Rumos do Pão de Açúcar 08_12

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Sem Abilio Diniz no comando, como ficam as estratégias do GPA. Capa da SM de agosto/12

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capa

rumos TexTo Fernando SalleS [email protected]

do grupo pao de acucar

RumoRes não faltam. fofocas também não. qualqueR embate RotineiRo é tRansfoRmado em mais uma espetaculaR bRiga entRe os sócios. seRá? o que de fato acontece na maioR vaRejista do país?

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o22 de junho amanhece chuvoso em São Paulo. É sexta-feira, dia em que a rotina de trânsito caótico costuma se potencializar. Na movimentada Avenida Brigadeiro Luís Antônio, ônibus lotados trafegam em fila na faixa exclusiva, enquanto no sentido contrário o asfalto é dis-putado por carros conduzidos por gente tensa que usa a buzina com mais força do que deveria. Nada de novo. Na-da capaz de revelar que aquela não é uma data qualquer.

Nas padarias e pontos de táxi da região, o futebol mo-nopoliza as conversas. Também não surpreende, afinal

dois dias antes o time mais popular da cidade se clas-sificara para a final da Copa Libertadores da América. Em um dos prédios comerciais da avenida, porém, o assunto é uma outra decisão, tomada sete anos antes, mas cujos efeitos só passariam a valer dentro de algu-mas horas. É a sede do Grupo Pão de Açúcar, onde está marcada para o início da tarde uma Assembleia Geral Extraordinária que vai oficializar a mudança no con-trole acionário da empresa, definida em 2005.

dali em diante, o grupo francês casino, presi-dido por Jean-Charles Naouri, se tornava controlador do GPA e dono de oito cadeiras no Conselho de Adminis-tração. Abilio Diniz – símbolo maior da empresa para muitos colaboradores, fornecedores e clientes – passa à condição de sócio minoritário, com apenas três cadeiras no Conselho – outros quatro conselheiros são defini-dos de comum acordo entre as partes. “Esta empresa foi construída com o meu DNA. Fui capaz de enfrentar desa-fios, desbravar caminhos, lutar incansavelmente, usar as derrotas como estímulo para novas vitórias”, afirmou o empresário em trecho do último pronunciamento como controlador da empresa fundada por seu pai há 64 anos e da qual participa intensamente desde muito jovem.

No mesmo discurso, fez questão de ressaltar que de 2008 para cá, as vendas brutas da companhia cresceram 153% e o lucro saltou de R$ 299 milhões para R$ 899 mi-lhões. “Desde a abertura de capital, em 1995, o valor de

rumos do gpacapa

Veja no tablete quem são os três novos conselheiros

escolhidos pelo Casino A

Vendas Brutas totais do grupo crescem 200% em 5 anos

20082007

200920102011

20,8 Bilhões

17,6 Bilhões

26,2 Bilhões

36,1 Bilhões

52,7 Bilhões em reais

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em receita líquida, o crescimento foi próximo a 215% em 5 anos

20082007

200920102011

18 Bilhões

14,9 Bilhões

23,2 Bilhões

32 Bilhões

46,6 Bilhões em reais

mercado desta companhia multi-plicou 30 vezes”, comentou. Além de ostentar números de respeito, Abilio é o “rosto” de uma com-panhia que há décadas faz parte da vida de milhões de brasilei-ros. Não por acaso, sua saída do controle acionário suscitou uma série de rumores a respeito dos caminhos que o GPA percorrerá daqui em diante, além de como fica a carreira profissional do em-presário, que completa 77 anos de idade no fim deste ano. Abilio Diniz é uma celebridade no varejo e por isso seus movimentos ganham verdades e mentiras. os rumores cresceram após a tentativa do em-presário de realizar uma fusão com o Carrefour do Bra-sil. E o boato mais recente dá conta de uma possível sociedade entre Abilio e o mesmo Carrefour. Na verda-de, por contrato, o executivo não pode concorrer com o GPA. E isso só muda se o próprio Casino concordar. No mês passado, Abilio mostrou em seu perfil na rede social Twitter irritação com tanta boataria. “Estou cansado de especulações sobre o meu futuro. Há menos de um mês passei o controle do GPA e continuo aqui trabalhando pe-lo bem da companhia. Falsos boatos só prejudicam o gru-

po”, escreveu. Procurado, Abilio Diniz não concedeu entrevista. Sua asses-soria de imprensa, porém, informou que o empresário não mudou a rotina desde 22 de junho: vai todos os dias à companhia e divide a mesma sala com os diretores. Abilio segue como presidente do Conselho de Adminis-tração do GPA, cargo que ocupa de forma vitalícia enquanto dispuser de capacidade física e intelectual.

Com a condição de não ter seu nome revelado, um profissional ligado ao Casino afir-mou estar seguro de que a transição não mudará os rumos da atual gestão do GPA. Ele argumenta que Na-ouri não tem nenhum interesse em criar estresse den-tro da empresa e tem, por estilo, conceder autonomia para o comitê executivo trabalhar. “São os CEOs que administram cada operação, respeitando, obviamente, o acordo de acionistas. Os franceses comandam a or-ganização na França. Os colombianos, na Colômbia e os brasileiros, no Brasil”, acredita.

Por esse estilo e, sobretudo, pelo fato de os resultados do GPA serem bons, a expectativa é de que não haja grandes mudanças no corpo diretivo. A permanên-cia de Enéas Pestana na presidência da empresa, por exemplo, é considerada inquestionável. E caso, em al-

o gpa alimentar fechou o 2º trimestre

deste ano com alta de 7,3% na receita Bruta

e de 171,3% no lucro líquido, na comparação

com o mesmo período de 2011

rumos do gpacapa

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gum momento, o Casino decida mudar o coman-do, deverá submeter a Abilio Diniz uma lista com três candidatos, incluindo ao menos um nome brasileiro. Abilio também pode se opor à renovação do contrato do CEO quatro vezes em um período de 10 anos, o que mostra que o bra-sileiro ainda tem força nas decisões da empresa (confira quadro com os direitos de Abilio Diniz).

A fonte ligada ao Casi-no argumenta ainda que a maioria dos integrantes da atual diretoria do GPA entrou na companhia no momento em que o Casi-no já tinha participação nas ações. Ou seja, não são pessoas identificadas exclusivamente com Abi-lio Diniz. Em maio deste ano, José Antonio Filippo, antigo diretor financeiro do GPA, deixou a empre-sa após aceitar convite para assumir a vice-presi-dência da Embraer. Para o seu lugar, o Casino indi-cou Christophe Hidalgo, que atuava como diretor financeiro da Éxito, vare-jista líder na Colômbia e também controlada pela em-presa francesa. O desligamento de Filippo, por vontade própria, é encarado como fato isolado. “Os diretores do GPA trabalham em uma companhia com ótimo market share e que pratica salários maiores do que a concorrên-cia”, afirma um analista que prefere não se identificar.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Casino confirma que nada muda após se tornar controlador

e garante estar plenamente satisfeito com a gestão e o desenvolvimento do Grupo Pão de Açúcar. Atual coor-denador dos programas de MBA do Insper, Silvio La-ban foi diretor do Grupo Pão de Açúcar entre 2000 e 2005 e lembra da época em que o Casino se tornou só-cio – “ foi um período tran-quilo e sem nenhuma mu-dança brusca”.

Por essa experiência, La-ban compartilha da opi-nião de que a transição se-rá tranquila. O que pode ha-ver, segundo ele, são ajustes pontuais, em termos de captura de sinergias. Expe-riências de fora podem ser adaptadas aqui, assim co-mo boas práticas da ope-ração brasileira podem ser levadas a outros locais em que o Casino atua.

Laban lembra que Abilio é um presidente de Con- selho bastante atuante nas decisões da companhia e que as relações entre ele e Naouri devem se ajustar, em benefício da empresa.

Ter um presidente de Conselho que não é contro-lador da empresa não chega a ser novidade nas opera-

ções do Casino. Na Colômbia, por exemplo, o conselho de administração é presidido por um profissional que sequer é acionista. Resta saber se o temperamento in-quieto de Abilio se contentará com essa condição. Se-gundo o profissional ligado ao Casino, mesmo que haja uma nova briga (o que é improvável), a companhia não será afetada. “Naouri é um estrategista e sabe deixar a equipe fora da briga. Foi o que aconteceu no episódio do

na relação entre casino e pão nada muda. continua a Busca por sinergias e a oferta de

produtos da marca francesa. as lojas Vendem hoje 170 itens

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sócio minoritário, mas ainda com poder

Carrefour. Ele nunca comenta com profissionais da empresa assuntos que não são da alçada deles”, afir-ma. Segundo ele, o Casino definiu um bom contrato, pagou o que Abi-lio queria e tem a situação como re-solvida. “Na França não se comenta nada sobre os rumos da companhia no Brasil”, garante.

Embora reconheça a bela trajetória empresarial de Abilio Diniz, conside-ra um erro atribuir a ele o sucesso do GPA nos últimos anos. “A empresa cresceu muito, porém não teve con-correntes à altura. Walmart e Carre-four tiveram desempenho tímido no período”, afirma. Um dos principais méritos de Abilio, segundo vários analistas, é justamente o de ter montado uma equipe muito qualificada, que sabe gerar bons resultados e segue na empresa.

“A relação do GPA com seus colaboradores é bas-tante profissional e deverá continuar assim”, reforça

Marco Quintarelli, consultor do Grupo Azo, explicando por que não vê nenhum desgaste no am-biente interno da companhia. Ele acredita, inclusive, que o conhe-cimento do mercado brasileiro e a garra empreendedora de Abilio serão respeitados pelo Casino. “O brasileiro certamente continuará influenciando a empresa”, diz.

Abilio Diniz tem, portanto, a tranquilidade de prosseguir – mesmo que na posição de copi-loto – na rota de bons resultados pela qual trafega o GPA. Resta saber apenas se nos próximos anos manterá essa condição ou

dará mais peso ao seu lado inquieto e empreendedor, anunciando que estará na linha de frente de algum ou-tro grande negócio. Uma decisão que, quem sabe, pode ser anunciada num desses dias de chuva, com trânsito engarrafado, às vésperas de algum jogo importante.

“jean naouri é estrategista

e não interfere no comando das

redes do exterior”, diz profissional ligado ao casino

Div

ulA

gçã

o

reestruturação societária da Wilkes (holding controladora da empresa) e do GPA

contratos ou acordos celebrados entre o GPA e a Wilkes, em termos diferentes das condições de mercado

o pleito por parte do GPA ou da Wilkes de tutela

jurisdicional ou de outra natureza nos termos da lei de falências ou de recuperação aplicáveis

mudança na política de dividendos do GPA ou da Wilkes

listagem de saída das ações preferenciais ou ordinárias do GPA, se aplicável

Abilio Diniz detém hoje 21,3% das ações do GPA e perdeu a maioria no Conselho de Administração. Porém, como presidente vitalício, pode escolher outros quatro membros do Conselho. E, caso o sócio majoritário opte por trocar o CEO, deverá avisá-lo com três meses de antecedência e submeter a ele lista com três candidatos, incluindo ao menos um brasileiro. Abilio pode ainda vetar as seguintes decisões:

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EstrAtéGiAs DO GPA DEvEm sEr mAntiDAs AbiliO Diniz PODE vEtAr DECisõEs EstrAtéGiCAs COmitê ExECutivO tEm AutOnOmiA

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