Semanário Angolense Nº 421

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WWW.SEMANARIO-ANGOLENSE.COM SÁBADO 18 DE JUNHO DE 2011 POLÍCIA DE LUANDA CASO QUIM RIBEIRO ELEIÇÕES NA FAF DESCARAMENTO Comandante Bety finalmente P. Neto «varre» Artur Almeida Emprego só com a «dupla» MPLA e UNITA já em pré-campanha eleitoral? OS «PORTE-PAROLES» Página 39 «Barraca» entre PGR e advogados de defesa TEMPO máx min SÁB 27°C 25°C DOM 25°C 16°C SEG 27°C 15°C TER 28°C 15°C QUA 26°C 16°C QUI 26°C 21°C SEX 26°C 19°C Fim prematuro das consultas preocupa Sindicato dos Jornalistas Por alguma coincidência, os «porta-vozes» dos dois principais partidos angolanos decidiram entrar em cena nesta semana, «abrindo o livro» sobre a vida das respec- tivas organizações e sobre os projectos de nação que têm. Um (Rui Falcão) falou para o SA e o outro (Alcides Sakala) deu uma entrevista inédita a centenas de jovens via Facebook. Sucessão, catarse, democracia interna, caso Cabinda, manifestações e eleições são pontos comuns nos dois discursos. E ambos estão «sumarentos»… Página 45 Pacote legislativo da Comunicação Social Kz 250,00 EDIÇÃO 421 · ANO VII [email protected] DIRECTOR INTERINO SALAS NETO

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WWW.SEMANARIO -ANGOLENSE .COM SÁBADO  •  18 de Junho de 2011

POLÍCIA DE LUANDA CASO QUIM RIBEIRO

ELEIÇÕES NA FAF

DESCARAMENTO

Comandante Bety finalmente

P. Neto «varre»Artur Almeida

Empregosó coma «dupla»

MPLA e UNITA já em pré-campanha eleitoral?

OS «PORTE-PAROLES»

• Página 39

«Barraca» entre PGRe advogados de defesa

TEMPO máx min

SÁB 27°C 25°C

DOM 25°C 16°C

SEG 27°C 15°C

TER 28°C 15°C

QUA 26°C 16°C

QUI 26°C 21°C

SEX 26°C 19°C

Fim prematuro das consultas preocupa Sindicato dos Jornalistas

Por alguma coincidência, os «porta-vozes» dos dois principais partidos angolanos decidiram entrar em cena nesta semana, «abrindo o livro» sobre a vida das respec-

tivas organizações e sobre os projectos de nação que têm. Um (Rui Falcão) falou para o SA e o outro (Alcides Sakala) deu uma entrevista inédita a centenas de jovens via

Facebook. Sucessão, catarse, democracia interna, caso Cabinda, manifestações e eleições são pontos comuns nos dois discursos. E ambos estão «sumarentos»…

• Página 45

Pacote legislativo da Comunicação Social

Kz 250,00EDIÇÃO 421 · ANO VII

[email protected]

DIRECTOR INTERINO

SALAS NETO

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2 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Sociedade: Pascoal Mukuna; Cultura: Ilídio Manuel; Desporto: Paulo PossasRedacção: Rui Albino, Baldino Miranda e Adriano de Sousa

Colaboradores: Sousa Jamba, Fernando Macedo, Kanzala Filho, Manuel Rui,Luís Kandjimbo, Kenneth Muanji, Anastácio Ndunduma, Josué Sapalo, Kajim-Bangala, Peter James,

Adriano Botelho de Vasconcelos e Celso MalavolonekePaginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Patrick Ferreira e Carlos Inácio Fotografia: Nunes Ambriz e Virgílio Pinto

Impressão: Lito Tipo Secretária de Redacção: Antónia de AlmeidaAdminstracção e Vendas: Marta Pisaterra

Publicidade e Marketing: Antónia de Almeida (Chefe) e Oswaldo GraçaAntónio Feliciano de Castilho n.o 119 A • Luanda

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Direcção: [email protected]; Edição: ediçã[email protected];Política: [email protected]; Economia: [email protected];Sociedade: [email protected]; Cultura: [email protected];

Desporto: desporto@@semanario-angolense.com; Redacção: [email protected];Administracção e Vendas: [email protected];

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As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.

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16RENOVAÇÃO NA FAFRealizou-senestediaaeleiçãodofuturosuces-

sordeJustinoFernandesnafederaçãoAngolanadeFutebol.Osresultadosprovisóriosapontavamparaavitóriadocandidatoda listaAdePedroNetocom58votos,contra27doseuopositor,Ar-turdeAlmeidaeSilva(listaB).

FIM DE UM CICLOOcicloiniciadopeloPR,JoséEduardodos

Santos,quandodiscursounaIIIsessãolegis-lativa da II legislatura da AN acaba de ter-minar.Nesteanolegislativoforamaprovadasimportantesleiseoutrasaguardamasuavez.ÉocasodapropostadeleiContraaViolênciaDoméstica.

TAAG COM NOVOS AVIÕESEstava previsto para esse dia a chegada da

novaaeronavedaTAAGadquiridanosE.U.A.Trata-se de um avião do tipo 777-300 ER. Oaparelhoéoprimeirodedoisencomendadosetemumacapacidadepara368passageirosnastrêsclasses(primeira,executivaeeconómica).

COMBOIO EM MARCHAOministrodosTransportes,AugustodaSilva

Tomás, assegurou ,noHuambo, queo comboiodo Caminho-de-Ferro de Benguela vai apitardentro de 60 dias noPlanaltoCentral, 27 anosdepois.Serábompercorrerosmaisde300KmqueligamascidadesdoLobitoedoHuambo.

MAIS PARA JUVENTUDEOministroda JuventudeeDesportos,Gon-

çalvesMuandumba,anunciouqueoExecutivopretende criar, ainda este ano, «um institutode dinamização de acções específicas para asolução dos principais problemas comque osjovens».Maisuma«casadajuventude»?

MAIS TRIBUNALOpresidentedoTribunaldeContas,JuliãoAn-

tónio,disse,emNdalatando,queapartirde2012serão criadas representações regionais daqueleórgãocom«vistagarantirumamaiorceleridadeeeficiência»nasacçõesdoorganismo.Asprimei-rasserãoedificadasemMalangeeBenguela.

MAIS EMPREENDEDORISMOUm relatório sobre empreendedorismo, de-

nominado «Global EntrepreneurshipMonitorAngola»divulgouque,noanopassado,cercadedoismilhõesde jovens iniciaramumnegócio.Masmuitosdelessãonegóciopornecessidadeenãoviradosàeficiênciaeinovação.

INDISCIPLINA, FORAMaisde800professoresqueforamadmitidosatra-

vésdeconcursospúblicosrealizadosnoanopassado,naHuíla, serão expulsos, nos próximosmeses, porindisciplinanolocaldetrabalho.AinformaçãoédeJoséArão,vice-governadorparaesferapolíticaesocialdaquelaprovíncia.

As eleições são o pro-cesso pelo qual oscidadãos designamosresponsáveispelos

destinosdeumpaís(oudeumainstituição) durante um tempodeterminado pelo seu estatutojurídico-político (Constituição)vigente.

No que ao nosso país dizrespeito, as próximas eleiçõesestão já aí ao virar da esquina.Há partidos que já começaram(com o apoio de alguns órgãosde Comunicação Social) a de-sencadearasuacampanhaelei-toral de forma velada, o que é,convenhamos, ilegítimo, por-quanto atropela a Lei Eleitoralvigente.

Dizíamos que já começou acontagem decrescente para osangolanos exercerem pela ter-ceira vez (a primeira, de tris-te memória, é para esquecer,namedida emque sómesmoàHistóriacolectivapolíticadestepaís interessa) o seuDireitodevotoparalegitimarquemosvaigovernar nos próximos cincoanosacontarde2012.

Nem todos os partidos polí-ticos existentes poderão parti-cipardojogo.Unsnãopoderãofazê-loporimpedimentojurídi-co-legal (porquantonão conse-guirãocertamenteosrequisitosdeterminados por lei), outrospor não possuírem condiçõesmateriais necessários e sufi-cientesparaasexigênciasdeumprocesso eleitoral caro como oqueseadvinha.

Orabem!Aseleições,nonos-so continente, têm sido, regrageral, sinónimo de confusão,tragédia mesmo. É por demaisconsabidoqueelas (aseleições)

não resolvem, emmuitos casos(e o angolano é o produto aca-bado desta demonstração), osproblemasbásicosdoscidadãos.

Logo, em muitos países donosso continente, as eleiçõesnãopassamdeumperíodocar-navalescoemqueuns(políticos,no caso) têm mais consciênciada importânciadovotodoqueuma boa parte dos cidadãos-eleitores, a tal ponto que boapartedelespreferenempartici-pardopleito.

É por estas e outras que ospolíticos(todoselessemexcep-ção), quando se aproximam aseleições,partemàcaçadovotonos lugares mais recônditosdo país, ondemuitas vezes emcircunstâncias normais jamaisquereriam pisar. Mas fazem-

no na esperança de conseguiro voto do cidadão-eleitor paraque,desta forma,seperpetuemno poder ou consigam chegaraté lá, que a outra face damo-eda.

Sãocapazesdebeijarcriançascomranhoaescorrerpelorosto,beijarvelhosouvelhascomra-melas,ouseja,iremaoencontrodos mais desfavorecidos paramostrarque estão e sempre es-tiveramcomopovo.Noentan-to,cabeaopovo,abriroolhoesaberaimportânciadovotoquevaidepositarnaurna.

Em face disso, em muitospaíses hodiernos, os cidadãosjá não fazem apelo à sua «pai-xão ideológica», mas, isto sim,depositam confiança naquelesque apresentam programas deGovernoconvincentes,naespe-rança de que a sua vida venhaa melhorar, o que nem sempreacontece,háquesereconhecer.

Sejacomo for, apartirdestatribuna,gostaríamosdeapelaraos partidos que vão ao jogoeleitoral para observarem acontinência verbal durante assuas campanhas, coibindo-sede prometer aquilo que nãopoderãodaraopovoduranteoseuconsulado.Étambémmui-toimportantequeseevitecom-portamentos e discursos quepossam ter o condão de virema «incendiar a pradaria», algoque jánão interessaa todososangolanos de bem que, acre-ditamos, serão a esmagadoramaioriadopovo.

Povo este que tem de estarbem atento e cauteloso com asescolhasquevierafazer.Afinal,cautelaecaldodegalinhanun-cafizerammalaninguém…■

Jogo limpo, senhores!

Há partidos que já começaram (com o apoio de alguns órgãos de

Comunicação So-cial) a desencadear

a sua campanha eleitoral de forma velada, o que é,

convenhamos, ile-gítimo, porquanto atropela a Lei Elei-

toral vigente

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 3

O SindicatodosJornalistasAngo-lanos,emnotadeimprensa,da-tadade14de Junho e assinadapela sua secretária-geral, Luísa

Rogério,dáaconheceraosseusassociados,a todos os jornalistas e à opinião públicaemgeralquefoicombastantepreocupaçãoquetomounotadasdeclaraçõescontradi-tórias de um responsável afecto ao actualprocessodeconsultapúblicadopacotele-gislativodacomunicaçãosocial.

Deacordocomestafonteoficial,nãoha-verámaisnadaparanegociarnoquetocaaoconteúdodapropostareferenteaoPro-jecto deDecreto sobre o Estatuto do Jor-nalista, a traduzir propósitos semelhantesextensivosatodososrestantesdiplomasdopacote.

Não é este, certamente, o espírito queanimaoactualprocessodeconsulta,ateremcontaasreiteradasebastantepositivasdeclarações daMinistra da ComunicaçãoSocial, Dra. Carolina Cerqueira, sobre osseusgrandesobjectivos.

TaisdesideratosestãorelacionadoscomaboaféeatotaldisponibilidadedoExecu-tivoemdaromelhortratamentoatodasascontribuiçõesquevenhamaserproduzidasneste âmbito, quemuito tema ver comoaprofundamentodademocraciaparticipa-tivaentrenós.

Anecessidadedetornarpúblicaestapre-ocupaçãofoireforçadacomaexistênciadeumconjuntodeinformaçõessensíveisquechegaram recentemente ao conhecimento

dadirecçãodoSJAequepõememcausaoprincípiodaindependênciaeditorialcomtodas as consequências negativas que seadivinhampara o conjunto da actividadejornalística em termos de transparênciaparticularmentenestaaltura.

Tais elementos apontam para um au-mento das pressões político-partidáriassobreos jornalistasquetrabalham,sobre-tudo,paraacomunicaçãosocialpúblicaequeestãoreflectidasnotratamentomenosprofissionalquetemsidodispensadoaal-guns factos protagonizados pela oposição

e por sectores mais críticos da sociedadecivil,quevãodopurosilenciamentoàmaiscompletaeperigosadesinformação.

Como parceiro do Governo e muitoparticularmente doMinistério da Comu-nicaçãoSocial,oSindicatodosJornalistasAngolanos, apesar de manter as suas ex-pectativasiniciaisedereafirmarasuadis-posição em continuar a participar activa-mentenaactualconsultapública,nãopodedeixar de antecipar alguns sérios receiosquantoàexistênciaefectivadeumespíritodecompromissoacondicionardesdelogoa

qualidade,aabrangênciaeainclusividadedoresultadofinaldesteprocesso.

Adirecçãodo SJA, aproveitando a oca-sião, gostaria de exortar os jornalistas deuma forma geral e os seus associados emparticular, a terem sempre bem presentecomo bússola diária da sua actividade osvalores da ética profissional que recusamamanipulaçãoeapartidarização,apardorecursoaolegítimodireitoderesistênciaas-sentenacláusuladeconsciênciaprevistanoprojectodeEstatutoqueestáemconsulta.

De acordo com esta disposição, ne-nhum jornalista pode ser constrangidoa exprimir ou subscrever opiniões, nema desempenhar tarefas contrárias à suaconsciência, nem de ser alvo de medidadisciplinaremvirtudederecusadessaex-pressãoousubscrição.

OSJAestáaseguiratentamenteopro-cessojudicial,jáemfasedejulgamento,movido contra o Director do Folha-8por três altas patentes militares, reite-randoaquiasuafirmedeterminaçãoemprosseguir a sua campanha a favor dadescriminalização da actividade jorna-lísticaemAngola.

Comopressupostodestacruzadaestáa salvaguarda de um bemmaior que éaprotecçãoeaprossecuçãodointeressepúblicoque,pordeliberadaeincompre-ensívelomissão,nuncaétidoemdevidaconta pelo poder judicial na avaliaçãodasqueixasapresentadascontraospro-fissionaisdaimprensa.■

Pacote legislativo da Comunicação Social

Sindicato dos jornalistas preocupadocom final prematuro das consultas

O MinistérioPúblicoportuguêsgarantiu,quar-ta-feira,15,àAgênciaLusa,queopresidentedoBancoEspíritoSantoAngola(BESA)nãoéarguidoemqualquerprocessoeminvestiga-

çãonoDepartamentoCentralde InvestigaçãoeAcçãoPenal(DCIAP) lusoemqueoEstadoangolanoéquei-xoso.

Numesclarecimentopúblico, oprocuradorOrlandoFigueira, doDCIAP, assegura aindaque relativamenteaopresidentedoBESA,Álvaro Sobrinho, «não foramefectuadas nenhumas buscas nem apreendidos quais-quercarrosoumotos».Noentanto,fonteligadaaopro-cessorevelouàLusaqueÁlvaroSobrinhofoiouvidopeloMinistérioPúblicoportuguêsháalgunsmesesnaquali-dadedetestemunhadoprocessoquetemcomoqueixosooEstadoangolano.

Entretanto, Álvaro Sobrinho desmentiu, no mesmodia em Luanda, as acusações que constam da notícia

publicada pelo jornal português «Correio daManhã».Sobrinhonegaquetenhasidoconstituídoarguido.Emcausaestáa investigaçãodeumprocessode fraudenoBancoNacionaldeAngola(BNA).

ÁlvaroSobrinhodeclarouemcomunicadooseguin-te:«Foidivulgadanaediçãodehoje,dia14deJunhode2011,dojornalCorreiodaManhã,umanotíciare-lativaàinvestigaçãoemcursodeumprocessodefrau-denoBancoNacionaldeAngola,noâmbitodoqualoPresidente da Comissão Executiva do Espírito SantoAngola,Dr.ÁlvaroSobrinho,teriasidoconstituídoar-guidopelasautoridadesportuguesas.Oorasignatáriorepudia,pornãocorresponderemàverdade,todososfactosquelheforamimputados.Éfalsoquetenhasidoconstituídoarguido,comoé tambémfalsoque tenhahavidolugaraquaisquerdiligênciaspoliciaisquecul-minassemnaapreensãodeumautomóveleumamoto,novalorde200mileuros,conformedivulgado».■

Caso BNA

Álvaro Sobrinho diz que não é arguido

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4 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Como comandante da Polícia de Luanda

Finalmente, temos Bety!Ministro do Interior manifesta confiança na primeira mulher em tão elevado cargo para a diminuição

da criminalidade na cidade capital

Custou,mas foi.Assimsepode resumir a tomadade posse de ElizabethRank Frank, a coman-

dante Bety, como nova chefe doComandoProvincialdeLuandadaPolíciaNacional,algoquedemorouaacontecer,tendooactosidoadia-do pelomenos em duas ocasiões,porrazõesnãoesclarecidas,apesardeestarmaisque indicadaparaocargoháumbomtempo.

Naúltimaterça-feira,Betyse-ria finalmente elevada à catego-ria de comissária-chefe por ine-rênciadefunções,paradesalentodos seus detractores, que não aqueriamverconfirmadanocar-go que já ocupava interinamen-te após a defecção oficial de Jo-aquimRibeiro, pelosmotivos jásobejamenteconhecidos.

OpostodecomandantedeLu-anda,umdosmaisapetecidosnoseio da corporação, é disputadorijamente entre aqueles que sesentememcondiçõesparaocupá-lo,peloquequasetudovaleparasechegaratélá.

Mesmo depois de indicada, acomandanteBetyteráenfrentadosériasresistênciasparaserconfir-mada, acabando porém por su-perar todos os obstáculos que selhe colocaram, sendoodestaquedas últimas campanhasmovidascontraelaas informaçõesdequeestariapordetrásdamortedeumseusubordinado,algoque,comoseviu,nãopesoumaisdoqueosargumentosaseufavor.

De resto, o próprio SemanárioAngolense comentavahádias queeralíquidoqueumdosfactoresqueconcorreram a favor de Elisabe-thRankFrank, após a estrondosaquedadeQuimRibeiro,tinhaavercomofactodeelasermulher,umacondiçãoqueterá,certamente,pe-sadona«balançadogénero»nestasuaelevaçãoaopostodecomandodospolíciasdeLuanda.

Uma condição que terá levado,inclusive, a colher simpatias nosmeiosfemininos,emborahajatam-béminformaçõesdequeElisabethRank Frank que tenha movido,em vésperas da sua «campanhaeleitoral»,umasériedecorredoresjuntoàOMA,obraçofemininodoMPLA,afimdeobterapoiosàsua«candidatura».

Uma campanha «no feminino»

que,convenhamos,teráigualmen-te se estendido à Associação An-golanadaMulheresPolícia,àqual«Bety» faz parte, sendo tambémum dos seus membros mais acti-vos,alémdesermembrodaRededaMulherPolíciadaSADC.

Descrita como uma mulher«dura»,oquedecertomodocon-traria o carácter de bonomia ge-ralmente atribuído as mulheres,mesmoàsquevestemafardaazul,«Bety» notabilizou-se ao longo dasuacarreiracomoamulher-políciaquemais privilegiouos argumen-tosdeforça,emdetrimentodosar-gumentosdarazão.

O seu carácter de dureza, comlaivosdemusculaturaàmistura,fi-coubemregistadoaquandodasuapassagempelaPolíciadeTrânsito,havendomesmo relatos de que jáchegouaenfiargalhetasa«homensgrandes», em plena via pública,após estes terem «pisado a linhavermelhadotrânsito».

Dados biográficos

DeacordocomositeClub-K,«Bety», que ficou igualmente

conhecida em alguns círculoscomoa«dama-de-ferro»dapo-lícia,nasceuemBenguela,masé em Cabinda onde estão assuasorigens.

Quando era jovem, denotavaquedapelodesporto, tendo joga-dobasquetebolporalgumtempo,masfoinovoleibolquemaisseidentificouenotabilizou,chegan-do a servir a selecção nacionaldurante7anos.

Com a «moda» em voga dosMovimentos de libertação Na-cional,apóso25deAbril,«Bety»fugiudecasa, comumgrupodequatro pessoas. Tomaram umcomboioquefaziaotrajectoBen-guela/Huambo, para de seguidaembarcarem num autocarro ru-mouaLuanda,comointuídodechegaremalocalidadedoÚkua,naprovínciadoBengo.Nestalo-calidade,ingressounoCentrodeInstrução Revolucionária (CIR)doMPLA,tendoessegestorepre-sentadoofimdasuacarreirades-portivaeocomeçodeumanovaeranasuavida.

No período dos acordos deAlvor fez parte do primeirodestacamento feminino da pri-

meira regiãomilitar doMPLA,baseado no norte do país, queajudou a criar. Foi por esta viaque participou nos combatespara a libertação de Caxito,como integrante da 9ª brigadadeinfantariamotorizada.

Aquandodoanúncioda inde-pendência nacional foi uma dasintegrantesdoesquadrãofemini-noquecombateucontraaFNLA,na conhecida Batalha do Kifan-gondo.Nosdiasdehoje,generaisdas FAA estimam-lhe pelo seuvoluntarismonadefesadapátria.

A sua passagem pelas forçasarmadas ter-lhe-á consumidoano emeio.Depois foi chamadapara ingressar num grupo quese tornou conhecido com o das«primeiras200mulherespolíciasemAngola».FoienviadaparaRo-ménia, onde ficou durante doisanos em formação policial. Fezcarreira na Polícia de Trânsito,tendo sido ela a fazer a escoltaque conduziu a caravana da pri-meira cosmonauta da história, arussa Vladimirovna Tereshkova,quandovisitouAngola.TeráfeitoaindapartedaescoltadeAgosti-nhoNeto,tendoficadoconhecida

comoa«damadoúltimocarro».Naquelaalturaeraumadaspou-casmulheresqueconduziammo-torizadasemLuanda.

Elisabeth Rank Frank passaporsersobrinhadofundadordaFLEC, Luís Rank Frank. Porém,os cabindas desconsideram estaparticularidadeporterumconví-vioalgodistantecomeles.

Em vida, o entãoMinistro daDefesa, general PedroMariaTo-nha «Pédale», tentava puxar porelaatraindo-aparaocírculodassuas raízes.Certo dia, teria feitoparte de uma festa em casa domalogradogeneral,aoMiramar,eesteaproveitouaocasiãoparalheapresentaralgumasfigurasdoen-clave,comrealceaBelchiorTatieOsvaldoBuela,hojemembrodogabinetedeNzitaTiago.

Outro cabinda que revelavacertoapreçoporelaéoantigoco-mandantegeraldapolícia,AndréPitra«Petroff».Em1986,«Petroff»integrou-anumadelegaçãooficialque,comele,sedeslocouàArgé-lia.Eraomarcoda sua ascensãoacompanhadadeformaçõesquealevaramaserachefedaregulaçãodotrânsito.■

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 5

Tomada de posse de novos chefes na Polícia

Martins diz que será implacávelcontra todos que prevaricarem

Detidos alguns dos quenianos «perdidos» no bairro Palanca

O ministro do Interior, Sebastião Martins, disse,terça-feira, que a direcção do seu pelouro seráimplacável e rigorosa na punição dos actos in-decorososecomportamentospoucoabonatórios

praticadosporefectivosdacorporação,noticiouaAngop.Martinsfezesteavisoquandodiscursavanacerimóniade

tomadadepossedeoficiais comissáriosnomeadosparaopreenchimentodevárioscargosnoseiodaPolíciaNacional,quevãodesdedirecçõesnacionaisacomandosprovinciaisdacorporação.

OministrodoInterior,SebastiãoMartins,conferiapos-seànovacomandanteprovincialdeLuandaeaodirectornacionaldeinvestigaçãocriminal(DNIC),respectivamenteElisabethMariaRankFrank«Bety»eEugénioPedroAle-xandre.

ElisabethRankFrankexerciajáinterinamenteachefiadocomando de Luanda, enquanto Eugénio PedroAlexandreantesdasuanomeaçãoparadirectordaDNIC,chefiavaoGabinetejurídicodoComando-GeraldaPolíciaNacional.

Osub-comissárioManuelChima,antigochefedeEstadoMaiordaPolíciaFiscal,passouaexercerocargodedirectornacionaladjuntodaDNIC,enquantoosoficiaiscomissáriosFranciscoRibas eDiasdoNascimento foramempossadosnoscargosdesegundoscomandantesprovinciaisdeLuandadaPolíciaNacional.

JáoantigosegundocomandantedacorporaçãoemLu-anda,comissárioAntónioSimãoLeitãoRibeiroéonovoco-mandanteprovincialdaPolíciaNacionalnoUíge.

O ministro do Interior conferiu igualmente posse aosconselheirosdocomandante-geraldaPolíciaNacionalparaas áreas jurídicas e do ensino superior, respectivamenteEduardoSamboeCarlosBuritydaSilva.

Oministrodisseserurgenteeumimperativoincutirumanovamentalidadeaosefectivos,«sendoqueosectorseráim-placávelerigorosonapuniçãodosactosindecorososecom-portamentospoucoabonatóriospraticadosporefectivosdas

nossasforças,atravésdoexercíciodafiscalização,inspecçãoeavaliaçãopermanentedodesempenhodestes».

FezsaberqueaPolíciaNacional,enquantoforçadeseguran-çacomnaturezadeserviçopúblico,encarreguedeasseguraralegalidadedemocrática,asegurançaedireitosdoscidadãos,deveintensificarasacçõesdeprevençãoecombateaoshomicí-dios,violações,roubodeviaturas,assaltosàmãoarmada,tráfi-codedrogas,imigraçãoilegal,fugaaofisco,entreoutros.

Parasi,taisacçõesdevemestarnocentrodasatençõeseassimtornarem-senonúcleodetarefasqueasforçaspoli-ciaisdevemdesenvolvercomvistaagarantirqueapopula-çãovivaecirculeemsegurançaetranquilidade.

Paraoefeito,defendeuumamaiorarticulaçãoecoorde-naçãodascomponentesdeproximidade,deordempública,deinvestigaçãocriminal,bemcomodeinformaçõeseinte-ligênciapolicial.

Entretanto, dirigindo-se para a nova comandante dapolícia em Luanda, Elisabeth Rank Frank, oministro do

Interiordissecontarcomelapara trabalharnoâmbitodaproximidadeparaaumentaropoliciamentodevisibilidadeereforçararelaçãopolícia-cidadãonacapitaldopaís.

«Contamosconsigosenhoracomandantenaresoluçãodeocorrênciaseconflitosquesurjamnoseiodascomunidades,bemcomotrabalharpreventivamenteparaadetecçãodesi-tuaçõesváriasqueaonãoseremresolvidaspossamevoluirpara problemas sociais ou fomentar práticas criminais noseiodapopulação»,asseverou.

DisseesperarqueanovacomandantedediqueaindaumaespecialatençãoàavaliaçãodofuncionamentoactualdaBri-gadadeSegurançaEscolaraníveldoterritóriodeLuanda.

«Possolhedizerquenãoestousatisfeitocomaeficiênciafuncionaldesta importante estruturade segurança e vigi-lâncianasáreasescolareseque,sefuncionarmelhor,podecontribuirpositivamenteparaummaior sucessodanossaestratégiadeprevençãodadelinquênciajuvenil»,notou.

QuantoàDNIC,SebastiãoMartinsressaltouanecessida-dedareorganizaçãofuncionalemesmoorganizacional,doesforçoparaapetrechamentoemmeiostécnicosemateriaisedeinfra-estruturasadequadas,afimdemelhorestarcapa-citadaparacombaterocrime.

Aseuver, investirna formaçãodohomempossibilitarádotarosrecursoshumanosdeferramentasqueserãoneces-sárias para o combate às acções criminais complexas quehojesãopraticadasporelementosquerecorremamétodoscadavezmaissofisticados.

QuantoàprovínciadoUíge,disseserimperativodedever,onovocomandantemanterouelevarosníveisdeprontidãoerespostadasforçasparasepôrcobroaofenómenodaimi-graçãoilegalnaquelaregião.

Segundodisse,aprovínciadoUígeporserumaregiãofronteiriça, é uma área pressionada pelo fenómeno deimigraçãoilegal.«Logo,estaparceladoterritórionacio-nalrequerumaatençãoecuidadonestamatéria»,subli-nhouoministrodoInterior.■

A PolíciaNacional(PN)jáloca-lizou e deteve parte dos oitointegrantesdaclaquedaselec-ção queniana que se tinham

«perdido»,nopassadodia04,nobairroPalanca em Luanda, revelou uma fontepolicialqueacompanhaoprocesso.

AfontedoSemanárioAngolense,quenãorevelouonúmeroexactodosquenia-nos já sob seu controlo, disse que aPNcontinuanoencalçodosrestantesfugiti-vos,que,nestaaltura,erramporLuandaparafixaremresidêncianonossopaís.

Oito integrantes da selecção quenia-na driblaram as autoridades angolanase empreenderamuma «fuga para opor-tunidade» ao terem saído a correr (mas

a bom correr mesmo) de mochilas àscostas pelos becos e ruas do bairro Pa-lanca onde deveriam ficar alojados noCentrodeFormaçãoProfissional«Hoji-ya-Henda»,apurou o SA junto de fontepolicial.

Segundo a fonte deste jornal, tudoaconteceuquandoosreferidoselementosse preparavam para fazer o chek-in nolocalondeficariamalojados.«Aquilofoimuito rápido, até parecia quehaviaum‘comité de recepção’ à espera.Elesnemsequer chegaram ao balcão.Mal desce-ramdoautocarro,apareceramdoisindi-víduosaquemseguiram,depoisdeumabreve troca de palavras, numa correriadesenfreada»relataafontedoSA.■

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em Foco

6 Sábado, 18 de Junho de 2011.

A informação é do «África Monitor»

KK e Moxico podem ter petróleo

Avião de guerra enterrado impede aulas a mil alunos

A publicação diz ainda que as autoridades angolanas já estarão a par do assunto, que antes tinha sido comunicado em primeira mão a Jonas Savimbi

As províncias angola-nas do Kuando Ku-bango e Moxico, nointeriordopaís, tam-

bém pode ter importantes jazi-dasdepetróleo,afazerféemin-formaçõespostasacircularpelonewsletter «África Monitor»,numa da suas últimas edições,asquaisoSemanárioAngolense,comadevidavénia,retoma.

Segundo a publicação, que éeditadaemLisboa, sobdirecçãodojornalistaXavierdeFigueire-do, o anúncio da descoberta dereservasdepetróleoegásnumaáreadaZâmbia territorialmentecontíguaaAngola,provínciadoBarotze, confirma indícios hácercade20anosdetectadospelosEUA relativamente à existênciana área de uma bacia sedimen-tar,queseestendeàsprovínciasangolanasdoKuandoKubangoeMoxico.

O«ÁfricaMonitor»dizaindaque os referidos indícios foramdadosaconheceraJonasSavim-bi, líder da UNITA, que à datacontrolava partes consideráveisde ambas as províncias. Foramassinalados por satélites milita-

res norte-americanos que entãoprocediam ao reconhecimentodo território de Angola com oobjectivo de seguirmovimentosdasforçasgovernamentais.

As aptidões tecnológicas dossatélites empregados na missãopermitiam fazer “identificaçõespreliminares” de ocorrênciasgeológicas e mineiras. A repre-

sentaçãode tais ocorrênciasnasimagensdossatélites(imageries)foi em 1988 explicada pessoal-mentea J Savimbi comocorres-pondendo a depósitos de petró-leo,gásecarvão.

Estudos técnicos e científicosposteriores, incluindo levanta-mentos aeromagnéticos efectu-adosno ladodaZâmbia,permi-

tiramcorroboraraexistênciadareferidabaciasedimentar–con-siderada«gémea(oudeperfilge-ológicosemelhante)àdeoutras

detectadasnaregiãodosGran-desLagos.

AZâmbia,queem2006haviaanunciado publicamente a des-cobertadereservasdepetróleoegásnonoroestedoseuterritório,

correspondenteàbaciasedimen-tar, lançou agora um concursointernacional destinado a deter-minar o potencial das mesmas,tendo em vista a sua futura ex-ploração,nocasodeseremcon-sideradasdevalorcomercial.

Segundo ainda a publicação,a Sonangol, a petrolífera estatalangolana,jáestáapardoassun-todesdehácercade10anos,masnão lhe são conhecidos planosprópriosouemarticulaçãocomaZâmbiatendoemvistaoestu-dodabaciaemtodaasuavasti-dão,incluindoapartesituadaemAngola. Os estudos a efectuaragorana parte zambiana sãodeprospecção sísmica (ou estrati-gráficos).

A Zâmbia não produz pe-tróleo, embora seja um paísexportador de combustíveisrefinados;aRDCongoeZim-babué são os principais com-pradores. O crude respectivo,importado na totalidade doMédio Oriente, é processadona refinaria de Indeni/Ndola(não apetrechada para proces-sarpetróleoorigináriodeAn-gola,maispesado).■

Na província do Cunene

Maisdemilalunosdeumaescolaprimária,nacidadedeOndji-va,provínciadoCunene,estãoháduassemanasimpedidosde

assistiràsaulasportersidoencontradoen-terradodentrodorecintoescolarumaviãodeguerra.

DeacordocomaAngop,oaparelhofoidescobertonodia28deMaio,quandoumgrupo de trabalhadores da escola Okapa-copaco, na cidade deOndjiva, cavava umburacoparadepositarlixo.

Nessedia,adirecçãodaescolaresolveususpender as aulas, sobretudo porque foiencontradopertodolocalummíssildefa-brico sul-africano, entretanto já removidoporumabrigadadedesminagemdasFor-çasArmadasAngolanas(FAA).

O director da escola, Eduardo Shahua-pala, disse que os trabalhos de escavaçãoparaaremoçãodoaviãoestãoconcluídos,aguardando-seapenasachegadadetécni-cos afectos à brigada de desminagem dasFAAparaaretiradadoaparelho.

Segundoodirector,retirarapenasoapa-relhodorecintoescolarnãovaitranquili-zaraspessoas,defendendoqueénecessárioquesefaçadepoisdeumavistoriamaismi-nuciosaaolocal,paraseapuraraexistênciaou não demais engenhos explosivos, quenãoponhaemriscoavidadosalunosedosmoradoresaoredordaescola.

«Enquantonãochegaremostécnicoses-pecialistas,adirecçãodaescolanãopermi-tequeosalunosestudem,tendoemcontaqueéumgranderisco»,disseodirector,em

declaraçõesàAngop.De acordo comEduardoShahuapala, o

avião parece ter sido enterrado há váriosanosnaquelelocal,ondeem1997foicons-truídaaescola,noâmbitodoprogramadoFundodeApoioSocial(FAS).

Angolachegouaserconsideradoumdospaíses mais minados do mundo e a pro-vínciadoCunene,palcodeváriasbatalhasdurante aGuerraCivil, foi umadasmaisminadasdopaís,estandoaindaadecorrertrabalhosdedesminagem.■

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em Foco

Sábado, 18 de Junho de 2011. 7

Por comentários que julgam desabonatórios a eles

Trabalhadores da TAAG contestam analista Justino Pinto de AndradeUm grupo de trabalhadores da companhia aérea nacional contesta, em carta

endereçada ao Semanário Angolense, os comentários desse político e analista, no programa «Revista de Imprensa», da Rádio Ecclesia, que é transmitido todas

as manhas de segunda-feira, no qual faz a «leitura» dos principais «jornais de fim-de-semana», em relação a uma matéria estampada

na nossa última edição, sob o título «Voos de rapina»

Na missiva, datada de16 de Junho, o grupo,que se diz constituí-do por «trabalhadores

patriotas» da TAAG, companhiaaéreadebandeira, consideraqueoreferidocomentaristaresidenteda «Ecclesia» terá sido bastanteparcial na sua análise à matériaemcausa,pornãoseterdignadoa ouvir a verdadeira versão dosalegadosvisadospelasupostamágestão de Pimentel Araújo, tidaporelescomobastanteprejudicialaosinteressesdoEstado.

Segundo eles, Justino PintodeAndrade,que é também líderdoBlocoDemocrático, «fezumatristefiguracomodirigentedeumpartidoquedizquererlutarcon-tra as injustiças». E questionam:«Falou com os trabalhadores debasedaTAAGe tripulantes?Fa-loucomostrabalhadoresquepra-ticamente foram amedrontadospara fazer a rescisão ‘voluntária’dosseuscontratosdetrabalho?».

Dizem na missiva que caso ocomentarista residente da «Ec-clesia»tivesseouvidoalgunstra-balhadores nacionais, teria com-preendido melhor a situação defrustração e marginalização queelesatravessam.

Segundo os funcionários des-contes,«nãosetratadepersegui-ção aos estrangeiros na TAAG,porque a empresa precisa deles,mas tão-sócontraa formacomoesses estrangeiros tomaram a

TAAGdeassalto,comoseosna-cionaisfossemosculpadosdacri-sequeseviveemPortugaloudafalênciadaVARIG».

Os signatários,quepediramoanonimato, por temerem repre-sálias, questionam ainda se Jus-tinoPintodeAndradesedeixouinfluenciarporeventuaisrelaçõesde amizade para tomar partidopeladirecçãodacompanhia.

Antesdeenumeraremumasé-rie de problemas que a empresaenfrenta, os funcionários convi-damJustinoPintodeAndradearetratar-se, fazendo uma «auto-

crítica», ao invés de se deixar«manipular por quem detém opodernaTAAGeintimidaostra-balhadores».

Contactado,naquinta-feira,16,parasepronunciarsobreoteordamissiva, Justino Pinto de Andra-de, que é amigo desta casa, ondepresta colaboração eventual a tí-tulogratuito,dissequenão tinhacomentáriosafazer,considerandoocasocomo«umassuntointerno»da companhia, que nada tinha avercomele.«Éumproblemadostrabalhadores da TAAG e da suadirecção»,dissesecamente.■

Na óptica dos reivindicadores

Causas do descontentamento

Na óptica dos subscritores da carta,a gestãodoPresidentedoConselhodaAdministração (PCA)daTAAG,PimentelAraújo, tem sido «pessoal,

individualistaedeserodeardeestrangeirosoudeamigosvindosda«AirGemini».

Consideramqueogestormáximodaempre-sa estaráa interferir empelouros reservadosaoutrosadministradoresdacompanhia.Ele«de-

positaapenasconfiançanosquadrosquevieramdeoutrascompanhiasaéreasequeporsinalfa-liramporculpadele[PimentelAraújo]».

Embora eles reconheçam em Pimentel Araújoum «bom técnico», não deixam, porém, de tecercríticasaoPCAdaTAAGqueestaráa«fugiràsreu-niõesconvocadaspelostrabalhadores».«Eleidenti-fica-semelhorcomosestrangeirosdoquecomosnacionais»,sustentamoscontestatários.■

Boeing 777-330ER reforça frota

«Sagrada Esperança» já em Luanda

O primeiro dos doisBoeing’s 777-300ERcompradospela TAAG (Li-

nhas Aéreas de Angola) aofamoso fabricante aeronáu-tico norte-americano, parareforçara sua frota,eentre-gue formalmente na últimaterça-feira em Seatlle, já seencontra em Luanda desdeestasexta-feira.

Segundo uma fonte dacompanhia angolana, o apa-relho,baptizadocomonomede «Sagrada Esperança», oprimeirodedoisencomenda-dos pela transportadora emAbril de 2010, tem uma ca-pacidade para 293 passagei-rosnastrêsclasses(primeira,executivaeeconómica).

ComamatrículaD2-TEG,aaeronavepintadaepersonali-zadacomosímbolodaTAAG,a Palanca Negra, tinha saídaprevistadeSeattleàs10horasde quinta-feira, 18 horas emAngola, num voo sem escalaqueteriaaduraçãodeaproxi-madamente16horas.

O 777, também conhe-cido por «Triple Seven» éum avião de longo alcance,projectado e fabricado pelacompanhia norte-america-na Boeing. É omaior aviãobi-jacto do mundo, com omotor mais potente já pro-

duzido. Pode transportarentre 283 e 368 passagei-ros na configuração de trêsclasses, por até 17.000 km,ligando as principais capi-taissemescala.

As principais caracte-rísticas visuais do «Boeing777» que o diferem dos de-mais aviões, são o diâmetrode suas turbinas turbofan(as maiores do mundo), oseu trem de pouso com seispneuscada(totalde12)esuafuselagem tipicamente cir-cularecomprida.

A TAAG é a primeiracompanhia aérea em Áfri-ca detentora de um Boeing777-300ER, que identifi-cou como primeira escolhaparaviagensdelongocurso,aguardando para o próxi-mo mês de Julho a entregapelaconstrutoraaeronáuticaamericanadeoutroaparelhosemelhante.

A TAAG recepcionou osúltimos Boeing777-200 e737-700a11deNovembrode2006. Actualmente, a com-panhia aérea de bandeiraopera com três Boeing 777-200ERnas linhasdeLisboa,Pequim, Dubai, Rio de Ja-neiro, São Paulo, Pretoria eJoanesburgo e com quatroBoeing737-700 em rotas do-mésticaseregionais.■

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Política

N. Talapaxi S.

O sumo bispo da IgrejaTocoísta, Dom Afon-so Nunes, mostrou-seagastado com os paí-

sesocidentaisacercadosproble-masquedizemrespeitoàÁfrica,em carta que enviou do Reinoda Espanha, divulgada no cultodominical da sua denominação,recentemente, para um quórumdemaisde18milfiéis,nasededacomunidade, localizadanoGolfeII,emLuanda.

Na carta extensiva a «todos,tantoparaoshomensdaciência,como para os iletrados», o líderreligioso declara que «a Áfricaprecisanãosódeinstituiçõesfor-tes,mastambémdelíderesfortese comprometidos com a causaafricana»,devendoestarmunidos«deprofundosentidohumano».

No prosseguimento da epísto-la,odirigentedaIgrejadeNossoSenhor Jesus Cristo no Mundoacrescentou que são escusados«os líderes fracos, incapazes,quesó esperam ser espancados pelasnaçõesquesempresesentemsu-periores,batendonofilhodosou-troscomosefosseseu».

Nessecontexto,obispofazre-ferência a um poder «paternal»que muitos países do chamado«Primeiro Mundo» procuramexercer sobre os africanos, coma anuência de muitos dirigentesdocontinente, levandoemcontaoteoraindaactual,emboradesa-conselhável, das relações paren-tescas onde bater os filhos é umrecurso vigente de repreensão eeducação.

Para o mandatário tocoísta,«a África precisa de uma uniãodelíderesfortesquepodemcriarinstituiçõesfortes,emboraalgunspensem que a África só precisade instituições fortes». E somouas considerações afirmando que«havendo homens bons, hones-tos, disciplinados, competentes ecomprometidos para uma deter-minada causa, também teremosinstituiçõesforteseumcontinen-

teforte,respeitadoetemido».«Éhorademudarasconsciên-

ciasepensarmoscomonósmes-mos,amarmo-nosunsaosoutros,deixandooorgulhoeadesones-tidade»,frisouolídercristão.«Oresultadodoamorseráapaz,se-gurança, força e a prosperidadeentreasnaçõesafricanas»,decla-rou.Einferiuque«todospoderãogovernar,unsapósoutros».

«Vamosparaoscampos,vere-mosaíosmortos;vamosparaascidadesafricanas,encontraremosaí os debilitados pela fome», de-notou. E lamentou, dizendo que«até mesmo homens de Deus esacerdotes deixaram de pensarcomopodiameandamtodosva-gueando;nãosabemondeirnemmesmooquefazer».

Terá sido sob essa presunçãoqueDomAfonsoNunesdissequesão a honestidade, a disciplina,a competência e o comprometi-mento a natureza da liderançae os valores de que o continenteprecisa, tanto no campo políticoassim,comonocamporeligioso,

reiterando que «a religião deveagorareentraremcena».

Obispo supremodo tocoísmojustifica a declaração expondoque têm de ser os próprios afri-canos a educar ou punir aquelesque falham «e não deixar os vi-zinhos,que também têmos seusproblemas,viremàÁfrica tomarmedidas como se de nossos paissetratassem».

«Algunsmenosatentosecegospensamqueaatitudedosociden-taiséboa»,ponderouodirigente

da comunidade que o tem comoencarnação do alegado profetaangolano SimãoTôco. «Será queaÁfricajáseesqueceudosmilha-res que partiram forçosamenteparaoOcidenteedosquaismui-tosdescendentesporaípadecem?!Quetristeza!»,consternou-se.

Emdadopontodoseuescrito,obispodaIgrejaTocoistaafirmamilitantemente que «Deus nosfez e enviou-nos como africanose vamos continuar a sê-lo até àconsumação dos séculos». E, nasequência,estabeleceque«muitosquerem nos confundir na nos-sa missão; tentam pintar-nos deoutrascores;enganam-se;vamoscontinuaraserosmesmosdeon-tem,mantendoosnossosideais».

Entretanto, ao final das suasconsideraçõesodirigentedaIgre-ja de Nosso Senhor Jesus CristonoMundoressalvaqueasua in-tenção«nãoéinsinuarainimiza-decomoocidentemaspretendertão-somentequesejamostratadosde igual maneira, assim comoDeusnosfez»e,emseguidaarre-

mata que «temos que conquistarestenossoprestígioperdido».

«Não sei se falei política, mastambémnadameimpededetocarnestesassuntos», escreveuopas-tor-mordacongregaçãotocoista.

DomAfonsoNunes,queseen-contra no Reino da Espanha hápoucomais de ummês, em via-gem de carácter privado, para a«reabilitaçãodacarcaça»,confor-merezaasuamissiva,apela«ato-dososhomensemulheresdebema orarem muito», pois acreditaque«aoraçãofeitacomféébemcapazdemudarascoisas».

A Igreja deNosso Senhor Je-susCristonoMundo, com sedeemLuanda,épresumidamenteamaior denominação cristã entreas fundadas em Angola e, alémde se alastrar pelas nações vizi-nhas,tambémmantémfiliaisemalgunspaísesdaEuropa-Portu-gal, França,Holanda, Inglaterrae Reino da Espanha -maiorita-riamente frequentadas por imi-grantesedescendentesdeafrica-nosnadiáspora.■

Em assuntos que dizem respeito aos africanos

Líder tocoísta diz-se «fatigado»com paternalismo do Ocidente

Dom Afonso Nunes apela por instituições e líderes africanos comprometidos com a causa africana e não por líderes fracos e incapazes, que «só esperam ser espancados pelas nações que sempre se sentem superiores» e se portam como se fossem nossos pais...

8 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Política

Sábado, 18 de Junho de 2011. 9

Insta OAA a colocar no «lugar» seus filiados

PGR adverte advogados de Q. Ribeiro Os pronunciamentos feitos à imprensa na semana passada pelos advogados do antigo comandante provincial da Polícia

de Luanda e de outros co-arguidos, detidos no mediático «Processo Quim Ribeiro» geraram desconforto na Procuradoria-geral da República (PGR), fazendo com que este órgão apelasse à Ordem dos Advogados de Angola (OAA), no sentido de esta colocar

os seus filiados no «devido lugar». Diz a PGR que eles podem exercer os seus direitos, mas devem também observar os seus deveres, «porque a liberdade de expressão tem limites»

Kim Alves

A advertência está ex-pressa num comuni-cadodeimprensaemi-tido pelo gabinete do

vice-procurador geral da Repú-blicaeprocuradordasForçasAr-madasAngolanas(FAA),ereferequeosadvogadosdevemrespeitaras instituições judiciaisdopaíseos magistrados, assim como osdireitoseliberdadesdeoutrosen-tes legais e constitucionalmentetutelados.

De acordo com a ANGOP, a«atribuiçõesdaOAAézelarpelafunção social, dignidade e pres-tígiodaprofissãonoexercíciodaadvocacia e promover o respeitopelosrespectivosprincípiosdeon-tológicos, pelo que está obrigadaapugnarparaqueoexercíciodeadvocacia não se misture nuncacom o exercício de jornalismocomoemalgunscasosvempubli-camenteacontecendo».

Odocumentosalientaque«deháunstemposaestaparteváriosórgãosdecomunicaçãosocialpú-blicos e privados (jornais, rádiose televisão) têm estado a difun-dir notícias com base em entre-vistas e conferência de imprensaconcedidas pelos advogados dosprocessos-crimeemquefiguramcomoarguidosocomissárioJoa-quimVieiraRibeiro,vulgoQuimRibeiro,eoutrosoficiaisdaPolí-ciaNacional,cujatramitaçãocor-renoSupremoTribunalMilitar».

Osadvogadosesgrimiramnãosóquestõesde factoededireito,como tambémpuseram em cau-sa a credibilidade e idoneidadedosórgãosdejustiçamilitar,comparticularincidênciadoSupremoTribunal Militar, difundidos emextractos pelos órgãos de comu-nicaçãosocial,lê-senamissiva.

Nesta conformidade, refere,os órgãos de comunicação so-cial, públicos e privados foramutilizados pelos advogados paradestratarem e procurarem des-credibilizar aquelas instituiçõestrazendoparahastapúblicaques-tõesquesódevemsertratadasemforopróprio,ousejanostribunaisconstitucionalmente consagra-dos.

Dizocomunicadoqueosarti-gos 64°,66°,67°,70° e 71° do esta-tutodaOAAimpõemaosadvo-

gadosodeverdenãodivulgarem,através dos meios de comunica-çãosocial, entreoutras,questões

processuais ou profissionais a siconfiadas, não devendo utilizarexpressões injuriosas e ofensivas

àdignidadeeconsideraçãodevi-das aosmagistrados e aos tribu-nais. «Podem os advogados, nostermosdoartigo11°2al.c)daLeideImprensautilizarosmeiosdecomunicação social para prestarinformações com vista a salva-guardaraobjectividade,origoreaisençãonascausasquelhessãoconfiadas»,adicionaaPGR.

O referido órgão judicial con-testanoseucomunicadoaactua-çãodosreferidosadvogadosedosórgãos de comunicação social,porque,emseuentender,«procu-ramperturbaranormaltramita-ção dos processos-crime, mani-pulamaopiniãopúblicae criamobstáculos para que o tribunalpossa realizar o seu trabalho deforma imparcial, com coerênciaesempressões,paraqueajustiçasejafeita».

Causídicos contestam

Entretanto,osadvogadosdis-seram ao Semanário Angolenseque só recorreram à imprensacomouma«reacçãodedefesa»,jáqueassuasvidascorriamperigo,face às ameaças de que têm sidoalvos.

«Quem começou por utilizara comunicação social para vazarmaterial em segredo de justiçaatentatório à dignidade dos seusconstituintes,desdeafasedeins-trução preparatória dos proces-sos,foramoscompetentesórgãosjudiciais, que não respeitaram odeverdacontençãoverbaleopta-ramporinflamaraopiniãopúbli-ca com inverdades processuais»alegaramemsuadefesa.

Os causídicos disseram quesempre respeitaram as normas enunca destrataram nem ofende-ramosmagistradoseostribunais,porque acreditam que eles estãocomprometidos exclusivamentecomoDireitoecomaLei,embo-rahajasectoresque«nãopensemassim e não respeitem as regrasprocessuais quanto à instruçãoe preparação, fazendo àmargemda lei condenações antecipadase tentam impedir o exercício doDireitodeDefesadecidadãosnacondiçãodearguidos».■

W. Tonet versus D. Mendes

Depoisde ter terminadoo seuestágiodeadvogadonosescritóriosdaAsso-ciação Mãos Livres, William Tonetoptou agora por caminhar pelo seu

própriopé,aocriarumescritóriopróprioque,segundo algumas fontes, está localizado nosCoqueiros.

Noentanto,oaparecimentodeW.Tonetnochamado«CasoQuimRibeiro»,noqualassumea defesa de um dos arguidos envolvidos nesseprocessopoderágerarpolémica.

AcontecequeDavidMendeseWilliamTonet

já estiveram demãos dadas durante um certoperíodode tempo,quandoambospartilhavamo mesmo escritório, à Kinanga, ou seja nas«MãosLivres».

No«casoQuimRibeiro», osdois estarão emextremosopostos,jáqueDavidMendesassumiráadefesadafamíliadasvítimasdocrimedehomi-cídioeWilliamTonetencarregar-se-ádadefesadeumdosarguidosqueéacusadodetersidooautormaterialdessemesmohomicídio.■

IM

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Política

N. Talapaxi S.

«Os diamantes brilham masnãotrazembrilhoparaopovodaLunda-Norte.Trazemsofrimento.Aquisesofreesemataporcausadodiamante»,assimafirma,comoum certa dose de consternação,Augusto Paulino Kalumbula,responsável máximo do Partidoda Renovação Social (PRS), naprovíncia das «brilhas». E os quecompartilham com ele esse juízoconstituem uma legião digna derespeito.

ParaKalumbula,oestatutoes-pecial atribuído às Lundas, tantona era colonial como depois daindependência, nunca se rever-teu em desenvolvimento para ospovos da região, em especial osnorte-lundenses.«Quemexplora enãoinvestenaáreaaquepertenceodiamanteégarimpeiro.EntãoogarimpeiroéoEstado.Apopula-çãoégarimpeiraeogovernoéou-tro garimpeiro», considerou Au-gustoKalambula,queésecretárioprovincial do seu partido desde2005.

Lembraqueodiamante,sendoumariquezanãorenovável,umdiahá-deacabar.Eexpressouoreceiode«quandoacabaremosdiaman-tessóficaremravinasparaapopu-lação»,porquanto«deondesaemeparaondevãoninguémsabe».NoentenderdorepresentantedoPRSno Dundo, «os beneficiários sãoosmembrosdogovernodaRepú-blica»Entretanto,questiona:«Eoresto?».

Repressão e mortes

A escavação artesanal de dia-manteséumrecursoquevoltouaatrairperigosamenteumagrandemassa de jovens desempregados,depoisquepassouadepressãodacrise económicamundialqueha-via diminuído a actividade dasempresasmineradoras.Osecretá-rioprovincialdaUNITAnapro-vínciadaLundaNorte,DomingosdeOliveira,informouessefactoealegou que «em contrapartida, ogoverno,quandovailá,sesurpre-endejovensacavar,mataindiscri-minadamente».

O secretário do maior partido

daoposição,queactualmenteéco-ronel reformado das FAA, decla-rouquenãohánenhumgrupodeexploração artesanal oficializadopara trabalhar. «Estãoagoraparaincrementaressamedida(delivreexploração);atéfalaramqueoar-ranque, duma forma oficial, seránaáreadoKuango,masjádepoisdemorrermuitagente»,salientou«omano-chefe»daLunda-norte.

Conforme adiantou Domingosde Oliveira, «está a morrer mui-ta gente nas áreas de exploraçãoartesanaldediamantes; a tropaea polícia que vão pra lá não tempiedade nem dó». O mandatárionorte-lundense do «galo negro»revelou que essas acções aconte-ceramna áreado kalonda–mu-nicípiodoLukapa. «NoKalonda,corposflutuaramnorioTchikapa;

noFukauma,flutuaramcomorioTchiumbwe», fez saber o respon-sáveldaUNITAnaLundaNorte.«Se estão amatar congoleses, es-trangeiros, também os angolanosestão lá», lamentaDomingosOli-veira.

«Se a nossa Constituição proí-beapenademorte,ninguémtemo direito de tirar a vida a quemquerqueseja;nemquesejaaum

cidadão estrangeiro», argumentao secretário lunda-nortenho dos«maninhos», que na sequênciadeclaraserprecisodeterosinfrac-toreseencaminhá-losasestânciassuperiores.«Nãohámecanismodedetençãodessaspessoasparaapre-senta-lasàjustiça?Temosdematardiscriminadamente?», protestou.Nãoobstanteoregistodessesepi-sódiosnefastos,«depoisdemorre-remcentenasecentenasdejovens»quequeriamversuasnecessidadessatisfeitas,«ogovernoentendequeafinalaUNITAtinharazãoquan-dodiziaquenãoépelodiamanteque o angolano deveria morrer»,disseDomingosdeOliveira.

«Culpa e desculpa»

OgovernadordaLundaNorte,Ernesto Muangala, na entrevistaprestadaaoSAe levadaaopúbli-conasemanapassada,imputouasmortesquetemacontecidonoseiodosgarimpeirosàacçãodossegu-ranças particulares das empresasdiamantíferasaliestabelecidas le-galmente.

Para Muangala, isto terá emconsideraçãoadirectrizdaCons-tituiçãoquedeterminaaproprie-dadeorigináriadaterraaoEstado,cabendo a este, então, repassar aterra a destemidos projectos mi-neiros para a exploração de dia-mantes. «Acontece porém quemuitas pessoas tanto nacionaiscomo estrangeiras têm estado ainvadir as terras consideradasreservas do Estado. Estas áreasestão protegidas pelas empresasde segurança privada, que têm amissãodeprotege-lascontraoga-rimpo; impedirqueosdiamantessejamsubtraídosdeformailegal»,assim explicou o governador osincidentesmortaisnasminasdas«brilhas».

ErnestoMuangala reconhecerana ocasião que a lei da explora-çãoartesanaldediamantestemaaplicação prática quase nula, portersidoaprovadahápoucotempo.Masenfatizouqueoseuinteressese assenta na prioridade da con-cessãodeexploraçãoaoscidadãosnacionais organizados em coope-rativaseassociações.■

Secretários do PRS e da UNITA na Lunda-Norte reforçam

A maldição dos diamantes O Estado quer acabar com a actividade ilegal e criou os caminhos para a legalização. O PRS e a UNITA alegam que a liberação

da exploração artesanal está longe de acontecer. Depois da crise económica de 2008/2009, a clandestinidade «voltou» aos garimpos. Há rumores de repreensão inclusive com mortes. E a oposição acusa o governo de estar por trás da atrocidade

contra os garimpeiros. A maldição dos diamantes continua sem exorcismo

DomingosdeOliveira,secretarioProvincialdaUnita;AugustoPaulinoKalumbula,secretarioprovincialdoPRSeErnestoMuangala,governadordaLunda-NorteesecretarioprovincialdoMPLA

10 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Capa

Celso Malavoloneke

O Semanário Angolensetraznesta ediçãoduasentrevistasdeluxodosporta-vozes dos dois

maiorespartidosangolanos,eter-nosrivaisdanossacenapolítica:Rui FalcãoPintodeAndradedoMPLAeAlcidesSakaladaUNI-TA.Ambos decidiram falar semrestrições, abordando assuntosque, não sendo tabu (tanto nomaioritáriocomonorival)sãonoentantoabordadosàbocapeque-nanasfunjadasdesábado,apesardeseremdeinteressepúblicona-cional.Éocasodo«27deMaio»noMPLAe«asbruxasdaJamba»paraaUNITA.Curiosamente,osdois concordam que as respecti-vas purgas foram o resultado deumaconjunturahistórica infeliz,que criou dor e luto desnecessá-riosemmuitasfamílias.

Numpaísemquenuncaacon-teceu um debate político entrealtosdirigentesdosdoispartidos,estasduasentrevistasficamcomoque o mais próximo disso. Tal-vezpornãotersidoemdirecto,o«bilo«eosmimosforamminimi-zadosparadarlugar–felizmente,diga-se de passagem – à explica-çãodetalhadadavisãoedospro-jectosquecadaformaçãopolíticatempara aNação, casoganhe aspróximaseleições.Eoresultadoédeveras interessante: se para Ca-binda,oMPLAdizque«aposiçãoé a mesma» (subentendendo-seque Cabinda é parte integrantedo territórionacional e como taldeveteromesmotratamentoqueas outras províncias), a UNITAdefendeque,emborasendoparteintegrantedeAngola,oterritóriodeveterumaautonomiadogéne-rodosAçoreseMadeiraemPor-tugal.

Uma similitude interessantenosdoispartidos:nãoénestemo-mento claro que os seus actuaislíderes venham a ser candidatos

às presidenciais em 2012. Outrasimilitude: os dois porta-vozestergiversamquando falamdasu-cessão. Sakala ficou claramentepoucoàvontadequandoonomedeAbelChivukuvukufoiavança-doporumainternautaeRuiPintodeAndrade nem deu tempo queos entrevistadores explorassemmais o assunto, remetendo-o àpróximareuniãodoCCeàdispo-nibilidadedopróprioJES.

Outra comparação importanteé o que os dois partidos pensamemrelaçãoàsmanifestaçõesque,naressacadasoutrasdoMagrebe,mexeram com a capital nas últi-mas semanas. Enquanto a UNI-TAachaqueomaioritárioestáacoarctar o direito dos cidadãos amanifestar-se(salvaguardaentre-tanto que as manifestações têmqueterrosto),oMPLAdizqueamediaeaoposiçãoestãoadarim-portânciademaisamanifestaçõesque visam tão-somente ofenderaltosdignitáriosdoseupartidoedopaís.Eassimpordiante.Edeesquebra, os galhardetes de cos-tume: enquanto Sakala diz que

o problema de Angola é entre opovoeoChefedoExecutivo,RuiPinto deAndradediz com todasas letrasquequempartiuopaís,partiumesmoepontofinal…!

A grande diferença entre osdois partidos reside na ênfase adaràgestãodopaísseforemGo-verno.EnquantooMPLAafirmaquerer continuar a consolidaçãodos ganhos macro-económicospara alicerçar depois o desen-volvimento humano, a UNITApropõeprecisamenteocontrário:gastar os dinheiros que o país jáacumulou para o sector social eporviadissomelhorarosíndicesdedesenvolvimentohumanoquerelatórios especializados interna-cionais apontam como os maisbaixosdoplaneta.Ede esquebravaidizendoquecombateráacor-rupçãoemtodooterreno.Quantoaosquadrosparafazereste«mila-gre»dizquetrabalharácomtodosaqueles que demonstrem com-petência, independentemente dasuafiliaçãopartidária.OMPLA,esse, quanto a isso, denota umacertasobranceriaquetocaasraias

daarrogânciadequemparteere-parte e fica com amelhor parte:diz, pela boca deRui Falcão, emrelação aos tecnocratas na peri-feria quenão são aproveitados, oseguinte:«Aspessoastêmdeteraperspectivadequecadaumébomnasuaárea.Equedevedarome-lhorde si láondeestiver, sejanoaparelhogovernativo,sejanaáreadoempresariadoprivadoouaindanaSociedadeCivil».

Oleitordeveestaraperguntar-se: e como surgiram estas duasentrevistasnumamesmasemana.A resposta é: foi completamentefortuito. Rui Pinto de Andradeacedeu em conceder uma entre-vista ao SA (oportunidade a queandávamos à coca há um bomtempo). Até aí nada de anormal.Oinusitado–históricomesmonoquedizrespeitoàHistóriadaCo-municaçãoSocialangolana–foio«tête-à-tête»onlinedeoitohorasrepartidasemcincohorasnodo-mingo,dia12,etrêsnasegunda,13deJunho,entreAlcidesSakalaecentenas,senãomilhares,dein-ternautasdentroeforadoPaísvia

Facebook.O «encontro-entrevista-mesa

redonda» virtual foi organizadoporumajovemnadiáspora,aVa-nessaMayomona.Sendoumadasmais activas facebooquianas daspáginasdeAngola,teveaideiadeconvidarAlcidesSakalaparaessebate-paposemtabus,pois,queria-se sabermais sobre aUNITAdopassado, da actualidade e quaisos seus projectos de futuro paraopaís.Sakalaaceitouodesafioesaiu-semuitobem,comosepodevernosextractosqueoSAtrazàestampa.

É o contexto pré-eleitoral.Ainda não está ao rubro, masjáestábastantequente.Acon-tinuarassim,acampanhaelei-toral de 2012 não terá nada avercoma«softeza»quevimosem2008.Tudoindicaqueessaserá mesmo campanha a va-ler. Se os programas eleitoraiscontiverem a mesma qualida-dedosde2008–etudoindicaque terão – o país só ficará aganhar.Eanossajovemdemo-craciatambém!■

«Fogo Cruzado» - indirecto - sem tabus entre o MPLA e a UNITA

Respostas e projectos nas vozesde Alcides Sakala e Rui Falcão

12 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 13

Semanário Angolense (SA) - O MPLA hoje tem um Governo absoluto saído das eleições de 2008. É-lhe mais fácil governar agora, contrariamente aos tempos do Governo de Uni-

dade e Reconciliação Nacional (GURN)?

Rui Falcão Pinto de Andrade (RFPA) – Julgo que sim.

SA– Porquê?RFPA– Porque hoje es-

tamos mais sintonizados, a equipa é única. Essa é a dife-

rença entre uma equipa e uma selecção (de futebol). Uma equipa treina sempre junta, uma selecção é como uma manta de retalhos que precisa de ser unida. Essa é a diferença entre um Governo de Unidade e Reconciliação Nacio-

nal e um Governo liderado por uma maioria.

SA – O GURN não fun-cionou como devia?

RFPA – Funcionou. Tanto é que hoje estamos aqui. Só que qualquer partido político, tendo um programa próprio, tendo experiência e sendo sufi-

cientemente capaz de o fazer, pre-fere fazê-lo sozinho do que acom-panhado. Aliás, você tem uma experiência prática. Se o PSD, em Portugal, pudesse, formava o Governo sozinho. Não o fez por-que a democracia não o permitiu. Vai ter que o fazer com o CDS. A vida é assim. Nós, num determi-nado período da nossa História, tivemos que fazer uma aliança governativa. Espero que no futu-ro não seja necessário. Quer para nós, quer para outros que venham a ser poder.

SA – Há muitos tecnocratas na periferia do MPLA que não são aproveitados?

RFPA-As pessoas têm de ter a perspectiva de que cada um é bom na sua área. E que deve dar o melhor de si lá onde estiver, seja no aparelho governativo, seja na área do empresariado privado ou ainda na Sociedade Civil. Nós não somos hegemónicos. Temos

Rui Falcão Pinto de Andrade «abre o livro» ao SA

«A democracia interna no MPLA vai bem (muito bem), obrigado!»

O Semanário Angolense confabulou, durante hora e meia, terça-feira (14), no terceiro andar do «Kremlin», com aquele que é considerado em muitos círculos como a maior «vai-dade» da família Pinto de Andrade no MPLA: Rui Falcão, que ocupa o cargo de secretário

para Informação do Bureau Político do também chamado «partido da situação».Ao contrário do que aconteceu em outras tentativas (falhadas), desta vez ele aceitou

a conversa sem quaisquer rebuços, se bem que a data inicial não tivesse sido cumprida (adiou-se por um dia), devido a compromissos sociais do «porta-voz» do MPLA.

Com este escuteiro, de 50 anos, entregue de corpo e alma ao serviço da «Grande Família», abordamos essencialmente questões de índole política e social, sem esquecer, é claro, temas

como as manifestações que têm tido lugar no país por influência daquelas que varrem alguns países do norte do nosso continente também foram passadas em revista.

Em relação à sucessão de José Eduardo dos Santos, um tema caro para todos os angolanos, Rui Falcão não nos deu qualquer novidade. Disse apenas o

que já se sabia: que o assunto será discutido em reunião do Comité Central do seu partido, em data a anunciar, mas que deverá ocorrer até um pouco

antes das eleições de 2012. Diz ainda que a decisão de continuar ou não, dependerá da vontade do próprio José Eduardo dos Santos. No entanto,

deixa a entender que o partido sequer está preocupado ou está preparado para uma eventual recusa sua. Confira, já a seguir, o essencial da conversa.

Jorge Eurico, Adriano de Sousa eNunesAmbriz(fotos)

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SA- A critica que se faz ao 1.º secretário do MPLA de Luanda também pode ser feita aos seus homólogos no interior do país?

RFPA- Há diferentes níveis de desenvolvimento da democracia. É isso que procuramos esbater todos os dias. Temos que ser os mesmos em todo o territó-rio nacional.

SA – Como está a democracia interna no seio do seu partido?

RFPA-Felizmente, está de (boa) saúde. Temos estado a dar saltos qualitativos muito grandes.

SA – O que é que quer com «saltos quali-tativos»?

RFPA – Quer dizer que temos um partido com uma direcção vertical. Estamos a engajar cada vez mais as pessoas nas soluções internas dos nossos pro-blemas e inclusive na própria comparticipação para o desenvolvimento do país. Hoje há uma dinâmica muito diferente no seio do partido do que tempo do partido único. Somos cada vez mais democráticos internamente. Quanto mais o MPLA se democrati-zar, mais a sociedade se democratiza.

SA – Isto quer dizer que militantes como Marcolino Moco e Lopo do Nascimento estão «perdoados»?

RFPA –Eles nunca foram castigados! Perdoa-dos porquê? São perdoados aqueles que cometeram crimes. Que eu saiba, estes camaradas (Lopo doci-

mento e Marcolino Moco) não cometeram crime nenhum. Agora, o facto de terem deixado de ser secretários-gerais é algum dilema?

SA – Mas são ou não marginalizados?RFPA –Eu tenho o camarada Lopo do Nasci-

mento como um exemplo a seguir. Um camarada que, tendo deixado a direcção do partido, continua a ser um militante activo, participa no Grupo Par-lamentar, dá o seu contributo. Isso é que valoriza o homem. Eu hoje sou membro do secretariado (Bu-reau Político), ontem não era e amanhã não hei-de ser. Mas uma coisa lhe garanto: continuarei a ser do MPLA.

SA – Como é que o seu partido encara as criticas e intervenções públicas de Marcoli-no Moco?

RFPA- Muito bem. É a opinião de um militante. Perdeu tempo a dizer algumas coisas. Devia tê-las dito cá dentro e quando esteve no exercício de deter-minadas funções.

SA – Porquê que não o fez?RFPA –Ah, isso terá que perguntar ao (Marco-

lino) Carlos Moco. Somos muito amigos e camara-das. Encontramo-nos, conversamos, somos amigos, poderia dizer-lhe, de dedo e unha.

SA – Não há anticorpos contra ele no seio do seu partido?

RFPA – No MPLA?! O Marcolino Moco está agastado com algumas coisas. Se isto vai pas-sar? Não faço ideia. Ele ainda não me disse. Quando ele me disser e autorizar-me a dizer publicamente, di-lo-ei. Como amigo dele, não tenho que revelar publicamente aquilo que são nossas conversas.

SA – Há tolerância política, neste aspecto?RFPA-Olhe, aqui dentro há gente com po-

sições bem mais radicais sobre todos os pontos de vista que o camarada Marcolino Moco. Vou dar-lhe uma ideia. Sempre fiz questão de nunca pertencer a grupos. Não faço parte de nenhum grupo no seio do partido. No Grupo Parlamen-tar anterior, tendo aquela coesão que toda gente conhecia, havia sete correntes de opinião. E que em função dos objectivos e dos momentos, posi-cionavam-se claramente. E sempre convivemos muito bem e ganhamos as eleições. Ninguém que não esteja dentro desta máquina faz ideia do que é a democracia interna no MPLA. Sou membro de um Comité de Acção onde me sinto feliz quando os camaradas criticam de forma aberta. E mesmo não sendo aceites pela opinião maioritária, devemos ter a coragem de dizer o que nos vai na alma. Isso evita que nos auto-afastemos. Digo sempre o que penso nas reuni-ões. No MPLA temos que nos habituar a dizertudoquantopensamos,desdequesejaemproldamelhoriadanossavidainterna.

«Temos no partido gente bemmais radical que Marcolino Moco»

consciência de que estamos numa sociedade democrática onde há opi-niões diferentes e por isso mesmo há organizações diferentes. Temos de ter a capacidade de fazer conviver toda esta disponibilidade de conhe-cimentos em prol do país. Sabe, há tempos, toda gente dizia que não era possível crescermos no domínio do Ensino Superior. Nós passamos de uma universidade pública para sete. Nós acreditamos em nós. Há muitos angolanos que não acreditam neles próprios. Não é no país, neles pró-prios.

SA – Estas universidades têm qualidade?

RFPA - Temos que começar. A criança quando nasce, não começa logo a correr.

SA – Não importa a qualidade?RFPA – Não é que não importe.

Temos noção exacta de que há riscos que se correm. Temos que ser com-petentes e exigentes naquilo que fa-zemos.

SA – Acha que estas universi-dades têm estruturas para serem dignas deste nome, quando mui-tas delas não têm sequer uma bi-blioteca?

RFPA–É o que lhe digo. Temos que continuar a trabalhar em prol do país. Ninguém vai fazer nada por nós. Temos que ser nós a fazer. Não basta criticar, é preciso contri-buir também. É preciso trazer mais

ideias, mais opinião, mais acções.Há muitos aqui que só ficam a cri-ticar. Mas quando o país tem uma catástrofe, como aconteceu há pouco tempo, não conseguem, a nível das suas organizações, arregimentar vontades e meios para apoiar aque-les concidadãos que estão a passar mal, mas continuam a criticar como se fossemos nós os causadores destas intempéries. Enfim, é uma acção pe-dagógica, que temos de continuar a desenvolver.

SA – Isto é uma indirecta para…?RFPA-Não, eu não sou um ho-

mem de indirectas e fui bem claro. Só não me entende quem não quer.

SA – Para quando a apresenta-ção pública de uma lista nominal das vítimas do «27 de Maio» e a instituição de um «Tribunal da Verdade e Justiça», tal como na África do Sul, para se acabar com a dor suspensa de uma das pági-nas políticas mais negras do país?

RFPA – Acha que este seria o

caminho? Não sei se temos hoje con-dições para fazermos um trabalho acabado neste domínio. Compete ao Ministério da Justiça emitir certi-dões de óbito, etc, e o país tem condi-ções para o fazer. Há que criar outras condições. Agora, se me falar da ne-cessidade de reconciliar as pessoas, é um processo que, na minha óptica, deve ser ponderado. Agora nada vai trazer solução para um proble-ma de sentimento. O «27de Maio» é um problema de sentimento que vai ser difícil esbater. Se calhar, per-demos muito tempo. Se tivéssemos sido mais acutilantes na vontade de conversar e apaziguar os espíritos, se calhar teríamos dado mais alguns passos.

SA – Nunca houve vontade con-versar sobre isso?

RFPA –Julgo que, durante mui-to tempo, todos nós coibimo-nos de falar desta matéria. Todos nós, uns e outros.

SA – Isso prejudicou o país?

RFPA– Directamente não, indi-rectamente sim. Mas o país conti-nuou a sua marcha.

SA – Volte e meia, ouve-se rela-tos de casos de abusos de impren-sa feitos à pala de se ser militante do MPLA.

RFPA –Eu próprio disse isso há dias numa entrevista. Não podemos criar um «Estado de Excepção». Não podemos permitir que alguém pense que está acima da Lei.

SA – Os militantes do MPLA não estão acima da Lei?

RFPA – De maneira nenhuma! Eu continuo a dizer que, quer seja ou não militante do MPLA, aquele que desrespeitar a Lei deve responder pe-los seus actos. Ponto final! Estamos num país democrático e num país democrático as coisas são feitas no estrito respeito pela Lei.

SA – Imunidade não é sinónimo de impunidade no MPLA?

RFPA – De maneira nenhumal!

Sou deputado há 19 anos. E isso faz com que deixe de respeitaras regras que eu próprio aprovo no Parlamen-to? Não, pelo contrário! E quando eu prevaricar, assumirei as responsabi-lidades dos meus actos.

SA – Admite que tem havido ex-cessos?

RFPA-Admito. Há excessos dia-riamente.

SA – O que é que o MPLA está a fazer para contornar esta situ-ação?

RFPA – Se está atento, temos es-tado a trabalhar no seio do partido no sentido de resgatar os valores. Te-mos estado a reviver parte do nosso passado, os valores que estiveram na base da criação do nosso partido.

SA – A metodologia encon-trada para desencadear a cam-panha de resgate dos valores morais e cívicos é a mais ade-quada?

RFPA – Naturalmente. Temos estado a levar o diálogo às pesso-as, trazer à discussão, analisar o comportamento das pessoas, fazer reviver a crítica e auto-crítica. Nós chegamos a um ponto em que criticar o 1.º secretário era quase um drama. Não, não. Indepen-dentemente da função que cada um exerça no partido, somos to-dos iguais. Hoje estou no secreta-riado (do Bureau Político), ama-nhã estará outro. A vida é assim.

Temos que continuar a trabalhar em prol do país. Ninguém vai fazer nada por nós. Temos que ser nós a fazer. Não basta criticar, é preciso contribuir também. É preciso trazer mais ideias, mais opi-nião, mais acções.Há muitos aqui que só ficam a criticar

14 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 15

SA – Quer dizer que no MPLA pode-se criticar sem se temer re-presálias?

RFPA –Costuma ouvir dizer que alguém foi sancionado no MPLA? Há tanto tempo que você está atrás desta pergunta (risos). Agora, se um militante cometer um crime, pode crer que no MPLA vai ser sancio-nado. Se matar alguém, pode crer que o MPLA vai expulsá-lo. Porque este não é um comportamento que dignifique o MPLA. Agora, delito de opinião, isso não existe no MPLA. Eu digo o que penso todos os dias e nunca vi ninguém preocupado em sancionar-me. Agora, falo de for-ma séria. Falo nos momentos certos perante quem devo falar. E espero que todos os militantes se compor-tem assim. Não porque eu seja um exemplo, mas porque acho que es-tou no rumo certo e que o MPLA deve ser assim mesmo. No MPLA há esta abertura.

SA – Por isso é que é mal com-preendido muitas vezes?

RFPA – Não sei se sou mal com-preendido. Algumas conveniências às vezes levam a que se crie a ima-gem daquilo que não somos. Mas nós também conhecemos estas es-tratégias.

SA – Mas sabe que é conhecido como sendo radical?

RFPA – Radical em relação a quê?! Sabe, estamos num país onde a mentira transformou-se em virtu-de, onde a deturpação dos princí-pios e dos valores pode alcandorar-nos a determinados postos. Eu não me revejo nisso. Para mim, o que importa é a verdade. E enquanto puder dizer a verdade, di-la-ei sem problema nenhum. Seja a quem for e doa a quem doer. Sabe por-quê? Porque não tenho problemas de vínculos, não estou vinculado a coisa nenhuma, a não ser os princí-pios que norteiam a minha própria vida.

SA – Vida pessoal?RFPA –E política. Respeito es-

crupulosamente o meu partido. No em dia que não me rever nos esta-tutos e programas do meu partido, retirar-me-ei voluntariamente da direcção. Não tenho este tipo de complexos. Sou profissional. Então tenho que dizer aquilo que pen-so. Sempre tive esta trajectória no MPLA. Nunca ninguém disse que fui diferente em alguma etapa da minha vida. Sempre fui assim, com esta frontalidade.

SA – Então aceita que o cha-mem de radical?

RFPA – Se entender a verdade como algo radical, então eu sou ra-

«Não entramos em jogos baixos»

SA – O que se está a passar em alguns pa-íses no norte de África preocupa o MPLA?

RFPA – Deveríamos estar muito preocupa-dos com o que se está a passar na Líbia. A Lí-bia é um território africano. Quem está a fazer aquilo não são africanos. Já parou para pensar nisso? Estamos a ficar sem vergonha ou pelo menos com mais vergonha de sermos africanos. Isto é muito mau para o continente. Muito mau mesmo. E espero que um dia não nos arrepen-damos por causa disso.

SA – Angola desempenha um papel im-portante no contexto da União Africana…

RFPA - ... E Angola teve sempre uma po-sição muito clara em relação a esta matéria. Somos contra a ingerência interna em qual-quer circunstância. E ver aquilo que está a ser feito na Líbia deveria doer-nos a todos e não apenas a alguns. Sabe que o petróleo tem muitas coisas escondidas. Estamos a fin-gir que não percebemos. Quando chegarmos à conclusão que o que se passa aí tem a ver com a guerra da energia, vamos perceber que

estão a massacrar o povo africano apenas por ter petróleo.

SA – Acha que as escaramuças….RFPA – Não, isto são coisas que depois vêm à

jusante. Isto são coisas que depois se criam para justificar os actos. Sabe que Angola tem uma realidade completamente distinta dos países do Norte de África e do Médio Oriente. Aqui em

Angola quem quiser disputar o poder político, vai disputá-lo nas urnas. Estar a pagar gente para fazer manifestações, não é solução para o nosso país. Nós desviamo-nos do assunto fun-damental. O que se está a passar no Norte de África, nestemomento,nãotemavercomosafricanos,temavercomadisponibilizaçãodeenergiaparaospaísesdesenvolvidos.■

«O que se está a passarna Líbia é vergonhoso»

dical porque sou pela verdade. Não sou pela mentira nem pelo bran-queamento de algumas questões. É isso aí: não vale a pena tentar inver-ter o meu pensamento, não vai con-seguir. Não espere que um dia diga que quem partiu este país fez bem. Aconteça o que acontecer, nunca o direi.

SA – Não é um discurso muito demodê?

RFPA –Olhe, também já se de-

via considerar demodê a tentati-va de branquear o passado. O que temos hoje é produto do passado. Temos que conhecer o passado para podermos projectar o futuro com qualidade.

SA – Não acha que ainda há feri-das que sangram e cicatrizes que doem quando se recorre ao pas-sado para dizer que este esfolou e aquele matou?

RFPA – Não, não é por aí. O

meu raciocínio não é este. Não faço apelo a este tipo de questões. Agora sei bem de onde venho, onde estou e para onde quero ir.

SA – Como está o relacionamen-to do seu partido com a UNITA?

RFPA –É positivo. Que eu saiba, não há problemas a nível das direc-ções dos partidos.

SA – Tem havido diálogo entre o MPLA e a UNITA?

RFPA- Sempre que necessário dialogamos e quando há coisas re-levantes para o país.

SA – Foi constituída uma Co-missão Parlamentar de Inquérito (CPI) para o Huambo. Não acha que o trabalho dela deveria ser extensivo a todo o país, na medi-da em que se vai falando de casos de intolerância política por todo o território nacional, incluindo aqui em Luanda?

RFPA – Acredito que haja em todo território nacional, aqui e ali, alguns casos de intolerância polí-tica. Há quezílias partidárias, te-mos que reconhecer. Não devemos é branquear o comportamento de alguns indivíduos, a pretexto de se-rem mais papistas que o Papa, que pretendem vender a ideia de que são santos. Nunca o foram e nós conhecemo-los bem. Sabemos com que linhas nos cosemos. Não signifi-ca isso que não haja, aqui e ali, pro-blemas que têm que ser resolvidos. Mas hoje um problema entre vizi-nhos pode ser transportado para a política. Uma maka entre vizinhos pode transformar-se em problemas entre o MPLA e a UNITA. Agora, há outras questões que nos preo-cupam. E quando se põe em causa a segurança das pessoas, isso deve preocupar-nos seja onde for. Nós es-tamos muito vigilantes. Aliás, sabe

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SA – Já imaginou o «caso Ca-binda» resvalar para uma situa-ção similar?

RFPA –Sabe que nós vivemos permanentemente esta pressão. O que lhe estou a dizer, com todas as letras, dá para fazer todo o tipo de extrapolação, faça-as! Se você fala do nível de Desenvolvimento Humano, independentemente da gestão política, não sei se existia algum povo africano com mais qualidade de vida do que o povo líbio. E veja o que estão a fazer na Líbia. É hora dos africanos unirem-se de facto e começarem a pensar. A continuarmos assim, vamos perder a independência dos nossos países. Pode crer!

SA – A posição do MPLA relativamente a Cabinda evoluiu ou continua a ser a mesma?

RFPA – Continua a ser a mesma. O MPLA sempre teve Cabinda como território angolano. Fazemos a gestão necessária. Continuamos a envidar esforços para melhorar a qualidade de vida das pessoas naquela região e vamos conti-

nuar. Agora, não cedemos nos nossos princípios.

SA – Há interesses estrangeiros….RFPA –Sempre houve. Não é novidade. E vai

continuar a haver. Ninguém faz uma guerra de guerrilha senão tiver apoio externo. Portanto, não faça este tipo de perguntas que a resposta

vai continuar a ser a mesma. Mes-mo aqui (em Luanda). Você pensa que não há, no mundo, quem não esteja preocupado com a qualida-de de vida que estamos a registar? Você acredita nisso? Eu não! Há quem não nos queira ver, de facto, em paz e a melhorar a qualidade de vida das pessoas.

SA – Estas pessoas estão iden-tificadas?

RFPA –Conhecemo-las há mui-tos anos. Muitas delas convivem connosco todos os dias. Agora, em estratégia, há dados que não se re-velam.

SA – Como é que o MPLA lida com a ques-tão da «União de Tendências»?

RFPA –Não temos conhecimento deste gru-po e não tem nada a ver com as estruturas do MPLA. Não tem vínculos com o MPLA. Quan-do houve eleições, vimos os vínculos que têm, não é connosco. ■

Sobre a questão de Cabinda

«A posição é a mesma»

SA – Uma questão incontornável. O líder do seu partido, caso este ganhe as eleições, vai ou não terminar o mandato como Presidente da República?

RFPA –Há gente fora do MPLA a querer decidir por nós (risos). É uma questão que ainda não discutimos. Acredito que vamos começar a discuti-la no quadro das eleições, aliás está no nosso programa. Será a partir da discussão interna, a nível da direcção superior do partido, que vamos delinear o rumo a seguir. Mas ainda não há a cenários.

SA – Mas o MPLA está preparado para indicar um nome para a su-cessão, no caso de...?

RFPA –Se essa for a decisão, em primeiro lugar, da Direcção superior do partido, e, em segundo lugar, da pessoa do engenheiro José Eduardo dos Santos, enquanto cidadão, compete-lhe a ele dizer ao partido se está ou não disponível para continuar a exercer as suas funções. Estando dis-ponível, competirá à Direcção criar o cenário envolvente no sentido de o tornar candidato e submete-lo às estruturas competentes do partido para decisão. Este é o rumo a seguir.

SA – Como é que estão a «cozinhar» a vossa estratégia eleitoral?RFPA – Ainda estamos na fase de adquirir os «ingredientes».

SA – Os «ingredientes» são Bento Kangamba, Riquinho e outras figuras do género como cabos eleitorais?

RFPA –Alguma vez tivemos dificuldade em arranjar «cabos eleito-rais»? Sejam quais forem... ■

«Ainda não foi criado o cenário para a sucessão do Presidente»

que já coarctamos muitas atitu-des aqui.

SA – As manifestações que têm acontecido em Luanda despertou-vos para a vigilân-cia?

RFPA – Não, vocês é que estão a valorizar demais esta questão. A nossa Constituição permite que os cidadãos se ma-nifestem. Mas há uma regra basilar em democracia: os seus direitos terminam onde come-çam os meus. Você tem o direito de dizer o que sente e não o de me ofender. As pessoas podem manifestar-se livremente, aliás têm-no feito. Até já sei que há quem esteja a pagar para as pes-soas se manifestarem. Mas isso vocês não relevam, porque não vos interessa.

SA – Tem conhecimento da manifestação que houve recen-temente em Luanda contra dois activistas cívico-políticos, nome-adamente Luaty Beirão (Mata Frakuzx) e David Mendes….

RFPA – Ah, já são activis-tas políticos? Puxa! Vocês são rápidos a criar adjectivos para as pessoas. Estão ao serviço de quem? Os activistas políticos têm sempre objectivos políticos.

SA – Uma coisa é ser político outra é ser político partidário.

RFPA –Ah, está bem. Pro-cure você próprio a diferença. Força! (risos)

SA – Acredita mesmo que as manifestações que acontece-ram foram pagas?

RFPA – É fácil fazer uma manifestação quando se paga quem está carente. Sempre pensei que estas manifestações eram espontâneas. Pelo menos alguns tiveram a coragem de trazer isso a público.

SA – Mas acredita que houve remuneração?

RFPA – Ah, eu não sei! Não fui eu que me manifestei à fren-te das casas daqueles que pro-meteram pagar. Eu não estava lá. Pode crer que não estava lá. Sou acusado de estar em muitos sítios, mas nesta manifestação eu não estava lá de certeza. Fe-lizmente ninguém apareceu a dizer que aqueles jovens tinham sido mandados pelo MPLA. Graças a Deus houve aqui um milagre. Porque pensei que quem se tinha ido lá manifes-tar, a reclamara dinheiro, tinha sido mandados pelo MPLA. Ninguém falou de nós. Não se apercebeu?! Estranhei que não tivessem falado de nós. Afinal era só uma maka entre eles. Nós fazemos democracia séria e não entramos em jogos baixos e su-jos, sem qualidade. Fazemos de-mocracia séria. ■

16 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 17

SA – Atendendo à saga dos Pinto de An-drade no MPLA, você neste momento é o Pinto de Andrade mais bem sucedido no partido no poder.

RFPA– Isto não tem a ver com o nome. Tem a ver com a militância.

SA – Mas a família Pinto de Andrade tem tradição no MPLA?

RFPA –É uma das famílias que esteve na fundação do MPLA. Já tivemos um familiar que foi presidente do partido, outro que foi presidente honorário. Mas não ocupo esta função por ser Pinto de Andrade. A vida é assim mesmo. Os meus camaradas reconhe-ceram em mim qualidades como militante, com uma trajectória de quase 40 anos. Mas estou a dar o melhor que posso e sei. E estou onde estou por ser um militante com alguma capacidade de intervenção pública. A minha família tem outras qualidades que não tenho.

SA – Recorrendo a Historia, podemos falar da ascensão e queda dos Pinto de Andrade no MPLA?

RFPA – Sem problemas nenhuns. Não

temos que ter tabus em relação a nada. No MPLA, as pessoas ascendem e descem a cada etapa e em função do seu empenho individual e posicionamento. Não sou o único Pinto de Andrade no Comité Central do MPLA. Tenho outros parentes neste órgão, outros no Parla-mento.

SA – Sente-se um bom escuteiro ao ser-viço do MPLA?

RFPA -Não misturo as águas. Os meus irmãos escutas consideraram-me um bom dirigente. Por isso mantiveram-me como seu líder durante 20 anos. Quando estou fardado como escuteiro, sou escuteiro. Es-tou na base do surgimento do escutismo em Angola e tenho orgulho nisso. Faço parte da Direcção do MPLA. Sou militante do MPLA desde o dia 4 de Fevereiro de 1975 e nunca tive apetência para o exercício de cargos de Direcção. Na JMPLA, onde poderia ter as-cendido rapidamente, sempre optei por es-tar nas organizações de base. Sirvo o MPLA em qualquer circunstância. E também sou professor e, como tal, dou o melhor que pos-so fazer. ■

Rui Falcão é o que melhor está posicionado no MPLA no momento

A ascensão e queda dos Pinto de Andrade R

ui Falcão Pinto de An-dradenasceu,orgulhosa-mente,comodiz,emMo-çamedes (hoje Namibe),

nodia2deDezembrode1960.AderiuaoMPLAem1975,tendo

oengenheiroJoséEduardodosSan-tos, actual líder do partido, comoseuídolo.

Licenciado em Psicologia, RuiFalcão é professor universitário,funçãoquedividecomasuaocupa-çãonoMPLA,noqualtemocargodesecretárioparaaInformaçãodoseuBureauPolítico,comoquemdiz,éoporta-vozdopartido.

Sobreasuainfânciaeadolescên-cia,dizoseguinte:«Omeupaiporrazões políticas foi desterrado. Fe-lizmentenãoopuseramno campode São Nicolau, mas o colocaramtemporariamente com residênciafixanoNamibeeporesse factoeunasci lá. Sou o único que nasci lá,a minha família é basicamente doKwanza Norte, do Gulungo Alto,propriamentedito,edeLuanda.Eunasci lá longe noNamibe. Fiz lá omeuensinoprimárioesecundário,naescolaPortugalN.º55edepoisnaescola Barão de Moçamedes. Vimpara Luanda e estudei na escolaÓscarRibas,fuiparaoLiceuPauloDiasdeNovaisquedepoissetrans-formou emNgolaKiluage, já lá eunão estava.Depois fiz o cursomé-diodeeducaçãofísica,emaistardelicenciei-me emPsicologia e por aívamos».

TemcomoequipadeeleiçãooPe-trodeLuanda.Oaeromodelismoéoseupassatempofavorito.Gostadesemba e «rega» o funge de sábadocom Coca-cola, por não gostar dosabordoálcool.Casado,temumfi-lhojátrintão.■

Bilhete de Identidade

É uma das famílias que esteve na fun-dação do MPLA. Já tivemos um familiar que foi presidente do partido, outro que foi presidente honorário. Mas não ocupo esta função por ser Pinto de Andrade. A vida é as-sim mesmo. Os meus camaradas reconhe-ceram em mim quali-dades como militante, com uma trajectória de quase 40 anos

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Pode ser que, «de tantoapanhar», saiu à luta.Ou que tenha abertoumnovocamponasua

estratégia de luta política rumoàs próximas eleições. Ou aindaque,atentaaossinaisdostempose aproveitando o remoinho queatravessa o planeta de lés a léscom a «coisa» das redes sociais,decidiu criar um verdadeiro –essesim–factopolítico.Sejapeloque for, ao conceder uma entre-vistadeoitohoras(cincohorasnodomingoetrêsnasegunda-feira)directamente a centenas, senãomilhares, de jovens na diásporaenãosó,AlcidesSakala,oporta-voz UNITA, terá protagonizadoempolíticaoque em jornalismochamar-se-ia um «furo». Uma«cacha».Umexclusivo.Enfim.

Aentrevista–quejáentraparaa História da Comunicação So-cial angolana como a primeirado género – foi organizada poruma jovem angolana residentena Holanda, chamada VanessaMayomona.NaturaldoZaire,ter-se-ámudado para a diáspora nacompanhiada família. Inspiradacertamente pelo que viu BarackObama e Lula da Silva fazerem,lembrou-se de convidar AlcidesSakalaparaoqueelaprópriacha-mou«umagrandemesaredondavirtual».

Mesa redonda que foi um es-trondoso sucesso. Jovens dos 18aos80anosficaramhorasehorasliteralmente colados aos compu-tadores,seguindoumainteracçãoa todos os títulos interessantís-sima. Pela primeira vez, depoisdas eleições de 2008, a UNITA,pelavozdeAlcidesSakala, faloudo seuprojectodeNação.ComopensaaAngolado futuro.Abor-dou sem tergiversar assuntos atéagora tabus, como as purgas naJamba. Também não titubeouquando foi chamado a dizer dasuaverdadeemrelaçãoàpolémi-caquestãodeCabinda.Ede«es-quebra» – vá-se lá saber porquê–separaJoséEduardodosSantosdoMPLAefazdeleoalvoprinci-paldasuacríticapolítica,aodizerqueoproblemanãoémaisentreoMPLAeaUNITA(?!),massimentre o Chefe do Executivo e oPovoAngolano.Porumdiscursoquelembraopendorprogramáti-

codeAbelChivukuvuku–etal-vezporissomesmo–ohumildeediscretoAlcidesSakaladerepentesevênagrelhadospossíveissubs-titutosdeIsaíasSamakuva.

Devidoaoaltograudeinteressedequeestaentrevistasereveste,oSAretoma-acomadevidavéniaeagradecimentosàVanessaMayo-monaeàMilaMalavoloneke,quenos forneceram as partes mais«suculentas»nelaconstantes.Fa-zemos ligeiros toquesparacorri-girasgralhasnaturaisnessetipodeentrevista,emqueostextossãodigitadosnahora.Vamos,poisà

ErmelindaFreitas-Dr.AlcidesSakala,oquepensadestedescon-trolo do governo, a começar nacorrupção,naPolíciaseminstru-çãonenhuma,nemeducação,nosfuncionários públicos que nãotem educação para falar com opovo...emuitomais?

Alcides Sakala - Como disseontem,estapostura,quenãoéde-liberada,dependedanaturezadopróprio regime, profundamenteinsensível aos problemas sociaisdascamadasmaisdesfavorecidasdo nosso país. Existe, de facto,uma relação difícil, do ponto devista ético, no quadro das rela-ções humanas, entre governadose governantes. Em vez de servi-rem o povo, muitos governantes

servem-se a si próprios, têm, defacto,Angolanosbolsosenãono«coração». Esta insensibilidadeno tratamento com a populaçãoem geral, verifica-se no dia-a-dia, particularmente em locaisde atendimento público, comonoshospitais,ondecidadãossemrecursoficam submetidos a situ-ações humilhantes, como acon-teceuhátemposatráscomocasoMingota,paracitarapenaseste.

Nelito Yambi - Dr., acusaçãofeitaaoexecutivodaUNITA,so-breunsfundos,éverídica?Éque,por sinal, esta acusação foi feitaporalguémqueestevedentrodopartido.Queselheoferecedizeraestaquestão?

AlcidesSakala-Nãotemfun-damento. A UNITA continua agerirosseusparcosrecursoscommuitorigor,sempreescassospararesponder aos desafios que en-frentanoseudia-a-dia.AUNITAcontinuaabertaaqualqueraudi-toriacredívelparaauditarassuascontas, como também tem apre-sentadoregularmenteosseusre-latórios financeiros àAssembleiaNacional,aoComitéPermanentee à Comissão Política. Se assimnão fosse, teríamos muitas difi-culdades.

ArturKalupePaulo-DrSaka-la, caso a UNITA ganhe as elei-

ções de 2012, tem este partidoquadros suficientes para formaroGoverno?Gratopelainiciativaeoportunidadequemefoidadaemparticipar.

AlcidesSakala-Paraalémdosseusprópriosquadrosespalhadospelopaís,aUNITAvaitrabalharcomtodososangolanosjáinseri-dos nas estruturas e instituiçõesdo Estado, assim como contarcomosangolanosnoexterior,quequiseremdara suacontribuição.Faremosocontráriodapráticadoactual Executivo de se trabalharapenas com quadros do partidoactualmentenopoder, excluindooutros que não sejammilitantesdessa formação política. Vamoster de evoluir para a profissio-nalização das carreiras públicas,integrando todos os angolanosno sistema de emprego, particu-larmente público, independentedacorpartidáriadecadaum.To-dos juntos faremos melhor pararesponder aos desafios da gover-nação.

AugustoMaquemboC.Gunza-Dr.Alcides,boanoite!AUNI-TA, volta e meia, afirma que háfalta de transparência na gestãodo país por parte do Executivo!Quais são os sinais de transpa-rência que imprimem carácterà UNITA e, ao mesmo tempo,

visíveisparaosangolanosecon-vincentes,paraopovopensarqueumgovernodaUNITAseriadife-renteaodoMPLA?Ouopovoiriaapenaspela fé, acreditar semvernada,nummundocadavezmaisprático?

Alcides Sakala - Terá de seforçar a política de auditorias àscontaspúblicas,porexemplo,porórgãos competentes, credíveis eapartidários.Haveráanecessida-dedesereforçaropapelfiscaliza-dordaAssembleiaNacional,sus-pensoatéaomomentoporordemdo seu Presidente (Paulo Kasso-ma), o que mereceu vários pro-testos, não só da sociedade civil,como também dos partidos po-líticos.Umdos papéis essenciaisdeumdeputado é afiscalização,suspensaporordemdaDirecçãodaAssembleiaNacional.

NelitoYambi -Alguns histo-riadoresalegamqueoDr.Savim-bi criou aUNITAdepois da suatentativadeassumirapresidênciadoGRAE.Seráverdade?

Alcides Sakala - Não corres-ponde à verdade. ODr. Savimbiera, nessa altura, Secretário dosNegóciosEstrangeirosdoGRAE,quando deixou a organização,discordando com os seus méto-dos de luta. Defendia na altura,ecomoo fezatéa suamorteemcombate,queaDirecçãodosMo-vimentosdeLibertaçãoNacionalnãodeviamficarconfortavelmen-te instaladasnoestrangeiro,massim no interior do país, lutandoladoaladocomopovo.

MilaMalavoloneke - Boa noi-te Dr.Sakala. Primeiramente,saúdo-lhe por ter aceitado esteconvitecomprontidão.Aminhaprimeiraperguntatemavercomum artigo que li há dias do Dr.Celso Malavoloneke, jornalistadoSemanárioAngolense,queci-tavaalgodito aquinoFacebook.Tinha a ver com o facto de emAngolanãohaverumpartidodeoposição,oquetemresultadoemjovens como o brigadeiro MataFrakuzx, dentre outros (frustra-dos), a agir como se fossem elesaoposição.ODr.CelsodissequeemumadasentrevistasdoPresi-dente do partido, Sr. Samakuva,ele afirmava que pretendem ter-minarcomamaiorpartedospro-blemas sociais que nos cercam,

Alcides Sakala em entrevista directa a centenas de jovens no Facebook

O problema já não é entre a UNITA e o MPLAmas entre o Presidente e o Povo de Angola

18 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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masnãodiziacomo.Dr.Sakala,oquetemaargumentar sobre isso? Quais são os planosqueoseupartidotemparaterminarcomapo-breza,faltadeenergiaeléctricaesaneamentobásiconamaiorpartedapopulação?Eoqueo senhor temadizer sobreapergunta:Cadêaoposição?

Alcides Sakala -Não sei qual éo conceitoque oDr. CelsoMalavoloneke tem de parti-dodaoposição.Sejacomofor,osverdadeirospartidostêmestratégiasprópriasparaatingirobjectivos políticos, sendo, para aUNITA, avitória nas próximas eleições. Fazer lembrarque aUNITA é uma força política compre-sençanacional,nasaldeias,comunas,municí-pioseemtodasascapitaisprovinciais.Ocupaespaçoetempresençanessaslocalidadescomsímboloseestruturas,queo sistemaprocuradestruir,nessadisputadeespaçopolítico.Te-mos uma plataforma eleitoral que será apre-sentadaquandoforoportuno,quedáavisãodaUNITA,enquantopartidoalternativo.Ini-ciamosemFevereirodesteano,nalocalidadedoBailundo,novas formasde luta consagra-dasconstitucionalmente,comoaprotagoniza-dapeloDeputadoNuma,quebrandoapartirdaíomedonoseiodemilharesdejovensquese têmmanifestado emLuanda.OproblemahojejánãoentreaUNITAeoMPLA,comofoinopassado,masentreoChefedoExecutivoeoPovodeAngola.

RafaelMarquesMorais -Caro Sakala, emfunçãodasuaresposta,tenhomaisduasques-tõesacolocar.Paraquandoumesclarecimentofinalsobreascircunstânciasoueventuaisfor-masdejustiçaaplicadasnasmortesdeOrnelasSangumba,Chindondo,TitoChingunji...

Alcides Sakala - Grato pela sua questão.Levantaumaquestão,recorrente,eeminente-mente política, fruto de convulsões internas,com profundos contornos ideológicos queocorreramnumcontextodeguerra.Temoséalamentarasmorteseasferidasqueseabri-ramcomaformadejustiçaaplicadanaépoca.Precisar-se-ádemuitotempoparasararasfe-ridasabertascomestedramahumano.Éumaquestãoqueaprópriahistóriaseencarregaráde julgarumdia.Alguns livrosvão sendo jápublicados e que levantam o véu sobre estastristesocorrências.

AnaSilva–Ontem,quandolhefoiquestio-nadosobreseerapossívelaentradadeumnãoOvimbundunaliderançadaUNITA,afirmouserpossíveledeixoualgonoar:«algunspar-tidosnãoofariam».Aquepartidoseestavaareferir?

AlcidesSakala–Ana,gratopelasuarefle-xão,quemefaz lembrara formacomooDr.Marcolino Moco, então primeiro-ministro,foi tratado pelo movimento espontâneo doPartido-Estado.Sãoquestõesimportantes,co-muns em África, infelizmente, que devemosultrapassar.

Erika,aPoderosa-Agradeçoaoportunida-deecomeçoporcumprimentaroDr.AlcidesSakala pela grande oportunidade. A minhaquestão é esta: as eleições estão a caminho eeujánãovejoporquerazãovotarianoMPLA,mastambémnãomerevejoemnenhumparti-donaoposição.EntãoperguntoaoDr.Sakala:emquepartidomeaconselhaavotareporque?Obrigada.

Alcides Sakala - Naturalmente, no nossopartido, enquanto força política para a mu-dança.Aconselho-aa leronossoprojectodesociedade,nabasedoqualvamosgovernaronossopaís.■

Entrevista organizada por Vanessa Mayomona. Compilação de Celso Malavoloneke

Renata Massoxi - Boa-noiteDr.Sakala.GostariadesaberporqueéqueaUNITAper-manece um partido muito

fechadodopovo?Exemplo:sóreclamaquandoummilitanteseuéinjustiçado.Quandoéquevãoporexemploreali-zarumamanifestaçãocontraafaltadeágua e luz que a todosnós afecta, emvez de só se preocuparem convoscomesmo?Obrigada.

AlcidesSakala-Nãosomosumpar-tido fechado.Somosumpartidoaber-to à sociedade.Temosumprojectodesociedadequedefendeprofundasmu-danças sociais paraAngola, emqueoproblemadafaltadeáguaedeenergia,por exemplo, são prioridades. Somos,assim,umpartidoabertoà sociedade,quedurantemuitotempofoivítimadadiabolização do Partido-Estado. As-sim,asmanifestaçõessãoimportantes,porque constitucionalmente consagra-das, como as de este ano que ocorre-ramemFevereironoBailundoemqueparticipou com uma greve de fome oDeputado Numa, em sinal de protes-toàsviolaçõesaosDireitosHumanos.Logo, todas as manifestações para sereivindicar direitos são bem-vindas,que aUNITA encoraja,mas a grandemanifestação terá de ser a adesão dosmilhõesnoactodavotaçãoparaamu-dança.

DélcioBettencourtMateus-Dr.Al-cides Sakala, no primeiro round, res-pondendoaumaperguntadaVanessasobre a sua posição ou a posição daUNITA em relação às recentesmani-festações,disse:encorajamososjovensamanifestarem-se pelos seus direitos,parafazeremouvirasuavoz.Entretan-to,umdiaantesdamanifestaçãodo7deMarço,oPresidentedaUnita,IsaíasSamakuva,referindo-seàmesma,disseemPortugal:

«...é estamanifestaçãoque,nanos-samaneiradever,éumaarmadilhaouumtestequeoregimeestáarealizar».E dissemais: «Portanto, quando digoque não acredito que se irá realizaressamanifestação, não é só porque asuaconvocatórianãoestárepresentadapor ninguém,mas também porque oregimenãoestápreparadoparadeixarestetipodecoisasacontecer.Oregimenão está suficientemente democrati-zado para permitir tais actividades».Todavia a manifestação aconteceu, adespeitodaincredibilidadeedesenco-rajamentodeSamakuva.Qualaposi-çãodaUNITA,afinal?

AlcidesSakala-Nuncahouvedesen-corajamento porque as manifestaçõesestãoconstitucionalmenteconsagradas.Oquetemosdefendidoéquemanifes-taçõesqueserealizamtenhamumrostopara seremcredíveis, e comobjectivosbemdefinidos.Nãofoiocasodamani-festaçãode7deMarço,contrariamenteàsoutrasqueseseguiram,jácompro-pósitoseobjectivosclaros.Ironicamen-te, foinestaaltura, àvoltadodia7deMarço, como bem se lembrará, que oregimelançouumafortecampanhadediabolizaçãocontraaUNITA,acusan-do-a de ter encomendado armas, quese encontravam detidas no porto doLobito,numbarcoqueastransportavaparaoQuénia.Muitosangolanosnessaalturaquiseramdeixaropaís,pensan-doqueaguerra irianovamentecome-çar.Assim,quesefaçammanifestações,masquetenhamrosto.

Fernando Tomás - Boa noite, Dr.AlcidesSakala.Oquemetrazporcá,alémdesi(umcavalheiro,eeusoudoAndulo, por isso sei porque o digo),é saberse,alémdanotadeprotestoanível institucional,daUNITA(aqualrepresenta) acercadaperseguição, es-pancamento e tentativa de invasãoao domicílio perpetuado por pesso-asmanobradas por afectos ao regime(MPLA)aojovemmúsicoLuatyBeirãoe aos organizadores da manifestaçãododia25(diadeÁfrica),houvedasuaparteoudaUNITAumempenhamen-to a nível pessoal, do tipo visitar osagredidos, deixar-se fotografar comeles, e assimmostrar que ao tocaremneles,tocavamemvocêsenaUNITA?Ouporúltimo,perguntoeu:aUNITApreferiu não sacrificar a sua imagem

departidodeEstado em sacrifíciodeummaior envolvimentonaprotecçãodesses jovens?DapartedoBlocoDe-mocrático,houveesseempenhamentoedaUNITAqual foialémdo institu-cional?

AlcidesSakala-CaroFernandoTo-más,temostidoocuidadodegeriresteprocesso comsentidodehistória;porisso, insistimos no encorajamento deserealizaremmanifestações,mascomrosto. De facto, hoje o problema foideslocado.JánãoéentreaUNITAeoMPLA,comofoinopassado,masentreoChefedoExecutivoeasociedadeglo-bal,queclamapormudanças.

JoséVieira‎-BoanoiteDr.Alcidese todos os presentes! A questão quelhecolocotemavercomadiaboliza-çãoqueogovernoutilizouparacoma UNITA, acusando-a de querer darinícioaumanovaguerra.Comoissonão«colou»nainteligênciadosango-lanos, não émotivomais do que su-ficienteparaaUNITAagora fazer-serepresentarporalgunsdos seusdiri-gentesedeputadosnasmanifestaçõesdeíndolecivil,dandoacaraemapoioacausasqueatodosdizemrespeito?ÉqueseficacomaimpressãodequenaUNITAoúnicoquedáacaraéoGe-neralNumaemaisninguémaparecenacontestaçãoaoregime!

AlcidesSakala-FoidefactoaUNI-TA que iniciou na Bailundo com asmanifestaçõesquesealastraramparao resto do país. Vamos dar, assim,tempo ao tempo. O é importante équeasmanifestaçõesqueserealizamtenhamrostoecomobjectivosclaros,comofoiestaúltimarealizada«contraapobreza».■

As manifestações são bem-vindas……Mas, a grande manifestação terá de ser a adesão no acto da votação

para a mudança… e foi a UNITA quem iniciou as manifestações!

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Stella Constantina - BoanoiteDr.AlcidesSakala.Aaminhaprimeiraper-guntaéa seguinte: ten-

doemcontaque4anosdeman-datoémuitopoucotempoparaseresolver todos os problemas queassolamonossopaís, se aUnitavencer as eleições de 2012, quaisserãoassuastrêsprioridades?

Alcides Sakala - Boa questãoStella. O partido irá, natural-mente, aprofundar esta matéria,mas podemos eleger, como pri-meira tentativa de abordagem, aárea social como um dos pilaresmaisimportantesdagovernação.Seguir-se-iaoprocessodedemo-cratização,comvistaaoseuapro-fundamento, na perspectiva daseparação de poderes, realçandoa reconciliação nacional, a rein-serçãosocialdosex-militaresedesuasfamílias.Poroutraspalavras,aconstruçãodaNaçãoangolana,inclusiva, multiétnica, multirra-cial e multicultural. Por último,elegeranecessidadedesecriaremfortesinstituiçõesdoEstado,ins-tituiçõesdespartidarizadas.Maisdo que homens fortes, Angola eaÁfricaprecisamde instituições

fortesparasecriaraestabilidade.Osgovernospassam,masosEsta-dosficam.

MilaMalavoloneque-Dr.Alci-des,maisumavezboanoite.Talcomo a maior parte dos jovensaquipresentes, soudeumagera-çãoquenãoviveudirectamenteahistóriada guerra civil nonossopaís. A guerra cessou há quaseumadécada e ainda assimami-

nha geração pouco sabe sobrea verdadeira história por detrásdela.Porisso,somosmuitasvezesobrigados a recorrer aos arqui-vosda «imprensa internacional».Será queoDr. podedizer quan-doteremoslivrosoficiaisarelataro assunto? Será que, tal como ahistória do apartheid que hoje édiscutidaabertamenteemescolassul-africanas a história da guer-

ra civil emAngola também seráabordada nas nossas escolas dopontodevistadosprincipaispar-tidosenvolvidos?OqueaUNITAtemfeitoacercadisso?

Alcides Sakala - Mila, gratopela sua pergunta. Penso queos sul-africanos foram aben-çoados por teremnesta fase dasua transição Nelson Mandela,um líder visionário e patrio-

ta, que foi capaz de imprimirprofundas mudanças com vis-ta à reconciliação nacional en-tre negros, brancos emestiços.Mudou os símbolos e criou anação «Rainbow» (Arco-Íris).OnossoproblemaemAngolaéqueaindaseolhaparaumcer-tosegmentodasociedadecomoinimigos e não como cidadãos.Enquanto as elites dominantesnão foremcapazesdeultrapas-sarestedilema,teremosonossopaísacaminharparaaconsoli-daçãodeumsistemapermanen-te de subversão dos valores dademocracia.Assimsepoderen-tenderemrelaçãoaos símbolosnacionais; a história que aindaseensinanasescolas,quesófalade Ngangula e não dos outros;sófaladeAgostinhoNeto,enãodeJonasSavimbieHoldemRo-berto.Enquantonãoseinterio-rizar anecessidadedeuma co-nivênciasã,continuaremosaterlivrosoficiaisapenascomahis-tóriadopartidonopoder,aserensinadanasescolas, incluindoohinonacional,queevocaape-nasosheróisde4deFevereiro.Eosoutros,ondeficam?

Só se fala de Agostinho Neto e não de Savimbi e H. Roberto

OlindaFlordoBíe-Agradeçoaoportunidadequejámefoidadaporqueesperavahásécu-losporessemomento.AminhaquestãoaoDr.Sakalaéademuitosangolanos,eéase-

guinte:acreditoqueaUNITAéumpartidoqueacredi-taqueparaganhartemdeteropovoaoseulado,eparateropovoaoseuladodevedaraopovo,sobretudoàjuventude,aquiloqueelaquer.Eoqueopovo,sobretu-doajuventude,queréveroChivukuvukunaliderançadaUNITAenãoosenhorSamakuva.Sabendodisso,aUNITAdaráaopovoaquiloqueopovoquerouemvezdissopreferiráagradarasimesmacomosenhorSamakuva?Obrigada!

AlcidesSakala-Gratopelasuaquestão.OsestatutosdaUNITAsãoclaroseelaadoptouem2003osistemadecandidaturasmúltiplas.Todososquequiseremcon-correrterãoasmesmasoportunidades,comoaconte-ceunosúltimoscongressos.Logo,comoentenderá,aúltima vontade cabe aosmilitantes do partido, dele-gadosaoCongresso,sendo,noentanto,legítimaasua

preocupação.PedroPinto-Saudaçõesa todos.Dr.Sakala,espe-

roquemerespondaestaperguntacomocidadãoenãocomomilitante.Atendendoqueopróximoano tere-moseleiçõesnonossopaís,seoDr.tivesseopoderdedecidirsobrequemseriaofuturopresidentedeAngola,aquemosenhoratribuiriaestecargo?QuemoDr.achaquetemperfil idealeestáemmelhorescondiçõesdedirigironossopaís?

Alcides Sakala -Meu caroPedroPinto, posso lheresponder,semepermitir,semferirsusceptibilidades,dizendoquenãoexistirácertamenteumapessoaideal.Masnaconjunturaactual,Angola temanecessidadedeserdirigidaporumafiguraquesesitueacimadospartidospolíticos,comcapacidadedereconciliaraso-ciedadeangolana,trabalharparaumarealdemocrati-zaçãodopaís,semapetênciadelongevidadenopoder,visionário,capazdeimplementarpolíticasdedesenvol-vimentoedeestabilizaçãosocial.Alguémqueinspireconfiançapeloseuexemplo.

«Esquindiva» na questão Chivukuvuku

Todos os que quiserem concorrer terão as mesmas oportunidades

20 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Sábado, 18 de Junho de 2011. 21

CedellaChilombo-BoanoiteDr. Sakala.Aminha ques-tãoéaquesesegue.Qualasua opinião em relação ao

presidenteJoséEduardodosSantoseoqueachadoseuestilodegoverna-ção?

Alcides Sakala – Chilombo, gratopelasuapergunta.Podiaterfeitome-lhornesteperíododopós-guerra,masnãoconseguiusituar-seacimadoseuprópriopartidoeapresentar-secomoPresidente de todos os angolanos. AnovaConstituiçãoéreflexodestasuavontadepolítica.Temumestilopró-priodegovernaçãoquelhecaracteri-za.Contudo,obalançoda sua longagovernaçãoestámuitoaquémdode-sejável em matéria de respeito pelosdireitos humanos e boa governação.Angola continua a ser citada em re-latórios internacionais comoumdospaísesmaiscorruptosdomundo,quese confronta com sérios problemassociais, subalternizando os desafiosde desenvolvimento humano. Nãotemsidocapazdecombaterapobre-za,partindodopressupostodequeapobreza é um problema herdado docolonialismo, tal como se pronun-ciou muito recentemente. Logo, aspolíticasdoactualExecutivoestãonaorigemdo aprofundamento do fossoentrericosepobres,quesãoamaio-ria. Ao ritmo da actual governação,Angola não será capaz de responderpositivamenteaosdesafiosdaAgendadoMiléniodasNaçõesUnidas.■

Sobre José Eduardo

dos SantosPodia ter feito melhor neste período do pós-

guerra, mas não conseguiu situar-se acima do seu

próprio partido e apresen-tar-se como Presidente

de todos os Angolanos

CorreiaSassonde-BoanoiteSr.Dr.Al-cidesSakala.Referiu-seànecessidadede uma CNE independente, sendofundamental para a justiça eleitoral

e processo de aprofundamentodademocracia.ConsideraaactualCNEdependente?Dequem?Qual é o papel dos comissários daUNITAnaactualCNE?

AlcidesSakala-CaroSassonde,naturalmen-te,doExecutivo.Amaioriadosmembrosdesteórgão édopartidonopoder e vimos em2008qual foiopapelqueelaexerceu.Ficoupratica-mentesubordinadaaopoderexecutivo.Háquesealterarestequadropolitico-jurídico,econfor-má-loànovaConstituição,paraquesejadefactoumórgãoindependente,comcapacidadedeto-mardecisõespolíticaseadministravas.

Correia Sassonde - Sr. Alcides Sakala, queperspectivatemsobrea intervençãodaComis-sãoNacionalEleitoral(CNE),nopróximopleitoeleitoralde2012?

AlcidesSakala-Estaquestãoémuitoimpor-tante.É fundamentalparaa justiça eleitoral eprocessodeaprofundamentodademocracia.Sóumacomissãonacionaleleitoral independentegarante um processo equidistante e transpa-rentedeorganizaçãoadministrativaepolíticadoprocessoedosactoseleitorais.Doravanteaseleições serão regulares, mesmo sem eleiçõespresidenciais directas, anuladas por vontadedoChefedoExecutivo.Teremoseleiçõeslegis-lativas e autárquicas, numa base regular. Poroutrolado,tambémexistemasrecomendaçõesdamissãodeobservaçãodaUniãoEuropeiaàseleiçõesde 2008, quedevem ser incorporadasno pacote legislativo eleitoral que vai agora àdiscussãonaAssembleiaNacional.■

A CNE é dominada pelo MPLA

BartolomeuCapita -Dr. Sakala,o MPLA já mostrou que en-quanto Angola manter o seupodercolonialsobreCabinda,a

democraciaeodesenvolvimento integralemAngolaenosdoisCongosjamaisserãorealidades.Porém,aUNITAdefendeparaCabindaumaautonomiacomoadosAço-rescomPortugal.PossosaberseUNITAiriacombateroscabindascasoessesrejei-temaoferta(autonomia)daUNITA?

AlcidesSakala–Nuncafaríamosisso.Temos um sentido profundo da histó-riaeCabindatemparticularidades.Te-mos, assim, sido consequentes com asposições que temos assumido ao longodos anos emrelaçãoàCabinda.Defen-demos, em primeiro lugar, o fim dashostilidades, para se dar a seguir lugara negociações directas entre represen-

tantesdoPovodeCabindaedoGover-noangolano.DefendemosparaCabindaumaautonomiaampla.Afinal,Cabindanão é só o petróleo; é um espaço ondeexisteumapopulaçãoquepugnapelali-berdadeejustiçasocial.Porconseguin-te,enquantoCabindaestiveremguerra,Angolanãoestáempaz.

BartolomeuCapita -Dr. Sakala, sabe-moshojeque antesde ser assassinado,oPresidente Marien Ngouabi do Congo-Brazzaville, foi vítima de fortes pressõesexercidas por potências europeias quequeriamqueoCongoanexasseCabinda.AminhaquestãoédesaberseaUNITAnuncaconheceupressõesnosentidodeja-maispermitiradesvinculaçãodeCabin-da, caso ganhe as eleições; e, se existem,pergunto se aUNITAnãopensadenun-ciá-lasàAdministraçãoObama?

AlcidesSakala-SempreconsiderámosCabinda como sendo parte do territó-rio angolano, que tem especificidadespróprias decorrentes da sua história elocalização geográfica. Infelizmente, ocontinente africano herdou fronteirasimpostas pelas potenciais coloniais, oquemdificultadoa construçãodos esta-dosenaçõesafricanas.Porisso,defende-mos para Cabinda uma autonomia am-plaquepermitaàspopulaçõesdaregiãousufruíremdassuasriquezas.Defacto,éconhecidoportodososapetitesdosEsta-dosvizinhosemrelaçãoàCabinda.Mas,Cabinda éparte integrantedo territórioangolano.Énestecontextoquetemdeseraproximadooproblema.Logo,qualquerpressãoqueeventualmentevenhaaexis-tir,seráumatentadoànossasoberaniaeindependêncianacional.■

Cabinda é Angola! «Defendemos, em primeiro lugar, o fim das hostilidades, para se dar lugar a seguir

a negociações directas entre representantes do povo de Cabinda e do Governo angolano»

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opinião

Para os aficionados angolanos daInternet, a grande história dasemanafoiaentrevistadajovemacadémica Vanessa Mayomona

comoSecretáriodosNegóciosEstrangei-rosdaUnita,AlcidesSakala.Há,nistotudo,umaoutraestrelaangolanaquesurgiu:oAlFelix,queéumangolanoquevivenoBrasilhámuitosanos.Elefazcomentáriosemví-deoquesãopublicadosnoFacebook.

Naúltima semana,depoisdeváriosví-deos,oAlFélixfoiseveramentecriticado,não pelo conteúdo das suas intervenções,maspelo seu sotaque.Muita gentenão sesentia confortável pelo facto deste ango-lano terumsotaqueabrasileirado.Muitosacusaram-lhedepretenderserumdaquelespastoresangolanosque,aointegraremumaseitacomorigembrasileira,mudamlogooseusotaque.OAlFélixpassouadefenderoseusotaquedizendoquevivenoBrasilhádezasseisanos.Oscríticosnãoestãonadaconvencidos; para eles, o angolano queadopta um sotaque brasileiro é quase umfalsificador.

SeráqueoAlFélixseriaassimtãocri-ticado se tivesse um sotaque português?Achoquenão. Isto éporque,paramuitosangolanos,osotaqueportuguêséalgoqueseadquirecomesforço–eumacerta for-mação. A um certo nível, o domínio daLíngua Portuguesa, incluindo uma pro-núnciaaltamenterequintadaerefinada,re-presenta,paracertosangolanos,umacertavingançacontraocolono,numalógicadequeseelescolonizaramanossaterra,ago-ravamoscolonizaralínguadeles.Maseste«diálogo»sópodesermesmotravadocomPortugueses.

Háalgunsatrás,haviaumaanedotaquefaziaosmwangolérirembastante.Eraas-sim: um angolano aterra no aeroporto deLisboaemostraoseupassaporteaooficialdaimigração.Ooficialvaiàpáginadafotoevira-separaoangolanodizendo:«Istoébocê?».O angolano abana a cabeça, ri-se,e diz: «Não, é você!». Para certos ango-lanos, descobrir os vários «portugueses»falados emPortugal passa a ser algo commuito significado.Elesdizema siprópriosqueafinaldominamamelhorversão–amaispolida-daLínguaPortuguesa.Eisto,comojádisse,resultadeumesforçoacadé-micotremendo.

Conheci um angolano que, em Lisboa,sempreentravaemmakascomportuguesesporquenãoresistiaacorrigiroseuPortuguês.NaVilaNovadeGaia,noPorto,elechegoumesmoatrocarsocoscomalguém,depoisdeum«acaloradodebate»sobreaLínguaPor-tuguesa.Diz-sequeesteangolanomandavacartasparaaEdithEstrela,umapersonagem

políticaquetambémtinhaumprogramaso-bre a LínguaPortuguesa, para reclamar doestadodeveraslamentávelemqueseencon-trava o Português falado emPortugal. Esteangolanonãopodiacomasexpressõesingle-sas e até angolanas (bwé, fixe, camba, cota,etc.)que,nasuaopinião,estavamadiluirapurezadalínguadeCamões.

Para muitos angolanos, o «sotaque deautoridade» ainda é o sotaque português–ouoqueeles imaginamserumsotaqueportuguês. Diz-se que o famoso sotaquedosjornalistasdarádioetelevisãoangola-nafoialgoinventado,emparte,pelofaleci-doFranciscoSimon.Osangolanosadoramerespeitamestesotaqueportuguês.Muitosangolanosjánãotêmomesmosentimentoem relação ao sotaque brasileiro. Sim, háexpressõesbrasileirasquesãocadavezmaisusadospelosangolanos–«bacana»,«cadê»,«bisneiro», etc, – porém, evita-se adoptarosotaquecompleto.Alguémmedissequequando, em Angola, se vê ummwangolêa falar completamente à brasileira signifi-caquepassoumuitotempoavertelevisãobrasileira.Nãosóaver,masingerindo,semcrítica, tudo que vê e ouve.Os angolanosficamumpouco inquietosquandoouvemumseucompatriotaa falarcomumsota-que brasileiro porque se vê, nisso, o quealguns caracterizam como uma adulaçãomuitoservildaculturabrasileira.

Damesmaformaqueháangolanosqueadoramaculturapopularbrasileira,noto,sobretudo na classe dos intelectuais, umacertareacçãonegativacontraela.Eistoestáamanifestar-semuitoatravésdeumacerta

antipatia contra determinadas seitas reli-giosasbrasileiras.Hácertosangolanos,porexemplo, que não podem com o que elesvêem como uma guerra que certos evan-gelistasestãoatravarcontraocandomblé– algo que liga os afro-brasileiros às suasraízes africanas. Suspeita-se que um dia,angolanos completamente transformadoembrasileiros,comsotaquesemuitomais,virão àÁfrica paradesfazerem, emnomedoCristianismo,certosaspectosdaculturaAfricana. Para esses angolanos, do Brasilnãosaemapenasobsessõescom«bumbunsdourados»; saem, também, valores queameaçamaprópriaidentidadeangolana.

Certosanalistassugeremqueaculturaeaidentidadedaspessoastêmqueservistascomoumicebergue:emcimaestãoasma-nifestaçõesóbviasqueidentificamapessoa–raça,língua,trajos,etc.;eembaixoháosvaloresdaspessoas–comoencaramavida,as teias psicológicas que os ajudam a tersentidodomundo.Oqueestáemcimadoicebergue,muitas vezes, serve como pistaaoqueestádebaixo.

Umangolanoque falacomumsotaqueportuguêsadquiridoatravésdeestudos(tersido,porexemplo, seminarista) terá, tam-bém, de ser exposto a vários aspectos dacultura europeia. Quem domina CamõespassaasaberumpoucosobreaLiteraturaclássicaOcidental.Omesmojánãosepodedizerdoangolanocomumsotaquebrasi-leiro. Estamos aqui, claro, a tratar de ummundodepercepçõesque, emmuitos ca-sos,poucotemavercomarealidade.

Porém, o que ocorre nas mentes das

pessoas é uma realidade. Os críticos dosotaquebrasileirodoAlFélixinsistemqueelefalacomoumpastorangolanodeumaseita brasileira. Para certos angolanos es-sasseitasestãomesmocheiasdecharlatães– indivíduosquedizemaos seus seguido-res para darem dinheiro que, através dassuasorações,serámultiplicado.Osotaquebrasileiropassou,então,paracertosango-lanos,aseridentificadocomumcertoso-fisma.OhumoristaPedroNzagitemumacenacómica,queestanoYoutube,deumpastor desonesto e libidinoso. Claro queestepastorangolanofalacomumsotaquebrasileiroforte.Parecesermaisfácilmentireludibriarosangolanos,usandoumsota-quebrasileiro.

NoYoutube,háumclipeemquemumartista de música rap é entrevistado porumjornalistaangolanoeelerespondeemInglês.Bem,nãonumInglêsnormal,masnum «ghetto talk» - ou calão dos negros.O artista insiste, no seu «street talk» queelenasceuecresceuemAngola.Porém,elerecusavaresponderàsperguntasemPortu-guês, continuandoa falar em«ebonics»–comoétambémconhecidaagíriadosafro-americanos. Os comentários por debaixodestaentrevistasãomesmoiguaisàscríti-casaoAlFélix.Aspessoasnãopodemcomideiadequeestemwangoleseestáapresen-tarcomoumautenticoangolano,masper-sisteemfalarcomoumnegroamericano.Ohomeméinsultadoechamadoportodosostiposdenomes.

Quandosetratadequestõesdeidentida-de, temos uma escolha. Podemos eviden-ciarcertostraçosquerevelamaqueclassepretendemos pertencer. Mas a sociedadetambémcoloca-nosnodevidolugar.

Quando eu vivia na Inglaterra, havia oTrevor MacDonald, um negro vindo deTrinidad,queliaonoticiárioefalavacomsotaque muito requintado. Os cómicosadoravamimitarestenegroqueseexpres-savacomoumbranco.Emprivado,muitagente dizia que havia algo fingido com oTrevorMacDonald.Paracomplicarascoi-sas,sempretivemuitointeressenumoutrojornalista negro da BBC,Wesley Kerr. OdistintivoneleeraquefalavaoInglêscomum sotaque marcadamente das Caraíbas.Soube, depois, que oWesley Kerr não sótinha nascido na Inglaterra, como tinhasidoadoptadoporumafamíliabranca;elesempre teve acesso a instituições de elite,incluindoauniversidadedeCambridge.

Temos aqui, então, um negro que teriatodarazãoemfalarcomoumbranco,masquefaztudoparatersotaquedenegro.Es-tamos,semdúvida,emterritórioscompli-cadíssimosnestamatéria.■

Sotaques e Identidade

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Edição AngolA

PAULO PRADA The Wall Street Journal, do Rio

Por trás da expansão econômica do Brasil há um banco estatal que mantém crédito para as empresas. Agora esse motor de crescimento está colidindo com outra necessida-de: controlar a inflação.O Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social anunciou semana passada um empréstimo de R$ 2,7 bilhões à Eldorado Celulose e Papel, do grupo JBS, com juro abaixo das taxas de mercado.Dois dias depois, o Banco Central aumentou a taxa de juros pela quar-ta vez no ano, para 12,25%, a mais alta de qualquer grande economia.As medidas contrastantes ressaltam o papel de protagonista, cada vez mais controverso, do BNDES. Em-bora o sucesso econômico do Brasil nos últimos anos seja conhecido em todo o mundo, pouco se reconhece o quanto isso se deve a enormes finan-ciamentos públicos. Para ter uma ideia da escala, os empréstimos con-cedidos pelo BNDES ano passado, só no Brasil, são o triplo do montante que o Banco Mundial emprestou para mais de cem países.O problema, dizem os que ques-tionam a sensatez disso, é que, ao alimentar a demanda numa econo-mia já em rápido crescimento, esse crédito todo acaba impulsionando a inflação e deixando o Banco Central sem alternativas que não a de impor juros estratosféricos — que oneram outros tomadores de empréstimos e valorizam a moeda, prejudicando as exportações. O real subiu quase 40% em relação ao dólar em dois anos.“O governo está tentando aquecer e resfriar a economia ao mesmo tempo”, disse Marcos Mendes, eco-nomista que assessora o Senado. “As autoridades monetárias têm poucas opções que não seja manter a rigidez enquanto o governo continua despe-jando dinheiro em veículos como o BNDES.”O debate sobre o papel do BNDES tem ficado mais intenso agora que o Brasil começa a ver alguns dados econômicos menos favoráveis. As

previsões de crescimento para 2011 foram cortadas para a faixa de 3,5% a 4%, cerca de metade do índice do ano passado. A expansão no primei-ro trimestre foi de 4,2% sobre igual período de 2010.Embora o desemprego seja de modestos 6,4% e esteja em declínio, a inflação subiu substancialmente, para uma estimativa de 6,5%, mais de um ponto porcentual acima do ano passado. O mercado imobili-ário está cheio de especuladores, provocando altas de dois dígitos nos preços em algumas cidades e alimentando temores de uma bolha. Alimentos básicos como arroz e fei-jão praticamente dobraram de preço em três anos. “As coisas ficaram me-lhores por um tempo, pois há mais trabalho para todos”, diz Rosângela Oliveira, de 47 anos, ex-operária em São Paulo atualmente afastada por invalidez. “Mas agora as coisas estão tão caras que os ganhos estão desaparecendo.”O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defende a grande oferta

de crédito do banco, dizendo que ele só está preenchendo o vácuo deixa-do pelo setor privado.Por causa do histórico de volati-lidade econômica do Brasil, diz ele, os bancos brasileiros tinham tradicionalmente pouca disposição em apostar no futuro concedendo crédito de longo prazo. “Ou o BNDES financia ou ele não acontece”, afirma.De qualquer modo, o financiamento estatal é para o governo mais que questão de estímulo econômico. Para o governo do Partido dos Tra-balhadores, no poder há mais de oito anos, o crédito estatal é também um meio de atingir metas mais amplas, como a de projetar o crescente pode-rio econômico brasileiro no exterior. O banco quer fomentar grandes empresas brasileiras com ampla abrangência mundial.A ideia, inspirada, em parte, por um estudo de anos atrás e de que Coutinho foi um dos autores, é que o Brasil precisa de multinacionais conhecidas para concorrer com os

países ricos e gigantes emergentes como a China.“O Brasil tem, relativamente a ou-tras economias em desenvolvimen-to, um número pequeno de empre-sas de porte global”, disse Coutinho ao Wall Street Journal. A maioria são “formiguinhas”, disse.Para corrigir isso, o banco finan-cia grandes fusões e aquisições, ajudando as empresas brasileiras que provaram ter competência para abocanhar concorrentes.De 2007 a 2009, o BNDES empres-tou mais de R$ 4,5 bilhões para um frigorífico que antes era de proprie-dade familiar, o JBS SA, para ajudá-lo a adquirir o controle de outras empresas de alimentos, como as americanas Swift & Co. e Pilgrim’s Pride Corp. A isso se somou o financiamento anunciado semana passada para a Eldorado Celulose.Com essas decisões, o banco é “a única instituição no Brasil em que a ideologia do governo é claramente visível”, diz um de seus ex-presidentes, Luiz Carlos Men-

donça de Barros. Lembrando como o regime militar usou o BNDES para promover a industrialização, ele acrescenta: “Na época, como agora, o objetivo era moldar o capitalismo brasileiro.”Os dirigentes do BNDES dizem que é errôneo culpar o crédito do banco pela alta da inflação e dos juros. Pelo contrário, argumentam, a inflação mostra como o crédito dele é necessário. A alta dos preços ao consumidor, dizem os dirigentes do banco, simplesmente prova que o país precisa de mais investimento — para garantir que a oferta futura de bens e serviços atenda à demanda.“A maneira de sustentar crescimen-to é expandir a oferta mais que a demanda”, diz João Carlos Ferraz, recentemente promovido a vice-presidente do BNDES. “Isso nos torna o parceiro mais estratégico e de longo prazo do banco central, porque ajudamos a evitar gargalos inflacionários.”O banco é a força financeira por trás de inúmeros projetos de infraestru-tura e de outros tipos no Brasil. Suas iniciais são exibidas em canteiros de obras que vão de rodovias ama-zônicas ao centro do Rio. O banco já emprestou R$ 5,8 bilhões para empresas controladas pelo homem mais rico do Brasil, o bilionário Eike Batista, para projetos como dois portos.“Não há nenhum recanto da econo-mia em que não tenha se envolvi-do”, diz João Roberto Lopes Pinto, um cientista político que mora no Rio e ajudou a convencer o banco a divulgar mais dados sobre seus empréstimos, que são tantos que até mesmo outras partes do governo às vezes reclamam que não conseguem entendê-los totalmente.O banco mostrou seu valor depois que a crise financeira secou o crédito mundial, em 2008. O banco abriu as torneiras. O resultado para o Brasil foi um 2009 meramente estagnado — e seguido por uma bela recuperação em 2010, graças, em parte, ao papel do Brasil como exportador de commodities à China.Os contribuintes bancam parte

No Brasil, banco estatal parece ir na contra-mão do BC

Luciano Coutinho: ‘Ou o BNDES financia ou [o crédito de longo prazo] não acontece

BLOOMBERG NEWS

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dessa conta. Os brasileiros já pagam o FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, para financiar o banco. Para suplementar isso e o faturamento com a carteira de crédito, o governo injetou R$ 185 bilhões do Tesouro nos cofres do banco nos últimos dois anos.O Tesouro também banca a dife-rença entre os juros que o banco cobra — que podem ser de 6% — e as taxas de até 14% pelas quais o governo capta para o BNDES nos mercados mundiais. Essa diferen-ça custa ao governo cerca de R$ 20 bilhões por ano, de acordo com uma estimativa.O banco foi fundado em 1952, para apoiar grandes projetos necessá-rios para elevar o Brasil ao mundo desenvolvido. Financiou estradas e represas e ajudou a trazer uma fábrica da Volkswagen ao país. O regime militar usou o banco para industrializar o país ainda mais.O governo centrista dos anos 90 alterou seu papel, usando-o para supervisionar a privatização de monopólios estatais como a Vale SA. Mas a partir de 2002 o gover-no esquerdista de Luiz Inácio Lula da Silva, para quem vender ativos públicos era heresia, mudou o pa-pel do banco novamente e passou a usá-lo para reafirmar a parti-cipação do Estado nas principais empresas brasileiras.Quando um grupo de empregados da Vale vendeu suas ações, em 2003, o BNDES exerceu o direito de comprá-las em vez de deixar que investidores privados o fizes-sem. Mais recentemente, o banco apoiou a saída de Roger Agnelli da presidência da Vale. Agnelli resistia à pressão do governo para que a empresa se diversificasse para além da mineração para criar mais empregos.Em troca dos empréstimos, o banco às vezes ganha uma parti-cipação ou assentos no conselho, o que aumenta a influência do go-verno nessas grandes empresas. Coutinho, que está na presidência do BNDES desde 2007, está nos conselhos da Vale e da Petróleo Brasileiro SA, cuja sede fica ao lado do prédio em que trabalha no Rio. O banco tem debêntures conversíveis da JBS que logo lhe propiciarão 31% da empresa.Alguns críticos alegam que

um banco de desenvolvimento deveria fazer menos para titãs empresariais e mais para nutrir pequenas empresas e setores eco-nômicos nascentes, em parte para diversificar a economia brasileira, dependente das commodities. Apenas um quarto dos emprés-timos do BNDES no ano passado foram para empresas com fatura-mento inferior a R$ 60 milhões. Coutinho diz que o banco reserva seus empréstimos mais baratos para empresas em setores “inova-dores”, mas que eles não são tão abundantes quanto ele gostaria.Outros criticam o financiamento de aquisições empresariais no exterior. “Como é que o Brasil se beneficia quando a JBS compra uma empresa americana que vende comida americana a con-sumidores americanos? Isso nem aumenta nossas exportações”, diz Mansueto Almeida, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea.O principal ponto do crédito do BNDES que preocupa alguns é que ele continua a um ritmo bem superior ao de antes da crise, apesar da recuperação da econo-mia brasileira. O banco concedeu R$ 168,4 bilhões ano passado, o maior valor de sua história. “Uma coisa é ter um plano de emergência para um momento de crise mundial, outra é tornar isso a política normal”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC.O governo reduziu seu aporte ao banco a R$ 55 bilhões este ano e quer reduzi-lo mais, embora esse valor também continue bem acima do nível de antes da crise. Coutinho definiu planos para reduzir lentamente o papel do BNDES na economia, diminuindo a porcentagem que financiará de grandes projetos.Realisticamente, esse papel só pode diminuir até um certo ponto, por causa dos grandes projetos de infraestrutura previstos para a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016. Estádios e outras instala-ções terão de ser erguidos. O go-verno também quer modernizar redes de energia, estradas e fer-rovias. Só para a planejada linha férrea que deve ligar São Paulo a Rio, o BNDES deve emprestar R$ 20 bilhões.

DANA MATTIOLIThe Wall Street Journal

Para a diretora-presidente da Xerox Corp., Ursula Burns, o futuro da fa-bricante de impressoras e fotocopia-doras não está em fazer cópias.Burns passou os quase dois anos em que está no cargo tentando transformar a Xerox numa empresa de serviços, já que a ascensão da tecnologia digital prejudicou a linha tradicional de hardware dela. Em três anos, dois terços da receita da Xerox deverão vir de “serviços”, ou contratos para administrar as ope-rações de retaguarda das empresas, como impressão, recursos humanos e outras, diz ela.A pedra de toque da estratégia de Burns, a aquisição em 2010 da Affiliated Computer Services por US$ 6,4 bilhões, foi inicialmente criticada pelos acionistas e analis-tas que a consideraram cara demais em meio a uma recessão e também grande demais — a ACS tinha 74.000 empregados na época, e a Xerox, 54.000.Um ano depois, Burns, de 52 anos, tem sido elogiada pela decisão. A parte de serviços da empresa produz quase metade da receita total. Os lucros no segmento de serviços foram de US$ 266 milhões no primeiro trimestre, ante US$ 203 milhões no ano passado. Parte do primeiro trimestre de 2010 não inclui os resultados da ACS, já que o acordo não havia ainda sido fechado.Burns, que está na Xerox desde 1980, quando começou como estagiária, falou ao Wall Street Journal sobre o futuro da indústria de impressão, a alta dos custos do petróleo e a investida da empresa nos mercados emergentes. Trechos editados:

WSJ: O que [a investida em serviços] significa para o lado de hardware da empresa?Ursula Burns: Não vamos jogar nada fora enquanto os cliente precisarem imprimir. É preciso ter uma foto, é preciso ter uma etiqueta num pacote em algum lugar, é preciso criar um pacote — esse é um negócio de impressão. A maioria das pessoas olha para isso como uma folha de 21 por 29 cm que é em preto e branco e impressa no escritório. Isso há muito deixou de ser a princi-pal fonte de crescimento de páginas.WSJ: Então o hardware continua-rá sendo parte da equação para a Xerox?Burns: O hardware de impressão em cores continuará, com certeza. Acho que o mercado de hardware em preto e branco vai se transformar num mercado em cores. Aí a questão é o que acontece com esse mercado

em cores.WSJ: A área de serviços está aque-cida agora, com muitos concorren-tes, pequenos e grandes, entrando. Como a sra. protege suas margens?Burns: Há dois tipos diferentes de serviços com os quais estamos preocupados. Um é um conjunto de serviços de impressão administra-dos que estão realmente próximos da tecnologia de documento, que é a nossa divisão Document Out-sourcing. A Dell e a Lexmark estão entrando ali, mas somos as maiores no negócio. Temos US$ 3,3 bilhões na operação e estamos crescendo.A outra parte, a que cresce mais rápido para nós, é a terceirização de processos de negócios. Esse merca-do diversificado está maduro para a inovação e consolidação, que é por que adquirimos um pouco todos os anos.WSJ: À medida que a empresa avance mais e mais em serviços, devemos esperar margens brutas menores?Burns: Sim. Você verá maiores mar-gens operacionais. A única maneira de pensar logicamente sobre esse negócio é pensar a partir de uma perspectiva de margem operacio-nal. Vamos continuar a divulgar a margem bruta porque as pessoas ainda querem sabê-la. Mas seria literalmente como falar em francês quando todo mundo está escutando em inglês.WSJ: Onde a Xerox quer maior presença?Burns: Brasil. Temos uma boa mar-ca no Brasil, mas nossa capacidade de ampliar a presença no espaço de terceirização de tecnologia de documento e decididamente em processos de negócios é algo que es-tamos promovendo bastante. É um mercado relativamente inexplorado, pouco desenvolvido, e temos uma boa posição lá. O México é o próxi-mo. Estamos bem posicionados e temos uma equipe sólida operando lá, por isso faremos exatamente a

mesma coisa.WSJ: Os países que a sra. menciona são atraentes porque têm multina-cionais ou por causa das empresas locais, pequenas?Burns: Eles têm multinacionais, têm governos que são razoavelmente bem organizados e a lei conta, e eles precisam desses serviços. Eles tam-bém têm um bom crescimento das pequenas e médias empresas.Uma das maiores prestadoras de serviços [no Brasil e no México] é a Telefónica. Ela é enorme. Devería-mos ser capazes de fazer negócio lá com a Telefónica, que é o que esta-mos tentando fazer. Outro negócio é o Banco Santander. Por isso vamos seguir a Telefónica e o Banco San-tander e prestar serviços a eles.WSJ: As empresas têm enfrentado custos mais altos de commodities numa série de setores. A quais a Xerox está mais exposta?Burns: Petróleo. É uma commodity básica que é usada em alguns de nossos toners e tintas. E transpor-tamos muito material pelo mundo. É uma pressão significativa sobre os custos da cadeia de fornecimento. A outra “commodity” que está em alta é a mão de obra em quase todas as partes do mundo fora dos EUA.WSJ: A sra. considera aumentar os preços?Burns: Muita gente acha que dá sim-plesmente para aumentar os preços [risos]. Se você não é competitivo, os clientes irão para o cara que é. Por isso não podemos aumentar os preços a não ser que haja algum mo-vimento significativo por todos os demais do mercado. Aumentaremos os preços ocasionalmente se tiver-mos de fazê-lo, mas olhando para o resto da estrutura de custo na empresa e continuando a espremer isso. Tudo da cadeia de suprimento, renegociação de contratos, tentar analisar nossos processos e enxugá-los, tentar automatizar o máximo que dê.WSJ: Ou seja, vocês usarão a tecnologia para diminuir a força de trabalho?Burns: Diminuir a força de trabalho é criticado, mas faremos um pouco disso com certeza. Mas, mais impor-tante, à medida que nossas opera-ções cresçam, é que queremos ter mais volume com o mesmo número de pessoas.WSJ: Qual o maior obstáculo que a Xerox enfrenta agora?Burns: O maior problema para nós em 2010 e neste trimestre, até ago-ra, que está diminuindo um pouco agora, são os movimentos cambiais. [Somos afetados pelo] iene em relação ao euro e ao dólar, e o euro em relação ao dólar. Nos últimos quatro anos tivemos US$ 2 bilhões em custos extras que tivemos de compensar e o fizemos.

Xerox aposta em serviços e busca expansão no Brasil

Ursula Burns tem como prioridade o Brasil, onde ela que quer que a Xerox cresça em serviços de terceirização

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The Wall Street Journal

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JOHN W. MILLERThe Wall Street Journal,de Bruxelas

O presidente do conselho da maior empresa de alimentos da China foi direto. “Precisamos comprar uma das três maiores empresas euro-peias de alimentos”, disse Wang Zong Nan a dois consultoresnum brunch dominical num hotel Sheraton no centro de Bruxelas.Wang, presidente do conselho da Bright Food Group, está entre os líderes empresariais chineses à caça de empresas europeias. Suas ambições, encorajadas pelo governo em Pequim, têm o potencial de mu-dar os contornos do comércio e dos fluxos de investimento mundiais nos próximos anos e já cria nervosismo na União Europeia.O país que mais exporta no mun-do acumulou US$ 2,7 trilhões em poupança doméstica agregada até o fim de 2009, um cofrinho que deve aumentar seis vezes até 2020, se-gundo o Banco Mundial. Especialis-tas preveem um forte aumento das aquisições internacionais por parte de empresas chinesas ao longo da década. Um plano de cinco anos que o governo chinês aprovou em março prevê o estabelecimento de “redes de vendas e marcas internacionais”.O investimento das empresas chinesas em negócios europeus, que totalizou apenas US$ 853 milhões em 2003-05, subiu para US$ 43,9 bilhões entre 2008 e 2010, de acordo com a Dealogic, uma consultoria londrina. O aumento deu às em-presas chinesas o controle de 118 empresas europeias.Na mais recente transação, a fabricante de computadores Lenovo Group Ltd. fechou acordo na semana passada para adquirir 37% da Medion AG, uma empresa alemã de computadores e outros eletrônicos, e vai fazer uma oferta pública por mais ações para obter o controle.Enquanto alguns dos negócios ga-nham destaque, como a compra no ano passado da montadora de carros Volvo, que era da Ford Motor Co., pela Zhejiang Geely Holding Group, as empresas chinesas também ad-quiriram discretamente o controle de mais de cem empresas europeias menores, de uma fabricante de cigarros checa e uma farmacêutica holandesa. A frequência dessas aquisições está aumentando.Thilo Hanemann, diretor de pesquisa da consultoria nova-ior-quina Rhodium Group, prevê que as empresas chinesas investirão mais de US$ 1 trilhão até 2020 e diz que, além de seu conhecido interesse em recursos naturais, as empresas chinesas “estão cada vez mais bus-cando oportunidades em mercados maduros”.Isso faz da UE um foco. Com milha-res de fabricantes e comerciantes de

produtos que vão de carros a vidro — num mercado de 27 países que é o mais rico do mundo em produção econômica —, a Europa tornou-se si-lenciosamente o principal alvo para fusões e aquisições da China. Um terço de 3.000 grandes empresas chinesas consultadas numa pesqui-sa de 2009 do governo afirmou que tinha investido em países da UE, em comparação com 28% que citaram os Estados Unidos.Na maior parte, o investimento chinês tem sido bem recebido na Eu-ropa como fonte de capital, mas em alguns lugares fez eclodir tensões. O comissário da indústria da UE, Antonio Tajani, e algumas autorida-des de países do sul como Espanha, Itália e França dizem temer que as empresas chinesas estejam comprando as europeias para tirar a tecnologia delas.Um motivo que os líderes empresa-riais chineses citam para preferir a Europa é que, diferentemente dos EUA, onde o Comitê de Investimento Estrangeiro pode impedir transa-ções com base em argumentos de segurança nacional, as autoridades europeias não podem interferir no dinheiro que entra para a compra de empresas.“Há centenas de empresas atraentes [na Europa] e há menos sensibili-dade em questões de segurança na-cional comparada aos EUA e outras economias”, diz Hanemann.Um negócio feito anos atrás acabou rendendo um casamento atribulado. A chinesa Qianjing Group adquiriu a fabricante italiana de motoci-cletas Benelli do Gruppo Merloni. Com vendas em queda, a diretoria chinesa decidiu fazer com que os trabalhadores italianos cumprissem jornadas de meio-período.De acordo com uma reportagem de uma revista chamada “Motocross Action”, um diretor da Qianjing na China disse que a Benelli era prejudicada pela “forte burocracia italiana, o complicado sistema de obter várias permissões e processos empresariais caóticos”.O diretor-presidente da Benelli, Pierluigi Marconi, pediu demissão em meados do ano passado — em protesto, segundo pessoas a par da questão. Ele disse a uma revista de motocicletas chamada “AMCN” que as mudanças que a empresa preci-sava fazer levavam tempo, “mas o mercado não vai esperar por você, e tem sido difícil explicar isso aos chineses”.Marconi não respondeu a um pedido de comentários, e um representante da Qianjing se negou a comentar.O investimento chinês é tema de intenso debate na UE, com opiniões diferentes sobre se ele é positivo ou negativo. O comissário da indústria Tajani está particularmente ciente do poder comercial e de investimen-to da China e está entre os preocu-

pados com a perda de tecnologia. Ele gostaria de dar poder à UE para impedir investimentos e sugeriu a criação de uma versão europeia do Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA.“A hora de preparar sua casa para um incêndio é antes de ela pegar fogo”, diz Tajani. “Queremos nos as-segurar de que sabemos quem está investindo na Europa, e por quê.”Tajani se pronunciou contra uma transação chinesa delicada no fim do ano passado. Uma fabricante ita-liana de cabos de fibra óptica havia fechado acordo para adquirir uma rival holandesa por US$ 1 bilhão. Executivos da empresa italiana, a milanesa Prysmian SpA, celebraram com champanhe. Mas uma semana depois, do nada, surgiu uma empre-sa chinesa afirmando que poderia pagar US$ 1,3 bilhão pela firma holandesa.“Ficamos chocados”, diz Lorenzo Caruso, o diretor de marketing da empresa italiana.Suspeitando que a empresa chinesa, a Tianjin Xinmao S&T Investment Corp., poderia fazer uma oferta daquelas apenas com a ajuda do governo chinês, a Prysmian contra-atacou. Seus diretores contraram uma firma de lobby, deram entre-vistas expressando suas suspeitas e recorreram à Comissão Europeia em Bruxelas.Tajani e outras autoridades da UE estavam preocupados porque a empresa holandesa, chamada Draka Holding NV, tinha uma subsidiária que fornecia cabos de fibra óptica a várias forças armadas ocidentais, entre elas a marinha americana. Eles ameaçaram bloquear a compra chinesa, embora não estivesse claro como poderia fazê-lo, já que o go-

verno holandês não se opunha a ela e a UE não têm um comitê que possa analisar aquisições sob argumentos de segurança nacional.De todo modo, a pressão acabou sen-do demais para a empresa chinesa. Ela abandonou sua oferta, citando um problema com o tempo para obter aprovação do governo chinês.O setor de alimentos pode não parecer tão estratégico quanto o de fibra óptica, mas o governo chinês o identificou como uma área na qual as empresas do país devem adquirir tecnologias e procurar tornarem-se mais eficientes. A Bright Food, de Xangai, teve receita equivalente a US$ 7 bilhões no ano passado e quer dobrá-la até 2015.“Não há tantas alternativas para conseguir isso que não seja por meio de aquisição”, diz Chen Gang, um analista do setor de alimentos e bebidas da corretora Sinolink Securities em Xangai. Ele diz que a Bright Food está interessada em comprar empresas e manter as diretorias delas “porque não tem muita experiência em administrar empresas internacionais”. A Bright Food concordou com essa análise.Para fazer negócio na Europa, a Bright Food recorreu a Yufang Guo, um consultor em Roterdã que diz ter cerca de cem clientes chineses interessados em comprar operações na Europa Ocidental.Para seduzir os vendedores, diz Guo, as empresas chinesas usam os argumentos de que têm capital de sobra para investir, podem oferecer um mercado consumidor maior e manterão as diretorias.Guo, um filho de professores da China rural, foi para a Europa como estudante de pós-graduação 25 anos atrás e ficou para estudar direito.

Depois de trabalhar para grandes firmas de auditoria, criou seu próprio negócio prestando servi-ços como contabilidade tributá-ria e tradução.Num dia de fevereiro, Wang, da Bright Food, voou a Bruxelas com dois colegas, Ji Lu Qing e Tang Zhi Jian, e foi ao Sheraton para um brunch com Guo. Servindo-se de fruta, café e ovos, Wang descreveu suas ambições a Guo e a um advogado europeu de investimento e comércio, Laurent Ruessmann, permitindo que um repórter estivesse presente.O que eles buscavam, disseram os executivos chineses, eram empresas europeias ricas em marcas e tecnologia. Eles que-riam comprar uma participação majoritária.Um exemplo citado por Wang: “Empresas belgas e italianas de chocolate. Mas conseguir que vendam é difícil. São familiares e querem continuar sendo.”Empresas europeias de nicho são atraentes para as chinesas

porque costumam ter marcas fami-liares e bastante know-how.Guo e Ruessmann explicaram a seus visitantes chineses que a Europa é dividida em muitos mercados. “Cuidado se for tentar comprar algo que seja muito conhecido”, aconse-lhou Ruessmann. “Há sensibilidades na Europa, como na China ou em qualquer lugar, quanto a grandes aquisições por empresas estrangei-ras.”Ele advertiu os visitantes que poderiam encontrar alguma opo-sição a uma aquisição chinesa. “As empresas europeias antecipam uma onda de investimento chinês e, se ouvirem que o comprador é uma em-presa chinesa, podem tentar obter mais”, disse. “O preço automatica-mente sobe.”A resistência ficou evidente para os executivos chineses pouco tempo mais tarde. Depois da reunião em Bruxelas, Wang foi a Paris. Logo fez uma oferta por uma participação de 50% da fabricante francesa de iogurtes Yoplait, pertencente à cooperativa Sodiaal.Mas havia outros candidatos à com-pra, e a americana General Mills Inc. venceu com uma oferta de US$ 1,1 bilhão. Ainda que a oferta da Bright Food fosse maior, o governo francês avalizou o acordo com a General Mills.“O governo reafirma sua preocupa-ção com a preservação de empregos e o futuro da indústria de laticínuios na França”, disse o ministro francês da Agricultura, Bruno Le Maire, num comunicado.A Bright Food não desiste. “Não temos planos de mudar nossa estra-tégia para expansão internacional”, disse seu presidente, Cao Shumin, ao jornal “Shanghai Daily”.

Empresas chinesas vão às compras no mercado europeu

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The Wall Street Journal

26 Sábado, 11 de Junho de 2011.

SARAH NASSAUERThe Wall Street Journal

Os fabricantes de sacos de lixo dos Estados Unidos estão na esperança de que os consu-midores obedeçam ao nariz e cheguem a seus mais novos produtos.A Glad Products Co. começou a aumentar sua oferta de sacos que incorporam uma tecnolo-gia quepromete bloquear os odores, depois de lançar uma linha chamada Odorshield with Febreze, o desodorizador, no ano passado. A rival Hefty também aumentou a linha de sacos que usam sua tecnologia Odor Block, mas aposta que muitos consumidores vão preferir sua versão sem perfume. Em abril, a Simplehuman LLC lançou seus primeiros sacos que controlam odor usando plástico revestido com carbono que absorve o cheiro.Até as fabricantes de latas de lixo estão inovando em torno do cheiro. A Simplehuman adicionou cartuchos de carbono a suas latas mais novas. A iTouchless Housewares & Pro-ducts Inc. os está colocando em suas latas com sensores, que se abrem automaticamente.“Como fazer com que o lixo não cheire mal?”, pergunta Dawn Willoughby, gerente geral da Glad Products Co., a maior fabricante de sacos de lixo de cozinha nos EUA. “Tem sido um grande problema para nós solucionarmos.”É um bocado de inovação hi-tech para um dos

produtos mais desprezados da casa e um item comprado para ser jogado fora.Numa pesquisa, 76% dos americanos dizem que o lixo é a coisa mais fedida na casa, à fren-te de animais de estimação, sapatos, maridos e crianças, segundo uma pesquisa feita em 2010 pela Glad, que pertence à Clorox Co. Fral-das são o pior, seguidas por comida estragada no refrigerador.Amanda Kogut congela seu lixo antes de jogá-lo fora. Uma analista de 34 anos que trabalha para uma agência de empregos de Nova York, ela diz que é melhor do que colocar coisas fedidas como peixe ou carne no lixo por dias. Quando o noivo leva o lixo para fora, ela lembra a ele: “Ei, tem o saco no congelador também”, diz Kogut.

De fato, a Glad constatou que 44% dos ameri-canos usam o que chama de “comportamentos compensadores” como embalar o lixo num saco separado menor ou congelá-lo antes de jogá-lo fora.As tecnologias de redução do odor têm o objetivo, em parte, de persuadir as pessoas a continuar gastando e pagar mais pelos sacos. Os preços dos sacos de lixo subiram porque o custo da resina usada na fabricação do plásti-co aumentou. A Clorox aumentou recentemen-te os preços de todos os sacos Glad em 10% e afirma que planeja aumentar mais.Para poupar, os consumidores estão enchendo mais as latas de lixo e reusando sacos como os de supermercado, afirmam os fabricantes de sacos.

Embora as vendas de sacos de lixo tenham caí-do ou ficado estagnadas desde 2009, as vendas dos sacos Ruffies, perfumados ou que neutra-lizam o odor, cresceram cerca de 2,5% nos 12 meses até fevereiro passado, em comparação com o ano anterior, diz Janice Meissbach, diretora de marketing de varejo da Berry Plastics Corp., dona da marca Ruffies. Na Glad, enquanto as vendas gerais de sacos caíram em 2010, o segmento perfumado aumentou em volume, diz uma porta-voz. A Hefty, que pertence à Reynolds Group Holdings, afirma que a demanda por sacos controladores de odor cresceu. A empresa não quis fornecer dados de vendas.Algumas pessoas na indústria atribuem ao Febreze a criação de um mercado maior para produtos que eliminam odores. O lançamento do spray da Procter & Gamble Co., no fim dos anos 90, lentamente “produziu consciência e aceitação do consumidor” para o conceito de que desodorizadores podem funcionar, diz Eric Albee, diretor-presidente da Aromatic Fu-sion Inc., que fabrica fragrâncias e plásticos.Para reduzir o odor, a Ruffies usa um deri-vado de bicarbonato de sódio espalhado na superfície do saco, diz Meissbach. O Febreze é ensanduichado entre duas camadas de plástico que fazem os sacos da Glad, diz uma porta-voz. A Hefty afirma que sua tecnologia para odores é misturada com o plástico num nível molecular.

SPENCER E. ANTE E JOANN S. LUBLINThe Wall Street Journal

Enquanto a International Business Machines Corp. comemora seu centenário, começa a esquentar a disputa pelo cargo de nono diretor-presidente da empresa.Pessoas a par do pensamento do diretor-presidente, Samuel J. Pal-misano, dizem que ele tem pedido conselhos sobre como lidar com a transição. Elas esperam que ele indique um sucessor nos próximos 12 a 18 meses, promovendo alguém para diretor-geral ou diretor ope-racional.Quem assumir o cargo enfrenta-rá o desafio de manter a ação da empresa em alta e continuar uma série de trimestres lucrativos, ao mesmo tempo em que lida com as mudanças na computação portátil e nos mercados emergentes.A principal candidata é a diretora de vendas, Virgina M. Rometty. A executiva de 53 anos começou a se destacar do resto no último ano, segundo profissionais de recrutamento e ex-executivos da IBM. O diretor de Serviços Globais, Michael E. Daniels, de 56 anos, é visto como a segunda escolha. Rodney C. Adkins, 52 anos, diretor de hardware, é o que tem menos chances. Nenhum dos candidatos

estava disponível para comentar.Rometty “é uma das principais es-trelas deles há pelo menos uma dé-cada”, diz Jim Steele, ex-executivo da IBM. “Não vejo mais ninguém que seja um candidato tão bom e forte”, acrescenta Steele, hoje diretor de atendimento ao cliente da Salesforce.com Inc.Rometty, que tem 30 anos de casa, se destacou no comando da integração em 2002 da divisão de consultoria da PriceWaterhouse-Coopers LLP, que transformou a IBM de uma empresa puramente provedora de tecnologia para uma importante consultoria de estra-tégia. Rometty comandou mais recentemente a divisão de serviços da IBM, empresa que completou cem anos quinta-feira.Ela foi promovida em julho para co-mandar a parte de vendas da IBM, tornando-se responsável pelos resultados mundiais da empre-sa. O faturamento, que analistas dizem que precisa crescer mais vigorosamente, subiu 5,8% nos três trimestres em que ela cuidou das vendas. Ela também cuida agora da estratégia e do marketing.Rometty ocupa “a plataforma perfeita para marcar um golaço com um bom desempenho — ou para escorregar e cair”, diz Gerald Czarnecki, ex-diretor de recursos

humanos da IBM.Rometty foi criticada no início de sua carreira na IBM por se concen-trar demais no próprio sucesso, diz uma pessoa que a conhece há muito tempo. Mas ela levou a sério os comentários.Um executivo da IBM lembra que, depois de a empresa não conseguir atingir uma meta de vendas, em vez de dar um carão na equipe, Rometty realizou uma oficina para ensinar aos empregados como melhorar os resultados. “Ela nos treinou para sair daquela”, diz o executivo. “Ela é muito boa em fazer todo mundo refletir sobre o que precisa fazer.”

Como uma das mulheres mais po-derosas na indústria de tecnologia, ela foi abordada recentemente por recrutadores com convites para dirigir várias empresas de alta tec-nologia com faturamento anual de pelo menos US$ 10 bilhões, disse uma das pessoas familiarizadas com a situação.Daniels, outro que trabalhou a vida toda na IBM, tem ampla experi-ência em vendas e serviços, como um período de três anos dirigindo a divisão de Serviços Globais na Ásia e Oceania. Quando a IBM separou a divisão em segmentos de consultoria e tecnologia, em 2005, ele assumiu a última, focada em

terceirização. Daniels foi promovi-do em julho e passou a comandar toda a parte de Serviços Globais, cuja direção compartilhava com Rometty e que respondeu por 57% do faturamento da empresa ano passado.Ele “inspira a tropa e tem gente disposta a segui-lo”, diz uma pessoa que conhece Daniels. Seus assessores diretos “o consideram a melhor pessoa para quem já trabalharam”.Antigos executivos da IBM dizem que ele tem capacidade soberba de administrar operações, mas pode ser velho demais e sem o verniz ne-cessário para o comando da empre-sa. Daniels faz 57 anos em agosto, um mês depois do aniversário de 60 anos de Palmisano.Adkins é apontado como o res-ponsável por manter o negócio de hardware da empresa nos trilhos depois da prisão de Robert Moffat no caso de negociação de ações com informações privilegiadas no fundo Galleon Group. Os lançamen-tos de novos sistemas mainframe e servidores Unix foram bem recentemente.Ele é respeitado e foi convidado re-centemente a liderar a expansão da empresa na África. Mas executivos da IBM dizem que ele não tem a ex-periência necessária em serviços.

IBM prepara plano para a sucessão de Palmisano

Fabricantes deixam lixo mais perfumado nos EUA

Os dois principais candidatos: a diretora de vendas Virginia Rometty e o diretor de Serviços Globais Michael Daniels

IMAGINECHINA/ASSOCIATED PRESS(2)

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opinião

Sábado, 18 de Junho de 2011. 27

Artur do Nascimento *

Numavisão sociológica,passaremos em revis-ta alguns aspectos danossasociedade(talvez

apontado iceberg)queéconsti-tuídaporváriasgeraçõesdeango-lanos, na qual predomina os quenascerame/oucresceramdepoisdaproclamaçãodaindependêncianacional,em11deNovembrode1975.Istoé,debaixodeumaferozguerracivil,demisériaedeconfli-tospermanentesdebaixaedealtaintensidade.

Estes factos devem ser leva-dos em consideração quando seprocurar enquadrar os compor-tamentos sociológicos ou inter-pretar o psicodinamismo da ac-tual sociedade. É sabido que osreferidos comportamentos estãoindubitavelmente ligados a nossahistóriaecultura,mastambémaoestadoeconómico,socialeeduca-cional.Os costumes e os hábitossão reflexos deste estado e estãoprofundamentearreigados.

A esta irreverente sociedade,muitíssimoheterogénea,marcadaporpadrõeséticosemoraispoucoortodoxosebizarros,naqualim-peramo egoísmo, a intolerânciadetodaaespécie,oservilismo,ofacilitismo e o alcoolismodesen-freado,etc.,equefazdaexcentri-cidadeedosexcessosassuasprin-cipais armas de remesso; a fértilsabedoriapopular alcunhou-ade«Geração saca fácil». Provavel-menteporanalogiacomagigan-tesca,ambíguaepoucoeducativapublicidade comercial da SuperBockmini.Devidoàgrandecom-plexidadedestageração,édeverascomplicado fazer-se uma avalia-çãomoralecívica,damesmafor-maqueéproblemáticaasuarápi-datransformação.

Seráo«feitiçodocolonialismo»oua«maldiçãodopetróleo»?Ou,talvez,chegouahoradesecolheroquesesemeou?Otempoodirá...

Queméquem

Quemvosescreveestemodes-to trabalho, para reflexão, é umpacato cidadão quemuito sofreue continua a sofrer, mas mesmoassim quer contribuir humilde-mente na construção da Nação

angolana, onde todos se sintambemepossamdesfrutardassuasriquezascompazetranquilidade.

Trata-se de um sobrevivente eórfãodaguerracolonial(opaifoiassassinadopelaPIDEem1961noUíge),ex-vendedordomercadodeSãoPauloemLuanda(1961-1963)equelogoapóso«25deAbril»de1974 regressou ao País, respon-dendodeimediatoaosapelosdaslideranças políticas preocupadascomacarênciadequadrosnacio-nais, competentes,para supriremoslugaresdeixadospelaadminis-traçãocolonial.

Nestaaltura,cumpriaoserviçomilitarnoexércitoportuguêscomapatentedeFurrielMiliciano,no

Regimento de Infantaria 16 (RI16)emÉvora–Portugal,ejátinhaconcluído o exame de aptidão àFaculdadedeMedicina (HospitalSantaMariaemLisboa).

Em Angola, teve o primeiroempregonoex-BancodeAngola,em8deJulhode1975,naclasseF,tendo sido colocado naDirecçãoGeral como 3.º Escriturário. Em2deFevereirode1976, foidemi-tido dos quadros do pessoal doreferido Banco sem qualquer ex-plicação,apenas6mesese24diasdeserviçoefectivo.Poucodepois,foi admitido na ex-Escola Indus-trialBulaMatadi,actualInstitutoMédioIndustrialdeLuanda,ondeleccionava a disciplina de física

(1975-1981), ao mesmo tempoque frequentavao cursomédico-cirúrgicodosEstudosGeraisUni-versitáriodeAngola.

De1deJunhode1978a31deDezembro de 1982, trabalhavatambém na Biblioteca da Facul-dadedeCiênciasdaUniversidadeAgostinho Neto (aproveitamosparaexpressaranossagratidãoaoDr.JerónimoBelopelosseusprés-timos em tão difíceis momentosdoiníciodeumanovavida).

Um mês depois de concluir ocursodeMedicina (em26de Ju-lhode1982)jáestavamobilizadoparaasFAPLAenodia18deNo-vembrode1982tinhasidoempos-sado como Director do Hospital

MilitarRegionaldeCabinda– IIRegiãoMilitar,mascomosimplessoldado.

Comomilitar,teveoprivilégiode conhecer várias províncias danossamaravilhosaAngola, tendoládeixadomuitashorasdetraba-lho e de continuados sacrifícios,sem esperar qualquer tipo de re-compensa.

Cincoanosdepois,passouàsi-tuaçãode reserva,pormotivodegravedoença.Mesmoassim,ain-da deu o contributo possível du-rante23anosnoServiçoNacionalde Saúde, passando depois à re-forma com a convicção do devercumprido e, certamente, deixaráomundodosvivoscomacabeçaerguida.Enãoestánadapreocu-padoqueselhereconheçaounãoasuacontribuiçãopelaPátria.

Um outro aspecto ainda, quevaleapenapôremrelevoéofac-todeterlevadoasuaexperiênciapara vários cantos do mundo,aproveitando e hipertrofiando asparcas oportunidades que teve,participando em várias activida-des científicas em Moçambique,São Tomé e Príncipe, Portugal,Espanha,Áustria,HolandaeAus-trália.

(*) Médico reformado

«Geração Saca Fácil» Se non é vero, é bem trovato» - «Se não é verdade, ao menos é bem achado, é plausível» - máxima latina

Nota de Redacção

O SemanárioAngolenseiniciaapartirdestenúmeroapublicaçãodumen-saiosociológicodestemédicorefor-mado,quequercontinuara contri-

buirparaqueAngolasejaumbomlugarparaseviver.Edepoisdedarolitrocomotratadordanossasaúde,eleestreia-senessenovo«me-tier»,analisandoos fenómenossociaisnegati-

vosque têm surgidonanossa sociedade, comconsequênciasgravosasespecialmenteparaosmais jovens, algo que o preocupa, tal como atodas as outras pessoas de bem. Esta é a suacontribuição, a que o SAdá onecessário res-paldo.Estaprimeiraparteédedicadaà intro-dução do tema, bem como à apresentação doautor.Boaleitura!■

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opinião

Justino P. Andrade

1. Com o aproximar daseleições, vão se multiplicando jáas acções de «diabolização» dospartidosdaoposiçãoedefigurasdasociedadecivil.Vão,também,surgindo «análises» aparente-mente isentas, mas, afinal, feitasapenas com o fito de debilitar aimagemdaoposição.Essa é ain-da, e somente, a parte visível deumamais vasta ofensiva devida-menteconcertada.

2. Pelo seu lado, agitam-se ostradicionais cabos eleitorais des-ferindoosseusataques,calunian-do e/ou até mesmo estimulandoaagressãofísica.Pelooutrolado,alguns intelectuais disponíveis esempredeserviçoexercitamdis-cursossubtismasverrinosos,pas-sandoamensagemdequetodaaoposição é incapaz, inapta e in-consequente.Acrescentamdepois

queumapartedaoposiçãoandaàreboquedasociedadecivil,por-quenãosabeporsiprópriacriarfactospolíticos edesenvolver ac-ções mobilizadoras. São, na ver-dade, duas faces de umamesmamoeda.Oumelhor,sãoelementosdeumaúnicaofensivapolítica.

3.Atéhápouco tempo, os ca-bos eleitorais lançarammãos de«manifestações», alegadamenteparaacobrançade«dívidas»con-traídas pelos organizadores deoutrasmanifestações.Nestaaltu-ra,osmesmoscaboseleitoraisco-meçamjáamaturarascondiçõespsicológicas para o desencadea-mentodasacções seguintes.Elasque ainda são ummistério, pelomenos,paraquemnãoestáden-trodesseconluiomaquiavélico.

4. Recordo que as primeiras«manifestações» culminaram(pelomenosumadelas)naagres-sãofísicaaojovemactivista–ul-timamente muito mediatizado–entrenósconhecidopor«Briga-deiroMataFrackusz».

5.Osmesmos«manifestantes»que foram cobrar a «dívida» ao«BrigadeiroMataFrackusz»qua-se que invadiram depois a resi-

dênciadoactivistaeadvogadoDr.DavidMendes.Esónãooagredi-ramporque,naaltura,eleestavaausente. Senão, teria pela certasidomimoseadocomunssopaposiguaisaosquelevouo«BrigadeiroMataFrackusz».«Manifestaram»,pois,dessemodo,ocarácter«de-mocrático e justo»das suas «rei-vindicações».

6.Saiu,porém,agorada«carto-la»deumdosmaisafoitoscaboseleitoraisdoregimeaideiadequeaoposiçãoestaráa«experimentaralgumasacçõescomvistaacriardistúrbios para criar um climade instabilidade no país, e emparticular na capital, utilizandocomovítimasdosseusintentososjovensde rua, vendedores, robo-teiros, lavadores de carros, entreoutros».Pararematefinal,ecomoseocitadocaboeleitoralpossuís-seodomdaadivinhação(ouseráque já fabricaram os resultadoseleitorais?), o homem lá foi tam-bémafirmandoqueostais«agita-dores» (leia-se: a oposição) agemassim «porque sabemque nuncavãoganharaseleições».

7. É, pois, espantoso como ocabo eleitoral (reconhecido es-

pecialistanaorganizaçãodema-ratonas alcoólicas) já sabe quemvai ganhar as eleições de 2012…Só faltou ao cabo eleitoral dizerqualseráapercentagemdosvotosaobterporcadaumdosconten-dores…

8. Como o seu Chefe há diasjá disse que «ninguém irá votarneles» – portanto, na oposição– receio queo resultadofinal dapróxima contenda política já es-tejacozinhadoequepossaatéseridêntico ao que, por norma, severifica nos regimes comunistas,ondeopartidoúnicoobtém,qua-se que invariavelmente, 99,99%dosvotos.

9.Ninguémmeretiraagoraodireitodevislumbrarnessesdoisdiscursos a irresistível tentaçãode para aí nos fazerem cami-nhar… Caso se descontrolem,podem mesmo ultrapassar os100%...Oqueseriahilariante.Éque, nas cercanias deste «score»eleitoral,nãoestranhosevierema mexer novamente na Consti-tuiçãoparaaajustaraumaMo-narquia… Será assimmais fácilefectuar a sucessão presidencialpor simples «transfusão de san-

gue»,ouentãopormeiodacolo-caçãodeumafotocópia…

10.Depoisdeouviratentamen-te o discurso do cabo eleitoral,ficou-me na garganta a seguintequestão de que procuro respostaadequada:Seráqueosjovensquese «manifestaram» defronte daresidência do «Brigadeiro MataFrackusz»,e tambémfrenteàre-sidência do Dr. David Mendes,eram«estudantes»que,porexem-plo,parapagaremas suaspropi-nas em atraso, aceitaram fazerum «trabalhinho remunerado»,dequeapenasterãorecebidoumapartedopreço?Ouseráqueeramostaisjovensderua,vendedores,roboteiros,lavadoresdecarrosre-feridos pelomediático cabo elei-toral?

11. Sendo «estudantes», entãoo«BrigadeiroMataFrackusz»eoDr.DavidMendesprestaramummuitomau serviço aopaís, pois,ao não pagarem a totalidade dopreço pelo «servicinho presta-do», prejudicaram os «estudos»de jovens tão abnegados e tãoaplicados que tanto arriscaramindo para a rua manifestar-secontra o governo…Emais: Pelo

As duas escolhas do «cabo eleitoral»

Ou Mullah Omar ou Joseph Goebbels

28 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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opinião

Sábado, 18 de Junho de 2011. 29

que a nossa televisão mostrou,os tais «estudantes» recrutadospelo «brigadeiro» e pelo advoga-doseriamtambémportadoresdepanfletos onde se incitava à vio-lência(emesmoamorte)«contratodosquantossimpatizemcomoMPLA»,tambémparase«assaltarbancoseincendiarigrejas».

12.Sendoeles«estudantes»,en-tão sópossoacreditarque sejam«talibans». Ou, no mínimo, quetenhamsidoformadosem«esco-las»semelhantesàs«madrassas»,deondesaem,devidamentecapa-citados em religião e no uso dasarmas,osradicaisefanáticosqueespalham a dor e o luto noAfe-ganistão e no Paquistão… Pelosvistos, o Mullah Omar, o chefemáximodos«talibans»doAfega-nistão, tem entrenósfiéis segui-dores…

13.Masresisteaindaasegundahipótese,adeos«manifestantes»serem«jovensderua,vendedores,roboteiros, lavadores de carros»,talcomosepodedepreenderdasrecentes afirmações do sempreafoito cabo eleitoral que, recen-temente, sepronunciounumco-mício.Aserassim,o«brigadeiro»e o advogado incumpriram umaobrigaçãoqueextravasaoâmbitoda responsabilidade civil. O seuacto quase que roça o pecado…Istoporque,nãopagandoopro-metido, os dois activistas preju-

dicaram gravemente os direitosde dedicados trabalhadores quevivem tão-somente de esquemaseventuais para, assim, garanti-rem a sua própria sustentação e,claro,adassuaspobres famílias.E como muitos destes jovens searriscam diariamente a ser «de-penados»porpolíciaseporfiscaisquelheslevamosparcoshaveres,entãoo«brigadeiro»eoadvogadotêmquepagarasuafaltalongedaterra…Merecemumseverocasti-godivino.Roubarumpobrenãoédelitocivil–épecado,quasesemremissão!

14. Agora, voltemos ao nossocaboeleitoral.Ele temduasrefe-rências políticas das quais podeescolher apenas uma: Ou passaausarumturbanteedeixacres-cer as barbas– afigurando-se aoMullah Omar; ou então, vesteaquelafardaqueficoumuitocéle-breduranteaIIGuerraMundial– e assume publicamente a pos-tura de Goebbels, um dos maiseloquentes líderes da AlemanhadeHitler.Aqueleaquemsedevea seguinte frase: «Uma mentirarepetida cem vezes torna-se ver-dade».

15.Comoaté2012,ocaboelei-toralirárepetirinúmerasvezesassuas mentiras, vai seguramentechegaraopontoemqueelepró-priopensaráqueaquiloqueestáadizerémesmoverdade…■

O Conselho Nacionalde Comunicação So-cial (CNCS), reunidoemplenária,na capi-

taldopaís, nodia10deJunhode 2011, decidiu, em conformi-dadecomoseumandato,apro-var e fazer divulgar a seguintedeliberação:

1.Alertarosórgãosdecomu-nicaçãosocialeosseuseditorese repórteres para a imperiosanecessidade que se reveste acobertura equilibrada e objec-tiva da actividade daComissãoParlamentar de Inquérito (CPI)sobre a IntolerânciaPolítica,tendo em conta as reclamaçõesque têm surgido a propósito deum desempenho menos isentodosjornalistasquetêmestadoacobriraagendadareferidaCPI.

2. Depois de recentes notaspositivas atribuídas ao desem-penhodamédiaestatalpelasuacobertura abrangente do deba-te político em curso no país, oConselho Nacionalde Comuni-

caçãoSocialconstatoucompre-ocupaçãooregressoaoseuquo-tidianodautilizaçãodecritérioseditoriaispoucotransparentese

nada consentâneos com a isen-ção, o rigor e a objectividadequeserequerdainformaçãojor-nalística.

3. O princípio do contradi-tório comoumdos garantesdacredibilidade da informaçãojornalística esteve particular-

menteausentedacoberturaqueos médias estatais efectuaramde algumas movimentações derua que envolveram sobretudojovens, ao ponto de terem sidoacusados demanipulação gros-seiradarealidadedosfactos.

4. O CNCS é oprimeiro a la-mentarofactodeatéagoraaindanão ter sido possível a renova-ção do mandato dos seus actu-ais Conselheiros, por razões quese prendem,fundamentalmente,com a revisão e actualização doseuestatutoorgânicoquesóagorapareceterentradonarectafinal.

5.CombasenoquerezaaLei,aplenáriaestáconvencidaqueodesempenhodoCNCSnãoestáferido por nenhuma ilegalida-de, pois oponto 4do artigo 9.ºda Lei n.º 7/92, de16 de Abril,segundo o qual o «exercício domandato dos membros cessan-tesdoConselhoprolonga-seatéàtomadadepossedossubstitu-tos»,nãopermiteumaoutrain-terpretação.■

Deliberação do CNCS

«Censura registada» à Media pública

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Crónicas

30 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Sabe-seagoramuitomaisdoquehádoisanosatrássobre o acidente comovoo 447 daAir France,

RiodeJaneiro/Paris.OqueoCo-mandantefazia,porexemplo,ho-rasantesdoiníciodosproblemascoma estabilizaçãoda aeronave.Foram apenas 3minutos emeiodeumaintensasessãodeesforçosdatripulação,atéoaviãocair.

Entre os passageiros contava-se o meu amigo Pablo Dreyfus.OPabloeraumargentinoetinhacasado com a senhora dona AnaCarolina faziadois anos antesdatragédia: ambos entregaram-se àcausa da redução do número demortesresultantedousoindevidodearmasde fogo.DonaCarolinatrabalhavacomascamadasjovensdasfavelasdoRiodeJaneiro.

Ambos trabalhavam para aONG«VivaRio».Eambosviaja-vamparaaEuropanoâmbitodeuma conferência internacionaljustamentededicadaaotemadodesarmamento, sob os auspíciosdarevista«SmallArmsSurvey».Aproveitariam então a ocasiãopara,àmargemdostrabalhosouaseguiraeles,passaremmomen-tos livresemjeitode lua-de-melque nunca haviam desfrutadodesdeocasamento.

Pablo esteve em Angola emAbrilde2009,ummêsantesdaqueda do avião da companhiafrancesaeaquiparticipoucomoconferencistado simpósio inter-nacional sobre o desarmamentodapopulaçãocivil,umapromo-ção daComissãoNacional Parao Desarmamento da PopulaçãoCivil emAngola. Estemecanis-mo inter-disciplinar foi insti-tuído pelo senhor Presidente daRepública.

Pablo não se limitou a estu-dar o tema. Uma das missõesqueabraçoufoiadeinvestigaravidadasarmasnoMundointei-ro:comoelas tinhamumberço,

após ao que começavam a teceras suas próprias biografias oupercursos,atépararemnasmãosdocrime.Comoacanetaparaosjornalistas,aarmaéparaoban-dido um macabro instrumentode…trabalho!

Mas, de regresso ao acidentecomoaviãodaAirFrance,oquese comenta agora é que tudo sedeveu auma súbita falência dosinstrumentoselectrónicosdena-vegaçãoeatripulaçãoenfrentoudificuldades insanáveis para asuperaremtempohábil.Aprin-cípioespeculava-sequeoequipa-mento teria sido deitado abaixopor um «culunimbus». Pode serqueasucessãodoseventostenhasidoditadaapartirdomomentoemqueoaviãocomeçouaatra-vessarumanuvemcarregada.

E os amantes da aviação cos-tumampassar-nosumapomada

de acordo com a qual os aviõessão… infalíveis! Os aviões sãoseguros, mais seguros que oscarroseosbarcoseatémaisdoqueasbicicletas,gaba-sesempreummeu amigoComandante daTAAG,porém,quandoumdelescai, as justificações costumamser…falíveis!

Apartirdaalturaemqueficoudecididoqueo«bicho»dispensa,paraserorientado,da«caixahu-mana», as tripulações tambémpassaram a dedicar-se mais ao«relacho».OComandantedovoo447gozavaemplenovoodoseuregulamentar coxilo.Ascompa-nhiasaéreascarregamnoshorá-riosdas tripulaçõese sempredeolhonoslucros,dissoseieu,masomeuamigodaTAAGfingequeestapartenãolheinteressaevirao foco da conversa para os pra-zeres da aviação, «uma delícia»,

defende-se.Assim que, quando conheci

o Pablo no Rio de Janeiro, nãoimaginei que essa «djilícia» deviajar de avião terminasse noquesabemoshoje.Sentadosladoaladoaojantarno«Mariu’s»,queficaalinoLemeouPoston.º1daorla marítima de Copacabana,estávamos à conversa desgarra-da, a falarde JorgeLuísBorges,EstelaCanto,BioyCasares.Eou-trascoisasmais,comoecologia.

Mas,apersonalidadedoPabloeratodamoldadaparaaquestãodasarmas.Eleera,ademais,umdos editores de uma revista quese ocupava deste assunto. Inte-ressava-se muito pela biografiadas armas, singularmente, e co-nheciadecormarcasefabrican-tes e qual o trajecto que faziamatéatingirem,umaouváriaspes-soas,mortalmente.

O Brasil, nesta segunda em-preitadaquevisaodesarmamen-to dos civis, começou impulsio-nado pela tragédia deRealengo,quandoummiúdoentrounumaescolaematoudezalunos.Nestasegundafase,adoptouumanovi-dade: a arma que estiver envol-vida num crime não volta maisao circuito policial ou militare é esmagada por uma lagarta,imediatamente.Muitose faladarecompensa a quem entrega aarma,masocasodoBrasilédi-ferentedeAngola.

Recentemente, um caso cha-mou a atenção no Brasil. Um«defesa» do Corintians de SãoPaulo estava com uns amigos aespairecer e resolve indutiva-mente pegar numapistola de arcomprimido, para brincar. Abrincadeirasaiumal.

A arma disparou inadvertida-mente quase atingindo mortal-mente o pulmão de um amigo.Felizmenteestesobreviveu,aindaque o chumbo continue alojadopertodoórgãovital:quepodefi-carcomprometido,nofuturo.Aítemosocusto,altocusto,de ter-mosarmasguardadasemcasa.

Portanto, se a bala o tivesseatingido fatalmente, as coisasseriam vistas doutra manei-ra. Desencadearia uma série deeventos trágicos. Desaparecia,é um exemplo, um cidadão queno futuro seria um engenheiro,um médico, um jornalista, umcientista,sabe-selá,umfuturo…Presidente!

O cantor angolano Gaby Moifez uma música em que alerta:«guardar uma arma em casa/ éomesmoqueguardaradesgraçaemcasa»eissocantadoemKim-bundu.Uma bala que custame-nos de cem «kêzês» pode porémcausar prejuízos de milhares dedólares: suponhamosqueo ban-didodispare fatalmentecontraochefedeumafamília.■

O meu amigo Pablo Dreyfus e a questão do desarmamento

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Crónicas

Sábado, 18 de Junho de 2011. 31

Há mulheres que ao in-vés de aprenderem acozi¬nhar carne comfunge,aprenderamaco-

zinharmaridocomfunge!Não se sabe agora aonde foi

que elas aprenderam a preparar facas de ponta com cabo de ma-deira e serra na lâmina, para co-meçarem a es¬quartejar os seus respectivos mari¬dos. Alguns dizem que se tratam de ex-faplas do ex-destacamento femi¬nino e outros desmentem dizendo que são raparigas que trabalham em talhos de carne e outros ainda dizem que anda por aí uma tal Associação AMCL – Associação das Mulheres Ciumentas de Luan-da – cuja missão é dar treinos aos seus membros (às suas membras melhor dito) para auto-defesa, com uma preparação especial em uso de faca e navalha, para quan-do os respectivos maridos forem apanhados com a boca na bo¬tija, serem capados. Capados como os porcos. De acordo com fontes in-seguras mas bem posicionadas, consta dos regulamentos da refe-rida Associação uma cláusula pu-nitiva que alude ao esfaqueamen-to sem piedade nem dó ao marido infiel, mas apenas diz respeito aos seus pertences carnais reproduti-vos. Só que elas, as membras mais audazes, atacam pelo peito, pelas costas, pelo pescoço e tudo o mais, à maneira neriquista - que toda a Luanda ou¬viu e viu a ser julgada pelo Tribunal como a primeira secretária geral da associação de mulheres esfaqueado¬ras, pra-ticantes de esfaqueamentos não previstos na nova constituição e portanto puníveis nos termos da lei em vigor. Foi nestes moldes que a referida autora e precursora – que aprendeu a técnica de perder a fala e «disse» que esqueceu a fala e o pró¬prio nome, e que foi ime-diatamente encarcerada para evi-tar futuras víti¬mas dentre outros homens da cida¬de, tendo sido também proibida de arranjar ma-rido por 17 anos conse¬cutivos, e tendo-lhe sido atribuído o cargo de representante legítima das mu-lheres ciumentas de Luanda, as quais agora têm sido referenciadas como as mulheres da moda que esfaqueiam e mostram a faca, tipo mata-a-cobra e mostra-o-pau.

De acordo entretanto com outras fontes também menos credíveis, trata-se de uma onda luandina que visa desencorajar os restantes mari¬dos que arregi-mentam catorzinhas e quinzinhas e dezasseizinhas, de modo a travar a tendência dos ma¬ridos curti-rem impunemente: ou se compor-tam ou são esquartejados a sangue frio com direito a repor¬tagem televisiva e tudo. Segundo a fon-te, também este procedimento consta dos manuais de actuação da referida Associação e só para este ano estão previstos mais de duzen¬tos assassinatos conjugais, com fa¬cas de cozinha e facas de matar por¬cos, mulheres que já fizeram chegar os nomes dos seus maridos para constarem das listas futuras.

Por sorte deste jornal, uma có-pia desta lista veio parar à redac-ção, e prometemos para a próxima sema¬na publicar a lista completa com os nomes dos cidadãos-ma-ridos cons¬tantes da referida lis-tagem, uma série de 150 nomes para a primeira fase. Dada a ex-tensão de nomes, por hoje apenas podemos enumerar 15 nomes que representam 10% dos fu¬turos ca-dáveres passionais.

Para o domínio público deve-mos informar que da referida lista 2 deles são presidentes de partidos políti¬cos; 6 nomes são de empre-sários; 4 nomes são de jornalistas e 3 são portugueses. Dos 15 que serão bre¬vemente esfaqueados e que constam desta lista secreta que felizmente o nosso jornal teve acesso, apenas um é culpado. To-

dos os demais, de acordo com a nossa pesquisa, são absolutamen-te inocentes, vítimas de fofocas de amigas intriguistas que pre-tendem colocar na cadeia as suas próprias amigas, motivo pelo qual deram pistas erradas, e esperam pe¬los golpes fatais para depois ficarem no gozo e a rir fartamen-te, já quan¬do elas estiverem sen-tadas com bata de presas sentadas num daqueles bancos utilizado pela cidadã Não Rica que mora-va no Nova Vida Boa Vida, Velha Vida Má Vida.

De acordo ainda com o que con¬seguimos apurar, do grupo de 15 que serão brevemente ta-lhados pelas respectivas esposas, consta um que é jornalista dum dos semanários da capital ao qual tivemos já a missão de o alertar e que, ontem mesmo o referido jor-nalista mandou retirar da cozi-nha todas as facas e admitiu mais um guarda-costas como refor¬ço

da sua guarda pessoal. Estamos também desenvolvendo esforços no sentido de remeter cópia da lista para os empresários visa-dos e cujas esposas se aprestam a desferir-lhes o golpe facal pelos respectivos pes¬coços, sendo que a um dos citados a esposa planea cravar-lhe a faca pelo rabo primei-ro e depois pelas costas e depois a última facada será na bar¬riga pois diz a mesma esposa que ele só é barrigudo porque nunca mais teve tempo de ir ao ginásio devido a grande ocupação que tem com a recente namoradinha do bairro, que não lhe sobra tempo, só tem tempo para ginásticas proibitivas no fundo da ilha.

Mas há também notícias de um presidente de partido político que foi acusado de malandro pela es¬posa, a qual aguarda apenas por luz verde da Associação para furar-lhe as nádegas e cortar-lhe a língua pois alega que ele não pre-

cisa da língua para nada, dado que mesmo sendo deputado fala mui-to pouco e não precisa das nádegas porque faz mui¬to pouco recurso a elas para dar-lhe o prazer de uma noite bem gozada. São vários os motivos das mulheres ciumen-tas que apenas passaremos um pequeno extracto de uma carta que nos foi enviada por um cida-dão anónimo, Mais adiante. Falta ex¬plicar que os portugueses vi-sados, têm morada desconhecida pelo que é mais provável que leva-rão facadas de suas esposas ango-lanas, o que seria uma vergonha para todos nós pois vai correr a fama em Lisboa de que as angola-nas são canibais confundem car-ne de marido com carne de bicho para fazerem bife e comerem com funge. Mas vejamos ainda o teor da carta da amiga da Genoveva:

Minha grande amiga Genove-va.

Te escrevo esta carta não para criar problemas no teu lar. Mas como tua amiga que sempre fui não podia deixar de te informar que o teu marido lhe vi mesmo com os meus olhos que um dia a terra a de comer, estava antionte no restau¬rante Fiado perto da minha casa com uma tipa de saia preta e azul, e estava a lhe pôr a mão em baxo da saia não sei se era para prucurar o qué, mas eu vi mesmo com a minha cara toda, ele depois de meter a mão em baxo, a lhe dar dinheiro numa cartera branca e ela a vaca dimerda a re-ceber depois lhe deu um bejo na boca dele. Do teu marido.

E quando o meu filho chegou em casa também confirmou que era o teu marido. Por isso não di-gas que eu não só tua amiga e só espero que não ficas burra, tens que atuar já en¬quanto é cedo.

Sempre sua amiga Fatita da Conceição.

É assim que elas agem, as amigas que estão na base dos esfaqueamen¬tos selváticos. São elas que incitam a violência e de-pois, na hora da justi¬ça... dão o fora! ■

NR: Esta crónica teve de ser re-publicada por ter saído truncada e após reclamação de alguns leito-res. Pelo facto, pedimos desculpas aos leitores e ao seu autor.

Elas pensam que matar marido à facada cuia!

Kanzala Filho

Sr. Kanzala!

ObrigadoportervoltadoaoSAcomassuascrónicasestonteantes,quefazemobomleitor«lambuzar-se».Atéoho-memaborrecido,etalvezpornãotero

quecomer,temaoportunidadedealimentar-sedoprato(crónica)postoàmesa,àsuadisposição,numatardedesábado.

Àcrónicaemquestãofoidepartirderir.To-dosossenhores,colegas,familiareseamigosqueestavamàminhavoltanãopuderamconteraslá-grimasdetantorir.

Vamos pacificar os espíritos também comcrónicasdessas.Umamaneiraalgodiferentedechamaraatençãodasmulheresedaspessoasemgeral.

AvidaéumadádivadeDeus.DeixemosquesejaEleadecidirquandoretirá-la.Nãofaçamosmalaninguémparaobemdopróximoedetodaahumanidade.Contudo,nofimdotexto,osres-ponsáveis pela paginação cometeram uma «ga-ffe»,queacabouportruncaroconteúdo.

Ainda assim, obrigado mais uma vez kotaKanzala.

Luther Santana

Leitor felicita Kanzala

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Crónicas

32 Sábado, 18 de Junho de 2011.

\ António dos Santos «Kidá» (*)

No ano 2000, o autordessas linhas assi-nalava duas décadasde percurso artísti-

co, iniciado no limiar dos anosoitenta. Nessa altura, e emborafosseseudesejorealizarumaex-posiçãodegravuraartísticaparaassinalar a efeméride, tal nãoforapossível,umavezqueesbar-rara liminarmente no «muro»ondeospedidosdeapoio foramremetidos: nos patrocinadores,cujafaltade«sensibilidadeartís-tica»éassinalável.

EmAngola,éaindamuitodi-fícil conseguir-se apoios para arealização de eventos culturaise artísticos. Quandomuito, vãosurgindoentidadesempresariaisqueamiúdeapostam,sobretudo,emmúsicos da nova vaga, umavez que, por essa via, o retornodos investimentos se pode afi-gurar mais rápido, do que, porexemplo,numaactividadeligadaàsartesplásticas.Daíque, e emfunção dessas dificuldades, tivequeadiaradatadarealizaçãodareferida exposição artística pro-jectada.

No entanto, dois anos maistarde, ou seja em 2002, pude,depois de grande ginástica, rea-lizaressedesiderato,quefoiodeapresentaraopúblicoumamegaexposição artística denomina-da «Kidá: 20 Anos de Gravura/Exposição Retrospectiva», queestevepatenteemMarçodaque-leanonoSalãoInternacionaldeExposições de Arte, do MuseuNacionaldeHistóriaNatural,emLuanda.

A ginástica, engendrada naaltura, com vista à mobilizaçãode apoios, foi mais ou menos aseguinte:

1)Para«Comissário»daexpo-sição, contei com o apoio desin-teressadodoantropólogoVirgílioCoelho, que fez um excelentíssi-mo trabalho de pesquisa formalemtornodagravuraartísticaemAngola,ecujocontributodescriti-vocertamenteajudará,nofuturo,nummelhorentendimentodahis-tóriadasartesplásticasangolanas;

2) Contamos também, para oreferidocatálogo, comum textoassinadopeloHistoriadoreCrí-ticodeArteAdrianoMixinge;

3) O amigo Álvaro Maciei-ra, jornalista e artista plástico,

«encarregou-se» de pôr toda amáquina publicitária a funcio-nar,eatéalguns«troquitos»meterádispensado(retiradosdasuaalgibeira), com vista a suprir acarência monetária que se faziasentir, particularmente na aqui-sição de molduras (com vidros)parasuporteeprotecçãodasgra-vuras;

4)Para a impressãodas avul-tadas matrizes (entre placas delinóleoedexilogravuras),conteicomoapoiodealgunsestudan-tesfinalistasdaEscolaNacionaldeArtesPlásticas,comosquaispartilheiexperiênciasdetécnicasde impressão gráfica naOficinade Gravura da União NacionaldeArtistasPlásticos(UNAP),daqualsoumembroefectivodesde1980;

5) Na selecção das moldurascomvidroeaplicaçãodo«spar-tpartou»,conteicomoapoioas-sinaláveldoSr.Marçal,dasGale-riasNucha;

6) Ora, depois de ultrapassa-das essas e outras questões, fal-tavaalgofundamentalparaumaexibiçãodaqueladimensão,equese transformou num verdadei-ro calcanhardeAquiles: terumcatálogo condigno, que reflec-tisse os vinte anos de percursoartístico. Metemo-nos em cam-po, batendo portas, à busca deeventuaispatrocinadores.Debal-de. Quase todos insensíveis! Asesperanças estavam quase per-didas, quando alguém sugeriu

que fossemos bater as portas daGráficaOffset.Escolhacerta.Foialiqueencontramossensibilida-desuficiente,nomeadamentedosirmãos Brock (Werner e Wol-fram),alemãesresidentesnopaíshálongosanos,quenosconcede-ramumpatrocínioexclusivodocatálogocom32páginasimpres-sascomtextose imagens,sendoacapacompletamenteacores.

Aliás,apaixãodestespelasar-tesgráficaséde tradição– lem-bremo-nosquefoinaAlemanhaonde foram feitas as primeirasimpressões gráficas por via datipografia,invençãoatribuídaaoalemão Gutenberg por volta de1439.

Paranós,foiumaatitudelou-vável.Tivemosinclusiveoprivi-légiodeosterpresentesporaltu-ra da exposição, acompanhadosdospais(eraafamíliaBrockempeso), tendo ela sido inaugura-daporFragatadeMorais, entãoVice-Ministro da Educação eCultura.Tivemostambémopri-vilégiodecontarcomapresençadaescritoraMariaEugéniaNeto,viúvadoprimeiropresidentean-golano,oDr.AntónioAgostinhoNeto.

Segundo observadores, a ex-posiçãofoiumêxito,nãoobstan-teasdifíceiscondiçõestécnicasemateriais,eatémesmofinancei-ras, emque ela acabariapor serrealizada.Foiummarcodeverasimportante,nãosóparaoautor,mas também, e sobretudo, para

a valorização das artes plásticasnacionais, particularmente nadisciplinadagravuraartística.

É óbvio que depois da odis-seia, isso requeria uma come-moração. Ainda que modesta.E assim foi. No dia combinado,todososcaminhosforamdarnomeucubículonoGolfeI,nasre-dondezas do Bairro Malanjino.Foram poucos os convidados.E escolhidos a dedo, porque alogística não dava para muitasflores.Tiveoprivilégiodecontarcomapresençadetodosaquemhaviaendereçadooconviteparaa «tertúlia» emminha casa, emplenoareal.

E lá apareceramomalogradoProfessorJorgeMacedo,oantro-pólogoVirgílioCoelhoeos jor-nalistasÁlvaroMacieira e SalasNeto(esteúltimonaalturaEdi-tor de Sociedade no SemanárioAngolense, e do qual é actual-mente o seu Director Interino).A «almoçarada restrita», regadanaturalmente comumbom tin-toldasTerrasdeXisto(boapartedas «ngalas» havia sido trazi-da pelo bom do Macieira, queas retirouda sua garrafeira), foimemorável. Teve até uma nota,com foto e tudo, no SemanárioAngolense, numa crónica socialassinadapeloamigoSalasNeto.

Durante o almoço, a conversa«deambulou»porváriosassuntos,dapolíticaaodesporto,passandoinevitavelmente pela literatura.Àstantas,oMacieirafezquestão

delembrar,aosdemaispresentes,queoautordessaslinhassempresededicouàescritadealgunspo-emas,quegostariadeverpublica-dos,depoisderevistosporquemsabia. E a escolha recaíra preci-samentesobreJorgeMacedo,quenão se fez de rogado, aceitandoo «desafio» lançado.O professorJorgeMacedoeraumhomemdeCultura de grande dimensão ede sensibilidade extraordinária.Eeramodestodemais!Daíasuaanuência em revisar incondicio-nalmenteosmeus«pobres»textospoéticos.

Até o título da eventual obrajáoÁlvaroMacieiraacabouporsugerir logo-logo: «O Largo dosPoetasPeriféricos».

«Mas porquê esse titulo?». Àquestão, Macieira explica que,aochegaràminhacasa,naqueledia(porestarsituadanumbeco,depois da rua ser engolida porconstruções anárquicas, tive deindicarumlargopróximocomoreferência), ele havia notadonuma parede a seguinte inscri-ção:«Ospoetasperiféricos».Daípara a composiçãodo título, foicanja. Porém, espantosamente,nemmesmoeu,quejáláviviahá«séculos», havia dado conta dainscrição.

Assim, movidos pela curiosi-dade, fizemos um intervalo noalmoçoparaláirmosconfirmar.Eraverdade.Trateidefazerumafotodainscrição,paraquecons-tasse.

Éprovávelquejovensdobair-ro com certa veia poética fizes-semaíastertúliasàsuamaneirae tivessem «grafitado» a inscri-çãolapidar:«Poetasperiféricos».Sópodiaser.Nãohaviaumaou-traexplicação.

Infelizmente, e com o decor-rerdo tempo,o largodeixoudeser largo: no mural adjacente àescolaprimárianascercaniasdaminhacasa, foramerguidosou-tros «casebres» e a grafite «des-coberta»peloÁlvaroMacieiranasua«viagemhistórica»aoBairroMalanjinoacaboupordesapare-cer.Parasempre!

Mas,aomenos,ficaaquiregis-tada a foto, que eu tivera o cui-dado de tirar na altura, para amemóriacolectiva,nestacrónicaescritasobreo«nosso»areal.

P.S.: O desejo da publicaçãodaobraliteráriamantém-se,em-bora,paraoefeito,outragrandeginástica já se projecte no hori-zonte,nabuscadeeventuaispa-trocinadores.■

(*) Artista Plástico e Sociólogo

O Largo dos Poetas Periféricos

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economia

Sábado, 18 de Junho de 2011. 33

Kim Alves

Os salários dos auxilia-res,operários, escritu-rários, dactilógrafos easpirantes da carreira

administrativa vão ter um au-mento de 40 por cento, enquan-toosdas categoriasdogrupodepessoal de técnicosmédios cres-cem20por cento.Os soldosdosfuncionários e agentes adminis-trativos beneficiarão de ajustesna ordem dos 5 por cento. Nomesmoâmbito,serãoaumentadasas pensões atribuídas em regimeespecialaosantigoscombatentes,deficientesdeguerraefamiliaresdecombatentes tombadosoupe-recidos.

A novidade foi bem recebidapelapopulação,sobretudoparaosqueauferemsaláriosmaisbaixos,emboraalgumaspessoastenhammostrado algum cepticismoquanto à medida. Especialistas

em economia não deixaram devirapúblicodizerqueoaumen-to, nas proporções anunciadas,poderácausarsériosembaraçosàactualpolíticaeconómicadoGo-verno.

Apopulação receia que, comojá aconteceu em outras ocasiões,comoaumentosalarial,semquehaja medidas complementarespor parte do Governo, os pre-ços de bens e serviços disparemigualmente, fazendo com que oaumentodenadasirva.

GinaGama,enfermeiradepro-fissão,dissequeamedidaébem-vinda, porque, no seu ramo, ossalários são muito baixos. «Nãoentendocomoépossívelnumpaíscomo o nosso, uma enfermeiraprofissional, com o nível médio,aindaauferiramisériade30milKwanzas, sem contar a falta decondiçõesdetrabalho,sobretudonoscentrosdesaúdemunicipais.Por isso é que se trabalhamuitomalnoshospitais,porquenãohá

incentivonemcondições para sefazermelhor»,desabafou.

Contudo, ela édeopiniãoqueaumentarosaláriosó,nãobasta,«porquemalsefalouemaumen-to dos salários, alguns produtosbásicos começaram a aumentarde preço nos mercados e já vaiaconteceramesmacoisadesem-pre:sobeopreçodocombustívelesobetudonomercado,dostrans-portes,dacomida,daroupa,etc.SobeosalárioetudoaumentadepreçoporqueoGovernonãofis-caliza e só faz política de deixaandar,issonãobeneficiaopovo».

  Augusto Neves, motorista depesados, é da mesma opinião:«quando ouvimos falar em au-mento salarial, todos gostamos,começamos a fazer planos, masnonossopaís,mesmoqueoGo-vernoaumenteos salários a cemporcento,emnadavaimelhorara vida da população. Os apro-veitadores estão atentos e, bastaaumentar alguma coisa, imedia-

tamente, tudo sobe.Assim jávaiaumentar o câmbio do dólar equando as kinguilas aumentam,todoomercadomexe,atéparecequeessaspessoaséquemandamnaeconomiadopaís,nãoéoGo-verno»,sublinhouocidadão.

Defacto,comoanúnciodoau-mentodosaláriomínimoeodasoutras categorias profissionais,questão que está a fazer algumaconfusão nas pessoas pouco en-tendidasnamatéria,pelosnúme-rospercentuaisapresentados,nosarmazénselojas,algunsprodutoscomeçaram de facto a subir depreço.Éassimque1litrodeóleoalimentar,quecustavaentre180e200Kwanzas,jáestáasercomer-cializadoaKz300.Umkgdeaçú-car,anteriormentevendidoa150ou200Kwanzas,passouparaKz250, enquanto um rolo de papelhigiénico, passoudeKz. 40para60.

Ana Santos, doméstica, consi-dera que «não vale nada alguém

ter um grande salário só pelosnúmeros e quantidades de notasquevaireceber,paranãotergran-devalornomercado. Jásabemoscomo é que as coisas funcionamaqui,foisempreassimdasoutrasvezesenãoduvidonadaquenãovaiseramesmacoisaagora.Ésóir aomercado e ver que o preçodopeixe,atédasardinhalambu-la,jásubiu,assimcomoacarneeoutras coisas básicas, como seráentão quando as pessoas come-çaremarecebermesmooaumen-to?»,questionouamulher.

Estessãoapenasalgunspeque-nosexemplosdoquevaiacontecerquandorealmenteseprocederaosaumentossalariais,casooGover-nonãodecretemedidaspunitivasounãoestabeleçaregrasdojogo.ÉprecisoqueinstituiçõescomoaPolíciaEconómica,aFiscalizaçãoe até o Instituto doConsumidorsejamenvolvidas,paraqueocida-dãosejadefactobeneficiadopelasmedidasdoExecutivo.■

«Cheiro» de aumento salarial faz disparar preços

O Conselho de Ministros apreciou, recentemente, em sessão extraordinária, orientada pelo Chefe de Estado, vários Decretos Presi-denciais, que encerram um conjunto de medidas que vão resultar no ajustamento salarial da Função Pública e no aumento do salário mínimo nacional, em 15 por cento. O ajuste salarial, a ser feito já a partir de Julho, tem como base o princípio da diferenciação positi-

va, segundo o qual, beneficiam de aumentos mais elevados os salários mais baixos.

Edel estende serviços ao PanguilaA

Empresa deDistribuição de Electrici-dadedeLuanda(EDEL)vaiexpandirasuaactividadeàcomunadoPanguila,Cacuaco, província de Luanda. Neste

sentido,comvistaamanterosprimeiroscontac-toscomacomunidadeeinteirar-sedascondiçõesdas infra-estruturas eléctricas existentes, umadelegação composta de gestores da EDEL, enca-beçada pela administradora para aÁrea de Pla-neamentoeEngenharia,ClaraSanches,efectuouquarta-feira,15,umavisitaaolocal.

Naocasião,orepresentantedocoordenadordoPanguila, Sousa Manuel, aproveitou para apre-sentar as futuras instalações da EDEL, além deterdissertadoaosmembrosdadelegaçãosobreasnecessidadesquealocalidadetemnosectoreléc-trico.

Porseuturno,ClaraSanchesassegurouque,aníveldaEDEL,jáestáemmarchaoprocessoqueculminarácomasuaimplementaçãonoPanguila,explicandoqueavisitaoraefectuadaéummarcopara o cumprimento desse propósito. «Há todoum processo burocrático que deve ser seguido,mas,paralelamenteaisso,haveránecessidadede

se fazerum levantamentodaredeexistenteparatermosumapercepçãodosinvestimentosquete-remosdefazer»,disseClaraSanches.

Nofinaldavisita,osmoradoresdisseramestarsatisfeitoscomapresençadosgestoresdaEDEL,vistoque,paraeles,issovairepresentarmelhoriasfuturasnofornecimentodeenergiaeléctrica.Ál-varoCosta,presidentedaComissãodeMoradoresdoPanguila,disseestarexpectantequantoàim-plementaçãodaEDELnasuacomuna.

«Conhecemos o potencial da EDEL, sabemosque é uma empresa parceira doGovernodeLu-andanoquediz respeitoà energiaeléctrica,porisso,aexpectativaégrande.Apopulaçãoestáale-gre,porqueacreditamosque,doravante,vaihavermelhorias.PodemosdizerqueoabastecimentodaenergiaaquinoPanguila,aindanãoédosmelho-res.Hásectoresqueestãosemenergiahámaisdequatroanos»,afirmou.

Na Comuna do Panguila estão edificadas10.500residências.Ocontactodestaquarta-feirasurgenasequênciadeumavisitaefectuadaante-riormentepormembrosdoGPLedoConselhodeAdministraçãodaEDEL.■

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economia

34 Sábado, 18 de Junho de 2011.

N. Talapaxi S.NunesAmbriz(Foto)

Com um cartão pré-pagoparaousodoparquedeestacionamento por umdeterminado período,

conformeasnecessidades,oclienteganhamaistempoemaisconforto.Não tem que esperar pelos aten-dentes.Podeapanharo seucarro,passarpelaschancelasdeseguran-ça depois de reconhecer o créditocomopróprio cartãonumacaixaelectrónica-chamadade«estação»- postada no acesso aos veículos.Uma«caixa»paraaentradaeoutraparaasaída.Epronto!

Osistema,quenãoénenhumanovidade para «nós», é o recur-so no qual investiu recentemen-te o primeiro Parque «vertical»de estacionamento de Luanda,conhecidopor «SiloParque», lo-calizado na região da Marginal,entre a avenida «4 de Fevereiro»e a rua Major Kanhangulo, nomunicípiodas Ingombotas–portrásdoMinistériodosPetróleos.Um equipamento para omesmofim,quehaviasidoinstaladocoma construção do prédio, danifi-cou-seefoidesactivadoporfaltade assistência técnica, quase dezmesesdepoisdainauguração,queocorreuemMaiode2009.

Facilidade

Aactualmáquina,assimcomooutrasmodificaçõesfeitasnolo-cal, é resultado das diligênciasfeitaspelanovaempresagestorado parque - a «Spauto», há trêsmeses em actividade, confor-meadeclaraçãodeumdos res-ponsáveis, Olímpio Silva. Alémde facilitar a vida da clientela,maioritariamente constituídapor funcionários que trabalhamnaquelasimediaçõesdaBaixadeLuanda,onovoequipamentofa-cilita a gestãodo estacionamen-to e permite um balanço maissatisfatório das rentabilidades,deacordocomCarlosLima,en-genheiro electrónico industrial,quefalouemexclusivoaoSema-nárioAngolense.

Umdosresponsáveispelapro-gramação e a instalação damá-quina no parqueamento, o en-genheiro Carlos Lima acentuouque «as receitas aumentaramporque consegue-se controlartudo:asvagasparaestacionar,o

número de carros que entram esaeme as receitas», factoque sereverte emmelhoriasna satisfa-çãodopúblico.

Máquina de trocos

De fabricação suíça e ajustadatecnicamente ao mercado ango-lano,o engenhoédotadodeumsensor programado para reco-nhecer até notasmais «sacrifica-das»pelo excessivouso (salvoasexcepções).Esteaspecto foipon-deradoobservando-sequegrandepartedodinheiroimpressocircu-lamanualmentenomercadoepormuitotempoemcondiçõesqueo«deterioram»impetuosamente.

O cliente pode introduzir noaparelho notas de 50, 100, 200,500, 1000 e 2000 kwanzas. Amáquinanão aceita notas de 5 e10 kwanzas pois, para os preçospraticados no estebelecimento,requer-seumagrandequantidadedessas notas; o armazenamentodessesvolumesdiminuiriaaren-tabilidadedamáquina.

Paradar o troco, antes dede-positarodinheironocofreinter-no, o aparelho tem a capacidadede acumular até cem notas de50,100e200–cadavalornoseucompartimento,levandoemcon-ta que o preço por uma hora de

estacionamentoéde200kwanzase muitos pagamentos são feitoscom as notas acima das de 200kwanzas. Nessa configuração asrestantes notas são directamentearmazenadasnosseusrespectivoslugares.Nocasodo«SiloParque»,consoante as declarações do téc-nicosuperior,esteequipamentoécapaz de amealhar o correspon-dente a mil a 1.500 dólares, de-pendendotambémdomovimen-to e do valor das notas a seremusadaspelosutentes.

Convencimento

Ousodamáquina,comocartãopré-pago,nãodispensaaalternati-vadopagamentonocaixacomoéconvencional,referiuCarlosLima.Amáquinafoiumapropostaparaexperiênciaqueaempresa«Multi-frotaAngola»fezequepoderiaserpagaconsoantecondiçõesdeamor-tização estabelecidas pelas partes.A«MultifrotaAngola»,comaqualCarlos Lima alinhou uma parce-ria,emprincípioapenasforneceueinstalouasestaçõesdeentradaedesaídapelaschancelasdesegurançanoacessoaoparque,dentrodaapli-caçãodonovosistemainformático.

Noentanto,atentoàsvantagensnousodoequipamentoduranteoperíododeexperiência,segundooengenheiro,osgestoresdoempre-

Acomodação de veículos na Baixa de Luanda

Estacionamento «vertical» com auto-atendimento

A máquina instalada «por acaso» à entrada do parque-edifício ganha a simpatia dos clientes e a atracção da empresa gestora do es-tacionamento. Abre-se, no mercado angolano, outra uma via para o «testemunho» da marca lusitana de parqueamentos, a Multifrota.

Caro, mas cómodo O

parque «vertical»de estacionamen-to, feito de estru-tura metálica com

laje betonada, é propriedadedo Governo Provincial deLuanda (GPL) e é exploradoem regime de concessão, pelagestora «Spauto», por tempoindeterminado, revelouOlím-pio Silva, um dos gerentes.A estrutura possui 217 vagasdasquais,actualmente,36sãoocupadas por clientes mensa-listas.Temseispisos(otérreomaiscincoandares)e20 fun-cionários. O custo do serviçode parqueamento varia entre200 kwanzas (por cada hora)a1.450kwanzas(por8horas).

Porsuavez,ataxadiáriaéde1.400 kwanzas e a mensal de42.000kwanzas.

Todavia, apesar da satisfa-ção dos usuários pelos prés-timos, duma maneira geral,ospreçosparecemsernomo-mento a maior reclamação.Assim o deixou bem claro afuncionária da ENSA,Catari-naSousa,quesaidaVilaAlicee parqueia o seu veículo dasoitoàs16horas.Paraaclienteo preço alto do serviço se re-vela cada vez que é obrigadaa pagar 200 kwanzas quandopassa um minuto sequer dotempo de tolerância (de dezminutos) que deve retirar ocarro. No entanto, a comodi-

dade é amelhor vantagemdousodoestacionamento.

Manuel Diogo é outro fre-guêsdo«SiloParque».ElevemdobairrodoBenficaedeixaoautomóvel por oito horas noestacionamento das quais ovalorquepagaconsideracaromas acha que acompanha omercado.Poroutrolado,tendoemcontaosbenefícioseapou-caexistênciadessetipodeser-viçonacidade,ataxacobradaétolerável,julgaocliente,paraqueousodamáquinadeauto-atendimentoéumatecnologiaaserviçodaqualidade.■

N.T.S.

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economia

Sábado, 18 de Junho de 2011. 35

endimento,emvistadisso,mostra-ram-se propensos a adquiri-la. À«MultifrotaAngola»alémdaven-da, encarrega-se da manutenção.No que concerne à comercializa-ção, a «MultifrotaAngola» detéma representação da marca sueca«ZEAG» e vende este modelo deengenhosobencomendaporapro-ximadamenteUSD37mil.Oequi-pamento é fabricado sob medidaporissolevamaisoumenostrintaa45diasdopedidoaentrega.

Consoante Carlos Lima, opessoal técnico necessário paralidarcomoserviçodemanuten-ção, dummodo geral é de nívelmédio, e precisa ter conheci-mentos essencialmente de elec-tricidade e computadores. Noentanto, faz-seuma«moldagem»da mão-de-obra para responderdeterminadas áreas. Proxima-mente, conforme o engenheiro,alguns quadros serão enviados aPortugal para uma formação es-pecífica.Antesdo «SiloParque»,Carlos Lima buscou introduzir,semsucesso,osistemadas«suas»máquinas no estacionamento doAeroporto Internacional «4 deFevereiro», antes das reformasque lhe deram o novo visual, enoparqueamentodoBelasShop-ping.Emperspectivaoengenhei-ro conta com o funcionamentodosequipamentosnofuturopar-que do «Empreendimento Co-mandanteGika»–omegacentroempresarial,habitacionaledene-gócios,consideradoomaiorpro-jectoimobiliáriodopaís,doqualfazparteoLuandaShopping.■

A directora-geraldoInstitutoNa-cionaldeDefesadoConsumidor(INADEC), Elsa Bárber, disse,quarta-feira, 15, que os consu-

midores angolanos têm apresentado mui-tas reclamações em tornodaprestaçãodeserviçosdetelecomunicações,comérciodeelectrodomésticosedebensalimentares.

SegundoagestoraemdeclaraçõesàAn-gop,oINADECtemrecebidotambémmui-tas reclamações sobre as concessionáriasdeveículosautomóveisealgumasrelativasaáreadeseguros,emcontrapartida,infor-mou que, nessa altura, não temnenhumaqueixasobreabanca,porquetêmsidobemresolvidososconf litossobreessesector.

ElsaBárberinformouquegrandepartedasreclamaçõesprendem-secomafaltadeassistênciatécnicapós-venda,nocomérciodeelectrodomésticos,desrespeitodospra-zos de garantia, rejeição de devolução debensassimcomoa faltade trocosnoacto

da compra de produtos. «Em suma, dissea responsável do INADEC, os direitos doconsumidornopaísaindanãosãoobserva-dosnasuaplenitudeporqueconstatam-semuitasviolaçõesnasrelaçõesdeconsumo».

Para conter tais situações, a directoradissequea instituição tem levadoacabocampanhasdesensibilizaçãoa todossec-tores da sociedade assim como realizadovisitas a estabelecimentos para avaliar,entre outras, as condições de acondicio-namentoedeproduçãodebens.

Relativamente à pirataria, referiu querecebem muitas reclamações de empre-sários, sobretudo de produtos contrafei-tos,enessescasosoINADEClimita-searecolheramostraseenviá-lasalaborató-rios nacionais ou estrangeiros, caso sejanecessário, para apurar a qualidade dobem, porque assuntos de contrafacção éuma matéria da competência da PolíciaEconómica.■

Segundo a directora do INADEC

Serviços de telecomunicações são os campeões de reclamações

O Ministério dos Pe-tróleos reuniu-se,quinta-feira, 16, emLuanda, em semi-

nário, com cinco companhiaspetrolíferasqueoperamnopaís(ESSO, Total, BP, Chevron eSonangolPP),para trocadeex-periênciasobre«HigieneIndus-trial no Sector Petrolífero emAngola». A realização de umareuniãoplurianualentreaAsso-ciação das Companhias de Ex-ploraçãoeProduçãodePetróleodeAngola (ACEPA) e oMinis-tério dos Petróleos, para umamelhoria significativa da saúdedostrabalhadoresangolanosnosectorpetrolífero,emespecialoscontratados, estiveram na baseda realização do seminário. Osemináriovisouigualmenteme-

lhoraroníveldeimplementaçãodos requisitos técnico-profis-sionais durante as operaçõespetrolíferas.Naaberturadose-minário,ovice-ministrodosPe-tróleos, Aníbal Silva, salientouque falar da higiene industrialé relacioná-lacoma saúdeocu-pacionalecomasegurançadostrabalhadores. De acordo comAníbalSilva,aprevençãonousodeprodutosquímicos,aprotec-çãodos trabalhadoresna expo-sição de determinados agentesnocivos, o ambiente de traba-lho apropriado e adequado, aostrabalhadores, são práticas queas operadoras e demais compa-nhia devem, obrigatoriamente,implementar, sem prejuízo daaplicaçãoda legislaçãonacionalouinternacional.■

Para abordar segurança e higiene no trabalho

Ministério dos Petróleos reúne com petrolíferas

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Sociedade

36 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Umgrupode funcioná-rios entrou com umaacção na justiça, con-tra a direcção do res-

taurante Cais de Quatro, à IlhadeLuanda,devidoaumalegadocaso de despedimentos arbitrá-rios, tacismo e maus tratos nolocaldetrabalho,soubeoSema-nárioAngolense.Deacordocomrelatosdos trabalhadoresdaque-le restaurante, eles convivem háoito anos, praticamente desde acriação, comuma série demaustratos,protagonizadospelospro-prietáriosdo restaurante e o ge-rente – identificado unicamenteporDaniel–,todosdenacionali-dadeportuguesa.

Osdespedimentos tidos comoarbitrários tiveram como baseos acontecimentos do dia 23 deAbril do corrente ano, em quetrês empregados entraram emchoque com os patrões. Segun-do as nossas fontes, naquele diaeles foramobrigadosa trabalhardebaixodechuvaesobcondiçõespéssimas,tantoqueforamospró-prios clientes que reclamaram,argumentando que não podiamser atendidos nas condições em

que se encontravam os empre-gados: completamentemolhadospela chuva, com as calças enro-ladas até ao joelho e as mangasarregaçadas.

«Nahotelaria,o funcionárioéumelementomuitosensível,poislida com alimentos. Por isso, asua imagem e os utensílios queusa devem merecer muita aten-ção», observa umdos elementosdogrupodosdespedidos.

Noreferidodia,doisemprega-dosreclamaramjuntodopatrão,dizendo que não podiam traba-lharnaquelascondições,emres-posta, ouviram o cidadão lusodizer,deformaarrogante:«quemmanda aqui sou eu e quem nãoquiser trabalhar, vai para casa”.Chegouamandarossegurançasexpulsarem os jovens, mesmodebaixodefortechuva.Umdelesfoi despedido na mesma hora eosdemaisaindavoltaramnodiaseguinte para a habitual substi-tuição dos turnos,mas tambémforam surpreendidos com a or-demdedemissão e consequenteexpulsãodoestabelecimento.

Dois dias depois, à lista dosdespedidos, sem nenhuma jus-

tificação, foramadicionadosno-mesdeoutros funcionários,quejáseencontravamsuspensosportempoindeterminado.

Os funcionários do restau-ranteCais deQuatro reclamamainda dos actos de crueldade eracismodequeeramvítimas.Agerênciadizqueonegronaquelerestaurante só temdeveres, nãotem direitos. «Os funcionáriossãoobrigadosacomerempratosde plástico, para que não con-taminem os pratos dos clientes(conforme dito pelos patrões)»,segundoanossa fonte.Alémdosalário, os funcionários angola-nos não têm nenhum outro be-nefício, como segurança social,ajudas de custos em caso de al-gum infortúnio, não podendo,sequer, ser transportados pelocarro da empresa, que é de usoexclusivo dos trabalhadores ex-patriados.Comoseissonãobas-tasse,osdescontos são frequen-tes. Há desconto para tudo. «Jávivemos uma situação em queumcolegafoidescontadoporterfaltado para assistir ao enterroda própria mãe»(?!), lamenta-ram-se

No restaurante Cais de Quatro

Funcionários acusam patrões de racismo e maus tratos

António Vieira, co-proprietário, ironiza

«Isso é para rir»E

m declarações ao Semanário Angolen-se, António Vieira, co-proprietário dorestauranteCaisdeQuatro,dissequeasacusações são infundadas e que os fun-

cionáriosnemsequerestãodespedidos. «Os fun-cionários em causa simplesmente recusaram-sea trabalhar. Essa é uma situação que decorre hádois meses, e há ummês que esses funcionáriosestãosuspensos,noâmbitodeumprocessodisci-plinar»,justif icou-seAntónioVieira.

Ele fez saber que a situação está a ser tratadapelos advogados das duas partes. «Ainda ontemestevecáoadvogadodelesafalarcomanossaad-vogada. Foi na semana passada que a nossa ad-vogada esteve no Ministério da AdministraçãoPública, Emprego e Segurança Social (MAPSS) atratar justamentedesseassunto.Portanto,opro-cessoestáadecorrer»,revelou.

Quando aos alegados casos de racismo emaustratos, António Vieira desvalorizou completa-mente,dizendoqueéapenasumartifícioqueestáaserusadopelosfuncionáriospara«atingiremosseus f ins. Isso é para rir, então você é vítima demaus tratos e racismo e ainda assim trabalha 8anos? Muitos desses funcionários estão connos-codesdeoprimeirodia.Sabequequandonãoseconseguede uma forma tenta-se de outra. É issoque estão a fazer», argumentou. O gestor mos-trou-se confiante na resolução do caso pela jus-tiça,esperandoqueasituaçãosejaresolvidacomamaiorbrevidadepossível.«Nósfazemosoquealeimanda,nãoestamosacimadalei.Oempregadotemobrigações e deveres, assim como emprega-dortem,énessabasequetrabalhamos»,declarouAntónioVieira.

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Sociedade

Sábado, 18 de Junho de 2011. 37

Telma Dias

Mais um caso de as-sassinato, por me-liantes, ocorreu namadrugada de sá-

bado, 11, no bairro Petrangol,municípiodoSambizanga, ten-doavítima sido JoãoMalanga,tambémconhecidopor Jojó,deapenas 18 anos de idade, estu-dantedaquintaclasse,naesco-ladaMisericórdia,elavadordecarro.

Avítima foibaleadapor seismeliantes,que invadirama suaresidência.Ojovem,primogéni-todospais,viviaaindaemcasados progenitores, num quintalcomum, quando os ladrões ar-rombaram a residência em quevivia, numa altura emque Jojóseencontravaadormir,nasala,comumirmãomaisnovo.

«Eles entraram e roubaramuma botija de gás, de seguidapediram dinheiro ao Jojó, queele não possuía. No momentoemqueelesaiadasalaemdirec-ção ao quarto damãe, osmal-feitoresmanipularam as armase alvejaram-no na parte trasei-ra da cabeça», afirmouManuelMalonga,opai.

Ferido, Jojó permaneceuprostrado em casa a esvair-seemsanguee sóminutosdepoisfoi transportado para um cen-trodesaúde,«AgostinhoNeto»,próximo de casa, onde recebeuos primeiros socorros. Trans-feridoparaoHospitalAméricoBoavida, o jovem não resistiuaosgravesferimentos.

O pai do falecido informouqueeramseis criminosos,qua-tro dos quais cercaram a resi-dência e dois entraram, arma-dos com umametralhadora demarca«Miniuse» emascaradoscom panos de cores diversas.Precisouqueserecordadasvo-zesdosassaltantes,poisfoiase-gundaacçãoàmãoarmadaqueosmesmosmeliantes perpetra-ramcontraasuacasa.

Segundo informações colhi-das pelo Semanário Angolenseno local, tudo indica que Jojójáestavaaserperseguidopelosseus algozes, porquemeses an-teshaviaalugadoumquartonoquintal em que os pais vivem,Os assaltantes chegaram, ar-rombaramaportaeexigirama

quantia de cincomil Kwanzas,no mês seguinte, os meliantesvoltaram,masnãoconseguiramrealizarosseusintentos,devidoa que a família gritou por «so-corro».

Manuel Malanga informouqueapresentouqueixaàPoliciaNacional. «Pensamos que, comessas informações, a DINICpoderia investigar o caso, apa-

nhandoosmeliantesquetermi-naramcomavidadomeufilho,mas, infelizmente,nãoestamosavernada,nemsequerapresen-çadapolíciacádentrodobair-roparaseinteirarse,desdequemorreuoJojó,obairroestáain-daasofrerameaças»,lamentou.

A vizinhança contou que,ultimamente, o bairro vive deperturbações e desassossego,

devido aos grandes grupos debandidosqueseestãoaformar,pois o local está às escuras háummês,logo,onúmerodeme-liantestendeaaumentar.

Todos os dias ocorrem as-saltos, os bandidos invadem amesmacasamaisdeduasvezes,como aconteceu com um ex-morador,conhecidoporZé,quevivianoreferidoconglomerado

masque,devidoaosconstantesataquesàsuaresidência,foifor-çadoamudardebairro.

«Agora sou morador de Ca-cuaco,mudeideresidênciahájáduas semanas, fui a vítimanú-meroumdosbandidos.Assalta-ramaminharesidênciaportrêsvezes.Naprimeiravez,levaramabotija,aseguir,ageleiraeàúl-timavezvierambuscardinhei-ro,novalorde10milKwanzassóparaquemedeixassemcomvida»,recordoucomamargura.

Os munícipes daquela peri-feria queixaram-se também daausênciadeumaesquadrapoli-cialmóvel no local e que rara-mentepassaumcarrodapatru-lhaacimadasvinteduashoras,oquefacilitaapráticadoeleva-doíndicedeactoscriminosos.

Eva Dala, solteira, moradorahámaisde30anos,contouquefoiigualmenteassaltadaemtrêsocasiões, a últimadasquaisnasemana passada, em que inter-vieram trêsmeliantes, tambémmascarados. Primeiro levaramumabotija,aseguir,umapare-lho,depois,comojánãoencon-trassemalgodevalor, furiosos,agrediramaindefesamulher.

«Como vivo sozinha, pega-ram-meno cabelo, arrastaram-me até ao quintal e disseram-me que não gritasse, pedindodinheiro.Eudisse-lhesquenãotinha, entãocontinuaramaba-ter-me, deram-me um pontapénorosto,emdirecçãoàsvistas,ao ponto de cobrir de sangue.Rasgaram-me a roupa toda edisseram-me: ‘tens muita sorteque estamos commuitapressa,porquesenão,iríamosteviolar’.Daí eles retiraram-se emanda-ram-meentrar»,salientou.

Até às 22 horas, já ninguémcircula pelo bairro e caso seande, tem necessariamente deseracompanhadoporumgrupode pessoas. O silêncio, omedoeapenumbratomamcontadosmunícipes.Osmeliantes,nafal-tadearmadefogo,usamarmasbrancasougarrafas,paraagre-dir e assassinar sem piedade, éassimocenáriodetodososdiasnobairroPetrangol.

Contactadaporeste jornal, aesquadradoS.PedrodaBarra,o comandante, conhecido por«batefeio»,dissenãoterconhe-cimentodaocorrência.■

No bairro Petrangol, moradores sem protecção

Jovem assassinado por meliantesManuel Malanga informou que apresentou queixa à Policia Nacional. «Pensamos que, com essas informações, a DINIC poderia

investigar o caso, apanhando os meliantes que terminaram com a vida do meu filho, mas, infelizmente, não estamos a ver nada, nem sequer a presença da polícia cá para se inteirar se, desde que morreu o Jojó, o bairro está ainda a sofrer ameaças», lamentou.

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Sociedade

38 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Ilídio Manuel

O projectoestá,aindano«segredo dos deuses»,mastudoapontaqueaescola3007, localizada

defronte ao Governo ProvincialdeLuanda, venha a serderruba-da para, no seu lugar, ser ergui-do mais um arranha-céus. Maisumadasmuitas«torres»queen-xameiamacidadedeLuanda,noquadrodapolíticado «Betão ar-mado»emcursoou,antes,o tãopropalado«Canteirodeobras».

À semelhança do que aconte-ceu com a sua congénere loca-lizada no gaveto da avenida 1.ºCongressodoMPLA,esta escolahistória, cuja existência remontaaos anos 50, poderá também su-cumbir, vergada ao peso de in-teresses imobiliários de carácterprivado.

A concretizar-se este projecto,não sóumaparte importantedanossa história se apagará, comotambémmilharesde alunos cor-rerãooriscodeficarsemaulas.

Osdadossãoescassossobreoas-sunto,masfontesconhecedorasdosmeandrosdo«negócio»juraramapésjuntoaoSemanárioAngolensequeaescola3007«estáporumfio».

«Nãomeadmiraque, cedooutarde,sejaerguidonaqueleespaço

umprédio,depoisdoqueaconte-ceucomaescolaqueficavajuntoàesquinadoPaláciodosCongres-sos»,afirmaumantigoestudanteda escola 7, agora denominada

«escola307».Ele,quediztercon-cluídoa4.ª classena referida es-cola,édeopiniãoque,aoinvésdecederoespaçoàgestãoprivada,o«aescoladeviaserampliadapara

construçãodemaissalasdeaula».«Neste andar da carruagem,

nãoadmiraqueopróprioedifí-cio do GPL venha um dia tam-bém abaixo», prognosticou o

ex-estudantedaescola7,visivel-menterevoltado.

No GPL, mais concretamentenoseuInstitutodeGestãoUrba-nadeLuanda (IPGUL) fala-se, àboca pequena,mas ninguém as-sumediantedo jornalistaanotí-cia sobre se a escola serámesmo«varrida».

Natentativadecruzarasinfor-mações, o SA abordou, na terça-feira, 14,por telefone,o chefedeDepartamentodeCadastrosdes-sa instituição, arquitecto SoaresdeCampos,quedissenãoter«co-nhecimento do assunto». Comoquea«sacudiraáguadocapote»,remeteu o jornalista para tratardoassuntoaum«outronível».

Contactadonaquinta-feira,16,odirector-geraldoIPGUL,arqui-tecto Hélder José, disse que nãotinha «nenhum conhecimentooficialsobreoassunto».

Umafonteafectaaoórgãorei-tor da Educação revelou ao SAque tinhaapenas«conhecimentooficioso»doassunto,masquenãoestava em condições de avançarmaiselementos.

Fontes convergentes revelaram,entretanto,aoSAqueasnegociaçõesparacedênciadoespaçoestavamacargo da JATALIA, Lda, uma em-presadedireitoangolanoqueactuaemváriosramosdomercado.■

Para dar lugar a um projecto habitacional e comercial

Mais uma escola histórica à baixa de Luanda em vias de ser «varrida»

Depois de a escola 3006, localizada à avenida 1.º Congresso do MPLA, em pleno coração de Luanda, ter sido «competentemente varrida» para dar lugar a um projecto habitacional de cunho privado, mais uma instituição de ensino poderá proximamente conhecer

o mesmo fim. A confirmar-se a cidade capital perderá mais um edifício histórico, que tem mais de meio século de existência.

Naquarta-feira,15,oautordestaslinhasdeslocou-seaosescritóriosdareferidaempresa, localizados ao Bairro Azul,ondefoiinformadoqueodirector-ge-

raldaJATALIA,TeodoroPoulson,seencontravareunido,tendoparaoefeitoindicadooseuime-diatoparasubstitui-lonocontactocomojorna-lista.

Abordado sobre o assunto, JorgeMuteka Ro-cha,director-geraladjuntodaempresa,afirmouqueanotícia«nãocorrespondiaàverdade»,ten-

do,noentanto,solicitado«unsminutos,paraseinformarjuntoàáreaImobiliáriadaJATALIA».Devolta,dissequeasuaempresanadatinhaavercomocaso.

Volvidos 45 minutos, Teodoro Poulson entraemcontacto como jornalista, por via telefónica,paralheinformarqueaJATALIA«nãoactuavanoramoimobiliárioequeanotíciaerainfundada».

Deixandotransparecerumacertainquietação,par-teparaaameaçadirecta:«AJOTALIAiráprocessar-lhejudicialmente,seanotíciaforpublicada».■

Responsáveis contradizem-se

JATALIA, Lda a duas vozes

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Sociedade

Sábado, 18 de Junho de 2011. 39

Ilídio Manuel

Umanúnciodeofertade empregoestampado na edição de quarta-feira,15,noJornaldeAngolaestáa ser considerado não só discri-

minatório, como tambémbastanteofensivoparaosangolanos.

Oanúncio,queterá,certamente,passadodespercebidoaos leitores,solicitaaoscandi-datosaumdeterminadoempregoa«Duplanacionalidade»,dentreoutrosrequisitos.

Segundoo anúncio, a vagadestina-se aoprovimentodeumlugardeGestorHoteleiro,à qual os candidatosdeverão aindapossuiruma«experiêncianafunção(3/4anosGes-tão),foconasvendas,conhecimentosconta-bilísticos,serbomcomunicador».

OfuturoGestorhoteleiroterácomotare-fasa«gestãofinanceiradaempresa,gestãodoquadroRH,controlodevendas,focoemob-jectivosecontrolodocaixa».

Emboranãotenhasidopossívelapuraronomedaempresaquefezpublicaroanún-cionos classificadosdo JornaldeAngola,já que tal foi divulgado através da Sélect,

RecursosHumanos,umaempresainterme-diárianacontrataçãodemão-de-obra,édado

adquiridoqueaempresaempregadoraé,curio-samente,pertençadeumcidadãoangolano.

Istomesmo foi confirmadoaoSema-nárioAngolensenaquarta-feira,15,porumafontedaquelaempresaque,comosesabe,temcomoobjectosocialorecruta-mento e encaminhamento de trabalha-doresparadistintasempresasdomerca-dodotrabalho.

À primeira vista, ficou-se com a ideiadequeo«inovador»requisito«Duplana-cionalidade» poderia estar relacionadocomanecessidadede se contornar even-tuais barreirasmigratóriasporpartedoscandidatosaoemprego,numaperspectivadequeeleviajariaconstantementeparaoestrangeiro emmissão de serviço. Nesteângulodeleitura,ofuturoGestorhotelei-roteriaamissãofacilitada,vistoquedis-pensariaa solicitaçãoconstantedevistosdeentradajuntodosdistintosconsuladosdossedeadosemLuanda.Ledoengano!

Mas,umaleituraatentaaoanúncio le-vou-nosaafastarestahipótese,vistoque,noâmbitodascompetênciasaserematri-buídasaofuturoGestorhoteleiro,aseven-tuais viagens ao estrangeiro não faziampartedo«pacote».■

Empresário angolano tem preferência por expatriados lusos

Oferta discriminatória de emprego no Jornal de Angola

Abordada sobre o anúncio,a Select, Recursos Huma-nos diz que ainda tentouchamar à razão o referido

empresárionosentidodeestealteraroconteúdodoconcurso,mas,surpreen-dentemente, ele teráditoquepreferiaum português, com dupla nacionali-dade,aoinvésdeumangolanocomomesmoestatuto.

Numa linguagem terra-a-terra, te-riadito:«Queroumbrancoenãoumnegro».

Um jurista contactado a propósitopeloSemanárioAngolensenessemes-modiadisse queo requisito impostopeloanúncioconstituíaum«actodis-criminatórioparaosangolanos,sobre-tudoparaosdetentoresdeumaúnica

nacionalidade».Considerou que a Lei da Naciona-

lidadeAngolana, embora não admitaexpressamentea«DuplaNacionalida-de»,tambémnãoaproibe,daíqueaoexigir aduplicidadedenacionalidadeaos candidatos, como condição paraaobtençãodessepostode trabalho,oanúncio estava a colidir frontalmentecomaLeiGeraldoTrabalhoemAn-gola(LGT).

Frisouaindaqueoanúncioeraum«tanto quanto absurdo», já que o po-deria ser entendido como «um certi-ficadode incompetênciacolectivaaosangolanos»,recordando, que o Direi-to ao Trabalho estava consagrado naConstituição e que esta não faz refe-rênciaàduplanacionalidade.■

«Um absurdo», considera jurista

Um cidadão foi assal-tado, ao meio da ma-nhã de quarta-feira,15,minutos depois de

terabandonadoasinstalaçõesdoBanco Internacional de Crédito(BIC), localizado na estrada doLardoPatriota,aoBenfica.

Oassaltoocorreuquandoore-feridohomenseencontravajánointeriordasuaviatura,umKia,decorbranca,comachapadematrí-culaLD-43-77,CZ,eseaprestavaa colocá-la em marcha. Os me-liantes,quesefaziamtransportarnuma carrinha demarcaMitsu-bishi,cujamatrículanãofoipos-sívelapurar,abeiraram-sedavíti-ma,e,sobameaçadeduasarmasdefogo,obrigaram-noaentregarosvaloresquetraziaconsigo.

Depoisda «colheita», elesme-teram-seemfuga,semdeixarras-todocrime.

Soube-sequeolesadofoitam-

bém«empacotado»pelosmelian-tes, que lhe reviraram os bolsosdascalças.

Avítima,quenãoquisrevelarasuaidentidadeaoSA,disse,en-tretanto, que os assaltantes sub-

traíram-lheaquantiadeKZcin-quenta(50)mil,doistelemóveiseaschavesdasuaviatura.

No recontro com os assaltan-tes,avítimaacabouporserferidanacabeça,poracçãodeumaco-

ronhadaquefoidesferidaporumdosmeliantes.

Testemunhas disseram queo lesado terá ainda oposto umacertaresistência,masquenãofoisuficienteparademoverosassal-

tantes. «Foi tudomuitorápido»,descreveuumadas testemunhas,aindamalrefeitadoabalo.

Segundo informações colhi-das no terreno, os assaltantesencontravam-se, antesdoassaltoestacionadosdefronteaobancoeterãoacompanhadotodososmo-vimentosdavítima,quandoestaainda se encontrava no interiordoreferidobalcãodoBIC.

Suspeita-sequeeles terãocon-tado com a colaboração de umcúmplice que, eventualmente,poderia terestadono interiordobancoe,depois,reportadoosmo-vimentosdavítima.

Alertados por um telefonema,doisagentesdapolícia,quesefa-ziam transportar numa motori-zadaparticular,deslocaram-seaolocal, limitando-seaconfirmaraevidênciadosfactos.■

Ilídio Manuel

Assaltantes munidos de armas de fogo

Cidadão «aliviado» à saída do banco ao «Lar do Patriota»

Page 40: Semanário Angolense Nº 421

Sociedade

40 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Desta feita em Cacuaco

Crianças desmaiam por inalação de produto tóxico

Com estes 18 alunos, contabilizam-se 128 vítimas, desde que começou a onda de desmaios por inalação de produtos tóxicos em esco-las, não tendo, até ao momento, sido descoberto o nome e a proveniência do produto nem quem o esteja a disseminar.

Romão Brandão

Pelo menos, 18 alunosda escola do primei-ro ciclo nº 8084, de-nominada São João e

Deus,nomunicípiodeCacuaco,desmaiaram,napassadaquarta-feira, 15, depois de terem inala-doumprodutotóxico,atéagoradesconhecido.Julga-sequesejaomesmoproduto surgidonasde-mais escolas luandenses, e nãosó, onde ocorreram situaçõesidênticas.

Nos últimos tempos, tornou-se frequente, nos meios de Co-municação Social, a veiculaçãode notícias sobre desmaios dealunosemescolas,devidoàina-lação de produtos químicos deproveniênciadesconhecida.

Segundo a directora daqueleestabelecimentodeensino,Veró-nicaMiguel, eramprecisamente16horas,quandoalgumascrian-çascomeçaramaterdificuldadede respirar e, posteriormente,«bem no momento em que elasse dirigiam ao portão principalparaabandonarorecinto,foramdesmaiando.»

Acrescentou que, no mesmodia, um total de 17 crianças quehaviam desmaiado foram socor-ridaselevadasaohospitalmuni-cipale,namanhãdodiaseguinte,maisumrapaz tambémafectadofoi levado para o centro médicomaispróximo.Destenúmero,15sãodosexofemininoetrêsrapa-zes.

A nossa interlocutora deu aconhecer que a DNIC (DirecçãoNacional de Investigação Crimi-nal) está a averiguar o caso,mascontinuasemresposta.Enquantoisso,asaulascontinuarãonormal-mente.

Éaprimeiravezqueeste inci-dente ocorre naquela escola, deacordo com a responsável, queconsiderou «muito estranho»,porqueos seus alunosnão lidamcomprodutosquímicos,poisoes-tabelecimentoestádesprovidode

laboratórios. «Pode-sedarocasodealguémtertrazidotalprodutopara dentro do recinto, não seiquem teria essa coragem, porqueassim se põe a vida das criançasemrisco»,disseaconcluir.

Com estes 18 alunos, contabi-lizam-se 128 vítimas, desde quecomeçouaondadedesmaiosporinalação de produtos tóxicos emescolas, não tendo, até ao mo-mento, sido descoberto o nomeeaproveniênciadoprodutonemquemoestejaadisseminar.

Os desmaios por acção do es-tranho veneno começaram aregistar-se, primeiramente, noinstituto politécnico nº 6052, noNova Vida, tendo na altura assuspeitas recaído sobre os labo-ratóriosdareferidaescola,quefoireabertoumdiaantesdaocorrên-cia,navésperadavisitadovice-

ministrodaEducação.Umtotalde110estudantesda

referidaescolaedasoutrasadja-centes, nomeadamente, o Insti-tutodeAdministraçãoeoPuniv,passarammal devido à inalaçãode tal substância tóxica. Mesmodepoisdeostrêsinstitutosteremfechadoasportas,durantesensi-velmente um mês, e transferidoalguns dos seus alunos para ocolégioPitrucaeoutrosparaaes-coladeensinosecundárioPedalé,para o início dos exames do 1ºtrimestre,aindahouverelatosdedesmaios na última instituição,queenvolveramumaprofessoraeduasempregadasdelimpeza.

As autoridades policiais dedu-zem que o produto tenham sidopostoporalguémequenãovenhados laboratórios reabertos, masaté agora,não seprovouestahi-

pótese, tendo os alunos dos trêsinstitutosretomadojáasaulas.

Asdirecções adoptaramo sis-temadepassaremrevistaosma-teriais que os estudantes trazemnasmochilas.

Das mais de mil substânciasquepossuempotencialparacau-sar intoxicações, algumas com-pletam o quadro dos PTA (Po-luentes Atmosféricos Tóxicos) eassuasprincipaisconsequências.

Ospoluentes atmosféricos tó-xicos são conhecidos ou suspei-tos por constituírem uma sériaameaça para a saúde humana eo ambiente. São eles: dioxinas,amianto, toluenoemetais comocádmio,mercúrio,cromoecom-postosdechumbo.

A exposição a estes poluen-tes pode produzir vários efeitoscrónicosa curtoou longoprazo

efeitos crónicos. Os efeitos agu-dos incluem irritaçãodosolhos,náuseas, dificuldadede respirar,enquanto os crónicos incluemdanos ao sistema respiratório enervoso, defeitos de nascimentograves e que necessitam atendi-mentodeemergência.

É importante que as autori-dadespoliciaiseaequipade in-vestigação ajam com celeridadee rigor para que sejam desco-bertos tal produto e os possí-veis indivíduos que o possuam.A gravidade do efeito causadoé determinada pela toxicidadedo poluente, a sua quantidade,duraçãoea frequênciadeexpo-sição, da saúde geral e nível deresistência ou susceptibilidadedapessoaexposta.Quantomaisexposta estiver a pessoa, maiorseráaprobabilidadedemorte.■

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Internacional

Sábado, 18 de Junho de 2011. 41

O Governo paquistanêsdetevecincoagentesdaCIA que colaboraramcom as autoridades

americanasparaajudaràcapturadeOsamaBinLaden,relataojor-nal «TheNewYorkTimes». Umdos detidos seria um oficial doexércitopaquistanêsquedeuasuacontribuiçãoàsforçasamericanascopiandoasmatrículasdetodososcarros que visitavam o complexodo líder da al-Qaeda emAbotta-bad.Segundoojornalnorte-ame-ricano,LeonPanetta,odirectordaCIA,levantouaquestãodadeten-çãodos informadoresquando,nasemanapassada,seencontrouemIslamabad com militares paquis-tanesesemembrosdosserviçosdeespionagem.

AdetençãorepresentamaisumsinaldefracturaentreosEUAeoPaquistão cujas relações atraves-sam um período difícil desde acapturaemortedeBinLadennopassadodia2deMaio.Muitospa-quistaneses viram a operação decapturadolíderdaal-Qaeda,porumaunidadeespecialdaMarinha

americana, como uma violaçãoinaceitávelnoseuterritório.

Na semana passada, Michael J.Morell,ovice-directordaCIA,noâmbitodeumareuniãocommem-brosdosserviçossecretos,classifi-couacooperaçãodoPaquistãocomosEUAnalutacontraoterrorismocomoum«três»,numaescalade1a

10,segundoavançaoTimes.Mas outros responsáveis terão

tentado explicar que os comentá-riosdeMorellnãorepresentavama posição dos serviços secretosamericanos. «Temos uma forterelaçãocomosnossoscorrespon-dentes paquistaneses e tratamosdos problemas quando eles apa-recem»,disseaporta-vozdaCIA,

Marie Harf. «O director Panettateve reuniões produtivas em Is-lamabad. É uma parceria cruciale vamos continuar a trabalharjuntos na luta contra a al-Qaedaecontraoutrosgruposterroristasqueameaçamonossopaíseode-les»,acrescentouHarf.

Sobre a notícia avançada pelo«The New York Times», a porta-

voznãoquisfazerqualquertipodecomentário.

Na altura da detenção de BinLaden, o Presidente norte-ameri-cano,BarackObama,declarouque«alguém» estava proteger o líderdaal-Qaeda.

O Paquistão negou veemen-te ter conhecimento de que BinLadenestivesseem territóriopa-quistanêsenumarecentevisitaaopaís,asecretáriadeEstadonorte-americana, Hillary Clinton, su-blinhouque«nãohaviaqualquertipo de prova de que alguém aomais alto nível do Governo doPaquistão» soubesse onde esta-vaaquelequeeraohomemmaisprocuradodomundo.

Poucotempodepoisdaintrusãoamericana em território paquista-nêsparamatarBinLaden,apresen-çamilitardosEUAnoPaquistãofoibruscamente reduzida. «Não pre-cisamosdepessoas desnecessáriasaqui. Elas causam-nos problemasem vez de serem prestáveis», afir-mouna altura um responsável dasegurançapaquistanesacitadopelaagênciaReuters.■

Paquistão

Detidos cinco informadores da CIA

A Organização das Nações Uni-das acusa oGoverno do Sudãode permitir uma «campanhaintensa de bombardeamentos»

próximadafronteiraentreazonasulenor-tedopaísquepodetercausadoamortede1500pessoasequepõeemperigoaajudahumanitária. Os bombardeamentos pro-vocaramum«grandesofrimento»paraoscivisdaregiãodeKordofan,umaprovíncianocentrodopaíse,deacordocomaONU,asforçasdazonanorteprocuramatacarosgruposafavordaindependênciadosulquedeveráserproclamadaoficialmentenodia9deJulho.

Quarta-feira, 16, os ataques aéreos in-cidiram sobre asmontanhasNuba–umaofensiva que a All Africa Conference ofChurches (AACC) classificou como uma«deliberada limpeza étnica».Os combates

opõem as Forças Armadas Sudanesas aoExército Popular de Libertação do Sudão(SPLA)-doSudãoSul.

Onortenegaterciviscomoalvoeopor-ta-voz do Exército, Sawarmi Khaled, dizqueosraidesaéreosvisamatingirrebeldesque lutam contra a região. Mas segundoo organismo internacional, mais de 1500pessoasjámorreramnosuldopaísdesdeoiníciodoano.«Ointensobombardeamentosudanês que começouna semana passadaainda continua nos arredores das cidadesdeKaduqlieKauda»,declarouoporta-vozdaONU,QuiderZeruq,àimprensaemJe-rum,citadopelo«ElPaís».

«Na manhã de terça-feira dois aviõesdeixaramcaironzebombascontraalgunsalvos,entreosquaisumaeroporto»,acres-centou.AONUprecisouquedoisdosex-plosivosatingiramasproximidadesdasede

damissão dasNaçõesUnidas, a cerca de150metrosdoaeroportodeKaduqli.

Zeruq sublinhou que a «campanha deataques aéreos causou um grande sofri-mento a civis e ameaça o envio de ajuda

humanitária»epediuatodososgruposar-madosquepermitissemaentradaimediatadasorganizaçõeshumanitáriaseofimdosataquesindiscriminadoscontracivis.

Nasegunda-feira,oSecretário-GeraldasNações Unidas, Ban Ki-moon, exprimiunum comunicado a sua preocupação pelaescaladadaviolêncianoestadosudanêsdeKordofan.

Nofinal deMaio, oExércitodoNortedo Sudão ocupou a cidade disputada deAbyei, levandomilharesdepessoas a fu-gir.OSul,quevotouem Janeiropela se-cessão, denunciou um «acto de guerra».Oataquefoicondenadoporváriospaíses,incluindo os Estados Unidos, que dizemter acontecido «em violação directa» doacordoassinadoemJaneiroentreasduaspartespara«retirartodasasforçasnãoau-torizadas»daregião.■

«Contínuos bombardeamentos» no Sul do país

ONU acusa Sudão de ter provocado a morte de 1500 pessoas desde Janeiro

SUDANESES num campo da ONU

Page 42: Semanário Angolense Nº 421

Cultura

Osnovos«negreiros»sãofamílias que encami-nham indigentes paraexplorações agrícolas

espanholas. Dormem acorrenta-dos,passamfomeenãorecebem.

Portugueses levados para ex-plorações agrícolas em Espanha:vidademiséria(MiguelMadeira)

Aimagemdepessoasagrilhoa-das,espalhadaspelochão,espan-cadas,doentesefamintasremeteoimaginárioparaoutrosséculos,quandonaviossulcavamoAtlân-ticocarregadosdenegrosque, jánaAméricaounaEuropa,have-riamdetrabalharcomoescravosatémorrerem.Masnãoéaossé-culosXVIouXVIIqueesterelatose refere. Nesta história, não háumoceanopelomeio.Nãosesaltadecontinenteparacontinente.Háapenas Portugal e Espanha.Nãofoihá300ou400anos.Acontecenosdiasdehoje.Háescravospor-tuguesesemEspanha.

São12osescravosdestahistó-riaequatroos«negreiros».Éumahistória de miséria, de maldadepremeditada. O relato do aban-donoaqueestãovotadososmaisdesfavorecidos. Um retrato deumazonadopaísquemuitosnãosabemexistireemque,porventu-ra,nãovãoacreditar.Masédeleque falao acórdãode7deAbrildesteanolavradonoTribunaldoFundão,queresultounaprimeiracondenaçãodesempreporescra-vaturasentenciadaemPortugal.

Hánestahistóriaumgrupodepessoasmás.Umafamília(ospaisnascidosemPortugal,ofilhoemEspanha, onde todos residem)quemantémligaçõesàBeiraBai-xa. Que corre as cidades, vilase aldeias em demanda de gentepobre.De«indigentes»,diz a Ju-diciária, referindo-se aum lequede homens de «fracos conheci-mentoscognitivos»,com«hábitosalcoólicos»e«provenientesdefa-míliasdesestruturadas».

AntónioJoséFortunatoMaria,vulgarmente conhecido por «TóZéCigano»,éoprincipalmembrodafamíliaesclavagista.EnquantoosseuspaisestãoemEspanha,nazona de Valladolid, ele cirandadecarroàprocuradequemlevarparaasherdadesespanholas,queprecisamdemão-de-obra.

Estamos em 2001, numa datanãoapuradaenumlugarnãoes-pecificado.OspaisdeTóZéestãoemPortugalerecrutamapessoaque,duranteanos,há-de funcio-nar como uma espécie de capa-taz. Abordam uma mulher quejáconheciamdeoutrasandançase convencem-na a entregar-lheso filho, José António Rodrigues.Acenam-lhe com um tarefa dig-na, na agricultura, onde há-deganhar 250 euros mensais, maiscomida, dormida e tabaco. Umluxoparaquemnadatem.

José António, que entre os 12escravoséoúnicoquereferenun-ca ter sido espancado, aceita aofertaedurantedoisanosganhaocombinado.Maistarde,atéFe-vereirode2007,quandoconseguefugirparaPortugal,passaapenasa ganhar 150 euros por mês. Éele quem, em tribunal, relata ascrueldades vividas num barra-cãodeumaherdadeporonde,aolongodos anos, sobreviveramosescravos.

Entreoperíododeescravaturaea fuga,osseuscarcereirostra-

zem-noumavezaPortugal,pararenovar o bilhete de identidadeentretantocaducado.TóZéche-ga adar50 euros àmãede JoséAntónio,dizendo-lhequeofilhoestava bem mas que não podiavir a Portugal por se encontrar«fugidoàtropa».

A quinta de Iscar, Valladolid

As pessoas arregimentadasem Portugal para trabalharemna agricultura espanhola chega-vamdecarro.TóZé,de35anos,entregava-osaocuidadodospais,Francisco José Maria, de 68, eMariaClotilde Fortunato, de 69.Eram estes quem lhes mostra-vamafuturaresidênciaemIscar,Valladolid.

«Ali chegados, aos trabalha-dores eram-lhes retirados todosos documentos de identificação,pelosarguidos,einstaladosnumarmazém,queserviadegalinhei-ro, onde havia galinhas e pom-bos, sem quaisquer condições

de higiene e salubridade», diz otextodasentença.

A descrição do local e do queesperaaspessoasparaalilevadaspioranaslinhasseguintes:«Dor-miamemvelhos colchões retira-dosdolixo,nochão,sendopresospelospulsos,porumacorrentedeferroecadeado,todosaquelesqueosarguidosAntónio,FranciscoeMaria suspeitassem que preten-diam fugir, sendoaindaoarma-zémfechadopelosmesmosargui-dos, para que nenhum daquelestrabalhadorespudessesair».

Depois, «todos os indivídu-os eram obrigados a trabalharna lavoura, contra a sua vonta-de, quase sempredesde onascerdosolatéaoanoitecer,porvezespela noite dentro, todos os dias,na sementeira ou na apanha debatata, cenoura, cebola e alho,quase sempre 12, 14ou16horasdiáriaseporvezes18e20horasdiárias, sempre sob a vigilânciaatenta e permanente dos argui-dos,descansandoapenasnosdiase períodos em que as máquinasavariavam». Quando se dava o

casodealguémreclamardascon-dições, da falta de pagamento -quandoalguém,desiludido,diziaquequeriaregressaraPortugal-,então avançavaTóZé, comumabengaladejuncocomumamocanuma extremidade. A contesta-çãoeracaladaàpancada.

PelaquintadeIscarpassaramocapataz JoséAntónio Rodrigues,os irmãos Rui e Carlos Horta,Bruno Esteves, mais conhecidopor «Inchado», Ricardo Santos,LuísdeSousa,JoséSilva,JosédaCruz,o«P»«ró»,eJoaquimHen-riques,o «Sardini».Todos foramroubados, ameaçados e a maiorparte espancados. Alguns con-seguiram fugir e relatar as suasdesventuras.Masnemsempreosseus relatos terão sido escutadoscom a atenção devida. Isso fazparte da história deRicardo dosSantos.

Quatro anos de cativeiro

AsuaaventuracomeçaemSe-tembroouOutubrode2003.Ain-damenordeidade,saidacasadamãe,emCoja,Arganil,epassaavaguearpelas ruasdoFundão.Énumadessasnoitesqueéaborda-dopeloquartoarguidodahistó-ria.JoãoCarlosCarrolaaborda-oediz-lhe:«Ouve lá,andasaquiapassar fome. Não queres ir paraEspanha?Eu arranjo-te lá traba-lho».

Vãoosdoisparaumbar,ondefalam das condições. Uma horadepois, após Carrola fazer umtelefonema, surge Tó Zé. Este eo jovem voltam a falar do futu-ro trabalho. Acordam todos ospormenoreseresolvemirfestejarpara um bar de alterne, emTei-xoso.Quando dali saem, voltamaoFundão,ondeosesperaMariaClotilde. Saem os três em direc-ção ao aeródromodaCovilhã.Énesse momento que Ricardo diznão querer ir de imediato paraEspanha,porqueprecisadeavisarafamília.TóZévaiaocarroevol-tacomabengaladejunco.Agrideo jovemnas costas enaspernas,ao mesmo tempo que grita quea partir daquele momento é elequemmanda.

Ricardoentraparaocarrodos

«Indigentes» trabalham em explorações agrícolas do país vizinho

Portugal, século XXI: há escravos levados das Beiras para Espanha

42 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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Cultura

Sábado, 18 de Junho de 2011. 43

esclavagistas. Dorme no bancodetrás,trancadoetransidocommedo. Mãe e filho ocupam osbancosdafrente.Aindadema-drugada, vãoatéCasteloBran-co,ondeTóZédizque temdeentregar a carta de conduçãoà GNR. Depois empreendemnova viagem, desta vez paraEspanha. Ricardo fica sem osdocumentoseédeimediatoen-caminhadoparaocampo,paratrabalhar.Nãoalmoça.Sócomealgoànoite,paraserdeimedia-to agrilhoadopelos pulsos. Es-tão nessa situação Bruno Este-vesetambémJoaquim,deSantaMargarida (Idanha-a-Nova), eDavid,deValverde(Fundão).

Ricardo,aquemnemsequerfoi permitido fazer um telefo-nema, passa o primeiro ano adormir acorrentado e outrostrês em que, mesmo livre dascorrentes, não escapa aos es-pancamentos sempre que dizter frio e fomeouqueestádo-enteenãoconseguedeslocar-separaoscamposdosagricultoresespanhóisquepagamamão-de-obraescravaàfamíliadeTóZé.

Osdiaspassameojovem,talcomo os restantes companhei-ros de cativeiro, é alimentado,de manhã, a café e pão, comuma sandes ao almoço, e comarrozoumassaefrangoaojan-tar.Recebe,comotodososquefumam, um maço de cigarrospordia.Dos250eurosmensais,nuncaviuumsócêntimo.

A 5 de Janeiro de 2007, aGuardiaCivilprendeTóZéporoutros crimesquenão a escra-vatura. A vigilância na quinta,agora apenas a cargo dos seuspais, afrouxa. Dois dias maistarde, à noite, Ricardo pedeparairurinar(afamíliavigiavaosescravosapartirdeumanexoaoarmazémondeestespernoi-tavam) e aproveita para fugir.CorreduranteseisquilómetrosatéchegaràaldeiadeMojados,ondepede ajudaàGuardiaCi-vil, que o encaminha para aCruz Vermelha. Tanto quantosesabe,ninguémfoi,nessaoca-sião,àquintade Iscar.RicardopassaaprimeiranoitenaCruzVermelha e só três dias depoisda fuga, nodia 5 deFevereiro,consegue regressar a Portugal.Chega à boleia, num camiãoTIR,conduzidoporumhomemdeCasteloBrancoqueohá-dedeixarnumaáreadeserviçonaA23,próximodoFundão.

«Parto-vos as pernas»

NoiníciodeAbrildesteano,aquandodo julgamento, foraminúmeras as histórias narradaspelos escravos.Luís Sousa, quefoiparaEspanhaemAgostode2004,contaquefugiunoNataldesseano.Aproveitouofactodelhe terem retirado as correntes

para as colocarem num jovemchamadoLeonelparafugir.FoiatéValladolidedaliviajouparaPortugal à boleia.Nunca apre-sentouqueixapor temerrepre-sálias.

A reclusão de Mário Silvadurou de Junho de 2006 a Fe-vereirodoanoseguinte.Foire-crutadoporTóZénumbardoFundão.Nosoitomesesemquetevede trabalhar«noite edia»,nadarecebeu,anãoseromaçodecigarrosdiárioesovasvárias.

A 10 de Fevereiro, na com-panhia do amigo «P» «ro» (es-cravizado,durantecercadeseteanos,desdeMaiode2001),con-segueevadir-sedaquinta.Pas-sam uma semana escondidosnum armazém próximo. Du-ranteesseperíodo,sãoajudadospor um cidadão espanhol. Fi-nalmente,conseguemregressaraPortugaldecomboio.

O rol de escravos identifica-dosincluiodoentepsiquiátricoJoaquim Henriques, mais co-nhecidopor«Sardini».ÉlevadoparaEspanhanoNatalde2003,depois de interromper o trata-mentonumhospitaldeCasteloBranco, e ali fica até Abril de2007, quando consegue evadir-se.Dizo tribunal, baseadonasinvestigações da Judiciária daGuarda, que «Sardini» convi-ve nesse período com outroshomens só identificados comoAntónio, o «Becas», de AldeiaNovadoCabo(Fundão),Ricar-do,tambémconhecidopor«Za-rolho», eDavid, deValverde, aquem os demais chamavam o«Gorila».Todosforamespanca-dos,roubadoseobrigadosafa-zerumaespéciederezadiária,àmeia-noite.

Tó Zé, apesar de já estar acontascomajustiçaespanhola,fazameaçasaosescravosportu-gueses, jurandoque,comasuafielbengalade junco, irápartiraspernasatodosquandosairdacadeia.Tenta,comessaameaça,evitar mais denúncias quandotiver de depor no Tribunal doFundão.

Écomoregressodosescra-vosaPortugalqueasdiversaspontas da investigação come-çam a encaixar. A Judiciária,em conjunto com a GuardiaCivil, consegue identificarde-zenas de pessoas e acaba pordeterospaisdeTóZé.Ocasodos escravos de Iscar encerramas, entretanto, noutras zo-nas de Portugal, prosseguemoutras averiguações. Espanhaé novamente o destino de di-versos indigentes da BeiraInterior. Assim o refere umnovoprocesso remetidoaindaesta semana a tribunal compropostade acusação.Há setearguidosemaisde20vítimas,arregimentadosnos concelhosdeTábua,OliveiradoHospital,Seia,NelaseMangualde■

Barros Neto (*)

Na história da literatu-ra ocidental, alguns«Diários» merecerampáginas de exaltação

inesquecível como, por exem-plo,o«DiáriodeAnaFrank»eo«Diáriodeumpárocode aldeia».Entre nós, porém, tal subgéneromemorialísticoaindaédesconhe-cidopeloqueaobrasupracitada,mesmosendopóstuma,deve-setercomopioneira.

«Diário – de Um Exílio SemRegresso» são apontamentos in-timistas da imortalizada nacio-nalista angolanaDeolinda Rodri-gues – aliás, Deolinda RodriguesFrancisco de Almeida – a «missSambizanga» (18.5.1958). Numtricô,decercade216páginas, elaexpõe–demodo sincero, claro epalpitante,comexpressõesdeumrevolucionarismocontagiante–assuas vivências e peripécias expe-rimentadasdiaapósdia,naquelesconturbadostemposemque,como fim das duas «grandes guerrasmundiais», África respirava umclima de generalizado esplendorrevolucionário.

Discorrer sobre o «Diário» deDeolindaRodrigueséfalarneces-sariamentedarevoluçãoangolanae,porinerência,doMPLAdequefora militante activa. E é exacta-menteestafacetaderevolucionáriae nacionalista que a faz assumirsobreosseusombrosasfraquezasdosmaisnecessitados,dosespezi-nhadosnumapalavrado«indíge-na»,que«vegeta» sobasbotasdocolonialismo, a fim de restituir-lhes voz, dignidade, identidade,respeito. Sinceridade, singeleza eaudácia verbal são característicasque ela escalpeliza ao longo dassuasreflexões.

Oespíritorevolucionário,resul-tado evidente do ambiente ondecresceu e se formou - na altura(1956)jáeradetentoradodiplomadosétimoanodoliceu,entãocasoraroparaonegroesobretudoparauma mulher negra - ressente-selogodesdeasprimeiraspáginas(9e17.9.1956).Comasuaaceitaçãopelo «movimento», Deolinda, aexemplodoquejásevivianoutrasparagens do continente africano,empolga-se, dedicando-se intei-ramente às tarefas da revolução(22.2.1957).

Nas actividades clandestinas(1956-1959) – de se recordar queo4.2.eo15.3sóteriamlugarem1961 – Deolinda emprega todaenergia em traduções e contactosvários não ignorando, contudo,

a presença da PIDE, a espiar portudoquantoécanto.Porvezesdes-via-se da temática principal – osmeandrosdarevoluçãonoespaçodaclandestinidade–paradescre-verpormenoresdasituaçãoango-lanadoscolonizados:asrusgas,ospatrulhamentos,assurras,osespi-ões,oterqueengolirsapos.

Adadomomentodatrajectória,regista-seumverdadeirodramanasuapersonalidadeinconformadaequesetransformanumverdadeirodilema: ir ou ficar. Os do movi-mentoderam-lhenaocasiãofarradedespedidaemcasadoTiNobre(31.1.1959) mas custa-lhe deixaresta Angola onde sempre viveu.«Omeu Povo vai ficar a sofrer evou safar-me, abandoná-lo. Quetraição!» exclama ela (2.2.1959).Estaobservaçãoreveste-sedeumaressonância de grande alcanceporquanto-demodoplástico,na-cionalista-elaconsegueesbaterabarreiradeexclusãoentreosquefi-cam(osmausdafita)eosquepar-tem(osheróis).Deummodogeral,quem partia via os que ficavamcomoosaliadosdoscolonialistas,osviventes àgrandee à francesa.Deolinda, pelo contrário, e já li-minarmente, desmonta estemito,confidenciando que traidores eoportunistassempreoshouve,tan-toentreosqueficavamcomoentreosquepartiam,sendomaisimpor-tanteaconsciênciado

dever patriótico, tanto dentrocomo fora do país. Expressando-se,reforça:«Vaiserlindoviverbemno estrangeiro enquanto a nossagentevegetasobumaPIDEdestas.Que fatalidade!» (3.2.1959). Aos12.3.1959obtém,finalmente,ovis-toparaoBrasilgraçasàinterven-çãomissionáriametodistaeàsuatráscomeçamasprisõesdeváriosnacionalistas.

No exílio não cruza os braços.AlertadaporD.Dina«anãofazerpolítica…para não arranjar en-crencas aosmissionários, à igrejae ao instituto», ela reage, pronta-

mente:«Ondefor,vousemprefalardascondiçõesdaterra.Lixem-seláasMissõeseoresto.Aminha fa-mília, omeu Povo valemais quetodo o resto» (28.5.1960) e face àhipóteseaventadadeosbrasileirosassinarem um acordo de extradi-ção com os «lusitos», ela projectater de «cavar» dali «antes disso»(2.8.1960). Vai parar até Chicago,numafavelacomaamigaCarolyncujopainegronorte-americano éguarda-nocturno,amãequasepa-ralítica(11.11.1960).Entretantoaliaondada saudade familiar inun-da-lhe:«Ondeestáaminhafamíliaporestahora?»,interroga-se,emo-cionada(25.12.1960).

Escrevinhar sobre «Diários»,uma das modalidades do géneroliterário denominado «memoria-lismo»,nãoétarefafácil.No«Di-ário» -mais do que em qualqueroutrogénero-ofactorpsicológicoatinge índices de elevada profun-didade emotiva, gotejando inter-mitentes flashes de subjectividadeintimista, de difícil percepção:vivências sentidas e sofridas ca-lamnoâmagodasconsciênciasdequemascriademododifuso,tor-nando cada «Diário» único e in-confundível,domesmomodoque,em todo o globo terrestre, cadapessoaéunaeirrepetível.«Diário-deUmExílioSemRegresso»–nãoabordasomenterevolução;hátam-bémregistosdodia-a-diaemquese patenteia o verdadeiro espíritohumanistaealtruístadequeDeo-lindaeradotada,emboraporvezesuseumalinguagemmaispropensaa hábitosmasculinosmas quenoentantodefineotemperamentodeumapersonalidadedecidida,indó-mita(3.1.1959).

JánosEstadosUnidoschega-lheanotíciasobreo4.2eo15.3de1961eelaacolhe-acomoumachamada(«richiamo») da terra, a ponto dereconhecer:«…Este (EUA)nãoéomeulugar»(28.12.1961)ecomopassaporteacaducarpensa«darofora»,fazendofigasparaqueMáriode Andrade consiga resolver-lheestabicuda situação.Entretanto asuspiradaajudavirádoestrangeiroDialloTelli, guineensenaONUeafugaconcretiza-seaos29.1.1962.«Fora dos EUA, ÁFRICA, final-mente» exclama, triunfante. Co-nakry,Accra,Leopoldville,Matadie , porfimBoma, (29.1.1962).É apartirdessemomentoqueparaelateráiníciooverdadeiro«baptismodefogo»,na«confusãodoCongo»(24.9.1962).(Continua)

Luanda,02.06.2011■(*) Jurista e escritor

Obra literária de Deolinda Rodrigues

Exílio Sem Regresso

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Por: Makiadi

44 Sábado, 18 de Junho de 2011.

Vendeu rim para comprar iPadO

desejoardentedeumjovemchinêsde17anos ter um iPad levou-o a vender umdosseusdoisrins,semconhecimentodosseuspais.

AestaçãoEuronewsnoticiaestaocorrênciainsólita,quetevelugaremAbrilúltimo,naprovín-ciachinesadeAnhui.Ojovemestabeleceucontac-tocomoscompradoresviainternet,tendo-lhesidoretiradoorimdireito.Depoisdetrêsdiasdeinter-namento,tevealtaerecebeupoucomaisde2,3mileuros(325milkwanzas).

Sódepoisdetudoterocorrido,amãesou-bedatransacção.IndagadosobreseumiPadvaliaopreçodeumrim,ojovemrespondeuqueodinheirolhepermitiucomprartambémumiPhone■

Autoridades pedem cautela a zombies

Apareceram nos su-búrbios da cidadeamericana de Atlan-ta, placas com a in-

dicação “Cuidado! Zombiesadiante”.

De acordo com a es-tação televisiva WSVM, a in-

tenção das autoridades não éassustar os cidadãos. O que sepassaéqueseregistarealmenteaapariçãodezombiesno local,devidoàfilmagemdasérietele-visiva“TheWalkingDead”,queaborda ummundo devastado edominadoporzombies■

Titanic-II naufraga na Inglaterra

Uma pequena embar-cação baptizada como nome “Titanic-II”,em memória do na-

vioqueafundouem1912,sofreuidêntico destino trágico logonaviageminaugural.Adiferençaéque, desta vez, não houve víti-mas.

O seu proprietário,MarkWilkinson, foi pescar em

Dorset (sul de Inglaterra) e, aoregressaraWestBay,obarcoco-meçouaencherdeágua.Asortefoiquerecebeuprontoauxíliodocapitão do porto, de modo quenãochegouanaufragar.

A partir do dia do in-cidente,aspessoasperguntamaWilkinsonseo“Titanic-II”tam-bémteráchocadocontraumice-berg■

Torneio de canto de pássaros na Tailândia

Habitantes da província tailandesa deNarathiwat tomaram parte do torneio de canto de pássaros, que se realizou nopassadodomingo.

A agência Associated Press noticia que se trata de umconcursodeperiodicidadeanual,ondeosconcorrentessuspendemasgaiolas comos seuspássaros (veja-se a foto), paraqueo júri avalie aqualidadedasmelodiasedocantarolardospássaros.

Participaramnoconcurso,centenasdeconcorrentes■

Proibido enterro de humanos em cemitério de animais

O Departamento de Cemitérios da Câmara Municipal deNovaIorquedeterminouaproibiçãodeenterrodecinzasdosdonosaoladodascovasdosseusanimais(gatos,cãesepássaros).

Estadecisãodeveu-seaofactodeumnúmerocadavezmaiorde americanos estar a decidir dividir a sua últimamorada comosrespectivosanimaisdeestimação.

RhonaLevy,umaamericanade61anos,quetinhaprogra-madoserenterradaaoladodosseus5animais(quatrodelesjáenter-radosnocemitériodeanimaisdeHartsdale),dizqueamedida fezcomqueperdesseapazquetinha.Queriarepousaraoladodosseusanimais,quesempretratoucomosefossemfilhos■

Cães assassinos

em Washington

Câmaras de segurançarevelaram que os ani-maisquetêmaparecidomortos em Deer Park

(nosEstadosUnidosdaAmérica)têmsidoabatidosporcães.

DeacordocomaagênciaAssociated Press, há três mesesque a matilha de cães actua naárea demontanhas e vales dessapequena cidade, registando-se jáamortedeacimade100animais.Asautoridadespoliciaislocaises-tão convencidas queos cãesma-tampordiversão.■

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desporto

Sábado, 18 de Junho de 2011. 45

Eleições na FAF já eram, mas...

Última hora

Substituto de Justino Fernandes só será conhecido oficialmente a 23

Pedro «varre» Artur

Ninguém pode «cantar vitória» antes do anúncio oficial dos resultados, que será feito na próxima quinta-feira

Paulo Possas

Na passada segunda-feira, 13,Pedro Neto e Artur Almeidas,concorrentes à presidência daFederação Angolana de Fute-

bol (FAF), terminaram ,oficialmente, assuas campanhas.Cadaalvitroua vitória apendera seu favor,mas,para tal, terãodeaguardar pormais quatro dias, a ver se osonhoseconcretiza,jáquesóàs9horasdeterça-feira, 21, éque aComissãoEleitoral,lideradapeloexperimentadodirigentedes-portivoRogérioSilva, trataráde fecharosrelatóriosdoscírculoseleitoralpara,depois,naquinta-feira,23,anunciara listavence-dora.

Isto é, vai dizer se a FAF passará a serpresididaporPedroNetoouporArturAl-meida,osdoisaspirantesaoapetecidocargomáximodofutebolnacional.Naquinta-fei-ra,diadaseleições,osdoissaíramdaCida-delaDesportivaaltamenteconfiantesqueapreferência das 18 associações e 63 clubesque constituíram a «população votante»terárecaídoasi.

Os dois candidatos fecharam as suascampanhas em Luanda, considerada amaiorpraçadofutebolnacional.

O candidato da lista A, Pedro Neto,qualificou de positiva a suamobilização.Segundo ele, o futebol se encontra numprocesso atípico, sendo a principal tarefada listaA,casovença,o iníciodareestru-turação da federação, para que se crie osaspectosorganizativoseestruturasvisandoumfuncionamentocorrectodainstituição.

Dizaindaque,duranteacampanhanas

províncias, foi alvo de perguntas curiosassobreoquefariaasuadirecçãoparamudaroactualquadronegativodofutebolango-lano.

PedroNetoreforçouquefoiumacampa-nhamuitoprofunda,feitaaumritmoace-lerado,emqueestevesubmetidoaviagensestafantes para mostrar, amostrar e de-monstraremcomoexecutaráoseuprogra-macasonodia23sejaanunciadocomopre-sidentedaFederaçãoAngolanadeFutebol.

Falando em nome da equipa, o antigopresidentedo1.ºdeAgosto sublinhou: «Anossametaéaderecuperarofutebolemto-dasaslatitudes,factoquenoslevouatraçarumconjuntodeacçõesquefazemcomqueamodalidadesejapraticadaa todososní-veisequeosresultadossejamaconsequên-ciadetodasessasacções».

Por seu lado, Artur Almeida, pela listaB,emboratenhasesaídocomumdiscursocomedido,àfrancesa,digamos,algocomoadizerque«nechantpasavantlavitoire»ounãosecantaantesdavitória,nemporissodeixoudereafirmarasuapeculiarretóricadeoptimismo:«Estamosconfiantesnanos-savitória».

Recapitulando a sua campanha, estebemsucedidohomemdenegócioschamouos jornalistaspara lhesdizer tambémque«fomosmuito bem recebidos em todas asprovíncias por onde passamos e pudemosconstatar que houve um interesse muitograndeporpartedaspessoasdofutebolemprestaratençãoaoquetínhamosparaapre-sentar».

Eemfunçãodisso,confessou:«sentimosuma grande receptividade dos associados

aonossoprojecto,oquenospermiteestarconfiantesnanossavitórianopleitoeleito-ral».

Desde o dia em que deu o pontapé desaídadasuacampanha,nasinstalaçõesdoInstitutoMédio de Economia (IMEL), atéaoencerramentoemLuanda,ArturAlmei-danãosecansouderepetiremaltoebomsom que «podem esperarmuito por nós,poisaminhalistaécompostaporelementosquevãotrazertambémnovoselementosaofuteboldeAngola».

Eaosquegostamdebomfutebol,aqueleprojectadoejogadocomrigor,recordouque«temosaconsciênciadequeofutebolnãoésóselecçãonacional,poisémuitomaisdoqueisso;futeboltambéméfactordeunida-denacionale,comotal,onossoprojectoéemquetodosserevêem».■

O general Pedro Neto deverá ser opróximo presidente da FederaçãoAngolanadeFutebol,emsubstitui-ção de Justino Fernandes, depois

de«varrer»ArturAlmeidaeSilvanaseleiçõesantecipadasdainstituição,realizadasnaúltimaquinta-feira,deacordocomosresultadospro-visórios já divulgados pela própria ComissãoEleitoral, baseada em informações fornecidaspelaRádioNacional deAngola, que acompa-nhouavotaçãoemtodasasprovínciasdopaís.

Segundo estes resultados, a lista de ArturAlmeida e Silva foi «cilindrada»por 27 votoscontra58dosconseguidospela«chapa»dePe-droNeto,queerasupostamenteafavorita,emfacedebeneficiardeumapreferênciadoregi-

me,sendoqueisto,comoahistóriasemprede-monstrou,pesamuitonahoradasdecisões.

ÉcomoqueumavitóriaesperadaestaadePedro Neto, não obstante o triunfalismo de-monstradoporArturAlmeida e Silva, que sefartoudedizerqueganharia commaisde60por centodos votos, se calhar em funçãodaspromessasquefoirecebendoaquieali,masqueacabaramporserevelar«traídas»,atéporqueovotoésecreto.

Não há informações se o candidato derro-tado,segundoosresultadosprovisórios,pensaemimpugnaroprocesso,umavezquesealtera-ramasregrasdojogoemtermosdepopulaçãovotante,emdesrespeitoàsdisposiçõesdaFIFA,quenãopermitemqueosclubesvotem,como

acabouporacontecernessaseleiçõesantecipa-dasdaFAF.

Contudo,háinformaçõesdeArturAlmeidaeSilva aceitouconcorrer comesta inovaçãoàangolana,peloqueterápoucoporondesepe-gar,anãoserqueconsigadescobriragoraalgu-mairregularidadeeventualmenteregistadaemqualquerdos18círculoseleitorais.

Aconfirmar-seavitória,PedroNetotemumanoparamostraroquevale,noqueseráumverdadeirotesteàsuacapacidadedeor-ganizaçãoegestão,antesdesesubmeteràspróximaseleiçõesregulares,queserãoreali-zadasem2012.■

Lucas Adão

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As duas têm «pesos pesados» da sociedade

Uma olhadela pelas listas Paulo Possas

Olhandobem,comovezessemcontajáobserva-mos,hánasduas listasrostosdefigurascommuitosanosdeandançasnonossofuteboldo-mésticoenãosó.

Muitosdeles,porondepassaram-clubes,associaçõesemesmofederação–deixaramobrafeita,masoutrosnemporisso.Senãovaiadosouhostilizados,pelosmenossaí-ramcabisbaixospornadaláteremfeito.

Porisso,desdequeressurgiramnodiaemqueaComis-sãoEleitoralabriuaslistase,aseguir,duranteacampanha,muitosagentesdofutebolfranziramocenho.«OquefaránaFAFgentequeantesprometeuboacoisaenadafez»,éainterrogaçãoquemuitosdaquelesterãofeitoaosseusbotões.

Deresto,aprópriapopulaçãovotantequestionouissoaPedroNetoeArturAlmeida,devendoteratribuídoasuapreferênciaàlistaquedessemaisgarantiasdeserum«malmenor»ouum«malnecessário».

Deresto,semuitosdelessãoounãopára-quedistas,ojuízofinal,este,coubemesmoaosvotantes.Vamosapenasrecordaracomposiçãodasduaslistas.

Lista A

Mesa da Assembleia:Presidente–AntóniodosSantosFrança«Ndalu»;Vice-presidente–CarlaMariaRibeirodeSousa;eSecretário-IldaJorgeFranciscoBessa.

Direcção: Presidente – Pedro deMorais; Vice-presi-dentes – Teresa Filomena, Fernando Trindade Jordão,

FranciscoJoãoCarvalhoNeto,JoséLuísPrata,HélioMa-chadoLafayette,JoãoLuseviKuenoeRaulNevesChipen-da;Secretariogeral–JoséCardoso;Vogais–MariaStelaSoares,EugénioCarlosBamby,JoséVieiraDiasPaulinodoCarmo,Manuel AntónioLotheFrancisco TeixeiradeOliveira

Conselho Jurisdicional:Presidente–HélderFernandoPittaGróz;Vice-presidente–AníbalMartinhoTungo;eVogal–DomingasLourençoCristóvãoCustodio

ConselhoCentraldeÁrbitros:Presidente–FranciscoJoãoCarvalhoNeto,Vice-presidente–AgostinhoMulutaPrata;eVogais-ManuelSilvadaCunha,MuanzaBassaRomano,PedroJoãoNeto,ZingaCarlos,CarlosLopes,ÂngeloSecaCasimiroeLuísJoãoCazola

Conselho de Disciplina:Presidente–AlbertodeJesusFerreiradeSousa;eVogais-LourençoAdãoAgostinho,ErnestoMaiato,SebastiãoSilvaeAlexandrePauloQuin-da

Conselho Técnico Desportivo:Presidente–FernandoTrindadeJordão;eVogais-SantosAntónioMigueleMa-nuelKinzembo.

Conselho Fiscal:Presidente–AmílcarSilva;eVogais-MbiavangaFilipe,MariaJoãodeAlmeida,RenatoBorgeseMariadoCarmoBastos.

Lista B

Mesa da Assembleia:Presidente–AlbinaAssis;Vice-presidente–AntónioMosquito;eSecretario–RosaLuísMicolo.

Direcção:Presidente–ArturdeAlmeidaeSilva;Vice-presidentes –Mário Jorge de Carvalho, Célio EduardoMendes,KandaNimiKassoma,JoãoErnestoLinoeJoséAlexandreCanelas.Secretario–HugoNguinaFuema;eVogais-AntónioManuelFiel,PauloAlexandredeJesusArrais,ArlindoManuelMacedodeOliveira,JoséJúlioeJoséManuelQuitambadeOliveira

Conselho Jurisdicional:Presidente-LuísdeAssunçãoPedrodaMotaLiz.Vice–Presidente–CarlosdeAlber-toCavuquila;eVogais-CoutinhoNobreMiguel, JúniorFrancisco Artur Kassucula e Bráulio Kutena BonfimGonçalves.

Conselho Central de Árbitros:Presidente–JoséFer-nandoMação;Vice-presidente–DibondoAbrão;eVo-gais-TeresaDukuivalukaLeitão,EmíliaCapandaDias,Manuel Pimentel, Idoluviz de Fátima Dias, FredericoCachiquengue,VladimirFelipeAbrãoQuengue,TeófiloMoniz,LaércioBrenodeLemosPatrícioeJoséAlexandreCasimiro.

Conselho de Disciplina:Presidente–LeãoChiminh;eVogais-DucérciodeAlmeidaFernandes,BertaKagizaCahomboTomé,ManuelAntónioFreireeAbrãoCatari-noBundoMassambo.

Conselho Técnico Disciplinar:Presidente–JoãoOs-valdoConceiçãoMarcelino;eVogais-NdungidiGonçal-vesDaniel,EurídiceLeonildaMiguelNeto,Andrea IrísMerinoLuísVilareJoaquimAntónioDinis.

Conselho Fiscal:Presidente–Ulangade JesusGasparMartins;eVogais-IsabelMantoInglêsVan-Dúnen,An-tónioAugustoMiguelSoares,NelsonDuarteTeixeiradeCarvalhoeSaraMónicaMoutinhoKuerk.■

46 Sábado, 18 de Junho de 2011.

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desporto

Sábado, 18 de Junho de 2011. 47

«Saga» começou em 1979

Quinto líder da FAF entre «brigas e intrigas»Paulo Possas

Mesmo desde os tempos emque,claramente,porconfian-çapolíticae ideológica,eramavaliados, escolhidos e, de-

pois,indicadosàfrentedafederação,hou-vesemprebrigaseintrigasparaoscargosmais apetecidos da FederaçãoAngolanade Futebol, nomeadamente os de presi-denteedesecretário-geral.

Contasfeitas,oeleito,entrePedroNetoeArturAlmeida,seráoquintopresiden-teem32anosdeexistênciadaFederaçãoAngolanadeFutebol.

O secretário-geral, Hugo Fueme, pelalistadeArturAlmeida,ou JoséCardoso,peladePedroNeto,seráosextonocargo.

Fundadaa9deAgostode1979,aFAFtevecomoprimeiropresidentenomeadoomédicoEduardodosSantos,queteveNi-colauSilvacomosecretário-geral.

EduardodosSantosdeixouapresidên-cia em 1983, sendo substituído por LuísGomes,queficouaté1989.Oseusecretá-rio-geraldaquele,NicolauSilva,foiserviraTAAG,hojeASA.

Parao seu lugarna federação foi indi-

cado Carlos Bastos de Almeida «Likas».Este executivo que antes se saíra bem aconduzir os destinos dos IndependentesdoRangel, ficou no cargo até 1988, anoemque,devidoaalgumasbrigaseintrigasnadirecção,acabousubstituídoporPauloWill,queeraoseuadjunto,após sairdedirectordo1.ºdeAgosto.

Em1990, parte da direcçãoda federa-

çãocessamandatoporgrandesproblemasde organização e competitividade vividopelofutebolnacional.Ninguémquisassu-mir a culpa e entãoMarcolinoMoco, naalturanapeledeministrodaJuventudeeDesportos,indicaumaComissãodeGes-tãopresididaporJoséFernandes.

Em1991,realizam-seasprimeiras«elei-çõesdemocrárticas».ArmandoMachado,

vindodaAssociaçãoProvincialdeFuteboldoHuambo,quesubscreveasualista,der-rotaDanielSimas,candidatoindicadoporLuanda,por11votoscontraum.GeovettyBarrosfoioseusecretário-geral.

Ambos,MachadoeGeovetty,maisvisí-veis,dirigirama federaçãoatéDezembrode2000,anoequeJustinoFernandesas-sumiuapresidêncianumprocessoeleito-ral tido por confuso, sem transparência,devido a alegados apoios velados presta-dos ao «candidato do regime» por insti-tuiçõescompoderdecisórionopaís.

ArmandoMachado ainda hoje semprequeéquestionado,comoaindaaconteceuháduasemanasementrevistaaestejornal,dizcomevasivas,masperfeitamenteper-ceptível,quesaiuacontra-gostodafedera-çãoonde,reconheça-se,deixouobrafeita.

JustinoFernandes estáhá trêsmanda-tos na federação. Também com obra fei-ta,mas o facto de, em cadaumdeles, seter rodeado de diversos vice-presidentes,comoJoséLuísPrata,noprimeirocargo,DélcioCostaeAugustoSilva«Alvarito’»,no segundo, indica quenão teve equipascoesas,motivoqueprecipitouarealizaçãodaseleições,umavezqueoseumandatosóterminarianopróximoano.■

Paulo Possas

A direcçãodoInterclube,lideradaporJoséMartinez,pretendequea suaequipade futebol, fracas-sada que foi a continuidade na

Liga dos Campeões, consiga agora voltara atingir a final da Taça CAF, ouNelsonMandela como também é designada, aocabodafasedegruposemquechegounoúltimosábado,aoempatar(2-2)emcasadoDifaaHassan El Jadida doMarrocos, de-poisda confortável vantagem (3-0)que jálevavadeLuanda.

Falando para a imprensa angolana quefoiaMarrocos,opresidentedoInterclube,aover a sua equipana condiçãodeúnicorepresentantenaprova,devidoaoinglórioafastamentodo1ºdeAgosto,peloAsecMi-mosasdaCôted´Ivoire,disse:«Issonãoes-moreceanossadeterminaçãoemdignificaronomedeAngola,vamosprocurarigualarodesempenhoqueoclubeteveem2001».

AprimeiravezqueoInterclubeescanca-rouasportasdafinaldestesegundotorneiomais importante sob a égide da CAF foiem2011,quandodefrontoueperdeuparaoKaizerChiefsdaÁfricadoSul,porumagregadode2a1.

Voltou a atingir a fase de grupos em2006,sobaorientaçãodotécnicobrasilei-roDjalmaCavalcanti,masquedou-senumirremediávelquintolugar,comumpecúlionadaabonatórioparaumaequipaquecin-coanosantesganharacelebridadeaoche-

garàquelahistóricafinal.Desta vez, com o português António

Caldas,aintençãoépoisatingirospínca-rosdaglória,quenãoéoutracoisa senãolograrafinale,melhorainda,arrebataroceptro.

Os seus adversários da fase de grupos,todos eles conhecidíssimos e respeitadosemÁfrica,são:AsecMimosasdeAbidjan(Côte d´Ivoire), JS Kabylie (Argélia) ClubAfricain (Tunísia) e Kaduna United (Ni-géria),comquemcalhounogrupoAdestaetapafinaldacompetição.

Como se vê, o Interclube calhou numagrupamentoemquefiguramdoisex-cam-peões africanos de clubes, nomeadamen-teoAseceClubAfricain.Oclubedoseu«campeonato»éapenasoKadunaUnited,queteráambiçõesmodestasporseestrearna prova, a não ser que protagonize umasurpresadaquelas.

Poroutrolado,ogrupoBéomaisequi-librado, dado não existir equipas que te-nhamconquistadoo troféunasanterioresedições. O Sunshine Stars (Nigéria), é agrandeestreanteentreasexperientesequi-pasdoJSKabylie(Argélia),MAS(Marro-cos),eovencedordojogodecisivoentreoSimba(Tanzânia)eoMotemaPembe(RDCongo). Os tanzanianos levam vantagemsobreoscongolesesdemocráticosnaelimi-natória,apósvencerempor1-0naprimei-ra-mão da última eliminatória.O embatedecisivo acontece no próximo dia 26 docorrentemês.■

TAÇA CAF

Martinez quer InterClube na final

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AgentesdaPolíciaNacio-nalsãoacusadosdeestaremapermitir que a criminali-dadesomeesegueemalgu-maszonasdacidade,oqueédecididamentecontrárioàutilidade que norteia o seuobjecto social: a protecçãodos cidadãos. É incompre-ensível que os gatunos fa-çamdassuasdiantedassuasbarbas,comotemaconteci-do nas imediações do eixoviário,ondeelesassaltamoscidadãose/ouassuasviatu-rasemplenaluzdodia,semqueosagentesnormalmen-teaíestacionadosempatru-lhafaçamalgoparaevitá-lo.Umdiadesses,alertadosso-breumrouboqueseestavaadesenrolaraípróximo,umdelesdisse:«Nóssabemos».E deixaram-se estar. Isto ésério?■

Estãoaindaporapurarasrazõesquelevaramoantigo«premier», Paulo Kassoma,em apostar em PimentelAraújoparadirigiraTAAG,uma companhia que mui-tos dos seus trabalhadoresacreditamestaracaminharparaoabismo.Acontecequeesse economista, antes de«aterrar» na nossa compa-nhiaaéreadebandeira,ondeexerceasfunçõesdePCAdaTAAG, já «sobrevoara» ou-trascompanhiasaéreas,no-meadamente a Transafrik,Planar, SAL e Air Gemini,empresas que declararamfalência. Sintomático, nê?A TAAG, para não variar,poderá ter o mesmo desti-notrágico,casooExecutivonão tomemedidasurgentespara eliminar osmales queporlágrassam.■

A NCR Angola é indis-cutivelmente das empresasque praticam normalmentepreçosconcorrenciaisemre-laçãoaequipamentoemate-rialinformático.Há,contu-do,umsenãoquenosobrigaacolocá-ladesteladodabar-ricada.Umclientecomprou,em tempos, uma máquinafotográfica que se revelouestarestragada.Nãofuncio-nou uma única vez. Nestescasos,oqueaempresa temafazerépedirdesculpasaoconsumidor e proceder àentrega de outra máquina.Mas,ao invésdisso,aNCRfez o cliente aguardar 2 se-manas,paradepoislhedizerquereclamoujuntodofabri-cante estrangeiro, devendoeleaguardarmais2semanasaté que este se pronuncie.Ondeestamos,afinal?■

PolíciaNacional

PedroNeto

BetoKangamba

Chefedo Executivo

PimentalAraújo

Podeserquetenhasidojámovidoporalguminteresseeleitoralista,masofactodoChefe do Executivo, JoséEduardodosSantos,teridoao Menongue, coisa quenão fazia desde há muitosanos, é digno de destaque.OPresidente foi às chama-das«terrasdofimdomun-do»nestaquinta-feira,ondeorientou a primeira sessãoextraordinária da comissãopermanente do ConselhodeMinistros, algo que nosfaz lembrar a «presidênciaaberta» a que a dado mo-mento ele fazia questão depromover com viagens dogénero.Com isto, eledeixao «casulo» daCidadeAlta,mostrando-semais ao paíseaoscidadãos,coisaquelhedácertamenteumaimagembemmelhor.Foibom.■

Ao contrário do que seesperava, como desfile dehelicópteros e outros gran-des luxos, em sinal de os-tentação, também a partirdopressupostodacondiçãodanoiva-elaésobrinhadoPR -, o casamento do em-presário,políticoedirigentedesportivo Bento Kangam-bafoimaismodestodoquesepensava.Nãoobstanteo«copod’água»seterrealiza-do no Palácio Presidencial,na presença de gente esco-lhidaadedo,oactofoihu-milde enormal, a fazer jusaocarácterdonoivo,quedizserpessoamodesta,mesmocomo«algum»e«peso»quetem na sociedade.No fun-do, contou mais a vontadedeconstituir famíliacomasenhoraAvelinadosSantos.Quesejamfelizes!■

Emboraseestejaaindaaalgunsdiasdadatamarcadaparaoanúnciodosresulta-dos das eleições antecipa-dasdaFederaçãoAngolanade Futebol realizadas nestaquinta-feira, já se sabe queelas foram ganhas pelo ge-neral Pedro Neto, e comuma margem muito folga-da(58contra27),varrendoliteralmente a concorrênciadeArturAlmeidaeSilva.Épossívelqueofactodeseterpermitidoqueosclubesvo-tassemtenhapesadomuitoem desfavor do jovem em-presário,masocertoéqueelenãotemquesequeixar,por ter aceitado em ir aojogo nestas condições. Pe-droNetoseráoquintopresi-dentedaFAF,tendoàesperaum «montão» de trabalhoparareorganizaracasa.■

NCR