SÁBADO 25 OUTUBRO 2008 - WordPress.com · ainda têm uma ideia errada do karaté, não todas, mas...

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DV – Qual a dificuldade que encontra para conseguir divulgar e cativar praticantes para a mo- dalidade? PV – Bem, a mentalidade das pessoas é uma das dificuldades, ou seja, o futebol continua a ser visto como o desporto de eleição. Todos os miúdos querem ser um Cristiano Ronaldo. O futebol é in- clusive visto como carreira. É pre- ciso abrir as mentes e apostar em outras modalidades. As pessoas ainda têm uma ideia errada do karaté, não todas, mas ainda exis- tem algumas que o vêem como algo violento, em que as pessoas partem coisas, batem fortemente nos outros… e não tem nada a ver com isso. O karaté sente, no fun- do, as mesmas dificuldades que os outros desportos, a falta de pes- soas interessadas, com tempo li- vre e dedicação, empenho para investirem na modalidade. DV – Que conselhos dá a um jovem que queira iniciar-se no karaté? PV - Aconselho a em primeiro lugar terem uma mente aberta para a prática de uma arte marci- al e depois a irem ver uma aula, uma demonstração, para verificar se gostam e se acham que teriam aptidão para pratica- rem. Não se sentirem levados a praticá-la porque viram um fil- me ou um jogo, algo espectacu- lar, porque é preciso ter em aten- ção os efeitos especiais. Alguns dão uma ideia errada com o ex- cesso de violência, os saltos que são absolutamente surreais. É uma boa modalidade para as cri- anças. Ensina a terem autocon- trolo, concentração, respeito pelo próximo, capacidade de interagir com outros além de trabalhar o corpo. DV – Qual a sua opinião sobre a forma como a sociedade encara os praticantes de artes marciais? PV – Embora o karaté seja vis- to como uma arte marcial, a soci- edade nunca rotulou os seus adeptos como maus, violentos, sem regras… A sociedade vê as pessoas que praticam desportos de combate como o karaté, o ta- ekwondo, judo… desportos que exigem contacto, pela imagem que os seus praticantes passam da modalidade. Tudo depende do ensino que é dado por parte do instrutor e de como ele é rece- bido pelo praticante. Sim, costu- mam existir aquelas brincadeiras quando encontramos conheci- dos em que dizem para ter cuida- do porque é mau e bate (risos), mas são isso mesmo, brincadei- ras. Nos países em que estes des- portos já fazem parte da educa- ção das crianças, como na China, no Japão, Coreia, sociedades que já têm uma abertura grande para a prática de artes marciais, não existe este sentimento. O que eu e outros colegas estamos a tentar implementar é a inclusão deste desporto nas escolas, desde jar- dins-de-infância a escolas primá- rias para fomentar a adesão. DV – Em termos de apoios pa- ra as idas às competições, acha que ainda se verificam muitas fa- lhas nesse campo? PV – Quem pratica tenta ir às competições, porque existem muitas quer organizadas pela Fe- deração, quer pelas associações em todo o mundo. A falta de apoios para ida às competições é um entrave grande sem dúvida. A aposta continua a ir para des- portos considerados com mais visibilidade mas as pessoas es- quecem-se de que nós também temos e disponibilizamos essa vi- sibilidade. O karaté está a abrir-se para o mundo, muito pela dis- cussão em se inserir nas competi- ções olímpicas e por estas com- petições se disputarem em todo o mundo. Claro está, é preciso também apelar à boa vontade das pessoas, das empresas e enti- dades que podem dar o seu con- tributo e terem dividendos ao ajudarem. DV – Quais os seus objectivos para o futuro no karaté? PV – Principalmente passam pela formação com os meus alu- nos. A partir do momento em que começamos a dar aulas e te- mos clubes não podemos dar tanta dedicação à competição. Se fizermos isso perdemos o ritmo das aulas e isso eu não quero. Neste momento estou numa fase em que faço competição por ‘carolice’, isto é, se me apetecer e sentir preparado, vou. Para o ano a competição é na África do Sul e se existirem con- dições para ir, irei mas agora penso nos meus alunos. Preten- do continuar a desenvolver o ka- raté em Gouveia e Mangualde, não deixar a modalidade morrer, continuar a formar pessoas e tentar alargar o leque aos jardins- de-infância e escolas primárias. Na Guarda já estamos com o projecto a funcionar uma vez por semana com 4 turmas de 20 minutos cada uma. Um outro projecto que também temos em mente e pretendemos imple- mentar na Guarda, é trabalhar com crianças deficientes, por exemplo, portadoras de trisso- mia 21. Resumindo, os projectos passam por continuar na forma- ção, insistir na divulgação e nos espaços, melhorá-los ainda mais para cativar mais alunos. Gosta- va também de criar algo meu pa- ra alargar o leque de ofertas e de horários. V-13 25 OUTUBRO 2008 SÁBADO A foto de família do Iº Estagio de Karaté em Mangualde A equipa do distrito da Guarda que foi a Itália A Selecção Nacional de Karaté Portugal Shotokan Pedro Veloso com o seu Mestre, César Olival

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DDVV –– QQuuaall aa ddiiffiiccuullddaaddee qquueeeennccoonnttrraa ppaarraa ccoonnsseegguuiirr ddiivvuullggaarree ccaattiivvaarr pprraattiiccaanntteess ppaarraa aa mmoo--ddaalliiddaaddee??

PPVV –– Bem, a mentalidade daspessoas é uma das dificuldades,ou seja, o futebol continua a servisto como o desporto de eleição.Todos os miúdos querem ser umCristiano Ronaldo. O futebol é in-clusive visto como carreira. É pre-ciso abrir as mentes e apostar emoutras modalidades. As pessoasainda têm uma ideia errada dokaraté, não todas, mas ainda exis-tem algumas que o vêem comoalgo violento, em que as pessoaspartem coisas, batem fortemente

nos outros… e não tem nada a vercom isso. O karaté sente, no fun-do, as mesmas dificuldades queos outros desportos, a falta de pes-soas interessadas, com tempo li-vre e dedicação, empenho parainvestirem na modalidade.

DDVV –– QQuuee ccoonnsseellhhooss ddáá aa uummjjoovveemm qquuee qquueeiirraa iinniicciiaarr--ssee nnookkaarraattéé??

PPVV -- Aconselho a em primeirolugar terem uma mente abertapara a prática de uma arte marci-al e depois a irem ver uma aula,uma demonstração, paraverificar se gostam e se achamque teriam aptidão para pratica-

rem. Não se sentirem levados apraticá-la porque viram um fil-me ou um jogo, algo espectacu-lar, porque é preciso ter em aten-ção os efeitos especiais. Algunsdão uma ideia errada com o ex-cesso de violência, os saltos quesão absolutamente surreais. Éuma boa modalidade para as cri-anças. Ensina a terem autocon-trolo, concentração, respeito pelopróximo, capacidade de interagircom outros além de trabalhar ocorpo.

DDVV –– QQuuaall aa ssuuaa ooppiinniiããoo ssoobbrreeaa ffoorrmmaa ccoommoo aa ssoocciieeddaaddee eennccaarraaooss pprraattiiccaanntteess ddee aarrtteess mmaarrcciiaaiiss??

PPVV –– Embora o karaté seja vis-to como uma arte marcial, a soci-edade nunca rotulou os seusadeptos como maus, violentos,sem regras… A sociedade vê aspessoas que praticam desportosde combate como o karaté, o ta-ekwondo, judo… desportos queexigem contacto, pela imagemque os seus praticantes passamda modalidade. Tudo dependedo ensino que é dado por partedo instrutor e de como ele é rece-bido pelo praticante. Sim, costu-mam existir aquelas brincadeirasquando encontramos conheci-dos em que dizem para ter cuida-do porque é mau e bate (risos),

mas são isso mesmo, brincadei-ras. Nos países em que estes des-portos já fazem parte da educa-ção das crianças, como na China,no Japão, Coreia, sociedades quejá têm uma abertura grande paraa prática de artes marciais, nãoexiste este sentimento. O que eue outros colegas estamos a tentarimplementar é a inclusão destedesporto nas escolas, desde jar-dins-de-infância a escolas primá-rias para fomentar a adesão.

DDVV –– EEmm tteerrmmooss ddee aappooiiooss ppaa--rraa aass iiddaass ààss ccoommppeettiiççõõeess,, aacchhaaqquuee aaiinnddaa ssee vveerriiffiiccaamm mmuuiittaass ffaa--llhhaass nneessssee ccaammppoo??

PPVV –– Quem pratica tenta ir àscompetições, porque existemmuitas quer organizadas pela Fe-deração, quer pelas associaçõesem todo o mundo. A falta deapoios para ida às competições éum entrave grande sem dúvida.A aposta continua a ir para des-portos considerados com maisvisibilidade mas as pessoas es-quecem-se de que nós tambémtemos e disponibilizamos essa vi-sibilidade. O karaté está a abrir-separa o mundo, muito pela dis-cussão em se inserir nas competi-ções olímpicas e por estas com-petições se disputarem em todoo mundo. Claro está, é precisotambém apelar à boa vontadedas pessoas, das empresas e enti-dades que podem dar o seu con-tributo e terem dividendos aoajudarem.

DDVV –– QQuuaaiiss ooss sseeuuss oobbjjeeccttiivvoossppaarraa oo ffuuttuurroo nnoo kkaarraattéé??

PPVV –– Principalmente passampela formação com os meus alu-nos. A partir do momento emque começamos a dar aulas e te-mos clubes não podemos dartanta dedicação à competição. Sefizermos isso perdemos o ritmodas aulas e isso eu não quero.

Neste momento estou numafase em que faço competição por‘carolice’, isto é, se me apetecer esentir preparado, vou.

Para o ano a competição é naÁfrica do Sul e se existirem con-dições para ir, irei mas agorapenso nos meus alunos. Preten-do continuar a desenvolver o ka-raté em Gouveia e Mangualde,não deixar a modalidade morrer,continuar a formar pessoas etentar alargar o leque aos jardins-de-infância e escolas primárias.Na Guarda já estamos com oprojecto a funcionar uma vezpor semana com 4 turmas de 20minutos cada uma. Um outroprojecto que também temos emmente e pretendemos imple-mentar na Guarda, é trabalharcom crianças deficientes, porexemplo, portadoras de trisso-mia 21. Resumindo, os projectospassam por continuar na forma-ção, insistir na divulgação e nosespaços, melhorá-los ainda maispara cativar mais alunos. Gosta-va também de criar algo meu pa-ra alargar o leque de ofertas e dehorários.

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A foto de família do Iº Estagio de Karaté em Mangualde A equipa do distrito da Guarda que foi a Itália

A Selecção Nacional de Karaté Portugal Shotokan Pedro Veloso com o seu Mestre, César Olival