SANGRAMENTOS DE INTESTINO DELGADO DE DIFÍCIL...

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1 HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL LUCAS BRUNO BORGES SANGRAMENTOS DE INTESTINO DELGADO DE DIFÍCIL DIAGNÓSTICO: UMA SÉRIE DE CASOS NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA FORTALEZA/ CE 2018

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HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL

LUCAS BRUNO BORGES

SANGRAMENTOS DE INTESTINO DELGADO DE

DIFÍCIL DIAGNÓSTICO: UMA SÉRIE DE CASOS

NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

FORTALEZA/ CE

2018

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HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL

LUCAS BRUNO BORGES

SANGRAMENTOS DE INTESTINO DELGADO DE

DIFÍCIL DIAGNÓSTICO: UMA SÉRIE DE CASOS

NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

Monografia submetida ao

Hospital Geral de Fortaleza,

como parte dos requisitos

para conclusão da Residência

Médica em Cirurgia Geral

Orientador: Olavo Napoleão de Araújo Junior

FORTALEZA/ CE

2018

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Dedico a presente monografia à

minha família, amigos e professores,

que me tornaram capaz de alcançar

esse objetivo

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AGRADECIMENTO

À minha família por todo o apoio em toda minha caminhada durante a

residência médica, compreendendo e acolhendo todas as minhas fraquezas e

vibrando com as minhas vitorias, em especial meu pai, grande médico, grande

homem e meu grande exemplo. À minha noiva, por todo carinho dedicado nos

momentos em que me senti esgotado, renovando meu ânimo e ao meu lado

sempre, mesmo quando estive ausente.

Aos meus professores, ao quais de maneira respeitosa e resiliente, seguem em

meio a múltiplas dificuldades, nos transmitindo não apenas os conhecimentos

necessários e habilidades, mas conselhos e sabedoria para enfrentar as

intempéries do dia a dia.

Aos meus companheiros de residência, pela amizade e coleguismo em

momentos delicados, se fazendo uma verdadeira família durantes estes dois

anos.

Aos meus pacientes, os quais honrei com toda minha dedicação nestes anos, e

me serviram como fontes inesgotáveis de aprendizado, confiança e respeito.

E finalmente, à Deus, que Ele me conserve os bons sentimentos dos grandes

médicos, na esperança de dias melhores para a saúde do nosso país.

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SUMÁRIO

1. RESUMO...............................................................................................6

2. INTRODUÇÃO ......................................................................................7

3. OBJETIVOS .........................................................................................11

4. METODOLOGIA ..................................................................................12

5. RESULTADOS ......................................................................................14

6. DISCUSSÃO .........................................................................................18

7. CONCLUSÃO .......................................................................................21

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................22

9. ANEXOS ..............................................................................................24

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1. RESUMO Objetivo: Estabelecer através de uma série de casos, as principais etiologias

para sangramentos do intestino delgado, propondo um protocolo propedêutico

adequado aos recursos do Hospital Geral de Fortaleza Materiais e Métodos:

Estudo retrospectivo, descritivo e observacional com revisão de prontuários de

pacientes portadores de Hemorragia Digestiva de Intestino Delgado, que se

enquadrem na definição Resultados: A causa mais comum de hemorragias

digestivas do intestino delgado foram os GISTs (46%), seguidos das

angiodisplasias (16%) e os divertículos de Meckel (16%). Sendo a média de

concentrado de hemácias recebidos 4,1 por paciente, e as afecções vasculares

as principais responsáveis. A endoscopia digestiva alta foi o exame realizado

com maior frequência. Conclusão: A despeito de uma pequena amostra de

pacientes, pode-se concluir que as Hemorragias de Intestino Delgado, agregam

alta morbidade aos pacientes, múltiplas transfusões e longos períodos de

investigação, chegando na maior parte dos nossos casos à procedimentos

cirúrgicos invasivos quando não há arsenal diagnóstico adequado para a

investigação e terapêutica endoscópica.

Palavras-chave: Sangramentos de difícil diagnóstico; intestino delgado;

protocolo propedêutico

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2. INTRODUÇÃO

As hemorragias digestivas são importante causa de admissão em emergências

e internamentos hospitalares, trazendo muitas vezes, grande morbimortalidade

aos pacientes e em algumas ocasiões, constituem-se como um desafio

diagnóstico para o médico assistente. São divididas de forma didática em

hemorragias digestivas alta, quando sua origem advém de órgãos localizados a

montante do ângulo de Treitz, manifestando-se na maioria das vezes com

hematêmese ou melena, e em hemorragias digestivas baixa, quando o local de

sangramento situa-se além do ângulo de Treitz, evidenciada clinicamente como

hematoquezia ou melena (sendo as causas mais comuns a diverticulite e as

neoplasias).19

As hemorragias digestivas de intestino delgado (HDID), por definição, são

sangramentos localizados entre a ampola de Vater e o íleo distal, onde este se

comunica com o cólon através da válvula ileocecal, percorrendo assim uma

extensão de aproximadamente 4 -6 metros, na qual podemos encontrar

diversas etiologias de sangramentos.¹ Devido ao avanço nos meios

diagnósticos, a maioria destes sangramentos estão sendo diagnosticados,

sendo o termo HDID utilizado para substituir a antiga denominação

sangramento gastrointestinal de origem obscura (SGOO), este reservado para

quando a fonte de sangramento não consegue ser localizada em nenhum local

do trato gastrointestinal mesmo após uso de endoscopia e colonoscopia.¹

A HDID corresponde a cerca de 5% dos sangramentos do trato gastrointestinal,

sendo o seu diagnóstico por diversas vezes desafiador, devido ao intestino

delgado constituir-se uma via de difícil acesso diagnóstico pela sua extensão e

anatomia tortuosa. Tendo em vista estes obstáculos, nas últimas décadas,

diversos exames diagnósticos permitiram aumentar de 50% para cerca de 75%

a acurácia diagnóstica, além de se mostrarem importantes também como

métodos terapêuticos (polipectomias, dilatações, hemostasias, dentre outros).07

São eles a endoscopia digestiva alta, a colonoscopia, a enteroscopia com único

e duplo balão (“deep enteroscopy”), a “push” enteroscopia, a enteroscopia por

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espiral, a cápsula endoscópica (enteroscopia por vídeo-cápsula), a

enterotomografia, a cintigrafia com eritrócitos marcados com mTC99, a

angiografia e a enteroscopia intraoperatória. Tais métodos possuem vantagens

e desvantagens e necessitam ,portanto, de um esquema propedêutico

adequado, fato ainda pouco estabelecido na literatura. [11,23,21]

Os sangramentos do intestino delgado possuem epidemiologia diferentes entre

as variadas faixas etárias. Pacientes jovens possuem com maior frequência

causas inflamatórias (p.ex. Crohn) e neoplásicas e pacientes pertencentes a

sexta e sétima década de vida são os principais acometidos por má formações

vasculares, abrangendo tais causas 75% de todas as etiologias, sem distinção

de gênero. (TABELA 1). As principais etiologias são angiodisplasias,

correspondendo de 20-30% dos casos, seguido dos tumores de intestino

delgado, como os tumores estromais (GISTs), os tumores neuroendócrinos, os

linfomas e os adenocarcinomas, correspondendo a cerca de 18-20% dos

casos. Outras importantes causa são as úlceras, principalmente relacionadas

ao uso de AINES, doença de Crohn, divertículo de Meckel e fístulas

aortoentéricas.1,22

Em relação a etnia, são encontrados com maior frequência em pacientes

orientais, as afecções vasculares, comparados a pacientes ocidentais, nos

quais as neoplasias são mais frequentes. 11,12

TABELA 1 – Causas de Sangramentos de Intestino Delgado por faixa etária

[18]

Jovens (17-40 anos) Meia-idade (41-65 anos) Idosos (>65 anos)

Doença de Crohn Angiodisplasias/ Ectasias

Vasculares

Angiodisplasias/ Ectasias

Vasculares

Neoplasia de Delgado Neoplasias de delgado Úlceras

Divertículo de Meckel Úlceras Enteropatia relacionada a

AINEs

Dieulafoy Enterites inespecíficas Enterites inespecíficas

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As telangectasias são afecções que acometem pele e membranas mucosas

difusamente, diferindo das angiodisplasias, nas quais apenas a mucosa

gastrointestinal é acomedida. Geralmente são condições hereditárias

(relacionada a síndrome de turner, Rendu-Osler-Weber), oligo ou

assintomáticas nas primeiras décadas de vida (pacientes podem apresentar

sangramentos de mucosa, como epistaxe), manifestando-se geralmente na 6ª

e 7ª décadas de vida com hemorragias digestivas ou ferropenia, com

ressangramentos de cerca de 30% após abordagens iniciais.18

Os tumores de intestino delgado são raros, e correspondem a 5% de todos os

tumores do trato gastrointestinal, entretanto constitui-se como frequente causa

de HDID, despontando como segunda principal causa ( 10% dos casos), não

ocasionando sintomas na maior parte das vezes. Em ordem de frequência os

adenocarcinomas são o tipo histológico mais comum (35-50%), seguido de

tumores neuroendócrinos (20%), linfomas (15%) e sarcomas (13%), sendo o

íleo a região mais acometida.08,18

Os GISTs ( gastrointestinal stromal tumours), tumores originados das células

de Cajal, embora possuam sua localização mais frequente no estômago, estão

localizados em cerca de 20-25% dos casos no intestino delgado,

preferencialmente o jejuno (17%), sendo o sangramento sua principal

manifestação (68% dos casos). ¹ Outra causa recorrente são as úlceras, as

quais possuem como principal etiologia os anti-inflamatórios não esteroidais,

doença de crohn e tuberculose, ocorrendo aumento de sua frequência com o

aumento de idade, sendo em alguns estudos uma das causas mais comuns. ¹

O divertículo de Meckel é uma má formação do intestino delgado frequente,

oriunda do fechamento defeituoso do ducto vitelino, afetando cerca de 3% da

população mundial. Causa rara de HDID, sendo a maioria dos pacientes

assintomáticos. Esta afecção acomete principalmente crianças e adultos

jovens, com sangramentos oriundos de ulceração da mucosa gástrica ectópica.

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As HDID podem se manifestar de diversas formas, como melena,

hematoquezia e hematêmese, podendo levar o pacientes a quadro de choque

hipovolêmico. Elas também pode ocorrer sem exteriorização de sangramento

(oculto), manifestando apenas anemia, ferropenia ou sintomas astênicos. Esta

divisão possui grande importância na investigação diagnóstica, pois quando

associado a história clínica e exames complementares endoscópicos

aumentam, sobremaneira a acurácia diagnóstica. A propedêutica inicia-se

geralmente com uma endoscopia digestiva alta convencional (EDA) e uma

colonoscopia. Estes exames conseguem, na maior parte das vezes, determinar

a causa de hemorragias digestivas em geral e devem ser repetidos na

investigação quando estes se mostram negativos, com o intuito de reavaliar

possíveis lesões que tenham passado despercebidas no primeiro exame. 01, 09,

14

Pacientes com potencial sangramento de intestino delgado, com EDA e

colonoscopia normais, exigem métodos diagnósticos quem avaliem o intestino

delgado (“potencial HDID”). A Push enteroscopia é uma alternativa de refino da

endoscopia, a qual utiliza um endoscópio mais longo, para avaliação de maior

extensão do intestino delgado (cerca de 60-70cm após o ângulo de Treitz), com

rendimento diagnóstico chegando até 70% dos casos, sendo um bom exame

de revisão para o duodeno e jejuno proximal, podendo ser terapêutico em

algumas ocasiões.08,10

O exame de escolha na suspeita de HDID após endoscopia bidirecional sem

alterações é a cápsula endoscópica, a qual se mostra capaz de estudar toda

extensão do intestino delgado, com captura de 2 imagens por segundo durante

8 a 12 horas, obtendo assim uma acurácia diagnóstica variando de 38-83%,

principalmente para pacientes com hemoglobina <10g/dl, duração de

sangramento maior que 6 meses, com mais de um episódio, sendo este

macroscópico, com valor preditivo negativo de 93-100%.1,17 A maioria dos

pacientes submetidos a procedimentos invasivos orientados pela cápsula não

voltam a sangrar (cerca de 60%).

As principais limitações da cápsula são sua ausência de possibilidade

terapêutica e a dificuldade para localizar a lesão no intestino delgado. Quando

detectadas lesões ou há uma forte suspeita de HDID, procede-se

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procedimentos de endoscopia profunda como: enteroscopia com duplo balão

(DBE), enteroscopia com balão único (SBE) ou enteroscopia em espiral, os

quais se caracterizam por métodos que conseguem percorrer grandes

extensões do intestino delgado e realizar hemostasias, polipectomia, biópsias,

marcações, dentre outros procedimentos, com detecção de lesões em 80% dos

casos e terapêutico 73% dos casos. 21

A enteroscopia intraoperatória (EIO), método invasivo, atualmente encontra-se

reservada para pacientes com sangramentos importantes, instáveis, ou

naqueles pacientes que possuem contraindicações para enteroscopia

endoscópica e cápsula (pacientes com múltiplas aderências, obstruídos, graves

diáteses hemorrágicas). A EIO pode ser realizada via oral, via retal ou atráves

de pequena enterotomia para passagem do endoscópio. Possui acurácia de

cerca de 80%, porém a literatura descreve alta morbimortalidade, podendo

chegar até 16% de complicações (perfurações, lesões de serosa, lesões

vasculares). 1, 12, 14

Outros exames são a Enterotomografia, exame de alta radiação (deve ser

considerado ressonância em pacientes jovens), indicado quando a cápsula se

mostra negativa ou até precedendo a cápsula quando já estabelecidas doença

de base (p.ex. Doença de Crohn), com especial sensibilidade para lesões

murais e rendimento diagnostico de até 40%.1, 18 Para os pacientes com

sangramentos macroscópicos, podem ser usados exames contrastados como a

Tomografia Computadorizada Multifásica com contraste endovenoso ou oral. ¹

A Angiografia convencional e a Cintilografia com hemácias marcadas com

Tecnécio-99m são capazes de detectar sangramentos de 0,5-1ml/min e

0,2ml/min, respectivamente. Sendo a angiografia convencional ainda utilizada

com método terapêutico importante, principais em pacientes com

sangramentos levando à instabilidade hemodinâmica. 2,4,10

Portanto, as Hemorragias Digestivas de Intestino Delgado, hoje constituem-se

uma entidade com uma grande variedade etiológica, sendo muitas vezes o

diagnóstico difícil, trazendo ao paciente relevante morbidade, múltiplas

transfusões, internamento prolongado, exames invasivos e por vezes até o

óbito. A despeito desta da dificuldade,atualmente existe um crescente arsenal

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diagnóstico eficaz, utilizando terapêutica endoscópica, afim de reduzir o

número laparotomias. Entretanto, devido ao alto custo destes exames e sua

indisponibilidade na rede pública associado a carência de protocolos

diagnósticos bem estabelecidos, acarretam em atraso diagnóstico e aumento

do número de procedimentos invasivos.

3. OBJETIVOS

3.1 GERAL

a) Estabelecer através de uma série de casos, as principais etiologias para

sangramentos do intestino delgado, propondo um protocolo propedêutico

adequado aos recursos do Hospital Geral de Fortaleza

3.2 ESPECÍFICOS

a) Traçar um perfil epidemiológico de pacientes portadores de hemorragias de

intestino delgado;

b) Discutir sobre o rendimento dos métodos diagnósticos utilizados na

resolução dos casos;

c) Expor as abordagens terapêuticas utilizadas para cada caso, tendo em vista

o diagnóstico específico

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4. Metodologia

Esse estudo terá um desenho de uma coorte retrospectiva, descritivo e

observacional com revisão de prontuários. Serão coletados dados de

prontuários de pacientes com Hemorragia Digestiva que se enquadrem no

perfil desejado.

Os dados extraídos dos prontuários serão colocados em uma ficha de dados

(anexo 1) e depois transferidos para uma planilha do Excel, onde seus dados

serão analisados e discutidos conforme os objetivos listados anteriormente.

4.1 SELEÇÃO DE PRONTUÁRIOS

Serão selecionados os prontuários de pacientes com hemorragia digestiva e

incluídos apenas aqueles em que o diagnóstico contemple sangramentos

oriundos do Intestino Delgado (entre a ampola de vater e a válvula ileocecal) .

Não foram contabilizados nesta amostras pacientes com úlceras pépticas,

devido a sua alta frequência e baixa complexidade diagnóstica.

A seleção será feita a partir do livro de registro do Centro Cirúrgico e o resgate

dos mesmo a partir dos registros das contas médicas do hospital. Após

seleção, esses prontuários serão analisados e os dados relevantes para o

estudo serão coletados em fichas padronizadas ( anexo 1) .

4.2 COLETA DE DADOS

Os dados serão extraídos dos prontuários selecionados conforme uma ficha

padrão (anexo 1).

4.2.1 DADOS DEMOGRÁFICOS

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Sexo e idade dos paciente na ocasião do procedimento cirúrgico.

Município de residência e contato

4.2.2 DADOS DA CIRURGIA

Data da cirurgia;

Cirurgia aberta, laparoscópica ou convertida;

Achados intraoperatórios;

Procedimento realizado no intraoperatório (enteroscopia )

Peça cirúrgica

4.2.3 DADOS RELACIONADOS AO INTERNAMENTO NO HGF

Queixa de Admissão no hospital e parâmetros clínicos;

Admissão eletiva ou emergência;

Tempo decorrido entre internação e cirurgia;

Tempo entre cirurgia e alta hospitalar;

Tempo total de internação;

Comorbidadedes;

4.2.4 DADOS RELACIONADOS A TRANSFUSÕES;

Terapia transfusional utilizada ( hemoconcentrados ou hemoderivados

utilizados)

Valores de exames laboratoriais

4.2.5 DADOS RELACIONADOS AOS EXAMES DIAGNÓSTICOS

Exames diagnóstico utilizados ;

Quantidade de exames realizados;

Rendimento de exames;

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5. RESULTADOS

Nesse estudo que agrega casos de Hemorragias do Intestino Delgado, que

deram entrada no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), entre 2012 à 2017, foram

selecionados 21 prontuários, que se enquadram na definição de HDID. Sendo

excluído 3 pacientes por dados insuficientes no prontuário, e 2 pacientes por

lesões concomitantes fora da região estudada, e 3 pacientes por apresentarem

lesões de intestino delgado, porém sem sangramentos. Restando portanto,

para nosso estudo, 13 prontuários de paciente com HDID que deram entrada

no Hospital Geral de Fortaleza.

5.1 ANÁLISE DEMOGRÁFICA

Dentre os 13 pacientes avaliados, 07 (53,8%) foram do sexo masculino. A

média de idade foi de idade foi de 60 anos (19-76 anos), sendo apenas 2

doentes do interior do estado do Ceará, e os demais da capital. Não temos,

nesta amostra, pacientes oriundos de outros estados do país, apesar de o

Hospital Geral de Fortaleza, se constituir uma referência regional.

5.2 HISTÓRIA CLÍNICA

Todos os pacientes do estudo deram entrada no hospital pelo serviço de

Emergência, sendo as duas principais queixas melena ( 61,6%) e hematêmese

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(53,4%) , dentre outras queixas como hematoquezia ( 30,7%), dor (15,3%) e

síncope (7,6%), com média de tempo de início das queixas de 18 dias. Apenas

um dos treze pacientes deu entrada no hospital apresentando instabilidade

hemodinâmica, necessitando de abordagem cirúrgica de emergência, os

demais realizaram a investigação em enfermaria de cirurgia ou

gastroenterologia.

Ao investigar as comorbidades apresentadas, obtivemos como principais a

Hipertensão Arterial Sistêmica em 6 pacientes ( 46,1%), o Diabetes Melitus em

3 pacientes (23%), o tabagismo em 2 pacientes (15,3%), além de dislipidemia,

neoplasia de próstata, e pólipos colônicos. Quatro pacientes não apresentavam

comorbidades.

5.3 INTERNAMENTO HOSPITALAR

A Média de tempo de internamento hospitalar foi de 29,5 dias, variando de 12

dias à 60 dias. Sendo a causa mais comuns de HDID os GISTs

(gastrointestinal stromal tumors), acometendo 6 pacientes (46,1%), sendo a

sua localização mais comum o Jejuno, com um caso de GIST em íleo e um

caso deste tumor em papila duodenal. A média de idade dos pacientes com

esse diagnóstico é de 65,6 anos, ou seja, acomete com maior frequência

pacientes entre a 7º e 8º décadas de vida. A segunda causa mais encontrada

no nosso estudo foram as Afecções Vasculares, correspondendo a 16% dos

pacientes do estudo, como má formações arteriovenosas em número de 2

casos, sendo estas ocasionando maior proporção de sangramentos e maior

número de transfusões sanguíneas (com média de 7 unidades de concentrados

de hemácias durante o internamento). (Imagem 1)

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Imagem 1 – MAV em íleo distal evidenciada por laparoscopia diagnóstica

Nesta amostra há dois pacientes portadores de Divertículo de Meckel , sendo

um dos paciente a paciente mais jovem do estudo, com 19 anos, evoluindo

com diversos sangramentos volumosos e instabilidade hemodinâmica durante

evolução. Esta paciente demandou a maior quantidade de exames para se

alcançar o diagnóstico. Outras etiologias de HDID foram , umLinfoma de

intestino delgado, um fitobezoar ocasionando obstrução e sangramento a nível

de íleo, um adenoma de jejuno e por fim uma hemobilia pós instrumentação de

papila (pós CPRE).

A média de concentrados de hemácias transfundidos aos pacientes foi 4,1

concentrados, variando de um até dez concentrados durante o internamento

hospitalar.

5.4 EXAMES DIAGNÓSTICOS

A quantidade de exames necessário para se chegar ao diagnóstico foi em

média 3 exames, sendo o mais frequente deles a Endoscopia Digestiva Alta

(realizado em 92% dos pacientes), tendo em vista a facilidade de acesso a este

exame e a frequência com que este é encontrado em protocolos de

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hemorragias digestivas, como exame inicial de investigação. Em apenas 2

pacientes este determinou o diagnóstico (15,3%).

Outro exame realizado em 76,9% dos pacientes foi a colonoscopia, sendo

decisivo para o diagnóstico em apenas um paciente, onde foi visto

sangramento oriundo do íleo distal se estendendo até o ceco. Nos outros

pacientes esta se mostrou sem alterações relevantes.

A tomografia de abdome e pelve com contraste foi realizada em 09 pacientes

(63%) da amostra, com imagens sugestivas de sangramento em 03 pacientes

(Imagem 2), principalmente em sua fase arterial. Não foi realizada em nenhum

paciente a enterotomografia.

Imagem 2a – GIST de Jejuno ocasionando sangramento visto ao se injetar

contraste endovenoso na tomografia

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Imagem 2b – Achado em laparoscopia diagnóstica realizada antes da

enterectomia laparotômica

A capsula endoscópica (CE) foi utilizada em duas pacientes, uma delas era

portadora de Má formação arteriovenosa em íleo distal, onde foi sugerido

sangramento, porém sem definir exatamente a localização. O diagnóstico

definitico foi determinado por enteroscopia intraoperatória. Outras paciente

paciente portadora de divertículo de Meckel, sem conclusão diagnóstica com o

exame.

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Imagem 3a – MAV pulsátia em jejuno detectada por EIO

A arteriografia convencional foi realizada em dois pacientes, com laudos

sugerindo sangramentos ao nível de intestino delgado em ambos os pacientes

(divertículo de meckel e MAV em jejuno), sendo este exame não definitivo para

etiologia dos casos, porém orientando assim a conduta terapêutica invasiva

(enterectomia segmentar).

O exame com melhor acurácia em definir etiologia de sangramento nos

pacientes avaliados foi a enteroscopia intraoperatória (Imagem 3a e 3b) , na

qual se determinou em todas as ocasiões em que foi realizada, a causa do

sangramento, e no mesmo tempo cirúrgico foi realizada a cirurgia curativa.

Outros exames realizados em alguns pacientes da amostra foram a

ultrassonografia abdominal total, a CPRE, e a laparoscopia diagnóstica.

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21

Imagem 3 – Imagem de angiodisplasia de intestino delgado por

enteroscopia intraoperatoria

Todos os pacientes passaram por algum procedimento cirúrgico, sendo a

cirurgia realizada com maior frequência, foi a enterectomia segmentar com

entero-enteroanastomose termino-terminal por via laparotômica (Imagem 4),

pois na maioria dos pacientes a patologia acometia um segmento de intestino

delgado ( 84% dos pacientes). apenas 2 pacientes foram submetidos a outras

cirurgias devido a etiologias diferentes, como Hemobilia pós CPRE, sendo

realizada uma duodenorrafia e colecistectomia, e GIST de duodenal, onde foi

feita ressecção em cunha da 3 ª porção duodenal e segementectomia hepática

por metástase da lesão primária (confirmada com imunohistoquimica. Apenas

uma cirurgia foi realizada em caráter de emergência, porém dois pacientes

apresentaram instabilidade devido ao sangramento durante o internamento

hospitalar.

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Imagem 4 – GIST de jejuno (peça pós enterectomia)

Todos os pacientes do estudo receberam alta hospitalar após a realização do

procedimento cirúrgico, não ocorrendo nenhum óbito nesta amostra e não

possuímos até o momento dados sobre ressangramento após o procedimento

cirúrgico realizado.

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TABELA 1 – PACIENTES COM ANÁLISE ETIOLÓGICA E PROPEDÊUTICA

Paciente Sexo Idade Diagnóstico

Tempo de

Intername

nto

Nº de

CH

Nº de

Exames Cirurgia

M.L.X F 68 MAV 39 dias 10 04 Enterectomia

M.H.L M 67 Hemobilia

Pós CPRE 15 dias 02 02 Enterorrafia

M.P. F 74 Fitobezoar 22 dias 01 03 Enterectomia

F.B.S. M 76 GIST de

Jejuno 45 dias 03 04 Enterectomia

A.N.S. M 75 GIST de

Jejuno 21 dias 02 04 Enterectomia

M.R.S. F 42 GIST

Duodenal 33 dias 02 03

Resseção em

cunha de 3ª

porção

duodenal

F.N.M. F 19 Divertículo de

Meckel 45 dias 05 04 Enterectomia

M.P.S.R M 36

Linfoma de

Intestino

Delgado

21 dias 02 01 Enterectomia

M.F.D. F 66 Adenoma de

Jejuno 60 dias 04 03 Enterectomia

F.E.O. M 66 GIST de Íleo 20 dias 06 03 Enterectomia

F.P.S F 69 GIST de

Jejuno 33 dias 03 03 Enterectomia

A.M.R. M 59 MAV 12 dias 07 03 Enterectomia

J.A.M. M 73 Divertículo de

Meckel 18 dias 07 03 Enterectomia

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GRÁFICO 1

GRÁFICO 2

GIST 46%

VASCULAR 15%

MECKEL 15%

LINFOMA 8%

OUTRAS 16%

ETIOLOGIAS

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

EDA

Colonoscopia

TC de Abdome

Cápsula Encoscópica

Enteroscopia IO

Arteriografia

Exames Diagnóstico

Exames Diagnóstico

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GRÁFICO 3

6. DISCUSSÃO

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Concentrado de Hemácias

CONCENTRADO DE HEMÁCIAS

TOTAL VASCULAR GIST MECKEL OUTRAS

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Dentre as Hemorragias Digestivas do Intestino Delgado a causa mais comuns

são as afecções vasculares (angiodisplasias), seguida de neoplasias e úlceras.

Os dados do trabalho mostram Gist como principal causa, diferente dados

encontrados na literatura, tendo em vista que a maior parte dos pacientes

estudados apresentam neoplasias, no caso os GISTs. 2,1, 14 Estes

correspondem a 0,2% de todas as neoplasias do trato gastrointestinal e apenas

0,04% das neoplasias de intestino delgado, ou seja, entidade extremamente

rara na prática clínica. Dentre as localizações desta patologia, a mais frequente

descrita se localiza em estômago, e no intestino delgado o local preferencial é

em jejuno e íleo (25-30% dos casos), assim como em nosso estudo onde todos

os pacientes portadores de GISTs de intestino delgado possuíam localização

em jejuno e íleo, sendo a manifestação mais comum os sangramentos, assim

como em nossos pacientes. 08,10

As angiodisplasias se caracterizam por vasos dilatados, tortuosos, exibindo

paredes adelgaçadas, envolvendo capilares, veias e artérias. São responsáveis

por cerca de 60-75% dos casos de HDID, sendo o jejuno a localização mais

comum, seguida de íleo e duodeno. 18 Algumas condições estão relacionadas

a sangramentos por angiodisplasias como: estenose aórtica, doença de Von

Willenbrand, hipertensão arterial sistêmica e uso de anticoagulantes orais. 18

Dentre os 13 pacientes do estudo, 2 deles apresentavam angiodisplasias com

sangramentos de grande monta, as quais foram diagnosticadas por

enteroscopia intraoperatória.

O divertículo de Meckel, é a malformação mais frequente do tubo digestivo,

presente em 2-3 % da população mundial, e resulta do fechamento incompleto

do ducto onfalomesentérico, ocorrendo principalmente na borda

antimesentérica e em íleo distal, contendo mucosa gástrica em 55% dos casos,

fato que pode sangramento, porém na maior parte dos casos esta entidade não

manifesta sintomas. Ocorre com maior frequência em pacientes jovens. Em

nossa amostra os pacientes que manifestaram sangramentos por esta etiologia

possuíam idade de 19 e 73 anos. Nestes casos o exame de melhor rendimento

diagnóstico é a cintigrafia com 99mTc-pertecnetato (acuidade de 90% para o

diagnóstico), não realizada em nenhum paciente de nossa amostra. Os casos

apresentados neste estudo passaram por difícil investigação, com exames

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endoscópicos inconclusivos (EDA, colonoscopia e cápsula endoscópica),e

durante a evolução apresentaram instabilidade hemodinâmica devido ao

sangramento, sendo um dos pacientes operado em caráter de urgência.

Realizou-se em ambos os pacientes a enterectomia segmentar por

laparotomia, onde foram evidenciados divertículos em íleo distal. (Imagem 5) 2,

15, 16

Imagem 5- Divertículo de Meckel em íleo distal

A hemobilia é uma rara causa de HDID, e ocorre devido a comunicação entre

veias e a via biliar. As causas mais comuns descritas em literatura são as

iatrogênicas (pós procedimentos) (68%) e as traumáticas (38,6%), geralmente

associadas a traumas abdominais fechados. Manifestando-se com melena

(90%), hematêmese (60%) e icterícia (60%). O paciente do nosso estudo

iniciou os sintomas 7 dias após o procedimento, dando entrada na emergência

com quadro de síncope, icterícia e melena. A arteriografia seletiva para o plexo

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celíaco é o exame de escolha na elucidação destes casos, podendo a

tomografia computadorizada com contraste venoso (TCC), em muitos casos,

auxiliar na definição diagnóstica e terapêutica.18, 10 O paciente avaliado em

nosso estudo, foi estudado com TCC, e realizado laparotomia para resolução

do quadro.

A etiologia nas HDID estão relacionadas a faixa etária, send mais comuns em

pacientes idosos e, não há predomínio entre os sexos, assim como em nossa

amostra. Esses pacientes apresentaram como comorbidades principais a

Hipertensão Arterial Sistêmica e o diabetes melitus, fato este também apoiado

pela literatura, porém nenhum paciente fazia uso de anticoagulantes orais, fator

de risco descrito como frequente nos trabalhos utilizados como referência. [3,4]

O diagnóstico de hemorragias oriundas o intestino delgado em grande parte da

vezes constitui-se um difícil diagnóstico, demandando diversos exames para se

chegar a uma etiologia definitiva. Variados exames foram realizados em nossa

amostra porém com rendimento muito abaixo do descrito na literatura. Em

apenas dois pacientes a endoscopia digestiva alta conseguiu oferecer auxílio

no diagnóstico, como no caso de uma paciente apresentando fitobezoar

associado a sangramento de parede jejunal, e em sangramento pós CPRE.

esse exame consegue estudar de forma satisfatória duodeno e a primeira

porção jejunal, com excelente sensibilidade e especificidade para

sangramentos gástricos e rendimento decrescente ao se percorrer o intestino

delgado. O mesmo achado se fez em relação a colonoscopia. [10,12]

A cápsula endoscópica é descrita na literatura como o exame de escolha para

estudo das afecções do intestino delgado, por ser um exame inócuo e seguro,

com rendimento diagnóstico de até 60%, com algumas limitações, como

dificuldade de estabelecimento da região acometida, a ausência de

possibilidade terapêutica e em pacientes com síndromes obstrutivas, por

exemplo. Em nossa amostra esta se mostrou efetiva em orientar uma conduta

invasiva, no dois casos, a laparotomia. [3,5]

Os exames contrastados para estudo do intestino delgado, possuem bom

rendimento em literatura, principalmente para lesões com sangramento

macroscópico, como é o caso da arteriografia convencional, a qual detecta

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sangramentos de até 0,3-0,5ml/min. Foi utilizada em dois dos nossos

pacientes, com rendimento regular, assim como o encontrado na literatura, pois

há uma grande variabilidade na acuraria diagnostica (22-60%). Sabe-se que

em sangramentos volumosos, este exame pode se prestar como terapêutico,

artifício que não foi utilizado nos pacientes deste estudo.

A tomografia computadorizada, exame que utiliza contraste iodado endovenoso

detecta sangramentos ativos, sendo a Enterotomografia (TC de abdome com

preparo de intestino delgado – induzindo distensão de alças de intestino

delgado com reconstrução de imagens em sistema apropriado), preferencial

para lesões intramurais. ¹

A enteroscopia intraoperatória é utilizada na propedêutica de HDID, como

último recurso, principalmente quando as “endoscopias pronfundas” ( “push”

endoscopia, EDA de duplo balão e EDA de balão único) ou arteriografias, não

conseguem alcançar a lesão, ou quando o paciente não possui condições

clinicas para a realização de exames invasivos. Pode ser realizada pela técnica

laparotômica ou vídeo assistida. A acurácia dianóstica deste procedimento é de

cerca de 88%. Em nosso estudo, dois pacientes foram submetidos a EIO, com

100% de rendimento do exame, realizado por enterotomia e estudo com

endoscópio convencional. 01,02, 05

Uma importante ferramenta no auxílio ao diagnóstico, são protocolos

padronizados de acordo com a realidade de cada hospital, pois nas últimas

décadas houve uma crescente sofisticação de exames endoscópicos os quais

permitem uma avaliação pormenorizada de toda extensão do intestino delgado,

órgão historicamente conhecido por sua longa extensão e difícil acesso. tais

exames em muitos serviços públicos não se encontram disponíveis, devendo

assim cada serviço estabelecer protocolos ajustados, para em caso de

pontenciais pacientes com sangramento de intestino delgado, se consiga

chegar em um diagnóstico com maior rapidez e menor morbidade aos

pacientes.

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7. CONCLUSÃO

A despeito de uma pequena amostra de pacientes, pode-se concluir que as

Hemorragias de Intestino Delgado, agregam alta morbidade aos pacientes,

múltiplas transfusões e longos períodos de investigação, chegando na maior

parte dos nossos casos à procedimentos cirúrgicos invasivos quando não há

arsenal diagnóstico adequado para a investigação e terapêutica endoscópica.

No nosso estudo a principal causa destes sangramentos fora neoplásicas,

sendo o GIST, o tipo histológico mais comum.

A enterectomia é a cirurgia mais realizada para as hemorragias de intestino

delgado com excelentes resultados e ausência de ressangramento para os

pacientes neste estudo.

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10. ANEXOS

Anexo 1: Ficha de Coleta de Dados

1. Identidificação

Nome: .

Idade: Sexo: M F

Prontuário:

Data de Nascimento:

Procedência: Profissão:

Telefone de Contato:

2. Dados do Internamento

2.1 . Admissão

Data do Internamento: Data da Alta:

Óbito? Se sim, data:

Queixa da Admissão:

Parâmetros da Admissão: FC: bpm FR: irpm Temp.: ºC

PA: mmHg Glicemia:

Comorbidades: .

Diagnóstico inicial (CID):

2.2 Exames Diagnóstico

a. Exame: Data:

Laudo/ Achados:

Fotos:

b. Exame: Data:

Laudo/ Achados:

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36

Fotos:

c. Exame: Data:

Laudo/ Achados:

Fotos:

2.3 Evolução Médica

a. Hemoderivados:

Quais:

. Data

. Data

. Data

. Data

b. Concentrado de Hemácias

Quantas unidades: Data:

Quantas unidades: Data:

Quantas unidades: Data:

2.4 Exames Laboratoriais

a. Hemograma / Coagulograma :

Data:

Hb: Ht: Plaquetas: TAP: TTPA

Ureia: Creatinina

Data:

Hb: Ht: Plaquetas: TAP: TTPA

Ureia: Creatinina

c. Outros exames laboratoriais:

2.4 Intercorrências Clínicas

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3. Cirurgia

Data da Cirurgia: . Suspensa? Motivo:

Achados da Descrição Cirúrgica:

Procedimento Realizado:

Cirurgião:

Reserva de Concentrados de Hemácias:

3.1 Outras Cirurgias

Data da Cirurgia: . Suspensa? Motivo:

Achados da Descrição Cirúrgica:

Procedimento Realizado:

Cirurgião:

Peça:

Reserva de Concentrados de Hemácias

4. Evolução / Diagnóstico / Ambulatório

4.1 Pós operatório:

Complicações? Quais:

Ressangramentos? _____________________________________

Data da Alta:

Hb na Alta:

4.2 Diagnóstico

Diagnóstico Clínico: _________________________

Diagnóstico Cirúrgico: _________________________

Diagnóstico Histopatológico: _____________________( Nº da peça)

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