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Sumário

6 |CapaControle e Redução de Perdas

Várzea do Ribeirão Parelheiros

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Programa de reabilitação de redes de água

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ENTREVISTAErnani Ciríaco de Miranda: “Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados”

PONTO DE VISTAA situação atual das perdas no Japão por Masahiro Shimomura

PERDAS DE ÁGUA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Reduzir perdas - o meio ambiente e a sociedade agradecempor Sônia Nogueira

ARTIGOS TÉCNICOSBIODIVERSIDADE Mecanismos de desenvolvimento limpo e créditos de carbonos

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MEIO AMBIENTEDesenvolvimento sustentável para o país

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTALO TEMPO DO RIO TIETÊUm rio de contrastes e múltiplos usos

CYBER CAFÉSite Domínio Público

RESENHALivro: Big Bang

HOMENAGEMUm profi ssional realizado que nunca esqueceu a Sabesp

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Associação dos Engenheiros da SabespAESABESP

REVISTA

Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007

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Ao contrário do que se acreditava num passado não muito distante, o mundo está aos poucos tomando conhecimento de que a água é um recurso limitado. É fundamental que o homem amplie as medidas estratégicas no sentido de preservá-la, garantindo para as gerações futu-ras o acesso a esse bem tão precioso. As deci-sões devem ocorrer em caráter de urgência, para evitar que as medidas corretivas no futuro

não sejam ainda mais radicais. O desperdício generalizado parte das residências, com a torneira pingando, até as cidades, independente do porte, com vazamentos em adutoras, encanamentos, empresas e fraudes na captação de água. Cada setor do governo e da sociedade têm sua parcela de responsabilidade.

Aparentes ou reais, os níveis de perda de água no Brasil ainda são altíssimos e representam um grande desafi o para o setor de sanea-mento, principalmente devido a dimensão continental do País. Nos-sa reportagem especial de capa discute a necessidade da redução imediata das perdas de água, através de equipamentos e sistemas, e mostra as medidas que já estão sendo tomadas no sentido de re-duzir os limites atuais para padrões cada vez menores, a exemplo do que aconteceu em países como o Japão, situação também retratada nessa edição da Revista Saneas.O assunto ganha especial importância no momento em que o Go-verno divulgou, no dia 14 de setembro, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005/2006 (PNAD/IBGE), que aponta o crescimento da rede de água, de 82,3% em 2005 para 83,2% em 2006. O percentual de domicílios com rede de esgoto também aumentou, de 69,7% para 70,6%, no mesmo período. E os números devem continuar a subir, sinalizando a necessidade de au-mentar também os cuidados com a preservação da água para que ela chegue, com qualidade e em quantidade sufi ciente aos lares de todo Brasil.

Você vai saber mais sobre o assunto na matéria sobre Controle de Perdas, em entrevista com Ernani Ciríaco de Miranda, Coordenador do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), além dos Pontos de Vista de Masahiro Shimomura e Sônia Nogueira. Tam-bém conhecerá temas como o Programa de Reabilitação de Redes de Água, conduzido pela Unidade de Negócio Centro da Sabesp; os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono; o trabalho para redução da concentração de constituintes típicos de efl uentes sanitários na várzea do Ribeirão Parelheiros; a importância e os avanços na despoluição do Rio Tietê, entre outros assuntos de interesse. E assim cumprimos a missão de sempre proporcionar aos nossos leitores, as principais novidades e atualizações tecnológicas em saneamento e meio ambiente. Por isso, você já sabe: pensou em saneamento, pensou na Revista Saneas.

Boa leitura!

Walter Antonio OrsattiPresidente

A ÁGUA DO AMANHÃ

Editorial Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente - Walter Antonio Orsatti Vice-Presidente - Gilberto Alves Martins 1º Secretário - Ivan Norberto Borghi 2ª Secretária - Cecília Takahashi Votta 1º Tesoureiro - Hiroshi Letsugu2º Tesoureiro - Emiliano Stanislau de Mendonça

DIRETORIA ADJUNTADiretor de Marketing - Carlos Alberto de CarvalhoDiretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs Diretor de Esportes- Zito José Cardoso Diretor de Pólos - José Carlos Vilela Diretora Social - Magali Scarpelini Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro

CONSELHO DELIBERATIVOAmauri Pollachi, Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Luciomar dos Santos Werneck, Luis Américo Magri, Luiz Henrique Peres, Nélson César Menetti, Osvaldo Ribeiro Júnior, Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Yazid Naked

CONSELHO FISCALIvo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile e Nizar Qbar

Pólos da Região Metropolitana de São PauloCoordenador - Nélson César MenettiCosta Carvalho e Centro - Célia Maria Machado AmbrósioLeste - Luciomar dos Santos WerneckNorte - Oswaldo de Oliveira VieiraOeste - Evandro Nunes de OliveiraPonte Pequena - Aram Kemechian

Pólos AESABESP Regionais Baixada Santista - Ovanir Marchenta FilhoBotucatu - Osvaldo Ribeiro JúniorFranca - Helieder Rosa ZanelliItapetininga - Valter Katsume HiraichiLins - Marco Aurélio Saraiva Chakur Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira PatricioVale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho

CONSELHO EDITORIALLuiz Henrique Peres (Coordenador)Viviana Marli de Aquino BorgesCarlos Alberto de CarvalhoJosé Marcio CariocaCélia Maria Machado Ambrósio

FUNDO EDITORIALJairo Tardelli, Antonio Pereto, José Antonio de Oliveira, Milton Tsutiya, Sonia M. Nogueira e Silva, Eliana Kitahara e Franscisca Adalgisa da Silva

JORNALISTA RESPONSÁVELJoão B. Moura - MTB 38741

PROJETO VISUAL GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICAL3ppm - publicidade, propaganda e marketing Ltda [email protected] www.L3ppm.com.br

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfi ca IPSISwww.ipsis.com.br

Associação dos Engenheiros da SabespRua 13 de maio, 1642 - casa 1 - Bela Vista01327-002 - São Paulo - SPFone (11) 3284 6420 - 3263 0484Fax (11) 3141 90 [email protected]

Associação dos Engenheiros da SabespAESABESP

REVISTA

* Impresso em papel reciclado

Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007

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VICENTE DE AQUINO

CAPA

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As perdas de água (diferença entre os volumes produzidos ou entregues aos sistemas e os volumes consumidos de forma autorizada)

ocorrem em todos os sistemas de abastecimento e refl etem a efi ciência operacional e as condições da infra-estrutura. Classifi cam-se em perdas reais (físi-cas), quando a água é perdida antes de chegar aos consumidores, principalmente devido a vazamentos nos diversos componentes dos sistemas de abaste-cimento, e em perdas aparentes (comerciais), quan-do a água é consumida de forma “não-autorizada”, principalmente devido à submedição causada pela imprecisão nos hidrômetros dos clientes, irregulari-dades (fraudes) e furto de água em hidrantes. As proporções entre esses dois tipos de perdas e suas causas variam de sistema para sistema, exigin-do ensaios de campo e a adoção de várias hipóteses para se chegar a uma partição entre os dois tipos de perdas. As avaliações mais recentes têm levado a uma porcentagem maior de perdas reais em relação às perdas aparentes.A IWA - International Water Association, propôs uma Matriz de Balanço Hídrico para os sistemas de abastecimento de água, que procura uniformizar os conceitos e os entendimentos sobre perdas de água

em todo o mundo, conforme mostrado na tabela na próxima página.Há ainda uma grande discussão acerca dos indica-dores de perdas, especialmente no que diz respeito à comparabilidade entre sistemas de abastecimento de água distintos. O indicador clássico (percentual em relação ao volume produzido ou disponibiliza-do) tem sido preterido em favor de outros que pos-sam retratar melhor a situação existente, tais como o indicador de perdas “litros por ligação de água por dia” ou o “índice de vazamentos da infra-estrutura”, adimensional, que leva em conta fatores relativos às condições das tubulações e às pressões reinantes no sistema (este último indicador é para perdas reais).Não existe “perda zero” em sistemas de abasteci-mento de água. Podem ser defi nidos dois limites referenciais para as perdas:• Limite Técnico: aquele possível de se chegar utili-zando todas as técnicas, tecnologias e recursos dis-poníveis no momento (perdas inevitáveis);• Limite Econômico: nível de perdas em que o cus-to para recuperar um determinado volume supera o custo de produção e distribuição desse volume; geralmente este limite é atingido antes do limite técnico.

A LUTA PARA COMBATER AS PERDAS DE ÁGUA

Crédito: Odair M. Faria

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CAPA

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Tais limites são conceituais e de difícil determinação prática, e va-riam, especialmente o econômi-co, de local para local.As principais ações para redução das perdas reais são o gerencia-mento de pressões (quanto me-nores e mais estáveis, melhor), o controle ativo de vazamentos (localizar rapidamente os novos vazamentos não-visíveis, atra-vés do monitoramento da vazão mínima noturna e de métodos acústicos de pesquisa), a agilida-de e a qualidade do reparo dos vazamentos e o gerenciamento da infra-estrutura (priorização de trechos para renovação das tubulações, principalmente dos ramais de água, onde ocorre a maioria dos vazamentos). Já para a redução das perdas apa-rentes, as principais ações são o gerenciamento da hidrometria (otimização das trocas e dimen-sionamento dos hidrômetros, principalmente dos maiores consumidores) e o combate a irregularidades (como fraudes e ligações clandestinas).O desenvolvimento de medi-das de natureza preventiva de controle de perdas nas fases de projeto e construção do sistema envolve a necessidade de passos iniciais de organização anterio-res à operação. As medidas de-vem contemplar, dentre outras: a boa concepção do sistema de abastecimento de água, conside-rando os dispositivos de controle operacional do processo, a qua-

lidade adequada dos materiais e da instalação das tubulações, equipamentos e demais dispo-sitivos utilizados, a implantação dos mecanismos de controle operacional (medidores e ou-tros), a elaboração de cadastros e a execução de testes pré-ope-racionais de ajuste do sistema. A macromedição, ou seja, a me-dição dos grandes volumes de água que entram no sistema (ou mesmo aqueles que saem), deve ser bem estudada, implantada e acompanhada, pois os números dela resultantes serão as referên-cias para todas as análises poste-riores, não só para a questão das avaliações de perdas, mas tam-bém para a defi nição de vários parâmetros de projeto e opera-ção dos sistemas de água.

PESQUISA INTERNACIONALPara o consultor Julian Thornton, inglês, formado em Engenharia Mecânica e Civil, e desde 1996 residindo no Brasil, o trabalho de campo é o principal: “Eu sempre me considerei uma pessoa mais prática. Que gosta de trabalhar e resolver os problemas cotidia-

nos”, afi rma. Julian faz parte das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Associa-tion): “Eu sou o líder da equipe do controle de pressão”.Julian fala sobre a contribuição da IWA no tocante a um enten-dimento global uniforme sobre as questões ligadas às perdas reais: “A IWA propôs uma padro-nização para avaliar perdas reais e também aparentes. Antes ha-via vários indicadores, não eram padronizados, eram variáveis, soltos, as pessoas queriam com-parar maçã com laranja e não ti-nha como comparar. A IWA trou-xe um indicador que padronizou a medição em vários países. Eu particularmente não conheço países que não tenham aceito os indicadores da IWA. Existem pa-íses que ainda estão estudando, mas eu não sei de nenhum que disse ‘eu não vou usar’. Posso ci-tar alguns países que utilizam a metodologia da IWA: Estados Unidos, Canadá, Malta, Austrá-lia, Nova Zelândia, África do Sul, Alemanha, Itália e Brasil, entre outros”, afi rmou.Sobre a questão de as perdas

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Julian Thornton, das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Association)

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aparentes não terem avançado tanto quanto as perdas reais na IWA, Julian diz que o assunto tem mais de uma resposta: “Primeiro precisamos dizer que a IWA tem uma equipe para tratar das per-das aparentes. Tem muita gente que pensa que IWA não se preo-cupa com isso, mas nós estamos estudando e pesquisando o as-sunto. Acontece que o processo de desagregar as perdas aparen-tes é bem mais complexo. Nós podemos ter falhas de cadastro, fraudes ou mesmo submedição. Já as análises dos componentes das perdas reais são mais visíveis. Podemos ter uma precisão muito grande no sistema nesse campo. Mas as coisas estão mudando. Malta e Chipre, por exemplo, es-tão muito adiantados em relação às perdas aparentes”, explica.O consultor não tem nenhuma dúvida em afi rmar que é muito importante fazer um diagnóstico de todos os componentes e de-sagregar o que é perda aparente do que é perda real: “Temos que achar as peças que criam proble-mas e depois atacar de forma efi -ciente. Quando se está tentando reduzir perdas, é necessária uma gestão contínua. Ela é mais im-portante do que a técnica em si. Se você não faz uma gestão con-tinuada, você não vai conseguir diminuir as perdas de forma sus-tentável. A gente pode aplicar uma ferramenta nova, que dê re-sultados naquele momento, mas se não houver gestão, as perdas voltam a aparecer”, esclarece.

SISTEMAS COMPLEXOS E DE GRANDES DIMENSÕESUm dos maiores desafi os em um sistema grande, segundo Julian, é a compartimentação do siste-ma: “O segredo para conseguir medir com precisão é desagregar a rede de distribuição de água, gerenciar um sistema grande em partes pequenas. A Inglater-ra conseguiu diminuir as perdas reais em cinco anos. Mas lá são 50 milhões de pessoas, toda In-glaterra signifi ca três cidades de

São Paulo. É importante fazer um diagnóstico fi nanceiro para saber em quanto tempo nós conseguiremos chegar naquilo que pretendemos. Mas um sis-tema grande é complexo, pois se o dinheiro acaba no meio desse prazo, a gente acaba perdendo o que já ganhou. Então é necessá-rio saber se vai haver um investi-mento continuado para se deter-minar prazos”.“Eu gosto de citar bons exemplos da metodologia IWA. Em perdas aparentes, um grande exemplo disso é a cidade da Filadélfi a, nos Estados Unidos. Eles trocaram todos os hidrômetros e fi zeram uma grande campanha contra as fraudes. Como resultado, con-seguiram reduzir bastante o vo-lume das perdas aparentes. Hali-fax, no Canadá, também é outro grande exemplo. Isso é o sucesso de uma gestão de um grande sis-tema dividido em vários peque-nos. Chipre, um pequeno país, mas que tem muitos problemas de recursos hídricos, conseguiu reduzir muito as perdas reais e aparentes”, diz Julian.Sobre as referências mundiais no controle das perdas de água, Ju-lian diz que a Inglaterra e o Japão são exemplos bem acabados: “Eles controlam bem os dois tipos de perda. Se uma empresa está com controle de fl uxo de caixa e

precisa fazer dinheiro, controlar a perda aparente é mais importan-te. Por outro lado, a empresa que vende água precisa ter o produ-to. Se ela está com pouca oferta, controlar a perda real é mais im-portante. Sem água ela deixa de ser uma empresa”, afi rma.Ele diz que tanto os ingleses quanto os japoneses trabalham muito com o controle de pres-são: “Ao diminuir a pressão em determinados horários, você acaba diminuindo também os vazamentos”, conclui Julian.

PERDAS OCORREM EM TODOS OS SISTEMASPara o engenheiro Eric Cerquei-ra Carozzi, Superintendente de Desenvolvimento Operacional da Diretoria de Tecnologia, Em-preendimentos e Meio Ambien-te da Sabesp, as perdas ocorrem em todos os sistemas de abas-tecimento. “Para um efi ciente combate às perdas, é necessário conhecer o tipo de perda predo-minante em cada sistema e as respectivas causas. A partir desse diagnóstico é possível priorizar e investir em ações de modo a se otimizar a aplicação dos recur-sos. Nos sistemas de maior porte, que demandam maior esforço para reduzir as perdas, é funda-mental sua divisão em setores de abastecimento menores, que via-bilizem uma gestão efi caz da sua operação. Outro aspecto funda-mental do combate às perdas é a necessidade de conscientização e comprometimento de todos os envolvidos, além de estratégias de longo prazo, com continuida-de de recursos, associados a cui-dados especiais quanto à quali-dade dos materiais aplicados e ao treinamento das equipes de manutenção e de instalação da infra-estrutura”, explica.Eric ressalta que o Programa de Redução de Perdas é um progra-ma estratégico na Sabesp, com metas ambiciosas e que exigirá recursos para a sua implementa-ção: “Realmente o programa de redução de perdas é fundamen-

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Eric Cerqueira Carozzi, Superinten-dente de Desenvolvimento Opera-cional da Diretoria de Tecnologia,

Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp

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tal para a Sabesp, pois além de possibilitar a redução de custos operacionais e de manutenção, permite adiar investimentos na ampliação da produção, que têm custos cada vez mais elevados, principalmente em municípios com pouca disponibilidade hí-drica”. Quanto ao programa de per-das da Sabesp, diz Eric que “jáestamos trabalhando na ela-boração do programa corpo-rativo, através da uniformização de critérios e ações nas duas di-retorias operacionais (Diretoria Metropolitana e Diretoria de Sis-temas Regionais) e da consolida-ção dos seus planos existentes. A partir desse plano, buscaremos

viabilizar os recursos necessários para atingir as metas defi nidas. Também acompanharemos a evolução e os resultados obtidos no Contrato de Performance (no qual a contratada tem compro-misso e é remunerada em função da redução de perda obtida), em andamento num projeto-piloto na Região Metropolitana de São Paulo, para avaliar esse novo mo-delo de contratação. Mas não basta elaborar planos e viabilizar recursos. É preciso acompanhar a realização das ações e os resultados obtidos, e para isso desenvolveremos um sistema que integre as informa-ções das duas diretorias, o que é um grande desafi o devido às muitas diferenças de característi-cas e de sistemas de informações utilizadas em cada uma delas”, diz.Sobre as difi culdades de plane-jar as ações de perdas, Eric res-salta que “ainda não possuímos um modelo preciso que permita projetar as metas de perdas em função das ações e recursos pre-vistos nos planos. É preciso me-lhorar a qualidade destas infor-mações e registrar os históricos das ações e seus resultados, a fi m de aperfeiçoar continuamente esse modelo, de modo a apri-morar os planejamentos futuros. De qualquer forma, para oti-mizar a aplicação dos recursos,

que são escassos, é fundamental ter o diagnóstico dos tipos e cau-sas das perdas em cada sistema, a partir do qual se possam prio-rizar as ações mais efi cientes e efi cazes”.

PROGRAMAS DE COOPERAÇÃOEric acredita que elaborar pro-gramas de cooperação é uma forma efi caz de capacitação e troca de experiências para a ges-tão das perdas: “No trato com o problema das perdas de água, a Sabesp segue a linha de ação proposta pela IWA. Dessa forma, as unidades de controle de per-das da Sabesp, principalmente na Diretoria Metropolitana, têm mantido um contato muito pró-ximo com os especialistas liga-dos à IWA. Quanto aos acordos de cooperação técnica, a Sabesp assinou, no início deste ano, um acordo com o governo do Japão, através da sua Agência de Coo-peração Internacional (JICA), que tem como objetivo a transferên-cia de conhecimento e de tecno-logia, adquiridos pelos técnicos japoneses durante mais de 50 anos. O Japão é uma referência mundial em controle de perdas e possui sistemas tão grandes e complexos como os da Sabesp, com índices de perdas excepcio-nais, abaixo de 8%, principalmen-te quando considerados índices acima de 30%, como ocorre em

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Japão Tóquio Kobe Nagoya M Viena1954 1 22 15,921955 2 20 18,961956 3 20 20,461957 4 20 14,991958 5 30 20 18,911959 6 30 22 18,291960 7 30 22 21,661961 8 29,6 22 13,561962 9 28,3 21 14,861963 10 29,6 20,5 14,481964 11 28,9 19,5 14,181965 12 31,2 19 14,811966 13 29,4 18,5 14,271967 14 27,9 18 14,141968 15 27,8 17,8 14,041969 16 27,7 17,6 13,961970 17 27,1 17,4 13,93 251971 18 26,8 17,2 13,591972 19 26,5 17 12,91973 20 26,4 16,8 12,71974 21 26,4 16,6 12,421975 22 24,9 15,8 12,33 231976 23 24,3 15,7 12,481977 24 20,8 15,6 12,01 18,51978 25 20,2 15,5 11,90 17,51979 26 20,5 15,4 11,82 16,51980 27 19 15,3 11,48 16 151981 28 17,2 15,2 11,15 15,51982 29 15,5 15,1 10,83 141983 30 13,4 14,8 10,50 131984 31 12,7 14,5 14,7 9,55 13,751985 32 14,5 14 14,7 9,27 13 17,51986 33 14,7 13,5 13,3 8,48 13,251987 34 13,3 13 12,8 8,08 14,51988 35 12,9 12,5 12 7,77 14,751989 36 11,7 12 11,5 7,49 151990 37 10,9 11,5 11,1 6,88 16,5 9,91991 38 10,3 11 10,7 6,70 161992 39 10 10,5 10,1 6,49 18,751993 40 9,9 10 9,8 6,23 211994 41 8,1 9,6 15,8 5,42 221995 42 7,3 9,3 12,3 5,36 21,75 9,51996 43 5,8 8,9 10 5,19 16,11997 44 6 8,4 9,6 5,13 14,9 81998 45 5 8 9,1 5,02 15,251999 46 4,5 7,6 8,9 4,80 15,552000 47 4,3 7,1 8,7 4,54 15,42001 48 5,5 6,4 8,3 4,50 15,42002 49 6,6 5,4 8 15,552003 50 6,9 4,7 8 16,12004 51 6,8 4,4 7,9 17,452005 52 17,42006 53 16,252007 54 15,8

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54

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Japão Tóquio Kobe Nagoya Viena

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Redução de perdas ao redor do mundo

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Saneas Setembro/Outubro de 2007 Saneas Setembro/Outubro de 2007

alguns sistemas operados pela Sabesp” (Leia mais no Ponto de Vista, a partir da página 23).

ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICAOutro assunto do qual Eric gosta de falar diz respeito às inovações tecnológicas disponíveis no mer-cado e que possuem aplicação imediata na redução de perdas: “Como eu já disse, a Sabesp mantém estreita relação com os especialistas da IWA que, à parte do trabalho realizado no Japão, é a entidade de ponta, em âmbito mundial, quando se fala em con-trole de perdas. Desse modo, em termos tecnológicos, a Sabesp tem se mantido atualizada e em um bom patamar, quando com-parada às empresas de abasteci-mento de água dos países mais desenvolvidos”.Como inovações tecnológicas que teriam aplicação imediata, Eric cita o sistema de detecção de vazamentos em tubulações de grande porte (adutoras e anéis primários), conhecido como Sis-tema SAHARA. Esse sistema foi desenvolvido na Inglaterra pelo Water Research Center (WRC) e “é o único sistema conhe-cido que se demonstrou extremamente efi caz para a detecção desse tipo de vazamento. A Sabesp já mante-ve contato com o representante do sistema para as Américas, mas, no momento,

seus altos custos inviabilizam tes-tes de campo em algum de nos-sos sistemas de abastecimento, que seria o primeiro passo para adoção dessa nova tecnologia”.Um grande desafi o tecnológico para a Sabesp, segundo Eric, é “a redução da submedição dos hidrômetros dos clientes, efeito potencializado pela existência, especialmente no Brasil, de cai-xas d’água nos imóveis, o que reduz as vazões nas ligações e amplia a submedição nos hidrô-metros”. Outra questão importante é a qualidade dos materiais das tu-bulações enterradas. A Sabesp já utiliza como padrão, há vários anos, tubos de polietileno para a execução dos ramais de água. Quanto à utilização do polietile-no em redes de distribuição de água, Eric diz que “observamos uma tendência de sua aplicação em diversos países europeus. No Brasil, algumas operadoras como

o DMAE - Departamento Muni-cipal de Água e Esgoto de Porto Alegre e a empresa Águas de Li-meira já adotam o polietileno nas novas redes. A Sabesp aplicou o polietileno nas redes de alguns poucos sistemas, mas, por falta de certos cuidados, acabou ten-do más experiências. O polietile-no apresenta diversas vantagens em relação às tubulações em fer-ro ou PVC, tais como a redução do número de juntas (soldagem por fusão), que são potenciais pontos de vazamentos, a facili-dade na execução das redes e a exigência de uma menor lar-gura de escavação. Além disso, onde há necessidade de reno-vação das redes e praticamente é inviável a sua instalação com abertura de vala (região central de São Paulo, por exemplo), o polietileno tem a vantagem adi-cional de possibilitar a execução através de método não-destruti-vo. Por outro lado, o polietileno

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Crédito: Odair M. Faria

Vazamento

Adutoras podem conter vazamentos

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Saneas Setembro/Outubro de 2007

exige cuidados com o contro-le de qualidade dos materiais, equipamentos mais sofi sticados e estruturação da manutenção e mão-de-obra treinada e previsão de peças de reposição. Mas es-ses cuidados também devem ser observados para os demais ma-teriais. Além disto, para se garan-tir bons resultados, pela falta de normas brasileiras, foram desen-volvidas NTS – Normas Técnicas Sabesp, que especifi cam desde os materiais até sua aplicação e manutenção. Assim, já estamos em condição de iniciar uma apli-cação em maior escala. Como em toda mudança, há resistência em utilizar um novo material, mas acho que o polietileno é uma boa solução para aplicação nas redes de água, desde que toma-dos os devidos cuidados, e sua aplicação deve ser avaliada e tes-tada em maior escala na Sabesp”, fi naliza.

BAIXA RENDAO engenheiro civil Dante RagazziPauli, atual Superintendente da Unidade de Negócio Leste da Sa-besp (UN-ML), acredita que um dos seus maiores desafi os é o de combater perdas em uma região vasta, complexa e de baixa ren-da como é essa área da Região Metropolitana de São Paulo: “A

UN-ML atende oito municípios (Salesópolis, Biritiba-Mirim, Arujá,Suzano, Poá, Ferraz de Vasconce-los, Itaquaquecetuba e parte da Zona Leste do Município de São Paulo), com mais de 752 mil liga-ções de água e mais de 3 milhões de pessoas. A incansável preocu-pação com o uso sustentável da água, fator essencial para garan-tir a disponibilidade para as futu-ras gerações e a sustentabilidade do negócio, vêm aprimorando o Programa de Controle de Per-das”, diz.Ele explica que um dos pontos-chave para que esse controle atinja um grau de excelência está justamente no planejamen-to: “O ponto de partida é a rea-lização de nosso planejamento plurianual, em que avaliamos quais as principais ações e con-seqüentes recursos necessários para curto, médio e longo pra-zo. Assim, a redução de perdas tem sido realizada de forma mais efi caz e com retornos mais efetivos. Podemos citar algumas práticas: em 2004 foram imple-mentadas as Ações Integradas de Combate às Perdas nos seto-res de abastecimento, voltadas ao combate de perdas reais e aparentes, envolvendo todos os departamentos da UN-ML. Todos focados num só objetivo. Vale ci-tar também a postura inovadora da UN-ML, que implementou o Método de Análise e Soluções de Problemas para Perdas –MASPP”, afi rma.Esse novo método, segundo Dante, possibilitou a mudança de conceitos: “O de Volume Dis-ponibilizado (VD = compra de água da área de produção) e o de Volume Utilizado (VU = venda de água aos clientes). Atualmente todos os empregados da Sabesp falam em redução das perdas e sabem o signifi cado do VD e VU. Hoje, a cultura está tão bem dis-seminada que o problema de re-dução das perdas de água é res-ponsabilidade de todas as áreas da UN-ML, e não mais apenas da Divisão de Controle de Perdas.

A gestão de controle de perdas enquadra-se totalmente na me-lhoria da qualidade da operação dos sistemas de abastecimento de água, na conseqüente melho-ria dos serviços prestados e na busca da excelência a cada ano. Em 2006, como parte das ações de melhoria do Programa de Perdas, as atividades de Pesqui-sa Acústica de Vazamento foram descentralizadas para os Pólos de Manutenção, bem como a leitura e acompanhamento do funcionamento das Válvulas Re-dutoras de Pressão (VRP) dentro de sua área de atuação. Em 2007 foram criadas metas de VD e VU, com responsáveis pelo setor de abastecimento, o que melhora o acompanhamento e a análise, tendo como foco principal os re-sultados planejados. No mesmo ano foi expandido o trabalho em alças de controle/distritos pito-métricos, que visam diminuir as vastas extensões de rede nos setores de abastecimento, propi-ciando uma melhor atuação de nossas equipes”, explica de for-ma direta.Fazer com que uma população carente e sem acesso à cultu-ra entenda a atual realidade do problema das perdas de água é também um fator determinante para ele: “A população na área de nossa atuação é formada por grandes núcleos carentes, con-domínios populares, ocupações desordenadas e irregulares, in-clusive em áreas de proteção de mananciais. A UN-ML possui o Programa de Participação Co-munitária - PPC, em que técnicos comunitários lotados nos nossos Escritórios Regionais asseguram maior proximidade e agilidade na identifi cação e atendimen-to às demandas e necessidades das comunidades. Para as áre-as de favela e caráter social, os técnicos comunitários verifi cam, visitam e acompanham as ne-cessidades dos clientes, realizam levantamento socioeconômico propondo uma tarifa diferencia-da ou condição de parcelamento

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O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, Superintendente da Unidade de Negócio

Leste da Sabesp (UN-ML)

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dentro de seu nível econômico. Fortalecem a dis-seminação do Programa do Uso Racional da Água, mostrando para a comunidade o uso adequado, a fi m de evitar o desperdício e, conseqüentemente, pagamento pelo consumo utilizado incorretamente. O programa “Eu vi um vazamento”, iniciado em 2004, é um sucesso e tornou-se prática com o envolvimen-to e comprometimento de todos. Cada funcionário é um fi scal de perdas, apontando vazamentos nos locais onde atua, reside e trafega, abrangendo assim toda a área da UN-ML. O programa “Ligação Irregu-lar: isso não é legal” foi uma campanha de incentivo criada em 2006, cujo objetivo também é incentivar os empregados a informar sobre possíveis fraudes na região, bem como contribuir para a redução das perdas de água. A criação do Time de Desenvolvi-mento Tecnológico tem ajudado na busca de tecno-logias modernas, sempre levando em conta a apli-cabilidade pela mão-de-obra própria e contratada. Enfrentar esse desafi o, junto com os funcionários de nossa unidade, tem sido muito gratifi cante, pois sabemos que nossa área é vasta e de baixa renda. Entretanto, a garra e a dedicação dos colaboradores têm nos levado a resultados muito animadores. O melhor exemplo é o envolvimento e participação do chamado “chão de fábrica”. Afi nal de contas, são eles que vão a campo diariamente e resolvem a maioria dos problemas, além de serem o elo com nossos clientes”, diz. Dante explica as ações realizadas que resultaram na excelente redução das perdas ocorrida em Salesópolis: “O Município de Salesópolis tem po-pulação de cerca de 16.500 habitantes, e é o muni-cípio onde nasce o Rio Tietê. A redução de perdas para menos de 100 litros/ligação/dia foi o grande desafi o colocado para todas as equipes envolvidas no projeto. O ponto de partida para o resultado de Salesópolis (76 litros/ligação/dia) foi a adoção de um coordenador de projeto que, juntamente com os colaboradores envolvidos, planejou, direcionou e acompanhou as seguintes ações: substituição de todos os hidrômetros que estavam com validade

vencida; localização de vazamentos com métodos de pesquisa acústica; conserto de vazamento com equipes de mão-de-obra própria; otimização das VRPs; testes de FCI (fator de condição da infra-es-trutura); participação, em 100% do município, dos técnicos em atendimento comercial externo (TACE), que ajudaram na identifi cação de fraudes e na ca-racterização da área. A aplicação dos conhecimen-tos obtidos com o MASPP foi de grande importân-cia”, explica.

PEQUENOS SETORESPara Dante, a criação de microssetores em Salesópolis possibilitou identifi car as vazões notur-nas de cada área, para acompanhar qualquer desvio e direcionar as ações de forma mais rápida e proati-va: ”Para evitar que as perdas voltem a índices altos, as equipes de engenharia e de manutenção acom-panham diariamente as vazões mínimas noturnas e a produção diária para que, observado qualquer valor fora das faixas de controle estabelecidas, providên-cias sejam tomadas imediatamente. Com todas as ações realizadas, há alguns meses concluímos que a produção de água pode parar seis horas por dia sem comprometer a qualidade e o abastecimento da água do município. Aumentar o número de áreas de controle é uma forma de estender os conhecimen-tos obtidos em Salesópolis e em outros projetos que também são desenvolvidos na UN Leste. Gostaria de citar, novamente, que o envolvimento das pessoas é fator de fundamental importância no combate às perdas”, enfatiza.Nesse sentido, Dante fala que a aplicação da ferra-menta MASPP na UN-ML foi o foco de conscientiza-ção para o controle de perdas. “O MASPP permitiu conhecer a fundo alguns dos principais processos da UN-ML, ou seja, operação e manutenção do sis-tema de água e comercialização. Seu êxito só foi possível graças à formação de times multidepar-tamentais compostos por pessoas das áreas ope-racional, de manutenção, fi nanceira, de recursos humanos, qualidade e comunicação, além da equi-pe da Divisão de Perdas.” Foram essas equipes que planejaram, desenvolveram e executaram os pa-drões: “Tais equipes tiveram direcionamento para o planejamento, desenvolvimento e execução de padrões de trabalho e instruções de todos os servi-ços que envolvessem as perdas de água. Durante o período de desenvolvimento da metodologia e sua aplicação, foram adotados três setores de abaste-cimento como pilotos (Itaquera, Jardim Popular e Salesópolis), antes da completa implantação na UN-ML. Nesse período foram propostas ações de melho-ria nos setores e controle dos processos, através de ferramentas da Qualidade que pudessem interferir diretamente nos indicadores da unidade. O foco do trabalho foi voltado a reduzir o Volume Distribuído –VD - e aumentar o Volume Utilizado – VU, com me-

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Crédito: Odair M. Faria

Desperdício de água e consumo incorreto intensificam as perdas

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tas correspondendo a cada pro-cesso. A metodologia propiciou melhorias nos controles dos processos principais do negócio, gerando benefícios diretos a to-dos os níveis da organização, do profi ssional que executa sua ati-vidade com o procedimento cor-reto, otimizado e padronizado, passando pelos níveis gerenciais que podem otimizar equipes de trabalho com absoluto domínio das características do seu negó-cio ou mercado, até a alta admi-nistração, para a tomada de de-cisão baseada em fatos e melhor detalhamento dos planejamen-tos empresariais”, explicou. “A continuidade se dá sempre atra-vés da utilização da ferramenta PDCA (Plan, Do, Check, Action) e de auditorias regularmente exe-cutadas. Benchmarkings e o en-volvimento de um número cada vez maior de colaboradores, fa-zem com que, freqüentemente,

novas ferramentas e tecnolo-gias sejam inseridas na execu-ção das atividades. Os sistemas SCORPION, SAMA, controle de VRPs e vazões mínimas noturnas, acompanhamento dos serviços de geofonamento, estabeleci-mento de metas e responsáveis por setor de abastecimento são alguns exemplos. Além disso, os controles têm sido aprimorados constantemente pelas equipes operacionais e gerenciais, de for-ma a analisar as ações de causa e efeito e os ganhos que cada uma teve. Hoje temos metas de VD e VU, acompanhadas diaria-mente, que possibilitam direcio-namento de recursos e decisões para evitar eventuais acrésci-mos nos volumes de perdas. Os treinamentos efetuados com a participação de nossa área de Recursos Humanos, juntamente com nossas equipes de Comuni-cação e Qualidade, empenhadas na disseminação das boas práti-cas, garantem a continuidade e aprimoramento do aprendizado obtido na época de aplicação da ferramenta MASPP, assim como a otimização das tarefas a serem executadas”, fala com segurança de quem domina o assunto. A rotina diária do trabalho é um dos principais fatores que de-monstram a continuidade das ações e dos aprimoramentos dos trabalhos desenvolvidos para a redução contínua de perdas da unidade: ”Resumindo: a busca constante de novas tecnologias, trabalho por processos e forte

envolvimento e participação de nossos colaboradores garantirão a continuidade dos trabalhos ini-ciados quando da implementa-ção do MASPP”, fi nalizou Dante.

MOTIVAÇÃO, ENVOLVIMENTO E TECNOLOGIAO Engenheiro Civil Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande (UN-RT), que tem sede na cidade de Lins e opera 83 municípios, acredita que a motivação e o envolvimento das pessoas nos trabalhos operacio-nais dos sistemas de distribuição de água são fundamentais para resultar em baixos índices de perdas: “Nós aqui na UN-RT, para termos sucesso no combate a perdas, precisamos desenvolver nossa atuação em 83 municípios. Desta forma, envolver pessoas no projeto é imprescindível, pois o Gestor de Perdas da Unidade não consegue fi scalizar presen-cialmente nem 10% das equipes atuantes. Assim, alcançar objeti-vos no programa é primeiramen-te convencer todos os gerentes operacionais e demais funcioná-rios de que o programa é indis-pensável. Hoje, 100% do nosso volume produzido é medidocom equipamentos eletromag-néticos interligados a sistemas informatizados e 70% de todo volume distribuído é medido e transmitido on-line a computa-dores que possibilitam o geren-ciamento das perdas. Por isso, trabalhar com profi ssionais qua-

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Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio

Baixo Tietê e Grande (UN-RT)

Irregularidades (fraudes) e hidrômetros modificados

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lifi cados é obrigatório”, esclare-ce. Ele coloca a motivação como um dos principais fatores para os bons resultados obtidos no combate às perdas na região de Lins: “Em primeiro lugar, sempre, equipes motivadas e comprome-tidas em obter resultados; em se-gundo, muita transpiração, mais do que inspiração, pois comba-ter perdas envolve um trabalho que precisa ter rotina diária, pesquisar e retirar vazamentos, aferir vazões mínimas noturnas, trocar hidrômetros, ou seja, é um ‘arroz com feijão’ que precisa ser feito todos os dias; em terceiro, persistência, pois muitas vezes você desenvolve várias ações e não obtém resultados, mas per-sistindo você descobre a causa, parte para a ação correta e re-solve o problema. Exemplo: na cidade de Monte Alto, desenvol-vemos ações como substituição de hidrômetros, troca de ramais e redes, mas as perdas só caí-ram signifi cativamente quando resolvemos instalar válvulas re-dutoras de pressão; em quarto, a tecnologia, que a cada dia traz soluções. Aqui, medir vazões mí-nimas noturnas na distribuição dos reservatórios e controla-las on-line nos computadores trou-xe um grande avanço na redu-ção de perdas reais”. Luiz Paulo cita esse controle on-line de perdas como o que pro-porcionou um dos melhores re-sultados registrados na sua área

de atuação: “Temos muitos siste-mas com perdas reais inferiores a 90 litros/ramal/dia. Trabalha-mos com mão-de-obra própria nas equipes de engenharia, pitometria, e trabalhamos com tercerizados nas pesquisas de vazamentos e instalação de ma-cromedidores”, fi naliza.

EM CAMPINASLina Cabral Adani, engenheira ci-vil e, nos últimos 13 anos, Geren-te de Controle de Perdas e Siste-mas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA), lista uma série de ações importantes que foram implementadas pela SA-NASA e que deram resultados ex-pressivos na redução de perdas, tanto reais quanto aparentes: “Foram muitas as ações para agi-lizar o controle de perdas, mas eu destaco a implantação de novos critérios para dimensionamento de hidrômetros, a realização de manutenção Preditiva e Preven-tiva de hidrômetros, a utilização de hidrômetros velocimétricos ø ¾”, Qn 0,75 m³/h, a utilização de hidrômetros velocimétricos classe C nas ligações com ø ≥ 1” e as ligações de água (60%) no padrão com caixa de proteção lacrada, instaladas nos muros dos imóveis”, afi rma. Ela também destaca as Estruturas Reduto-ras de Pressão, com a instalação maciça e formação de equipes qualifi cadas para o monitora-mento e manutenção, monitora-mento permanente de pressões em pontos críticos, para controle efetivo dos volumes de entrada de água nos setores de abaste-cimento, através de válvulas de controle (normalmente redu-toras de pressão) e/ou bombas com inversores de freqüência.Lina ainda esclarece que a sus-tentabilidade do programa de redução de perdas requer ações implantadas paralelamente, de forma contínua e permanente: “Micromedição, macromedição, sistemas informatizados em tempo real (telemetria e teleco-mando) e banco de dados his-

tóricos (CPD), cadastro técnico e geoprocessamento, setorização (isolamento de áreas), controle/redução de pressões, manuten-ção e controle do tempo para eliminar o vazamento em tubu-lações, controle de nível com recuperação de vazamento em reservatórios e unidades opera-cionais, detecção e conserto de vazamentos não-visíveis, subs-tituição de redes e ramais fadi-gados, ensaio de estanqueidade para recebimento de redes no-vas, teste de recebimento de re-des novas e pesquisa e detecção para eliminação de fraudes”. Além disso, Lina defende uma gestão do sistema distribuidor, que possibilite a detecção dos problemas e a execução das a-ções corretivas/preventivas/pre-ditivas no menor tempo e cus-to, bem como o treinamento constante dos funcionários en-volvidos (formação acadêmica, cursos, palestras, eventos, visitas técnicas etc.). Lina esclarece que a preocupa-ção da empresa com o sistema de macromedição é permanen-te: “A SANASA possui uma políti-

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Lina Cabral Adani, Gerente de Controle de

Perdas e Sistemas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA)

Macromedidor

Pesquisa de vazamentos

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ca de macromedição permanen-te de todos os volumes de água bruta captados, tratados, aduzi-dos, armazenados e distribuídos. Também são contemplados os setores de medição (distritos pi-tométricos), já atingindo quase sua totalidade. A macromedição é obrigatória para todas as novas obras”.Os equipamentos utilizados são de última geração, dos tipos eletromagnético e ultrassônico, selecionados adequadamente para cada fi nalidade, sendo tam-bém utilizados para setores de medição os do tipo Woltmann, por não necessitarem de energia elétrica e pelo custo menor.A confi abilidade dos volumes apurados envolve a especifi ca-ção técnica criteriosa na fase de aquisição, o projeto, a instalação e a manutenção, adequada ao equipamento e ao grau de im-portância do ponto de medição monitorado. Mensalmente são avaliados os dados apurados e só depois divulgados; nesta fase o macromedidor é diagnosticado e, se necessário, conferido atra-vés de outro medidor portátil, podendo ser substituído. “Para as medições mais importantes, que são volumes produzidos, possu-ímos redundância nas medições e podemos garantir a confi abili-dade dos mesmos”, garante Lina.

GESTÃO DO PROGRAMA DE REDUÇÃO DE PERDASEla faz questão de explicar como é a gestão do Programa de Re-

dução de Perdas na SANASA: “O Programa de Redução de Per-das tem gestão centralizada na Gerência de Controle de Perdas e Sistemas, na Diretoria Técnica, e as ações descentralizadas que permeiam pelas demais áreas: Comercial, Financeira, Adminis-trativa, Recursos Humanos. Isso só foi possível com a integração das atividades e a união dos funcionários, que proporciona-ram um programa sustentável e com resultados relevantes para garantia do atendimento das de-mandas atuais, mesmo em épo-cas críticas de estiagem e uma população de mais de 1.000.000 de habitantes.”A Gerência de Controle de Per-das e Sistemas possui dotação orçamentária aprovada anual-mente e conta com as parcelas das demais gerências quanto às ações voltadas à redução de per-das: “Pelo Planejamento Estraté-gico, o Programa de Redução de Perdas, baseado no diagnóstico dos setores, visa o atendimento das demandas atuais e futuras, a redução do custo operacional e o equilíbrio fi nanceiro do pro-duto água.”Lina explica também qual o “ín-dice econômico de perdas” de Campinas: “O índice de perdas na distribuição em 2006 foi 25,8%. Esse valor garantiu a demanda requerida até no período de es-tiagem, permitiu o crescimento demográfi co como também o crescimento econômico do mu-nicípio, sem restrição da quanti-dade e qualidade da água, além de atender à outorga DAEE: De-partamento de Águas e Energia Elétrica. O procedimento que vem sendo adotado prevê a re-dução das perdas para no máxi-mo 25,8% nos setores em que se verifi cam valores maiores, desde que o investimento fi nanceiro se torne viável quanto à relação custo x benefício e tempo de re-torno”Para fi nalizar, Lina aponta: “A ges-tão das perdas tem por objetivo alcançar o índice de perdas que

proporcione o equilíbrio fi nan-ceiro do produto água, para se tornar auto-sustentável mesmo com adoção de tarifas subsidia-das nas categorias Ligações Cole-tiva e Social; esse valor para 2006 seria de 21,7%, já alcançado em vários setores de medição”.

VISÃO DA UNIVERSIDADEEdevar Luvizotto Junior, enge-nheiro civil e professor da Fa-culdade de Engenharia Civil da Unicamp, no Departamento de Recursos Hídricos, é responsável pelos Laboratórios de Hidrotrô-nica e Hidráulica Computacional da FEC-Unicamp e uma autori-dade para falar sobre as linhas de pesquisa que estão sendo de-senvolvidas na Unicamp com re-lação às perdas reais e aparentes em sistemas de abastecimento de água. E fala com prazer sobre aquilo que mais gosta de fazer: “Tenho na Unicamp uma linha de investigação chamada de Con-trole e Gestão Operacional de Sistemas de Abastecimento de Água, na qual investigo o tema das perdas e outros relacionados ao abastecimento de água. No caso particular das perdas, tenho dedicado maior atenção às per-das reais, em particular, investi-gando modelos que auxiliem na detecção de vazamentos. Não penso nestes modelos como substitutos para as técnicas usu-ais de detecção por ruídos (ge-ofones, correlacionadores, etc), mas como um aliado, guiando as campanhas de campo, dando pistas sobre locais de vazamen-to. Como se sabe, as técnicas usuais são morosas, uma vez que o sistema de distribuição tem que ser efetivamente percorrido. Além do mais, exigem equipes altamente qualifi cadas e podem produzir transtornos indesejá-veis no trânsito”, afi rma.Após fazer o pós-doutorado na Escola Politécnica de Valência, Espanha, Edevar retornou ao Brasil com o esboço do modelo de detecção de fugas. “Um dos meus alunos de mestrado se in-

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Edevar Luvizotto Junior, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp,

no Departamento de Recursos Hídricos

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teressou pelo tema e fez vários testes de validação do modelo, apresentados em sua dissertação de mestrado. Um aluno de dou-torado desenvolveu um modelo de calibração de redes baseado na técnica. Também empregou situações hipotéticas para valida-ção do modelo. Uma dissertação de mestrado foi desenvolvida por outro orientado. Ele aplicou o modelo a um setor de abas-tecimento de um sistema real, obtendo resultados satisfatórios. Tenho uma aluna que concluiu o mestrado com o desenvolvi-mento teórico de um modelo de detecção de fugas por pulso de alta freqüência e que continua a investigação, agora prática, em seu doutorado. Além destas pro-duções específi cas sobre o tema das fugas, trabalho em minha linha de investigação com mo-delos de simulação em regime transitório, modelos de auditoria energética de estações elevató-rias e modelos de qualidade de água”, explica.Edevar fala que as dissertações e teses defendidas na Unicamp estão disponíveis em sua biblio-teca: “Na atualidade todas as dissertações e teses estão sen-do convertidas para o formato eletrônico e disponibilizadas via internet. Basta entrar no site da Unicamp (www.unicamp.br) e procurar pela biblioteca, onde será obtida a forma de acesso ao acervo digital”.

QUALIDADE DAS INFORMA-ÇÕES E CALIBRAÇÃOContinuando sua explicação, Edevar fala sobre os dados para a aplicação do modelo de simu-lação-otimização na gestão de perda de água em regime per-manente e transitório: “Como todo o modelo de simulação dessa natureza, parte-se de in-formações cadastrais como: comprimento, diâmetro, exten-são, material, idade e estado das tubulações. É importante o conhecimento das interligações e de informações topográfi cas

destas interligações (localização em planta e cotas de nível), além da localização e quantifi cação dos pontos de consumo (e es-tatística da variação temporal). São necessários dados dos com-ponentes do sistema, tais como as características operacionais de bombas, válvulas e reserva-tórios, além das regras de opera-ção, caso a modelação ocorra em período extensivo ou em regime transitório. A partir do levanta-mento de dados passa-se à eta-pa de calibração/detecção. Esta etapa é precedida pelo que se chama de defi nição da matriz de sensibilidade do sistema, basica-

mente a determinação das me-lhores localizações dos sensores de pressão e vazão e do número adequado destes sensores para a varredura de uma determina-da área (isto é feito através de modelação). Defi nido o núme-ro, a localização e instalados os sensores, estes irão fornecer as informações de carga e vazão que o modelo deverá reprodu-zir. Isto só será atingido com a calibração do modelo e com a localização dos pontos de vaza-mento. Quanto maior a quan-tidade de informações obtidas dos sensores melhor será guiado o modelo de busca. A idéia de se

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Fontes: - Waterloss, 2005; - Tokyo Waterworks Bureau; - Saitama City Waterworks Bureau; - Waterworks and Sewarage Bureau of Nagoya City

Fonte: SNIS, 2005

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aplicar a técnica em regime transitório, ou em perí-odo extensivo, é acompanhar a evolução temporal das medidas nos sensores, conseguindo assim um conjunto de informações com um menor conjunto de sensores. A técnica que tenho empregado nessa etapa, em que se busca que o simulador represente os resultados de campo, é baseada no Multi-Simplex (chamo de Nelder-Mead em homenagem aos seus pioneiros), algoritmos genéticos ou num híbrido destes algoritmos”, explica.

APLICAÇÃOEm tese tudo tem que estar em perfeito funciona-mento, mas a aplicação em casos reais esbarra na difi culdade de obtenção das informações corretas para a modelação e na cooperação dos serviços de saneamento para a aplicação do modelo.“O teste que fi zemos com o modelo foi um suces-so. Ele foi aplicado a um setor de abastecimento da cidade de Jundiaí, que tinha rede em tubos de PVC recentemente instalada, parque de hidrômetros no-vos, de característica predominantemente residen-cial e com índice de perdas baixíssimo. Com cadas-tro confi ável e informação de medição adequada, foi feita uma campanha noturna (já que aplicamos um modelo de regime permanente) com três datalog-gers medindo pressão e um medidor de vazão para a fuga que foi criada no setor. Essa fuga foi detecta-da com sucesso. A questão sobre se há viabilidade para a aplicação da técnica é bastante interessante e de certa forma é um exercício de previsão de futu-ro. Quando apresentei este modelo na Espanha, em 2002, fui convidado pelo coordenador de projetos de um organismo de planejamento suíço a trabalhar no desenvolvimento de um sistema de detecção de fugas com eles (por motivos acadêmicos não pude ir). O fato é que o projeto piloto na cidade de Mar-tigny, envolvia uma empresa que estava desenvol-vendo um sensor que media vazão, pressão e ruído num mesmo corpo (estavam com problemas com a medição de ruídos), um provedor de Internet a cabo, a empresa de saneamento e o instituto de pesqui-sa (com pesquisadores de toda a Europa). Eles me forneceram uma senha de acesso e, por dois meses, tive informações on-line de todo o sistema, além de mapas georreferenciados da rede, justamente como está disponível a cada cidadão daquela cidade. Isso pode parecer um sonho, mas é uma realidade. Via-bilidade há, se houver o desejo e se essa for a prio-ridade. Num pais com defi ciências em saneamento básico como o nosso, tudo deve ser feito com muito planejamento”, fala.

DESENVOLVIMENTOSEdevar explica que a Unicamp tem desenvolvido no-vos trabalhos em relação ao programa de controle de perdas em sistemas de abastecimento público

de água. “Atualmente oriento um trabalho de dou-torado que pretende detectar fugas em tubulações através de pulsos pressão de alta freqüência e baixa intensidade (que poderão ser aplicados em aduto-ras ou redes). Os resultados teóricos foram surpreen-dentes e a expectativa é de que possa substituir os correlacionadores acústicos na detecção de fugas. A difi culdade está no desenvolvimento do disposi-tivo para produção desses pulsos de alta freqüência, para que possam ser instalados sem produzir inter-ferências signifi cativas no sistema. As análises dos pulsos de alta freqüência são em regime transitório e toda a teoria já foi desenvolvida como dissertação de mestrado”. “Em particular não tenho trabalhado com perdas em reservatórios e em estações elevatórias. No caso de estações elevatórias, desenvolvemos um modelo para aplicação em estações com bombas de rota-ções variáveis visando a otimização operacional (ní-veis de pressão) e a redução de custos (tese de dou-toramento recentemente defendida)”, relata Edevar.

LABORATÓRIO DE HIDROTRÔNICAEdevar explica que procura orientar seus alunos para o foco da modelagem: ”Por vocação pessoal traba-lho com a modelagem e oriento meus alunos den-tro desta linha. Entretanto, acredito que a formação do engenheiro que trabalha com o tema das perdas ou com os problemas relacionados com o abasteci-mento em geral deva ser melhorada. Em 2002, em conjunto com outros dois colegas, que não estão mais comigo, concluímos o que chamamos de Labo-ratório de Hidrotrônica. Neste laboratório, dispomos de 1500 m de tubulação em polietileno e cobre (por facilidade da confi guração em espiral), que podem ser confi gurados a partir de trechos de 100 m, em diversas topologias de rede. Nos nós de conexão es-tão instalados sensores de pressão. O módulo possui dois medidores de vazão, duas bombas que permi-tem confi guração em série ou paralelo, um vaso de pressão, três válvulas automáticas de controle e 15 manuais, e uma bomba dotada de inversor de fre-qüência. Tudo isso na forma semelhante a um proto-board empregado para testes de circuitos eletrôni-cos. O sistema é controlado por um sistema Scada que faz a operação dos equipamentos (bombas, vál-vulas, inversor e compressor que alimenta o vaso de pressão) e a aquisição de dados (vazão e pressão). O laboratório foi a forma que encontramos de colocar nossos alunos em contato com as tecnologias em-pregadas nas mais modernas empresas de abasteci-mento de água, além de fornecer comprovação aos nossos modelos. É importante o aluno observar na prática que determinadas manobras por eles provo-cadas levam o sistema a esforços extremos, que po-dem ser os protagonistas de rupturas em tubulações e juntas”, conclui.

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“Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados”

ENTREVISTA

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Ernani Ciríaco de Miranda, Engenheiro Civil, Mestre em Tecnologia Ambiental e recursos hídricos pela Universidade de Brasília, tem 20 anos de formação e experiência profissional em saneamento básico, com atuação na área de consultoria em projetos de sistemas de abas-tecimento de água e de esgotamento sanitário por dez anos em empresas como Belba Enge-nheiros Consultores, Leme Engenharia e Enge-solo Engenharia.Diretor Técnico da Emasa - Empresa Munici-pal de Água e Saneamento de Itabuna/BA, no período de 1993 a 1996. Membro da equipe técnica do Programa de Modernização do Se-tor Saneamento (PMSS) desde 1997, atuando como Coordenador do Programa desde 2003. O PMSS é um Programa da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades.

Para se determinar o volume perdido nos siste-mas de abastecimento de água, o volume ma-cromedido é a referência principal. Como está o índice de macromedição na maioria das compa-nhias de saneamento brasileiras? Quando é me-dido, pode-se dizer que é bem medido? Ernani - São referências principais os volumes ma-cro e também os micromedidos. No Brasil há exem-plos de diversas situações: níveis de macromedição elevados, médios e baixos, com uma precisão que pode ser boa, média e baixa nos três casos. A grande heterogeneidade que existe na prestação dos ser-viços de abastecimento de água no Brasil, seja em função do porte dos prestadores e seus sistemas, seja em função do nível de evolução técnico-opera-cional e institucional, difi culta a adoção de valores médios em uma análise desta natureza. No entanto, há um senso comum, sobretudo entre profi ssionais de maior experiência, de que infelizmente é maior a quantidade de casos de baixa macromedição e tam-bém de baixo nível de precisão.O SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Sa-neamento, administrado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, no âmbito do Programa de Modernização do Setor Sa-neamento PMSS, publica anualmente informa-

ções sobre a prestação de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, desde o ano base de 1995. Segundo a última atualização, com dados do ano base de 2005, o índice médio de macromedi-ção no Brasil é de 77% do volume de água produzi-do. Neste mesmo ano foram muitos os prestadores de serviços cujos dados informados resultaram em 100% de macromedição e muitos também resulta-ram em 0,00%.Outro fator importante a considerar é que no caso das companhias estaduais, que operam quase 4.000 municípios com água, o indicador médio de cada uma pode não refl etir a realidade dos municípios operados, pois havendo bom nível de macromedi-ção nos municípios maiores, estes impactam positi-vamente o indicador médio, podendo não refl etir a realidade dos municípios menores.

E o índice de hidrometração, como se encontra hoje no Brasil? Os intervalos de troca são regu-lares? Há avaliações de submedição média? Há disparidades regionais signifi cativas no índice de hidrometração ou na gestão do parque de hi-drômetros? Ernani - No caso da hidrometração, a situação é si-milar. Cabe, no entanto, esclarecer que os conceitos para indicador de hidrometração e indicador de micromedição são diferentes. Enquanto o primeiro refl ete a quantidade de ligações de água que têm hidrômetro, o segundo refl ete o volume de água consumido que é medido. Um alto índice de hidro-metração pode não corresponder a um também elevado índice de micromedição, pois podem exis-tir hidrômetros que não estão com funcionamento regular. Segundo o SNIS 2005, enquanto o índice médio de hidrometração no Brasil é de 88%, o de micromeção é de 47%, em ambos também variando de 0,00 a 100% para os prestadores de serviços da amostra em todo o Brasil. O problema da submedi-ção é grave no país, sobretudo em decorrência do

Fotos Ernani Ciríaco: Divulgação

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uso disseminado de caixas d’água e pelo padrão de hidrômetros adotados (no maioria dos casos, de clas-se B). Nos EUA e países da Europa não são utilizadas caixas d’água. Também cabe dizer que no mercado há hidrômetros de classe superior que permitem trabalhar com baixos níveis de submedição, mas o custo destes hidrômetros é ainda elevado para os padrões brasileiros. O SNIS não possui dados que permitam calcular o nível de submedição. Sabe-se, no entanto, pelo conhecimento da realidade do país que os níveis são altos, podendo chegar em muitos casos a mais de 30% do volume consumido.

Qual a visão do Ministério das Cidades/PMSS sobre o problema de perdas nas companhias de saneamento brasileiras, tanto as estaduais quanto as municipais? Qual é o valor médio bra-sileiro, segundo os dados que vocês dispõem no SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento? Comparando com outros países em desenvolvimento, como estamos? Há metas estabelecidas, ou sugeridas, pelo Ministério das Cidades? Ernani - O Ministério das Cidades entende que os níveis de perdas no Brasil são muito elevados e há bastante espaço para melhoria. Uma estimativa sim-plifi cada do que representam as perdas de águas nos sistemas brasileiros, em termos fi nanceiros, indi-ca que elas correspondem a cerca de R$ 2,5 bilhões/ano. Ora, se o país precisa de R$ 10 bilhões/ano, nos próximos 20 anos, para alcançar a universalização dos serviços de água e esgotos, então o valor das perdas é muito alto e representa um enorme pre-juízo para a economia brasileira. Infelizmente a so-ciedade brasileira sequer tem condições de avaliar a gravidade deste fato, pois a regulação praticamente inexiste, muito menos o controle social. Penso que o problema somente será equacionado quando adquirir dimensão nacional e estiver ao alcance da compreensão da sociedade brasileira.Segundo o SNIS 2005, a média nacional do índice de perdas de faturamento é de 39%, com médias regionais de 59% no Norte (maior valor médio) e de

30,9% no Sudeste (menor valor médio). Nos serviços municipais, em 2005, os valores médios nacionais são um pouco maiores que nas cias. estaduais, ou seja, 39,9% para os primeiros e 38,7% para as segun-das. No estado de São Paulo a média é de 35,5%, en-quanto que a média da SABESP é de 34,2%. O menor valor médio de cia. estadual é da COPASA/MG, igual a 22,9%. Nos serviços municipais, retirando os valo-res abaixo de 10%, que podem estar inconsistentes, o menor índice é do município de Colorado/PR, exa-tamente igual a 10%.Especialistas do setor costumam estabelecer como bons índices de perdas de faturamento no Brasil, valores da ordem de 20 a 25%. O Ministério não tem metas estabelecidas, mesmo porque não tem competência para tal. As metas de desempenho, em qualquer área da prestação dos serviços de sa-neamento, devem ser estabelecidas pelo titular dos serviços, defi nidas nos respectivos planos de saneamento e registradas nos contratos de presta-ção, sejam de concessão ou de programa. O Minis-tério das Cidades estipula, entretanto, nos Acordos de Melhoria de Desempenho (AMDs), instrumento obrigatório de acompanhamento do desempenho dos prestadores de serviços que utilizam recursos federais, metas de melhoria nos índices de perdas de água. Além disso, estabelece a seguinte classifi ca-ção para os índices de perdas de faturamento: nívelA: <= 25%; nível B: entre 25 e 40%; nível C: >= 40%.

A questão dos indicadores de perdas foi muito discutida recentemente no mundo todo, susci-tada pela IWA (International Water Association). Como essa discussão foi absorvida pelo Ministé-rio das Cidades no acompanhamento dos núme-ros nacionais? Enfi m, é possível padronizar em todo o mundo, e no Brasil, o entendimento do que são perdas em sistemas de abastecimento de água? Ernani - Acredito que se possa obter uma padroni-zação mais confi ável em todo o mundo no caso de indicadores avançados, que levem em conta fatores de homogeinização tais como a escala (quantidade de ligações e a extensão de redes e ramais) e a pres-são de operação das redes, bem como considerem a avaliação das perdas reais separadas das perdas aparentes. Para indicadores de nível básico (como o índice de perdas de faturamento, em percentual, largamente utilizado no Brasil e no mundo) ou de nível intermediário (volume perdido por ligação, por exemplo, que vem sendo mais utilizado), creio que a padronização é mais difícil, merecendo muita caute-la na comparação de desempenho, devido a fatores como: diferentes conceitos e critérios de contabili-zação e de faturamento da água, existência ou não de contabilização individual no caso de prédios com duas ou mais moradias, posição do hidrômetro em

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Fotos: Divulgação Sabesp

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relação à divisa frontal do lote, uso ou não de caixas d’água do-miciliares, diferentes conceitos do que sejam perdas reais e apa-rentes, dentre outros fatores.O SNIS vem promovendo uma padronização de indicadores de desempenho para serviços de água e esgotos que é anterior ao Manual da IWA, já que o Glos-sário de Termos e Fórmulas do SNIS foi publicado pela primeira vez em 1996 e, desde então, vem sendo publicado regularmente todo ano, sempre com alguma revisão ou atualização. Por sua vez, o PNCDA - Programa Nacio-nal de Combate ao Desperdício de Água, também da Secretaria Nacional de Saneamento Am-biental do Ministério das Cida-des, possui um Documento Téc-nico de Apoio com proposta de padronização de indicadores de perdas. Há também publicações e estudos acadêmicos no Brasil, sobre o tema. Entretanto, o ní-vel de profundidade com que o tema das perdas de água tem sido tratado pela IWA é hoje in-

dutor dos técnicos do setor no que diz respeito à avaliação de desempenho neste campo. As-sim, o Ministério das Cidades apóia a idéia e pode liderar, via PMSS, uma grande discussão no país visando a padronização dos indicadores, que tenha por refe-rência as experiências nacionais e os estudos da IWA.

Está sufi cientemente clara a diferença de conceitos entre “águas não-faturadas” e “per-das” nas companhias de sanea-mento do Brasil? Os conceitos da IWA estão sendo adotados pelo Ministério das Cidades? Ernani - Creio que os conceitos citados não estão sufi ciente-mente claros para a maioria dos técnicos e dirigentes do setor sa-neamento no Brasil, e nem para a população, imprensa, meio acadêmico, e responsáveis pelas políticas públicas do setor sanea-mento nos níveis federal, estadu-ais e municipais. É preciso avan-çar muito ainda na compreensão e consolidação de conceitos mais

atuais e modernos. O Ministério das Cidades, tanto no SNIS quan-to no AMD, supracitados, adota conceitos similares aos da IWA, com alguma adaptação para a realidade brasileira, limitados aos indicadores de nível básico, haja vista que sua atuação é nacional e deve procurar o maior alcance possível, fato que só é possível com esses indicadores de nível básico.

Quais as maiores difi culdades enfrentadas pelo Ministério das Cidades na coleta dos da-dos e informações sobre per-das para compor o relatório do SNIS? Ernani - As maiores difi culdades referem-se à falta de informa-ções atualizadas e consistidas re-gularmente na rotina operacio-nal dos prestadores de serviços, sobretudo separadas para cada município operado. Embora os prestadores de serviços venham adquirindo com o tempo uma expressiva melhoria na qualida-de das informações fornecidas

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ao SNIS, cabendo registrar que esta melhoria é decorrência na-tural da série histórica de dados, que já possui 11 anos, cabe regis-trar também como difi culdade a existência ainda de muitos casos de inconsistência nos dados, se-jam de prestadores de serviços regionais (companhias estadu-ais), sejam microrregionais ou lo-cais. Este fator é uma conseqüên-cia natural da raiz dos problemas de desempenho dos serviços de água do país, qual seja, a quali-dade insatisfatória da gestão dos serviços.

Em que medida os números do SNIS contribuem para se ter um diagnóstico dos problemas de perdas no país? O que é possí-vel melhorar para o aperfeiço-amento desse diagnóstico? Ernani - Os dados do SNIS são o que há de melhor para se ava-liar a evolução histórica, o nível de desempenho, os principais problemas e as perspectivas de avanço dos serviços de água e esgotos no Brasil, incluindo re-lativos ao tema perdas de água. São poucos os países do mundo que têm um sistema tão robusto, com a qualidade e a estabilidade do SNIS. É possível realizar aná-lises do interesse dos diversos agentes com atuação no setor saneamento brasileiro: os pró-prios prestadores de serviços, auto-avaliando a sua performan-ce e evolução histórica e se com-parando com a amostra presente no sistema; os dirigentes do po-der executivo, donos dos pres-tadores de serviços, que podem se utilizar dos dados para avaliar resultados; a imprensa e a so-ciedade organizada que podem acessar a base de dados e verifi -car o comportamento do setor; os agentes reguladores que têm no SNIS uma boa referência para as suas atividades regulatórias e de fi scalização; os governos fe-deral, estaduais e municipais que

podem também se apropriar dos dados para a formulação de polí-ticas e programas de governo.O aperfeiçoamento do SNIS e seus diagnósticos, sempre gradu-al e contínuo, é um dos princípios do Sistema. Creio que a melhoria mais importante, que se está bus-cando alcançar na atualização do SNIS do ano base 2006, cuja fase de coleta dos dados está sendo fi nalizada, diz respeito à obten-ção dos dados desagregados de todos os municípios atendidos pelos prestadores de serviços presentes na amostra. Também é fundamental a institucionaliza-ção do sistema de informações nos termos da lei de saneamento 11.445/2007. Especifi camente, em relação à questão das perdas de água creio que se deva pro-mover um processo de discussão em todo o país, já citada ante-riormente, para promover um melhor entendimento, a máxima padronização e um passo a mais nos indicadores de nível inter-mediário e talvez avançado.

A expansão desordenada dascidades e a existência de gran-des áreas de favelas são pro-blemas para a gestão opera-cional dos sistemas de abaste-cimento de água nos grandes municípios brasileiros e re-giões metropolitanas. Como isso impacta nas perdas? Ernani - O problema impacta nas perdas na medida em que o prestador de serviços, por fatores sobre os quais não tem controle, deixa de aplicar as melhores téc-nicas de controle operacional nestas áreas, contribuindo para o aumento das perdas.A solução seria trabalhar de for-ma integrada e articulada todas as atividades que compõem a gestão dos serviços, quais se-jam o planejamento, a regula-ção e fi scalização, a prestação dos serviços e o controle social. Destaco como fundamental a

importância dos planos para contribuir no equacionamento deste problema. Cabe também chamar a atenção para o risco dos prestadores de serviços se acomodarem ou até mesmo fa-zerem uso desta situação para justifi car perdas elevadas, acima das aceitáveis. Portanto, trata-se de uma situação real, que acon-tece em muitas cidades brasilei-ras, que deve ser considerada na avaliação das perdas, mas que deve ser tratada com técnicas e metodologias que permitam um controle operacional mínimo aceitável.

A impressão que dá é que todo mundo sabe o que fazer para combater as perdas, tanto re-ais quanto aparentes. Mas todo mundo faz bem feito (como)? Persegue-se efetivamente o resultado de longo prazo, ou seja, combatem-se as causas primárias das perdas, identi-fi cadas após um diagnóstico criterioso? Em que medida há um exagerado nível de enxu-gar gelo no combate às perdas no Brasil? Ernani - Talvez esta devesse ser a primeira pergunta. Do ponto de vista técnico e tecnológico, os prestadores de serviços sabem o que fazer. Há casos em que são necessárias algumas atua-lizações e avanços, mas que se conseguem com facilidade neste campo. A raiz do problema, como já citei antes, está na gestão inte-grada dos serviços. É preciso que o prestador de serviços avan-ce na gestão, em muitos casos precisa mesmo aprender a fazer a gestão, que torne o gerencia-mento das perdas uma atividade de rotina, sustentável, e não uma ação esporádica, que se faz de vez em quando, em campanhas ou programas específi cos. O problema não é somente de engenharia, mas também de re-cursos humanos, de comunica-

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ção, de contabilidade, de contro-les fi nanceiros, de planejamento, de mobilização social, de educa-ção e cultura, enfi m de todas as áreas e agentes.Além disso, é também um grave problema da economia nacional, que a sociedade brasileira não sabe a dimensão e por isso não consegue perceber a gravidade. Só quando tratado desta forma é que haverá uma solução defi niti-va e sustentável.

No Ministério das Cidades há projetos de capacitação dos técnicos da área de saneamen-to para a questão das perdas? Ernani - Em parceria com o Procel/Eletrobrás e a ABES, fi ze-mos uma extensiva programação de capacitação para o gerencia-mento das perdas de água nos anos de 2005 e 2006, com mais de 30 cursos realizados. Também o PNCDA possui uma linha especí-fi ca para capacitação nesta área, que no momento está concen-trada à capacitação em distância, realizada neste ano em parceria com o IBAM, com cerca de 500 técnicos inscritos. Este curso será feito também no próximo ano.O PMSS desenvolve atualmente o Projeto Com+Água, em dez municípios brasileiros, três ope-rados por cia. estadual e sete por serviços municipais, que aplica uma metodologia inovadora no gerenciamento integrado das perdas, que além de técnicas e tecnologias atuais e modernas, possui um forte componente na área de mobilização social e comunicação. Trata-se do desen-volvimento de uma metodologia com enorme capacidade de re-plicação em sistemas brasileiros. A essência do Projeto é exata-mente a capacitação dos técni-cos e dirigentes, seja em cursos de sala de aula, seja no próprio desenvolvimento das atividades

do Projeto, a chamada capacita-ção em processo.Além disso, o Ministério das Ci-dades criou e está implemen-tando em parceria com diversos ministérios e órgãos do governo federal, universidades, entidades do setor, instituições da socieda-de brasileira, prestadores de ser-viços, Sistema S, etc., a ReCESA -Rede de Capacitação e Exten-são Tecnológica em Saneamen-to Ambiental, a mais inovadora experiência em capacitação do setor saneamento que reúne a inteligência no setor a serviço da capacitação de técnicos e profi s-sionais do setor. Diversos cursos já estão em andamento, inclusive no tema do gerenciamento das perdas de água. Nossa expecta-

tiva é que, com a consolidação da ReCESA, a mesma atue na certifi -cação de profi ssionais em sanea-mento. Detalhes sobre a ReCESA e a extensa grade de cursos po-dem ser vistos no site do PMSS: www.cidades.pmss.gov.br.

Que avanços tecnológicos (ma-teriais, equipamentos, proces-sos) já disponíveis você consi-dera os mais importantes para um efi caz combate às perdas? Ernani - Creio que do ponto de vista dos materiais e equipamen-tos, o que há de mais importan-te são aqueles que facilitam e imprimem qualidade aos con-troles operacionais, por meio de telemetria, automações, pesqui-sas de vazamentos, controle de pressão com comando automá-tico, sistemas computacionais sofi sticados de mais fácil acesso, dentre outros.É importante destacar, no en-tanto, que os mais importantes avanços dizem respeito aos pro-cessos, sobretudo em metodo-logias também de fácil acesso, para balanço hídrico, softwares de modelagem hidráulica, sis-temas de informações georrefe-renciadas, dentre outros. Penso também que, com os resultados que se vislumbram, o Projeto Com+Água representará um marco na gestão das perdas de água, trazendo para o setor uma metodologia de gerenciamento integrado fundamental à susten-tabilidade das ações.

Existe algum instrumento legal ou normativo do Ministério das Cidades exigindo, solicitando ou induzindo a implantação de um programa contínuo de perdas pelas empresas de sa-neamento do Brasil, especial-mente em áreas com défi cits de recursos hídricos? Como

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“O problema não é somente de

engenharia, mas também de

recursos humanos, de comunicação, de contabilidade,

de controles financeiros, de

planejamento, de mobilização

social, de educação e cultura, enfim,

de todas as áreas e agentes”

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você avalia a Lei 11.445/2007 a respeito desse tema? Ernani - Como citado anterior-mente um dos instrumentos é o AMD, obrigatório para todos os prestadores de serviços que uti-lizam recursos do Governo fede-ral para investimentos. Também, dentre os critérios para seleção de projetos do Saneamento para Todos (programa de inves-timentos com recursos do FGTS), alguns deles estabelecem que, para patamares elevados de per-das, não são aceitáveis projetos de ampliação da produção de água, ou seja, primeiro é preciso reduzir perdas para depois au-mentar o volume de água que se retira dos corpos hídricos.Os manuais dos programas de investimentos também estimu-lam a apresentação de projetos de desenvolvimento institucio-nal e operacional, havendo um componente específi co no Pro-grama Saneamento para Todos para ações de redução e controle de perdas. O Ministério das Cida-des possui também o PMSS, um Programa de assistência técnica voltado para a estruturação da gestão e a revitalização de pres-tadores de serviços, com forte atuação em projetos de geren-ciamento integrado das perdas de água.A lei de saneamento 11.445/2007 estabelece a obrigatoriedade de

planos, de instrumentos e de ins-tância regulatória e de fi scaliza-ção, bem como o controle social dos serviços de saneamento. Tais instrumentos são fundamentais para a melhoria da gestão, com conseqüente impacto positivo direto nas perdas de água. A lei também estabelece que os serviços devem ter assegurada a sustentabilidade técnica e eco-nômico-fi nanceira, situação esta somente possível com um bom nível de desempenho no geren-ciamento das perdas.

Há outras linhas de fi nancia-mento federais para perdas, que não as tradicionais da Cai-xa Econômica Federal?Ernani - Os programas de inves-timentos do Governo Federal para o setor saneamento estão inseridos no PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, que para o setor saneamento prevê R$ 40 bilhões de investimentos nos próximos 4 anos. Os recursos são oriundos do Or-çamento Geral da União (não onerosos) e de fi nanciamento com recursos do FGTS (via CAIXA) ou do FAT (via BNDES). Em todos os componentes do PAC/Sanea-mento os benefi ciários -gover-nos de estados e de municípios ou prestadores de serviços- po-dem apresentar projetos para a melhoria do gerenciamento das perdas de água.

Você poderia citar experiên-cias bem sucedidas de municí-pios ou companhias de sanea-mento no combate às perdas no Brasil? Ernani - Duas experiências que podem ser destacadas são as do município de Campinas (da empresa municipal Sanasa) e do estado de Minas Gerais (da com-panhia estadual Copasa).

Alguma questão adicional so-bre o tema que você gostaria de trazer para essa entrevista? Ernani - Gostaria de acrescentar a importância de se integrar proje-tos de gerenciamento das perdas de água com aqueles relativos à efi cientização energética em sis-temas de abastecimento de água. São ações de melhoria da gestão que se complementam, ou seja, ações de redução de perdas de água têm forte impacto no uso efi ciente de energia elétrica, e ações para a melhoria do uso de energia elétrica podem impactar positivamente na redução das perdas de água.Neste sentido, o Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Saneamento Am-biental e via PMSS, desenvolve parceria com o Ministério das Minas e Energia, por meio da Ele-trobrás e via Procel, voltada para ações integradas nestas duas áreas.

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>>Recebemos e agradecemos pelo envio da publicação “Revista Saneas “, de excelente qualidade gráfi ca e editorial.Ressaltamos ainda, que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do IESAM ser receptora de tão valiosa publicação.

Clarice Silva Neta - BibliotecáriaIESAM - Instituto de Estudos Superiores da AmazôniaSIBIESAM - Sistema de Informação e Bibliotecawww.iesam-pa.edu.br

>>Caros editores,Compartilho com vocês o entusiasmo com o lançamento da nova Revista Saneas. O que já era bom conseguiu fi car ainda melhor, fazendo um jornalismo engajado, informativo, respon-sável e em sintonia com os anseios e desafi os do setor de saneamento básico em São Paulo e no Brasil. Desejo a todos sucesso nesta nova empreitada e vida longa.

Um abraço,

Arnaldo Jardim Deputado Federal (PPS-SP)Engenheiro Civil (Poli/USP)

>>>CARTAS

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PONTO DE VISTA

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No Japão, especialmente nas zonas urbanas onde se observa a escassez de água por causa da concentração da população, a im-

portância de planejar o uso efi ciente e racional dos recursos hídricos limitados vem sendo amplamente reconhecida entre a população em geral. Em 1964, poucos meses antes da realização dos Jo-gos Olímpicos, a cidade de Tóquio, capital do Japão, enfrentou a ocorrência de uma seca sem preceden-tes, a ponto de se temer pela realização do evento. A chegada de um tufão de grande porte encheu os açudes da região e resolveu o problema, quase por milagre. Foi desde então que o Japão começou a se preocupar com o aproveitamento efi ciente e racio-nal da água, que é um recurso natural limitado. Assim, sob a diretriz básica traçada em nível nacional para o aproveitamento efi ciente dos recursos hídri-cos, os órgãos e companhias regionais (províncias e seus municípios) de abastecimento de água se mo-bilizaram para, sob a responsabilidade em respecti-va área de jurisdição, promover ações para reduzir desperdícios de água, causados principalmente pelo vazamento. Essas atividades continuam sendo implementadas até os dias de hoje.Por outro lado, graças a campanhas agressivas de di-vulgação e esclarecimento das entidades mantene-doras, nacionais e municipais, dos negócios ligados ao serviço de abastecimento de água, as fabricantes e fornecedoras de instalações ou dispositivos para abastecimento de água se empenharam em desen-volver mecanismos e produtos que economizam água. Ao mesmo tempo, o próprio povo percebeu a importância dos recursos hídricos e, sabendo que a água é um recurso limitado, passou a tomar iniciati-vas para economizá-la. Como resultado dessas me-didas abrangentes para uso efi ciente da água, o ín-

dice de perdas de água (NRW – “Non Revenue Water” ou água não-rentável, ou ainda, consumo de água não ligada à receita) que na década de 1950 regis-trava cerca de 30%, hoje apresenta uma média, em nível nacional, de menos de 10%. De modo especial, as companhias de abastecimento de água das zonas urbanas, que têm demandas vultosas de água, apre-sentam cerca de 5% no índice de NRW. Por exemplo, a Companhia Metropolitana de Abastecimento de Água de Tóquio registrou o índice anual de 5,8% de perdas de água em relação ao volume produzido, no período entre abril de 2005 e março de 2006.

POLÍTICA BÁSICA DE CONTROLE DAS PERDAS DE ÁGUAAssegurar a reserva de água através da redução do volume de perdasA redução dos volumes de perdas de água é uma medida que gera o efeito idêntico ao de explorar uma nova fonte de água, mas com maior efi ciência e em curto prazo, além de constituir a medida que mais se preocupa com o meio ambiente, uma vez que ela não sobrecarrega o ambiente.Sendo assim, os índices em si devem refl etir o volu-me, e as medidas para redução de perdas de água devem estar ligadas diretamente à redução dos des-perdícios de água, colocadas em prática de modo efi ciente e com resultados concretos.

Conhecimento Exato da Situação e Adoção de Medidas Adequadas para cada Estágio As medidas contra perdas de água devem ser toma-das depois de se obter a no-ção exata da situação, com

A SITUAÇÃO ATUAL DAS PERDAS NO JAPÃO

MASAHIRO SHIMOMURA1

1 Atualmente residindo no Brasil desde julho de 2007, é Engenheiro Civil do Departamento de Sistemas de Abastecimento de Água da Cidade de Saitama e Consultor da Jica no Japão. Líder da equipe da Jica no Projeto de Cooperação Técnica: “Desenvolvimento de Capacitação para o Controle de Perdas de Água na Sabesp (2007-2010)”.

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PONTO DE VISTA

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os dados precisos sobre os tipos de perda, volume, causas, características etc., a fi m de permitir a ado-ção de medidas adequadas para cada situação, com causas e características próprias, de modo a reduzir efi cientemente o volume da perda de água.Sendo assim, é importante compreender que, mes-mo que se trate de perdas de água parecidas, as me-didas a serem tomadas, para serem efi cientes, po-dem variar de acordo com a área, volume, ou então com as causas ou características de cada caso.

O Objetivo Final do Controle de Perdas de Água é o Perfeito Conhecimento do Volume de Vaza-mento e de sua Redução As perdas de água podem ser classifi cadas, de modo geral, em perdas por vazamento e perdas por outras causas que não sejam o vazamento. Destas duas ca-tegorias, do ponto de vista técni-co, a mais difícil de lidar é a perda por vazamento. Com relação a outras perdas (consumo de água não ligado à receita) que devem ser reduzidas, ou seja, em termos práticos, aquelas causadas pela não-sensibilidade dos hidrôme-tros e por fraudes e furtos, as me-didas devem ser tomadas no âm-bito de identifi cação mais precisa dos volumes de perdas através do ajuste ou correção das medições (e medidores) e das obras de ade-quação e correção das redes de abastecimento de água.Por outro lado, no que tange à existência de áreas de ocupação habitacional irregular (“favelas”), a questão também encerra seu aspecto político, o que torna im-portante acertar os passos com as medidas políticas. O que se deve fazer no mínimo, entretanto, é o le-vantamento da situação para ter a noção do volume exato dessa perda através das obras de instalação de tubulações especiais específi cas, inclusive para poder monitorar (controlar) o volume de perdas de água.

DIRETRIZES PARA CONTROLAR PERDAS DE ÁGUAAs diretrizes para adoção de medidas concretas para redução de perdas de água são descritas a seguir. Essas diretrizes devem ser adotadas conforme o estágio de cada tipo de perdas de água, para dar continuidade com o desdobramento adequado:

Correção do método de medição (volume produ-

zido e volume de consumo): - Ajuste dos macromedidores e realização periódica de inspeção/vistoria dos mesmos. - Renovação planejada dos hidrômetros (no Japão, a Lei de Pesos e Medidas obriga a renovação a cada 8 anos);

Correção e ajuste da pressão (padronização da pressão de água entre áreas e uniformização da pressão durante 24 horas):- Redução da pressão nas áreas com alta pressão.

Detecção efi ciente dos locais de vazamento e re-paros rápidos:- Adoção de medidas adequadas ao estágio em ter-mos de volume do vazamento.Vazamento em grandes volumes: medidas contra

vazamento na superfície com a mobilização de mão-de-obra. Vazamento em pequeno volu-me: levantamento e pesquisa planejados de vazamentos não visíveis. Tomada de providências:comunicação do vazamento e re-paro realizado no mesmo dia.

Adequação das Redes e Ramais: - Controle dos reparos de vaza-mentos através da renovação da rede e do desligamento efi ciente das redes clandestinas (de furto de água);- Solução dos problemas de dife-renças de pressões elevadas, den-tro de um mesmo setor, devido às condições topográfi cas parti-culares, através de ressetorização e/ou troca/adequação de trechos de tubulações;- Redução do volume de perdas de

água causadas pela não-sensibilidade dos hidrôme-tros, por meio da manutenção da pressão adequada durante 24 horas;- Troca de ramais deteriorados ou com vazamentos freqüentes, incluindo a troca da rede secundária alimentadora desses ramais, se necessário, depen-dendo da condição da rede e da freqüência de surgi-mento de vazamentos.

MEDIDAS PARA CONTROLE DE VAZAMENTOSPara seguir efi cientemente as 4 diretrizes acima des-critas, serão consideradas 3 áreas de medidas para efetivar o combate a perdas de água.De modo especial, as contramedidas imediatas na ocorrência são importantes, não somente na detec-

“Sendo assim, é importante

compreender que, mesmo que se

trate de perdas de água parecidas, as medidas a serem

tomadas, para serem eficientes, podem variar de

acordo com a área, volume, ou

então com as causas ou

características de cada caso”

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ção do vazamento, mas também no sentido de ter a noção do vo-lume de perdas e de tomar pro-vidências concretas para sanar o problema.

Medidas Básicas- Obter a noção precisa dos itens e do volume de perdas de água através da melhoria na acuidade da análise do volume produzido;- Elaboração do mapa de distri-buição das redes e ramais para servir de base e referência para adoção das medidas e controle das perdas de água.

Contramedidas Imediatas - Realização das buscas de vaza-mentos que estão ocorrendo: ter ao menos a noção do volume de perdas e realizar, na medida do possível, os reparos para redução das perdas de água.

- Medidas PreventivasFinalmente, através das obras de

adequação das redes, procurar otimizar o serviço de abasteci-mento e os trabalhos de controle das perdas de água.

Com base nos pontos de vista acima expostos, pretendemos dar o apoio necessário à SABESP na consecução do presente pro-jeto de cooperação técnica. O controle de perdas de água constitui o próprio trabalho de manutenção e administração de uma companhia de abaste-cimento de água, o que signi-fi ca que todos os funcionários devem unir-se para sua perfeita realização. Esperamos que cada funcionário da SABESP, indepen-dentemente de trabalhar ou não na Área Piloto, de ser engenheiro, técnico-operador ou funcionário administrativo, venha a se envol-ver com corpo e alma e participar ativamente do presente Projeto, considerando-o como se fosse o seu próprio projeto.

Software gerencia uso da águaO conselho mundial de negócios para o desenvolvimento susten-tável (WBCSD), lançou em agosto, em Estocolmo, capital da Suécia, um software que gerencia o uso da água. A interface permite que as organizações mapeiem o uso e apontem os riscos relativos a operações globais e a cadeia de suprimento. Os usuários poderão responder perguntas como: - Quantos locais estão em áreas com escassez de água?- Como serão no futuro?- Quantos empregados vivem em países que não têm acesso a água e sistemas sanitários adequados?- Quantos fornecedores estão em áreas com escassez de água?

O novo software também realiza a comparação do uso de água com informações acerca de sua disponibilidade e de sistemas sani-tários, tanto tratando-se do país ou lençóis freáticos; calcula consu-mo e efi ciência; estabelece riscos relacionados à água e cria indica-dores, inventários e performance métricas. Segundo especialistas do meio, o processo é de fácil gerenciamento.

Para os interessados, o WBCSD disponibiliza o software para download no endereço: http://www.wbcsd.org/web/watertool.htm

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PONTO DE VISTA

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A difi culdade de acesso à água faz com que muitas operadoras de serviço de saneamento (água e esgoto) transportem água a longas

distâncias e utilizem intensamente o bombeamen-to, que geralmente implicam em altos custos ope-racionais. As empresas de saneamento que operam em grandes capitais, como é o caso do município de São Paulo, vêm enfrentando grandes desafi os para manter a população abastecida com água em quan-tidade e qualidade adequadas. Problemas, como o crescimento e adensamento populacional, somado a perda da qualidade dos mananciais ou da rejeição de fontes existentes, re-sultam em problemas quase irreversíveis ao atendi-mento com água potável nos grandes centros urba-nos, levando ao uso intenso das reservas existentes de água. Os custos de projetos e obras para captação de águas superfi ciais ou para a exploração de águas subterrâneas, incluindo transferências e transposi-ção de outras bacias para satisfazer as necessidades em curto, médio e longos prazos são onerosos, es-pecialmente nas metrópoles.A gestão efi ciente dos recursos hídricos é fator es-sencial para o desenvolvimento sustentável das ci-dades, pois a água e as economias local, regional e global estão diretamente relacionadas, uma vez que o desenvolvimento econômico, a produção agrícola e todas as atividades humanas dependem da dispo-nibilidade adequada de água e do acesso. A escas-sez de água impede o desenvolvimento econômico e social, além de limitar alternativas econômicas. Muitos fatores contribuem para a escassez deste precioso liquido; contaminação de rios, lagos, repre-sas, poluição difusa, enchentes, aquecimento global, desmatamento e resíduos sólidos, produzindo im-pactos econômicos em razão da perda de atividade promovida pelos usos dos recursos hídricos. Além desses aspectos fundamentais na gestão das águas,

deve-se considerar o valor econômico total dos “ser-viços” proporcionados pelos ecossistemas aquáticos e os custos das perdas nos sistemas de produção e distribuição.A gestão das águas será mais efi ciente à medida que instrumentos econômicos, como cobrança pelo uso da água e o princípio do poluidor/pa-gador, forem defi nitivamente implementados e praticados. Conservando a água de boa qualida-de, buscando alternativas, mantendo o abasteci-mento, são ampliadas as perspectivas econômicas e as alternativas para o desenvolvimento local e regional. Águas despoluídas revitalizam as econo-mias local, regional, nacional e internacional. As empresas e os consumidores devem administrar o uso da água de modo responsável para assegurar o desenvolvimento sustentável. As concessionárias e prestadoras de serviços que atuam no saneamento e meio ambiente devem ter como meta prioritá-ria o “Programa de Controle e Redução de Perdas de Águas“, envolvendo ações e articulações inter e intra-institucional com vários segmentos e implan-tando medidas preventivas, corretivas, preditivas e de conservação, bem como a adequada previsão de recursos fi nanceiros e logísticos, no sentido de incorporá-lo como um programa estratégico no rol dos seus serviços.O treinamento do corpo técnico (engenheiros e operacionais) é de suma importância, além de ou-tros recursos para conseguir um alto nível de efi ciên-cia operacional; sabemos que o combate às perdas é custoso e deve ser feito com muita racionalidade, e com bons diagnósticos e medição contínua dos resultados.O desenvolvimento do se-tor de recursos hídricos no

PERDAS DE ÁGUA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Reduzir Perdas - o Meio Ambiente e a Sociedade Agradecem

SÔNIA NOGUEIRA1

1 Engenheira Civil, formada pela Universidade Federal do Pará em 1972, Lato Sensu em Engenharia Hidráulica - Escola Politécnica da USP – São Paulo. Trabalhou de jan/1976 a nov/1976 no IEA/USP - Insti-tuto de Energia Atômica, como pesquisadora docente nuclear, e na Companhia de Saneamento Básico de São Paulo - Sabesp, de 1976 a 2004. Atuou na área operacional, planejamento, projetos básicos e executivos de sistema de distribuição de água, coleta de esgoto e de estações de tratamento. Coorde-nadora do Uso Racional da Água – PURA, de 1996 a 2004. Atualmente Consultora.

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Brasil apresenta grandes desafi os, que exigem um planejamento adequado das ações, de acordo com o princípio do desenvol-vimento sustentável. Portanto, a criação e implementação de Agências Reguladoras no setor de saneamento vem ao encon-tro, permitindo mecanismo de fi scalização com objetivo de co-brar medidas e implementações de projetos, programas, obras e resultados das empresas.Essas medidas permitirão a con-servação dos recursos hídricos disponíveis, postergando a cons-trução ou ampliação de sistemas de abastecimento de água, a ex-pansão dos níveis de cobertura e, eventualmente, a redução dos valores tarifários praticados.No que concerne à infra-estrutu-ra dos sistemas, é recomendado que as empresas concessioná-rias de serviços desenvolvam estudos no sentido de utilizar tecnologias modernas em seus sistemas de tratamento e distri-buição de água implementando programas de redução de perdas, que contemplem a instalação de infra-estrutura de redes e ramais de boa qualidade, tendo em vista que na grande maioria dos mu-nicípios, como em algumas re-giões, as redes encontram-se em situação precária, valendo citar o exemplo da Região Metropolita-na de São Paulo, que possui redes com mais de 50 anos de idade e encanamentos de ferro fundido. Uma das maneiras para a redu-ção das causas primárias dos va-zamentos seria a reabilitação de trechos comprometidos, buscan-

do sempre desenvolver novos materiais e métodos de instala-ção, como o polietileno com jun-tas soldadas.Quanto à medição de água, é im-portante investir e adotar melho-rias tecnológicas, hidrômetros, que hoje apresentam um nível elevado de submedição, princi-palmente pelo fato de existirem caixas d’água – lembrando que uma medição precisa é fator de economia de água para o usuá-rio, e uma aliada na luta contra as fraudes. O planejamento das ati-vidades das instituições estaduais e municipais de saneamento tor-na-se necessário e deve buscar a integração com os planos de ges-tão das bacias hidrográfi cas cor-respondentes, bem como com a política de proteção ambiental, permitindo a evolução do con-ceito de saneamento básico para o de saneamento ambiental.O valor da água como bem comum, econômico e fi nito, ainda não foi bem entendi-do pela maioria da população brasileira, sendo imprescindível, para isso, que se intensifi quem ações de educação ambiental, que sozinhas podem não ser sufi cientes para evitar agres-sões ao meio ambiente, mas em conjunto com ações civis públicas ou individuais, seriam utilizadas como um grande, senão o maior, instrumento para recuperação e preservação do meio ambiente.Todos devemos, de forma indivi-dual ou coletiva, lutar pela preser-vação da água, seja em pequenas ações, como explicações sobre o desperdício e perdas ao repre-

sentante de um condomínio, seja através de grandes ações junto aos governantes ou ao Poder Judiciário. Não é necessário im-pedir o progresso econômico do mundo para que haja a proteção ao meio ambiente, só é preciso a conscientização do homem para o desenvolvimento sustentável. Acredita-se que exista atual-mente um empenho maior dos governos para o fi nanciamen-to de recursos para projetos e obras no que tange ao setor de saneamento e meio ambiente. Depois de um longo vazio insti-tucional no setor, foi criado em 2003 pelo Governo Federal, o Ministério das Cidades, e em sua estrutura a Secretaria Nacional do Saneamento Ambiental, com competência, entre outras ações, de fi nanciamento de projetos e obras, avaliação, implementação e estabelecimento de diretrizes para a área de saneamento. Nes-te bojo, foram criadas políticas de incentivo à redução das perdas, com padronização capacitação, e orientação em nível nacional. As concessionárias e companhias que atuam como empresa socio-ambiental, moderna e compe-titiva no mercado consumidor, devem dar o exemplo, com o comprometimento desde a alta administração até a base, com relação a atitudes e medidas para conservação, controle de perdas e economia de água, começando pelas suas próprias edifi cações, cada um tendo consciência do seu papel e importância nessa luta permanente, que não tem fi m.

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ARTIGO TÉCNICO

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A Bacia do Guarapiranga ocupa vasta extensão com área aproximada de 630 km², situando-se em território dos municípios de São Paulo,

Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, Cotia, São Lourenço e Juquitiba. Originalmente construída e utilizada para a geração de energia elétrica, em 1927 passou a ser utilizada como fonte de abasteci-mento público, sendo responsável hoje pelo abas-tecimento de 18,8 % da Região Metropolitana de São Paulo.Ocupações desordenadas e irregulares da área do manancial a partir da década de 60 acarretaram problemas ambientais crescentes, notoriamente na qualidade da água. Ainda a necessidade de am-pliação da oferta d’água para atender a demanda na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), prin-cipalmente na Região Sul da cidade, levou a uma série de obras que visaram a regularização do abas-tecimento de água na RMSP. O Sistema Produtor Taquacetuba - Guarapiranga foi destacado como uma das obras prioritárias e tratou do aporte de até 4,0 m³/s de água para o Reservatório Guarapi-ranga, através da captação e transposição de água do braço do Taquacetuba na represa Billings, obje-

tivando a melhoria da capacidade de regularização do nível da represa do Guarapiranga e, conseqüen-temente, a diminuição dos riscos de abastecimen-to nos períodos de grande estiagem, assim como a possibilidade de incrementação da captação de água para tratamento em 2 m³/s. Em setembro de 2000 foi iniciada a transferência de água da repre-sa Billings (braço do Taquacetuba) para a represa do Guarapiranga. O sistema Taquacetuba é com-posto por um par de estações de bombeamento de água, sendo a primária uma estação elevatória fl utuante composta por cinco bombas submersí-veis e a secundária uma estação elevatória con-vencional instalada em terra com cinco bombas centrífugas horizontais, 13,9 km de adutora sendo 8,3 km de transferência por gravidade com 80 m de diferença de cota entre o ponto mais alto da linha de adução e o sistema de dissipação de energia, termi-nando em um canal de afl uência à várzea do Ribeirão Parelheiros. O Ribeirão Parelheiros afl ui para a represa do Guarapiranga forman-

VÁRZEA DO RIBEIRÃO PARELHEIROS

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ALMIR APARECIDO DE SOUZA ANDRADE 1

1 Químico, Especialista em Engenharia de Saneamento Básico pela FSP – USP, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental pela EESC – USP, Doutorando em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica - USP. Trabalha na Sabesp, atuando no Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos. e-mail: [email protected], [email protected]

Desempenho na redução de concentrações de constituintes típicos de efluentes sanitários

Figura 1 - Várzea do Ribeirão Parelheiros verificando-se, ao fundo, a represa de Guarapiranga

Fotos e gráficos: Divulgação

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do a várzea (Figura 1) que leva seu nome, ocupando aproximadamente 93 hectares e tendo ainda como contribuinte signifi cativo o Córrego Itaim, ambos (Ribeirão e Córrego) com considerável degradação hídrica, decorrente de grande aporte de esgotos do-mésticos. O regime hidrodinâmico desta várzea deve ter sofri-do severas alterações com sua utilização a partir de agosto de 2000, como área receptora da transposi-ção de águas da Represa Billings (Figura 2).O canal de recepção da água transposta localiza-se paralelo a afl uência do Córrego Itaim e a aproxima-damente 2000 metros a montante do reservatório. Podem ser facilmente observados pontos de grande

alteração antrópica que envolvem desde atividades já extintas de mineração, movimentação de terra para fi ns agrícolas, de lazer (futebol de várzea), inva-sões imobiliárias clandestinas. A vegetação predominante na várzea é composta por Panicum Rivulare (capim-santa-fé) e Typha An-gustifolia (taboa), com cobertura estimada em torno de 50% e 20%, respectivamente.Pode-se afi rmar que esta não é uma várzea natural uma vez que, originalmente a várzea situava-se na afl uência do ribeirão Parelheiros ao Rio Guarapiran-ga, mudando sua posição a partir do enchimento da represa. Até então esta região era um típico fundo de vale onde, apesar das cheias provocadas nos pe-ríodos de chuva, não possuía o típico ciclo biogeo-químico de áreas de várzea. Com o passar do tempo, essa várzea deslocada passou a adquirir caracterís-ticas naturais através do desenvolvimento e fi xação de fauna e fl ora primária, típica destes sistemas eco-lógicos, porém com retrocesso a sua formação, cau-sado pela antropização intensa em sua periferia.As áreas alagadas ou várzeas, comumente trata-das usando-se o termo do idioma inglês “Wetland”, podem ser naturais, induzidas ou construídas. As Wetlands naturais têm importantes funções dentro dos ecossistemas onde estão inseridas, en-tre as quais se destacam: a capacidade de regulari-

Figura 2 - Vista do canal de recepção de água da Billings

EMEC BRASIL comemora a conquista do Troféu AESabesp “Inovação Tecnológica”Com 10 anos de atuação no mercado, atendendo o setor de saneamento básico e segmentos industriais, química e petroquímica, e energia, a EMEC BRASIL vive um momento muito positivo. Sua marca, já bem sedimentada, alcançou ainda uma maior visibilidade ao ganhar, na Fenasan 2007, o troféu AESabesp, na categoria “Inovação Tecnológica”, através dos votos dos próprios visitantes da Feira. A empresa comemora seu desempenho nesse que é um dos mais importantes eventos do segmento de saneamento ambiental: “Entendemos que nossa participação em 2007, como nos anos anteriores, foi extremamente positiva. Porém, nessa edição, pudemos apresentar um novo equipamento que atua no combate da proliferação de algas por ultrassom. A apresentação do produto criou expectativa e interes-se junto aos visitantes, que nos deram o seu voto para ganharmos esse troféu AESabesp, na categoria “Inovação Tecnológica”.O equipamento apresentado na feira pode ser utilizado em diversas aplicações, tais como: Lagoas, Fil-tros de Estações de Tratamento, Torres de Resfriamento, Piscinas, Lagos de Peixes, Lagos de Irrigação, Controle de Biofi lme e Grandes Reservatórios; proporcionando melhora na qualidade da água, evitan-do o uso de produtos químicos agressivos ao meio ambiente e utilizando baixo consumo de energia, sendo ainda inofensivo para as outras formas de vida. “A premiação motiva-nos a continuar buscando novos desenvolvimentos através de atuação própria ou com parceiros que tenham os mesmos objetivos da EMEC BRASIL”. A relação de atendimento entre a EMEC BRASIL e o corpo técnico de profi ssio-nais da Sabesp está num grau de envolvimento bastante satisfatório e tem se fortalecido ao longo dos anos. Na condição de fornecedora, a Empresa procura atender às necessidades do cliente, no tocante à aplicação dos produtos, ao desenvolvimento de novas necessidades, além do oferecimento de prazos de entrega ágeis, estoque de peças de reposição e preço justo.

Te/Fax (11) 4356-1130 e-mail: [email protected]

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zação dos fl uxos de água, amortecendo os picos de enchentes; a capacidade de modifi car e controlar a qualidade das águas; sua importância na função de reprodução e alimentação da fauna aquática, incluindo os peixes; a proteção à biodiversidade como área de refúgio da fauna terrestre e controle da erosão, evitando o assoreamento dos rios (Salati, 2000). As principais propriedades que tornam estas áreas importantes para o controle de poluentes e contaminantes em corpos d’água são: alta produti-vidade de vegetação; grande capacidade de absor-ção dos sedimentos; altas taxas de oxidação pela mi-crofl ora associada à biomassa das plantas e grande capacidade de reter nutrientes, poluentes e conta-minantes (Salati, 2000). Os processos físicos, químicos e biológicos, isto é, o ciclo biogeoquímico, que ocorrem nesses ecossiste-mas e que são responsáveis pela alteração da qua-lidade das águas, variam grandemente de acordo com o regime hidrológico, geologia, fatores climáti-cos e bióticos. As Wetlands construídas diferem das naturais por proporcionarem o controle do regime hidrológico e ainda pela possibilidade de composi-ção do substrato utilizado, uma vez que pode este ser projetado para otimização do sistema (Salati, 2000).

ANÁLISE DOS RESULTADOSOs resultados apresentados são provenientes do cálculo de valores médios, máximos e mínimos do banco de dados de qualidade de água do monitora-mento realizado pela Sabesp, no período de junho de 2003 a marco de 2004, da várzea do Parelheiros, agrupados em período seco (junho, julho, agosto e setembro de 2003) e chuvoso (outubro, novembro e dezembro de 2003, janeiro, fevereiro e março de 2004). Os dados pluviométricos (fi gura 3) defi nem perfeitamente o período seco e chuvoso. Os meses de outubro e novembro de 2005 podem ser ainda observados como meses de transição entre os perí-odos seco e chuvoso, porém destacam-se dos meses secos uma vez que a precipitação acumulada é em média três vezes superior as do período seco.Os aumentos das concentrações de fósforo total e nitrogênio total (fi guras 4 e 5) durante os períodos estudados devem ser parcialmente originados a partir da defi ciência de afastamento de efl uentes sanitários oriundos de ocupações irregulares na re-gião. Porém, os incrementos destas concentrações durante o período chuvoso podem ser decorrentes da carga difusa proveniente das chuvas, que neste período lavam os campos utilizados para a agricul-tura, o que não ocorre no período seco, pois este é marcado por baixa pluviosidade.Quanto a variável coliformes totais (fi gura 6), o in-cremento durante o período chuvoso pode também ser atribuído a carga difusa oriunda das chuvas.

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Figura 4 - Valores médios da variável fósforo total da entrada (GU213) e saída (GU107) da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)

Figura 5 - Valores médios da variável nitrogênio total da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)

Figura 3 - Valores acumulados mensais e média por período da variável pluviometria da bacia, referentes aos períodos de junho a setembro (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos).

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Já em relação a variável coliformes fecais (fi gura 7), foram verifi cadas na saída da várzea concentrações superiores no período seco em relação ao chuvoso, o que reforça a tese de defi ciência do sistema de co-leta e afastamento de efl uentes sanitários, uma vez que os períodos de estiagem exercem menor infl u-ência quanto ao potencial de diluição da concen-tração de compostos poluentes e contaminantes, ou seja, provavelmente a contribuição à várzea de coliformes fecais seja regular ao longo dos períodos seco e chuvoso, porém a ação das chuvas e as conse-

qüentes cheias dos corpos d’água exercem um pa-pel signifi cativo como diluentes deste variável. A remoção de turbidez (fi gura 8), que ocorreu em todos os períodos estudados, pode ser explicada pela capacidade destes sistemas quanto ao amorte-cimento das águas de afl uência que elevam as taxas de sedimentação de partículas em suspensão. Ainda há a possibilidade da retenção de partículas por ade-rência ao sistema radicular de macrófi tas. Durante o período chuvoso foi verifi cada uma remoção supe-rior a do período seco. Possivelmente, a velocidade

Figuras 6 e 7 - Valores médios da variável coliformes totais da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)

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de escoamento em áreas alagadas durante o perío-do chuvoso é maior que a do período seco, o que levaria a taxas de sedimentação menores. Porém, a dinâmica de crescimento das plantas no período chuvoso deve atingir seu auge por corresponder às estações da primavera e verão, o que reforça a tese de retenção de partículas por aderência ao sistema radicular das plantas da várzea.A redução de DQO (fi gura 9) promovida pela várzea deve ser decorrente da grande capacidade biótica das áreas alagadas em degradar matéria orgânica, seja pela ação de microorganismos, seja por adsor-ção radicular de macrófi tas.

CONCLUSÕESOs resultados de fósforo total, nitrogênio total e coliformes, nos permitem afi rmar que houve contri-buição signifi cativa de fontes difusas na várzea, nos períodos seco e chuvoso, uma vez que as concentra-

ções dessas variáveis sofreram incrementos desde a entrada até a saída da várzea.Para que os problemas provenientes das substân-cias originárias a partir de fontes antrópicas em águas destinadas para o abastecimento possam ser solucionados ou, pelo menos minimizados, é funda-mental que os mesmos sejam estudados de modo a permitir que as suas causas possam ser identifi -cadas e, conseqüentemente, hajam condições de serem defi nidas as melhores alternativas técnicas para a sua solução. O aprofundamento dos estudos de desempenho da várzea depende da implantação de uma rede de monitoramento qualitativo e quan-titativo de contribuições difusas, que proporcionará a realização de balanços de massa.A implantação de rede coletora de esgotos sanitá-rios nas áreas não atendidas por este serviço deve contribuir signifi cativamente quanto ao aumento de desempenho da várzea.A coibição do aumento de ocupações irregulares na bacia do Ribeirão Parelheiros deve ser um fator de primeira ordem de preocupação das instituições competentes à fi scalização de uso e ocupação do solo.

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Referências Bibliográfi cas- Andrade, A.S.A. Análise da efi ciência da várzea do Ribeirão Parelheiros na melhoria de qualida-de das águas que afl uem à represa do Guarapi-ranga, São Paulo. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.- Andrade, A.S.A., Filho. S.F.S., Fernandes, A.N., Kairala, A.M., Aplicação de Carvão Ativado em Pó (CAP) na Remoção de Gosto e Odor em Águas de Abastecimento. IX Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária. Porto Seguro, Bahia, 2000.- Chorus, I. & Bartram, J. (Editors). Toxic cyano-bacteria in water: a guide to their public health consequences, monitoring and management. E. Who. & F. Spom, 1999. 416 p.- Harbel, R., Perther, R., Laber, J. Wetland Systems for Water Pollution Control. Wat Sci. Techn. 35 Pro-ceeding of the IAWQ. 5 rd International Conferen-ce on the Use of C W in Water Pollution Control (1996) (ed. COOPER, P. – 1997) – Vienna, Austria.- Manfrinato, E. S. “Avaliação do Método Edafo-fi topedológico para o Tratamento Preliminar de Águas”. Piracicaba-SP, 98 p. Dissertação (Mestra-do). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Quei-roz”. Universidade de São Paulo. 1989.- Salati, E. Estudo de Wetlands (Áreas Alagadas) Naturais e Construídas para Proteção e Recupe-ração dos Recursos Hídricos. São Carlos, SP. 2000. 46 p.- Tundisi, J. G. Limnologia e Gerenciamento Inte-grado de Recursos Hídricos. Ciência & Ambiente v. 21, p. 10-20, 2000.

Figura 8 - Valores médios da variável turbidez da entra-da e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)

Figura 9 - Valores médios da variável DQD da entrada e saída da várzea, referentes aos períodos de junho a setembro/03 (meses secos) e de outubro/03 a março/04 (meses chuvosos)

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O “Programa de Reabilitação de Redes e Adu-toras da Unidade de Negócio Centro - MC” tem por objetivo colocar em prática ações

que buscam uma melhoria operacional do sistema de distribuição de água da Unidade de Negócio, em atendimento às metas previstas no planejamento operacional da unidade. São realizadas avaliações periódicas de indicadores por Setor de Abasteci-mento, como, por exemplo, o número de reclama-ções da qualidade da água, número de vazamentos, índice de perdas, intermitência no abastecimento, bem como avaliação do estado estrutural das redes.A metodologia do programa de reabilitação1 de re-des pode ser aplicada a outras unidades ou empre-sas de saneamento, que procuram, em seu planeja-mento operacional, incorporar planos e ações para melhor identifi car, reparar e monitorar os impactos ambientais decorrentes da operação do sistema de distribuição e conseqüente envelhecimento, muitas vezes precoce, das redes do sistema de distribuição de água.As etapas previstas no programa são: planejamen-to, estudo e aplicação de técnicas de reabilitação, investigação de áreas críticas e avaliação de resul-tados pós-obra; concomitantemente às atividades, procura-se investigar as causas da origem da forma-ção dos tubérculos e incrustação das redes de ferro fundido ao longo dos anos.

HISTÓRICOPelo que se tem notícia, desde o início dos anos 80 a empresa vem investindo no desenvolvimento de tecnologias para reabilitação das redes de distribui-ção e adutoras. Numa perspectiva estruturada para

este fi m, a Unidade de Negócio Centro implemen-tou o Programa de Reabilitação de Redes no início de 2006, com o propósito de estabelecer uma me-todologia que procurava viabilizar tecnicamente os recursos empregados, visando aperfeiçoar a capa-cidade de suporte hidráulico das redes de distribui-ção, reduzir as perdas no sistema e, principalmente, melhorar a qualidade da água distribuída.Uma equipe de trabalho multidisciplinar foi estru-turada para identifi car os setores alvos, objeto de incrustação das redes abastecimento de ferro fundi-do, investigar suas causas e priorizar as áreas críticas para execução de obras de reabilitação. A equipe é formada por representantes da Divisão de Contro-le Sanitário (MCEC), Divisão de Controle de Perdas (MCEP), Divisão de Operação de Água (MCEA), Setor de Cadastro Técnico (MCED.2) e representantes das áreas de Planejamento (MCI) e de Serviços e Pólos de Manutenção (MCC).A corrosão e a incrustação das redes de ferro fundi-do causam:• aumento da perda de carga e diminuição da vazão aduzida;• problemas sanitários decorrentes, por exemplo, a liberação para a água de metais constituintes da tubulação; • problemas organolépticos, originados da altera-ção da cor e do sabor da água;• problemas econômicos, advindos, dentre outros, da necessidade de troca das tubulações, aumen-to do número de intervenções para manutenção e acréscimo do consumo de energia elétrica, para superar a perda de carga adicional causada pelas incrustações e pelo aumento da rugosidade das tu-bulações. (HELLER, 2006).

PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE REDES DE ÁGUAA Experiência da Unidade de Negócio Centro da Sabesp ANDERSON DE MELO MARTINS1 | MARTA REGINA INOUE2 | ROBERTO ABRANCHES3

1Engenheiro Civil, 2Engenheira Química, 3Tecnólogo em Obras Hidráulicas

ARTIGO TÉCNICO

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METODOLOGIAFundamentado tecnicamente num estudo publi-cado pela Water Research Centre – WRC, “Planning the Reabilitation of Water Distribution Systems”2, e

adaptando-o às restrições e recursos disponíveis da empresa, foi composta uma equipe de trabalho onde foram chamados representantes das áreas de enge-nharia e operacionais, como o Controle Sanitário (MCEC), Divisão de Operação Água Centro (MCEA), Divisão de Perdas (MCEP), Cadastro (MCED.2), Plane-jamento (MCI) e Pólos de Manutenção (MCC).Juntos desde março de 2006, a equipe foi consoli-dada e, desde então, o trabalho e a estruturação do programa vêm se desenvolvendo. Inicialmente uma estrutura preliminar do programa foi apresentada ao grupo, e após algumas reuniões foram defi nidas as etapas do projeto que constituíram a metodolo-gia do programa, chegando-se a fl uxogramas espe-cífi cos para representação das etapas e desenvolvi-mento do projeto.Conforme o andamento das ações, a metodologia foi amplamente discutida até chegar-se à formata-ção de dois fl uxogramas que basicamente mostram as fases do projeto proposto, um primeiro fl uxo que contempla a primeira etapa do programa: planeja-mento, investigação, mapeamento e elaboração de pacotes técnicos para implantação das obras, e ou-tro fl uxo detalhado que contempla a fase de avalia-ção de resultados, como apresentado no fl uxograma (1a. e 2a. etapa).

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Dentre as ações propostas, a fase de planejamento, investigação e diagnóstico para implementação do programa foi realizada, restando por último, a prio-rização dos Setores de Abastecimento (setores mais críticos objeto das obras).Para tanto, a equipe defi niu pesos para a ponderação e classifi cação dos setores, vinculando a reabilitação das redes ao tipo de problema apresentado:• Qualidade de Água – Peso 3;• Falta D’água e Pouca Pressão – Peso 2;• Vazamentos – Peso 1.Depois de multiplicar os pesos pelos pontos atribu-ídos ao setor devido ao maior número de ocorrên-cias, chegou-se ao Mapa de Setores Prioritários, (Ta-bela 1, abaixo) para destino dos recursos ao longo do ano.No período de 2006 foram destinados recursos e in-vestimentos para obras de melhoria do sistema de distribuição, onde passamos a avaliar os benefícios e resultados com base em alguns parâmetros de qua-lidade e efi ciência hidráulica das redes e em função das técnicas de reabilitação empregadas.

TÉCNICAS DE REABILITAÇÃOA SABESP utiliza largamente o ferro fundido no sis-tema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP, em adutoras, subadutoras, redes de distribuição primárias e secundárias. As linhas de ferro fundido aplicadas no período anterior à déca-da de 70 não contavam com revestimento interno. Esses condutos apresentam, hoje, incrustações e deposições que comprometem a efi ciência dessas linhas em aspectos hidráulicos e sanitários.A degradação das condições internas das tubula-ções provoca não só uma maior dissipação de ener-gia pela resistência ao escoamento (perda de carga), com refl exos diretos no atendimento à demanda em função das menores vazões aduzidas e ocorrência de vazamentos, mas também são detectados au-mentos na concentração de resíduos insolúveis na água devido ao desprendimento de tubérculos. Os resíduos provocam um aspecto visual desagradável pelo aumento da cor acima dos padrões permitidos, alteração do sabor, manchas em tecidos e louça sa-

Fevereiro / 2007

Setor Total Setor

Cambuci 5,00 15,00 5,00 10,00 4,00 4,00 29,00 CambuciConsolação 5,00 15,00 5,00 10,00 4,00 4,00 29,00 ConsolaçãoJabaquara MC 5,00 15,00 5,00 10,00 2,00 2,00 27,00 Jabaquara MCSumaré 5,00 15,00 4,00 8,00 4,00 4,00 27,00 SumaréPerdizes 5,00 15,00 4,00 8,00 4,00 4,00 27,00 PerdizesVila Romana 4,00 12,00 5,00 10,00 4,00 4,00 26,00 Vila RomanaVila Mariana 5,00 15,00 3,00 6,00 5,00 5,00 26,00 Vila MarianaPaulista 4,00 12,00 4,00 8,00 3,00 3,00 23,00 PaulistaJd. América 3,00 9,00 5,00 10,00 4,00 4,00 23,00 Jd. América Lapa 5,00 15,00 2,00 4,00 3,00 3,00 22,00 Lapa Sacomã 5,00 15,00 2,00 4,00 2,00 2,00 21,00 SacomãCursino 5,00 15,00 2,00 4,00 1,00 1,00 20,00 CursinoSapopemba 5,00 15,00 2,00 4,00 1,00 1,00 20,00 SapopembaVila Alpina 5,00 15,00 2,00 4,00 1,00 1,00 20,00 Vila Alpina Brooklin MC 3,00 9,00 3,00 6,00 5,00 5,00 20,00 Brooklin MCVila Formosa 4,00 12,00 2,00 4,00 2,00 2,00 18,00 Vila FormosaPinheiros 4,00 12,00 1,00 2,00 4,00 4,00 18,00 PinheirosDeriv. Sacomã 3,00 9,00 2,00 4,00 3,00 3,00 16,00 Deriv. SacomãCarrão 3,00 9,00 1,00 2,00 5,00 5,00 16,00 CarrãoDeriv. Brás 1,00 3,00 4,00 8,00 3,00 3,00 14,00 Deriv. BrásIpiranga 1,00 3,00 2,00 4,00 4,00 4,00 11,00 IpirangaMooca MC 1,00 3,00 2,00 4,00 3,00 3,00 10,00 Mooca MCCid. Tiradentes MC 1,00 3,00 1,00 2,00 5,00 5,00 10,00 Cid. Tiradentes MCDeriv. 3ª Divisão 1,00 3,00 1,00 2,00 2,00 2,00 7,00 Deriv. 3ª DivisãoJd. S. Pedro 1,00 3,00 1,00 2,00 2,00 2,00 7,00 Jd. S. PedroSão Mateus MC 1,00 3,00 1,00 2,00 2,00 2,00 7,00 São Mateus MCVila do Encontro MC 1,00 3,00 1,00 2,00 2,00 2,00 7,00 Vila do Encontro MCCasa Verde MC 1,00 3,00 1,00 2,00 1,00 1,00 6,00 Casa Verde MC Jd. Da Conquista 1,00 3,00 1,00 2,00 1,00 1,00 6,00 Jd. Da Conquista

Qualidade da Água - Peso 3 Falta d'água - Peso 2 Vazamentos - Peso 1 5 pontos 5 pontos 5 pontos 1 (30 a 25 pontos) 4 pontos 4 pontos 4 pontos 2 (24 a 20 pontos) 3 pontos 3 pontos 3 pontos 3 (< de 20 pontos) 2 pontos 2 pontos 2 pontos 1 ponto 1 ponto 1 ponto

SETORES PRIORITÁRIOS PARA OBRAS DE REABILITAÇÃO POR SETOR DE ABASTECIMENTO - 2007

Prioridade:LEGENDA

Qualidade da ÁguaPeso 3

Falta d'águaPeso 2

VazamentosPeso 1

Tabela 1: Setores Prioritários 2007

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nitária, obrigando freqüentes limpezas de reservató-rios e fi ltros de hidrômetros. Este fenômeno, conhecido como “água amarela”, im-põe como forma de controle, descargas constantes nos locais atingidos até a obtenção da qualidade usual.As técnicas de reabilitação empregadas vão desde medidas convencionais (assentamento com aber-tura de valas) como as não-convencionais, que per-mitem a intervenção nas infra-estruturas enterradas sem abertura de valas, ou abertura de valas pontuais, minimizando assim os custos sociais e transtornos à população urbana (métodos não-destrutivos).As técnicas utilizadas para reabilitação das redes da Unidade de Negócio Centro são:

Substituição de Redes – Método Não-DestrutivoO serviço de substituição de rede por método não-destrutivo é constituído por um conjunto de equi-pamentos e ferramentas projetadas para romper as redes existentes que apresentam problemas estru-turais ou de insufi ciência hidráulica, quer seja por presença de incrustações ou comprometimento das paredes, ou pela necessidade aumento de sua capa-cidade de transporte. Portanto, a substituição de redes é empregada quan-do as paredes dos tubos se encontram comprometidas estruturalmente e não mais se prestam à veiculação hí-drica, ocasionando muitas perdas no sistema.Geralmente são aplicadas técnicas de substituição uti-lizando processos de rom-pimento da tubulação exis-tente, como o Pipe Bursting. A reabilitação da rede se dá por inserção com destruição, ou seja, consiste na técnica de arrebentar a tubulação existente pelo uso de uma força radial de dentro da tubulação. Os fragmentos são comprimidos para o exterior e uma nova tubulação é puxada atrás da cavidade formada pelo equipamento de fragmentação con-forme, por exemplo, mostrado no esquema ao lado, Figura A. Limpeza e Revestimento de Redes Quando não há comprometimento estrutural das paredes da tubulação, apenas se encontram in-crustadas internamente, as técnicas utilizadas para

recuperar as redes de distribuição são a limpeza e revestimento com argamassa acrílica ou limpeza e revestimento com resina epoxídica.

Novas tecnologiasDurante o desenvolvimento do programa de re-abilitação também são identifi cados os treina-mentos necessários, em face das novas tecnolo-gias empregadas, necessidade de benchmarking3,identifi cação dos problemas e prováveis soluções das questões em função da técnica empregada, dis-seminação, ou seja, o repasse das informações para aquisição de conhecimento e aprendizado da força de trabalho. Prevê-se também a avaliação de resultados e de-poimentos dos integrantes da equipe para análise crítica do programa por parte da alta direção da em-presa.

AVALIAÇÃO DE RESULTADOSOs serviços executados pela Unidade de Negócio Centro têm se justifi cado pelo maior número de re-clamações da qualidade da água e baixa pressão nas redes de distribuição.

Após a estruturação do programa, a determina-ção do índice de perdas por setor e a retirada de amostras para avaliação da condição estrutural das redes passaram sistemati-camente a fazer parte das avaliações.A avaliação de resultados se dá pela medição poste-rior às obras e constatação de permanência ou queda

dos índices anteriormente observados.A seguir mostramos as obras de reabilitação de re-des realizadas e em andamento, no período de 2004 a 2006, na Unidade de Negócio Centro, Tabela 2:

Qualidade da ÁguaPara os setores analisados, constatou-se uma queda do número de reclamações da qualidade da água, Gráfi co 1, e redução do volume perdido de água em descargas para lavagem das redes, Gráfi co 2.

Pressão de AbastecimentoConstatou-se um aumento de pressão de abaste-cimento após a realização de serviço de limpeza e

Figura A: Esquema do Método “Pipe Bursting”

Fonte: Curso Abratt/USP, 2005

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revestimento da tubulação, grá-fi cos 3 e 4.

Estado Estrutural das RedesUm item importante a ser avalia-do é o estado das redes de dis-tribuição, onde podemos avaliar em que condições estruturais as redes se encontram. As sonda-gens para retirada de amostras e avaliação são realizadas antes e depois dos serviços a serem exe-cutados. Consumo MicromedidoUtilizando a ferramenta Signos: Sistema de Informações Geo-gráfi cas no Saneamento do ca-dastro técnico da Sabesp, outro item a ser avaliado é o aumento da capacidade de veiculação hí-drica ou o aumento do consumo micromedido após a realiza-ção dos serviços. Segundo de- Tabela 2: Obras de Reabilitação de Redes da Unidade de Negócio Centro – (2004-2006)

Gráfico 1: Queda do número de reclamações da qualidade da água (até Junho/2006)

Gráfico 2: Redução do volume de descarga de lavagem de redes (até Junho/2006)

Gráfico 3: As pressões de abastecimento (mca) antes da execução dos serviços de limpeza e revestimento da tubulação

Gráfico 4: Aumento da pressão de abastecimento (mca) no mesmo endereço, após a execução dos serviços de limpeza e revestimentoda tubulação, realizados em novembro de 2006

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2006

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monstrado no relatório da Figura 1, houve aumento de 726 m³ do consumo micromedido de 2005 para 2006 na Rua Tajá, após a conclusão dos serviços de reabi-litação da rede de abastecimen-to local.

CONCLUSÃOQuanto às reclamações dos con-sumidores, à qualidade da água, às pressões nas redes de distri-buição e ao índice de vazamen-tos, obtivemos bons resultados após os serviços de substitui-ção, limpeza e revestimento da rede.Um programa amplo de reabi-litação de redes de distribuição demanda um plano de ação específi co para sua implemen-tação, o qual prevê um trabalho multidisciplinar de planejamen-to, investigação, aplicação de técnicas viáveis, medição e ava-liação de resultados.

Nota dos autores1Entende-se por “reabilitar” uma rede de abastecimento ações que promovam uma intervenção física resultando uma melhora das condições operacionais da mesma.2“Planning the Reabilitation of Water Distribution Systems”, Water Research Centre – WRC, obra disponível para consulta na Biblio-teca Sabesp, gentilmente traduzida e cedida pelo Engº Guaraci L. Sarzedas / Superintendência de Planejamento e Desenvolvimen-to da Metropolitana - MP - Sabesp (tradução livre e sem fi ns lu-crativos).

Referências Bibliográfi cas - BRILHANTE, O. M.(coord.). Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999.- HELLER, L. & PÁDULA . L. (orgs). Abastecimento de água para consumo humano – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.- VENTURINI, M A A G – Metodologia de Análise e Decisão Multicri-terial para a Reabilitação de Sistemas de Abastecimento de Água – São Paulo: Unicamp, 2003.- JACOBI P, coord. Problemas ambientais e qualidade de vida na cidade de São Paulo: percepções, práticas, e atitudes dos morado-res. São Paulo: CEDEC; 1994.- EVINS, C.; STEPHENSON, G.; WARREN, I.C.; WILLIAMS, S.M. Planning the reabilitation of water distribution systems. Wiltshire: WRC - Water Research Centre, 1989.- RIBEIRO, R. & VARGAS H. C. Novos Instrumentos de Gestão Am-biental Urbana. São Paulo: Edusp, 2001.

<+> Colaboração:- Amarildo Miguel - Tecnólogo em Edifícios- Genival Abdias de Carvalho - Tecnólogo em Edifícios- Hilton Alexandre de Oliveira - Tecnólogo em Obras Hidráulicas, - Márcio Luiz Rocha de Paula Fernandes - Bacharel em Química- Maria Silvia Polisaitis Ramos Oliveira - Engenheiro Civil- Ricardo Chinaglia - Tecnólogo em Movimento de Terra e Pavimentação- Sandro Waiteman Peretto - Tecnólogo em Processamento de Dados.

Na sequência: Retirada de amostra de rede, corte da tubulação, retirada da amostra e inspeção da fiscalização. No destaque, análise do antes e depois dos serviços.

Figura 1: Relatório dos consumos micromedidos antes e depois da obra

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A questão ambiental vem se agravando quoti-dianamente e as previsões são assustadoras, como a que anuncia a falta de água no Pla-

neta para o ano de 20251 .O jornalista João Paulo Charleaux2 publicou uma matéria sob o título: “Água na fervura – guerras pela água já acontecem” – na qual descreve a situação da água em diversos países.São Paulo, “carro-chefe” do país, também não tem situação confortável, pois, há muito vem importan-do água do sul de Minas, mormente das bacias do Jaguari, Piracicaba, Campinas, Jundiaí, entre outras. A represa Billings e a Guarapiranga sofrem processo de degradação ambiental por causa da ocupação desordenada das áreas de mananciais, e o Sistema Cantareira está caminhando no mesmo sentido. Urge que o Poder Público fi que em alerta total, para impedir mais esse crescimento desordenado que, por certo, causará graves transtornos sociais.No Brasil, várias regiões metropolitanas como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, entre outras, sofrem com seus rios poluídos e áreas degradadas.Os recursos hídricos, de modo geral, estão poluídos. Nossa atmosfera exala gases produzidos pelas indús-trias químicas e pela queima de combustíveis fós-seis. Com os olhos voltados para citados problemas, procuramos focar a Biodiversidade do país, concei-

tuando-a e destacando seu papel de vanguarda no cenário nacional. Sendo o Brasil um dos maiores detentores de Bio-diversidade do mundo, procuramos lembrar que a responsabilidade da comunidade na fi scalização das áreas de restrição ambiental é primordial, pois a co-biça dessa riqueza tem levado à prática da biopirata-ria por parte dos alienígenas.No tema “Biodiversidade - Mecanismos de Desenvol-vimento Limpo e Créditos de Carbono” – verifi camos que, além das áreas de restrição de valor inestimável para o clima e para as águas, ela dá ensejo a vários projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Lim-po, estimulando o seqüestro de carbono, que visa ser mais uma commodity no Mercado da Bolsa de Valores.Durante o desenvolvimento do presente texto, pro-curamos envidar esforços para demonstrar que a exploração dos recursos naturais, como vem sen-do feita, causa prejuízos irreversíveis, pois devasta as fl orestas, seca mananciais, destrói a fl ora nativa, empeçonha a fauna, exaspera o clima, dá ensejo à erosão e à desertifi cação, e contribui sobremaneira para expansão dos gases do efeito estufa. Segundo os especialistas, precisa-mos reverter essa situação com urgência.

BIODIVERSIDADE Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de CarbonoILVA MARTINS NERY1

1 Advogada, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Ciências Ambientaise Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestranda em Direitos Difusos e Coletivos na Universidade Metropolitana de Santos. E-mail: [email protected]

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IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL, PARA AS ÁGUASE PARA O CLIMA, E SEU VALOR ECONÔMICO, EM FACE DO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPOO Brasil adotou o respeito à função social da pro-priedade e ao ambiente ecologicamente equilibra-do, por tal motivo deve intervir o Poder Público nas hipóteses de desobediência, quando trata de desa-propriação, parcelamento ou edifi cação compulsó-rios e imposto sobre a propriedade predial e terri-torial urbana progressivo no tempo, e a proibição de condutas lesivas ao meio ambiente, sob pena de sanções penais, administrativos e civis, (arts. 182 § 3º e 4º, incisos I e II e § 3º do 225 da CF). Assim sendo, o Poder Público age de forma pre-ventiva, ou seja, planeja e cria áreas verdes, com o objetivo de assegurar a proteção e conservação ambiental, quando cria as Áreas de Preservação Permanente (APP), que segundo o Código Florestal (Lei nº 4771/1965 art. 2º), protege as margens dos recursos hídricos, como rios, lagoas, córregos, além de topos de morros, encostas etc. O Código Flores-tal, ao longo do tempo, foi sofrendo alterações, sen-do complementado pelas Resoluções do CONAMA (entre elas as R. C. nºs 302 e 303, de 20 de março de 20023), e outros instrumentos, para a realização de um ambiente ecologicamente equilibrado, a partir da ordenação territorial, como uma espécie de limitação administrativa.Neste contexto, o Parecer4 apresentado pela Socie-dade Brasileira de Desenvolvimento Sustentável em Milão, e acolhido pelo Órgão Subsidiário de Assesso-ramento Científi co e Tecnológico (SBSTA), em inglês, da lavra das advogadas especialistas em Direito Am-biental, Lucila F.de Lima e Flávia Frangetto, dentro do tema Crédito de Carbono, abordou assunto rela-tivo aos Proprietários de terras de áreas protegidas, observando que eles podem lucrar com projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.As autoras apresentam uma analogia das Reservas Legais, com as Áreas de Preservação Permanente5:“A Reserva Florestal Legal é uma porcentagem de cada propriedade, onde está vetado o corte raso, exatamente porque é locacional e quantitativamen-te variável, demanda averbação. Não se trata, parece evidente, de modalidade de preservação, como é o caso da APP, mas de conservação, posto que admis-sível o uso direto, desde que com manejo.”Das APPs já tratamos alhures; assim, tendo em vista

a importância dessas áreas protegidas, veio a lume a Lei Federal nº 9.605/1998, mais conhecida como Lei de Crimes Ambientais. É importante lembrar que toda vez que o usuário desses espaços protegidos infringir o Código Florestal e outras leis esparsas, po-derá ser incriminado nos âmbitos penal, civil e admi-nistrativo (art. 225, § 3º 6).O estudo de Lima e Fragetto7 aponta que a utiliza-ção do MDL em atividades fl orestais apresenta po-tencial de viabilizar a recomposição de áreas objeto de proteção obrigatória que estejam degradadas ou com sua função social prejudicada8, incentivando seus proprietários a adotarem esse novo instrumen-to que pode ter um viés econômico, e, ao mesmo tempo, ajuda a amenizar o clima.

DADOS DO RELATÓRIO DO PAINEL INTERGOVERNAMENTAL DE MUDANÇASCLIMÁTICASMatérias sobre mudanças climáticas são publicadas na mídia diariamente, mas o Relatório9 do Painel In-tergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC, o mais respeitado documento sobre o tema no mun-do, demonstra claramente que o aquecimento atual é praticado por um estilo de vida iniciado na Revolu-ção Industrial e ainda praticado pelos 6,5 bilhões de habitantes. E por tal “estilo de vida” deve ser entendi-do o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento em larga escala.A concentração dos três principais gases-estufa -dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nítrico (N2) – vem crescendo constantemente e de-gradando a qualidade ambiental do planeta. Em vir-tude disso, há previsão de que os oceanos subirão, ameaçando ilhas e cidades costeiras e que de 10 a 20% da fl oresta Amazônica será dizimada, virando cerrado.Diante da situação caótica do clima, diversos paí-ses vêm promovendo eventos em busca de solu-ções; entre eles, podemos citar o Seminário rea-lizado em 24 de março de 2004 pela Secretaria de Meio Ambiente10 de São Paulo, sob tema: “Créditos de carbono contribuindo para a solução da gestão de resíduos sólidos”, do qual participaram diversos representantes dos governos federal, estadual e municipal, organizações não-governamentais e em-presários do setor de resíduos sólidos. Nesse evento foram dados como exemplos os projetos brasileiros aprovados para a redução das emissões de gás me-tano em aterros, ou seja, o aterro “Veja” em Salvador,

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na Bahia, e o aterro “Nova Gerar” de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, os quais constituem a base metodo-lógica para empreendimentos similares. Em outro evento promovido pelo SENAC11, foram discutidas as oportunidades para que pequenos projetos pos-sam também reduzir a emissão de gás carbônico.Segundo estudiosos do assunto, o Brasil é líder em projetos para a venda de créditos de carbono, sendo esta uma atividade econômica com grande poten-cial a ser explorado12. É de conhecimento geral que apesar de o Brasil ser um país em desenvolvimento, com grandes desi-gualdades sociais, também é detentor da maior bio-diversidade ou diversidade do mundo, que segundo Édis Milaré13 é a variedade de indivíduos, comunida-des, populações, espécies e ecossistemas existentes em uma determinada região.E de olho nessa riqueza, surgiu a biopirataria,14 que para seu controle, depende de vontade governa-mental, a ser manifestada através de políticas pú-blicas, como por exemplo, o Projeto de Lei n°306 de 1995, proposto pela então Senadora Marina Silva15,

e enviado para a Câmara dos Deputados, ainda aguardando votação.

CONCLUSÃOTendo em vista todas as colocações apresentadas no curso deste texto, notamos que razão assiste aos mestres Fiorillo e Diaféria16 quando apontam “a ne-cessidade de uma maior conscientização do que ve-nha a ser a dignidade da pessoa humana, qualidade de vida e sua salubridade, em face do desenvolvimento econômico crescente e de todo o regramento jurídico já existente para dar suporte à manutenção da Biodi-versidade do planeta e, principalmente, para a preser-vação humana”.Sendo as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais imprescindíveis para a preservação e conservação dos recursos naturais, entre elas, a água, fundamental para a sobrevivência do planeta, cabendo a cada cidadão a vigilância, e a fi scalização por parte do Estado. Citadas medidas são de rigor, nos termos do art. 22517, caput, da Lei Maior. Por outro lado, as áreas protegidas vêm dando ensejo a grande quantidade de projetos de Mecanismo de

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Desenvolvimento Limpo (MDL), de imenso valor instrumental para a realização de redução dos Gases de Efeito Estufa – (GEE), tão importante para amenizar o clima.Caso não sejam priorizados instrumentos para amenizar o clima, como a redução de gases do efeito estufa, a diminuição do uso de combustí-veis fósseis e a devida importância das áreas de restrição, a tendência será cada vez mais a eleva-ção do aquecimento da Terra e mais freqüentes serão as inundações, o desmatamento, o assorea-mento dos recursos hídricos, as queimadas, a fal-ta de alimentos e de água, sendo certo que esta última será causa de futuras guerras mundiais, segundo os mais pessimistas18.Sobre a importância da Educação, e para arrema-tar este texto, deixamos registradas as sábias pa-lavras da Profª Maria Cecília Focesi Peliocione19: “Valores éticos tais como a equidade, a solidariedade, e a justiça social devem ser usados a serviço de opções cons-cientes. Um dos principais papéis da Educação é então, incrementar a capacidade das pessoas de transformar suas idéias sobre a sociedade, em realidades funcionais imprescindíveis para que a humanidade possa então mo-difi car sua trajetória e melhorar sua qualidade de vida.”

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1Caros Amigos, janeiro 2002, p.35 –“O governo do Egito, por exemplo, disse com todas as letras que, se a Etiópia retirar mais uma gota de água do rio Nilo, o ato seria interpretado como uma declaração de guerra. Leve-se em conta que 80 por cento desse rio vêm da Etiópia e tem-se um cenário de barril de pólvora na região. (...) Só na África, são onze os países que têm difi culdades com a água. No Oriente Médio, são nove. A situação também é desconfortável no México, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos.”2 idem3 Resolução CONAMA n. 302 – dispõe sobre os parâmetros, defi nições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios

artifi ciais e o regime de uso do entorno. A Resolução CONAMA n. 303, dispõe sobre parâmetros, defi nições e limites de Áreas de Pre-servação Permanente.4 www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf5 “Considerando as diferenças de ambas, elas apresentam-se convergentes, ante o fato de representarem a vinculação do território a uma margem regrada de padrões de uso da terra e respectivos recursos ambientais por força de qualidades ambientais próprias (por exemplo, formas de vegetação destinadas a atenuar a erosão das terras; função de fi xar as dunas conforme a listagem do art. 3º do Código Florestal)... Nesse sentido, encontramos os conceitos a APP e de Reserva Legal, na Medida Provisória 2166-67 de 24 de agosto de 2001(anexo IV)”.6 Art. 225 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-ções.” § 3º do ar. 225: “As condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”7 www.meioambientecarbono.adv.br/pdf/parecer_valor.pdf8 Afi rmam que o retorno fi nanceiro proveniente da geração de créditos de carbono, na fi gura do Certifi cado de Emissão Reduzida (CER) vem como exploração econômica indireta: o objeto imediato (retorno direto) é a conformação com a redução de GEE para a mitigação do aquecimento global e incremento do desenvolvimento sustentável.9 Jornal da Tarde de 3/2/2007. “Aquecimento Global”, pp. 7-A-8-A10 http://www.ambiente.sp.gov.br/destaque/2004’maco/24_worshop.htm Acesso em 22/3/200511 Jornal da Tarde – “JT Cidadão . 15-A: Créditos de Carbono: como obter?” , 2/6/200712 Idem. Atualmente, o Brasil é o país com a maior quantidade de projetos de MDL – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em aná-lise no Banco Mundial, visando à venda de créditos de carbono. Dados do Banco Mundial relativos aos anos de 2002 e 2003 revelam que a América Latina é responsável por 60% das vendas mundiais já negociadas. E nesse mesmo período, pelo lado dos compradores, os destaques são a Holanda, responsável por 30% das aquisições, e o Japão, que já responde por 23%.13 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente:doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais, 2000, p.662.14 “Biopirataria consiste no ato de aceder a ou transferir recurso genético (animal ou vegetal) e/ou conhecimento tradicional associado à Biodiversidade, sem a expressa autorização do Estado de onde fora extraído o recurso ou da comunidade tradicional que desenvol-veu e manteve determinado conhecimento ao longo dos tempos (prática esta que infringe as disposições vinculantes da Convenção das Organizações das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica).”- disponível: http://www.amazonlink.org/biopirataria_faq.htm15 SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora, Brasília.2002.16 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo, Editora Max Limonad, 1999.17 Artigo já descrito.18 CHAREAUX, João Paulo. Op. cit.19 Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, “As interrelações entre educação, saúde e meio ambiente”. São Paulo, Biológico, V. 2.p.78, jul/dez.1999.

Referências Bibliografi as:- CHARLEAUX, João Paulo. Água na fervura –guerras pela água já acontecem. Revista Caros Amigos, editora Casa Amarela, janeiro de 2002. http//www.meioambientecarbono.adv/pdf/parecer_valor.pdf, acesso em 19/3/2007.- LIMA Lucila Fernandes, e FRANGETTO, Flávia Wit-kowski. “Parecer jurídico apresentado pela SociedadeBrasileira de Desenvolvimento Sustentável em Milãoe acolhido pela SBSTA”, site: Jornal da Tarde. “Aque-cimento Global”, de 3/2/2007, pp. 7-A-8-A. h t t p : / / w w w. a m b i e n t e . s p . g o v. b r / d e s t a q u e /2004´marco/24worshop.htm acesso em 22/3/2005. Jornal da Tarde. – “JT Cidadão:Créditos de carbônico: como obter?” , de 2/6/07, p.15-A.- MILLIARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo. Ed. Revista dos Tribuanis, 2000, p.662- SILVA, Marina. Publicação do Gabinete da Senadora, Brasília, 2002. Disponível em http://www.amazonlink.org/biopirataria/biopirataria_faq.htm- FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFÉRIA, Adria-na. Biodiversidade e patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo, Max Limonad, 1999.PELICIONI, Maria Cecília Focesi. “As interrelações entre a educação, saúde e meio ambiente”. Biológico. São Paulo.v.n.2.p.75-78, jul/dez,1999

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Há dez anos, um grupo de líderes empresariais com visão de futuro fundou o Conselho Em-presarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável. Nascia, em março de 1997, uma institui-ção revolucionária no Brasil, a primeira a trabalhar de forma integrada e articulada, com as três dimen-sões da sustentabilidade – a econômica, a social e a ambiental. O CEBDS é uma coalizão de grandes empresas instaladas em nosso país e faz parte da rede de 50 conselhos nacionais do WBCSD, o Con-selho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. O CEBDS representa hoje 50 dos mais expressivos grupos empresariais brasileiros, com representação em todos os segmentos: de bens de consumo a construção civil, passando pelo sistema fi nanceiro e os setores de metalurgia, siderurgia, pe-tróleo e prestação de serviços. Esses grupos geram mais de 600 mil empregos diretos e são responsá-veis por mais de 40% do PIB nacional. A fundação do CEBDS faz parte de um contexto his-tórico, que tem origem no movimento ambientalista mundial no início dos anos 70 e ganha forma e conte-údo a partir da publicação do Relatório Brundtland, documento lançado em 1987 e que apresentou para o mundo a expressão “desenvolvimento sustentá-vel”. O relatório recebeu este nome em homenagem à então primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, grande líder do país que hospedou os 21 membros de uma comissão nomeada pela ONU para estudar e propor uma agenda global com ob-jetivos bem defi nidos: capacitar a humanidade para enfrentar os principais problemas ambientais do planeta e assegurar o progresso humano sem com-prometer os recursos para as futuras gerações. Porindicação dos membros da Comissão Brundtland,foi realizada no Rio de Janeiro, cinco anos mais tar-de, a II Conferência Internacional de Meio Ambien-te e Desenvolvimento, que fi caria conhecida como

Rio-92. Foi um marco do início da mobilização dos empresários, mesmo considerando que, naquela época, as empresas eram os principais alvos de crí-ticas dos ambientalistas.Na Rio-92, que reuniu 170 chefes de Estado, o líder empresarial suíço Stephan Schmidheiny deu a parti-da para o envolvimento do setor na implementação do desenvolvimento sustentável. Fez um discurso solitário e ouvido com desconfi ança por expressi-va parcela dos participantes. Mas marcou a posição que iria prevalecer nos anos seguintes, a de que as empresas são parte fundamental e imprescindível do novo modelo de desenvolvimento concebido cinco anos antes em Estocolmo. Como resultado prático da Rio-92, foram elaboradas as grandes convenções globais, como a do clima e da biodiversidade, que passariam a nortear, hoje de forma mais expressiva, as políticas de desenvol-vimento. A partir daquela conferência novos con-ceitos surgiram e foram aperfeiçoados, como eco-efi ciência, responsabilidade social e tantos outros, todos convergindo para a compreensão defi nitiva de que a sobrevivência das futuras gerações - e do próprio mercado econômico - só será assegurada com a adoção de mecanismos capazes de conciliar produção de bens e serviços com a preservação dos recursos naturais e do bem-estar social. Até então, a preocupação com a perenidade dos recursos na-turais restringia-se às ONGs ambientalistas, a uma elite do meio acadêmico e, isoladamente, a alguns representantes do meio político, representados pelos chamados par-tidos “verdes”. O dis-curso de Schmidheiny ganhou força e a elite do setor empresarial passou a se organizar. Esse processo deu ori-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA O PAÍS

FERNANDO ALMEIDA1

1 Engenheiro, presidente executivo do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimen-to Sustentável), professor da UFRJ e autor do livro “Os Desafi os da Sustentabilidade: Uma Ruptura Urgente”.

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MEIO AMBIENTE

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MEIO AMBIENTE

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gem ao WBCSD e, conseqüente-mente, aos conselhos nacionais. Hoje, é incontestável a evolução de representativa parcela das empresas no contexto da susten-tabilidade, embora ainda esteja-mos muito distante do nível de adesão satisfatório. A redefi nição do modelo de gestão empresa-rial tem sido motivada por razões éticas e pragmáticas. Os líde-res empresariais alinhados com esse contexto perceberam que a sustentabilidade representa a sobrevivência de sua atividade econômica, transforma desafi os em novas oportunidades de ne-gócios e amplia os ativos intan-gíveis de sua empresa. Em 2002, em Johanesburgo, na África do Sul, realizou-se a Cú-pula Mundial para o Desenvol-vimento Sustentável. Além de avaliar o que aconteceu de mais signifi cativo nos dez anos ante-riores (de positivo e de negati-vo), este encontro registrou dois acontecimentos que merecem destaque. Um deles foi a assina-tura de um documento, no qual as nações comprometeram-se a cumprir metas ambientais e so-ciais, como também as propostas contidas nas convenções globais elaboradas dez anos antes. O ou-tro destaque deve ser creditado à presença do setor empresarial. Ao contrário do que acontecera na Rio-92, as empresas tiveram uma participação marcante na reunião de Johanesburgo. Nes-ta conferência da África do Sul, o CEBDS, fundado cinco anos antes, já fazia parte como ativo protagonista da história. O Con-selho teve participação decisiva na mobilização do setor empre-sarial brasileiro naquele evento internacional. Outros fatos de grande relevân-cia aconteceram em seguida, como a divulgação, em março de 2005, do relatório Millennium Ecosystem Assessment (Avalia-ção Sistêmica do Milênio), estudo

realizado com suporte da ONU, WBCSD, Nasa, e em parceria com outras instituições empresariais, acadêmicas e da sociedade civil de todo o mundo. Desenvolvido por 1.360 cientistas de 95 países e supervisionado por um Con-selho Executivo, do qual tive a honra de fazer parte, o relatório constatou, cientifi camente, que hoje 60% dos serviços dos ecos-sistemas do planeta – tais como água doce, pesca, regulação do solo e do clima – registram alto grau de degradação ou são usa-dos de forma insustentável. E traz uma advertência: este pro-cesso nocivo tende a agravar-se nos próximos 50 anos, colocan-do em risco a sobrevivência das futuras gerações.

Mais recentemente, no início de 2007, o Painel Intergovernamen-tal sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou a primeira parte de seu relatório, no qual fi cou cientifi camente comprovada a tese de que o aquecimento glo-bal é decorrente da ação do ho-mem e não de um fenômeno na-tural. O IPCC revelou ainda que, ao contrário da tese defendida por algumas correntes, as inova-ções tecnológicas, isoladamente, não serão capazes de reverter a curva ascendente da elevação da temperatura do planeta. Uma década – dentro de uma escala de tempo - nos permite refl etir com mais precisão onde

chegamos e aonde vamos. Nes-ses dez anos, obtivemos provas contundentes de que o modelo de desenvolvimento tradicional (predador, excludente e insus-tentável) é inviável sob todos os aspectos. Os recentes relatórios científi cos citados acima expli-cam as razões das freqüentes e intensas reações da natureza e o acirramento dos confl itos sociais. Contudo, não podemos negar que o entendimento e a aceita-ção em relação ao tema são cada vez maiores. Há dez anos, não havia sequer qualquer tipo de aproximação com a questão da responsabi-lidade social, salvo raras exce-ções e, assim mesmo, com o viés fi lantrópico e assistencialista. Temas como clima, água e bio-diversidade eram incipientes e desacreditados. Houve signifi -cativas mudanças positivas: os grupos empresariais do país hoje buscam conduzir seus negócios na direção da sustentabilidade; instituições que originalmente abordavam apenas a questão so-cial ou se limitavam a trabalhar na área ambiental migram para o desenvolvimento sustentável; os temas centrais conquistam fi nalmente o merecido espaço na mídia. Como representante das empresas, o CEBDS tem de-sempenhado papel fundamental nesse processo de entendimen-to, aprofundando o diálogo com seus interlocutores e democrati-zando o conhecimento. Além do envolvimento crescente do se-tor empresarial nesse processo, o trabalho do Conselho exerce forte infl uência sobre outros se-tores chaves da sociedade, como governos, ONGs, universidades. Por intermédio de suas câmaras técnicas e pela interface com o WBCSD, o CEBDS tem cumprido com sucesso sua missão de fa-cilitador, provedor, defensor, co-municador e catalisador, abrindo espaço para uma nova visão so-

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“Os líderes empresariais

alinhados com esse contexto

perceberam que a sustentabilidade

representa a sobrevivência de sua

atividade econômica”

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bre o papel da empresa na sociedade e capacitando seus gestores. Atualmente, são sete as câmaras téc-nicas: Água; Biodiversidade e Biotecnologia, Educa-ção para a Sustentabilidade, Energia e Mudança do Clima, Finanças Sustentáveis, Legislação Ambiental e Responsabilidade Corporativa. Agora, estamos em vias de montar a Câmara Técnica de Construção Sus-tentável. As câmaras têm coordenação de um téc-nico do CEBDS e são presididas por representantes das empresas associadas. Essa capacitação técnica vem abrindo espaço para o CEBDS ter acesso, como representante do setor empresarial, em importantes órgãos institucionais, tais como Comissão de Políti-cas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), Conselho de Gestão do Patrimônio Genéti-co (CGEN), Comitê Gestor de Produção Mais Limpa, Comissão Organizadora da II Conferência Nacional de Meio Ambiente, Fórum de Competitividade de Biotecnologia, delegações brasileiras nas reuniões da Conferência das Partes de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade.Hoje, já há o reconhecimento de que a mobilização do setor empresarial será decisiva para transformar a potencialidade brasileira em diferentes campos –energia, biodiversidade, recursos hídricos - em de-senvolvimento econômico, com inclusão social e uso racional e sustentável dos recursos naturais. Estamos, agora, diante de novos desafi os. Ao mesmo tempo em que consolidamos a posição das empre-sas de visão em alto estágio de reputação, precisa-mos continuar olhando para o futuro. Há muito o que fazer. Não podemos perder a pers-pectiva do senso de urgência. Devemos ter clare-za, por exemplo, sobre as dicotomias com as quais ainda convivemos: a empresa que mais faturou no mundo em 2006 é considerada o ícone do capitalis-mo selvagem, fi nanciando movimentos a favor da manutenção da emissão de gases de efeito estufa. Fatos como estes explicam em parte por que ainda não chegamos a resultados que modifi quem a ten-dência de degradação. Assim como na natureza, existem os dilemas institu-cionais. Ambos, como tudo o que acontece na vida real, estão intimamente relacionados. Os dilemas da natureza ganharam, a partir de agora, grande espa-ço na mídia. O aquecimento global tem efeito avas-salador em qualquer ecossistema e passou a fazer parte da agenda de prioridades. Paradoxalmente, as conseqüências nefastas deste fenômeno provocado pela ação do homem facilitarão o entendimento de que a atividade econômica, a perenidade dos recur-sos naturais e as políticas sociais não podem ser tra-tadas de forma fragmentada. Institucionalmente, vejo a questão da liderança como o maior desafi o: ainda não apareceu um líder, um estadista capaz de conduzir a humanidade na di-

reção da sustentabilidade, tal como aconteceu nos movimentos pacifi stas e contra o racismo num pas-sado recente. A complexidade e transversalidade do tema difi cultam o discurso unifi cado. Numa relação de causa e efeito, não temos massa crítica de líderes, seja na sociedade civil, seja no governo, seja no setor privado. Estamos cada vez mais convencidos de que a chave para a necessária e urgente formação de li-deranças está na democratização e aprofundamento do conhecimento e na nossa capacidade de tornar rotina a prática de compartilhar experiências, envol-vendo sempre os principais setores da sociedade –empresas, governos e entidades civis. A formação de líderes da sustentabilidade – seja no âmbito das empresas, das instituições governamen-tais ou da sociedade civil – tem sido, nos últimos anos, uma das principais estratégias do CEBDS. Em 2005, realizamos o 1º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável, o Sustentável-2005, reunindo mais de mil participantes na Marina Glória, no Rio de Janeiro. Foi uma experiência iné-dita no país. No ano seguinte, realizamos o Ciclo de Debates Sustentável-2006, no qual empresários e executivos do país tiveram oportunidade de discutir sustentabilidade com os maiores especialistas brasi-leiros e internacionais. Estes dois eventos explicam o sucesso absoluto do 2° Congresso Ibero-America-no sobre Desenvolvimento Sustentável e a Feira de Sustentabilidade, promovido em maio de 2007 no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Durante três dias, o Sustentável-2007 atraiu 3.300 participantes para o Congresso e aproximadamente 20 mil visitantes para a exposição montada na Marquise do Ibirapue-ra. A estratégia terá continuidade. Em 2008, realiza-remos um novo ciclo de debates com participação de empresários e especialistas, em várias capitais do Brasil. E em 2009, estaremos novamente reunidos no 3º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvi-mento Sustentável. Nesses dois próximos eventos, a tendência é que sejam realizados em outras capitais do país, fora do eixo Rio-São Paulo. Há uma crescen-te mobilização de empresas, ONGs, universidades e demais entidades da sociedade civil organizada em torno da sustentabilidade.Já conhecemos o caminho. Precisamos agora estar atentos para o senso de urgência e optar pela me-lhor maneira de imprimir as mudanças. Se formos capazes de estabelecer relações transparentes entre as instituições – empresas, governos e sociedade civil organizada – e pôr em prática um modelo de desenvolvimento que atenda de forma equilibrada e sustentável as demandas econômica, social e am-biental, estaremos comemorando, daqui a dez anos, a estabilização da perda de biodiversidade, do aque-cimento global e a reversão do quadro de pobreza ainda presente em nosso país e em várias regiões do planeta.

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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

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O rio Tietê, parte integrante da vida dos pau-listas, tem uma história de contrastes, de múltiplas faces, de múltiplos usos.

Ao iniciar este texto trazia em mente a imagem do futuro, do tempo que será necessário para que o Tietê possa “ressuscitar” no trecho em que atravessa a cidade de São Paulo e seus arredores: tempo, in-vestimentos, recursos diversos, ligações de esgotos, coleta de esgotos, tratamento de esgotos, indus-trialização, crescimento urbano, controle da polui-ção, nos tantos equacionamentos necessários para devolver a vida ao rio.Foram muitos os investimentos realizados até ago-ra. No Programa de Despoluição do Rio Tietê, co-nhecido como “Projeto Tietê”, criado em 1992, já fo-ram investidos recursos que somaram R$ 1,1 bilhão até 1998, com outros R$ 400 milhões previstos para investimento no período compreendido entre 1998 até o fi nal de 2007. A população da cidade “tropeça” diariamente nas obras da despoluição. A Compa-nhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo colocou em operação três novas estações de trata-mento de esgotos no ano de 1996, e passados 15 anos desde o histórico ano de 1992, quando a cida-de fi nalmente despertou e decidiu olhar para o seu rio e tentar mudar seu destino, ainda encontramos nos jornais manchetes anunciando “Retrocesso no Tietê”. Passado o impacto inicial, vem à cabeça a imagem do tempo demandado até que fi nalmen-te se promova a completa recuperação do rio. Bus-cando respostas, analisando a história do Tietê para encontrar as explicações, a única idéia que surge é a do “tempo passado”. É preciso recontar aos paulis-

tanos a história do Tietê, e também lhes mostrar as outras faces do rio e tudo que ele representou e ain-da representa para o desenvolvimento de São Paulo e do país. É preciso que se conheça também, a sua outra realidade, vivenciada pela população do inte-rior de São Paulo, especialmente após a represa da Barra Bonita, onde o rio está vivo e em nada se asse-melhando com as águas lentas que cortam a cidade de São Paulo transportando entulho. No interior, o Tietê é fonte de lazer e alimento, e sua participação no cotidiano das pessoas é altamente benéfi ca.Para poluir, basta um ato. Por outro lado, a despolui-ção não ocorre da mesma forma, necessitando de inúmeras ações integradas para acontecer, poden-do ser defi nida como um processo longo e comple-xo, que exige controle social, mudança de postura e uma nova cultura frente à utilização dos recursos hídricos. A participação efetiva da sociedade neste processo é fundamental para se atingir os resulta-dos esperados. Para tanto, é preciso envolvimento. E esse breve tempo dedicado a estudar a história do Tietê, já foi sufi ciente para uma grande como-ção, e revendo os fatos, onde a história do Tietê se confunde com a própria história de São Paulo e de sua gente, a bandeira que se levanta é a de que “não podemos esmorecer”.Por meio do Tietê, bandeirantes desbravaram ter-ras em busca de riquezas, colonizaram o interior e transportaram pessoas e mercadorias, transfor-mando o rio em uma es-trada fl uvial. O Tietê serviu ainda de cenário para o

O TEMPO DO RIO TIETÊUm rio de contrastes e múltiplos usos

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WANDERLEY DA SILVA PAGANINI1

1 Engenheiro Civil e Sanitarista, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, Superintendente de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP. Professor Associado da Faculdade de Saúde Pública -USP. Em 2007 defendeu sua tese de livre-docência intitulada: “A identidade de um rio de contrastes: o Tietê e seus múltiplos usos”

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desenvolvimento de inúmeras cidades ao longo de seu eixo que aproveitam suas águas de múltiplas formas, e inserido no contexto urbano, foi moldado, no que se assemelha a uma se-qüência de grandes lagos, para gerar energia elétrica, sendo também adaptado às necessida-des da navegação, da agricultura e do turismo.Se considerarmos o crescimen-to populacional e a expansão no número de indústrias experi-mentado pela Bacia do Tietê nos últimos anos, é possível afi rmar que as condições do rio hoje estariam muito piores caso não tivessem sido adotadas as medi-das sanitárias e ambientais para recuperação do Tietê na Região Metropolitana de São Paulo, no decorrer da década de 1990. Analisando-se os dados históri-cos disponibilizados pela agên-cia ambiental, são evidentes os sinais de melhoria da qualidade das águas rio. No primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo elaborado em 1990, verifi ca-se que as repre-sas formadas pelos barramentos do Tietê, apresentavam bons Ín-dices de Qualidade das Águas –IQA, denotando que as águas eram de boa qualidade, porém com tendência a piorar. Já o Re-latório de Situação dos Recursos Hídricos do Estado de São Pau-lo, elaborado no Plano Estadual de Recursos Hídricos de 2002, com dados de 2000, apresentou o lago de Três Irmãos com IQA ótimo e tendência indefi nida, e os demais com IQA bom, com tendência indefi nida. O relatório de Qualidade das Águas Inte-riores do Estado de São Paulo -edição de 2005, apresenta para Três Irmãos, Nova Avanhandava

e parte de Barra Bonita, Índices de Qualidade de Água Bruta para Fins de Abastecimento Público - IAP como ótimo, e bom para as demais represas do Tietê.Pode-se afi rmar ainda, que a se-qüência de ambientes lênticos e semi-lóticos formados pelas grandes represas situadas em seu curso após a Região Metro-politana (Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão, Nova Ava-nhandava e Três Irmãos), auxilia no processo de autodepuração e proporciona a gradativa me-lhoria da qualidade das águas. Os novos ecossistemas gerados a partir desses grandes lagos, as-sociados às crescentes iniciativas relacionadas ao tratamento de esgotos, ao processo natural de autodepuração proporcionado pela exposição de seus espelhos d’água e pela simbiose entre al-gas e bactérias, bem como pelas quedas d’água e corredeiras exis-tentes logo após a Região Metro-politana de São Paulo, acarretam uma melhoria na qualidade da água do Tietê, possibilitando múltiplos usos a partir da região do município de Anhembi, no re-servatório da Barra Bonita.Há que se ressaltar também, o

incremento das iniciativas volta-das à conscientização da popula-ção e a articulação dos poderes públicos e privados, promovidos pelos Comitês de Bacias Hidro-gráfi cas e o importante papel da Companhia de Tecnologia de Sa-neamento Ambiental (CETESB), para o monitoramento e contro-le da qualidade das águas. Não bastam os investimentos em obras civis direcionados ao trata-mento dos esgotos sanitários. Há um longo caminho a ser percor-rido até que se resgate a vida do Tietê. A educação ambiental e a conscientização da sociedade, também são fundamentais para a melhoria ambiental.É chegado o tempo de “abraçar” o rio. E levará tempo para que ele se recupere e tenha vida no-vamente na cidade de São Paulo. Mas ainda que seja longo “o tem-po do rio”, maior é o nosso, até que se aprenda um novo modo de vida. É preciso aprender a exercer o direito de utilização dos recursos naturais de manei-ra sustentável, defendendo-os e preservando-os, para que seja possível a sobrevivência das ge-rações futuras. Leva tempo: “o tempo do rio”, mas não vamos esmorecer.

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Rio Tietê na cidade de Sabino, próximo à barragem de Promissão: Atividades de lazer propiciadas pela melhoria na qualidade das águas

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CYBER CAFÉ

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O “portal Domínio Público”, lançado em novembro de 2004, propõe o comparti-lhamento de forma equânime, colocando

à disposição de todos os usuários da rede mun-dial de computadores - a Internet - uma biblioteca virtual onde é possível baixar de graça, arquivos com músicas inteiras, livros na íntegra, imagens, fotos, documentários, programas da TV Escola, entre outros. Inicialmente, quando o site foi lança-do havia lá cerca de 500 obras, hoje, no entanto, já conta com mais de 2.105 obras, que são de domínio público, ou tem autorização legal paradivulgação. O endereço eletrônico é :www.dominiopublico.gov.br.

O portal foi desenvolvido em software livre e tem à disposição um farto material literário, com obras inteiras digitalizadas que podem ser baixadas (fazer download) ou lidas na tela do micro. Entre as obras de brasileiros como Machado de Assis, é possível encontrar “A Semana” digitalizado pela Universidade da Amazônia, ou “A Mão e a Luva” proveniente da Biblioteca Virtual do Estudante Bra-sileiro, um programa da Universidade de São Paulo, ambas instituições parceiras do portal. Se o leitor for amante da literatura mundial, também é possível encontrar obras de importantes escritores, como o

português Eça de Queiroz ou o dramaturgo Inglês William Shakespeare. Entre outros livros é possível ler, do primeiro mencionado “A Cidade e as Serras”, “A Relíquia“, “O Crime do Padre Amaro” e o “O Primo Basílio”. Já de Shakespeare, traduzidos para o bom português é possível ler “A Comédia dos Erros”, “A Megera Domada”, “Mcbeth”, entre outros títulos.Para quem tem criança em fase escolar, o portal tam-bém disponibiliza vídeos e literatura infantil, além de textos sobre Belas Artes, Ciências Exatas e Sociais, Direito, partituras, textos de referência ou sobre re-ligião, além de um incrível pacote de vídeos em do-mínio público de documentários, passeios virtuais e programas da TV Escola.

Os amantes da boa música podem baixar em MP3 músicas eruditas de Francisco Mignone e Heitor Villa-Lobos, e mais de 20 títulos de músicas contem-porâneas em inglês, inclusive Oslodum 2004, do DJ Dolores, ou My Fair Lady, de David Byrne, além de jazz ou pop-rock.

O Portal Domínio Público tem diversas par-ceiras, contribuem com o projeto: a Biblio-teca Digital da Fundação Biblioteca Nacional da ebooksBrasil, Núcleo de Pes-quisa em Informática; Lite-ratura e Lingüística da Uni-versidade Federal de SantaCatarina; Project Gutemberge Phoenix-Library of Índia, Lês Classiques dês SciencesSociales e World Book Library, entre outras insti-tuições.

Site Domínio PúblicoFRANCISCA ADALGISA1

1 Socióloga e Analista de Sistemas de Saneamento da Sabesp

<+> Para Saber Mais:Portal Domínio PúblicoRevista a Rede http//www.arede.inf.br

Divulgação

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Saneas Setembro/Outubro de 2007

Uma boa dica de leitura é o livro do físico e produtor de Ciência da BBC, Simon Singh, lançado pela Editora Record em 2006.

O autor trata de maneira bastante didática a história da ciência, partindo das antigas crenças do período neolítico, até a sofi sticação da mecânica quântica, de forma que o leigo ou o cientista, uma vez envolvidos na leitura, se apaixonem pelo tema. Nosso univer-so é povoado por mais de cem bilhões de galáxias, cada qual contendo aproximadamente 100 bilhões de estrelas, onde em pelo menos um planeta que órbita uma dessas estrelas, a vida evoluiu. O modelo do Big Bang nos fornece uma explicação matemática e elegante para a origem de tudo que vemos no céu noturno, o que transforma esse mo-delo numa das maiores realizações do espírito e do intelecto humano. Esse modelo que tem uma histó-ria bastante recente, com menos de um século de vida, só foi possível ser elaborado, porque se apoiou no conhecimento acumulado da astronomia dos sé-culos anteriores.Singh nos leva a um passeio pela história da astro-nomia. É particularmente interessante a maneira de como os antigos povos determinaram o raio do nosso planeta. Essa odisséia tem início com o gre-go Erastótenes (276 A.C.), que através da sombra de uma vareta medida em duas cidades diferentes, no mesmo horário e da distância conhecida entre elas (Siena e Alexandria, no Egito), determinou com precisão de menos de 5% o raio da Terra. O mesmo Erastótenes ainda determinou a distância da Terra ao Sol e da Terra à Lua, através de simples geometria Euclidiana.Mesmo com retrocesso que a Igreja causou nos sé-culos seguintes, pelo “controle da sabedoria”, per-sonagens apaixonantes como Galileu, Copérnico e

Kepler não perderam o fi o da história, e o conheci-mento pôde seguir até nós.Dando um salto para frente na história, Singh nos mostra como o astrônomo americano Edwin Huble desmente Einstein e mostra que nosso Universo está em expansão. A teoria cosmológica de Einstein apresentava uma matemática que mostrava que o Universo estaria em expansão e Einstein acreditava que o Universo fosse estático, por isso, ele introduziu uma constante nas equações para que o Universo permanecesse imóvel. Se ele não tivesse feito isso, teria chegado com pelo menos 20 anos de antece-dência, às mesmas conclusões de Huble, sem nunca precisar por os olhos em um telescópio.Do início até o fi m do livro, Singh, constrói uma nar-rativa bem humorada, pontuada por histórias curio-sas. O próprio termo Big Bang, ou grande explosão, foi uma ironia cunhada por um astrônomo adepto da estaticidade do Universo, com o propósito de desqualifi car o trabalho dos outros cientistas que investigavam o momento da criação. Mas foi esse termo que “pegou” .Em resumo, é o tipo do livro que vale a pena ser lido. É uma pena que não tivesse sido escrito em meus tempos de escola.

Big BangSimon SinghEditora Record, 2006

LUIZ CARLOS HELOU1

1 Engenheiro, atualmente trabalha na TOD - Departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação

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RESENHA

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HOMENAGEM

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época que surgiu o CCO (Centro de Controle Ope-racional). Foi construído até um prédio (na Costa de Carvalho) para abrigar essa unidade. Sua implanta-ção demorou cerca de dois anos e foi um trabalho de pesquisa muito árduo”, fala.O atual presidente da CTEEP explica que além dos equipamentos em mais de uma centena de reservatórios, havia estações de bombeamento responsáveis por levar a água até as torres: “Nos reservatórios foram instalados computadores que se comunicavam em tempo real com o CCO. Eram medidos o volume, a vazão e a abertura das válvu-las. O CCO digeria as informações e as colocava em vídeos onde, até hoje, fi cam os controladores”.Sidnei não se esquece dos amigos que o ajudaram em toda essa empreitada: “Não poderia deixar de citar Jonas Novaes, Amir Gabriel Chadi, José Augus-to Faria, Paulo Massato e Luiz Antonio Tombasco, a quem acabei substituindo como chefe de Depar-tamento de Controle de Operação. Fiquei até 1984 nessa função. É um tempo do qual não consigo real-mente me esquecer. Ali nós fazíamos a macromedi-ção e os estudos de engenharia para a liberação de água em novos condomínios e loteamentos. Tam-bém havia a capturação de esgoto para os intercep-tores que levavam para a estação de tratamento de Barueri. Era a chamada Operação Caça Esgoto”. Para ele, essa foi uma fase em que a Sabesp estava investindo em novas tecnologias: “Eram engenhei-ros civis e hidráulicos que foram buscar nas univer-sidades, na computação, uma tecnologia pioneira no Brasil e na América do Sul. Foi uma fase áurea. De muita pesquisa, trabalho e conquistas. Nós de-senvolvemos um Centro de Controle Operacional que foi um exemplo e serviu de padrão para todo o país”, explica. O SCOA (Sistema de Controle Operacional de Abas-tecimento de Água Tratada da Região Metropolita-na de São Paulo) foi tão importante para a vida de Sidnei que serviu como sua tese de doutorado: “Ele é até hoje uma referência internacional pelo porte da região metropolitana de São Paulo. Um sistema complexo que serve de base para estudos interna-cionais”, fi naliza.

Sidnei Colombo Martini é o que se pode chamar de

profi ssional completo e realizado. Aos 60 anos, ele é Engenheiro Eletri-cista, formado na Escola Politécnica da Universi-dade de São Paulo, em 1970, onde fez carreira acadêmica.Mestre em 1975, doutor em 1982 e livre-docente em 1992, em Engenharia Elétrica, além de profes-

sor titular (2002) pela Escola Politécnica da Universi-dade de São Paulo.Ele preside, desde 1999, a Transmissão Paulista (CTE-EP) Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, que responde pelo sistema de transmissão de energia elétrica no Estado de São Paulo. E para fi nalizar é Professor Titular do Departamento de En-genharia de Computação e Sistemas Digitais da Es-cola Politécnica da Universidade de São Paulo desde 2002.Um profi ssional com tantos requisitos poderia ser frio e impessoal. Mas não é o que acontece com Sid-nei Colombo Martini. Principalmente ao falar de cin-co anos de sua vida (1979 a 1984), quando trabalhou na Sabesp.“Minha querida Sabesp. Quanta saudade daquele tempo. E pensar que entrei na empresa quase por acaso. Em 1979, fui fazer uma visita ao diretor de operação da região metropolitana de São Paulo. Fui apresentar uma proposta de monitoração das repre-sas na região norte. Era um sistema de supervisão para evitar acidentes. Estava presente um assisten-te técnico (Carlos Botelho Berenhauser) e recebi um convite para trabalhar na empresa”, diz.Sidnei entrou no SCOA (Sistema de Controle Opera-cional de Abastecimento de Água Tratada da Região Metropolitana de São Paulo): “De 1979 a 1981 fui o responsável pelo detalhamento do projeto, escolhados equipamentos e sistema de operação. Foi nessa

Um profissional realizado que nunca esqueceu a Sabesp

VICENTE DE AQUINO

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Entrega do Troféu AESabespAnunciada pelo nosso diretor técnico, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, na solenidade deencerramento do XVIII Encontro Técnico da AESabesp- Fenasan , a entrega do Troféu AESabesp,em 2007, contemplou 11 premiações, de acordo com os votos dos próprios participantes daFeira.Nossos parabéns aos vencedores que se destacaram na Fenasan-2007, extensivo a todos osdemais expositores, pelo alto nível de apresentação, contribuindo para uma difícil decisão, emmeio a tanta qualidade trazida por todos.

Destaque AESABESP Deferência Especial AESABESP

Categoria “Melhor Stand”

ABS Indústria de Bombas Centrífugas Ltda. Kemira/ Kemwater Brasil S.A.Bugatti Brasil Válvulas Ltda.

Categoria “Inovação Tecnológica”

Danfoss do Brasil Indústria e Comércio Ltda. Higra Industrial Ltda. Emec Brasil Sistemas de Tratamento de Água Ltda.

Categoria “Atendimento Técnico”

Hexis Científica S/A. Lamon Produtos LtdaIncontrol S/A

Ilha Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental), formada pelas empresas Abimaq, Aquamec, Centroprojekt do Brasil, Degrémont, Mizumo, Pieralisi, Prominas e WAM). O seu presidente Gilson Cassini Afonso exibe o troféu conquistado.

Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Os diretores Marcelo Salles Holanda de Freitas (Meio Ambiente e Tecnologia) e Umberto Cidade Semeghini (Sistemas Regionais).

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