SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO ASHBEL GREEN …€¦ · CURSO DE TEOLOGIA BENJAMIN MARINHO DE...
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO ASHBEL GREEN SIMONTON
CURSO DE TEOLOGIA
BENJAMIN MARINHO DE SOUZA
O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
Rio de Janeiro
Novembro, 2017
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BENJAMIN MARINHO DE SOUZA
O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
Monografia apresentada ao SeminárioTeológico Presbiteriano Rev. AshbelGreen Simonton – Rio de Janeiro - RJ,como requisito parcial para a obtenção dotítulo de graduado em Bacharel emTeologia, em cumprimento aos requisitosda Disciplina de Monografia 2, de acordocom o programa do Curso.
Orientador: Prof. Rev. Carlos AntônioLima.
Rio de Janeiro
Novembro, 2017
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BENJAMIN MARINHO DE SOUZA
O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
Monografia apresentada ao SeminárioTeológico Presbiteriano Rev. AshbelGreen Simonton – Rio de Janeiro - RJ,como requisito parcial para a obtenção dotítulo de graduado em Bacharel emTeologia, em cumprimento aos requisitosda Disciplina de Monografia 2, de acordocom o programa do Curso.
Orientador: Prof. Rev. Carlos AntônioLima
Aprovado em: _____/______/_______
BANCA EXAMINADORA
Rev. Marcos Roberto Bugliani Ocanha
Rev. Carlos Antonio Lima
Rev. Ubirajara da Silva Maciel
Rev.
Rev.
Rio de Janeiro
Novembro, 2017
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A minha Esposa Lilian Mery pelo companheirismo, dedicação e pelaabnegação de vários momentos da sua vida em prol dos meusestudos. Louvo a Deus pela sua vida. Obrigado por tudo o que vocêtem feito por mim.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço,
A Deus, soberano Senhor da minha vida, por ter-me chamado para servir a
sua obra, preparando-me academicamente para o exercício do ministério da palavra
em nossa casa de profetas, o Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green
Simonton.
À família espiritual da Igreja Presbiteriana de Mesquita, e ao seu Conselho
que confiou este chamado e financiou fielmente a sua parte do início ao fim, as
Igrejas Presbiterianas Boas Novas e Santo Elias, e a estes Conselhos que me
trataram com muito carinho e respeito e me proporcionaram todo o suporte durante
o período em que estivemos juntos, e ao Presbitério de Mesquita que confiou no
meu chamado, enviando-me e sustentando-me moral e financeiramente no
seminário. Tal apoio foi imprescindível para a minha formação.
Aos meus filhos Bruno Marinho e Billy Marinho e aos meus familiares pela
compreensão nos períodos de ausência devido a minha dedicação no cumprimento
das atividades acadêmicas.
Ao corpo docente e discente do seminário do Rio de Janeiro e também todos
os seus funcionários.
Aos meus tutores Reverendo Luiz Henrique Galdeano, Reverendo Rui Reis e
Reverendo Luiz Carlos dos Santos pelo companheirismo, acolhida e apoio durante
estes anos.
Às minhas irmãs Eunice Marinho , Raquel Marinho e Eleonora Marinho a
minha amiga e irmã em Cristo Prof. Zali e também minha sogra Eula Mariza e meu
sogro Ozias Pereira que lutaram por mim em oração o tempo todo e foram
companheiros em todos os momentos.
Por fim, agradeço a minha esposa Lilian Mery, pela paciência e por entender
e participar integralmente no meu chamado.
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RESUMO
O assunto tratado aqui promove uma reflexão acerca da importância doconhecimento do Princípio Regulador do Culto. O que motivou o autor para elaboraresta pesquisa, se deu a partir de sua própria experiência em relação às dificuldadesque alguns cristãos apresentam em relação à forma de culto que devemos prestar aDeus e também da errônea interpretação por parte de alguns cristãos que tem emmente que o culto está desprovido de qualquer regra ou prescrição, e nãocompreende que para tal finalidade precisamos claramente das Escrituras,demonstrado através deste trabalho, que o culto está sob a suficiência e autoridadedas Escrituras. A primeira preocupação do autor durante a pesquisa é definição dotema, sua origem e seus termos bíblicos. No capítulo dois será mostrado através dodesenvolvimento histórico do culto como exemplos para justificar que existia ummodelo que foi seguido durante a história do povo de Deus em relação ao seu culto.O autor também proporciona através desta pesquisa a compreensão do culto noponto de vista da Reforma Protestante. Com isto, perceberemos que este princípiofora profundamente influenciado por homens conhecidos como reformadores quetiveram com o objetivo retirar tudo àquilo que não fazia parte do culto e resgataramas Escrituras para o centro de toda adoração. Enfim, chegaremos à conclusão que oPrincípio Regulador do Culto possui relevância e aplicação para os dias de hoje,quando colocarmos a Bíblia como fonte de todo conhecimento que precisamos parasabermos como devemos prestar um culto a Deus. E que apesar de vivermos hojeum momento histórico diferente daqueles homens, quando estabeleceram estanorma, chegamos a conclusão que a história não pode ser uma característica quemodifique o objetivo do culto. Mas a Bíblia continuará sendo o elemento fundamentalde toda prescrição do culto.
Palavras-chave: Principio regulador de culto. Reforma Protestante.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................
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1 PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO................................................ 101.1 Da definição semântica de culto e seu significado.......................... 101.2 Origem do Princípio Regulador do Culto.......................................... 131.3 Definição do Princípio Regulador do Culto...................................... 151.4 As Escrituras como estrutura que determina o Princípio
Regulador do Culto............................................................................. 181 .4.1 A DEPENDÊNCIA EXCLUSIVA DAS ESCRITURAS............................ 181.4.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SOBRE A IGREJA.................... 222 O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CULTO NA APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO.......................................... 262.1 O Culto na Sinagoga e o Princípio Regulador do Culto.................. 272.2 O Culto da Igreja Primitiva e o Princípio Regulador do
Culto.................................................................................................. 302.3 O Culto corrompido para satisfação do homem e o Princípio
Regulador do Culto............................................................................ 322.4 O Princípio Regulador : o culto na perspectiva reformada............. 352.4.1 A INFLUÊNCIA DE CALVINO PARA O CULTO .................................. 363 A RELEVÂNCIA E A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO REGULADOR
DO CULTO.......................................................................................... 423.1 Porque a ausência das Escrituras no culto exige a aplicação do
Princípio Regulador do Culto............................................................ 433.2 Porque o Princípio Regulador do Culto é reformado....................... 463.3 Porque os seus elementos derivam das Escrituras......................... 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 55REFERÊNCIAS................................................................................... 56
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INTRODUÇÃO
Este trabalho acadêmico tem por finalidade apresentar como tema central o
Princípio Regulador do Culto, trazendo uma abordagem específica do seusignificado, seu desenvolvimento, sua origem e sua relevância e aplicação.
Para esta pesquisa são três questões que este trabalho procurará responder
a partir do seguinte problema central: “O Princípio Regulador do Culto é aplicávele relevante para a Adoração das Igrejas atuais”?
Desta questão central decorrem as seguintes propostas:
1- O que é o Princípio Regulador do Culto?
2- Qual foi o tratamento do tema durante a história?
3- Qual é a sua aplicação e relevância para os dias atuais?
Este trabalho irá mostrar primeiramente o significado de culto, apresentando
sua etimologia e sua semântica. Definindo o que seja culto, procurando sempre usar
palavras como: serviço, curvar-se e prostrar-se como formas de expressões, de
como que devemos estar diante de Deus para cultuá-lo.
Resultado disto, é que o Princípio Regulador do Culto vai mostrar que o culto
dever ser prescrito pelas Escrituras e somente através dela que encontramos a
resposta de como devemos prestar um culto a Deus. Tendo como objetivo deste
trabalho apresentar o culto como um serviço que deve ser prestado ao seu
beneficiador, que é Deus. Logo devemos entender que o culto somente se realiza
quando as Escrituras possuem seu lugar central no culto.
Em seguida explica a definição do Princípio Regulador do culto e sua origem
pelo um movimento surgido na Inglaterra por homens que desejavam uma mudança
que trouxesse os valores e princípios éticos, e principalmente o culto da igreja que
estavam distanciados da verdadeira prescrição bíblica. Por mais que a igreja da
Inglaterra já estivesse os seus objetivos voltados para a reforma, ainda apresentava
alguns elementos que lembrava o culto Católico. Foi neste objetivo que os Puritanos
dos quais foram chamados, elaboraram um princípio ou norma para mostrar que o
culto deriva das Escrituras, e não de manifestações alegóricas dos homens. Ao
fazermos uma leitura na história da igreja pelos seus reformadores, este trabalho
procura mostrar as evidências necessárias do lugar que as Escrituras ocupam no
culto reformado. Lembrando que o objetivo principal da reforma por Lutero foi
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resgatar as Escrituras para centro o do culto, permitindo que a Igreja como povo de
Deus tivesse acesso a ela com a sua leitura, seus cânticos de Salmos e sua
pregação.
Neste trabalho o autor mostra que a Igreja medieval tinha perdido o seu culto
bíblico, devido às introduções de elementos externos, como por exemplo: as
relíquias e as imagens de ídolos modificando totalmente a forma de se prestar um
culto a Deus como lhe é devido.
Além disto, a exposição das Escrituras estava restrita a forma de linguagem
incompreensível para o povo, e acima de tudo o sacerdote ficava numa posição de
costas virada para o público lendo as Escrituras em latim conforme um ritual, e com
isso as Escrituras perdiam o seu lugar fundamental no culto que era a sua
compreensão e sua aplicabilidade na vida do povo, e a pergunta que se faz é, como
o povo de Deus poderia se beneficiar do alimento da Palavra de Deus se as
Escrituras eram privativas somente aos sacerdotes da Igreja Romana?
Este trabalho irá mostrar que a partir da Reforma Protestante do século XVI a
realização do culto voltou para a língua do povo e tinha como objetivo incluir a
comunidade na adoração permitindo então que o povo de Deus pudesse ter uma
experiência de cultuá-lo. Calvino asseverava que os adoradores deviam cultuar a
Deus de uma forma inteligente. Para isto o povo deveria ter a total compreensão da
linguagem que estava sendo usada. Os fiéis tinham de ser espiritualmente
alimentados para exercer seus direitos e, na medida do possível, entender a
participar no canto e nas orações faladas durante o culto.
E este trabalho irá mostrar que os Puritanos foram influenciados por este
movimento e consequentemente resultou na elaboração do Princípio Regulador do
Culto. Procurará mostrar que as Escrituras é o meio suficiente para conhecermos a
Deus, porque nela está revelado todo o conhecimento necessário que precisamos
para termos uma comunhão com Ele e nos relacionarmos. Devemos entender que
as Escrituras são a única fonte de conhecimento de Deus, e tudo que esteja fora das
Escrituras são suposições levantas pelos homens, mesmo que este objetivo seja o
melhor possível, contudo as Escrituras é o elemento suficiente e necessário para
todo conhecimento de Deus.
Esta pesquisa tem por objetivo mostrar a importância que as Escrituras
possuem no culto através do seu exercício na leitura, nos cânticos e na sua
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pregação. Este trabalho terá uma abordagem histórica sob a ótica reformada
Calvinista.
Podemos então afirmar com toda convicção que o culto reformado é bíblico e,
por isso, não está fundamentado em suposições de manifestações particulares de
pessoas, por achar que o culto é determinado por aquilo que agrada as pessoas ou
funciona de uma forma para atrair muitas pessoas e se torna agradável a si próprio.
Este trabalho procurará mostrar que precisaremos terr muita prudência se o
culto que prestamos a Deus estar exclusivamente voltado para a sua adoração
verdadeira, ou estamos meramente manifestando nossos interesses pessoais,
tornando o culto que deve ser Teocêntrico, em um culto voltado ao homem
tornando-o antropocêntrico. Por esse motivo que o culto deve ser supervisionado
pelo pastor da igreja, o qual deve ser conduzido de acordo com os princípios
estabelecidos pelas Escrituras Sagradas.
Para entendimento maior a respeito do culto reformado, dizemos que ele é
bíblico, porque cremos que Deus estabeleceu através de sua vontade soberana,
como deveríamos cultuá-lo e adorá-lo da forma que Ele mesmo se agrade, e nos
concedeu cada elemento que temos de utilizar no culto público. Chamamos esta
vontade de Deus como “Princípio Regulador Culto”. Isto significa que Deus
estabelece uma regra de como deve ser cultuado, e esta regra está estabelecida
nas Escrituras Sagradas.
Deus é aquele que zela pelo seu nome, pelos seus atributos soberanos, e não
deve nenhuma satisfação ao homem dos seus desejos, e sim requerer de todos nós
uma verdadeira adoração conforme o seu próprio de desejo e vontade. Afinal de
contas, Deus é Deus, o que significa que tem todo direito de ser adorado como ele
mesmo requer.
Este trabalho procura justificar porque as Escrituras trazem suficientemente
todos os elementos necessários para se prestar um culto a Deus, sem a
necessidade de manifestações de homens que possam substituir a centralidade das
Escrituras no exercício do culto celebrado a Deus.
Conclui este trabalho depois das justificativas apresentadas que o Princípio
Regulador do Culto é relevante e aplicável, devido ser bíblico.
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1 PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
A Confissão de Westminster no capítulo XXI seção I, trata especificamente de
como devemos prestar um culto aceitável a Deus. Nota-se sumariamente que as
Escrituras Sagradas são as bases aferidoras e normativas da maneira correta para
que um culto seja aceitável.
A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberaniasobre tudo; que é bom e faz bem todas a todos; e que, portanto, deve sertemido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo coração, de todaa alma e de toda a força ; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiroDeus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada,que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções doshomens ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visívelou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras. (ACONFISSÃO DE WESTMINSTER, [1647?]),)1
Logo, entende-se o porquê de existir uma norma estabelecida para as Igrejas
nos seus cultos. Faz-se necessário, inicialmente, compreender-se qual é o sentido
real do culto e por que foi estabelecida esta norma ou Princípio Regulador de Culto,
tomando como elemento aferidor as Escrituras Sagradas. Constata-se que este
tema tem provocado muitas discussões no meio dos líderes e pastores, tal é a sua
relevância para igrejas no dia de hoje. Deve-se observar que as justificativas para
não cumprimento desta norma dar-se o momento do qual vivemos hoje, chamado de
pós-modernidade, quando as pessoas justificam suas posições ou atitudes pelo fato
de estarem vivendo outro momento na história da igreja, diferentemente do passado;
como consequência, os cultos de nossas igrejas têm sofrido algumas adaptações e
inserções de elementos estranhos que têm mudado a forma de como as igrejas no
passado costumavam cultuar. Consequentemente surgem grandes perguntas
quanto á conveniência do Princípio Regulador do Culto nos dias de hoje como forma
de impedimento desses elementos estranhos. Para estas e outras perguntas,
gostaríamos de começar este trabalho de pesquisa conceituando alguns termos,
como a definição de culto, origem e definição do Princípio Regulador e sua estrutura.
1.1 - Da definição semântica de culto e seu significado
1 Ref. Rm 1. 19,20; Jr 10.7; Sl 19. 1-6; Dt 12. 32; Mt 15.9; At 17. 24,25; Ex 20. 4-6; Cl 2. 2-23
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Compreende-se que o conceito de culto que traz como termo de origem
latina, cultu, tem como tradução o sentido de adoração e homenagem. Enquanto asua etimologia do vocábulo mostra a raiz “colo, colere”, indica o sentido de honrar ecultivar.
Nas línguas originais como hebraico )sש )sהח (shachah) – Este vocábulo,
shachah, significa inclinar-se e prostrar-se, tomando como exemplo o texto de Isaias
66.22 “E acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um sábado até o
outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor”. (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
Já no grego traz a interpretação προσκυνέω (proskuneo). A
palavra, proskuneo, indica originalmente abaixar-se para beijar, vindo a indicar
prostrar-se para adorar, reverenciar, homenagear. E apresenta como exemplo o que
Jesus disse em João 4.24: “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram
[προσκυνοῦντας] o adorem [προσκυνεῖν] em espírito e em verdade”.( BÍBLIA
SAGRADA, 1999)
Continuando o conceito de culto há dois termos importantes para seu
entendimento: O primeiro é )sע abad) servir, trabalhar. Por exemplo, Yaweh diz a) דבע
Moisés em Êxodo 3.12: “Certamente eu serei contigo; e isto te será por sinal de que
eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito o meu povo, servireis a Deus neste
monte”.( BÍBLIA SAGRADA, 1999)
A segunda palavra é λατρεία (latreia) servir, como visto no diálogo de Cristo
com o Diabo: Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao
Senhor teu Deus adorarás [προσκυνήσεις], e só a ele servirás [λατρεύσεις]. É
interessante notar que um dos locus classicus de adoração e culto utiliza este termo
para descrever a entrega do corpo a Deus como culto racional [λογικὴν λατρείαν].
(LUIZ ,2016, p.27-28)
O culto, segundo Jonh Frame apresenta a sua terminologia, dizendo que o
culto é o serviço e honra a grandeza de Nosso Senhor da Aliança. Nas palavras
traduzidas do hebraico e do grego ele define culto da seguinte forma:
No hebraico tem o sentido de ”trabalho ou serviço”, é apresentado como algo
ativo e não como passivo, mas participantes com estes termos estão relacionados
primariamente ao serviço de Deus executado pelos sacerdotes no tabernáculo e no
templo, durante o período do Antigo Testamento.
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No grego, Frame mostra que significa literalmente curvar-se ou dobrar os
joelhos, mostra também com o sentido de prestar homenagem, honrar o valor e a
dignidade de alguém. Traduzindo neste grupo de palavras, o culto exprime as ideias
de honrar alguém superior a nós mesmos ao mesmo tempo, adoração e serviço.
(FRAME, 2006, p.21-22)
Outro conceito importante para compreendermos o sentido de culto está
descrito conforme o Vocabulário Bíblico de Allmen (1972, p.83) quando ele nos
mostra que o cristão possui a Bíblia como regra de fé e prática e como manual de
instrução de sua vida para o entendimento de tudo que relaciona com Deus e seus
filhos, o culto é um serviço devido a Deus pelo povo escolhido, porém não limitado a
certos gestos rituais ou cerimônias religiosas. O culto vai muito além destas
características, Ele tem seu desenvolvimento na nossa vida diária e está incluído em
todos os domínios da nossa vida. Deus deseja ser servido em todos os aspectos de
nossa vida cotidiana. Culto tem o significado também de trabalho e serviço, as
Escrituras mostram que há uma união estreitamente entre o trabalho manual e o
serviço do Criador.
Para os Puritanos que elaboraram a Confissão de Fé de Westminster a
compreensão de culto está explícita, quando nos diz que culto deve ser a prestado
ao Deus trino. Entende-se que o culto que prestamos está presente a trindade, Deus
Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Eles estão presentes desde a criação de
todas as coisas conjuntamente agindo sobre todas as coisas, por esse motivo que o
culto é trino e é pela mediação em Cristo Jesus. Compreendemos que pela nossa
condição de pecador nosso culto é imperfeito por esse motivo necessitamos
exclusivamente da mediação de Cristo.
O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo -e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem aqualquer outra criatura; nem, depois da queda, deve ser prestado a Deuspela mediação de qualquer outro senão Cristo. (A CONFISSÃO DEWESTMINSTER, [1647?])2
Devemos também entender que o culto é uma resposta do homem a Deus, e
este culto deve ser efetuado conforme a prescrição divina, não conforme as nossas
próprias motivações. Por esse motivo que Deus estabeleceu uma forma de
2 Ref. Jo. 5:23; Mt. 28:19; II Co. 13:14; Cl. 2:18; Ap.19:10; Rm. l:25; Jo. 14:6; I Tm. 2:5; Ef. 2:18; Cl. 3:17
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prescrição na sua Palavra, sendo assim a Escritura é o elemento aferidor de toda a
nossa adoração. Entende-se que o culto é um encontro do povo de Deus com seu
criador, e nesse encontro se estabelece um diálogo com pelo qual Ele fala por meio
de sua Palavra e a Igreja expressa ao Senhor uma resposta mediante as orações e
louvores.
“O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e, que deseja
dialogar com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista
num monólogo edificante no qual Deus nos fale através da Palavra.” (COSTA, 2009.
p.29)
Devemos entender que o culto público é um dos momentos mais sublime de
nossa volta a Deus e a maior evidência de nossa saudade do Senhor. O culto é uma
manifestação do povo redimido que desfruta a comunhão singular com Deus. Por
este motivo e objetivo, devemos entender que o culto não pode ser antropocêntrico,
pois existem elementos como servir, prostrar e adorar que são exclusivamente
voltados para Deus; na verdade, o culto não é para satisfazer os interesses dos
homens, mas sim satisfazer a vontade de Deus. É este o tema central do Princípio
Regulador do Culto, que despreza tudo aquilo que possa satisfazer o homem,
mesmo que as bênçãos derramadas por Deus no culto nos tragam alegria e prazer,
mas toda a adoração e satisfação devem estar voltadas para Deus.
Entende-se que o culto não é uma ação do homem a procura de sua
realização de poder cultuar a Deus. “Na verdade o culto cristão não é uma ação
humana, mas sim, uma resposta; é uma atitude responsiva à ação de Deus que
primeiro veio ao homem, revelando-se e capacitando-o a responder-lhe.” (COSTA,
2009, p.27)
1.2 Origem do Princípio Regulador do Culto.
A origem do Princípio Regulador do Culto é mostrada pela história da Igreja
como um movimento chamado de Puritanos surgido na Inglaterra por homens que
desejavam profundamente uma verdadeira reforma da igreja principalmente em
relação ao culto. A história relata que em 1559 na Inglaterra, a rainha Isabel que
sucedeu à sua meia-irmã Maria Tudor mostrava-se que era uma simpatizante da
reforma. Logo solicitou a revisão do Livro Comum de Oração.
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O livro de oração comum era um manual litúrgico contendo a forma de culto,
doutrina e disciplina da Igreja Anglicana. A rainha mesmo demonstrando seu
coração voltado para a Reforma, ainda era muita lenta e conservava muitas práticas
antigas de culto.Na organização da Igreja da Inglaterra a ideia predominante era nãointroduzir outras modificações além das requeridas pelas ideiasfundamentais do protestantismo. Isso foi devido à atitude da rainha Isabelque, interferindo em tudo quanto se fazia , procurou manter uma situaçãointermediária entre os extremos, a fim de agradar o maior número depessoas. A reforma inglesa foi desse modo, conservadora, guardando ovelho sistema de governo da igreja e muitas das antigas formas de culto.(NICHOLS, 1985, p.178)
Mas com a volta dos reformadores ingleses chamados de Puritanos que
tinham sido expulsos e exilados por Maria Tudor conhecida como sanguinária, e
muitos deles foram para Genebra buscarem refúgio, resultou que estes homens
experimentaram a influência do movimento da Reforma. Ao retornarem estavam
insatisfeitos com a lenta e parcial Reforma eclesiástica na igreja. Segundo González
comenta que os que foram expulsos voltaram mais convictos de que precisavam
urgentemente de uma reforma completa. “Trouxeram consigo fortes convicções
calvinistas, de modo que o Calvinismo se estendeu por todo o país.” (GONZÁLES,
1998, p.70)
Constata-se então que estes homens que defendiam que a Igreja Anglicana
carecia de uma completa reforma e foram apelidados jocosamente de "Puritanos".
De fato, os Puritanos acreditavam que a igreja inglesa necessitava ser purificada dos
resquícios do catolicismo. Eles clamavam por pureza teológica, litúrgica e moral e
ansiavam por mudanças litúrgicas, pois, mesmo a Inglaterra se declarando
protestante, a missa ainda era rezada em latim, eram usadas as vestimentas
clericais, velas nos altares, e o calendário litúrgico e as imagens de santos eram
preservadas. Era uma incoerente ofensa aos reformadores ingleses. A começar pela
liderança da Igreja, a prática do evangelho não estava sendo observada.
Os Puritanos exigiam não apenas mudanças externas, religiosas e políticas, mas
mudança de valores, manifesto numa ética que agradasse a Deus, de conformidade
com a Palavra de Deus. Foi por causa deste último ponto que o apelido puritano se
tornou mais conhecido. Eles eram considerados puros demais, porque queriam ter
uma vida cristã coerente com a Escritura.
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Compreende-se que os Puritanos em relação a Igreja, no que se refere ao
governo e o culto em todos seus aspectos fossem submetidos a autoridade de Cristo
em sua Palavra. O Princípio Regulador do Culto é fruto de um movimento
historicamente liderado por homens que desejavam uma mudança na forma de culto
da Igreja na Inglaterra. E este movimento chamado de Puritanos, foi muito
influenciado por princípios da reforma protestante, consequentemente resultou na
elaboração do Princípio Regulador do Culto como regra para adoração a Deus.
Nota-se que os Puritanos estavam convictos de que os princípios da reforma eram
um caminho certo que precisavam para as mudanças na Inglaterra, pois estavam
inconformados com a forma de culto, porque ainda conservavam alguns princípios
da Igreja medieval. Em um artigo publicado por uma revista chamada de Os
Puritanos seu autor diz:
Eles queriam ir avante com os princípios da Reforma, aplicando - os emáreas tais como comunhão com Deus, piedade prática, em todos osdepartamentos da vida especialmente no âmbito da igreja. Eles queriam quea igreja, no que se refere ao governo e ao culto, fosse completamentecolocada sob a autoridade de Cristo na sua Palavra. (BENNETT, 2000, p.9)
Podemos concluir que através deste movimento, eles conseguiram a maioria
do grande parlamento da Inglaterra, alcançaram o poder para tornar a Igreja da
Inglaterra como a desejavam, completamente reformada, principalmente na forma
de culto.
Com este objetivo o parlamento convocou a Assembleia de Westminster
(1643-1649), sendo composta de sua maioria de teólogos chamado justamente de
Puritanos. Nesta assembleia foi escrita e submetida à apreciação do parlamento
uma constituição completa para a Igreja da Inglaterra. Nesta assembleia foram
apresentadas a confissão de Fé, considerada como credo para uso da Igreja, e as
instruções do culto e a disciplina, e dois Catecismos, o Maior e o Breve. (NICHOLS,
1988, p.207)
1.3 Definição do Princípio Regulador Do Culto
O Princípio Regulador do Culto diz respeito ao culto a Deus na igreja,
afirmando que todos seus eventos principais precisam ser estruturado pelas
Escrituras Sagradas, são elas que definem como deve ser o culto, logo,
compreende-se que o culto não pode ser algo subjetivo preso as nossas próprias
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manifestações e interesses, mas o culto deve ser um serviço objetivamente a Deus
de como Ele requer que seu culto possa ser prestado, e esta regra ou modelo os
Puritanos chamaram de Princípio Regulador do Culto que tem as Escrituras como
regra e modelo para servir e cultuar a Deus.
Deve-se observar que o Princípio Regulador do Culto traz como finalidade o
conceito principal do verdadeiro culto, que é somente ordenado por Deus; e o falso
culto é no que se diz fruto de motivações humanas e interesses pessoais que Ele
não ordenou. Observa-se como exemplo o texto de Isaias 29.13 que condena o culto
baseado em ideias humanas: “ Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua
boca e com seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu
temor para comigo consiste só em mandamento de homens”. (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
Para entender a definição de Princípio Regulador do Culto, devemos
compreender que este termo está vinculado às Escrituras como forma de prescrição
e orientação de culto a Deus. Da mesma forma que Deus dirige toda vida humana
através de sua Palavra nos orientando como devemos viver uma vida digna, o culto
que Ele exige que prestemos esteja também regulamentado como forma de
instrução e cabe somente às Escrituras nos mostrar como devemos cultuá-lo,
porque se não for assim, qual seria o outro meio aplicável para o entendimento da
vontade de Deus em ser cultuado? É esta a definição que os Puritanos
estabeleceram e defenderam em relação ao culto, que não está errada, pois se
compreendemos que somos incapazes, pelo nosso próprio esforço humano e
vontade própria, de satisfazermos a vontade de Deus, então aceitaremos com
certeza que as Escrituras são o suficiente e necessário para entendermos como
devemos cultuar a Deus.
O termo mais expressivo usado ou a palavra chave para compreendermos o
que seja Princípio Regulador do culto é a “prescrição”, o que Deus exige para ser
cultuado está prescrito nas Escrituras.
A palavra chave é “prescrito”. Com o tempo, essa limitação do culto aquilo que éprescrito por Deus tornou-se conhecida como “ Princípio Regulador do Culto” ouculto Reformado e Presbiteriano. Esse princípio regulador reflete uma percepçãogenuína sobre a natureza do culto bíblico. Como vimos, o culto é para Deus e nãopara nós. Portanto, devemos buscar, acima de qualquer outa coisa, fazer aquilo queagrada a ele. (FRAME, 2006, p.67).
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Diante de todos estes conceitos, podemos concluir que as Escrituras são o
único meio necessário e suficiente que define a forma e o modo como devemos
prestar um culto a Deus; este era o pensamento tanto dos reformadores antes da
Assembleia de Westminster, quanto dos Puritanos na elaboração do Princípio
Regulador do Culto. Pensar que todos nós temos condições suficientes para
prestarmos um culto a Deus pelos nossos próprios esforços e vontade seria um
grande engano devido a nossa condição de pecadores e imperfeitos que somos,
pois se acharmos que no culto não existe nenhuma prescrição, podemos então
subjetivamente cultuar a Deus de qualquer forma que achamos conveniente para o
culto. Portanto é neste contexto que os Reformados e Puritanos concluíram que
existe uma regra ou princípio que as Escrituras prescrevem de como deve ser o
culto prestado Deus, e esta norma ou princípio se chama Princípio Regulador do
Culto.
É muito importante observarmos que os autores que escreveram sobre este
tema procuraram sempre mostrar como exemplo clássico, de um culto aceitável a
Deus, foram as ofertas apresentadas por Caim e Abel. Observa-se que ambos
trouxeram diante do Senhor as suas ofertas, contudo somente a de Abel foi aceita
como verdadeiro culto, enquanto a de Caim foi rejeitada, mesmo ele tendo se
esforçado em trazer do fruto da terra que lavrara perante o Senhor. Talvez a
pergunta que brota em nossos corações seja o porquê Deus não aceitou ambas as
ofertas, e somente a de Abel que lhe foi agradável. Possivelmente quando
observamos este relato bíblico registrado em Gênesis 4.3-5, constatamos algum
diferenciador nas ofertas apresentadas por Abel e Caim. Na oferta de Abel Deus fala
que foram das primícias, ou seja, dos melhores de seu gado e gordura, logo
entendemos que Deus requer o melhor de nossas vidas para que prestemos um
serviço de culto a Ele. Já na oferta de Caim que foi rejeitada, observamos que Deus
não aceita qualquer culto ou oferta, mesmo que nos esforcemos a oferecer, mas é
preciso compreendermos que Deus requer um culto conforme a sua vontade própria
e soberania, e para isto as Escrituras é o único elemento suficiente e autoritário para
encontrarmos respostas a estas perguntas sobre como devemos prestar um culto
verdadeiro e aceito por Ele, este é Princípio Regulador do Culto.
Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra umaoferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho eda gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo
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de que Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneiraCaim, e descaiu - lhe o semblante. (BÍBLIA SAGRADA, 1999)
Continuando como definição do Princípio Regulador do Culto, devemos
entender que o culto público a Deus na Igreja e todos os eventos ocorridos no
desenvolvimento dele apontem ou prescrevam ensinamentos que estejam
objetivamente voltados para a Bíblia, não com motivações alegóricas, fantasias e
invenções que satisfaçam somente aos interesses dos homens; pode ser até bonito
e interessante, mas precisa ser a vontade de Deus como forma de culto ou é mera
demonstração pessoal do homem. É preciso que no culto todos os eventos
principais tenham base nas Escrituras. (BENNETT, 2000, p.9 )
Podemos então concluir que os Puritanos, através da Confissão de
Westminster, afirmaram que as Escrituras é a instrução do culto verdadeiro que
devemos a prestar a Deus, e é este o culto que Ele mesmo requer de todos nós e
como regra de fé e prática no exercício da nossa comunhão com Ele, através do
culto que prestamos, como verdadeiro adorador, pois Ele procura os verdadeiros
adoradores conforme o texto de João 4.23 quando nos diz: “Mas vem a hora e já
chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. (BÍBLIA
SAGRADA, 1999) Deus prescreveu, através das Escrituras, como Ele deveria ser
cultuado e este preceito é o elemento suficiente e de autoridade para podermos
servi-lo e adorá-lo.
1.4 As Escrituras como estrutura que determina o Princípio Regulador DoCulto
As Escrituras são a base que conceitua o Princípio Regulador do Culto, logo,
entende-se que sem ela não há nada que possa conduzir á verdadeira adoração. É
nela que se encontra toda revelação de Deus e sua vontade e não há outro lugar tão
confiável e seguro que nos mostrem a verdade. Porque é a Palavra de Deus
inspirada, portanto, as Escrituras são o elemento aferidor do culto, ela apresenta e
responde todas as perguntas que precisamos entender a respeito da nossa relação
com Deus, conforme o texto de II Timóteo 3.16: “ Toda Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para correção, para educação na
justiça”. (BÍBLIA SAGRADA, 1999)
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1 .4.1 A DEPENDÊNCIA EXCLUSIVA DAS ESCRITURAS
A dependência das Escrituras é algo fundamental para podermos entender
todo processo de revelação estabelecida por Deus. Não existe outro instrumento de
conhecimento para se conhecer a Deus, se não for pelas Escrituras;
consequentemente podemos afirmar que somos dependentes exclusivamente dela
para nossa vida cristã como forma de relacionamento e conhecimento de tudo aquilo
que Ele mesmo requer. É preciso que tenhamos acesso ás Escrituras e
compreendamos, através da iluminação do Espírito Santo, todo desejo de Deus
neste relacionamento do homem com seu criador. Foi a partir da reforma
protestante do séc. XVI que as Escrituras chegaram nas mãos de quem de direito, o
povo, para que pudessem conhecer a Deus da forma que Ele se revelava por meio
das Escrituras. Resultado disto foi que o culto voltou para a língua do povo e tinha
como objetivo incluir a comunidade na adoração permitindo então que o povo de
Deus pudesse ter uma experiência de cultuá-lo. Calvino asseverava que os
adoradores deviam cultuar a Deus de uma forma inteligente. Para isto, o povo
deveria ter a total compreensão da linguagem que estava sendo usada. Os fiéis
tinham de ser espiritualmente alimentados para exercer seus direitos e, na medida
do possível, entender a participar no canto e nas orações faladas durante o culto.
Os expoentes da reforma mostravam-se confiante de que a Bíblia é a Palavra
de Deus, e exclusivamente quando Ela falava ao povo de Deus a sua consequência
trazia a resposta á Igreja como verdadeiro culto celebrado ao Deus vivo.
Deve-se entender que as Escrituras é o meio suficiente para conhecimento de
Deus, porque nela está revelado tudo o que precisamos para termos uma comunhão
com Ele. Devemos entender que as Escrituras são única fonte de conhecimento de
Deus; tudo que esteja fora das Escrituras são suposições levantadas pelos homens;
mesmo que este objetivo seja o melhor possível, contudo as Escrituras é o elemento
suficiente e necessário para todo conhecimento de Deus.
O autor Dr. Martyn Lloyd – Jones em sua obra Estudos nos Sermões do
Monte diz:
na vida cristã, coisa alguma é tão importante quanto a maneira como nosaproximamos da Bíblia, quanto a maneira como lemos. Ela é o nosso únicomanual de instruções, a nossa única fonte informativa, nossa única
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autoridade. Não fora a Bíblia, nada poderíamos saber acerca de Deus e davida cristã, em qualquer sentido verdadeiro. (JONES, 2017, p.12-13)
A Bíblia é Palavra do Deus vivo, soprada por Ele e dada a nós para nos
exercitar em tudo o que é necessário para a vida e piedade. Como povo Deus, nós
somos profundamente dependentes das Escrituras, confiando que a Bíblia é o único
meio infalível e inerrante pelo qual Deus fala conosco. Por essa razão, as Escrituras
devem ser o elemento central em nossos cultos de adoração.
Nós devemos lê-la, cantá-la e pregá-la nos cultos de nossas em igrejas! Ler
as Escrituras é por dever de todos nós, confiando que ela é o instrumento pelo qual
o Senhor abençoa, busca, convence e atrai. Colocar-se à frente de uma igreja e ler a
Bíblia é colocar-se como instrumento de Deus para proclamar a sua Palavra. Não há
outro meio em que Deus se revelou á humanidade que não esteja nas Escrituras, tal
é sua importância para vida de toda Igreja.
Compreendendo este conceito fundamental que toda motivação de conhecer
e cultuar a Deus não pode ser distante do que as Escrituras regulamentam. Portanto
o Princípio Regulador do Culto é uma proposta convincente porque traz como
principal argumento as Escrituras como único elemento que nos conduz á
verdadeira adoração para prestarmos um culto ao Deus Todo Poderoso. Pela nossa
incapacidade de chegarmos a Deus em decorrência do pecado que cega nosso
entendimento, Calvino esclarece, como podemos chegar a Deus, o Criador, tendo as
Escritura por guia e mestra. Calvino diz:
portanto, ainda que esse fulgor, que aos olhos de todos se projeta no céu ena terra, mais que suficientemente despoje de todo fundamento a ingratidãodos homens, serve também para envolver o gênero humano na mesmaincriminação. Deus a todos, sem exceção, exibe sua divina majestadedebuxada nas criaturas, contudo é necessário adicionar outro e melhorrecurso que nos dirija retamente ao próprio Criador do universo. Portanto,Deus não acrescenta em vão a luz de sua Palavra para que a salvação sefizesse conhecida. E considerou dignos deste privilégio aqueles a quem quisatrair para mais perto e mais íntimo. Ora, visto que ele via a mente de todosser arrastada para cá e para lá em agitação errática e instável, depois queelegeu os judeus para si por povo peculiar, cercou-os de sebes, de todos oslados, para que não se extraviassem à maneira dos demais. Nem em vãonos retém ele, mediante o mesmo remédio, no puro conhecimento de simesmo; pois, de outra sorte, bem depressa se diluiriam até mesmo aquelesque, acima dos demais, parecem manter-se firmes. Exatamente como se dácom pessoas idosas, ou enfermas dos olhos, e tantos quantos sofram devisão embaçada, se puseres diante delas mesmo um vistoso volume, aindaque reconheçam ser algo escrito, contudo mal poderão ajuntar duaspalavras; ajudadas, porém, pela interposição de lentes, começarão a ler deforma distinta. Assim a Escritura, coletando-nos na mente conhecimento deDeus que de outra sorte seria confuso, dissipada a escuridão, nos mostraem diáfana clareza o Deus verdadeiro. (CALVINO, 1985, p.84 )
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Devemos então entender, que o princípio fundamental do culto reformado de
Westminster, nos mostra claramente porque somos dependentes das Escrituras
para prestarmos um culto a Deus. Pois o culto deve ser prestado somente por meio
das Escrituras Sagradas e que somente Deus é digno de receber a nossa adoração,
sem a mediação de nenhuma criatura, apenas por meio de Cristo.
Podemos concluir que o culto pelos reformadores era prestado a Deus e a ele
somente, e não poderia existir o homem como mediador, mas somente conduzido
pelas Escrituras. Este era o motivo de entendimento dos reformadores, pois diziam
eles que cultuar a Deus de forma pura e simples é bastante complicado,
principalmente após a queda, quando todas as nossas faculdades físicas e mentais
foram manchadas pelo pecado, logo, o nosso culto também é falho. Temos então o
grande desafio de cultuar a Deus de forma aceitável, partindo de um coração
pecador e egoísta, por esse motivo que dependemos das Escrituras para
prestarmos um culto a Deus, não de uma forma subjetiva procurando os nossos
interesses, mas um culto objetivamente prescrito que está nas Escrituras.
Ainda compreendendo a nossa dependência das Escrituras, mediante o
conceito de Westminster, o culto não pode ser prestado a ninguém senão ao Deus
trino revelado nas Escrituras. Este conceito está totalmente de acordo com o que a
Palavra de Deus e é ensinado em várias passagens. Além disso, após a queda, que
é o nosso caso, este culto não deve ser prestado por intermédio de nenhum outro
que não seja Cristo, que é o único mediador da aliança divina.
No período medieval, a igreja dominante deixou-se levar por princípios
humanos e o culto passou a ser oferecido por intermédio de homens não
autorizados pelas Escrituras Sagradas. Os reformados, entendendo que o pensar da
igreja católica medieval estava desviado dos padrões estabelecidos pelas Escrituras,
buscaram modificar o culto que até então era oferecido a Deus, por um culto puro e
simples conforme proposto nas Escrituras. Estas nos ensinam o quanto Deus é
zeloso pelo seu culto, e podemos perceber isto no estabelecimento do primeiro e
segundo mandamentos relatados no livro de Êxodo 20.3-6:
não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem deescultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nemembaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nemlhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, quevisito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geraçãodaqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles
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que me amam e guardam os meus mandamentos. (BÍBLIA SAGRADA,1999).
Podemos constatar que não há divergência em relação a autoridade das
Escrituras, mas há uma unanimidade entre os cristãos que a Palavra de Deus é o
elemento essencial e indispensável do culto cristão. Desta forma podemos entender
que as Escrituras ocupam um lugar no culto de tal forma que se torna fundamental a
dependência dela para prestarmos um culto a Deus, da forma que Ele merece. O
problema então está na falta de sua aplicação, porque criamos outros meios
convenientes para satisfazer o povo e esquecemos que as Escrituras são
suficientes. Pois sem a presença das Escrituras no culto, ele se tornaria um
monólogo entre homens e tão somente. (ALLMEN, 2006, p.128)
Observa-se outro argumento sobre a dependência das Escrituras no culto foi
a prática da sua leitura herdada pelo Judaísmo. A história mostra como tradição que
pelo menos no que se refere à Torah, havia um sistema de perícopes que deviam
ser lidas no correr dos sábados do ano. Constata-se então que esta prática teve
continuidade durante a história do povo de Deus na prescrição da leitura de sua
Palavra.
Podemos também observar sobre a prática da leitura das Escrituras no culto
como dependente delas, a narrativa de Justino e sua apologia apresenta este fato;
que eram lidas “as memórias dos apóstolos” que nos mostra que eram sem dúvida,
os Evangelhos e os escritos dos profetas. (ALLMEN, 2006, p.129)
Mostra-se então que a dependência das Escrituras e a sua aplicabilidade no
culto estava voltada na prática da leitura das Escrituras. Outra observação que
comprova o exercício da Palavra de Deus na Igreja foi no período do Apóstolo Paulo
quando ele faz recomendação para que se leiam as suas cartas em público isto
demonstra que a prática do exercício das Escrituras era algo fundamental na vida do
povo de Deus, consequentemente é o único elemento suficiente instrutivo para
prestarmos o verdadeiro culto a Deus.
1.4.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS SOBRE A IGREJA.
Podemos entender se as Escrituras é o elemento de autoridade e não existe
nenhum outro documento acima dela, logo podemos concluir que a igreja está
submissa às Escrituras e, consequentemente, á sua liturgia e culto. Porque a Igreja
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não tem vontade própria, Deus é dono da Igreja, é Senhor do culto e as Escrituras
revelam os seus propósitos e objetivos. Entende-se então que tudo aquilo que fere a
sua vontade reveladas nas Escrituras, principalmente em relação ao culto devem ser
desprezados, pois é pura motivação humana tornando o culto mais voltado ao
interesse do homem do que propriamente ao serviço de Deus.
Podemos ver no decorrer da Reforma que os reformadores no século XVI
tiveram um grande objetivo nos debates a respeito da autoridade suprema
inquestionável das Escrituras. A grande questão em debate era se autoridade estava
sobre a Igreja representada pelos bispos ou sobre as palavras dos apóstolos
registradas nas Escrituras Sagradas. Concluíram que não existem nada que possa
suplantar as Escrituras, sozinha é autossuficiente e de total autoridade para
conhecimento e vida cristã.
Os reformados determinaram que a Escritura sozinha é a revelaçãosuprema e autoridade de Deus. A igreja não tem autoridade em nível deigualdade com a Escritura. Podemos achar a verdade de Deus em lugaresalém da Bíblia. Podemos achá-la em livros corretos sobre teologia, contantoque sejam corretos, mas eles não são a fonte original da revelação especial.(SPROUL, 2017, p.70)
Podemos constatar que os reformadores recuperaram a doutrina da
autoridade das Escrituras que havia sido suplantada durante a Idade Média. Os
reformadores rejeitaram a autoridade e infalibilidade papal e reestabeleceram a
autoridade e infalibilidade das Escrituras. Pois entenderam que este conceito é
derivado da própria Escritura e possui raízes nos profetas do AT, no Senhor e seus
apóstolos.
Um dos aspectos da Reforma é termo usado como Sola Scriptura, que
determina a base do Princípio Regulador do Culto que tem como objetivo provar que
as Escrituras são verdadeiramente o meio autorizado por Deus que concede ao
homem o conhecimento necessário do nosso Criador. Somente a Bíblia é a Palavra
de Deus. Desta forma a sua autoridade é suficiente para determinar como devemos
prestar um culto a Deus. A autoridade das Escrituras tem o poder de julgar todos os
méritos voltados ao povo de Deus referente á maneira de como devemos nos
comportar diante de Sua Presença. Este termo de Sola Scriptura no remete a Lutero
quando diante da cidade de Worms perante ao Imperador Carlos V e os príncipes
da Alemanha e reafirma a sua posição em relação a autoridade das Escrituras ele
diz:
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já que me pede uma resposta simples, darei uma que não deixa margem adúvidas. A não ser que alguém me convença pelo testemunho da EscrituraSagrada ou com razões decisivas, não posso retratar-me. Pois não creionem na infalibilidade do papa, nem na dos concílios, porque é manifesto quefrequentemente se têm equivocado e contradito. Fui vencido pelosargumentos bíblicos que acabo de citar e minha consciência está presa naPalavra de Deus. (FERREIRA, 2014, p.175)
A autoridade das Escrituras está em demonstrar de fato que a Bíblia é única
regra a que devemos submeter a nossa vida. A autoridade das Escrituras Sagradas
é declarada pela confissão de Fé Westminster, que pela razão deve ser crida e
obedecida; não depende de testemunho de qualquer homem, ou seja, mas depende
exclusivamente de Deus que é seu autor e tem, portanto, de ser recebida, porque é
a Palavra de Deus.
Por ser a Palavra de Deus, A escritura é autoridade final e definitiva paratodos os assuntos de fé e de vida. A Bíblia é o único padrão absoluto eobjetivo, pelo qual a ética, a doutrina, o governo da Igreja e a adoraçãodevem ser julgados. A confissão de Westminster afirma que “o JuizSupremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm e serdeterminadas, e por quem serão examinados todos os decretos deconcílios, todas as opiniões e antigos escritores, todas as doutrinas ehomens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nosdevemos afirmar, não pode ser senão o Espírito Santo falando na Escritura.Homens pecadores e falíveis põem e recebem autoridade delegada porDeus, mas somente Deus, que é o Soberano absoluto e Criador de todas ascoisas, tem o direito à sujeição da fé e a obediência das homens.(SCHWERTLEY, 2001, p.21)
Portanto devemos entender que termo “Sola Scriptura”, como um dos pilares
da reforma, traz como definição, a Bíblia como divina Palavra de Deus, infalível e
absolutamente a autoridade para todos os assuntos referentes á fé e à vida.
Podemos então dizer que o culto é um serviço que devemos prestar a Deus e
necessita está regulamentado pelo elemento de toda autoridade que objetivamente
revela a vontade Deus. Portanto este elemento é a Palavra de Deus que determina o
Princípio Regulador do Culto, logo, podemos dizer que este princípio segue a
prescrição bíblica.
Como palavra escrita de Deus contém tudo o que existe da revelação direta(com a morte dos apóstolos e o fechamento do cânon), apenas e somente aBíblia é a autoridade da igreja. Portanto a Escritura é clara (i.e., todo ensinonecessário à salvação, fé e vida, são facilmente compreendidos pelaspessoas comuns) não há necessidade de quaisquer fontes adicionais deautoridade para interpretar a Bíblia infalivelmente para igreja. A igreja(sejam ou não papas, cardeais, bispos, pais da igreja, concílioseclesiásticos, sínodos ou congregações) não tem autoridade sobre a Bíblia,
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mas a Escritura auto -autenticada tem autoridade absoluta sobre a igreja esobre todos os homens. Por ser a Bíblia, o mister da igreja é puramenteministerial e proclamador. Todos os homens são proibidos de acrescentarou subtrair algo das Sagradas Escrituras, seja pelas tradições humanas ouseja, pelas assim chamadas novas revelações do Espírito, ou pelosdecretos de concílios e sínodos. A Bíblia é suficiente e perfeita e nãonecessita de quaisquer acréscimos humanos. Além do que, apenas aquiloque é ensinado na Escritura pode ser usado para tornar cativas asconsciências dos homens. (SCHWERTLEY, 2001, p.13 )
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2 O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CULTO NA APLICAÇÃO DOPRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
Neste capítulo mostra-se como se desenvolveu o culto na história do povo de
Deus em períodos diferentes mostrando os argumentos que os Reformadores e
Puritanos convalidaram com a aplicação do Princípio Regulador do Culto. Constata-
se que a motivação dos Puritanos em estabelecer o Princípio Regulador do Culto
teve como objetivo restaurar a forma de como o povo de Deus deixou um modelo
de culto. Os Puritanos ao observar que o culto tinha perdido a sua essência e a sua
centralidade nas Escrituras Sagradas, procuraram desenvolver um princípio que
pudesse resgatar a Bíblia no culto, deixando de lado todo aparato Católico que
substituísse a Palavra de Deus.
Ao estabelecerem o Princípio Regulador do culto, os Puritanos procuraram
desenvolver uma maneira de culto com os mesmos elementos que a história
mostrava ser desenvolvido o culto nos seus primórdios. Observa-se que o culto era
de uma forma simples e objetiva, as Escrituras tinham um lugar fundamental na sua
realização, ao contrário do que eles estavam vivendo, um culto profundamente
subjetivo, voltado para o homem deixando de lado toda prescrição bíblica. É claro
que devemos considerar o fato de que a história não é passiva nem estática e sim
ativa, devemos respeitar a evolução da história no mundo e suas transformações,
mas até que ponto estas transformações têm mudado nosso comportamento em
relação ao culto? Será que existe um modelo deixado pelo povo de Deus na história
da igreja que possa servir como padrão ou orientação de como devemos prestar um
culto a Deus? É nesse contexto que apresentaremos como desenvolveu o culto na
história da Igreja e por que os Puritanos desenvolveram o Princípio Regulador do
Culto olhando para este modelo como referência de adoração cristã.
Este é o ponto central do culto e de toda discussão sobre de que forma
devemos cultuar a Deus neste novo momento de nossa história, sem adulterar os
princípios básicos de adoração que estão estabelecidos nas Escrituras Sagradas.
Observa-se que podemos viver as mudanças transformadoras de uma sociedade,
sem perdermos aquilo que as Escrituras nos conduzem para verdadeira adoração.
Estes homens viveram seu tempo e sua história, mas sempre estiveram olhando
para as Escrituras como elemento regulador e modelo de como conduzir suas vidas,
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servindo a Deus em adoração. Este também é o grande desafio da Igreja de nossos
dias. Como devemos cultuar a Deus dentro do espaço e tempo que vivemos
historicamente hoje, sem alterar os princípios estabelecidos por Deus revelado em
suas Escrituras?
Por isso queremos apresentar alguns modelos de como era desenvolvido o
culto pelo povo de Deus na história da Igreja:
2.1 O Culto na Sinagoga e o Princípio Regulador do Culto
Queremos começar fazendo referência ao surgimento do culto nas sinagogas
como forma de convalidar que o Princípio Regulador do Culto possui base bíblica.
Constata-se que a prática do culto na sinagoga desenvolveu-se como local de
adoração e referência. Historicamente mostra que o surgimento do culto na
sinagoga foi relevante para o retorno da adoração do povo no período em que Israel
estava cativo na Babilônia. Observa-se que eles tinham perdido o seu culto no
templo e agora, sujeitos ao domínio dos babilônicos, precisavam de um lugar para
continuar cultuando a Deus.
No exílio, os judeus estabeleceram centros de locais de adoração
denominados sinagogas, que eram tipicamente um auditório retangular com uma
plataforma elevada para o orador, e por detrás havia uma arca portátil, contendo
rolos do Antigo Testamento. A congregação se assentava em bancos de pedra ou
em esteiras e, possivelmente, havia assentos de madeira no centro do salão.
Defronte de rostos voltados para a congregação, assentavam-se os dirigentes ou
anciãos da sinagoga.
O culto na sinagoga era tipicamente simples e objetivo, não havia nenhuma
invenção: a elevação do rolo da lei, a oração introdutória, o púlpito, a permanência
de pé do povo, a presença de alguns leitores e a explicação da passagem que era
lida. A forma e o desenvolvimento do culto que discorria eram através de cânticos,
neste caso os Salmos, Lia-se o Antigo Testamento em pé e, consequentemente, a
sua exposição era através da pregação e, quando das orações, todos se
levantavam. (GUNDRY, 1978, p.43-46 )
Percebe-se então que o culto não era desprovido de regra, mas havia um
princípio ou norma de ordem de culto. E todos que ali estavam obedeciam este
princípio, porque os seus objetivos eram prestar um serviço de culto a Deus. O culto
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típico da sinagoga consistia na recitação responsiva da Shema, que era o texto de
Dt 6.4 : “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
Podemos inferir através deste contexto histórico, o propósito que Israel teve,
quando estabeleceu as sinagogas, como retorno aos princípios que Deus exigia
para ser adorado, prescrito pelas Escrituras. Observa-se também o mesmo
propósito dos Puritanos quando desejaram o retorno da verdadeira adoração
prescrita pelas Escrituras, por terem eles vivido um exílio Católico, no qual haviam
sidos substituídos os valores bíblicos. E por este motivo os Puritanos estabeleceram
o Princípio Regulador do Culto.
Podemos constatar que a sinagoga era a principal expressão religiosa do
povo judeu, local onde se reuniam para realização do culto de adoração a Deus.
Observa-se que, no seu exercício de culto, a atividade central era a leitura das
Escrituras, como também cânticos ou recitações de Salmos bíblicos e talvez outras
composições parecidas com as que se encontram no Saltério. Este relato é
encontrado nos documentos de Cunrã. Observamos que essa prática se perpetuou
nos períodos posteriores como forma de homilias no culto da sinagoga. (HURTADO,
2011, p.48-49)
Outra forma que convalida o Princípio Regulador do Culto em relação às
Escrituras como elemento central do culto, é quando observamos a narrativa no
texto de Atos 13.15 e vemos como se desenvolvia o culto numa sinagoga: “Depois
da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos,
se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a”. (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
A prática da centralidade das Escrituras no culto não é algo novo, não foi
criado pelos reformadores e subsequentes, mas era um exercício praticado muito
séculos atrás como forma e modelo de adoração. O que os Puritanos fizeram foi
restaurar este modelo de adoração para o culto, tornando as Escrituras o centro de
cânticos através dos Salmos, sua leitura e pregação.
Pode-se também observar, conforme narrado no livro de Neemias cap.8. 2-3,
que as Escrituras ocupavam o centro de toda adoração. Constata-se isto quando
Neemias convocou todo povo e fez a leitura das Escrituras. Neste período havia um
imperador chamado Xerxes que tinha designado a Neemias para reestabelecer o
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Templo de Jerusalém e seus serviços, e ele inicia sua adoração convocando para
uma assembleia solene com a leitura das Escrituras.
Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, tanto homenscomo de mulheres e de todos os que eram capazes de entender o queouviam. Era primeiro dia sétimo mês. E leu no livro, diante da praça, queestá fronteira á Porta das Águas, desde a alva até a alva até ao meio-dia,perante homens e mulheres e os que podiam entender; e todo povo tinha osouvidos atentos ao livro da lei. (BÍBLIA SAGRADA, 1999)
Notamos, pela leitura do texto, que nos tempos de Jesus havia o culto na
sinagoga, o qual Ele frequentou, como também seus discípulos, como local de
adoração da tradição Judaica, e não vemos nenhuma alteração na forma de culto,
pelo contrário, foram mantidos os mesmos padrões de adoração que se haviam
estabelecido como culto na sinagoga. Jesus, ao ir a sinagoga, foi convidado a subir
à plataforma e, ler as Escrituras e consequentemente, pregar. Era já um costume
antigo que um rabi visitante deveria ser convidado a ler uma passagem da Escritura
e então comentá-la. Neste caso, Ele recebeu o livro de Isaías como vemos conforme
Lucas 4.16-17:
“Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga,
segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então, lhe deram o livro do profeta
Isaías, e abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito.” (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
Observar-se então, Jesus frequentava e ensinava na sinagoga. Portanto, o
culto realizado neste local não foi reprovado por Ele, e não vemos nenhuma forma
de crítica sobre o culto realizado naquele momento. Sendo Ele, o Cristo, Senhor de
todas as coisas poderia, com toda sua autoridade, demonstrar reprovação da forma
de culto que se praticava, considerando que o momento seria outro com a sua
chegada. Ao contrário, teve a sua aprovação como forma de adoração. Isto prova
que o tempo não é o elemento determinante para prescrição do culto, prova disto foi
a presença de Jesus na sinagoga em seu tempo. (FRAME,2006, p.47)
Conclui-se então, através do desenvolvimento do culto na sinagoga, que era
peculiar no seu exercício a prática da prescrição bíblica. Logo mostra que o Principio
Regulador do culto teve base bíblica no decorrer na sua elaboração. Observa-se que
o culto na sinagoga começava com uma Salmodia tradicional e orações, e a Palavra
de Deus era lida e ensinada, principalmente quando as Escrituras são
predominantes na forma de adoração através dos cânticos dos Salmos, leitura e
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pregação da Palavra de Deus. Os relatos históricos mostram que os salmos eram
cantados tanto no final do serviço do Templo como também no final do serviço da
sinagoga. Começar e terminar o serviço de adoração com salmos de louvor era uma
coisa muito natural de se fazer na adoração da sinagoga assim como tinha sido
muito natural no Templo.
Os primeiros cristãos assumiram muitas tradições de adoração da sinagoga.
Justificando o objetivo dos Puritanos que exigiam o culto voltado especificamente
para as Escrituras. Conclui-se, então, que o serviço simples da sinagoga era: a
leitura da Escritura, seu sermão, suas orações, e sua salmodia. Podemos concluir
que o culto era prescrito pela Escritura como forma de adoração.
2.2 O Culto da Igreja Primitiva e o Princípio Regulador do Culto
Da mesma forma que o culto na sinagoga serviu como exemplo de explicação
e argumentação para justificar o Princípio Regulador do culto, queremos neste
momento apresentar a culto desenvolvido pela igreja chamada Primitiva que foi
também exemplo de modelo para os Puritanos no desenvolvimento do Princípio
Regulador do Culto. Nota-se que esta Igreja do primeiro século demostrou princípios
e valores fundamentais para a vida cristã e continua servindo como modelo para
nossos dias atuais. São observados que os objetivos dos Puritanos eram trazer de
volta o exemplo desta Igreja chamada primitiva, que tinha deixado para seus
sucessores exemplo de padrão e caráter. Esses cristãos do primeiro século
conhecidos como Igreja Primitiva, distinguiam suas vidas pela atitude de um fervor e
pureza moral jamais conhecidos em qualquer parte. (NICHOLS, 1985, p.21)
Quando os apóstolos pregavam, suas palavras tinham um alto valor de
credibilidade, devido terem sidos testemunhas de Cristo, porque faziam relatos
desses momentos em que estiveram com Ele e pregavam a mensagem que Cristo
tinha deixado para a futura Igreja que surgiria através de suas vidas conforme Atos
2.42-43:
“E perseveram na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e
nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por
intermédio dos apóstolos”. (BÍBLIA SAGRADA, 1999)
Encontram-se também, relatos históricos da forma de culto no momento do
primeiro século, em que as reuniões nas sinagogas continuavam sendo um
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momento de culto para os judeus e a forma de como exerciam a sua prática.
Observa-se também a aplicação das Escrituras como forma e prescrição para o
culto em adoração a Deus.
A leitura da Escritura e homilias aparecem, por exemplo, nos relatos doNovo Testamento a respeito das atividades da sinagoga, os quais devemser tomados como evidência de uma prática do primeiro século conhecidados autores. Tanto Josefo quanto Filo de Alexandria fazem referência àleitura, à explicação e ao ensino da Escritura como atividades regulares dasreuniões semanais da sinagoga do primeiro século dc. (HURTADO, 2011,p.49)
Logo, podemos fazer uma similaridade com o que os Puritanos exigiam da
Igreja, no século XVII. Infere-se que o mesmo modelo desenvolvido pela Igreja
primitiva pelo seu caráter moral, pureza e forma de culto desenvolvido, foram
relevantes para elaboração do Princípio Regulador do Culto tendo sempre como
prescrição o exercício das Escrituras Sagradas como centro de adoração e serviço a
Deus.
Nota-se então que o modelo de culto que a Igreja primitiva praticava
apresenta mesma a simplicidade do Princípio Regulador do Culto, sem nenhuma
alegoria ou invenção humana. Portanto, o que a igreja primitiva praticava em seus
cultos era: faziam orações, ministravam ensinos de Jesus, cantavam Salmos, liam e
explicavam as Escrituras Sagradas através do Antigo Testamento. Deve-se também
observar uma característica predominante nesta igreja, quanto às cartas escritas
pelos apóstolos enviadas para as igrejas e que eram lidas para a comunidade,
cartas estas que encontramos no Novo Testamento. Constata-se então que não
existia nada de diferente no culto, mas a sua centralidade estava voltada para Cristo,
como único beneficiador do culto; todos seus eventos eram para mostrar que Cristo
era verdadeiramente o filho de Deus que veio trazer a redenção. Neste momento
histórico, o que prevalecia no culto primitivo era uma obediência à Palavra de Deus,
um sacrifício de nós mesmos ao propósito de Cristo. (FRAME, 2006, p.54-55)
Portanto, devemos entender que, apesar de Cristo ser o centro do culto no
início da Igreja, não devemos pensar que não havia nenhuma ordenança ou
prescrição de como a Igreja deveria prestar um culto. Ao contrário, havia ordenança
para o louvor e oração comunitária, ensino e celebração dos sacramentos. Podemos
observar através do texto de Atos 2.42 quando diz: “Perseveravam na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. (BÍBLIA SAGRADA,
1999)
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Observa-se que o modelo de culto do primeiro século, da Igreja Primitiva,
perpetuou para o século posterior. Constata-se que o culto dos cristãos nos meados
do II século, já havia se estabelecido no domingo como Dia do Senhor, e suas
reuniões praticavam o exercício da centralidade das Escrituras, tendo-as como
observância na sua liturgia do culto com a leitura das Escrituras, cânticos de salmos,
pregação e orações. Encerrava-se este momento de culto através da celebração da
Santa Ceia. (NICHOLS, 1985, p.34)
Quando olhamos para história do povo de Deus, percebe-se que sempre este
povo procurava preservar o modelo de adoração Cristã de seus antepassados
diante das Escrituras, como orientação e prescrição de como eles deveriam cultuar
a Deus.
Então, conclui-se que o objetivo dos Puritanos em estabelecer o Princípio
Regulador do Culto remonta a esta história de adoração transcorrida no tempo, da
qual se estabeleceu um modelo de culto que eles defendiam.
2.3 O Culto corrompido para satisfação do homem e o Princípio Regulador do Culto
Neste momento vamos mostrar que o culto passa por um período conturbado
e obscuro, devido justamente ter perdido a forma da prescrição bíblica. Foi a partir
deste modelo de culto, que os Puritanos posteriormente no séc. XVII o rejeitaram.
Constata-se que, na história da igreja, o culto foi corrompido e adulterado para
satisfazer interesses de homens. Sendo totalmente alterado pela inserção de
elementos que substituíram a relevância das Escrituras no culto Cristão. Observa-
se, então, pela história da igreja a chegada de muitos pagãos ao Cristianismo.
Devido á proibição do imperador Constantino a perseguição aos cristãos, muitos
desses pagãos trouxeram suas práticas de cultos para dentro do cristianismo.
O paganismo afetou o culto cristão nesses séculos porque a Igreja viveu nomeio desse paganismo até 400 A.D. e também porque, depois deConstantino, muitíssimos pagãos entraram na Igreja, sem conversão. Oculto dos santos é um exemplo frisante dessa tendência. Era natural que setributasse veneração aos mártires e a outros homens e mulheres, famosospor sua santidade. (NICHOLS, 1985, p.51)
Neste período do século IV, conhecido como período da Igreja Antiga (313-
590), os templos se tornaram maiores com muitas decorações, desenvolveu-se a
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sua arquitetura, suas paredes e colunas tinham pinturas, mosaicos e desenhos,
transformaram a celebração da Eucaristia em uma cerimônia imponente, tornando
enfático o pensamento de que o sacramento era oferecido pelo sacerdote a favor do
povo, como sacrifício eficaz para salvação, resultando a intenção de tornar a
pregação da Palavra de Deus menos importante.
Percebe-se então que o Princípio Regulador do Culto é conveniente a sua
aplicação, devido à questão das manifestações dos homens no culto sem a
prescrição bíblica. Conforme já observado anteriormente na confissão de fé no
capítulo XXI seção I quando nos adverte como devemos cultuar.
[O] modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo,e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode seradorado segundo as imaginações e invenções dos homens [...] nem sobqualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescritonas Santas Escrituras. (A CONFISSÃO DE WESTMINSTER, [1647?])
Podemos também inferir que o texto de Jeremias 7.23,24, traz o
entendimento do culto verdadeiro que se origina na mente de Deus e é revelado na
Bíblia, conforme o Princípio Regulador do Culto nos mostra como objetivo principal
do seu conceito:
mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vossoDeus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vosmandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seusouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seucoração malvado; e andaram para trás, e não para diante. (BÍBLIASAGRADA, 1999)
Consequentemente, seguindo esta trajetória pelas motivações dos homens, a
Igreja perde sua essência de culto. O Deus revelado por Cristo não era mais o único
meio suficiente de adoração, mas as grandes invenções da mente humana para
satisfação de si mesmo, assumindo o homem o lugar no culto, tornando-o
antropocêntrico. Além disto, as Escrituras eram somente reservadas aos sacerdotes
da igreja e o povo não tinha acesso a sua leitura e ao seu conhecimento. O único
meio era quando o sacerdote de costa para o público recitava os textos bíblicos em
latim o que tornava sua leitura incompreensível ao povo. A igreja era a autoridade e
santa e está acima de tudo em seus dogmas, conforme relato baixo:
A concepção católica romana da santidade da Igreja também éprimariamente de caráter externo. Não é a santidade interna dos membrosda Igreja pela obra santificadora do Espírito Santo, mas a santidadecerimonial exterior é que é posta em primeiro lugar. A Igreja é santa acima
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de tudo em seus dogmas, em seus preceitos morais, em seu culto e em suadisciplina, que tudo é puro e irrepreensível, tudo é de natureza tal que éplanejada para afastar o mal e a iniquidade, e para remover a mais exaltadavirtude. (BERKHOF, 2012, p.527)
Chegado o período da Idade Média (590- 1294) as coisas pioraram mais em
relação ao culto. Percebe-se que culto tinha como elemento principal os
sacramentos que ocupavam maior parte da adoração. Os sacramentos que eles
consideravam como principais da celebração do culto eram: o batismo, confirmação,
eucaristia, penitência, extrema unção, ordem e matrimônio. Pois ensinavam que
estes elementos eram o que constituíam como obrigação para se conquistar a
salvação, resumindo este conceito os simples atos dos sacramentos tinham em si
mesmos poderes salvadores positivos.
A missa era o elemento central do culto, o maior dos sacramentos. Ela eracelebrada com muito esplendor, por meio de cerimônias, movimentos,vestimentas riquíssimas, música solene, em belíssimos templos; muita coisasó para ser vista e ouvida, tudo com o propósito de produzir uma poderosaimpressão no espírito, pelos sentidos. (NICHOLS, 1985, p.108)
Percebe-se, então, que pregação da Palavra de Deus tinha perdido seu valor
primordial no culto. Em virtude de os sacramentos estarem numa posição mais
elevada e serem colocados num lugar de destaque, a pregação da Palavra de Deus
foi perdendo a sua predominância no culto e ocupando um lugar secundário de
pouca importância.
Podemos então concluir diante deste relato histórico, que o homem quando
começa a inserir modos diferentes de elementos externos no culto, contrariando as
Escrituras, que é o instrumento regulador e aferidor do culto verdadeiro a Deus, que
o culto perde totalmente o seu propósito e objetivo, com a interferência de meios que
não estão prescritos na Palavra de Deus. Logo o Princípio Regulador encontra
argumento na história da Igreja para exigir a sua aplicação.
Contudo devemos entender que todas as coisas estão debaixo governo de
Deus. E não há nada que esteja fora do seu controle conforme o texto de Romanos
11.33-36:
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento deDeus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seuscaminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seuconselheiro? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (BÍBLIA SAGRADA, 1999)
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Por este motivo Deus providenciou os meios necessários para que sua Igreja
voltasse aos princípios de culto que estão prescritos em sua Palavra revelada nas
Escrituras. E nota-se como meio proveniente de Deus, um movimento histórico
chamado de Reforma Protestante, que teve como objetivo resgatar as Escrituras
para seu devido lugar.
Portanto, cremos que Deus providenciou os meios necessários para que a
sua igreja voltasse à prática do verdadeiro evangelho. A Reforma Protestante do
século XVI foi um movimento dirigido por Deus para que a igreja voltasse á
verdadeira prática do culto centralizado nas Escrituras Sagradas. Por este motivo
devemos entender que o culto a Deus não pode ser por pura motivação humana,
como algo subjetivo que manifesta o nosso pensamento e desejo. Constata-se,
então, que este período da igreja foi quando o culto esteve voltado aos interesses
dos homens. Devemos entender que o serviço de culto é para ser prestado a Deus e
para agradá-lo.
O culto não tem a ver com a gratidão de Deus para conosco; mas como anossa gratidão a ele. Deus não se agrada de qualquer coisa queapresentemos diante dele. O Senhor poderoso do céu e da terra exige queo nosso culto – na realidade toda nossa vida – seja governada por suaPalavra. (FRAME, 2006, p.65)
Portanto, deve-se observar qual é o propósito do culto, senão nós estaremos
caindo no mesmo erro desses homens que se apropriaram do culto tornando-o um
meio conveniente aos seus próprios interesses. Logo, devemos entender que o culto
é para Deus sendo Ele único beneficiador da nossa adoração.
2.4 O Princípio Regulador : o culto na perspectiva reformada
Neste contexto histórico apresentaremos o culto desenvolvido pelos
reformadores, buscando como referência narrativa o culto em Calvino. Reformador
que se apresentou como um grande defensor da autoridade e suficiência das
Escrituras. Percebe-se que o objetivo dos reformadores era restaurar o culto
verdadeiramente bíblico, colocando as Escrituras no centro de toda adoração. Para
tanto um dos pilares da Reforma Protestante se consolidou com o termo SolaScriptura este conceito expressa que somente as Escrituras são suficientes paranos dirigir e nos conduzir ao conhecimento de Deus e suas verdades. Para isto
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precisaram-se desvencilhar de todo o aparato Católico para trazer de volta o
verdadeiro culto. Constata-se que os objetivos de Calvino, e posteriormente os
Puritanos, eram resgatar o culto que fora essencialmente praticado no início do
cristianismo, que demonstrava sua centralidade nas Escrituras. Calvino
frequentemente cita figuras-chave da Igreja primitiva como guias de autoridade que
sustentam sua posição. (REEVES; CHESTER, 2017, p.49)
Pois a Reforma Protestante foi essencialmente uma reforma do culto, através
do resgate das Escrituras, que comprova que não há outro instrumento tão eficaz e
suficiente para culto que corresponde à necessidade do homem em cultuar a Deus
de uma forma que ele perceba que sua adoração tem chegado ao seu objetivo. Este
era o pensamento dos reformadores: não poderia haver culto sem as Escrituras.
Calvino tinha profunda seriedade e responsabilidade de trazer as Escrituras como
único parâmetro e condutor para chegarmos a Deus numa verdadeira adoração.
Percebamos como ele influenciou homens e cidades, valendo-se das Escrituras
como forma de se viver com dignidade, respeito e principalmente na comunhão com
Deus.
2.4.1 A INFLUÊNCIA DE CALVINO PARA O CULTO
Neste contexto queremos mostrar a influência que Calvino trouxe por lugares
por que ele passou e desenvolveu seu papel na história da igreja como reformador,
tendo sempre como princípio e regra na sua vida o que as Escrituras prescrevem.
Deve-se ressaltar que Calvino teve grandes colaboradores nesta empreitada na
história da igreja e mostra que não foi tão fácil vencer as adversidades
principalmente numa época em que um governo fosse contrariado com certeza era a
morte.
Devemos lembrar que Genebra foi á cidade em que alguns Ingleses
estiveram refugiados, quando a rainha Maria Tudor da Inglaterra os perseguiu.
Devido a esses homens terem em mente os princípios da reforma protestante, que
contrariavam o projeto da rainha Maria, que se mostrava voltada à prática de culto
nos moldes Católicos, eles futuramente, foram chamados de Puritanos, quando
retornaram à Inglaterra. Nesta cidade, eles receberam todo conhecimento
necessário sobre reforma protestante, a ponto de suas vidas serem profundamente
influenciadas pelo Calvinismo. Resultado disto, quando voltaram para Inglaterra,
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estavam convictos que a Reforma era único o meio de restaurar o culto bíblico,
consequentemente a elaboração do Princípio Regulador do Culto.
Ao observarmos o desenvolvimento do culto na cidade de Genebra de onde
os tais ingleses foram influenciados como vimos anteriormente que foram
instrumentos para a reforma de culto na Inglaterra e conhecidos como Puritanos,
devemos também observar que Calvino teve grandes aliados neste desenvolvimento
de modelo de reforma do culto, sempre tendo como prescrição a Bíblia, que serviu
como exemplo para o estabelecimento do Princípio Regulador do culto pelos
Puritanos na Inglaterra. Observa-se que antes de Calvino chegar à cidade de
Genebra, já havia um homem dedicado a transformar esta cidade em um referencial
da Reforma Protestante, principalmente na questão do culto de celebração a Deus.
Willian Farel foi conhecido como iconoclasta da reforma na Suíça. Procurou expulsar
todo tipo de traço de ritualismo deixado pelo catolicismo, limpou totalmente a
Catedral da cidade de Neufchatel dos ornamentos romanos e substituiu os
elementos do altar principal por duas mesas de comunhão, colocando nelas o pão eo vinho do sacramento e, subindo ao púlpito, se expressava dizendo: “este é o culto
que o Deus requer; que seja adorado em espírito e verdade; pois não busca de vós
outra adoração senão esta”.(BAIRD, 2001, p.18)
A liturgia de Calvino começou a ser desenvolvida após sua chegada, em
1536, devido a sua permanência ser forçada por William Farel. Calvino não queria
ficar em Genebra, pois estava somente de passagem mas diante das circunstâncias,
ele então permaneceu lá para ajudar Farel a trazer a estabilidade da Reforma
Protestante. O objetivo de Farel era buscar em Calvino aquele que iria direcionar a
Reforma Protestante na cidade.
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coag