Sambaquís Da Região Lagunar de Cananéia

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  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

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    SAMBAQUS DA REGIO LAGUNAR

    DE

    CANANIA

    I - Observaes geogrficas.

    II - Especulaes prehist6ricas.

    Aziz N. Ab Sber

    e

    W. Bemard

    A ttulo de complementao das pesquisas que o

    Instituto

    Oceanogr

    fico da Universidade de So Paulo vem realizando na regio lagunar de

    Canania, damos publicidade aos primeiros estudos

    por

    ns efetulj,dos nos

    sambaqus regionais.

    Na observao dos concheiros da regio

    em

    foco, notamos fatos bas

    tante

    curiosos

    e

    at certo ponto , inesperados. A maioria, possue uma par-

    ticularidade comum - a

    totalidade

    ou pelo menos uma parte da ostreira

    repousa

    diretamente

    sbre

    areia

    de praia ou talvez de

    duna,

    o

    que

    nessa

    regio equivale

    prticamente

    mesma coisa. frequente tambm, a loca

    lizao dsses

    mounds

    beira de

    um

    marigot .

    No

    caso dste faltar,

    encontram-se sempre vestgios de um marigot antigo, j absorvido pelo

    mecanismo de entulhamento

    das

    areias e dos mangues.

    Um pequeno sambaqu prximo de

    Canania

    - situado perto do local

    denominado

    Brucunia ,

    a

    uma

    distncia

    de

    mais

    ou menos 2

    km

    em

    linha reta da lagoa aberta (Mar de Canania , a cavaleiro de pequeno pro

    montrio, nos serviu de base para uma srie de constataes importantes.

    Uma

    parte do edifcio repousa diretamente sbre

    areia

    pura de praia. Em

    frente ao baixo promontrio arenoso e englobando ao N e ao S encontra-se

    uma

    vasta zona de manguesais

    muito

    recentes, atravessados pelo marigot

    Maria

    Rodrigues.

    O

    fato

    dos elementos do

    sambaqu

    se

    encontrarem em contacto direto

    com areia de praia, sem nenhuma interposio perceptvel de humu8, indica

    que, no

    momento

    d constituio dsse casqueiro,

    devia

    estar sse local

    situado beira de um espao de guas abertas, suficientemente extenso

    .

    para

    permitir

    o

    trabalho

    das ondas.

    Partindo

    dessas verificaes, nos

    pare-

    ceu possvel considerar os sambaqus como testemunhos preciosos nas pes

    quisas do ltimo perodo da gnese da regio. Com efeito, admitindo a

    validade das consideraes

    que

    acabamos de fazer, podemos desde

    j tomar

    como estabelecido que, no tempo do

    Homem

    do Sambaqu, a configurao

    planimtrica da

    Ilha

    de Canania e das outras partes baixas da regio, era

    oonsidervelmente diferente da que hoje conhecemos. Desta forma, revendo

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    ' - 2 6

    alguns problemas geogrficos e arqueolgicos, relacionados com os samba

    .quis -

    na

    base de novas observaes de campo - atingimos a resultados

    que interessam

    prpria restaurao dos quadros de paisagens da regio

    lagunar, no que se refere a um perodo imediatamente anterior ao atual.

    I

    OBSERVAES GEOGRFICAS

    No estudo dos sambaquis brasileiros vem se esboando uma fase nova,

    com base de melhores recursos analticos e de uma mentalidade cientfica

    mais criteriosa.

    Um

    pequeno trabalho do jovem pesquisador Antonio Teixeira Guerra

    (1951,

    p.

    3-18),

    abalou tda a velha estrutura das falsas concepes sbre

    o problema das origens dos sambaquis, vindo completar os bons estudos

    realizados,

    j

    h algum tempo, pelos gelogos Sylvio Froes de Abreu

    (1928) e

    Othon Henry

    Leonardos (1938). Apoiado em um bom conheci

    inento de

    geomorjologia costeira

    Guerra

    conseguiu distinguir, com extraor

    dinria clareza, os dois tipos de concheiros existentes em nossas plancies

    litorneas: os sambaqus relquias puramente arqueolgicas e os terraos

    marinhos de origem sedimentar marinha, documentos das variaes mais

    recentes

    entre

    o nvel do mar e a costa, no perodo quaternrio. Enfeixando

    suas notas

    sbre os sambaquis e terraos do litoral de Laguna (Santa Cata-

    rina), assim se expressou o gegrafo Antonio Guerra: eomo concluso

    geral, frizaremos mais uma vez que os sambaqus so todos de origem arti-

    ficial; e os casqueiros ou sambaquis-camadas ou concheiros naturais so de

    origem natural, isto so terraos e no devem ser confundidos com os

    primeiros, que constituem jazigos arqueolgicos. - No litoral de

    Laguna

    encontramos terraos, sambaquis e

    tambm

    sambaquis sbre terraos (cas

    queiros) . -

    (1951,

    p.

    18).

    Aps tais constataes, as antigas controvrsias entre artificialistas

    e naturalistas , a respeito da origem dos sambaquis, caem por terra defi

    nitivamente.

    Nada

    mais poder justificar o gasto de papel para se escrever

    a respeito do assunto, aps o arremate final

    dado

    questo pela preciosa

    contribuio de Antonio T. Guerra. Para se distinguir um legtimo sam

    baqui ( kjoekkenmoeddings brasileiros), de

    um

    simples terrao sedimen

    trio conchfero de origem marinha ( wave-built terraces conchiferos),

    basta aplicar-se a srie de normas prticas do pequenino quadro de di

    st

    in

    es estabelecido por Antonio Guerra. Nesse sentido, com o objetivo de

    divulgar mais o critrio estabelecido por aquele autor, reproduzimos,

    no

    presente trabalho, o esquema-critrio original de sua

    autoria

    (Grfico 1).

    N o presente trabalho, pretendemos aduzir algumas -contribuies de

    gegrafos aos estudos relacionados com os sambaquis brasileiros, apresen

    tando, ao mesmo tempo, uma, srie de especulaes prehistricas tendentes

    a explicar a existncia, nos sambaquis, de quantidades mais ou menos con

    siderveis de carapaas de berbigo, no utilizadas pelas tribus que os cons

    truiram. Buscando explicaes no setor das prticas mgicas e rituais, le

    vantamos uma nova hiptese de trabalho para sondar a razo de ser da-

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    - 2 7

    /

    QUADRO SUMRIO DAS

    PRINCIPAIS

    CARACTERSTICAS

    DOS TERRAOS E DOS SAMBAQuis

    (Segundo Antnio Teixeira Guerra, 1951).

    TERRAOS (Sambaquis de origem natural)

    - Estratificao em camadas horizontais ou

    entrecruzadas.

    2 Leitos de areia muito fina. alternando com

    leitos de conchas inteiras ou partidas; a

    quantidade de areia

    grande, sendo pequena

    a porcentagem

    de

    conchas.

    3 - O

    material pode ser constituido apenas de

    areia e seixos marinhos ou fluviais.

    4 - Ausncia de ossadas humanas ou ocorrncia

    espordica.

    5

    -

    Ausncia de cinzas, carvo ou restos

    de

    cozi

    nha, ou ocorrncia espordica.

    6 - Ausncia de indstria titica ou ocorrncia

    espordica

    .

    7 - Existncia de seixos, em

    certos dep6sitos

    .

    8 -

    Do ponto

    de

    vista

    morfol6gico, podem ter a

    forma

    alongada

    do dep6sito sedimentar.

    As

    diversas variaes existentes entre o nvel

    das terras e das guas levam ao aparecimento

    de nveis diversos de terraos.

    tendo

    valor

    do ponto de

    vista geomorfol6gico.

    l

    Esto localizados em

    qualquer

    trecho do li

    toral tendo estado Imerso ou anfbio e, hoje,

    emerso a diferen

    tes

    alturas acima do

    nvel

    do mar. Sua formao foi realizada

    ao

    nvel

    do mar ou submersa. No caso fluvial,

    so

    devido

    s s variaes do nvel

    de

    base ou a

    variaes climticas.

    SAMBAQuis

    ( Kjoekkenmoeddings )

    1 - No h estratificao horizontal, a disposi

    o

    do material

    feita segundo

    inclinaes

    do monte nas pocas das diversas estaes.

    2 -

    No

    h alternncia

    de camadas de

    areia e

    conchas. As carapaas de moluscos esto

    dispostas

    de

    qualquer maneira, juntamente

    com

    restos de cozinha .

    3 -

    So constituidos

    essencialmente

    de

    molus

    cos: marinhos, terrestres ou de gua salobra.

    4 - Restos humanos, algumas vezes verdadeiros

    cemitrios.

    5 -

    Presena

    de

    cinzas, carvo, espinhas

    de

    pei

    xes,

    cabeas de bagre, ossos de baleia, etc.

    Chegam a formar verdadeiros conglomera

    dos

    artificiais

    de

    cr cinzenta

    ou

    escu

    .

    6 - Presena

    de

    grande

    quantidade de

    material

    litico: machados, apontadores

    de

    flexas,

    raspadeiras, etc .

    7 - EXistncia de pequenos blocos, fragmentos

    de pedras (geralmente

    rocha bsica - dia

    bsio

    ,

    etc.), no trabalhadas

    pelas

    guas.

    Aparecimento espordico

    de

    seixos. A posi

    o e o material em redor provam que foram

    abando

    nados pelo homem prehist6rico sbre

    o jazigo.

    S - Os sambaquis tm geralmente a forma

    de

    pequenos montes. 'O seu valor apenas do

    ponto

    de vista

    arqueol6gico.

    9 - A

    sua

    origem s6 pode

    ter-se

    efetuado em

    zonas emersas, onde os indgenas se agrupa

    ram para comer

    os

    moluscos. Escolheram

    de

    preferncia os pontos e lugares bem pro

    tegidos.

    queles excepcionais

    monumentos

    arqueolgicos

    da prehistria da fachada

    costeira atlntica

    do

    Brasil.

    Nossas

    observaes geogrficas, por seu turno, se restringiro

    somente

    ao setor do quadro

    natural

    que asilou os homens dos sambaqus e, recons

    truo

    dos stios dos

    sambaqus

    e dos

    ambientes

    e

    paisagen

    s

    imperantes

    na regio lagunar

    de

    Canania, antes

    do

    advento dos colonizadores

    euro

    peus.

    A regwo lagunar e Canania. Extensas faixas

    de

    baixos

    terraos are

    nosos, de origem

    marinha

    - wave-built terraces , conforme a identifi

    cao

    hbil feita

    por

    Ruy

    O.

    de

    Freitas (1952, p. 27-44) -

    alternados

    por

    lagunas

    paralelas,

    de guas

    salgadas e salobras,

    constituem

    a

    base

    geogr

    fica da plancie

    costeira de Canania-Iguape.

    Os antigos feixes

    de restingas

    e praias-barreiras que colmataram o

    golfo ali existente no pleistocno, deram origem a uma

    tpica

    planicie e

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    restingas

    ligeiramente soerguida em relao ao nvel

    atual

    do mar. A sobre

    levao recente, sofrida pela regio, avaliada em alguns poucos metIOs

    apenas, foi responsvel pela criao de uma topografia baixa e homognea,

    na

    qual se inscreveram os diversos canais do sistema lagunar regional.

    Por

    outro lado, o soerguimento dos antigos aparelhos litorneos

    da

    regio, redundou

    num

    processo generalizado de terraceamento

    para

    a jovem

    plancie costeira, crian40

    para

    os detalhes

    da

    topografia,

    um

    quadro de

    colinas de dorso plano, delimitadas por minsculos taludes de

    2,5

    a

    4

    me

    tros. Tais terraos arenosos razos, de amplitude altimtrica excessiva

    mente modesta, apresentam cotas mais elevadas ao longo dos eixos prin

    cipais das antigas restingas, descaindo suavemente

    para

    os flancos das mes

    mas. Riachos paralelos e pouco ramificados, encaixados no sentido

    da

    dire

    o geral das restingas soerguidas (SW-NE),

    entalharam

    pequenos vales

    (sulcos bem marcados de 2 a 4 metros de

    profundidade),movimentando

    localmente o relvo tabuliforme

    da

    plancie

    marinha

    regional. Outros

    tantos

    riachos,

    um

    pouco mais ramificados, cujas guas provm dos macios cri's

    talinos

    da

    Serra do Itapitangu, seccionaram normalmente o eixo das anti

    gas restingas, atravs pequena superimposio, constituindo uma anomalia

    local no sistema peculiar de encaixamento dos mi,nsculos cursos

    d gua

    re

    gionais.

    Nas

    paisagens

    da

    regio lagunar de Canania destaca-se, ainda, um

    quadro hidrolgico complexo e importante,

    at

    h

    pouco tempo quase que

    desapercebido dos pesquisadores que cuidaram

    da

    regio. Trata-se dos

    rios de guas negras, sujeitos ao rtmo das mars, os quais permanecem

    encarcerados sinuosamente entre manguesais e baixos terraos arenosos

    da

    regio.

    As

    primeiras referncias cientficas, sbre tais elementos do com

    plexo hidrolgico

    da

    regio lagunar, so devidas aos estudos recentes de

    Besnard

    (1950,

    r p.

    9-26

    e

    II,

    p.

    3-28)

    e de seus colaboradores Carvalho

    (1950,

    p.

    27-44)

    e

    Machado (1950,

    p.

    45-68),

    todos do

    Instituto

    Oceano

    grfico

    da

    Universidade de So Paulo. Tais cursos. d'gua, no dotados de

    correnteza prpria ( marigots , segundo a identificao de Besnard), asse

    melham-se muito aos

    igaraps

    do Baixo Amazonas, conforme ainda, ob

    servaes de Besnard, no decorrer de pesquisas conjuntas,

    por

    ns reali

    zadas

    na

    Amaznia. Geneticamente, trata-se de vales e pequenas enseadas

    dos bordos internos

    da

    plancie costeira regional, que sofreram

    um afoga-

    m nto

    generalizado, pela interpenetrao das guas do mar, em perodo

    relativamente recente. Esse processo de afogamento marinho recente, que

    deve

    ter

    sido de grande importncia

    para

    a redefinio dos canais principais

    do sistema lagunar regional, foi calamitoso

    para

    as pequenas enseadas e

    para os vales tributrios dos coletores principais. Aos poucos

    s

    manguesais

    pioneiros colmataram as pequenas enseadas esculpidas entre os baixos terra

    os arenosos e

    remontaram

    os cursos

    d gua

    afogados, atingindo

    at

    as pr

    prias cabeceiras dos antigos vales.

    Restaram

    apenas canais sinuosos, man

    tidos pela ao das mars e estreitados pela gradual progresso dos man

    guesais e baixios.

    Um

    ddalo de canais diminutos, inscritos por entre pn

    tanos, constitui sempre a bacia de captao dos marigots . Ravinas de

    enxurradas, estabelecidas nos terraos arenosos

    que

    envolvem o alto curso

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    -

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    dos

    marigots ,

    constituem na realidade, a raz

    extrema

    do sistema hidro-

    grfico formado por

    cada

    um deles. Exceo feita,

    naturalmente, para

    o

    caso dos

    marigots que

    possuem suas cabeceiras relacionadas com as guas

    vertidas dos macios cristalinos, conforme a distino feita por Besnard

    (1950,

    II,

    p.

    12).

    Entre os detalhes morfolgicos

    da

    plancie de restingas da regio lagu

    nar de Canania, merecem especial destaque, as pequenas falsias escul

    pidas nos

    estratos

    horizontais

    das piarras , em pontos

    prefernciais de

    ataque

    marinho. A abraso

    marinha

    atingiu pores internas do sistema

    lagunar, devido dinmica das correntes de mar e, especialmente, s pe

    quenas vagas, formadas no interior

    das

    lagunas. Estabeleceram-se,

    desta

    forma verdadeiras

    barrancas e abraso

    esculpidas pelas vagas nos sedi

    mentos

    arenosos

    mal

    consolidados

    pertencentes

    aos antigos feixes de res

    tingas. O

    talude

    de

    tais

    falsias

    raramente ultrapassa

    de 2 a 3

    metros

    de

    altura. Grandes torres escuros de blocos de piarras desbarrancadas, ren

    dilham

    a base

    das

    falsias,

    enquanto uma camada

    no muito

    espessa

    de

    areias de dunas, recobrem extensiva e discordantemente o tpo da formao

    das piarras.

    O solo vegetal que sustenta a raqutica vegetao regional foi estabe

    lecido na superfcie cida

    das antigas

    areias ,de dunas, sendo constituido

    por alguns poucos centmetros de

    humus

    misturados

    s

    areias elicas. As

    piarras,

    embora fundamentalmente

    de origem

    marinha,

    possuem,

    s

    vzes,

    cores escuras devido impregnao relativamente grande de matria org

    nica oriunda de antigos manguesais, desaparecidos com o soerguimento

    geral das estruturas arenosas. s piarras, a nosso ver, no passam de um

    arenito de restinga, ligeiramente consolidado por

    um

    cimento

    mangrovitico.

    Conforme uma observao de Jos Setzer

    (1949,

    p.

    181),

    abaixo da

    delgada capa de areias

    de

    dunas, vm-se sinais de um solo fssil, estabelecido

    diretamente sbre as piarras. fcil perceber-se que a superfcie de con- '

    tacto irregular existente entre as areias

    brancas

    superiores e os depsitos

    horizontais arenosos

    das

    piarras, marca uma discordncia estratigrfica

    no conjunto dos depsitos

    recentes

    da regio. Tal discordncia sedimen

    tria est relacionada com o hiato responsvel pela fase de terraceamento

    do antigo feixe de restingas. Enquanto as piarras devem ser pleistocnicas,

    os depsitos arenosos

    que

    se sotopem aos baixos

    terraos

    esculpidos no

    embasamento das piarras, devem ser holocnos.

    Tais

    pormenores estratigrficos,

    aparentemente

    sem importncia para

    o estudo dos sambaquis regionais, tm na realidade

    um

    significado espe

    cial, pois servem de referncia para nos explicar a posio

    ocupada

    pelos

    sambaquis na

    topografia e pilha estratigrfica regionais. Nos quatro sam-

    baquis que visitamos, os grandes montes de conchas e ostras que os com

    punham, estavam

    sotopostos

    s

    camadas arenosas brancas, que

    capeavam

    as baixas colinas de piarras. .

    Quando

    os homens dos

    sambaquis

    iniciaram a construo daqueles

    0uriosos jazigos arqueolgicos, a topografia e a estrutura da regio j se

    apresentavam quase que exatamente como hoje. Apenas algumas reas de

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    -

    2 2

    maguesais

    resultantes de uma

    colmatagem recente, foram acrescentadas s

    paisagens antigas.

    Como veremos, a regio lagunar

    de

    Canania, durante o perodo pre

    histrico regional - correspondente

    fase do

    homem

    dos

    sambaquis

    -

    era um

    sistema

    de lagunas

    e canais marinhos,

    de drea lagunar um tanto

    maior

    que

    a

    atual. Havia

    uma espcie

    de outra geografia e contornos

    em

    relao aos bordos

    internos das

    plancies

    de

    restingas regionais. Onde hoje

    existem extensos manguesais

    estrangulando

    marigots deveria ter exi -

    tido

    h

    alguns sculos, ou dezenas de sculos, suaves e calmas enseadas,

    circundadas

    por

    baixos

    terraos

    arenosos postados a escapo

    de

    quaisquer

    inundaes.

    Aqu chegados, paEsemos a expor as observaes especficas

    que

    nos

    levaram

    a eEsas e outras concluses preliminares, relacionadas

    geografia

    dos sambaqus.

    Os homens dos sambaquis e a regio lagunar e Canania

    A distribuio geogrfica dos sambaqus na ilha de Canania e na por

    o

    interna

    da ilha Comprida, constitue excelente indcio do papel desem

    penhado

    pelos canais e

    lagunas

    regionais, como elementos bsicos do

    teatro

    geogrfico

    das atividades

    dos grupos

    humanos

    primitivos

    que

    ali viveram.

    No

    nece

    ss

    rio muito esf6ro de intuio

    para

    se chegar

    concluso

    de que, os homens dos

    sambaqus constituiram na

    regio, um

    grupo

    humano

    adaptado

    s condies de vida impostas pelas caractersticas geogrficas

    da

    planicie costeira marinha e pelo sistema lagunar. Suas canoas devem

    ter

    singrado as

    guas

    das

    lagunas

    e os rios regionais, por todos os recantos,

    vasculhando aquela pequenina e homognea regio geogrfica. Os homens

    dos

    sambaqus

    constituiram, al, assim como

    que uma

    civilizao

    de canoei-

    ros

    e um

    grupo

    humano

    conchfago

    e

    ictifago

    por excelncia.

    Na realidade, o abastecimento alimentar das populaes primitivas

    que

    ali

    viveram

    deve

    ter tido

    por base, quase exclusivamente, o peixe

    das

    lagunas e rios , e, as ostras das praias Tibiri 1941, p. 294). Os sam

    baquis documentam uma parte da longa histria alimentar dos habitantes

    da

    regio.

    Carc

    aas

    de ostras

    esvaziadas e espinhas de peixes,

    no

    passam

    de

    restos diretos

    da

    rudimentar cosinha dos homens

    que

    construiram os

    os sambaquis. Nesse sentido, os sambaquis brasileiros possuem caracte

    rsticas iniludveis

    de

    legtimos

    kjoekkenmoeddings .

    Para obter as

    enormes

    quantidades

    de berbiges

    que intercalam

    as

    camadas de

    ostras dos sambaquis, os antigos habitantes

    da

    regio tinham

    que navegar alguns quilmetros e at dezenas de quilmetros pelo interior

    das lagunas da ilha

    Comprida. Os pedaos

    de

    ossos de baleia, parcialmente

    queimados excelentes combustveis usados pelos homens dos

    sambaqus

    para a conservao do fogo), existentes no meio

    das

    ostreiras, tambm so

    elementos estranhos, provindos

    de

    distncias

    relativamente

    grandes.

    Mui-

    tos

    dos seixos fluviais,

    de quartzo ou

    quartzito,

    que

    serviram

    de

    base

    para

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    7/25

    o

    ILH

    O

    C RDOSO

    ENTRADA

    D

    REGIO L GUN R

    III

    ILHA COMPRID

    m

    C N L

    3m

    ~ R I O

    m

    ILHA

    NOV

    14 \S

    24m

    8m

    N

    5

    sOOm

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    8/25

    -

    2 2

    a construo de certos elementos lticos, pertencem aos cascalhos dos rios

    da

    ilha do Cardoso ou aos cascalheiros dos terraos fluviais do mdio e baixo

    Ribeira de Iguape, o que de qualquer forma

    importa

    em distncias relativa

    mente grandes

    para

    a fonte de abastecimento daquele material rochoso.

    Da mesma maneira, os pequenos blocos de granito que talvez tenham ser

    vido como rst icas poitas de ancoradouros) hoje bastante decompostos,

    encontrados de permeio com as ostras e conchas dos sambaquis, tambm

    so elementos estranhos maior parte dos sitios que servem de base para

    os sambaquis. Tudo indica a interveno

    humana,

    atravs viagens e

    trans-

    portes aquticos por excelncia. 1)

    As primeiras idias retiradas na base

    da

    observao

    da

    localizao dos

    sambaquis na regio Canania-Iguape, conduziram a algumas concluses

    ba

    stante falsas . Pensou-se que os sambaquis, localizados na poro mais

    interna da plauicie costeira, constituissem os t estemunhos da linha de de

    marcao primitiva

    do

    golfo de Canania-Iguape. Dentro dsse critrio,

    aqules seriam os jazigos arqueolgicos mais antigos e os que teriam pre

    cedido a formao

    da

    plauicie costeira regional. Tais observaes, baseadas

    apenas no sentido

    planimtrico

    do mapa de distribuio dos

    sa

    mbaquis re

    gionais, no resistem a qualquer critica,

    quando

    revistas na base das obser

    vaes de campo.

    A geomorfologia da planicie costeira e do sistema lagunar pode escla

    recer que os sambaquis que bordejam o limite interno

    da

    planicie costeira

    no d

    eve

    m

    ser

    necessriamente

    os

    mais antigos

    nem to pouco aqules que

    precederam a formao da plauicie marinha regional. Todos os sambaquis

    da

    regio foram construidos em perodo posterior colmatagem marinha

    do golfo que ali existiu no pleistocno. Em outras palavras, a nosso ver,

    quando os homens dos sambaqus ali chegaram,

    j

    existiam os baixos ter

    raos arenosos e o importante organismo

    lagunar

    que viria servir de

    teatro

    geogrfico s atividades dos primitivos

    habitantes.

    A superficie de contacto entre

    os

    depsitos os sambaqus e

    os

    baixos terraos arenosos da regio

    e

    Canania

    Pudemos observar, em diversos pontos, a superfcie de contacto entre

    s

    sambaquis e os terrenos arenosos

    da

    baixada costeira de Canania. Em

    todos s lugares observados, s depsitos basais dos sambaquis encontra

    vam-se sotopostos delgada

    camada

    de areia

    branca

    que capeia extensi

    vamente

    os terraos sedimentares marinhos

    da

    regio.

    Enquanto os baixos terraos arenosos de piarras alcanam cotas m

    dias que variam de 2,5 a 4 metros acima do uiveI do mar, s montes de

    conchas e ostras dos sambaquis cons

    titu

    em uma anomalia local, na

    to

    po

    grafia suave e homognea criada pela foras

    da

    natureza. Quebrando a

    1) - Carlos Borges Schmidt 1949. p. 30-31); em seu

    pequeno

    e

    agradve

    l trabalho

    sbre

    os sam-

    baqus da regio

    de Cana

    nia,

    teve

    a oportunidade

    de

    sumariar

    os

    mitos e tradies locais . referentes

    aqueles

    testem

    unh os arqueolgicos. Por intermdio dsse trabalho podemos saber a maneira pela

    qual as

    populaes

    litorneas

    procuram

    explicar a

    gnese

    e a histria obscura dos sambaqus.

    Trata-se de in

    terpretaes

    int

    eir

    amente

    falsas,

    porm

    profundamente arraigadas na

    mente

    simples

    do

    caiara e

    do

    homem

    litor

    .neo . -

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    9/25

    -

    constncia do uiveI topogrfico dos terraos arenosos, os sambaquis atin

    gem, psto que localmente, 5 a 6 metros acima do uiveI dos terraos, o que

    lhes confere fros de verdadeiros pequenos mirantes

    para

    a observao

    da

    plauicie raza nos lugares onde a floresta est ausente.

    Num

    dos sambaquis estudados, situado prximo

    barra

    do

    rio

    Ba

    guau, v-se

    nitidamente

    a superficie de contacto entre

    os

    dois tipos de

    depsitos. Trata-se do primeiro terrao arenoso, bem marcado, existente

    partir da barra atual do Baguau. A altura do terrao mal atinge 2,5 m,

    enquanto sua extenso,

    na

    forma de barranca comum de rio, de pouco

    mais de

    uma

    centena de metros. Os depsitos de conchas e ostras esvaziadas

    foram localizados

    nas

    ltimas dezenas de metros que precedem o

    talude

    suavizado

    da parte

    tabular do baixo terrao arenoso. O concheiro acom

    panha a suave topografia da baixa colina arenosa, mergulhando pelo declive

    do talude do terrao, at entrar em contacto com as formaes limosas

    pertencentes aos manguesais que se estendem por todos

    os

    lados na rea

    da

    desembocadura

    do

    Bagua, no Mar de Canania.

    V-se, nitidamente, ali, que a expanso dos manguesais fez-se a

    partir

    de uma poca no muito recuada. O rio Baguau com tda a certeza,

    desembocava a algumas centenas de metros montante do stio do samba

    qui. Este, por sua vez, estava a cavaleiro de uma baixa colina arenosa,

    situada numa das pontas de uma larga enseada esculpida nos bordos in

    ternos da ilha Comprida. Hoje,

    um

    brao de meandro do rio Baguau,

    transformado em margem de

    ataque

    - seco convexa - solapou a base

    pouco resistente do terrao arenoso, criando localmente extensa linha de

    barrancas. Disso resultam possibilidades excepcionais

    para

    o estudo -

    nucioso do assoalho que serve de base para o sambaqui.

    s baixos terraos . arenosos marinhos e

    os

    problemas da localizao

    dos sambaqus

    Em todos

    os

    sambaquis visitados (baixo Baguau, baixo Maria Rodri-

    gues, Brocunia e rio das Ostras , pudemos notar que .as minsculas colinas

    arenosas que servem de piso

    para as

    camadas basais dos sambaqus, formam

    sempre uma dissimetria com a margem oposta dos rios que cruzam o stio

    dos concheiros.

    Enquanto

    de

    um

    lado esto margens altas, constituidas

    por

    piarra ou sedimentos arenosos soerguidos quaisquer, pertencentes ao sis

    tema de baixos terraos marinhos regionais; do outro lado, invarivel

    mente, situam-se margens baixas e pantanosas, pertencentes a extensas

    linguas de manguesais recentes.

    Em

    outras palavras, todos

    os

    perfis transversais de margem a margem,

    que podemos traar na calha dos rios prximos aos sambaquis, sempre

    demonstraram uma flagrante dissemetria local. Em qualquer dos casos

    notava-se

    uma

    oposio

    entre

    as colinas arenosas dos terrenos marinhos

    pleistocnicos, em relao aos depsitos limosos e escuros dos manguesais

    holocnicos. Tais fatos chamaram nossa ateno, exigindo

    uma

    explicao

    razovel. .

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    10/25

    223 -

    b; possvel que os sambaquis tenham sido localizados prximos dos

    aldeamentos rsticos dos grupos humanos que os construiram. Por sua

    vez, o stio ideal para o

    h bit t

    dos homens que

    viveram

    na regio lagunar,

    eram as pequenas e calmas reentrncias das guas do mar de Canania.

    Ali se conjugavam

    uma

    srie de fatores

    positivos:

    ancoradouros

    bem

    abri

    gados, baixas colinas de terrenos firmes,

    completamente

    a escapo

    .de

    inun

    daes e acesso fcil e rpido tanto para o Mar de Canlj-nia como para os

    rios

    que vinham ter s enseadas.

    A colmatagem extensiva das antigas enseadas pelos manguesais

    e

    a

    interpenetrao profunda dos baixios e reas pantanosas por todos os re

    cantos dos rios afogados pelas guas

    marinhas,

    destruiu por completo o

    quadro geogrfico que possibilitou a

    vida

    e as atividades das antigas tribus

    regionais. b; possivel

    mesmo

    que a mudana gradual dos seus antigos

    h

    bitos e gnero de vida, esteja, em parte, relacionado com a fase de extenso

    dos manguesais e a colmatagem generalizada dos braos de mares e canais

    de rios afogados

    que

    ali existiram

    um

    dia.

    Nada se pode adiantar, porm, no setor

    da

    cronologia dos fatos. Os

    manguesais encontram-se embutidos nos sulcos existentes no drso dos

    terraos marinhos pleistocnicos. Geolgicamente, pertencem ao holocno

    constituem um processo

    ainda

    em

    franca

    atividade. Os novos mtodos

    ,usados pela arqueologia, na base do carbono 14, podero demonstrar a

    idade dos sambaquis e balizar, a um tempo, o periodo que precedeu a ex

    panso dos manguesais.

    Para tanto,

    os ossos semi-carbonizados de baleias

    existentes de permeio s conchas e ostras dos sambaquis, muito podero

    ,contribuir. E, assim, uma cronogeologia, de maior mincia,

    poder

    ser

    estabelecida em relao a alguns dos episdios mais recentes que

    afetaram

    nossa

    fachada

    costeira

    atlntica

    e a

    vida

    de seus

    primitivos

    habitantes.

    A chegada dos grupos tupi-guaranis ao litoral e a consequente sobre

    posio cultural imposta pela

    guerra

    e

    por

    um stock

    mais

    eficiente de

    adaptao ecolgica, deve

    ter

    sido a causa essencial do declnio

    da

    civili

    zao do homem dos sambaqus. Em certos casos, porm, pequenas modi

    ficaes locais do meio fisico,

    tais

    como a colmatagem das enseadas pelos

    manguesais, parecem ter contribuido para minar as tradies de adaptabi

    lidade dos grupos humanos antigos

    da

    regio, facilitando o campo para a

    chegada de outras tribus e culturas. O certo que, em funo dsses fatos

    ,todos, alguns sculos

    antes

    da descoberta do Brasil pelos europeus, j se

    havia processado

    nas

    planicies costeiras atlnticas do pas,

    uma

    substitui

    o aparentemente completa

    da

    civilizao do homem dos sambaqus pelas

    sucessivas vagas de migraes

    tupi-guaranis provindas das

    longnquas pla

    ,nicies centrais

    do continente.

    ESPECULAES PREHISTRICAS

    Como j foi dito no incio dste trabalho, os verdadeiros sambaqus,

    ,isto os amontoados de conchas e ostras decorrentes

    da

    atividade

    humana,

    :so montculos de propores geralmente

    avantajadas,

    situados

    em

    pontos

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    11/25

    - 4

    ligeiramente elevados, e quase sempre nas margens dos marigots (rios

    de gua salgada) ou de lagoas. Seu substrato parece ser sempre areia

    da

    praia ou dunas. As dimenses dos monumentos que examinamos

    na

    regio

    em

    foco so

    muito variveis;

    alguns so pequenos, com apenas 4 a 6 me

    tros

    de altura, assentando em base que no ultrapassa de 200

    m2;

    outros

    so

    bem

    maiores, exibindo s vzes

    uma

    dezena de metros de

    altura,

    com

    bases que podem ser avaliadas em, mais ou menos, 800 m2 e mais at.

    Sem poder afirm-lo, parece-nos, contudo, existir uma orientao defi

    nida

    na estrutura

    dsses edifcios. De acrdo com o nmero de monumentos

    que

    nos foi dado observar, parece-nos que os pontos mais altos e as decli

    vidades mais fortes acham-se orientadas com a face para

    NE

    e E,

    enquanto

    que o declive E mais suave, parecendo formar como que uma via de acesso

    ao tpo do montculo. Por outro lado, em conformidade com o estudo dos

    terrenos adjacentes, h razes para se crer que a localizao dos antigos

    aldeamentos estaria situada a W dos sambaqus, no sentido da declividade

    menos acentuada por

    les

    apresentada

    .

    No

    insistiremos longamente sbre

    esta

    suposta orientao.

    muito

    provvel que

    os

    fatos observados sejam

    devidos, apenas, a um acidente topogrfico local mas, indubitvelmente,

    seria curioso verificar esta suposio em sambaqus ainda no explorados .

    que mais chama a ateno quando se observa um corte do sambaqu,

    uma espcie de estratificao (Foto

    n.O

    1 muito aparente e visvel em todos

    os amontoados de conchas que pudemos examinar. A forma e composio

    dessas camadas, afiguram-se-nos

    um dos pontos mais misteriosos dsses

    monumentos prehistricos. Com efeito, pela anlise de um corte vertical

    determinado, circunstncia que seria mister aprofundar e verificar, pare

    ce-nos que a constituio de

    um

    sambaqu no seria o res

    ultado

    de

    uma

    ao contnua e sim peridica.

    Isto

    equivale dizer que,

    durante

    um certo

    ,perodo, houve uma continuidade de contribuies e, logo a seguir, uma

    interrupo brusca do acmulo de conchas. Evidentemente, verificou-se

    nesse momento uma parada ou repouso bastante longo, de modo a permitir

    a formao de uma vegetao provvelmente herbcea,

    ma

    s suficiente para

    criar fina camada de

    humus

    Depois disso, recomea novo perodo de ac

    -mulo de carapaas de moluscos, de modo a formar nova camada; essa nova

    etapa sofre nova interrupo e reproduz-se o mesmo ciclo, da base ao cume

    do sambaqui.

    A primeira e mais simples explicao que nos acode ao esprito a de

    que nos encontramos

    em

    presena de monumentos erigidos por populaes

    instveis ou sujeitas a transmigraes peridicas. Nesse caso, poder-se-ia

    supr que cada

    camada

    corresponderia a uma

    etapa

    mais ou menos longa

    de permanncia de uma

    tribo

    no local. Depois, viria o seu abandono por

    vrios anos, a que se seguiria nova ocupao. A hiptese, primeira vista,

    pareceria muito aceitvel. No obstante, existem alguns pontos desta teo

    ria que a

    tornam

    duvidosa. Sem falarmos da prpria constituio dessas

    camadas, da qual nos ocuparemos mais alm, faamos uma , tentativa no

    sentido de dar

    uma

    explicao plausvel para essas transmigraes peri

    dicas. Nos povos primitivos, as transmigraes so geralmente

    det

    erminadas

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    12/25

    225 -

    por motivos vrios mas, um dos

    principais,

    de ordem econmica;

    nos

    de

    vida

    pastoril,

    assumem

    a

    forma ou de nomadismo, em

    regies semi-desr

    ticas,

    ou de transhumncia, em

    zonas

    temperadas. Nos povos agricultores

    primitivos, sse

    movimento

    est principalmente na

    razo

    direta

    do

    empo

    brecimento

    das terras

    ou

    do

    dessecamento do

    clima, o

    que

    torna

    a

    transmi

    grao

    definitiva. No caso

    em

    apreo,

    no nos parece

    aplicar-se

    qualquer

    das

    duas

    hipteses, uma

    vez que

    os ndios

    habitantes da

    regio

    considerada

    foram

    caadores e,

    principalmente, pescadores;

    como

    tal, teriam

    sido

    pro

    vvelmente

    grandes consumidores

    de

    moluscos, como alis o

    demonstram

    os restos de animais encontrados

    nos

    sambaqus. curioso notar

    que

    at

    agora no nos

    foi

    dado encontrar

    restos

    de

    cervdeos e sudeos

    nas escava

    es feitas.

    apesar

    da

    presena at hoje

    abundante dsses

    animais

    na regio.

    Apenas restos

    de

    pequenos mamferos como tats, pacas, cotias etc . foram

    verificados. Pelo contrrio, os fragmentos

    de

    peixes so

    encontrados

    em

    grande abundncia.

    Dsse

    fato, podemos deduzir que os

    construtores de

    sambaquis eram, sobretudo,

    ictifagos

    isto

    ,

    mais

    afeitos

    pesca do

    que

    caa.

    Estabelecida

    a

    premissa,

    segundo a

    qual

    o construtor do sambaqu era

    essencialmente pescador,

    vejamos

    se a

    hiptese

    das

    transmigraes peri

    .dicas

    que parecem

    ser regulares

    para

    todos os perodos

    do

    ano,

    pode

    ser

    aceita.

    Qualquer

    explicao

    de ordem

    econmica

    ou alimentar

    deve, desde

    j, ser

    afastada, no

    somente devido riqueza das

    guas

    da

    regio,

    mas

    ainda partindo do

    princpio

    de

    que geralmente as populaes primitivas

    se

    integram no

    equilbrio biolgico

    das

    zonas

    em que habitam.

    Por conse

    guinte, no nosso caso, a

    atividade

    humana

    no

    podendo ser

    devastadora

    por

    falta de

    meios e

    de

    nmero,

    no

    poderia,

    ipso-fato

    provocar nenhuma

    modificao

    importante

    no

    equilbrio

    da sua

    zona

    de

    influncia.

    Quanto

    segunda hiptese

    -

    mudana

    de

    clima

    -

    no pode obviamente, nem

    entrar

    em linha de

    cogitao.

    As causas

    econmicas e

    climticas que podem

    originar transmigraes

    no devem, portanto,

    ser

    tomadas em

    considera

    o.

    Restaria, ainda,

    a

    hiptese

    de

    acontecimentos

    sociais,

    de

    guerras entre

    tribos.

    Apesar

    da estranha

    regularidade

    dos

    acontecimentos

    e

    do retrno

    contnuo das tribos

    aos

    mesmos

    locais,

    sempre depois de um perodo bas

    tante curto para

    s

    permitir

    a

    formao de

    vegetao

    rasteira,

    essa

    hiptese

    seria plausvel.

    Infelizmente, aqui surge outro enigma:

    o

    da

    composio

    das camadas. Repetimos que

    s

    podemos julgar de acrdo com

    a obser

    vao

    dos

    cortes verticais

    dos

    s ~ b q u s em

    explorao.

    Tal circunstncia

    de suma

    importncia,

    uma

    vez

    que

    nessas condies

    no

    podemos

    ter

    noo da extenso da camada em relao superfcie total do sambaqu,

    nem

    de

    sua localizao

    em relao

    a essa superfcie. Os diversos elementos

    componentes

    da

    camada, particularmente, as ossadas humanas,

    os

    restos

    de

    cozinha e os

    amontoados de

    ostras, acham-se distribuidos irregularmente,

    com

    mais frequncia nas partes vizinhas do maior

    declive

    do

    edifcio. As

    camadas delimitadas por delgados veios

    de humus so constitudas, sobre

    tudo,

    por pequenas conchas

    pertencentes

    quase

    que

    exclusivamente

    a

    lame

    librnquios do gnero Anomalocardia para maior

    facilidade

    designaremos

    .essa

    concha

    pelo seu nome vulgar: berbigo .

    Em segundo lugar encon-

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    13/25

    226

    tram-se amontoados de conchas de

    Gryphea brasiliensis

    ou ostras de mangue

    que, em alguns pontos, perfazem a espessura total

    da

    camada. O resto pode

    ser considerado como incluses irregularmente distribuidas, principalmente

    na

    parte

    ba

    sal das camadas. Quanto s ossadas humanas, por vzes muito

    numerosas, ao se examinarem os cortes verticais,

    no

    se pode formar idia

    muito

    clara dos motivos

    que determinaram

    a

    sua

    distribuio. Dizemos

    motivos porque trata-se incontestvelmente de sepulturas, pelo menos em

    grande

    parte.

    Indubitvelmente,

    a distribuio dos materiais que constituem uma

    determinada camada, nada tem de homognea, o

    que

    seria o caso de um

    ''kjoe

    kkenmoedding''

    clssico em que a distribuio dos materiais s pode

    variar tericamente de uma estao para outra escapando percepo em

    virtude do assentamento do material nas camadas. Nos sambaquis, nota-se

    distribuio

    extremamente

    irregular em uma mesma camada, posto que

    muito

    semelhante de uma camada para

    outra.

    As ostras parecem ser sem

    pre

    agrupadas em grandes

    quantidades

    e exclusivamente, em

    d e t e r m i n d o

    pontos

    de cada camada, repousando sempre diretamente sbre o veio de

    humus nesses amontoados de ostras que so encontrados, em maior

    abundncia, os r ~ s t o s de peixes e de mamferos. O ajuntamento de conchas

    sempre disparatado. Estas trazem com

    muita

    frequncia, sinais de terem

    sido abertas, significando isso

    que

    foram aproveitadas como alimento, o

    que

    perfeitamente natural. Quanto s ossadas humanas, so

    encontradas

    quase sempre, por entre as camadas de berbigo. O que

    particularmente

    estranhvel o fato de todo o resto

    da camada

    representado por crca de

    60 a 85 do volume

    total,

    ser constituido por vlvulas de berbig:1o intactas

    que, aparentemente, nunca serviram de alimento

    e

    apesar

    da

    compresso

    milenar a que se encontram sujeitas, apresentam-se em grande parte fecha

    das. Seria possvel, ento, considerar cada uma das

    camadas

    como sendo

    composta de dois elementos

    distintos: de restos de cozinha e de

    um

    grande

    volume de conchas de berbigo que forneceria uma espcie de entulho,

    completando a espessura e formando a camada.

    Alm dsses elementos principais, as

    camadas

    contm ainda

    duas

    in

    cluses caractersticas para os sambaqus da regio - numerosas pedras,

    geralmente

    brutas

    , no lascadas mas com traos evidentes de terem sido

    usadas.

    Mais

    raramente encontram-se utenslios

    trabalhados

    (encontramos

    no sambaqu

    de

    Maria

    Rodrigues fragmentos de um almofariz chato, um

    ou dois piles, e

    aparentemente,

    um

    fragmento

    de pedra de fogo) .

    No

    se

    deve perder de

    vista

    a circunstncia de que s existem pedras do mesmo

    tipo num

    raio de mais de 30 quilmetros dsse ponto. A

    outra

    incluso

    representada

    por pedaos calcinados de ossos de baleia. Geralmente, so

    fragmentos do tamanho de

    um

    punho fechado, provenientes das partes

    esponjosas do corpo das vrtebras,

    mais

    raramente das costelas. Todos sses

    fragmentos acham-se calcinados

    e

    sabendo-se

    que

    essas

    partes

    dos ossos de

    baleia

    so impregnadas de leo, propiciando combusto ativa e prolongada,

    tudo leva a crer, como

    j

    foi dito, que os primitivos de ento deles se ser

    vissem para

    alimentar

    o fogo. Essa prtic parece ter sido constante no

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    14/25

    - 7

    decorrer de todo o perodo de edificao do sambaqu. (S nos referimos

    aqui, ao sambaqui

    do rio Maria

    Rodrigues, j citado,

    em

    que

    os

    ossos

    calcinados se encontram, em regular

    quantidade,

    em todas as cama,das).

    Recapitulemos,

    portanto,

    os dados examinados neste captulo:

    1.0

    -

    As camadas das quais no podemos avaliar a exten

    so de cobertura em relao ao plano horizontal do edifcio,

    acham-se separadas uma das outras por um fino veio de terra

    vegetal. ltsses files indicam ter havido interrupes, provvel

    mente de vrios anos, no processo de

    amontoamento

    dos

    ma-

    teriais.

    2.) - A composio das camadas no homognea. A

    maior parte do material representada pelo berbigo O restante

    acha-se distribuido com muita irregularidade, sobretudo na

    parte basal das camadas.

    3.

    - Os restos de cozinha (escamas, vrtebras e ossos de

    peixes,

    bem

    como ossos de pequenos mamferos) so encontrados

    raramente de

    mistura

    com o berbigo, o que parece demonstrar

    que ste

    ltimo

    no

    tem

    relao direta com a alimentao.

    4.) - O berbigo apresenta-se, em todos os sambaqus

    da

    :

    regio, com

    um

    grande nmero de valvas intactas, o que con

    firmaria a suposio precedente.

    5.) - As ossadas humanas parecem estar localizadas, com

    especialidade, nas

    partes

    das camadas formadas de berbigo.

    6.) - Na construo do sambaqu, o berbigo parece fun

    cionar comQ material de entulho, servindo para completar e

    aplainar a superfcie de

    cada

    camada.

    Na tentativa de interpretar a estrutura das camadas chega-se, a nosso

    ver, a dedues estranhas. Com efeito, se os sambaqus fossem apenas

    kjoekkenmoeddings , isto

    ,

    simples amontoados de restos de cozinha, a

    distribuio dos materiais seria homognea, as diferenas de vero e inverno

    na alimentao

    da tribo

    no podendo refletir-se na

    sua

    estrutura.

    De outro

    lado, a presena de quantidades enormes de berbigo, provvelmente no

    utilizado

    na

    alimentao, torna-se imcompreensvel num amontoado

    de

    restos de cozinha.

    A curiosa estratificao dos sambaqus, que indica uma edificao su

    jeita

    a interrupes, misteriosa. ltsse mistrio, s pode ser desvendado

    estudando-se a extenso horizontal das camadas, no decorrer de escavaes

    cientificamente orientadas. Como

    j

    o fizemos notar, difcil aceitar a hi

    ptese das transmigraes peridicas. As guerras entre tribos] Parece

    pouco verossmil que os conflitos fossem espaados com tal regularidade

    e

    para

    tdas as tribos, clans e aldeias da regio. Seria estranho

    tambm

    supor que as tribos antes de serem destrudas ou rechassadas pelo inimigo,

    se dessem ao trabalho

    de

    aplainar as camadas com grandes quantidades

    de

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    15/25

    -

    2 2 8

    berbigo . De qualquer forma, nem a hiptese das transmigraes, nem

    a das guerras, explicam a presena de quantidades exageradas do molusco.

    Como se sabe, ste vive enterrado na areia das praias e nos baixos fundos

    do mar aberto. Mesmo admitindo que na poca da constituio dos sam

    baqus fsse le

    muito abundante

    seria necessrio

    tempo

    assaz considervel

    e

    mo

    de obra numerosa

    para

    se conseguir recolher

    to

    enormes quantidades,

    convindo no esquecer que, na poca, isso s poderia ser conseguido pelo

    trabalho manual. Poderiamos admitir, na melhor hiptese, que uma equipe

    de 15 homens, num dia de trabalho conseguisse lotar uma grande canoa ou

    piroga, isto crca de 3/4 de metro cbico. Essa operao exigiria a expe

    dio de 4 ou 5 embarcaes a vrios quilmetros

    da

    aldeia. Como parece

    que as aglomeraes indgenas nunca foram muito populosas,

    ta

    l tarefa

    exigiria aproximadamente o concurso da dcima parte de

    um

    grande aldea

    mento. Considerando a espessura mdia de

    uma

    camada como sendo igual

    a 40 cm, obteremos, como resultado, pouco menos de 2 metros quadrados

    formados pelo trabalho de cada turma. ltste clculo, por si s, demonstra

    que o esfro deve

    ter

    sido grande, porm no exagerado.

    Entram

    aqui fato

    res psicolgicos. Em primeiro lugar, uma das caractersticas marcantes dos

    indgenas

    da parte

    leste

    da

    Amrica do Sul,

    bem

    como dos

    da

    Amrica do

    Norte, a sua inaptido ao

    traba

    lho contnuo exigindo esfro prolongado.

    Em segundo lugar, o esfro requerido por sse

    traba

    lho de coleta, trans

    porte etc., carece de objetivo prtico desde que o berbigo deixe de ser uti

    lizado como alimento.

    Para

    concluir,

    dada

    a distribuio dos materiais,

    cumpre lembrar que a constituio das partes das camadas formadas por

    essas conchas, parece ter sido feita apressadamente, sendo os restos de cozi

    nha encontrados em quantidades relativamente pequenas.

    Era portanto necessrio haver um motivo poderoso capaz de sujeitar

    essas populaes a

    trabalho

    de

    tal

    ordem, motivo

    pe

    lo qual, a nosso ver,

    deve estar filiado ao exerccio de prticas mgicas. Dada a necessidade de

    vrios anos para a edificao dsses depsitos e outros

    tantos

    para a cons

    tituio

    da

    cobertura de

    humus

    deve-se

    admitir

    essa hiptese de pr-

    ticas mgicas ou rituais, pois, sendo nitidamente peridicas e ao que parece,

    bastante

    espaadas no tempo, a nica que se ajusta razovelmente, aos

    fatos observados.

    Da, ao nosso ver, a importncia de pesquisas sistemticas e reiteradas,

    com orientao

    estritamente cientfica dos sambaqus espalhados pelo lito

    ral.

    E;

    de lembrar, no

    entanto

    que essas jazidas prehistricas o so tambm

    minerais e de alto intersse atual para a indstria. A prova est na sua

    destruio si

    stemt

    i

    ca

    para

    aproveitamento do clcio. Ao que parece, po

    rm, o poder pblico deu-se

    conta da

    importncia cul

    tura

    l dos sambaquis.

    E tambm de que o seu aproveitamento cientfico no destruir o inte

    rsse industrial ou comercia

    l.

    As atividades

    da

    Comisso de Prehistria

    recentemente instituda em So Paulo e de

    uma

    legislao lcida j

    adotada

    no Paran podero, talvez,

    dar

    a sse material preciosssimo

    para

    a cincia,

    o destino que de esperar, por hora, pelo menos em dois Estados onde

    existem duas Universidades : So Paulo e Paran.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    16/25

    2 2 9

    RESUMO

    E CONCLUSES

    Trata

    o presente

    trabalho

    de observaes geogrficas e arqueolgicas relacionadas

    com os

    sambaq

    uis dispersos pela regio

    lagunar

    de Canania, no litoral

    sul

    do E. de So

    Paulo.

    Observaram os autores que a maioria dos concheiros daquela zona, repousa direta

    mente sbre areia de

    praia

    ou de duna, achando-se localizados, quase sempre, margem

    de um marigot (rio de gua salgada).

    Partindo de observaes 1evadas a cabo em

    quatro

    sambaqus, passaram os autores

    a estud-los e compar-los, considerando-os como testemunhos preciosos nas pesquisas

    do ltimo perodo de gnese

    da

    regio.

    Julgam,

    assim,

    que

    ao

    tempo em

    que viveu

    na

    regio o homem do sambaqui , a configurao planimtrica da ilha de Canania e das

    outras

    partes

    baixas

    da

    regio era considervelme

    nt

    e diferente da

    atual.

    Nos estudos de carcter geogrfico, de

    st

    acam os

    autores

    o trabalho de

    Guerra (1951,

    p. 3-18), em que sse gegrafo pe termo definitivo s an tigas controvrsias entre

    as

    cor

    rentes

    natura

    lis

    ta

    e artificialista , demonstrando as diferenas que existem

    entre

    sambaqui

    e

    terrao

    s marinhos (wave-built terraces).

    Depois de analisarem detidamente a regio

    laguna

    r

    de

    Canania com suas restingas,

    canais e baixas falsias esculpidas nos

    estratos

    horizontais

    das piarras ,

    pa

    ssam

    a exa

    minar a provvel configurao do sistema de

    lagunas

    e canais marinhos,

    durante

    o pe

    rodo prehistrico regional que, na opinio dos autores, devia ser mais recortada e menos

    colmatada

    por

    manguesais que atualmente . A seguir, detm-se em consideraes sbre

    os Homens do sambaqui. Entram, finalmente, em espe culaes prehistricas e depois de

    estudar a estratificao das camadas e

    0

    material heterogneo nelas contido, formulam

    a hiptese de

    que

    a construo do

    sambaqui

    est prov

    velmente

    ligada prtica de ritos

    mgicos.

    SUMMARY

    This

    paper

    records a few geographic and archeologic observations reI a

    ted

    with

    several

    sambaqus

    found

    in

    thc

    lagoon region of Canania,

    in

    the

    south coast of the State of S. Paulo.

    Themajor part

    of such shell-mounds

    were

    found

    to

    be lying directly

    upon

    beach or

    dune

    sand,

    their

    location being, generally,

    at

    the margin of

    a

    marigot

    (salt-water river).

    From the

    observations

    made at

    four

    different sambaqus the authors

    have

    concluded

    that

    these

    mound

    s

    may be

    considered a mo

    st

    valuable

    material for the investigation of

    the

    region's near

    past

    history.

    t

    is belie

    ved

    that at the time the

    Man-of-the-sambaqu was

    living, the pIanime

    tric configuration of the Isle of

    Canania

    and other

    low

    parts of the region

    were considerably different

    than at the present

    time.

    The

    authors point

    out

    that

    all

    the

    forme r controversies

    between

    the

    naturalist and

    artificialist currents

    have

    been

    definitively settled by

    the

    work of

    Guerra

    (1951, p. 3-18)

    in which

    t he differences existing

    between

    the sambaqus and the wave-built terraces are

    demonstrated

    by

    t-his

    geographer.

    The lagoon region of

    Canania

    with its

    restingas , canaIs, etc., is

    thoroughly analysed and the probable

    configuration

    of the lagoon

    system

    and marine canaIs

    during

    the prehistoric

    period

    is examined.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    17/25

    - 2 3

    After a few speculative considerations about the prehistory of the re

    gion and

    after

    studying the stratification of the sambaquis layers toge

    ther with the

    heterogenous materiaIs which are included in

    them the au

    thors present their hypothe

    sis that the building oi these

    mounds

    was

    pro

    bably o n n e t ~ d with magic ritual practices.

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    Arquivo llfunicipal

    (S. Paulo) ano VII ,

    LXXIV, Fevereiro

    Ma

    ro 1941, p. 293-298. S. Paulo.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    18/25

    Foto n .O

    Folo Ab 'S,ibcr, 1932

    , 1 l l uo rio Baglla(

    lI

    , em foto ton' acla d e

    E-NE pa r

    a pOlleo

    aC

    JI1 H\.

    da

    ba rl'a

    do

    rio

    no

    l\ J

    r

    de

    Cananeifl.

    Ao fllndo, i t sillieta da

    serra

    do Itapitangui, um

    dos

    ac identcs

    HI::

    ti

    S importantes

    que Iimitnm l planicip- lagunar de Canalleif l para 0 interior.

    Foio 11

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    19/25

    Foto n.

    O

    3

    Foto 13esnard. 195:

    Paisagem

    da

    ant

    i

    ga

    enseada Iagunar do alto l\1aria

    Rodriguf s.

    em fotografia tomada para

    S-SE tendo como

    ponto

    de

    vista o

    topo do sambaqu do

    rio das

    Ostras. r rata-se de um vasto

    mang'uesal que co

    lm

    atou recentemente a antiga pnseada existente

    ao tempo

    da construo dos

    sambaqus.

    Foto

    l .0 4

    Foto Besnard. 1952

    A

    spec

    to

    da

    base

    do

    sambaq ui

    do

    rio

    da

    s

    Ostras.

    Os

    restos de ostras assentam-se direta

    mente sbl'e are ias

    de

    n t i ~ s

    restingas

    soergu idas.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    20/25

    Fo t o 11 .

    :>

    Foto Ab Sber, HI52

    Del alhes

    do clnbasa:W'. llto do sambaqu do ba.ixo rio Baguall: a camada

    basaI

    de b

    er

    bi

    ges

    cape

    ia o

    baixo terrao

    a r

    enoso, mergulhando pe

    lo

    seu

    ta lu

    de la ter a

    l. Uma

    ca

    mada

    de areia

    branca

    de

    lenis de dunas

    interpem- se

    entre a

    base

    do sambaqu e

    as

    camadas arenosas do

    baixo

    terrao de co nstruo marinha. nl exis tente .

    Foto n O ()

    1

    ,

    oto Ab Sber, 1952

    Outro

    :18pecto da

    base

    do sa lllha.qu

    do ba ix

    o rio

    Bagllau, num ponto

    onrle

    fi. mesmn

    s itua-sc a 2. do nvel

    mdio

    do rio.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    21/25

    Fo

    to

    l .0

    7

    1 010

    Hc:stlurd ,

    lU.::;:'

    A I I ~ 1 I 1 0 de

    inclinao

    do

    s boruos tIo

    u m h ~ q u de

    Brocullia.

    Folo

    II U

    Foi

    o Be:snard, 1052

    D elal he da. p

    st rutul a

    c

    ( o m p o ~ j ~ i o do

    m h a q t

    do

    bn ixo rio l\ fari

    ..

    H odl i

    gll ,f-S;

    ZQtln

    de

    contacto

    entre as capas

    df herhir-:es

    l os J f stos ue ostnlf;.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    22/25

    Foto 11, n

    Foto

    11, 1

    Fo :.os Bes nal d, 195:2,

    Fo tos 11. H e ]0 - De talh es

    da estr

    utura, interna d ( ~ um sambaqu em fase de de

    str

    ui ilo

    (bai xo rio l

    \I aria

    Rodrigues). Notem-se os ncamamentos,

    de

    Cf rta frma cclicos,

    en t

    re os b ~ l -

    higps o

    s@lo

    tudoso eseuro, , O : T P ~ r o l r i P I 1 t P ~

    ~ l O ~

    r l i v e r d o r l o pm e

    o

    ~ a m h a q t 1

    f o

    'plol ll:uio por

    vegf ta( :1o,

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    23/25

    Foto

    l .0

    ]

    1

    Foto

    lJ.O 12 FoLos Besna rd , 19

    j2.

    Fotos

    e 12 - Asvectos da

    estr

    u tur a

    in ter

    na lo

    sambaqu l\laria

    Rodrigues. Enquanto

    as

    pores centra is

    possuem

    acamamento hori7.ontal foto

    0

    11), OR bo rdos do sambaqu me r

    gulh m

    suavemente para

    os l

    ados

    (fo

    to

    l .0 12),

    dando

    -

    no

    s I ll l

    a

    idpia

    el e

    sua

    estrutura de di-

    ven;as e tapas de seu longo perodo df eonstrnfio.

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    24/25

    ro to

    n O

    13

    Foto

    Besnard

    . 195:l

    Composio interna do sambaqu do

    baixo l\1aria Rodrigues : berbiges em grandes

    massas

    entremeiados com

    zonas

    de so

    los

    turfo

    sos

    escuros

    Foto l .0 14

    Foto

    Bes

    nard

    , 1952.

    Fotografia document

    ria sbre a destrui 10 in

    te

    nsa e

    desreg:rada dos

    sambaqus

    paul

    istas

    rea

    do rio Bl'o('u inin).

  • 7/24/2019 Sambaqus Da Regio Lagunar de Canania

    25/25

    Falo n.O l j

    .-\b

    Sfibcl ,

    19,: 2.

    Ostreiras atllU1s

    dos

    caiaras de

    Canan

    ia curioso e illcxJJlicvel

    tipo

    u e caieira COllfS-

    irudo pe los ca iaras regiona is semel hana de

    lim

    a miniatllra de Rambaqu .