SEGURO, A PROTEÇÃO AINDA PARA...

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A disseminação do seguro ainda é baixa no Brasil. Até o mais comum, de carros, alcança só um terço da frota nacional, e a parcela de casas protegidas se limita a 14%. As dificuldades para ampliar a co- bertura no país começam já na educa- ção formal, numa cultura menos volta- da para a prevenção e nos baixos salári- os, que deixam pouco espaço no orça- mento das famílias para gastar com se- guro. Essas questões foram debatidas no seminário “O comportamento do consumidor de seguros e os desafios da inclusão” , feito pela Confederação Naci- onal das Seguradoras (CNseg) em par- ceria com O GLOBO: — Ainda não somos vistos como um setor estratégico, a exemplo do que ocorre em países mais desenvolvidos. Em todo o mundo, entretanto, o grande desafio para o seguro é ser mais bem compreendido por seus consumidores — afirmou Marcio Coriolano, presiden- te da CNSeg. O serviço tem peso relevante no Pro- duto Interno Bruto (PIB). O volume de prêmios pagos chegou a R$ 425 bilhões, equivalentes a 6,5% do PIB, e as reser- vas para garantir indenizações quando o beneficiário precisa usar o seguro so- mam R$ 1,2 trilhão, mas só 24% da po- pulação têm seguro-saúde e 13% inves- tem em previdência privada. Especialistas acreditam que, além da renda — metade dos trabalhadores brasileiros ganhava menos do que um salário mínimo em 2017 —, há um oti- mismo da população, que não gosta de pensar em perdas, não incluindo, portanto, o seguro nas suas despesas. Isso, apesar da tranquilidade que ele proporciona, como lembrou Renato Campos, diretor da Escola de Seguros: — Temos que tornar mais clara a ideia de que uma pessoa que compra um se- guro de automóvel e não sofreu aciden- te de carro usou esse seguro durante um ano. Ele comprou tranquilidade pa- ra sair com o automóvel e deixá-lo esta- cionado na rua. Precisamos explorar mais esse viés. Usa-se o seguro, sim, ha- vendo ou não um sinistro. Especialistas destacam ainda a neces- sidade de criar produtos mais acessíveis para a população de baixa renda, a que mais precisa do seguro. l Setor discute os obstáculos para aumentar a presença do serviço. Educação, cultura e renda são fundamentais para ampliar cobertura SEGURO, A PROTEÇÃO AINDA PARA POUCOS QUARTA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 2018

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A disseminação do seguro ainda é baixano Brasil. Até o mais comum, de carros,alcança só um terço da frota nacional, ea parcela de casas protegidas se limita a14%. As dificuldades para ampliar a co-bertura no país começam já na educa-ção formal, numa cultura menos volta-da para a prevenção e nos baixos salári-os, que deixam pouco espaço no orça-mento das famílias para gastar com se-guro. Essas questões foram debatidasno seminário “O comportamento doconsumidor de seguros e os desafios dainclusão”, feito pela Confederação Naci-

onal das Seguradoras (CNseg) em par-ceria com O GLOBO:

— Ainda não somos vistos como umsetor estratégico, a exemplo do queocorre em países mais desenvolvidos.Em todo o mundo, entretanto, o grandedesafio para o seguro é ser mais bemcompreendido por seus consumidores— afirmou Marcio Coriolano, presiden-te da CNSeg.

O serviço tem peso relevante no Pro-duto Interno Bruto (PIB). O volume deprêmios pagos chegou a R$ 425 bilhões,equivalentes a 6,5% do PIB, e as reser-

vas para garantir indenizações quandoo beneficiário precisa usar o seguro so-mam R$ 1,2 trilhão, mas só 24% da po-pulação têm seguro-saúde e 13% inves-tem em previdência privada.

Especialistas acreditam que, alémda renda — metade dos trabalhadoresbrasileiros ganhava menos do que umsalário mínimo em 2017 —, há um oti-mismo da população, que não gostade pensar em perdas, não incluindo,portanto, o seguro nas suas despesas.Isso, apesar da tranquilidade que eleproporciona, como lembrou Renato

Campos, diretor da Escola de Seguros:— Temos que tornar mais clara a ideia

de que uma pessoa que compra um se-guro de automóvel e não sofreu aciden-te de carro usou esse seguro duranteum ano. Ele comprou tranquilidade pa-ra sair com o automóvel e deixá-lo esta-cionado na rua. Precisamos explorarmais esse viés. Usa-se o seguro, sim, ha-vendo ou não um sinistro.

Especialistas destacam ainda a neces-sidade de criar produtos mais acessíveispara a população de baixa renda, a quemais precisa do seguro. l

Setor discute os obstáculos para aumentar a presença do serviço. Educação, cultura e renda são fundamentais para ampliar cobertura

SEGURO, A PROTEÇÃOAINDA PARA POUCOS

QUARTA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 2018

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2 l O GLOBO l Especial l Quarta-feira 20 .6 .2018

Ainda que os consumidores de rendabaixa sejam mais vulneráveis e osmais expostos a acidentes e doenças,o Brasil é um país cuja cultura remetepara o seguro como um serviço de lu-xo. Isso ocorre, principalmente, por-que para metade dos trabalhadoresbrasileiros a renda média — fator de-terminante para a contratação dessetipo de proteção — é inferior a um sa-lário mínimo. Encontrar soluções pa-ra incluir essa parcela da populaçãona rede de seguros privados foi o temado painel “Os desafios da inclusão se-curitária em um país de renda média”.

— Temos de mudar a mentalidadede que seguro é serviço de luxo. Quemestá na base, na linha da pobreza, pre-cisa mais do que os outros porque osriscos e consequências são maiores.Ele está mais sujeito à violência, à per-da de emprego com carteira e, geral-mente, tem uma casa, um carro precá-rios. Na América Latina, os problemasde saúde são os principais responsá-veis pela entrada de pessoas na pobre-za, logo, um seguro é altamente ne-cessário para essa população. É preci-so não só educar, mas criar uma cultu-ra de seguros — afirmou o palestranteMarcelo Neri, economista e diretor doFGV Social.

JOVENS E INFORMAÇÃO PELO CELULARNeri ressaltou que um caminho possí-vel para transformar essa cultura sãoos jovens de ensino médio, que po-dem servir como ponte para a educa-ção financeira dos pais, principal-mente por meio de jogos e outros apli-cativos que possam ser acessados pe-lo telefone celular. Os dados mais re-centes do IBGE, referentes a 2017,mostram que 93% dos lares brasileirostêm o aparelho, e 70% das famíliasacessam a internet. Ele pondera, po-rém, que há regionalismos que preci-sam ser considerados:

— São Paulo é a meca dos segurosno país e não é porque a renda e o ní-vel educacional são maiores. É algocultural. Esse tema, educação e segu-ros, é importante, e é preciso levar emconta que tem uma questão culturalque transcende a renda, porque é re-sultado da educação somada à experi-ência de vida que a pessoa carrega.

Carlos de Paula, diretor de Supervi-são de Conduta da Superintendênciade Seguros Privados (Susep) — órgãoresponsável pelo controle e fiscaliza-ção dos mercados de seguro, previ-dência privada aberta, capitalização eresseguro — destacou que o setor estáempenhado em oferecer produtosque atendam às necessidades e cai-bam no bolso dessa parcela da popu-lação, como os microsseguros e segu-ros inclusivos.

— Sem inclusão, continuaremos pro-duzindo serviços só para as classes A e Be aumentando a desigualdade. Temos depensar que tipo de país queremos. O nú-mero de contribuintes para o regime ge-ral da Previdência caiu porque o númerode trabalhadores informais passou o doscom carteira de trabalho no Brasil. Issoacendeu um sinal vermelho para nós —disse Paula.

PRODUTOS ESPECÍFICOS PARA INCLUSÃOEle citou a circular do microsseguro, onormativo que trata do seguro popular,e as novas regras do seguro-funeral co-mo medidas relevantes para ampliar aproteção da população que mais preci-sa contar com a cobertura. E deu comoexemplo o seguro-funeral:

— Uma senhora de uma comunidadeteria de desembolsar R$ 3 mil em casode morte de um familiar, quando podepagar entre R$ 7 e R$ 12 por mês parater uma cobertura de até R$ 10 mil. Nãoresolve a vida dela, mas diminui o im-pacto da perda e evita que ela tenha depedir dinheiro emprestado a vizinhos.Esse seguro-funeral é exemplo de su-cesso nessa camada da população —disse o diretor da Susep.

SERVIÇOS ADEQUADOS AO CLIENTEHá dois tipos de produtos específicospara a inclusão desses consumidores: omicrosseguro, que tem foco na popula-ção de baixa renda, e o seguro inclusi-vo, que contempla os excluídos e os su-batendidos. Além disso, existem os se-guros massificados, com abrangênciamaior, mas cuja mensalidade ou o cha-mado prêmio é de baixo custo; como oseguro de cartão de crédito, que pode

ser feito por qualquer um, independen-temente da renda.

Regina Simões, coordenadora regionalpara a América Latina da Access to Insu-rance Initiative(A2ii), instituição que re-úne mais de 200 entidades como a Susepem todo o mundo, destacou que a inclu-são da população de baixa renda nomercado de seguros precisa ser efetiva.Isso significa, explicou, por definição in-ternacional, “a entrega conveniente eresponsável de serviços que respondamàs necessidades de consumidores finan-ceiramente excluídos a um custo viávelpara os clientes e sustentável para osprovedores”.

— A inclusão financeira não é simples-mente ter conta bancária, mas tem quesaber porque tem. Em relação ao seguro,o beneficiário tem de saber o que ele estácobrindo. Vender seguro de renda paraum aposentado, que já tem essa garan-tia, não é inclusão. Esse movimento só épossível com a oferta de produtos ade-quados e de preço justo — explicou Re-gina, que ainda sugeriu que pequenas emédias empresas também sejam alvodesse processo.

Segundo Carlos de Paula, para ex-pandir esse mercado, a atual gestão daSusep está ancorada em três pilares:desburocratização, melhoria contínuada supervisão e fomento do mercado.

PARCERIA ENTRE PÚBLICO E PRIVADOAinda que a renda seja uma barreira, Neriressaltou que, no Brasil, o caminho parase chegar à parcela mais pobre da popu-lação já está pavimentado, tendo em vistaa existência dos cadastros únicos da esfe-ra pública, meio pelo qual são concedi-dos benefícios sociais, e que possibilitamidentificar quem são e onde estão essasfamílias. O número de lares beneficiadospelo Bolsa Família chegou perto de 14milhões em maio. Segundo Neri, essescadastros são compostos por 70 milhõesde brasileiros. Ou seja, um terço da popu-lação se encaixa nesse perfil de maior vul-nerabilidade financeira e social.

— Mais do que um diagnóstico, te-mos um caminho pavimentado parachegar lá. Você sabe quem são os po-bres, e o caminho é usar experiênciaslocais. Os governos municipais coletamos dados que alimentam o banco fede-ral. Então, deve-se partir para parceriasentre o público e o privado, fazendoprogramas locais — sugeriu Neri.

Para o diretor do FGV Social, essa in-clusão também passa pela contrataçãode seguros para a implementação depolíticas públicas.

— Sou defensor de meta social e ges-tão por desempenho em todos os cam-pos de políticas públicas. Numa escolaonde os alunos aprendem mais, os pro-

fessores merecem um prêmio maior,mas esse sistema quebra quando vocêtem risco sistêmico. É o caso de umainundação numa escola que está sendoavaliada. Isso afeta o desempenho dosalunos, por ficarem sem aula, sem bibli-oteca. É preciso ter um sistema de seguropara a política pública funcionar. Mas is-so não é comum. Os seguros são neces-sários para o sistema meritocrático fun-cionar bem — defendeu Neri.

BAIXA ESCOLARIDADE É DESAFIOPara Regina, a educação formal é pré-condição para a contratação de seguroe, no Brasil, uma barreira:

— Não podemos falar em educaçãofinanceira se temos baixo nível de edu-cação formal, como é o caso do Brasil,que tem um dos piores índices da Amé-rica Latina. É muito fácil falar para os5% mais ricos, mas e com os outros95%, que muitas vezes têm dificuldadesde leitura e interpretação? É difícil.

Segundo Neri, uma pessoa com ensi-no superior tem 250% mais chances deter cobertura de seguros do que umanalfabeto funcional, com as mesmascaracterísticas (raça, sexo, idade, regiãode moradia).

— O grau de escolaridade, quandomais alto, não só dá condições de a pes-soa pagar pelo seguro, mas de percebera importância desse produto — com-pletou o diretor da FGV Social.

Também desafia a expansão do setorde seguros no Brasil um resiliente e atésurpreendente otimismo com a própriavida, ainda que haja um persistentepessimismo com o país, ressaltou Neri.

OTIMISMO COMO TRAÇO CULTURALO economista citou o Índice de Felici-dade, produzido pelo Instituto Gallup.A pesquisa pede a moradores de 160países para dar nota de 0 a 10 para a suasatisfação com a vida daqui a cincoanos. O Brasil foi o líder desse ranking,com a nota média mais alta, de 2006 até2014, ano em que começou a crise eco-nômica. E, mesmo com a recessão seaprofundando nos dois anos seguintes,o país só caiu uma e depois mais trêsposições nessa lista, para o quinto lugarem 2017.

— Vender seguro é mais desafiante seo consumidor é um otimista invetera-do. E o brasileiro é um otimista por na-tureza — analisou Neri, lembrando queuma maior percepção de risco tornariao consumidor mais prudente e propen-so à compra de seguro.

O nível de cobertura dos seguros so-ciais públicos, que são consideradossuficientes para atender à grande par-cela da população, também é um limi-tador da expansão desse mercado. l

Setor estuda alternativas mais baratas e adequadas ao perfil dessecliente, que mais precisa de proteção. Há ainda o desafio cultural

VULNERÁVEL, CONSUMIDOR DE BAIXARENDA TEM POUCO ACESSO A SEGURO

Orçamento. Carlos de Paula (à esquerda), da Susep, Luciana Casemiro, do GLOBO, Regina Simões e Marcelo Neri falam de produtos mais acessíveis

“Temos de mudar amentalidade de queseguro é serviço deluxo. Quem está nabase, na linha dapobreza, precisamais do que osoutros porque osriscos e asconsequências são maiores”Marcelo NeriEconomista, diretor do FGV Social_

“Sem inclusão,continuaremosproduzindoserviços só para asclasses A e B eaumentando adesigualdade”Carlos de PaulaDiretor da Superintendência deSeguros Privados (Susep)_

“Em relação aoseguro, o beneficiáriotem de saber o queele está cobrindo.Vender seguro derenda para umaposentado, que játem essa garantia,não é inclusão. Essemovimento só épossível com aoferta de produtosadequados e depreço justo”Regina SimõesCoordenadora para AméricaLatina da Access to InsuranceInitiative (A2ii)_

“Vender seguro émais desafiante seo consumidor é umotimistainveterado. E obrasileiro é umotimista pornatureza”Marcelo NeriEconomista, diretor do FGV Social_

“É muito fácil falarpara os 5% maisricos, mas e com osoutros 95%, quemuitas vezes têmdificuldades deleitura einterpretação?É difícil”Regina SimõesCoordenadora para AméricaLatina da A2ii

50% dos trabalhadores brasileiros tinham, em2016, renda média real mensal estimada

em R$ 747, inferior ao salário mínimodaquele ano, que era de R$ 880_

70% era a parcela de lares brasileiros comacesso à internet, em 2017. Um dos

principais meios de conexão é o celular,canal que pode ser usado para a promoção

da educação financeira_

70 milhõesde pessoas fazem parte de cadastros

únicos da esfera pública, meio pelo qualsão concedidos benefícios sociais. É essa

população que precisa ser incluída nomercado de seguros_

14 milhõesde famílias foram beneficiadas pelo Bolsa

Família em maio deste ano, segundo oMinistério de Desenvolvimento Social

_

250% é a chance de pessoas com ensino superior

terem cobertura de algum tipo de seguroem relação a um analfabeto funcional

_

75,8anos é a expectativa de vida dos

brasileiros, segundo o dado mais recentedo IBGE, referente a 2016, um acréscimo detrês meses e 11 dias em relação a 2015 e de

30 anos em relação a 1940

EDUCAÇÃO FINANCEIRA_

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Aumentar a cobertura de seguro num país derenda média, como é o caso do Brasil, é mais di-fícil, principalmente depois de três anos segui-dos de recessão e estagnação. Marcio Serôa deAraujo de Coriolano, presidente da ConfederaçãoNacional das Seguradoras (CNSeg), diz que, parauma expansão maior do segmento, o setor de-pende da retomada de emprego, renda e produ-ção, assim como da promoção de um ambienteregulatório estável. A educação do consumidor edos corretores é outro caminho para tentar am-pliar o mercado.

— A retomada de um círculo virtuoso, não sópara o setor de seguros, mas para todo o país, vaidepender da retomada de economia, de que sedestravem projetos de investimentos e tambémda recuperação da renda — afirmou Coriolano.

Mas a baixa disseminação do seguro entre osbrasileiros, não se resume a uma questão de ren-da, avalia a doutora em Psicologia Social pelaPUC-SP, Vera Rita de Melo Ferreira. Especializadaem comportamento econômico, a psicóloga dizque diferentemente do que acontece, por exem-plo, nos EUA e na Inglaterra, não temos uma cul-tura de seguro:

— Temos a característica da imprevidência. Po-rém, nos países onde há a cultura da prevenção,de um modo geral, vê-se uma espécie de mana-da, em que as pessoas não tomam esta decisão deforma individual. É um hábito. Educação e comu-nicação são pilares para esclarecer e informarcorretamente, e, a partir daí, proporcionar umarelação de consumo saudável. O modo como sãoapresentadas as informações afeta a avaliação e adecisão.

Diretor técnico da CNSeg, Alexandre Leal, dizque outra forma encontrada pelo mercado parareduzir a sensação de que o seguro é um dinheirogasto por nada é agregar serviços aos produtos.Por exemplo, ao contratar o seguro residencial, ocliente também tem direito a chaveiro 24 horasou limpeza de caixa d’água. O seguro-automóvelpode oferecer serviços em oficinas mecânicasparceiras até a limpeza do automóvel, além dedescontos em estacionamentos e vantagens empostos de combustíveis.

— Ao agregar outros serviços, você tem a possi-bilidade de uma aproximação maior entre a segu-radora e o cliente. Normalmente, assinada a apó-lice, encerra o contato com o corretor. Esta é tam-bém uma forma de aproximar a clientela do setor,oferecendo este outro tipo de produto agregadoao seguro — diz Leal.

Na avaliação do economista José Marcio Camar-go, professor da PUC-RJ, a estrutura da proteçãosocial brasileira, aliada à desigualdade de renda nodesestimula a busca pelo seguro, em especial poraqueles que ganham abaixo do teto da Previdên-cia Social, hoje em R$ 5.200. Ele ressalta que o tra-balhador formal no Brasil é forçado pelo Estado apoupar todos os meses 11% do salário para a Pre-vidência, somados aos 20% pagos pela empresa,além de 8% de FGTS ao mês também transferidospela empregadora.

— Por causa dessa poupança forçada, esse assa-lariado tem muita dificuldade de contratar um se-guro-saúde ou residencial. É um sacrifício que nãotem efeito, já que não tem retorno desse dinheiro.Ninguém quer pagar para usar esse serviço. Poroutro lado, só quem ganha mais do que o teto daprevidência estatal, hoje em R$ 5.200, tem interes-se em contratar previdência privada para não ver arenda cair na aposentadoria. É irracional quem ga-nha até R$ 5 mil agora contratar previdência —afirma Camargo.

CAPACITAÇÃO É FUNDAMENTALOutro aspecto cognitivo que prejudica a escolhado seguro é a falta de familiaridade com o serviço ea crença exagerada de que a pessoa tem a capaci-dade de resolver os problemas no momento quesurgirem. Esse comportamento, diz Vera Rita,vem de um comportamento que dá prioridade aopresente, um comportamento que vem da nossaancestralidade desde os tempos da caverna. A ex-pectativa de longevidade aumentou, mas o com-portamento humano, de maneira geral, não evo-luiu na mesma velocidade, destaca a especialista:

— Continuamos olhando só para o presente, paraa sobrevivência imediata, e não para a posterior. É onosso lado Homer Simpson, impulsivo, preguiçoso,

falando mais alto. Isso nos atrapalha na hora de serprevidente, contratar um seguro.

Leal lembrou que o consumidor também mudasua atitude ao contratar um seguro, ao adotar umapostura mais descuidada em relação ao bem, semse preocupar em mantê-lo seguro. O dirigentetambém citou a dificuldade que o consumidortem de avaliar se o valor a ser pago pelo seguro éproporcional ao risco ao qual estará exposto.

— Temos que introduzir nas empresas técnicasde como se vende esse negócio, buscando novosmeios de atingir uma parcela maior da populaçãoafirma o diretor da CNseg.

A capacitação dos corretores de seguros paraalém das técnicas tradicionais de venda é um dosmaiores desafios de um setor, que precisa conven-cer clientes otimistas por natureza e com dificulda-des de mensurar riscos a pagar por algo que espe-ram nunca ter de usar. Vera Rita ressaltou a impor-tância de os corretores entenderem como a mentehumana funciona e combinar isso, na hora da abor-dagem, com transparência e clareza na explicaçãosobre coberturas, exclusões, carências e franquias.

— É preciso alinhar os objetivos da seguradoraaos do consumidor, para que todos falem a mes-ma língua e tenham a melhor experiência possí-vel. É difícil o momento de usar o seguro, pois querdizer que a pessoa já teve um problema. Se, nessemomento, ela tiver uma péssima experiência, dife-rente daquilo que comprou, do que o corretorvendeu, aquele cliente já era — avalia Vera Rita.

Coriolano explica que o Programa Educaçãoem Seguros tenta, justamente, melhorar a per-cepção e a compreensão sobre o que é o serviço.

— Um diálogo franco se faz necessário paraaperfeiçoar problemas do setor em relação a pro-dutos, processos e relacionamento com a popula-ção, seja de consumidores de seguros, ou não, l

CNseg diz que melhorano mercado de trabalho e

da regulaçãoimpulsionariam ramo

EXPANSÃODEPENDE DERETOMADAECONÔMICA

EDUCAÇÃO FINANCEIRA_

Programa. Opresidente daCNseg, MarcioCoriolano, dizque asseguradorasestão investindoem educaçãopara melhorar apercepção doserviço.

“A retomada de umcírculo virtuoso, nãosó para o setor deseguros, mas para opaís, vai dependerda retomada deeconomia, de que sedestravem projetosde investimentos etambém darecuperação darenda”Marcio CoriolanoPresidente da CNSeg_

“O mercadoinformal, hoje, trazmalefícios para asociedade, namedida em que apessoa tem umaexpectativa de quevai receber umaproteção e, quandoocorre o problema,invariavelmente nãoé atendida”Carlos de PaulaDiretor da Susep_

“Continuamosolhando só para opresente, parasobrevivênciaimediata, e nãopara a posterior. É onosso lado HomerSimpson, impulsivo,preguiçoso, falandomais alto. Isso nosatrapalha na horade ser previdente,contratar umseguro”Vera Rita de Mello FerreiraDoutora em Psicologia Social pelaPUC-SP_

“Temos que tornarmais clara a ideia deque uma pessoaque compra umseguro deautomóvel e nãosofreu acidenteusou esse segurodurante um ano. Elecomproutranquilidade”Renato CamposDiretor-geral da Escola Nacional deSeguros

A expansão de um mercado paralelo ao de se-guro é motivo de preocupação não só do setor,mas também de entidades de defesa do consu-midor e de órgãos do governo. Com preços maisacessíveis do que o seguro formal, verifica-seum crescimento da demanda pelo serviço, quealém de veículos, já chegou aos segmentos decelular, vida e até saúde.

A Superintendência de Seguros Privados (Su-sep) tem recebido várias denúncias de consu-midores, principalmente em relação a contratosde proteção veicular, e vem buscando caminhospara resolver o problema da informalidade. Se-gundo o diretor de Supervisão de Conduta doórgão, Carlos de Paula, a solução para o proble-ma passa por sociedade civil, Estado e entida-des de representação do setor:

— O mercado informal, hoje, traz uma série demalefícios para a sociedade, na medida que a pes-soa tem uma expectativa de que vai receber umaproteção e, quando ocorre o problema, invariavel-mente não é atendida. Resta a elas procurar o Mi-nistério Público (MP), a polícia, a Justiça e, em algu-mas situações, a própria Susep, que vem desenvol-vendo um trabalho conjunto com essas instituiçõespara combater este tipo de atuação.

Para Carlos de Paula, não basta só reprimir, masentender o que levou à expansão desse mercado:

— A discussão do caro ou do barato tem a vercom cultura securitária. Esse é o grande desafio dosetor. Há uma discussão se não poderíamos avan-çar com a oferta de produtos com menos benefíci-os, como no caso do seguro dos automóveis. Tal-vez um modelo mais compacto vá ao encontro dasnecessidades de uma parcela da sociedade.

Coordenadora regional para a América Latinada Acess to Insurance Initiative (A2ii), ReginaSimões, afirma que a oferta de seguros a preços

justos é a melhor forma de evitar o mercado in-formal, que não tem de constituir reservas ecumprir requisitos de proteção, e, justamentepor isso, tem uma vantagem competitiva sobreo setor formal e oferece risco ao consumidor.

ALIANÇAS PARA COMBATER A INFORMALIDADERegina conta que, em um evento sobre o impactoda informalidade nos mercados, com supervisoresde 15 países, percebeu-se que na América Latina hámais semelhanças do que diferenças:

— Talvez a questão do seguro de automóvel sejamais latente no Brasil, mas há informalidade gran-de no Peru e na Argentina. Enfrentamos as mesmasquestões, mas cada país tem sua lei, e os problemassurgem quando há um vácuo do mercado formal,ao não conseguir oferecer a cobertura demandada.

O problema, pondera a especialista, não é doEstado nem do mercado: é preciso estabeleceralianças para combater a informalidade, por-que as pessoas vão buscar formas de se prote-ger, seja no mercado informal ou no formal.

Já Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidenteda FenaSaúde (que representa17 grupos de opera-doras da saúde suplementar), afirma que é muitodifícil competir com o mercado informal:

— Não temos preço. Nosso custo é alto, paramanter reservas financeiras e dar garantia aosusuários de que terão sua indenização. Não háessa certeza nos planos informais.

O diretor da Susep diz que há cerca de 400 pro-cessos administrativos contra instituições que atu-am fora da regulação, e lembra que tramita no Con-gresso o Projeto de Lei 3.139, que regula cooperati-vas, associações e instituições que vendem produ-tos semelhantes a seguros na informalidade. l

Susep trabalha compromotorias e polícia

para combater falta deproteção a consumidores

INFORMALIDADE AVANÇA COM PREÇO BAIXO, MAS SEM GARANTIA

Desafio. Diretorda Susep, Carlosde Paula, falouda dificuldadede trazer para omercado formalcooperativas eassociações

Expediente: Editor responsável: Luciana Rodrigues Edição: Cássia Almeida e Luciana Casemiro Repórteres: Ione Luques e Daiane Costa Fotografia: Fábio Guimarães Diagramação: Luciane Costa

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4 l O GLOBO l Especial l Quarta-feira 20 .6 .2018

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ComaresiliênciaeaforçadeumsetorquemovimentouquaseR$430bilhõesemprêmiosnoanopassado,atingindoaparticipa-çãode6,5%doPIBnacional,omercadoseguradoracumulou

R$ 1,2 trilhão emgarantias financeiras para indenizações (oubene-fícios) futuras. Alémdegerar empregos e impul¬sionar a economia,a proteçãodaspessoas edo seupatrimônio, comodacasa edoauto-móvel, torna o setor distinto entre as demais atividades. Damesmaforma, importantes serviços só se viabilizampor conta da presençados seguros.Os inúmeros aviões que atravessamdiariamenteo céubrasileiro,porexemplo,nãopoderiamvoarsemoseguro.Issoporqueascompanhiasaéreas,tendoemvistaoaltocustodasaeronaves,nãoteriamcomoarcarcomoriscodeperdas,nãofosseoseguro.Parase terumaideia,osetorpagoumaisdeR$277bilhõesnaforma

debenefícios, indeniz¬ções, resgatese sorteios, deixandomilhõesdeconsumidoresamparadospelascoberturasdepatrimônio,vida,saúde,previdênciaprivadaecapitaliz¬ção.Mesmocomesteabrangenteguar-da-chuvaemtermosdeproteção, o setor aindanãoépercebidopelasociedadebrasileira coma relevânciamerecida, segundopesquisasfeitaspelaConfederaçãoNacional dasEmpresasdeSegurosGerais,PrevidênciaPrivadaeVida,SaúdeSuplementareCapitalização,aCNseg,esuasFederações(FenSeg,FenaPrevi,FenaSaúdeeFenaCap).O presidente da CNseg, a Confederação das Seguradoras,

Marcio Coriolano, afirma que as duas principais característi-cas do seguro - proteger riscos de pessoas, famílias, empresas,governos, e formar reservas financeiras exclusivas para pagarindenizações - colocam o setor entre os mais importantes para

o bom andamento de políticas econômicas dos governos e noprotagonismo do desenvolvimento do País.Aspesquisasrevelam,porém,quepartedasociedadedesconhece

ofatodeque,acadavezqueumcontratodeseguroéfechado,asegu-radora éobrigadaa reservar recursospara garanti-lo.Atualmente,essemontante reservado de garantias já alcança R$ 1,2 trilhão emativos,queéequivalentea25%dadívidapúblicabrasileira, tornandoosetor seguradorumdosmaiores investidores institucionais.Paraaproximarosetordasociedadeemgeralecombateradesin-

for¬mação,aCNsegesuasFederaçõescriaram,em2016,oProgramadeEducaçãoemSeguros.São21açõesqueutilizamdiversoscanaisde comunicação para dar evidência ao tema, incluindo livretos,cartilhas, palestras, vídeos, programas de rádio, redes sociais eparcerias com instituições de ensino e órgãos de defesa do consu-midor. O Programa de Educação em Seguros também integra aEstratégiaNacional deEducaçãoFinanceira (ENEF).Realizado pelo jornal O GLOBO em 14 de junho, em parceria

comaCNseg, noauditórioda Infoglobo, o “SeminárioNacional deEducação em Seguros” faz parte dessas iniciativas para difundira educação em seguros no Brasil. Além de informar, essas açõestambémbuscamoferecerconteúdosquepermitamomelhorconhe-cimento dos produtos e fundamentos do seguro pela população,melhorandoopoderdeescolhadoconsumidoreumavisãoholísticadomercadopor todaa sociedade.Cada uma das plataformas se utiliza de uma linguagem

própria, passando a informação da maneira mais acessível e

simplificada, para tornar o assunto seguro mais familiar paraas pessoas.Asações têmatingido resultadospositivos, comoéocasodaRádio

CNseg,umdospontoscentraisnaestratégiadedisseminaçãodeinfor-maçõesqualificadassobreseguros.Desdeolançamento,emoutubrode2016,arádiowebveiculou2.500horasdeprogramasinformativos.Noar24horas,agradecombinareportagens,dicas,notíciassobreosetor,economiaepolítica,etambémprogr¬maçãomusical.No meio on-line, um dos destaques do programa é o canal da

CNsegnoYouTube, “OCanalSeguro”,queacumula890milvisua-lizações eoferece vídeos explicativos sobreomercado, como tiposde reservas, taxasde juroseatéesclarecimentosespecíficos, comoo funcionamentodos segurospara celulares.Commais de 85 mil curtidas, a página do Facebook da CNseg

tambémtemsidoumadasgrandesfontesde inform¬ção,comconte-údo simplificado na linguagem da internet. Acompanhando a fanpage,aRádioCNsegtambémtemumapáginapróprianaredesocial,comquase 50mil seguidores.–Este incansável trabalho institucional, usando todooarsenal de

comunicaçãodisponívelparafalarcomosmaisvariadospúblicos,éumcaminhosemvoltaeúnicoparaampliarapercepçãodaimportânciadoseguronavidadoscidadãosedasempresas–disseMarcioCoriolano.Para aCNseg e suasFederações, a disseminaçãode informações

de seguros e a maior interlocução com os poderes constituídos,comoJudiciário,ExecutivoeLegislativo, sãoaforçamotrizdaevolu-çãodomercadoe, emconsequência, docrescimentodoBrasil.

Educação para criar culturae ampliar setor de segurosPrograma da CNseg destaca a importância para o Brasil do setor de seguros, que já representa 6,5% do PIB

Mercado segurador no BrasilNúmeros mostram a importância do setor para a economia e sociedade no Brasil

429 bilhões

49% dos seguros na América Latina

arrecadados apenas em 2017

152 mil empregos gerados diretamente

R$ 1,2 trilhãoem garantias acumuladas

6,5%do PIB nacional

Programade Educaçãoem Seguros

Rádio CNseg | radio.cnseg.org.br

Redes sociais CNseg

21 iniciativas no total

R$ 277,3 bilhões pagos em 2017 na forma debenefícios, indenizações, resgates e sorteios

Ação promovida pelaCNseg e Federaçõesassociadas (FenSeg,FenaPrevi, FenaSaúdee FenaCap) paralevar informaçõesqualificadas e relevantesà sociedade brasileira

+ de 2.500 horas deprogramação jornalística

+ de 1 milhãode visualizações

+ de 900 mil usuários/mês atingidos nafanpage do Facebook

38% decrescimento médiomensal no LinkedIn

Ações ainda incluemdistribuição delivretos, guias ecartilhas, parceriascom órgãos de defesado consumidor,promoção dedebates e semináriose campanhaspublicitárias

720 entrevistas

+ de 1.300programas produzidos

+de2.150emissoras veicularamconteúdoda rádio em1.450municípios

720 entrevistas e610 boletins de notícias

17,1 milhões de veículos segurados

47,3 milhões de beneficiários de planosde assistência médica

9,9 milhões de residências seguradas

23 milhões de beneficiários de planosexclusivamente odontológicos

13,3 milhões de planos de previdênciacoletivos e individuais

17 milhões de pessoas físicas e jurídicas comtítulos de capitalização

Seguros de Danos - R$ 35,9 bilhões

Saúde Suplementar - R$ 150,8 bilhões

Capitalização - R$ 19,1 bilhões

Cobertura de Pessoas(acumulação) - R$ 60,8 bilhões

Cobertura de Pessoas (benefícios de planostradicionais) - R$ 2,0 bilhões

Cobertura de Pessoas (planos derisco) - R$ 8,8 bilhões

Números de 2017

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Redução de resgates reforça tendência àformação de reservas para fazer frente apossíveis emergências financeiras

Omercadobrasileirode títulosdecapitalização temconse-guidodescolardoritmolentoderecuperaçãodaeconomia,como mostram os números do primeiro quadrimestre.

Segundo a Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), ofaturamentodo setor cresceu8,1%nosprimeirosquatromesesde2018, emcomparaçãoaomesmoperíododoanopassado, chegandoaR$ 6,8 bilhões.Ainda segundoaentidade,ovolumedeprêmiosdistribuídosaos

clientesdetítulosdecapitalização foideR$348milhõesnoquadri-mestre. Issoequivale aR$4,2milhões emsorteiospagos a cadadiaútil noperíodo. Jáovalordasprovisões técnicas, comosãochama-dos os recursos acumulados e, posteriormente, resgatados pelosclientes antecipadamente ou no fim da vigência, teve uma alta de1,7% e somou R$ 29,3 bilhões. O volume de resgates nesse períododiminuiuem6,5%, chegandoàcasadosR$5,6bilhões.Ocomportamentodosetormostra, segundoMarcoBarros,presi-

dente da FenaCap, que as incertezas causadas pela trajetória daeconomia brasileira nos últimos anos têm colaborado paramudarocomportamentodoconsumidor.–Comfatores comodesempregoea instabilidade, deuma forma

geral,obrasileiro temcompreendidoqueostítulosdecapitalizaçãosão ummecanismo importante para amortecer os efeitos da crise– explicaBarros.Hoje, segundo o presidente da FenaCap, o brasileiro temprocu-

rado blindar suas finanças do conjunto de incertezas que o paísenfrenta e que ainda terá pela frente. Por isso, opta por deixar paraummomentomais seguro o consumo demuitos itens. Aomesmotempo,comreceiodequearecuperaçãodaeconomiademoreaacon-tecer, tempreferidofazerumareserva financeira,porexemplo,comtítulosdecapitalização.Barros acredita que ainda é difícil avaliar com precisão como o

mercadodecapitalizaçãodeverásecomportaratéofimdoano,massua expectativa é de que o crescimento fique entre 6% e 10%.Umadas formas que essa atividade tem encontrado paramelhorar seudesempenho, independentementedocomportamentodaeconomiaedeoutros setores, temsidocoma informaçãomassificada– tantodosclientesquantodosagentesresponsáveispelavendadostítulos.– O título de capitalização é uma forma de as pessoas se

disciplinarem para guardar dinheiro. Além de trazer essadisciplina, que pode ajudar a realizar objetivos como fazeruma viagem de férias ou colocar em prática um projeto de vida,a capitalização tem um estímulo a mais que são os sorteios deprêmios – detalha o presidente da FenaCap.

Baixa taxa de reclamaçõesApesar de os títulos de capitalização seremumproduto commuitatradiçãonoBrasil,quematuanosetorsabedaimportânciadoaprofun-damentoconstantenarelaçãocomosclientes.Oresultadodessaproxi-midade é a baixa taxa de reclamações. Em2017, a SuperintendênciadeSegurosPrivados(Susep),queregulamentaaatividade,registrouapenas413queixas,ou0,0024%dototaldeclientes,hojede17milhões.–Osetor temavançadonosúltimos anosno relacionamento com

os clientes. O objetivo é tornar a comunicação cada vezmais clara.Vemosqueaindahámuitodesconhecimentosobreostítulosdecapi-talização. Como crescimento das fake news, isso se torna cada vezmaisimportante–explicaElenaKorpusenko,presidentedaComissãodeComunicaçãodaFenaCapegerenteexecutivadeComunicaçãoeMarketingdaBrasilcap.As novas tecnologias têm sido um recurso cada vez mais utili-

zadopelo setor, alémdos tradicionais canais deouvidoria. SegundoElena, as empresas vêmbuscando uma aproximação com startupspara o desenvolvimento de aplicativos que facilitem o contato docliente. A inovação, segundo a executiva, é cada vezmais presentenacomunicação.–Queremosoferecerinformaçõesdeformacadavezmaissimples,

útil eatraente–resumeElena.Alémde o comportamento da economia ter colaborado para que

osbrasileirosbusquemnostítulosdecapitalizaçãouminstrumentofinanceirodisciplinador,outraformaqueosetortemencontradoparachegaraumpúblicomaiorépormeiodasegmentaçãodeprodutos.Emmaio, aSusepaprovouumacircular (nº 569)queprevê a regu-

lamentaçãodeduas novasmodalidades de títulos, que se somamàsquatroemcomercializaçãohoje,reguladaspelacircular365.Asnovasregrasaindanãoentraramemvigoreaexpectativaéqueissoaconteçanopróximoano.Mas,paraNatanaelCastro,presidentedaComissãodeProdutoseCoordenaçãodaFenaCap, amudançaseráumaformadedaraindamaisgarantiasaosclientes.Tanto a filantropia premiada quanto o título de garantia,muito

usadoporaquelesquequeremalugarumimóvel,sãodoistiposdecapi-talizaçãoquetêmcrescidomuito.Assimqueacircular569entraremvigor,elespassarãoaterumaregulamentaçãoprópriaeissoaumentaasegurança jurídica, afirmaCastro.Na avaliação de Castro, a principal vantagem desse mercado

está no fato de seus produtos poderem ser moldados de acordocom o objetivo, levando em consideração se a proposta é ofere-cer uma opção para acumular dinheiro, mais para o longoprazo, ter o estímulo do sorteio de prêmios, servir como umaespécie de consórcio (no caso da compra programada) ou comouma modalidade de incentivo, usada para conceder prêmiosno caso das promoções comerciais ou até mesmo para esti-mular a adimplência, como no caso em que são vinculados aseguros de vida.

Brasileiro busca capitalizaçãopara disciplinar as finanças

Mercado brasileiro de títulos de capitalização1º quadrimestre de 2018

DÚVIDAS COMUNS

R$ 6,8bilhões

R$ 348milhões

faturamento prêmiosdistribuídos

8,1%crescimento dofaturamento

R$ 4,2milhões

R$ 29,3bilhões

sorteios pagosa cada dia útil

reservasacumuladas

R$ 5,6bilhõesresgates

TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO É UM INVESTIMENTO?Título de capitalização não é investimento. Na verdade, ele serve comoinstrumento de educação financeira. Por meio dele, se faz a guarda mensalde um montante em dinheiro, que poderá ser utilizado futuramente narealização de algum plano ou projeto.

LOTERIA É A MESMA COISA QUE TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO?Em uma loteria, se a pessoa não for sorteada, perde o dinheiro da aposta. Nacapitalização, se ela não for sorteada uma ou mais vezes durante a vigênciado contrato, ela resgata, no final, o dinheiro corrigido pela TR (taxa de jurosde referência calculada pelo Banco Central).

ELENAKORPUSENKO,presidente daComissão deComunicaçãoda FenaCap

MARCO BARROS,presidente da FenaCap

NATANAEL CASTRO,presidente da Comissão deProdutos e Coordenação daFenaCap

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Osegurodeautomóveisavançou6,7%em2017,respaldadoporumsetorqueacumulaR$905,7bilhõesemprovisõestécni-cas–recursosreservadosnofundocomumparagarantiro

pagamentodebenefícios e indenizações aos segurados.De acordocomaFederaçãoNacionaldeSegurosGerais(FenSeg), somentenoano passado, as apólices de automóveis geraram o total de R$ 21,4bilhões empagamentode indenizações ebenefícios.AscifraselevadascombinamcomopapeldedestaquequeoBrasil

ocupa nomercado automobilístico internacional, ficando em 9ºlugar no ranking dosmaiores fabricantes de veículos, commais de2milhõesdeunidadespor ano.

Umramo em expansão. Este é o cenário previsto para osseguros residenciais no Brasil nos próximos anos, comoaponta o levantamento feito pela Comissão de Riscos

Patrimoniais Massificados da FenSeg (Federação Nacional deSegurosGerais).Considerandoapenasoprimeiro trimestredesteano, houve crescimento de 12,6% na contratação do seguro, secomparado aomesmo período de 2017.Entre 2016 e 2017, o segmento já apresentava resultados posi-

tivos, com aumento de 6,6% na compra dos seguros deste tipo,em relação ao ciclo anterior.

Seguro deautomóveis,uma sólidagarantia aoconsumidor

Seguro residencial deve crescerainda mais nos próximos anos

Mais pessoascolocam celular

no seguro

Ramo cresce em plena crise eassegura R$ 21,4 bilhões empagamento de indenizações

Contratações do serviço já subiram 12,6% no primeiro trimestre deste ano

Valor dos aparelhos e aumentodos roubos motivam contrataçãoAparelho que cabe no bolso emudou nosso cotidiano,

o celular tornou-se indispensável na vida das pessoas.Justamente por isso,muitos têmcontratado seguros paraevitar o risco de ficar semseus telefones. De acordo comLuís Reis, presidente da Comissão de Garantia Estendida&Afinity da FenSeg, o volumede seguros neste segmentocresceu 70% no ano passado. A projeção é de passardos atuais 2 milhões de apólices para 4,5 milhões nofim de 2018.– Existem algumas variáveis para essa expansão tão

significativa. Uma delas é a relação que as pessoaspassaram a ter com seus celulares, principalmente osjovens. Houve uma mudança radical no estilo de vidae o celular passou a guardar praticamente tudo o queimporta para as pessoas. Sendo assim, elas queremproteger algo tão importante – explica.Luís Reis acrescenta que o aumento do roubo de

celulares também influencia na expansão da contrataçãodo seguro. Assim como o fato de os aparelhos seremcada vez mais sofisticados.– As pessoas querem se resguardar. Não só pela

violência, mas porque os smartphones são maissensíveis, e uma queda pode quebrar a tela de umaparelho caro, por exemplo.O executivo destaca a cultura de jovens contratarem

seguros, pois eles criam um novo hábito e entram nomercado com a percepção da importância de se investirem segurança.

O número ainda está aquém do patamar ideal, como assinalao presidente da comissão da FenSeg, Danilo Silveira. No país,14,5% dos imóveis residenciais são segurados. Índice baixoem comparação com outros países. Uma das hipóteses queexplica essa particularidade é o fato de o Brasil não estar tãosujeito aos problemas de ordem climática, que costumamafetarfrequentemente outras localidades, como furacões, terremotose nevascas.– É uma questão cultural. Temos que mudar o paradigma

no Brasil, divulgando mais a importância de se ter um imóvelsegurado, ainda mais pelo fato de a casa própria ser um grandesonho dos brasileiros. E quando falamos desse bem tão signi-ficativo para as famílias, é importante pensar em protegê-locontra sinistros. Com o seguro, agrega-se valor ao patrimôniofamiliar – enfatiza Silveira.Para ele, o valor acessível do seguro residencial no Brasil

aparece como um aliado, oferecendo um bom custo-benefício.Entre 2015 e 2016, amédia do desembolso anual foi de R$ 325,00por cliente. Alémdisso, o consumidor tem a vantagemdemuitasseguradoras disponibilizarem serviços extras, como eletricis-tas, bombeiros hidráulicos e chaveiros.–Oitenta e cinco por cento das pessoas renovamo seu seguro

residencial – completa o integrante da FenSeg – ressaltando aalta taxa de satisfação com o serviço.

Variedade de produtosCom o aumento do número de pessoas trabalhando em casa, aexemplo dos microempreendedores, o setor passou a oferecerseguros voltados para esses profissionais.– É um tipo de produto residencial que passou a ser muito

procurado. Os profissionais entendem que devem resguardartambém o local de trabalho – explica.As seguradoras oferecem vários tipos de garantias: as mais

comuns cobrem incidentes por incêndios, queda de raio eexplosão de qualquer natureza. Já outras, garantem indeniza-ções em consequência de tempestades de granizo, impacto deveículos ou aviões, furto qualificado, roubo, danos elétricos,pagamento de aluguel, utensílios domésticos, danos causa-dos a terceiros. Danilo Silveira alerta para a importância deter a orientação de um Corretor de Seguros para contratar acobertura mais adequada.

–O setor de seguros é fundamental nesse cenário, já que o carroéumbemdealto valor e representaumdosmaiores investimentosdas famílias brasileiras. É preciso proteger este patrimônio. Alémdisso, muitos pequenos empreendedores individuais, bem comopequenasemédiasempresas,utilizamveículosemsuasatividades,demodoqueaproteçãodessesativos tambémgaranteaproteçãodeseusnegócios–assinalaEduardoDalRi,presidentedaComissãodeSegurosdeAutomóveldaFenSeg.Umdosmais importantespilaresdosetordeseguros,oramodos

automóveis temmostradomuita força, crescendo8,4%noprimeirotrimestre de 2018, mesmo com o Brasil enfrentando uma criseeconômica. Damesma forma, o aumento da sinistralidade, decor-ridodoagravamentodacriminalidade, tambémdesafiaomercado.Os preços de seguros de automóveis são definidos, primordial-

mente, pelo perfil do segurado – local de residência, idade eoutrosfatoresdemográficosecomportamentais–bemcomocaracterísti-casdoveículo - ano,modelo, naturezadouso.Alémdisso, serviçospersonalizados contratados pelos clientes, como carro reserva,podemelevarovalor final da apólice.Como regra, a cobertura básica de um contrato de seguro auto-

motivo contempla colisão, incêndio, roubo e furto, além de danosmateriais e/oucorporais causados a terceiros.

Proteção veicularEm 22 de maio, foi dado em Brasília um passo importante paragarantir apreservaçãodosdireitosdoconsumidoreamanutençãoda justa concorrência no mercado segurador. Nesta data, depoisde ampla discussão em Brasília, a Comissão Especial da Câmaraaprovou a proposta do deputado Vinicius Carvalho (PRB-SP) queregulamenta a vendadeproteçãoveicular.Atualmente, associaçõesecooperativasvêmofertandoproteção

veicular semestrutura financeira, fiscalizaçãoeparâmetrosclarosemseuscontratos, representandoelevadoriscotantoaosconsumi-doresquantoparao setor.–Omercadoentendequeé semprebomparaocliente teropções

de empresas emodalidades para poder escolher o que considera

melhor. Aproteção veicular, no entanto, não conta coma fiscaliza-ção do órgão regulador. Por isso, os clientes precisam estarmuitoatentos sobre riscos e garantias envolvidos nesse tipode contrata-ção.Nãopodemosgeneralizar,mas semregulamentação, o clientepode enfrentar o risco denão receber a indenizaçãono caso de umimprevisto– afirmaEduardoDalRi.O presidente da FenSeg, João Francisco Borges, alerta que o

segurodeautomóveléamelhoropçãoparaquembuscaumacober-tura confiável.

– Épreciso desconfiar de preçosmuito baixos, pois nãohámila-gres que possam diminuir tanto os custos. Cheque na Susep se aempresaqueofereceoprodutoé realmente legal e seestá aptaparaexercer essa comercialização. Um seguro não deve ser atrativoapenas pelo preço, mas sim, por toda a garantia e a tranquilidadeoferecidas – ressalta JoãoFrancisco.Entreosprincipais pontosdoprojetode lei daproteçãoveicular,

estáoestabelecimentodequeessas associaçõespaguemimpostose sejamsubmetidas à fiscalizaçãodaSuperintendênciadeSegurosPrivados (Susep) e às leis de proteção ao consumidor, damesmaformaqueasseguradoras.Asassociaçõesecooperativasnãopode-rãoofereceroutro tipode seguroquenão sejao automotivo.Quandoa lei forpromulgada,asassociaçõesecooperativasserão

obrigadasaapresentarcontratosclaros–comdescriçãodetalhadados planos e serviços ofertados – e especificação de áreas geográ-ficasdeatuaçãoecobertura.Acomprovaçãodeviabilidadeeconô-mica e financeira tambémserá exigida.

JOÃO FRANCISCO BORGES,presidente da FenSeg