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A arte da comunidade quilombola Conceição das Crioulas: a afirmação da identidade cultural afro-brasileira representada nas bonecas negras Socorro Regina de Souza CONRADO Pós-graduada em Arte-educação UNICAP/ UFPE Professora efetiva da Rede Estadual rede ensino Público de Pernambuco Resumo Este estudo procurou compreender a arte da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro, no sertão de Pernambuco. Em especial, a confecção das bonecas negras, feitas em caroá, em homenagem às dez mulheres da própria comunidade, como forma de afirmação da identidade cultural afro-brasileira. Além de valorizar o resgate da auto-estima do negro quando enaltece seu fenótipo nessa representação simbólica primando pela identidade cultural. A produção de arte na comunidade fazendo uso de matéria-prima da própria região com artigos feitos em caroá, catolé, imbira e palha de milho, tem promovido geração de renda, inclusão social e desenvolvimento sustentável ao povo quilombola fortalecendo ainda mais suas tradições e etnicidade. Este campo de trabalho foi selecionado por se tratar de uma comunidade que vem se destacando a partir de parcerias e projetos comunitários e atingindo projeção em Pernambuco como também nacional e internacionalmente. Isso se deve à crescente consciência negra sócio-política e econômica construída a partir da luta pela posse da terra para os quilombolas. Soma-se a isso ações desenvolvidas pela Associação Quilombola Conceição das Crioulas (AQCC) através de oficinas, seminários e cursos ao povo da comunidade. A questão racial foi tratada com depoimentos esclarecendo problemas recorrentes que ainda são enfrentados, mesmo após 122 anos de abolição da escravatura, pelos quilombolas. A contribuição desta pesquisa visa somar-se aos conteúdos da Arte, onde a Lei nº 10.639/03 legitima o ensino da cultura Afro-Brasileira, especialmente nas disciplinas de História, Literatura e Educação Artística, abrindo campo para que essas questões sejam mais discutidas. Palavras-chave: Arte-Educação, Etnia, Racismo, Identidade Cultural.

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Socorro Regina de Souza CONRADO Pós-graduada em Arte-educação UNICAP/ UFPE Professora efetiva da Rede Estadual rede ensino Público de Pernambuco Resumo Palavras-chave: Arte-Educação, Etnia, Racismo, Identidade Cultural. Keywords: Art-Education, Etnia, Racism, Cultural Identity. Abstract Introdução 1 Feira Nacional de Negócios do Artesanato.

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A arte da comunidade quilombola Conceição das Crioulas: a afirmação da identidade cultural afro-brasileira representada nas bonecas negras

Socorro Regina de Souza CONRADO Pós-graduada em Arte-educação UNICAP/ UFPE

Professora efetiva da Rede Estadual rede ensino Público de Pernambuco

Resumo

Este estudo procurou compreender a arte da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro, no sertão de Pernambuco. Em especial, a confecção das bonecas negras, feitas em caroá, em homenagem às dez mulheres da própria comunidade, como forma de afirmação da identidade cultural afro-brasileira. Além de valorizar o resgate da auto-estima do negro quando enaltece seu fenótipo nessa representação simbólica primando pela identidade cultural. A produção de arte na comunidade fazendo uso de matéria-prima da própria região com artigos feitos em caroá, catolé, imbira e palha de milho, tem promovido geração de renda, inclusão social e desenvolvimento sustentável ao povo quilombola fortalecendo ainda mais suas tradições e etnicidade. Este campo de trabalho foi selecionado por se tratar de uma comunidade que vem se destacando a partir de parcerias e projetos comunitários e atingindo projeção em Pernambuco como também nacional e internacionalmente. Isso se deve à crescente consciência negra sócio-política e econômica construída a partir da luta pela posse da terra para os quilombolas. Soma-se a isso ações desenvolvidas pela Associação Quilombola Conceição das Crioulas (AQCC) através de oficinas, seminários e cursos ao povo da comunidade. A questão racial foi tratada com depoimentos esclarecendo problemas recorrentes que ainda são enfrentados, mesmo após 122 anos de abolição da escravatura, pelos quilombolas. A contribuição desta pesquisa visa somar-se aos conteúdos da Arte, onde a Lei nº 10.639/03 legitima o ensino da cultura Afro-Brasileira, especialmente nas disciplinas de História, Literatura e Educação Artística, abrindo campo para que essas questões sejam mais discutidas.

Palavras-chave: Arte-Educação, Etnia, Racismo, Identidade Cultural.

Abstract

This study tried to comprehend the art of the Conceição das Crioulas quilombola community, in Salgueiro, the interior (sertão) of Pernambuco. Especially the black handicraft dolls made in caroá, in honor of ten own community women as a means of Afro-Brazilian affirming identity. Besides valouring the black people self-esteem recovering as ennobling the (physical features/phenotype) on this symbolic representation accomplishing the cultural identity. The art production in the community using raw material from the region itself with handicraft works made in caroa, catole, imbira and sweet corn straw has been promoting income /revenue generation, social inclusion and sustainable development to the quilombola people strengthening their traditions and ethnicity even more. This field of work was chosen because of the community development (through communitarian partnership and projects) which had achieved projection in Pernambuco as well as nationally and internationally .It happened due to the growing socio-political and economical black consciousness built from the fight for the land possession for the quilombolas. Moreover, the actions promoted by Conceição das Crioulas Quilombola Association (AQCC) through workshops, seminars and courses to the community people. The racial issue was treated with testimonies trying to clarify recurring problems which are still faced by the quilombolas, even after 122 years of slavery abolition. This research contribution focus on adding to the Arts contents, in which, according to the law10.639/03 that legitimates the teaching of Afro-Brazilian culture, especially in History, Literature and Arts school subjects, it can be expanded on so that these issues could be largely discussed. Keywords: Art-Education, Etnia, Racism, Cultural Identity. Introdução

asseando meu olhar entre milhares de obras de arte numa das maiores feiras de artesanato de Pernambuco, a FENEARTE1, com artigos nacionais e internacionais, é que tomei conhecimento pela primeira vez da Comunidade Quilombola Conceição das Crioulas. Era o mês de julho de 2008.

Assim começou esse percurso curioso e investigador ao me encantar com a boneca negra feita de caroá – uma fibra natural, contendo um livreto onde se narrava um breve histórico do lugar e com a singela homenagem feita às mulheres da própria comunidade por meio dessas bonecas. Este trabalho científico visa compreender a arte da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, especificamente, a confecção das bonecas negras com o objetivo de contribuir para o fortalecimento de ações afirmativas da identidade Afro-Brasileira, averiguar se existe algum

1 Feira Nacional de Negócios do Artesanato.

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critério adotado para a seleção das mulheres a serem homenageadas e o que as levou a escolher essas bonecas como identidade coletiva. A representação do povo negro na mídia é tão pequena que não corresponde à realidade. Isso se deve ao preconceito racial mascarado e perverso no cotidiano dos Afro-brasileiros invisibilizando-os. Essa homenagem é uma estratégia de luta para quebrar a barreira do racismo e resgatar heranças ancestrais dentro e fora da comunidade. Além dessas inquietações, a escolha deste tema deu-se pela vontade e pela necessidade de propagar a Lei nº 10.639/03, onde são acrescidos à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em dois artigos: O primeiro deles, artigo 26-A, estabelece que o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira deve ser ministrado dentro do currículo escolar em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História Brasileiras. Já o artigo 79-B, inclui o dia 20 de novembro no calendário escolar como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Segundo o diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo, Kabengele Munanga, (2009), afirma em seu livro Origens Africana do Brasil Contemporâneo, que: (...) A África é tão complexa e diversa que fica difícil definir por onde começar, sobretudo quando se trata de uma disciplina de iniciação do jovem num terreno repleto de preconceitos acumulados durante o período escravista e colonial que pavimentou a historiografia oficial e persiste até hoje no imaginário.

A identidade cultural é importante, porque ela nos confere essa certeza de pertencimento. Há a identificação pessoal, por ser negra, com a arte apresentada pela comunidade quilombola Conceição das Crioulas, com a ancestralidade que permeia todo esse legado e com a expressão plástica que através de bonecas negras confeccionadas em caroá, homenageiam de forma simbólica e bonita as mulheres da própria comunidade. Os autores para auxiliar na fundamentação teórica no tratamento de arte como produção e expressão cultural e social selecionados foram: Ivone Richter, (2003), Ana Mae Barbosa, (2005, 2008, 2009), Kabengele Munanga, (2009), é o autor que trata da questão racial com conhecimento profundo e Stuart Hall (2003), contextualiza a situação da identidade cultural no mundo. Um fator que dificultou essa identidade cultural da população brasileira de matriz africana e repercute até hoje foi à política de branqueamento desenhada para o Brasil e implantada no final do século XIX e início do século XX. A análise do discurso da elite intelectual brasileira, do fim do século XIX ao meado deste, deixa claro que se desenvolveu um modelo racista universalista. Esse modelo supõe a negação absoluta da diferença, ou seja, uma avaliação negativa de qualquer diferença e sugere no limite

um ideal implícito de homogeneidade que devera se realizar pela miscigenação e pela simulação cultural. (Munanga, 1999.p 9-20). As seguintes indagações citadas por Munanga são pertinentes no que diz respeito à desvalorização e a baixa-estima que o negro sente de si próprio quando não se identifica com a maioria de tudo o que vê a sua volta estritamente direcionada ainda aos resquícios dessa política de branqueamento. Ainda de acordo com Munanga, (1999, p. 9-20): Como formar uma identidade em torno da cor e da negritude não assumidas pela maioria cujo futuro foi projetado no sonho do branqueamento? Como formar uma identidade em torno de uma cultura até certo ponto expropriada e nem sempre assumida com orgulho pela maioria de negros e mestiços?

Entretanto, Hall, (2003) nos aponta que: Mudanças na estruturação social entraram num processo fragmentário e de deslocamento das identidades culturais de classe, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade provocando uma ‘crise de identidade’ já que o homem antigamente tinha sua identidade sólida e definida.

Com o advento da globalização muitas culturas sofrem o efeito deste processo que pode levar a uma polarização, ou se fortalece, ou se produz nova identidade. Isso vem afirmar o que Candau, (1995, p. 297), pontua a seguir: Os movimentos sociais tais como a consciência negra e grupos indígenas trouxeram uma nova visão à diversidade de culturas no nosso país. E atualmente precisa haver um reconhecimento e valorização das múltiplas identidades culturais e de sua singularidade e contribuições ao país.

Essas reflexões são imprescindíveis para a tomada de novas posições e para a reflexão sobre conceitos errados e que se encontram estratificados na nossa sociedade. É com esse intuito que procuramos validar essa proposta de compromisso com a diversidade cultural e direcionar nossa atenção, neste estudo, aos códigos de etnia e raça. Apresentamos a organização desse artigo da seguinte forma: primeiro são abordados os aspectos historiográficos da origem da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, a criação da Associação Quilombola Conceição das Crioulas e o papel/contribuições das parcerias. O enfoque da arte como produção e expressão social e da identidade cultural são discutidos logo a seguir. Há, também, o registro fotográfico das 10 bonecas negras em caroá simbolizando as mulheres homenageadas. E, enfim, um apanhado geral da pesquisa de campo abrangendo a visitação à comunidade, o resultado dos questionários e das entrevistas aplicados, os depoimentos do povo quilombola em ambos os aspectos: negativo (do preconceito e discriminação dos quais ainda são vítimas), como também no lado positivo concernente às ações afirmativas e o fortalecimento da identidade étnico-racial da população.

A Comunidade quilombola e suas origens: um breve passeio historiográfico As comunidades de descendentes de quilombos permanecem vivas e lutando pela titulação de suas terras - um direito adquirido pela Constituição Federal desde 1988. Comunidades quilombolas são grupos étnicos que assim se auto-identificam e que se mobilizam politicamente em torno de demandas comuns e diferenciadas do conjunto da sociedade nacional, especialmente, o direito ao território que tradicionalmente ocupam e que está na base de sustentação da sua etnicidade. (Centro Cultural Luiz Freire, 2008, p. 07). Situada no município de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, a uma distância de 550 quilômetros da cidade de Recife, o povoado de Conceição das Crioulas, em dados numéricos, é composto por 16 núcleos populacionais onde aproximadamente residem 750 famílias. Segundo os moradores mais antigos, a progênie da comunidade remonta em meados do século XVIII, com a chegada de seis crioulas livres à região, tendo como guia Francisco José de Sá, um fugitivo de guerra, que ao chegarem ao local, fixaram moradia. No entanto, os índios Atikum já habitavam essas terras e com essas mulheres e seus descendentes passaram a coabitar. Aos poucos, as seis mulheres, com seu trabalho de produção e fiação do algodão que vendiam na cidade de Flores (PE), arrendaram e compraram uma área de terra de três léguas em quadra (1 légua = 6 km). Em 1802, as crioulas receberam a escritura com o carimbo da Torre, dezesseis selos, feita por José Delgado, escrivão do cartório de Flores. Com parte da área doada para a construção da capela onde foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Conceição, trazida na viagem por Francisco José de Sá, a comunidade passa a denominar-se Conceição das Crioulas, em homenagem à santa. Com a vinda da missão de freiras carmelitas a Salgueiro, em 1987,as mulheres se motivaram a pesquisar sobre ancestralidade e história a partir de leituras de textos bíblicos. Como conseqüência, foi formada uma comunidade eclesial de base e, posteriormente, passaram a participar de muitos outros movimentos dentre os quais: a Pastoral Rural, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Salgueiro, o Partido dos Trabalhadores. Em 1990, as mulheres da comunidade participaram do I Encontro dos Negros do Sertão. Cinco anos depois entraram em contato com o Centro de Cultura Luiz Freire, uma ONG sediada em Olinda firmando assim uma importante parceria. A Associação Quilombola Conceição das Crioulas (AQCC) Outra importante mobilização foi à criação da Associação Quilombola Conceição das Crioulas que é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundada em 17 de julho de 2000, tendo como objetivos lutar pela causa quilombola, fortalecer a sua identidade étnica e cultural

assim como a sua organização política, bem como promover o desenvolvimento da comunidade. Conceição das Crioulas, em 14 de julho de 2000, recebeu o título de seu território da Fundação Cultural Palmares, contudo, não foram adotadas as providências cabíveis para a desapropriação e o reassentamento dos posseiros, dando margem a conflitos com os fazendeiros que ameaçam com violência as comunidades pela disputa das terras perdurando assim o problema latifundiário. Em 2001, as artesãs da Associação ganharam um prêmio em dinheiro pelas peças em argila e artigos em caroá. Parte deste prêmio foi usada com a construção da sede. Pessoas influentes na comunidade e que muito colaboraram para o desenvolvimento da região foram a Vereadora Gilvânia e a prefeita Creuza Pereira. Parcerias e Projetos O Projeto Imaginário Pernambucano busca agregar valores da cultura unificando competências e identificando as potencialidades das habilidades dos moradores da referida região. Eles obtiveram sucesso no seu primeiro desafio junto à Comunidade Quilombola Conceição das Crioulas, em 2001. Afirma Ullmann, “Imaginário Pernambucano é um projeto de extensão da UFPE, que tem como objetivo potencializar os valores das comunidades produtoras de artesanato, promover o associativismo e possibilitar que a atividade se firma enquanto meio de vida sustentável”. Para isso o investimento em pesquisa é fundamental, pois concorre para o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a geração de renda, servindo como referência a outras intervenções do Estado. Outras parcerias firmadas: o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), o Actionaid, UNESCO, UNAIS- United Nations Association International Service, Heifer, Prefeitura de Salgueiro, Identidades Portugal, entre outros. Arte e Identidade Cultural - A arte como expressão cultural e social “A arte possibilita ao ser humano repensar suas certezas e reinventar seu cotidiano”. (Azevedo, 2009).

A comunidade soube reinventar seu cotidiano quando a plantação de algodão não mais dava sustento às famílias e pela arte possibilitou mudanças em vários âmbitos. Barbosa diz, (2008, p. 19), “o compromisso com a diversidade cultural é enfatizado pela Arte-Educação Pós-Moderna. Não mais somente os códigos europeus e norte-americanos brancos, porém, mais atenção à diversidade de códigos em função de raças, etnias, gênero, classe social, etc.”.

Os produtos artesanais com a identidade quilombola de Conceição das Crioulas encontram-se diretamente relacionada à matéria-prima e a vegetação da região como o cipó de imbira, a palha do milho, o caroá e o catolé, com a transmissão sendo dada pelos mais antigos. Esse trabalho na citada comunidade tem gerado renda, incluindo socialmente a população nas atividades artesanais e desenvolvendo sua sustentabilidade “ampliando de 30 para cerca de 120 os artesãos envolvidos”, como ilustra a fala das artesãs Francisca Marcelina e Umbelina Alzira. A matéria-prima muito usada no artesanato local é a fibra natural do caroá que é uma vegetação espinhosa típica da região do sertão. Da fibra do caroá são feitas as bolsas e as bonecas negras também. A confecção das bonecas negras em caroá é um processo bastante elaborado e totalmente artesanal. Primeiramente, são tirados todos os espinhos usando-se um arame atado a uma árvore bem frondosa. Depois disso, bate-se a planta com um pedaço de pau, usando como suporte o tronco da árvore até a fibra amolecer, a última parte deste processo é deixar a fibra secar ao sol por um bom tempo (metade de um dia) e aí está pronto para o tingimento e em seguida produzir as bonecas. Com o apoio e a intervenção do Projeto Imaginário Pernambucano, juntamente com o SEBRAE e a prefeitura de Salgueiro, que procurou explorar as habilidades, tradições e materiais, alguns produtos foram aperfeiçoados pelas artesãs e artesãos, como por exemplo, o tingimento da fibra do caroá que pode ser feito também com anilina. Dona Generosa (uma das mulheres homenageadas e artesã), explicou que o tingimento podia ser feito naturalmente, com a extração das próprias plantas. Fervendo a aroeira alcançava-se uma coloração de tom marrom; com o angico conseguia-se um tom vermelho claro e usando-se o pau ferro atingi-se a cor marrom-escura. Arte e identidade cultural As inquietações iniciais persistem: Como as bonecas negras em caroá identificam culturalmente uma coletividade? Quais as contribuições desta arte dentro e fora da comunidade? Para dialogar com tais questões, trago Richter, (2008, p. 14), que faz indagações profundas sobre a arte de ordem prática, a seguir: Temos uma consciência latente de nossas origens, mas isso é bom ou mau? Devemos provocar o tigre adormecido? Isso fará aguçar questões raciais e étnicas que não foram levantadas? E a arte? Como pode o ensino da arte auxiliar na identificação e na busca de soluções a esses problemas?

Não vemos com muita frequência o povo negro representado nos meios de comunicação de massa em geral. Ou a representação é ínfima que não corresponde à realidade da maioria do povo brasileiro.

Somos um povo pluriétnico, onde grande parte da população é descendente dos negros trazidos da África, dos índios já que habitavam o nosso país e dos colonizadores brancos vindouros. Dados do IBGE, (2000, p. 16-17), diz que “(...) um dos problemas estruturais que dificultam a identificação da população afro-brasileira está também no significado pejorativo atribuído ao negro e à falta de informações”. O povo negro também não é minoria. Este é mais um discurso de negação, como afirma Anjos, (2006, p. 18): Se juntarmos as populações do Brasil recenseadas pelo IBGE como “preta” e “parda” no ano 2000, teremos 69.649.861 habitantes, 47% do total nacional (...). Se assumirmos que a população considerada ”parda” nesse Censo é de fato uma população mestiça, com graus diferenciados de ascendência africana, ficará evidente que a população afro-brasileira não é minoritária.

O que existe é o preconceito em relação ao povo negro e a tudo que envolve sua cultura, na nossa sociedade. Mas, isso se encontra mascarado no nosso país com uma política ideológica subjacente em tudo a nossa volta. Essa ideologia é branca, dominante e machista. A nosso ver, a questão de fazer essa homenagem ao próprio povo quilombola simbolizada nas bonecas negras é uma forma usada como estratégia de luta para se combater esse preconceito perverso que não dá visibilidade ao povo negro. É um modo de reconhecer e valorizar sua cultura para superar a discriminação atuando sobre os mecanismos de exclusão social. Cada “pequeno” gesto resgata a auto-estima do negro ao se deparar com símbolos que o representem. O “se ver” como parte integrante de uma sociedade é importante para que essa pessoa se sinta cidadã ou cidadão do mundo. O somatório dessas ações afirmativas contribui para que essa representação cresça de modo proporcional para chegarmos, posteriormente, a uma equanimidade. Simbologia nas bonecas negras de caroá A identidade cultural afro-brasileira simbolizada nas bonecas negras tem a função social do negro ser valorizado em seu fenótipo, em sua beleza e em sua cultura e herança ancestral. De acordo com o Centro de Cultura Luiz Freire, (2008, p. 14), “Identidade refere-se àquilo que uma pessoa ou comunidade define de si. Está relacionada ao que se é (tanto individual quanto coletivamente), onde se está (comunidade/território) e o que se quer (projeto de futuro)”. Conversando com os moradores, houve o relato de que, na referida comunidade as homenagens eram feitas apenas aos fazendeiros e brancos da região. Para exemplificar esta situação o nome da primeira escola é o nome de um fazendeiro da região.

Certa revolta como sentimento latente é causado por este ato, uma vez que o povo quilombola foi e são os habitantes que ocuparam a terra desde os tempos primórdios, sem que haja nada em homenagem aos seus antepassados. O povo que sempre lutou, cultivou e trabalhou na terra sem direito a um nome numa escola, monumento, rua ou nome em placa na igreja quando morrem. Pensando neste fato e nos reportando à política de branqueamento mencionada anteriormente por Munanga, (2009), e que, ainda hoje tem suas conseqüências perversas, percebemos que a atitude de tomar nas mãos a responsabilidade de mudar a história e marcar sua importância foi crucial e bastante significativa, para todos os moradores desta comunidade. Foi urgente e necessário tomar esta providência de homenagear o povo quilombola, principalmente as mulheres. São elas verdadeiras guerreiras, que enfrentam os desafios com bravura e constrói a identidade cultural quilombola, que vão à luta, atualmente se reunindo na Associação Quilombola Conceição das Crioulas e discutindo políticas para direcionar melhor as parcerias e projetos. Algumas delas, mesmo aos 72 anos, vão à escola e trabalham na roça. Com essa tamanha dedicação, os homens foram seguindo o exemplo e se engajando também nas atividades sendo mais um apoio e fortalecimento para o grupo. Para exemplificar mais uma situação comprovadamente desafiadora, uma moradora relatou-me a superação de um problema. Houve um programa do governo para construção de moradias onde eram fornecidos apenas os materiais para a construção, mas a mão de obra seria dos moradores. As mulheres da comunidade mais uma vez se disponibilizaram colocando literalmente “a mão na massa” e trabalharam atuando como pedreiras na construção da Vila União. Tudo isso para melhorar as condições de fruição da comunidade e não perder a oportunidade de benfeitoria. Ao entrevistar essas mulheres, nota-se o sentimento de orgulho da raça e conforto no reconhecimento por parte dos companheiros de jornada. Como disse Sr. Andrelino, “Cada mulher homenageada tem uma história”. Por serem essas mulheres tão atuantes e importantes para a comunidade local, dentre os critérios propostos e assinalados por todos que responderam aos questionários encontram-se: a importância na comunidade, destaque nas habilidades artesanais, prestatividade e tempo de convivência na comunidade, herança genética. Não houve uma votação, mas uma indicação das homenageadas por parte do grupo que coordena as atividades na Associação Quilombola Conceição das Crioulas quase como um consenso vislumbrando uma uniformidade de pensamentos, de sentimentos e de opiniões.

Percurso dos questionários e das entrevistas Matilde Ribeiro, ex-secretária da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República descreve em seu prefácio no livro Quilombolas tradições e cultura de resistência, que A riqueza dos quilombolas está no relacionamento entre eles com a natureza e a base de subsistência. E que a manifestação deste saber sagrado e nobre se mostra em diversos aspectos como, por exemplo, “Por meio das cantigas, da religião, da comida feita no fogo à lenha. Revela-se no feitio das roupas simples e coloridas, na produção artesanal, na pesca, na roça, nos remédios e chás caseiros”. *grifo nosso+. Todas as dez mulheres homenageadas contribuem dentro da comunidade com esse “saber sagrado”. Para citar apenas um exemplo, a Dona Generosa com sua multi-mistura (sementes de girassol, folha de macaxeira, casca de ovo, etc.), salvou muitas crianças da desnutrição e morte prematura em Conceição. São ervas medicinais que funcionam como remédios. Dentre as linguagens atuais que a comunidade se apropriou para divulgar sua ancestralidade aos mais jovens está o emprego da internet como propagação da produção de vídeos elaborados por moradores de Conceição. Como uma das fontes de pesquisa, assisti ao vídeo intitulado “Procurando um Roteiro”. Nele, há uma pequena parte protagonizada pelas próprias meninas da comunidade quilombola Conceição das Crioulas. Elas usam o teatro de bonecos e dialogam com o público num interessante bate-papo. Com três bonecas negras, as jovens falam sobre a representação das bonecas de caroá feitas em homenagem às 10 mulheres da comunidade. Na conversa, elas destacam que a importância desse ato está na representação da comunidade dentro e fora do país. Algumas dificuldades enfrentadas foram às seguintes: dos vinte e cinco questionários pretendidos, apenas catorze foram retornados e respondidos. Das dez mulheres homenageadas, três delas já faleceram (Júlia, Mãe Magá e Francisca Ferreira). Uma delas afastou-se da Associação Quilombola Conceição Crioulas por questões particulares e incompatibilidade de opiniões. Não houve tempo hábil para entrevistar uma das homenageadas. Sendo possível entrevistar apenas cinco delas. Depoimentos sobre racismo Como resposta à hipótese que menciona o racismo mascarado vivenciado no cotidiano das pessoas no Brasil, como uma falsa democracia racial e onde as oportunidades e direitos não são, de fato, iguais para todos/as como deve ser de acordo com as leis e regulamentações de nosso país na Constituição, o resultado desta pesquisa é fornecido no questionário aplicado a um seleto grupo de pessoas em Conceição das Crioulas.

Nele, é indagado se a moradora ou morador já havia sofrido algum tipo de discriminação racial por ser negro (a) ou quilombola. O artigo 1º da Convenção define a discriminação racial como: (...) Qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha propósito ou o efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício em pé de igualdade dos direitos humanos e liberdades fundamentais.

A maioria deles trouxe uma resposta afirmativa através dos depoimentos que se seguem: “Eu era discriminada na escola e sociedade porque tenho cabelo duro e pele escura com mais melanina”. (Valdeci Maria da Silva). “Já fui chamada de negra porca, negra sebosa, negra imunda”. (Luiza Maria de Oliveira Silva). Ter seus direitos cerceados, como nos seguintes depoimentos: “Não poder se expressar por meio da religião de matriz africana invisibilizada na TV, materiais didáticos”. (Ana Claudia Mendes). Há a discriminação racial com apelidos jocosos na tentativa de conspurcar a imagem das pessoas quilombolas como nos depoimentos a seguir: “Tem pessoas que não se assume e nos chama de quibola, carambola, catabola e vários outros apelidos”. (Rosa Doralina Mendes). Outra discriminação é o racismo institucional: “Tenho uma filha que estuda na escola. Essa escola sempre a partir do mês de abril, começava os ensaios para o 7 de Setembro. Mas, na hora de sair no desfile, eram escolhidas só as crianças brancas”. (Andrelino Antônio Mendes). “Tinha salão de branco e salão de negro. No salão dos brancos, não tinha negro que entrasse, as portas ficavam fechadas. Tinha um vigilante para não deixar entrar os negros”. (Bernardina Firmiana de Oliveira)

Depoimentos sobre afirmação da etnicidade Em contrapartida, no mesmo questionário, ao serem indagados quanto ao sentido de ser quilombola, todos são unânimes no sentimento de prazer e satisfação ao pertencer à raça negra como atesta os depoimentos abaixo: Uns ganham maior consciência da resistência: “É estar sempre na luta para regularizar as nossas terras e nunca deixar morrer a nossa tradição”. (Edineide Maria de Oliveira).

Outros assumem a herança da identidade étnica e ancestral:

“Se reconhecer parte de um povo de origem africana que luta para permanecer e desenvolver as práticas que a caracteriza no local onde vive–quilombo”. (Ana Claudia Mendes da Silva).

Outra pergunta fundamental para identificar o foco desta pesquisa, foi o questionamento sobre qual seria o significado/importância da homenagem feita às dez mulheres da comunidade. Também obtivemos total consciência do grupo em questão no sentido de reconhecimento histórico e étnico desse simbolismo: “É uma questão de manter viva a nossa história e dos nossos ancestrais”. (Cícera Luzinete da Silva). “Significa o nascer da consciência da importância do que é ser uma mulher e ser negra”. (Cícera Luzinete da Silva). “Para mim significa dar visibilidade a elas e também à comunidade”. (Milton José de Oliveira)

As 10 mulheres homenageadas nas bonecas negras de caroá

“É necessário pesquisar nas fontes de origem e devolver ao povo em forma de arte”. (Solano Trindade)

Foto – As dez bonecas negras de caroá

Fonte: foto Socorro Conrado /maio 2010

ANA BELO – Artesã que mantém viva a atividade mais antiga de Conceição: a arte de fiar o algodão.

ANTÔNIA – Mulher de personalidade forte e habilidosa fiadeira de algodão, tradição deixada pelas seis negras que fundaram a comunidade.

FRANCISCA FERREIRA – Contam os mais velhos que ela foi uma das seis mulheres negras que deram origem ao povo de Conceição.

GENEROSA - Mulher de grande importância no processo de organização do seu povo e educadora popular.

JOSEFA – Artesã da palha do catolé produz esteiras, produto muito utilizado pelos antepassados como cama.

JÚLIA – Foi artesã importante na arte do caroá e por sua persistência garantiu a transmissão desse saber tradicional para os mais jovens da comunidade.

LIOSA (EMÍLIA) – Mulher que mantém viva a história e a tradição de Conceição das Crioulas.

LURDINHA – Professora e artesã, conhecida na comunidade por valorizar a beleza da mulher negra.

MADRINHA LOURDES – Ceramista respeitada pelo seu trabalho na confecção de louças de barro.

MÃE MAGÁ (MARGARIDA) – Foi parteira respeitada na história de Conceição, conhecida como “mãe de todos”

Considerações finais As identidades observadas em Conceição das Crioulas, a partir da confecção das bonecas negras em caroá, representam a diferença de gênero, etnia e de raça, mas também representa uma insubmissão ao seu contexto social, histórico, político e econômico. A importância dessa pesquisa é compactuar com essa homenagem meritória dando visibilidade a essas mulheres fortes em personalidades e habilidades que contribuíram e contribuem ainda com seu exemplo de vida para formar novos paradigmas, quebrando a barreira do racismo responsável pela invisibilidade do povo negro.

O trabalho artesanal delas é uma afirmação social gerada pela crescente consciência de estar produzindo artesanato não só com estética, mas principalmente com valores e tradições ancestrais vindos da luta de ser quilombola, da luta por um reconhecimento de também pertencer à gênese do povo afro-brasileiro e querer ter seus direitos validados e respeitados. As bonecas negras são o símbolo dessa resistência numa tentativa de ocupar espaços roubados pela política de branqueamento e tornar essa nação mais equânime e justa. A relevância deste trabalho é contribuir com esse estudo para o fortalecimento da afirmação da identidade cultural afro-brasileira. Bem como, em relação ao contexto educacional, a Universidade Católica em parceria com a Secretaria de Educação tem cumprido seu papel essencial de responsabilidade social como mentora da formação inicial e continuada dos professores/as da rede pública do Estado de Pernambuco. Referências ALBUQUERQUE, Mabel Anne Black (1997) História e Memória Negra em Conceição das Crioulas. In: Comunidades Remanescentes de Quilombos no Interior de Pernambuco. Recife. Relatório de Pesquisa do Departamento de Ciências Sociais. Centro de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal de Pernambuco. ANJOS, Rafael Sanzio Araújo (2006) Quilombolas: Tradições e cultura da resistência. São Paulo: Aori Comunicação. BARBOSA, Ana Mãe (2009) Arte/Educação como mediação cultural e social, COUTINHO, Rejane Galvão (orgs). São Paulo: Editora UNESCO. ___________ (2008) Inquietações e mudanças no ensino da arte.4 ed. São Paulo, Cortez. ___________ (2005) Arte/Educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo, Cortez. BENJAMIN, Roberto Emerson Câmara, (2005)A África está em nós: história e cultura Afro-Brasileira. 2º volume, João Pessoa, PB: editora Grafset. BRASIL, IBGE (2010) – Censo Demográfico, n-14, Pernambuco, 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>, Acesso em: 06/03/2010, 16:45. BRASIL (2010) Presidência da República, Casa Civil, Lei 10.639/03, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 20/06/2010.

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