ISSN 2238-1589 MONITORAMENTO DOS PONTOS CRÍTICOS ... · toramento dos pontos críticos de...
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ISSN 2238-1589
RESU
MO1 Centro de Experimentação Animal, Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro, Brasil.
Autor para correspondência: Carlos Alberto Müller E-mail: [email protected]
Recebido para publicação: 02/03/2012Aceito para publicação: 30/05/2012
breve comuNIcação
MONITORAMENTO DOS PONTOS CRÍTICOS RELATIVOS À BIOSSEGURANÇA, BARREIRAS SANITÁRIAS E MACROAMBIENTE DO BIOTÉRIO DE EXPERIMENTAÇÃO DO PAVILHÃO LEÔNIDAS DEANE -
IOC/FIOCRUz
beatriz elise de andrade-Silva1; Jenif braga de Souza1; maria alice amaral Kuzel1; Giuliana viegas Schirato1; carlos alberto müller1
Objetivou-se com esse estudo a realização do monitoramento dos pontos críticos de biossegurança, macroambiente e das barreiras sanitárias existentes no Biotério de Experimentação do Pavilhão Leônidas Deane (IOC/Fiocruz). Em um primeiro momento
dos trabalhos desenvolvidos e os respectivos riscos envolvidos nessas atividades. Adi-cionalmente, os parâmetros de macroambiente foram padronizados e monitorados para a espécie utilizada (Mus musculus
de esterilização e descontaminação, através da autoclavação. Os camundongos foram mantidos em racks ventilados (com lotação máxima de 05 animais por microisolador). A temperatura da sala dos animais era 21 ± 1°C, com fotoperíodo controlado por timer (ciclo de 12h claro/escuro). As partes mecânicas da autoclave e dos racks ventilados foram revisados mensalmente por empresas especializadas e quando necessário, as peças eram prontamente substituídas. Naquele momento, os ruídos emitidos por tais
-tados, são de fundamental importância para propor medidas preventivas e corretivas
para as espécies utilizadas como modelos experimentais, é um dos quesitos que con-fere bem-estar aos animais, gerando, consequentemente, resultados experimentais
Palavras-chave: Biotério de Experimentação. Biossegurança. Macroambiente. Barreiras Sanitárias.
1 INTRODUÇÃO
Os animais de laboratório podem ser con-siderados como uma importante ferramenta à disposição da Ciência, sendo utilizados, direta
ou indiretamente, como reagentes biológicos nos mais diversos protocolos experimentais. À medida
animais de laboratório também se desenvolveu para atender às necessidades emergentes da pes-
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padronização das linhagens, dentro do princípio da reprodutibilidade experimental, ditado em meados dos anos 501.
Os animais devem ser alojados com o propósito
espécie e de minimizar os comportamentos indi-viduais de estresse. Os fatores ambientais podem
como também no resultado experimental. As rea-ções biológicas dos animais de laboratório estão correlacionadas às condições sanitárias, genéticas e aos fatores relacionados ao meio ambiente. A temperatura, a umidade, a taxa de troca do ar, a intensidade da iluminação e os níveis de ruído são
pesquisa ou ensaios experimentais2.A biossegurança em biotérios tem grande im-
portância, pois diferentemente de outras ativida-des, a presença do animal agrava os riscos em que os trabalhadores são expostos. A possibilidade de adquirir infecções nos biotérios é muito grande, pois os animais de laboratório, em algumas situ-ações, representam um risco para as pessoas que os manejam3.
Os aspectos de biossegurança relacionados às atividades com animais de laboratório são amplos, uma vez que, podem estar envolvidos diferentes riscos3. Todos os animais devem ser tratados como potencialmente infectados, uma vez que, mesmo que não o sejam, podem apresentar infecções sub-clínicas, assintomáticas. Além de possivelmente estarem carreando agentes patogênicos, inclusive zoonóticos4.
O sentido da segurança biológica é de reduzir a -
das formas de agentes biológicos nos mais diver-sos trabalhos - prevenindo a saída desses agentes e/ou animais de dentro dos sistemas de contenção utilizados como barreiras de segurança5.
Objetivou-se com esse estudo realizar o moni-toramento dos pontos críticos de biossegurança, do macroambiente e das barreiras sanitárias exis-
-lhão Leônidas Deane (Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz - IOC/Fiocruz, Rio de
Janeiro, Brasil), no período de setembro de 2011 a março de 2012.
2 MÉTODOS
-
período de setembro de 2011 a março de 2012, -
senvolvidas, tais como: recebimento de animais e insumos, processos de esterilização e descon-taminação, manejo dos animais e descarte de
na legislação e nas normativas vigentes, foram
críticos dos trabalhos rotineiramente efetuados5,6.Os parâmetros de macroambiente foram padro-
nizados para a espécie utilizada (Mus musculus), utilizando dados de Guidelines internacionais7,8.
da integridade das barreiras sanitárias de esterili-zação e descontaminação pelo processo de auto-clavação. Concomitantemente houve o registro de parâmetros que estivessem em não-conformidade.
das atividades realizadas e consequentemente a
rotineiramente efetuados.Todos os protocolos de pesquisa realizados
pelos pesquisadores no biotério foram aprova-dos pela Comissão de Ética no Uso de Animais
e de manejo também foram avaliados pela referida
4 RESUTADOS
Os camundongos foram mantidos em racks
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Beatriz Elise de Andrade-Silva; Jenif Braga de Souza; Maria Alice Amaral Kuzel; Giuliana Viegas Schirato; Carlos Alberto Müller
saída de ar, com lotação máxima de 05 animais
sala dos animais era mantido a temperatura de 21 ± 1ºC e o fotoperíodo controlado por tempori-zador (timer), onde se adotou ciclo claro-escuro de 12h. Mensalmente todas as partes mecânicas da autoclave eram revisadas por uma empresa especializada e quando necessário, as peças do
ações realizadas durante a manutenção preventiva -
mento; dos sensores indicadores e transmissão de temperatura e pressão; das conexões hidráulicas, do sistema de vácuo. Foram realizadas regulagens do pressiostato e dos circuitos elétricos e hidráuli-cos. Os racks ventilados foram submetidos à ma-nutenção por técnicos especializados, à rotina de
substituição semestral ou quando havia indicação de troca, alertada pela sinalização luminosa do próprio equipamento. Nesse momento, os ruídos
em todas as aferições não foram superiores a 60dB. O sistema de ar condicionado foi submetido à hi-
e higienizados, como também o funcionamento do equipamento foi checado.
Os potenciais riscos físicos, químicos, bioló-gicos e ergonômicos foram encontrados na rotina
que envolviam o manejo direto dos camundongos, como por exemplo, no momento do recebimento e das trocas das gaiolas, apresentaram os potenciais riscos ergonômicos; físicos, por mordeduras e biológicos, pela presença de agentes patogênicos experimentalmente inoculados nos animais e a presença de alérgenos (Figura 2). Já nas rotinas de desinfecção, esterilização, descontaminação e descarte de resíduos, os riscos envolvidos foram: físico, como o calor emitido pela autoclave; quí-mico, pela exposição de desinfetantes contendo compostos halogenados como hipoclorito de sódio e ergonômico (Tabela 1).
Figura 1. Rack ventilado para manutenção dos camundongos em experimento.
5 DISCUSSÃO
A experimentação animal é composta por instalações adequadas denominadas biotérios de experimentação que devem ser gerenciados em termos de licença de uso, aquisição de insumos e equipamentos, e capacitação de pessoal, fa-cilitando aos laboratórios o acesso a condições
Figura 2. Troca das gaiolas dos animais – risco físico, biológico e ergonômico.
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Tabela 1. Avaliação dos riscos das rotinas realizadas no Biotério do Pavilhão Leônidas Deane (IOC/FIOCRUZ).
atividade realizada
riscos de biossegurança
medidas de prevenção, controle ou minimização do risco
medidas gerais de prevenção, controle ou minimização do
risco
Troca das Gaiolas
Ergonômico
Bancadas de 90 cm de altura com cadeiras de assento regulável variando de 57 a 70 cm de altura;
carrinhos de transporte de material (97 x 75 x 45 cm). Utilização de cabine de segurança biológica com altura (da área de trabalho) de 75 cm (em
relação ao piso) com cadeiras de assento regulável Treinamento
periódico em práticas de biossegurança e de manejo para a espécie utilizada (Mus musculus)1.
Físico Utilização de luvas em látex de tamanho adequado ao tamanho da mão do operador.
Biológico
Realização das trocas das gaiolas em cabine de segurança biológica Classe II; utilização de EPIs
(luvas em látex, jaleco impermeável, touca, máscara respiradora PFF2, óculos de proteção).
Recebimento de animais
ErgonômicoUtilização de carrinhos de transporte de materiais
(97 x 75 x 45 cm), realização de trabalhos em bancadas de 90 cm de altura. Treinamento
periódico em práticas de biossegurança
e de manejo para a espécie utilizada1.
Físico Utilização de luvas em látex de tamanho adequado ao tamanho da mão do operador.
BiológicoRealização das trocas em cabine de segurança
Classe II; utilização de EPIs (luva de procedimento, touca, máscara PFF2, óculos de proteção).
Rotinas de desinfecção, esterilização,
descontaminação
Ergonômico Utilização de tanques com tamanho adequado (altura 90 cm), utilização de carrinho de transporte.
Treinamento periódico em práticas
de biossegurança e de manejo para a espécie utilizada1.
Físico
Utilização de luva nitrílica, protetor facial, máscara cirúrgica dupla, avental confeccionado em cloreto de polivinila (PVC). Adicionalmente, durante o manuseio
da autoclave, utilização de luvas para manipular materiais quentes (para manuseio da autoclave).
Biológico
Utilização de EPIs (luvas em látex touca, máscara PFF2, óculos de proteção), realização de esterilização de resíduos contaminados em
autoclave.
Descarte de resíduos
descontaminados
Ergonômico Utilização de carrinhos para transporte de resíduos. Treinamento periódico em práticas de
biossegurança e de manejo para a espécie
utilizada1.Físico
Utilização de luva nitrílica, protetor facial, máscara cirúrgica dupla, avental confeccionado em cloreto de
polivinila (PVC).
próprio setor. Além disso, participaram de treinamento/cursos de capacitação organizados pela Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) do Instituto Oswaldo Cruz (perfazendo a carga horária total de 180h).
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Beatriz Elise de Andrade-Silva; Jenif Braga de Souza; Maria Alice Amaral Kuzel; Giuliana Viegas Schirato; Carlos Alberto Müller
adequadas de qualidade, biossegurança e gestão ambiental, dispondo de equipamentos adequa-dos. Todos os biotérios devem dispor de sistema próprio de higienização e de paramentação dos
para materiais descontaminados e não descontami-nados, e procedimentos de controle de qualidade sanitária e bem-estar dos animais alojados em suas instalações9.
permite que o gestor do biotério avalie a necessi-dade de aprimoramento das barreiras e instalações existentes, aquisição de novos equipamentos de proteção individual/coletiva e treinamento da
-
e usuários dessas instalações, como também, os danos ambientais.
Segundo Soeiro e colaboradores10, a biosse-gurança deve sempre balizar as condições de
agentes biológicos, físicos, químicos, ergonômi-cos e mecânicos devem ser manipulados de forma segura. Quatro elementos deverão funcionar de maneira integrada: as condutas laboratoriais, os equipamentos de proteção (individual e coletivo),
evitar ou minimizar os riscos existentes em cada atividade realizada.
O macroambiente de um biotério tem um im-pacto importante sobre o animal de laboratório du-
-mente nos experimentos realizados11. Os animais são extremamente sensíveis a alterações externas
seu metabolismo para compensar as variações do ambiente. Desse modo, instalações apropriadas, equipamentos especializados e manutenção ade-quada à pessoal habilitado, são essenciais para o bem-estar do animal12.
Assim, o monitoramento das condições am-bientais necessárias à espécie escolhida para ser modelo experimental possui importância para que o animal não seja submetido a condições que
e consequentemente inviabilizem os resultados esperados. Tal monitoramento também possui relevância do ponto de vista ético uma vez que todas as situações que possam causar estresse ou sofrimento aos animais deverão ser totalmente evitadas.
5 CONCLUSÃO
No período de setembro de 2011 a março de 2012 foram monitorados os pontos críticos de biossegurança, do macroambiente e das barreiras
-
Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz - IOC/Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil), implantando-se:
- Introdução do uso obrigatório de equipamentos de proteção individual para minimizar riscos à
risco encontrado no biotério (ergonômico, físi-co, químico e biológico).
-tárias de esterilização e descontaminação pelo processo de autoclavação.
- Registro diário de temperatura, fotoperíodo e funcionamento do sistema de ar condicionado.
- Manutenção, por empresas especializadas, de caráter preditivo, preventivo e corretivo dos racks ventilados e da autoclave.
imediata de substituição por indicação lumi-nosa do próprio equipamento, evidenciando saturação dos mesmos.
- Aferição de níveis de ruídos na sala.
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ABSTRACT
THE MONITORING OF BIOSECURITy, SANITARy BARRIERS AND THE MACRO-ENVIRONMENTAL CRITICAL POINTS IN THE ANIMAL
EXPERIMENTATION FACILITIES OF THE LEÔNIDAS DEANE PAVILION - IOC/FIOCRUz
The aim of this study is to monitor the performance of Biosecurity, Macro-environment and the Sanitary Barriers that exist in the animal experimentation facilities of the Leônidas Deane
the macro-environment parameters were standardized and monitored for the species used (Mus musculusthe sanitary barriers as well as decontamination and sterilization by autoclaving. The mice were maintained in ventilated racks (with maximum capacity of 05 animals per microiso-lador). The animal room temperature was 21 ± 1°C with a time controlled photoperiod (12h cycle of light/dark). The mechanical parts of the autoclave and ventilated racks were reviewed monthly by specialized companies and when necessary, the parts were readily replaced. At this point, the noise emitted by such equipment were checked and found not
in the work routine are essential in order to propose preventive measures and corrective
being used as experimental models, is one of the requirements for the well-being of the animals, which consequently generates, reliable and reproducible experimental results.
Keywords: Animal Experimentation Facilities. Biosecurity. Macro-environment. Sanitary Barriers.
morfológicos e funcionais do epitélio respiratório superior de ratos (Rattus norvegicus) mantidos em diferentes sistemas de ventilação [dissertação].
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1996.3. Majerowicz J. Boas práticas em biotérios e biossegurança. Rio de Janeiro: Interciência; 2008.4. Andrade A. Segurança em biotério. In:
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9. Müller CA. Biossegurança na experimentação animal e na clínica
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REFERêNCIAS