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1. PANORAMA HISTÓRICO DA ÉPOCA

1908 – Nascimento de João Guimarães Rosa emCordisburgo, Minas Gerais.

– Expansão das plantações de café no Brasil.– Primeiro filme de ficção realizado no Brasil

(Nhô Anastácio Chegou de Viagem).– Morte de Machado de Assis.

1909 – Manifesto Futurista de F. T. Marinetti.– Assassinato de Euclides da Cunha.– Hermes da Fonseca candidata-se à Presi dên cia,

e Rui Barbosa inicia a Campanha Ci vi lis ta.1910 – Hermes da Fonseca derrota Rui Barbosa na

eleição para Presidência.– Proclamação da República Portuguesa.

1912 – Crise da borracha.– Oswald de Andrade retorna da Europa.– Guerra do Contestado.

1913 – Exposição de Lasar Segall.1914 – Primeira Guerra Mundial.

– Anita Malfatti faz sua primeira exposição emSão Paulo.

– Governo Venceslau Brás.1915 – Primeiro filme sonoro brasileiro.

– Lima Barreto publica Triste Fim de Po li car poQuaresma.

– Publicação da revista Orpheu, inaugurando oModernismo Português.

1917 – Revolução Socialista Russa.– Greve de 150.000 trabalhadores no Brasil.– Brasil declara guerra à Alemanha.– Anita Malfatti expõe cinquenta e três tra ba -

lhos; em reação, Monteiro Lobato escreve acrítica Paranoia ou Mistificação?

– Estréia literária de Manuel Bandeira (A Cin -za das Horas).

1918 – Guimarães Rosa passa a residir em Belo Ho -ri zonte.

– Fim da Primeira Guerra Mundial.– Monteiro Lobato publica Urupês.

1920 – Recenseamento revela a aceleração do cres ci -mento industrial do País.

1921 – Fundação da Siderúrgica Belgo-Mineira.1922 – Fundação do Partido Comunista Brasileiro.

– James Joyce publica Ulisses.– Início do Movimento Tenentista.

– Revolta do Forte de Copacabana.– Mussolini sobe ao poder na Itália.– Semana de Arte Moderna em São Paulo.

1923 – Revolução Libertadora no Rio Grande do Sul.1924 – Novas rebeliões tenentistas.

– Coluna Prestes.– Morte de Lênin.– Manifesto Surrealista de André Breton.

1926 – Movimento Verde-Amarelo.1927 – Congresso Regionalista do Recife.1928 – Publicação de Macunaíma e A Bagaceira.

– Revista de Antropofagia.1929 – Quebra da Bolsa de Nova Iorque.

– Crise internacional do café.– Inauguração do prédio Martinelli em São

Pau lo.1930 – Fim da República Velha.

– Revolução de 30.– Getúlio Vargas no poder.– Publicação de Alguma Poesia de Carlos

Drummond de Andrade.– Suicídio do poeta russo Maiakóvski.– Nazistas vencem as eleições na Alemanha.

1931 – Guimarães Rosa passa a exercer a função deoficial-médico do 9º Batalhão de Infantaria,em Barbacena.

1932 – José Lins do Rego publica Menino de En ge nho.– Revolução Constitucionalista em São Paulo.– Vitória das forças do governo.– Crescimento da indústria brasileira em 50%.– Salazar no poder em Portugal.

1933 – Extensão do voto às mulheres.– Política da “Boa Vizinhança” de Roosevelt

(EUA).1934 – Guimarães Rosa presta concurso para o

Itamarati.1935 – Tentativa de golpe dos comunistas, co man da -

da por Luís Carlos Prestes.– Perseguição e prisão de vários escritores e

intelectuais brasileiros.1936 – Magma recebe um prêmio da A.B.L.

– Prisão de Jorge Amado e Graciliano Ramos.– Início da Guerra Civil Espanhola.

1937 – Congresso Brasileiro é dissolvido.– Estado Novo – ditadura Vargas principia.

SAGARANA

AULAS ESPECIAISOBRAS DA FUVEST

PORTUGUÊS

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– Nova prisão de Jorge Amado e apreensão deseus livros.

1938 – Guimarães Rosa é nomeado cônsul-adjuntoem Hamburgo.

– Criação do Conselho Nacional do Petróleo.– Formação do grupo “Os Comediantes” dá iní -

cio ao Teatro Contemporâneo Brasileiro.– Revolta Integralista.– Hitler invade a Áustria.

1939 – Publicação de Riacho Doce de José Lins doRego.

– Início da Segunda Guerra Mundial com aocupa ção da Polônia pelas forças do TerceiroReich.

– Fim da Guerra Civil Espanhola.– Morte de Freud.– Criação da Companhia Siderúrgica Nacional.

1940 – Início da construção da Usina Siderúrgica deVolta Redonda.

– Batalha da Inglaterra.1941 – Ataque japonês aos Estados Unidos.1942 – Alemães arrasam a Tchecoslováquia e dão

início à batalha de Stalingrado.– Brasil declara guerra à Alemanha.– Aliança Inglaterra-Rússia.

1943 – Publicação de Fogo Morto de José Lins doRe go.

– Mussolini é preso.1944 – Instituído o voto feminino na França.

– Os Retirantes, de Portinari.– Guimarães Rosa volta ao Brasil.

1945 – Término da Segunda Guerra Mundial e doEs tado Novo.

– Morte de Hitler e Mussolini.– Os Estados Unidos lançam duas bombas atô -

mi c as sobre o Japão.– Morte de Mário de Andrade.

1946 – Publicação de Sagarana.– Posse do Marechal Eurico Gaspar Dutra na

Presidência da República.– Nova Constituição brasileira.– Fechamento dos cassinos e proibição do jogo

em território nacional.– Perón é eleito presidente da Argentina.

1947 – Comunistas excluídos do governo francês.1948 – Rompimento das relações diplomáticas entre

Brasil e URSS.– Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Trans -

portes e Energia) do Governo Dutra.1949 – Vitória da Revolução Chinesa.

– Proclamação da República Popular da ChinaComunista.

1950 – Eleição de Getúlio Vargas para a Presidênciada República.

– Inauguração da primeira estação de televisãono Brasil.

– Estados Unidos fabricam a bomba H.– Início da Guerra da Coréia.

1952 – Primeira novela brasileira vai ao ar: Sua Vidame Pertence.

1953 – Morte de Stálin.– Atentado contra Perón.– Jânio Quadros eleito prefeito de São Paulo.

1954 – Suicídio de Getúlio Vargas.– Morte de Oswald de Andrade.– Boicote ao café brasileiro em Nova Iorque.

1955 – Eleição de José Lins do Rego para a Aca de -mia Brasileira de Letras.

– Queda de Perón.– Morte de Carmem Miranda.– Instalação da indústria automobilística no

Bra sil.– Forças conservadoras mobilizam-se para im -

pedir a posse do presidente JuscelinoKubitschek.

1956 – JK assume a Presidência.– Israel invade o Egito.– Publicação de Grande Sertão: Veredas.– Difusão da poética concretista.

1957 – José Lins do Rego falece em 12 de dezembro.1958 – Guimarães Rosa é promovido a ministro de

primeira classe (diplomata).1959 – Fidel Castro toma o poder em Cuba.

– Revolta dos oficiais da Aeronáutica Brasileira.1960 – Inauguração de Brasília.

– Apogeu das Ligas Camponesas.– John Kennedy é eleito presidente dos EUA.

1961 – Rompimento entre Estados Unidos e Cuba.– Jânio Quadros assume a Presidência e re nun -

cia após sete meses.– Instituição do Regime Parlamentarista no

Bra sil.– João Goulart assume o poder.– Movimentos de cultura popular da UNE.– Teatro Arena e Cinema Novo.– Yuri Gagarin vai ao espaço.

1962 – Palma de Ouro ao filme brasileiro O Pa ga -dor de Promessas.

– Morte de Marilyn Monroe.– Publicação, em livro, de Primeiras Estórias.

1963 – Revogação do Parlamentarismo no Brasil.– “Beatle-boom”.– Assassinato de Kennedy.

1964 – Governo João Goulart é derrubado pelasforças conservadoras.

– Assume a Presidência Castello Branco.– Cassação de mandatos políticos.– Ato Institucional nº 1.– Solidificação do Cinema Novo (Glauber

Ro cha).– Início do Regime Militar.

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– Fundação do Grupo Opinião.– Envolvimento dos Estados Unidos na Guerra

do Vietnã.– Morte de Ary Barroso.– Filme Deus e o Diabo na Terra do Sol de

Glau ber Rocha vence o festival da Itália.1965 – Extinção dos partidos políticos, reduzidos à

Alian ça Renovadora Nacional e ao Movi -men to Democrático Brasileiro.

– Festival de Música Popular da TV Excelsiorde São Paulo.

– Minissaia revoluciona o mundo da moda.1966 – Segundo Festival de Música Popular da TV

Record.1967 – Publicação do romance Quarup, de Antônio

Callado.– Artur da Costa e Silva assume a Presidência.– Nova Constituição.– Teatro Oficina monta O Rei da Vela, de Os -

wald de Andrade.– Beatles lançam Sgt. Peppers.– Tropicalismo explode no Brasil.– Guimarães Rosa morre de enfarte pouco de -

pois de assumir sua cadeira na Academia Bra -sileira de Letras.

2. BIOGRAFIA DO AUTOR

Romancista e contista brasileiro contemporâneo,Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais,em 27 de junho de 1908. Primeiro filho de um pequenocomerciante estabelecido na zona pastoril centro-nortemineira, aprendeu as primeiras letras em sua cidade,mudando-se depois para Belo Horizonte, onde frequentouo Colégio Arnaldo, lugar em que também estudou CarlosDrummond de Andrade.

Desde logo, o autor mostrou grande paixão pelalíngua, chegando a dominar o alemão, russo, francês,inglês, húngaro, grego, latim, italiano e espanhol. Quandoterminou os preparatórios, começou o curso de Medicinaem 1925, exercendo a profissão em cidades do interiormineiro (Ibiúna e Barbacena). Nesse período, estudousozinho alemão e russo.

Através de concursos, Rosa publicou alguns contosna revista O Cruzeiro. Itaguara foi a primeira cidade queo recebeu, já doutrinado, até que retornou a BeloHorizonte. Participou da Revolução de 32, na qual serviucomo médico voluntário na Força Pública. Em 1934,estando em Barcelona, como médico militar, fez concursopara o Itamarati.

Literariamente, Guimarães Rosa surgiu em 1936 como livro de poesias Magma, com o qual ganhou prêmio daAcademia Brasileira de Letras. Ingressando na carreiradiplomática, serviu de cônsul-adjunto em Hamburgo,

sen do, em 1942, internado em Baden-Baden juntamentecom outras pessoas do corpo diplomático, quando o Bra -sil declarou guerra à Alemanha. Libertado em troca dedi plo matas alemães, voltou ao Brasil e seguiu paraBogotá co mo secretário da embaixada brasileira até o anode 1944.

Em 1946, tornou-se chefe do Gabinete de João NevesFontoura. Tomou parte na delegação brasileira presente àConferência da Paz, em Paris. No mesmo ano, surgiu aobra Sagarana (contos), que lhe trouxe renome ecaracterizou-se por um regionalismo diferente, em que hámuito de invenção, recriação do falar regional adaptadoàs exigências artísticas do prosador-poeta. Em 1948, fezuma incursão ao Mato Grosso, quando coletou dados paraa reportagem O Vaqueiro Mariano. Voltou, dois anos de -pois, à França, onde permaneceu até 1950.

Guimarães Rosa fez uma viagem pelo sertão de Mi nasGerais em 1952 e dela participou Manuel Narde, vul goManuelzão, protagonista de “Uma Estória de Amor”,incluída no volume Manuelzão e Miguilim.

Em 1958, tendo já sido nomeado chefe da Divisão deOrçamento, foi designado embaixador. Apesar de sua vidalevada em ambientes diplomáticos, Rosa não perdeu ocontato com a terra, de que se mostrou profundamenteconhecedor. Um de seus últimos encargos foi a chefia doServiço de Demarcação de Fronteira, que o levou a tratarcasos espinhosos, como o do Pico da Ne bli na e o das SeteQuedas.

Da sua carreira de escritor, em grande parte afastadoda vida literária, só obteve o reconhecimento geral a par -tir de 1956 com os livros Corpo de Baile e Grande Ser tão:Veredas, obras que o colocaram na primeira linha dosnossos grandes escritores.

Foi eleito por unanimidade para a vaga de João NevesFontoura na Academia Brasileira de Letras. Adiou a possepor quatro anos e, finalmente, em 16 de no vem bro de1967, assumiu sua cadeira na data do aniversário de seuantecessor. Em 19 de novembro desse ano, Gui marãesRosa faleceu de enfarte, aos 59 anos, no Rio de Janeiro,três dias depois de admitido solenemente à Academia: “Aspessoas não morrem, ficam encantadas.”

3. OBRAS DO AUTOR

– Sagarana, 1946 – Contos– Corpo de Baile, 1956 – Novelas– Grande Sertão: Veredas, 1956 – Romance– Primeiras Estórias, 1962 – Contos– Tutameia: Terceiras Estórias, 1967 – Contos– Estas Estórias, 1969 – Contos– Ave, Palavra, 1970 – Contos

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4. PENSAMENTOS DE GUIMARÃES ROSA

– As aventuras não têm tempo, não têm princípionem fim. E meus livros são aventuras; para mim são mi -nha maior aventura... Escrevendo descubro sempre umno vo pedaço de infinito.

– Às vezes, quase acredito que eu mesmo, João, sejaum conto contado por mim.

– A gramática e a chamada filologia, ciência lin guís -tica, foram inventadas pelos inimigos da poesia.

– A gente é portador. Cada pessoa é apenas o por ta -dor de uma mensagem. Todos nós somos mais que umsím bolo para significar algo que nós mesmos sa be mos oque seja.

– No sertão, o homem é o eu que ainda não en con -trou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda ma nuseiam alíngua.

– O real não está nem na saída nem na chegada. Elese dispõe para a gente é no meio da travessia.

– A vida da gente nunca tem termo real.– O senhor ... Mire, veja: o mais importante e bonito

do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempremudando.

– O sertão é do tamanho do mundo.– O medo é a extrema ignorância em momento mui -

to agudo.– Se todo animal inspira sempre ternura, que hou ve,

então, com o homem?– Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de

repente aprende.– Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento

da gente se torna mais forte do que o poder do lugar. Vi -ver é muito perigoso.

– O senhor sabe? Já tentou sofrido o ar que é sau -dade? Dizem que tem saudade de ideia e saudade de co -ra ção...

– Esperar é reconhecer-se incompleto.– O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mes mo,

demais.– Ser forte é parar quieto; permanecer.– Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe:

pão ou pães, é questão de opiniães...– Viver é aprender a viver; toda a vida é ensinada.– Deus é paciência. O contrário, é o diabo. Se

gaste ja.– Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava tudo

o que podia e comecei a transformar em lenda o ambienteque me rodeava, porque este, em sua essência, era econtinua sendo uma lenda.

– Cada um tem a sua hora e a sua vez.

5. CARACTERÍSTICAS DO PERÍODO LITERÁRIO

O Terceiro Tempo Modernista teve por início o anode 1945, quando se realizou o Primeiro Congresso Bra si -leiro de Escritores, marcado pelo repúdio à ditadura doEs tado Novo, enquanto no mundo terminava a SegundaGuerra Mundial.

A periodização literária desta época é passível de alte -rações, uma vez que ela ainda está desdobrando-se, po -rém, reconhecem-se já algumas tendências ouagru pa mentos destacados a seguir:

5.1 A poesia da geração de 45A geração de 45 centrou-se na reação contra o des -

leixo e o à-vontade dos modernistas de 1922, retomandoo rigor formal parnasiano, a preocupação estilística, arima, a métrica e o soneto tradicionais. O respeito ao me -tro exato e a fuga à temática banal e ao vocabulário piegasjá se delineavam com Geir Campos, Ledo Ivo, PériclesEugênio da Silva e João Cabral de Melo Neto (este últimosuperando depois os traços parnasianos – simbolistas).

Os poetas, então, utilizavam-se de uma linguagemerudita, propondo o sublime, o ideal, o universal, aban do -nando as preferências pelo prosaico, pelo concreto, pelona cionalismo exagerado, que marcaram o Modernismo de1922 a 1930.

5.2 A prosa de ficção pós-45A permanência realista do testemunho humano,

privilegiando o aspecto social e aproximando-se do neo -na turalismo americano e do neorrealismo italiano, marcaal guns autores de 45, assim como a atração pelo transreal,a exploração do insólito, do absurdo, o homem projetadono mundo mítico, fantástico e mágico da arte.

O grande inovador do período foi Guimarães Rosa,que explorou os segredos da linguagem não-letrada e co -lo cou-se a serviço da literatura na qual o mítico, o infantile o desconhecido assumem a base de sua obra.

O experimentalismo, a pesquisa da linguagem, a rein -venção do código linguístico, o romance e o conto ins tru -mentalista têm como preocupação principal a palavra, alin guagem como o elemento que cria o real. Podemosapro ximar por este motivo a obra de Guimarães Rosa e ade Clarice Lispector, que buscavam a universalização doromance nacional, sendo que o primeiro se preocupavamais com o enredo e o suspense, enquanto a autora mer -gu lhava na consciência das personagens.

Alguns escritores preocupavam-se com a vida mo der -na e procuravam penetrar nos conflitos do homem e daso ciedade, como Lygia Fagundes Telles, José Cândido deCar valho, Aníbal Machado, Fernando Sabino, Dalton Tre -visan, e os mistérios inconscientes e psicológicos comClarice Lispector e Osman Lins.

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6. A OBRA DE GUIMARÃES ROSA

Guimarães Rosa foi nosso primeiro escritor que cap -tou o mundo regional por meio de uma visão univer sa li -zan te. Deu ao romance brasileiro uma dimensãome ta fí si ca pela sua originalidade criadora, em que as p a -la vras são tratadas como símbolos que reproduzem arelação exis tente entre a linguagem e o mito.

Observador da terra e do homem sertanejo, soube ca -rac terizar os costumes e ambientes sem violar aspectos epor menores. A palavra inventada – aproximando o falarde gente primitiva ao universo clássico da literatura – ori -gi nou uma sintaxe própria, orientada por um símbolo quedescarta seu significado tradicional, assumindo o factual.

As suas histórias aproximam-se da dualidade sagradoversus profano, criando, por vezes, fábulas em que seunem o bem e o mal, o divino e o demoníaco.

Guimarães percorria o sertão com seu caderninho deanotações a colecionar a maneira de falar do povo bra si -leiro para adaptá-la às suas necessidades posteriores. Aspa lavras que colhia eram portadoras de sons e formas quere vitalizam recursos da poesia velhos e ultrapassa dos, ori -ginando, repleta de musicalidade, a fala sertaneja.

O espaço é o sertão, e lá é o mundo. Guimarães per p -e tua desta forma os aspectos culturais e existenciais de umpovo. É o responsável por iniciar, com Sagarana, o caráterexperimental na prosa regionalista do Terceiro TempoModernista. Pouco antes, Má rio de Andrade, com Ma -cunaíma, e Oswald de Andrade, com Memórias Sen ti men -tais de João Miramar, trazem ao Mo dernismo bra si lei roo romance fragmentário, a ino va ção e a ruptura com atradição literária.

Em Guimarães Rosa, o traço marcante é o ex pe ri men -talismo com a linguagem, com a visão regional que ultra -passa o mero formalismo, até então veiculado porEu clides da Cunha e Monteiro Lobato, tentando traduzira essência íntima da existência humana e dando umespírito desconcertante ao seu trabalho.

7. SAGARANA

Sagarana compõe-se de nove contos, com osseguintes títulos:

1. “O Burrinho Pedrês”2. “A Volta do Marido Pródigo”3. “Sarapalha”4. “Duelo”5. “Minha Gente”6. “São Marcos”7. “Corpo Fechado”8. “Conversa de Bois”9. “A Hora e Vez de Augusto Matraga”

7.1 “O Burrinho Pedrês”

“E, ao meu macho rosado,carregado de algodão,preguntei: p’ra donde ia?P’ra rodar no mutirão.”(VELHA CANTIGA, SOLENE, DAROÇA.)

A) ResumoSete-de-Ouros, um burrinho já idoso, é escolhido para

servir de montaria num transporte de gado. Um dos vaquei -ros, Silvino, está com ódio de Badú, que anda namo randoa moça de quem Silvino gostava. Corre o boato, entre osvaqueiros, de que Silvino pretende vingar-se do rival. Defato, Silvino atiça um touro e o faz investir contra Badu,que, porém, consegue dominá-lo. Os va quei ros continuammurmurando que Silvino vai matar Badu. A caminho devolta, este, bêbado, é o último a sair do bar e tem de montarno burro. Anoitece e Silvino revela a seu irmão o plano demorte. Contudo, na travessia do Córrego da Fome, que pelacheia transformara-se em rio perigoso, va queiros e cavalosse afogam. Salvam-se apenas Badú e Fran colim, ummontado e outro pendurado no rabo do burrinho.

Sete-de-Ouros, burro velho e desacreditado, perso nifi -ca a cautela, a prudência e a muito mineira noção de quenão vale a pena lutar contra a correnteza, se o que sepretende é a travessia.

7.2 “A Volta do Marido Pródigo”

A) ResumoNeste conto, cujo sobretítulo é “Traços Biográficos

de Lalino Salãthiel”, Lalino, um mulato muito vivo, aju -dan te numa construção de estrada, não gosta do trabalho.Abandona sua mulher e o meio rural para procurar na ca pi -tal a felicidade com que sonha: bonitas mulheres à vonta -de, iguais às que vira em revistas. Depois de algum tem po,cansa-se e fica com saudades: volta. Mas sua mulher,Maria Rita, agora vive com Ramiro. Lalino quer ganharde volta a consideração do povo e a mulher. Oferece-se

"Negra danada, siô, é Maria:ela dá no coice, ela dá na guia,lavando roupa na ventania.

Negro danado, siô, é Heitô:de calça branca, de paletó,foi no inferno, mas não entrou!"(CANTIGA DE BATUQUE, AGRANDE VELOCIDADE.)

"– Ó seu Bicho-Cabaça!? Viuuma velhinha passar por aí?...– Não vi velha, nem velhinha,corre, corre, cabacinha...Não vi velha nem velhinha!Corre! corre! cabacinha..."(DE UMA ESTÓRIA.)

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uma oportunidade: cooperar como cabo eleitoral doMajor, com vistas a ganhar as eleições próximas. Graçasa uma série de artimanhas que, no primeiro momento,parecem ser desastrosas para a política do Major, mas quena verdade são intrigas muito hábeis contra o adversáriopolítico, Lalino garante o sucesso eleitoral do patrão. Porseu intermédio, reconcilia-se com Maria Rita, que nuncao deixara de amar. A narrativa aproxima-se das novelaspicarescas e é um retrato bem-humorado das oscilaçõesinteresseiras das convicções políticas do interior.

7.3 “Sarapalha”

“Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai...Não cantes fora de hora, ai, ai, ai...A barra do dia aí vem, ai, ai, ai...Coitado de quem namora!...”(O TRECHO MAIS ALEGRE, DACANTIGA MAIS ALEGRE, DE UMCAPIAU BEIRA-RIO.)

A) ResumoPrimo Ribeiro e primo Argemiro, ambos sofrendo

de malária, são os únicos habitantes do vau da Sarapalha,lugar dizimado pela epidemia e abandonado pelos demaismoradores. Sujeitos a periódicos ataques de febre, cadavez mais sérios, esperam a morte. Saudosamente, evocama lembrança da bela Luísa, mulher de primo Ribeiro que,ao manifestar-se a malária, tinha-o abandonado por causade outro. Argemiro, que deseja morrer de consciênciatranquila, confessa ao primo que a sua mudança para acasa de Ribeiro foi motivada pela atração que sentia porLuísa. Ribeiro reage amargamente e se mostra implacável:manda Argemiro embora na hora em que começa aagonia.

7.4 “Duelo”

A) ResumoO capiau Turíbio Todo testemunha a traição de sua

mulher com o ex-militar Cassiano Gomes, e faz planosde vingança. Todavia, a bala destinada a matar Cassiano(de costas) não acerta o amante de Silivana, mas sim oirmão de Cassiano. Este põe-se a perseguir Turíbio paravingar o assassínio do irmão. Turíbio refugia-se no sertão,acossado por Cassiano. Durante meses trava-se uma lutaaferrada, em que cada um é ao mesmo tempo perseguidore perseguido. Algumas vezes os duelistas se desencon -tram por um fio. Cassiano cai gravemente doente, masantes de morrer, ajuda com generosidade a um capiau quevive na miséria, chamado Vinte-e-Um. Turíbio, ao saberda morte do adversário, fica contente e põe-se a caminhode volta para sua mulher. Vinte-e-Um, porém, o identificae mata, cumprindo assim a vingança que prometera aCassiano.

7.5 “Minha Gente”

“Tira a barca da barreira,deixa Maria passar:Maria é feiticeira,ela passa sem molhar.”(CANTIGA DE TREINARPAPAGAIOS.)

A) ResumoO conto serve de pretexto para a documentação dos

costumes e dos infortúnios da vida da roça. Estrutura-secomo uma espécie de paródia, meio sentimental e meioirônica, das estórias de amor com final feliz.

O protagonista-narrador, um moço, está de visita nafazenda do tio, empenhado em ganhar as eleições locais.O moço se apaixona por Maria Irma, sua prima, e lhe fazuma declaração, a qual ela não corresponde. Um dia, elarecebe a visita de Ramiro, noivo de outra moça, segundoela diz, e o moço fica com ciúmes. Para atrair o amor deMaria Irma, ele finge namorar uma moça da fazendavizinha. Porém, o plano falha – tendo como efeitosecundário, não-calculado, a vitória do tio nas eleições –e o moço deixa a fazenda. Na visita seguinte, Maria Irmaapresenta-lhe Armanda. É amor à primeira vista; ele secasa com a moça, e Maria Irma, por sua vez, se casa comRamiro Gouveia, “dos Gouveias de Brejaúba, no Todo-Fim-É-Bom”.

Como numa novela, há várias intrigas, episódios epersonagens secundários. Numa dessas intrigas, BentoPorfírio comete adultério com a de-Lourdes, casada comAlexandre, o Xandrão Cabaça, que acaba matando orival. Há, de permeio, o episódio da eleição e da vitóriade Emílio do Nascimento, tio do narrador-protagonista,pelo partido João-de-Barro, e que serve de pretexto paraa retratação das astúcias e intrigas da política interioranade Minas. Outras personagens se entrecruzam nanarrativa: Santana, o inspetor de ensino e jogador de

“E grita a piranha cor de palha,irritadíssima:– Tenho dentes de navalha, ecom um pulo de ida-e-voltaresolvo a questão!...

– Exagero... – diz a arraia –eu durmo na areia,de ferrão a prumo,e sempre há um descuidosoque vem se espetar.– Pois, amigas, – murmura ogimnoto,mole, carregando a bateria –nem quero pensar no assunto:se eu soltar três pensamentoselétricos,bate-poço, poço em volta,até vocês duasboiarão mortas...”(CONVERSA A DOISMETROS DEPROFUNDIDADE.)

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xadrez; José Malvino, guia e mateiro, conhecedor danatureza e dos costumes do sertão; o Moleque Nicanor,menino da fazenda e que, com oito anos, já sabe pegar,em campo aberto, qualquer montaria, sem cabresto nemmilho, só com a esperteza de sua cor e tamanho. Bilica,Agripino e tio Ludovico são outras personagens. A açãose passa no Saco-do-Sumidouro, entre fazendas epesqueiros: o Pau-Preto, o Touno-Tombo, até as TrêsBarras.

7.6 “São Marcos”

“Eu vi um homem lá na grimpa do[coqueiro, ai-ai,não era homem, era um coco bem[maduro, oi-oi,não era coco, era a creca de um[macaco, ai-ai,não era a creca, era o macaco todo[inteiro, oi-oi.”(CANTIGA DE ESPANTARMALES.)

“São Marcos” é o texto menos acessível ou “mais difícil”de Sagarana. Se, de um lado, acompanha a feição geral dolivro pelo aspecto “curioso” e “brasileiro”, de outro delee nele se destaca pela presença de certos componentes queprovocam no leitor um desassossego que se justificarámais tarde. Há em “São Marcos” motivos e temas que setornarão constantes na produção rosiana, embora aindanão sejam eles aqui tratados dentro dos parâmetrosformais ousadamente renovadores do escritor,característicos de suas obras posteriores: a viagem, apalavra, a dualidade personagens comuns x personagensextraordinárias, a presença enigmática de um destinadormítico, a reintegração natural ou mítica do homem ànatureza. Essas características são reencontráveis em “OsCimos”, “O Recado do Morro”, “Cara de Bronze”, “AsMargens da Alegria”, “Uma Estória de Amor”,“Miguilim” e em Estas Estórias.

A) ResumoJosé (Izé), o narrador, homem culto, recém-chegado

no Calango-Frito, embora supersticioso, não acredita emfeitiçaria e vive caçoando de um curandeiro e feiticeirolocal – o João Mangolô, cuja cafua vive repleta declientes de suas rezas, despachos, mandingas e simpatias.Muitos outros no Calango-Frito estavam envolvidos comtodo o tipo de bruxarias: Nhá Tolentina, já muito rica econsiderada por seus despachos; Dona Cesária, queatuava em calungas de cera, e até o menino Deolindinhoobteve feitiço contra os coques do professor.

Certo domingo, o narrador José (Izé), a caminho desuas visitas ao mato das Três Águas, passa rente à cafua deJoão Mangolô e, como sempre, zomba do curandeiro e oinsulta sem motivo.

Em outra ocasião, a caminho-do-mato, onde seentretinha na contemplação da natureza, de seus mínimosmovimentos, dos bichos, árvores e flores, encontrou-secom Aurísio Manquitola e se entreteve com os casos dosterríveis efeitos e poderes da oração mágica de SãoMarcos, que o narrador também conhecia. A longa prosacom Aurísio Manquitola envolveu também outroscircunstantes: o Gestal da Gaita, o Compadre Silivério,o Tião Tranjão, o Cypriano, o Felipe Turco, entreoutros, cada qual narrando os seus casos de feitiçaria.

José embrenha-se de novo no mato, absorto nacontemplação da natureza, recordando o desafio poéticotravado com o “Quem-Será”, que se fazia em meio ànatureza, pois os autores, sem se defrontarem, inscreviamos seus versos nos colmos (hastes) de belíssimos bambus.Lembra-se ele de que:

(...) Foi quase logo que eu cheguei no Calango-Frito, foi logo queeu me cheguei aos bambus. Os grandes colmos jaldes, envernizados,lisíssimos, pediam autógrafo; e alguém já gravara, a canivete ou pontade faca, letras enormes, enchendo um entrenó:

“Teus olho tão singularDessas trançinhas tão pretaQero morer eim teus braçoÁi fermosa marieta”.

E eu, que vinha vivendo o visto mas vivando estrelas, e tinha umlápis na algibeira, escrevi também, logo abaixo:

SargonAssarhaddonAssurbanipalTeglattphalasar, SalmanassarNabonid, Nabopalassar, NabucodonosorBelsazarSanekherib.

E era para mim um poema esse rol de reis leoninos, agoradespojados da vontade sanhuda e só representados na poesia. Não peloscilindros de ouro e pedras, postos sobre as reais comas riçadas, nempelas alargadas barbas, entremeadas de fios de ouro. Só, só por causados nomes.

Sim, que, à parte o Sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulopouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora sejamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarrojônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, aodescobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinquentametros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativoabsurdo e bradá-lo – Ó colossalidade! – na direção da altura?

E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem. (...)

Embora curioso, deixou para a volta a surpresa dosúltimos versos de seu anônimo adversário, para envolver-se cada vez mais com a poesia da natureza, dos lagos, dasflores, das árvores, dos pássaros, das aranhas, dasformigas e tataranas.

De repente, sem explicação, fica cego. Ficadesesperado. Mas como conhecesse a fundo os ruídos,cheiros e as mínimas vibrações do mato, dos ventos e

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dos animais, consegue se orientar. Irritado com a demorada luz, profere, com raiva, a reza de São Marcos.Tomado de fúria, avança numa só e precisa direção: acasa de João Mangolô. Vai em transe. Assim, chega, desúbito, na cafua do João Mangolô, e começa a esganá-lo,furioso. Nisso, volta a enxergar. O negro velho haviaamarrado, por brincadeira vingativa, uma tira nos olhosde um retrato do narrador, irreverente e zombador, quenão acreditava em feitiçaria, ainda que fossesupersticioso.

Há, no conto, três fábulas: a do feiticeiro e dasfeitiçarias, a do passeio e da natureza e a dos poemas. Oprincipal ponto de convergência se manifesta na funçãocriativa da palavra. Nas três fábulas, a palavra é valorizadanão pela função referencial, de indicar seres existentesfora dela, mas enquanto forma de criação de novasrealidades e de conhecimento, o qual se efetua principal-mente graças ao plano da expressão.

Tanto no poema quanto na feitiçaria é quase irrisórioconhecer o significado das palavras e enunciados. Estepermanece como algo mais intuído que compreendido. Areza de São Marcos não interessa enquanto significado,sentido – “é melhor esquecer as palavras” – mas comorito, magia, iniciação transcendentalista.

Em todas as fábulas processa-se, assim, uma voltaàs origens: através da reintegração total dos sentidos,da aproximação à natureza, da crença na força dapalavra.

Nisso parece consistir a qualificação da personagem:ser poeta e amante da natureza. É nesse sentido que sejustificam as longas e pormenorizadas descrições danatureza e o rico exemplário da manifestação poética dalinguagem na vida cotidiana, retardando o prosseguimentoda fábula sobre o feiticeiro. O saber que se transmite àpersonagem, em seu confronto com o feiticeiro, é o de queo feiticeiro não é um ser dotado de poderes sobre-humanos, mas o de que o homem se esqueceu de suaspotencialidades, de suas faculdades humanas, aodistanciar-se das origens.

A pergunta que se coloca – o narrador acredita ou nãoem feiticeiros? – tem agora outro sentido. A palavra“feiticeiro” ganha a partir de então um novo significado.O de ser eleito como não queria admitir a personagem;não, porém, no sentido por ela dado, mas no de um serque, consciente ou não, benéfica ou maleficamente, fazuso das faculdades humanas primitivas e originais.

E quem seria o destinador? A natureza? O destino?Ou quem sabe o próprio homem na bondade de cultivar assuas inclinações naturais, compondo poema – e com issoreconquistando as formas primordiais humanas – ouvisitando “todos os domingos o mato” e lá passar “o diainteiro, só para ver uma mudinha de cambuí medrar daterra de dentro de um buraco no tronco de uma camboatã;para assistir à carga frontal das formigas-cabeças contra a

pelugem farpada e eletrificada de uma tatarana lança-chamas; para namorar...”.

Podemos afirmar, a estas alturas, que a história que seconta em “São Marcos” não é a história da vingança deum feiticeiro desrespeitado, mas a história de um sujeitoque ascende à categoria de herói por ter reagidopositivamente na prova de qualificação a que sem o saberera submetido:

(...) Os grandes colmos jaldes, envernizados, lisíssimos, pediamautógrafos; (...)

E eu, que vinha vivendo o visto mas vivando estrelas, e tinha umlápis na algibeira, escrevi também, logo abaixo:

SargonAssarhaddonAssurbanipalTeglattphalasar, SalmanassarNabonid, Nabopalassar, NabucodonosorBelsazarSanekherib.

Em resumo, conta-se a história da revelação de umdestino, de um destino privilegiado, que se revela por umconhecimento estético superior do universo, manifesto naimersão sensual/sensorial/mágica na natureza. A cegueirade José (Izé) é o pretexto para que o autor faça anotaroutros sentidos, outras potencialidades do ser, que são, aseu modo, “a hora e vez” do narrador, a sua “travessia”no mundo do mistério e do encantamento.

7.7 “Corpo Fechado”

"A barata diz que temsete saias de filó...É mentira da barata:Ela tem é uma só."(CANTIGA DE RODA.)

A) ResumoO narrador, médico em Laginha, vilarejo do interior,

é convidado por Manuel Fulô para ser padrinho decasamento. Manuel detesta qualquer tipo de trabalho e,enquanto bebem cerveja, divertem-se, ele contando e odoutor ouvindo as histórias e os casos: do rato que tinhaem casa enjaulado e que estava, por artimanha sua,criando amizade a um gato rajado; dos valentões do lugar– José Boi, Desidério, Miligido, Dêjo (Adejalma) eTargino, o mais recente, e que teve a insolência de reunirseu bando e comer carne com cachaça em frente da igreja,numa Sexta-Feira da Paixão; dos ciganos que ele, ManuelFulô, teria trapaceado na venda de cavalos; de suarivalidade com Antonico das Pedras-Águas, o feiticeiro.Manuel possui uma mula, Beija-Fulô, e Antonico é dono

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de uma bela sela mexicana; cada um dos dois gostaria deadquirir o bem do outro.

Aparece então Targino, o valentão do lugar, e anuncia,cinicamente, que vai passar a noite, antes do casamento,com a noiva de Manuel Fulô. Ele fica desesperado;ninguém pode ajudá-lo, pois Targino domina o lugarejo.Aparece então o feiticeiro Antonico das Pedras-Águas epropõe um trato a Manuel Fulô: “vai fechar-lhe o corpo”;mas exige em pagamento a mula Beija- Fulô, maiororgulho e paixão de Manuel. O trato é aceito.

De corpo fechado, Manuel Fulô enfrenta o bandidoTargino e, para espanto de todos, mata-o com umafaquinha do tamanho de um canivete. O casamento com adas Dor realiza-se sem problemas e de vez em quandoconsegue emprestada sua antiga mulinha Beija-Fulô, paraostentar, à cavaleiro, sua nova condição de valentão deLaginha.

7.8 “Conversa de Bois”

"– Lá vai! Lá vai! Lá vai!...– Queremos ver... Queremos ver...– Lá vai o boi Cala-a-Bocafazendo a terra tremer!..."(CORO DO BOI-BUMBÁ.)

A) ResumoO narrador da novela ouviu a tragédia, que vai contar

ao leitor, de Manuel Timborna, que a ouviu da iraraRisoleta, testemunha do acontecido.

Pelo sertão anda um carro de bois: na frente,Tiãozinho, o menino guia; logo atrás as quatro juntas,com oito bois, que conversam enquanto puxam a carroça:Buscapé e Namorado, Capitão e Brabagato, Dansadore Brilhante, Realejo e Canindé; em cima do carro vaiAgenor Soronho. Carregam uma carga de rapadura e,sobre ela, mal-acomodado e sacolejando, o caixão comum defunto, o pai de Tiãozinho.

Tiãozinho vai chorando: sofre com a morte do pai ecom a de Didico, sofre também o calor, o cansaço e osmaus-tratos que recebe do carreiro Agenor, que o fazsofrer, que aguilhoa brutalmente os bois. Por doença emorte de seu pai, Tiãozinho ficara totalmente dependentedo Agenor Soronho, que sustenta a família do menino e jámantinha relacionamento amoroso com a mãe deTiãozinho, antes de ela ficar viúva.

O boi Brilhante vai contando aos demais a estória doboi Rodapião, que morreu por assimilar os processosmentais dos homens. Os bois vão conversando entre sisobre a opressão dos bois pelos homens e a possibilidadede vencerem sua superioridade. Sentem-se solidários como menino.

Ao entardecer, na ladeira do Morro-do-Sabão, Agenorencontra, espatifado, o carro da Estiva, carreado por JoãoBala. Havia caído ao tentar subir a ladeira. Agenor consolao carreiro e, em seguida, para provar a Tiãozinho que eraum carreiro de verdade, escala a subida em que João Balafracassara. Sai vitorioso e coloca-se na dianteira do carro,junto aos bois, e cochila. Os bois percebem que o“homem-do-pau-comprido-com-marimbondo-na-ponta”está dormindo. Jogam-se brusca mente para a frente,atropelando-se para derrubar Agenor Soronho, que cai. Aroda do carro passa sobre seu pescoço, sem que se possasaber se morreu dormindo ou se acordou para saber quemorria.

Retomando, sob outro prisma, o conto inicial “OBurrinho Pedrês”, este “Conversa de Bois” é uma alegoriasobre a justiça dos animais e a crueldade dos homens.

7.9 “A Hora e Vez de Augusto Matraga”

"Eu sou pobre, pobre, pobre,vou-me embora, vou-me embora…........................................................Eu sou rica, rica, rica,vou-me embora daqui!…"(CANTIGA ANTIGA.)

"Sapo não pula por boniteza,mas porém por percisão."(PROVÉRBIO CAPIAU.)

A) RESUMONarrado na terceira pessoa, o conto enfatiza duas

constantes da vida do sertão: a violência e o misticismo,na interminável luta do bem e do mal.

Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves,das Pindaíbas e do Saco-da-Embira, conhecido como NhôAugusto e também como Augusto Matraga, é o maiorvalentão do lugar, briga com todo mundo e maltrata porpura perversidade. Debochado, tira as mulheres enamoradas dos outros. Não se preocupa com sua mulher,Dona Dionóra, nem com sua filha, Mimita, nem com suafazenda, que começa a se arruinar.

Já em descrédito econômico e político, sobrevém ocastigo: sua mulher, Dona Dionóra, foge com OvídioMoura levando a filhinha. Seus bate-paus (capangas),malpagos, põem-se a serviço do seu pior inimigo; oMajor Consilva. Quim Recadeiro foi quem levou anotícia da defecção dos capangas. Nhô Augusto resolveter com eles, antes de perseguir Dionóra e Ovídio, masno caminho é atacado, numa tocaia, por seus inimigos,que o espancam e o marcam com ferro de gado em brasa.Quase inconsciente, no momento em que vai serassassinado, reúne as últimas forças e se atira nodespenhadeiro do rancho do Barranco. Tomam-no pormorto. É, contudo, encontrado por um casal de negrosvelhos: a mãe Quitéria e o pai Serapião, que tratam de

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Nhô Augusto, que sara, mas fica com sequelasdeformantes.

Começa então uma nova vida, no povoado do Tom -bador, para onde levou os pretos, seus protetores. Rege -nera-se e, esperando obter o céu, leva uma vida detra balho duro, penitência e reza. Arrependido de suas mal -da des, ajuda a todos, e reza com devoção: quer ir para o céu,“nem que seja a porrete”, e sonha com um “Deus valentão”.

Passados seis anos, tem notícias de sua ex-família,através do Tião da Thereza: a esposa, Dona Dionóra,vive feliz com Ovídio, e vai-se casar com ele; Mimita, suafilha, foi enganada por um cometa (espécie de caixeiroviajante) e caiu na perdição. Matraga sente saudades,sofre, mas se resigna.

Certo dia, aparece o Joãozinho Bem-Bem, jagunçode larga fama, acompanhado de seus capangas: FlosinoCapeta, Tim Tatu-tá-te-vendo, Zeferino, Juruminho e

Epifânio. Matraga hospeda-os com grande dedicação eadmira as armas e o bando de Joãozinho Bem-Bem. Masse recusa a acompanhar o bando, mesmo convidado pelochefe e não aceita qualquer ajuda dos jagunços. Quermesmo ir para o céu.

Totalmente recuperado, Matraga despede-se do casale parte, sem destino, num jumento. Chega ao Arraial doRala-Coco, onde reencontra Joãozinho Bem-Bem e seubando, prestes a executar uma cruel vingança contra afamília de um assassino que fugira. Augusto Matragaintervém em nome da justiça, opõe-se ao chefe do bando,liquida diversos capangas, tomado de verda deiro furor.Bate-se em duelo singular com Joãozinho Bem-Bem.Ambos morrem – Joãozinho primeiro. Nessa hora,Augusto é reconhecido por João Lomba, que era meioparente.

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Exercícios

1. (PUC-adaptada) – Sagarana, coletânea de contos,escrita por Guima rães Rosa, enfoca o ambiente ruralbrasileiro e aponta novos rumos para a prosa literáriamo dernista. Assim,a) considerando que o espaço geográfico onde se

desenrolam as narrativas de Guimarães Rosa é odo norte de Minas Gerais e o do sul da Bahia, quenovo conceito se pode ter de regionalismo na obradesse autor?

b) que características de linguagem podem serpercebidas nas narrativas que constituemSagarana?

2. (FUVEST) – Há um conto de Guimarães Rosa emque os bois conversam entre si, fazendo conside raçõesde vária natureza.a) De que conto se trata?b) A presença ativa de animais é frequente em

Guimarães Rosa? Cite outro exemplo.

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3. (FUVEST) – Dentre os contos de Sagarana, existeum em que o narrador sustenta um duelo literário comoutro poeta, chamado Quem-Será, e no qual se fazemvárias considerações sobre a natureza da poesia.Numa metáfora do condicionamento do homem,resistente à aceitação do novo e diferente, o autor levaa personagem a passar por um período de cegueira. Apartir daí a personagem descobre a mutilação dossentidos, que agora se abrem a outras vertentes darealidade. Em qual dos contos a seguir se discute essa questão?a) “A Hora e Vez de Augusto Matraga”b) “Duelo”c) “Conversa de Bois”d) “São Marcos”e) “Corpo Fechado”

4. (FUVEST) – João Guimarães Rosa, em Sagarana,permite ao leitor observar quea) explora o folclórico do sertão.b) em episódios muitas vezes palpitantes surpreende

a realidade nos mais leves pormenores e trabalha alinguagem com esmero.

c) limita-se ao quadro do regionalismo brasileiro.d) é muito sutil na apresentação do cotidiano banal do

jagunço.e) é intimista, hermético.

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5. (UEL-PR) – O trabalho com a linguagem por meioda recriação de palavras e a descrição minu ciosa danatureza, em especial da fauna e da flora, são umaconstante na obra de João Guimarães Rosa. Esseselementos são recursos estéticos importantes quecontribuem para integrar as personagens aosambientes onde vivem, estabelecendo relações entrenatureza e cultura. Em “Sarapalha”, conto inserido nolivro Sagarana, de 1946, referências do mundonatural são usadas para representar o estado febril dePrimo Argemiro.Com base nessa afirmação, assinale a alternativa emque a descrição da natureza mostra o efeito da maleitasobre a personagem Argemiro.a) “É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma

fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca depedra seca, do tempo de escravos; um rego murcho,um moinho parado; um cedro alto, na frente dacasa; e, lá dentro uma negra, já velha, que ca pina ecozinha o feijão.”

b) “Olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Docolmado dos juncos, se estira o voo da uma garça,em direção à mata. Também, não pode olhar muito:ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos,que doem e choram por si sós, longo tempo.”

c) “É de-tardinha, quando as mutucas convidam asmuriçocas de volta para casa, e quando o carapanamais o mossorongo cinzento se recolhem, que eleaparece, o pernilongo pampa, de pés de prata e asasde xadrez.”

d) “Estava olhando assim esquecido, para os olhos...olhos grandes escuros e meio de-quina, como os deuma suaçuapara... para a boquinha vermelha, comoflor de suinã...”

e) “O cachorro está desatinado. Para. Vai, volta, olha,desolha... Não entende. Mas sabe que está acon -tecendo alguma coisa. Latindo, choramingando,chorando, quase uivando.”

6. (UEPA) – Observe o trecho extraído de “O BurrinhoPedrês”, de Guimarães Rosa:

– Você é meu camarada de confiança, Francolim.Tem mais responsabilidade de ajudar, também...

– Isto, sim, dou meu pescoço! Em serviço do se -nhor, carrego pedras, seu Major. Só peço é ordempara o João Manico me dar de novo meu cavalinho,na entrada do arraial, para não ficar feio eu, comoajudante do senhor, o povo me ver amontado nesteburro esmoralizado... sem querer com isso ofender,por ser criação de que o senhor gosta...

Considerando o seu conteúdo e o conjunto danarrativa da qual foi retirada, é correto dizer quea) no momento em que se trava esse diálogo, o epi -

sódio do afogamento de alguns vaqueiros nocórrego já havia acontecido.

b) a solicitação de Francolim para destrocar amontaria não será acatada pelo Major Saulo.

c) o diálogo evidencia o comportamento de indepen -dência dos vaqueiros em relação ao dono dafazenda.

d) o comentário de Francolim sobre Sete-de-Ouros,que se assemelha ao dos outros vaqueiros, irá re ve -lar-se injusto, ao final, quando o burrico, além desalvar Badú, irá salvá-lo, também.

e) a personagem João Manico, referido porFrancolim, é o único vaqueiro a salvar-se na tra -ves sia do córrego, por ter vindo montado em Sete-de-Ouros.

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1) a) O regionalismo de João Guimarães Rosa é deâmbito universal. Esse autor transfigura nosertão brasileiro, norte de Minas Gerais, sul daBahia, e também Goiás, mitopoéticos universais.No conto “A Hora e Vez de Augusto Matraga”,há a problemática ontológica: a procura da açãoque justifique plenamente a existência. AugustoMatraga só se redime ao superar o mani -queísmo (Bem x Mal), juntando elementosaparentemente antagônicos: a violência com omisticismo.

b) Nas narrativas de Sagarana, percebe-se lingua -gem instrumentalizada, valorizando-se osignificante, o aspecto plástico, carregado deconceitos. É a linguagem poética, em que amensagem se evidencia por si mesma, devido àsaliterações, à cadência rítmica, aos arcaísmos,aos regionalismos e aos neologismos. O título dolivro é um neologismo que provém dogermânico (saga = feito heroico) misturado como tupi (rana = à maneira de).

2) a) Trata-se do conto “Conversa de Bois”, openúltimo do livro Sagarana.

b) O animal, tendo presença ativa e simbólica, naobra de Guimarães Rosa, aparece no primeiroconto de Sagarana, “O Burrinho Pedrês”, e noconto “Meu tio, o Iauaretê”, publicado em EstasEstórias.

3) O conto “São Marcos”, o mais difícil de Sagarana,antecipa algumas constantes da ficção rosiana: aviagem, a palavra, a dualidade entre personagenscomuns e personagens extraordinárias, a presençainfusa de um destinador mítico e a reintegraçãonatural ou mítica do homem à natureza.A cegueira de José (Izé) é o pretexto para que oautor faça aflorar outros sentidos, outraspotencialidades do ser, que são, a seu modo, a

“hora e vez” do narrador, a sua “travessia” nomundo do mistério e do encantamento.Resposta: D

4) Sagarana, livro de estreia de Guimarães Rosa,configura o que a crítica denomina de narrativa detensão transfigurada. Os heróis rosianos, resolutose inteiriços, na gesta cotidiana do Sertão,transmudam a realidade numa suprarrealidade,mágica e mítica, projetando no Sertão os grandestemas da literatura universal. O universoprimitivo e a entrega amorosa à natureza, captadanas suas mínimas vibrações, são expressos numalinguagem original, de dimensão eminentementepoética, (re)inventada a partir da pesquisa eruditadas raízes do idioma e da melopeia da falasertaneja.Resposta: B

5) No trecho “Também, não pode olhar muito: ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos, quedoem e choram por si sós, longo tempo” é evidentea alusão ao estado febril de Primo Argemiro, quetem dificuldade de sustentar o olhar, emdecorrência das lágrimas que lhe saem dos olhos,por causa da febre. Resposta: B

6) Sete-de-Ouros é um burrinho já idoso e, escolhidopara servir de montaria num transporte de gado,é visto com desdém pelos vaqueiros, como se notano trecho transcrito. Contudo, na travessia doCórrego da Fome, transformado em rio perigosopor causa da cheia, vaqueiros e cavalos se afogam,salvando-se apenas dois vaqueiros, Badú eFrancolim, um montado em Sete-de-Ouros e outropendurado no rabo do burrinho.Resposta: D

SAGARANA

GABARITOOBRAS DA FUVEST

PORTUGUÊS

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