São Paulo 2013 - perse.com.br · todas utilizamos dessa energia básica e fundamental, ... Ou que...

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3 Primeira Edição São Paulo 2013

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Primeira Edição

São Paulo 2013

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Dedico este livro à Cidade (feminina) de Vitória

(mulher) que há mais de vinte e cinco anos me

acolhe (maternalmente), envolvidos que somos

pelos braços de mar que a circundam, delineando as

suas curvas e reentrâncias, enfeitada por outras

tantas ilhas menores (meninas) e inúmeras

embarcações (sempre no feminino, como assim

denominam os anglo-saxões aos seus navios e

barcos).

A esta bela Cidade os meus versos amorosos e

sensuais, que falam de experimentações sensoriais

no campo da afetividade, sendo algumas vivenciadas

ou lidas ou escutadas, outras tantas sonhadas. Em

todas utilizamos dessa energia básica e fundamental,

criadora e criativa, apaixonante e apaixonada,

responsável por tudo que há de transformador e

belo no mundo.

André da Gama

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Poemeu para um amortal

(do fruto da mandrágora)

Enquanto o mundo se movimenta inseguro, Amo-te, no cais deste porto seguro,

Em que por vezes nos encontramos.

Enquanto é sutil e perigosa a malha do poder,

Amo-te até não mais poder, neste nascer Do sol, sincero e puro, no qual viajamos.

Amo tudo que de ti parte - amo a arte -.

Sim, amo a arte de fazer contigo tudo.

Amo esse momento que nos põe no mundo

- elétricos movimentos na manhã que se inicia –

Eterna vida. Etéreo dia.

Amo esse lago...; nesse aconchego nado

Enquanto mergulhamos neste fundo único.

Alucinado delírio...; mar bravio, e profundo.

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Na forma louca de beijarmos, nossas bocas...

Na voz rouca no ouvido sonso,

Gemendo um fim pra essa viagem duradoura Que é longa, e pouca, perto do breve sono.

Desses corpos sem peso, quase adormecidos,

Resta um movimento, leve, imperceptível

Como a dança das nuvens.

Dos flocos de ar, na mágica dos pelos, surgem Pequenos pássaros a nos cobrir com véus azuis;

Dentro da tenda corre um rio com nosso cheiro, Lá fora passeiam alguns camelos

No deserto de áureas areias de movimentos sutis.

Se, por acaso, acordo em sobressalto E vejo esse sonho lá do alto,

Impondo-lhe distância;

Sinto-me criança e rio: Do sonho, do cio, do desafio

De descrever lembranças.

(em 1984, sobre panfletos do Diretas-Já)

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Poemeu para um amortal

(livre, leve e solta)

Ser como um vento, cérebro adentro, A lhe refrescar o pensamento.

Um pássaro pequenino e matreiro

A sobrevoar seu corpo inteiro: Vales e matas densas – bosques;

Ou que eu me enrosque feito trepadeira,

Seu corpo inteiro, que eu cheiro e que cheire A seixo novo de jardim.

Vem até mim como queira

Mas, vem inteira,

Que eu te quero assim: Livre, leve e solta,

Louca, por uns instantes, num desfecho

Desse ato-ação circunspecto Na celebração prenhe de nosso sexo.

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Poemeu para um amortal

(ruborizada)

Nem sei se dói

Nem sei se arde

Só sei que corta E que me parte,

Deixando à flor...

Existe em mim Existe em ti

Ruborizando

Todas as faces Amor.

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Poemeu para um amortal

(tesa e acesa)

Salga as algas do meu totem. Escorrem Lágrimas densas e multiformes. Saliva

A carne morna e sente, entre os dentes, O rosa, quente, que faz que explode; enche

O que é justo e justo, justamente.

E o que engulo é céu, e no céu da boca passa A escorrer; arregaça até não mais poder,

Fazendo graça da carcaça que treme

Constantemente, e mente a mente, e iça Aos céus, espreguiçando, ao ar se elevando

E negando todas as leis da física. E da meta... E da coragem de ser sutil; enquanto arde,

Revesa. Enquanto parte, aproxima. Em cima

Enquanto embaixo, cachos de cabelo, cheiro. Entanto pelos, seixos que os ventos trazem,

Circundam todos os sentidos atentos.

Tensos, os movimentos interagem e casam Os movimentos nos movimentos.

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