado ao governo dispusesse da maioria parlamentar, o que se conseguia dissolvendo o Parlamento e convocando eleições, conduzidas já pelo novo Governo, que ganhava sempre as eleições, devido à influência sobre os eleitores. Em 1875 e 1876, formam-se, respectivamente, dois novos partidos, radicais, opositores da Monarquia: o Partido Socialista (formado por operários, mas devido à fraca industrialização do país, contou com poucos adeptos) e o Partido Republicano (com grande apoio na pequena e média burguesia urbanas). Este último partido vai crescendo, utilizando a imprensa para atacar a monarquia e fazer circular as suas ideias, colando-se às comemorações dos centenários da morte de figuras históricas (Camões e S. António), explorando os escândalos em que estava envolvida a monarquia ou concertando acções com sociedades secretas como a Maçonaria e a Carbonária. A partir da década de 90, o rotativismo entrará num processo acelerado de crise e esgotamento devido aos efeitos do Ultimato Inglês e a dissidências nos partidos monárquicos. Alguns governos apenas se mantêm no poder com as Câmaras encerradas e, quando em 1906, Hintze pretendia adiar mais uma vez a sessão parlamentar, D. Carlos não aceitou, nomeando João Franco dissidente do Partido Regenerador para chefiar um novo Executivo. Era o fim do rotativismo!

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Representação da Última Ceia tendo o Zé Povinho como Jesus Cristo e os apóstolos como os notáveis do Partido Regenerador (à esquerda) e do Partido Progressista (à direita). Fontes Pereira de Melo, o quarto a contar da esquerda, é representado como Judas e tem do seu lado o próprio rei D. Luís. Galeria Clássica do António Maria. O António Maria. Lisboa: Litographia Guedes, Nº 149, pp. [108-109].

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A questão do regime apresentava-se nos fins do século XIX e inícios do XX como um dos grandes problemas da sociedade portuguesa. O sistema político que vigorava era a Monarquia Constitucional, com dois partidos monárquicos que iam alternando no poder: o Partido Regenerador (do líder emblemático Fontes Pereira de Melo e Hintze Ribeiro) e o Partido Progressista (de Anselmo Braamcamp Freire e José Luciano de Castro), nascido da fusão, em 1876, dos partidos histórico e reformista. Era o chamado ROTATIVISMO. Os reis D. Luís e D. Carlos ajustaram-se bem a este modelo de funcionamento, pouco intervindo na política. As vantagens dessa alternância eram a descompressão das tensões, pois cada um dos partidos sabia que chegaria a sua vez de alcançar o poder. Um dos aspectos negativos do rotativismo era o de funcionar na base de um dualismo partidário, não dando hipóteses a novos partidos de aceder à política oficial, a não ser por compromisso com os grandes partidos. Por outro lado, os governos para se manterem no poder precisavam do apoio das duas Câmaras (a do Senado e a dos Deputados); era portanto necessário que o partido chamado ao governo dispusesse da maioria parlamentar, o que se conseguia dissolvendo o Parlamento e convocando eleições, conduzidas já pelo novo Governo, que ganhava sempre as eleições, devido à influência sobre os eleitores. Em 1875 e 1876, formam-se, respectivamente, dois novos partidos, radicais, opositores da Monarquia: o Partido Socialista (formado por operários, mas devido à fraca industrialização do país, contou com poucos adeptos) e o Partido Republicano (com grande apoio na pequena e média burguesia urbanas). Este último partido vai crescendo, utilizando a imprensa para atacar a monarquia e fazer circular as suas ideias, colando-se às comemorações dos centenários da morte de figuras históricas (Camões e S. António), explorando os escândalos em que estava envolvida a monarquia ou concertando acções com sociedades secretas como a Maçonaria e a Carbonária. A partir da década de 90, o rotativismo entrará num processo acelerado de crise e esgotamento devido aos efeitos do Ultimato Inglês e a dissidências nos partidos monárquicos. Alguns governos apenas se mantêm no poder com as Câmaras encerradas e, quando em 1906, Hintze pretendia adiar mais uma vez a sessão parlamentar, D. Carlos

não aceitou, nomeando João Franco ‒ dissidente do Partido

Regenerador ‒ para chefiar um novo Executivo. Era o fim do rotativismo!

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Galeria Clássica do António Maria. O António Maria. Lisboa: Litographia Guedes, Nº 149, pp. [108-109].

Representação da Última Ceia tendo o Zé Povinho como Jesus Cristo e os apóstolos como os notáveis do Partido

Regenerador (à esquerda) e do Partido Progressista (à direita). Fontes Pereira de Melo, o quarto a contar da

esquerda, é representado como Judas e tem do seu lado o próprio rei D. Luís.

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O António Maria (16 de Outubro de 1889). Lisboa: Typ. A Editora. Vol. 1, Nº 19, p.148.

Fontes Pereira de Melo, do Partido Regenerador, ganhou por três vezes as

eleições ‒ com o apoio de galinhas que punham ovos de oiro ‒ tornando-se um

galo velho na capoeira eleitoral.

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O António Maria (8 de Julho de 1880). Lisboa: Typ. A Editora. Vol. 1, Nº 58, p.221.

O Rei D. Luís vai tapando buracos, efectuando reformulações e

nomeações governamentais à medida das necessidades.

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Rafael Bordalo Pinheiro (1880). O António Maria. Lisboa: Typ. A Editora. Vol. 1, Nº 45 (8 de Abril de

1880), p.178.

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O António Maria (24 de Março de 1881). Lisboa: Typ. A Editora. Vol. 1, Nº 96, p.97.

Os empréstimos, concedidos pelo banqueiro Henry Burnay, são uma herança pesada que os governos monárquicos do rotativismo deixam uns aos outros. Na imagem, o progressista, Mariano de Carvalho entrega, ao regenerador, Fontes Pereira de Melo, a pesada herança.

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A Paródia (22 de Janeiro de 1902). Editor Cândido Chaves. 3 Anno, Nº 106, p24.

A Monarquia Constitucional é a soma dos partidos Regenerador (Hintze Ribeiro)

e Progressista (Luciano de Castro). Côco + Côco = ?

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A Paródia. (29 de Janeiro de 1902). Editor Cândido Chaves. 3 Anno, Nº 107, pp. 36-37.

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A Paródia (5 de Fevereiro de 1902). Editor Cândido Chaves. 3 Anno, Nº 108, p.41.

O poder é um exercício de equilíbrio. A estabilidade dos governos dependia do apoio das Câmaras do Senado e dos Deputados. Sempre que este faltava o governo caía, dando lugar a um novo.

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A corja! Semanário de caricaturas (29 Jun. 1898). .Ano I, Nº 1, p.1.

D. Carlos ‒ O rei desde 1889 ‒ deixou-se encadear pelo rotativismo partidário entre Progressistas e Regeneradores, cujo modelo de funcionamento começava a dar sinais de exaustão. O novo partido é o Regenerador-Liberal de João Franco.

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A Corja!: periódico de caricaturas (11 de Setembro de 1898). Lisboa: Litografia Artistica. Ano I, Nº 10, p.1.

O Bacôco é José Luciano de Castro que dá graxa nas botas ao mesmo tempo que beija a mão do rei. O servilismo, considerado uma das causas da nossa ruína, caracterizou o comportamento dos políticos do rotativismo.

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O poder é um jogo disputado pelos diferentes partidos. Aos partidos tradicionais: Regenerador e Progressista, juntam-se agora o Partido Republicano (em crescimento), e o Partido Regenerador -Liberal, de João Franco (dissidente dos regeneradores), ameaçando romper o equilíbrio de forças. O Zé Povinho assiste para ver qual deles chega à bola.