Santana

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e o o co mex de suas mú Chuck Berry, do pouco mais distribu como o “Padrinho do la dele). Com relação às outr anos 60... Bom, havia aquela com, possivelmente, uma ou o a fusão com os ritmos latinos Mas vocês vão perguntar: o que dia prima desse pessoal é o rock’n’roll. O mas não é o estilo “wa bop a lu bop a elas. É o pop/rock. Aí você me pergunt rock?” E eu digo: vamos com calma. Sant da fusão “rock-ritmos latinos”, mas fo intensamente essa mistura. O que ant Chuck Rio e raríssimamente com Richie apareceu com Santana. Em 1969, ele la álbum, intitulado “Santana”, no qual tem suingue e timbres latinos como ninguém. fazendo isso por toda a década de 7 moldando-se, em cada época, ao que er não tivesse feito todas aquelas parcer de 1999, provavelmente ele entraria no Ele se moldou ao gosto das novas ge ficou bom! Não é mais o Santana dos an

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Pai do axé

Transcript of Santana

Quando cheguei a minha casa comecei a pensar furiosamente nisso. “Tu só pode ‘tá de brincadeira, pô! Isso é molecagem”, refleti. Mas logo

me contra-argumentei: “mas tu por acaso conhece outro que pela primeira vez misturou tambores com guitarra

sem ser o Santana?” Bom, é nessa hora que eu caio em mim: lembro-me que Richie Valens e Daniel Flores (ou Chuck Rio), oficialmente, foram os primeiros a incutir influências latinas no rock, ou melhor, no rock’n roll. Richie Valens foi o verdadeiro pioneiro,

com aquela famosa releitura de “La Bamba”, uma música do folclore mexicano. No entanto, ele não investiu mais nisso. A maioria gritante

de suas músicas (e põe gritante nisso!) é apenas rock’n roll e vai na onda do Chuck Berry, do Elvis Presley, do Little Richard, do Bill Haley, etc. As pitadas um

pouco mais distribuídas de latinidade no repertório foram dadas por Chuck Rio, tido como o “Padrinho do latin rock” (vocês provavelmente devem conhecer “Tequila”, música

dele). Com relação às outras bandas de latin rock do final da década de 50 e do começo dos anos 60... Bom, havia aquelas que de latinidade só tinham as letras, como Los Teen Tops,

com, possivelmente, uma ou outra música que saía desse padrão, e outras com as quais a fusão com os ritmos latinos era mais explícita, como Los Blue Caps.

Mas vocês vão perguntar: o que diabos isso tem a ver com axé? Nada. A matéria-prima desse pessoal é o rock’n’roll. O axé tem influências latinas e africanas,

mas não é o estilo “wa bop a lu bop a lom bam boom” que se mistura com elas. É o pop/rock. Aí você me pergunta: “e por acaso o Santana faz pop/rock?” E eu digo: vamos com calma. Santana pode não ter sido o pioneiro da fusão “rock-ritmos latinos”, mas foi um dos que explorou mais intensamente essa mistura. O que antes se via um pouco com Chuck Rio e raríssimamente com Richie Valens, foi só o que apareceu com Santana. Em 1969, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Santana”, no qual tempera o rock com suingue e timbres latinos como ninguém. E ele continuou fazendo isso por toda a década de 70 e até hoje, moldando-se, em cada época, ao que era pop. Se ele não tivesse feito todas aquelas parcerias a partir de 1999, provavelmente ele entraria no ostracismo. Ele se moldou ao gosto das novas gerações – e ficou bom! Não é mais o Santana dos anos 70, tudo

Veja só: estava eu, outro dia, sentado no bar Veneno (lugar este que, por sinal, é bem popular entre os roqueiros da cidade – Ué, o que foi? Pelo menos esse termo é melhor que “a galera do rock”) conversando com um casal de amigos numa boa, tranquilamente. Estávamos tomando uma cerveja... Quando meu companheiro de mesa de bar daquela hora, o jornalista Pablo Habib’s, solta essa pérola: “Bem, tu sabes, né? O Santana ele criou o axé...”. Não agüentei: dei uma boa gargalhadas. Aquilo soou muito engraçado. Não sei se o álcool na minha cabeça fez isso ser mais engraçado do que realmente é... Não sei, quem sabe. Mas de qualquer forma, tal frase tem, de fato, um certo poder cômico – mas será que ela teria potencial para ser verdade?

Quando cheguei a minha casa comecei a pensar furiosamente nisso. “Tu só pode ‘tá de brincadeira, pô! Isso é molecagem”, refleti. Mas logo

me contra-argumentei: “mas tu por acaso conhece outro que pela primeira vez misturou tambores com guitarra

sem ser o Santana?” Bom, é nessa hora que eu caio em mim: lembro-me que Richie Valens e Daniel Flores (ou Chuck Rio), oficialmente, foram os primeiros a incutir influências latinas no rock, ou melhor, no rock’n roll. Richie Valens foi o verdadeiro pioneiro,

com aquela famosa releitura de “La Bamba”, uma música do folclore mexicano. No entanto, ele não investiu mais nisso. A maioria gritante

de suas músicas (e põe gritante nisso!) é apenas rock’n roll e vai na onda do Chuck Berry, do Elvis Presley, do Little Richard, do Bill Haley, etc. As pitadas um

pouco mais distribuídas de latinidade no repertório foram dadas por Chuck Rio, tido como o “Padrinho do latin rock” (vocês provavelmente devem conhecer “Tequila”, música

dele). Com relação às outras bandas de latin rock do final da década de 50 e do começo dos anos 60... Bom, havia aquelas que de latinidade só tinham as letras, como Los Teen Tops,

com, possivelmente, uma ou outra música que saía desse padrão, e outras com as quais a fusão com os ritmos latinos era mais explícita, como Los Blue Caps.

Mas vocês vão perguntar: o que diabos isso tem a ver com axé? Nada. A matéria-prima desse pessoal é o rock’n’roll. O axé tem influências latinas e africanas,

mas não é o estilo “wa bop a lu bop a lom bam boom” que se mistura com elas. É o pop/rock. Aí você me pergunta: “e por acaso o Santana faz pop/rock?” E eu digo: vamos com calma. Santana pode não ter sido o pioneiro da fusão “rock-ritmos latinos”, mas foi um dos que explorou mais intensamente essa mistura. O que antes se via um pouco com Chuck Rio e raríssimamente com Richie Valens, foi só o que apareceu com Santana. Em 1969, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Santana”, no qual tempera o rock com suingue e timbres latinos como ninguém. E ele continuou fazendo isso por toda a década de 70 e até hoje, moldando-se, em cada época, ao que era pop. Se ele não tivesse feito todas aquelas parcerias a partir de 1999, provavelmente ele entraria no ostracismo. Ele se moldou ao gosto das novas gerações – e ficou bom! Não é mais o Santana dos anos 70, tudo

bem, mas ele se moldou com bom gosto. A semelhança entre ele e o axé é justamente essa: Santana e as bandas de axé misturam ritmos afro-cubanos e instrumentos elétricos com uma proposta pop – o que os separa são os variados tipos de ritmos latinos que eles misturam e as diferentes propostas pop de cada artista para cada época e lugar.

Reconhecidamente, os precursores do axé são quatro pessoas: primeiramente Dodô e Osmar, que pegaram a idéia de tocar frevo com guitarras elétricas em cima de uma Fobica (um Ford 1929), nos anos 50, na cidade de Salvador, dando início ao que seria o trio elétrico; Morares Moreira, que teve a ideia de subir num trio elétrico (lugar destinado somente à musica instrumental) para cantar; e Luiz Caldas (do trio Tapajós), considerado de fato o pai do axé, que misturou o frevo elétrico com o ritmo ijexá, dando uma cara “baiana” a essa música pernambucana, em 1985. Tal resultado, chamado a princípio de fricote ou deboche, é considerado o marco zero do que viria a ser o axé music. Paralelo a isso, temos a formação dos blocos afro, como o Olodum e o Ilê Ayê, que tocavam (obviamente) ritmos africanos e brasileiros, que também entram na denominação axé.Tal termo, que é uma saudação religiosa corrente no meio musical de Salvador, vinda do candomblé e da umbanda, significa energia positiva. Foi anexado ao termo music pelo jornalista Hagamenon Brito, com intenção depreciativa, para rotular todo esse som dançante que vinha da capital soteropolitana. Na sua fase inicial,

com Luiz Caldas e Gerônimo, o estilo destoa significativamente do que entendemos como axé hoje. Entre o final dos anos 80 e começo da década de 90, com Ricardo Chaves, Netinho, da Banda Beijo, Chiclete com Banana entre outros,

essa música começa a ganhar mais a cara que possui hoje – e por isso muitos a odeiam. Nos 90, com É o Tchan e a Cia. Do Pagode, bunda e insinuações sexuais ganharam

tanto ou maior importância do que a própria música, que passa a ter uma veia mais pagodeira – e por isso muitos a odeiam ainda mais!

Nos anos 50, há o surgimento do trio elétrico em Salvador. Dodô e Osmar são a dupla que iniciou a ideia de tocar com guitarras o frevo pernambucano dentro

de um automóvel em movimento (no início um Ford 1929), com um numeroso público em volta

curtindo o som. Mais tarde, chamam um terceiro músico, Temístocles Aragão, dando origem ao nome trio elétrico. É importante frisar que a dupla tocava com um protótipo de guitarra, a chamada guitarra baiana

(ou pau elétrico/ cavaquinho elétrico). No entanto, Dodô, Osmar e

Temístocles faziam seu show, em um ambiente apertado, sem

muito acompanhamento.

A união do aparato instrumental afro-

caribenho

Concluindo: no que tange à fusão

“guitarra-ritmo latino”, Dodô e Osmar são os pais, não há como negar. Porém, a junção

de “tambores e guitarras” já veio com Santana, coisa que só se deu no axé nos 80. Não se toca frevo com instrumentos afro-cubanos. A receita

para se fazer axé não é a mesma que a do Santana, claro, mas há um padrão: ritmos latinos e africanos

junto com teclados, guitarras e contrabaixos elétricos – o direcionamento deste padrão é que faz toda a

diferença.

(timbales, c o n g a s , bongô, cowbells e maracás) com guitarras e contrabaixos elétricos juntamente com caixas de som, em um palco, lança mão de uma estética visual não alcançada por Dodô e Osmar nos anos 50. Os trios elétricos ao longo dos anos 60 vão evoluir, dando lugar aos tradicionais caminhões. Mas, mesmo assim, isso não significa que esta lógica visual começou a partir daí. Isso só vai se dar depois de Luiz Caldas, quando o axé começa de fato sua gestação.

Santana nunca tocou em um trio elétrico (pelo menos até onde eu sei), mas o caráter visual da conjuntura de seus músicos reunidos se assemelha bastante a uma banda de axé. Ou será que são as bandas de

a x é