Domingo, 23 de Junho de 2013 Nº 108 SÉRIE III...

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SEKE IA BINDO | Muanga tinha o poder da Lua sobre as colinas do Bailundo e o calor do Sol que rachava rochedos nas monta- nhas. Era um homem pacífico e traba- lhador, mas escolheu ser solitário. A sua família era o mundo, as plantas dos vales e das montanhas, os animais dos matagais. E sentia-se tudo: árvore e trepadeira, pássaro cantor e rio, olongo à solta nos vales verdejantes. E também era a palavra que amava ou arruinava. Quando o criticavam na aldeia por não constituir família, ele apontava para o céu e a terra, para cada rosto iluminado pelos raios de sol ou as chamas da fogueira e dizia: - A minha família está aqui e além, até onde alcança a minha vista e à dis- tância do fim do mundo. Se lhe diziam palavras ásperas, ofensivas, ele respondia com um sor- riso de bonomia: - Que o vosso falar seja pacífico, temperado com sal! U popi wene ukale l’ombembwa, usingiwe l’omongwa! As suas palavras encerravam o enigma dos ausentes mas também a doçura dos corações que amam. Muanga era incompreendido. Al- guns insinuavam que o viram dançar em cima das águas do rio. Ou viram o seu vulto trepar ao alto das árvores, al- ta madrugada, para conviver com as almas penadas. O mais velho dos velhos insinuou que Muanga vivia só porque tinha apoios poderosos: - Okassi l’esinde lyae kandi l’ova- va! Quem tem o seu pedaço de terra não vai por água abaixo. Quem tem bom padrinho não morre escravo. Na sua sabedoria, Muanga continuava a trilhar o caminho da bondade e dava amizade a todos. Quando uma cabra tinha um parto difícil, ele ajudava o vizinho. Se as colheitas eram abun- dantes, ele ajudava a colher sem olhar a quem. Estava sempre disponível porque o seu compromisso era com todos. Toda a aldeia era a sua família. Apesar da sua bondade, os vizinhos faltavam-lhe ao respeito falando e mur- murando sobre a sua vida, mas pelas costas. Alguns fechavam a porta quan- do ele passava. Nunca recebeu nada de ninguém, apesar de dar tudo. Um dia cansou-se de tanta hostili- dade e procurou um recanto na curva do rio, onde as plantações cresciam depressa e os frutos se multiplica- vam. Ergueu ali a sua cubata e evita- va ir à aldeia. A sua solidão um dia foi perturbada. A chuva nesse ano era tanta que alagou as lavras e apodre- ceu as plantas. Não havia comida e um bago de milho passou a valer mais do que a vida. Muanga tinha construído o seu celeiro no alto de uma colina e como era um homem só, tinha muito milho para o pirão. Com as ratoeiras apanhava peixe e a fome nunca chegou ao seu recanto. As mulheres da aldeia andavam à procura de comida para dar aos filhos e subitamente encontraram o celeiro de Muanga. Encheram as quindas com espigas de milho e soltaram cân- ticos de agradecimento a quem lhes pôs na mesa aqueles manjares. - Esse é o meu milho, fruto do meu trabalho. Como não tenho filhos eu dou-vos as espigas. Mas não agrade- çam a nenhum deus. É a mim que têm de agradecer! Ouvidas estas palavras, as mulheres soltaram uma grande gritaria. Os ho- mens da aldeia ouviram os gritos e acorreram à colina onde Muanga ti- nha o seu celeiro. O eremita olhou to- dos de frente, com dignidade, e disse: - Este milho que levais é meu e foi plantado, cultivado e colhido com o meu suor. Não é uma oferta dos deu- ses. Mas podeis levá-lo para matar a fome aos vossos filhos. Estas palavras foram ditas com tal rispidez que tiveram o efeito de pe- dras lançadas ao rosto dos que lhe roubaram o celeiro. Fez-se um breve silêncio mas de seguida, da multidão saiu um clamor: - Maldito sejas, homem daninho! Muanga morreu amaldiçoado e odiado por todos. Mwanga wafa wa- singaliwa, wasuvukua l’omanu vosi. Mas antes de soltar o último sus- piro ele também amaldiçoou os la- drões do seu suor. E os que foram amaldiçoados por ele, arruinaram-se para todo o sempre: ava vasingaliwa l’ahe vañoleha! CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS A última palavra de Muanga arruinou os inimigos PROVÉRBIO VAMOS COLORIR ADIVINHAS Soluções: 1. Alma; 2. Amora; 3. Arado; 4. Baleia; 5. Bengala Cacimbo convida ao desporto Eu gosto muito do tempo do Cacimbo. Não temos problemas de inundações, as estradas não ficam instransitáveis e o tempo per- mite fazer desporto. Eu gosto muito de correr com os meus ami- gos quando vamos para a escola. E aos sábados e domingos jogamos futebol horas sem parar. O tempo fresco convida a fazer desporto. E na nossa escola nova temos um campo multiusos onde até podemos jogar basquete- bol que é o desporto que eu mais aprecio. O meu clube é a Se- lecção Nacional, que já ganhou dez vezes o campeonato africano. E agora vai à Costa do Marfim tentar ganhar mais um capeonato. Mas se não ganhar, paciência, já tivemos muitas ale- grias e os nossos jogadores são os melhores do mundo. O nosso professor disse que durante o Cacimbo é bom fazer desporto, mas devemos ter cuidado porque podemos apanhar doenças respiratórias e gripes. Quando acabamos de fazer des- porto devemos tomar banho e depois vestir uma roupa quente para não ficarmos doentes. Os desportistas gostam do Cacimbo porque correm melhor e até apetece jogar de manhã à noite. QUITÉRIA AMBRÓSIO|12 ANOS| INGOMBOTA 1. Tu andaste, eu andei, tu correste, eu corri, tu comeste e be- beste; e eu não comi nem bebi, e vou dar conta de ti. 2. Verde nasceu, deita sangue sem ter dor, faz três mudanças no ano sem nenhuma ser de amor. 3. Reluz como prata e prata não é; fossa como porco mas tem só um pé? 4. Minha boca é grande, Cabem lá navios, Eu ando no mar, Não caibo nos rios. 5. Que é que no monte se cria e vem para a vila dar senhoria? «As lágrimas que descem pelo teu rosto não tiram a tua visão. Domingo, 23 de Junho de 2013 Nº 108 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER Cartas dos Amiguinhos AOs crustáceos são artrópodes que possuem três ou mais pares de pernas e têm o corpo recoberto por uma capa dura. No entanto, diferem uns dos outros pelo número de antenas, dois pares, e pela respiração. Em geral respiram por brânquias (nome do aparelho respi- ratório de animais aquáticos) localizadas nas patas. AO sangue é movimentado na cavidade central do corpo por um coração rudimentar, o seu sistema nervoso central é divi- dido em sensorial e motor, sendo os órgãos controlados por um sistema nervoso involuntário. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Meninos é importante saber que o futuro da Nação são vocês. Também é preciso saber que não há futuro se não houver pes- soas formadas. Quer dizer que o futuro são todas as crianças de Angola, que devem estudar e ler muito para adquirirem conheci- mentos científicos, sociais e cul- turais, não só do vosso país co- mo do mundo inteiro, porque quem lê é culto. Quem lê tem vi- são e pensa grande. Quem não lê é escravo de quem lê. Se queres ser alguém amanhã é necessário preparares-te ho- je, e isso começa por estudares e leres muito. CASIMIRO PEDRO

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SEKE IA BINDO |

Muanga tinha o poder da Lua sobreas colinas do Bailundo e o calor doSol que rachava rochedos nas monta-nhas. Era um homem pacífico e traba-lhador, mas escolheu ser solitário. Asua família era o mundo, as plantasdos vales e das montanhas, os animaisdos matagais. E sentia-se tudo: árvoree trepadeira, pássaro cantor e rio,olongo à solta nos vales verdejantes.E também era a palavra que amava ouarruinava. Quando o criticavam na aldeia por

não constituir família, ele apontavapara o céu e a terra, para cada rostoiluminado pelos raios de sol ou aschamas da fogueira e dizia:- A minha família está aqui e além,

até onde alcança a minha vista e à dis-tância do fim do mundo. Se lhe diziam palavras ásperas,

ofensivas, ele respondia com um sor-riso de bonomia:- Que o vosso falar seja pacífico,

temperado com sal! U popi wene ukalel’ombembwa, usingiwe l’omongwa!As suas palavras encerravam o

enigma dos ausentes mas também adoçura dos corações que amam.Muanga era incompreendido. Al-

guns insinuavam que o viram dançarem cima das águas do rio. Ou viram oseu vulto trepar ao alto das árvores, al-ta madrugada, para conviver com asalmas penadas. O mais velho dos velhos insinuou

que Muanga vivia só porque tinhaapoios poderosos:-Okassi l’esinde lyae kandi l’ova-

va! Quem tem o seu pedaço de terranão vai por água abaixo. Quem tembom padrinho não morre escravo. Nasua sabedoria, Muanga continuava atrilhar o caminho da bondade e davaamizade a todos. Quando uma cabratinha um parto difícil, ele ajudava ovizinho. Se as colheitas eram abun-dantes, ele ajudava a colher sem olhar

a quem. Estava sempre disponívelporque o seu compromisso era comtodos. Toda a aldeia era a sua família. Apesar da sua bondade, os vizinhos

faltavam-lhe ao respeito falando e mur-murando sobre a sua vida, mas pelascostas. Alguns fechavam a porta quan-do ele passava. Nunca recebeu nada deninguém, apesar de dar tudo.Um dia cansou-se de tanta hostili-

dade e procurou um recanto na curvado rio, onde as plantações cresciamdepressa e os frutos se multiplica-vam. Ergueu ali a sua cubata e evita-va ir à aldeia. A sua solidão um dia foiperturbada. A chuva nesse ano eratanta que alagou as lavras e apodre-ceu as plantas. Não havia comida eum bago de milho passou a valermais do que a vida. Muanga tinhaconstruído o seu celeiro no alto deuma colina e como era um homem só,tinha muito milho para o pirão. Comas ratoeiras apanhava peixe e a fomenunca chegou ao seu recanto.As mulheres da aldeia andavam à

procura de comida para dar aos filhose subitamente encontraram o celeirode Muanga. Encheram as quindascom espigas de milho e soltaram cân-ticos de agradecimento a quem lhespôs na mesa aqueles manjares.

- Esse é o meu milho, fruto do meutrabalho. Como não tenho filhos eudou-vos as espigas. Mas não agrade-çam a nenhum deus. É a mim quetêm de agradecer!Ouvidas estas palavras, as mulheres

soltaram uma grande gritaria. Os ho-mens da aldeia ouviram os gritos eacorreram à colina onde Muanga ti-nha o seu celeiro. O eremita olhou to-dos de frente, com dignidade, e disse:- Este milho que levais é meu e foi

plantado, cultivado e colhido com omeu suor. Não é uma oferta dos deu-ses. Mas podeis levá-lo para matar afome aos vossos filhos.Estas palavras foram ditas com tal

rispidez que tiveram o efeito de pe-dras lançadas ao rosto dos que lheroubaram o celeiro. Fez-se um brevesilêncio mas de seguida, da multidãosaiu um clamor:- Maldito sejas, homem daninho!Muanga morreu amaldiçoado e

odiado por todos. Mwanga wafa wa-singaliwa, wasuvukua l’omanu vosi. Mas antes de soltar o último sus-

piro ele também amaldiçoou os la-drões do seu suor. E os que foramamaldiçoados por ele, arruinaram-separa todo o sempre: ava vasingaliwal’ahe vañoleha!

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOSA última palavra de Muanga arruinou os inimigos

PROVÉRBIO

VAMOS COLORIR

ADIVINHAS

Soluções:1.Alma; 2. Amora; 3. Arado; 4. Baleia; 5. Bengala

Cacimbo convida ao desportoEu gosto muito do tempo do Cacimbo. Não temos problemas deinundações, as estradas não ficam instransitáveis e o tempo per-mite fazer desporto. Eu gosto muito de correr com os meus ami-gos quando vamos para a escola.E aos sábados e domingos jogamos futebol horas sem parar. Otempo fresco convida a fazer desporto. E na nossa escola novatemos um campo multiusos onde até podemos jogar basquete-bol que é o desporto que eu mais aprecio. O meu clube é a Se-lecção Nacional, que já ganhou dez vezes o campeonatoafricano. E agora vai à Costa do Marfim tentar ganhar mais umcapeonato. Mas se não ganhar, paciência, já tivemos muitas ale-grias e os nossos jogadores são os melhores do mundo.O nosso professor disse que durante o Cacimbo é bom fazerdesporto, mas devemos ter cuidado porque podemos apanhardoenças respiratórias e gripes. Quando acabamos de fazer des-porto devemos tomar banho e depois vestir uma roupa quentepara não ficarmos doentes. Os desportistas gostam do Cacimbo porque correm melhor eaté apetece jogar de manhã à noite.

QUITÉRIA AMBRÓSIO|12 ANOS| INGOMBOTA

1. Tu andaste, eu andei, tu correste, eu corri, tu comeste e be-beste; e eu não comi nem bebi, e vou dar conta de ti.2. Verde nasceu, deita sangue sem ter dor, faz três mudançasno ano sem nenhuma ser de amor.3. Reluz como prata e prata não é; fossa como porco mas tem sóum pé?4. Minha boca é grande, Cabem lá navios, Eu ando no mar, Nãocaibo nos rios.5. Que é que no monte se cria e vem para a vila dar senhoria?

«As lágrimas que descem peloteu rosto não tiram a tua visão.

Domingo, 23 de Junho de 2013Nº 108 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

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RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCartas dos Amiguinhos

AOs crustáceos são artrópodes que possuem três ou maispares de pernas e têm o corpo recoberto por uma capa dura.No entanto, diferem uns dos outros pelo número de antenas,dois pares, e pela respiração. Em geral respiram por brânquias (nome do aparelho respi-ratório de animais aquáticos) localizadas nas patas.

AO sangue é movimentado na cavidade central do corpo porum coração rudimentar, o seu sistema nervoso central é divi-dido em sensorial e motor, sendo os órgãos controlados porum sistema nervoso involuntário.

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Meninos é importante saber queo futuro da Nação são vocês.Também é preciso saber quenão há futuro se não houver pes-soas formadas. Quer dizer que ofuturo são todas as crianças deAngola, que devem estudar e lermuito para adquirirem conheci-mentos científicos, sociais e cul-turais, não só do vosso país co-mo do mundo inteiro, porquequem lê é culto. Quem lê tem vi-são e pensa grande. Quem nãolê é escravo de quem lê.Se queres ser alguém amanhãé necessário preparares-te ho-je, e isso começa por estudarese leres muito.

CASIMIRO PEDRO