Sem filhos por opção

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Casais sem filhos crescem no PR

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DIÁRIO DO SUDOESTE31 de agosto de 2012

Dayanne Do [email protected]

Nos últimos anos, o perfil das famílias brasileiras vem se modificando. Se há algum tempo o comum era ter cinco ou até dez fi-lhos, hoje isso já não acontece. São dois, três no máximo, quando muito as famílias não são apenas composta pela mãe e os filhos, o pai e os filhos, ou mesmo duas mães e um fi-lho ou dois pais e um filho. Ou simplesmen-te um casal, sem nenhum filho.

Essa mudança no comportamento e constituição das famílias chamou a atenção do casal Margareth Moura Lacerda e Ed-son Fernandes, do Estado de São Paulo. Eles escreveram o livro “Sem filhos por opção”, onde apresentam dados, inclusive do Para-ná, que revelam que nos últimos dez anos o número de casais sem filhos cresceu 83% no Estado. Hoje 19,5% dos casais paranaenses não têm filhos.

Conforme Edson Fernandes, pesquisa-dor e doutor em Comunicação, nos últimos anos está havendo um crescimento em todo o país no número de casais que optam por não ter filhos. Ele explicou que na pesqui-sa que ele e a esposa fizeram para escrever o livro, um dos motivos que foi observado para que essa mudança esteja acontecendo é a emancipação da mulher. Segundo o pes-quisador, da população economicamente ativa do Brasil, hoje, 45% são mulheres que trabalham.

“A mulher no final do século 20 e início do século 21 tem projetos que vão além de ter filhos. Ela tem projetos pessoais, outras ambições, carreira profissional, se estabele-cer financeiramente”, comentou Fernandes. Ele também explicou que na contempora-neidade as pessoas casam tarde e preferem, antes dos filhos, ter sua casa e seu carro. Ou-tro ponto é o custo que um filho gera. Se-

gundo ele, atualmente, para um casal de classe média, um filho de 0 a 22 anos pode chegar a custar R$ 1 milhão.

Fernandes também apontou outras questões, como os índices de violência, su-perpopulação do planeta, recursos escas-sos, poluição e questões ecológicas como fatores que influenciam os casais. Também tem a questão do tempo, que hoje as pesso-as vivem uma vida muito corrida e não se sentem disponíveis para cuidar de crianças. Sem contar que ter filhos vai além de em-purrar o carrinho do bebê em um parque, como exemplificou Fernandes. É preciso ter vocação para a paternidade, o que muitos casais não têm.

Os casais de hoje que não têm filhos, ou mesmo as famílias que estão se modi-ficando, conforme o pesquisador, são co-nhecidos como “Casais Dink” e “Famílias X, Y e Z”, porque trabalham muito, via-jam, consomem e estudam. “Essa geração investe em sonhos, em projetos, prazeres, restaurantes, tecnologias e consumo. Faz sentido tudo isso que está acontecendo. É a geração Y, homens e mulheres que nes-ses últimos dez anos tomaram essa deci-são”, revelou.

RealidadeO casal Patrick e Luciane Scholten são

de Curitiba e estão entre os 83% dos casais paranaenses que optaram por não ter filhos. Patrick tem 36 anos e Luciane 39, são casa-dos há 13 anos e já tem decisão formada de não ter filhos. “Nós decidimos por isso há bastante tempo, mas não é uma decisão que foi tomada ao acaso. Nós conversamos vá-rias vezes. No tempo de juventude, da fa-culdade, até pensávamos em ter filhos, mas depois, com a questão da profissão, as obri-gações diárias do trabalho e da família, fo-mos prorrogando, até o ponto que sentamos

Casais sem filhos crescem no PR

Segundo o pesquisador,

no Paraná, nos últimos

dez anos, o número de casais

sem filhos aumentou

83%

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para conversar e chegamos à conclusão que realmente não queríamos tê-los”, comentou o engenheiro agrônomo e empresário à re-dação do Diário.

Apesar de ser um casal novo, que ain-da pode ter filhos se desejar, ele e a espo-sa garantem que a decisão já está tomada, mesmo enfrentando muitas situações de preconceito e pressão da família pela de-cisão. “Nós sofremos bastante preconceito dentro do círculo de amigos. Pessoas que acham que só porque não queremos ter fi-lhos não gostamos de criança. Isso não é verdade. Tanto que os meus afilhados e so-brinhos preferem passar as férias comigo e minha esposa do que em suas casas”, dis-se Scholten. Ele afirma que já chegaram a

perder amigos que se afastaram devido a esse posicionamento do casal.

Consequências Conforme o pesquisador, o Brasil vive

uma realidade que a França vivenciou há 20 anos e, entre as consequências que podem sur-gir, está o aumento da população idosa. “O Brasil hoje está com 17,1% de casais sem filhos. As mulheres, em média, têm 1,8% filhos e, se-gundo dados do IBGE, em dez anos essa me-dia pode ser de 1,7%. Então, daqui a 30 anos, a tendência é que o Brasil tenha mais de 25% da população com mais de 80 anos e quase 30% com mais de 60 anos. Sendo assim, como as pessoas estão vivendo mais, 40%, 45% da po-pulação vai estar na terceira idade”, explicou.