Roteiro Pedagógico Darwin na Escola

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Roteiro pedagogico

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Ficha Técnica Coordenação Geral Cassefaz Conteúdos e Supervisão Científica Mapa das Ideias Maria João Nunes

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Índice Exposição Eu Penso (a história de uma ideia) 4

Plano de montagem 5

1809-1831 – Paixão pela Natureza 6

1831-1836 – Viagem do HMS Beagle 8

1836-1842 – Eu Penso 11

1842-1859 – A Evolução das Espécies 13

1859-1882: Macacos ou Anjos? 15

1882-2009 – O Legado 18

Actividades (Ponto de Partida) 20

3.ºCiclo do Ensino Básico 20

Olhar com olhos de ver

Pareço-me com quem?

Ensino Secundário 21

Pedra sobre pedra

Cada organismo é uma síntese de múltiplas evoluções

Fontes de documentação 22

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Eu Penso (a história de uma ideia) Existem obras revolucionárias que mudam de forma permanente a relação do Homem na sociedade e com o Mundo. O trabalho de Charles Darwin (1809-1882) teve esse impacto, ultrapassando os limites da academia e influenciando profundamente todos os campos de acção humana. Defendido e criticado com igual paixão, Darwin provocou uma revolução científica e social com a publicação, em 1859, do livro Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural, que constituiu a base da ciência moderna. Para comemorar os 200 anos do nascimento de Darwin, lançou-se um projecto ambicioso de divulgação da sua obra, destinado a alunos do 3º ciclo e Secundário, a nível nacional: uma exposição sobre a vida e obra de Darwin. A exposição Eu Penso (a história de uma ideia) consiste num conjunto de painéis que focam os momentos-chave da vida do naturalista britânico, assim como a Teoria da Evolução das Espécies, elaborados pela Mapa das Ideias, com o apoio de responsáveis pelo projecto Darwin Online da Universidade de Cambridge. Integra também um filme multimédia, que poderá ser utilizado em sala de aula ou na própria exposição, e, para cada aluno que visite a exposição, será distribuído um desdobrável de apoio. Para potenciar o envolvimento da comunidade escolar, preparou-se este roteiro pedagógico, que disponibiliza: o plano de montagem da exposição; textos sobre a vida e obra de Charles Darwin, nomeadamente uma cronologia detalhada da viagem do naturalista britânico a bordo do HMS Beagle; propostas de actividades pedagógicas transdisciplinares, destinadas ao 3.º Ciclo do Ensino Básico e ao Ensino Secundário; e ainda fontes de documentação.

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● Plano de montagem

1 2 3 + 4

5 6 7

8 + 9

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● 1809-1831 – Paixão pela Natureza “Se não te interessas por nada senão caça, cães e apanhar ratos, serás uma vergonha para ti próprio e para a tua família” Robert Waring Darwin (pai de Charles Darwin)

Charles Robert Darwin nasce a 9 de Fevereiro de 1809, em Shrewsbury, na Inglaterra. Filho de Robert Waring Darwin e de Susannah Wedgwood, cresce num ambiente em que o intelecto e a liberdade eram cultivados. Os seus avós tiveram um importante papel no seu percurso de vida. O seu avô paterno, Erasmus Darwin, médico, poeta, filósofo e inventor, foi considerado um dos primeiros pensadores evolucionistas. Por sua vez, Josiah Wedgwood, o avô materno, criou a famosa cerâmica com o seu nome, ainda hoje um exemplo de excelência e inovação. Tendo ficado órfão de mãe aos 8 anos, Darwin durante muito tempo quis seguir a carreira de médico, como o pai e o avô. Contudo, o seu percurso académico revelou-se diferente. Entre 1818 e 1825, frequenta a Shrewsbury School. Gosta de deambular pelo campo, caçar e ler, tendo o hábito de coleccionar insectos, conchas e minerais. Não é um aluno estudioso, mas gosta muito de biologia, geologia e química. Com o irmão monta um laboratório em casa. Por esse motivo, ganhou a alcunha de “Gás”. Em 1825, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Edimburgo. Aqui, depois de assistir a duas cirurgias que considera perturbadoras, Darwin percebe que não tem vocação e decide abandonar o curso em 1827. Não obstante o aparente insucesso, estes dois anos foram muito importantes. Personagens tão diferentes como os professores Robert Jameson e Robert Grant, assim como o antigo escravo John Edmonston entraram na vida de Darwin. O primeiro leccionou um curso de História Natural que, juntamente com a leitura a obra de Lamarck (recomendada por Grant), se revelaram determinantes no seu percurso intelectual. Graças a Edmonston, Darwin aprendeu a embalsamar aves, técnica útil nos anos vindouros. Contudo, irritado com o fracasso de Edimburgo, o pai de Darwin inscreve-o no Christ’s College, Universidade de Cambridge, para seguir uma carreira eclesiástica. Aqui Darwin mantém uma vida social intensa, a par de leituras ávidas, guiadas pelo professor de botânica, John Stevens Henslow. Trabalhando como assistente de campo do professor Adam Sedgwick, aprende geologia e o método científico. Em 1831, surge o momento considerado por Darwin “como o mais importante da minha vida”. Henslow surpreende o jovem de 22 anos com um desafio: a participação numa importante expedição organizada pelo próprio Almirantado britânico. Depois de vencer a resistência paterna, Darwin parte do porto de Plymounth, a 27 de Dezembro de 1831, a bordo do navio hidrográfico britânico HMS Beagle, para conhecer um Novo Mundo… E a aventura começa!

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À Lupa Erasmus Darwin (1731 – 1802) foi um médico, filósofo, poeta e inventor inglês. No seu livro Zoonomia (1794-96) desenvolveu uma das primeiras teorias evolucionistas, na qual explicava a transmutação das espécies, através da competição e da selecção sexual. Contudo, a sua teoria padeceu de fundamentação e rigor científico. Não obstante, as suas ideias viriam a influenciar o seu neto, Charles Darwin. Médico notável – recebeu um convite para se tornar o médico pessoal do rei Jorge III – foi membro da Lunar Society, um clube formado por industriais proeminentes, filósofos e intelectuais da sociedade britânica. Foi casado duas vezes, teve uma amante e catorze filhos. Era um homem de excessos e o seu gosto pela gastronomia era sobejamente conhecido, chegando mesmo a recortar um semi-círculo na sua mesa de refeições para encaixar a sua volumosa barriga. Aliado à sua forma de estar na vida pouco convencional, as suas opiniões polémicas e provocadoras de oposição à escravatura, apoio à educação feminina e simpatia pela Revolução Francesa e pela Revolução Americana, conferiam-lhe uma maneira de ser muito diferente da do seu filho, pai de Darwin. Morreu aos 71 anos, provavelmente vítima de uma infecção nos pulmões. O seu poema The Temple of Nature (título original The Origin of Society), no qual expôs a sua visão naturalista de formação da Natureza sem intervenção divina, foi publicado postumamente, em 1803.

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● 1831-1836 – Viagem do HMS Beagle “O fascínio experimentado nesses momentos desnorteia a mente – se o olhar tenta seguir o voo de uma vistosa borboleta, ele é interrompido por alguma árvore ou fruta estranha; e ao olhar um insecto, ele é deixado de lado para que uma maior atenção seja dada à estranha flor sobre a qual ele rasteja… A mente é um caos de encanto.” Charles Darwin

A expedição hidrográfica do HMS Beagle, organizada pelo Almirantado britânico, tem como objectivo completar o estudo da América do Sul, iniciado em 1825. É importante por razões políticas, comerciais e navais. Com esta viagem, que dura 5 anos, pretende-se melhorar o conhecimento dessa zona e dos seus principais portos, assim como actualizar os mapas e cartas navais. Darwin é contratado para recolher espécimes relevantes, graças à visão científica e à necessidade de companhia do próprio comandante, Robert FitzRoy. Ambos partilham a cabina durante os cinco anos de viagem. FitzRoy é apenas quatro anos mais velho que o naturalista, possuindo uma notável experiência marítima e um grande interesse em ciência. A relação entre estas duas personagens tão diferentes é curiosa. Ao longo da viagem, foi quase sempre pacífica, discutindo livros e ideias alimentadas pelas descobertas da viagem. No entanto, alguns temas como, por exemplo, a escravatura, suscitam discussões violentas. No final da viagem publicam em conjunto um artigo jornalístico, em que louvam o trabalho de missionários anglicanos no Taiti. Não obstante os enjoos constantes e as condições pouco cómodas do HMS Beagle, a viagem representa experiências e descobertas constantes. Nos seus cadernos diários, faz descrições detalhadas de fósseis e rochas, organismos marinhos e terrestres, animais e plantas, assim como cuidadosas observações geológicas. À Lupa Robert FitzRoy (1805-1865) iniciou a sua carreira na Marinha Real Britânica com apenas 12 anos de idade. Em 1826, fez o exame de tenente e tornou-se oficial. Pouco tempo depois, foi nomeado para integrar a primeira expedição do HMS Beagle, sob o comando do capitão Pringel Stokes. No entanto, em Agosto de 1828, FitzRoy assumiu o comando do navio, após o suicídio do capitão Stokes na Terra do Fogo. Em 1831, foi nomeado capitão para a segunda expedição do HMS Beagle, para a qual sugeriu a participação de um cavalheiro que partilhasse o seu gosto pelo mundo natural. Apesar da desconfiança inicial de FitzRoy, Darwin foi apontado para o cargo e a relação entre ambos decorreu de forma tranquila. Todavia, no regresso a Inglaterra, FitzRoy rejeitou as ideias evolucionistas que partilhou com o jovem naturalista durante os cinco anos de viagem. Aristocrata e conservador, era extremamente religioso e um crítico feroz da teoria da evolução de Darwin. Homem com um grande sentido de causa pública, contribuiu através da política, da ciência e da sua própria fortuna pessoal. Foi pioneiro na meteorologia, desenvolvendo um sistema de previsão climática que se revelou fundamental para salvar a vida de muitos pescadores. Devido a depressões profundas, suicidou-se em 1865, depois de uma carreira distinta, deixando a viúva e uma filha.

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Cronologia da Viagem

Dezembro de 1831 A 27 de Dezembro, o HMS Beagle levanta âncora e parte do porto de Plymouth, em Inglaterra. Os enjoos começam de imediato e Darwin chega mesmo a ter dúvidas em relação à viagem.

Janeiro de 1832 Madeira.

Janeiro de 1832 Tenerife, Ilhas Canárias. O navio atraca no porto de Santa Cruz. No entanto, a tripulação é impedida de ir a terra, devido ao surto de cólera em Inglaterra. Darwin fica muito desapontado, pois há muito tempo que deseja conhecer esta ilha.

Janeiro de 1832 Cabo Verde. A tripulação do HMS Beagle desembarca no Porto da Praia, na Ilha de Santiago. Darwin observa um estrato de conchas numa falésia, 14 metros acima do nível do mar. Há muitos anos atrás, aquele local estaria submerso?

Fevereiro de 1832 Atravessa o Equador. De acordo com o costume, todos os novatos, incluindo Darwin, são vendados e “baptizados”com baldes de água salgada.

Fevereiro de 1832 Salvador, Brasil. Darwin explora as florestas tropicais: “Aqui vi pela primeira vez uma floresta tropical em toda a sua sublime grandeza… Nunca experimentei um tão intenso prazer”. Indigna-se com a escravatura, tendo uma acesa discussão com o comandante FitzRoy.

Abril de 1832 Rio de Janeiro, Brasil. Darwin faz uma expedição terrestre, recolhendo diversos espécimes. Três membros da tripulação que o acompanham adoecem com malária e morrem durante a excursão.

Julho de 1832

Montevideu, Argentina. Realizam uma expedição pelo Rio Paraná e, no regresso, ajudam a controlar uma revolta na cidade. Darwin faz o primeiro de vários envios de espécimes recolhidos durante a viagem para o professor Henslow, em Cambridge.

Setembro de 1832 Bahia Blanca, Argentina. Darwin viaja pela costa até Bahia Blanca. Recolhe muitos fósseis na Patagónia, descobrindo os vestígios completos daquilo que descobre ser um megatério (uma preguiça gigante), em Punta Alta.

Dezembro de 1832

Terra do Fogo. Darwin fica abismado com as tribos indígenas. Têm a capacidade de fazer fogo, mas não possuem outros recursos e tecnologias. Vivem em cabanas rudimentares e andam nus. Para espanto de FitzRoy e Darwin, os três repatriados fueginos, que tinham sido “civilizados” depois da sua captura na expedição de 1825, voltam à condição “indígena”. A destruição da missão construída em 1825 e a deserção dos fueginos leva ao fracasso da cristianização na zona. Numa noite, Darwin impede que os barcos, empurrados pelas ondas, se afastem da margem. Em sua honra, FitzRoy baptiza de Monte Darwin o pico mais alto.

Março de 1833 Ilhas Malvinas. Darwin passa algum tempo a recolher fósseis e fica intrigado com o facto dos fósseis da ilha serem diferentes dos recolhidos na costa sul-americana. Decide sistematizar estudos comparativos entre os espécimes recolhidos durante a viagem, fundamentais nas suas teorias.

Abril de 1833

Maldonado, Argentina. Darwin parte para uma expedição a cavalo, durante a qual observa a vida nas Pampas (planícies), recolhendo uma diversidade de espécimes. Numa das aldeias que visita, os habitantes espantam-se com o facto de ele conseguir orientar-se apenas com a ajuda de um compasso e ficam chocados por Darwin lavar a cara!

Setembro de 1833 Darwin faz outra expedição em direcção a Buenos Aires. Ao longo da costa, encontra mais fósseis gigantes, pertencentes a animais extintos (como o megatério e o toxodonte).

Dezembro de 1833 Puerto Deseado, Patagónia. No seu diário, Darwin descreve esta terra como sendo árida e seca, com uma flora e fauna limitada.

Março de 1834 Ilhas Malvinas. De regresso, Darwin explora a cavalo a parte leste da ilha e analisa os estranhos canais rochosos que se tratam, na realidade, de lava solidificada.

Abril de 1834 Ao longo do Rio Santa Cruz, fascina-se com a geologia do vale do rio. Encontra estratos de conchas semelhantes àqueles que havia encontrado noutros locais.

Junho de 1834 Ilha de Chiloé. O HMS Beagle atraca na ilha, onde abastecem o navio com provisões, essencialmente batatas e porcos. Darwin não gosta do local porque está sempre a chover!

Julho de 1834 Valparaíso, Chile. Darwin fica muito satisfeito com o clima quente. Nesta cidade, que considera muito bonita, encontra um antigo colega de Shrewsbury.

Agosto/Setembro de 1834 Darwin realiza a primeira expedição nas cordilheiras dos Andes, da qual regressa a doente. Durante a sua convalescença, toma conhecimento que FitzRoy sofreu um esgotamento, chegando mesmo a demitir-se temporariamente do cargo de comandante do HMS Beagle.

Novembro de 1834 Ilha de Chiloé. Descreve as florestas luxuriantes devido à chuva, e observa o Monte Osorno a fumegar.

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Fevereiro de 1835 Valdivia, Chile. Aqui experimenta um violento tremor de terra. Dura cerca de três minutos e a devastação é tremenda.

Março de 1835 Conceptión, Chile. Esta cidade também foi bastante afectada pelo tremor de terra. Na ilha de Quiriquina, Darwin apercebe-se que o terramoto levou o solo a elevar-se acima do nível do mar.

Março / Abril de 1835 Valparaíso, Chile. Segunda expedição nos Andes. Darwin explora a geologia e descobre a importância dos fluxos de lava submarinos, não obstante encontrarem-se a 1127 quilómetros da costa.

Abril / Julho de 1835 Terceira expedição nos Andes.

Agosto de 1835 Callao, Peru.

Setembro de 1835 Ilhas Galápagos. Ecossistema único, Darwin fascina-se: “a história natural deste arquipélago é extraordinária: parece um pequeno mundo em si mesmo.” Aqui recolhe muitos espécimes, incluindo 13 espécies de tentilhões, todas com formas diferentes do bico.

Novembro de 1835 Taiti. O HMS Beagle permanece na ilha durante dez dias. Explora as florestas tropicais, ficando bem impressionado com o trabalho dos missionários.

Dezembro de 1835 Nova Zelândia. Darwin observa com alguma desconfiança os nativos, talvez devido aos relatos de práticas de canibalismo.

Janeiro de 1836 Sydney, Austrália. Darwin gosta da cidade, que descreve como tendo um ambiente muito britânico. Durante uma expedição, descobre criaturas quase fantásticas, caso dos estranhos ornitorrincos.

Fevereiro de 1836 Tasmânia. Aqui Darwin estuda a geologia local.

Abril de 1836 Ilhas Cocos. Estas ilhas são totalmente compostas por coral. Uma nova pista sobre a evolução geológica? Darwin considera a possibilidade de terem feito parte de um enorme recife coral submerso há muitos anos.

Abril de 1836 Ilhas Maurícias.

Maio de 1836 Madagáscar.

Maio de 1836 Cidade do Cabo, África do Sul. Darwin visita John Herschel, director do Observatório Real da cidade. Estes dois pensadores têm importantes afinidades que transparecem nas animadas conversas.

Julho de 1836 Ilha de Santa Helena.

Julho de 1836 Ilha Ascensão.

Agosto de 1836 Salvador, Brasil. O comandante FiztRoy faz outra paragem no Brasil para verificar medições e dados, o que muito agradou a Darwin.

Agosto de 1836 Cabo Verde.

Setembro de 1836 Ilha Terceira, Açores. Darwin organiza uma visita para ver uma cratera activa. Em vez disso, encontra uma série de fissuras que libertam vapor.

Outubro de 1836 Falmouth, Inglaterra. O regresso a casa! “Cheguei a casa no final da noite passada. A minha cabeça está algo confusa de tanta alegria.”.

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● 1836-1842 – Eu Penso “Julgo que o esforço que podemos fazer para aumentar a quantidade geral de conhecimento é um objectivo de vida tão respeitável como qualquer outro que se possa desejar perseguir.” Charles Darwin

Darwin manteve um registo meticuloso das observações feitas ao longo dos 5 anos de viagem. Quando desembarca em 1836, leva consigo:

• 18 cadernos de campo. • Diário do Beagle, em que ele regista as suas impressões e sentimentos sobre acontecimentos que

ocorreram ao longo da viagem. • Quatro volumes do diário naturalista com dados e ilustrações sobre os animais e as plantas que observou

durante a viagem. • Três volumes do diário geológico assim como outros dez cadernos de notas, que descrevem em detalhe a

geologia dos locais observados. • O catálogo de espécimes com observações detalhadas dos animais, insectos e plantas recolhidos durante

a viagem. Mais de que observações, Darwin transporta interrogações. Três descobertas revelam-se fundamentais para a teoria da evolução das espécies:

• Os enormes fósseis descobertos perto de Bahia Branca. Vestígios de mamíferos desconhecidos de enorme porte, posteriormente denominados pelo Museu de Londres como megatério, toxodonte e gliptodonte.

• A rhea (ave) que recolheu no extremo sul da Argentina, mais pequena do que as espécies encontradas a Norte. Isto intriga Darwin, pois, por norma, numa mesma área não coabitam espécies aparentadas.

• A variedade de animais e de plantas que encontrou nas Ilhas Galápagos. Esta suscita uma imensa curiosidade pelas semelhanças e diferenças em relação a espécies existentes no continente. A própria geologia é uma fonte de interrogações…

Em 1837, após um curto período de permanência em Cambridge, Darwin estabelece-se em Londres. Aqui começa a organizar a sua colecção de espécimes. À semelhança dos seus tempos de estudante, integra os círculos intelectuais e científicos londrinos e torna-se membro da Geological Society of London, da Royal Society e do Athenaeum Club. O acesso a este restrito grupo é facultado através da sua amizade com Charles Lyell, geólogo que admira. Apresenta artigos sobre as suas descobertas e em 1839 obtém um subsídio para publicar The Zoology of the Voyage of H. M. S. Beagle. Desta empreitada resulta uma colecção de cinco volumes sobre os espécimes animais, ilustrada com gravuras de Darwin. Em simultâneo, escreve um relato da viagem que se torna conhecido pelo título The Voyage of the Beagle. O hábito de registar continuamente ideias e reflexões mantém-se. Hoje esses cadernos são conhecidos como Cadernos da Transmutação.

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Darwin trabalha com um extremo cuidado e empenho na sua pesquisa científica. Ao explorar as suas hipóteses de trabalho, tem a preocupação de fundamentar cada pormenor. Surgem os primeiros esboços da Árvore da Vida. Em 1839 casa-se com a sua prima, Emma Wedgwood. Em 1842, o casal muda-se para a famosa Down House, uma casa no campo, a 25 quilómetros de Londres. Aqui permanece até ao fim da sua vida, junto de Emma e dos seus dez filhos. É na Down House que Darwin estuda e escreve, vive as alegrias da vida familiar como um pai atento e afectuoso. Por esta altura, também se começam a manifestar os problemas de saúde crónicos que, muitas vezes, se prolongam durante semanas e que o acompanham toda a sua vida. À Lupa Charles Lyell (1797-1875) foi um dos mais respeitados geólogos da Grã-Bretanha no século XIX. Nasceu na Escócia e estudou direito no Exeter College em Oxford, chegando mesmo a exercer durante um curto período de tempo. Todavia, em 1827, os seus problemas de visão impediram-no de continuar e o seu interesse pela história natural cresceu, tornando-se rapidamente um perito em geologia. A publicação da sua obra Princípios da Geologia (3 volumes, 1830-1833) gerou muita controvérsia em Inglaterra. Neste livro, defendia que a superfície terrestre se encontrava em constante movimento, sujeita a alterações minúsculas e cumulativas, resultantes da acção de forças naturais (erosão, deposição, terramotos, erupções vulcânicas, etc.), que operavam uniformemente ao longo de períodos de tempo extremamente longos. Propunha também que a terra era extremamente antiga, ao contrário do que se acreditava na altura. Este livro influenciou decisivamente as teorias formuladas por Darwin, tanto que este chegou a afirmar: “Tenho sempre a sensação de que os meus livros saíram parcialmente do cérebro de Lyell (…)”. Em 1835, foi eleito presidente da Geological Society of London e, em 1848, foi armado cavaleiro, passando a usar o título sir. Morreu em 1875 e foi sepultado na Abadia de Westminster.

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● 1842-1859 – A Evolução das Espécies “Há uma certa grandiosidade nesta perspectiva da vida, com os seus diversos poderes, ter sido originalmente insuflada num pequeno número de formas ou até numa única; e no facto de, enquanto este planeta continuava a girar de acordo com a lei imutável da gravidade, a partir de um princípio tão simples se ter desenvolvido e continuar a desenvolver uma infinidade de formas, extraordinariamente belas e maravilhosas.” Charles Darwin

Por si só, a ideia de evolução das espécies não era original. O próprio avô de Darwin, Erasmus Darwin, também já havia abordado o tema. Jean-Baptiste Lamarck, naturalista francês evolucionista, lançou o seu livro Philosophie Zoologique no mesmo ano do nascimento de Charles Darwin, 1809. Aqui defendia duas teorias complementares de teor evolucionista: a do uso e desuso e a da transmissão dos caracteres adquiridos. Há que salientar aqui a extraordinária visão científica destas hipóteses científicas. Na altura, nada se sabia sobre o papel da genética na transmissão de características. O próprio fundador da genética, Gregor Mendel, só viria a nascer em 1822. Tal como já foi discutido, Darwin partilhava intuitivamente desta perspectiva evolucionista, procurando o que seria o seu fulcro: qual é o motor da evolução? Em 1838, durante a leitura do livro do economista Thomas Robert Malthus (1766-1834), Darwin afirma: “Encontrei, finalmente, uma teoria sobre a qual posso trabalhar”. No seu Ensaio sobre a População (1798), Malthus explicava que a população humana tinha uma tendência natural para aumentar, não obstante a produção de alimentos não acompanhar essa tendência. No entanto, esse crescimento populacional era limitado por causas naturais – como a morte, a fome ou as doenças – ou por factores humanos – como a guerra, restrições ao nascimento, entre outras. Darwin vê aqui um mecanismo de luta pela existência. Nesta batalha pela sobrevivência, os organismos mais fracos têm tendência para sucumbir, dando lugar à continuidade das formas superiores, mais fortes e adaptadas. Seriam estes sobreviventes que produziriam a descendência. É este o processo de selecção natural. Todavia, Darwin mantém a sua teoria em segredo. Em 1842, escreve um pequeno ensaio onde explica a sua perspectiva evolutiva. No entanto, este estudo nunca veio a público. Dois anos depois, enquanto Darwin trabalhava de forma quase sigilosa na sua teoria, a publicação de Vestiges of the Natural History of Creation veio fomentar a polémica. Este livro anónimo – soube-se mais tarde o nome do seu autor, Robert Chambers, um jornalista escocês – propunha um princípio semelhante ao de Darwin, carecendo de uma maior fundamentação científica. A polémica, as críticas inflamadas e os insultos deram a Darwin a motivação para continuar a trabalhar na sua teoria científica. Nos quinze anos que se seguiram, Darwin reúne documentos que sustentam a sua tese, realizando alguns estudos experimentais: dedicou-se à criação de pombos e ao estudo de cirrípedes, uma espécie de crustáceos que

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aparentavam ser infinitamente variados… Este último foi-lhe extremamente útil, pois demonstrou que é pela variedade que a selecção natural opera. Em 1851, um acontecimento trágico marca a família. A filha mais velha com 10 anos, Annie, morre de doença. Darwin acompanha o sofrimento da criança, explorando possíveis terapêuticas, anotando obsessivamente a evolução da doença, na esperança de salvar a filha. Perante a sua morte, Darwin revolta-se e culpa-se por ter transmitido uma fraca condição física. Emma guarda numa caixa as preciosidades dessa infância perdida, uma espécie de homenagem e memória permanentes até à sua morte. A mortalidade infantil era um fenómeno habitual na Inglaterra vitoriana. Contudo, Darwin é descrito nas diversas biografias como sendo um pai invulgarmente dedicado e encantado com os seus filhos. Esta morte minou o sentimento de fé do cientista, influenciando a sua mundivisão. O inesperado acontece em 1858. Darwin recebe a dissertação de Alfred Russel Wallace, na qual este defende praticamente a mesma teoria. O choque é tremendo e Darwin desespera, temendo que todo o seu trabalho tenha sido em vão. Todavia, os seus amigos Charles Lyell e Joseph Hooker não o deixam desistir. Ao invés, organizam a apresentação pública dos dois trabalhos. A 1 de Julho de 1858, os trabalhos de Darwin e Wallace são apresentados no Linnean Society of London – considerada a principal sociedade científica de história natural britânica. A teoria da evolução das espécies por selecção natural torna-se pública. Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida foi finalmente publicado a 24 de Novembro de 1859, pela firma John Murray. A procura é extraordinária e a primeira edição desta obra – 1250 exemplares – esgotou-se no primeiro dia. Em pouco mais de um ano, Darwin escreveu um manuscrito denso, com 502 páginas, bem fundamentado e com uma linguagem acessível. Escritor brilhante, Darwin evita equações e hermetismos científicos, expondo os seus dados científicos e as conclusões num estilo pessoal e simples, com o recurso a metáforas imaginativas. Uma das metáforas mais importantes relaciona-se com o princípio da divergência, onde explicava que a selecção natural favorecia as espécies, consoante o seu grau de diversificação. Compara a evolução dos seres vivos a uma árvore: as formas ancestrais extintas eram representadas pelo tronco e pelas raízes; os ramos representavam cada grupo principal de organismos; e a infinidade de espécies que hoje conhecemos tinham a forma das folhas e dos rebentos. À Lupa Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) foi um naturalista francês, conhecido pela sua teoria da hereditariedade de características adquiridas. Durante a juventude, estudou num seminário jesuíta e cumpriu serviço militar no Exército francês. Mais tarde, estudou botânica e num curto período de tempo tornou-se especialista nessa matéria. Tornou-se responsável pelo herbário do Jardim Real francês, onde permaneceu até 1793, altura em que foi nomeado curador e professor de zoologia invertebrada no Museu Nacional de História Natural. Em 1801, publicou Système des Animaux sans Vertebres, obra importante sobre a classificação de invertebrados e, em 1809, apresentou a sua teoria da evolução no livro Philosophie Zoologique. Segundo Lamarck, os seres vivos adaptavam-se às exigências do meio ambiente, utilizando algumas partes do corpo mais do que outras. O "uso e desuso" levariam ao desenvolvimento dessas partes e ao atrofiamento de outras. Ainda de acordo com o naturalista, estas modificações em resposta ao meio seriam transmitidas à sua descendência. Darwin interessou-se pelas ideias de Lamarck , quando frequentava medicina na Universidade de Edimburgo, apesar de ter entrado em desacordo com o naturalista francês, durante a década de 1830. Figura controversa, Lamarck atacou as teorias de Lavoisier (1743-1794) e criticou a posição anti-evolucionista do paleontólogo Georges Cuvier (1769-1832). Quando morreu, em 1829, a sua família vivia na pobreza. Os seus livros e o conteúdo da sua casa foram vendidos num leilão e Lamarck foi enterrado numa vala comum.

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● 1859-1882 - Macacos ou Anjos? “Na sua arrogância, o homem considera-se a si próprio uma obra grandiosa, merecedora da intervenção de uma divindade. Outros mais humildes e eu julgamos ser verdade que ele foi criado a partir de animais.” Charles Darwin

Apesar de Darwin não ter (ainda) alargado a sua teoria às origens do ser humano, a controvérsia rebenta. Desde a Antiguidade que a perfeição dos processos naturais era atribuída a Deus. Ao demonstrar que os seres vivos descendem de um antepassado comum em resultado de um processo de evolução que, através da selecção natural, elimina os menos adaptados, a teoria de Darwin desencadeia um conflito sem precedentes com a Igreja, com reacções científicas igualmente intensas! Assim, as opiniões dividem-se: para muitos crentes a teoria da evolução representa uma ameaça à Igreja e à estabilidade social e moral da sociedade; para outros, sustenta as suas críticas à política eclesiástica e ao próprio estado. Herbert Spencer (1820-1903), considerado um dos precursores da sociologia, publica em 1852, o artigo «A Hipótese do Desenvolvimento», no qual defende uma teoria lamarckiana de transmutação animal. Mais tarde, lança um ensaio na Westminster Review, apoiado na teoria de Malthus, no qual afirma que a pressão populacional elimina os mais fracos. Após a publicação dos seus Princípios da Psicologia (1855) defende uma progressão evolutiva contínua. Em 1864, utiliza pela primeira vez a expressão sobrevivência dos mais aptos, que Darwin usará na segunda edição da Origem das Espécies. Surgem críticas científicas. Em 1867, Fleeming Jenkin detecta uma lacuna na teoria da evolução, que diz respeito à origem e à preservação de variações favoráveis. Darwin, que mantém uma correspondência intensa com admiradores e críticos, propõe uma explicação através da hereditariedade, através do processo de pangenese. Mais tarde, este tema é retomado e desenvolvido por August Weismann (1834-1914) e por Gregor Mendel (1822-1884). Uma outra crítica à teoria prende-se com a idade da Terra. O físico William Thomson (mais tarde conhecido por Lord Kelvin) afirma que o nosso planeta não é suficientemente antigo para que a evolução ocorra. Asa Gray (1810-1888), um grande amigo de Darwin, concilia a duas perspectivas. Considera a formação da Terra e dos seres vivos um processo contínuo, ainda que orientado por leis predefinidas por Deus. Os conceitos científicos encontram eco noutras áreas, à semelhança de Spencer. Henry Buckle (1821-1862), historiador, explica no seu estudo sobre a história das nações, que as sociedades civilizadas prevalecem sobre as menos desenvolvidas. A imprensa é implacável. Surgem constantemente artigos e caricaturas sobre Darwin e as suas teorias, como é o caso da famosa ilustração da Punch, em 1861.

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O desgaste da publicação do livro e das reacções que despoletou, levam Darwin a refugiar-se na Down House, onde prossegue os seus estudos. Confia nos seus amigos a defesa pública da sua tese e a participação em debates. Do grupo de amigos que apostam na defesa da teoria da evolução, destacam-se: o conhecido geólogo Charles Lyell; o botânico Joseph Hooker; Asa Gray, especialista em botânica e professor; e o zoólogo e especialista em anatomia comparada Thomas Henry Huxley. Huxley terá sido aquele que mais se expôs, entrando em muitos conflitos públicos com o especialista em anatomia comparada Richard Owen, seu rival, religioso e completamente avesso à evolução. Aquele que é considerado um dos maiores debates na história da ciência ocorre em 1860, em Oxford. Coloca frente a frente, Thomas Huxley e o bispo Samuel Wilberforce, apoiado por Owen. Wilberforce critica A Origem das Espécies, chegando mesmo a perguntar a Huxley se este descendia dos macacos por parte do avô ou da avó. Huxley tem uma resposta pronta: prefere ter um macaco como avô do que um homem que ridiculariza um debate científico sério! Durante as décadas de 1860 e 1870 adoece com gravidade por diversas vezes. No entanto, consegue ainda produzir um conjunto importante de obras, destacando dois livros: em 1871, publica A Origem do Homem e a Selecção Sexual, que oferece uma teoria naturalista de evolução do homem; no ano seguinte, em 1872, publica A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais. Muitos autores acreditam que estas duas obras encerram o ciclo que foi iniciado com A Origem das Espécies. Já no fim da sua vida, dedica-se à sua Autobiografia. Consciente da revolução que gerou no pensamento científico, assim como da controvérsia que alimentou em todos os campos da sociedade, Darwin descreve a sua vida com a mesma simplicidade com que escreveu os seus trabalhos revolucionários. Darwin, não obstante a polémica, foi reconhecido como um génio ainda em vida. Quando morre em 1882, é sepultado na Abadia de Westminster, em Londres. Este facto mostra o reconhecimento do seu contributo para a construção de uma mentalidade moderna. À Lupa Thomas Henry Huxley (1825 – 1895) foi um zoólogo e especialista em anatomia comparada, considerado um dos primeiros autodidactas do século XIX. Nasceu em Ealing (Middlesex) e aos dez anos de idade teve que abandonar a escola, devido às dificuldades financeiras da sua família – apenas dois anos depois de ter iniciado a sua educação formal. Não obstante, aos 15 anos já trabalhava como aprendiz de médico e aos 21 anos alistou-se na Marinha inglesa. Entre 1846 e 1850, foi assistente de cirurgião a bordo do HMS Rattlesnake, que partia para uma viagem de levantamento cartográfico da costa da Austrália e Nova Guiné. A pesquisa que realizou durante este período sobre invertebrados marítimos conferiu-lhe muita notoriedade em Inglaterra. Após ser ter demitido da Marinha (por se recusar a regressar ao serviço activo), começou, em 1854, a leccionar a disciplina de História Natural na School of Mines, em Londres e, no ano seguinte, torna-se naturalista no Geological Survey. Inicialmente, Huxley era avesso às ideias evolucionistas, acreditando que o mundo natural era imutável. No entanto, a sua opinião alterou-se e na década de 1860 era o principal defensor da teoria da evolução de Darwin, chegando mesmo a ser alcunhado de “Buldogue de Darwin”. No seu livro Evidence on Man’s Place in Nature (1863), escreveu uma crítica ao que na época se conhecia sobre primatas, paleontologia humana e etnologia. Foi uma obra controversa, pois propôs explicitamente que os humanos e os macacos descendiam de um antepassado comum. Em 1870 abandonou o ensino para ocupar o cargo de presidente da Royal Society e de Inspector das Pescas. Reformou-se em 1885, após uma depressão que o começara a atormentar no ano anterior, e em 1890 muda-se de Londres para Eastbourne, cidade onde faleceu. Richard Owen (1804-1892) ficou conhecido pela sua feroz oposição à teoria da evolução das espécies de Darwin e por ter sido o autor da palavra “dinossauro” (réptil terrível). Nasceu em Lancaster, onde foi educado, e aos 20 anos iniciou o curso de medicina na Universidade de Edimburgo. Todavia, no ano seguinte abandonou o curso e terminou a sua formação no St. Bartholomew’s Hospital, em Londres, com o cirurgião John Abernethy.

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Em 1827, tornou-se assistente do conservador do Hunterian Museum do Royal College of Surgeons, William Clift, onde desenvolveu investigação científica em anatomia comparada, matéria na qual viria a tornar-se especialista. Em 1836, foi nomeado professor no Royal College of Surgeons. Foi por esta altura que Owen foi apresentado a Darwin por Charles Lyell, ficando encarregue de estudar alguns espécimes animais e fósseis que o naturalista britânico havia recolhido durante a viagem do HMS Beagle. A grande maioria do trabalho que desenvolveu incidiu em espécimes extintos, dedicando uma maior atenção aos fósseis recolhidos por Darwin na América do Sul. No ano de 1849, torna-se conservador do Hunterian Museum, função que abandonou em 1856 para ocupar o cargo de superintendente do Departamento de História Natural do British Museum. Apesar do seu percurso notável, a sua carreira ficou manchada pelas acusações de tentar apropriar-se de ideias propostas por cientistas amadores e pela sua contenda com os apoiantes de Darwin, particularmente com Thomas Huxley e Joseph Dalton Hooker. Aos 79 anos, após a sua reforma do British Museum, foi distinguido com o título de cavaleiro da Ordem de Bath. Apesar de ter continuado a trabalhar, nunca readquiriu a boa imagem que teve durante a sua juventude. Viveu em Sheen Lodge (Richmond Park) até à sua morte, em 1892.

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● 1882-2009 – O Legado “Dada a mediocridade das minhas capacidades, é verdadeiramente espantoso que tenha influenciado consideravelmente a opinião dos homens de ciência.” Charles Darwin

Daniel Dennett, um filósofo contemporâneo, reconhece com alguma ironia que pensadores não-filósofos contribuíram profundamente para a filosofia moderna – Darwin, Newton, Einstein e Freud, entre outros. O legado de Darwin é incontestável. A sua obra toca as nossas vidas profundamente, através das ramificações do seu pensamento: por exemplo, os testes psicotécnicos, a própria engenharia genética, a ideia generalizada da lei do mais forte, entre outros efeitos, maiores ou menores. Janet Browne, uma das principais biógrafas de Darwin, defende que o carácter revolucionário da sua obra reside em perceber o motor da evolução, mas também no facto de explicá-lo tão bem. Os seus livros foram autênticos fenómenos de venda na época, graças à excelente prosa do autor e à óbvia polémica. Numa época em que evolucionistas punham em causa dogmas, em que o método científico encontrava terreno entre os naturalistas e as ciências experimentais e, também sociais, a teoria de Darwin impôs-se. No entanto, segundo Browne, o próprio autor protelou a publicação da obra por uma – ou ambas – possíveis explicações:

1) Darwin temia a imensa polémica e não era um homem de confrontos. 2) Darwin queria reunir o maior número de dados possível porque intuía a imensa revolução que estava encerrada na sua teoria.

De acordo com Melissa Brown, Darwin, para além de ser um cientista brilhante, também era um cavalheiro vitoriano com preconceitos próprios da sua época e do seu estatuto social. Para esta antropóloga, esta visão torna-se particularmente importante quando analisamos as obras posteriores ao livro A Origem das Espécies. Esta opinião é partilhada com Janet Browne, que fala sobre a visão eurocêntrica e a discriminação sexual inerente a alguns dos seus textos. Segundo Dennett, a teoria da selecção natural trouxe os fundamentos para uma sociedade baseada na meritocracia. Por outro lado, trouxe o desígnio de um desenho inteligente que não seria produto de um desenhador inteligente, mas de um conjunto de processos não necessariamente conscientes. Por outro lado, a teoria de Darwin ganhou outros ecos, uma vez que sugeria uma luta pela sobrevivência entre raças. Esta doutrina ficou conhecida como darwinismo social e foi utilizada para justificar a adopção de políticas sociais e económicas, nas quais a luta era a palavra de ordem. Legitimou a competitividade, o capitalismo e a expansão imperialista. Durante a década de 1880, Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, defendeu o movimento eugenista como fundamental para o melhoramento da sociedade, encontrando apoiantes em políticos como o próprio Winston

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Churchill. O eugenismo teve um grande sucesso por toda a Europa, especialmente no Reino Unido. No entanto, os Estados Unidos da América foi um dos países que operacionalizou com mais sucesso estas políticas. As leis eugenistas suportaram políticas de segregação e de esterilização compulsiva de milhares de indivíduos, pertencentes na sua maioria às margens da sociedade. No início da Segunda Guerra Mundial, 30 dos 48 estados tinham leis e políticas eugenistas através de diferentes programas. Em 1968, 65,000 pessoas tinham sido esterilizadas coercivamente. A eficiência de alguns estados, como a Califórnia, serviu de inspiração para a Alemanha nazi e, mais recentemente, no Peru entre 1990 e 2000. As marcas destas políticas são tão profundas que, entre 2002 e 2007, cinco estados pediram perdão público por estas políticas. A ideia de evolução fomentava sentimentos ambíguos, entre o optimismo e o pessimismo. Esta preocupação foi bastante visível na produção literária da época, como por exemplo, em H. G. Wells, com a sua A Máquina do Tempo (1895), em Arthur Conan Doyle, em O Mundo Perdido (1912) ou com Robert Louis Stevenson O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde (1886). Paralelamente, na última década do século XIX, a biologia direccionou as suas preocupações para os conceitos de hereditariedade, hibridação, mutação e variação. É adoptada uma nova metodologia: à semelhança de outras disciplinas, como a física e a química, a biologia passa a ser praticada em laboratórios – passando a ser designada de biologia experimental. Ao mesmo tempo, um grupo de seguidores de Galton inicia um estudo sobre variação e hereditariedade fora do ambiente laboratorial, postulando o trabalho de campo – adoptando o nome de biometristas. A controvérsia gerada por estes dois grupos de especialistas foi considerada a fundadora da genética moderna, uma vez que permitiu redescobrir as experiências de Mendel feitas com ervilhas. Inicialmente, muito biólogos sentiram que o lado científico do darwinismo era totalmente incompatível com a genética nos seus primórdios – algo que só viria a ser alvo de um estudo mais profundo durante as décadas de 1940 e 1950. Por volta da década de 1940, assistiu-se ao renascimento das ideias de Darwin – coincidente com a comemoração do centenário da publicação de A Origem das Espécies. Este renascimento só foi possível graças à formação de um grupo de jovens naturalistas – Julian Huxley (neto de Thomas Huxley), Ernst Mayr, Sewell Wright, George Gaylord Simpson e G. Ledyard – que ficou conhecido como a «síntese moderna» das ideias darwinianas. Este grupo promoveu uma reconciliação entre as propostas de Darwin e a genética do início do século XX, dando unidade às descontinuidades aparentes do mundo vivo, reinterpretando a base genética, através do gradualismo de Darwin. Como provas científicas, apresentaram estudos sobre a evolução dos tentilhões das Galápagos. Em 1942, é publicada a obra Evolução: A Síntese Moderna. Além da genética, este grupo interessou-se também pela ética humana, uma vez que a ciência vinha confirmar a inexistência de uma entidade divina. Assim, Julian Huxley promoveu uma filosofia do humanismo, na qual sublinhava a responsabilidade da raça humana em estimular a ética e o progresso moral. No entanto, com o final sangrento da II Guerra Mundial, Konrad Lorenz – fundador da etologia moderna e Nobel de 1973 – discutiu o comportamento agressivo inato dos animais, incluindo o Homo Sapiens Sapiens. Em 1975, Edward O. Wilson publicou o livro Sociobiologia: A Nova Síntese, no qual explicava que os padrões comportamentais animais e humanos são determinados na estrutura genética de cada espécie. No ano seguinte, em 1976, Richard Dawkins publicou O Gene Egoísta, no qual afirmou que os seres humanos são dominados pelos seus genes. Estas ideias despoletaram muitas críticas na área das humanidades, pelo facto de considerarem os atributos humanos meramente biológicos, acendendo uma discussão se alastrou ao século XXI. Estranhamente, assistiu-se paralelamente ao ressurgimento dos movimentos criacionistas, talvez em reacção ao que certos grupos religiosos viam a decadência moral das décadas de 1960 e 1970. Este movimento é bastante visível nos E.U.A, particularmente nos debates sobre o ensino (ou não) da ciência da criação nas escolas.

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Actividades (Ponto de Partida) O legado de Darwin é, sem dúvida, incontestável. A sua polémica teoria sobre a evolução das espécies, através da selecção natural, retirou Deus do centro da criação e transformou, de forma inquestionável, o nosso entendimento e conhecimento sobre as origens do mundo natural, revolucionando a ciência e contribuindo para a construção de uma mentalidade moderna. Porque celebramos o bicentenário do nascimento de Charles Darwin? Utilize esta pergunta como o ponto de partida para introduzir o estudo da vida e obra deste naturalista britânico e converse com os seus alunos sobre os seguintes tópicos:

• Como seria a vida de um naturalista no século XIX? • Que instrumentos e técnicas utilizaria nas suas pesquisas científicas? • O que se entende por evolução? • Quem foi Charles Darwin? • Em que consiste a teoria da evolução das espécies? • Porque foi o livro A Origem das Espécies Através da Selecção Natural tão revolucionária na sua época? • Qual o impacto desta teoria na Inglaterra vitoriana? • Qual o legado de Darwin?

● 3.ºCiclo Olhar com olhos de ver Na sua teoria da evolução, Darwin propôs que as espécies se adaptam de acordo com o meio em que habitam, assegurando, desta forma, a sua sobrevivência. Por exemplo, certos animais têm determinada coloração de forma a conseguirem camuflar-se dos seus predadores.

! Tendo como base o tema das alterações climáticas, proponha aos seus alunos que imaginem quais as características que o ser humano teria que desenvolver para sobreviver se passámos a viver num clima com temperaturas muito elevadas? E em caso de temperaturas negativas? Sugira que registem as suas conclusões num pequeno texto ou através de um desenho. Pareço-me com quem? Nos estudos que desenvolveu no regresso da viagem a bordo do HMS Beagle, Darwin percebeu que a evolução dos seres vivos se assemelhava a uma árvore, ficando conhecida como a “árvore da vida”.

! Proponha aos seus alunos que construam a sua árvore genealógica, através da recolha de fotografias de cada membro da família. Terminada a construção, cada aluno apresentará a sua árvore à turma. Discuta com eles as seguintes questões:

• Com quem identificam os traços físicos que os caracterizam? • Qual o processo que permite que essas características sejam transmitidas de geração em geração?

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● Secundário Pedra sobre Pedra Nos cinco anos de viagem pela América do Sul, Darwin visitou muitos locais e estudou a sua geologia. Durante as suas pesquisas, percebeu que a Terra é ela própria produto de uma evolução – por acção de fenómenos mais ou menos complexos como a deposição de sedimentos, erosão, terramotos, erupções vulcânicas, entre outros – encontrando-se em constante movimento.

! Proponha aos seus alunos que se reúnam em grupos e que desenvolvam um estudo sobre a história geológica da região na qual a escola se insere. Cada organismo é uma síntese de múltiplas evoluções Na Down House, Darwin dedicou cerca de duas décadas ao estudo pormenorizado de algumas espécies – como pombos, cirrípedes, minhocas, entre outros – acompanhando o seu desenvolvimento e observando as alterações que ocorriam ao longo dos anos. Muitas destas observações sustentaram a tese defendida em A Origem das Espécies (1859) e deram o mote para a publicação em 1871, do livro A Origem do Homem e a Selecção Sexual, no qual apresentava uma teoria naturalista de evolução do homem.

! A partir de uma imagem do esqueleto do ser humano, converse com os seus alunos sobre os seguintes conceitos: • Bipedismo; • Socialização; • Cultura; • Gene; • Meme; • Dentição; • Polegar oponível; • Verticalidade; • Ontogénese; • Filogénese.

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Fontes de Documentação

● Websites PT A Evolução de Darwin http://www.gulbenkian.pt/darwin/home.html A Evolução de Darwin – Blogue http://a-evolucao-de-darwin.weblog.com.pt/ Darwin 2009 http://www.darwin2009.pt/home/ ING AboutDarwin.com http://www.aboutdarwin.com/ Becoming Human http://www.becominghuman.org/ The Complete Work of Charles Darwin Online http://darwin-online.org.uk/

● Livros

Browne, J. (2008). A Origem das Espécies de Charles Darwin (1.ª ed.) (A. F. Bastos & C. Brito, Trad.). Lisboa: Gradiva. Novelli, L. (2006). Darwin e a verdadeira história dos dinossauros (1.ª ed.) (M. T. Bairos, Trad.). Lisboa: Ana Paula Faria – Editora. Sís, P. (2005). A Árvore da Vida. Lisboa: Terramar.

● Exposições sobre Darwin

Exposição “A Evolução de Darwin” Fundação Calouste Gulbenkian 12 de Fevereiro a 24 de Maio de 2009 Lisboa Charles Darwin (1809-2009) - Evolução e Biodiversidade Museu da História Natural da Faculdade de Ciências Universidade do Porto 12 de Fevereiro a 24 de Novembro Porto Exposição "Parabéns Charles Darwin" Parque Biológico de Gaia, em colaboração com a Câmara Municipal de Gaia 12 de Fevereiro Vila Nova de Gaia Darwin 200 – 1809/2009 Em itinerância, consultar Setepés (http://www.setepes.pt/)