Roteiros Turísticos Baseados Em Obras Cinematográficas de Ficcão
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1. APRESENTAÇÃO
O tema refere-se à roteirização para um ou mais destinos turísticos tendo como critério a
influência de obras cinematográficas de ficção.
Durante a graduação participei do projeto de extensão universitária “CineUFSCar” que
consiste na administração e operacionalização de um cineclube dentro da universidade
acessível para os alunos e comunidade. Assim foi crescente o interesse pela existência de
roteiros baseados em obras cinematográficas motivado pelo contato com o cinema. No
decorrer do curso houve a troca de informações com a docente Claudia Astorino que
trabalhava o turismo cinematográfico em suas pesquisas. Com a sua orientação pude focar
minha pesquisa nos aspectos que considerava relevante para o turismo cinematográfico como
a motivação do turista, a imagem e a marca. Também fui motivada a procurar ações já
existentes por parte do poder público que tornassem viável este ramo do turismo no país.
Desta maneira a hipótese que será explorada neste trabalho de conclusão de curso parte
do pressuposto de que as mídias de ficção, a destacar as produções cinematográficas, geram
impactos na percepção do turista em potencial podendo ser decisivo no poder de atração.
Considerando as grandes obras cinematográficas como agentes formadores de opinião,
estas se tornam responsáveis por despertar o interesse da demanda em potencial em imersar
na vivência proposta pela obra. Da mesma maneira em que um filme pode atrair a demanda,
pode haver a repulsa dos mesmos que pode ser motivado por imagens que denigrem o local,
desvalorização do patrimônio ou mesmo histórias que remetem aos sentimentos de horror e
tristeza. A possibilidade de uma obra cinematográfica causar o efeito negativo exposto foi
considerada para este trabalho na medida em que o foco estará no impacto positivo causado
pela exposição da imagem.
No capítulo de número 6 haverá uma breve fundamentação teórica da evolução dos
meios de comunicação e da globalização. O conteúdo deste tópico tem como objetivo
posicionar o leitor sobre a condição da comunicação dentro da globalização. Tanto para o
cinema quanto para o turismo é relevante o quanto os meio de comunicação estão
transformando-se com avanço da tecnologia e como alcançam um número cada vez maior
pessoas.
No capítulo 7 será abordada a atividade turística com ênfase na segmentação e nos
roteiros turísticos temáticos. Neste capítulo ainda são abordados os temas referentes à
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motivação, imagem e marca. É possível analisar brevemente a atividade turística, os roteiros
temáticos e a segmentação do público desejado como consumidor do turismo
cinematográfico. Já a motivação, imagem e a marca trarão uma breve fundamentação teórica
para a visão do consumidor do turismo cinematográfico, complementando o estudo da
segmentação. No final do capítulo há uma pequena amostra das ações do poder público para
com o ramo estudado.
No capitulo 8 há uma breve fundamentação teórica para a área do cinema com foco na
visão sociológica da produção e expectativas do consumidor de obras cinematográficas. No
capítulo 9 será exposta uma consideração sobre a relação entro o turismo e o cinema e porque
as duas áreas podem ser trabalhadas concomitantemente.
Do capítulo 10 ao capítulo 13 serão trabalhados exemplos que envolvem turismo
cinematográfico. Inicialmente serão expostos destinos que alcançaram o sucesso com o
turismo cinematográfico com dados numéricos relevantes para a pesquisa. Em seguida serão
expostos alguns meios de linguagem utilizados por revistas especializadas na divulgação de
destinos cinematográficos, e de estudantes universitários quando elaboram roteiros baseados
em filmes.
No capítulo 14 o roteiro proposto como conclusão para este trabalho baseado na obra
cinematográfica brasileira “O Quatrilho” que envolverá todos os elementos identificados
como fundamentais para o sucesso de um roteiro de turismo cinematográfico. No capítulo 15
uma conclusão geral do estudo é apresentada.
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral
O objetivo geral do trabalho é estudar os fatores envolvidos na realização de pacote
turístico temático a partir de produções cinematográficas.
Objetivos Específicos
Os objetivos específicos almejados neste trabalho são:
Elaborar análises teóricas sobre os seguintes temas: turismo, cinema e motivação.
Identificar empresas ou entidades que têm como objetivo a promoção de um destino
através de produções cinematográficas;
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Elaborar um roteiro temático baseado no filme “O Quatrilho”.
3. JUSTIFICATIVA
Considerando o avanço dos meios de comunicação, a mídia tornou-se um dos maiores,
se não o maior influenciador da opinião dos consumidores. Todos os países passaram a trocar
informações e opiniões de maneira jamais vista, fazendo com que as diversas culturas
influenciassem e fossem influenciadas. Assim, segundo Gastal (2000), o poder de consumo
cultural espalhou-se além das camadas privilegiadas, e a disseminação de aparelhos de rádio e
televisão fez com que a divulgação em massa da cultura leve pessoas a roteiros ao redor do
mundo. Nielsen (2002, p.101) afirma que as pessoas dependem, em maior ou menor grau, da
comunicação em massa, para poder conhecer a sociedade em termos mais abrangentes.
Segundo o Ministério do Turismo (2007, p.6), as tendências do audiovisual estão
indiretamente colaborando para o crescimento do turismo, de maneira que há uma forte
tendência à atração de maiores quantidades de pessoas para esta opção de lazer devido à
modernização dos meios de comunicação. As formas de distribuição como internet e telefonia
móvel repassam informações em velocidades cada vez maiores, e o interesse crescente pelas
imagens estratégicas e belezas cênicas faz com que o audiovisual divulgue indiretamente
destinos turísticos. A intenção do audiovisual em envolver manifestações artísticas e
intelectuais, em geral, desperta o interesse da demanda em potencial em adquirir para si a
nova vivência proposta.
As duas áreas possuem semelhanças que merecem ser consideradas para possíveis
parcerias, como a natureza multidisciplinar e a necessidade constante de atualização perante
as tendências mundiais.
Segundo Tavares (2002, p.2) os roteiros turísticos são uma forma de contextualizar os
atrativos, de fazer uma leitura da realidade e de visualizar a situação socioeconômica da
localidade. É importante que o roteiro, mesmo que tenha uma abordagem abrangente, seja
coeso e claro, mostrando, além da cultura, a alma do lugar.
Muitos países, percebendo esta nova área de atuação, desenvolveram roteiros baseados
em produções cinematográficas, entre os quais destacam-se: África do Sul, Argentina,
Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, França e Nova Zelândia, que incluíram seus
principais atrativos no circuito internacional, criando oportunidades para o desenvolvimento
desses e da economia do país.
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Ademais, segundo o Ministério do Turismo (2007, p.4), a parceria entre o setor do
audiovisual e do turismo pode trazer à tona os desejos subjetivos e a realização do
desligamento da vida real e imersão no lúdico proposto pelo personagem principal, trazendo
desenvolvimento econômico e turístico para a destinação.
Portanto nota-se que o turismo cinematográfico é relevante para as duas áreas
envolvidas, sendo para o turismo a divulgação de destinos e motivação de possíveis visitantes,
e para o cinema, crescimento no setor com novos investimentos em captação de filmagens, e
promoção da obra. Para que o estudo fique completo fez-se necessária a fundamentação
teórica dos elementos envolvidos na realização de um roteiro turístico temático visto que o
conhecimento aprofundado permite uma análise mais precisa do objeto de estudo.
Outro fator relevante sobre este trabalho é sua colaboração para as pesquisas referente
ao tema. A relação entre o turismo e o cinema é pouco discutida no meio acadêmico e a
presente monografia pode colaborar para o incentivo à pesquisa teórica e mercadológica sobre
o assunto.
Pretende-se também, com a monografia, criar um roteiro que possa valorizar a
imigração italiana para o Rio Grande do Sul de maneira diferenciada, evidenciando aspectos
como métodos de produção, cotidiano do imigrante, culinária caseira e patrimônio
arquitetônico, deixando em segundo plano as características já bastante trabalhadas como as
festas, músicas e culinária já divulgadas pela mídia.
Em relação ao curso de Turismo da Universidade Federal de São Carlos, a relevância
baseia-se no fato de que este é o primeiro trabalho de conclusão de curso relacionado à
disciplina “Roteiros Turísticos”, e poderá servir de modelo e incentivo para os próximos
alunos por aprofundar vários tópicos apresentados em aula.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A primeira atividade realizada foi a pesquisa bibliográfica. Tendo como base a
metodologia especificada por Medeiros (2005, p.48), a base documental preferencial para este
trabalho é de caráter primário, pois, foram utilizados periódicos especializados na área,
periódicos não especializados e jornais (locais, regionais, nacionais e internacionais). Com
caráter secundário, mas não de menor importância foi feita uma consulta secundária a livros e
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artigos relacionados à temática do turismo, roteiros, cinema, marketing e psicologia do
turismo.
Ainda segundo a definição de Medeiros (2005, p.48), foram seguidas as quatro etapas
propostas para levantamento de dados:
A identificação, com o levantamento do maior número possível de dados sobre o
assunto;
A localização, com o levantamento de obras específicas dentro das anteriormente
pesquisadas;
A compilação, de maneira a armazenar as informações necessárias adquiridas;
O fichamento do material com o propósito de facilitar o acesso aos dados quando
necessário.
Após a primeira etapa, uma segunda pesquisa foi feita, esta segundo Marconi e
Lakatos (2007, p.176), teve caráter não escrito de origem primária, ou seja, fotografias, filmes
de ficção e filmes comerciais, produzidos para a programação televisa ou cinematográfica
sobre o filme “O Quatrilho” que será utilizado para elaboração do roteiro.
Após as etapas anteriores foi feita a análise e interpretação dos dados obtidos e
organização destes de maneira facilitar a transcrição para a monografia.
Para a elaboração do roteiro turístico proposto, adotou-se a definição de Chan (2005)
para “pacotes turísticos” como uma descrição ideal do que será tratado por “roteiros
turísticos” nesta monografia. A partir da seleção da definição que foi utilizada como base
terminológica, foi utilizada a descrição de Perussi (2008) das etapas referentes à confecção de
um roteiro.
Perussi (2008, p.175) afirma que os elementos fundamentais em um roteiro turístico
são:
Meio de transporte: utilizado para a chegada ao destino e para o deslocamento dentro
desse. O modal selecionado (rodoviário, aéreo, hidroviário ou ferroviário) deve
privilegiar o visitante em termos tanto de duração quanto de paisagem cênica, quando
possível;
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Meio de hospedagem: que podem ser considerados como hoteleiros (quando possuem
registro para exercer a atividade junto ao órgão regulamentador) ou extra-hoteleiros
(quando não possui o referido registro);
Serviço de alimentação: que pode ser contratado dentro do hotel ou em
empreendimentos particulares fora dos hotéis. Não há obrigatoriedade de todas as
refeições estarem inclusas no pacote oferecido;
Receptivo local: inclui os traslados da central de chegada do hóspede para o meio de
hospedagem, e vice-versa, conhecido como transfer, e city tour ou sightseeing1,
modalidades diferentes, que envolvem, de maneira geral, uma visita pela destinação
utilizando-se de um meio de transporte;
Entretenimento: são os passeios inclusos no roteiro;
Seguro-viagem: produto que visa à proteção ao passageiro para assegurar sua
integridade física e zelo com pertences. Pode conter outros elementos além do plano
médico e seguro para bagagem.
Para o roteiro baseado no filme “O Quatrilho”, foram utilizados todos os tópicos
expostos por Perussi (2008), sendo que não houve inclusão do meio de transporte até o ponto
inicial do roteiro, pois esta proposta não privilegia um ponto de origem em especial, isto é, os
turistas podem ser provenientes de qualquer cidade, estado ou país. Já para a hospedagem,
foram utilizados dois estabelecimentos equivalentes a um padrão de três estrelas, com
apartamentos duplos, e apenas um de categoria superior, em função de sua singularidade
temática, com apartamentos duplos. Para a alimentação foram incluídos no pacote todos os
cafés-da-manhã, dois almoços, dois jantares e duas refeições, à escolha do cliente no Hotel &
SPA do Vinho.
Quanto ao receptivo local foram feitas pesquisas de custo para o cliente através de
empresas especializadas em transportes de pequenos grupos, tendo como base o estado de São
Paulo, devido a indisponibilidade de contato com empresas do Rio Grande do Sul.
O entretenimento, neste caso, pode ser considerado o ponto forte do roteiro, já que, por
ser temático, é obrigatório que haja atividades relacionadas com o tema central, neste caso, o
1 Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis:
City tour é um passeio pelos principais pontos turísticos de uma cidade;
Sightseeing é um passeio pelos principais pontos turísticos de uma cidade geralmente utilizando algum tipo de
veículo. Período mais breve do que o d um city tour;
Tranfer é o transporte, normalmente do aeroporto para o hotel; o mesmo que traslado.
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filme “O Quatrilho”. O último item, o seguro viagem, não foi discutido por se tratar de um
serviço fornecido por uma agência, em específico, cabendo a essa as regras da aplicação para
tal serviço.
Perussi (2008, p.176) também discorre sobre a importância de uma investigação em
campo para a análise in loco do roteiro pré-formulado. No caso do roteiro a ser apresentado,
não houve a possibilidade desta visita devido à indisponibilidade de recursos financeiros da
autora. Para a confecção deste, foram utilizados meios como internet para pesquisas, telefone
e email para a comunicação com os fornecedores. Esta é a representação acadêmica de um
problema real enfrentado pelas operadoras turísticas, que, não raras vezes, devem elaborar
pacotes sem tempo hábil, ou mesmo, sem recursos financeiros suficientes para uma pesquisa
in loco.
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para o levantamento bibliográfico do presente trabalho, foram consultadas cerca de
quarenta obras literárias especializadas em turismo, cinema, marketing e psicologia;
aproximadamente vinte artigos acadêmicos elaborados por mestres e doutores em turismo;
cerca de duzentos periódicos especializados em turismo e marketing; e diversos sítios
eletrônicos especializados ou não na área do lazer e do turismo.
Foram pesquisados trabalhos de conclusão de curso para que pudessem complementar
e acrescentar conteúdos a essa monografia, e foi encontrada uma defesa recente (2008) da
autora Jéssica Gabriel feita para a Universidade de São Paulo com o título “Turismo e cinema:
filmes nacionais e motivação para viagens”. Não foi possível o contato com a autora, pois não
houve informações suficientes para tal, mas a existência desse pode significar o avanço da
pesquisa científica recente sobre o tema “turismo e cinema”.
Para abordar a globalização, foram utilizados os autores, Magnoli (obra da área da
geografia focada em globalização), Santos (obra das ciências sociais especializada em
globalização), Beni (especializado em turismo), Goeldner, Ritchie e McIntosh (especializados
em turismo), Trigo (obra especializada em turismo), Marín (obra especializada em agências
de viagens), e Charney e Schwartz (autores da área do cinema).
Para tratar o assunto do turismo foram utilizadas obras de Acerenza, Trigo, Beni,
Nielsen, Araújo e Goeldner, Ritchie e McIntosh. Todas as obras têm como tema central a
atividade turística. Um manual elaborado pela Organização Mundial do Turismo específico
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sobre turismo cinematográfico também foi utilizado como guia central para a elaboração do
texto.
Com relação ao tema “roteiros turísticos” houve uma grande dificuldade de pesquisa
bibliográfica, pois não existem muitas obras específicas sobre o assunto. Foram utilizados
autores como Tavares, que possui uma obra vinculada à coleção ABC do Turismo cujo tema
central é o City Tour, abordando o tema “roteiros turísticos” em grande parte; Beni que
utilizou-se do tema em capítulos específicos de sua obra; e Chan, com obra publicada na
Argentina, que possui textos mais focados em “roteiros turísticos”.
Para tratar de cinema, foram selecionados materiais básicos na área, pela necessidade
de superficialidade no tratamento de um assunto que não é domínio da autora. Assim, foram
escolhidos obras do Ministério do Turismo em parceria com o Instituto Dharma, que tratam
sobre turismo cinematográfico, Martín que aborda o cinema com uma visão técnica, e Xavier,
que explica a visão antropológica do cinema.
Para referencial na temática da motivação e marketing em turismo, foram utilizados os
trabalhos dos seguintes autores: Beni, Goeldner, Ritchie e McIntosh, Middleton, Mota,
Cooper, Fletcher, Gilbert, Shepherd e Wanhill, Jenkins e Lickorish, Bignami, Acerenza,
Ignarra, Dias, Swarbrooke e Horner. Todos os autores discorrem sobre a área do turismo.
Finalmente, para discorrer sobre o papel do cinema na motivação do consumidor,
foram utilizados autores da área do cinema sendo eles: Melo, Xavier, Cordeiro, Salvadore e
Charney e Schwartz.
6. GLOBALIZAÇÃO, TURISMO E COMUNICAÇÃO.
A globalização trouxe a aceleração das trocas de bens de serviços, informações e
comunicações, das viagens internacionais e do intercâmbio cultural, intensificando a
dependência das nações em função do fluxo de comércio e capitais. (BENI, 2003, p.18). Desta
forma, é possível afirmar que a troca de informações e o avanço tecnológico na área da
comunicação foram processos fundamentais para o desenvolvimento da atividade turística,
pois constituem o principal elemento influenciador na tomada de decisão da demanda
potencial.
O acesso à destinação visada pelo turista pode tornar-se real em dois sentidos: nas
informações que tornam a „paisagem‟ conhecida pelo lado cognitivo, estimulando o encontro
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real, e no avanço do setor de transportes, que permitiu o acesso físico ao espaço visado.
Assim, a breve discussão relativa aos principais períodos da globalização tornará mais
clara a importância do fenômeno para o assunto em questão.
A associação do poder e a riqueza do Estado ao espírito de iniciativa dos
empreendedores particulares portugueses, impulsionado pelas viagens dos descobrimentos e
expansão comercial mercantilista, causou a colonização da América portuguesa. Com a
distribuição de capitanias e sesmarias e monopólio holandês sobre as rotas do Atlântico e do
Índico o papel da iniciativa privada tornou-se crucial na articulação do espaço internacional
(MAGNOLI, 2003, p.13).
Como resultado das explorações, os países europeus envolvidos obtiveram avanço
econômico, porém, os países asiáticos, africanos e americanos conheceram a escravidão, a
exploração, a retirada de suas riquezas naturais e extermínio populacional e cultural. Podemos
identificar, nesta época, o primeiro salto no avanço dos transportes, representado pela
navegação, e na comunicação, além de outras áreas não relevantes para esta análise.
Assim como o mercantilismo, a Revolução Industrial possibilitou um grande salto para
a globalização. Neste período, podemos observar o avanço significativo dos meios de
transportes com a primeira máquina a vapor. Em conseqüência disso, Thomas Cook em um
período avançado da Revolução, pôde iniciar suas excursões pela Europa.
O foco desta nova fase foi o intenso desenvolvimento dos transportes, representados
pelos trens e navios, e das comunicações, representado pelo telégrafo (MAGNOLI, 2003,
p.13).
O terceiro ponto de relevância no processo de globalização foi o período
correspondente ao da Segunda Guerra Mundial, cujos avanços tecnológicos foram decisivos
para a comunicação e transporte entre países e pessoas, atingindo o estágio desejado para esta
análise. As táticas e planejamento militares estimularam o avanço tecnológico na questão da
locomoção e das comunicações, e com o fim da Guerra, os novos métodos passaram a ser
utilizados para o bem-estar social.
O terceiro estágio da globalização, que aconteceu nos anos após a Guerra, foi marcado
pela divisão mundial em blocos políticos com a Guerra Fria. A Europa e a União Soviética
seguiram dois processos distintos de integração internacional dos mercados, colocando uma
nova fronteira geográfica para a globalização (MAGNOLI, 2003, p.16).
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A Globalização é um movimento que tende a continuar e tornar-se cada vez mais
intenso. As cidades ficarão cada vez mais globalizadas, formando complexas redes
cosmopolitas. O aumento da oferta e da concorrência, estimulados pela abertura de mercados
em nível global, provocou mudanças no fluxo de turistas e o surgimento de clientes globais,
ou seja, pessoas com gostos e necessidades similares em diversas partes do mundo (MARÍN,
2004, p.33).
Grande parte deste desenvolvimento terá como base o avanço na comunicação,
despertando com o maior número de informações circulantes o interesse das pessoas em
experimentar novos destinos. A curiosidade é natural dos seres humanos e o alto nível de
globalização da informação, representado pela televisão e imagens, associados ao alto nível
de educação, criam uma consciência cada vez maior sobre o mundo (GOELDNER; RITCHIE;
MCINTOSH, 2002, p.18).
O cinema, como parte integrante da área da comunicação, evoluiu em conjunto com
essa, e, atualmente, podemos afirmar que a imaginação tornou-se um fato coletivo, deixando
processos individuais ligados a rituais e estados da arte em sua confecção, para tornar-se
cotidiano para a maioria dos cidadãos. A combinação da evolução tecnológica com a
desterritorialização promoveu a criação de “universos simbólicos transnacionais”, com a
disseminação e partilha de gostos, prazeres e aspirações (SANTOS, 2003, p.44).
Assemelhando-se ao turismo, o processo de produção das obras cinematográficas
pressupõe a criação, a materialização, a distribuição e a disponibilidade para o consumidor no
mercado. O cinema também necessita de materiais específicos envolvendo elementos
subjetivos (história, paisagem, cultura, etc.) e elementos físicos (como estúdios, câmeras,
equipamentos de som e iluminação, etc). Assim torna-se um setor econômico de grande
importância para o mercado mundial, pois envolve diversos agentes econômicos diretos e
indiretos desde o seu desenvolvimento físico até a sua comercialização.
Podemos considerar duas vertentes para a explicação do fenômeno cultural dentro do
processo de globalização: a visão econômica, exposta anteriormente, e a sociológica.
Com relação à vertente sociológica, pode-se dizer que é a visão dos produtos culturais
como portadores de idéias, símbolos, estilos de vida, valores e significados. Os filmes e
produtos audiovisuais são poderosas ferramentas, portadoras de estilos de vida, e transmitem
mensagens sociais podendo causar um impacto cultural muito poderoso (TRIGO, 2005, p.60).
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Esta relação entre as duas visões representam a realidade da arte na globalização: ora
um investimento comercial, ora uma forma de expressão artística. Para a presente análise, será
considerado o cinema como expressão artística.
A relação entre a atividade turística e a cinematográfica, no processo de globalização,
é concreta, quando considerada “uma época de uniformização, quase não se pode distinguir
os produtos de uma localidade dos de outra” (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002,
p.192). Portanto, o estímulo ao conhecimento de outras formas de cultura pode ser feito
através de expressões artísticas criativas e originais por todas as partes do mundo.
O cinema encontra-se em uma rede de circulação de entretenimento de grande alcance,
que representa, ao mesmo tempo, visões estrangeiras, locações remotas, e transformações de
identidade de atores e objetos; assim como „passeios fantasmas‟, cujas posições de câmera
simulam a visão do mundo em primeira pessoa, causando a sensação de „turismo‟ para os
espectadores sentados em um ambiente cercado por paredes (CHARNEY; SCHWARTZ,
2004, p.35).
Expressivo contingente de novos viajantes preparam suas malas para
conhecer novos destinos turísticos. A imaginação criativa, sonhadora e
especulativa, alimentada por desafios e pela comunicação global da
internet e da televisão a cabo, pela profusão de novas publicações de
excelente qualidade gráfica e de conteúdo ilustrativo, como é o caso de
suplementos e revistas de turismo especializadas, transpõe os limites de
horizonte e mergulha esse novo contingente na virtualidade do concreto
imaginado. (TRIGO, 2005, p.34)
O cinema pode ser inserido no contexto apresentado por Trigo juntamente com os
outros meio de comunicação designados, representando sociedades cosmopolitas em um
mundo globalizado e fornecendo um estímulo de grande importância para os turistas em
potencial.
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7. TURISMO
O turismo, por ser uma atividade multidisciplinar e de grande abrangência, possui
diversas definições. Como o objetivo deste trabalho não é encontrar a definição ideal para a
atividade, serão apresentadas apenas as definições consideradas como fundamentais para o
entendimento do setor no contexto do trabalho.
Um elemento fundamental que pode ser considerado motivador para a demanda
potencial é o uso de seu tempo livre. Segundo Acerenza (2002, p.33), há três grandes
categorias para o uso do tempo livre: o tempo natural, utilizado para as atividades vitais como
dormir e alimentar-se; o tempo de trabalho, dedicado para a sobrevivência financeira; e o
tempo livre, dedicado ao espairecimento, distração e entretenimento.
Este tempo livre pode ser preenchido com atividades recreativas, ou seja, atividades
prazerosas para obter distração, relaxamento mental e/ou físico. Ressaltando que o lazer tem
como fundamento o caráter subjetivo e as sensações causadas podem ser diferentes em cada
individuo. As atividades recreativas podem envolver ambientes internos ou externos, como
exercícios físicos ao ar livre, fazer uma viagem, ir ao cinema ou assistir televisão
(ACERENZA, 2002, p.37).
Assim, podemos deduzir que o turismo, como as atividades recreativas não têm
restrição de classes sociais, podendo ser realizado por diferentes pessoas de diferentes culturas
e situações financeiras (TRIGO, 2005, p.65).
Considerando a face recreativa do turismo, podemos utilizar a definição da
Organização Mundial do Turismo (2001, p.03), que doravante será denominada pela sigla
OMT, para especificar a atividade:
O turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante
suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por
um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros.
Esta definição da OMT torna-se ideal para esta análise, pois envolve todos os
segmentos do turismo, assim como não traz especificidades acerca da motivação desta
viagem.
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Outras definições pertinentes a este trabalho, pertencem à área da economia. McIntosh
(apud BENI, 2007, p.34), apresenta a seguinte caracterização:
Turismo pode ser definido como a ciência, a arte e a atividade de atrair
e transportar visitantes, alojá-los e cortesmente satisfazer suas
necessidades e desejos.
O foco econômico da atividade consiste nos valores agregados e diferenciais do
produto turístico, a fim de atrair uma demanda maior para os componentes do trade,
otimizando a satisfação do cliente para garantir o sucesso financeiro da atividade. Ryan (apud
Nielsen 2002, p.12), consegue demonstrar mais objetivamente o aspecto econômico do
turismo:
(...) um estudo da demanda e oferta de alojamento e serviços de apoio
para os que estão longe de casa e os resultantes padrões de gastos,
criação de renda e emprego.
Outra visão do turismo pertinente é a holística, ou seja, a que tem como objetivo reunir
todos os elementos envolvidos em apenas uma definição. Hunziker e Krapf (apud BENI,
2007, p.36) dissertam que o turismo é:
A soma dos fenômenos e das relações resultantes da viagem e da
permanência de não residentes, na medida em que não leva à residência
permanente e não está relacionada a nenhuma atividade remuneratória.
Jafar Jafari (apud BENI, 2007, p.36), consegue sintetizar ainda mais o turismo:
É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que
satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria,
geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área
receptora.
Hunziker e Krapf destacam, em sua definição, o aspecto da não residência e da
motivação econômica, já Jafari explora a relação do visitante com o ambiente físico e social
da destinação. O importante é ressaltar que há uma busca constante pelo envolvimento de
todos os elementos do turismo, desde o visitante até a destinação.
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Há diversas definições acerca do tema, assim, a OMT (2001, p.39) listou algumas
características fundamentais para a existência da atividade e comuns às definições existentes,
sendo elas:
o deslocamento para fora do local de residência;
a passagem provisória pela destinação;
o envolvimento não apenas da viagem, mas das atividades realizadas durante a
mesma;
as diferentes motivações por parte dos turistas;
os produtos criados para satisfazer as necessidades dos viajantes.
O produto turístico possui características peculiares, que o difere dos produtos
tangíveis, os quais podem interferir no resultado final quando não consideradas pelo
planejador. A partir de uma visão panorâmica, pode-se identificar o produto turístico como
inseparável (o local de consumo é o mesmo da produção), intangível (representado pela venda
de experiências), perecível (há data limite para a aquisição do mesmo) e variável (pelos
diversos fatores que podem influenciá-lo como clima, situação econômica, características
pessoais, etc).
O caráter intangível do setor faz com que o cliente não tenha contato físico e
sentimental com o produto no momento de sua aquisição contando apenas com experiências
informativas superficiais, ou seja, contato com mídia, recomendação de amigos, vivências
anteriores, aconselhamento dos agentes de viagens, etc. Relevante para esta abordagem é a
ausência de padrões de comparação com outros produtos do mesmo tipo, pois, dificilmente,
hotéis que não pertençam à mesma bandeira possuem características de extrema semelhança
em diversas partes do mundo, assim como viagens rodoviárias podem não contar com a
mesma infra-estrutura em diversas épocas do ano, etc (ARAÚJO, 2002, p.26).
As características do produto, mescladas à sua intangibilidade, transformam a sua
venda em um sistema complexo, que pode resultar em diferentes respostas do consumidor, ou
seja, a subjetividade da demanda refletida em sua expectativa de experiências e conclusões
sobre a vivência experimentada, são decisivos para o sucesso e qualidade do serviço turístico
(ARAÚJO, 2002, p.35).
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O setor do turismo está desenvolvendo-se juntamente com a globalização,
considerando os avanços dos transportes e da tecnologia da informação. Algumas medidas
para a inserção da atividade no cenário global estão sendo tomados, de maneira a conciliar o
desenvolvimento econômico e a preservação de características peculiares. A regionalização é
a alternativa mais evidente desta tendência, acentuando um processo de descentralização da
gestão para tornar os destinos mais competitivos (BENI, 2007, p.199).
Carvalho (2005, p.36) demonstra que, em 2020, as viagens vão triplicar no mundo,
sendo que as intra-regionais serão a maioria e, baseado nesses dados, aponta algumas
tendências da atividade para os próximos anos, dentre as quais podem-se destacar:
Viagens de férias distribuídas em períodos diferentes do ano;
Maior influência da internet;
Popularização do GPS;
Desenvolvimento de uma mentalidade ambiental;
Maior segmentação da atividade.
Desta maneira, podemos concluir que o setor do turismo é de complexa definição por
envolver fatores multidisciplinares, cujo sistema está baseado em características intangíveis.
Fortemente influenciado pelo processo de globalização, permite a integração de países menos
desenvolvidos no mercado, assim como facilita o acesso a destinações e informações.
Para inserir a atividade dentro das tendências, é necessária a identificação de um
segmento-chave da demanda para o direcionamento das atividades. No caso deste trabalho, o
segmento identificado é o do turismo cultural, e BENI (2007, p.91) explica de maneira mais
clara a motivação desta escolha:
Em um sistema cultural modelado principalmente pelos meios de
comunicação de massa, o turismo representa um tipo de ação pessoal
que enriquece os conhecimentos, uma reação contra cultura massificada
e uma oportunidade para atingir um meio verbal de comunicação,
observado entre os turistas que dialogam.
16
O turismo cultural possibilita a aprendizagem e a consciência das pessoas sobre a
existência de outros modos de vida. O turismo é uma importante ferramenta para promover
novas relações e cooperações culturais (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002, p.191).
7.1. Roteiros turísticos temáticos
Segundo Tavares (2002, p.15), os roteiros têm grande importância no
desenvolvimento do turismo. Com o passar dos anos tornaram-se elementos fundamentais na
organização e comercialização do turismo como um produto.
Agregar valores à destinação faz com que a paisagem natural possa ser adaptada aos
diferentes modos de vida, diversificar a oferta do turismo na localidade e garantir a
continuidade do produto. Este processo de agregação de valores, segundo Beni (2007, p.35),
vai além dos requisitos físicos como o meio de transporte, hospedagem, alimentação e
entretenimento, e torna-se completo com a respectiva fruição do roteiro, ou seja, com o
objetivo e o sentido que é dado a ele. Podemos notar a complexidade da elaboração de um
roteiro.
Beni (2007, p.37) comenta que o sucesso das destinações turísticas não está apenas na
suficiência em informações sobre seu patrimônio físico e cultural, mas também na capacidade
em despertar a curiosidade do turista em potencial, através do uso de sentimentos, sensações,
emoções e percepções.
Uma das maneiras de diversificar o produto e estimular sensações e percepções é o
desenvolvimento de roteiros turísticos temáticos. Estes, combinados com os elementos
hospitaleiros da localidade, podem garantir o sucesso do atrativo, ressaltando a importância
do mesmo ser adequadamente planejado.
Como já dito, a globalização interfere nas características singulares de uma localidade,
fazendo, muitas vezes, com que características culturais sejam incorporadas e repassadas entre
diversas nações mundiais. O maior diferencial das destinações, além de seus aspectos físico e
social, é a maneira com a qual seus elementos são distribuídos, ou seja, no sucesso da venda
isolada de seus atrativos ou na elaboração de roteiros inovadores e eficazes.
17
Tanto para a pesquisa acadêmica quanto para as práticas de mercado o termo roteiros
turísticos não possui definições e conceituações comuns. Tavares (2002) em sua pesquisa
terminológica traz algumas definições:
descrição pormenorizada de uma viagem, itinerário; indicação
metódica e minuciosa da situação e direção de caminhos, etc. duma
povoação; guia. (DICIONÁRIO AURÉLIO apud TAVARES, 2002,
p.10)
Dentre as nomenclaturas utilizadas para roteiro, pode ser encontrado
“itinerário” como sendo “documento que contém a descrição detalhada
de um caminho a percorrer em viagem, podendo conter informações
diversas de interesse turístico”. (DICIONÁRIO BRASILEIRO DE
TURISMO apud TAVARES, 2002, p.10)
As duas conceituações apresentadas, dentre elas a do Dicionário Brasileiro de
Turismo, não consideram outras atividades envolvidas além do trajeto propriamente dito, não
incluindo elementos importantes para o sucesso de um roteiro, como o que será proposto
neste trabalho, como a hospedagem e a alimentação.
Já Chan (2005, p.18) possui uma visão teórica pertinente a este trabalho.
Primeiramente ela expõe o conceito de Rota Turística:
La ruta turística tiene por función la promoción de un área, de un región o
de una temática con potencialidad turística. Entre sus principales
características se encuentran: la facilidad del encuentro entre el visitante y
el medio y la sensación de libertad que tiene el turista para moverse en un
determinado destino.
Após sua definição de rota, Chan (2005, p.19) define o pacote turístico:
Según la definición clásica, el Paquete Turístico es el conjunto de servicios
prestados en base a un itinerario organizado previamente, que es adquirido
en forma „de bloque‟ a un precio único y global. (…) Se lo considera un
conjunto de servicios debido a que en momento de su operación cada
programa involucra servicios intermedios o de base tales como:
alojamiento, transporte de aproximación, gastronomía, recreación, visitas
guiadas, transporte local, lugares de diversión.
A definição de Chan para Pacotes Turísticos torna-se ideal para os objetivos do
presente trabalho, pois considera também o alojamento, os meios de transporte, a
gastronomia, a recreação, as visitas guiadas e os lugares para diversão.
18
O pacote que será elaborado no âmbito deste trabalho poderá ser classificado como
(CHAN, 2005, p.22):
Organização especial: são produzidos mediante à solicitação do cliente considerando
suas preferências e necessidades particulares;
Modalidade itinerante: Envolve pernoite em vários destinos sucessivos, podendo ser
feito em diversos países estados ou cidades;
Temática específica: Aborda um tema único e seu itinerário engloba destinos e/ou
atrativos que tenham relação direta com o tema;
Programa regional: envolve um ou mais destinos turísticos com duração superior a
vinte e quatro horas;
Operação eventual: o início do trajeto é de acordo com a vontade do cliente em um
calendário pré estabelecido, ou seja, o ponto inicial do trajeto não é definido pela
operadora, mas pelo visitante;
Usuários individuais: Venda por passageiro sem a necessidade de formação de grupos
para a efetivação da saída;
Uma dificuldade encontrada é a associação com os mesmos termos em línguas
estrangeiras, pois, as mesmas já possuem conceitos concretos e são diferenciados entre si,
como por exemplo, no Brasil onde não há diferenciação clara entre roteiro e itinerário.
Tavares (2002, p.13) explica que as razões para a falta de conceituação deve-se ao fato
de o estudo do turismo ser recente, à constante mudança da atividade por ser puramente
social, e à pouca união das empresas da área para a resolução desta incógnita.
BENI (2007, p.194) apresenta uma definição de viagem organizada que caberia ao
objetivo do trabalho proposto. Desta maneira:
Viagem organizada. Tanto em nível de prestação de serviços turísticos,
quanto de preço, trata-se da organização completa de um programa de
viagens ou de férias, permitindo ao turista livrar-se totalmente de
qualquer preocupação. A viagem organizada é a viagem elaborada, na
melhor acepção do termo e, teoricamente, não deve deixar lugar algum
para surpresas de ordem financeira, nem mesmo de ordem puramente
turísticas. Portanto, o pacote turístico compreende, desde a partida, o
conjunto de serviços que será necessário ao bom desenrolar das férias ou
viagens.
19
A importância do roteiro bem elaborado está em sua organização. O envolvimento de
elementos não apenas físicos e estruturais, mas sociais e culturais, tornam a atividade
sustentável e prazerosa não apenas para quem visita, mas também para quem está envolvido
em sua operacionalização. Trabalhar com atrativos que tenham estruturas ambientalmente
responsáveis e envolvam a população local e sua tradição nas atividades garante o sucesso,
pois passa uma imagem real para o consumidor que não será decepcionado.
Portanto, este trabalho irá considerar como roteiro turístico: uma viagem organizada
antecipadamente por um agente, envolvendo transportes e deslocamentos, hospedagem,
refeições e diversas opções de entretenimento que tenham como finalidade o lazer e interesse
cultural; é de responsabilidade do agente envolver elementos culturais reais comprometendo-
se a fornecer o maior número de informações possíveis condizentes com a situação do
atrativo.
7.2. Segmentação do mercado e comunicação
A maneira mais eficaz de atingir o mercado é a partir de sua segmentação, ou seja, seu
desmembramento em pequenos grupos que tenham afinidades semelhantes. Desta maneira é feita a
caracterização do produto de acordo com as necessidades específicas desta demanda, procurando
atingir um maior grau de satisfação (BENI, 2007, p.171).
Esta segmentação permite o foco em dados determinantes da demanda como ciclo de vida,
composição demográfica, faixa etária, nível de renda, situação social, escolaridade, ocupação, estado
civil e estilo de vida. Todos estes fatores compõem o ponto alto da segmentação do turismo: o motivo
da viagem (BENI, 2007, p.171).
Considerando o segmento identificado por parte dos planejadores, o meio de comunicação
torna-se fundamental para o sucesso. Os níveis mais elevados na educação, a presença cada vez mais
influente dos meios de comunicação e a revolução tecnológica tornam ampla a quantidade de maneiras
possíveis de atingir o segmento desejado (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002, p.18).
Por não ter conhecimento profundo do destino, muitos turistas baseiam suas escolhas em
recomendações pessoais ou em informações da mídia. Por um lado, há o excesso de material
publicitário, gerais ou específicos; por outro há cada vez mais segmentos do turismo em uma tentativa
da especificidade cada vez maior (JENKINS; LICKORISH, 2000, p.84).
20
A informação e comunicação têm um papel definitivo para a venda, pois, através dela são
oferecidas além das informações necessárias, as possíveis imagens da destinação que serão decisivas
na hora da escolha. Por isso a importância da transmissão da imagem real e positiva do produto
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO, 2001, p.298).
Com a finalidade de facilitar o estudo, há três classificações da representação das localidades
nos filmes: as imagens reais (representação realista e objetiva), as relações-diretas (que se passam em
ambientes reais, mas com enredos ficcionais), e representação ficcional (ambientes e enredos
ficcionais). É de interesse ressaltar que, mesmo se tratando de uma representação ficcional, os enredos
possuem, na grande maioria das vezes, inspirações em situações reais, ou seja, podem despertar a
identificação do espectador e a vontade de vivência (COSTA, 2005, p.49).
O impacto provocado pela programação de viagens exibido nos canais televisivos, filmes,
livros, jornais, revistas especializadas e revistas não especializadas podem causar uma atração eficaz
quando comparado ao alto custo de sua veiculação devido ao nível de autoridade e exposição
(MIDDLETON, 2002, p.69).
Alguns meios utilizados para a divulgação de imagens podem ser extremamente eficazes,
como por exemplo, a propaganda. Apesar de não ser pessoal, confere legitimidade pelo caráter
altamente público que possui, é universal e permite repetição por diversas vezes dentro de um prazo, é
muito expressiva, e, principalmente, impessoal. Essas características indicam o poder de atração que
ela possui (MOTA, 2001, p.139).
Outro sistema utilizado são as relações públicas para divulgar notícias significativas sobre a
localidade em veículos impressos ou eletrônicos, sem ter que pagar pelo tempo ou pelo espaço
(MOTA, 2001, p.176).
Por último, e não menos relevante para este estudo, está o merchandising, utilizado para
estimular a compra em curto prazo através de incentivos figurativos temporários (COOPER;
FLETCHER; GILBERT; SHEPHERD; WANHILL, 2001, p.279).
Para a atividade turística, as três opções representam fortes maneiras de associar a imagem de
uma destinação a um produto, mas as relações públicas e o merchandising são apropriados para este
trabalho, pois, produções podem ser captadas para melhorar a imagem da destinação com as relações
públicas, ou podem ser indiretas com o merchandising (como exemplo as destinações temas de filmes
e telenovelas). A grande importância das relações públicas e do merchandising está no fato de que
atingem o público de maneira desprevenida, ou seja, o receptor não espera receber aquela forma de
mensagem causando maior impacto em sua percepção.
21
7.3. Motivação
A abordagem a respeito da motivação é necessária para o entendimento do consumidor da
destinação. Entender o razão pela qual uma pessoa procura determinado produto ajudará a manter a
qualidade do mesmo correspondendo todas as expectativas do cliente.
Para o início, é necessário entender que motivações não podem ser medidas de maneira exata,
assim como não há apenas um fator determinante na compra, mas sim um conjunto de implicações. O
papel do pesquisador é identificar características em comum entre o conjunto de consumidores para a
otimização dos resultados (JENKINS; LICKORISH, 2000, p.201).
A promoção do produto propriamente dita já tem como objetivo influenciar consumidores
reais e potenciais criando uma imagem favorável em suas mentes, ainda mais quando o produto citado
é o turismo que depende do imaginário para concretizar o estímulo inicial (JENKINS; LICKORISH,
2000, p.201).
Assim, os envolvidos com o setor de serviços necessitam de uma cautela muito maior com
relação ao estímulo à motivação, pois o risco financeiro é muito mais alto. A imagem que o turista tem
em sua mente, seja ela real ou não, afeta não apenas o ato do consumo, mas também o seu
comportamento durante o passeio (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO, 2001, p.64).
Há várias teorias sobre a motivação do turista. As principais consideradas para este trabalho
são as desenvolvidas por Maslow, Dann, McIntosh, Goeldner, Ritchie e Plog.
Figura 1 - Pirâmide de Maslow.
Fonte: Universidade de Griffith. Disponível em: http://www.griffith.edu.au/. Acesso em: Agosto de 2009.
22
A figura 4 representa a teoria idealizada por Maslow que pode ser aplicada tanto nas esferas
profissionais quanto nas esferas não profissionais, no caso, o turismo (COOPER; FLETCHER;
GILBERT; SHEPHERD; WANHILL, 2001, p.65). Ela consiste em níveis de satisfação de
necessidades pessoais colocando no nível inferior da pirâmide as prioridades de satisfação para o ser
humano, e, na medida em que as necessidades do nível forem sendo atendidas, o individuo começa a
buscar a satisfação das necessidades do patamar superior. Quando atingidos todos os patamares pode-
se considerar o estado de satisfação plena.
Essas necessidades retratadas por ele são dotadas de fragilidade instintiva, ou seja, podem ser
modificados de acordo com o meio no qual estão inseridos (COOPER; FLETCHER; GILBERT;
SHEPHERD; WANHILL, 2001, p.65). Assim, quanto mais necessidades forem atendidas maior o
grau de satisfação do cliente e sucesso da experiência.
Figura 2 – Teoria de Dann.
Fonte: Autora
A Figura 5 representa a teoria desenvolvida por Dann, em 1981, sobre a motivação da viagem.
Os sete vetores representados na figura caracterizam a escolha por uma destinação por parte do turista,
sendo a atração por auto-identificação fundamental para este trabalho, pois como será abordado
posteriormente, o visitante, na grande maioria das vezes, deseja vivenciar os momentos da produção
cinematográfica (COOPER; FLETCHER; GILBERT; SHEPHERD; WANHILL, 2001, p.67).
23
Figura 3 – Teoria de McIntosh, Goeldner e Ritchie.
Fonte: Autora
McIntosh, Goeldner e Ritchie classificam, de acordo com a figura 6, os quatro motivos da
viagem: o relaxamento do corpo e mente em esportes ou atividades físicas relacionadas ao prazer; o
desejo de conhecer pessoas novas ou visitar parentes ou amigos; desenvolvimento pessoal educacional
e estímulo do ego; e desejo de conhecer novas culturas.
A última teoria apresentada foi elaborada por Plog e é esquematizada a seguir:
24
Figura 4 – Teoria do Plog. Fonte: Cooper, Fletcher, Gilbert, Shepherd e Wanhill (2001, p.242).
A Figura 7 demonstra os extremos psicológicos dos turistas, fornecendo exemplos de cada
tipo. Os turistas psicocêntricos buscam lugares familiares e não são muito aventureiros, procurando
experiências prazerosas que não envolvam riscos. Já os turistas alocêntricos são aventureiros e buscam
ambientes diferentes do seu normal, preferindo destinos exóticos. Os mesocêntricos são um equilíbrio
entre os dois extremos (COOPER; FLETCHER; GILBERT; SHEPHERD; WANHILL, 2001, p.67).
Todos os motivos para a realização da viagem são acrescidos à percepção e a personalidade do
turista quando é desejável o sucesso da atividade. A percepção envolve um estímulo do meio no qual
está inserido com as experiências anteriores e necessidades presentes; todas essas influências relativas
à viagem despertam a memória de acontecimentos pessoais que não necessariamente estão envolvidos
a viagens e fazem com que a percepção torne-se um continuo fluxo de idéias (BENI, 2007, p.266).
A última influência envolvida na viagem está na personalidade do viajante. Referente às
características individuais de uma pessoa que a distingue das demais, define o comportamento final
deste consumidor perante à destinação. É através da personalidade que as atitudes irão refletir na
maneira com a qual o turista irá reagir aos estímulos da destinação e ao processo de compra do novo
produto (BENI, 2007, p.266).
25
A partir da descoberta destes fatores, é possível conhecer o processo de decisão e aquisição do
produto. Beni (2007, p.264) detalha todas as fases identificadas:
Figura 5 – Fases do processo de decisão de compra.
Fonte: Autora.
A primeira parte do processo é referente ao primeiro contato com a possibilidade de viajar. O
estímulo inicial corresponde aos desejos e necessidades provocados por indicações pessoais e/ou
publicidade e promoção da destinação. A pré-escolha está baseada na escolha de uma tipologia de
produto dentro de uma extensa variedade de opções. O relacionamento com os fatos é a análise
pessoal da situação como o custo, fatores de repulsa e análise do perfil (BENI, 2007, p.264).
A segunda parte está relacionada com a tomada da decisão de uma viagem e concretização das
idéias adquiridas na primeira etapa. Na fixação de pressupostos, são extraídas todas as informações
dos intermediários no turismo, como por exemplo, agências de viagens. No quadro de alternativas são
ordenadas as possíveis compras que se possa efetuar. Na previsão de conseqüências, são avaliados os
riscos físicos ou psicológicos que a experiência possa apresentar (BENI, 2007, p.264).
A partir deste ponto a compra do produto passa a ser real e uma análise após a viagem é feita.
Na análise custo/benefício, o cliente avalia o preço da destinação com os benefícios que o mesmo irá
26
lhe trazer, e efetuar a compra baseado em todas as premissas apresentadas. Após a viagem, o visitante
ainda irá avaliar as conseqüências da experiência em sua vida (BENI, 2007, p.264).
Portanto a compra do produto turismo cinematográfico envolve diversos fatores
motivacionais. Tendo como base os estudos de Maslow podemos afirmar que a apreciação do roteiro
de turismo cinematográfico em seu estado pleno acontece após a satisfação das necessidades da base
da pirâmide sendo o último patamar fundamental para o estudo deste tipo de turista. Este demonstra a
satisfação de necessidades como vitalidade, criatividade e auto-suficiência, que neste caso podem
representar sentimentos relacionados com a apreciação.
Já tendo como base a teoria de Dann, diversas de suas explicações para a motivação podem ter
fundamento para o turismo cinematográfico como a resposta a algo desejado mas que está faltando,
atração como estímulo à fantasia, e atração com um propósito classificado. A parte da teoria de Dann
que é fundamental para este trabalho é a motivação por auto-identificação, pois parte-se do
pressuposto de que o espectador identifica-se com algum elemento exposto na obra e deseja vivê-la.
McIntosh, Goeldner e Ritchie colocam quatro principais motivos para a realização de um
passeio turístico. Para esta pesquisa é conveniente afirmar que os fatores culturais são os principais
responsáveis pela realização do turismo, pois as obras cinematográficas são os bens culturais
responsáveis pela tomada de decisão.
Já na teoria de Plog não há uma característica comum a todos os consumidores, pois
dependem de fatores como o próprio destino e as características pessoais do consumidor. A teoria de
Plog é aplicável para a atração que deseja se adequar ao tipo de turista que recebe, podendo ser
aplicada também para o turismo cinematográfico.
Assim, a partir do conhecimento da motivação do turista para a visitação é possível não apenas
formular um produto atraente, mas melhorar os serviços já oferecidos garantindo a satisfação total do
cliente.
7.4. Imagem e marca
Uma breve consideração deve ser feita à respeito da imagem, pois a percepção do espectador
sobre a localidade inserida em uma obra cinematográfica, a chamada imagem, é o principal elemento
motivador para o turista deste segmento. A imagem está presente em todos os produtos, sendo ela
parte do planejamento de marketing ou não, podendo ser uma característica tangível ou intangível
(BIGNAMI, 2002, p.11).
A vantagem da imagem é que a aquisição do produto vai além de sua utilidade e passa para a
aquisição das idéias agregadas. A compra do produto pela sua função é a supressão de uma
27
necessidade; a partir do momento em que é adquirido pelas suas idéias, ele passa a oferecer um valor
moral para o cliente. No turismo, a compra de uma semana de pernoite em uma unidade habitacional
de um resort pode passar da simples necessidade de descanso e passa a ser a compra das melhores
férias da vida do cliente (BIGNAMI, 2002, p.11).
Em termos mais práticos, a imagem pode ser considerada inicialmente o posicionamento
adotado pelo produto, ou seja, suas idéias refletem o segmento adotado para investimento. A imagem é
o que diferencia um produto do outro (BIGNAMI, 2002, p.52). Assim, a imagem pode ser a
associação de um conjunto de percepções à respeito de algo, a representação de um ser, a projeção de
produto ou lembrança ou recordação (BIGNAMI, 2002, p.12).
Já com relação à imagem e o turismo ela pode ser descrita como a representação mental que se
tem de um destino turístico, de uma empresa do ramo ou dos serviços oferecidos por ela. Essa imagem
pode ser formada por diversos tipos de influências, como relações pessoais e meio de comunicação
(ACERENZA, 2002, p.206).
A imagem não engloba apenas a imagem propriamente dita, mas também as sensações
sonoras, olfativas, táteis, etc. Sentimentos relativos à imagem podem ser estimulados através de
músicas, cheiros, paladares e relatos orais relativos a características típicas de cada destinação
(IGNARRA, 2003, p.120). Por exemplo, um turista pode sentir-se atraído em visitar a Fazenda do
Chocolate na cidade de Itu não apenas pela sua beleza cênica remetente ao campo, mas pela lembrança
do prazer que o paladar do chocolate lhe causa. Por ser formada por este conjunto de impressões, é
fundamental a identificação das idéias mais marcantes que as pessoas possuem da destinação
(IGNARRA, 2003, p.121).
Com a expansão da globalização, é possível afirmar que a televisão e o cinema estão entre as
principais fontes de informação e percepção de imagens turísticas. Várias locações tiveram um
aumento significativo em seu número de visitantes após exibições neste meio de comunicação
(BIGNAMI, 2002, p.19).
As informações recebidas pelos meios descritos podem gerar diversas reações, sendo elas:
criação de expectativas pessoais e desejo de um maior número de informações; a adoção de uma
imagem positiva ou negativa para uma possível compra; e a indicação a outras pessoas (ACERENZA,
2002, p.208).
Desta maneira, para o turismo não importa qual imagem irá representar um produto, desde que
seja verdadeira. O consumidor não tem como avaliar previamente o que está adquirindo, portanto,
comprar a imagem mais próxima o possível da realidade afirma a qualidade desse (BIGNAMI, 2002,
p.13).
28
Vale ressaltar que a imagem da cidade não precisa representar integralmente seus principais
elementos físicos ou culturais, mas deve ser criada tendo os mesmos como inspiração. Não ter ligações
com a realidade ou distanciar-se muito da identidade local pode ocasionar em decepção por parte do
visitante (DIAS, 2003, p.193).
Assim como a imagem pode ter seu sentido revertido quando não planejada corretamente,
deve-se considerar que cada indivíduo tem a sua própria percepção do local. Por diversos fatores
influenciados pela motivação, as opiniões pessoais diferem dificultando a criação de uma imagem
neutra a agradável para todos os gostos (DIAS, 2003, p.193).
Portanto, o conceito de imagem é dinâmico, pois representa as principais características da
destinação que pode, ao longo do tempo, sofrer modificações, assim como a opinião do público, que
pode ser alterada após a visitação. Por isso, a imagem deve ser previamente estudada e planejada a fim
de evitar danos à destinação (DIAS, 2003, p.193).
Como já dito, os benefícios do turismo são intangíveis, e há de se procurar a melhor forma de
comunicação com o consumidor. Partindo do pressuposto proposto pela imagem, a marca traz para o
consumidor valores agregados “tangíveis” para um produto intangível (MIDDLETON, 2002, p.143).
Marcas e logotipos estimulam a compra de produtos e serviços por representarem aquilo que
os consumidores buscam (SWARBROOKE; HORNER, 2002, p.243). Trata-se de um símbolo que
visa identificar o destino e diferenciá-lo dos outros transmitindo a promessa de uma experiência
memorável, única, associada à destinação e reforçando esta mesma para os que lá já estiveram (BENI
2006, p.118).
Assim como a imagem, a marca reduz os riscos no momento da compra, pois sinaliza a
qualidade e o desempenho esperados, oferecendo confiança e garantia, assim como ajuda a focalizar a
segmentação desejada para a destinação (BENI 2006, p.144).
A marca da destinação é a representação gráfica da mensagem passada pela imagem, o que
facilita a promoção do produto em alguns tipos de veículo. Uma marca forte pode ser reconhecida
internacionalmente, e fortalece em apenas um signo toda essência da destinação.
No caso do Brasil foi desenvolvida a “Marca Brasil” para representar o país
internacionalmente. Para o Ministério do Turismo o primeiro passo no desenvolvimento da marca era
manter o nome do país sem tradução, seguindo os passos de países com marcas já consolidadas no
cenário internacional. Manter o nome Brasil ao invés de Brazil ajuda a manter a identidade brasileira.
O segundo passo no desenvolvimento de uma marca brasileira foi a identificação das cores
que seriam utilizados no símbolo. Para isso foram aplicadas entrevistas com brasileiros de maneira
descobrir quais as cores representavam o país, e assim, manter a identidade do Brasil perante o
cidadão. O brasileiro participou também da terceira etapa da criação da marca selecionando o desenho.
29
Tendo a obra de arquitetura de um artista brasileiro como referencia um cidadão elaborou o desenho
da marca brasileira.
Assim, é possível notar que o Ministério demonstrou a preocupação em desenvolver uma
marca que tivesse inteira relação com o cidadão brasileiro na medida em que este participou da maior
parte do processo de criação. Criar uma marca plena em identidade facilitará o processo de
assimilação por turistas em potencial.
7.5. Políticas Públicas
7.5.1. Ministério do Turismo2
A gestão de 2007 a 2010 do Ministério do Turismo elaborou um plano oficial de
desenvolvimento conjunto dos setores de turismo e cinema formando o chamado Turismo
Cinematográfico. A oficialização do plano de desenvolvimento ocorreu com o lançamento de
uma cartilha com as diretrizes para a captação de filmagens para o país e desenvolvimento de
roteiros associados às produções cinematográficas.
Neste estudo divulgado pelo próprio Ministério, é proposto um plano condizente com
a realidade brasileira, em que serão explorados os valores culturais, históricos, musicais,
naturais e arquitetônicos. Em conjunto com as características físicas favoráveis, como clima e
paisagem, serão desenvolvidas as características mutáveis como a presença de infra-estrutura
própria para os setores de cinema e turismo.
Como incentivo ao desenvolvimento deste conjunto de atividades, o Ministério teve
como motivação: criação de pacotes a fim de atrair incentivos fiscais; suporte aos Films
Comissions presentes no país; divulgação da cultura e imagem brasileira, e incentivo à
modernização das estruturas de ambos os setores, assim como o desenvolvimento técnico da
mão-de-obra.
As etapas a serem seguidas para o alcance das metas consistem em: 3 Toda referência teórica deste tópico pode ser encontrada em:
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Estudo da sinergia entre as indústrias do turismo
e audiovisual brasileiras. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso
em: 8 de Setembro de 2009
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Turismo cinematográfico brasileiro. Brasília, 2007.
Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso em: 8 de Setembro de 2009
30
Sensibilização de entidades nacionais, que representam os empreendedores e
formadores de opinião, tendo como base inicial representantes identificados na figura
11;
Criação de uma política de promoção internacional do país, condizente com o seu
crescimento. Alguns programas foram detalhados na figura 12;
Lançamento de uma cartilha educativa que visa sensibilizar e capacitar os participantes
do segmento do turismo e da mídia para esta nova parceria. A cartilha já está
acessível no website do ministério;
Promoção de oficinas educativas com o intuito de sensibilizar e mobilizar agentes da
cadeia produtiva e empreendedores sobre o tema. Possíveis criações de parcerias
poderão começar a ser estabelecidas a partir destes encontros, gerando negócios e
novos produtos;
Montagem de um “Catálogo Brasileiro de Locações” como ferramenta de divulgação
do potencial brasileiro para locação de obras cinematográficas. O manual deverá ter
uma grande quantidade de imagens, que poderão ser disponibilizadas online, em
forma de banco de dados, que apontarão locais no mapa geográfico nacional de
cenários diversificados com exemplo de diversas ambientações (natural, urbana, rural,
etc), inclusive, que poderão se passar por outros países caso em que um determinado
filme é ambientado em um país e, efetivamente, realizado em outro que se assemelha
ao primeiro;
Desenvolver o projeto “Mitos e Lendas do Brasil”, que visa uma vasta pesquisa sobre
mitos, lendas e heróis nacionais para subsidiar o audiovisual com elementos típicos
brasileiros, que possam complementar as imagens nacionais fornecidas no catálogo. A
intenção é envolver os elementos culturais do país na obra;
Desenvolver o projeto “Case Índia” para por em prática uma possível parceria com o
país de maior produção cinematográfica do mundo a fim de compartilhar locações e
tecnologia de equipamentos. Segundo materiais do Ministério investir em um
intercâmbio com a Índia representaria criar um vínculo comercial com um país que
produz mais 800 filmes por ano.
31
Figura 6 – Sensibilização dos agentes internos.
Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma (2007, p. 62).
Figura 7: Ações de promoção internacional.
Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma (2007, p. 63)
32
Figura 8: Cartilha “Turismo Cinematográfico Brasileiro”.
Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma (2007).
Com estas considerações, foi possível provar que há um interesse por parte do poder
público em investir na junção dessas duas áreas, abrindo muitas possibilidades para possíveis
investidores.
7.5.2. Aliança Brasileira de Film Commissions
A Aliança Brasileira de Film Commissions tem um histórico recente, com a sua
criação em 2006. Seu surgimento foi justificado com a necessidade da criação de um grupo
interministerial para a discussão da problemática referente ao posicionamento competitivo do
país, no mercado do entretenimento.
Em 2008 sua nomenclatura teve o termo „Associação‟ (até 2008 a entidade era
chamada de Associação Brasileira de Film Commissions) substituído por „Aliança” pois o
segundo reforça o objetivo inicial do órgão de agregar instituições de atuação individual para
a cooperação no desenvolvimento do entretenimento nacional.
33
Figura 9: Missão e Visão da ABRAFIC.
Fonte: Autora.
Baseadas na Missão e Visão da Aliança Brasileira de Film Commissions,
representados na Figura 14, as ações tomadas para o alcance das mesmas serão:
Estruturar a gestão e plano estratégico da entidade;
Educar a sociedade civil, iniciativas públicas e privadas para importância das Film
Commissions;
Treinar e qualificar as Film Commissions já existentes, assim como incentivar a
criação de novas;
Alcançar a sustentabilidade econômica e independência financeira;
Auxiliar na promoção das locações, destinos e produtos relacionados ao audiovisual;
Realizar ações de integração dos agentes do segmento de audiovisual e indústria
turística;
Captar produções internacionais para tornar o país mais competitivo;
Facilitar os processos de produção e promoção das regiões brasileiras enquanto
locações;
Promover os diferenciais das regiões brasileiras para aumentar a atratividade dessas;
34
Estabelecer alianças com o poder público para auxílio nas tomadas de decisões;
Apoiar e colaborar para a implementação de políticas públicas nacionais para o
desenvolvimento dos setores envolvidos;
Promover o livre contato entre o poder público, os setores públicos e privados da
economia, o terceiro setor e a sociedade civil.
Portanto, a Aliança Brasileira de Films Commission representa a consolidação da
proposta de integrar os setores do turismo e audiovisual. A seguir, será tratado o lado
operacional destas propostas que são os próprios Films Commissions.
7.5.3. Film Commissions
As Film Commissions são entidades do terceiro setor, as quais têm como finalidade a
orientação do trabalho dos produtores cinematográficos em determinadas regiões. São
responsáveis por reunirem e divulgarem informações sobre possíveis cenários na paisagem da
destinação, assim como facilitar todo o processo burocrático para autorização de imagem para
as obras. De maneira geral, as Film Commissions realizam um trabalho de marketing
específico para a venda de cenários cinematográficos.
Juntamente com o desenvolvimento da indústria cinematográfica, as Film
Commissions atuam no desenvolvimento do turismo, sendo o próprio Ministério do Turismo
o orientador deste processo de divulgação. A principal maneira de associar produções
cinematográficas ao turismo é divulgar as principais ou mais significativas paisagens
brasileiras nos filmes, assim como utilizar elementos culturais típicos nos roteiros.
Brasília Film Commission
A Brasília Film Commission é a primeira entidade do setor do país. Atualmente, é
parceira do Ministério do Turismo no projeto de Turismo Cinematográfico. Entre seus
objetivos, destacam-se:
35
Organização, integração e promoção do setor cinematográfico;
Articulação de projetos para dinamizar o mercado do turismo e audiovisual;
Captação de filmagens para Brasília e região.
Um fator importante na atuação do Brasília Film Commission são as parcerias
concretizadas que trazem novos projetos e facilitam tanto processos operacionais quanto
burocráticos. No poder público, além do Ministério do Turismo, conta com o apoio da
Secretaria de Estado de Cultura e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e
Turismo. Já na iniciativa privada, possui parceiros como a Associação de Atores e Técnicos
em Audiovisual do Distrito Federal, Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo, Associação
das Produtoras Brasileiras de Audiovisual , Brasília Convetion & Visitors Bureau e Sebrae.
Segundo informações disponibilizadas no website da entidade, a escolha da parceria
com o Ministério do Turismo deu-se a função de a cidade ser o terceiro pólo produtor de
cinema do Brasil, ter tradições e cultura que representam o país, e estar localizada na sede dos
três poderes nacionais.
São Paulo Film Commission
Com sede em Ribeirão Preto, nos estúdios Kaiser de Cinema, tem como principal
objetivo fomentar, apoiar e difundir a produção cinematográfica em todo o estado de São
Paulo.
A criação do órgão partiu do interesse de diversos envolvidos: a Prefeitura, a
Associação Comercial e Ciesp/Fiesp de Ribeirão Preto, e a Universidade de São Paulo. O
motivo da escolha da região para a sede foi a existência de um pólo cinematográfico em
crescimento e interesse de investimento no setor por parte do poder público e privado.
Um dos mais importantes parceiros da entidade (com relação às funções do Film
Commission e não em investimentos financeiros) é o Ribeirão Preto e Região Convention &
Visitors Bureau, o qual atua na área de promoção turística fazendo com que o trabalho tenha a
possibilidade de ser completo pela presença de órgãos especializados em suas funções. Outros
parceiros da entidade são a Secretaria de Estado da Cultura, a Aliança Brasileira de Film
Commissions e a rede Cinemark.
36
As funções e tarefas do São Paulo Film Commission podem ser resumidas em:
Cadastrar possíveis locações e divulgá-las em meios impresso e digital;
Cadastrar profissionais, fornecedores e prestadores e serviços e divulgá-los por meios
impresso e digital;
Cadastrar as produções de obras já realizadas na região;
Intermediação em negociações com hotéis, restaurantes, locadoras de veículos e
equipamentos;
Realização de eventos e cursos na área do audiovisual para facilitar o processo de
captação;
Concretizar as funções básicas já expostas de um Film Comission.
O estado de São Paulo possui três Film Commissions além do localizado na cidade de
Ribeirão Preto (que atua com a finalidade de atração em todo estado de São Paulo). Há uma
unidade em Santos (com atuação no litoral santista) e uma em São José dos Campos (atuação
em todo o Vale do Paraíba).
8. CINEMA
O audiovisual é uma das indústrias que mais cresce em todo o mundo, e, assim como o
turismo, movimenta milhares de pessoas e equipamentos. No ano 2005 nos Estados Unidos, o
setor do audiovisual gerou U$60,4 bilhões de dólares o equivalente a R$126,84 bilhões de
reais, valor superior a geração dos setores da telecomunicação, computadores e informação. O
setor também foi responsável pela criação de mais de 1,3 milhões de empregos.
(MINISTÉRIO DO TURISMO; INSTITUTO DHARMA, 2007, p.9).
Algumas características tornam os setores do turismo e audiovisual semelhantes
(MINISTÉRIO DO TURISMO; INSTITUTO DHARMA, 2007, p.9):
A complexidade das atividades, pois envolvem conhecimentos multidisciplinares em
sua realização (administração, marketing, comunicação, ciências sociais, engenharia,
etc.);
37
Possuem um vínculo crescente com a globalização, pois há um intenso movimento de
pessoas, paisagens e informações;
Ambas lidam com o imaginário popular, sendo o turismo por se tratar de “realização
de sonhos” e o cinema por ser considerado um dos principais meios de expressão
artística.
Considerando o crescente desenvolvimento do setor da comunicação, a área do
audiovisual passa por constantes mudanças no cenário mundial, sendo elas relativas a: avanço
da mídia digital, abertura de novas janelas de exibição (como diferenciação em salas de
cinema, transmissão por celulares, etc), perda da audiência de emissoras de televisão para
transmissões via internet, e valor agregado ao conhecimento e estímulo ao aprendizado
(MINISTÉRIO DO TURISMO; INSTITUTO DHARMA, 2007, p.6).
A crescente circulação da indústria cinematográfica e sua importância para a economia
de determinados países aumentou a produção causando o surgimento de duas vertentes de
defesa: a de que o cinema tornou-se uma grande commodite e perdeu a sua razão estética, e a
de que o crescimento possibilitou investimentos financeiros para obras que, antes, não sairiam
dos projetos.
Já, no Brasil, o investimento e o estudo científico na área são recentes e resultam no
início de obras que utilizam novos recursos disponíveis no mercado, ao mesmo tempo em que
sofrem uma constante falta de investimento, mesmo que por parte da esfera privada. Sem
recursos, o cinema brasileiro carece da devida promoção e acaba falhando no faturamento
final da obra (MINISTÉRIO DO TURISMO; INSTITUTO DHARMA, 2007, p.6).
O principal ponto a ser discutido com relação à característica que torna o cinema
semelhante ao turismo é o poder de realização de sonhos, pois criam-se e reutilizam-se
paisagens do imaginário associando-os a ações existentes ou criadas, procurando atingir com
o máximo de perfeição os objetivos propostos.
Segundo o Ministério do Turismo a área do audiovisual possui as seguintes divisões,
conforme mostra a figura 1:
38
Figura 10: Tipos de produções audiovisuais. Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma (2007, p.21)
O foco das exposições seguintes serão os filmes para cinema, ressaltando que todas as
outras categorias citadas podem ser utilizadas para a promoção turística, sendo os filmes
comerciais (ou filmes institucionais) e os documentários mais utilizados pelos
empreendedores devido a sua objetividade. Desta maneira será explorada a potencialidade de
atração dos filmes para cinema.
A indústria audiovisual, com foco no cinema, possui elementos processuais que
influenciam a demanda turística. A partir do modelo esquematizado pelo Ministério do
Turismo (figura 2), os segmentos relevantes serão destacados.
39
Figura 11: Da idéia às telas. Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma (2007, p.23).
O primeiro elemento examinado é o roteiro. Há um equívoco comum com relação a
este, pois acredita-se ser a história do filme, quando, na verdade, representa o documento que
além da história contém informações referentes ao desenvolver da cena, como a ambientação,
clima, sentimento dos personagens, posições das câmeras, etc. A principal função do roteiro é
de um projeto detalhado para a realização da obra, uma simulação do produto final (MARÉS,
2008).
Dentro do roteiro está inserido o argumento, ou seja, a história propriamente dita.
Sobre ele, Pudovkin (1983, p.71) afirma:
Toda a ação em qualquer roteiro se insere numa atmosfera que dá o
colorido geral do filme. Esta atmosfera pode ser, por exemplo, um
modo especial de viver. Através de um exame mais detalhado, pode-se
até considerar a atmosfera como sendo alguma peculiaridade especial,
algum traço especial, essencial, desse modo de vida escolhido.
Grande parte dos argumentos é baseada em experiências humanas, sejam elas reais ou
imaginárias (comum às ficções científicas), por isso despertam com certa facilidade a
identificação com o telespectador. O trabalho do roteirista está em desenvolver estas idéias e
torná-las interessante e/ou impactantes.
40
Para o sucesso da obra, juntamente com o roteiro, pode-se colocar a montagem das
imagens. Pudovkin (1983, p.63) afirma que:
A continuidade das seqüências separadas, quando colocadas juntas,
depende não apenas da simples transferência de atenção de um lugar a
outro, mas também é condicionada pelo desenvolvimento da ação,
formando a base do roteiro.
Martin (2005, p.37) também discorre sobre a importância dos movimentos da câmera e
imagens obtidas para o audiovisual:
O nascimento do cinema como arte data do dia em que os realizadores
tiveram a idéia de deslocar o aparelho de filmar no decurso de uma cena:
as mudanças de planos, dos quais os movimentos do aparelho não
constituem senão um caso particular (notemos que na base de qualquer
mudança de plano há sempre um movimento de câmera, efetivo ou
mantido virtualmente), estavam inventadas, e por conseqüência, a
montagem, fundamento da arte cinematográfica.
Com o surgimento do movimento de câmera exposto por Martin, houve a
possibilidade de captação de um maior número de imagens e, por conseqüência, uma
variedade muito maior da mesma cena, possibilitando criação pós-estúdio com a chamada
montagem ou edição. Esta consiste em uma ordenação e ajuste dos planos captados para
alcançar o resultado cinematográfico esperado.
Desta maneira, a posição da câmera possibilitou a passagem da representação em
terceira pessoa para a da primeira pessoa, aumentando cada vez mais a relação direta do
espectador com a história relatada.
Por último, alguns elementos fílmicos que não são específicos como os já citados,
desempenham um papel de igual importância para o resultado final da película. São eles: a
iluminação, o figurino, o cenário e o desempenho dos atores.
Com relação ao cenário, Martin (2005, p.78) afirma que:
Os cenários (ou cenário) têm muito mais importância no cinema do que no
teatro. Uma peça pode ser representada perfeitamente num cenário muito
esquemático, mesmo diante de uma simples cortina, enquanto não se
concebe uma ação cinematográfica fora de um ambiente real e autentico: o
realismo que se prende à coisa filmada parece atrair obrigatoriamente o
realismo o ambiente e àquilo que o cerca.
41
Em muitas produções, o realismo do cenário pode ser responsável pelo sucesso da
obra, pois a perfeição dos detalhes e a coesão com o argumento proposto fazem despertar
sentimentos condizentes com os propostos. Assim sendo, um filme passado na década de
1960, despertará o sentimento nostálgico quando realizado em um cenário natural, quer seja
uma construção ou um ambiente natural utilizado na época. Cenários artificiais podem
diminuir a potencialidade deste impacto.
Assim como o cenário, a iluminação e as cores utilizadas trazem maior realismo para
as cenas. Segundo Martin (2005, p.71):
Constituem um fator decisivo de criação da expressividade da imagem. No
entanto, a sua importância e o seu papel não se impõem diretamente aos
olhos do espectador inexperiente porque contribuem, sobretudo para criar
a atmosfera, elemento dificilmente analisável.
O cinema, por muito tempo, permaneceu em preto e branco, por isso, para
profissionais da área, a possibilidade de utilização de cores representou um avanço
significativo para a expressividade de suas obras. A exploração de novas cores e de diferentes
tipos de iluminação faz com que não apenas os sentimentos dos personagens sejam
maximizados, mas também suas características físicas e expressões corporais trazendo ainda
mais realismo para a história dramatizada.
Já o figurino excede às características realistas do cinema e tornam-se cada vez mais
tangíveis. As roupas e acessórios utilizados pelas personagens dos filmes tornam-se símbolos
de determinadas épocas e tornam-se estilos memoráveis (como exemplo, o famoso vestido
branco utilizado pela atriz Marilyn Moroe em “O pecado mora ao lado”3). Os figurinos e
maquiagens são tão essenciais quando o perfeito desenrolar de um diálogo, pois trazem em si
as características psicológicas da personagem e acentuam as físicas.
Por último, e não menos importante, está o desempenho dos atores. Há uma clara
diferença entre a atuação para o teatro e a atuação para o cinema. A primeira por contar com
poucos recursos condizentes a alterações de cenários e representação da passagem do tempo,
exige muito mais expressividade dos atores, enquanto a segunda exige mais naturalidade e
capacidade de interação com os outros elementos de cena envolvidos. Para que esta parte da
obra seja bem conduzida, existe o diretor de atores, responsável em encontrar e treinar atores
3 The Seven Year Itch, dirigido por Billy Winder em 1955.
42
que sejam fisicamente e profissionalmente aptos para a concretização da personagem e
garantir a naturalidade da encenação.
Assim, os profissionais envolvidos nos diversos elementos do audiovisual estão
buscando atingir maior realismo em suas obras, fazendo com que os espectadores interajam
mais com o enredo e se interessem em vivenciar as experiências propostas. Também é de se
notar a importância do crescimento do setor perante o cenário econômico mundial e os
crescentes investimentos em artes visuais, possibilitando, assim, um maior acesso de imagens
em todas as partes do mundo.
8.1. O papel do espectador
As imagens são, sem dúvida, os principais elementos influenciadores dos espectadores
de um filme. O avanço tecnológico trouxe consigo a possibilidade de interpretação de um
grande número de imagens em diversos meios de exposição. O fácil acesso a esses diferentes
tipos de imagem em qualquer período traz o deslumbramento do ser humano enquanto
contemplador (MELO, 2002, p.13).
Esse acesso quase infinito a imagens cria diversos tipos de contempladores. O
“espectador normal” possui características específicas como passividade de maneira instintiva
e irracional, atratividade pelo filme sem maiores desígnios particulares, o sentimento de
condutividade por parte do enredo do filme, identidade com o enredo, intenção de lazer e
prazer. Já o “espectador analista” é ativo de maneira racional e estruturada, examina
tecnicamente o filme, submete o enredo a suas hipóteses, faz as devidas reflexões e
transforma o resultado em trabalhos e produções intelectuais (MELO, 2002, p.03).
Para este trabalho, o primeiro tipo de contemplador, o “normal”, é mais interessante,
pois representa a grande maioria dos espectadores. Não que o espectador normal seja alienado
e não vá ao cinema com a intenção de desenvolvimento intelectual; ao contrário, grande parte
dos espectadores que viajam motivados pela película passaram pelo processo de assimilação
subjetiva. O fato é que o segundo nicho tem com principal motivação a análise científica da
obra envolvida com o seu lado profissional.
A primeira análise do espectador diz respeito aos sentimentos referentes à obra
cinematográfica. O cinema tem como principal característica a reprodução das emoções
43
humanas, assim, um grupo de espectadores mais sensíveis pode mostrar-se mais aberto à
influência do enredo. A percepção visual das manifestações emotivas funde na mente com os
seus próprios sentimentos, causando a sensação de “estar assistindo aos próprios sentimentos”
(MUNSTERBERG, 1983, p.51).
O sentimento despertado causa transformações corporais, que tornam físicas as
emoções. Por exemplo, o horror causa arrepios, a felicidade relaxa os músculos, a dor provoca
contrações musculares, a tristeza leva às lágrimas e a alegria risadas (MUNSTERBERG,
1983, p.52).
Esses reflexos corporais causam uma aproximação ainda maior do espectador com o
enredo e desperta o desejo de vivenciar as experiências das personagens. Mesmo antes da
apreciação do filme, já é possível dar inicio a este processo na medida em que uma pessoa
prefere assistir a uma comédia com os amigos para estimular as risadas entre eles, um filme
romântico com o seu parceiro(a), um drama quando sente a necessidade de isolamento, etc
(MORIN, 1983, p.149).
Outro processo que acelera a identificação é a mobilidade da câmera dentro da cena.
Muitas vezes, a posição em primeira pessoa leva o espectador para dentro do filme, fazendo
com que se sinta cercado pela cena. Quando o processo de identificação é pleno, a cenografia
pode adquirir características do espectador, pois para ele um objeto pode ter representação
sentimental, como por exemplo, uma mulher pode identificar-se com a personagem principal
penteando-se sentada em frente a um grande espelho de uma penteadeira; se o espectador tem
o mesmo hábito que a personagem a penteadeira pode representar um objeto comum a ambos.
(BALÁZS, 1983, p.85)
Assim, o cinema funciona como uma espécie de “espelho”, representando todos os
aspectos físicos, psicológicos e ambientais do espectador. As imagens do cinema, cada vez
mais reais, reproduzem um forte sentimento de realidade por estarem muito próximas. O
subjetivo do belo e do feio, passado pelo cineasta, são facilmente incorporados ao mundo
mágico e subjetivo do espectador, fazendo com que o mesmo interprete o enredo com sua
própria sensibilidade (CORDEIRO, s/d, p.7).
44
8.2. O papel do cinema
O cinema é, sem dúvida, a arte mais próxima da realidade, isto porque desde o seu
início, a busca pela representação da vida desenvolve-se juntamente à tecnologia. As imagens
cada vez mais nítidas, os sons representados em diversas dimensões e os recursos de interação
permitem a maior participação do espectador na obra (CORDEIRO, s/d, p.01).
As sensações expressas com os novos recursos midiáticos trazem um maior
dinamismo para a cena. Novos recursos tecnológicos são explorados em todas as suas
possibilidades estéticas para fazer com que os mesmos objetos tenham diversos aspectos
visuais perante o espectador. Assim, podemos dizer que o cinema é uma “representação
imaginária” de uma realidade física (SALVADORE, 2005, p.40).
Em toda a história do cinema, os filmes apresentavam uma tendência a uma “estética
do espanto”, tanto na forma quanto no conteúdo. Os seriados para a televisão, na década de
1910, começaram a aperfeiçoar as técnicas de realismo demonstrando com maior perfeição
situações de perigos físicos e não é por menos que sejam utilizados até os tempos
contemporâneos (CHARNEY; SCHWARTZ, 2004, p.406).
Os idealizadores das obras utilizam estes recursos como substituição ou complemento
das palavras. As cores e os sons são feitos para transmitir mensagens que vão além da
interpretação dos atores, atingindo o ápice da transmissão do conceito da obra. Muitas pessoas
acabam vivenciando acontecimentos, personagens, emoções, estados de espírito e
pensamentos sem a necessidade de muitas palavras. (BALÁZS, 1983, p.78)
Alguns dos recursos utilizados pelos profissionais da área para acentuar as sensações
dos espectadores podem ser observados na figura 9:
45
Figura 12 – Técnicas da participação afetiva.
Fonte: Xavier (1983, p.160).
Assim, pode-se concluir que há estudos relativos à maximização da experiência do
cinema e, cada vez mais, as tecnologias buscarão ampliar este quadro. A seguir, a figura 10
esquematiza o processo de assimilação das imagens por parte do espectador:
46
Figura 13 – Processo de assimilação da imagem.
Fonte: Xavier (1983, p.149).
Portanto, a importância da discussão não está apenas nos anseios do espectador com o
filme, mas também nos anseios do filme com o espectador (MELO, 2002, p.04).
9. RELAÇÃO ENTRE TURISMO E CINEMA4
A principal relação explorada entre as duas áreas é a difusão de imagens. Tanto o
turismo quanto o cinema despertam sentimentos quando utilizam as imagens para atingir os
seus objetivos, disseminando não apenas paisagens, mas aspectos culturais e valores sociais.
Assim sendo, muitas produções acabam influenciando pessoas que, encantadas com a
arte, decidem ir à busca dos aspectos reais envolvidos. Além da atração de um segmento da
demanda, incluir uma determinada localidade em roteiros, pode colaborar para a afirmação
4 Toda referência teórica deste tópico pode ser encontrada em:
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Estudo da sinergia entre as indústrias do turismo
e audiovisual brasileiras. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso
em: 8 de Setembro de 2009
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Turismo cinematográfico brasileiro. Brasília, 2007.
Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso em: 8 de Setembro de 2009
47
cultural da população local, quando esta passa a ser reconhecida por traços específicos
inseridos na obra.
Ademais dos benefícios intangíveis já citados acima, a circulação de pessoas e
equipamentos envolvidos na produção cinematográfica chegaram a injetar cerca de 200 mil
dólares em locações nos Estados Unidos (Ministério do Turismo; Instituto Dharma, 2005,
p.10), ou seja, estes profissionais utilizam serviços de hospedagem, alimentação e serviços
especializados locais, como costureiras e salões de beleza, representando efeitos induzidos
advindos do turismo.
Um estudo realizado na Espanha identificou três características em obras
cinematográficas que despertam interesse na vivência: a paisagem, a personagem ou ator/atriz
e a história desenvolvida. Alguns destinos entenderam estes aspectos do cinema e passaram a
investir no setor para divulgar seus atrativos, direta ou indiretamente, ou seja, captando
filmagens com esta finalidade, ou, utilizando obras previamente existentes como ferramenta
de promoção.
Alguns destinos possuem características que os tornam mais competitivos perante a
segmentação cinematográfica. Alguns deles dizem respeito à diversidade de paisagens,
facilidade de acesso a outros núcleos de locação, oferta de mão de obra especializada,
diversidade étnica (para criação de personagens), rápido andamento de processos burocráticos
e preços acessíveis para a realização do projeto.
O Ministério do Turismo e o Instituto Dharma elaboraram um gráfico representativo
dos benefícios da relação entre turismo e cinema que podem ser vistos na Figura 3:
Figura 14: Ciclo de benefícios. Fonte: Ministério do Turismo e Instituto Dharma. (2007, p.12)
48
O investimento na captação de filmagens gera circulação de renda, empregos e
envolvimento de setores indiretamente ligados à produção cinematográfica. Com o aumento
de obras cinematográficas o destino ganha destaque como potencial investidor em cinema e
como destino turístico, gerando a melhoria da infra-estrutura para atender à nova demanda.
Conseqüentemente, este crescimento passará a atrair uma possível demanda internacional e
um número crescente de turistas. Este cenário torna-se concreto quando devidamente
planejado, ou seja, não apenas os interesses econômicos devem prevalecer, mas também as
necessidades da população e do ambiente natural.
Assim, ambos os setores desfrutam de uma fase de avanços científicos e tecnológicos e
conseguem uma fatia cada vez maior do mercado internacional. Ambos também trabalham
com o imaginário coletivo e, juntos, podem proporcionar a apreciação artística e a vivência
pessoal podendo causar uma satisfação plena do individuo.
10. EXEMPLOS DE DESTINOS QUE ALCANÇARAM O SUCESSO COM O
TURISMO CINEMATOGRÁFICO.5
Argentina
A Argentina é um exemplo próximo à situação do Brasil, no desenvolvimento do
investimento na área do turismo cinematográfico.
O número de produções cinematográficas, na Argentina, cresceu significativamente
durante os períodos de crise econômica, provando que este setor é forte o suficiente para
enfrentar possíveis crises no mercado mundial. De fato, na década de 1980 e 1990, era
realizada uma média de 28 obras no país, número que passou a 46, a partir do ano de 2000.
Uma das atitudes tomadas pelo país responsável por este crescimento foi a criação da
Comisión Argentina de Filmaciones, que busca atrair incentivos fiscais para produções. Um
4 Toda referência teórica deste tópico pode ser encontrada em:
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Estudo da sinergia entre as indústrias do turismo
e audiovisual brasileiras. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso
em: 8 de Setembro de 2009
MINISTÉRIO DO TURISMO E INSTITUTO DHARMA. Turismo cinematográfico brasileiro. Brasília, 2007.
Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso em: 8 de Setembro de 2009
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exemplo é a mão de obra argentina que pode ter um valor de 30% mais barata, se comparada a
outros países da América do Sul, como o Brasil, por exemplo.
O filme realizado no país de maior destaque é “Sete anos no Tibet” gravado em uma
porção argentina dos Andes, que foi atraído para o território não apenas por sua beleza cênica,
mas pela qualificação da mão-de-obra e incentivos fiscais. Esta produção é a de maior
incentivo para a visitação de turistas.
Austrália
A Austrália possui diversos aspectos atraentes para sua utilização como locações:
diversidade de paisagens em seu território, a língua inglesa como nativa, mão-de-obra técnica
qualificada e mais barata que a dos Estados Unidos, câmbio favorável e um grande parque
industrial de equipamentos.
O órgão representativo do país é a Australian Film Comission, que atua
principalmente como captador de incentivo fiscal e promotor das potencialidades das
paisagens. Além da vantagem fiscal oferecida, há uma concorrência interna entre os estados
pela captação, assim, há os incentivos regionais para a realização.
Algumas produções do território australiano são: “Missão Impossível II” e a trilogia de
“Matrix”. Apenas o seriado de televisão exibido em 1998 “Sea Change” (“Mar de mudanças”)
atraiu mais de 4 milhões de telespectadores para a região de Barwon Heads no mesmo ano de
sua exibição.
Canadá
O principal atrativo do Canadá é sua posição privilegiada, ao lado de um dos maiores
produtores mundiais de cinema. A proximidade com os Estados Unidos fez com que
incentivos fiscais fossem criados, de maneira atrair uma parcela das produções para o
território. A fluência nas línguas inglesa e francesa garantiram a presença da atividade no
país.
50
Os canadenses estão entre os maiores investidores no turismo cinematográfico, pois
acreditam no benefício econômico da exposição de suas paisagens. O filme “O segredo de
Brokeback Mountain” foi responsável pela montagem de diversos roteiros em todo país e pela
maior procura por turismo cinematográfico em todo o país, potencializada com a indicação
para o Oscar.
Estados Unidos
Os Estados Unidos são um dos maiores produtores de cinema do mundo, posto que
tiveram a sensibilidade de notar uma grande possibilidade de crescimento econômico, assim
que a atividade surgiu. Porém, nos últimos anos, os países ao redor do mundo têm oferecido
incentivos fiscais significativos, assim como mão-de-obra cada vez mais especializada,
provocando a migração das produções.
O país tem, atualmente, mais de 173 film comissions regionais sendo que o Canadá,
segundo país com maior número de entidades, tem apenas 20 unidades. Em Nova Iorque,
encontra-se o maior órgão mundial para a captação de produções, o “Mayor‟s office of film,
theater and broadcasting – New York Film Comission”.
A cidade de Liberal, no estado do Kansas, ampliou de 4.000 para 21.000 o número de
turistas após a exibição de “O Mágico de Oz”. Outro estado americano, Iowa, teve seu
número de turistas triplicados após “As pontes de Madison”, e cerca de 55.000 turistas, por
ano, visitam o estádio de beisebol da mesma localidade após a exibição do filme “Campo dos
sonhos”. Já o filme “Sideways”, de 2004, não apenas gerou recorde em visitação às vinícolas
de Santa Ynez na Califórnia, mas também ocasionou a multiplicação das vendas do vinho
varietal pinot noir em todo o país.
Nova Zelândia
A Nova Zelândia tornou-se um exemplo, não somente pelos seus investimentos na
indústria cinematográfica, como também pela rapidez com a qual identificou o sucesso da
união com o turismo.
51
Além de possuir uma grande diversidade de paisagens cinematográficas, o país oferece
isenções fiscais e mão de obra qualificada, e acabou por ganhar credibilidade no mercado do
audiovisual por atrair, cada vez mais, grandes produções.
Os filmes da trilogia de “O senhor dos anéis” é um dos cases mais famosos no turismo
cinematográfico. Todas as 150 locações utilizadas foram transformadas em roteiros turísticos
e lançadas no mercado, simultaneamente ao filme. Outras produções associadas ao país são
“King Kong” (refilmagem) e “As crônicas de Nárnia”.
Reino Unido
O Reino Unido representa a maior produção cinematográfica da Europa sendo que o
seu maior destaque é a alta especialização no setor de pós-produção e efeitos especiais.
O principal órgão de promoção do cinema e turismo é o UK Film Council o qual
oferece investimentos para novas produções. O destaque para essa entidade é a valorização
cada vez maior, da tradição britânica e o estímulo oferecido para obras que a utilizem em seus
enredos.
Os britânicos, assim como a Nova Zelândia, trabalham o audiovisual juntamente com
o turismo concentrando seus esforços na exportação de filmes em formato de DVD e CD. O
UK Film Council estima a renda de 3 bilhões e meio por ano, resultado da vinda de turistas
atraídos pelas produções cinematográficas. Algumas obras produzidas no Reino Unido de
maior atração são “Harry Potter” e o “Código da Vinci”
Dados Numéricos.
As seguintes tabelas têm como objetivo ilustrar o impacto causado pela divulgação do
destino em uma obra cinematográfica.
52
África
Filme Locação Impacto
“A montanha dos
gorilas”
Ruanda Aumento de 20% no número de visitantes
em 1998.
Tabela 1 – Impactos do turismo cinematográfico na África.
Fonte: HUDSON e RITCHIE (2006, p.389).
América do Norte
Filme Locação Impacto
“Amargo pesadelo” Rayburn Country ,
Georgia – Estados
Unidos
Mais de 20.000 turistas gerando uma
receita de dois a três milhões de dólares.
“Dança com Lobos” Fort Hayes, Kansas –
Estados Unidos
Crescimento de 25% no número de
visitantes, sendo que, nos últimos quatro
anos antecedentes ao lançamento do
filme, este crescimento era somente de
7%.
“Contatos imediatos
de terceiro grau”
Devils Tower,
Wyoming – Estados
Unidos
Crescimento de 75% no número de
visitantes.
“Telma e Louise” Arches National
Monument em Moab,
Utah – Estados Unidos
Crescimento de 20% no número de
visitantes.
“Campo dos sonhos” Iowa – Estados Unidos 35.000 visitantes acrescidos na demanda
que existia antes do lançamento.
“Dallas” Dallas – Estados
Unidos
O seriado atrai cerca de 500.000
visitantes por ano.
“Flores de aço” Louisiana – Estados
Unidos
Crescimento de 48% no número de
visitantes.
“O último dos
Moicanos”
Chimney Rock Park,
Carolina do Norte –
Estados Unidos
Crescimento de 25% no número de
visitantes.
“O fugitivo” Billsboro, Carolina do Crescimento de 11% no número de
53
Norte – Estados Unidos visitantes.
“Adoráveis mulheres” Orchard House,
Massachussetts –
Estados Unidos
Crescimento de 65% no número de
visitantes.
“Sorte no amor” Durham, Carolina do
Norte – Estados Unidos
Crescimento de 25% no número de
visitantes.
“Miami vice” Miami - Estados
Unidos
Crescimento de 150% no número de
visitantes.
“Forrest Gump” Savannah, Georgia –
Estados Unidos
Crescimento de 7% no número de
visitantes.
Tabela 2 – Impactos do turismo cinematográfico na América do Norte.
Fonte: HUDSON e RITCHIE (2006, p.389).
Ásia
Filme Locação Impacto
“A praia” Tailândia Crescimento de 22% no número de
visitantes.
“Tróia” Turquia Crescimento de 73% no número de
visitantes.
Tabela 3 – Impactos do turismo cinematográfico na Ásia.
Fonte: HUDSON e RITCHIE (2006, p.389).
Europa
Filme Locação Impacto
“Coração Valente” Wallace Monument –
Escócia
Aumento de 300% no número de visitante
no ano seguinte à sua estréia.
“Heartbeat” North Yorkshire –
Inglaterra
Triplicou o número de visitantes na
localidade, no ano da exibição.
“Harry Potter” Várias locações –
Inglaterra
Todas as locações tiveram um aumento de
50% ou mais no número de visitantes.
“Criaturas grandes e
pequenas”
Yorkshire Dales –
Inglaterra
Geração de mais de 5 milhões de libras
apenas em visitação motivada pelo filme.
“To the Manor Born” Cricket St. Thomas,
Leisure Park –
Aumento de 37% no número de visitantes
entre os anos de 1978 e 1980.
54
Inglaterra
“Middlemarch” Stamford, Lincolnshire
– Inglaterra
Aumento de 27% no número de visitantes
em 1994.
“Quatro casamentos e
um funeral”
The Crown Hotel,
Amersham - Inglaterra
Ocupação máxima por 3 anos seguidos
após a estréia do filme.
“Sua majestade Mrs
Brown”
Osborne House, Isle of
Wight - Inglaterra
Aumento de 25% no número de
visitantes.
“Em algum lugar
chamado Nothing
Hill”
Kenwood House –
Inglaterra
Aumento de 10% no número de visitantes
em apenas um mês.
“Razão e
sensibilidade”
Saitram House –
Inglaterra
Aumento de 39% no número de
visitantes.
“Orgulho e
Preconceito”
Lyme Park, Cheshire –
Inglaterra
Aumento de 150% no número de
visitantes.
“O Resgate do
soldado Ryan”
Normandia - França Aumento de 40% no número de
visitantes.
“Capitão Corelli” Cephalonia - Grécia Aumento de 25% no número de
visitantes.
Tabela 4 – Impactos do turismo cinematográfico na Europa.
Fonte: HUDSON e RITCHIE (2006, p.389).
Oceania
Filme Locação Impacto
“O Senhos dos
anéis”
Nova Zelândia Crescimento de 10% ao ano na visitação
desde o seu lançamento.
“Missão Impossível
2”
Austrália Aumento de 200% em visitação de
Parques Nacionais em Sydney.
“Crocodilo Dundee” Austrália Aumento de 20,5% no número de
visitantes.
Tabela 5 – Impactos do turismo cinematográfico na Oceania.
Fonte: HUDSON e RITCHIE (2006, p.389).
55
11. TURISMO CINEMATOGRÁFICO EM REVISTAS ESPECIALIZADAS.
Para este trabalho, foram analisados 8 anos da revista “Viagem e Turismo”,
totalizando 96 exemplares, e 9 anos da revista “Caminhos da Terra” somando 108
exemplares.
A revista “Viagem e Turismo” é uma publicação mensal da Editora Abril,
especializada na divulgação de destinos turísticos. A proposta desta revista é a de não aceitar
cortesias ou prêmios para a divulgação de serviços e destinações, ou seja, suas reportagens
são baseadas nas escolhas feitas pelos profissionais atuantes e não mediante eventuais
“pagamentos” oferecidos com vistas à promoção. Cabe ressaltar que, como todos os
periódicos especializados, a “Viagem e Turismo” também possui espaços dedicados à
publicidade, porém não fazem parte do conteúdo jornalístico.
Nos 96 exemplares analisados, foram encontradas 14 reportagens, cujo tema central
eram viagens baseadas em obras cinematográficas. Nenhuma destas reportagens eram temas
centrais ou destaque de capa, e sim, pequenas matérias de, no máximo, duas páginas.
Essas reportagens não possuíam os roteiros detalhados, apenas uma sugestão de
visitação aos locais onde foram filmadas as obras. No texto foram utilizadas frases como:
Todo o frisson é para descobrir qual será o destino de 48 sobreviventes de
um acidente aéreo, perdidos numa ilha não identificada do Pacífico. O
enredo viciante se passa também em Sidney, Los Angeles, Seoul,
Londres... A surpresa? Esses lugares são um só: Oahu no Havaí – a ilha de
Honolulu e de Pearl Harbor é a sede de todas as locações de Lost. Veja
algumas delas: (...).
(A ilha perdida de Lost. Viagem e Turismo. São Paulo. Set. 2006.).
Para mais de 40 milhões de leitores, as locações (quase) não são segredo.
Todos os lugares da trama estão no filme.
(A ilha perdida de Lost. Viagem e Turismo. São Paulo. Set. 2006.).
O cinema é capaz de criar uma geografia muito particular. O castelo que
aparece na telona como sendo a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts,
é na verdade, uma mistura de várias locações, todas no Reino Unido.
(Pergunte a Cindy. Viagem e Turismo. São Paulo. Set. 2006.).
Conheça cenários e locações de dois filmes indicados ao grande prêmio de
Hollywood.
(Na trilha do Oscar. Viagem e Turismo. São Paulo. Mar. 2006.).
Em o Código Da Vinci Paris foi o pano de fundo da saga do professor
Langdon; agora em Anjos e Demônios, é a vez de Roma. O acadêmico
56
interpretado novamente por Tom Hanks, dá a largada para a sua corrida
contra o tempo.
(Roteiro de cinema. Viagem e Turismo. São Paulo. Jun. 2009.).
Catorze locações foram usadas. Em muitos desses lugares, basta um pouco
de abandono e imaginação para se observar os pequenos hobbits correndo
com seus pés peludos entre as árvores. Dê uma olhada nessas paisagens e
diga se elas precisam de alguma maquiagem para parecer no cinema. Só
falta, agora, a estrela do filme: você é claro.
(A Senhora dos Anéis. Viagem e Turismo. São Paulo. Jun. 2009.).
O sucesso dos filmes atraiu um novo tipo de turista para lá: os fãs que
querem conferir de perto as locações que chegam a parecer irreais ma
telona. As agências de turismo não deixaram por menos: lançaram pacotes
na medida para quem quer se sentir dentro do filme (...).
(Nova Zelândia ou Terra Média? Viagem e Turismo. São Paulo. Jun.
2009.).
Baseado nas frases acima, pode-se deduzir que os artigos falam mais sobre a
destinação em geral, por exemplo, quando trata do filme “O Senhor dos Anéis”, são expostas
somente as informações mais relevantes sobre a Nova Zelândia, e não detalhes de cada cidade
que foi utilizada como locação.
A revista “Caminhos da Terra” não tinha como foco o turismo, mas sim o meio
ambiente e viagens pouco convencionais, mostrando além de paisagens pelo mundo,
informações gerais sobre a natureza. Portanto, por não ser uma revista especializada em
turismo, não tem como foco divulgar atrativos e sim mostrar paisagens rurais para quem se
interessa pelo meio ambiente.
Apesar de não ter como foco o turismo, a revista “Caminhos da Terra” publicou 6
reportagens envolvendo o turismo cinematográfico, e, assim como a revista “Viagem e
turismo”, nenhuma delas é destaque da capa ou integrante do corpo de matérias principais.
Possui frases em suas matérias como:
Apesar de tipicamente europeu, Timtim conquistou fãs no mundo inteiro.
(Tim Tim, o maior repórter da Terra. Revista Terra. São Paulo. N.6. Jun.
2001.).
Uma rocha de formas estranhas, uma pequena e anônima ilha, esculpida
pela erosão e pelo trabalho paciente da água. Até que um dia, vinte anos
atrás, ela foi escolhida como cenário de um filme do agente secreto 007.
(Estrela de cinema. Revista Terra. São Paulo. N.11. Nov. 2004.).
O filme sobre a amizade entre um menino e uma baleia, que chega ao
Brasil, encanta as platéias, reforça a defesa intransigente desse animal e
desperta polemica.
57
(Liberdade para Willy. Revista Terra. São Paulo. N.12. Dez. 1993.).
Deste modo, pode-se dizer que as reportagens não têm como objetivo a divulgação de
um destino ou atração da demanda potencial, e sim, um caráter informativo com objetivo de
entretenimento, cabendo ao próprio turista uma pesquisa mais profunda sobre o tema caso
tenha interesse.
12. TURISMO CINEMATOGRÁFICO EM ESTUDOS ACADÊMICOS
Com vistas a esta análise, cinco trabalhos acadêmicos referentes à avaliação parcial de
“Roteiros Turísticos” - disciplina do curso de Bacharelado em Turismo, da Universidade
Federal de São Carlos, foram indicados, pela professora Claudia Maria Astorino, como
exemplos de trabalhos bem sucedidos com essa temática.
O objetivo desta análise é avaliar como esses estudantes de Turismo trataram o tema
“turismo cinematográfico” em seus roteiros.
O primeiro trabalho analisado faz referência ao filme “O fabuloso destino de Amelie
Poulain”6 (CARDOSO & TEBERGA, 2009). As alunas que o desenvolveram utilizam as
seguintes frases de discrição:
No filme, a escadaria para até o Sacré-Couer é o local onde Amelie faz as
famosas setas azuis no chão para entregar a Nino sua coleção de fotografia
3x4.
Localizado na rua Lepic, é o local onde a personagem trabalha como
garçonete. A decoração do local continua a mesma, embora a tabacaria já
não exista mais, pois foi retirada para dar mais espaço ao café. Vale
saborear a sobremesa favorita de Poulain: o crème brûlée.
O canal onde Amelie joga suas pedrinhas possui 4,55km de extensão e
foi aberto em 1825.
É nesse local que Amelie deixa o cego que ela ajudou a chegar até o mêtro
Durante o trajeto, Poulain descreve os locais e os acontecimentos para o
6 “Le fabuleux destin d'Amélie Poulain” foi dirigido por Jean-Pierre Jeunet e lançado em 2001
58
homem. Aproveite para conhecer mais os lugares e perceber as
paisagens descritas pela personagem principal.
É o local onde a mãe de Amelie morre de um modo trágico e um tanto
inusitado. Ao sair da catedral dê uma olhadinha para cima, como
forma de precaução.
O destaque do roteiro das autoras está na maneira “convidativa”, com a qual o texto
aborda o leitor. Convidá-lo para realizar as mesmas ações da personagem pode garantir o
alcance da meta de “vivência e interação” de um roteiro de turismo cinematográfico.
Capelari (2009) desenvolveu um roteiro baseado no filme “Antes do Amanhecer”7.
Algumas frases utilizadas pela autora são:
Com poucas palavras trocadas, Jesse convence Celine a descer do trem e
passar um dia em Viena, pois no dia seguinte seu avião partiria rumo aos
EUA. Junto aos pontos turísticos de Viena os dois vivem um romance
relâmpago cheio de surpresas. E é inspirado nesses pontos que você
conhecerá Viena no próximo mês de Julho.
A proposta de Capelari é que, além de conhecer os mesmos pontos turísticos exibidos
no filme, o visitante tenha a mesma sensação de uma das principais personagens: fazer uma
visita inesperada, de curta duração, experimentando diversas sensações durante o passeio.
O próximo roteiro analisado é de autoria de Moriwaki e Uliana (2009) e tem como
tema a película “Romeu e Julieta”8. Algumas citações das autoras:
O hotel foi escolhido devido a sua localização, no coração da zona
comercial de Verona, a 200 metros da Piazza delle Erbe e da famosa
varanda de Julieta.
Não deixe de conhecer o interior da casa e alguns dos cômodos entre eles
o quarto com a cama e as roupas que o casal usou em sua primeira noite de
amor.
O roteiro de Moriwaki e Uliana apresenta uma característica diferencial, pois
proporciona, juntamente com o roteiro a experiência e vivência italiana. A percepção do
cotidiano nas cidades onde se desenvolveu a história do casal, mesmo que em épocas
7 “Before Sunrise” foi dirigido por Richard Linklatere e lançado em 1995.
8 “Romeo + Juliet” foi dirigido por Baz Luhrmann e lançado em 1996.
59
distantes, podem aproximar o visitante à vida dos personagens através do estímulo à
imaginação.
O filme “Sideways” serviu de inspiração para o roteiro de Costa e Guimarães (2009).
Em seu conteúdo podem-se encontrar as seguintes afirmações:
Check-in no hotel „Days Inn – Buelton at the Windill‟, mesmo hotel onde
ficaram hospedados os personagens do filme.
Jantar „The Hitching Post II‟, mesmo restaurante do filme.
Em seu roteiro, as discentes harmonizam a enologia, com visitas aos estabelecimentos
que foram utilizados para a filmagem (que potencializam o sentimento de “vivência”) e
também com a experiência do vinho (que é a característica das personagens mais trabalhadas
pelo escritor do filme). Assim, trabalhar as principais características da personagem principal
junto ao turista pode fazer com que este sinta-se participando de “Sideways”.
Os autores Chen e Ortolano (2009) elaboraram um roteiro baseado na experiência das
personagens do filme “Um bom ano”9, que remete à vida pastoral na região de Provence, na
França. Neste roteiro, é possível visitar paisagens bucólicas, provar pratos típicos retratados
no filme, e visitar a região propriamente dita.
Os autores ressaltam as paisagens bucólicas, como os campos de lavanda e girassóis,
as montanhas e vilarejos. “Atentamos a colocar os pontos revelados nas obras supracitadas,
passando por monumentos românticos, cidades medievais, saboreando as famosas
comidas provençais e conhecendo a cultura local através da acomodação de toda a
viagem”.
13. ELEMENTOS IDENTIFICADOS COMO FUNDAMENTAI PARA O SUCESSO
DE UM ROTEIRO DE TURISMO CINEMATOGRÁFICO.
A partir da análise dos exemplos das destinações, dos periódicos especializados e dos
trabalhos acadêmicos, é possível afirma que:
9 “A Good Year” foi dirigido por Ridley Scott e lançado em 2006.
60
A visitação a locais comuns aos personagens do filme é essencial para a formatação do
roteiro e atração da demanda, sendo que locações que são reais e continuam em
operação como hotéis, restaurantes e monumentos, deixam a ficção mais próxima à
realidade, oferecendo uma característica “tangível” ao produto;
A associação dos atrativos a serem visitados dentro da destinação com os elementos
do filme dentro da pormenorização do roteiro perante o consumidor, faz com que o
turista se interesse mais por realizar o roteiro;
Complementação do roteiro com experiências ligadas a características culturais dos
personagens tornam a experiência completa, mesmo que não fazendo parte
diretamente do filme.
14. ROTEIRO PROPOSTO
A seleção do longa metragem “O Quatrilho”10
como obra-tema para o roteiro que
exemplificará este estudo ocorreu devido à sua representatividade para seu país de origem
(Brasil), não apenas pelos prêmios que ganhou, mas também pelos quais foi indicado ao
Oscar, conferindo um reconhecimento internacional a qualidade de sua produção.
A obra apresenta condições excelentes para a criação de um roteiro turístico por
apresentar no decorrer de seu enredo, além de paisagens rurais de grande beleza cênica,
elementos culturais da região sul do país que possibilitam a possível “necessidade” da
vivência, ademais destas serem retratadas de maneira condizente com a realidade.
“O Quatrilho” foi lançado no ano de 1995, sob a direção de Fábio Barreto e roteiro
baseado na obra literária de José Clemente Pozenato, do qual leva o mesmo título. A história-
tema conta a trajetória de dois casais amigos, que se tornam sócios na produção de farinha
juntando suas famílias na mesma fazenda para facilitar o cuidado com o cultivo da produção;
com o passar do tempo a esposa de um interessa-se pelo marido da outra e os casais são
trocados.
Os romances (representados no livro e no filme) são baseados em fatos reais e as
famílias participaram tanto da escrita do livro quanto da filmagem da película, e fazem
questão de contar sua história para os turistas, que buscam vivenciar a história.
10
“O Quatrilho” é uma produção da Paramount com direção de Fábio Barreto. 1994
61
Alguns elementos cinematográficos tornam-no atraente para a demanda potencial
como:
Paisagens bucólicas;
Ambientes naturais de beleza cênica;
Cultura típica de imigrantes italianos;
Métodos de produção rural;
Culinária típica;
Enredo baseado no romance.
Quando se trata da estética do filme, pode-se dizer que a qualidade da imagem é
suficiente para mostrar detalhes atraentes para o espectador, como na cena do beijo do casal
Massimo e Teresa atrás de uma cachoeira, em que a cachoeira é mostrada em segundo plano e
o casal detrás dela em primeiro, causando uma sensação de envolvimento na cena.
De maneira geral, os aspectos mais atraentes do filme podem ser considerados as
paisagens naturais e a tradição italiana, proporcionando uma excelente oportunidade de
investimento em roteiros na região sul do país cuja imigração proveniente da Itália foi
verdadeiramente expressiva.
14.1. Roteiro descritivo “O Quatrilho”
O roteiro tem início na cidade de Antônio
Prado no estado do Rio Grande do Sul. Uma
sugestão para pessoas que são de outro estado
brasileiro é ir até Caxias do Sul e embarcar no
ônibus da empresa “Ozelame” até Antônio Prado.
A hospedagem em Antônio Prado será na
pousada Zanotto com check-in agendado para as
14 horas.
Figura 15: Centro histórico de Antônio
Prado. Fonte: Inema. Disponível em:
http://inema.com.br. Acesso em Novembro de
2009
62
Durante o período da tarde realizaremos uma caminhada pelo centro histórico de
Antônio Prado. Vamos conhecer a cidade para onde os personagens do filme “Quatrilho”
partem em busca de prosperidade. As cenas em que os personagens percorrem as ruas de uma
pequena e pacata cidade podem ser reconhecidas neste centro histórico.
Um passeio imperdível em Antônio Prado é a capela de Santo Antônio onde as
personagens Teresa e Ângelo se casaram, localizada no centro dos mais de 48 imóveis
tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que marcam a
colonização italiana. Dentro do Museu Municipal há mais de 500 objetos entre enxovais,
louças e talheres que eram manipulados pelas senhoras, e, artigos de decoração que foram
utilizados na preocupação da italianinhas com o asseio de seu lar.
Teremos o período da noite livre para o jantar e quem sabe podemos encontrar
alguma festa italiana pelos bairros da simpática cidadezinha.
No segundo dia de passeio, após nos servimos do café da manhã colonial da pousada,
partiremos com destino à cidade de Tapera, onde realizaremos um passeio em uma jardineira,
Figura 16: A Princesinha.
Fonte: THIELE, C.
Disponível em: www.parana-
online.com.br. Acesso em
Novembro de 2009.
conhecida como “A Princesinha” por fazendas de descentes
diretos das famílias que foram inspiração para o filme.
A primeira visita é na fazenda da família Grings, onde poderemos
conhecer as casas que cederam o ambiente interno para a
gravação. Não apenas os dois casais da trama viveram na casa
principal, mas também os casais reais. Lá teremos alguns de seus
familiares os quais recebem os turistas com uma visita guiada
relacionando as locações com à vida de seus parentes. Um dos
pontos mais emocionantes da visita é o chamado Moinho de
Tapera (o mesmo do filme!) que entra em funcionamento para
todos os grupos de turistas que por ali passam. Próximo a ele está
localizada a capela também dedicada a Santo Antônio onde os apaixonados não-ficcionais
casaram-se. É possível também conferir uma exposição fotográfica dos casais durante toda a
história de seu matrimônio.... antes das trocas, é claro!
63
Atrás da capela poderemos visitar o cemitério onde
os casais estão enterrados e prestar-lhes nossas
homenagens.
Após este último ponto será encerrada a visita à
família Grings e aproveitaremos nossa pausa para o
almoço no restaurante Dom Fiorindo que possui um
serviço de Buffet especializado em culinária italiana.
O próximo ponto de visitação é o Morro da Polenta
Figura 17: Capela de Santo Antônio
em Tapera.
Fonte: VOLK, R.H. Disponível em:
www.gramado.rs.gov.br. Acesso em
Novembro de 2009
localizado a 830 metros acima do mar proporcionando uma visão de 360º da paisagem natural
que foi utilizada nas gravações do filme.
A última parada do dia é na fazenda da família Ramm, descendentes de alemães, que
forneceram vários cenários para as filmagens também referentes à morada das personagens
principais. Em sua grande maioria, os cenários utilizados foram os próprios ambientes
naturais como o rio no qual Teresa e Massimo vão molhar os pés para fugir do calor após um
farto almoço. É justamente nessa fazenda em que faremos também uma farta refeição servida
pela família Ramm! Um café da tarde típico alemão acompanhado de muita música.
Após as visitas retornaremos a Antonio Prado para check-out na pousada e seguiremos
para a hospedagem no hotel Farina Park com o período noturno livre. Caso você tenha
gostado tanto da música dos Ramm e acabou deixando o café colonial para segundo plano, há
dois restaurantes no hotel Farina Park disponíveis para suas refeições.
No terceiro dia faremos uma visita guiada em parceria com a empresa Caminhos do
Sertão aos “Caminhos de Pedra”.
Figura 18: Construção no
Caminhos de Pedras.
Fonte: Caminhos de Pedra.
Disponível em:
www.caminhosdepedra.org.br.
Acesso em: Novembro de 2009
O roteiro será feito de bicicleta e durante o trajeto
conheceremos construções históricas como cenários de pedra,
casas de madeira, igrejas, capitéis, museus e muita natureza.
Durante a tarde conheceremos alguns dos empreendimentos
privados no local sendo eles: uma casa especializada em
produtos derivados das ovelhas, duas casas com artesanato que
remete à cultura italiana, uma casa especializada em erva-mate
e duas vinícolas.
64
Durante o passeio estão incluídas duas refeições, sendo que o almoço ficará à critério
do cliente entre duas opções de restaurante no local, e, o jantar na segunda vinícola que
visitaremos especializada em vinhos finos.
Nos “Caminhos de Pedra” você encontrará cenários
de algumas pequenas cenas do filme. Se começar a chover
poderemos nos esconder na mesma casinha que os casais
se esconderam quando estavam mudando para a fazenda
do moinho. E, se durante o passeio você pensar estar na
frente da casa onde tudo aconteceu, não é mera
coincidência! Ao final do passeio retornaremos ao hotel e
teremos o período noturno livre
Figura 19: Construção no
Caminhos de Pedras.
Fonte: Caminhos de Pedra.
Disponível em:
www.caminhosdepedra.org.br. Acesso em: Novembro de 2009
A sugestão de entretenimento noturno e preparação para as atividades do próximo dia
é uma visita ao “Ferrovia Cult Bar e Café”. Este café tem uma arquitetura peculiar remetendo
aos tempos da ferrovia. Sua ambientação é temática e seu cardápio tem como tema o ápice da
ferrovia no país. Em sua programação há pequenos espetáculos e shows musicais que tentam
resgatar a cultura da cidade.
No quarto dia do roteiro após degustarmos o café da manhã no hotel partiremos para
Bento Gonçalves, ponto inicial do passeio de Maria Fumaça, operada pela Giordani Turismo.
Figura 19: Maria Fumaça.
Fonte: Giordani Turismo.
Disponível em:
http://www.mfumaca.com.br.
Acesso em: Novembro de 2009
Logo na estação seremos recepcionados com degustação de
vinho tinto e branco, acompanhada de uma apresentação
musical. Quando o sino soar embarcaremos e nos
acomodaremos em nossos lugares no quarto vagão, exatamente
onde Teresa e Massimo sentaram-se na fuga para a nova vida.
Durante o trajeto haverá encenações que remeterão à cultura da
imigração italiana acompanhada de animadas músicas.
Na estação de Garibaldi sairemos do vagão para uma breve apreciação da estação e
degustação de sucos de uva fabricados na região ao som de belas músicas. O fim do trajeto
acontecerá na cidade de Carlos Barbosa de onde embarcaremos para a próxima atração.
O próximo ponto de visitação é o parque temático em Bento Gonçalves denominado
“Epopéia Italiana”. O parque remete ao ano de 1875 quando os primeiros imigrantes italianos
– provenientes da região Trentino Alto-Adige - chegaram à região, e os efeitos de luzes e sons
complementados por um cenário característico, que inclui até mesmo uma réplica do navio
65
dos imigrantes, tornam reais o sentimento de proximidade com a cultura mostrada na película.
Parece até que somos vizinhos dos casais da trama!
Existem diversos ambientes dentro do parque com temas distintos entre si. Há o que
fale sobre as vestimentas, um com uma réplica de uma vila italiana na região do Trentino
Alto-Adige, um com projeções de filmes e documentários sobre a imigração e outro com uma
montagem de métodos de produção agrícola e criação de animais utilizados na época.
Após a visita ao Parque da Epopéia Italiana iremos para o Vale do Rio das Antas, um
dos principais atrativos naturais de Bento Gonçalves. Durante o trajeto auto-guiado poderem
ter um pouco mais de contato com artesanatos italianos inspirados na natureza circundante.
Um dos pontos mais belos do passeio são os arcos paralelos suspensos, conhecido como
“Ponte do Rio das Antas” que oferece uma visão de todo o rio cujo nome é conhecido por
toda a região.
Ao fim do trajeto teremos o período noturno livre e transporte de nossa empresa para o
hotel.
No quinto dia conheceremos os atrativos de Farroupilha. No
período da manhã faremos uma visita ao Museu Municipal da Casa
de Pedra que se trata de uma casa construída em 1986 como
comércio e moradia da família Finn. Atualmente sua função é
preservar as lembranças da família doadas por seus descendentes.
A construção é original e todos os móveis e utensílios são os
mesmos desde a imigração da família. Aliás, a cozinha desta casa é
bem parecida com aquela em que Teresa fazia fartos cafés da
manhã quando era recém casada com Ângelo.
Figura 10: Museu
Municipal da Casa de
Pedra.
Fonte: Prefeitura de
Farroupilha. Disponível
em:
www.forroupilha.gov.br.
Acesso em Novembro de
2009
Figura 21: Cachoeira
Salto do Ventoso. Fonte: Prefeitura de
Após uma pausa no centro da cidade para o almoço, seguiremos
para o Parque do Salto Ventoso onde está localizada a cachoeira que
leva o mesmo nome do parque. Ela possui 52 metros de altura e está
em frente a uma gruta de 200 metros de comprimento e 25 metros de
altura. Foi neste cenário natural que Massimo e Teresa deram o
polêmico primeiro beijo. Fotos com seu companheiro(a) neste
cenário serão recordações para todas as gerações.
No período da noite participaremos de uma animada festa Italiana
em Farroupilha. O chamado Encontro de Tradições Italianas
66
Farroupilha. Disponível
em:
www.forroupilha.gov.br.
Acesso em Novembro de
2009
comemora a imigração para a região com diversas apresentações
artísticas temáticas, além de muita comida típica e danças durante
toda a festa.
Para encerrar a visita às locações do filme, nada melhor do que se divertir em grande
estilo Italiano!
No quinto dia, nos despediremos do Farina Park Hotel e iremos para o Hotel Spa do
Vinho, da rede Accor, que possui dentro de suas dependências um SPA do grupo francês
Caudalie, com tratamentos de relaxamento e beleza que têm derivados de uva como principais
ingredientes. Ficaremos hospedados por dois dias completos, com chegada pela manhã e saída
no dia seguinte no período da noite. Durante a estadia estarão inclusos o café da manhã, duas
refeições, três tratamentos à sua escolha no SPA e transfer até o aeroporto ou rodoviária de
sua preferência para o fechamento do pacote.
Depois de seguir os passos de nossos personagens preferidos, nada melhor do que
passar dois dias relaxando e degustando a bebida mais apreciada pelos italianos...
14.2. Roteiro Esquematizado
Primeiro dia
Check In na Pousada Zanotto às 14:00. O hotel possui chalés com dois quartos e um
banheiro, sofá, televisão com parabólica, telefone e ar condicionado. Há um
restaurante, porém não estão incluídas refeições na diária. O café da manhã colonial
está incluído no preço do pacote.
Caminhada pelo centro histórico de Antonio Prado com ênfase na rua Luiza Bocchese
e na Avenida Valdomiro Bocchese, às 14:30.
Fim das atividades às 18:00. Noite livre.
Segundo dia
67
Café da manhã na pousada.
Saída para Tapera às 7:30.
Início do passeio na jardineira às 8:00.
Pausa para almoço às 12:00.
Retorno das atividades na jardineira às 13:00.
Fim das atividades em Tapera às 18:00.
Chegada à Antonio Prado e check-out na pousada Zanotto às 18:30.
Chegada ao hotel Farina Park às 19:30 e check in.
Jantar no Farina Park às 20:30.
Noite livre
Terceiro dia
Café da manhã no hotel.
Saída para o passeio às 8:30.
Chegada nos “Caminhos de Pedra” às 9:00.
Parada para almoço às 12:00 e retorno ao roteiro às 13:30.
Fim do passeio às 20:00.
Chegada no hotel às 20:30. Período livre.
Quarto dia
Café da manhã no hotel.
Saída às 8:00 para o passeio.
Início do passeio da Maria Fumaça as 9:00.
Final do percurso às 11:00.
Chegada na Epopéia Italiana às 12:00.
Fim do passeio ás 15:00.
Chegada ao parque das Antas às 15:30.
Fim do passeio às 18:00.
Período livre.
68
Retorno ao hotel às 22:00.
Quinto dia
Café da manhã no hotel,
Visita ao Museu Municipal da Casa de Pedra às 10:00.
Pausa para almoço às 12:00.
Saída para o Parque Salto do Ventoso às 13:00 .
Retorno ao hotel às 18:00.
Saída para as atividades noturnas às 19:00.
Fim das atividades noturnas às 23:00.
Sexto dia
Café da manhã e check-out no Farina Park Hotel.
Check-in no SPA do Vinho às 9:00.
Sétimo dia
Check-out do SPA do Vinho as 19:00.
Preço do pacote
Uma diária na Pousada Zanotto em quarto duplo: R$ 50,00
Transfer em Antonio Prado e Tapera: R$ 50,00
Jardineira em Tapera: R$ 50,00
Transfer em Bento Gonçalves: R$ 40,00
Três diárias no Farina Park Hotel em apartamento duplo: R$ 360,00
69
Caminhos de Pedra com guia e equipamentos da “Caminhos do Sertão”, e duas
refeições: R$ 120,00
Passeio de Maria Fumaça e visita à Epopéia Italiana em Bento Gonçalves: R$ 60,00
Tranfer em Farroupilha: R$ 60,00
Hotel & SPA do Vinho:R$ 1.600,00
a) uma diária na suíte príncipe R$900,00 com café da manhã
b) duas refeições: R$ 200,00
c) três tratamentos no SPA: R$ 450,00
d) transfer até Caxias do Sul: R$ 50,00
Preço total do Roteiro: R$ 2.390,00
15. REFERÊNCIAS
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