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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA _______________________________________________________________

ROSEMARY AUGUSTA BOTTI LAZARO

A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SOCIOCOOPERATIVOS

NA ESCOLA

Londrina 2012

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ROSEMARY AUGUSTA BOTTI LAZARO

A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SOCIOCOOPERATIVOS

NA ESCOLA

Londrina 2012

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A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SOCIOCOOPERATIVOS NA ESCOLA

Autor: Rosemary Augusta Botti Lazaro1¹

Orientadora: Rejane Christine de Barros Palma2²

RESUMO Este artigo relata as experiências ocorridas no desenvolvimento da proposta de intervenção exigida como parte do Curso PDE da Universidade Estadual de Londrina e SEED, no ano de 2011, no Colégio Estadual Olavo Bilac, no município de Ibiporã. A proposta teve como objetivo o estudo acerca da compreensão do processo formativo das regras de convivência no desenvolvimento das relações que envolvem os indivíduos que estão na escola a fim de auxiliar os estudantes da 7ª série na compreensão das mesmas e na organização dos espaços escolares através de jogos em grupo. Este trabalho é de abordagem qualitativa, realizado por meio da pesquisa-ação. Como resultado pretende-se contribuir na reflexão sobre a relevância das regras e melhorar a convivência no ambiente escolar. As reflexões desenvolvidas neste trabalho objetivam, portanto, conscientizar os professores e alunos quanto à necessidade da cooperação e da compreensão das normas e regras. Palavras-Chave: Regras. Jogos. Cooperação. Sociedade. Escola. ABSTRACT This article reports the experiences that occurred in the implementation of the proposed intervention required as part of the PDE course at the University of Londrina and SEED, in 2011, in College Olavo Bilac, Ibiporã. The proposal aimed to study about the understanding of the formation process of the rules of coexistence in the development of relationships involving individuals who are in school to assist students in the 7th grade in the understanding of them and the organization of school spaces through group games. This work is conducted through a qualitative approach of action research. The considerations developed in this study aimed, therefore, educate teachers and students about the need for cooperation and understanding of standards and rules. As a result we intend to contribute to the reflection on the relevance of the rules and improve the relationship between the school environment. Keywords: Rules. Games. Cooperation. Society. School.

1 Professora de Educação Física do Colégio Estadual Olavo Bilac, de Ibiporã, participante do PDE. Especialista em Administração Pública e Gestão Universitária (UEL); Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional (UNOPAR).

2 Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Orientadora

do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.

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1 Introdução

Este artigo sob o título A Construção de Espaços Sociocooperativos

na Escola é resultado de uma pesquisa realizada como parte integrante do

Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado aos professores da rede

pública de ensino do Estado do Paraná.

A escolha pelo estudo realizado teve origem a partir do contato

cotidiano com professores e gestores das escolas da rede pública, em que se

observaram as queixas quanto ao mau comportamento e a dificuldade de ensinar,

frente à indisciplina e falta de interesse dos alunos.

Ao longo do tempo, a escola vem encontrando muitas dificuldades

para cumprir uma de suas tarefas que é a disseminação da cultura historicamente

construída e a formação intelectual e científica das crianças e adolescentes. Os

índices que avaliam a educação básica como IDEB, PROVA BRASIL, entre outros,

exibem resultados pouco satisfatórios relativos à maioria das escolas públicas

brasileiras, além de frequentemente serem exibidas na mídia reportagens abordando

a indisciplina presente no cotidiano das escolas.

Dentre as dificuldades que a escola pública enfrenta atualmente está

o fenômeno do fracasso escolar. Trata-se de um problema que acompanha a história

da escola e dentre as diferentes causas deste fracasso, a indisciplina tem

contribuído e se configurado como a grande vilã do trabalho pedagógico.

É impossível falar de indisciplina sem pensar em autoridade. E é

impossível falar de autoridade sem a constatação de que ela é algo que se constrói.

Ou seja, ter autoridade é muito diferente de ser autoritário. Dizer "não faça isso",

ameaçar e castigar são atitudes inúteis. Os alunos precisam aprender a noção de

limite e isso só é possível quando eles percebem que há direitos e deveres para

todos, sem exceção.

A questão da indisciplina pode ser um jeito de os alunos

expressarem que a sociedade mudou e que, hoje, as interações não funcionam mais

como o esperado, provavelmente, em decorrência da não discussão destas

mudanças. Por isso, é preciso que o aluno tenha experiências de vida social para

aprender a viver em grupo e ter a oportunidade de discutir seus problemas, de

compreender a necessidade das regras e do respeito ao outro, da cooperação para

o bem estar de todos como algo que organiza as relações e auxilia a convivência.

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Neste trabalho será abordado o tema indisciplina e a construção de

espaços sociocooperativos no ambiente escolar, através dos jogos em grupo,

considerando o conflito como uma situação promotora de desenvolvimento moral se,

aos sujeitos envolvidos, forem possibilitadas reflexão e tomada de consciência sobre

suas ações no mundo.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Compreendendo os Conflitos Interpessoais e o Reflexo Das Novas Demandas

Presentes no Cotidiano Escolar

Atualmente é comum os professores se queixarem sobre a

indisciplina dos alunos, que eles não respeitam o professor ou que seus pais não os

educam, ou ainda, que não cumprem as normas estabelecidas pelas escolas. Enfim,

uma série de reclamações sobre o comportamento inadequado dos alunos.

Diante destas queixas o que se pode observar é que apesar destas

relações conflituosas existirem há poucos momentos no ambiente escolar para

reflexões por parte dos gestores e professores na tentativa de buscar alternativas

para amenizar o problema, uma vez que nas escolas públicas nos defrontamos com

alunos de diferentes realidades sociais proporcionando um laboratório vivo de

convívio democrático.

O fato de os estudantes somente obedecerem às regras quando

“tem alguém vendo” deve ser um sinal de alerta para a escola que é preciso rever

essas normas, colocar o assunto em discussão e, juntos, reconstruir o conjunto de

normas que regularizarão a conduta de alunos e professores. Para que o aluno

respeite as normas é necessário que elas estejam internalizadas e para isso é

preciso que eles estejam convencidos da sua real necessidade para o bom

andamento do trabalho desenvolvido na escola.

Pensar as regras e a sua relação com a indisciplina na escola é

importante, na medida em que hoje vemos os alunos cumprindo as regras não de

forma autônoma, ou seja, pela compreensão da necessidade de sua existência, mas

sim pelo medo da punição.

As autoras Abramovay e Rua (2002) observaram existir nas escolas

regras aplicadas ao cotidiano escolar, que não são discutidas com os alunos e

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muitas vezes são impostas de modo diferente entre eles. Segundo as autoras os

alunos concordam que as regras internas das escolas são indispensáveis para a

constituição da ordem deste espaço, mas questionam a sua imposição de modo

autoritário. As autoras apontam que as regras que mais provocam reações nos

alunos são as que se relacionam com o horário das aulas, o uso do uniforme, a

identificação e as práticas proibidas ou permitidas no espaço escolar.

Os adolescentes, em geral, têm dificuldades para perceber a

importância das normas para organizar o convívio entre as pessoas em todos os

segmentos da sociedade.

Segundo Tognetta e Vinha (2007), existem nas escolas regras

negociáveis e não negociáveis. Normalmente, os professores das escolas acreditam

que qualquer norma relacionada a comportamento deve ser combinada, discutida,

negociada, que aquilo que o grupo decidiu deve ser aceito. Porém nem tudo se

discute. Há determinadas regras que não são negociáveis. Estas regras não podem

ferir as Leis, não se discute na escola se devemos ou não cumpri-las. Podem-se

discutir as razões, os princípios que as determinam, mas não o seu cumprimento. As

regras não negociáveis são apenas refletidas, não necessitam ser discutidas e

elaboradas por todos.

Já as regras negociáveis devem preservar e propiciar ao sujeito o

respeito por si próprio e pelo outro. Quando surgir uma necessidade, como conflitos

não solucionados ou insatisfações diante de determinados comportamentos elas

devem ser discutidas e negociadas. Assim, os alunos participam do processo de

elaboração das regras, não sendo somente aqueles que obedecem.

Aquino (1996) coloca que as práticas escolares são testemunhas

das transformações históricas e o seu perfil adquire diferentes contornos de acordo

com as contingências socioculturais. A disciplina, na “escola do passado”, era

resolvida na base do castigo ou da ameaça, gerando medo, raiva e submissão do

indivíduo pela coação.

De acordo com Aquino (1996), as várias mudanças no mundo e a

crescente democratização política do país geraram uma nova geração e, por

decorrência, temos um novo aluno no âmbito escolar, “um novo sujeito histórico”,

que responderá de modo diferente. Mas a questão é que, “[...] em certa medida,

guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e

temeroso” e por isso precisamos refletir sobre o assunto (AQUINO, 1996, p. 43).

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Para o autor, este novo perfil de aluno, “com outras demandas e

valores”, tem promovido um impacto na escola, uma vez que esta está despreparada

para conviver e adequar-se a tais mudanças. Isto pode promover a indisciplina, já

que, revela Aquino (1996, p. 45), o aluno não é o único responsável pelos conflitos

escolares, também a escola atual tem sido “[...] incapaz de administrar as novas

formas de existência social concreta, personificadas nas transformações do perfil de

sua clientela”.

Por outro lado, La Taille (1996) coloca que vários atos de indisciplina

podem ser frutos de interações nas quais as normas são impostas sem serem

discutidas, a fim de atingir comportamentos esperados pelo professor, é mais

cômodo para o professor dizer ao aluno que isto ou aquilo é proibido e ponto final,

do que por em discussão determinadas colocações feitas pelos alunos.

Esclarece o mesmo autor, que se tem ignorado um fator importante,

descoberto pela psicologia, que é a questão da motivação nas condutas humanas.

Os alunos, por considerarem certas aulas maçantes, entendem como perfeitamente

normal desertar delas, portanto, não é mais em nome de uma regra que se podem

exigir certos comportamentos dos alunos, mas sim pela procura impossível de

motivações (LA TAILLE, 1996).

Ainda é importante considerar a inversão de valores que

vivenciamos hoje, uma vez que, de um lado, a criança e os jovens ocupam lugar de

destaque e são reverenciados pelos adultos; por outro, os pais escondem seus

valores com medo de contaminar seus filhos e aceitam seus desejos para não

frustrá-los. Esta ausência de diálogo educativo acaba se repetindo também na

escola. Para agradar as crianças, a escola troca obras de artes por desenhos

animados, deixando o verdadeiro conhecimento de lado. A escola, que deve ser o

templo do saber, passa a ser o templo da juventude (LA TAILLE, 1996).

Por outro lado, La Taille (1996) destaca que, atualmente, não se

reverenciam mais o estudo e a instrução: os meios de comunicação tendem a

enaltecer o sucesso, o dinheiro, a beleza física em vez do conhecimento e do saber.

Muitas crianças e jovens não sentem orgulho de serem alunos, nem sentem

vergonha de nada saberem.

Frente ao individualismo, à competição e à inconstância das

relações, Nicolau et al. (2011) afirmam que “o interior da escola é marcado pelos

mesmos atos que estão presentes na sociedade”, e não poderia ser diferente,

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porque a escola é composta por indivíduos que formam a sociedade.

As autoras argumentam que os professores não estão preparados

para lidar com os conflitos existentes no interior das escolas. Este despreparo tem

gerado diferentes justificativas por parte de muitos deles, como afirmar que esta

tarefa não cabe à escola resolver, ou justificar que muitos problemas manifestados

na escola são oriundos de relações familiares. Existem ainda aqueles professores

que, ao tentarem resolver os conflitos existentes, acabam por encaminhá-los por

meio de lições moralizantes. E concluem: “O cotidiano tem mostrado que há

necessidade de aprendermos a resolver os conflitos que acontecem no interior das

escolas e que algo na estrutura curricular deve ser modificado para uma formação

mais humana.” (NICOLAU et al., 2011, p. 80).

Diante destes conflitos nas interações humanas, indagamos: Qual

seria o papel da escola na formação moral dos alunos?

A maioria dos educadores, por se sentir inseguros, não compreende

que todas estas situações podem gerar conflitos, e nem são interpretadas como algo

natural às relações, por provocarem sentimentos ruins e pela dificuldade em lidar

com o problema. Os educadores tentam conter ou evitá-los, tolhendo, dessa forma,

uma oportunidade ímpar de discussão, análise e aprendizado.

[...] professores se esquecem de que os conflitos interpessoais sempre estarão presentes na escola e, sendo assim, não podem ser encarados como ocorrências antinaturais ou atípicas, já que é irreal crer que raramente surgirão. Gasta-se uma grande energia para tentar evitá-los em vez de compreender com tranquilidade que essas desavenças sempre existirão e fazem parte das relações humanas, assim como harmonia não significa ausência de conflitos (TOGNETTA; VINHA, 2007, p. 40).

As autoras afirmam que a teoria construtivista explica o conflito

como uma das formas para o desenvolvimento dos indivíduos, como sujeitos sociais.

As discórdias, os desentendimentos são vistos como essenciais, já que o principal

objetivo não é a resolução do problema em si, mas a forma pela qual os problemas

serão enfrentados.

Na escola, os momentos de conflito são, na maioria das vezes, silenciados por ações de coação do professor. Na perspectiva teórica piagetiana, o conflito entre crianças institui um momento rico que não deve passar desapercebido pelo educador, pois é neste momento,

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no qual pontos de vista se encontram de forma divergente que é possível ampliar a consciência da criança quanto a olhares diferenciados sobre uma mesma situação. Visto sob esta perspectiva, o conflito experienciado por uma criança tem valor positivo na medida em que passa a ser fonte de vivência social com possibilidade de entendimento para a construção de interações voltadas ao respeito mútuo através da reflexão cotidiana (BIANCHINI; OLIVEIRA, 2008, p.4088).

Isto posto, entendemos que o conflito deve ser refletido, discutido e

não contido ou ignorado, agindo assim, criaremos espaços para que os indivíduos

possam analisar e refletir sobre suas ações e consequências geradas por elas.

Diante destes embates poderíamos indagar qual seria o papel da

escola na formação dos alunos? Devemos formar sujeitos para obedecer às regras

ou para compreendê-las em suas demandas? E ainda: como os sujeitos

desenvolvem a compreensão de uma regra?

Ao referir-se a obra de Piaget (1932-1965), sobre “O

desenvolvimento do juízo moral infantil”, Araújo (1996) aponta que o objetivo do

autor foi elucidar como o sujeito chega a respeitar a regra de modo consciente.

Segundo ele, Piaget pesquisou como a criança desenvolve o conhecimento e a

prática das regras em situações de jogos e constatou que essa relação inicia-se com

a fase da anomia (ausência total de regras), passando pela heteronomia (sabe da

existência das regras, mas quem determina o que deve fazer são os outros), em

direção à autonomia (sabe que existem regras para viver em sociedade, mas a fonte

das regras está nele próprio).

Piaget (1932-1965) conclui em sua pesquisa sobre o

desenvolvimento moral, que toda criança nasce na anomia, não se diferencia no

mundo, não percebe a existência das regras. A partir de sua interação com o mundo,

inicialmente com a família, pode começar a perceber a si mesma e aos outros e

também a existência de regras e normas que regulam essa interação. Percebe a

existência de regras sociais, mas acredita que quem sabe o que é certo e o que é

errado são os adultos, ou seja, as normas e deveres que a criança aceita nessa fase

não provém de sua consciência, mas de ordens vindas dos mais velhos. Este tipo de

ação, movida pelo outro (externo), Piaget denomina de heteronomia (ARAÚJO,

1996).

Na heteronomia obedecemos pelo medo à punição ou pelo interesse

nas vantagens a serem obtidas pessoalmente (MENIN, 2003).

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[...] e isso leva à compreensão da hetero-nomia como um estado em que a criança já percebe a existência das regras, mas sua fonte (de onde emana) é variada; ela sabe que existem coisas que devem ou não ser feitas, e quem as determina são os outros (AQUINO, 1996, p. 104).

Na moral heterônoma as crianças aceitam as regras por respeito

unilateral, elas consideram as regras imutáveis e sagradas. A regra imposta pelo

adulto permanece exterior a elas por isso é muito difícil de ser seguida pelas

crianças. A criança pode até saber a regra, mas na hora de cumpri-la ela faz do jeito

que ela quer. Imita a regra dos mais velhos, mas não consegue controlar seu

comportamento, como ela não consegue se colocar no lugar do outro para analisar a

situação, ela julga os outros pelas consequências de seus atos e não pelas suas

intenções. Ela acredita que a mentira menos má é a menos aparente; o roubo mais

grave é do objeto mais caro, ou seja, a intenção não desempenha nenhuma função,

no seu julgamento sobre o dano apresentado (MENIN, 2003).

Para chegar ao último nível do desenvolvimento moral, ou seja, para

chegar a desenvolver a autonomia moral, as crianças precisam ser incentivadas a

construir valores morais e tomar decisões por si próprias. Com a socialização, a

convivência com sujeitos da mesma idade, a criança entra em contato com um

mundo complexo e gradativamente vai saindo de seu egocentrismo. Ela se confronta

com pontos de vista de outros sujeitos com os quais convive, e através dessa

interação a criança constrói em seu interior, os valores morais pela necessidade de

cooperação e não simplesmente absorvendo-os do meio de modo passivo (PIAGET,

2003).

Menin (2003) considera que é quando resolvemos seguir regras,

normas ou leis por vontade própria, independente das consequências externas,

estaremos sendo autônomos. Na autonomia a obediência de uma regra se dá pela

compreensão e concordância com sua validade universal. Obedecemos porque

concordamos que os motivos para a ação poderiam tornar-se “leis universais” – ou

seja, seria um bem para todos.

A moral autônoma resulta na formação de indivíduos capazes de

construir regras, pois se consideram como iguais, e por isso se respeitam (respeito

mútuo), numa relação denominada por Piaget como cooperação.

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Cooperação, para Piaget, é operar com... É estabelecer trocas equilibradas com os outros, sejam estas trocas referentes a favores, informações materiais, influências etc. Muitas vezes, a cooperação quer dizer discussão e não acordo. Mas em uma discussão equilibrada de forma que cada pessoa possa colocar seus argumentos, rebater o dos outros, examinar suas posições e as dos outros, conhecer, considerar, negar ou afirmar outros pontos de vista que não só os próprios (MENIN, 2003, p. 51-52).

Para Piaget (2003), ser correto (moralmente falando), não depende

de quais regras são seguidas, mas dos princípios de sua obediência. Na visão

piagetiana, a educação moral ou educação de valores não poderia jamais se dar na

forma de imposição de valores, nem deixada à livre escolha de cada um. Se

quisermos educar para a autonomia não podermos agir por coação, ou seja, se

quisermos formar alunos como pessoas capazes de refletir criticamente sobre os

valores existentes é preciso que a escola crie situações em que as escolhas,

reflexões e críticas sejam solicitadas e possíveis de serem realizadas.

Araújo esclarece que na obra de Piaget há uma diferença entre

autonomia moral e anomia, pois muitos equívocos ocorrem por entendimentos que

definem a autonomia como deixar os alunos livres para decidir as regras de acordo

com suas ideias. À custa de desenvolver a autonomia nos alunos, a escola pode cair

no espontaneísmo, criando um ambiente em que cada um faz o que quer sem levar

em consideração o outro ou o grupo (ARAÚJO, 1996).

Na teoria Piagetiana, autonomia significa a capacidade de se

autogovernar, de pensar por si mesmo e decidir entre o certo e o errado na esfera

moral, levando em consideração todos os fatores relevantes, independentes de

recompensa ou punição (ARAÚJO, 2003).

Sobre este assunto Taille (1996) considera que o ideal das ações de

educação moral na escola seria reforçar e fazer com que o aluno reflita sobre o

sentimento de sua dignidade moral.

E para isto, somente resta à escola uma solução: lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos. Não há democracia se houver completo desprezo pela opinião pública (AQUINO, 1996, p. 23).

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Sendo assim, é preciso um novo olhar dos educadores sobre o

aluno e a sua formação, de modo a compreender a importância de discutir e refletir

junto com os educandos valores e regras na escola, a fim de promover a sua

autonomia moral e prepará-los para sua própria emancipação, como sujeitos que se

sentem participantes do contexto escolar. Para Piaget, isto só é possível se os

sujeitos interagirem por cooperação, como explicaremos a seguir.

2.2 Os Jogos em Grupo: uma Possibilidade para Lidar com Conflitos por Meio da

Cooperação

O jogo é uma atividade muito antiga e, como expressão humana,

revela desenvolvimento, aprendizagem, condutas presentes nas interações e

marcas de uma cultura. Desde as crianças e adolescentes até os adultos, o jogo

possibilita momentos de brincadeiras, desafios, disputa de conhecimentos, forças e

interesses, seja em casa, na comunidade ou na escola. Porém uma coisa é o jogo

no contexto da cultura com uma relação livre entre iguais, outra é quando utilizamos

o jogo no contexto educacional, porque, neste caso, o jogo tem como objetivo

principal o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos (MACEDO, 1994).

Macedo (1994) afirma que a discussão proporcionada pelos jogos

ultrapassa as experiências imediatas, já que, ao adquirir determinados

conhecimentos, os alunos conseguem transpô-los para outros contextos. Visto sob

esta perspectiva, nas situações que envolverem indisciplina e conflitos, os alunos

poderão utilizar novas condutas, inicialmente vivenciadas em situação de jogo.

Em síntese, a discussão desencadeada a partir de uma situação de jogo, mediada por um profissional, vai além da experiência e possibilita a transposição das aquisições para outros contextos. Isto significa considerar que as atitudes adquiridas no contexto de jogo tendem a tornar-se propriedade do aluno, podendo ser generalizadas para outros âmbitos, em especial, para as situações de sala de aula (MACEDO; PETTY; PASSOS, 2000, p. 23).

Como apontamos inicialmente, o trabalho com jogos promove,

facilita e enriquece processos de desenvolvimento e aprendizagens nos sujeitos,

uma vez que, por intermédio deles, são geradas situações-problema que resultam

em tomada de decisões. Por isso, é relevante considerar que, no caso da escola, a

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aprendizagem e desenvolvimento “não estão nos jogos em si, mas no que é

desencadeado a partir das intervenções e dos desafios propostos aos alunos.”

(MACEDO; PETTY; PASSOS, 2000, p. 22).

De acordo com Macedo, Petty e Passos (2000) os jogos também

proporcionam desafios, como a paciência: esperar a melhor oportunidade, aguardar

sua vez; assumir responsabilidades; desperta a criatividade; estimula a cooperação,

o depender do outro, compartilhar objetos e espaços comuns; trabalha com a

possibilidade de perda e demais frustrações. Além disto, o jogo favorece a

construção de conhecimento sobre a própria pessoa, ou seja, seu modo de agir e

pensar, “[...] sobre o próprio jogo (o que o caracteriza, como vencer), sobre as

relações sociais relativas ao jogar (tais como competir e cooperar) e, também, sobre

conteúdos (semelhantes a certos temas trabalhados no contexto escolar).”

(MACEDO; PETTY; PASSOS, 2000, p. 23-24).

Existem formas distintas de compor o número de participantes num

jogo. Podemos jogar individualmente ou jogar em grupo. No caso dos jogos em

grupo, Kamii e De Vries (1991) procuram defini-los como sendo àqueles que

possibilitam às crianças jogarem juntas, cooperarem, seguirem regras estabelecidas

por consenso, não enfatizando a vitória em si, mas o desenvolvimento do jogo. Nas

palavras das autoras:

Enquanto a possibilidade de competição é sempre importante nos jogos que descrevemos, a possibilidade de vencer não é essencial. [...] e, mesmo nos jogos com possibilidade de vitória, citamos muitos exemplos de como as crianças podem tirar proveito da competição sem tentar vencer (KAMII; De VRIES, 1991, p. 4).

Kamii e De Vries (1991) deixam claro que a definição de jogo em

grupo a que elas se referem é aquele em que as crianças jogam juntas de acordo

com uma regra estabelecida, proporcionando aos seus jogadores a possibilidade de

elaborar estratégias, de aceitarem suas consequências e, enfim, cooperarem.

Macedo, Petty e Passos (2000, p. 14) apontam que os jogos em

grupo existem há muito tempo e, com relação ao seu valor educacional, “[...] pode

ser bastante ampliado se pensarmos numa perspectiva piagetiana e, sob esse olhar,

constatamos o quanto os jogos contribuem para o desenvolvimento das crianças”,

uma vez que este tipo de jogo favorece a cooperação.

Mas o que é cooperar?

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Kamii e De Vries (1991, p. 21) definem cooperação, pautadas em

Piaget, como:

[...] algo diferente de seu significado costumeiro relacionado a consentimento. Quando nos dizem “sua cooperação será apreciada”, nós geralmente entendemos que nosso “consentimento” está sendo solicitado. Quando Piaget usa o termo “cooperação, quer dizer “co-operar” (com um hífen na palavra), “operar junto”, ou “negociar”, para chegar a um acordo que pareça adequado a todos os envolvidos.

A cooperação leva à descentração3, uma vez que, na cooperação, o

sujeito terá que “operar com” o colega, levando em conta mais de um ponto de vista.

No jogo, isto significa que as crianças poderão ser incentivadas a concordar e

discordar entre si sobre uma jogada, bem como a criticar as argumentações e

explicações dos outros; mediante esta interação, desenvolvem-se logicamente, visto

que poderão rever seus próprios pensamentos e levar em consideração o

pensamento do outro.

Os jogos com ênfase na cooperação podem ser uma possibilidade

de avanço diante do conflito e desenvolvimento de novos tipos de relações entre os

alunos. Este tipo de vivência proporciona ao sujeito levar estas experiências para

sua vida fora do contexto escolar, possibilitando a ele criar, ter um espírito para

enfrentar os conflitos com criatividade, ao mesmo tempo com compromisso e

responsabilidade (KAMII; De VRIES, 1991).

Uma das questões relacionadas aos conflitos presentes no jogo

pode ser a presença da competição. O que podemos pensar sobre isto nos jogos em

grupo? A competição deve ser eliminada ou não?

Para Lino de Macedo (1995, p. 9), a competição pode ser

compreendida de duas maneiras: primeiro a competição "caracteriza-se como uma

estrutura assimétrica, de diferença. O que modifica o sentido da competição em

diferentes contextos é o modo como se reage a ela". A competição também pode ser

vista enquanto competência, que pode ser definida como “o talento para atuar nas

regras e enfrentar os problemas da melhor maneira possível. Essa

competição/competência envolve uma forma de se colocar no mundo de maneira

autônoma, moral e intelectual.” (BELLINI; RUIZ, 1997, p. 222).

3 Descentração é quando as crianças conseguem perceber e considerar mais de um atributo no objeto de uma vez e formar categorias de acordo com critérios múltiplos.

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Macedo (1995) salienta a importância do jogo para além da escola e

nos questiona:

Os jogos são importantes na escola, mas antes disso são importantes para a vida. Por que se joga? A vida, do nascimento à morte, propõe-nos questões fundamentais sobre nosso corpo, diferenças sexuais, enfermidades, sobre o porquê de nosso pai gostar mais de um filho que do outro, etc. Então, como formular respostas quando se é criança, ou quando se é homem primitivo, sem tecnologia, com poucos recursos? Ou quando a vida é dura e a sobrevivência é uma ameaça constante? Os jogos são respostas que damos a nós mesmos ou que a cultura dá a perguntas que não sabe responder. Joga-se para não morrer, para não enlouquecer, para manter a saúde possível em um mundo difícil, com poucos recursos pessoais, culturais, sociais (MACEDO, 1995, p. 9).

Nesta perspectiva, entendemos que o jogo promoverá inúmeras

resoluções de conflitos pessoais e interpessoais, mas, para que seja utilizado na

escola de modo efetivo, é preciso um novo olhar dos educadores sobre o aluno e a

sua formação. Pressupõe que se compreenda a importância em discutir e refletir

junto com os educandos valores e regras tanto no jogo quanto na vida, a fim de

promover a sua autonomia moral dentro de um ambiente cooperativo, preparando-o

para sua própria emancipação como sujeito participante do contexto escolar. Para

Piaget, isto só será possível se este educando viver relações cooperativas e justas

na escola.

2.3 O Desenvolvimento da Pesquisa

Esta pesquisa iniciou-se em 2010 e teve como objetivo a

compreensão sobre o processo formativo das regras de convivência no

desenvolvimento dos indivíduos que estão na escola, culminando na elaboração de

uma unidade do Caderno Temático que deu subsídios para a intervenção na escola.

Para tanto, foi utilizado como método a pesquisa-ação

fundamentada na abordagem qualitativa que considera que o aluno, participante da

pesquisa é conduzido à produção do próprio conhecimento tornando-se sujeito

dessa produção. Segundo Oliveira e Oliveira (1981, p. 19), a pesquisa-ação é

constituída de ação educativa e promove “o conhecimento da consciência e também

a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com quem se trabalha.” Nesta

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15

perspectiva, a proposta deste trabalho vai de encontro a esta ação transformadora

que se espera promover.

Para Gamboa (1982, p. 36), a “pesquisa-ação busca superar,

essencialmente, a separação entre conhecimento e ação, buscando realizar a

prática de conhecer para atuar.” Diante destas considerações é que se buscam as

bases teóricas da metodologia escolhida para promover uma maior fundamentação

da pesquisa contribuindo para que novas relações sejam desenvolvidas entre a

comunidade escolar.

Ainda em busca da fundamentação, faz parte deste trabalho a

pesquisa bibliográfica que permitiu um conhecimento mais aprofundado, bem como

a ampliação dos pressupostos teóricos de autores como: Piaget (1932–1965),

Aquino (1996), Araújo (1996), Kamii e De Vries (1991), La Taille (1996), Macedo

(1995), Macedo, Petty e Passos (2000), Tognetta e Vinha (2007), e outros que

discutem a temática proposta neste trabalho. Para tanto, os alunos responderam

questões que abordavam acerca do cumprimento de normas e regras tanto no

ambiente escolar como no familiar.

Diante das considerações, para uma melhor compreensão do objeto

de estudo, desta pesquisa, elaborou-se o projeto de intervenção pedagógica na

escola e que deu origem a esse artigo que abordará os jogos em grupo como uma

possibilidade para lidar com o conflito através da cooperação, tendo como objetivo

principal auxiliar os alunos a compreenderem a importância das regras para a

organização do espaço e a garantia de igualdade de tratamento a todos os

integrantes da comunidade escolar.

Participaram deste projeto de intervenção pedagógica, alunos de 12

a 16 anos, da 7ª série “D”, turno vespertino, do Colégio Estadual Olavo Bilac, de

Ibiporã. As atividades foram desenvolvidas em sala de aula e na quadra esportiva do

Colégio, semanalmente, por meio de trabalhos em grupo e individuais, além de

apresentações de pessoas da comunidade, sempre com o intuito de demonstrar que

a cooperação e a formulação de normas de convivência facilitam o desenvolvimento

das ações e colaboram para uma conclusão satisfatória para todos os envolvidos.

3 Resultado e Discussões da Pesquisa

Com o objetivo de efetivar os momentos de discussões, reflexões

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16

sobre a importância da cooperação e recriação das normas que regem o ambiente

escolar, foram desenvolvidas 12 atividades descritas a seguir:

3.1 Primeira Atividade

A primeira atividade foi apresentar aos alunos o Projeto intitulado

“Isto Pode, Isto Não Pode. Por quê?” e seu objetivo. A seguir, assistimos a um vídeo

sobre “Regras Básicas de Convivência no Ambiente Escolar”. Após a exibição do

vídeo, os alunos refletiram sobre as imagens e expuseram suas ideias. Os alunos,

organizadamente, fizeram algumas observações a respeito das condutas

necessárias para o convívio escolar.

3.1.1 Citações feitas pelos alunos com relação ao vídeo

- ser solidário, ajudar as pessoas; - compartilhar materiais escolares; - ajudar os colegas que tem dificuldades em alguma disciplina. - ter respeito com o diferente, com o que tem ponto de vista diferente do nosso; - ter respeito pela natureza; - pelas coisas públicas; - respeitar o espaço do outro; - respeitar os professores e funcionários do colégio; - os idosos; - ser sincero; - cooperar sempre com o amigo; - cooperar com professores e funcionários do colégio, pais e família; - ser bondoso, educado; - saber falar e não gritar com as pessoas; - ser responsável; - assumir o erro; - perdoar sempre; - conversar com os amigos; - respeitar a fala do outro; - ouvir o que ele diz; - agir conforme a consciência; não acobertar um erro.

Para dar continuidade às reflexões, foi proporcionado aos alunos um

questionário a respeito da existência de regras em suas casas, intitulado: Isto Pode,

Isto Não Pode. Por Quê?

Isto Pode, Isto Não Pode. Por quê?

1- Na sua casa existe alguma norma ou regra?

( ) sim ( ) não

2- Quando você não cumpre com alguma regra seu pai, mãe ou responsável:

( ) conversam com você

( ) orientam você sobre as consequências do descumprimento da regra

( ) ignoram, não dizem nada

( ) agem com agressão verbal ou física

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3- Quando você aceita cumprir uma regra na sua casa, você a cumpre:

( ) por medo de ser punido

( ) porque você se sente bem ao fazê-la

( ) para não contrariar seus pais ou responsáveis

( ) porque não adianta discordar

4- Na sua opinião a existência de regras na sua casa:

( ) ajuda ou ( ) atrapalha

Por quê?

5- Cite algumas regras que existem na sua casa

3.1.2 Respostas obtidas

Dos 30 alunos que responderam o questionário, 21 alunos disseram

haver regras em casa, 9 alunos afirmaram que não. 13 alunos afirmaram que

quando não cumprem as regras de casa seus pais conversam com eles; 11

apontaram que os pais os orientam sobre as consequências do descumprimento das

regras; 3 alunos afirmaram que os pais ignoram e não dizem nada; 3 disseram que

os pais agem agressão verbal ou física. 8 alunos afirmaram que cumprem as regras

por medo de ser punido; 10 alunos dizem que cumprem porque se sentem bem; 5

afirmaram que cumprem para não contrariar seus pais ou responsáveis. 6 alunos

disseram que concordam com as regras em casa porque não adianta discordar. 23

alunos acham que ter regras ajuda, 5 acham que atrapalha e 2 não responderam.

3.1.3 Citações dos alunos sobre as regras em suas casas

Não tem regra, só tenho que ajudar minha mãe no serviço de casa; deixar a casa impecável, dar água e ração para o cachorro; não brigar; quando sair ligar para casa, fazer a tarefa e depois o lazer; limpar o que sujar arrumar o que está desarrumado, limpar o quarto todo fim de semana; lavar a louça; dormir cedo; limpar a casa, obedecer, não dormir tarde (23h), honrar pai e mãe, ir à igreja; lavar a louça de manhã, manter a casa limpa durante a semana; horário para mexer no computador, tarefas de casa, horário para sair, mesada máxima R$ 5,00, dormir às 22h, acordar às 10h; horário para dormir, almoçar, jantar, internet, passeio e horários estabelecidos para tarefas adicionais; dias de mexer no computador; cobrir o sofá, não responder; dormir cedo, estudos; não tem regras; não xingar; não dormir tarde, não chegar tarde; arrumar a cama, secar a louça, limpar o quintal, lavar louça, chegar na hora certa; não posso sair de casa sem pai, mãe ou responsável; não dormir tarde, não chegar tarde; obedecer aos pais, não ser teimoso, não

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contrariar, jogar vídeo game no horário certo, tomar banho na hora certa; dormir antes da meia noite, acordar cedo pra limpar a casa; se sair, não chegar tarde, não falar muito palavrão; não sair sem avisar, não pode ficar na rua depois das 19h, estudar antes de assistir TV.

Dos dados obtidos observa-se que há uma consciência de que as

regras são importantes para o espaço escolar, embora a maioria dos professores

desta turma alegue que os alunos são indisciplinados porque eles não têm regras

em suas casas.

Ao analisarmos as respostas dos alunos nos deparamos com outra

realidade, ou seja, a maioria dos alunos cumpre algum tipo de regra em suas casas.

Seus pais os orientam quando há desrespeito a elas, e a maioria dos alunos

concorda que as regras ajudam na organização e convivência entre as pessoas.

No prosseguimento das reflexões, foi proporcionado outro

questionário focado nas normas e regras do colégio, intitulado com o mesmo nome,

conforme segue.

Isto Pode, Isto Não Pode. Por Quê?

1-Em sua opinião porque existem regras no Colégio?

( ) Para organizar o funcionamento do Colégio

( ) Para mostrar o que é permitido fazer dentro do Colégio

( ) Porque a Lei exige

( ) Não tenho a mínima ideia

2-Como são resolvidos os conflitos que acontecem em sala de aula?

( ) O Professor conversa em particular com o aluno

( ) O Professor conversa com a turma toda

( ) O aluno é encaminhado à Direção

( ) A Direção chama os pais

3-Você participou de alguma reunião ou assembleia para discutir a elaboração de

alguma regra no Colégio?

( )Sim. Qual?

( )Não

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4-Em sua opinião descumprir as regras do Colégio acarreta alguma consequência?

( )Sim. Quais?

( )Não

5-Você conhece alguma regra do Colégio?

( )Sim. Cite-as:

( )Não

6-São proporcionados momentos para que os alunos discutam os problemas ou

conflitos que surgem?

( )Sim

( )Não

3.1.4 Respostas obtidas

Dos 30 alunos, 16 alunos responderam que as regras existem para

organizar o funcionamento do colégio; 10 disseram que servem para mostrar o que é

permitido fazer dentro do colégio; 01 disse que é porque a Lei exige; 03 disseram

que não têm a mínima ideia. Quanto a como são resolvidos os conflitos, 02 disseram

que o professor conversa em particular com os alunos; 06 afirmaram que o professor

conversa com a turma; 17 apontaram que o aluno é encaminhado à Direção e 05

disseram que a Direção chama os pais. 29 alunos apontaram que nunca

participaram de reunião sobre o seu comportamento, ou para formulação de regras;

01 disse que já participou. 17 alunos acreditam que descumprir regras pode trazer

alguma consequência; 12 acham que não traz consequência alguma e 01 aluno não

respondeu.

3.1.5 Citações dos alunos sobre as regras no colégio

Os alunos citaram como consequências do desrespeito às normas:

-alunos encaminhados para o Conselho Tutelar; -Perda de nota e ficar marcando no colégio; -anotações na ficha do aluno; -levar ocorrência; -chamar os pais; -advertência. 23 alunos responderam que conhecem regras elaboradas pela escola; 07 disseram que não.

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Os alunos citaram ainda algumas que consideram importantes para a organização da escola: trazer a carteirinha e vir de uniforme; não pode usar celular; não usar boné, nem mascar chiclete; não chegar atrasado; não namorar na escola; não vir de calça jeans; não sair da sala sem permissão. Quanto à questão sobre os momentos de reflexão proporcionados pela escola acerca dos conflitos, 17 alunos disseram que existem tais momentos e 13 afirmaram que não.

Observa-se que os alunos têm consciência das consequências que

acarretam o não cumprimento às normas e regras estabelecidas pelo colégio.

Aproximadamente 50% dos alunos afirmaram que no colégio existem momentos em

que eles têm a possibilidade de discutir os problemas e os conflitos que surgem.

Porém, um número significativo de alunos afirmou que não há estes espaços o que

nos sugere pensar que estes alunos não compreendem o significado destes

momentos.

3.2 Segunda Atividade

Leitura do texto Cumprimento de Normas e Regras no Ambiente

Escolar, que trata da importância do cumprimento das regras para a boa

convivência na escola, fazendo considerações sobre a obediência consciente às

normas estabelecidas.

Cumprimento de Normas e Regras no Ambiente Escolar

No nosso dia a dia nos deparamos com muitas normas e regras.

Quando participamos de um jogo, seja por lazer ou competição, temos que respeitar

suas regras. Nas nossas casas temos horário para acordar, para ir ao colégio, para

nos alimentar. Ao atravessarmos a rua temos que respeitar a sinalização; quando

caminhamos, andamos de bicicleta, de moto ou de carro, temos que respeitar as

normas de trânsito. Ao participarmos das atividades nos clubes, temos que respeitar

os dias e horários de funcionamento, enfim, viver em sociedade significa lidar com

regras o tempo todo e na escola não é diferente. A escola, como espaço de

convivência, é um espaço privilegiado para o estabelecimento das relações

interpessoais. E para que estas relações se estabeleçam é necessário que alunos,

professores, funcionários e demais pessoas que fazem parte da comunidade escolar

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se respeitem, cumpram as normas e regras estabelecidas, não por medo da

punição, mas por compreenderem que o cumprimento delas é bom para si e para

todos.

Um aspecto relevante relacionado à indisciplina são os constantes

conflitos gerados pelo não cumprimento das regras. Sabendo que as regras fazem

parte de qualquer instituição educativa há necessidade de conhecê-las, discuti-las e

refleti-las, pois a partir disto será possível construir ações que promovam ambientes

de diálogo entre professores e alunos; discutir os conflitos existentes e proporcionar

momentos de reflexão, para que se construa a compreensão autônoma sobre a

importância das normas e regras tanto na escola quanto para vida em sociedade.

Após a leitura do texto houve discussão e reflexão sobre o assunto,

os alunos, então fizeram os seguintes comentários:

* Respeitar-se primeiro, para depois respeitar o próximo; * A convivência na escola é muito ruim, quase todos os dias acontecem brigas e o pior é que todos sofrem; * Não é permitido trazer celular, mas um monte de gente traz e não acontece nada, por isso eu também trago. * O respeito é essencial em nossas vidas, pois sem respeito não chegamos a lugar nenhum; * Diz que é pra gente respeitar o Professor, e quando o Professor não respeita a gente? * A mesma coisa é o uso de boné, a gente não pode usar, mas o Professor pode. * Quando a gente está na fila da cantina chegam os grandões e vão empurrando a gente, quando a Tia da cantina vê, ela manda eles irem no final da fila, mas muitas vezes ela não vê. * Os alunos não podem mascar chicletes, mas a professora (cita o nome) vive mascando. * Eu acho bom ter regras, porque se não tivesse ia virar bagunça.

Após as colocações feitas pelos alunos, houve discussão e cada

aluno pode expor seu ponto de vista sobre os benefícios e transtornos da existência

das regras. Pelas discussões geradas observou-se que muitos alunos cumprem as

regras não em função do bem comum, mas por medo de ser punido.

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Diante das considerações feitas pelos alunos percebe-se que os

professores demonstram falta de clareza no entendimento da finalidade das regras e

normas existentes no ambiente escolar. Além disto, o não cumprimento das regras

não acarreta sanções significativas ao aluno, nem possibilita por meio do diálogo a

reflexão sobre as ocorrências.

A seguir foram apresentados 07 Slides sobre situações-problema

que ocorrem frequentemente no colégio. Os alunos deveriam identificar as

consequências após cada item apresentado conforme segue.

1- Aluno chega atrasado à aula.

2- Aluno para o colégio sem uniforme.

3- Aluno desrespeita o professor.

4- Aluno não entrega a atividade solicitada pelo professor na data estipulada.

5- Aluno não respeita a fila da cantina/refeitório/secretaria.

6- Aluno se recusa a participar das atividades em sala de aula propostas pelo

professor.

7- Alunos se agridem no pátio do colégio/sala de aula.

Consequências apontadas pelos alunos:

1- Perde a explicação do Professor; fica com falta; leva ocorrência; dependendo pode perder uma aula inteira; vai para Direção.

2- Dependendo nem entra na escola; corre o risco de usar um

uniforme da escola, que nem sempre é o tamanho da gente; se estiver sem uniforme e sofrer um acidente é possível saber de qual escola é o aluno; o uniforme é importante para a identificação, organização e economia.

3- Ocorrência; chama o pai; fica no recreio na sala; vai embora

depois do horário; é desagradável para o professor e o professor pega birra do aluno.

4- Fica sem nota ou metade da nota; leva ocorrência, dependendo da

atividade comunica os pais. 5- Apanha dos outros alunos; vai para o fim da fila; às vezes leva

bronca. 6- Fica sem nota; leva ocorrência do professor; o professor registra

no livro da turma e depois mostra para os pais.

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7- Chama a patrulha escolar, chama os pais; conselho tutelar; passa pela direção é comunicado aos pais que se houver uma segunda briga é expulso; pode receber suspensão.

Pelas respostas, os alunos demonstram ter clareza das consequências

pela falta que cometem, porém são sanções que não produzem ou provocam

mudanças de comportamento, ou seja, não demonstram entendimento que as

situações-problema que ocorrem frequentemente no colégio significam perdas.

3.3 Terceira Atividade

Nesta atividade os alunos deveriam formar duplas de livre escolha;

ao som da música as duplas deveriam montar um passo seguindo o ritmo; quando

as duplas estavam em sincronia, desligava-se o som e solicitava-se que cada dupla

se juntasse à outra dupla e executassem um só passo; quando os quartetos

estavam em sincronia, desligava-se o som e solicitava-se que se juntasse a outro

quarteto e assim sucessivamente até formar um só grupo e uma só coreografia.

Quando as duplas tiveram de se juntar com outras duplas, houve

muita discussão. Algumas alunas não queriam abrir mão de seus passos, porém

depois de várias discussões, chegou-se ao consenso de colocar um passo de cada

aluna que estava contestando. Houve discussão e reflexão sobre a atividade, os

alunos fizeram as seguintes observações:

* Tivemos que ceder para ser colocado o passo que a outra aluna queria;

* Discutimos qual seria o passo mais fácil e que todos pudessem

executar melhor. * Houve preocupação de não excluir ninguém. * As meninas gostaram mais da atividade que os meninos.

A atividade proposta possibilitou a comparação com o cotidiano, e

após várias discussões e reflexões concluíram que para viver em sociedade não é

diferente, diariamente convivemos com situações onde há necessidade de abrirmos

mão de algumas vontades, convicções e conceitos.

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Macedo, Petty e Passos (2000) consideram que os jogos também

proporcionam desafios, como a paciência: esperar a melhor oportunidade, aguardar

sua vez; assumir responsabilidades; desperta a criatividade; estimula a cooperação;

o depender do outro; compartilhar objetos e espaços comuns; trabalha com a

possibilidade de perda e demais frustrações.

3.4 Quarta Atividade

Os alunos foram divididos em dois grupos: grupo “A” e grupo “B”. Foi

disposto na sala de aula um número de cadeiras igual ao número de alunos para

cada grupo. Os alunos deveriam sentar nas cadeiras quando a música era

interrompida. A seguir retirou-se uma cadeira de cada grupo e os alunos

continuaram a rodeá-las até que a música fosse interrompida novamente, quando

era retirada mais uma cadeira, e assim sucessivamente até restar somente uma

cadeira.

Todos os alunos participaram da atividade. No princípio foi fácil, mas

à medida que se retiravam as cadeiras, começaram as resistências. Houve

resistência de alguns alunos em não sentar no colo de outros. Houve também

confusão e muita discussão para ver qual a melhor solução. A cada cadeira retirada

faziam várias tentativas. Por fim quando restava apenas uma cadeira todos os

alunos deveriam sentar-se, fizeram uma espécie de pirâmide.

O grupo “A” teve menos problemas que o grupo “B”, pois aceitavam

mais facilmente a opinião do outro.

Por fim, refletiram sobre a atividade e concluíram que foi necessária

a ajuda de todos para se chegar ao final da atividade; foi preciso cooperar um com o

outro; tiveram que ouvir opiniões diferentes e analisar qual a melhor forma para se

atingir o objetivo.

Para Orlick (1989, p. 105), a cooperação é "uma força unificadora,

que agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados numa unidade

coletiva”. Brotto (2001) defende que a cooperação praticada através de jogos

cooperativos é um meio para que todos alcancem juntos os mesmos objetivos e uma

forma de despertar a coragem para assumir riscos.

3.5 Quinta Atividade

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Os alunos foram reunidos no Salão Nobre do Colégio, onde uma

banda de músicos se apresentou cantando e tocando várias músicas. Depois da

apresentação, um dos integrantes do grupo fez uma comparação entre a afinação

dos instrumentos com a harmonia e entrosamento dos integrantes da banda.

Relatou também sobre a importância da disciplina nos ensaios, na concentração, no

cumprimento de regras como: horário dos ensaios, estilos de músicas, local, etc.

Salientou sobre a importância de ouvir e aceitar a opinião do outro, do respeito

mútuo entre eles, da superação das diferenças e respeito aos princípios e crenças,

pois os integrantes da banda eram de religiões diferentes; colocou ainda que

embora seja difícil é importante abrir mão de algum estilo de música para contemplar

a vontade do grupo (aqui ele explicou que um gosta mais de música sertaneja, já o

outro gosta mais de rock), e para que não prevaleça somente um estilo, eles

discutem e entram num acordo.

Os alunos gostaram muito dessa atividade, fizeram vários

questionamentos aos músicos (- quantas vezes eles ensaiam; - se brigaram alguma

vez; - qual a idade deles; quanto tempo faz que a banda existe, etc.).Os alunos

puderam vivenciar e refletir que até para montar e manter uma banda musical se faz

necessário assumir responsabilidades; depender do outro; cooperar; elaborar e

cumprir normas e regras.

Para Menin (2003, p. 90), trabalhos de grupo provocam contatos

mais intensos entre as pessoas, pois implicam uma relação de mútua dependência:

o trabalho anda se todos ajudarem. Os trabalhos de grupo contribuem no

desenvolvimento das relações sociais na escola e são poucos explorados pelos

professores.

3.6 Sexta Atividade

Nesta atividade foi exposta aos alunos a existência das regras

negociáveis e não negociáveis e suas diferenças. Foi colocado aos alunos que

algumas pessoas acreditam que qualquer norma relacionada a comportamento deve

ser combinada, discutida, negociada, que aquilo que o grupo decidiu deve ser

aceito, porém não é bem assim, nem tudo se discute. Há determinadas regras que

não são negociáveis. Estas regras não podem ferir as Leis, não se discute na escola

se devemos ou não cumpri-las. Podem-se discutir suas razões, os princípios que as

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determinam, mas não o seu cumprimento. As regras não negociáveis são apenas

refletidas, não necessitam ser discutidas e elaboradas por todos, exemplo: Não

fumar dentro do Colégio, esta é uma Lei, portanto não se pode negociar e permitir

que alunos maiores de dezoito anos fumem dentro do Estabelecimento de Ensino.

As regras negociáveis devem preservar e propiciar ao sujeito o

respeito por si próprio e pelo outro. Quando surgir uma necessidade, como conflitos

não solucionados ou insatisfações diante de determinados comportamentos elas

devem ser discutidas e negociadas. Assim, os alunos participam do processo de

elaboração das regras deixando de serem somente aqueles que obedecem.

Observou-se nesta atividade que a maioria dos alunos cumpre as

normas e regras por medo da punição e não pela compreensão da importância da

existência delas, reforçando o que já foi observado anteriormente.

Para Tognetta e Vinha (2007, p. 56), é necessário considerar ainda

que, na instituição escolar, coexistem dois tipos de normas: as que são negociadas,

em que são realizados contratos (“combinados”), e outras que não são negociáveis.

Menin (2003, p. 94) afirma que há certas regras na escola, como horários de

entrada, saída, merenda etc. que envolvem muitas outras pessoas e rotinas além

dos alunos. Há certas decisões pedagógicas, relativas a conhecimentos específicos,

que cabem ao professor tomar e não aos alunos, embora estes possam e devem

tomar parte nos modos como ocorrem seus processos de aprendizagem.

3.7 Sétima Atividade

Os alunos foram divididos em duas equipes. Cada equipe deveria

escolher dentre seus participantes 1 Rei (se fosse do sexo masculino) ou 1 Rainha

(se fosse do sexo feminino). A equipe adversária desconhece quem são os eleitos.

Para a equipe vencer é necessário queimar o Rei ou Rainha da equipe adversária.

Cada equipe tem como objetivo proteger seu Rei ou Rainha. Antes de iniciar o jogo

as equipes, separadamente, discutiram e elaboraram estratégias para camuflar seu

Rei ou Rainha. Os alunos ao mesmo tempo em que tentavam protegê-la (o), tinham

que criar estratégias para tentar descobrir quem era o Rei ou Rainha da equipe

adversária e assim poder queimá-la (o). Os alunos repetiram várias vezes o jogo. A

cada recomeço a equipe escolhia novo Rei ou Rainha e elaboravam novas

estratégias. Após, foi refletido sobre as estratégias que cada equipe usou; a atenção

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que tiveram a cada jogada executada; os erros, os acertos; o depender do outro e a

importância de seguir as normas e regras estabelecidas.

Para Macedo (2003, p. 191) o respeito mútuo supõe uma relação de

autonomia e o sentimento do bem. É o que acontece, por exemplo, no contexto de

um jogo de regra. O respeito às regras do jogo é unilateral, pois subordina os

jogadores às mesmas circunstâncias (materiais, definição de ganho ou perda etc.) e

à mesma referência; definem, por isso, o que é certo. Mas as relações entre os

jogadores (o fato de um depender do outro para jogar; o fato de uma jogada implicar

as seguintes etc.) devem ser respeitadas mutuamente, sem o que a partida não tem

continuidade; além disso, indicam pelo desfecho do jogo (quem ganhou ou perdeu)

quem, em uma dada partida, jogou melhor, ou seja, jogou bem. Essa possibilidade

decorre da autonomia de um jogador com respeito ao outro, e, igualmente, de uma

jogada com respeito à outra. Cada jogador, com efeito, é responsável pelos seus

atos; por isso, dentro de seus limites pode ou deve fazer o melhor em função de

seus objetivos, respeitando as regras do jogo.

3.8 Oitava Atividade

Os alunos foram divididos em duas equipes “A” e ”B”. Na área do gol

foi colocado um cone com uma bandeira em cima. Cada equipe tinha que pegar a

bandeira no lado adversário e trazê-la para seu campo sem deixar ser tocado pelo

adversário. Os alunos tiveram que discutir estratégias para executar o jogo.

Dependiam uns dos outros. A cada perda da bandeira elaboravam novas

estratégias. Após a atividade proporcionamos reflexões como: respeito pelo

adversário; depender do outro para obter êxito; comparações da elaboração de

estratégias também na vida; paciência e respeito aos alunos que não têm tantas

habilidades.

Para Macedo, Petty e Passos (2000, p. 22), “É fundamental

considerar que desenvolvimento e aprendizagem não estão nos jogos em si, mas no

que é desencadeado a partir das intervenções e dos desafios propostos aos alunos.

A prática com jogos, permeada por tais situações, pode resultar em importantes

trocas de informações entre os participantes, contribuindo efetivamente para a

aquisição de conhecimento”.

3.9 Nona Atividade

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Nesta atividade os alunos tiveram oportunidade de manusear o

Regimento Escolar. Fizemos a leitura e discussão onde constam os direitos, deveres

e sanções aos alunos. Todos disseram não saber da existência do documento;

ficaram surpresos ao verem que no Regimento Escolar constam normas para

Funcionários, Professores e Direção. Foi lido e discutido o Regulamento Interno do

Colégio que a Direção havia entregado no início do ano aos pais.

A partir do exercício observou-se que os alunos não tem

compreensão do Regimento Escolar como documento norteador que estabelece

direito e deveres não só aos alunos, como também a professores e funcionários,

sendo assim, partindo desta intervenção, podemos pensar na construção de

espaços democráticos na escola para mostrar de que forma o Regimento Escolar é

discutido, de que forma é elaborado, etc.

Foi uma discussão muito produtiva, os alunos puderam sanar suas

dúvidas com relação aos seus direitos e puderam refletir sobre seus deveres.

De acordo com Tognetta e Vinha (2007, p. 49) os regimentos

deveriam ser, instrumentos para desenvolver a autonomia, e “não ferramentas para

simplificar o controle externo e para uniformizar”. Não basta discutir seus conteúdos,

o mais importante é refletir sobre o porquê de eles existirem e do para quê, visto que

os regimentos podem ser concebidos e utilizados de formas bastante diferentes:

tanto podem estar a serviço de finalidades justas, respeitosas e democráticas, como

ser utilizados para fins escusos ou para justificar decisões arbitrárias.

3.10 Décima Atividade

Os alunos ficaram dispersos na quadra. Escolheu-se um pegador

que ao tocar em outro aluno se davam as mãos e teriam que de mãos dadas

tocarem em outro aluno, e assim sucessivamente. À medida que eles iam tocando

seus colegas a corrente ia aumentando, e para conseguir tocar outro colega tinham

que se deslocar do mesmo lado sem soltarem as mãos. Para que conseguissem

todos tinham que se deslocar para o mesmo lado, elaborar estratégias.

Após vários questionamentos os alunos refletiram que dependem

uns dos outros. Comparamos a atividade desenvolvida com suas vidas e cada aluno

refletiu de quem eles dependiam na sua casa para poder estudar, alimentar, se

divertir, enfim sobreviver.

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Conforme Macedo (1994), a discussão proporcionada pelos jogos

ultrapassa as experiências imediatas, já que, ao adquirir determinados

conhecimentos, os alunos conseguem transpô-los para outros contextos.

3.11 Décima Primeira Atividade

Os alunos foram reunidos no Salão Nobre do Colégio, onde o Diretor

do colégio Professor Gerson Mori, que é mestre em “Kendo” veio caracterizado com

o uniforme usado na prática da luta marcial. Explicou sobre a luta, demonstrou

alguns golpes e relatou sobre a importância da disciplina e do cumprimento de

regras na prática das Artes Marciais. Contou partes de sua história e salientou que

humildade, respeito e obediência são fundamentais para a prática do Kendo.

Relatou que antes dos treinos tinham que limpar o chão do salão onde treinavam,

mas que não tinha vassoura nem rodo, eles se ajoelhavam no chão para limpá-lo.

Esta atitude tem um significado “a prática da humildade”. Destacou sobre a

importância de respeitar e obedecer aos mais velhos, comparou com o respeito que

eles têm que ter para com seus pais, avós, familiares, funcionários, professores e

direção do colégio, enfim respeitar a todos indistintamente. Ressaltou a importância

da convivência dentro do colégio. Para finalizar disse que para eles serem

respeitados precisam primeiro respeitar.

Observou-se nesta atividade que a participação dos alunos foi

significativa. Os alunos gostaram bastante e fizeram várias perguntas que provocou

reflexão sobre as colocações feitas pelo Professor Gerson.

Segundo Araújo (2003, p.127-128) a moral, a ética, a cidadania,

assim como todos os conhecimentos, portanto, também precisam ser construídos

por cada sujeito, e isso se dá, necessariamente, por meio da ação. Se o sujeito não

tiver a oportunidade de experienciar conteúdos relacionados a esses aspectos ele

não terá como construir noções como a de justiça, igualdade, democracia, respeito

mútuo, etc. Uma vez que esse tipo de conhecimento também não é herdado e nem é

simplesmente transmitido culturalmente.

3.12 Décima Segunda Atividade

Filme: Vem Dançar

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Após a exibição do filme iniciou-se a reflexão sobre como os alunos

interessados em dançar Hip Hop se defrontam com um novo estilo de dança.

Discutiu-se a persistência do Professor Dulaine ao ensinar um novo estilo de dança

em que os alunos apresentavam bastante resistência à mudança. No trecho que

apresenta uma reunião de pais, na qual um Professor pede o cancelamento das

aulas de dança usando argumentos como “quando vão usar a dança de salão na

vida deles [...]”, surge um debate entre o professor de dança e o professor contrário

às suas aulas sobre respeito, dignidade e educação.

Em outro trecho do filme o professor Dulaine surpreende os alunos

dançando break. O professor diz que eles podem continuar dançando e elogiando-

os pede para que coloquem a mesma emoção na dança de salão, onde inicia um

debate sobre sentimentos.

Os alunos após assistirem ao vídeo se manifestaram a favor dos

ensinamentos do professor Dulaine, dizendo que ele não ensinava somente dança,

mas que através de suas aulas de dança ensinava respeito ao outro, dignidade,

respeitar a diferença e o limite do outro e ser educado.

Os alunos refletiram que é fundamental: ter educação, respeitar a

todos indistintamente, ter paciência, ser tolerante, ser digno, cooperar.

Os alunos também identificaram que houve uma regra negociável,

pois no final do filme os alunos do Professor Dulaine fizeram uma mixagem da dança

de salão ao Hip Hop. Percebeu-se neste momento que os alunos interagiram com a

proposta da intervenção.

4 Avaliação Final

Para finalizar o trabalho com os alunos, foi proposta a apresentação

de uma peça de teatro no salão nobre do colégio sob o título:

ISTO PODE, ISTO NÃO PODE. POR QUÊ?

Personagens:

Felipe: protagonista

Mãe: mãe do Felipe

Escola: aluna (o) representando a escola

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Teste: aluna (o) representando o Teste, personagem típico apresentador de TV

Assistente do Teste: duas alunas representam as “assistentes de palco”

Qualificação: aluna (o) representando a personagem

Emprego: aluna (o) representando o personagem

CENA 01 – CENÁRIO: em frente à cortina (entra Mãe e Felipe)

Felipe: Mãe, eu vou brincar com o Juca, tá?

Mãe: E os estudos, meu filho? Suas notas não andam nada bem, e outra, seu

castigo não acabou! Você esqueceu que está sem ir pra rua por causa da sua falta

de respeito com o professor?

Felipe: Mas mãe, ele não para de chamar minha atenção!

Mãe: Filho, é para o seu bem!

Felipe: Eu odeio escola! Odeio as regras! Odeio tudo e todos!

Mãe: Filho, o mundo lá fora é um grande desafio, cheio de obstáculos nos quais,

sem a educação, é impossível seguir em frente.

Felipe: Mãe, eu sei de tudo, posso muito bem me virar sozinho. (Sai de cena).

Mãe: Filho volta aqui!

(Sonoplastia: abrem-se as cortinas para o cenário da rua. No chão, uma

representação de um tabuleiro, estilo banco imobiliário, com casas pra pular, etc.).

CENA 02 – Cenário: Rua do Desafio

(Felipe já está em cena)

Felipe: O que é isso. Essa não é a minha rua? O que são essas cartas?

(Pega uma carta e lê). Bem vindo, esse é O Desafio da vida, um jogo surpreendente

que testará a capacidade do jogador e suas habilidades para alcançar o sucesso!

Para começar, avance uma casa. (Felipe anda uma casa e se depara com uma

personagem que representa a Escola). Oi! Quem é você?

Escola: Oi, eu sou a escola, o princípio de tudo. Sirvo para você conseguir vencer

no jogo.

Felipe: Escola? Olha, eu não gosto muito de você. Suas regras são chatas e suas

aulas insuportáveis. Não acredito que me ajudará vencer esse desafio.

Escola: Menino, se eu fosse você seria mais humilde e me deixava te ajudar!

Felipe: Fique quieta!

Escola: Cadê o respeito, moleque!

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Felipe: Deixei em casa!

Escola: E ainda por cima é respondão. Já vi que não vai passar nem pra primeira

fase do teste.

Felipe: Passo sim quer ver? (Avance duas casas do tabuleiro).

Escola: Ei, você está infringindo as regras!

Felipe: Eu odeio regras! (Pega a carta que está no chão e tenta ler, mas não

consegue) O que está escrito? Está em outra língua. Vou pular mais uma casa.

(Pula mais uma casa e pega outra carta para ler). Ah! Não! De novo não consigo ler,

acho que está em outra língua também. E agora?

Escola: (Imita Felipe) “Eu sei me virar sozinho”. Estou vendo!

Felipe: Escola, por acaso você consegue ler esta carta?

Escola: Dê-me, por favor. (Pega a carta e lê). Ah! Vai me dizer que não consegue

ler esta carta?

Felipe: Olha, se eu sei ou não isso é problema meu, agora, me diz o que está

escrito!

Escola: Eu não vou falar. Você foi muito mal educado comigo!

Felipe: Escola, por favor.

Escola: Por favor, você disse, por favor?

Felipe: Sim.

Escola: Hum, muito bem. Olha, eu leio, mas com uma condição!

Felipe: Ai, qual?

Escola: Eu te ajudo se você aceitar cumprir as regras e ficar do meu lado!

Felipe: Regras, ah não!

Escola: Então não vou te ajudar.

Felipe: Está bem, está bem.

Escola: Ok! Vamos ver o que está escrito nessa primeira carta: Para seguir em

frente, você precisará passar por um teste. Ele verá se você está apto pra avançar

as casas.

Felipe: Teste? (Entra o teste).

Teste: Olá companheiro, está pronto pra começar a prova?

Ai! Acho que não!

Felipe: Teste: Como não? A Escola não está ao teu lado? Ela pode te ajudar na

prova.

Felipe: Escola, eu não sabia que você podia me ajudar.

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Escola: E você acha que a escola serve pra quê? Escola é pra essas coisas

também. Agora vamos!

Teste: Que comece o teste! (Sonoplastia entra as “Assistentes do Teste”). Você terá

que responder três perguntas, entendido?

Felipe: Sim!

Teste: 1ª Pergunta: Quem descobriu o Brasil? Tempo! (Som de relógio).

Felipe: Você sabe Escola? (Escola cochicha no ouvido do Felipe). Claro! Eu sei! Foi

Pedro Alvares Cabral.

Teste: Certa resposta!

Escola: Ufa, vamos ver a segunda pergunta.

Teste: Agora vamos para a segunda questão. Quem outorgou a Lei Áurea? Tempo!

(Som de relógio).

Felipe: Essa eu sei, foi a Princesa Isabel!

Teste: A resposta está eeeeeeeeeeexata!

Felipe: Yes!

Teste: Agora vamos para a última pergunta que poderá aprovar ou reprovar você!

Estão prontos?

Escola: Sim.

Teste: Em que ano ocorreu a Revolução Francesa?

Felipe: Ai meu Deus! Você sabe Escola?

Escola: Claro que sim! Foi (cochicha no ouvido de Felipe).

Felipe: 1789!

Teste: A resposta está e.......e.......e......e.....exata! Você passou para a próxima fase!

Escola e Felipe: Viva! (Se abraçam, mas logo se largam, pois Felipe não se

simpatiza com a Escola). (Teste e suas assistentes saem de cena)

Escola: Agora avance uma casa e me dê a carta.

Felipe: Sim. Espera, acho que consigo ler. Está escrito (lê com dificuldade): Pa-ra-

béns, a-go-ra vo-cê... Escola lê pra mim, ainda está difícil.

Escola: Ainda faltam duas palavras!

Felipe: Fazendo favor!

Escola: Agora sim. Bom, está escrito: Parabéns, agora você terá que arrumar um

emprego. Essa fase não é uma das fáceis, pois você precisará da Qualificação para

seguir em frente.

Felipe: Então quer dizer que eu vou ter que te deixar?

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Escola: Sim Felipe. A minha função era te seguir até os testes, agora a Qualificação

será seu suporte para vencer o jogo.

Felipe: Mas agora que eu estava acostumando com sua presença!

Escola: Quem sabe no futuro nós nos veremos. Afinal eu acompanharei seu filho

nesse desafio também.

Felipe: Bom se é assim, prazer em te conhecer.

Escola: Olha, acho que aprendeu a ser educado. Bom, o prazer foi meu.

Felipe: Tchau.

Escola: Tchau.

(Sai Escola, Sonoplastia, entra em cena a Qualificação).

Qualificação: Olá, Sr......

Felipe: Felipe!

Qualificação: Prazer, Sr. Felipe, sou a Qualificação. Irei te ajudar a arrumar um

emprego. Está pronto?

Felipe: Um pouco.

Qualificação: Antes de seguirmos em frente precisamos dar um trato no seu visual.

(Sonoplastia para troca de roupa de Felipe). Agora sim! O terno te ajudará muito.

Agora aprenda as boas maneiras de como enfrentar uma entrevista.

Felipe: Ah! Isso é fácil, é só aprender as perguntas e pronto!

Qualificação: Shiiiiiiiiiiiiiii, já vi que não sabe nada. Vamos que no caminho você

aprende. (Entra o Emprego).

Emprego: Olá, Sr. Candidato, vamos começar a entrevista?

Felipe: Sim, senhor.

Emprego: Quais são as suas qualificações?

Qualificação: Entregue isso a ele. (Felipe entrega vários diplomas ao Emprego).

Felipe: Aqui, está.

Emprego: Curso de computador, Ensino Médio completo, que ótimo. Bom, você

sabe que aqui no emprego existem regras e serem respeitadas. Essas regras não

são difíceis para aqueles que estudaram e valorizaram a escola.

Felipe: Sim.

Emprego: Vejo que suas notas, no começo, não foram boas, mas passou a ter uma

grande melhora. Isso me deixa satisfeito demais.

Felipe: Obrigado senhor.

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Emprego: E ainda por cima é educado. Gostei de você. Agora me responda uma

pergunta. O que te leva a merecer esse emprego?

Felipe: Senhor! Aprendi que as regras nos auxiliam a enfrentar esse grande desafio,

cheio de obstáculos. Com ajuda da educação pude avançar as casas e alcançar a

última etapa do jogo, o emprego. Posso não merecer a vitória, mas acredito que a

mudança foi capaz de compreender que posso voltar a enfrentar as mesmas fases

para vencer o jogo.

Emprego: Nossa você me convenceu. Parabéns meu funcionário!

Felipe: Isso quer dizer que eu consegui o emprego?

Emprego: Sim!

Felipe: Obrigado........chefe!

Emprego: Por nada! Agora avance na chegada e parabéns! Você venceu o jogo!

(Sonoplastia fecham as cortinas. Mãe entra em cena, logo Felipe aparece).

CENA 03 – Cenário: Em frente às cortinas.

Mãe: Onde você estava?

Felipe: Mãe, você precisa saber o que aconteceu.

Mãe: Me conta querido. (Os dois vão conversando e saindo de cena).

A escolha dos alunos para desempenhar os papéis do teatro, foi

feita democraticamente entre eles. Os que não participaram da peça ajudaram na

confecção do cenário, na maquiagem dos alunos, na organização, etc. Foram

realizados 12 ensaios culminando com a apresentação da peça de teatro no salão

nobre do Colégio.

A maioria dos alunos cooperou com a atividade proposta. Além de

haver um envolvimento maior dos alunos, observou-se em vários deles uma

mudança de comportamento e a melhora significativa no relacionamento entre eles.

A atividade desenvolvida além de ter sido prazerosa despertou nos

alunos um sentimento de “se sentir valorizado”, pois estavam sentindo verdadeiros

artistas. A exibição da peça de teatro promoveu também reflexões sobre a

importância da escola para a vida e uma maior compreensão sobre a necessidade

do cumprimento de normas e regras de forma autônoma.

5 Considerações Finais

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No inicio deste trabalho, afirmamos que é preciso que o aluno tenha

experiências de vida social para aprender a viver em grupo e ter a oportunidade de

discutir seus problemas, de compreender a necessidade das regras e do respeito ao

outro, da cooperação para o bem estar de todos como algo que organiza as relações

e auxilia a convivência, portanto é necessário discutir o valor da cooperação para o

desenvolvimento da compreensão do cumprimento de regras de forma autônoma.

Realizamos uma intervenção com 30 adolescentes em um contexto

de jogos em grupo que teve como objetivo favorecer a construção das relações

cooperativas entre os sujeitos.

Com relação aos resultados obtidos nas intervenções é notório que

provocaram nos adolescentes um avanço em relação à cooperação, respeito mútuo,

disciplina e cumprimento de regras.

Analisamos também o posicionamento que os adolescentes têm em

relação às regras tanto em suas casas como no colégio. Observou-se que a maioria

dos adolescentes sabe da existência das regras de convivência social e escolar,

mas não as cumprem. Será que só os alunos tem essa concepção? E nós

educadores sabemos o real teor da existência das regras e as cumprimos de forma

autônoma?

Considerando que os resultados obtidos quanto à evolução dos

adolescentes em relação à cooperação não tenha sido satisfatório, compreendemos

que o espaço de tempo de realização e aplicação do projeto não tenha sido

suficiente, talvez se perdurasse por um período maior teríamos obtido um resultado

melhor. Mesmo assim os resultados apontaram um avanço significativo à aquisição

da cooperação como processo de construção e não de uma conquista consolidada e

ponto final. Procuramos sempre discutir e refletir mudanças na postura dos alunos

envolvidos no trabalho.

Ao longo desse período lançamos várias sementes, algumas já

podemos ver germinar, outras ainda estão adormecidas esperando serem regadas

de compreensão, discussão e reflexão para poder florescer.

Enfim, faz-se necessário ainda discutir e refletir sobre a natureza dos

conflitos interpessoais na escola, e uma das tarefas da educação para a formação

de pessoas mais equilibradas é favorecer a tomada de consciência e a possibilidade

de expressão dos sentimentos em situações de conflitos que ocasionam sérias

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dificuldades à rotina escolar. É preciso também proporcionar o respeito à opinião de

todos e, principalmente, a relevância da regra que se pretende estabelecer.

Sendo assim, cabe à escola a promoção de espaços para que os

alunos possam expressar opiniões, sentimentos, bem como a reflexão acerca dos

conflitos vivenciados no intuito de melhorar o entendimento que possuem no que se

refere às normas e regras da escola.

Neste trabalho não se pretendeu esgotar toda a reflexão acerca da

temática “Construção de Espaços Sociocooperativos na Escola”, mas provocar a

comunidade escolar pensar sobre as relações que são estabelecidas no ambiente

escolar e como a conscientização de todos pode contribuir para que novas relações

sejam construídas a fim de tornar a escola mais humanizada.

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