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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO
CURSO DE TURISMO
DEPARTAMENTO DE TURISMO
MARCELA UCHÔA CRAVEIRO
SANTA TERESA E O DESENHO URBANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO:
CONFIGURAÇÃO PAISAGÍSTICA COMO DIFERENCIAL TURÍSTICO
Niterói
2011
MARCELA UCHÔA CRAVEIRO
SANTA TERESA E O DESENHO URBANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO:
CONFIGURAÇÃO PAISAGÍSTICA COMO DIFERENCIAL TURÍSTICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial de avaliação para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Fratucci
Niterói
2011
MARCELA UCHÔA CRAVEIRO
SANTA TERESA E O DESENHO URBANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO:
CONFIGURAÇÃO PAISAGÍSTICA COMO DIFERENCIAL TURÍSTICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial de avaliação para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
APROVADA EM ------/------/------
BANCA EXAMINADORA:
__________________________ _
Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Fratucci Professor Orientador
Universidade Federal Fluminense
___________ ________________
Prof. Dr. Marcello de Barros Tomé Machado Professor Avaliador
Universidade Federal Fluminense
______________ _____________
Profª M.Sc. Telma Lasmar Professora Avaliadora
Universidade Federal Fluminense
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que sempre incentivaram meus estudos e a vinda para Niterói acreditando
nesse início de formação profissional.
A todas as amigas e companheiras de 611, pois tornaram a vida longe da casa e da cidade
dos meus pais muito prazerosa além de engrandecedora. Responsáveis por compartilharem
dessa jornada de quatro anos e meio criamos laços extrapolando o ambiente da faculdade
que pretendo levar para o resto da vida.
A João Gabriel, namorado, que conheci no ambiente acadêmico e veio a se tornar um
companheiro para todas as horas, oferecendo conhecimento, suporte e conforto nos
momentos mais difíceis da graduação.
A todos aqueles que colaboraram respondendo ao questionário e reenviando para outros
contatos, contribuindo para a obtenção dos dados e conseqüente análise proposta pelo
presente estudo.
Ao Professor orientador Aguinaldo Cesar Fratucci pela paciência e ao incentivo ao estudo e
à pesquisa de maneira séria que levaram à conclusão desta monografia e à formação mais
rica.
À professora Erly no auxílio à formatação e melhor execução deste trabalho.
Aos demais professores do curso de graduação em turismo da Universidade Federal
Fluminense que me incentivaram em relação a pesquisas e auxiliaram na divulgação de
oportunidades de atividades contribuindo para uma formação mais completa, não apenas
visando ao ambiente profissional.
―Compositor de destinos Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo És um dos deuses mais lindos Tempo tempo tempo tempo...‖
(Oração ao tempo, Caetano Veloso)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Cidade do Rio de Janeiro rural ..............................................................
Figura 2: Cidade do Rio de janeiro urbanizada......................................................
Figura 3: Mapa de localização do bairro................................................................
Figura 4: Bairro de Santa Teresa: delimitação da área de estudo.........................
Figura 5: Quadro com os bens tombados em Santa Teresa..................................
Figura 6: Motivação à visita ...................................................................................
Figura 7: Média da motivação à visita ...................................................................
Figura 8: Aspectos mais apreciados no bairro ......................................................
Figura 9: Média do que mias gosta ou gostou no bairro .......................................
Figura 10: Aspectos que devem ser melhorados no bairro ...................................
Figura 11: Média de aspectos que devem ser melhorados no bairro ...................
Figura 12: Aproveitamento da oferta turística........................................................
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LISTA DE SIGLAS
APA - Área de Proteção Ambiental
APAC - Área de Proteção do Ambiente Cultural
CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil
GaWC - Globalization and World Cities
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
INEPAC - Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPTU - Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
OMT - Organização Mundial do Turismo
RIOTUR - Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A
Sistur - Sistema de Turismo
SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura.
UPP - Unidade de Polícia Pacificadora
RESUMO
O presente trabalho aprofundou-se, a princípio, em conceitos relacionados ao processo de formação das cidades, da caracterização das distintas paisagens, dos tipos de patrimônio e sua preservação; todos associados ao turismo. Com base nesses conceitos, estudou a paisagem urbana do bairro de Santa Teresa inserida na cidade do Rio de Janeiro. Foram pesquisados os bens patrimoniais que caracterizam o bairro. No decorrer do trabalho foi realizada uma pesquisa que utilizou como amostra pessoas que já haviam visitada a localidade. A partir dela foram constatadas suas percepções em relação à paisagem do bairro. O que se observou foi que o fomento à preservação de rugosidades, reunidas de maneira representativa, facilitou a perpetuação de uma paisagem diferenciada em relação à encontrada no restante da cidade, gerando atratividade a Santa Teresa.
Palavras-chave:Turismo. Patrimônio.Rugosidade.Paisagem. Santa Teresa-RJ
ABSTRACT
This work has made a profound study, at first, on concepts related to the formation of cities, the characterization of different landscapes, types of heritage conservation; all related to tourism. Based on these concepts, the urban landscape of Santa Teresa was studied inserted in the city of Rio de Janeiro. Where researched the estates that characterize the neighborhood. During the study was conducted a survey which used a sample of people who had already visited the locality. From it was observed their perceptions of the landscape of the neighborhood. What was noted was that the foment of the preservation of rugosities, grouped in a representative manner, has facilitated the perpetuation of a distinctive landscape considering that found in the rest of the city, generating attractivity to Santa Teresa. Key words: Tourism. Patrimony. Rugosity. Landscape. Santa Teresa-RJ
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 10
2 TURISMO URBANO: RUGOSIDADES E ATRATIVIDADE................. 14
2.1 CIDADE, GLOBALIZAÇÃO E TURISMO .............................................. 14
2.2 O TURISTA E A PAISAGEM................................................................. 19
2.3 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO..................................................... 23
3 TURISMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.................................... 28
3.1 RIO DE JANEIRO E SEUS PRINCIPAIS ATRATIVOS......................... 31
3.2 A CONSTITUIÇÃO DA PAISAGEM URBANA CARIOCA..................... 34
4 DO BAIRRO DE SANTA TERESA....................................................... 41
4.1 CARACTERIZAÇÃO E HISTÓRICO DO BAIRRO DE SANTA
TERESA.................................................................................................
41
4.2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E CULTURAIS DA ÁREA........... 44
4.3 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................ 45
4.4 A ATRATIVIDADE DO BAIRRO E SUA AMBIÊNCIA URBANA........... 47
4.5 METODOLOGIA DA PESQUISA APLICADA........................................ 58
4.6 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................. 61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 69
REFERÊNCIAS..................................................................................... 73
APÊNDICES.......................................................................................... 76
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1 INTRODUÇÃO
A paisagem encontrada no bairro de Santa Teresa como será apresentada é
predominantemente urbana, apesar de sua proximidade com a natureza.
Diferenciais como sua arquitetura peculiar do passar dos séculos podem representar
significações chamarizes para aqueles que buscam conhecer o que parece ser uma
pequena cidade dentro da cidade grande como o Rio de Janeiro.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é a formação geográfica que compõe
a paisagem que representa o bairro. Ele está localizado em um outeiro, ligado
diretamente a outros bairros da cidade, como Cosme Velho, para o qual há ligação,
apesar de não funcionar, do bonde de Santa Teresa com a estação de trem do
Corcovado e, o Centro, preservando traços do Rio Antigo. Características como
essas são responsáveis por constituir a essa paisagem tão rica significação cultural.
Segundo a Carta de Burra (ICOMOS,1980), os lugares com significação
cultural enriquecem a vida das pessoas, proporcionando, muitas vezes, uma maior
ligação entre a comunidade e a paisagem, o passado e as experiências vividas.
Representam registros históricos que se tornam importantes como expressões
tangíveis da identidade e da experiência do lugar. A significação cultural contida
neles reflete a diversidade existente nas comunidades, devendo ser conservada
para as gerações futuras bem como para a atual. O turismo, portanto, possui papel
fundamental na manutenção dessa estrutura.
Freqüentadora do bairro, a autora teve a iniciativa de pesquisar acerca do
tema por interesse na preservação de costumes e vestígios urbanos de épocas
distintas, o que destaca como rugosidades. A paisagem da cidade acaba sendo
reescrita muitas vezes por intervenções de modernização. Para o turismo, acredita
que diferenciais como os do bairro representam concretos atrativos para visitantes,
sejam estes da própria cidade, de outros estados ou de origem estrangeira.
A escassez de estudos sobre o bairro de Santa Teresa, especificamente,
representou grande fator motivacional para o aprofundamento no estudo da questão
patrimonial e paisagística do mesmo. Foi percebida a oportunidade de reunir e
perpetuar determinadas informações academicamente, antes retidas informalmente
na consciência de moradores ou freqüentadores da localidade.
Os resultados obtidos a partir do estudo em questão devem servir como
insumos para os próprios moradores utilizarem no planejamento do local. Com base
11
no mesmo podem ser adotadas medidas a fim de melhorar as condições para o
aproveitamento por parte tanto dos moradores como dos visitantes tendo por base
estudos atuais. A vivência histórica das comunidades, ao ser valorizada pelo
turismo, acaba enriquecendo a experiência do turista e reforça a idéia de
proximidade com o local. Além disso, segundo o Ministério do Turismo (2006), a
comunidade tem papel fundamental, principalmente, na revelação de aspectos ainda
não registrados ou que não constam da história oficial.
A preservação do lugar historicamente tratado encarrega-se de resguardar
parte da estrutura arquitetônica do espaço urbano. A configuração urbana é
responsável por exprimir a maneira de ser de uma ou de várias épocas, tendo por
base a organização da circulação e a ocupação do território. Reflete, com o passar
do tempo, características bastante específicas de determinado período. A partir de
tal colocação é notório salientar que essas rugosidades caracterizam o local de
maneira a fixar uma identidade à sua imagem.
O problema norteador da presente pesquisa baseou-se nas seguintes
questões: de que maneira a paisagem urbana do bairro de Santa Teresa se tornou
um diferencial naquela da cidade do Rio de Janeiro, possibilitando a transformação
desse bairro como atrativo turístico e, como essa paisagem é percebida por quem
visita o bairro nos dias de hoje?
Com base nessas indagações, a hipótese verificada constitui-se na suposição
de que a preservação de rugosidades reunidas de maneira representativa no bairro
de Santa Teresa tenha fomentado a criação de uma paisagem que se destaca em
relação ao restante da cidade, gerando a atratividade do mesmo.
A proposta buscou identificar o patrimônio que compõe a diferenciação da
paisagem urbana no bairro e analisar a percepção dos visitantes em relação à
mesma. Para este fim, tornou-se necessário identificar os principais atrativos
encontrados no restante da cidade do Rio de Janeiro, elementos formadores da
paisagem turística carioca.
Visou, em uma etapa seguinte, contextualizar o processo de urbanização no
bairro, de sua formação e de seu desenvolvimento, dialogando com o mesmo
processo em seu entorno. Pretendeu traçar a configuração da paisagem urbana de
Santa Teresa, inventariando o seu patrimônio arquitetônico e urbanístico preservado
até os dias de hoje. Para tanto, apresentou os resultados de uma pesquisa com
pessoas que costumam visitar ou que já tenham visitado o bairro, com a finalidade
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de identificar como as mesmas percebem Santa Teresa e sua paisagem urbana,
considerando aspectos positivos e negativos.
A metodologia utilizada constituiu-se de três etapas. A primeira foi realizada
por meio de pesquisa de gabinete, com o levantamento bibliográfico de referências
acerca do tema encontradas nos meios eletrônico e impresso, estes em artigos,
reportagens e livros, com o pretexto de estabelecer a sua fundamentação teórica,
com base nos objetivos traçados anteriormente. A segunda consistiu-se de natureza
exploratória, estruturada por uma pesquisa de campo realizada por meio de visitas
ao bairro a fim de verificar os dados obtidos na primeira fase teórica. Já a terceira
etapa foi constituída pela aplicação de um questionário com amostras de pessoas
que conhecem o bairro. O instrumento de pesquisa teve por base perguntas abertas
e fechadas, com a finalidade de avaliar a percepção da configuração paisagística de
Santa Teresa.
O capítulo a seguir constituiu-se do embasamento teórico acerca de
elementos pertinentes ao melhor entendimento do estudo em questão. Intitulado de
―Turismo urbano: rugosidades e atratividade‖ este capítulo apresentou conceitos
envolvendo o turismo e as marcas históricas que responsáveis por constituir a
história de uma sociedade configuram-se como seu próprio patrimônio, gerando
atratividade a visitantes. Abordando o surgimento das cidades buscou também
entender a relação das pessoas e o lugar que ocupam no território.
No terceiro capítulo ―Turismo na cidade do Rio de Janeiro‖ foram
apresentados os atrativos mais conhecidos da cidade carioca, tornando-se possível
a caracterização da paisagem urbana turística do Rio. Nele destacaram-se
momentos importantes na formação e evolução da cidade, responsáveis por
designarem suas características urbanísticas atuais. O recorte se deu nas áreas
mais freqüentadas, conhecidas, por visitantes. Houve um destaque também à
divisão do que é utilizado e conhecido pelo turismo, pois dificilmente uma localidade
é completamente aproveitada, explorada, pela atividade turística em se
considerando um bairro ou uma cidade, por exemplo.
O quarto capítulo, por sua vez, tratou de estudar o bairro de Santa Teresa,
sendo expostos, a princípio, sua caracterização e seu histórico, relevando aspectos
de sua formação bem como a explanação de dados sócio-econômicos e culturais da
área. A partir de duas ilustrações foi apresentada a delimitação da área de estudo,
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mais restrita á visitação dentro do bairro. Em seguida foram apresentados os bens
que geram atratividade à paisagem urbana de Santa Teresa e por fim detalhada a
apresentação da metodologia da pesquisa aplicada com a amostra, os resultados
obtidos e discussões acerca do que foi trabalhado. No fechamento do estudo foram
apresentadas as considerações acerca da proposta e o que se conseguiu com a
presente pesquisa, além de pretensões almejadas.
14
2 TURISMO URBANO: RUGOSIDADES E ATRATIVIDADE
Neste capítulo, o presente trabalho encarrega-se de estudar certos conceitos
considerados pertinentes para o melhor entendimento e embasamento do conteúdo
a ser visto em seqüência. Nele, serão abordadas questões estudadas por autores de
distintas áreas a fim de garantir informações a partir de outros pontos de vista, os
quais estão divididos em três eixos.
Primeiramente, no eixo ―cidade, globalização e turismo‖ são explanados
conceitos trabalhados por autores como Roberto Boullón, falando da questão do
surgimento das cidades, consequentes locais onde o turismo se desenvolve;
Eduardo Yázigi, abarcando temas relacionados à ambiência urbana; Helena Ferreira
tratando de globalização; Mario Beni, falando de Sistema de Turismo e seus
integrantes.
O segundo eixo trabalha, por sua vez, ―o turista e a paisagem‖, devido à
relação que os dois termos estabelecem, comum motivador ponto de convergência
da atividade turística. Nessa seção são utilizados autores como Aurélio Ferreira,
definido termos gerais; Figueiredo e Manhi discutindo os diferentes tipos de
paisagem; Milton Santos, introduzindo o termo rugosidade na paisagem,
estabelecendo a introdução para o eixo seguinte.
Ao final do capítulo aborda-se a questão da preservação patrimonial,
considerando a relevância da conservação de elementos históricos, materiais e
imateriais, que caracterizam o ambiente e o modo de vida de uma sociedade.
2.1. CIDADE, GLOBALIZAÇÃO E TURISMO
A definição de cidade não se faz tão restrita em relação a número de
população ou área que ocupa, podendo ser englobados diversos aspectos como o
sociológico, o geográfico, o histórico entre outros. Entretanto, é interessante
começar pela definição mais objetiva, encontrada em um dicionário da língua
portuguesa, que define a cidade como um ―complexo demográfico formado, social e
economicamente, por importante concentração populacional não agrícola e dada a
atividades de caráter mercantil, industrial, financeira e cultural‖ (FERREIRA, 2004,
p.112). A definição origina-se do termo em latim urbe, originando também termos
como urbano, que é relativo ou pertencente à cidade, ou urbanismo, definido como o
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estudo interdisciplinar da cidade, segundo o mesmo autor, abarcando o conjunto de
medidas técnicas, administrativas, econômicas e sociais necessárias ao
desenvolvimento racional e humano.
Para Boullón (2002), as cidades passam a surgir como forma de se adaptar
ao meio natural, formadas com distintas características entre si, em decorrência das
diferentes personalidades dos homens que as construíram, marcadas também pelas
situações a que eram submetidos, envolvendo os diferentes momentos de seu
contexto histórico em aspectos sociais e econômicos.
A cidade é um ambiente artificial inventado e construído pelo homem, cujo objetivo prático é viver em sociedade. Começou a existir quando o homem assim o quis, e no princípio foi um dos testemunhos mais reveladores dos níveis alcançados pela cultura a que pertenceram aqueles que iniciaram e continuaram sua construção. (BOULLÓN, 2002, p. 189)
O conceito correlato urbanismo, a priori, envolvia uma visão restritiva,
havendo certa limitação à questão de traçado viário e circulação nas cidades, como
se pensava no período da Grécia Antiga. Entretanto, Yázigi (2005, p.73) não se
restringe apenas a esses aspectos e destaca como sendo ―o produto espacial
urbano criado juntamente com o processo social‖, relevando a importância de seus
habitantes e sua história. A partir do período do Renascimento italiano (século XVI),
a cidade passa a ser percebida por preceitos organizacionais, acompanhada de uma
preocupação com a qualidade da paisagem por ela formada. Com a Revolução
industrial iniciada no século XVII, promoveu-se uma nova discussão à questão do
urbanismo: a cidade deveria se organizar de modo a atender aos quatro eixos
norteadores da nova sociedade, considerando aspectos de habitação, trabalho, lazer
e circulação. No ano de 1923 um tratado de urbanismo de autoria de Joyant, (apud
YÁZIGI, 2005) destaca preocupações pertinentes ao traçado e lógica de vias
públicas, técnicas de construção, concepção de esquinas, praças, jardins e parques,
usos próprios de cada bairro de cada cidade, lógica de organização e circulação dos
transportes, considerações sobre as superfícies urbanas, como por exemplo,
densidade, legislação urbana e planos de manejo (YÁZIGI, 2005). O autor acredita
que a cidade precisa existir a fim de viabilizar projetos de vida de seus habitantes do
melhor modo possível.
Acompanhando o desenvolvimento dessas cidades é percebida uma nova
organização territorial nos dias atuais. Tendo em vista os interesses dos habitantes e
16
seus projetos, barreiras espaciais foram e vem sendo ultrapassadas. Segundo
Grinover (2007, p 116) ―é difícil determinar uma única territorialidade, um único
espaço jurídico, econômico, tecnológico, por causa das múltiplas formas de
relações, de integrações de alianças que podem ser estabelecidas‖. Essa expansão
se dá por meio do processo da globalização que o mesmo autor afirma ser
relacionado a ―rupturas em relação às modalidades bastante recentes de
funcionamento do sistema internacional‖ (ibidem), sem rejeitar fenômenos passados.
Tal processo deu margem ao surgimento das cidades globais. ―O conceito de
cidade global reproduz a lógica de apropriação do espaço urbano pelo capital, o que
se revela por meio da análise do processo de segregação urbana na metrópole‖
(CARVALHO, 2000, p.71) e tem sua origem relacionada intrinsecamente aos
impactos causados sobre as metrópoles do Primeiro Mundo pelo processo de
globalização da economia, desencadeado a partir do final dos anos 70 do século XX.
O período em questão caracteriza-se quando os países europeus passavam
por um momento no qual a atividade industrial já não era centralizada nos mesmos.
Devido ao desenvolvimento da tecnologia da informação, advindo da globalização,
facilitando a comunicação entre longas distâncias, as empresas passam a dispor de
maior liberdade para escolher locais de menor custo para a instalação de suas
sedes. Em conseqüência, esses países passaram por um período caracterizado por
crises fiscais e aumento do desemprego. Entretanto, posteriormente, readquiriam
importância estratégica como locais destinados ao setor terciário, explorando a
prestação de serviços. Passaram a sediar importantes empresas de reconhecida
especialização, geralmente ligadas aos setores da informação e financeiro, de
origem primordialmente transnacional. Tratava-se, portanto, da resignificação
desses países no sistema produtivo internacional. Tal momento garantiu a essas
metrópoles, importantes centros comerciais, o reconhecimento como cidades
globais. (SASSEN, 1998; LEVY, 1997, MARQUES; TORRES, 1997 apud
CARVALHO, 2000).
Segundo dados da rede de pesquisa Globalization and World Cities (GaWC)
as cidades vistas como globais podem ser classificadas em três grupos principais,
fazendo parte deles as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, que apresentam
elevado desenvolvimento em relação a outras capitais brasileiras. O grupo de maior
influência é classificado como o grupo alpha (apresentando as subcategorias: alpha
++, da qual apenas fazem parte Londres e Nova Iorque; além de alpha +; alpha e;
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alpha –, estando a cidade de São Paulo presente nessa última subdivisão) seguido
pelo grupo beta (beta +, beta e beta - , estando a cidade Rio de Janeiro presente
neste último subgrupo) e em terceiro a categoria gamma (gamma +, gamma e
gamma -).( GaWC, 2008)
Segundo Carvalho (2000, p.72). ―seria, portanto, ‗global‘ a ‗cidade‘ que se
configurasse como ‗ponto nodal‘ entre a economia nacional e o mercado mundial‖,
como pode ser visto nos exemplos acima, representados por cidades influentes
mundialmente como Londres e Nova Iorque. Dentro dessa perspectiva
organizacional de ―cidade global‖ é colocada uma nova relação à intervenção
urbana, concretizada no planejamento estratégico. Um processo que pode
apresentar conflitos à medida que se insere entre duas lógicas divergentes de
apropriação do espaço urbano: a lógica da mercadoria, que enxerga o espaço como
meio de reprodução da mais-valia, e a lógica da sociedade urbana, compreendida
linearmente ao desenvolvimento do processo de humanização (CARVALHO, 2000).
Tendo por base esta última lógica segundo Hardt e Negri, citados por Ferreira
(2002, p.3), ―a comunicação não apenas expressa, mas também organiza o
movimento de globalização. Organiza o movimento multiplicando interconexões por
intermédio de redes‖. Facilidades de comunicação, proporcionadas por avanços na
tecnologia da informação, além de investimentos percebidos no setor de transportes,
passaram a tornar o distanciamento físico algo menos perceptível. Novos espaços
passam a surgir como os virtuais. Neles pessoas de diferentes nacionalidades
conseguem se comunicar de maneira rápida e prática em forma de escrita, fala ou
mesmo imagem. Há quem diga que as pessoas tornaram-se mais distantes
fisicamente, restringindo certas relações que antes percebidas em encontros
pessoais, reuniões para conversas e tomada de decisões, a encontros virtuais, por
meio do uso do telefone e da internet, principalmente.
Em contrapartida, a partir de um contexto de globalização é importante
destacar o turismo como um fenômeno que interliga espaços e pessoas no mundo
inteiro envolvendo aspectos tanto econômico, como percebido nos primeiros estudos
acerca do tema, quanto sociais, geográficos, antropológicos e psicológicos. Octavio
Ianni (apud Ferreira, 2002) fala da nova divisão do trabalho, que envolve a
redistribuição de empresas e organizações pelo mundo. Afirma ainda que o fluxo
referente ao tráfego de pessoas altera-se em conseqüência, dando margem ao
investimento de empresas no ramo turístico, ratificando a idéia de que atividades
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relacionadas ao turismo são capazes de promover a aproximação e a circulação
maior de pessoas pelo espaço físico, seja ele rural ou urbano
O desejo de superar o lugar, se especializar, mundializar, expressa-se particularmente no desenvolvimento do gigantesco movimento turístico internacional. Procura-se a diversidade de cada lugar, seu caráter de único (...) as últimas análises apontam o turismo como o setor mais globalizado, perdendo apenas para o setor de serviços financeiros.‖ (GRINOVER, 2007, p119)
A Organização Mundial do Turismo (OMT) aponta o turismo como a segunda
maior atividade econômica do mundo em geração de divisas e empregos, estando à
sua frente apenas a indústria do petróleo e derivados. No ano de 2009 o número de
chegadas de turistas no mundo inteiro chegou a 880 milhões de pessoas, a
atividade também foi responsável por gerar uma receita cambial de US$ 852 bilhões.
(OMT, 2009 apud BURSZTYN, BARTHOLO; DELAMARA, 2009). No ano anterior,
no Brasil, a chegada de turistas ultrapassou a quantidade de cinco milhões de
visitantes (EMBRATUR, 2009). Em relação especificamente ao caso brasileiro,
Bursztyn, Bartholo e Delamara (2009, p.76) afirmam que ―o poder público aposta no
turismo, desde a última década, como um fator de equilíbrio das contas externas e
de promoção do desenvolvimento regional, com criação de postos de trabalho e
fortalecimento da infraestrutura‖, mas contestam a eficácia desse desenvolvimento.
Hall (2004) defende a importância do turismo não apenas pela quantidade de
pessoas que viajam, pelo número de empregados ou pela quantidade de dinheiro
que leva a certo destino, mas refere-se ―ao enorme impacto que exerce na vida das
pessoas e nos locais em que elas vivem, e devido à forma pela qual ele é
significativamente influenciado pelo mundo que o rodeia‖ (HALL, 2004, p. 17). A
atividade turística baseia-se na apropriação do território, conferindo ordem material
ou simbólica à utilização do espaço determinado, que serve como cenário para
todas as relações estabelecidas pelas práticas turísticas. Os principais sujeitos
envolvidos nessas relações são representados pelo próprio turista, os agentes de
mercado, o poder público e a comunidade anfitriã. Portanto, é fundamental que haja
um diálogo entre os mesmos a fim de proporcionar o máximo de benefícios
possíveis aos envolvidos sem prejudicar o outro em conseqüência.
O fenômeno turístico apresenta, de fato, uma complexidade de inter-relações
e diversidade de abrangência. Beni (2006) propõe um modelo para permitir a análise
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e a apreensão da organização do Sistema de Turismo (Sistur), que adota um
modelo referencial baseado em cinco etapas norteadoras. A primeira encarrega-se
de estudar o espaço turístico, compreendendo o levantamento de informações
como: delimitação e descrição física da área receptora; recursos naturais e culturais
e análise do diferencial turístico; equipamentos receptivos de alojamento, bem como
de alimentação e recreação; infraestrutura de apoio à atividade turístico recreativa.
A segunda etapa é encarregada de traçar o perfil socioeconômico da área
receptora por meio de informações como: ocupação do território e densidade
demográfica, indicadores macroeconômicos (renda, investimentos de capital,
consumo, importação e exportação); composição étnica da população e organização
social; e indicadores dos setores de atividade econômica, com ênfase no setor
terciário. Já a terceira visa ao estudo da organização geopolítica e administrativa da
área receptora obtendo informações pertinentes à organização institucional e legal,
ao grau de intervenção do Estado bem como políticas básicas. Por conseguinte está
a previsão e o estudo do comportamento do mercado do turismo na área receptora
compreendendo o levantamento de oferta e demanda. Por fim a etapa de
diagnóstico, que nada mais é do que a análise do potencial de influência no
processo de desenvolvimento econômico, segundo o mesmo autor.
2.2 O TURISTA E A PAISAGEM
A paisagem é sem dúvida um forte elemento responsável pela propulsão da
atividade turística. Geralmente o olhar desses turistas é estimulado por aspectos
estritamente estéticos, privilegiando as características relacionadas ao belo,
aproximado de uma representação pictórica, uma fotografia ou mesmo uma
gravação em vídeo. Podemos perceber estas representações em folhetos, cartazes
e diferentes meios de divulgação de destinos turísticos.
Bolson (2004), por sua vez, afirma ser a partir do período Renascentista que
a paisagem começa a ser mais admirada. Antes, a natureza, principal objeto da
paisagem, representaria algo sombrio e misterioso, que instigasse certa inquietude
nas pessoas. A partir daquele momento, passam a ser dignos de usufruí-la, aqueles
pertencentes a classes mais abastadas, pois dispunham de maior tempo livre para
dedicar-se à cultura e ao lazer. A mesma autora afirma ser após o marco da
Revolução Industrial que a paisagem urbana ganha maior destaque entre os
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apreciadores devido à consolidação da expansão das cidades no período. Grandes
obras urbanísticas serviram de inspiração a representações gráficas como largas
avenidas, teatros, construções de bairros e sua arquitetura peculiar na época, bem
como os automóveis, surgidos posteriormente, também bastante relevantes à
criação de marcos característicos de uma dada paisagem.
Atualmente a qualidade turística de uma paisagem é analisada através dos
olhares múltiplos, que não se excluem, pois a subjetividade presente em cada
visitante irá influenciar a percepção pessoal e na sua interpretação daquela
paisagem. Essa não pode ser apenas vista como uma ―decoração no ambiente‖,
mas torna-se uma riqueza patrimonial, que contribui à atratividade dos territórios,
nos quais ela representa um elemento fundamental na formação de sua identidade.
Desta maneira faz-se necessária a sua conservação e proteção, tanto por parte
daqueles que detém a paisagem em seu território como pelos visitantes deste.
A definição de visitantes sugerida pela Conferência sobre Viagens
Internacionais e Turismo, para fins estatísticos, patrocinada pela ONU no ano de
1963 continua vigente e tem base na idéia de ser aquela pessoa que visita um
destino que não seja seu local de residência, tendo motivações e atividades variadas
sem exercer ocupação remunerada. Desdobrando-se posteriormente em dois outros
termos: turista e excursionista, sendo o primeiro referente a viajantes que passam
pelo menos 24 horas e pernoitam no lugar de destino por determinadas motivações,
enquanto o segundo abrange aqueles que não ultrapassam sua permanência ao
período da mesma quantidade de horas (BENI, 2006). É importante destacar que em
suas viagens os visitantes geralmente buscam conhecer e ter uma noção mais
abrangente do lugar que visitam. São eles os sujeitos que observam, percebem e
interagem com o local de destino.
A partir de uma análise epistemológica o termo vindo do latim percipere,
refere-se a algo que pode ser capturado, apreendido pelos sentidos. O ―perceber‖
(FERREIRA, 2004) se vale de exploração dos elementos materiais e imateriais para
um melhor conhecimento do lugar visitado, ficando aqueles retidos na memória,
podendo ser recuperados sempre que associadas ao destino. Torna-se interessante,
portanto, destacar o conceito de percepção visual definido por Aumont (1994) de
que o espectador não apenas ―olha‖, uma vez que a sua visão efetiva dependerá de
um contexto múltiplo, abarcando questões sociais, institucionais, técnicas e
21
ideológicas. Ao descrever o sujeito que percebe a imagem, Aumont apresenta o
mesmo mais ativo nos tempos de hoje:
Esse sujeito não é de definição simples e muitas determinações diferentes, até contraditórias, intervêm em sua relação com a imagem: além da capacidade perceptiva, entram em jogo o saber, os afetos, as crenças, que, por sua vez, são muito modelados pela vinculação a uma região da história (a uma classe social, a uma época, a uma cultura). Entretanto, apesar das enormes diferenças que são manifestadas na relação com uma imagem particular, existem constantes, consideravelmente trans-históricas e até interculturais, da relação do homem com a imagem em geral. (1994, p.77)
Há de se ter cuidado, entretanto, quanto à abordagem do termo ―imagem‖ ao
ser relacionado com o termo ―paisagem‖ dentro de um contexto turístico,
apresentando diferenças entre si. O primeiro pode nos remeter tanto a algo estático
como dinâmico sendo, por vezes, palpável, em forma de representações de signos
apresentados em diversos meios e materiais, como as populares fotografias,
representações cinematográficas ou televisionadas, pinturas e objetos como
―souvenires‖. Como exemplo disso podem ser citadas pequenas réplicas de
monumentos históricos caracterizados como ícones de um destino, guardados como
recordação quando visitado determinado lugar. Esta recordação pode vir também
não materializada, mas em forma de pensamento, seriam as representações
mentais, (FERREIRA, 2004) de lugares específicos, identificadas não somente por
elementos da paisagem, mas por símbolos desses destinos bem como as
lembranças de momentos vividos em uma viagem ou pode significar ainda um
produto da imaginação, como uma criação do que se espera ver em determinado
lugar quando o mesmo ainda não foi visitado.
Em relação à paisagem, diversos autores destacam sua característica de
apresentar, explicitar, distintos momentos da história em si mesma. Gerardin e
Ducruc, segundo Figueiredo e Manhi (2006), discutem quatro conceitos básicos
pertinentes à paisagem, existindo a paisagem visível, a perceptível, a fundamental e
a integral. A definição de paisagem visível parte do pressuposto que sem observador
não há paisagem, havendo, em consequência, tantas paisagens quanto pontos de
vista. Esses observadores possuem características fisiológicas próprias,
considerando aspectos culturais também responsáveis por uma percepção
diferenciada. A paisagem perceptível refere-se ao que está presente na superfície
da terra. Engloba elementos construídos ou naturais, como prédios e árvores,
22
respectivamente. A paisagem fundamental seria aquela constituída apenas por
elementos físicos do meio-suporte e da biosfera, encarregados de definir
conseqüentemente as formas, as linhas, planos e massas à paisagem perceptível.
Por fim, a paisagem integral seria constituída pelas interações e as trocas que
ocorrem entre o meio físico, o meio suporte (paisagem fundamental) e os elementos
biológicos existentes, formando os sistemas ecológicos presentes em todo o
território. (GERARDIN e DUCRUC apud FIGUEIREDO e MANHI, 2006)
No turismo, os mesmos autores percebem as duas primeiras definições como
as mais utilizadas - as de paisagem visível e a perceptível - partindo do pressuposto
de que ao mesmo tempo é possível se preocupar tanto com a estrutura da
paisagem, suas linhas e formas, além da maneira como ela é percebida pelo homem
página, sendo o turista, nesse caso, o principal qualificador, relevando aspectos
como ―belo‖ e ―feio‖ além daquilo que lhes parece interessante, exótico e diferente.
Milton Santos, segundo Yázigi (2001), afirma que a paisagem tem seu traço
comum formado pela combinação de objetos naturais e objetos fabricados, sendo
esses últimos também conhecidos como objetos sociais. Enxerga respectivamente
os objetos naturais por elementos que não são obra do homem ou foram tocados
por ele, já os objetos fabricados representariam testemunhas do trabalho humano no
passado e no presente ou o resultado da acumulação da atividade de diversas
gerações. Milton Santos (1980) ressalta ainda na paisagem a presença de
rugosidades:
As rugosidades nos oferecem, mesmo sem tradução imediata, restos de uma divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações particulares do capital, das técnicas e do trabalho utilizados [...]. O espaço, portanto, é um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem criada. Assim o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se desfaz paralelamente à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se adaptam às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para se inserir dentro delas. (SANTOS, 1980, p138)
Essas rugosidades podem ser percebidas por meio da interpretação desse
ambiente urbano. Entretanto, há uma predisposição para acreditar que o turista
simplesmente irá chegar num lugar e maravilhar-se de maneira autônoma e
automática com as belezas naturais, as edificações e monumentos históricos bem
como com as diversas manifestações artísticas e culturais (ALBANO ; MURTA,
23
2002). Tal postura provoca certa carência no fornecimento de informação acerca do
lugar e da população autóctone, de seus costumes e sua história. A interpretação
deve visar a revelar a identidade do lugar auxiliando o visitante a captar a essência,
a alma do mesmo. Segundo Yázigi todo lugar tem sua alma. Essa alma seria
constituída por componentes tanto físicos como por aqueles que não aparecem
nesse meio e, o autor, utiliza o exemplo do contraste entre uma catedral e um prédio
da Bolsa de Valores. Ambas podem apresentar mesmas referências arquitetônicas,
de estilo neoclássico, contudo despertam sentimentos diferentes naqueles que os
percebem. Afirma ainda ser a paixão pelo lugar a sua alma, de geração em geração.
(YÁZIGI, 2001)
Complementando a idéia de Yázigi, Albano e Murta (2002) afirmam que o
papel da interpretação não se restringe à transmissão da informação, tendo como
objetivo o convencimento do valor de seu patrimônio às pessoas, capaz de
promover apreço por esses bens na população, fomentando as idéias de pertença e
orgulho. Para tal, uma boa interpretação deve fazer com que a paisagem seja
aproveitada de maneira sinestésica, sem interferências negativas evitáveis como
mau cheiro, poluição visual provocada por pichações ou excesso de propagandas,
falta de manutenção pública, sujeira nas ruas e outras demonstrações de desleixo e
degradação causados pela falta de reconhecimento do próprio patrimônio.
Quem degrada não reconhece como seu aquilo que deteriora, não se
preocupa em preservar ou defender seu resguardo. Mas, quem o admira, percebe
não apenas por meio da visão, também pelos outros sentidos como audição, olfato,
paladar e tato. Isso se justifica pela relação de subjetividade existente na percepção
da paisagem, que será influenciada como uma experiência completa, não apenas
tão restrita ao olhar, como se poderia supor, mas por fatores além dos visuais
percebidos na experiência da visita
2.3 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
Ao abordarmos o termo patrimônio o que vem à mente está associado a uma
idéia de legado, de herança. Ballart (1997) afirma que refletir acerca do patrimônio
cultural de uma cidade significa pensar a própria sociedade, problematizando sua
existência e sua maneira de participação na vida. Quando se fala em patrimônio é
importante destacar que o mesmo não se restringe apenas a bens culturais
24
históricos e arquitetônicos, mas abrange um conceito mais amplo envolvendo o
próprio ambiente cultural. À medida que o ambiente se torna uma produção dos
seres que nele habitam pode ser percebido como um ambiente cultural digno de ser
preservado.
Araujo e Castriota (2009) afirmam que atualmente existe a consciência de que
a conservação patrimonial não se restringe apenas ao nível técnico, pautada em
valores predominantemente científicos, mas representa uma atividade social e
política que vislumbra valores culturais fortemente contextuais. Para os autores:
[...] a elucidação da atividade da conservação como prática social aponta a necessidade de compreender de que forma os objetos, coleções ou edificações e lugares são reconhecidos como patrimônio. A compreensão desta atividade como uma prática social permite dizer, em última instância, que a finalidade da conservação não será mais a manutenção dos bens materiais por si mesmos, mas a manutenção dos valores neles representados. (p.38)
Originalmente o termo patrimônio era associado a uma herança familiar,
relacionado diretamente aos bens materiais (FUNARI; PINSKY, 2005). Contudo,
passou a ser modificado com a disseminação de um ideal nacionalista a partir da
Revolução Francesa no final do século XVIII. Tal período foi de grande importância
para a construção de instituições como museus, bibliotecas e arquivos nacionais, a
fim de salvaguardar o então patrimônio reconhecido como legado para a população.
Antes, esses objetos que habitavam palácios e construções privadas eram vistos
como de pertença apenas eclesiástica e nobre. Entretanto, esses testemunhos
históricos, segundo Lasmar (2007), passam a ser vistos como alvo de preservação e
valorização enquanto vestígios responsáveis por permear no tempo elementos
simbólicos constituintes da nação.
No Brasil, um caráter nacional marcado por certo ufanismo passa a ser
evidente a partir do início do século XX, quando é percebida preocupação com a
garantia de referências históricas de identificação com a nação e a cultura brasileira.
Uma causa apontada pelos manifestantes desse quadro devia-se à intensa
urbanização das cidades, como ocorreu no governo de Pereira Passos, no Rio de
Janeiro, aonde foram demolidas importantes referências históricas, ligadas à
arquitetura e à arte, com a finalidade de garantir à cidade um ―ar moderno‖,
baseando-se nas tendências européias da época. (LASMAR, 2007)
25
O movimento modernista, articulado por importantes nomes na sociedade,
que deram origem ao surgimento dessas manifestações nacionalistas de brasilidade,
abrangia diferentes áreas de expressão artística como a literatura e a música. Tal
fato foi fundamental para a expressividade do movimento, conseguindo promover a
disseminação com facilidade de suas idéias e sentimentos (LASMAR, 2007). Criou-
se, portanto, um cenário favorável para mudanças de pensamento e uma maior
atenção à implantação de medidas preservacionistas do patrimônio nacional.
No final da década de 30 legitimou-se a criação do organismo federal de
proteção do patrimônio, quando foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN), representado por artistas brasileiros ligados ao
movimento modernista, concretizando uma necessidade latente de preservar os
monumentos históricos.
A criação da Instituição obedece a um princípio normativo, atualmente contemplado pelo artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil, que define patrimônio cultural a partir de suas formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (IPHAN, 2010, s.p.)
A atual Constituição Nacional garante que é responsabilidade do poder
público, apoiado pela comunidade, preservar, proteger e gerir o patrimônio histórico
e artístico do país. O tombamento, portanto, torna-se uma medida de grande
importância, constituindo-se de um ato administrativo que abrange os diferentes
níveis da esfera pública: municipal, estadual e federal, sendo esse último referente
ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). No estado do
Rio de Janeiro a organização correspondente vem a ser o Instituto Estadual do
Patrimônio Cultural (INEPAC). O processo de tombamento pode ser inicializado a
partir de iniciativa vinda de cidadãos comuns ou instituições públicas, objetivando a
preservação de bens móveis e imóveis de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e mesmo de valor afetivo à população, impedindo a descaracterização
original ou a destruição desses bens que remetem à memória coletiva. (IPHAN,
2010)
O processo em questão se dá a partir de uma avaliação técnica preliminar do
bem e caso haja o interesse por parte da unidade técnica de tombá-lo é expedida
26
uma notificação ao proprietário, significando que já se encontra sob proteção legal.
Com a efetiva instituição do processo e aprovação do tombamento pelo Conselho
consultivo do Patrimônio Cultural será enfim homologada a publicação no Diário
Oficial. Finalizando o processo o bem será inscrito no Livro de Tombo e os
proprietários receberão a comunicação oficial do tombamento de seu patrimônio em
questão. (IPHAN, 2010)
Os Livros de Tombo apresentam diferentes classificações nos quais são
registrados os distintos tipos de bens a serem preservados e reconhecidos como
patrimônio cultural. Segundo Funari e Pinsky (2005), esses livros são classificados
como: arqueológico; etnológico e paisagístico; histórico; das belas artes; e das artes
aplicadas. É interessante destacar que o conceito de patrimônio cultural, abordado
pelo IPHAN, não se restringe apenas a imóveis oficiais isolados, igrejas ou palácios,
abrangendo imóveis particulares, trechos urbanos e mesmo a ambientes naturais de
relevância paisagística, envolvendo também imagens, mobiliário, utensílios e outros
bens móveis. Esses se encontram divididos entre as classes de: Patrimônio Cultural
Imaterial e Patrimônio Cultural Material. Segundo a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura. (UNESCO), o primeiro citado refere-se a:
Práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. (UNESCO, 2003, p 4)
Já a classificação de Patrimônio Cultural Material segundo o IPHAN seria
composta por um conjunto de bens culturais classificados conforme sua essência.
Estão subdivididos em bens imóveis - núcleos urbanos, sítios arqueológicos e
paisagísticos além de bens individuais - e móveis - coleções arqueológicas, acervos
museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos
e cinematográficos.
Certas localidades são reconhecidas como possuidoras de um patrimônio
ambiental urbano, quando este possui elementos com qualidades a serem
preservadas. Para o turismo, resquícios de história expressos fisicamente, palpáveis,
27
no ambiente visitado geram um fascínio naqueles que cruzam essa paisagem e
instigam distintos valores que perpassam a subjetividade. Segundo Yázigi (2005)
esses patrimônios são dotados dos seguintes valores:
Valor Pragmático: deve ter sua manutenção e a garantia de sua existência
zelada pelo poder público ou privado.
Valor Cognitivo: que se presta ao conhecimento – histórico ou
tecnológico, por exemplo.
Valor Formal ou Estético: deve corresponder à melhor maneira de
potencializar sua função, como no caso de uma catedral, que não deve
aparentar um bordel.
Valor Afetivo: produto dos anteriores e cria sentimento de pertença, de
orgulho vontade de zelar por ele.
Esse último ponto bastante relevante ao turismo. Por conseguinte o
patrimônio cultural para a atividade turística representa um grande chamariz a
visitantes interessados na história e na cultura dos lugares, visando conhecer mais a
fundo um pouco da comunidade e do lugar que estão a visitar. ―Feito de fantasias e
parecendo sempre melhor que o presente ele aflora idealizado, por que construído
por nós que já não somos o que éramos e, movidos pela nostalgia, queremos que
ele nos traga sensações já vividas‖ (FUNARI e PINSKY, 2005, p.18).
Há de se tomar cuidado apenas com a percepção dos ―cenários‖ que abrigam
patrimônios representativos e marcantes em uma dada paisagem, pois são capazes
de confundir e construir um ambiente artificializado, como se fosse feito
propriamente para receber turistas, esquecendo a existência de uma população que
construiu aquelas características. Para tal é necessário que a interpretação devida
seja realizada, representando fidedignamente o contexto tanto antigo, responsável
pela formação, bem como o contexto atual, do dia a dia dos moradores e
freqüentadores da localidade.
Há quem diga, por sua vez, que a cidade do Rio de Janeiro ―apresenta
diferentes cenários‖. O que é garantido pela diversidade de atrativos existentes de
diferentes ordens, materiais e imateriais. Dentre podem ser encontradas praias,
floresta, eventos, museus, entre outros. No capítulo a seguir serão destacados
alguns dos principais atrativos da cidade que a tornam tão plural.
28
3 TURISMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
A cidade do Rio de Janeiro está situada a 22º54'23" de latitude sul e
43º10'21" de longitude oeste, é a capital do Estado de mesmo nome, com uma
população de 6.323.037 pessoas (IBGE, 2010) distribuída pelo seu território.
Pertence à Região Sudeste do Brasil, junto ao Espírito Santo, Minas Gerais e São
Paulo. Ao norte, limita-se com diversos municípios da baixada fluminense. Ao sul a
cidade é banhada pelo oceano Atlântico, pela Baía de Guanabara a leste e, pela
Baía de Sepetiba a oeste.
Sua faixa litorânea é bastante extensa e, devido a tal motivo, se deram os
primeiros passos para o usufruto turístico da cidade, bastante responsável pela
imagem de ―turismo de sol e praia‖ característico da sua oferta paisagística, que hoje
vem se tornando mais abrangente, mais conhecida, envolvendo também outras
práticas e atrativos turísticos, além das praias.
Responsável pelo incentivo da prática turística na cidade também pode ser
apontado seu clima tropical quente e úmido, com variações locais devido às
diferenças de altitude, vegetação e proximidade do oceano, apresentando
temperatura média anual de 22º centígrados, com médias diárias elevadas no verão
(de 30º a 32º) (RIOTUR, 2011). Esta característica garante ao longo do ano um
ambiente de temperatura equilibrada, que se torna um ponto positivo para a procura
de passeios por turistas.
A área do município do Rio de Janeiro corresponde a 1.255,3 Km², incluindo
as ilhas e águas continentais. Mede de leste a oeste 70km e de norte a sul 44km.
Está dividido em 32 Regiões Administrativas, compostas por 159 bairros. Ao seu
redor, a região metropolitana do Rio de Janeiro é composta por outros 17 municípios
- Duque de Caxias, Itaguaí, Mangaratiba, Nilópolis, Nova Iguaçu, São Gonçalo,
Itaboraí, Magé, Maricá, Niterói, Paracambi, Petrópolis, São João de Meriti, Japeri,
Queimados, Belford Roxo, Guapimirim - que constituem o chamado Grande Rio,
com uma área de 5.384 km² (RIOTUR, 2011). A população destes outros municípios
também representa uma parcela de visitantes eventuais e mesmo de trabalhadores
que se deslocam diariamente pela cidade.
29
3.1 RIO DE JANEIRO E SEUS PRINCIPAIS ATRATIVOS
Faz-se necessário para analisar a diferenciação da paisagem do bairro de
Santa Teresa, a ser trabalhado mais a frente, considerado um bairro turístico, a
relação entre os atrativos urbanos encontrados em outros bairros na cidade. A partir
de um dos principais meios de divulgação dos atrativos da cidade, para caracterizar
a oferta turística carioca, o presente trabalho vai adotar os principais atrativos da
cidade estabelecidos pela RIOTUR.
A Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A é o órgão
executivo da Secretaria Especial de Turismo, mais conhecida como RIOTUR. Tem
por objetivo geral a execução da política de turismo do Município do Rio de Janeiro,
formulada pela respectiva Secretaria, visando à captação de fluxos turísticos, dos
mercados nacional e internacional. Para alcançar esse objetivo a RIOTUR executa
um plano de ação, que inclui ações de marketing que visam promover,
institucionalmente, o destino turístico Rio, no Brasil e no exterior. Esse órgão de
turismo usa de parcerias com iniciativa privada em parcerias de projetos e atividades
relacionadas ao turismo do Rio objetivando o fortalecimento do Setor (RIOTUR,
2011).
Conforme as informações divulgadas pelo órgão supracitado a cidade do Rio
de Janeiro apresenta cinqüenta e sete atrativos de maior destaque, já consolidados
nos cenários turísticos nacional e internacional. A natureza recebe uma atenção
relevante, estando presente em diversas áreas da cidade, podendo ser desfrutada
diretamente em forma de: passeios e prática de atividades relacionadas ao
ecoturismo na Floresta da Tijuca; cachoeiras; no Jardim Botânico; em seus parques
com jardins como o Parque Guinle ou no Sítio Roberto Burle Marx; Lagoa Rodrigo
de Freitas; ou nas praias e sua extensa orla. Essa, por sua vez, garante a indicação
pelo órgão de nove principais praias: de Ipanema, Copacabana, da Barra da Tijuca,
Arpoador, Praia do Pepino, do Diabo, do Pepê, da Joatinga e de Guaratiba, além de
outras encontradas na zona oeste, em sua maioria, como Prainha e Grumari,mais
reservadas, não tão freqüentadas por turistas.
Em se tratando de atrativos urbanos, Pão de Açúcar e Cristo Redentor são
atrativos tradicionais e de reconhecimento internacional, também apresentando
integração com a paisagem natural, dificilmente dissociada do restante da cidade. O
segundo se sobressai inclusive por sua importância religiosa, enquanto ícone
30
material do catolicismo, ponto de convergência para peregrinos. Acerca do viés
religioso há de se destacar inclusive os diversos templos que se tornaram atrativos
no Rio de Janeiro, a exemplo da Igreja da Candelária, Igreja da Penha, a Catedral
Metropolitana e o Mosteiro de São Bento. Em sua maioria católica, devido à
influência na formação da cidade e de sua população, esses atraem não apenas
peregrinos, mas curiosos pelo patrimônio material cultural que representam.
Vestígios arquitetônicos de distintas épocas e estilos são responsáveis por incitar a
aproximação de visitantes.
Quanto a vestígios urbanos pertencentes à cidade é interessante destacar a
visão de Law (1992), que define como principais atrativos de turismo urbano
elementos como museus, galerias de arte, casas de espetáculo, esportes
espectáveis, entretenimento, prédios históricos, paisagem urbana além de datas e
eventos especiais. Já os elementos secundários intensificam esses atrativos ou dão
assistência no processo de atração e apoio ao visitante como os setores de
alimentos e bebidas, acomodação, agenciamento e transportes. O mesmo autor
afirma ainda que a maioria dos recursos encontra-se próxima aos centros, que
tradicionalmente dispõem de boa acessibilidade, o que para um visitante torna-se
essencial, haja vista a maior facilidade de conhecer o destino em seu deslocamento
nesse meio distinto de seu habitual. A concentração de elementos que propulsionam
o turismo, segundo o mesmo, promove inclusive a sua diferenciação em relação a
outros lugares, sendo as peculiaridades, portanto, que acabam por distingui-los,
atendendo aos diferentes apelos e demandas pessoais dos visitantes.
Outros principais atrativos também considerados indicados à visitação,
segundo a RIOTUR (2011), são grandes construções como o prédio onde funciona o
Copacabana Palace e o Palácio do Catete, localizados na zona sul. Todavia, é
percebida no centro da cidade a existência de uma grande concentração de prédios
de relevância histórica e de elementos que compõem uma paisagem urbana rica,
preservada até os dias atuais. Esta se encontra ao mesmo tempo integrada a um
ambiente de negócios devido à concentração de inúmeros escritórios e conseqüente
movimentação diária, seja pelos funcionários em horário de almoço, os
comerciantes, formais ou informais, os transportes, ou por pessoas passeando pelas
ruas da cidade; ambiente típico de cidades grandes.
O Palácio Gustavo Capanema localizado no centro da cidade, por exemplo, é
um dos primeiros exemplares da arquitetura moderna no Brasil. Na Cinelândia é
31
possível encontrar rugosidades como o Theatro Municipal, onde são exibidas peças
teatrais e apresentações de dança, principalmente, até os dias de hoje. Contudo
grande parte desses prédios atualmente apresenta funções diferentes das que
possuíam na época em que foram construídos. É evidenciada, dentre esses, a
presença daqueles que atualmente exercem função de centros culturais, localizados
em antigas construções de destaque arquitetônico como o Centro Cultural Banco do
Brasil (CCBB), datado de 1880, que reúne dois teatros, auditório, salas de vídeo e
cinema, quatro salas para mostras e biblioteca. A exemplo de outros centros
culturais alocados em prédios históricos está também o Centro Cultural Light.
Possuidor de um rico acervo histórico ao ar livre coloca-se em destaque para
o órgão executivo da Secretaria Especial de Turismo do Rio de Janeiro o bairro
Santa Teresa, principal objeto de estudo. Localizado próximo à região central da
cidade possui diferentes vias de acesso direto ao bairro. Sua configuração urbana e
seu dito ―ar bucólico‖ são responsáveis por gerar apreço nos visitantes devido à sua
diferenciação em relação a outras localidades, a ser analisada no capítulo seguinte
mais a fundo, com inúmeros exemplares de construções seculares preservadas
constituindo essa configuração. Ruas estreitas, de terreno acidentado, ladeiras
sinuosas presentes em todo o bairro fora o seu mais conhecido atrativo: o bonde de
Santa Teresa, que tem sua estação no Largo da Carioca, centro da cidade.
Em sua maioria, os atrativos destacados pela RIOTUR (2011) localizam-se na
área central da cidade e na zona sul, compreendendo uma estrutura urbana melhor
assistida em se comparando com as áreas da zona norte ou da zona oeste. Não que
a existência de atrativos efetivos ou potenciais seja pouco relevante nessas partes
da cidade; muitas vezes não são de fácil acesso; ou apresentam baixa oferta de
suporte ao turista; sendo mais distantes em relação a outros atrativos ou do lugar
onde se hospeda; mazelas sociais como a violência que impedem ou dificultam a
visita a determinadas áreas. Estes são alguns aspectos que podem influenciar
negativamente a presença de visitantes em determinadas áreas da cidade.
Como exemplo de atrativos importantes nesses trechos não tão aproveitados
pela atividade turística está, na Zona Norte, a Quinta da Boa Vista, por exemplo,
residência dos imperadores do Brasil no século XIX. Outro exemplo é o Estádio
Jornalista Mário Filho, conhecido popularmente como Maracanã, ícone de esporte
caracteristicamente praticado pelos brasileiros, o futebol, e palco de shows para um
32
público de grande número, nacionais ou internacionais como Frank Sinatra e Paul
Mc Carthney.
A partir de tais explanações é possível destacar que o espaço receptivo no
turismo, pode ao mesmo tempo seduzir e instigar o visitante a permanecer no lugar
transitoriamente ou repulsá-lo, variando de acordo com a experiência vivida no
ambiente, atendendo ou não às demandas pessoais. Não necessariamente um
bairro inteiro poderá ser aproveitado pela atividade turística, nem mesmo no caso do
bairro de Santa Teresa. A delimitação de áreas patrimoniais geralmente torna-se
restrita por fatores que afetam a sociedade, como a falta de infraestrutura e a
violência urbana, que comprometem o seu conhecimento e usufruto de maneira a
potencializar a preservação dessas áreas. A visitação é prejudicada, não tendo o
turista um aproveitamento maior do que poderia em relação ao espaço existente e à
oferta da qual dispõe a localidade.
O planejamento urbano deveria se ocupar da história do município ou da
região por meio de traços presentes e perceptíveis no ambiente diário, como essas
rugosidades e marcas arquitetônicas e urbanísticas em vez de buscar elementos
antigos e restringi-los a museus, por exemplo, com circulação limitada, muitas vezes
àqueles visitantes de passagem pelo destino, pouco pelos próprios moradores,
fundamentais para garantir a identidade espacial do ambiente visitado.
Seguindo esse pensamento de identificar as vocações reais das localidades é
interessante destacar que os gestores da cidade do Rio de Janeiro passaram a
percebê-la de outra forma. O Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro As
cidades da Cidade enfoca identidades, vocações e potencialidades das regiões da
cidade do Rio de Janeiro, valorizando sua diversidade, diferentemente do plano
estratégico anterior a este referente ao ano de 2004. Intitulado ―Rio Sempre Rio‖,
buscou compreender a cidade situando-a diante de fenômenos em movimento
ascendente como a globalização e do surgimento de termos como cidades globais.
Houve uma negação ao recorte da cidade, negligenciando suas diferenças internas,
e volta-se a destinações práticas, pois era dada grande importância à competição
entre as cidades.
A partir de estudos acadêmicos na década de 1990, contudo, passou-se a
pensar nas peculiaridades regionais, direcionando destaque ao desenvolvimento
endógeno, baseado no fortalecimento interno visando à criação de condições sociais
e econômicas para a geração e atração de novas atividades produtivas. Foi então
33
focada a divisão por regiões da cidade no plano estratégico ―As cidades da Cidade‖,
reconhecendo a heterogeneidade expressa em 12 regiões com características
histórico-geográficas únicas, habitadas por populações com maneira de pensar e
agir distintas, bem como em relação à diferenciação quanto à natureza e à
topografia de cada uma.
Dentre estas 12 áreas selecionadas há aquelas que assim o são devido a
características pertinentes à preservação da natureza e sua utilização para o
ecoturismo; potencial industrial; pólo formador de atletas; foco no setor de serviços e
comércio; pólo prestador de serviços; centro de comércio varejista; centro de
eventos nacionais e internacionais; base de chegada de turistas, como a Ilha do
Governador, e Zona Sul sendo ―vitrine nacional e internacional do turismo; da cultura
e do lazer, reforçando a maneira de ser do carioca‖ (Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, 2004, p.195). O bairro de Santa Teresa, por sua vez está inserido em uma
área de ligação com bairros tanto da zona sul como da zona norte da cidade e
segundo o Plano é classificado como pertencente à Região Centro.
O conceito percebido a partir da potencialidade dessa região, segundo o
documento, pretende a consolidação da imagem de ―centro de referência histórico-
cultural do país, consolidando as vocações de centro de negócios, centro de
desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicações da América
Latina‖ (PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2004, p.91). Essa região
é formada por 13 bairros, sendo eles: Benfica, Caju, Catumbi, Centro, Cidade Nova,
Estácio, Gamboa, Mangueira, Rio Comprido, Santa Teresa, Santo Cristo, São
Cristóvão e Saúde, além de Ilha de Paquetá. Contudo, os atrativos encontrados
nessa área são poucos ou mesmo seus bairros não apresentam uma efetiva
atratividade aos turistas.
A maioria dessas localidades em questão, apesar de ter passado por um
processo de formação historicamente parecido, não oferece aos visitantes muitos
serviços de apoio ou condições de fácil acesso ou deslocamento pelas mesmas. Ao
passar do tempo foram alvo de degradação e pouca manutenção de seus bens, a
conservação de seu patrimônio, chegando a serem tratados com aparente descaso
pelo poder público, tornando-se locais marginalizados, tanto pelo aspecto da
violência como pela condição de estarem distantes do desenvolvimento, do tal
progresso escrito na bandeira do país.
34
No caso de Santa Teresa, já é possível perceber uma efetiva presença de
visitantes, apesar de se apresentar certa degradação em seu ambiente - como será
abordado mais a fundo na pesquisa inserida no capítulo quatro. No bairro, o turismo
se faz mais presente, existindo distintos meios de hospedagem e atrativos culturais.
O local definitivamente insere-se na região citada por seu aspecto histórico-cultural,
por seu patrimônio preservado, guardando exemplares de construções e vestígios
urbanísticos materiais na sua paisagem, deixando a questão de centro de negócios,
centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicações da
América Latina, para o centro da cidade.
3.2 A CONSTITUIÇÃO DA PAISAGEM URBANA CARIOCA
A paisagem da cidade do Rio de Janeiro é inegavelmente um consistente
chamariz de visitantes que buscam conhecer sua beleza natural a priori e que
posteriormente são incentivados a explorar outras características constituintes de
sua imagem. A diversidade topográfica é facilmente percebida a olho nu e apesar de
toda sua riqueza natural torna-se importante destacar que a cidade apresenta uma
das maiores áreas urbanas do país.
Atualmente existe a possibilidade de ser reconhecida como Patrimônio
Mundial da Humanidade, na categoria de Paisagem Cultural. O dossiê com a
candidatura foi encaminhado, no inicio do ano de 2011, pelo IPHAN, vinculado ao
Ministério da Cultura, para ser analisado durante a 36ª Sessão do Centro do
Patrimônio Mundial da UNESCO, marcada para o ano de 2012 (LEITÃO, 2011).
Segundo Ribeiro (2007) os documentos produzidos pelo IPHAN que regulamentam
e orientam as ações referentes à Paisagem Cultural conceituam-na como uma
porção do território com características peculiares, produto de relações que os
grupos sociais estabelecem com a natureza, podendo essas relações aparecer tanto
fisicamente, sob a forma de marcas tangíveis, como por meio de valores que lhe são
atribuídos socialmente.
A Floresta da Tijuca, exemplar de floresta urbana no mundo, percebeu o
crescimento da cidade ao seu redor, tendo seu espaço limitado, mas preservado
pela constituição do Parque Nacional da Tijuca. A seguir, nas figuras 1 e 2, podem
ser percebidas duas fases do processo de desenvolvimento urbano da cidade do Rio
35
de Janeiro, a primeira em sua formação primária, completamente rural e a segunda
representando a configuração atual, já urbanizada:
Figura 1: Cidade do Rio de Janeiro rural Fonte: PORTALGEO,2010
Figura 2: Cidade do Rio de janeiro urbanizada Fonte: PORTALGEO, 2010
36
As principais áreas utilizadas pelos turistas conferem em grande parte à zona
sul, localizada no mapa desde a parte superior central à margem direita, e a região
central da cidade, no canto superior esquerdo. Portanto, o recorte urbano a ser
analisado nesta parte do capitulo terá por base esses espaços, principalmente,
somado à sua importante proximidade com o bairro de Santa Teresa.
Foi a partir da mudança da antiga capital da colônia Salvador para o Rio de
Janeiro, entretanto, que se passou a pensar em investimentos quanto à
infraestrutura e embelezamento da cidade, ainda no século XVIII quando foram
construídas praças, chafarizes e realizadas também obras para o desenvolvimento
do abastecimento de água na capital. Um grande episódio de importância
fundamental para fomentar o processo de reformas e higienização foi a grande
epidemia de gripe que se expandia sobre a população do Rio de Janeiro. Por muitos
era responsabilizada a lagoa do Boqueirão da Ajuda, localizada entre a região
central da cidade e a zona sul, que antes tinha obstruído seu acesso pela lagoa. Ela
era bastante utilizada pela população, tanto para despejar dejetos, por não haver a
opção do despejo por encanamento na época, como para tomar banho e lavar
roupas.
Foi então, por decisão do Vice-rei Dom Luís de Vasconcelos, feito o
aterramento da lagoa, desobstruindo o caminho à zona sul da cidade. No lugar
resolveu construir o primeiro jardim público das Américas e para tal convidou
Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim, considerado o melhor escultor da
cidade, para a consolidação do Passeio Público. ―Construído em 1783, o Passeio
Público foi o grande ponto de encontro da população carioca nos séculos XVIII e
XIX.‖ (FPJ, 2010, s.p.). É importante ressaltar o caráter de que foi uma obra
realizada a priori para melhorar a qualidade de vida da população em relação à
saúde e ―possibilitou a ligação da cidade, até então espremida entre morros e lagoa,
com as áreas ao sul, tão importantes para o desenvolvimento da cidade e do turismo
mais tarde‖ como aborda Machado (2008, p.46) e ressalta seu caráter precursor,
uma vez que foi a primeira área urbanizada do Rio de Janeiro.
No início do século XIX, apenas o que se configurava como área urbana no
Rio de Janeiro restringia-se ao centro da cidade e à zona portuária. As diferenças
sociais, portanto eram percebidas por aspectos estéticos referentes à aparência das
moradias de seus habitantes ou do seu vestuário. Ainda não havia grande
diferenciação de áreas e bairros mais abastados, o espaço em desenvolvimento
37
ainda era bastante restrito. Na cidade habitavam escravos e funcionários da coroa,
sendo em grande maioria os primeiros. Com a mudança da família real ao Rio de
Janeiro novas áreas passaram a ser visadas para a expansão, contudo a geografia
da cidade não era favorável, devido à existência de morros e terrenos instáveis.
Em meados do século XIX também são possíveis constatações de
investimentos para a modernização e desenvolvimento da capital. A presença de
ônibus possibilitou a expansão para áreas não antes muito acessíveis, como o atual
bairro da Tijuca, entretanto a capacidade desses ônibus era apenas de vinte
pessoas. Ouve-se falar então nos bondes puxados por tração animal, já utilizados na
Europa e nos Estados Unidos, que comportavam cerca de trinta pessoas, eram mais
confortáveis e rápidos. Assim, no Rio de Janeiro surgem as primeiras companhias
ferro carris da capital. A primeira linha contemplava o Alto da Tijuca por ser um local
agradável e de paisagem estonteante, mas foi com o apoio da empresa nova-
iorquina Bleker Street Car Company New York, por iniciativa de Barão de Mauá,
―que após intensa pesquisa concluiu que o melhor itinerário para servir o Rio de
Janeiro era o Centro-sul‖ (ROCHA, 1995 apud MACHADO, 2008, p 49).
A zona sul da cidade antigamente abrigava grandes fazendas e chácaras
como segunda residência, bem como outros bairros a exemplo de Santa Teresa, de
parte da população mais rica que habitava o centro da cidade. Após outras medidas
de urbanização na cidade, outro momento de importante destaque e mais atual para
a constituição da paisagem urbana na cidade do Rio de Janeiro ocorreu no final do
século XX.
Destaca-se, portanto, o início da urbanização na cidade do Rio de Janeiro,
que se deu ainda no período da colônia. O Rio de Janeiro ainda no começo do
século XX não poderia ser visto como turístico, apesar de já haver investimentos
quanto ao embelezamento da cidade, pois fortes traços de degradação urbana e a
falta de salubridade eram bastante característicos naquela época. Entretanto, havia
um forte anseio por parte do poder público de tornar a cidade mais moderna,
acabando por ter como exemplos capitais européias, principalmente Paris, vista
como a mais moderna e bela do período, servindo de inspiração maior para a
construção da imagem desta ―nova‖ capital que pretendia ser vista e reconhecida
positivamente em um contexto mundial.
Um grande passo partiu do governo de Rodrigues Alves, nomeando o
engenheiro Pereira Passos como prefeito da cidade do Rio de Janeiro. O grande
38
alvo das reformas urbanas, conhecidas como ―Bota-abaixo‖, realizadas por seu
governo era a área central da cidade, visando desconstruir a imagem de colônia
fortemente associada pejorativamente até então. Segundo Machado (2008, p.16)
―foram demolidos prédios seculares, alargadas ruas estreitas, abertas grandes
avenidas, construídos belos jardins e prédios imponentes, sendo essa parte
chamada de ‗Regeneração‖.
Tendo por base um contexto mundial, outro momento mais tarde, em
consequência de um novo olhar estimulado no final dos anos 70 na Europa e nos
Estados Unidos a década de 80 foi marcada por uma percepção mais sensível em
relação ao fenômeno urbano em cidades industriais quanto à sua potencialidade de
fomentar a economia de localidades não antes aproveitadas pelas atividades
inerentes à atração e visitação ao lugar. O que se pensava naquele momento era
aproveitar o que a cidade teria a oferecer em seu cotidiano. Grandes cidades
sempre atraíram visitantes de regiões mais próximas, havendo pernoite ou apenas
representando o deslocamento de excursionistas estimulados por atividades
econômicas, compras, facilidades culturais ou esportivas, fora o desejo de ver
amigos e familiares. O turismo em antigos centros tem recebido a nomenclatura de
―turismo urbano‖ segundo Law (1992). O reconhecimento dessa potencialidade
proporciona o investimento em atratividade ao local.
São destacados dois fatores primordiais desencadeadores do processo em
questão. O primeiro revelado pela desindustrialização de antigas cidades, com a
representatividade nas áreas de manufatura, armazenagem e transporte,
considerando o crescimento do desemprego. Muitos locais tornaram-se
abandonados, principalmente em regiões mais centrais das cidades, que passaram
a direcionar, portanto, novos usos a esses espaços bem como a criar novos
empregos. O segundo motivo está relacionado com o movimento ascendente do
fenômeno turístico no mundo. Esse foi visto como uma atividade com a possibilidade
de suprir aquelas carências das localidades e de sua população. Law (1992) afirma
que com a maior disponibilidade de tempo livre e maior competência para realizar
viagens as lideranças passaram a prezar pelo fomento do turismo como parte da
solução.
Para tal seriam demandados investimentos em infraestrutura, favorecendo
também a população, além da construção e divulgação de uma imagem turística
forte, ambos capazes de promover um maior brio aos residentes, que por meio de
39
serviços atuantes na área usufruiriam do investimento de visitantes, haja vista o
―efeito multiplicador‖ do turismo, de beneficiar indiretamente os envolvidos em
processos relacionados com as atividades.
Talvez, não tão coincidentemente, no Rio de Janeiro de forma semelhante foi
percebido um movimento de preocupação com a estrutura urbana na região central
da cidade. Na década de 70 era percebido o esvaziamento funcional, decadência
física e abandono por parte do poder público desta área da cidade. Contudo, é no
final desta década que o quadro exposto começa a se alterar. Goulart (2005)
destaca que houve uma crescente preocupação com a preservação da memória
urbana carioca por parte do poder público, movido também por outras motivações,
tendo em vista prejuízos socioeconômicos da decadência do Centro da cidade. Isso
associado à ―verificação das experiências bem sucedidas de renovação urbana
empreendidas em várias partes do mundo, alteraram o modus operandi do governo
com relação a essa porção da cidade‖ (GOULART, 2005, s.p.). A preocupação com
o patrimônio arquitetônico resultou no tombamento de um grande número de
edificações, no chamado Corredor Cultural da cidade, antes consideradas de pouca
relevância à memória urbana carioca.
Incentivados pela possibilidade de isenção do pagamento do Imposto sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) muitos moradores e proprietário de
estabelecimentos no centro da cidade deram abertura ao processo de tombamento
dos mesmos, tendo como condição a preservação de sua fachada. Logo, muitos
prédios históricos foram reformados, contribuindo significativamente para a
revitalização da paisagem da localidade. Praças e ruas também entraram em
projetos de reurbanização, que deixavam clara a preocupação desse olhar
comprometido com a nova configuração paisagística da região central da cidade.
Todavia, existia a compreensão de que a renovação desse lugar apenas teria efeito
caso houvesse comprometimento com a requalificação bem como com sua
refuncionalização segundo Goulart (2005), que afirma ainda:
O objetivo claramente era o de ―encher de vida‖ o Centro do Rio. Em outras palavras, fazer com que essa parte da cidade voltasse a ser foco de importantes fluxos intraurbanos que não apenas aqueles ligados ao horário comercial. O principal ―público-alvo‖ dessa empreitada é a classe média a qual abandonou o Centro primeiramente como área de moradia e depois como local de compras e lazer. (GOULART, 2005, s.p.)
40
A requalificação viria por meio de uma valorização mais simbólica, subjetiva,
relacionada à cultura e às artes, evidente em iniciativas a partir da década de 80. O
fomento ao surgimento de centros culturais na região, muitos abrigando teatros e
salas de projeções, nos quais tem sido realizados eventos e exposições de destaque
e qualidade internacional, atraindo fluxo expressivo de visitantes. Entre os prédios
de finalidade cultural e ou histórica, houve um grande aumento a realização de
restaurações com recursos públicos e privados (importante destaque à aplicação da
Lei Rouanet – lei federal assinada em 1991 que permite às empresas patrocinadoras
um abatimento de até 4% no imposto de renda, desde que já disponha de 20% do
total pleiteado). Esse processo abarcou museus, teatros e um grande número de
igrejas e prédios históricos importantes. (GOULART, 2005).
Esse processo foi responsável pela restauração não apenas de construções,
bens físicos, pois conseqüentemente essa localidade tornou-se mais movimentada e
conhecida pela população e por visitantes que queriam descobrir esse lugar
aparentemente novo. O Largo da Carioca, por exemplo, foi um deles. Lá é onde se
encontra a estação de bondes que ligam o centro da cidade ao bairro de Santa
Teresa. Descoberto por curiosos que subiam o morro pelo passeio neste meio de
transporte inusitado em um ambiente de cidade grande com novas construções mais
modernas e estilo de vida mais acelerado. Outro lugar também na região central da
cidade que enredou este processo de renovação foi a Lapa, onde também é
possível encontrar vias de acesso a Santa Teresa, desta forma o bairro em questão
foi atraindo curiosos devido ao seu estilo tanto de vida como arquitetônico e
urbanístico diferentes. A partir de tais inferências no capítulo seguinte será
trabalhada mais a fundo essa questão de sua formação, seu patrimônio e a relação
com o turismo.
41
4 DO BAIRRO DE SANTA TERESA
Este capítulo apresenta, inicialmente, a formação do bairro de Santa Teresa a
partir dos vieses urbanístico e arquitetônico além de sua caracterização geral.
Levou-se em consideração o contexto nas diferentes épocas que levaram à
influência de determinados estilos nas construções encontradas no bairro até os dias
atuais. Após a contextualização da oferta de atrativos turísticos encontrada na
cidade do Rio de Janeiro, segundo análise daqueles destacados pela RIOTUR no
capítulo anterior, são expostos exemplares de rugosidades, desses patrimônios
pertencentes ao bairro, responsáveis pela possível diferenciação na paisagem da
cidade, compondo seu patrimônio cultural e sua paisagem urbana.
Ao final do mesmo são indicados os resultados obtidos na pesquisa aplicada
com conhecedores do bairro. Essa tem por objetivo fundamentar e constatar a
hipótese defendida pela autora, a partir da percepção de outras pessoas que
freqüentem ou que já tenham visitado o bairro de Santa Teresa. Com base na
fundamentação teórica ao longo do texto apresenta-se a análise dos dados
constatados com a aplicação do instrumento de pesquisa.
4.1 CARACTERIZAÇÃO E HISTÓRICO DO BAIRRO DE SANTA TERESA
O bairro de Santa Teresa utilizado como área de estudo para o trabalho
encontra-se entre a região central e a zona sul da cidade do Rio de Janeiro, com
uma área total de 515.71 ha. Localiza-se em um espaço de declive do Maciço da
Tijuca e é composto por ladeiras e ruas estreitas em sua maioria, que ligam o bairro
aos vizinhos: Alto da Boa Vista, Bairro de Fátima, Botafogo, Catete, Catumbi, Cidade
Nova, Cosme Velho, Glória, Humaitá, Lapa, Laranjeiras e Rio Comprido.
(CARVALHO, 1990)
O antigo ―Morro do Desterro‖, atual bairro de Santa Teresa, teve sua história
iniciada por volta de 1629, segundo a organização VIVA SANTA (2002) quando foi
construída a Capela de Nossa Senhora do Desterro, em referência a Antônio Gomes
do Desterro, um dos primeiros moradores do bairro. Já no século XVIII, por volta dos
anos 50, o governador Gomes Freire de Andrade mandou construir o Convento de
Santa Teresa de Jesus, fundado por Jacinta e Francisca Pereira de Jesus, devotas
da Santa em questão, tornando, a priori, o bairro um lugar de peregrinação.
42
Nesse período é percebida a formação de quilombos neste morro, por escravos
fugidos, recém-chegados ao Rio. Mas foi no século XVIII que estrangeiros chegaram
a Santa Teresa em busca de um clima mais ameno em relação ao centro da cidade
pra morar naquele Rio colonial, marcado pela forte insalubridade e conseqüente
facilidade de propagação de doenças. Foi quando o crescimento do bairro se deu,
sendo reforçada a imagem de um lugar saudável sobre a montanha, cujo clima era
similar ao de Petrópolis, a cidade de veraneio imperial, criada também naquele
período. (CARVALHO, 1990)
Nesse período eram predominantes as construções de chácaras, pertencentes
a famílias mais abastadas, que buscavam primeiramente um lugar de clima mais
ameno para passar o verão e por lá permaneciam durante o resto do ano. Segundo
a mesma autora, essas construções subiam as encostas beirando os encanamentos
que traziam água para abastecer o Chafariz da Carioca e que mais tarde dariam
lugar às ruas para facilitar o acesso à área. Importante destacar a relevância da
construção do aqueduto que estabelecia a ligação entre o chafariz e o bairro devido
à facilitação de ocupação proporcionada, uma vez que abria uma das principais vias
de comunicação e circulação no e com o bairro: a Rua do Aqueduto, atual Almirante
Alexandrino.
No século XIX, segundo a mesma autora, a cidade do Rio de Janeiro apresenta
um lento crescimento. O espaço urbano da cidade nesse período era restrito a sul
pelo morro do Desterro, a norte pelos da Conceição e da Providência, a oeste pela
Lagoa do Sentinela e pelo mangue São Diogo. A dificuldade de acesso permitiu que
antes o bairro que parecia de certo isolado em relação ao resto da cidade
salvaguardasse características de local de lazer e de moradia para um restrito
número de pessoas abastadas que buscavam refúgio contra as epidemias que
assolavam a planície da cidade. Foram, então, a partir desse momento,
incorporadas novas áreas ao centro e intensificado o surgimento de freguesias
periféricas. O bairro, portanto, é posto em posição de destaque na cidade do Rio de
Janeiro, como afirma Martins:
Na década de 1840 teve início esse processo quando foram abertas novas ruas, deixando Santa Teresa de ser um ―lugar‖, um sítio, para se tornar um ―arrabalde‖ essencialmente residencial. Esse ―bairro‖ que surgia estava estreitamente ligado ao processo de adensamento das freguesias centrais da capital e às representações sociais — negativas — que passaram a ser construídas em relação à forma ―arcaica‖, colonial, da cidade. Em
43
contraponto, o novo bairro respondia também às representações — positivas — que haviam sido construídas sobre o morro e, sobretudo, ao movimento de pressão imobiliária e valorização dos terrenos e sesmarias aí localizados. (MARTINS, 2002, p.227)
Durante esse representativo impulso de ocupação e especulação imobiliária,
Santa Teresa consolidou-se, pouco a pouco, como área de expansão urbana. A
partir dos anos 1850, os sobrados passam a ser inspirados na moda da época e
ganharam aspectos regidos pela veiculação de revistas estrangeiras, pelos
catálogos de ferragens, pelos papéis de parede, pelos azulejos decorados e pelos
vidros lapidados como os mostrados nas exposições universais (MARTINS, 2002).
Acompanhando as diferentes tendências os novos moradores do bairro constroem
suas casas nesse padrão moderno, tornando a arquitetura de Santa Teresa bastante
variada. (CARVALHO, 1990)
Nos anos 1860 e 1870 evidenciou-se a construção de chalés, subvertendo a
ordem dos telhados portugueses. Nas ruas foram percebidas construções
redesenhadas com traços inspirados no período Renascentista, ―janelas em arco ou
verga reta guarnecidas de cantaria, arrematadas por ornamentos de estuque e às
vezes varandinhas de ferro fundido‖ (MARTINS, 2002, p.239). Essas construções
cariocas, contudo, não eram imitações das habitações européias de fato, apenas
inspirações.
A influência externa foi reforçada pela chegada ao Rio de Janeiro de
profissionais de diversas nacionalidades. Por conseguinte Santa Teresa foi um
bairro que melhor espelharia a partir de então, através de seu conjunto arquitetônico,
o ideal do grupo social burguês. Esse representado pela cultura eclética, com o
―elogio ao conforto e a ode ao progresso‖, segundo a mesma autora. ―Foi a clientela
burguesa que exigiu (e obteve) os grandes progressos nas instalações técnicas, nos
serviços sanitários, na sua distribuição interna‖. (MARTINS, 2002 p.239)
Ainda no século XIX, com o remodelamento da cidade do Rio de Janeiro,
novas tecnologias são introduzidas para a sua modernização. São percebidos
investimentos em transporte, iluminação e abastecimento de água. Foi inaugurada
no ano de 1886 a primeira linha de bondes elétricos do bairro pela Companhia Ferro
Carril Carioca, que definiu a linha como ―a mais pitoresca e aprazível estrada de
ferro elevada que se conhece em todo o mundo‖ (CARVALHO, 1990, p.52).
44
No início do século XX, Rio de Janeiro é marcado pelas obras de
reformulação urbana de Pereira Passos. Essa época conta com a migração de parte
da população desalojada pela derrubada do Morro do Castelo que subira ao bairro à
procura de baixos aluguéis e o desenvolvimento de zonas degradadas e edifícios
nas encostas começaram a se proliferar no mesmo (VIVA SANTA, 2002).
4.2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E CULTURAIS DA ÁREA
O bairro de Santa Teresa encontra-se sob a jurisdição da XXIII Região
Administrativa e faz parte da Área de Planejamento 1 – AP1 do Município do Rio de
Janeiro. Foi o primeiro bairro do país a ser considerado Área de Proteção Ambiental
pela Lei Municipal 495 de 09/01/1984. Posteriormente transformado em Área de
Proteção do Ambiente Cultural, consolidada pelo Plano Diretor da cidade, sob tutela
da Secretaria Municipal de Cultura, através do Departamento Geral de Patrimônio
Cultural – DGPC. (VIVA SANTA, 2002)
A população possuía cerca de 41.100 habitantes na época em que foi
realizado o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de
20001. Desses 46,7% homens e 53,2% mulheres, distribuída em 40,4% adultos de
30 a 59 anos de idade, 14,2% crianças com até nove anos de idade, 11,5%
adolescentes de10 a 17 anos de idade, 21% jovens de 18 a 29 anos de idade, e
16,1% idosos acima de 60 anos. De acordo com os dados o bairro apresenta
população de maioria jovem.
Santa Teresa encontra-se na 34º posição dos bairros do Rio de Janeiro em
qualidade de vida, em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, sendo
a maioria da população, cerca de 93% alfabetizada, da qual, somente 20% possui
nível superior completo. Cerca de 13.800 domicílios particulares permanentes que
abrigam 99% da população. Desses domicílios 57% próprios, 36,6% alugados, 4%
cedidos e 2,2 % possuidores outra condição de ocupação. (IBGE, 2002)
Sua população é predominante urbana, pois a área rural faz parte da
Floresta Nacional da Tijuca (IBGE, 2002). No ano de 2002, 98,2% das construções
seriam residenciais, 1,6% construções comerciais e de serviços, 0,1% construções
1 De acordo com o calendário de divulgação do censo realizado no ano de 2010 as informações
referentes aos bairros, especificamente, apenas serão liberadas a partir do mês de julho de 2011. Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/calendario.shtm
45
industriais e 0,1% correspondente a edificações de uso público (VIVA SANTA,
2002). Atualmente o bairro possui 19 favelas integradas à sua geografia urbana.
Nos dias de hoje o bairro mantém seu caráter residencial, contudo a partir
das últimas décadas vem apresentando a forte presença de turistas que o visitam,
sendo o turismo a principal atividade econômica do bairro. Esses se alojam nos
distintos meios de hospedagem existentes em Santa Teresa, de albergues a hotéis
de luxo, mas o bairro também recebe aqueles que apenas desfrutam da visita e que
são oriundos de outros lugares próximos. Durante o ano, conforme informações
colhidas junto ao VIVASANTA (2002) são percebidos eventos fortemente ligados à
área cultural, como feiras, exposições, peças teatrais, promovidos pelos próprios
moradores e pelos centros culturais existentes no bairro, além da oferta
gastronômica encontrada em bares e restaurantes. As principais empresas e
empreendimentos são a Central Cama e Café e os restaurantes e casas de cultura.
4.3 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O território de Santa Teresa faz limite com os bairros da Glória a leste,
Catete a sudeste, Laranjeiras a sul, Cidade Nova a noroeste, Humaitá, Centro ao
norte e nordeste, Catumbi a sudoeste e Rio Comprido a oeste. O bairro está
localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro, em uma colina que possui
raízes no bairro da Lapa. Para melhor ilustrar, na página seguinte se encontra um
mapa que indica Santa Teresa no ponto A da figura 3.
Em média, o trajeto entre o bairro e o Centro dura menos de dez minutos e,
para chegar às praias da zona sul, cerca de 20 minutos de carro ou ônibus. No alto
do bairro, que possui cerca de 5,7 km², há uma vista que abarca desde o Parque
Nacional da Tijuca e o Corcovado à Bahia de Guanabara e a Ponte Rio – Niterói e
pode ser desfrutada por mirantes ou pontos com poucas construções ou árvores
obstruindo a visão para o restante da cidade.
46
Figura 3: Mapa de localização do bairro Fonte: GOOGLE MAPS, 2011
Figura 4: Bairro de Santa Teresa: delimitação da área de estudo Fonte: Alves et al, 2005
47
O mapa (figura 4) delimita a área de estudo do bairro destinada à sua
visitação. Considera atrativos culturais, a linha pela qual percorre o bonde, seu
símbolo mais representativo, oferta gastronômica e principais vias de deslocamento
pelo bairro, considerando facilidade de deslocamento em uma área segura para o
trânsito de visitantes, evitando locais mais periféricos, que não apresentam
infraestrutura adequada à recepção daqueles.
4.4 A ATRATIVIDADE DO BAIRRO E SUA AMBIÊNCIA URBANA
O bairro de Santa Teresa apresenta uma paisagem bastante plural, composta
por construções dos séculos XVIII, XIX e XX, favelas e Mata Atlântica.
Do ponto de vista logístico, o bairro ocupa um espaço central na cidade, tendo várias vias de acesso às Zonas Sul e Norte e ao Centro. A localização confere ao bairro características positivas para atividades relacionadas ao turismo e ao lazer, pois de Santa Teresa é possível descortinar-se diversos e diferentes panoramas da cidade, sendo um observatório natural da paisagem carioca entre o mar e a floresta. O bondinho é um ingrediente singular, compondo um painel único. O patrimônio arquitetônico contribui também para esta vocação do bairro que, apesar de contar com aparelhagem cultural e gastronômica, não tem infra-estrutura turística adequada. (VIVA SANTA, 2002, p.36)
Convive-se, no bairro, com realidades bastante distintas, devido à existência
ao mesmo tempo de casarões e hotéis de luxo e presença de comunidades mais
pobres. Essa geografia peculiar do antigo Morro do Desterro, onde há restrição de
áreas planas, oferece, contudo, alternativas de lazer para o usufruto de seu espaço
adaptadas a estas características, que transformam o bairro em local distinto na
paisagem de uma cidade que tem a praia como um de seus principais atrativos. Tais
características dão margem a adeptos dos costumes da figura de flâneur,
personagem que passeava pelas ruas de Paris simplesmente pelo prazer de fazê-lo,
pois é um bairro que apresenta riqueza em detalhes, talvez não perceptíveis em um
passeio de carro, por exemplo. Este caminhar viabiliza o conhecimento de museus,
da arquitetura e da atmosfera do Rio antigo, presentes no bairro. A partir de tal
constatação Martins ratifica essa questão segundo o olhar de Giovanna Rosso Del
Brenna:
48
As cidades desenvolvem suntuosamente uma linguagem mediante duas redes diferentes e superpostas: a física, que o visitante comum percorre até perder-se na sua multiplicidade e fragmentação, e a simbólica, que a ordena e interpreta, ainda que somente para aqueles espíritos afins, capazes de ler como significações o que não são nada mais que significantes sensíveis para os demais, e, graças a essa leitura, reconstruir a ordem. Há um labirinto das ruas que só a aventura pessoal pode penetrar e um labirinto dos signos que só a inteligência pode decifrar, encontrando sua ordem. (BRENNA [s/d] apud MARTINS, 2002. p. 238)
No ano de 1984, o projeto de lei do vereador, na época, Sérgio Cabral
transformou Santa Teresa em APA - Área de Proteção Ambiental, a primeira do
Brasil segundo Alfredo Britto, sendo posteriormente criada a APAC - Área de
Proteção do Ambiente Cultural de Santa Teresa. (VIVA SANTA, 2002). Segundo o
Guia de Unidades de Conservação Ambiental do Rio de Janeiro (SMAC/IBAM, 1998)
as unidades supracitadas tem as respectivas classificações:
Área de Proteção Ambiental (APA): área de domínio público ou privado
que é dotada de características ecológicas e paisagísticas notáveis, na
qual o uso e ocupação do solo são restritos ou mesmo proibidos,
abarcando inclusive atividades potencialmente poluidoras ou degradantes
do meio ambiente, visando à melhoria das condições ambientais da
localidade.
Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC): área de domínio
público ou privado apresentando relevante interesse cultural e
características paisagísticas dignas de apreço, cuja ocupação deve ser
compatível com a valorização e proteção da sua paisagem e do seu
ambiente urbano, associado à preservação e recuperação dos conjuntos
urbanos da localidade em questão. A Secretaria Municipal de Cultura, por
intermédio do Departamento Geral do Patrimônio Cultural (DGPC), é
encarregada pela tutela destas unidades. (SMAC/IBAM, 1998)
A preservação de uma numerosa quantidade de imóveis de valor histórico e
arquitetônico em Santa Teresa foi facilitada, em grande parte, ―porque o bairro
inclusive por sua situação geográfica ficou à margem do desenvolvimento da cidade‖
(VIVA SANTA, 2002). A instituição de Santa Teresa como APA e APAC, ao
restringirem a ocupação do solo e a utilização do espaço urbano, contribuiu para
49
proteger o patrimônio arquitetônico e urbanístico do bairro, consolidando o mesmo
como um bairro histórico. A isenção de IPTU motivou também a população a
conservar melhor os imóveis.
A salvaguarda dessa estrutura urbana, dessas construções seculares e
ambientes históricos no bairro, por mais que esteja se tratando de uma área de
proteção de patrimônio, não deve ser confundida com estagnação. Não deve ser
algo intocável e imutável, mas justamente podem ser vislumbradas novas utilizações
para os mesmos bens. É onde encontramos uma grande relevância da atividade
turística para Santa Teresa, constituindo-se da possibilidade de constante renovação
e manutenção do patrimônio lá existente a fim de que não seja degradada e
desvalorizada a sua configuração e seu valor.
Uma das questões abordadas pelos moradores do bairro segundo o estudo
obtido pela Agenda XXI (VIVASANTA, 2002) é quanto à legislação urbanística em
vigor no bairro de Santa Teresa, vista como restritiva e defasada. Afirmam que a
legislação não permite o aproveitamento de grupamentos de casas nem de grandes
lotes, onde apenas é permitida a construção de uma residência, conferindo baixo
valor imobiliário aos imóveis.
Tal motivação cria condições para o abandono desses imóveis e os torna
vulneráveis a invasões e à favelização. Essa questão em relação aos imóveis sendo
a legislação um empecilho ao melhor aproveitamento lucrativo dos mesmos pode
ser contornada. Até mesmo alguns moradores por vezes encontram-se numa
situação de certa postura passiva, pela falta de esclarecimento, e não investem em
novos usos para seu patrimônio que tenha sido tombado embora no bairro existam
diversos imóveis que tiveram novos usos voltados para a atividade turística, por
exemplo, como no caso do Castelo do Valentim, que hoje hospeda visitantes
envolvendo-os em um ar de nostalgia. Outros elementos e lugares responsáveis
pela manutenção dessa atmosfera antiga, todavia não obsoleta, são os bens
tombados seja em esfera municipal, estadual ou federal, dada a importância para a
história e a comunidade local.
Nas APACs o ambiente urbano é preservado independentemente do valor
histórico individual das edificações nele encontradas. O tombamento, por sua vez,
aplica-se justamente ao bem cujo valor histórico justifica sua preservação,
independendo do contexto urbano (VIVASANTA, 2002). Santa Teresa possui
diversos bens tombados referentes ao patrimônio arquitetônico e urbanístico. Há
50
também edificações ou ambiências formadas por conjuntos de casas que possuem
valor histórico, mas que por motivações desconhecidas não foram tombadas. A
seguir, na Tabela 1, encontra-se disposta a relação dos bens tombados no bairro,
definidos em suas diferentes escalas e localizações:
Bens tombados, localização e esfera responsável.
Caracterização do bem
Amurada de Pedra Rua Aprazível entre o nº 141 e a Rua Francisco de Castro Município – decreto 13.590, de 09/01/1995
Muralha construída no ano de 1859. Foi
edificada em decorrência de sucessivos
desmoronamentos na encosta ao longo da
qual se delineia. No século XIX, a Rua
Aprazível era um importante logradouro para
o escoamento de gêneros alimentícios e
materiais de construção.
Bonde de Santa Teresa Santa Teresa Estado – Resolução sec 31 de 07/02/1991
Único bonde em funcionamento no Brasil, foi
estabelecido em 1872, movido por tração
animal e eletrificado em 1886. No
tombamento foram incluídos todo o sistema
de transporte, trilhos, mecanismos e
acessórios ligados ao funcionamento dos
bondes abertos, bem como a oficina e a
garagem localizadas no Largo dos
Guimarães
Casa Rua Hermenegildo de Barros, 158 e seu entorno Município – Decreto 6.555, de 02/04/1987
Exemplar representativo das mansões
senhoriais construídas no inicio do século
XX na cidade. De composição assimétrica,
com três pavimentos e marcada por torreão,
destaca-se do entorno devido à sua
imponência. Nela viveu o magistrado
Hermenegildo de Barros.
Casa de Chácara Rua Monte Alegre, 131 Estado – Tombamento 31/07/2002 Resolução sec 64/ 2002 Processo 03/3000.143/69
Construída entre 1860 e 1861, a casa de
chácara pertenceu ao médico Manuel
Correia de Viegas. Composta por um
pavimento e porão alto contem ornamentos
industriais importados: dois leões de louça
francesa acompanhando o portal de ferro;
51
quatro estátuas de cerâmica oriundas do
Porto, representando as estações do ano;
azulejos franceses na fachada, na qual foi
inscrita a data do revestimento.
Castelo (Centro Educacional Anísio Teixeira) Rua Almirante Alexandrino 4.098 Município – decreto 14.728 de 18/04/1996
Construção arquitetônica singular,
destacam-se sua capela, biblioteca em
madeira, esquadrias em ferro , vidro ou
madeira, vitrôs e venezianas, a escada do
acesso principal, os muros e portões, os
pisos e revestimentos internos em mármore,
pó-de-pedra e cerâmica, bem como seus
ornamentos decorativos. Foi Representação
Diplomática do Vaticano e hoje abriga o
Centro Educacional Anísio Teixeira.
Castelo do Valentim Rua Almirante Alexandrino , 1405 Município – decreto 9.586, de 27/08/1990
Exemplar de feição historicista com
marcante influência gótica, o castelo tinha
três pavimentos. Nos ano 1940 foram
construídos mais dois, mantendo-se o estilo
original, transformando-se a mansão em um
condomínio de oito apartamentos.
Representa importante referência estética e
afetiva para os moradores do bairro.
Chafariz e estátuas (2) Jonvens Pagens Rua Fonseca Guimarães,55 Município – decreto 19.011/2000, de
05/10/2000
O chafariz e as estátuas foram executados
nas Fundições Val d‘Osne, França.
Escadaria e trabalhos em azulejaria na Ladeira de santa Teresa, s/nº Município – decreto 25.273de 19/04/2005
A Escadaria da Rua Manoel Carneiro liga
aruá Joaquim Silva à Ladeira de Santa
Teresa, e os trabalhos de azulejaria no local
são de autoria do artista plástico Jorge
Selarón.
Escola Tomás de Aquino Rua Paschoal Carlos Magno,73 Município- decreto 12.645, de 25/01/1994
Casarão de dois pavimentos que apesar de
ter sofrido descaracterização interna e
externa ainda conserva em sua fachada
alguns elementos originais de sua
52
construção. Nas décadas de 1930, 1940 e
1950 abrigou a Pensão Mauá.
Hotel Santa Teresa ( Hotel dos Descasados) Rua Almirante Alexandrino, 660 Município- decreto 24.270/04 de 01/06/2004
Após ampla reforma abriga hoje o Santa
Teresa Design Hotel.
Igreja do Convento de Santa Teresa Ladeira de Santa Teresa, 52 Federal – tombamento 18/06/1938 Livro histórico, vol. 1, inscrição 142
Em 1628 já existia no local uma pequena
ermida. Em 30 de dezembro de 1744 foi
criado o convento. Em 1750 iniciam-se as
obras sendo a autoria do projeto o
engenheiro brigadeiro militar José
Fernandes Pinto Alpoim e a supervisão do
Governador Gomes Freire de Andrada,
Conde de Bobadela.em 1750 as primeiras
freiras foram habitá-lo, mas somentte em
1757 foi inaugurado, A igreja é em estilo
barroco jesuítico e o altar rococó.
Imóvel Rua Visconde de Paranaguá, 14/16 Município – decreto 17.050, de 02/10/1998
Imóvel de uso residencial em estilo eclético,
com elementos renascentistas e
neoclássicos. No 2º pavimento um vão de
janela retangular, vedado por um vitral,
contribui para a diversidade e colorido da
composição da fachada principal
Piso em pé-de-moleque Ladeira do Viana, Rua Santo Alfredo e Travessa Xavier dos Passos Município – decreto 14.728, de 18/04/1996
A importância histórica do piso pé-de-
moleque desta travessa é relacionada a um
exemplo de pavimentação típica anterior ao
século XX. Esse tipo de calçamento
executado com pedras irregulares, começou
a ser utilizado nas cidades brasileiras a
partir do século XVIII e, no caso do bairro de
santa Teresa, no século XIX.
Museu Chácara do Céu Rua Murtinho Nobre, 93 Federal – tombamento 23/09/1974 Livro histórico vol. 1 , inscrição 520
Antiga residência do colecionador e
industrial Raymundo Ottoni de Castro Maya,
em Santa Teresa, o local reúne pinturas,
cerâmicas, mobiliário, objetos e um grande
acervo de livros. Destaques para as obras
53
Livro arqueológico etnográfico e
paisagístico, inscrição 66
de artistas como Marcoussis, Di Cavalcanti,
Matisse, Dalí, Miró, Picasso e Portinari. E
para as 490 aquarelas e 61 desenhos de
Debret. Projeto do arquiteto Wladimir Alves
de Souza.
Pavimentação tipo pé-de-moleque Rua Santo Alfredo e Ladeira do Viana Município – decreto 5.812 de 09/05/1986
Executado no século XIX com pedras
irregulares, este tipo de calçamento foi
utilizado nas cidades brasileiras a partir do
século XVIII.
Museu Casa de Benjamin Constant Rua Monte Alegre 255 Federal - tombamento 02/044/1958 Livro Histórico vol. 1, Inscrição 322-A
Construída por volta de 1860 para ser
residência de Antônio Moreira da Costa
Santos, primeiro morador do imóvel, a casa
onde morou Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, a partir de 1889, sofreu algumas
reformas e obras de restauração. Em 1881,
após o falecimento de Benjamin o imóvel foi
adquirido pelo patrimônio público e em 1982
após o levantamento do acervo ali existente
foi criado o museu com o propósito de
reconstituir o ambiente familiar e o contexto
sociocultural em que viveu uma das maiores
figuras da história republicana brasileira.
Sobrados com porão alto Rua Teresina nº 12 e nº 14 Município – decreto 5.085, de 07/05/1985
Destacam-se no entorno da Rua Teresina
pela imponência de sua composição
arquitetônica.
Igreja ortodoxa Santa Zinaida Rua Monte Alegre, 210 Município – decreto 8.772, de 29/09/1989
Fundada com a denominação de Paróquia
Ortodoxa Russa do Rio de Janeiro, em
1934, com imigrantes russos que vieram
para o Brasil com a Primeira Guerra
Mundial. Em 1937 recebeu a primeira
denominação atual.
Figura 5: Quadro com os bens tombados em Santa Teresa Fonte: Guia do patrimônio cultural carioca: bens tombados, 2008, adaptado por Craveiro, 2011
54
Durante três séculos se deu a organização espacial e ocupação do solo do
bairro de Santa Teresa, de forma espontânea, tendo por base a influência maior das
construções portuguesas, que já se demonstravam experientes nos domínios das
encostas como já demonstrado na cidade do Porto e no bairro de Alfama, em
Lisboa, porém deixando um caráter de unicidade ao bairro. À medida que o território
ia se organizando urbanisticamente ao longo da história, foram se construindo as
edificações seguindo as características da arquitetura predominante em cada época.
Do século XVIII há um dos exemplos de arquitetura religiosa colonial: o Convento de
Santa Teresa, origem da história, do estilo de vida e da própria denominação do
bairro (VIVASANTA, 2002).
Como visto no início do capítulo, o bairro de Santa Teresa nasceu nos
arredores desse convento, no antigo Morro do Desterro, no Rio de Janeiro, no
século XVIII. Ocupa uma colina no centro da cidade onde ainda mantém
rugosidades características de aspectos preservados do Rio Antigo, tornando-se um
atrativo mesmo para os moradores de bairros vizinhos. Muitos o visitam pela riqueza
arquitetônica e cultural existentes, por parecer um local diferenciado, com
características peculiares. No bairro é percebido também um forte movimento
cultural referente a exposições de artes e reduto de pessoas que visam fugir um
pouco desse estilo de cidade grande em busca de modos de vida menos
extravagantes. Muitos de seus moradores investem na produção de materiais
exclusivos fabricados por si próprios, desde pinturas a objetos artesanais,
representando a simplicidade encontrada em suas ruas e seus moradores.
Em relação às chácaras originárias do início da ocupação do bairro ainda no
período colonial não há fortes resquícios. Encontra-se na Rua Monte Alegre, nº 313,
a antiga sede da Chácara dos Viegas, devido a uma reforma realizada em 1873,
veio a tornar-se um dos poucos exemplos do período neoclássico (predominante no
século XIX). Em sua fachada pode ser percebido vestígio do sincretismo brasileiro,
revestida por um conjunto de molduras neoclássico, composto por azulejos
portugueses (VIVASANTA, 2002).
Outro exemplar do que um dia representou uma importante chácara no bairro
é onde hoje se encontra o Museu Chácara do Céu. A construção da residência foi
projetada no ano de 1957 pelo arquiteto modernista Wladimir Alves de Souza
(RIOTUR, 2011). Este museu apresenta um acervo com importantes obras de arte
moderna, com esculturas, aquarelas e gravuras, contemplando importantes nomes
55
da arte como Dalí, Debret, Di Cavalcanti, Guinard, Matisse, Picasso, Portinari e
Taunay. Além do Museu Chácara do Céu existe o Museu Casa de Benjamin
Constant, instalado em uma chácara arborizada onde é possível ver pessoas
descansando. Benjamin Constant foi líder do movimento republicano e sua
residência foi transformada em museu após ser restaurada, apresentando móveis,
livros, objetos, fotografias e documentos de seu proprietário.
A partir do final do século XIX e ao longo das três primeiras décadas do
século XX, as edificações representam o ecletismo adotado pela República como
linguagem arquitetônica de afirmação própria e contestação do neoclássico imperial.
É a arquitetura predominante e marcante do bairro, composta por: mansões
apalacetadas; castelos como o do Valentim na rua Almirante Alexandrino, o Chateau
Ideal, na rua Triunfo; a chancelaria alemã na rua Cândido Mendes; edificações neo-
góticas a exemplo da Igreja de São Paulo localizado na rua Pascoal Carlos Magno;
edificações românticas como chalés no alto da Ladeira de Santa Teresa e no Largo
dos Neves; bem como mansões nas ruas Murtinho Nobre e Aprazível. (VIVASANTA,
2002)
O Largo do Curvelo junto ao Largo dos Guimarães e ao Largo do Neves
representam essenciais logradouros bastante movimentados, resultando em
importantes pontos de encontro em Santa Teresa. Podem ser vistas nesse espaço
residências com traços da Bohemia alemã, segundo o mesmo documento analisado.
Em seu arredor também se encontra a Casa Navio, inspirada no convés de uma
embarcação, uma excêntrica construção arquitetônica. Dessa localidade é possível
se ter a visão do Castelo de Valentim, uma fortaleza erguida em estilo
neorromântico, construído no final do século XIX. Hoje o imóvel funciona como um
―cama e café‖, meio de hospedagem popular no bairro que oferece ao visitante um
espaço em domicílio dos próprios moradores para se hospedar. Contudo,
atualmente o cenário neste local estação do Curvelo do sistema de bondes
encontra-se um pouco afetado por certo descuido ou degradação natural, em
decorrência de efeitos do tempo. O Largo dos Guimarães, por sua vez, apresenta
em seu entorno muitos restaurantes e bares, porém mais à frente está o Largo dos
Neves. Lá pode ser visto um casario datado de 1850 e a Igreja de Nossa Senhora
das Neves, de 1860, e mais uma série de bares bastante freqüentados. (RIOTUR,
2011)
56
Estes espaços têm suas ruas cortadas pelo conhecido bonde amarelo. O
valor cobrado pela passagem do bonde é referente a sessenta centavos e os
percursos traçados por eles dividem-se em dois itinerários: a linha Paula Matos e a
Dois Irmãos. As saídas da estação da Carioca se dão com intervalos de 30 minutos.
O bonde sai do Largo da Carioca, em seguida passa sobre os Arcos da Lapa,
continuando pelas ladeiras do bairro. Neles transportam-se de moradores que o
utilizam como meio de transporte corriqueiro, para chegar ao trabalho, e visitantes
que vislumbram um passeio histórico, sentados em seus bancos de madeira ou em
pé, segurando-se em sua estrutura, desfrutando da paisagem, por vezes muito
próximos de obstáculos que possam aparecer no caminho.
Os charmosos veículos começaram a circular no passado, movidos por tração animal e posteriormente por eletricidade. Remanescentes de uma época romântica foram tombados como patrimônio histórico e ainda passeiam por trilhas perfeitamente preservadas, levando o visitante a uma releitura do passado. (RIOTUR, 2011, s.p.)
Há um tempo os modelos antigos estão sendo substituídos por novos
modelos mais seguros, contudo mantendo a estética do bonde tradicional, com
mesmas cores e traços, respeitando as regras de seu tombamento. Quanto ao
percurso, ele continua em parte preservado, talvez não perfeitamente, devido a certa
falta de manutenção, inclusive um trecho que antigamente ligava o bairro à estação
de trem do Corcovado não está mais em funcionamento, encontrando-se sem cabos
de energia para realizar a conexão. Todavia é o único exemplar brasileiro de bonde
que apresenta essa função de atender à população residente, não apenas aos
turistas.
Outro importante bem, mas que não foi tombado é o Parque das Ruínas, que
funciona atualmente como um mirante de onde é possível ter uma visão mais ampla
da cidade do Rio de Janeiro. O Parque foi o que restou do Palacete Murtinho Nobre,
onde morou Laurinda Santos Lobo. A casa foi um ponto importante no cenário
cultural carioca por anos, até a morte da anfitriã, no ano de 1946. Hoje o parque
abriga uma sala de exposições, auditório e cafeteria. Lá são exibidas peças teatrais,
exposições, shows musicais, happy hours e leitura de textos literários (RIOTUR,
2011), também havendo atividades na área ao ar livre do Parque. Com três andares,
a casa apresenta diferenciada arquitetura, composta por tijolos aparentes, estruturas
metálicas e janelas de vidro.
57
De fato, encontrar atualmente um bairro que se forme com características
semelhantes aos aspectos urbanístico e arquitetônico de Santa Teresa, levando em
consideração também sua topografia, torna-se uma tarefa difícil. O ritmo de vida da
população carioca mudou e atualmente é comum a construção de vias
pavimentadas com asfalto preferencialmente em áreas planas com prédios altos e
apartamentos pequenos em relação aos cômodos existentes em construções
antigas características do bairro. O comércio de rua em outros bairros com histórico
de formação mais recente já perde também um pouco do espaço para centros
comerciais, verticais em sua maioria. O espaço dos transeuntes hoje em dia no
bairro é disputado por ônibus, bondes, taxis, mototaxis, kombis, automóveis e
bicicletas, revelando o estilo de vida corrido de uma cidade grande e demandando
um pouco mais de atenção dos visitantes a passeio.
Como observado durante a pesquisa, os bens presentes no bairro são
preservados por seus moradores principalmente, que convivem cotidianamente com
seu patrimônio tendo a consciência de sua importância, e por visitantes que tornam
o local mais movimentado, impedindo ou dificultando ações de vandalismo, bem
como trazendo atenção e apreço àquele patrimônio, valorizando determinada
localidade onde se insere.
Deve-se ressaltar a importância de se ter essas rugosidades resguardadas. A
prefeitura responsável por executar medidas que contemplem esse resguardo
elaborou um projeto específico no ano de 2005 o Projeto Rio Cidade II - Santa
Teresa. O projeto afirma prever seu aproveitamento e sua reabilitação bem como
desenvolvimento, tendo em vista a qualidade tanto para os moradores como para os
turistas e visitantes do bairro.
Para tal estão previstas no documento medidas como o alargamento da rua
Almirante Alexandrino no trecho da estação Silvestre (ponto final do bonde) para a
construção de um estacionamento, o que facilitaria o tráfego das pessoas pelo
bairro. A troca de objetos do mobiliário urbano é outro ponto previsto pelo projeto,
com detalhe para a não modificação do estilo de bancos e luminárias. Em relação à
sinalização também é pretendida melhora, com instalação não apenas de sinais de
trânsito, mas de placas e elementos de informação turística.
Mesmo que existam fortes investimentos nessa preservação do ambiente
estudado é necessário tomar cuidado para a não formação de um cenário teatral. O
cotidiano existente no bairro deve ser sobreposto à idéia de simulacro a que pode
58
ser relacionada. Isso ocorreria no caso da não consideração das necessidades dos
moradores em primeiro lugar, mas do visitante. Com base nessa paisagem discutida,
a seguir é exposta a análise da pesquisa realizada acerca da percepção que os
visitantes possuem em relação à paisagem do bairro de Santa Teresa.
4.5 METODOLOGIA DA PESQUISA APLICADA
A presente etapa do trabalho tem a proposta de constatar e analisar os
resultados obtidos com a amostra da pesquisa, que foi de 98 entrevistados. Todos
eles já conheciam o bairro de Santa Teresa, tendo realizado a visita presencial ao
mesmo pelo menos por uma vez. Para atingir os objetivos da proposta do estudo
percepção daqueles que já realizaram visita ao bairro de Santa Teresa acerca da
paisagem urbana ali existente, foi elaborado um questionário (APÊNDICE A) com
questões em sua maioria objetivas, fazendo uso do método Survey. Este método
também conhecido como Levantamento, consiste em pesquisas de campo, com
coleta de dados em uma amostra da população desejada, com objetivo de analisar
as hipóteses dos trabalhos que fazem uso destas. No caso o meio utilizado foi a
internet, através do site Survey Monkey2, especializado na disponibilização de
ferramentas para coleta e tratamento de dados.
A aplicação do instrumento de pesquisa com os respectivos conhecedores do
bairro se deu no período de aproximadamente um mês, tendo início no dia 17 de
março de 2011 e término ao dia 23 de abril do mesmo ano. Foi divulgada por meio
do envio do link com a pesquisa para pessoas conhecidas, que repassaram para
outras pessoas que já sabiam conhecer pessoalmente o bairro, garantindo a
confiabilidade das fontes nos dados obtidos. A idéia de utilizar o meio eletrônico para
a propagação do questionário tem por base garantir a não influência do ambiente no
momento em que o entrevistando estivesse respondendo às questões, uma vez que
se trata da paisagem do local. Desta forma as pessoas puderam expor sua
percepção a partir de um conceito já formado após a visita realizada sem antes ter
ciência do presente estudo.
No questionário desenvolvido, o total do número de questões foi igual a 10,
sendo estas divididas em sete perguntas fechadas, uma pergunta aberta e três
2Endereço com link da pesquisa: http://www.surveymonkey.com/s/YZKJQGZ
59
perguntas estruturadas segundo a escala de Likert, com variação de 1 a 5 pontos,
para identificar o nível de avaliação dos entrevistados com relação à influência dos
itens apresentados nas respectivas questões. Em algumas questões o entrevistado
também tinha a liberdade de sugerir outras respostas que não haviam sido citadas,
coletadas no campo ―outros‖.
A partir das questões elaboradas foi possível obter informações acerca: do
local de residência dos entrevistados; da maneira que obteve conhecimento sobre o
bairro; da freqüência com que visita o mesmo; as diferentes motivações que levaram
à visita; do que esses entrevistados mais gostam ou gostaram no bairro; além do
que pode ser melhorado; de sua oferta turística; de sua paisagem; e da sua
visitação. Os itens e as questões do questionário foram criados com base no que foi
observado em vistas ao bairro durante a pesquisa, a partir da percepção de pontos
positivos e negativos existentes no bairro. Os resultados obtidos serão analisados a
seguir.
4.6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira análise a ser feita da amostra, se dá em relação ao local de
residência dos entrevistados (Tabela 1, APÊNDICE B). A amostra, em sua grande
maioria, pertence ao estado do Rio de Janeiro, sendo representada por noventa e
cinco fluminenses que responderam à pesquisa. O restante é formado por
habitantes de diferentes países, havendo residentes de Aveiro (Portugal), Ratingen
(Alemanha) e Houston (Estados Unidos).
A segunda questão do instrumento aplicado é referente à forma que se deu o
conhecimento acerca do bairro de Santa Teresa. Dentre as cinco alternativas
propostas pela pesquisadora, três tiveram 0% das respostas obtidas, considerando
que ninguém em questão conheceu o bairro por meio de revistas e jornais,
veiculação pela televisão ou por agências de turismo. A internet também não obteve
uma marca expressiva, representando apenas 1,02% das respostas. As outras duas
alternativas responsáveis por 98,98% da forma de conhecimento estão divididos
entre 70,40% e 28,58%, referentes respectivamente à influência de amigos e
parentes e a outros motivos. Esses últimos justificam-se por pessoas que não
souberam citar o motivo e por moradores atuais ou que já tenham se mudado do
bairro.
60
A freqüência da visitação do bairro pelos entrevistados foi medida pela
questão três, onde se pode perceber que a maioria das respostas acusou a
freqüência esporádica como a principal, isto representando 59,18% das entrevistas.
Em contrapartida, a minoria realiza a visita semanalmente, referente a 4,08% dos
entrevistados. É possível perceber também que 8,16% dos entrevistados freqüentam
diariamente o bairro, representando esses moradores ou pessoas que trabalhem no
local pesquisado.
Na questão quatro foi feito uso da escala de Likert visando à compreensão
mais completa da motivação à visitação pelos entrevistados. Dessa amostra
algumas pessoas afirmaram motivações alternativas à proposta pela pesquisa,
sendo seis pessoas residentes do bairro e duas que tenham conhecidos que morem
lá. Das outras pessoas entrevistadas a maioria considerou a oferta de ―atrativos
culturais‖ como maior motivadora à visitação de Santa Teresa além de obter a maior
média de influência. Da porcentagem total para esta alternativa 7,42% a considerou
como menos relevante, contra 45,58% da mais influente em sua decisão de visitar o
bairro.
A alternativa com a segunda maior média ―vista para a cidade‖ acumulou
apenas um voto a menos que a quantidade de votos como sendo as primeiras duas
opções (com nota 4 e 5), somando 57 votos, quase igualando à quantidade
acumulada de 58 votos (com notas 4 e 5) de atrativos culturais. Contudo obteve a
colocação de penúltimo lugar no quesito mais influente (nota 5), ficando atrás de ―ar
bucólico‖, ―eventos‖ e atrativos culturais, nesta ordem.
A vida noturna foi votada em último lugar, mas apresentou uma distribuição
de votos mais uniforme, sendo que 25,44% a considerou a opção menos influente,
11,66 a segunda menos influente, 18,20% a intermediária, 13,78% a segunda mais
influente e 28,62% a mais influente. A opção ―ar bucólico‖ também não estimulou
muito a ida dos visitantes ao bairro, sendo a segunda mais votada como última
opção, com 23,30% de votos com nota um (1). Contudo, apesar de ter atingido a
segunda menor média, recebeu mais votos que a opção que obteve a segunda
maior média, com 32,86% contra 30,74% respectivamente, referentes à nota cinco
(5). A seguir encontram-se os gráficos completos (Figuras 6 e 7) com os dados desta
questão.
61
Figura 6: Motivação à visita Fonte: Elaboração própria
Figura 7: Média da motivação à visita Fonte: Elaboração própria
O mesmo modelo de escala de Likert também foi aplicado nas questões cinco
e seis. Essa primeira questão citada encarrega-se de verificar o que os entrevistados
mais gostaram ou gostam no bairro considerando aqueles aspectos avaliados na
questão anterior: ar bucólico; vista para a cidade; vida noturna; atrativos culturais; e
62
eventos. A priori o que pode ser destacado é a média obtida pelo item ―vista para a
cidade‖, significando que foi muito bem cotado pelos entrevistados. Estabelecendo
um ranking de preferência, tendo por base as médias, a ordem crescente foi a
seguinte: vida noturna como o que menos gostaram ou gostam no bairro, seguido de
seus eventos, seu ar bucólico em terceiro lugar, seus atrativos culturais e finalmente
a sua vista para o restante da cidade do Rio de Janeiro como melhor cotada.
Tais constatações revelam o caráter da paisagem como principal atrativo do
bairro. Não necessariamente a paisagem de Santa Teresa deve se restringir às suas
ruas e construções, porém é certo dizer que essa vista também pertence à
paisagem do bairro, afinal é necessário estar nele para poder obtê-la. Uma
possibilidade para a ocorrência deste resultado pode ter se dado em decorrência de
algo inesperado, uma vez que ao serem questionados acerca do que lhes motivara à
realização da visita, esse quesito ficou em segundo lugar como mais votado, ficando
atrás de atrativos culturais. Mais a frente, na questão seis (figuras 8 e 9), são
explanados alguns fatores que podem justificar essa troca de preferências.
Em relação ao ―ar bucólico‖, esse já não é assim visto no bairro.
Considerando a significação de algo simples e ao mesmo tempo ingênuo ou
romântico não é possível classificar a imagem do bairro desta forma. A partir da
opinião dos entrevistados pode ser estabelecida a consciência de que existem
mazelas que atingem aquele contexto, sem poder ser um lugar idealizado, como um
cenário de teatro, construído para apenas ser admirado. Não que seja vetado
qualquer tipo de referência idílica, como pode ser percebido, ao passar do bonde, o
encantamento de visitantes, por exemplo. O que justifica isso é a colocação desse
quesito na posição intermediária.
63
Figura 8: Aspectos mais apreciados no bairro Fonte: Elaboração própria
Figura 9: Média do que mais gosta ou gostou no bairro Fonte: Elaboração própria
Ao serem questionados sobre o que pode ser melhorado no bairro foram
dispostos cinco itens a serem classificados da mesma maneira que as questões
anteriores, de um a cinco. Desta vez as alternativas foram: sinalização, limpeza,
segurança, conservação das características urbanísticas e excesso de veículos em
circulação.
Os entrevistados consideraram como o principal ponto a ser melhorado a
questão da segurança no bairro, tendo mais da metade de seus votantes o
classificado desta maneira, obtendo a média de 4,01. Dentro deste ponto encaixa-se
64
também a questão da iluminação das vias, gerando insegurança em possíveis
passeios à noite pelo bairro, como afirmou um entrevistado. Essa questão seria
outra justificativa para a alternativa ―vida noturna‖ ter sido classificada como aspecto
menos apreciado pela amostra. O segundo ponto, de acordo com os entrevistados,
que também pode ou deve ser melhorado é a conservação das características
urbanísticas presentes no bairro, com média de 3,96, também alta. Os atrativos
culturais vistos como rugosidades inserem-se neste quesito, o que pode ajudar a
justificar na questão anterior a preferência da vista para a cidade como a opção
preferida após a visita, diferindo-se de sua motivação principal.
Em seqüência está a sinalização como terceiro ponto a ser melhorado. Não
apenas a inexistência de placas indicando as exatas vias, designando o melhor
caminho a ser tomado ou apontando os atrativos do bairro dificulta o deslocamento
das pessoas pelo mesmo. Considerou-se a precariedade em que se encontram
esses instrumentos sinalizadores, representando um fator que pode se tornar um
empecilho no melhor aproveitamento da visita. Em se tratando de limpeza, o bairro
apresenta uma boa estrutura conforme os dados obtidos na pesquisa com os
entrevistados.
Quanto à questão de transportes muitos entrevistados afirmaram ser falha a
oferta de transportes públicos no bairro e complementam dizendo que os lá
existentes deveriam seguir um controle de velocidade, mas não apenas eles,
abarcando inclusive os carros de passeio, afinal muitas pessoas adotam o caminhar
para se deslocarem por Santa Teresa. Um entrevistado apresentou a seguinte
explanação: ―Criação de linhas de ônibus para a zona sul, pois a maioria dos turistas
sai de Santa Teresa para a zona sul e a maioria dos moradores que não trabalham
no centro trabalha na zona sul‖. Essa afirmativa ressalta que existe falta de incentivo
não apenas para a possibilidade de uma integração turística na cidade, mas para o
atendimento das necessidades da própria população. A seguir, nas figuras 10 e 11,
é possível verificar a disposição dos resultados desta pergunta por completo.
65
.
Figura 10: Aspectos que devem ser melhorados no bairro Fonte: Elaboração própria
Figura 11: Média de aspectos que devem ser melhorados no bairro Fonte: Elaboração própria
Ao serem perguntados acerca da oferta turística não foi apresentado um
consenso nas opiniões coletadas. A maioria ficou dividida entre ser pouco
aproveitada ou ser bem aproveitada, porém, a porcentagem relativa máxima definiu
66
a oferta turística do bairro como pouco aproveitada. O que se pode observar é que
eles percebem como algo que ainda pode ser melhorado, sendo que apenas 1,03%
classificaram como muito bem aproveitada. Tendo por base questões anteriores é
possível constatar alguns pontos influentes nesta posição com base nos dados
expostos na figura 12, a seguir:
Figura 12: Aproveitamento da oferta turística Fonte: Elaboração própria
Em relação à paisagem urbana do bairro ser considerada diferencial em
relação ao restante da paisagem da cidade do Rio de Janeiro 96,90% afirmaram que
acreditam assim o ser. Este resultado já era previsto como defendido no início do
estudo, consolidando-se o principal problema norteador da pesquisa a partir da
opinião da amostra entrevistada.
Como já previsto também como um dos fatores mais preocupantes, a partir de
visitas durante o processo do estudo, foi elaborada esta questão nove específica
acerca da segurança no bairro que indaga: ―você acredita que a instalação de UPP
estimulará a visitação em Santa Teresa?‖. Apesar de 83,68% dos entrevistados
terem afirmado que acreditam no estímulo à visitação, há quem pense que a
instalação de Unidade de Polícia Pacificadora em Santa Teresa não irá influenciar a
visitação ao bairro. Tal resultado pode ter sido obtido pelo fato de a parte explorada
por visitantes ser justamente composta por locais de maior movimentação,
67
representando menos risco à segurança, próximos a residências de uma parcela
não muito atingida pela falta de recursos básicos como é percebido em outras partes
menos abastadas do bairro. Existe também a possibilidade de haver falta de
credibilidade na aplicação deste método por parte desses 16,32% dos entrevistados.
Apesar de terem sido percebidos pontos a serem aperfeiçoados, como
segurança, melhora na conservação das características urbanísticas e a questão de
transportes, 97,92% dos entrevistados afirmaram recomendar a visita ao bairro,
contra apenas 2,08% de rejeição, havendo esta parcela justificado com a vivência de
experiências desagradáveis que tenham tido no bairro ou mesmo a falta de interesse
pelo que foi visto.
Considerando as questões trabalhadas no início do estudo, no capítulo
―Turismo urbano: rugosidades e atratividade.‖ é possível fazer algumas reflexões
mais profundas com base nos dados obtidos com a aplicação dos questionários. A
questão da paisagem ser observada por olhares múltiplos, por exemplo, foi
comprovada, uma vez que a subjetividade presente na percepção de cada
entrevistado proporcionou a apresentação de opiniões divergentes. Cada visitante
apresenta demandas distintas e por conseguinte vai buscar preenche-las da sua
maneira particular, por meio de experiências, não apenas por meio do olhar. O que
pode para uns representar uma simples paisagem apreciável esteticamente, para
outros é vista cheia de significação, partindo de outras concepções estabelecidas
por vivências anteriores.
Assim, essas pessoas buscam desvendar a alma do lugar, identificando
características peculiares por meio da vivência, da sinestesia presente no ambiente,
captando a essência presente no local. Esse ambiente cultural que proporciona
atratividade ao bairro de Santa Teresa, como percebido na pesquisa, não se dá
apenas pela presença dos bens materiais, pois existe um cotidiano presente, que
influenciará tanto positiva como negativamente.
Como um bairro predominantemente residencial existe uma dinâmica diária
que acaba por promover também essa certeza de que Santa Teresa não é um lugar
inventado, criado apenas com a finalidade da visita turística. Os. bens materiais, por
iniciativa dos próprios moradores, que se fazem bastante presentes, vem sendo
preservados. Isso gera a curiosidade que estimulou a ida de visitantes ao bairro, a
construção dessa paisagem urbana. O bonde, com destacada importância nesse
processo de atração, criando diferenciação ao passeio ao bairro, fora o caminhar
68
que se torna um fator propício para o aproveitamento da visita, conseguindo, assim,
o visitante perceber, presenciar melhor os detalhes na paisagem.
Com a aplicação dos questionários foram percebidas distintas valorações
relacionadas à paisagem. Desde os mais pessoais como o valor afetivo, como
afirmaram alguns entrevistados ao defenderem a não descaracterização original ou
destruição desses bens que remetem à memória coletiva. Nesse ponto também
pode ser visto o valor pragmático, em relação à opinião que os entrevistados tiveram
acerca de como se encontra a preservação atual desses bens, frutos de relações
que os grupos sociais estabeleceram com o ambiente, aparecendo em marcas
tangíveis. .
Essas peculiaridades, por sua vez, como as rugosidades, geram atratividade
ao bairro, porém se não houver uma sinergia de ações tomadas pelos diferentes
sujeitos envolvidos como poder público, moradores e visitantes, voltadas para a
conservação dessa identidade espacial do ambiente visitado, as consequências
serão percebidas tanto no âmbito do morador como no do turista e
conseqüentemente no do poder público.
69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi apresentado no estudo, a paisagem do bairro de Santa Teresa é
predominantemente urbana. Inserida na cidade do Rio de Janeiro, onde existe um
forte apelo de atividades relacionadas ao desfrute da natureza, ainda é percebido o
interesse por outras opções de ofertas de atrativos, mais abrangentes que
paisagens relacionadas ao clichê de sol e praia.
Peculiaridade, diversidade, isso costuma se tornar atraente, instigante às
pessoas. Quem gostaria de ver algo repetido em um lugar novo? Geralmente
quando as pessoas viajam buscam conhecer novas ambiências, compostas por
seus elementos materiais e imateriais, responsáveis por sua caracterização. Criam
expectativas de serem surpreendidas. No bairro, segundo a pesquisa, é possível se
ter esta percepção.
Ao longo do trabalho puderam ser percebidos o processo de formação de
Santa Teresa e seus diferentes contextos históricos responsáveis por cada momento
relevante nesse processo. Foi, portanto, expressa a significação cultural presente no
bairro, por meio do destaque a bens patrimoniais preservados até os dias atuais. A
existência dos seus dezoito bens tombados no bairro pode revelar a preocupação
destinada à garantia da perenidade histórica da comunidade local. Não apenas do
bairro, mas representativa do restante da cidade do Rio de Janeiro, bem como do
Brasil, visto que a cidade é uma das que mais recebe turistas no país, funcionando
como exemplar de ambiente histórico-cultural.
Não apenas o tombamento daqueles bens representa a preocupação com a
salvaguarda dessas rugosidades, mas a própria classificação do bairro como APA e
posteriormente como APAC já significou um movimento positivo a não degradação e
o descaso com as raízes histórico-sociais. O reconhecimento de um ambiente
cultural permitiu a constituição paisagística atual característica de Santa Teresa.
Contudo, ao mesmo tempo há moradores que parecem sentir-se prejudicados com a
existência de vedações a qualquer prática indiscriminada de uso do solo. Enquanto
área de preservação é necessário que sejam estipulados limites às práticas a serem
adotadas, mas esses não deveriam interferir negativamente na vida dos moradores.
Talvez seja necessário um acompanhamento mais próximo por parte do
poder público, enquanto administrador, tanto da preservação como na elucidação
das oportunidades a serem estudadas e desenvolvidas pelos próprios moradores. O
70
intuito deve ser de auxiliar aqueles que se sentirem em desvantagem quanto ao
desenvolvimento de atividades no bairro devido àquelas restrições. Deve ser
perpetuada uma associação ao papel representativo da organização dos próprios
moradores nessa conservação patrimonial do bairro.
Como foi visto, o processo de formação urbanística de Santa Teresa se
confunde com o da cidade carioca, à exceção da inclusão de influências mais atuais.
Em se tratando de arquitetura, das construções e configuração do seu ambiente
urbano o acervo ao ar livre resguardado no bairro parece ser o seu grande atrativo.
Em outras localidades próximas, como a região central da cidade, ainda podem ser
percebidos bastantes exemplares de construções de épocas distantes, geralmente
maiores e mais imponentes, por terem sua construção originada para abrigar
grandes acervos e recepcionar espetáculos, como no caso do Theatro municipal.
Santa Teresa já se difere por ser um bairro predominantemente residencial.
Mesmo o estilo de vida em se comparando ao restante da cidade torna-se
aparentemente menos estressante. Sem querer fazer alusão à nostalgia e falar dos
tempos de outrora, mas considerando as ruas estreitas e sinuosas em sua maioria,
suas ladeiras, essas são características que dificultam a inserção de um ritmo mais
acelerado no que tange ao grande tráfego de veículos nas ruas e acaba por tornar
um ambiente mais tranqüilo. Embora também seja notada a disputa de espaço nas
ruas por bondes, ônibus, taxis e outros meios de transporte.
Essa agitação pode ser vista em diversos outros bairros da cidade, enquanto
cidade grande, de constante e numerosa circulação de gente todos os dias onde o
uso de carros é bastante freqüente. Muitas vezes quase não é dada abertura ao
usufruto da paisagem circundante, sendo percebidos apenas os pontos principais
que se destacam nela. O passeio de turistas, devido à maior facilidade de
deslocamento, portanto, acaba tornando-se maior por essas outras áreas.
Conforme foi percebido na pesquisa aplicada na última etapa do trabalho,
grande parte dos entrevistados era composta por moradores do estado do Rio de
Janeiro, mas durante as visitas realizadas ao bairro ao longo do estudo, pode ser
notada a presença de estrangeiros e pessoas de outros estados passeando por
Santa Teresa.
A sinalização de trânsito também é um aspecto que pode dificultar o acesso
ao bairro, inclusive, a estação de bondes encontra-se em um local pouco aparente.
É necessário para um desconhecido pesquisar e perguntar antes de chegar a essa
71
localidade, o que acaba por torná-la mais exclusiva, facilitando a não aplicação do
turismo de massa. Na maioria dos casos de surgimentos de destinos os mesmos
são descobertos por curiosos que representam uma pequena quantidade de
pessoas, mas ao longo do tempo vão difundindo o conhecimento do local. No caso
de Santa Teresa a pouca sinalização nas ruas fora do bairro pode representar um
ponto positivo, contudo. Uma vez que um número excessivo de visitantes na
localidade poderia ser danoso ao resguardo e à preservação de seu patrimônio,
deveria assim perpetuar-se.
É fundamental ter a consciência de que a história de um lugar não precisa
estar restrita a locais fechados, como no caso de museus ou lecionadas por meio de
livros nas escolas, mas deve estender-se ao meio ambiente, a uma esfera mais
palpável, tangível, não tão distante, aparentemente. Como exemplo seriam
iniciativas pautadas em atividade de turismo educativo. Desde criança é importante
ao processo de formação da cidadania ter conhecimento acerca do lugar onde se
vive, reconhecendo a identidade que possibilita o entendimento da estrutura social
existente nos dias atuais.
Mazelas como falta de segurança e degradação do ambiente parecem ser
preocupações comuns no bairro, mas não apenas, abarcando também o restante da
cidade do Rio de Janeiro, sendo estas umas das principais preocupações para os
estudiosos e pessoas que trabalham na área de turismo. Nos dias de hoje vivemos
em uma sociedade de classes onde há diferenças abismais de realidade e sabemos
que a atividade turística tem potencialidade para diminuir essas diferenças. O
estimulo à prática turística promoveria, conseqüentemente, a inclusão daqueles que
degradam por não possuírem o sentimento de pertença ou vontade de propagar
uma história possivelmente desinteressante para eles, distante de sua realidade.
Fazer a população sentir-se como possuidora de um rico patrimônio deve ser
um ponto crucial obrigatório no planejamento das cidades e no desenvolvimento
social. Além de reconhecidas as peculiaridades de cada região, de acordo com a
sua formação, é importante também propagar esse ideal de domínio da história, de
orgulho e reconhecimento da formação do seu lugar, pois para se ter um ambiente
preservado é necessário fazer com que as pessoas sintam-se como donas daqueles
bens.
O presente estudo teve a intenção de servir como uma introdução a novos
trabalhos. Relacionados a turismo educativo, por exemplo, podem explorar questões
72
voltadas a formas de aproveitamento e desenvolvimento de atividades referentes ao
turismo que possam fomentar o conhecimento pela própria população acerca de seu
patrimônio. Não apenas voltado a crianças, mas para muitos adultos que não
dominam esta ciência, buscando ensiná-la por meio de experiências práticas, mais
dinâmicas e interativas. Outras medidas que sirvam de melhorias para a
comunidade também podem ser tomadas a partir deste estudo.
73
REFERÊNCIAS
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76
APÊNDICE A PESQUISA ACERCA DA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM URBANA DO BAIRRO DE
SANTA TERESA (RJ)
1. LOCAL DE RESIDÊNCIA PERMANENTE:
País, município ou bairro: _________________________________
2. COMO FICOU CONHECENDO O BAIRRO?
1 ( ) Amigos/ Parentes 2 ( ) Jornal/Revista 3 ( )Televisão
4 ( ) Agência de Turismo 5( ) Internet 6 ( ) Outros _______
3. COM QUE FREQUÊNCIA VISITA O BAIRRO?
1 ( ) Diariamente 2 ( ) Semanalmente 3( ) Mensalmente 4 ( ) Anualmente
5 ( ) Esporadicamente
NAS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES ORGANIZE DE 1 A 5 SEGUNDO ORDEM DE
INFLUÊNCIA, SENDO O 1 MENOS INFLUENTE E 5 MAIS INFLUENTE
4. O QUE O LEVOU A VISITAR SANTA TERESA?
1 2 3 4 5
Ar bucólico
Vista para a cidade
Vida noturna
Atrativos culturais
Eventos
Outros Quais:
5. DO QUE VOCÊ MAIS GOSTOU/GOSTA NO BAIRRO?(1 menos relevante e 5 mais relevante)
1 2 3 4 5
Ar bucólico
Vista para a cidade
Vida noturna
Atrativos culturais
Eventos
Outros Quais:
77
6. O QUE PODE SER MELHORADO? (1 menos relevante e 5 mais relevante)
1 2 3 4 5
Sinalização
Limpeza
Segurança
Características urbanísticas
Excesso de veículos
Outros Quais:
7. SOBRE A VISITAÇÃO TURÍSTICA DO BAIRRO VOCÊ ACHA QUE:
1.( ) Não é nada aproveitada 2. ( ) É pouco aproveitada 3. ( ) Sou
indiferente 4. ( ) É bem aproveitada 5. ( ) É muito bem aproveitada
8. EM RELAÇÃO À PAISAGEM URBANA DO PRÓPRIO BAIRRO, VOCÊ A
CONSIDERA DIFERENCIADA EM RELAÇÃO À DO RESTANTE DA CIDADE?
1 ( ) Sim 2 ( ) Não
9. VOCÊ ACREDITA QUE A INSTALAÇÃO DE UPP ESTIMULARÁ A VISITAÇÃO
EM SANTA TERESA?
1 ( ) Sim 2 ( ) Não
10. VOCÊ RECOMENDARIA A VISITA AO BAIRRO?
1 ( ) Sim 2 ( ) Não
78
APÊNDICE B
TABULAÇÃO DA PESQUISA ACERCA DA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM
URBANA DO BAIRRO DE SANTA TERESA (RJ).3
Tabela 1 – Local de residência dos entrevistados
Valor absoluto
Valor relativo
Estado do Rio de Janeiro 95 96,94 Portugal 1 1,02 Alemanha 1 1,02 EUA 1 1,02
TOTAL 98 100,00
Tabela 2 – Modo como ficou conhecendo o bairro
Valor absoluto
Valor relativo
Amigos/ parentes 69 70,40 Jornais/revistas 0 0 Televisão 0 0 Agência de turismo 0 0 Internet 1 1,02 Outro 28 28,58
TOTAL 98 100,00
Tabela 3 – Freqüência com que visita o bairro
Valor absoluto
Valor relativo
Diariamente 8 8,16 Semanalmente 4 4,08 Mensalmente 21 21,42 Anualmente 6 6,16 Esporadicamente 59 59,18
TOTAL 98 100,00
3 Dados referentes à pesquisa realizada pela autora no período de 16 de março a 23 de abril de 2011
através do site http://www.surveymonkey.com/s/YZKJQGZ.
79
Tabela 4 – Motivo pelo qual visitou o bairro
1 2 3 4 5
Valor abso-luto
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Valor absol-
uto
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Mé-dia
Ar bucólico
22 23,30 12 12.72 12 12,72 17 18,20 31 32,86 3,24
Vista para a cidade
7 7,42 9 9,56 20 21,20 28 29,68 29 30,74 3,68
Vida noturna
24 25,44 11 11,66 17 18,20 13 13,78 27 28,62 3,09
Atrativos culturais
7 7,42 8 8,50 20 21,20 15 15,90 43 45,58 3,85
Eventos 14 14,82 15 15.90 18 19,80 14 14,82 31 32,86 3,34 TOTAL 94 100 94 100 94 100 94 100 94 100 94
Tabela 5 – O que mais gostaram ou gostam no bairro
1 2 3 4 5
Valor abso-luto
Valor relati-
vo
Valor abso-luto
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Valor absolu-
to
Valor relati-
vo
Mé-dia
Ar bucólico
20 21,20 8 8,50 14 14,84 15 15,90 38 40,26 3,45
Vista para a cidade
4 4,22 7 7,42 13 13,78 27 28,62 43 45,56 4,07
Vida noturna
21 22,26 16 16,98 18 19,80 13 13,78 26 27,58 3,10
Atrativos culturais
9 9,51 7 7,41 20 21.20 18 19,80 40 42,40 3,82
Eventos 18 19,80 20 21,20 15 15,90 12 12,70 27 28,60 3,14 TOTAL 94 100 94 100 94 100 94 100 94 100 94
Tabela 6 – O que pode ser melhorado no bairro
Valor abso-luto
Valor relativo
Valor abso-luto
Valor relativo
Valor abso-luto
Valor relativo
Valor Abso-luto
Valor relativo
Valor absol-uto
Valor relativo
Média
Sinalização 8 8,50 7 7,44 21 22,26 27 28,64 31 32,86 3,70
Limpeza 13 13,78 16 16,96 27 28,62 23 24,38 15 15,90 3,12
Segurança 7 7,42 6 3,34 16 16,94 15 15,90 50 53,00 4,01
Característi-cas urbanísticas
5 5,30 7 7,40 17 18,20 20 21,20 45 47,70 3,96
Excesso de veículos 15 15,9 12 12,70 16 16,96 22 23,30 29 30,74 3,38
TOTAL 94 100 94 100 94 100 94 100 94 100 94
80
Tabela 7 – Considerações sobre a oferta turística do bairro
Valor absoluto
Valor relativo
Não é nada aproveitada 2 2,06 É pouco aproveitada 43 44,29 Sou indiferente 11 11,31 É bem aproveitada 40 41,21 É muito bem aproveitada 1 1,03
TOTAL 97 100,00
Tabela 8 – Consideração acerca da paisagem do bairro ser diferenciada
Valor absoluto
Valor relativo
Sim 95 96,90 Não 3 3,10
TOTAL 98 100,00
Tabela 9 – Influência da UPP no estímulo à visitação do bairro
Valor absoluto
Valor relativo
Sim 82 83,68 Não 16 16,32
TOTAL 98 100,00
Tabela 10 – Recomendação da visita
Valor absoluto
Valor relativo
Sim 96 97,92 Não 2 2,08
TOTAL 98 100,00