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Ano VIII n� 7 s E M N A A Jornal Laboratório - UFSC/CCE/COM - Florianópolis, 7 a 13 de novembro de 1990. NAíNTEGRA A Carta de Florianópolis Tudo o que um aprendiz quere teme: ser lido pelo mestre. O repórter José Hamilton Ribeiro, um dos mestres. página 7 JORNALISTAS DECIDEM NÃO SE ENTREGAR "Onde estão os repórteres desvendando os fios que vinculam garimpeiros e políticos, Funai e empresas minersdorasgenocidios indígenas e investimentos trensnscioneis na Amazônia? Quem controla e lucra com a indústria bélica brasileira, uma das dez maiores do mundo? Porque os consumidores brasileiros serão obrigados a comer a carne contami nada pela radiação nuclear da usina de Chernobyl e estocada anos no Rio Grande do Sul? Como e onde candidatos a funções políticas errsnjem milhões de dólares para fazer suas campanhas? .I.Do1' que a questão Iundiáris chega ao noticiário por seus efeitos trágicos e nunca por suas causas econômicas e políticas? .. jJ Trecho do discurso do Frei Betto, na abertura do 24? Congresso Naclonai cos Jo nalistas. A cobertura está em todas as páginas desta edlçao. Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Ano VIIIn� 7

s E M N AAJornal Laboratório - UFSC/CCE/COM - Florianópolis, 7 a 13 de novembro de 1990.

NAíNTEGRAA Carta de

Florianópolis

Tudo o queum aprendizquere teme:ser lido

pelo mestre.O repórterJosé HamiltonRibeiro, umdos mestres.

página 7

JORNALISTAS DECIDEM NÃO SE ENTREGAR"Onde estão os repórteres desvendando os fios que vinculam garimpeiros e

políticos, Funai e empresasminersdorasgenocidios indígenas e investimentostrensnscioneis na Amazônia? Quem controla e lucra com a indústria bélicabrasileira, uma das dezmaiores do mundo?Porque os consumidores brasileiros serão obrigados a comer a carne contami­nada pela radiação nuclear da usina de Chernobyl e estocada há anos no RioGrande do Sul? Como e onde candidatos a funções políticas errsnjemmilhõesde dólares para fazer suas campanhas? .I.Do1' que a questão Iundiáris só chegaao noticiário por seus efeitos trágicos e nunca por suas causas econômicase políticas? ..

jJ

. Trecho do discurso do Frei Betto, na abertura do 24? Congresso Naclonai cos Jo nalistas.

A cobertura está em todas as páginas desta edlçao.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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EDITORIALAcabou a festa,agora começatudo de novo

Santa Cstsrine enfrentou e

venceu mais um desafio nacio­nal. Os Congressos sio, em ge­ral, memoráveis sempre querealizados em Santa Catarina.Modéstia, ora, quemodéstia quenada, principelmente porque o

Departamento de Comunicaçãopouco ou nada teve a ver com

as coisas bem feitas desse Con­gresso. Daqui, de fora, perebéns­à meia dúzia de três ou quatrodo Sindicato dos Jornalistas deSanta Catarina que carregou o

piano.***

O Zero, agora em sua fase se­

manal, aceita críticas, que po­dem ser remetidas ao endereçoabaixo. Alguns jornalistas pre­sentes ao Congresso sentiram-seestimulados a con tribuircom su­

gestões e observações a respeitodesta experiência. Sintam-se àvontade. Afinal, Laboratório é

pra isso mesmo.***

Algumaspáginas deste núme­ro foram diagramadas duranteo Congresso, na sala de impren­.se, à medida em que as primei­ras matérias iam ficando pron­tas. Acabamos ocupandomáqui­nas de escrever e espaço que a

organização tinha reservado pa­ra os profissionais. Os aprendi­zes pedem desculpas pelo trans­torno e aomesmo tempo agrade­cem, pela possibilidsde de conví­vio e pela paciência com que fo­ram tratados.

ZERO***

Melhor

Peça GráficaI, /I e 1/1 SetUniversitárioMaio BB

Setembro B9Setembro 90

Jornal Laboratório do Departa-mento de Comunicação do Centrode Comunicação e Expressão dauniversidade Federal de Santa Ca­tarina. Editado sob a responsabili­dade do Laboratório de JornalismoGráfico.Supervisão: Jornalista Prof. CesarValente (Reg. 706 SC)Colaboração: Jornalistas Profes­sores Ricardo Barreto, Luiz A. Scot­to de Almeida e Gilka Girardello.Redação: CCE COM UFSC, Cam­pus da Trindade, 88035 . Florianó­polis - SC - Brasil. Fone (0482)31-9215 e 31-9490. Fax (0482)33-4069.

bém distribuiu alguns exemplares doZerojornallaboratório do curso.

Vitali Chestakov, chefe do departa­mento internacional da União dosJornalistas da URSS e Victor Iougui­ne, secretário da Organização dosJorpalistas de Leningrado, falaramsobre as mudanças na imprensa rus­

sa e da liberdade dos alunos universi­tários, que estão criando associaçõese entidades estudantis a partir da Pe­restroika. Miguel Rivero, secretáriopara a América Latina da OIJ, queestá há um ano morando na Tchecos­lováquia, explicou como funciona o

Instituto Internacional de Jornalis­tas. O Instituto não forma profissio­nais, e sim especializa aqueles quejá trabalham na área. O jornalistaJorge Espinoza, vice-presidente daOIJ, propôs a assinatura de convênioscom a UFSC principalmente com o

curso de jornalismo, procurando umamaior integração entre os dois países.

"Só O diplomapode moralizaro jornalismo"

Raquel D'Ávila

Segundo ele, a categoria deve se mo­

bilizar para, através dos sindicatos,pressionar os empresários que são os

maiores interessados na extinção dodiploma.É preciso evitar o aumento daexploração dos jornalistas, que colocaem risco a qualidade de infomrações,Com o fim do diploma a sociedade nãoterámais as garantias e os parâmetroséticos de um profissional.

Perseu garante que a adaptação do"foca" no mercado de trabalho, ao con­trário do que muita gente pensa, nãoé tão difícil. Elejá sai da universidadecom base técnica, teórica, e sua partici­pação nosjornais-laboratôrios dá a ex­

periência de uma redação. "O jornalistainiciante deve ser criativo para desen­volver seu próprio mercado", comple­ta.

Ele também ressalta que não é sócom bonsjornalistas que se faz um bomjornalismo. Para ele é necessário queo leitor cobre, exija e reclame. Provadisso é a seção de cartas num jornal:pouquíssimas pessoas questionam o

que foi publicado.

Perseu Abramo

Perseu Abramo, sociólogo, jornalis­ta e membro da direção nacional doPartido dos Trabalhadores, defende o

diploma como a única maneira do re­

novar o jornalismo e moralizar a pro­fissão. O argumento principal é de que

, a extinção da obrigatoriedade do diplo- ::;;;

ma traz também o fim da regulamen- �tação da profissão e conseqüentemen- �te, a "possibilidade de distorcer as in- �formações". j rf.

Jornalistas estrangeiros no üep, de Imprensa e Marketing da UFSC

Soviéticos e cubanos viramas condições do Curso de

Jornalismo de Santa Catarina

Jornalistas estrangeirosvisitam o Campus. da UFSC

Kátia Klock

os jornalistas soviéticos VitaliChestakov e Victor Iouguine,o cubano Miguel Rivero e o

equatoriano Jorge Espinoza aprovei­taram a tarde de quinta-feira paraconhecer o Campus de UniversidadeFederal de Santa Catarina. Acompa­nhados do diretor do departamentocultural e de relações internacionaisda Fenaj, Ramsés Ramos, eles visita­ram a Assessoria de Imprensa, a Im­prensa Universitária, o Escritório deAssuntos Internacionais na Reitoriae o Curso de Jornalismo.O chefe do departamento de Comu­

nicação, Paulo Brito, recepcionou e

conversou com os convidados interna­cionais sobre currículos, intercâm­bios e a possibilidade de traduzir pu­blicações da Organização Internacio­nal dos Jornalistas (OIJ) através daImprensa Universitária. Brito tam-

Aula práticao curso de jornalismo da Universidade Fede­

ral de Santa Catarina utilizou o 24? CongressoNacional dos Jornalistas para complementaçãodas aulas. Os alunos realizaram cobertura em

jornalismo gráfico, rádio, televisão e fotografia.Participaram Andressa Fabris Angelita Cor­

rêa, Ana Carine Montero, Claudine FigueiredoNunes, Cléia Schmitz, Cristiano Prim, CristinaN. Gallo, Deise Freitas, Geraldo Hoffmann, Jani-

ce Barcellos, Jaques Mick, Ivonei Fazzioni, lval­do Bracil Jr. João Carlos Granda, Karin Veras,Kátia Klock Scardelli, Lauro Maeda, Marli Henic­ka, Mônica Corrêa da Silva, Maria Paula C. Pe­reira, Giovana Borini, azias Deodato Alves Jú­nior, Pedro Saraiva, Raquel D'Avila, Renata Ro­sa; Susana Naspolini, Simone Pereira. RaquelEllermann, Solon Soares, Chrisliane Ba!bys,Walfried Wachholz, Claudia Aguirre.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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JoséHamiltonRibeiro

Jacques Mick

JoséHamilton Ribeiro foi o

.

.

mais antigo dos "dinossau­ros" da reportagem presen­tes ao 24? Congresso Nacio­

nal dos Jornalistas. Começoua escre­

ver no clube literário da escola em

que cursava o científico; no início dosanos 60, Hoje é repórter do programaGlobo Rural e divide com AntônioCarlos Fon a coordenação do Sindi­cato dos Jornalistas de São Paulo, naqualidade de vice-presidente.Jeito de caipira paulista, de cabelos

brancos e intermináveis vincos no

rosto, Ribeiro é da geração que viveua reportagem como momento mais ri­co do jornalismo. Estudava, mas de- .

pois de liderar uma greve como presi­dente do Centro Acadêmico de Jorna­lismo, foi convidado a não renovar a

matrícula na faculdade Cásper Líbe­ro, Voltou para lá anos depois, comoprofessor. Aprendeu na Folha deSão Paulo, onde trabalhava desdeo primeiro ano de curso, nos temposem que a Folha era ainda "um jornala serviço de São Paulo".Entrou na Editora Abril na emer­

gente Quatro'Rodas, de onde em se­

guida saíram profissionais para as re­

dações das revistas Realidade, Ve­ja' Isto é e para o Jornal da Tarde.Passou também porRealidade e Ve­

ja' antes de voltar às raízes interio­ranas para trabalhar em jornais deRibeirão Preto, Campinas e São José"do Rio Preto por causa do AI-5. Coma abertura, foi para a' TV Globo, vi­ver outros tipos de censura.

.

Aos dois anos de profissão, perdeuno sorteio um Prêmio Esso, com uma

reportagem sobre as estradas no Cen­tro-Oeste. Depois, foi o repórter brasi­leiro na Guerra do Vietnã, com 32

anos, o mais jovem dos corresponden­tes. Saiu do conflito ferido pela explo­são de uma armadilha vietconges e

virou capa de jornais e revistas.José Hamilton Ribeiro lia Dos­

toiévski e, nos tempos de Realidade,até vivia como operário para escreveros textos que influenciaram toda uma

geração de repórteres, entre eles Ri­cardo Kotscho.

- Eu tive um pouco de sorte, por­que eu acho que repórter é que nemgoleiro, se não tiversorte não se tornabom repórter.

OS REPÓRTERESComo não poderia deixarde ser, as estrelas doCongresso foram eles

AntonioCarlosFon

Geraldo Hoffmann

os"focas que procuravam o

. :epórter policial 9ue m�i,sIncomodou o regime mili­tar, Antônio Carlos Fon,

,

no 24� Congresso dos jornalistas, ou­viam, invariavelmente, a mesma res­posta: "É um nordestino, magrinho,baixinho". Magro ele é, tem mais ou

menos um metro e meio de altura e

nasceu na Bahia, há 44 anos. Masdepois de conversar çom ele, desco­bre-se que existe chinês com cara denordestino. É o caso deste filho de chi­neses do Cantão, que foram barrados

pelo serviço de imigração do Canadá,passaram por Cuba e acabaram se fi­xando no Brasil.Fon entrou na "grande imprensa"

pela páginas do jornal carioca O Dia,em 1964 , e logo recebeu dos colegaso apelido "doutor por quê" por suamania de perguntar. Trabalhou nas

, revistas Realidade, Veja e Isto é.Deixou o emprego de editor na Qua­tro Rodas, para se tornar "chefe deEstado" do Sindicato dos Jornalistasde São Paulo, cargo que ainda exerce,tendo como co-presidente ou "chefede governo" outro dinossauro da re­

portagem brasileira,· José HamiltonRibeiro.A reportagem mais conhecida de

Fon está no livro "Os Porões da Di­tadura", entrevistas com os tortura­dores. A edição do livro esgotou, maso assunto continua rendendo. Atual­mente, Foncontribui com informa-

ções para a CPI da Câmara de Verea­" dores paulista que investiga . a des­coberta de ossadas de desaparecidospolíticos no cemitério de Perus.

- Todo mundo ssbie do Perus. Séque na época ninguém podia ir lá ca­

var. E a Erundins deu as pás. Estepaís é um imenso cemitério. A grandemerda é que este país vive de verda­des oficiais desde o tempo da escra­

vidão.Ele fala baixo, "é pro entrevistado

prestar mais atenção" e sacaneB;r o

repórter que usa gravador, um InS­

trumento de trabalho quejamais uti­lizou. Detesta também o "policialês",e a gramática de jargões folclóricosde jornalistas que confundem edito­ria de polícia com distrito policial.Fon viu muitos repórteres de sua

geração idolatrarem e assassinaremo estilo Truman Capote - A SangueFrio e não acredita que influênciasliterárias melhorem o texto dos novosjornalistas. Constata que o ,espaço dareportagem vem sendo abolido desdeque "o regimemiliter começou a ma­

tar o repórter com a ditadura das no­tas oficiais, seguida pela tecnoburo­cretizeçéo da informação, a onda daespecialização e a elitizsçéo do repór­terpelas escolas de comunicação.Pra melhorar o texto é só fechar

as faculdades, E confronter as notasoficiais com a realidade, Porque, a

melhor forma de contar um históriaainda são os.contos de carochinha",

Acima, José Hamilton Ribeiro.No alto, à direita, Antônio Carlos

Fon, e embaixo Ricardo Kotscho: trêsmitos da imprensa brasileira reunidos

em Florianópolis duranteo 24� Congresso Nacional dos

Jornalistas.

/'

1

1

RicardoKotscho

Jacques Mick

RicardoKotscho, o homem

que queria ser padre e aca­

bou virando sinônimo derepórter/reportagem, foi o

sujeito mais procurado no 24? Con­gresso Nacional dos Jornalistas ..Per­deu a conta de quantas entrevistasdeu desde que desceu no AeroportoHercílio Luz, as 17:45 de quarta - fel­ra, 31. Foi omais requisitado na seçãode debates sobre Democratizaçãoda Comunicação, onde falou do tra­balho do jornalista. E, antes de ir em­bora, já repetia as mesmas piadas deuma entrevista para outa:

- Como vocês podem ver, jorna­lismo não émuito bom para os cabe­los.Repórter especial do Jornal do

Brasil e professor de Técnica de Re­portagem na PUC, em São Paulo, Ri­cardo Kotscho é Jornalista há 26anos. Falou sobre a construção da in­formação, seus limites e possibil.ida­des no cotidiano, na manhã de I? denovembro:- O repórter deixou de ser a alma

e o coração das redações para se

transformar num menino de recadosdopoder, num preenchedor de formu­lários, num caçador de.ireses paraadaptar a realidade à pauta.Kotscho é dos raros repórteres que

ainda "fazem do jornalismo e da bus­ca da verdade sua razão de viver" e

que "podem ser contados nos dedose, daqui a pouco, nas orelhas: 'comodiz. Só largou a redação no ano passa­do, para ser assessor de impr�nsa docandidato da Frente Popular a Presi­dência, Luíz Inácio Lula da Silva.Essa história conta no álbum da

campanha presidenci.àl de Lula,"SemMedo de Ser Feliz", e no livrolançado no 24? Congresso, "A Aven­tura da Reportagem".o 13? que es­

creveu desta vezjunto com GilbertoDimenstein, da Folha de São Paulo.Agora, entre uma reportagem e outrado JB,prepara uma ficção para crian­ças.Poucas horas antes de embarcar de

volta para São Paulo, aindamostravapaciência para dar mais �rês,e�tre­vistas e conversar com mela dúzia deestudantes de Jornalismo sentadosno chão em volta dele. O Presidenteda Federação Nacional dos Jornalis­tas (Fenaj), que passava por ali, aca­bou fotografando a cena com pala­vras:- Tá com cara de guru, hei Ri­

cardo?

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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CENTRAL ZERO

O TEMÁRIO

Democratização, ação sindical e ensino do JornalismoNa abertura,preocupação como futuro

Quarta.feira;as críticasao governo

Ivaldo Brasil Jr.

O 24? Congresso Nacional de Jor­nalistas, realizado entre 31 de outu­bro e 4 de novembro, trouxe a Flo­rianópolis muitas figuras tarimba­das do jornalismo brasileiro, comoRicardo Kotscho, José HamiltonRi­beiro e Antônio Carlos Fan. Na so­

lenidade de abertura discursaramos jornalista Celso Vicenzi, presi­dente do Sindicato dos JornalistasProfissionais de SC, Armando Ro­llemberg, presidente da FederaçãoNacional dos Jornalistas (Fenaj),Jorge Espinoza, vice-presidente daOrganização Internacional dos Jor­nalistas, e Frei Beto, teólogo e escri­tor. Os discursos mantiveram o

mesmo tom agressivo contra o go­verno e o moriopólio na área de co­

municações, comentando.a conjun­tura atual do país. Participaram co­

mo observadores internacionais o

cubano Miguel Rivero e os sovié­ticos Victor louguine e Vitali Ches­takoy. O atraso de quase uma horapara o início da solenidade não de­sanimou ninguém, o tempo foi sufi­ciente para reencontros e muitosabracos.O primeiro a discursar foi Celso

Vicenzi que falou da situação caó­tica vivida pelo Brasil e disse queneste congresso deve-se tirar pro­postas para um futuro melhor. Aofalar sobre a possível extinção dodiploma de jornalista disse que édesnecessário haver "jornalistas di­plomados se os horários nobres dasTV s estão reservados ao cooper deCollor". O sucateamento das esta­tais e os mandos-e-desmandos dogoverno Collor foram duramenteatacados por Vicenzi. Ele tambémdestacou a greve dos jornalistas do"jornal de Santa Catarina" e a ope­ração Papagaio de Pirata, quandoos jornalista colocaram cartazes re­clamando os baixos salários, que fo­ram transmitidos ao vivo nas cober­turas televisivas.Asjornadas extenuantes e as con­

dições de trabalho QOs jornalistas,além dos baixos salários, foram al­guns pontos levantados porArman­do Rollemberg em seu discurso. Eledisse esperar que este fosse o mais

Ceiso Vicenzi analisa a situação do jornalismo brasileiro

importante e produtivo congressoem 44 anos da Fenaj, isto por causada diversidade de assuntos em pau­ta. Sobre a luta sindical, ele desta­cou a redefinição de um calendário

que defina uma data base para to­dos os trabalhadores em empresasde comunicação. A fu são dos sindi­catos desta área é a meta principaldeste calendário comum.

Rollemberg ainda destacou a pri­meira reunião do Conselho Nacio­nal de Ética que coordenará a nova

lei ou código de imprensa. A Funda­

ção Henfil é outra meta da Fenaj,que tem por objetivo criar ativida­des culturais. Rollemberg falou so­

bre o problema dos registros e diplo­mas dos jornalistas, e pretende sairdeste congresso com uma estratégiadefinida sobre o assunto.O momento mais esperado desta

abertura foi o discurso de Frei Beta.Num linguajar que misturava reli­gião e política, Frei Beta arrancou

muitos aplausos do público presen­te. Ele acabou falando quase o mes­

mo que os demais que se revesaram

na tribuna da Assembléia. Com a­

frase "o jornalismo é a arte do im­

previsto e do improviso", Frei Betofoi metralhando elegantementemuita gente.Ele comparou os nichos e orató­

rios antigos com as televisões e rá­dios que são venerados hoje em to­dos os lares. A "igreja eletrônica"

. não acrescenta nada e já despertaprecocemente a séxualidade, é a éti­ca cedendo lugar a estética. Fina­lizou seu discurso dizendo que os

manuais de redaçào e estilo fariammais sucesso nas escolas de 2': grau.Depois da solenidade de abertura

foi oferecído um coquetel no hallda Assembléia Legislativa. A festacontou com a presença de várias au­toridades e de um grupo ítalo-bra­sileiro que cantou e dançoumúsicastradicionais italianas.

Frei Betto quersaber onde estãoos repórteres

No.discurso,sugestõesde pauta

Emerson GasperinUma das palestras mais espe­

radas do 24? Congresso Nacio­nal de Jornalistas era a de FreiBeto. O teólogo e escritor discu­tiu sobre as relações entre povose pessoas, destacando a morale a ética. Para ele, "hoje em dia,moral é tudo que favorece os

vencedores" .

Preso na década de 70 por darcobertura na fuga de presos polí­ticos, Frei Beto terminou o curso

de Teologia na prisão. De lá pa­ra cá, envolveu-se com a Teolo­

gia da Libertação e com as Co­munidades Eclesiais de Base.Hoje, acusa a mídia de fazer deSaddam Hussein um "belzebu",e esquecendo a intervençãoamericana em Porto Rico e acha

que os jornalistas são "heróis

que acreditam que de algumamaneira acharão uma brecha

para mostrar o que o povo real­mente sente".Frei Beto fez perguntas que,

Frei Beto, na cerimônia de abertura do congresso

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_ { J

�_.

Daniel Hertz, ao microfone, fala sobre a democratização da comunicação

provavelmente, muitos também articuladora.queriam saber as respostas. "Contar o que está acontecendo"."Quem controla e lucra com a Com esta afirmação aparentemen­indústria bélica brasileira, uma te simples o jornalista Ricardodas maiores do mundo? Como Kotscho falou sobre o que pode ser

e onde candidatos conseguem feito para salvar a dignidade de suamilhões de dólares para suas ca- profissão. Ele explica que o Brasilpanhas? Por que os planos de real foi substituído pelo Brasil ofi­saúde são vigorosos na publici- cial, que a imprensa combativa per-"dade e esquálidos na real ida- deu lugar para imprensa funciona­de?" finalizando este interroga- lista e que o trabalho de rua foitório surdo, ele pergunta: "Onde substituído pelo telefone das reda­estão os repórteres?" O golpe de

I ções. Disse que os tecnocratas damisericórdia veio logo em segui- comunicação instalaram os AI5sda, com Frei Beto sugerindo dos Manuais de Redação e que o

que, para os jornalistas, "ma- jornalismo impresso anda a rebo­nuais de ética sejam melhores que db eletrônico, quando deveriae mais úteis que manuais de re- acontecer o contrário. Mas a maiordação e estilo". preocupação de Kotscho diz respei­

to à honestidade do profissional:"podem não publicar tudo que es­

crevo, mas jamais vou escrever o

que não quero". Para ele a possibi­lidade de democratização começano dia a dia das redações. Emboraaponte o marasmo e o desencantodos jornalistas atuais, Kotschoacredita que ainda existe gente re­

mando contra amaré. Ele enfatizoua responsabilidade que o profissio­nal deve ter com o seu trabalho.Afinal: "Não se faz jornal sem jor-nalista".

.

Francisco Karam falou do papeldo jornalismo contemporâneo e sua

ligação om a ética. Lembrando quea ciência e a arte são apropriáveisatravés dos meios de comunicação,ele disse que o jornalismo é uma

forma de se apropriar simbolica­mente do mundo. E aí que o códigode ética entra como contraponto ao

direito de informação. Karam ter­minou com a citação: "o homem estácondenado à liberdade". Justamen­te porque a escolha do caminho a

seguir depende de cada um: "O bemou o mal é um problema de morale ética, uma questão de valores".

À procura dademocraciae da dignidade

Quinta.feira,propostas dereestruturação

Karin Veras

A democratização da comunica­ção só pode acontecer através de po­líticas públicas e da própria atua­

ção profissional. Foram estes os te­mas discutidos na primeira manhãdo Congresso por Daniel Herz, Ri­cardo Kotscho e Francisco Karam.Herz lembrou que a luta por polí­

ticas democráticas é uma bandeiraantiga da Federação Nacional dosJornalistas e que rádio e TV se

constituem legalmentê como servi­ços públicos. Disse que os dirigen tesdos meios usurpam a universalida­de da comunicação por interessesempresariais. Por isto propôs a am-

. pla reestruturação da rádio e teledi­fusão no país. O objetivo da lutaé fazer com que as leis complemen­tares e ordinárias garantam a fun­

ção pública dos meios. Para istoapontou uma estratégia dos profis­sionais da comunicação no sentidode envolver outros setores da socie­dade civil e investir concretamentepara alcançar objetivos políticos.Indicou a formação de uma Comis­são Nacional para cuidar destes as­

suntos e deu à FENAJ o papel de

o dinheiro

parou de cair. do céu. E agora?

Sexta.feira,como manter

sindicatoChristiane Balbys

Durante o debate de sexta-feiraà tarde no 24? Congresso Nacionalde Jornalistas discutiu-se conjun­tura e ação sindical. Foram apre­

se_!ltadas 18 teses para serem vota-

das no final das discussões que aca­

baram se prolongando até às dezda noite. Um dos temas mais polê­micos do debate foi o imposto sindi­cal, que não estámais sob responsa­bilidade do governo. Agora o reco­

lhimento da "contribuição", como échamada pelos profissionais, estápor conta dos sindicatos.

O tema foi votado duas vezes,pois, o plenario voltou atrás na pri­meira decisão que passava para a

Fenaj o salário de um dia de traba­lho do jornalista. Os sindicatos te­riam que conseguir a sua parte deoutras formas. Na segunda votaçãoforam apresentadas duas propostasEm uma a Fenaj teria direito a 50%de urn dia de salário e os outros50% ficaria para o sindicato. Na ou­

tra seria 50% para a Fenaj e 40%

para o sindicato. A primeira pro­posta saiu vencedora com 64 votos,que de acordo com o regimentoaprovado pela plenária, correspon­deu a maioria simples. Para os jor­nalistas autônomos ou free lancer,foi decidido o recolhimento de um

dia de salário correspondente ao pi­so do mês. Esta quantia será ratea­da entre a Fenaj e o sindicato. Odesconto- da-contribuição será em

março, facultativa e com direito a

devolução.

Também foi votada a formaçãodo "sindicatão", um sindicato que,reúna a nível estadual trabalhado­res da área de comunicação. A tesede apoio a este tema, defendida pelojornalista e secretário da Fenaj,Freitas Neto, revive a vitória dagreve dos gráficos, radialistas e jor­nalistas em Recife. A greve ocorreunos meses de junho e julho do mes­

mo ano. Segundo Freitas, mostroucomo funciona na prática um em­

brião de um sindicato unificado.

A plenária aprovou a formaçãodo "sindicatão", apenas nos estadosonde o processo já esteja maisadiantado, pois há Estados em queas classes ainda não chegaram a

um consenso. Mas, onde não for pos­sível a implantação do sindicatoúnico, serão criadas Intercons. Jun­to com o "sindicatão" foram aprova­dos encaminhamentos como um se­

gundo encontro de profissionais decomunicação onde será elaboradoum estatuto para o sindicato unifi­cado.

Aquele antigopalavrão semprevolta: "pelego!"

Sábado,debatesmuito

. acaloradosChristiane Balbys

Quem nunca participou de uma

assembléia de jornalistas teve o di­reito de se assustar com o verda­deiro "quebra-pau" que aconteceuna sexta e no sábado à tarde duran­te o debate e a votação sobre conjun-

.

tura e principalmente ação sindi­cal.No decorrer dos apresentações

das teses foram intercaladas algu­mas discussões como a prostituiçãoe o porte de arma para líderesameaçados de morte. Mas, só servi­ram para arrancar risadas é comen­táries disconsertantes da platéia.Depois o presidente da Fenaj, Ar­mando Rollemberg exaltou-se dian­te de declarações que colocavam em

dúvida o papel desempenhado pelaFederação Nacional dos Jornalis­tas. Discursando aos "berros", res­pondeu a muitas acusações que a

entidade vem sofrendo dos própriosjornalistas. Afirmou que elemesmocomo presidente esteve em várias

redações como a do "Estadão" e da"Folha". Ao contrário do que falamsobre a presença da Federação nas

redações. Relembrou a participaçãoda Fenaj na campanha pela regula­rização do atualmente ameaçadodiploma parajornalistas e pela uni­ficação da data-base. Rollemberg fi­nalizou dizendo que não deixarája­mais que a Fenaj morra, com ou

sem imposto sindical.No sábado à tarde a votação teve

que ser suspensa antes que as

agressões deixassem de ser apenasmorais para serem físicas. Dois de­-Iegadcs quase se "atracaram" por­que um chamou o outro de "pelego".Na sexta-feira o presidente da me­

sa, Américo Antunes, do sindicatode Minas Gerais, teve que inter­romper por várias vezes os discur­sos dos companheiros delegados pa­ra pedir silêncio aos presentes quenão demonstravam interesse pelaleitura das teses que eles teriamque votar depois. A reunião que jácomeçou com um atraso de mais deuma hora teve dificuldades em seu

andamento devido ao comporta­mento primário dos participantes.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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SOCIAL·cachaça, manga,pitanga e

um feliz 1995Marli Henicka

Reportagem ao estilo de Ricardo Kots­cho e Gilberto Dimenstein, licores, aguar­dente e esperanças de finalmente "ser fe­liz", sem medo, em 1995, foram as atra­ções, da manhã de sexta-feira, no lança­mento do livro A Aventura da Reporta­gem, de Gilberto Dimenstein e RicardoKotscho.Ao sabor de licores de manga e pitanga

e uma "ardida" aguardente, RicardoKotscho, um dos autores do livro, durante,

uma hora e meia autografou mais de 100livros. Em todas as dedicatórias, desejoua seus leitores um "Feliz 1995", referin­do-se ao final do governo Collor e ao ano

da posse do novo Presidente daRepública.A pedido da editora Summus, Gilberto

Dismenstein e Ricardo Kotscho, dois dosmais importantes repórteres brasileiros,reuniram nas 99 páginas do livro suas

experiências e aventuras na arte da re­

portagem. O livro é dividido em duas par­tes e a primeira, "As armadilhas do Po-

o der", escrita por Dimenstein, fala sobrea vivência dele como repórter nos basti-

o dores do poder em Brasília. Na outra par­te. "No olho da rua - do Golpe de 64 àcampanha Lula", Kotscho faz um balançodos seus 25 anos como jornalista.,

Gilberto Dimensteín é repórter da Fo-lha de São Paulo e reconhecido como um

dos mais importantes jornalistas investi-

Fora dos debates, o tal de intercâmbio de informações.. _

gativos do país.Ganhou vários prêmios de jornalismo,

dentre eles o Líbero Badaró por duas ve­zes, em 1989 e 1990. Ricardo Kotscho tra­balha como repórter especial no Jornaldo Brasil, sucursal de São Paulo, e temtreze livros publicados. Ele também foiassessor de imprensa da campanha presi­dencial de Lula no não passado."O livro não tem a intenção de ser didá­

tico e sim apenas um registro das nossasexperiências como repórteres," diz Kots­cho.Didático ou não, Dimenstein e Kotscho

parece que têm muito a ensinar. Provadisso é que a maioria dos mais de 300

participantes do Congresso comprou o li­vro e ficou horas na fila de autógrafos,todos interessados em viver A AVENTU­RA.DA REPORTAGEM. Afinal, como dizClóvis Rossi no prefácio, "que me descul­pem Vinícius de Moraes, os editores e os

redatores, mas repórter é fundamental."

Lançamentos, cumprimentos e autógrafos no hall do Congresso

Jornalistas,

a procurados Manu_aisDurante todo o 24': Congresso Nacional

de Jornalistas, sediado no Hotel Castel­mar, duas livrarias (Livros e Livros e Cu­ca Fresca) expuseram centenas de livrosenvolvendo os mais variados temas sobrejornalismo e comunicação.

Os li vros mais procurados foram os

Exemplares do Manual de Redação e Es­tilo, do Jornal O Estado de São Paulo,Manual de Estilo, da Editora Abril e AHistória Secreta da Rede Globo, de Da­niel Herz. Porém, o livro mais vendidofoi "A Aventura da Reportagem", de Gil­berto Dimenstein e Ricardo Kotscho, quedurante o encontro deu uma sessão deautógrafos para os leitores.Jornais de Minas Geras (Pauta), da

Universidade Federal de Santa Catarina(Zero) e circulares de outros estados, comoAlagoas, foram distribuídos durante o

congresso, trazendo informações e pro­postas de cada estado participante. (Ma­ria Paula Pereira).

ACOLUNANa abertura do Congresso Frei

Beto foi muito aplaudido ao proporque os jornalistas substituam os

manuais de redação pelos manuaisde ética. Ainda assim a editora Li­vros e Livros indicou um dos títulosmais vendidos durante o Congres­so. Trata-se do Manual de Redaçãoe Estilo de 'O Estado de São Paulo'- organizado por Eduardo Mar­tins.

No coquetel de abertura al­guns estudantes de jornalismoforam impedidos de tomar a

águamineral que acompanhavao uísque na bandeja de um gar­çom velho e bem vestido. Ele

disse que a água era para ser �servida junto ao uísque e estava �destinada a convidados espe- -§

• • Cf)

orais.

Também durante o coquetel dao abertura do Congresso houve a

apresentação de um grupo folclóri­co ítalo-brasileiro que distribuiumedalhinhas às autoridades pre­sentes. Muitos não suportaram as

"canzioni italiani" e avançaram nos

comes e bebes.•

Ricardo Kotscho se tornou a

atração do Congresso, mas nãoperdeu sua simplicidade e bomhumor. .Enquanto aguardavaque o equipamento de televisãofosse montado para a entrevistaque daria à universidade, eletranqüilizou a repórter dizendo:"Agora eu posso ser políticopois já sei falar na televisão". Eacrescentou: "Vou convidar oLula para ser meu assessor." (K.V.)

A tele-repórterRosane Porto

estréia look Zéliatrajando tailleur em

tom pastel, nococktail de abertura.

-

o

A festa alemã de quinta-feira no

Lira Tênis Clube, uma simulaçãoda Oktoberfest, fez o pessoal suara camisa de tanto dançar. A Bandado Caneco, de Blumenau, começoua tocar às 22h e o jantar foi servidouma hora depois. A noite, patroci­nada pela Santur, foi tipicamentegermânica, commuita salsicha, pu­rê de batata, chucrute e chopp.De início as pessoas estavam tí­

midas com as canções alemãs, e sóinvadiram a pista quando a bandacomeçou a tocar lambada e músicasda Xuxa. Cerca de 400 pessoas con­sumiram 800 litros de chopp e a

festa foi até às 3h da madrugadacom pedidos de bis. (Kátia Klock)

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DECISÕESJornalistas queremse auto-regulamentar

-

Pedro Saraiva

O 24? Congresso Nacional dosJornalistas se posicionou frontal­mente contrário ao projeto de leipresidencial que retira do Minis­tério do Trabalho a responsabili­dade de emitir e controlar os regis­tros profissionais de várias cate­

gorias, entre 'elas o jornalismo,sem determinar quem passaria a

exercer esta função. No entenderdos jornalistas, caso o Senado e

a Câmara Federal venham a apro­var o projeto assinado por Collorna quarta-feira, 31, a exigência dodiploma para o exercício da profis­são estará legalmente abolida.Para evitar que esta ameaça se

concretize, osjornalistas vão apre­sentar emenda a proposta gover­namental garantindo que a ativi­dade de conceder e controlar os re­gistros da categoria fique a cargodo Conselho Nacional dos Jorna­lista, órgão que será criado e es­

truturado para este fim.Na verdade, este Conselho que

cuidará dos registros já visa tam-

bém a união das lutas dos traba-.lhadores em comunicação (radia­listas, gráficos, jornalistas e etc.),em consonância com a proposta deum sindicato único. Durante o

processo de estruturação do Con­selho, os jornalistas buscarão a

participação das demais catego­rias de maneira que todas se con­

greguem nesta entidade.Além da emenda e do Conselho,

a resistência ao projeto de Collorinclui uma campanha publicitá­ria pára esclarecer a sociedade e

mobilizar a categoria em torno doproblema. Também está previstaa formação de um fundo nacionalde mobilização e a realização deassembléias estaduais para discu­tir a questão.De toda a forma, é bom lembrar

que o projeto de lei é, por enquan­to, apenas um projeto. Ou seja,tanto os registros continuam a ser.concedidos 'peloMinistério do Tra­balho como o diploma permanececomo exigência para se atuar co­mo jornalista.

Comissão de Assessoresrepreende porta-vozo 24': Congresso Nacional dos Jornalistas

aprovou a criação da Comissão Nacional dosJornalistas em Assessoria de Imprensa, queterá a responsabilidade de encaminhar as rei­vindicações, resoluções e lutas dos profissio­nais que atuam neste setor. A comissão foiidealizada durante o 4': Encontro Nacional dosJornalistas em Assessoria de Imprensa (reali­zado de 25 a 28 de setembro em Canela, RioGrande do Sul) e agora, referendada pelo Con­gresso Nacional, começa a atuar.Já durante o congresso, a comissão se reuniu

três vezes para traçar sua linha de ação. Emuma destas reuniões compareceram todos os

assessores de imprensa que estavam presentesno congresso e foi feita uma radiografia dasituação dos jornalistas em A.I nos estados.Nesta análise se levou em consideração trêspontos considerados básicos pela comissão: 1- se quem trabalha na área possui registroprofissional; 2 - se a jornada de trabalho decinco horas é respeitada; 3 - se existe ou nãouma comissão estadual de jornalistas em A.I.Segundo Luciane Schommer, da comissão doRio Grande do Sul, o resultado desta "radio­grafia" é a constatação de que os profissionaisque atuam em A.I não estão___absolutamentemobilizados e que a categoria é das mais le-gais. ,

A propósito, a comissão nacional já se orga­nizou para repreender um dos assessores deimprensa mais conhecidos do país, o porta-vozdo Presidente Collor, Cláudio Humberto Rosae Silva - por atitudes antiprofissionais.

I,Pedro Saraiva)

Demissões na BahiaO 24: Congresso Nacional dos Jornalistas

aprovou também um moção de repúdio à de­missão de três profissionais da sucursal do Jor­nal do Brasil na Bahia, na última quarta-feira,31 de outubro. A demissão aconteceu após reu­nião do presidente do JB, Nascimento Brito,

. e do Editor Chefe, Marcos Sá Correa, com o

governador eleito da Bahia Antônio CarlosMagalhães IPFL) e justificada aos jornalistascomo "reformulação do quadro para mudançade linha editorial".Raimundo Lima, chefe da sucursal há dois

anos e ex-presidente do sindicato dos Jorna­listas da Bahia entre 85 e 88, afirma que Nas­cimento Brito, depois da reunião com o gover­nador eleito, disse ao gerente comercial PauloMarques que o JB "dará total e irrestrito apoioa Antônio Carlos Magalhães". As demissõeschegaram menos de uma semana depois dareunião.A "reformulaçào da linha editorial", diz Rai­

mundo, prevê o "enxugamento de quadrostambém em outros estados". Na Bahia, a par­tir da quinta-feira, os três repórteres foramsubstituídos por doisjornalistas que trabalha­vam no Rio de Janeiro e que, a partir de então,atuariam corno "correspondentes" do JB em

Salvador, com salários menores que os dos de­mitidos. Da equipe da sucursal, restou só o

fotógrafo que, a propósito, diz Raimundo, vo­tou em Antônio Carlos Magalhães em 3 deoutubro.

Jacques Mick

I

Carta de

Florianópolisg

sjornalistas brasileiros, reunidos em seu 24.0

Congresso Nacional, realizado em

Florianópolis, de 31 de outubro a 4 den ro, com a participação de delegados eleitosem 25 sindicatos da categoria, repudiam oprojetode lei do governo, enviado à Câmara Federal, queextingue o registro de jornalista profissional e deoutras 14profissões.A retirada do registro do Ministério do Trabalho

sem passar essa atribuição às entidades dostrabalhadores, atende aos interesses de setores dopatronato e da elite brasileira, a quem não interessadiscutir a democratização dosmeios de comunicaçãoe a ética jornalística. .

Ao contrário do que afirmaram alguns órgãos deimprensa, em flagrante desrespeitopára com os fatos,este Congresso reafirma que continua em vigor todea legislação que regulamenta a profissão dejornalista. Os sindicatos, aomesmo tempo em quevão intensiiicer a fiscalização do exercício irregular,esperam do Congresso Nacional uma respostavigorosa contramais este atentado à organização dostrabalhadores .

. No momento em que se discute nosprincipaisparlamentos das nações democráticas, projetosparao controle da iniormsçêo pela sociedade civil, aexemplo do que começam a fazer osjornalistasbrasileiros e imponentes setores da sociedade, ogoverno envia ao CongressoNscionslumprojeto com

o objetivo de desorganizar a categoria' e evitar quese discuta, em todo o psis, mecanismos de defesacontra a manipulação política e ideológica dosmeiosde comunicação. _

.

Osmonopólios da comunicação são representantesdiretos de uma elite que não cede ummilímetro doque possui, o que explica porque a oitava economiado ocidente tem mais de 50milhões de pessoaspassando fome - segundo relatório da FAa.

Os desafios da sociedade brasileira são enormese urgentes. Oprojeto neoliberal do governo Colloraprofundou a crise, arrochou os salários, aumentouo desemprego e implementou, pormedidaseutoritsriss - algumas inconstitucionais, outrascesuisticss - decisões que atingem setoresestratégicospara o desenvolvimento dopais e relegamao abandono questões fundamentais que afligem o

povo brasileiro.O 24.0 Congresso responde aos desafios do

movimento sindical brasileiro com a decisão deintensiticsra luta dos trabalhadores em comunicação,através da criação de intersindiceis até que se

consolide uma entidade nacional.

_,.

II

t-L- � __

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO

FOTOJORNALISMOLauro Maeda Fotos: Deise Freitas

Acima, Perseu "arrancando" um autógrafo e à direita o legendário Freitas Neto prontopara atacar. A colega da esquerda, cuidadosa, também se prepara.

,_ As raízes culturais são evidentes

o Zero sendo fechado: acima, a turmada diagramação e nas três fotos abaixo, umalegítima testemunha ocular da história, Jacques Mick,o repórter, com Kotscho, Fon e José Hamilton Ribeiro.

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