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    ESTADO DE SANTA CATARINA

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO

    CADERNO PEDAGGICO

    FILOSOFIA

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    GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINAJoo Raimundo Colombo

    VICE-GOVERNADOR DO ESTADOEduardo Pinho Moreira

    SECRETRIO DE ESTADO DA EDUCAO

    Marco Antnio Tebaldi

    SECRETRIO ADJUNTO

    Eduardo Deschamps

    DIRETORA DE EDUCAO BSICA E PROFISSIONALGilda Mara Marcondes Penha

    GERENTE DE ENSINO MDIO

    Maike Cristine Kretzschmar Ricci

    GERENTE DE EDUCAO PROFISSIONAL

    Edna Corra Batistotti

    GRUPO DE TRABALHOPatrcia de Simas Pinheiro - Coordenadora

    Valda Maria de Mendona Jaques Dias

    REVISODulce de Queiroz Piacentini

    ESTADO DE SANTA CATARINA

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO

    DIRETORIA DE EDUCAO BSICA E PROFISSIONAL

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    Carssimos professores

    Inexiste pas, estado ou municpio que tenha alcanado nveis de desenvolvimento

    humano satisfatrios, para o aproveitamento de todas as potencialidades que se

    pretendem no alcance da justia social, como sujeitos crticos, livres e participantesativos na formao da democracia que sonhamos para todos ns, sem faz-lo por meio

    de uma educao voltada, exatamente, para estas finalidades.

    Educar, em sua etimologia latina, traz o significado de fazer brotar da terra para a

    vida, para a gerao de frutos. Na qualidade deste trazer para o crescimento est

    definido o fruto que se ir produzir. E, neste momento, coloca-se o papel do ser humano

    que, com sua formao e sua vontade, aliadas s possibilidades que encontra para uma

    ao educativa competente, torna-se o artfice na formao de seres capazes de fazer de

    Santa Catarina um estado sempre modelar, por estar sedimentado em procedimentosvoltados exatamente para os seres humanos que o formam.

    o que todos esperamos de cada educador que faz do magistrio o caminho a ser

    trilhado para o crescimento de nossas crianas, jovens e adolescentes, como

    construtores de um mundo em que todos possamos caber com justia e dignidade.

    E os gestores da educao pblica estadual, em que me coloco como Secretrio da

    Educao, temos a responsabilidade de possibilitar uma estrutura, fsica e terica, com a

    sinalizao de caminhos que, com a competente ao de todo o coletivo docente, corrija

    distores e, no conhecimento de cada meio em que nos envolvemos, transforme cadaaluna e aluno em atores vivos para uma Santa Catarina que desejamos cada vez mais

    bela, humana e humanizante.

    Com o envolvimento do conjunto de profissionais que atuam em nossas estruturas

    administrativas, especialmente por meio da Diretoria de Educao Bsica e Profissional

    e Gerncias Regionais de Educao, com o assessoramento de educadores e educadoras,

    produzimos estes cadernos pedaggicos para os componentes curriculares de Biologia,

    Filosofia, Fsica, Geografia, Histria, Matemtica, Qumica, Sociologia, Ensino Mdio

    Integrado Educao ProfissionalEMIEP e um especial sobreInterdisciplinaridade .

    Com o olhar voltado para uma educao de qualidade que torne cada catarinense

    um ser pleno de senso humano e esprito democrtico, envolvemo-nos para fazer chegar

    aos professores e professoras um material significativo na construo de uma escola

    cada vez mais voltada para o povo catarinense, possibilitando-nos a conscincia de que

    pela educao que trilhamos os caminhos da justia, da dignidade, do progresso e da

    felicidade.

    Marco Antonio Tebaldi

    Secretrio de Estado da Educao

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    APRESENTAO

    Entre os anos de 2004 a 2007, a Secretaria de Estado da Educao reuniu

    professores, gestores e demais profissionais da educao, diretamente envolvidos com o

    currculo dos cursos de Ensino Mdio e de Ensino Mdio Integrado Educao

    Profissional, em eventos de formao continuada, com a finalidade de discutir e propor

    encaminhamentos terico-metodolgicos para a prtica pedaggica em sala de aula.

    Desses encontros de formao continuada resultou a produo de cadernos

    pedaggicos para os componentes curriculares de Biologia, Filosofia, Fsica, Geografia,

    Histria, Matemtica, Qumica, Sociologia, alm de um caderno com atividades de

    aprendizagem interdisciplinares, envolvendo todos os componentes curriculares do

    Ensino Mdio, e um caderno voltado para o currculo do Curso de Ensino Mdio

    Integrado Educao Profissional.

    A relevncia terica, a legitimidade para a prtica pedaggica em sala de aula, a

    vinculao aos encaminhamentos terico-metodolgicos da Proposta Curricular de

    Santa Catarina, expressos nos documentos datados de 1991, 1998, Diretriz 3/2001,

    Estudos Temticos 200, com a competente autoria dos professores e gestores da rede

    pblica estadual de ensino, validam e do legitimidade a estes cadernos como fonte de

    reflexo e planejamento dos tempos e espaos curriculares voltados educao integral

    dos adolescentes e jovens catarinenses do Ensino Mdio.

    Caro professor, trazemos esse documento para sua considerao quando do planejar

    e do fazer curricular, vinculados aos interesses, s diversidades, s diferenas sociais

    dos estudantes e, ainda, histria cultural e pedaggica de sua escola. No pretendemos

    que eles se constituam como fontes nicas e inquestionveis para a educao que o

    Estado catarinense tem implementado com foco no ser humano, em todas as suas

    dimenses. Faz-se essencial o trabalho de cada ente educativo no olhar pleno para a

    realidade que reveste cada meio, em suas especificidades humanas e culturais, quetransforma Santa Catarina em modelo pluritnico, garantindo-nos estar situados como

    exemplo para todos os que desejam uma educao centrada na formao humana e

    cidad. Assim sonhamos a educao que nos transforme em sujeitos crticos e cientes de

    nosso papel na transformao do mundo.

    Temos certeza de que este material, produzido por meio de um trabalho coletivo,

    ter bom proveito e aplicabilidade no seu dia a dia escolar.

    Gilda Mara Marcondes Penha Maike Cristine Kretzschmar RicciDiretora de Educao Bsica e Profissional Gerente de Ensino Mdio

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    SUMRIO

    Prefcio ................................................................................................................... 6

    UNIDADE I - INTRODUO FILOSOFIA .................................................. 7Mitologiareas da filosofiaHistria da filosofia

    UNIDADE IICOSMOLOGIA .......................................................................... 25Archdo universoo princpio primordialOrigens

    UNIDADE IIIANTROPOLOGIA .................................................................... 42Conceituao do objeto de estudoA relao do ser humano com a culturaAntropologia e interdisciplinaridade

    UNIDADE IV - ONTOLOGIA ........................................................................... 59O ser e enteEssncia e existnciaLiberdade

    UNIDADE V

    EPISTEMOLOGIA E LINGUAGEM ..................................... 79EpistemologiaLinguagemRelao Dialtica Entre A Epistemologia e a Linguagem

    UNIDADE VI - LGICA E INFORMAO .................................................... 95ConceitoJuzoRaciocnio

    UNIDADE VII - TICA E POLTICA ............................................................... 110

    CidadaniaSistemas e rgos polticosNovas tecnologias

    UNIDADE VIIIESTTICA .............................................................................. 126PercepoArteO belo

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    PREFCIO

    Sentimo-nos honrados e agradecidos pela incumbncia de fazer a apresentao

    desse magnfico trabalho, fruto do esforo dos alunos do Curso de Filosofia do

    Programa de Formao Continuada de Professores do Ensino Mdio, promovido pela

    Secretaria de Estado da Educao de Santa Catarina.

    As reas do saber humanstico, aqui com nfase na filosofia, esto recobrando

    seu valor e brilho, aps perodos de relativo desencanto. Este trabalho, particularmente,

    preenche um duplo vazio: aquele do engajamento dos professores e alunos do segundo

    grau na produo do conhecimento, e no s de sua reproduo; em segundo lugar, o

    propsito de atualizar continuamente os conhecimentos, as leituras e demais atividades

    didticas, resultando toda essa atividade numa slida base para um futuro melhor.

    O brilho do conhecimento deixar de ornar a fronte de um povo pelo desleixo

    com o conhecimento, merc e graa da apostasia das elites e dos polticos. O saber

    conquista, primeiro individual e, posteriormente, coletiva, que envolve suor e mesmo

    sangue, dos professores e de seus alunos, no cotidiano de salas de aula abarrotadas e

    com falta de material de apoio.

    Esse esforo continuado, constante em seu aprofundamento, acabar por

    produzir um povo culto, uma sociedade cidad ou, melhor ainda, uma sociedade

    garantidora do exerccio da cidadania. Esse esforo mostrou seu extraordinrio

    potencial na produo deste Caderno Pedaggico, a demonstrar que a cooperao entre

    pares plenamente possvel, bastando para isso que ns professores nos dispamos da

    vaidade, da inveja e do cime, os mais formidveis obstculos da produo cientfica

    em nossas universidades.

    Esse Caderno Pedaggico a conquista e o dom amorosos de pessoas maduras

    no corao e na mente, que buscam na reflexo e no esforo didtico atingir igualmenteos coraes e as mentes de seus alunos. Tambm digna de nota, para que se faa boa

    justia, a objetividade das posies, pr ou contra, em relao a teorias e ideologias. A

    iseno de nimo, longe de hipcrita ou alienada, a atitude de quem busca uma

    proximidade maior da verdade, sabendo das inauditas dificuldades de alcan-la.

    Objetividade e pacincia so as armas com que combatemos a nossa prpria ignorncia.

    Prof. Slvio Alexandre Muller (In Memoriam)Prof. Janes Fidelis Tomelin

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    UNIDADE I

    INTRODUO FILOSOFIA

    INTRODUO

    Os caminhos percorridos pela Filosofia ao longo de sua histria no so fceis

    de trilhar, haja vista a grande quantidade de pensadores que se debruaram sobre seus

    temas candentes, apresentando propostas at certo ponto contraditrias, o que sempre

    resultou em maior extenso e profundidade do pensamento.

    Essa abordagem no pretende se apresentar como algo concludo, um corpo de

    conhecimentos rgidos com pretenso de ser a verdade, e sim como um instrumento

    que permita aos educadores apresentarem aos seus alunos um panorama breve da

    Filosofia, desde sua gnese at os dias de hoje.

    Trata-se de colaborar na criao de um referencial, que proporcionar uma

    informao que possa ser utilizada de maneiras diversas. Neste sentido, objetiva-se uma

    construo de possibilidades que permitam aos educandos descobrirem-se e

    desenvolverem-se enquanto cidados e sujeitos do conhecimento e da histria. Assim, a

    Filosofia continua sendo um instrumento de desenvolvimento da racionalidade e da

    criticidade.

    Discorrer-se-, resumidamente, sobre a origem do termo e a relao da Filosofia

    com outras reas de conhecimento. Tratar-se- tambm, dos diferentes tipos de

    conhecimento existentes, tais como a cincia, a religio, o senso comum e filosfico.

    Ser abordado o perodo mtico, como o solo sobre o qual a Filosofia vai surgir.

    Finalmente, tratar-se- da histria da Filosofia, desde o seu surgimento, passando pela

    Idade Mdia, Moderna e Contempornea.

    OBJETIVOS

    Compreender as divergncias entre Filosofia e as tradies dogmticas

    dos mitos, oferecendo uma pluralidade de explicaes possveis;

    enquanto o mito uma narrativa cujo contedo no se questiona, a

    Filosofia problematiza e, portanto, convida discusso.

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    Estabelecer possveis relaes da Filosofia com as diferentes reas do

    conhecimento, tais como antropologia, cosmologia, ontologia

    (metafsica), esttica, tica e poltica, epistemologia e lgica.

    Possibilitar uma compreenso da histria da Filosofia a partir de

    fragmentos dos textos clssicos.

    GRUPO DE TRABALHO

    Amarildo CustdioEEB Prefeito Frederico ProbstPetrolndia

    GEREDItuporanga

    Gibrair Xavier SimesEEB La SalleSerra Alta

    GEREDChapec

    Isabel Cristina CarneluttEEB Roberto MoritzItuporanga

    GEREDItuporanga

    Marco Antnio MartinsEEB Caetano Bez BattiUrussanga

    GEREDCricima

    Narcelio Incio DebonaEEB Claudino CrestaniPalma Sola

    GEREDDionsio Cerqueira

    Neusa Maria dos Santos

    EEB Dr. Otto FeuerschutteCapivari de BaixoGEREDTubaro

    Wagner FagundesEEB Vitrio RomanVargem Bonita

    GEREDJoaaba

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    MITOLOGIA

    Como e por que diferenciar o discurso cientfico dos

    juzos de senso comum?

    Nesse pano de fundo, onde situar o discurso mtico?

    Que valores veiculam as personalidades mticas contemporneas?

    Que diferenas pode se apontar entre a mitologia antiga e os mitos modernos?

    CONTEXTO

    A noo de mito complexa e extremamente rica. No exclusividade dos

    povos primitivos, nem das civilizaes atuais, mas mitos existem em todos os tempos e

    culturas como componente indissocivel da maneira humana de compreender a

    realidade. O mito muitas vezes visto como uma maneira fantasiosa de explicar a

    realidade ainda no justificada pela racionalidade, tratando-a como lendas, fbulas,

    folclore.

    O pensamento mtico nasceu do desejo de dominao do mundo para afugentar o

    medo e a insegurana. A verdade do mito no obedece lgica da verdade emprica,

    nem da verdade cientfica ou filosfica. , antes, uma intuio compreensiva darealidade, uma forma espontnea do homem em situar-se no mundo.

    Hoje em dia, os meios de comunicao de massa trabalham sobre os desejos e

    anseios que existem na natureza humana inconsciente e primitiva. Os mitos modernos

    no possuem a mesma abrangncia de realismo como ocorria nos mitos gregos,

    romanos, indgenas. Pode-se escolher o mito da sensualidade, da maternidade, dos

    dolos, e transformar personalidades em mitos, tais como Pel, Xuxa e Ayrton Senna.

    Portanto, o mito no resultado de delrios, nem de uma simples mentira, eainda se faz presente no nosso cotidiano. Mitos esto profundamente entranhados no

    modo de pensar, sentir e agir de uma sociedade e podem ser o ponto de partida para a

    compreenso do ser.

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    O mito, enquanto criao humana, a base sobre a qual se funda a primeira

    tentativa racional de explicao do real: a Filosofia. Ele a base sobre a qual tambm se

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    desenvolvem as aes, pensamentos e sentimentos da sociedade e que, com o passar dos

    tempos, acabam por perpetuar-se nos contos populares e no folclore. Porm, ele tambm

    sobrevive nos indivduos, estando presente na sua natureza primitiva e inconsciente.

    Com o surgimento das tentativas racionais de explicar o real filosofia e cincia

    no houve a extino dos mitos, que ainda hoje subsistem, porm de maneiras

    diversas. Ele a base sobre a qual criamos os pressupostos para o trabalho da razo e

    no somente uma maneira fantasiosa de explicar o real, ou uma simples mentira como

    alguns pensam. Ele fruto da tentativa humana de afugentar o medo e controlar o

    mundo.

    O texto a seguir, de Jung, trata do surgimento dos mitos como fruto do

    inconsciente coletivo, termo este criado por ele. Jung afirma que o inconsciente coletivo

    um lugar da psique comum humanidade inteira, onde se encontram armazenados os

    registros das suas experincias desde os tempos mais remotos. Nesse inconsciente

    coletivo, os temas importantes vo amadurecendo at o momento em que so

    absorvidos pelo imaginrio popular em forma de lendas e supersties e em

    manifestaes artsticas. So esses mitos que serviro de enredo para determinados

    aspectos da vida e guiaro os povos durante certo perodo de seu amadurecimento

    psquico.

    A partir de Carl G. Jung e de Joseph Campbell, a leitura sobre os mitos passa a

    ser feita sob outros aspectos e com maior seriedade. Longe de serem apenas

    curiosidades sobre crenas extravagantes de determinados povos, eles nos apresentam

    os mitos como esqueletos onde se monta a estrutura da psique humana, influenciando as

    relaes do homem com o mundo em sua volta.

    TEXTO 1 - O Homem e seus smbolos, Jung

    Assim, como o nosso corpo um verdadeiro museu de rgos, cada um com a

    sua longa evoluo histrica, devemos esperar encontrar tambm na mente uma

    organizao anloga. Nossa mente no poderia jamais ser um produto sem histria, em

    situao oposta ao corpo em que existe. Por histria no estou querendo me referir

    quela que a mente constri atravs de referncias conscientes ao passado, por meio da

    linguagem e de outras tradies culturais; refiro-me ao desenvolvimento biolgico, pr-

    histrico e inconsciente da mente no homem primitivo, cuja psique estava muito

    prxima dos animais.

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    Esta psique, infinitamente antiga, a base da nossa mente, assim como a

    estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatmico dos mamferos em geral. O

    olho treinado do anatomista ou do bilogo encontra nos nossos corpos muitos traos

    deste molde original. O pesquisador experiente da mente humana tambm pode verificar

    as analogias existentes entre as imagens onricas do homem moderno e as expresses da

    mente primitiva, as suas imagens coletivas e os seus motivos mitolgicos.

    Assim como o bilogo necessita da anatomia comparada, tambm o psiclogo

    no pode prescindir da anatomia comparada da psique. Em outros termos, o psiclogo

    precisa, na prtica, ter experincia suficiente no s de sonhos e outras expresses da

    atividade inconsciente mas tambm da mitologia no seu sentido mais amplo. Sem esta

    bagagem intelectual ningum pode identificar as analogias mais importantes; no ser

    possvel, por exemplo, verificar a analogia entre um caso de neurose compulsiva e a

    clssica possesso demonaca sem um conhecimento exato de ambos.

    JUNG, C. G. O homem e seus smbolos. Disponvel em:

    . Acesso em: 25 out. 2006.

    TEXTO 2 - Minhas palavras, Lvi-Strauss

    No prximo texto, de Lvi-Strauss, o autor nos remete a uma anlise da

    passagem da natureza cultura. No clssico O cru e o cozido, ele analisa 187 mitos

    coletados por diversos pesquisadores entre povos indgenas do Brasil. Segundo o

    prprio autor, o texto poderia ser chamado de representaes mticas da passagem da

    natureza cultura.Os Bororo contriburam com 18 narrativas que representam variaes de um

    mesmo tema e que foram considerados mitos de referncia. Ao analisar o seu livro,

    ele afirma que todos os 187 mitos utilizados referem-se direta ou indiretamente

    inveno do fogo e, portanto, da cozinha, enquanto smbolo no pensamento indgena.

    Da passagem da natureza cultura (LVI-STRAUSS, 1986, p. 51).

    A saber, os Bororo, tomados como referncia, so exatamente os que menos

    explicitam a conquista do fogo. O prprio autor reconhece: Temos razes para admitir

    http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htm
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    que o mito Bororo se refere origem do fogo apesar de sua extrema discrio quanto a

    isso (idem, p. 169).

    Os mitos Tupi, tambm presentes em O cru e o cozido, falam sobre a

    descoberta do fogo sendo mais diretos: o heri mtico finge que morreu e atrai os

    urubus. Estes, que eram ento os donos do fogo, juntam-se em volta do morto e

    acendem uma fogueira para cozinh-lo. O heri afugenta os urubus e toma posse do

    fogo, entregando-o aos homens. O autor estabelece uma semelhana dos demais mitos

    com os de referncia e sugere a compreenso de que o cru a metfora da natureza, e o

    fogo, da cultura.

    Assim, animais comem carne crua. Homens, carne cozida. O que os mitos dizem

    que houve um tempo em que essa relao estava invertida: com o roubo do fogo, os

    homens transformam-se em caadores, e os animais, em caa.

    LVI-STRAUSS, C. Minhas palavras. So Paulo: Brasiliense, 1986.

    FILMOGRAFIA

    Ttulo original: San WaO mitoPas: ChinaDireo: Stanley TongDurao: 118 minutosAno: 2005Gnero: AventuraDistribuidora: Imagens Filmes

    Ttulo original: The OdysseyA OdissiaPas: EUADireo: Andrei KonchalovskyDurao: 150 minutosAno: 1997Distribuidora: Alpha Filmes

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    PROPOSTA DE ATIVIDADES

    Teatro - construa ou reproduza um mito em forma de pea teatral.

    Produo de vdeo - construa um vdeo com base na atividade anterior.

    SITES

    www.culturalbrasil.org/mitologianagrcia

    www.mundociencia.com.br/filosofia/mitos

    Os sites mereceram especial ateno pelas possibilidades de pesquisa e discusso

    relativas ao tema.

    REFERNCIAS

    JUNG, C. G. O homem e seus smbolos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.

    LVI-STRAUSS, C. Minhas palavras. So Paulo: Brasiliense, 1986.

    http://www.culturalbrasil.org/mitologianagr%C3%A9ciahttp://www.mundociencia.com.br/filosofia/mitoshttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.mundociencia.com.br/filosofia/mitoshttp://www.culturalbrasil.org/mitologianagr%C3%A9cia
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    REAS DA FILOSOFIA

    De que maneira a produo epistemolgico-filosfica pode ser til, ou no, para

    o mundo tecnolgico da atualidade?

    Nos diversos campos de atuao com os quais a Filosofia estabelece relaes,

    voc destacaria quais aspectos?

    Os campos da Filosofia sobrevivem (se fundamentam) atravs da relao. Voc

    costuma trabalh-los individualmente? Caso afirmativo, como procede, e caso

    negativo, como integr-los?

    CONTEXTO

    A palavra filosofia tem origem em dois vocbulos gregos, filos (amor) e sofia

    (sabedoria), dando-lhe o sentido de amor sabedoria. Tal termo foi criado por Pitgoras

    que, ao ser questionado sobre a natureza de sua sabedoria, teria respondido que era

    apenas um filsofo, ou seja, um amante do saber.

    Na Grcia Antiga, o saber filosfico abrangia os mais diversos tipos de

    conhecimento, como a matemtica, a biologia, a fsica, a astronomia, a lgica, a tica,

    etc. Com o passar dos tempos, algumas reas do conhecimento foram separando-se daFilosofia, originando as diferentes cincias. Convm salientar que o ser humano possui

    diferentes tipos de conhecimento, a saber: conhecimento mtico, conhecimento

    cientfico, senso comum, conhecimento religioso, ou teolgico, e conhecimento

    filosfico.

    De forma resumida e esquemtica, poderamos dizer que o senso comum,

    tambm chamado de ingnuo ou popular, um tipo de conhecimento que resultado de

    experincias comuns das pessoas ao enfrentarem os problemas do seu cotidiano. Ao

    tentar explicar a realidade que os cerca, os homens desenvolvem tentativas de

    respostas. Esses conhecimentos, pelo fato e eles muitas vezes desconhecerem as causas,

    so vagos, superficiais, incompletos, falsos ou ingnuos. So conhecimentos adquiridos

    no cotidiano, sem uma busca reflexiva, crtica. Pode haver concepes verdadeiras no

    senso comum, mas o que o caracteriza que no nasceu de reflexes, sendo, portanto,

    superficial.

    Assim, pode-se afirmar que o senso comum um conhecimento transmitido de

    gerao em gerao, que se apoia nas tradies e crenas e que procura resolver os

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    problemas prticos e momentneos do dia a dia, possuindo as seguintes caractersticas:

    impreciso (conceitos vagos), incoerncia (conceitos contraditrios) ou fragmentao

    (conceitos soltos), emprico, assistemtico, acrtico, subjetivo (pois varia de pessoa

    para pessoa) e possui uma tendncia generalizao.

    Contudo, conveniente salientar que ele tambm possui o seu valor, pois o que

    algumas pessoas, que no tiveram acesso a outro tipo de saber, utilizam no seu

    cotidiano. Alm disso, ele pode despertar o desejo de obter-se mais conhecimento e a

    conscincia de que incompleto, sendo tambm, por vezes, o ponto de partida do

    conhecimento cientfico. Porm, preciso torn-lo estruturado, coerente e crtico.

    O conhecimento cientfico um tipo de conhecimento sistemtico, objetivo,

    preciso, que analisa as relaes de causa e efeito e muito bem elaborado. Por ser

    resultado de pesquisas e estudos, bastante seguro, embora no seja perfeito e,

    portanto, questionvel. A cincia delimita o seu objeto de estudo e usa o mtodo

    cientfico, incluindo a experimentao exaustivamente.

    Tal conhecimento uma conquista recente da humanidade, tendo surgido no

    sculo XVII, com a Revoluo Galileana. Com ele, o homem consegue prever

    acontecimentos e tambm agir sobre a natureza de forma mais segura. Esse tipo de

    conhecimento tende cada vez mais para a especializao. Apesar das imprecises, ou

    falhas, serem menos frequentes, elas continuam possveis.

    O conhecimento proveniente da f, ou religioso, um tipo de conhecimento

    utilizado para buscar respostas aos fatos, no pela razo e pelos sentidos (experincias

    sensveis), mas pela adeso incondicional autoridade que o mantm. Foi elaborado por

    pessoas (normalmente do clero) que o transmitiram a partir de uma suposta fonte

    originria que o garante como verdadeiro. Tais conhecimentos, por dependerem de

    uma origem externa razo, carecem de comprovao e, por suas certezas estarem

    ligadas s experincias subjetivas, jamais podero fundar cientificamente qualquer juzo. Caminha-se no terreno da opinio, da ideologia e do dogma. Por isso,

    importante manter-se sempre atento e aberto ao dilogo e reflexo, para evitar

    fanatismos e manter uma postura crtica.

    O conhecimento filosfico um tipo de conhecimento sistemtico, por ser

    racionalmente organizado; elucidativo, por esclarecer e delimitar os pensamentos,

    conceitos e problemas;crtico, por usar de exame prvio e reflexo; e especulativo, por

    buscar uma viso ampla e terica do problema. A viso do conhecimento filosfico de

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    conjunto, pois o problema nunca examinado de modo parcial, mas relacionando cada

    aspecto com outros do contexto em que est inserido.

    Tal conhecimento no emprico; baseia-se somente na capacidade de

    raciocinar, mas pode possuir os sentidos como ponto de partida. A sua principal

    caracterstica o fato de fazer com que os indivduos se indaguem constantemente, se

    questionem a respeito do mundo sua volta e das verdades estabelecidas. , acima de

    tudo, crtico-reflexivo e surge como fruto dos vrios questionamentos que o homem se

    faz.

    J o conhecimento mtico de certa forma mantm uma relao estreita com o

    religioso, pois no podemos estabelecer um limite entre um e outro. E foi abordado

    anteriormente.

    A Filosofia conduz o pensamento humano ao longo da histria, atuando e

    interagindo com as diferentes reas do conhecimento. Essas reas tm em comum o

    desenvolvimento do conhecimento humano, apesar de seus diferentes objetos. Assim, a

    antropologia estuda o homem, a cosmologia trata do universo e uma tentativa de

    descobri-lo racionalmente, a ontologia investiga o ser, a esttica trata do belo, a tica e a

    poltica das relaes humanas e de poder, a epistemologia da anlise crtica das cincias

    e a lgica do raciocnio.

    A Filosofia no tem, por si s, um nico objeto de estudo, sendo que na

    interao com as reas do conhecimento que ela objetiva a sua atuao. Desta forma, ela

    torna-se cada vez mais presente em nosso cotidiano, ajudando a inovar em reas como a

    tica (biotica, tica profissional...), a filosofia clnica, a poltica, no staff de grandes

    corporaes, nos ciber cafs, cafs e chs filosficos.

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    Apresenta-se a seguir um fragmento da obra Introduo Filosofia de Battista

    Mondin. um texto de reflexo sobre a Filosofia e suas reas, sendo que estas sero

    tratadas mais especificamente nos captulos posteriores. Da mesma forma, alguns

    termos citados pelo autor como nomenclaturas especficas sero abordados nos

    respectivos captulos.

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    TEXTO - Introduo Filosofia

    O instrumento de trabalho, de pesquisa, de anlise de que a Filosofia se utiliza

    a razo, a razo pura, o raciocnio puro, como diz Plato. Ela no dispe de

    microscpios, telescpios, mquinas fotogrficas etc. No pode estabelecer controles

    com instrumentos materiais nem apressar suas operaes recorrendo a computadores.

    Mesmo os instrumentos cognitivos de que se utiliza todo homem e todo cientista, os

    sentidos e a imaginao, ao filsofo s servem na fase inicial, para conseguir alguns

    conhecimentos do real, para o qual depois volta o olhar penetrante da razo. O trabalho

    verdadeiro e prprio de pesquisa filosfica realizado apenas pela razo; esta, para

    subtrair-se a todo tipo de distrao, encerra-se em seu sagrado recinto, longe do barulho

    das mquinas, da seduo dos prazeres e da prxis, da confuso dos sentidos, em

    solitria companhia com o prprio objeto.

    O mtodo da Filosofia essencialmente raciocinativo, embora no exclua algum

    momento intuitivo (quer na fase inicial, quer na final).

    Mas os processos raciocinativos so mltiplos, e os mais importantes dentre eles

    so a induo e a deduo. A Filosofia utiliza ambos: o primeiro, para ascender dos

    fatos aos princpios primeiros; o segundo, para descer de novo dos primeiros princpios

    e iluminar posteriormente os fatos, para compreend-los melhor.

    Alm da natureza e do mtodo, a Filosofia se distingue das cincias no fim

    (escopo). A Filosofia no est voltada para fins prticos e interesseiros, como a cincia,

    a arte, a religio e a tcnica; estas, de um modo ou de outro, sempre tm em vista

    alguma satisfao ou alguma vantagem. A Filosofia tem como nico objetivo o

    conhecimento; tem em vista simplesmente pesquisar a verdade em si mesma,

    prescindindo de eventuais utilizaes prticas. A Filosofia tem um objetivo puramente

    terico, ou seja, contemplativo; no pesquisa por nenhuma vantagem que lhe sejaestranha, mas por ela mesma; por isso, como disse egregiamente Aristteles na

    Metafsica(A, 2, 982b), ela livre enquanto no est sujeita a nenhuma utilizao de

    ordem prtica, e portanto se realiza e se resume na pura contemplao do verdadeiro.

    J dissemos anteriormente que todas as coisas so suscetveis de pesquisa

    filosfica. Por isso, pode haver uma filosofia do homem, dos animais, do mundo, da

    vida, da matria, dos deuses, da sociedade, da poltica, da religio, da arte, da cincia,

    da linguagem, do esporte, do riso, do jogo etc. Mas, na realidade, os que se chamamfilsofos estudaram de preferncia apenas alguns problemas, os que so conhecidos com

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    o nome de lgica, epistemologia, metafsica, cosmologia, tica, teodicia, psicologia,

    poltica, esttica,antropologia cultural e axiologia; por isto estas constituem tambm as

    partes principais da Filosofia.

    (...) Quem quer tornar-se especialista nas disciplinas filosficas deve,

    logicamente, estudar, profunda e sistematicamente, todos os problemas mencionados,

    sob cada um dos quais, atravs dos sculos, se acumulou numa bibliografia imensa.

    MONDIN, B. Introduo filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 9. ed. So

    Paulo: Paulus, 1995. p. 6-7.

    FILMOGRAFIA

    Filme:InstintoTtulo original: InstinctPas: EUADireo: Jon TurteltaubDurao: 127 minutosAno: 1999Gnero: SuspenseDistribuidora: Buena Vista Pictures

    PROPOSTA DE ATIVIDADES

    Visitas - visitar um espao pblico (cmara de vereadores, prefeitura, etc.) eproporcionar um debate a respeito da responsabilidade das autoridades.

    Pardias - divida os alunos em equipes e construa pardias sobre as diversasreas da Filosofia.

    SITES

    www.suapesquisa.com/filosofia www.sobressites.com/filosofia www.filosofia.pro.br

    Por se tratar de reas da Filosofia, foram indicados os sites acima peladiversidade de autores e temas abordados.

    REFERNCIAS

    MONDIN, B. Introduo filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 9. ed. So

    Paulo: Paulus, 1995.

    http://www.suapesquisa.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.filosofia.pro.br/http://www.filosofia.pro.br/http://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.suapesquisa.com/filosofia
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    HISTRIA DA FILOSOFIA

    Se a histria humana se repete, o que voc identifica no passado

    que continua a se repetir hoje?

    Se a histria humana no se repete, o que est presente hoje que no existia

    no passado?

    Voc considera que aprendemos a filosofar lendo filosofia, ou no h a necessidade do contato

    com sua histria?

    Sabe-se que cada filsofo organizou seu pensamento a partir de um contexto

    socioeconmico-cultural. Nesse sentido, o que caberia pensar hoje em Filosofia?

    CONTEXTO

    A histria da Filosofia pertinente para aqueles que desejam entrar em contato

    com tendncias, filsofos, teorias, pensamentos que se afirmaram ou se negaram atravs

    dos sculos. No se pretende desenvolver uma epistemologia filosfica quando se

    redige to poucas linhas ou pareceres; apenas despertar a curiosidade a respeito da

    grande produo filosfica at ento.

    Quando se observa tudo o que foi produzido, fica-se estupefato pelo empenho,rigor e abrangncia dos pensadores que canalizaram em suas obras todas as energias e

    potenciais da produo filosfica, que abrangeu desde o idealismo-espiritualista ao

    realismo-materialista, do positivismo filosofia analtica. Salienta-se assim que, pela

    histria da Filosofia, possvel viajar atravs de pocas que, mesmo no estando

    presentes, fazem-se relacionar e compreender.

    A variao interpretativa da histria da Filosofia no nos condiciona a uma viso

    linear ou cclica, mas helicoidal, que inclui aes desenvolvidas pelos filsofos antigos,

    medievais, modernos e contemporneos, pertinentes nas mais variadas formas de

    conhecer.

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    O surgimento da Filosofia na Grcia deve-se a algumas condies especficas e

    concretas, tanto socioeconmicas como culturais, estabelecidas por volta de fins do

    sculo VII a.C. Nesse aspecto, ela surge como uma tentativa de explicar o real de

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    maneira racional, diferentemente do perodo mtico anterior. Assim, sero apresentados

    alguns fragmentos de filsofos que, ao longo do tempo e de acordo com o seu contexto,

    pensaram a sua realidade.

    A seguir, prope-se reflexo um texto de Nietzsche tratando do incio da

    Filosofia; logo aps, um de Nascimento sobre o perodo Medieval, e finalmente um de

    Marx sobre os perodos Moderno e Contemporneo.

    TEXTO 1 - Sobre Tales, Nietzsche

    A filosofia grega parece comear com uma ideia absurda, com a proposio: a

    gua a origem e a matriz de todas as coisas. Ser mesmo necessrio determo-nos nela

    e lev-la a srio? Sim e por trs razes: em primeiro lugar, porque essa proposio

    enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e

    fabulao; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de

    crislida (estado latente, prestes a se transformar), est contido o pensamento: tudo

    um. A razo citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os

    religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como

    investigador da natureza, mas em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filsofo

    grego.

    NIETZSCHE, F. A filosofia na poca trgica dos gregos. Pr-Socrticos. 2. ed. So

    Paulo: Abril Cultural, 1978. p.10.

    TEXTO 2 - Filsofos ou telogos? Nascimento

    No segundo texto sero abordadas as especulaes filosficas medievais que secentraram nas discusses filosfico-teolgicas com o objetivo de conciliar f e razo.

    No incio da alta idade mdia, ou mesmo anterior a ela, a Filosofia era serva da

    Teologia. Posteriormente, oscilou entre os que faziam oposio a essa proposta e

    aqueles que a defendiam e, em seguida, seguiram por caminhos diferentes.

    O trabalho dos tradutores, copistas e do clero em geral era interpretar o

    conhecimento grego e adequ-lo ao contexto sociocultural da cristandade. A Igreja

    buscava o controle total da sociedade feudal e o fazia principalmente pelo dogmatismoreligioso.

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    O filsofo, nesse contexto, ora enfatizava mais o pensamento filosfico, ora

    mais a teologia. Quando fazia uso maior da razo no seu discurso, ou na produo

    filosfico-teolgica, era considerado pago, herege ou infiel, mas, quando favorvel s

    posies da Igreja, proclamam-no santo.

    Confira o fragmento na ntegra:

    Pelo menos no meio universitrio, supe-se que seja um grande elogio chamar

    algum de filsofo. No passa em geral pela nossa cabea a ideia de que uma pessoa

    possa dispensar esse ttulo ou at se sentir ofendida com ele. Ora, precisamente isto o

    que acontecia com a maioria ou mesmo a totalidade daqueles a quem chamamos hoje

    em dia de filsofos medievais.

    De fato, os filsofos, para estes supostos filsofos medievais, eram ou pagos

    ou infiis. O filsofo, por excelncia, para os universitrios do sculo XIII e XIV,

    Aristteles, era exatamente um pago, isto , algum que tendo vivido antes de Cristo,

    no tivera nenhum contato com a mensagem crist. Outros filsofos respeitadssimos

    como Avicena, Averris ou Maimnides eram infiis, pois os dois primeiros eram

    muulmanos e o ltimo, judeu.

    Quando aqueles a quem chamamos de filsofos medievais queriam se referir aos

    autores cristos mais antigos (a quem chamamos hoje de padres da igreja), chamavam-

    nos de os Santos distinguindo-os dos filsofos. Eles prprios se consideravam como

    mestres da sagrada doutrina, ou, como dizemos atualmente, telogos. Se um telogo

    recorresse filosofia nos seus trabalhos teolgicos no era chamado de filsofo, mas de

    telogo filosofante ou simplesmente de filosofante.

    NASCIMENTO, C. A. O que filosofia medieval. So Paulo: Brasiliense, 1992. p.10-

    11.

    TEXTO 3 - Materialismo Dialtico, Engels-Marx

    A ltima citao, que de Marx, identifica a histria como resultado do

    movimento proveniente da luta de classes e refere-se sociedade como o lugar de

    conflitos econmicos e polticos. Assim, percebe-se o modo de produo como o motor

    da histria, bem como tambm a origem de uma nova sociedade e de um novo homem.

    (...) a histria do desenvolvimento da sociedade revela-se num determinadoponto essencialmente diferente da histria da natureza. Na natureza desde que

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    deixamos de lado a ao exercida pelos homens sobre ela so unicamente fatores

    inconscientes e cegos que agem uns sobre os outros e atravs da sua ao recproca

    que se manifesta a lei geral. (...) Pelo contrrio, na histria da sociedade os agentes so

    unicamente os homens, dotados de conscincia, agindo com reflexo ou paixo ou

    prosseguindo objetivos determinados nada a se efetuando sem uma inteno

    consciente, sem um fim escolhido. Mas esta diferena, seja qual for a sua importncia

    para a investigao histrica (sobretudo de pocas e fatos tomados isoladamente), no

    pode impedir que de fato o curso da histria esteja sujeito ao imprio de leis gerais,

    internas histria. Porque, tambm aqui, apesar dos fins conscientemente perseguidos

    por todos os indivduos, o caso que, de modo geral, aparentemente reina superfcie.

    S raramente se realiza o fim desejado.

    (...) Contudo, onde quer que, superfcie, o acaso parea imperar, ele est

    constantemente submetido ao jugo de leis que lhe so interiores e permanecem ocultas:

    tudo o que h a fazer, portanto, descobri-las.

    (...) Com efeito, ao passo que em todas as pocas anteriores descoberta das

    causas motoras da histria, era quase impossvel devido ao emaranhado confuso em

    que as relaes e seus efeitos se encontravam e que os dissimulavam , a nossa poca

    simplificou de tal modo estes encadeamento que o mistrio pode ser resolvido. Desde o

    triunfo da grande indstria, ou seja, pelo menos desde os tratados de paz de 1815, j no

    constitua segredo para ningum em Inglaterra que toda a luta poltica local de ento

    girava em torno das pretenses de duas classes ao poder: a aristocracia fundiria (landed

    aristocracy) e a burguesia (middle class). Em Frana, foi com o regresso dos Bourbons

    que se tomou conscincia do mesmo fato. (...) Por outro lado, desde 1830 a classe

    operria, o proletariado, foi reconhecida como uma terceira fora combatente, nestes

    dois pases, pelo poder. A situao tinha-se simplificado de tal modo que seria preciso

    fechar propositadamente os olhos para no ver na luta destas trs classes, e no conflitode seus interesses, a fora motora da histria moderna, pelo menos nos dois pases mais

    avanados.

    Mas como se tinham formado estas classes? Se, primeira vista, ainda se podia

    atribuir grande propriedade fundiria, outrora feudal, uma origem devida, pelo menos

    em princpio, a causas polticas usurpao pela violncia, uma explicao deste gnero

    j no era possvel para a burguesia e o proletariado. Neste caso a origem e o

    desenvolvimento destas duas grandes classes aparecem, de um modo claro e tangvel,como provindos de causas puramente econmicas. (...) a burguesia e o proletariado

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    tinham-se ambos formado em consequncia de uma transformao das condies

    econmicas, ou, mais precisamente, do modo de produo. Na base do desenvolvimento

    dessas duas classes est a passagem, em primeiro lugar, do artesanato corporativo

    manufatura e da manufatura grande indstria utilizadora de mquinas e acionada a

    vapor.

    (...) Est portanto provado que, pelo menos na histria moderna todas as lutas

    polticas so lutas de classe e todas as lutas que no seu termo emancipam classes, apesar

    da sua forma necessariamente poltica porque qualquer luta de classes uma luta

    poltica , giram, em ltima anlise, em torno de uma emancipao econmica.

    Portanto, pelo menos nesse perodo o Estado, o regime poltico, constitui o elemento

    secundrio e a sociedade civil, o domnio das relaes econmicas, o elemento decisivo.

    A velha concepo tradicional, qual o prprio Hegel tambm se submete, considerava

    o Estado determinante, a sociedade civil o elemento determinado pelo primeiro. Assim

    o aparentemente. (...) Na histria moderna a vontade do Estado , no conjunto,

    determinada pelas necessidades em mutao da sociedade, pela supremacia de uma

    classe ou outra, em ltima anlise, pelo desenvolvimento das foras produtivas e das

    relaes de troca. (...) O Estado no no fundo mais do que o reflexo, sob uma forma

    condensada, das necessidades econmicas da classe reinante sobre a produo.

    ENGELS, F.; FEUERBACH, L. O Fim da Filosofia Clssica Alem. In: MARX-

    ENGELS. Antologia filosfica. Lisboa: Estampa, 1971. p. 141-8.

    FILMOGRAFIA

    Filme: O Poo e o PnduloTtulo original: The Pit and the PendulumPas: EUADireo: Roger CormanDurao: 93 minutosAno: 1961Gnero: Suspense / Terror

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    Filme: Em Nome de DeusTtulo original: Stealing HeavenPas: InglaterraDireo: Clive DonnerDurao: 115 minutos

    Ano: 1988Gnero: Drama / Romance

    PROPOSTA DE ATIVIDADE

    Exposio - organizar os alunos em equipes, e apresentar exposies (frases,

    cartazes) para os demais alunos e Unidade Escolar.

    SITES

    www.sobressites.com/filosofia www.portaldafilosofia.com.br www.filosofiavirtual.pro.br

    Os sites foram indicados pela diversidade de contedos referentes e fcilacessibilidade aos temas propostos.

    REFERNCIAS

    NIETZSCHE, F. A filosofia na poca trgica dos gregos. Pr-Socrticos. 2. ed. SoPaulo: Abril Cultural, 1978.

    NASCIMENTO, C. A. O que filosofia medieval. So Paulo: Brasiliense, 1992.

    ENGELS, F.; FEUERBACH, L. O Fim da Filosofia Clssica Alem. In: MARX-ENGELS. Antologia filosfica. Lisboa: Estampa, 1971.

    http://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.portaldafilosofia.com.br/http://www.filosofiavirtual.pro.br/http://www.filosofiavirtual.pro.br/http://www.portaldafilosofia.com.br/http://www.sobressites.com/filosofia
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    UNIDADE II

    COSMOLOGIA

    INTRODUO

    Pensar Cosmologia romper com algumas ideias da cosmogonia, explicaes

    mitolgicas da realidade, e tentar conhecer com mais clareza a realidade, discutindo

    questes como: origens do universo, origem da vida, a matria, a vida, etc. Nesta

    inteno, desdobrou-se a temtica principal em: Arch do Universo; Surgimento do

    Universo; Astronomia.

    Como incio da investigao, elegeram-se algumas informaes para aconstruo de uma clara conceituao de cosmologia, bem como seus desdobramentos,

    permitindo tambm que o leitor sinta-se instigado a continuar a investigao da temtica

    aqui iniciada.

    O surgimento do universo ser estudado a partir das noes de arch dos

    filsofos da natureza que, na antiguidade, tentaram explicar a matria primordial de

    todos os seres, atribuindo a certos elementos presentes na natureza caractersticas

    divinas.No se pretende com isso concluir as vrias possibilidades deste assunto. A

    pretenso despertar a ideia de que, apesar das grandes descobertas do ltimo sculo,

    ainda h muito que aprender sobre como, quando, onde e por que tudo comeou.

    OBJETIVOS

    Apresentar subsdios para o professor instigar a curiosidade do educando

    pela origem do Universo.

    Identificar algumas teorias sobre a origem e evoluo do Cosmos.

    Apresentar elementos para refletir sobre a Cosmologia.

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    GRUPO DE TRABALHO

    Ezair Batista Correa

    EEB Governador Celso RamosBlumenau

    GEREDBlumenau

    Lucimar Maria Bastezini

    EEB Sror AnglicaSo Loureno dOeste

    GEREDSo Loureno dOeste

    Jucimar da Silva Silveira

    EEB Joo Dos Santos AreoSanta Rosa do Sul

    GEREDArarangu

    Marcos Jos Burnagui

    EEB Simo Jos HessFlorianpolis

    GEREDFlorianpolis

    Maurcio Marchi

    EEB Expedicionrio Mrio NardelliRio do Oeste

    GEREDRio do Sul

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    ARCH DO UNIVERSO - O PRINCPIO PRIMORDIAL

    Existiu, ou existe, um elemento responsvel pela origem de todos os seres?

    Que elemento criou toda a matria que existe?

    De que maneira tudo foi criado?

    CONTEXTO

    O ser humano est de tal modo intimamente ligado ao cosmos que a

    significao ltima de sua existncia est entrelaada ao destino do prprio cosmos. O

    universo desconhecido, inusitado e sublime em virtude de sua grandiosidade e

    mistrio. O cosmos visto como um mistrio no qual reside toda a novidade. O ser

    humano contemporneo, no seu vazio existencial, produzido pela viso materialista do

    consumismo, busca respostas que vo alm da mera explicao simplista e empirista das

    coisas.

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    Atualmente, vrias abordagens explicam a origem do universo e dos seres.

    Uma das mais comuns a do Big Bang, defendida pela grande maioria dos tericos darea, como por exemplo Marcelo Gleiser(2006):

    Qual a origem da matria? De onde vem a matria que preenche o universo, suas

    galxias com bilhes de estrelas, planetas e pessoas? At recentemente, essa pergunta

    fazia parte daquele grupo de perguntas misteriosas que dependem mais da f do que da

    cincia. Ns ainda no sabemos qual a resposta, mas temos hoje algumas ideias

    interessantes, talvez os primeiros passos em direo a uma compreenso mais profunda

    do universo.

    A cosmologia moderna baseada no modelo do Big Bang, que diz que o

    Universo teve uma infncia muito quente e densa. A ideia que, prximo ao incio de

    sua histria, o Universo era uma espcie de sopa de partculas que interagiam

    ferozmente com a radiao. O Universo foi gradativamente se expandindo e se

    resfriando e, aos poucos, estruturas mais complexas foram se formando, comeando

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    com ncleos atmicos bem leves, depois tomos de hidrognio que formaram nuvens

    enormes e instveis que, ao colapsar, originaram as galxias e estrelas .

    A composio qumica do Universo tambm bastante simples. Basicamente, o

    Universo consiste em 75% de hidrognio, 24% de hlio e o 1% restante de tomos,

    incluindo carbono, nitrognio e oxignio. Esses elementos mais pesados no foram

    formados na fornalha primordial, mas sim em estrelas, em particular durante os

    processos que marcam a morte desses objetos.

    Na antiguidade clssica, antes da Filosofia, cada povo, cultura ou religio

    explicava sua maneira, com mitos prprios, como o criador, ou os criadores, teriam

    elaborado o cosmos e os seres nele compreendidos ou existentes. Com o crescimento

    daspleis gregas, surgem os filsofos da natureza, que buscam nos elementos naturais

    estas explicaes, como Tales:

    Tales de Mileto, fencio de origem, considerado o fundador da escola

    jnica. o mais antigo filsofo grego. Tales no deixou nada escrito mas sabemos que

    ele ensinava ser a gua a substncia nica de todas as coisas. A Terra era concebida

    como um disco boiando sobre a gua, no oceano. Cultivou tambm as matemticas e a

    astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua.No plano da astronomia, fez estudos sobre solstcios a fim de elaborar um calendrio, e

    examinou o movimento dos astros para orientar a navegao. Provavelmente nada

    escreveu. Por isso, do seu pensamento s restam interpretaes formuladas por outros

    filsofos que lhe atriburam uma ideia bsica: a de que tudo se origina da gua. Segundo

    Tales, a gua, ao se resfriar, torna-se densa e d origem terra; ao se aquecer

    transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados.

    Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formasde vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes

    proposies: A terra flutua sobre a gua; A gua a causa material de todas as coisas.

    Todas as coisas esto cheias de deuses. O m possui vida, pois atrai o ferro

    (MADJAROF, 2005, p. 3).

    Pitgoras nasceu em Samos, tendo vivido aproximadamente entre os anos 570 a

    532 a.C. Foi para Itlia e Egito, sendo que neste ltimo pas formulou seu famoso

    teorema do tringulo-retngulo, conhecido como o teorema de Pitgoras.

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    A cosmologia de Pitgoras tem como base os nmeros; tudo que existe deriva

    do movimento de alternncia e sucesso de elementos numricos como ponto, linhas,

    curvas, retas, ngulos, etc.

    Segundo o pitagorismo, a essncia, o princpio essencial de que so compostas

    todas as coisas, o nmero, ou seja, as relaes matemticas. Os pitagricos, no

    distinguindo ainda bem forma, lei e matria, substncia das coisas, consideraram o

    nmero como sendo a unio de um e outro elemento. Da racional concepo de que

    tudo regulado segundo relaes numricas, passa-se viso fantstica de que o

    nmero seja a essncia das coisas. O nmero divide-se em par, que no pe limites

    diviso por dois, e, por conseguinte, ilimitado (quer dizer, imperfeito, segundo a

    concepo grega, a qual via a perfeio na determinao); e mpar, que pe limites

    diviso por dois e, portanto, limitado, determinado, perfeito. Os elementos

    constitutivos de cada coisasendo cada coisa nmeroso o par e o mpar, o ilimitado

    e o limitado, o pior e o melhor. Radical oposio esta, que explicaria o vir-a-ser e o

    multplice, que seriam reconduzidos concordncia e unidade pela fundamental

    harmonia (matemtica), que governa e deve governar o mundo material e moral,

    astronmico e sonoro (MADJAROF, 2005, p. 4).

    Como a filosofia da natureza, a astronomia pitagrica representa um progresso

    sobre a jnica. De fato, os pitagricos afirmaram a esfericidade da Terra e dos demais

    corpos celestes, bem como a rotao da Terra, explicando assim o dia e a noite; e

    afirmaram tambm a revoluo dos corpos celestes em torno de um foco central, que

    no se deve confundir com o Sol. No que diz respeito moral, enfim, dominam no

    pitagorismo o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagrica, e as

    prticas ascticas e abstinncias, com relao metempsicose ou reencarnao das

    almas.

    FILMOGRAFIA

    Ttulo: Uma breve histria do tempoPas: Estados UnidosDurao: 80 minutosAno de Lanamento: 1990Gnero: Documentrio

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    PROPOSTA DE ATIVIDADE

    Viagem de estudos com a finalidade de conhecer o observatrio astronmico

    em Brusque e o Planetrio em Florianpolis.

    REFERNCIAS

    GLEISER, M. Micro e Macro. Disponvel em:.

    Acesso em: 24 out. 2006.

    MADJAROF, R. Os pr-socrticos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.

    http://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.mundodosfilosofos.com.br/
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    ORIGENS

    As teorias mitolgicas sobre a criao do universo ainda possuem significado como na

    antiguidade?

    As teorias sobre o surgimento do mundo tm grandes influncias sobre o pensamento.

    Considerando que muitas so equivocadas, como possvel pensar o mundo atravs da

    Histria, Filosofia, Religio e Cincia?

    CONTEXTO

    Cada povo tem sua cultura, alicerada em tradies que perpassam geraes. O

    respeito s manifestaes diferentes humaniza as pessoas, cada vez mais, na busca da

    identidade do mundo, vinculada sua prpria identidade.

    A maneira como o homem entende e se relaciona com os seres que o rodeiam

    revela sua preocupao ou com a preservao, conservao, ou com a destruio e

    extino, quando, neste caso, est unicamente preocupado com a satisfao do desejo

    momentneo, sem preocupao alguma com o futuro da vida no planeta.

    As culturas que se entendem como parte de um sistema tm conscincia da

    interdependncia de todos os seres para o equilbrio natural do ambiente. Portanto, faz

    sentido a redescoberta dos mitos indgenas da criao e evoluo do cosmos, que

    passam a ocupar lugar de destaque na atual sociedade, que ora se desperta para uma

    conscincia ecolgica e preservacionista.

    Entende-se, ento, que o estudo dos mitos de origem e a busca de explicaes

    religiosas voltam a ocupar lugar de destaque nas discusses sobre a origem do universo

    e dos seres, pois as explicaes cientficas podem ser conclusivas, porm as

    mitolgicas, filosficas e religiosas vo alm do que pode ser explicado materialmente.

    Exemplos da cosmogonia criacionista encontram-se em diversas civilizaes,desde a pr-histria. Aqui apresentada a cosmognese guarani:

    Na cosmognese guarani, Nhanderu (Nosso Pai) criou quatro deuses principais

    que o ajudaram na criao da Terra e de seus habitantes. O znite representa Nhanderu e

    os quatro pontos cardeais representam esses deuses. O Norte Jakaira, deus da neblina

    vivificante e das brumas que abrandam o calor, origem dos bons ventos. O Leste

    Karai, deus do fogo e do rudo do crepitar das chamas sagradas. No Sul, Nhamandu,deus do Sol e das palavras, representa a origem do tempo-espao primordial. No Oeste,

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    Tup deus das guas, do mar e de suas extenses, das chuvas, dos relmpagos e dos

    troves (AFONSO, 2006, p. 6).

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    As Cincias, Filosofias e Religies, em geral, so desenvolvidas por seres

    humanos, que carregam consigo a bagagem cultural de seus antepassados. O momento

    histrico em que vivem reflete-se nas concluses a que chegam, pois, como ser social, o

    homem no pensa isoladamente, mas em contato com o meio em que vive.

    As condies polticas, sociais e econmicas fazem parte do cotidiano de todo

    pesquisador e por isso podem influenciar no resultado do seu trabalho. Por outro lado,

    alguns tericos afirmam que a cincia imparcial.Durante muito tempo as teorias cientficas e religiosas se opuseram no que tange

    s explicaes a respeito da origem do universo. Umas defendem tal origem como algo

    natural, ocorrido espontaneamente. J outras atribuem a um ou mais deuses a obra

    suprema da criao.

    Pensar diferente daquilo que a religio pregava era perigoso, pois as afirmaes

    da Igreja deviam ser respeitadas e jamais questionadas. Muitas pessoas chegaram a ser

    condenadas morte por discordar do pensamento cristo da Idade Mdia, que afirmavaqueDeus fez o Universo e a Terra no centro, sendo que todos os outros astros giravam

    em torno da Terra para servi-la, conhecida como Viso Geocntrica.

    Com o desenvolvimento do pensamento moderno, libertando-se da viso

    religiosa, o que antes era proibido passa ser permitido, ou seja, o homem passa a pensar

    livremente, sem medo da represso eclesial. Muitos, entretanto, continuam pensando

    dentro das categorias medievais, ou por crenas, ou simplesmente pela comodidade das

    respostas prontas.

    DILOGOS DE PLATO

    Para exemplificar as dificuldades encontradas nas teorias cientficas, destaca-se

    um pequeno trecho dos dilogos de Socrtes com Parmnides:

    II - Terminada essa parte, Scrates lhe pediu que relesse a primeira hiptese

    do primeiro argumento, depois do que se manifestou: Que queres dizer com isto,

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    Zeno? Se os seres so mltiplos, por fora tero de mostrar, a um s tempo,

    semelhanas e dessemelhanas, o que no possvel. Nem semelhante pode ser

    dessemelhante, nem o dessemelhante semelhante. Declaraste isso mesmo, ou fui eu que

    no compreendi direito?

    Isso mesmo, respondeu Zeno.

    Ento, se o dessemelhante no pode ser semelhante, nem o semelhante

    dessemelhante, no mesmo passo no ser possvel existir o mltiplo, porque, se

    existisse, no poderia eximir-se desses atributos impossveis. Mas, o fim precpuo de tua

    argumentao no visa a combater a crena geral de que o mltiplo existe? No ests

    convencido de que cada um dos teus argumentos demonstra isso mesmo, e que, no teu

    modo de pensar, os argumentos por ti apresentados so outras tantas provas de que o

    mltiplo no existe? Foi isso o que disseste, ou no entendi bem?

    De forma alguma, teria falado Zeno; apanhaste admiravelmente bem a

    inteno geral do escrito.

    Compreendo, Parmnides, continuou Scrates; nosso Zeno deseja tornar-se

    mais ntimo por vrios meios, mas principalmente com a ajuda de seus escritos. No final

    de contas, o que ele afirma mais ou menos o que tu prprio escreveste; porm

    introduzindo algumas modificaes, quer dar-nos a impresso de que diz coisa

    diferente. Declaras em teus Poemas que Todo um, em reforo do que aduzes

    argumentos belos e convincentes. De seu lado, ele nega a existncia do mltiplo, para o

    que apresenta provas de todo o ponto forte e superabundante.

    Desse modo, quando um diz que o Uno existe e outro nega a existncia do

    mltiplo, falando cada um como se nada tivesse de comum com o outro, quando em

    verdade ambos afirmam a mesmssima coisa, o que enuncias parece voar muito por

    cima de nossas cabeas.

    HISTRIA DA ASTRONOMIA

    As especulaes sobre a natureza do Universo devem remontar aos tempos pr-

    histricos, por isso a Astronomia frequentemente considerada a mais antiga das

    cincias. Desde a antiguidade, o cu vem sendo usado como mapa, calendrio e relgio.

    Os registros astronmicos mais antigos datam de aproximadamente 3000 a.C. e se

    devem aos chineses, babilnios, assrios e egpcios. Naquela poca, os astros eramestudados com objetivos prticos, como medir a passagem do tempo (fazer calendrios)

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    para prever a melhor poca para o plantio e a colheita, ou com objetivos mais

    relacionados Astrologia, como fazer previses do futuro, j que, no tendo qualquer

    conhecimento das leis da natureza (fsica), acreditavam que os deuses do cu tinham o

    poder sobre a colheita, a chuva e mesmo a vida.

    Os babilnios, assrios e egpcios sabiam a durao do ano muito antes de

    Cristo. Os maias, na Amrica Central, tambm tinham conhecimentos de calendrio e

    de fenmenos celestes, e os polinsios aprenderam a navegar por meio de observaes

    celestes.

    O grande momento da cincia antiga se deu na Grcia, por volta do sculo VI

    a.C., s sendo ultrapassado no sculo XVI. Do esforo dos gregos em conhecer a

    natureza do cosmos, e com o conhecimento herdado dos povos mais antigos, surgiram

    as primeiras concepes de esfera celeste, constituda de estrelas, estando a Terra no

    centro. Todas as estrelas giram em torno de um ponto fixo no cu e esse ponto uma

    das extremidades do eixo de rotao da esfera celeste. Os antigos gregos, os chineses e

    egpcios j tinham dividido o cu em constelaes.

    Os Principais Astrnomos

    Tales de Mileto (624-546 a.C.) introduziu na Grcia os fundamentos da

    Geometria e da Astronomia, trazidos do Egito. Pensava que a Terra era um disco plano

    em uma vasta extenso de gua.

    Pitgoras de Samos (572-497 a.C.) acreditava que a Terra era redonda. Achava

    que os planetas, o Sol e a Lua eram levados por esferas separadas. Foi o primeiro a

    chamar o cu de cosmos.

    Aristteles de Estagira (384-322 a.C.) explicou que as fases da Lua dependem

    de quanto da parte da face da Lua iluminada pelo Sol est voltada para a Terra.

    Explicou, tambm, os eclipses: um eclipse do Sol ocorre quando a Lua passa entre a

    Terra e o Sol; um eclipse da Lua ocorre quando a Lua entra na sombra da Terra.

    Argumentou que a Terra era uma esfera, j que a sombra da Terra projetada na

    Lua durante um eclipse lunar sempre arredondada. Afirmava que o Universo

    esfrico e finito.

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    Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o primeiro a propor que a Terra se

    movia em volta do Sol, antecipando Coprnico em quase 2.000 anos. Entre outras

    coisas, desenvolveu um mtodo para determinar as distncias relativas do Sol e da Lua

    Terra e mediu os tamanhos aproximados da Terra, do Sol e da Lua.

    Ptolomeu (85 d.C.-165 d.C.) foi o ltimo astrnomo importante da antiguidade.

    Ele montou uma srie de 13 volumes sobre Astronomia, conhecida como o Almagesto,

    que a maior fonte de conhecimento sobre a Astronomia na Grcia.

    A Terra era uma esfera fixa e tudo girava ao seu redor, o Sol, a Lua e as Estrelas.

    Esta era a concepo geocntrica do Universo, que acabou sendo adotada como modelo

    oficial imposto pela Igreja Crist, perdurando at o sculo XVII.

    Giordano Bruno (1544-1600) foi o maior defensor do imanentismo

    renascentista. Foi julgado pela Inquisio romana, sendo condenado morte e

    executado em 1600.

    Para ele a realidade una e infinita, constituda por dois princpios

    fundamentais: a alma do mundo e a matria. So dois aspectos da mesma substncia. A

    alma do mundo concebida como sendo inteligente, ordenadora do mundo; mas no

    transcendente, como o motor primeiro de Aristteles e o Deus do cristianismo, e sim

    imanente ao mundo, de que precisamente a alma. O Deus de Bruno , pois, esta alma

    do mundo, concebida como imutvel e infinita, gerando eternamente o mundo finito e

    que se acha em perptuo vir-a-ser, ou seja, criar e recriar (MADJAROF, 2000, p. 6).

    Giordano, aps tomar conhecimento do trabalho de Nicolau Coprnico,

    defendeu abertamente que a Terra um planeta como outros no firmamento, que a

    diviso do universo em mundo lunar (Cosmos) e sublunar no fazia sentido. Defendeu

    abertamente: a unidade do cu e da terra; que as estrelas tm idntica natureza do nossoSol; que o Universo infinito, bem como a pluralidade dos mundos. A pluralidade de

    novos mundos, ou melhor dizendo, de novos sistemas planetrios est hoje confirmada

    (cf. HNEL, 2004).

    Nicolau Coprnico (1473-1543) - A ideia que a Terra no estava no centro do

    universo no era nova; os atomistas e os pitagricos j a haviam sustentado, sob formas

    diversas. A verdade que estas ideias nunca conseguiram muitos adeptos, pois aexperincia quotidiana parecia desmenti-las de forma muito evidente. A concepo

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    cosmolgica que foi adaptada, nomeadamente pela Igreja, era a defendida por Ptolomeu

    que considerava estar a Terra no centro do universo, girando sua volta todos os demais

    astros (geocentrismo).

    A grande inovao de Coprnico consistiu em ter sustentado em termos

    matemticos (geomtricos) a sua hiptese cosmolgica do movimento da Terra e ter

    apontado um conjunto de fatos que evidenciavam que a antiga concepo geocntrica

    era incapaz de dar uma resposta satisfatria.

    Coprnico dedicou-se por um tempo relativamente grande Astronomia e a

    escrever, por volta de 1530, a sua clebre obra As Revolues das rbitas Celestes.

    Nesta obra, publicada depois da sua morte, o Sol colocado no centro do universo, e

    deslocam-se sua volta, em rbitas circulares, no apenas a Terra mas os restantes

    astros.

    Embora o sistema de Coprnico esteja ainda muito ligado s correntes msticas,

    nem por isso deixou de contribuir decisivamente para romper com a concepo fechada

    do universo e lanar as bases dos trabalhos posteriores de Galileu, Kepler, Newton (cfr.

    PLASTINO, 2006).

    Johannes Kepler (1571-1628) -Ao olhar para as rbitas planetrias, luz dos

    diferentes epiciclos, Kepler verificou que nada existia no centro da rbita que fosse a

    origem do movimento. Tornou-se por esta razo um heliocentrista convicto.

    Acreditava ele que os movimentos dos planetas tinham causas fsicas e, por isso,

    acabou colocando de lado preconceitos antigos, como, por exemplo, o de o movimento

    dos planetas ser feito em rbitas circulares, s porque essa era a forma mais perfeita e

    harmoniosa de todas as formas, j que tinha sido criada por Deus, que tambm era

    perfeito. Kepler verificou que a rbita dos planetas no era circular, mas sim elptica.

    Teve como primeira tarefa, ao trabalhar para Tycho Brahe, a determinao darbita de Marte, tentando ajust-la a uma rbita circular em torno do Sol. No dispondo

    de uma teoria que explicasse o movimento dos planetas, restava tentar tudo de novo

    com rbitas diferentes.

    A anlise dos registros leva-o a concluir que a forma que mais se adaptava

    rbita dos planetas era a de uma elipse. Concluiu tambm que o Sol ocupava um dos

    focos da elipse.

    Kepler pensava que, se um planeta qualquer descrevia a sua rbita elptica emtorno do Sol, a certa distncia e com uma certa velocidade, demorando um certo tempo

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    e no outro, porque algo estaria por detrs de tudo isto e os relacionaria (cfr.

    MONTES; COSTA, 2006).

    Isaac Newton (1642-1727) - Seu pensamento apresentou-se como uma profunda

    transformao na maneira de conceber o mundo e tambm uma orientao totalmente

    nova na busca da verdade cientfica.

    Com o nascimento da cincia moderna, encerrou-se a concepo geocntrica do

    mundo, predominante no pensamento antigo e medieval. Tornou-se possvel reconhecer

    que a Terra gira em torno de seu prprio eixo e ao redor do Sol, que esses movimentos

    so compatveis com os eventos que ocorrem na superfcie da Terra, que as leis da

    mecnica aplicam-se igualmente aos fenmenos terrestres e celestes.

    O longo e rduo processo de formao da cincia moderna nos sculos XVI eXVII culminou com as notveis descobertas de Newton, que simbolizaram o triunfo de

    um paradigma cientfico capaz de revelar, de forma clara e exata, a mais bela estrutura

    do sistema do mundo.

    Partindo do estudo de diferentes tipos de movimento, Newton procurou

    determinar as foras da natureza exigidas para produzi-los. Nessa pesquisa, foi de

    fundamental importncia sua argumentao para estabelecer a lei da gravitao

    universal, que permitiu explicar, com grande aproximao, fenmenos to diversoscomo a queda livre dos corpos (com acelerao constante), as oscilaes do pndulo, as

    trajetrias dos projteis, o movimento das mars (causado pela atrao gravitacional da

    Lua e do Sol), as rbitas elpticas dos planetas e cometas etc.

    Desse modo, questes que antes eram tratadas separadamente se mostraram

    intimamente relacionadas, dentro de um mesmo sistema fsico. E o notvel xito desse

    empreendimento fortaleceu cada vez mais a convico de que o Universo inteiro pode

    ser definitivamente compreendido nos termos dos princpios matemticos formuladospor Newton (cfr. PLASTINO, 2006).

    Albert Einstein (1879-1955) - Em 1905, Einstein publicou o seu trabalho sobre

    a Eletrodinmica dos Corpos em Movimento, uma reformulao revolucionria dos

    conceitos de espao e tempo, que chamado hoje de Relatividade Restrita.

    Os conceitos de espao e tempo eram uma percepo imperfeita do verdadeiro

    conceito fundamental, que era o espao-tempo, e mostrava que a teoria da relatividade

    podia ser formulada como uma geometria muito simples nesse espao-tempo.

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    No ano 1916, escreve o artigo Fundamentos da Relatividade Geral, no qual faz

    uso essencial das geometrias propostas por Riemann, com a diferena importante de que

    eram geometrias no espao-tempo e, portanto, em espaos quadridimensionais. Esta

    teoria, que originalmente se destinava a ser uma teoria em que todos os referenciais

    fossem tratados em p de igualdade, destituindo os referenciais inerciais de sua posio

    privilegiada, revelou ser uma teoria da gravitao, que acabou substituindo a consagrada

    teoria da Gravitao Universal, de Isaac Newton.

    A consagrao desta teoria deu-se em 1919, com a observao, em Sobral,

    Cear, e na Ilha do Prncipe, na costa da frica, do extraordinrio fenmeno do desvio

    gravitacional da luz, que permitiu a observao de uma estrela que se encontrava atrs

    do Sol durante um eclipse.

    Em 1917, no artigo Consideraes Cosmolgicas na Teoria da Relatividade

    Geral, Einstein aplica sua teoria ao problema cosmolgico. Apoiando-se na observao

    emprica de que as velocidades das estrelas so pequenas, adota como princpio

    cosmolgico um universo esttico e espacialmente homogneo e isotrpico. De incio,

    no consegue obter qualquer soluo com estas propriedades. Modifica-as, ento,

    acrescentando um termo denominado constante cosmolgica, e obtm, assim, a

    soluo procurada. Mais tarde, arrependido, considera esta constatao de suas

    equaes bsicas a maior asneira de minha vida. A grande contribuio da

    relatividade geral cosmologia viria, porm, de outras mos.

    Trata-se da densidade de matria-energia, que a mesma em todos os pontos,

    pois adotado o princpio cosmolgico em que o espao do universo homogneo e

    isotrpico. Era a primeira vez que se falava em universo em expanso entre fsicos.

    Einstein acreditava que o universo no iniciou a partir de uma exploso. Uma

    exploso tem como caracterstica principal um grande gradiente de presso, enquanto

    que o universo, sendo homogneo, tinha a mesma presso em todos os pontos, mesmono incio (cf. FLEMING, 2006)

    Edwin Powell Hubble (1889-1953) - Em 1926, Hubble organizou um sistema

    de classificao das galxias que, com poucos ajustes, permanece vlido at os dias de

    hoje. Descobriu a relao entre as velocidades de afastamento das galxias e as suas

    distncias, evidenciando a expanso do Universo. Diante disto formulou a seguinte lei:

    Quanto mais distante a galxia, maior sua velocidade de afastamento, isto , quanto

    mais longe est a galxia mais rpida ser sua velocidade. Esta foi a primeira evidncia

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    de que o Universo est se expandindo. Por conseguinte, as galxias no mais foram

    chamadas de nebulosas, pois eram objetos que estavam muito longe e no poderiam

    pertencer nossa Galxia.

    Se o Universo est expandindo, ele pode ter explodido. Esta teoria ficou

    conhecida como Teoria do Big Bang, ou seja, a grande exploso. Para ter explodido, ele

    estava muito quente, e hoje, com o processo de expanso, ele deve estar bem mais frio.

    Pela temperatura calculada a dimenso e tambm a idade do universo, que hoje

    estimada entre 12 a 17 bilhes de anos/luz.

    Stephen William Hawking (1942 - ) - Stephen Hawking, ingls, titular da

    cadeira que foi de Isaac Newton na Universidade de Cambridge, um dos grandes

    fsicos tericos dos ltimos 50 anos, responsvel com o colega Roger Penrose pela

    demonstrao de que o espao-tempo teve incio no Big Bang. talvez o cientista vivo

    mais conhecido no mundo.

    A pergunta que se coloca a de saber qual seria o papel de um criador em um

    Universo que pode ser completamente explicado pelas leis da Fsica! Talvez a resposta

    esteja na chamada teoria do todo, que, segundo Stephen Hawking e outros, unificaria a

    teoria da relatividade geral e a mecnica quntica em um nico corpo matemtico

    autoconsistente um princpio abstrato de ordem e harmonia que, expresso atravs de

    uma teoria matemtica, seria capaz de explicar aquilo que observamos na natureza.

    Um ponto importante, na viso de Stephen Hawking, que no seu modelo

    cosmolgico no existe um momento preciso para o comeo do Universo, simplesmente

    porque no existe um momento preciso de quando o tempo comeou a existir. A

    grandeza que chamamos de tempo surgiu de uma mistura quntica durante o Big Bang.

    O Universo no comeou em um determinado instante, mas, ao contrrio, foi criado

    com uma qualidade que chamamos de tempo.A popularidade de Hawking ganhou enorme impulso em 1988, quando foi

    lanado seu best-seller Uma breve histria do tempo. Em seu novo livro, O universo

    numa casca de noz, Hawking tenta corrigir os defeitos do anterior, e tem o claro

    objetivo de facilitar o entendimento do leigo.

    Hawking narra a busca pela Teoria de Tudo uma nica teoria capaz de

    descrever o universo, sem contradies ou incoerncias, que segure as dificuldades que

    surgem quando as teorias fsicas mais aceitas entram em contradio. Para isso, analisa

    http://cienciahoje.uol.com.br/2548http://cienciahoje.uol.com.br/2548
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    os avanos da Fsica nos ltimos cem anos, da relatividade s supercordas, passando por

    mecnica quntica e entropia.

    O xito da teoria, no entanto, esbarra na quase impossibilidade de sua

    comprovao: como observar as dimenses recurvadas, que poderiam chegar, segundo

    Hawking, ao comprimento de um milmetro dividido por cem mil bilhes de bilhes?

    (LETHBRIDGE, 2006)

    PROPOSTA DE ATIVIDADES

    Viagem de estudos com a finalidade de conhecer o observatrio astronmico em

    Brusque e o Planetrio em Florianpolis.

    Gincana do lixo limpo, incentivando a reciclagem, o reaproveitamento de

    materiais e o destino correto para o material orgnico.

    FILMOGRAFIA

    Ttulo original: Contact (Contato)Pas: Estados UnidosDireo: Robert ZemeckisDurao: 150 minutosAno de lanamento: 1997Gnero: Fico cientficaDistribuio: Warner Bros

    Ttulo original: Giordano BrunoPas: ItliaDireo: Guiliano MontaldoDurao: 114 minutosAno de lanamento: 1973Gnero: Drama

    http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/personalidades/diretores/robert-zemeckis/robert-zemeckis.htmhttp://adorocinema.cidadeinternet.com.br/personalidades/diretores/robert-zemeckis/robert-zemeckis.htm
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    REFERNCIAS

    AFONSO, G. Mitos e estaes do cu tupi-guarani. Disponvel em:. Acesso em: 29 out.2006.

    FLEMING, H. Disponvel em: . Acessoem: 26 out. 2006.

    HNEL, J. Disponvel em: . Acesso em: 26 out. 2006.

    LETHBRIDGE, T. Disponvel em:. Acesso em: 26 out.2006.

    MADJAROF, R. Os pr-socrticos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.

    MONTES, M.; COSTA, A. Disponvel em:. Acesso em: 26 out.2006.

    PLASTINO, E. C. Disponvel em: .Acesso em: 26 out. 2006.

    USP. Seo Astronomia. Disponvel em: . Acesso em: 27 out.2006.

    http://www.uol.com.br/sciam/conteudo/materia/materia_89.htmlhttp://www.hfleming.com/rusp_cosmo.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.ualg.pt/ccviva/astronomia/historia/johannes_kepler.htmhttp://www.herbario.com.br/atual04/2811hiscienc.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.herbario.com.br/atual04/2811hiscienc.htmhttp://www.ualg.pt/ccviva/astronomia/historia/johannes_kepler.htmhttp://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.hfleming.com/rusp_cosmo.htmlhttp://www.uol.com.br/sciam/conteudo/materia/materia_89.html
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    UNIDADE III

    ANTROPOLOGIA FILOSFICA

    INTRODUO

    A pergunta motriz da Antropologia Filosfica : O que o homem? Ela trata

    do homem no aspecto estrutural, utilizando-se de conceitos abstratos e universais, pois

    tem seus primrdios mais fecundos nos debates de Scrates e dos Sofistas. no sculo

    XIX que aparece como cincia, distinguindo-se de outras Antropologias. No entanto,

    preciso distinguir a simples Antropologia da Antropologia Filosfica. A primeira estuda

    o homem sob a perspectiva material, cultural e comportamental. Nesse sentido, a sua

    metodologia utiliza-se simultaneamente da histria e das cincias naturais, e seus temas

    variam desde o surgimento do homem na Terra at a maneira como ele estabelece uma

    cultura.

    A Antropologia encarada metafisicamente antes aquela parte da Filosofia

    que investiga a estrutura essencial do homem. Ou seja, a Antropologia Filosfica uma

    Antropologia da essncia e no das caractersticas acidentais humanas.

    Nesta unidade, o leitor encontrar trs partes contendo os desdobramentos da

    Antropologia: o conceito e objeto de estudo, a relao do ser humano com a natureza

    (cultura) e a questo da interdisciplinaridade. Para cada desdobramento so sugeridas

    algumas indagaes que pretendem despertar a reflexo sobre o objeto em questo.

    Cada desdobramento contextualizado a partir de um assunto presente no cotidiano.

    Depois so apresentados textos que possibilitam um encontro com os clssicos daFilosofia. So apresentadas, tambm, algumas sugestes de filmografia, sites e

    referncias. Abaixo seguem alguns objetivos gerais que apontam o caminho e o lugar

    aonde se pretende chegar.

    OBJETIVOS

    Proporcionar, atravs do estudo da Antropologia, o conhecimento do processode transformao do homem e seus reflexos na sociedade em que vive.

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    Possibilitar momentos de problematizao, desafiando e questionando o

    modelo de homem e sociedade que temos, contrapondo-o ao que se deseja.

    Construir um espao de reflexo que possibilite uma proximidade entre as

    cincias e a Filosofia quanto pergunta: quem o homem?

    Problematizar a questo da gnese do homem e seu processo de humanizao

    por meio da cultura.

    GRUPO DE TRABALHO

    Paulo Csar de Carvalho JacEEB So Joo Batista

    GEREDBrusque

    Joo Valdemir PatinhoEEB Joo Roberto Moreira

    GEREDXanxer

    Ademir Dietrich

    EEB Prof. Carlos MaffezzolliGEREDBrusque

    Estevo Jos da CunhaEEB Prof. Heriberto J. Muller

    GEREDBlumenau

    Leonardo PavanelloEEB Orlando BertoliGEREDIbirama

    Incio StuepEEB Engenheiro Annes Gualberto

    GEREDLaguna

    Teresa Kern AlvesEEB Toneza CascaesGEREDCricima

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    CONCEITUAO DO OBJETO DE ESTUDO

    Caro professor, so vrias as antropologias. Dessas existentes qual utilizada

    em seu cotidiano no processo de compreenso do homem?

    Alguns mtodos aparecem na abordagem epistemolgica da Antropologia,

    por exemplo: hermenutico, fenomenolgico e estrutural... Qual desses voc

    utilizaria nas abordagens sobre o homem com seus alunos?

    Como a Antropologia pode contribuir para a compreenso do homem

    enquanto um ser afetivo?

    CONTEXTO

    Toda cincia se caracteriza pelo seu objeto e mtodo de estudo. A

    Antropologia Filosfica faz sua investigao a partir da pergunta: Quem o Homem?

    Em meio a tantas crises existenciais, o homem contemporneo esqueceu de

    sua maior virtude: o amor. Essa afirmao se encontra na revista Filosofia: cincia &

    vida. O ser humano visto como um ser que ama. Responder pergunta colocada

    acimase constitui como a indagao primeira da Antropologia Filosfica.

    A sociedade atual revela um ser humano egocntrico, numa busca constante desi mesmo. Amar ir alm das aparncias e da beleza exterior como a indstria cultural

    cria e impe atravs de seus padres de beleza. H uma busca constante de se enquadrar

    nesses padres, principalmente pelos jovens. O amor reduzido dimenso do Eros, da

    paixo, esquecendo-se suas dimenses do gape.

    A juventude atual passa por um momento de crise em suas relaes afetivas,

    onde o outro visto como objeto descartvel. Exemplo disso o namoro do tipo ficar,

    o que, entre os jovens, vem a significar a coisificao do outro e a aniquilao do amor.

    TEXTOS PROVOCATIVOS

    Tendo a Antropologia Filosfica como objeto de estudo o ser humano,

    apresentam-se abaixo dois textos que conceituam o homem como um ser que ama.

    So apresentados aqui dois nomes da Filosofia clssica: Plato e Aristteles.

    Ambos abordam a ideia do amor e dos sentimentos como uma das caractersticas do ser

    humano. Plato fala de um amor que no perpassa a dimenso do modelo heterossexual

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    da atualidade, enquanto Aristteles compara o ser humano, quanto ao sentir, aos

    animais, contrapondo o domnio da alma sobre o corpo, ou seja, da razo sobre os

    sentidos.

    TEXTO 1 - O Banquete - Plato

    E com Hesodo tambm concorda Acusilau. Assim, de muitos lados se

    reconhece que Amor entre os deuses o mais antigo. E sendo o mais antigo para ns a

    causa dos maiores bens. No sei eu, com efeito, dizer que haja maior bem para quem

    entra na mocidade do que um bom amante, e para um amante, do que o seu bem-amado.

    Aquilo que, com efeito, deve dirigir toda a vida dos homens, dos que esto prontos aviv-la nobremente, eis o que nem a estirpe pode incutir to bem, nem as honras, nem a

    riqueza, nem nada mais, como o amor. A que ento que me refiro? vergonha do que

    feio e ao apreo do que belo. No com efeito possvel, sem isso, nem cidade nem

    indivduo produzir grandes e belas obras. Afirmo eu ento que todo homem que ama, se

    fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofr-lo de outrem sem se defender

    por covardia, visto pelo pai no se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por

    ningum mais, como se fosse visto pelo bem-amado. E isso mesmo o que tambm noamado ns notamos, que sobretudo diante dos amantes que ele se envergonha, quando

    surpreendido em algum ato vergonhoso. Se por conseguinte algum meio ocorresse de se

    fazer uma cidade ou uma expedio de amantes e de amados, no haveria melhor

    maneira de a constiturem seno afastando-se eles de tudo que feio e porfiando entre si

    no apreo honra; e quando lutassem um ao lado do outro, tais soldados venceriam, por

    poucos que fossem, por assim dizer todos os homens. Pois um homem que est amando,

    se deixou seu posto ou largou suas armas, aceitaria menos sem dvida a ideia de ter sidovisto pelo amado do que por todos os outros, e a isso preferiria muitas vezes morrer. E

    quanto a abandonar o amado, ou no socorr-lo em perigo, ningum h to ruim que o

    prprio Amor no o torne inspirado para a virtude, a ponto de ficar ele semelhante ao

    mais generoso de natureza; e sem mais rodeios, o que disse Homero do ardor que a

    alguns heris inspira o deus, eis o que o Amor d aos amantes, como um dom emanado

    de si mesmo. E quanto a morrer por outro, s o consentem os que amam, no apenas os

    homens, mas tambm as mulheres.

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    PLATO. O banquete. Disponvel em: .

    Acesso em: 28 jun. 2001.

    TEXTO 2 - A Poltica - A Servido Natural - Aristteles

    Em tudo o que composto de vrias partes quer contnuas, quer disjuntas, mas

    tendentes a um fim comum, sempre notamos uma parte eminente qual as outras esto

    subordinadas, e isso no apenas nas coisas animadas, mas tambm nas que no o so,

    tais como os objetos suscetveis de harmonia. Mas, aqui, me afastarei por certo de meu

    objetivo. O animal compe-se primeiro de uma alma, depois de um corpo: a primeira,

    por sua natureza, comanda e o segundo obedece. Digo por sua natureza, pois preciso

    considerar o mais perfeito como tendo emanado dela, e no o que degradado e sujeito

    corrupo. O homem, segundo a natureza, aquele que bem constitudo de alma e

    de corpo. Se nas coisas viciosas e depravadas o corpo no raro parece comandar a alma,

    certamente por erro e contra a natureza.

    preciso, portanto, como dissemos, considerar nos seres animados a autoridade

    do senhor e a do magistrado: a primeira a da alma sobre o corpo; a segunda exerce

    sobre as paixes humanas o poder da razo. claro que o comando, nestas duas

    espcies, conforme natureza, assim como ao interesse de todas as partes, e a

    igualdade ou a alternncia seriam muito nocivas a ambas.

    O mesmo ocorre com o homem relativamen