Segredos da Marquesa e do Pantofe

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da Marquesa e do Pantofe

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imagens imaginadas do real Sentimentos em palavras soltas Ou talvez não

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da Marquesa e do Pantofe

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HelLagPhotography, 2013

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“Segredos da Marquesa e do Pantofe”

Este projeto fervilha na minha cabeça há já muito tempo mas não me atrevia!

Mas chegou o momento de apresentar algumas das fotos e as palavras que as acompanham, lado

a lado, ao acaso, ou talvez não!

São os sentimentos que nas palavras se pretendem exprimidos que precedem as fotos ou são

estas que despoletaram um mar de palavras recriando sentimentos?

Me dirão.

Uma e outra se conjugaram e nem uma nem outra se destacaram.

São imagens de sentimentos recriados e do real imaginadas

HelLag

http://www.hellagphotos.blogspot.com

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Ensaios esvoaçantes Que rodopiam freneticamente

Na minha mente Em sequência encadeada

Quase desenfreada Algumas interferências externas e internas

Mas sem perder o sentido Dos sentidos mais apurados

Ver o pássaro que voa sem voar Ouvir seu chilrear ritmado

Comer e sentir o paladar das migalhas de pão seco Cheirar o perfume que paira no ar

Tocar nas suas penas macias E sonhar

Sonhar com ensaios esvoaçantes Ensaios que rodopiam freneticamente

Na minha mente Em sequência encadeada

Quase desenfreada Algumas interferências externas e internas

Mas sem perder o sentido Dos sentidos mais apurados

Ensaios esvoaçantes

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Ensaios esvoaçantes

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O que vemos retemos Na mente e no coração Mas o que marca mais

A cicatriz na mente ou a do coração Fazemos o que a mente manda

Ou o que o coração sente Que fazer quando a mente nos fala da razão

Que fazer quando o coração nos diz o que sente Mas porque não podem ser companheiros

Nesta viagem turbulenta que nos molda a vida Somos o que vimos e retemos dentro de nós

Somos o que sentimos em toda a sua plenitude Mas o que fazer com o que vimos O que fazer com o que sentimos

Retribuímos Mas de que forma retribuímos o que nos é dado

Dou bem quando bem recebo Dou mal quando esse me foi ofertado

Ou simplesmente dou o que sinto na alma A alma que equilibra a mente e o coração A que dá sem se importar se vai receber

A que dá bem quando recebeu mal A que dá sem nada receber

Simplesmente porque dar não é para receber Dar é dar sem se importar

Se algo vai receber

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Somos o que Vimos, Sentimos e Retribuímos

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E o que vemos, sentimos e retribuímos, Deixa marcas em cada um de nós

Como grandes cicatrizes De feridas desenhadas por bisturi afiados

Em mãos preparadas para ferir sem magoar Mas há cicatrizes que não vemos

Mas que nos azem sangrar de forma abundante Como rio tumultuoso de largo caudal

Com sabor a sal e cheiro a vinagre Umas feridas cicatrizam rápido

Outras parecem não querer cicatrizar Há feridas especiais

Que carecem de maiores cuidados E melhor identificam a característica perniciosa

Do bisturi humano Tão acutilante

Tão mais acutilante que bisturi cirúrgico

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Confiava plenamente no seu trabalho, empenho e dedicação. Sabia mesmo que ele dava tudo por tudo mas não escondia nada; sempre confiara nele porque ele não mentia, dizia a verdade ainda que dura e crua, sem magoar porque de forma compassiva. Sentia angústia mas nada podia agora fazer, as luzes acenderam-se e tudo iria começar de novo, mais uma vez e nas suas mãos novamente me entregava. Apertei a sua mão antes de adormecer naquele sono forçado, fechei os olhos e deixei-me levar naquela estranha sensação de levitação. Não era o meu primeiro sono forçado mas parecia sempre tudo novo, não havia como me habituar, somente aceitar. E sonhei, sonhei que estava curada e que não mais voltaria a falar com a Marquesa e muito menos seria iluminada pelo Pantofe.

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Confiança e entrega total Confiança e entrega total

Fechou os olhos e deixou-se levar A sua pele denunciava o medo

Sem pensar nem sentir o frio

Que a marquesa lhe provocava

Aceitou a luz e o calor quente

Que o pantofe lhe ofereceu

Confiança e entrega total

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Anabela não mais iria esquecer o acidente, aquele que lhe transformara radicalmente a vida, a sua vida e de todos os que a rodeavam com tanto carinho; os pais, o marido e os seus dois queridos filhos, os amigos. Os seus sogros

surpreenderam pois nunca foram a favor do casamento com o seu precioso filho, a joia como lhe chamavam! Passaram a ser atenciosos e se antes nem a olhavam olhos nos olhos, agora faziam-no e de forma compassiva, sim, compassiva, ela sabia que sim. A vida tem destas coisas, às vezes é preciso que algo nos corra mal para que muitos

e bons momentos apareçam depois e amaciem as feridas de apenas um. Anabela confiava plenamente.

Aquela não era mais uma operação, aquela era a operação! O Dr Felício, o cirurgião que a acompanhara durante os últimos meses, explicou detalhadamente o que lhe iriam fazer, sem rodeios mas de forma calma, explicando os riscos, percentagens que negamos vir a estar nelas incluídas.

Anabela confiava o seu futuro naquelas mãos Anabela simplesmente confiava

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Uma gota, um segundo, uma vida

1 gota 2 gotas 3 gotas Cai gota A gota 1 segundo 2 segundos 3 segundos Passa segundo A segundo 1 vida 2 vidas 3 vidas Brilha vida Vida Vida salva Em cada segundo Por cada gota

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Não falo de anjos invisíveis Daqueles que nos dizem vir do céu

Anjos de asas brancas, pálidos Falo de anjos cá da terra

Daqueles de carne e osso Daqueles, poucos mas compassivos Que não se acham anjos mas o são

Pois os anjos não se vangloriam Apenas estão aqui e ali e acolá

E sentimo-los sem os ver Porque o pantofe nos cega

E a marquesa nos imobiliza Mas estão lá, os anjos

Aqueles de carne e osso E também aqueles

Que nos dizem vir do céu E uns protegem os outros

E os outros protegem os uns! E eu sinto-me protegida

Por aqueles dois anjos Os uns e os outros

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E o anjo que nos protege em momentos difíceis

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Sim, estou aqui sempre a teu lado

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Estou aqui Sossegada, silenciosa, assustada Quero que me toques, me acaricies Não, esse toque não, que me dói O outro...sim...esse...que bom Esse toque que me dá força e conforto Me alivia e me aquece Esse toque que me agarra à vida Esse toque que me tranquiliza Sim, toca em mim Estou aqui e quero que me toques

Estou aqui e preciso de ti Anjo de branco

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Os Pequenos Grandes Nadas

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Aqueles nadas que podem e fazem toda a diferença Aqueles nadas que julgamos sempre poder fazer por nos parecerem tão fáceis de executar Mas afinal, aqueles nadas agora valem tudo, são nadas preciosos como pérolas E agora os aprecio com mais intensidade e valor, os nadas que agora valem tudo

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Filomena estava com 24 anos de idade e trabalhava como enfermeira há apenas uma ano; empenhava-se no que fazia e parecia gostarem do seu trabalho considerando a avaliação feita pela chefe de equipa e a chefe do serviço. Fora bem acolhida, teve sempre apoio das colegas e sentia-se motivada; o serviço era desafiante, muitos casos difíceis, por vezes

angustiantes. Os pais de Filomena preferiam que tivesse frequentado medicina, ter uma médica na família era o sonho deles, como fizera seu irmão que seguiu os passos do avô, médico prestigiado na aldeia alentejana de Borba. Mas

acabaram por compreender a essência da sua profissão principalmente após a tia Alice ter sido internada e regressou a casa tecendo elogios ao trabalho das enfermeiras no serviço de ortopedia onde estivera 45 dias; “ai a paciência delas,

nunca pensei que fizessem tanta falta a nós”, dizia a tia Alice em tom de voz arrastado, a quem a visitava já no recanto da sua casa. Filomena aprendera a gerir o tempo, a agir depressa e bem, a controlar as emoções, bem, isso não era

verdade! Filomena não conseguia aguentar a pressão duma paragem cardíaca mas tinha de aguentar! Nesses momentos atuava como uma máquina programada para agir em segundos, segundos que o Sr Simões não teria mais se não

agissem depressa, com rigor, com conhecimento, com agilidade. Segundos que para Filomena pareciam intermináveis, que a faziam ficar com a face ao rubro e a engolir em seco; as mãos já não lhe tremiam como aconteceu na primeira

RCP que assistira mas não deixavam de ficar suadas. “300 joules”, pedia o médico e Filomena preparava o desfibrilhador, “afastem-se” e a descarga elétrica trespassava o corpo do Sr Simões, uma vez, e mais uma! Ficavam

todos a olhar para o monitor, esperando que aquela linha encarnada deixasse de o ser e bip, bip, bip. Aquelas ondas pontiagudas eram o melhor presente para todos, bip, bip, bip. E olharam-se, sorrindo e o Sr Simões abriu os olhos.

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RCP, RCP, RCP

Adrenalina no ar

Adrenalina na seringa

Corações a palpitar

Coração sem falar

Respiração ofegante

Respiração ausente

Bocas secas

Engolir em seco

E esperança

Muita esperança

Até à desesperança total

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Sonhos profundos

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Sonhos profundos Tão profundos que nos elevam aos céus, que nos fazem voar e sonhar

Sonhar que voamos mesmo sem asas, livres como pássaros apaixonados Sonhos profundos que iludem a realidade mas que só nos fazem bem ao acordar

E descobrir que afinal foram só sonhos e não estivemos acordados De regresso à realidade, acordamos do sonho

Pois aquela dor não nos deixa mais sonhar

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A luz que nos queima a alma Esta luz tão forte que se abate sobre mim

Que me aquece e conforta

Antes de adormecer para o desconhecido

Olho-a de frente mas não aguento

Tão forte que é, obriga-me a fechar os olhos

E acreditar que estará presente

Quando estes mesmos olhos se abrirem

Regressando do sonho que espero não pesadelo.

E a luz se desvanece e fica mais fraca

E eu mergulho no sono pesado que me é obrigado

Até ficar escuro como breu

E entrego-me sem resistir

Desejando que aquela luz

Não me queime a alma

E não me roube o que é meu

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Senti-me como uma estrela pop sob a luz ofuscante, quente, sorri para ela e deixei seu calor invadir todo o meu corpo. Sonhei estar no palco das celebridades, ouvia os aplausos e assobios estridentes, era uma estrela adorada, sim,

gostavam de mim e eu fazia vénias de agradecimento e meu coração batia depressa como cavalo de corrida.

Mas a luz do palco apagou-se, os aplausos deixaram de se ouvir, os assobios também e eu voltei à realidade mas sabia ser a estrela, a estrela principal daquele palco especial. Sim, era a estrela principal e os outros presentes, atores

figurantes mas importantes pois o palco precisava deles e, afinal, eu também!

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Não te queria deixar mas foi mais forte que eu, lutei com todas as minhas forças mas ele venceu Lutei com os teus beijos, lutei com o teu abraço, lutei com o teu sorriso, lutei com a força do teu amor,

lutei, lutei mas não venci Agarrei a tua mão, queria ficar assim para sempre e assim fiquei pois o sempre parou ali

E para sempre me sentirei agarrada a ti Até sempre é muito tempo. Não, não é, para sempre pode ser apenas um segundo mais

E nesse segundo, quero estar agarrada a ti

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Realidade imaginativa

Simbiose de sentimentos e pensamentos Onde julgamos uma realidade

Que afinal não passou de imaginação Onde julgamos ter imaginado

E afinal é a realidade Imaginamos e realizamos

Ou Realizamos o que imaginamos

Não sei, só sei que não quero realizar o que não imagino, nem imaginar o que

não possa realizar

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Pensava que aguentava

Maria sempre fora uma rapariga forte, desenganem-se, não era forte de físico mas forte de espírito. Até era uma lingrinhas, como lhe chamavam, mas nos momentos de decisão, lá estava ela na frente, resoluta, sem hesitações algumas. Não sabia porque era assim, a mãe chorava por tudo e nada que via na televisão, o pai nem se dava por

ele, nem dava opinião sobre coisa alguma. Diziam que saía à avó Matilde, mulher trabalhadora, decidida, que nunca se queixava da vida, a aceitava com música no coração e som na garganta afinada. Quando alguém na

aldeia tinha um problema, vinham ter com ela e desabafavam, abriam o seu espiral de receios, indecisões, medos; dizem que ela os ouvia e nunca se cansava e que no final, saíam com um sorriso de tranquilidade. Não

sei, devia ser uma madre Teresa de Calcutá lá na aldeia pois todos a adoravam e quando passava na rua era cumprimentada com uma vénia e as palavras “viva Ti Matilde”! Pois é, dizem que Maria é como a Ti Matilde mas que sabem eles, nada de nada e como estão enganados. Maria vivia consumida há mais de dois anos desde

que acompanhou o marido Miguel ao hospital; a consulta era para saber o resultado do exame e como desconfiava sem nunca o demonstrar, o exame dera positivo. A voz do médico parecia uma faca afiada nas suas gargantas e engoliram ambos em seco, olhando-se mutuamente como um pesadelo se tratasse. Não era pesadelo mas seria um pesadelo de vida, de idas ao hospital, tratamentos tão dolorosos como caros, não fosse a ajuda da

mãe Vitória e teriam de ficar na lista de espera, as viagens que pareciam cada vez mais longas, a espera no refeitório, a espera do novo resultado, a espera da enfermeira, a espera do médico, tudo passou a ser uma espera de qualquer coisa. Sim, a vida passara a ser sempre uma espera e Maria estava cansada, cansada de se olhar ao

espelho e o cabelo não crescer, cansada de não poder usar vestidos de alças para não se ver o dispositivo, cansada de ter de vestir roupas largas para não verem quanto magra estava, cansada, cansada. Sempre lhe

disseram que se parecia com a avó Matilde mas quanto se enganaram, Maria pensava que aguentava tudo mas tudo é demais e o demais ultrapassa tudo. Maria pensava que aguentava mas afinal não aguentava.

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Já não aguentava mais, não fora capaz de seguir a voz da razão quando o coração lhe gritava, NÃO! Já não aguentava mais

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Até que um sopro gelado passou por Maria e a levou

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Quem caminhará pela Maria? Quem percorrerá os trilhos que descobrira? A Maria e a outra Maria e tantas Marias

Tantas caminhadas juntos, léguas percorridas de mão dada, passos sincronizados., lado a lado E agora?

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Como era possível que ignorasse a sua presença? Diziam que era bela, tinha um corpo esbelto e um sorriso irradiante, diziam e Rosa acreditava. Mas ele não dava valor a isso, nem aos abraços que lhe dava, nem aos beijos que rejeitava

com repugnância, nem ao chá verde que lhe dava quando estava doente, ao cumprimento caloroso quando chegava de madrugada a casa. Era invisível para ele, não a olhava nos olhos, não tocava nos seus lábios, desconhecia o sabor a

framboesa da sua língua, ignorava a sua pele macia. Rosa tornara-se invisível para ele e não sabia o que fazer mas Rosa não sabia que o melhor seria ficar assim invisível, como mais tarde dolorosamente se comprovou.

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Com o decorrer do tempo, Rosa passou a desejar ser invisível. Não sabia o que acontecera mas agora ele

exigia a sua presença, Rosa deixara de ser invisível. De invisível, Rosa passou a ser para ele, a droga para a sua frustração. O que pensava nunca lhe vir a acontecer,

aconteceu e havia momentos em que Rosa rezava para ser invisível como antes. Mas

agora ele a queria sempre, a toda e qualquer hora mas

não para a abraçar, beijar ou simplesmente acariciar. Ele queria a Rosa para a deixar marcada no corpo e alma,

para fazer valer a sua força, a sua virilidade. Rosa já não

queria mais ser visível, Rosa já não queria ser invisível,

Rosa só queria morrer.

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Rezava com todo o seu fervor

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Madalena não costumava rezar diariamente, apesar de ter estudado num colégio de freiras; há já muitos anos que Madalena deixara de rezar e mesmo de ir à missa aos Domingos. Mas hoje Madalena rezava com todo o seu fervor,

queria agradecer terem salvo a vida do seu menino Duarte, do menino que tanto desejara, queria agradecer tamanho milagre. Nunca acreditara em milagres e afinal os milagres surgem a cada esquina, a cada segundo porque viver é um milagre da vida e Madalena só poderia rezar com todo o seu fervor pelo milagre da vida que fora agraciada. Madalena

rezava, a quem não sabia, mas rezava com todo o seu fervor e com o ardor da vida que envergava com ela.

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Rita sonhara com dois lindos anjos a dormir lado a lado, afinal os anjos também dormiam e Rita então passou

a acreditar na mãe que lhe dizia todas as noites com um

beijo, “dorme meu anjo, dorme bem”!

Afinal os Anjos Dormem

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E Rita dormiu como um anjo E Rita sonhou com a mãe

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Quando a alma se liberta do corpo

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Voamos bem alto

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Diabo dentro de mim

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Joana sempre fora traquinas como a avó Felisberta lhe chamava, “traquinas que nem o avô Mário”, dizia tantas vezes, tantas as traquinices que fazia. Joana

lembra-se do gato Pipas que amarrou à árvore numa noite fria, do Kikas, o cão

lamechas que gania só porque lhe apertava as orelhas ou do Cagufas, o cágado da vizinha que se refugiava na

carapaça assim que lhe cheirava a alfazema. Sim alfazema era o perfume que Joana usava e o Cagufas tinha bom olfato; a mais de 6 metros já sabia que Joana se

aproximava dele. Joana era assim, traquinas mas não fazia por mal, não era

má apenas tinha muita energia e imaginação, nunca conseguia estar parada como a sua mana Maria, sempre tão bem comportada. Não, Joana não gostava de

ver filmes sentada no sofá ou ler os livros dos “Cinco”; Joana gostava de correr na

praia, de subir à árvore da escola, de andar de bicicleta e fazer cavalinhos. Por isso Joana não gostava de saias e andava sempre de calças de ganga vestidas ou de jardineiras e chorava no Natal quando a avó Mafalda insistia em lhe oferecer um

vestido; já juntara seis no roupeiro e nenhum deles já lhe servia. Joana era

traquinas mas não tinha o diabo dentro de si, Joana era apenas traquinas como a avó Felisberta lhe chamava, “traquinas

que nem o avô Mário”, dizia tantas vezes, tantas as traquinices que fazia.

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Espreitara o que não queria ver

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Dá-me a tua mão, abraça-me Não me deixes aqui sozinha …………………

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Não devia ser assim, é contra natura O ciclo de vida deve correr como o rio Sonhou com ela durante 40 semanas Imaginava os seus olhos verdes esmeralda Seu cabelo negro como o seu Mãos finas como as do seu pai O nariz redondo como o avô António Os lábios iguais à tia Alice Imaginava-a com um pedaço de cada um Sonhou com ela durante 40 semanas E 40 dias esteve com ela E em 40 minutos tudo se tentou e mudou E em 40 segundos a perdeu Não devia ser assim Mas foi assim que aconteceu

Derramou suas lágrimas

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Não suportou tanta dor

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Tenho um tesouro E vou partilhar contigo

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Estou feliz. Quero dançar até me cansar

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Hoje estou feliz e estarei amanhã e depois de amanhã também estarei feliz. Acreditava que podia acontecer e aconteceu o que tanto desejara e no tanto que acreditara. Agora só quero dançar, dançar, dançar e rodopiar até

ficar tonta e precisar que me segures para não cair, me ampares nos teus braços, outrora frágeis e agora tão fortes. Quero dançar até que as pernas me doam e os pés reclamem mas não vou parar, não vou parar. Inventei um

ritmo em segredo durante todos estes meses e só agora o desvendo; os passos ritmados numa sequência desordenada são o resultado da ocupação terapêutica da mente. Dançava em segredo, sem me mexer mas

dançava freneticamente a teu lado e tu sem saberes pois dançava de desejo e esperança, sem o saber.

Agora danças comigo e descobres surpreso os passos que inventei, para ti, só para ti e para mim também. Deixa-te levar pelo ritmo, não resistas, fecha os olhos, apoia-te em mim como outrora me apoiei em ti, lembras? Esta vai ficar gravada como a nossa dança, a dança da coragem que enfrentou uma guerra de inimigo invisível; nunca fomos de eleger certos momentos, mas aprendemos de forma dolorosa e ficámos a saber que há mesmo

momentos para eleger. Antes não apreciavas dançar, dizias que não sabias os passos e agora dançar é apenas dar os passos que a vida nos proporciona e todos os passos têm um ritmo, o ritmo dos corações, o ritmo da vida.

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O ovo estrelado

Receitas especiais

Ingredientes diferentes

Talheres esquisitos

Tudo nas nossas mentes

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Não me escapas

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Disparo Certeiro

Na mente

No corpo

No coração

Na alma

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Se não te pertence, alguém te tira

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Pedaço de mim

Fazia parte de mim

Era parte integrante do meu corpo

Sensível, sensual, bela

Mas pedaço de mim foi retirado

E eu já não sou eu

Eu já não faço parte de mim

Mas eu não sou um pedaço

Mas muitos pedaços de mim

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Loucura

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E assim se passaram 60 momentos num tempo Mas o que é o tempo O que é loucura A leitura Do tempo Que não é tempo

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Produções Lagartinho

Março 2013