SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do...

22

Transcript of SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do...

Page 1: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se
Page 2: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

1

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

SONIA DE LIRA RODRIGUES

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA

MARINGÁ – PR2012

Page 3: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

2

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

SONIA DE LIRA RODRIGUES

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA

Artigo apresentado ao Projeto do Programa de Desenvolvimento Educacional.

Orientador: Profº. Dr. Marcos Roberto Teixeira Primo.

MARINGÁ – PR2012

Page 4: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

3

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA

Autora: Sonia de Lira Rodrigues1

Orientador: Prof. Dr. Marcos Roberto Teixeira Primo2

RESUMO

O artigo teve como objetivo contribuir com subsídios teórico-práticos tendo a História da Matemática como recurso metodológico no processo de ensino e aprendizagem da Geometria na Educação Básica. Como estratégias de ação foram oferecidas aos professores de Matemática do Colégio Estadual Nestor Victor da cidade de Pérola - Paraná, trabalhos em grupos, leituras, dinâmicas, pesquisas na internet, debates, apresentação e discussão de vídeos subsídios teórico-práticos relevantes para a compreensão da temática, envolvendo os seguintes conteúdos: explicação oral e escrita sobre a temática. Concluiu que a aprendizagem da Matemática possibilita ao docente desenvolver atitudes e valores positivos frente ao conhecimento matemático, levando os alunos a fazer relações da matéria com outros campos do conhecimento. A História da Matemática tem importância fundamental no processo de formação social e cultural dos indivíduos, podendo ultrapassar o limite da informação, para atingir o de formação. Palavras-chave: História da matemática, ensino, aprendizagem, recurso metodológico.

1 Introdução

A História da Matemática é um recurso muito importante para o ensino e

aprendizagem da Matemática, possibilitando ao docente desenvolver atitudes e

valores positivos frente ao conhecimento matemático. É preciso que os alunos

percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano.

Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se em uma

prática social indispensável para a introdução de um determinado conteúdo na sala

de aula.

Conforme propõem as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCEs) –

Paraná (2006) para o ensino da Matemática, a aprendizagem integra cognição,

1 Professora de matemática, concluinte PDE 2010. Graduada em matemática FAFIU – UNIPAR com especiali-zação em Gestão Orientação e Supervisão. Docente do Colégio Estadual Nestor Vìctor, em Pérola, NRE- Umua-rama. Contato: [email protected] Professor de Comportamento Assintático de Soluções de Equações Diferenciais da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Contato: [email protected]

Page 5: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

4

afetos e valores situados no contexto social e cultural. Desta forma, o conhecimento

como representação do social é mediado pela identidade social (aspectos cognitivo-

afetivos). Nessa perspectiva, há uma primazia dos aspectos socioculturais sobre os

individuais.

Em diferentes situações, a História da Matemática pode ser utilizada como

recurso para explicar as ideias matemáticas que estão sendo construídas pelos

alunos, de maneira especial, para atender a determinados “porquês”, no sentido de

contribuir para a constituição de uma prática mais significativa acerca dos objetos de

conhecimento (MIGUEL; MIORIN, 2004).

Assim, a opção pela temática considera a necessidade de buscar

contribuições para a compreensão da importância da História da Matemática no

contexto da prática escolar, como componente necessário de um dos objetivos

primordiais da disciplina; “[...] que os estudantes compreendam a natureza da

Matemática e sua relevância na vida da humanidade” (PARANÁ, 2008, p. 66).

A pretensão em desenvolver um trabalho que relacione a História da

Matemática ao ensino da Geometria na contemporaneidade encontra respaldo na

preocupação com o atual ensino dessa disciplina. Os docentes demonstram

inquietações constantes diante das reformas educacionais, temerosos, sobretudo,

quanto às mudanças relativas à concepção que norteia o ensino e a aprendizagem

frente à teoria histórico-cultural.

Tenho participado ativamente da vivência como docente da disciplina na

Educação Básica, compartilhando com a maioria dos professores dessa aflição e

inquietação coletiva implicados com o conhecimento matemático e os processos de

aprendizagem norteadores da prática docentes nas escolas na contemporaneidade.

Para Miguel e Miorin (2004), a história contribui para a possibilidade de

dirimir dúvidas e questionamentos, possibilitando a construção da ciência

matemática, superando a resolução mecânica de exercícios repetitivos levando os

alunos a fazer relações da matéria com outros campos do conhecimento.

Por acreditar que a História da Matemática tem importância fundamental no

processo de formação social e cultural dos indivíduos, podendo ultrapassar o limite

da informação para atingir o de formação, o presente artigo tem como objetivo

apresentar os resultados da implementação pedagógica desenvolvida no Programa

de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná

(PDE/PR). As ações apresentadas foram implementadas junto aos docentes da

Page 6: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

5

disciplina de Matemática do Ensino Fundamental e Médio em uma escola do

município de Pérola da região noroeste do estado do Paraná, tendo a História da

Matemática como ferramenta de ensino e aprendizagem da Geometria. O sentido

particular encontrado nessa pesquisa resulta da busca para a explicação de

algumas indagações que, no cotidiano da prática profissional ficam sem respostas,

particularmente, quando se trata dos recursos a serem utilizados no trabalho com a

História da Matemática na sala de aula.

Neste artigo, primeiramente abordamos alguns pressupostos teóricos sobre a

História da Matemática como ferramenta de ensino e aprendizagem da Geometria.

Na sequência, apresentamos a metodologia utilizada e os resultados e discussão re-

sultantes da implementação pedagógica. Por fim, apresentamos as conclusões so-

bre o estudo proposto.

2 A História da Matemática como Ferramenta de Ensino e Aprendizagem da

Geometria

A Matemática teve sua origem na necessidade de sobrevivência do ser

humano que, tradicionalmente, traçou sua história como ferramenta para essa

sobrevivência. No princípio dessa história, essa ferramenta era usada diretamente

para contar ou verificar uma determinada quantidade ou para verificar a exatidão de

um negócio.

Com o desenvolvimento da raça humana, a ferramenta evoluiu e, aos poucos,

tornou-se tão essencial quanto abstrata, em sua maior parte. A matemática ensinada

nos primeiros anos escolares distanciou-se do seu antigo papel de ferramenta para

o desenvolvimento.

A matemática e, desde os gregos, uma disciplina de foco nos sistemas educacionais, e tem sido a forma de pensamento mais estável da tradição mediterrânea que perdura até nossos dias como manifestação cultural que se impôs, incontestada, às demais formas. Enquanto nenhuma religião se universalizou, nenhuma língua se universalizou, nenhuma culinária nem medicina se universalizaram, a matemática se universalizou, deslocando todos os demais modos de quantificar, de medir, de ordenar, de inferir e servindo de base, se impondo, com o modo de pensamento lógico e racional que passou a identificar a própria espécie. Do Homo sapiens se fez recentemente uma transição para o Homo rationalis. Este último é identificado pela

Page 7: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

6

sua capacidade de utilizar matemática, uma mesma matemática para a toda a humanidade e, desde Platão, esse tem sido o filtro para selecionar lideranças (D’AMBROSIO, 2002, p. 10).

As mudanças sociais e aprimoramentos da tecnologia dificultaram que fossem

realizadas previsões mais exatas a respeito de quais habilidades, conceitos e

algoritmos matemáticos seriam úteis para preparar os alunos para o futuro.

Conforme D’Ambrosio (2002) é necessário preparar os alunos para lidar com

situações novas quaisquer que sejam elas. E, para isso, é fundamental desenvolver

nos alunos iniciativas, espírito explorador, imaginação, criatividade e independência.

A oportunidade de usar a história da matemática no cotidiano da sala de aula

contribui para o enriquecimento das aulas, pois não basta fazer mecanicamente, por

exemplo, as operações, de adição, subtração, multiplicação e divisão. É preciso

saber como e quando usá-las convenientemente. Lutz (2010) afirma que:

[...] utilizar-se da História da Matemática é um fator motivador e que despertaria o interesse dos alunos pela matemática. Entretanto não podemos ver este recurso pedagógico apenas como um fator motivador, pois a história por si só não desperta o interesse dos alunos. Se assim fosse, toda a aula de história seria as mais apreciadas da escola (LUTZ, 2010, p. 02).

As atividades matemáticas precisam desafiar a curiosidade e colocar em jogo

as faculdades inventivas dos alunos. Segundo Polya (1997) estudar matemática

implica na satisfação que surge quando o aluno por si só resolve um problema. No

entanto, para resolver problemas, é necessário desenvolver determinadas

estratégias que, geralmente, se aplicam a um grande número de situações. A

história da matemática é um recurso importante para direcionar as explicações e

contribuir para a aprendizagem significativa.

Miguel e Morin (apud PARANÁ, 2008, p. 66) evidenciam que:

A história deve ser o fio condutor que direciona as explicações dadas aos porquês da Matemática. Assim, pode promover uma aprendizagem significativa, pois propicia ao estudante entender que o conhecimento matemático é construído historicamente a partir de situações concretas e necessidades reais.

Na concepção sociohistórica de ensino e aprendizagem são valorizadas as

experiências individuais e culturais, inseridas numa determinada prática social que

Page 8: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

7

se constitui no ponto de partida e de chegada para a discussão e a construção do

conhecimento.

Para D’Ambrosio (2002), as raízes culturais que integram a sociedade são

variadas, pois:

Cada grupo cultural tem suas formas de matematizar. Não há como ignorar isso e não respeitar essas particularidades quando do ingresso da criança na escola. Nesse momento, todo o passado cultural da criança deve ser respeitado. Isso não só lhe dará confiança em seu próprio conhecimento, como também lhe dará uma certa dignidade cultural ao ver suas origens culturais sendo aceitas por seu mestre e desse modo saber que esse respeito se estende também à sua família e à sua cultura. Além do mais, a utilização de conhecimentos que ela e seus familiares manejam lhe dá segurança e ela reconhece que tem valor por si mesma e por suas decisões. É o processo de liberação do indivíduo que está em jogo (D’ÁMBROSIO, 1998, p. 17).

Assim, a história da matemática é um recurso facilitador da aprendizagem da

disciplina, uma vez que propicia que o conhecimento seja reelaborado, tendo-se

como meta a passagem do senso comum para uma consciência crítico-filosófica,

que só é viável pela mediação de conteúdos concretos.

De acordo com Boyer (1996), a história da matemática é um recurso valioso

para a ação pedagógica, constituindo-se num reforço positivo e criativo,

possibilitando trabalhar a partir de onde existe vida, movimento e criatividade. No

que se refere especificamente a sua foi relegada para segundo plano no ensino da

Matemática. Contudo, atualmente, observa-se uma preocupação crescente com o

seu ensino, dada a sua reconhecida importância, pois:

A Geometria desempenha um papel central no currículo da matemática dos ensinos fundamental e médio – e com boas a fundamentadas razões. O domínio dos conceitos geométricos básicos – como formas, medidas de comprimentos, áreas e volumes – é essencial para a integração de um indivíduo á vida moderna. Profissionais de várias áreas técnicas, como carpinteiros, marceneiros, serralheiros, pedreiros, metalúrgicos, dentre muitos outros, usam cotidianamente tais conceitos (LOPES; VIANA; LOPES, 2007, p. 81).

Isto posto, como a própria Matemática, a Geometria consiste em “[...] uma

realização sócio-cultural e científica da espécie humana e seu ensino, remete-nos a

essa venerável tradição” (LOPES; VIANA; LOPES, 2007, p. 81). Todavia, na sala de

Page 9: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

8

aula, a Geometria sempre foi considerada como um tabu, tendo ficado quase no

abandono total como evidenciado pelos autores acima citados.

As causas apontadas pelos mesmos autores supracitados relacionam-se,

principalmente, à reforma consubstanciada com o Movimento da Matemática

Moderna, bem como o despreparo de muitos educadores no que se refere ao

trabalho em sala de aula com os conteúdos relativos à Geometria.

A respeito do assunto, Nacarato e Passos (2003) enfatizam que, mesmo

antes do movimento modernista, o ensino da Geometria na concepção tradicional, já

buscava uma prática de ensino pautada em uma abordagem intuitiva, pela utilização

dos teoremas como postulados, por meio dos quais alguns problemas poderiam ser

resolvidos, sem a preocupação com a construção de uma sistematização das

noções primitivas e empiricamente elaboradas.

A partir da década de sessenta, segundo Barbosa (2003) iniciou-se um

movimento mundial a favor do resgate do ensino da Geometria, com a intenção de

ampliar sua participação na formação integral do aluno. Dentre os objetivos a serem

obtidos foram priorizados os seguintes:

Induzir no aluno o entendimento de aspectos espaciais do mundo físico e desenvolver sua intuição e seu raciocínio espaciais; - desenvolver no aluno a capacidade de ler e interpretar argumentos matemáticos, utilizando a Geometria como meio para representar conceitos e as relações Matemáticas; proporcionar ao aluno meios de estabelecer o conhecimento necessário para auxiliá-lo no estudo de outros ramos da Matemática e de outras disciplinas, visando uma interdisciplinaridade dinâmica e efetiva; desenvolver no aluno habilidades que favoreçam a construção do seu pensamento lógico, preparando-o para os estudos mais avançados em outros níveis de escolaridade (BARBOSA, 2003, p. 02).

Parafraseando o autor supracitado, a Geometria é considerada uma

importante vinculação didático-pedagógica que a Matemática possui. Barbosa (2003,

p. 02) afirma que a Geometria relacionada “[...] à Aritmética e à Álgebra porque os

objetos e relações dela correspondem aos das outras; assim sendo, conceitos,

propriedades e questões aritméticas ou algébricas podem ser clarificados pela

Geometria, que realiza uma verdadeira tradução para o aprendiz”.

As formas diversas de compreender a Geometria apontam dimensões

diferenciadas de entendimento, uma vez que o aprendizado de cada dimensão, em

particular, não está atrelado uma as outras, e também porque cada dimensão

Page 10: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

9

apresenta algumas ideias fáceis para a assimilação e outras mais difíceis de serem

compreendidas. É por isso que as dimensões não podem ser ordenadas de forma

fixa no currículo escolar, pois assim como as próprias figuras geométricas, muitos

conceitos são multidimensionais.

As DCEs – Diretrizes Curriculares de Matemática – Paraná (2008) aponta que

no Ensino Fundamental tem o espaço como referência no conteúdo de Geometria

“[...] de modo que o aluno consiga analisá-lo e perceber seus objetos para, então,

representá-lo”.

Também é importante salientar que, neste nível, o aluno deve compreender

conceitos tais como: estrutura e dimensões das figuras geométricas planas e

cálculos geométricos de área e perímetro, entre outros.

Independente do que irá trabalhar com os alunos em relação à Geometria, o

professor deve levar em consideração a importância de organizar situações que

levem os alunos a investigar e a experimentar, e não somente a ouvir e repetir sinais

e técnicas que, na maioria das vezes, são destituídas de significado para eles.

Lopes; Viana; Lopes (2007, p. 31) afirmam que ”[...] um conceito só é significativo e

compreendido pelo aluno à medida que este possa inseri-lo num sistema de

relações, ou seja, assimilá-lo a outros conhecimentos previamente construídos”

Por meio do estudo da história da geometria, os alunos de 5ª a 8ª série

podem ter a oportunidade de realizar suas primeiras explorações de modo ordenado

(BARBOSA, 2003). Por isso, o professor precisa estar preparado para discutir o seu

ensino, empregando um vocabulário adequado à sua utilização, facilitando a

compreensão das propriedades para que os alunos possam ter a oportunidade de

comparar, classificar, medir, representar, construir e transformar conceitos

considerados relevantes para a sua aprendizagem.

3 Estratégias de Ação

Como estratégias de ação foram oferecidas aos professores de Matemática

do Colégio Estadual Nestor Victor da cidade de Pérola-Paraná, trabalhos em grupos,

leituras, dinâmicas, pesquisas na internet, debates, apresentação e discussão de ví-

deos subsídios teórico-práticos relevantes para a compreensão da temática, envo-

lvendo os seguintes conteúdos:

Page 11: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

10

- Explicação oral e escrita sobre a temática e encaminhamento da discussão

sobre:

• A história da matemática: compreender porque cada conceito foi

introduzido nesta ciência e porque ele sempre foi considerado algo natural no seu

momento.

• Como fazer a Transposição Didática dos conteúdos a partir da história;

• História da matemática e o Erro;

• Prioridade do Professor: Exposição ou aquisição de conhecimentos;

• A história da geometria euclidiana;

• O Lado Prático da Geometria;

• Desmitificando o ensino da Geometria por meio de exemplos práticos.

Essas ações também foram abordadas na unidade temática (material

didático), que foi utilizado como recurso alternativo para subsidiar a prática da

implementação pedagógica junto aos professores. Assim, esses encaminhamentos

possibilitaram respostas às indagações da pesquisa, como também os resultados e

discussões ao final do trabalho proposto.

Com base nisso, a seguir ilustram-se os resultados e discussões das

atividades realizadas junto aos docentes da Educação Básica, tendo a História da

matemática como ferramenta de ensino e aprendizagem.

4 Resultados e Discussão

A escola precisa levar o aluno a aprender a construção das diferentes

culturas, onde os homens são entendidos nas suas especificidades e diferenças.

Nessa perspectiva, não é aceitável a ideia de uma prática com conteúdos estanques

e fora do contexto social. “A História da Matemática é um elemento orientador na

elaboração de atividades na criação das situações-problemas, na busca de

referências para compreender melhor os conceitos matemáticos” (PARANÁ, 2006, p.

45).

A opção pelo estudo da História da Matemática leva em conta que o recurso à

História tem um papel incisivo na organização do conteúdo matemático que se

Page 12: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

11

deseja ensinar, contribuindo para a estruturação do mesmo com base na forma de

raciocínio próprio e de um conhecimento que se opta por construir.

Com tal propósito, no primeiro encontro foram apresentados dois vídeos

sobre a História da Matemática. Após a apresentação dos vídeos, os professores

foram divididos em dois grupos para fazer a síntese dos vídeos apresentados.

Na sequência, os professores refletiram sobre a importância do trabalho com

a História da Matemática. De início, foram propostas reflexões sobre a importância

de estudar a História da Matemática e como integrá-la às atividades cotidianas em

sala de aula, a partir do texto das DCEs -Paraná (2008). O texto proposto evidenciou

a importância de compreender a história da Matemática no contexto da prática

escolar como componente necessário à disciplina, para levar os educandos a

compreenderem a natureza da Matemática e sua relevância na vida da humanidade.

Foi discutido que a abordagem histórica contribui para vincular as

descobertas matemáticas aos fatos sociais e políticos, às circunstâncias históricas e

às correntes filosóficas que determinaram o pensamento e influenciaram o avanço

científico de cada época. Portanto, tal abordagem é um elemento orientador para a

elaboração de atividades, criação das situações-problema, busca de referências

para compreender melhor os conceitos matemáticos, possibilitando aos alunos

analisarem e discutirem as razões para aceitação de determinados fatos, raciocínios

e procedimentos.

Portanto, a história deve ser o fio condutor que direciona as explicações

dadas aos porquês da Matemática. “Assim, pode promover uma aprendizagem

significativa, pois propicia ao estudante entender que o conhecimento matemático é

construído historicamente a partir de situações concretas e necessidades reais”

(MIGUEL; MIORIM, 2004, apud DCEs –PARANÁ, 2008, p. 66).

Com base na leitura e análise do texto, os professores responderam às

seguintes questões: A partir das tendências teóricas propostas nas diretrizes, como

fazer uma abordagem metodológica para o ensino da matemática tendo a história

como recurso no processo de ensino e aprendizagem? Qual o papel do professor?

Qual o papel do aluno? Qual a importância das atividades contextualizadas de

ensino? Quais os instrumentos diferenciados de aprendizagem da Matemática e

que podem ser utilizados para trabalhar a história da matemática?

Algumas respostas ilustram os comentários da maioria dos participantes.

Page 13: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

12

Cada vez mais os professores tem se preocupado com a aprendizagem dos alunos, por isso, tem-se pensado muito na questão da forma de ensinar. Se o aluno não consegue aprender de uma forma é papel do professor buscar outras formas de ensinar. As DCEs discutem essa questão, e por isso é importante pensar sobre a transposição didática, ou seja, os professores precisam encontrar caminhos para ajudar a melhorar a aprendizagem dos alunos e um caminho para isto é aproximar a teoria da prática (Professor 1).Quando o professor opta por começar um conteúdo contando a sua história ele contextualiza melhor o conteúdo para o aluno. Nesse sentido, indo de encontro com o que as DCEs defendem é preciso encontrar outros caminhos que levem o aluno a aprender, ajudando-o a relacionar o que aprende dentro da escola com as suas necessidades do cotidiano pessoal e depois o profissional (Professor 2).A matemática não é uma ciência morta, mas muitos professores trabalham como se ela fosse. Por isso é importante que o ensino seja planejado preocupando-se com aquilo que o aluno já sabe e contextualizando o que vai ser passado. Conhecer a história da matemática, além de ser uma atividade gostosa ajuda a desmistificar a visão de ciência dura que a matemática carrega (Professor 3).

Os professores foram levados a perceber que o trabalho com a Matemática, a

partir da sua história oportuniza aos alunos conhecerem a disciplina como um

campo de conhecimento e construção. Desta forma, não se trata de resolver

atividades repetitivas, sem que estas tenham relação com outros campos de

conhecimento, mas buscar questionamentos pertinentes que conduzam a reflexões

para a construção do conhecimento matemático em sala de aula.

O caminho do conhecimento exige a superação de metodologias que mantêm

a ação pedagógica assentada na repetição e na cópia, isto é, deve-se primar pela

prática pedagógica que se distancie do sistema tradicional do decorar e repetir, ler

e reescrever na íntegra, por imposição do professor.

Demo (2000) se refere à importância de suprimir a prática educacional

reprodutiva, ainda presente nos sistemas de ensino. Para o autor, ensinar não trata

somente de um único caminho, mas consiste, sobretudo, em orientar os alunos para

a busca de conhecimentos com intenção crítica, proporcionando condições de

conduzi-lo às fontes de informações diferenciadas analisando as verdades, por

meio de atividade que envolva a pesquisa.

Com esse propósito, os professores fizeram uma pesquisa em livros, sites da

internet (utilizando o laboratório de informática da escola), em revistas pedagógicas,

nas Diretrizes Curriculares de Matemática do Estado do Paraná (2006/2008), a

Page 14: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

13

respeito da importância da História da Matemática no processo ensino e

aprendizagem da disciplina.

Com base na pesquisa realizada, os professores fizeram uma síntese dos

registros para posterior discussão entre os grupos. Com base na experiência

vivenciada com a pesquisa e do diálogo com os grupos, os professores

responderam às seguintes questões: Qual a importância da pesquisa? Tem

relevância para os alunos? Pode contribuir para a transformação da prática do

professor? Qual a importância da pesquisa no trabalho com a História da

Matemática? É possível trabalhar a história da matemática a partir da pesquisa?

Os professores envolveram-se com o trabalho proposto de forma dinâmica.

Os comentários a seguir ilustram a síntese de dois grupos participantes:

Acredito que a partir da pesquisa o aluno passa a aplicar a teoria na prática, percebe a proximidade daquilo que está sendo ensinado com o seu dia-a-dia. Isso é muito bom, porque os alunos acham a matemática muito difícil e partindo da pesquisa e da realidade eles vão percebendo que o conteúdo escolar é para usar na vida, por isso os matemáticos foram criando os cálculos matemáticos (Professor 1).Cada vez mais os professores da Educação Básica estão percebendo a importância da pesquisa no processo ensino e aprendizagem dos alunos, porque a pesquisa faz com que o aluno vá à busca do conhecimento e o professor seja somente o mediador deste processo. Além disto, quando o aluno faz pesquisa ele conhece a história daquele conteúdo que está aprendendo e passa a perceber que ele tem uma utilidade prática para a sua vida (Professor 2).

O ser humano é antes de tudo um ser político, reflexivo e sujeito de sua

história. Assim, a educação tem um compromisso transformador de sensibilização,

em que a conscientização convida os homens a assumir uma posição frente ao

mundo.

Desta forma, o ensino não pode se apresentar de forma fragmentada, e o

espaço da sala de aula não pode se constituir somente em um espaço para a

transmissão de conteúdos teóricos. É preciso articulá-los à realidade concreta dos

alunos, pois o compromisso pedagógico do educador deve ser com a transformação

da sociedade (GASPARIN, 2005).

Em um segundo encontro, adentramos o campo específico da História da

Geometria, a partir da apresentação de um vídeo intitulado “Origem da Geometria” O

texto do vídeo apresentou questões provocativas. Em duplas, os professores fizeram

Page 15: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

14

registros dos fatos que relevantes. Posteriormente, trocaram ideias com a classe.

Como atividades complementares fizeram leituras e debateram a respeito da

compreensão de um texto que tratou sobre a História da Geometria. Na íntegra, o

texto contou com tópicos interessantes que serviram de subsídios teórico-práticos

para o estudo proposto.

O texto estudado versou sobre as origens da Geometria (do grego medir a

terra) que coincidem com as necessidades do dia-a-dia. Partilhar terras férteis às

margens dos rios, construir casas, observar e prever os movimentos dos astros

foram algumas das muitas atividades humanas que dependeram de operações

geométricas. Documentos sobre as antigas civilizações egípcia e babilônica

comprovam conhecimentos sobre o assunto, geralmente, ligados à astrologia. Foi

lembrado que na Grécia, porém, é que o gênio Euclides lhes deu forma definitiva.

Dos gregos anteriores a Euclides, Arquimedes e Apolônio constam apenas o

fragmento de um trabalho de Hipócrates. E o resumo feito por Proclo ao comentar os

"Elementos" de Euclides, obra que data do século V a.C., refere-se a Tales de Mileto

como o introdutor da Geometria na Grécia, por importação do Egito.

Após as leituras e discussões, cada grupo ficou responsável pela

apresentação um tópico. Foram trabalhados cinco tópicos assim distribuídos: uma

medida para a vida (Grupo 1); o corpo como unidade (Grupo 2); ângulos e figuras

(Grupo 3); medidas de superfícies (Grupo 4); novas figuras (Grupo 5).

Após a organização dos grupos, os professores participantes fizeram a leitura

e análise do texto, sintetizando os aspectos principais observados. Posteriormente,

fizeram registros em um cartaz organizador, para apresentação à classe.

A escrita do cartaz foi comparada com os registros organizados no caderno,

pontuando as confirmações, os equívocos, as ampliações e os aprofundamentos

realizados. Em seguida, cada grupo apresentou o conteúdo aos colegas usando da

sua criatividade.

Após as apresentações, o conteúdo foi retomado com o objetivo de socializar

as observações, solicitando que cada grupo organizasse uma síntese dos textos

consolidando suas observações para socialização com os demais. Na sequência, foi

realizada a comparação de cada grupo, observando o que houve de comum e dife-

rente em cada exposição oral, focalizando os aspectos indispensáveis para a organi-

zação de uma segunda apresentação oral. Foi avaliado cada um dos recursos utili -

Page 16: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

15

zados pelos expositores do ponto de vista da sua adequação ao conteúdo e à com-

preensão do público, focalizando as estratégias mais eficazes.

A respeito da atividade, em grupos os professores assim se manifestaram:

Quando trabalhamos desta forma, utilizando as medidas para a vida, o corpo como unidade, ângulos e figuras, medidas de superfícies e novas figuras vamos aproximando o conteúdo matemático da vivên-cia dos nossos alunos, eles compreendem melhor o que o professor ensina quando percebe a proximidade com a realidade. Por isso, no trabalho da matemática, mas principalmente da geometria, acredita-mos que resgatar a sua história e trabalhar com situações práticas é fundamental para a aprendizagem do aluno, fazendo com que ele participe ativamente deste processo (Grupo 2).Nada é criado por acaso, na matemática não é diferente, o cálculo e a geometria surgiram para ajudar o homem a resolver problemas que enfrentava no seu dia-a-dia. Mas nem sempre o professor esteve dis-posto a recuperar essa história e o conteúdo era trabalhado como se a matemática fosse totalmente abstrata, sem conexão com a realida-de. Assim, a transposição didática faz com que o professor se aproxi-me desta forma de trabalhar, ajudando o aluno a ver que a matemáti-ca tem uma origem e que aquilo serve para ele usar na vida (Grupo 3).

Lutz (2010, p. 01) evidencia que a História da Matemática deve estar presente

em sala de aula. “No entanto surgem dúvidas quando se analisa qual a melhor forma

de utilizar este recurso”. Faz-se necessário que os professores utilizem estratégias

diferenciadas de ensino e aprendizagem. Isso é particularmente relevante para da

Matemática.

Desta forma, como ficou evidente nos comentários dos professores, as

atividades desenvolvidas, propiciaram a reflexão do grupo sobre a importância de

contextualizar a História da Matemática. Ao instituir comparações entre os conceitos

e os processos matemáticos do passado e do presente, o professor contribuirá para

que os alunos desenvolvam atitudes e valores significativos acerca do conhecimento

matemático.

No terceiro encontro reforçamos a ideia de que a Matemática, considerada

uma Ciência exata por excelência, muitas vezes, está associada a um falso

imobilismo, que nenhuma ciência de fato apresenta. Na oportunidade, os

professores refletiram sobre a importância de trabalhar a História de forma

diferenciada, por meio de instrumentos diversificados, tais como: vídeos, poesias,

contos, músicas. A Matemática está presente no cotidiano. Daí a importância de

levar os alunos a aprender Matemática a partir da sua história.

Page 17: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

16

Os professores refletiram que a Matemática para o aluno não pode ser posta

como uma Ciência morta, mas como uma Ciência viva na qual um progresso

contínuo é realizado.

Assim sendo, na oportunidade, discutimos o lado prático da Geometria

Euclidiana. Para melhor compreensão do conteúdo, primeiramente, foi apresentado

um vídeo sobre Euclides para discussão coletiva. Após as reflexões sobre o vídeo,

os professores debateram os aspectos práticos apresentados no vídeo, dando

respostas para as seguintes questões (em duplas). O que você sabe sobre

Euclides? Qual a importância de trabalhar a Geometria tendo o vídeo com

ferramenta pedagógica? O trabalho com o vídeo facilita a compreensão do

conteúdo? Você utilizaria o vídeo em suas aulas para trabalhar a história da

Geometria? Por quê? Faça uma síntese do conteúdo abordado no vídeo sobre

história da Geometria.

Os professores responderam às questões para posterior discussão com os

outros grupos. Após as discussões sobre a importância do vídeo com ferramenta

pedagógica para trabalhar a História da Matemática, com a intenção de favorecer a

criatividade, foi apresentada aos professores a poesia “Geometria do Pinheiro”.

Após a leitura da poesia, os professores usaram a criatividade para redigir

poesias, música e/ou formas de contar a História da Matemática, basicamente, da

Geometria, adequando os conceitos à realidade atual, tendo como tema a

Geometria Euclidiana.

As produções foram apresentadas aos colegas. A seguir ilustramos um

exemplo de poesia criada pelos professores sobre a Geometria Euclidiana:

A vida não é uma geometria Euclidiana, temos mais curvas do que planos, mas as pessoas, assim como as perpendiculares podem se encontrar, diferente das retas paralelas que distante sempre vão ficar. Não há reta que se acabe e nem semi-reta que não continue, porque na vida e na matemática nada é eterno. Bom seria se a vida fosse como os ângulos retos, sempre iguais, sem tropeços e sofrimentos, um cálculo sempre exato e o amor fosse como dois pontos distintos, em que somente um reta pudesse passar por eles, a vida e a matemática nem sempre são tão exatas, o importante é aprender que tudo tem uma história e isso é que vale a pena. (Trabalho Coletivo 1).

A respeito desta forma de trabalhar, os professores disseram:

Page 18: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

17

O que eu mais gostei de trabalhar desta forma é porque acho que os alunos se envolvem na atividade. Eles ficam preocupados em produzir alguma coisa legal, trabalham em grupo e sempre que precisam podem solicitar a ajuda do professor (Professor 1).Essa forma de trabalhar ajuda o professor a motivar os alunos para realizar as atividades propostas, eles gostam quando a forma de ensinar é diferente da aula expositiva, em que o professor resolver problemas no quadro e passa uma lista de exercícios para eles resolverem (Professor 2).A impressão que eu tenho é que desta forma os alunos participam da atividade e isso é muito importante, porque a coisa mais importante é o envolvimento do aluno na aprendizagem, se isso não acontece, eu acredito que a aprendizagem não é significativa (Professor 3).

A instituição e o sistema escolar, independente de seu grau de ensino,

cumprem o papel primordial de transmissão da cultura e do saber estabelecido.. No

entanto, é inegável que entre o que é produzido e entendido como saber e o que é

ensinado na sala de aula, existem diferenças significativas.

Uma possibilidade para entender este processo de transformações, é fazer

uso do conceito de transposição didática utilizado inicialmente por Chevalard e

Joshua (1982) na didática francesa.

A Transposição Didática foi trabalhada no quarto encontro e contribuiu para

exemplificar que o processo de transformação do saber não o simplifica, mas

contribui para refazer os caminhos percorridos pelo saber; do saber científico

(original) até o saber ensinado, quando então os conteúdos chegam aos livros e à

sala de aula.

Deste modo, cabe à noosfera3 a função de nomear quais os saberes

científicos que podem ser transformados e levados à sala de aula, e que serão

mediados pelo professor, mediante a comunicação estabelecida com o

conhecimento dos alunos um determinado recurso utilizado.

Assim sendo, para uma melhor compreensão do conteúdo “Transposição

Didática” foi realizada a leitura do artigo proposto por Morais e Marcolan (2010)

intitulado “Transposição didática: o processo de transformação de saberes”. O

texto apresenta reflexões sobre algumas questões que dizem respeito à

Transposição Didática.

3A existência destes patamares ou níveis sugere a existência de grupos sociais diferentes que res-pondem pela existência de cada um deles. Estes grupos diferentes, mas com elementos comuns liga-dos ao saber, fazem parte de um ambiente mais amplo, que se interligam, coexistem e se influenciam denominado de noosfera (ALVES FILHO, 2003).

Page 19: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

18

Para isso, em um primeiro momento o texto situa o papel da escola enquanto

instituição educativa. Em seguida, ilustra uma distinção entre saber e conhecimento,

tratando dos diferentes saberes: saber científico; saber a ensinar e saber ensinado;

quem produz e instrui o saber; e, por último, se detém em discutir o que é a

Transposição Didática, inferindo que ela é o processo de transformação pelo qual

passa o saber.

Ao trabalhar o texto com os professores, objetivou-se considerar as

implicações de modelos dominantes, como o modo didático de pensar a História da

Matemática, por exemplo, representada pelo aporte da "transposição didática".

Para Alves Filho (2000), o processo de transformação do saber sábio para

saber a ensinar não é realizado de forma aleatória ou ditado meramente por

circunstâncias, mas em razão, sobretudo, de tornar possível um determinado saber

(ALVES FILHO, 2000).

Após a leitura e discussões sobre a transposição didática e de sua

importância para o tema em questão, tendo a “História da Geometria” como objeto

de estudo, os professores foram divididos em dois grupos para elaborar uma

transposição didática com o conteúdo proposto. Após a preparação da aula, a

mesma foi apresentada em forma de seminário à classe.

Para isso, os professores pautaram seus estudos nas sugestões de

Chevallard e Johsua (1992, apud ALVES FILHO, 2000), que propõe algumas regras

básicas que nortearam a atividade proposta, Tais diretrizes foram concebidas como

forma de facilitar a análise dos diferentes saberes que se enunciaram com base em

cinco regras principais:

- Regra 1 - Modernizar o saber escolar: a modernização faz-se necessária,

pois o desenvolvimento e o crescimento da produção científica são intensos. Novas

teorias, modelos e interpretações científicas e tecnológicas forçam a inclusão de

novos conhecimentos.

- Regra 2 - Atualizar o saber a ensinar: saberes ou conhecimentos

específicos, que de certa forma já se vulgarizaram ou banalizaram, podem ser

descartados, abrindo espaço para introdução do novo.

- Regra 3 - Articular saber velho com saber novo: a introdução de objetos de

saber novos ocorre melhor se articulados com os antigos. O novo se apresenta

como que esclarecendo melhor o conteúdo antigo, e o antigo hipotecando validade

ao novo.

Page 20: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

19

- Regra 4 - Transformar um saber em exercícios e problemas: o saber sábio,

cuja formatação permite uma gama maior de exercícios é aquele que, certamente,

terá preferência frente a conteúdos menos operacionalizáveis. Esta talvez seja a

regra mais importante, pois está diretamente relacionada com o processo de

avaliação e controle da aprendizagem.

- Regra 5 - Tornar um conceito mais compreensível: os conceitos e definições

construídos no processo de produção de novos saberes elaborados, muitas vezes,

com grau de complexidade significativo, necessitam sofrer uma transformação para

que seu aprendizado seja facilitado no contexto escolar.

Os professores foram levados a compreender que a transposição didática é

um conceito recente, mas que se constitui em um instrumento efetivo para a leitura

e análise do processo transformador do saber científico em Matemática. Sua

capacidade de abrangência permite justificar tanto os processos envolvidos na

construção do saber e na sua divulgação como a estruturação deste saber quando

apresentado em livros textos, bem como permite uma melhor compreensão a

respeito das modificações pelas quais ele passa, até ser ensinado na sala de

aula. Os relatos dos docentes confirmam a questão:

Esta maneira de trabalhar a matemática supera aquela forma mecânica de ficar resolvendo exercícios desconexos com a realidade. Não que nós acreditamos que seja possível compreender a matemática sem resolver exercícios, o que fica disto é que o aluno se interessa mais pelo conteúdo, porque percebe a sua função em situações práticas do cotidiano (Grupo 1). Como a Matemática é uma ciência exata, muita gente acredita que ela já surgiu com todas essas fórmulas. Para nós essa recente forma de pensar o ensino da matemática, a partir da transposição didática possibilita refletir sobre a origem dos cálculos da matemática de maneira contextualizada e faz os docentes pensar que a matemática de hoje surgiu da necessidade que os estudiosos perceberam de resolver situações do dia-a-dia, é lógico que depois estes cálculos foram ficando mais sofisticados, mas na sua essência, estão relacionados a situações do cotidiano (Grupo 2).

Os professores demonstraram compreender que a transposição didática

como recurso para planejar o ensino é um caminho para tornar um conceito

matemático mais compreensível para os alunos, com grau de complexidade mais

significativo dada à contextualização na prática.

Conforme o entendimento de Gasparin (2005), ao modificar a postura frente a

uma concepção teórica de mundo, é possível alterar o tratamento metodológico

Page 21: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

20

dado aos conteúdos vislumbrando-se a possibilidade de uma retomada no processo

ensino e aprendizagem numa concepção transformadora de educação.

Page 22: SECRETARIA DE ESTADO DA · percebam a Matemática como possibilidade de resolver problemas do cotidiano. Segundo D’Ambrósio (2002), a relação com fatos do passado constitui-se

21

REFERÊNCIAS

ALVES FILHO, J. P. Regras da transposição didática aplicadas ao laboratório didático. In: Cad. Cat. Ensino da Física, v.17, n.2 p.174-188, ago.2000. Disponível em: <http://www.fsc.ufsc.br/cbef/port/17-2/artpdf/a4.pdf>. Acesso em: 10 de julh. de 2011.

D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo / Pedro Demo. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000. (Biblioteca da educação. Série 1. Escola; v. 14)

BARBOSA, P. M. O Estudo da Geometria. Revista Benjamin Constant, n° 23, p. 14 – 22. Rio de Janeiro: Agosto de 2003. Disponível em: <http://200.156.28.7/Nucleus /media/common/Nossos_Meios_RBC_RevAgo2003_Artigo_3.rtf>. Acesso em: 17 de nov. de 2011.

BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgar Blücher, 1996.

GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3. ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

LOPES, S. R.; VIANA, R. L.; LOPES, S. V. de A. Metodologia do ensino da matemática. Curitiba: IBPEX, 2007.

LUTZ, M. M. A história da matemática no contexto do livro didático. Disponível em: <http://www.matematica.ucb.br/sites/000/68/00000077.pdf>. Acesso em: 20 set. de 2010.

MIGUEL, A.; MIORIN, M. A. História na educação matemática: proposta e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

MORAES, M. M.; MARCOLAN, S. G. Transposição didática: o processo de transformação de saberes. ÁGORA – Revista Eletrônica, nº 11 / Dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.ceedo.com.br/agora/agora11/_MaristelaMariadeMoares_ SimoneGobiMarcolan_transposi%E7%E3odidatica_oprocessodetransformacaodesaberes.pdf>>. Acesso em: 20 set. de 2010.

NACARATO, A. M.; PASSOS, C. L. B. A geometria nas séries iniciais: uma análise sob a perspectiva da prática pedagógica e da formação de professores. São Carlos: EdUFSCar, 2003.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.

_____. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2006.