SENSO DE COERÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA EM … · Mestradro em Hebiatria da Faculdade de ... Dra....
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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO
MESTRADO EM HEBIATRIA
VIRGÍNIA MENEZES COUTINHO
SENSO DE COERÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA EM
ADOLESCENTES COM DOENÇAS CARDÍACAS
CAMARAGIBE
2013
VIRGÍNIA MENEZES COUTINHO
SENSO DE COERÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA EM
ADOLESCENTES COM DOENÇAS CARDÍACAS
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestradro em Hebiatria da Faculdade de
Odontologia da Universidade de
Pernambuco, como requisito para obtenção
do título de mestre em Hebiatria.
Orientadora: Profa. Dra. Mônica Vilela Heimer
CAMARAGIBE
2013
VIRGÍNIA MENEZES COUTINHO
SENSO DE COERÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA DE ADOLESCENTES COM
DOENÇAS CARDÍACAS
AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA
Defesa em : ____09___/_________abril____________/_____2013___
Menção geral _____________________________________
_____________________________
Profª Drª Mônica Vilela Heimer - Orientadora
Universidade de Pernambuco
BANCA EXAMINADORA:
______________________________
Profª Drª Maria José Rodrigues
______________________________
Profª Drª Rosana Christine Cavalcanti Ximenes
Aos meus pais, José Augusto Coutinho (in memorian)
e Maria Vanete Menezes Coutinho que me ofereceram a base e
ensinaram valores éticos, procurando sempre fazer tudo com
amor e carinho e a quem devo o que sou.
AGRADECIMENTOS
A meu pai José Augusto Coutinho (in memorian), por ser meu maior exemplo de força,
persistência, otimismo e fé e que mesmo ausente fisicamente, se faz presente em todos os
momentos de minha vida, pois sempre vibrou com minhas conquistas e jamais mediu esforços
para tornar meus sonhos realidade;
À minha mãe Maria Vanete Menezes Coutinho, que mesmo distante sempre me incentivou
com seu amor incondicional, confiança e carinho e me ensinou a lutar por aquilo que sonho e
acredito;
Ao meu namorado Vicente Vieira, pelo seu carinho, amor, apoio constante e estímulo para
percorrer as etapas desta jornada. Pela tolerância e paciência inesgotável nos momentos de
maior ansiedade e inquietação, suportando da melhor forma possível minha ausência.
Aos meus irmãos Carlos Augusto e Vannessa Menezes, pelo carinho, torcida e apoio.
À minha orientadora Dr. Mônica Heimer, por me tomar como sua orientanda, dando a
oportunidade de estudar e vivenciar um tema novo e até então diferente de nossa vivência, por
ser um exemplo de dedicação e competência na docência e na pesquisa, pela compreensão e
escuta quando não me foi permitido trabalhar melhor, pela sua disponibilidade e palavras de
incentivo, tornando cada reunião um momento de troca e conhecimento mútuo, fazendo
dessas poucas horas sempre um momento de construção. Enfim, pelo que muito aprendi
nesses dois anos de convivência e que hoje é um exemplo que procurarei seguir;
Às Dras. Rosana Ximenez, Maria José Rodrigues e Cintia Katz que se disponibilizaram a
participarem da banca examinadora e que darão importantes contribuições para o
aprimoramento deste trabalho;
À todas as minhas amigas de Recife e de Natal, que abriram mão de momentos de convívio
quando o dever e o estudo me chamavam e sempre me deram força e incentivo à minha busca
pela concretização de mais uma etapa da minha vida, me ouvindo em momentos de angústia e
sempre se fazendo presentes na minha vida;
À todas as colegas de trabalho do Hospital das Clínicas de Pernambuco que tanto me
ajudaram com permutas de plantão, compreendendo as dificuldades desse período, e que
contribuíram desde o meu ingresso a conclusão do mestrado;
A todos os funcionários do ambulatório de cardiologia pediátrica do IMIP, que sempre nos
receberam de braços abertos, ajudando na busca dos adolescentes e se colocando a disposição;
Ao acadêmico de enfermagem Michel Melo pelo engajamento na coleta de dados sempre com
responsabilidade e compromisso;
À bolsista da FACEPE Carlla Lyra, pela contribuição na coleta de dados, dedicação e
comprometimento nas últimas fases da pesquisa;
Às amigas do mestrado, Larissa Cunha e Daniela Salvador, pelos momentos de troca e apoio,
pela amizade construída durante essa trajetória e convivência sempre pautada na amizade e
união.
Aos colegas do curso de mestrado, pela oportunidade de dividir novas experiências e
descobrir novos caminhos;
Aos adolescentes e seus responsáveis que nos receberam e permitiram que entrássemos em
suas vidas, fazendo-os recordar muitas vezes de sua condição e de seus conflitos.
Agradecemos a participação e paciência dos mesmos, pois sem esta contribuição este trabalho
não seria realizado;
À Universidade de Pernambuco pelo apoio financeiro através da bolsa de pós-graduação do
Programa de Fortalecimento Acadêmcio (PFA);
À Deus, presente em todos os dias da minha vida me colocando sempre a frente dos
problemas difíceis, me tornando uma pessoa mais forte;
A todos que de alguma forma contribuíram para a concretização deste trabalho.
‘’A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar,
não seremos capazes de resolver os problemas causados pela
forma como nos acostumamos a ver o mundo’’ (Albert Einstein)
RESUMO
Esta dissertação é apresentada no formato de um conjunto de artigos, sendo os dois primeiros
revisões de literatura sobre o tema em questão, e os outros dois os resultados desse trabalho.
Como a maioria dos comportamentos de saúde são formados na infância e adolescência, essa
faixa etária torna-se um grupo importante do ponto de vista da saúde. Estudos apresentam que
adolescentes com restrições devido à uma doença crônica, como as doenças cardíacas,
apresentam diversos problemas de ordem física e psicossocial e a utilização do Senso de
Coerência (SOC), constructo chave da Teoria Salutogênica, na prática clínica possibilitará a
identificação dos jovens que necessitam de maior atenção no planejamento das ações de
saúde. O primeiro artigo dos resultados tratou-se da aplicação do instrumento de Senso de
Coerência, validado por Bonanato et al. em 2009, em uma amostra de adolescentes escolares
com o objetivo de testar a reprodutibilidade do mesmo. Os achados deste estudo mostraram
que o instrumento apresentou uma satisfatória confiabilidade e reprodutibilidade com alfa de
Cronbach de 0,76 e o Kappa Ponderado variando entre 0,61 e 1,00. O segundo artigo teve
como objetivo avaliar a associação entre Senso de Coerência e Qualidade de Vida (QV) em
adolescentes com doenças cardíacas, assim como a associação entre o SOC e QV e as
variáveis sociodemográficas e clínicas. Foi realizado um estudo com 164 adolescentes com
doença cardíaca valvular ou congênita, com idades entre 10 e 18 anos, atendidos em um
Centro de Referência. As informações coletadas abrangeram os dados sociodemográficos, o
tipo de cardiopatia, a classificação econômica da ABEP, avaliação do SOC e da QV. Tanto o
SOC (50,09) como a QV (72,73) apresentaram valores elevados quando consideradas as suas
médias. As dimensões social e escolar da QV foram, respectivamente, as de maior e menor
escore. Por meio da análise bivariada, o SOC e a QV foram associados a sintomas como
dispneia e taquicardia (p<0,05). Através da Correlação de Spearman, o SOC apresentou
correlação positiva com todas as dimensões da QV (p<0,001), sendo a maior correlação com a
dimensão escolar e a menor com a física e social. O modelo de regressão linear revelou que o
SOC influenciou principalmente as dimensões escolar e emocional, e não impactou a
dimensão física. O presente trabalho aponta para a importância da teoria Salutogênica, como
um novo enfoque, tanto nas pesquisas como nas práticas de saúde. Os resultados encontrados
confirmam a relação positiva do SOC com a QV, sendo aquele considerado um preditor
positivo da QV, capaz de subsidiar as ações de promoção de saúde direcionada ao
adolescente, além de ser um fator de proteção para as pessoas que enfrentam uma situação de
estresse, como uma doença crônica.
Palavras-Chaves: Adolescente, Senso de Coerência, Qualidade de Vida, Doenças Cardíacas
ABSTRACT
This dissertation is presented as a set of articles where the former two ones are a systematic
literature review of the research area and the latter two ones present the research results. Since
most health behaviours are formed in childhood and adolescence, this age group becomes an
important group from the point of view of health. Studies show that adolescents with
restrictions due to a chronic illness, such as heart disease, present several physical and
psychological problems. The use of Sense of Coherence (SOC), the core concept of
Antonovsky's salutogenic theory, in clinical practice will enable the identification of young
people who needs more attention in the planning of health actions. The first article of this
dissertation results presents the application of the SOC-13 questionnaire, validated by
Bonanato et al. in 2009, in a sample of adolescents’ students in order to test its
reproducibility. The findinds of this research shows that the instrument presented a
satisfactory reproducibility and reliability with Cronbach's alpha of 0.76 and weighted kappa
ranging from 0.61 to 1.00. The second article aims to evaluate the association between sense
of coherence and quality of life (QOL) in adolescents with heart diseases as well as the
association between SOC, QOL, and sociodemographic and clinical variables. A study was
conducted with 164 adolescents with congenital or valvular heart disease aged between 10
and 18 years old and enrolled in a Reference Center. The collected information contains
census data, type of heart disease, economic status identified by the Brazilian Criteria for
Economic Classification (ABEP), evaluation of the Sense of Coherence and also the Quality
of Life. Both SOC (50.09) and QOL (72.23) exhibited high average values. The social and
scholar dimensions of the QOL were, respectively, the highest and lowest scores. Through the
bivariate analysis, the SOC and QOL were associated with the dyspnea and tachycardia
symptoms (p<0.05). And through the Spearman Correlation, the SOC was positively
correlated with all QOL dimensions (p<0.001), having the highest correlation with the scholar
dimension and the smallest correlation with the physical and social dimensions. The linear
regression revealed that SOC has influenced the scholar and emotional dimensions, but it has
no influence in the physical dimension. This study points to the importance of the salutogenic
theory, as a new approach, in both research and health practices. The results confirm a
positive relationship with QOL and it also demonstrates that the SOC is a positive predictor of
the QOL. The SOC is, therefore, capable of support the activities of health promotion aimed
at the adolescent, besides being a protective factor for people who face a stressful situation,
like a chronic disease for instance.
Keywords: Adolescents, Sense of Coherence, Quality of Life, Heart Diseases
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 14
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 18
2.1.ARTIGO I: SENSO DE COERÊNCIA E ADOLESCÊNCIA: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA................................
19
2.1.1. Resumo....................................................................................
2.1.2. Abstract....................................................................................
2.1.3. Introdução...................................................................................
2.1.4. Métodos....................................................................................
2.1.5. Resultados....................................................................................
2.1.6. Discussão....................................................................................
2.1.7. Conclusão....................................................................................
2.1.8. Tabelas....................................................................................
2.1.9. Referências....................................................................................
20
20
22
24
25
26
33
34
36
2.2. ARTIGO II: QUALIDADE DE VIDA E ADOLESCENTES COM
DOENÇA CARDÍACA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE
LITERATURA.....................................................................................
40
2.2.1. Resumo.....................................................................................
2.2.2. Abstract....................................................................................
2.2.3. Resumen....................................................................................
2.2.4. Introdução.................................................................................
2.2.5. Métodos.....................................................................................
2.2.6. Resultados..................................................................................
2.2.7. Discussão...................................................................................
2.2.8. Conclusão..................................................................................
2.2.9. Tabela........................................................................................
2.2.10. Referências.............................................................................
41
41
42
43
44
45
46
51
53
54
3. PROPOSIÇÕES............................................................................................ 59
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................. 61
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO....................................................................... 62
4.2 POPULAÇÃO DO ESTUDO................................................................. 62
4.3TAMANHO E SELEÇÃO DA AMOSTRA........................................... 62
4.3.1 Critérios de exclusão.................................................................. 62
4.4 DESENHO DO ESTUDO....................................................................... 63
4.5 COLETA DE DADOS............................................................................ 63
4.5.1 Questionário Sociodemográfico e clínico.................................. 63
4.5.2 Instrumento para avaliação do Senso de Coerência (SOC)....... 64
4.5.3 Instrumento para avaliação da qualidade de vida (PedsQL)...... 65
4.5.4 Questionário de classificação econômica da ABEP.................. 66
4.6 APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO DE SENSO DE COERÊNCIA
EM ADOLESCENTES.................................................................................
67
4.7 ELENCO DAS VARIÁVEIS.................................................................
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA.....................................................................
67
68
4.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS................................................................ 68
5. RESULTADOS.............................................................................................. 70
5.1. ARTIGO III: UTILIZAÇÃO DA VERSÃO MODIFICADA DA
ESCALA SENSO DE COERÊNCIA EM
ADOLESCENTES.........................................................................
71
5.1.1. Resumo...............................................................................
5.1.2. Abstract..............................................................................
5.1.3. Introdução...........................................................................
5.1.4. Métodos.............................................................................
5.1.5. Resultados..........................................................................
5.1.6. Discussão...........................................................................
5.1.7. Conclusão...........................................................................
5.1.8. Tabelas...............................................................................
5.1.9. Referências.........................................................................
72
72
74
77
79
80
83
84
86
5.2 ARTIGO IV: SENSO DE COERÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA
EM ADOLESCENTES COM DOENÇAS CARDÍACAS..................
91
5.2.1. Resumo.....................................................................................
5.2.2. Abstract.....................................................................................
5.2.3. Introdução.....................................................................................
5.2.4. Métodos.....................................................................................
5.2.5. Resultados.....................................................................................
5.2.6. Discussão.....................................................................................
5.2.7. Conclusão.....................................................................................
5.2.8. Tabelas.....................................................................................
5.2.9. Referências.....................................................................................
92
92
94
96
99
100
108
110
114
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 122
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 125
APÊNDICES.............................................................................................................
Questionário Socio-demográfico e Clínico
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
129
130
131
ANEXOS ............................................................................................................... 133
Instrumento de Senso de Coerência adaptado ..................................................... 134
Instrumento de Qualidade de vida........................................................................ 136
Questionário de Classificação Econômica da ABEP............................................ 141
Aprovação do Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco (UPE)............. 142
Aprovação do Comitê de Ética do Instituto de Medicina Integral Professor
Fernando Figueira (IMIP)..............................................................................
143
Carta de aceite do artigo pela revista Ciências e Saúde Coletiva......................... 144
Normas para publicação da revista Ciências e Saúde Coletiva............................ 146
Normas para publicação da revista Cadernos de Saúde Pública.......................... 148
LISTA DE ABREVIATURAS
QV Qualidade de Vida
SOC Senso de Coerência
PedsQL Pediatric Quality of Life InventoryTM
OMS Organização Mundial da Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
PSC Problemas Psicossomáticos
DCC Doença Cardíaca Congênita
DCA Doença Cardíaca Adquirida
FR Febre Reumática
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Elenco de Variáveis Independentes
Quadro 2 Elenco de Variáveis Dependentes
LISTA DE TABELAS
ARTIGO I
Tabela 01 Distribuição dos artigos segundo categorias temáticas
Tabela 02 Apresentação dos artigos segundo autores, ano, país de origem,
faixa etária, amostra, delineamento do estudo
ARTIGO II
Tabela 01 Distribuição dos artigos quanto ao autor e ano, origem, faixa etária,
instrumento para avaliação da QV, delineamento do estudo e tipo de
cardiopatia.
ARTIGO III
Tabela 01 Valores de referência do Kappa
Tabela 02 Resultados da concordância entre as questões do instrumento (Kappa
Ponderado)
Tabela 03 Média, desvio padrão do SOC e Correlação de Spearman em relação à
cada questão escala do SOC
Tabela 04 Correlações de Spearman entre SOC com as respectivas questões que
o compõem
ARTIGO IV
Tabela 01 Senso de Coerência e domínios da Qualidade de Vida do adolescente
Tabela 02 Senso de Coerência do adolescente segundo variáveis
sociodemográficas e dados clínicos
Tabela 03 Relação entre as dimensões de Qualidade de Vida e dados
sociodemográficos do adolescente
Tabela 04 Relação entre as dimensões de Qualidade de Vida e dados clínicos do
adolescente
Tabela 05 Correlação e poder de impacto entre o Senso de Coerência e os
domínios da Qualidade de Vida
14
INTRODUÇÃO
15
1. INTRODUÇÃO1
A necessidade de compreender a promoção da saúde além dos mecanismos
patogênicos e fatores biológicos levou a pensar a saúde num contexto mais amplo. Segundo a
Carta de Ottawa, apresentada na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da
Saúde, e publicada em 1986, “Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e
social, um indivíduo ou grupo deve ser capaz de identificar e realizar aspirações, satisfazer
suas necessidades e mudar ou lidar com o ambiente”. Saúde é, portanto, vista como um
recurso para vida diária, não um objetivo final, e para isso deverá ser enfatizado os recursos
sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas individuais (WHO, 1986).
Nesse sentido, Antonovsky propôs a teoria Salutogênica em 1979 que entende a saúde
como o resultado de equilíbrio de forças que levam aos extremos (saúde e doença)
(ERIKSSON; LINDSTRÖM, 2005). Logo, a promoção da saúde e a Salutogênese
compartilham uma visão comum para o bem-estar do indivíduo. O conceito ampliado de
saúde, a busca da superação da dicotomia saúde/doença e o estímulo ao desenvolvimento de
competências individuais e coletivas para o aumento do controle sobre os determinantes da
saúde são alguns pontos de congruência entre a abordagem da promoção da saúde
contemporânea e a Salutogênese (ERIKSSON; LINDSTRÖM, 2008; SARDU et al., 2012).
Evidências mostram que a Salutogênse é um recurso de promoção da saúde que
melhora a resistência e desenvolve um estado positivo de saúde física e mental como também
a Qualidade de Vida (QV). Seu constructo central é o Senso de Coerência (SOC) que reflete a
visão que o indivíduo tem da vida e sua capacidade de adaptação à situações estressantes,
destacando a importância dos fatores responsáveis por criar e manter a saúde, diferentemente
do modelo biomédico, que busca compreender as causas da doença e os comportamentos de
riscos relacionadas a ela (WATT, 2002).
A teoria Salutogênica conceitua o Senso de Coerência como a capacidade que o
indivíduo apresenta de utilizar os recursos disponíveis no meio interno e externo, a exemplo
de experiências de vida, estilo de vida saudável, família, redes sociais, cultura e finanças, para
a promoção do bem estar. Logo, o SOC apresenta-se como um recurso que permite uma
melhor capacidade de gestão da vida, como também de suas adversidades e a identificação e
mobilização de recursos para a resolução eficaz dos problemas com o fim de promoção de
saúde e qualidade de vida (LINDSTRÖN; ERIKSSON, 2005). O SOC é composto por três
1 'Texto elaborando segundo as normas da ABNT NBR 14724/2011
16
domínios: compreensibilidade, definido como a capacidade de compreender um evento;
maneabilidade, sendo a percepção do potencial de manipulá-lo ou resolvê-lo e por ultimo a
significância que é o sentido e importância que se dá a esse evento (BONANATO et al.,
2009a).
O SOC é uma construção universalmente significativa, que cruza as linhas de gênero,
classe social, religião e cultura. É considerado hoje na área da saúde como uma nova
abordagem para a avaliação de indivíduos em condições crônicas de saúde ou pertencentes a
grupos específicos, como idosos, adolescentes, gestantes e crianças (ANTONOVISKY, 1993;
ERIKSSON; LINDSTRÖM, 2007).
O processo de desenvolvimento do SOC começa já na infância quando a criança
começa a interagir com o seu ambiente e a partir das percepções dos estímulos a mesma
começa a formular seus comportamentos. O nível seguinte de desenvolvimento se dá na
adolescência em que fatores de ordem social, cultural, histórica e até as próprias experiências
de vida fornecem subsídios para a construção do SOC, podendo reforça-lo ou enfraquecê.-lo.
Segundo Antonovsky (1993), o desenvolvimento do SOC, portanto, começa na infância e
termina em torno de a idade de 30. Supõe-se ser estável depois disso, embora esta suposição
tenha atraído muitas críticas (ANTONOVISKY, 1993; VOLANEN, 2011).
Como a maioria dos comportamentos de saúde são formados na infância e
adolescência, esta faixa etária torna-se um grupo importante do ponto de vista da saúde. O
adolescente, cuja faixa etária vai dos 10 aos 19 anos segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), é o público-alvo de ações governamentais com seus direitos assegurados pela
Lei 8069/90 que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 2005), e
que tem o Programa de Saúde do Adolescente – PROSAD como principal política pública no
Brasil (BRASIL, 1993). Apesar disso, ainda convive com um modelo de assistência curativa
que muitas vezes foca suas ações na doença, e mesmo que o discurso seja de visão
biopsicossocial pautada na saúde integral, isso não é suficiente para inseri-los nos contextos
diversificados em que transitam.
O que um jovem vivencia de positivo ou negativo afetará sua vida presente e futura.
Os adolescentes com restrições devido à severidade de uma doença crônica, por exemplo,
parecem ter vários problemas de adaptação psicossocial, impossibilidade de realizar
atividades de sua vida diária de lazer, esporte, relações sociais, sendo conduzido muitas vezes
a uma sensação de fracasso (SALZER-MUHAR et al., 2002).
As alterações biológicas e, ao mesmo tempo as limitações impostas por uma doença
crônica, como por exemplo, a doença cardíaca, em uma faixa etária de intenso
17
desenvolvimento somático e psíquico, pode afetar a QV dos adolescentes e de suas famílias. É
fundamental que os profissionais que lidam com educação em saúde compreendam e incluam
este conceito em sua prática, e a Salutogênese é um modelo que vem atender a este propósito.
A utilização do SOC na prática clínica possibilitará a identificação dos adolescentes
que necessitam de maior atenção no planejamento do seu cuidado, visando à promoção de
estratégias que os auxiliem no enfrentamento da situação de estresse em que se encontram e
possam assim melhorar sua Qualidade de Vida.
Os princípios da Salutogênese têm sido aplicados no desenvolvimento de ações
educativas voltadas para a promoção da saúde e na formulação de modelo teórico para a
construção de políticas públicas saudáveis. O potencial do Senso de Coerência enquanto
indicador de sistemas (sociedade) também já foi apontado, tendo em vista que o SOC da
população pode refletir as condições de saúde da sociedade (ERIKSSON; LINDSTRÖM,
2006)
Refletir sobre o papel das competências individuais no processo de enfrentamento dos
adolescentes cardiopatas parece bastante relevante, principalmente se levarmos em
consideração que as clássicas abordagens de promoção à saúde do adolescente não costumam
adotar a proposta Salutogênica com foco na mudança de comportamento individual, na
garantia de uma melhor QV. Observa-se ainda que a oferta de serviços de saúde
especializados e interdisciplinares voltados ao atendimento dos adolescentes portadores de
cardiopatias é insuficiente e com poucos fomentos para alicerçar a assistência à saúde desse
público.
A escassez de estudos nacionais relacionando SOC e Adolescente Cardiopata e, mais
especificamente, em referência a promoção da saúde e QV foi a principal motivação para a
realização do estudo, na medida em que a insuficiência de estudos pode vir a representar um
fator limitante para o uso da teoria no âmbito das ações de promoção da saúde direcionada ao
adolescente. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre Senso de Coerência
e Qualidade de Vida em adolescentes com doenças cardíacas.
Esta dissertação será apresentada no formato de um conjunto de artigos, sendo o
primeiro e o segundo, revisões da literatura e os outros dois os resultados do estudo.
18
Revisão de Literatura
19
ARTIGO I
Senso de Coerência e Adolescência: Uma Revisão Integrativa de Literatura
Sense of Coherence and Adolescence: An Integrative Review of Literature
Virgínia Menezes Coutinho1
Mônica Vilela Heimer2
1. Mestranda do Programa de Hebiatria da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected].
2. Professora Adjunta da disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco 2
2 2 Artigo adequado segundo as normas da Revista Ciência e Saúde Coletiva (Anexo G). Aceito para publicação
(Anexo F).
20
RESUMO
Realizou-se uma Revisão Integrativa com o objetivo de investigar o papel do Senso de
Coerência (SOC) na saúde do adolescente em diferentes contextos, como também os fatores
que o influenciam. SOC é um construto utilizado para avaliar a capacidade de lidar e se
adaptar a uma adversidade. Foram consultadas as bases Pubmed, Scielo, Lilacs e Medline,
com intervalo de 10 anos, nos idiomas inglês, português e espanhol, no formato de artigo
original e com resumos disponíveis. Após análise foram selecionados 21 artigos os quais
foram separados em categorias temáticas. Verificou-se que adolescentes com um baixo valor
de SOC apresentam mais tendência à depressão, ansiedade e problemas psicossomáticos. Já
os com SOC alto apresentaram melhor qualidade de vida. Diversos estudos mostraram que
um forte SOC estava associado a diferentes comportamentos de saúde, como melhoria da
higiene oral, uso consciente de medicamentos, não adesão ao tabagismo, menor consumo de
álcool e práticas de atividades físicas mais frequentes. Outros estudos apontam para o papel
protetor do SOC por reduzir o impacto causado por situações adversas, como uma doença ou
até guerra. Assim, investigar o SOC é importante por ser um recurso individual de
enfrentamento como também por servir de subsídio no planejamento de ações que visam à
promoção de saúde.
Palavras-chave: Adolescente, Senso de Coerência, Promoção de saúde
ABSTRACT
Authors conducted an integrative review whose aim was to investigate the role of the Sense of
Coherence (SOC) in adolescent health in different contexts, as well as the factors that
influence it. SOC is a construct used to evaluate the ability to cope and adapt to a situation of
adversity. The biomedical databases PubMed, Scielo, Lilacs, and Medline were consulted
with an interval of 10 years to search original articles in English, Portuguese and Spanish with
available abstracts. After a analysis there were selected 21 articles, which were separated into
21
thematic categories. It was observed that adolescents with a low SOC are more prone to
depression, anxiety and psychosomatic problems. On the other hand adolescents with high
SOC showed better quality of life. Several studies have shown that a strong SOC was
associated with different health behaviors, such as improved oral hygiene, conscious use of
medicines, non-adherence to smoking, lower consumption of alcohol and practice of physical
activities more frequently. Other studies point to the protective role of SOC by reducing the
impact of adverse situations, such as illness or even war. Thus, to investigate the SOC is
important as an individual resource coping but will also benefit in planning actions for the
promotion of health.
Keywords: Adolescent, Sense of Coherence, Health Promotion
22
INTRODUÇÃO
O conceito de Senso de Coerência (SOC) advém da Teoria Salutogênica criada pelo
sociólogo norte-americano Aaron Antonovsky em 1979 para explicar o porquê de algumas
pessoas permanecerem saudáveis face a situações estressantes e outros adoecerem. Segundo
Antonovsky, o SOC apresenta-se como um atributo individual que protege o indivíduo contra
as consequências prejudiciais do estresse, e o ser humano possui recursos internos e externos
que são utilizados nestes tipos de situações1.
O Senso de Coerência refere-se à capacidade do indivíduo em aplicar esses recursos
no sistema social, ambiente físico e no interior do próprio organismo como forma de
adaptação a uma situação de adversidade. Ele é composto por três componentes:
Compreensão, Manejo e Significado. A Compreensão traduz-se na orientação global
expressada na capacidade de uma pessoa em confiar que os estímulos provenientes do
ambiente são estruturados, previsíveis e explicáveis. Manejo é a credibilidade em sua
habilidade de lidar e exercer um impacto positivo na vida através dos recursos disponíveis.
Finalmente, o Significado é a compreensão de que a vida apresenta um sentido e propósito2.
Muitos estudos mostram que o SOC apresenta uma importante relação positiva com
um baixo nível de estresse e uma melhor capacidade para lidar com o mesmo. Tem-se
evidenciado que pessoas com um forte SOC apresentam uma boa percepção de sua saúde e
melhor qualidade de vida, como também apresentam menos fadiga, depressão, solidão e
ansiedade comparado àquelas com um fraco SOC3.
O SOC é um conceito universal que pode ser encontrado no ser humano independente
da cultura, sexo, classe social e da religião a qual pertence. É considerado hoje na área da
saúde como uma nova abordagem para a avaliação de indivíduos em condições crônicas de
saúde ou pertencentes a grupos específicos, como idosos, adolescentes, gestantes e crianças2.
23
Antonovsky enfatizou que SOC é um constructo cujo desenvolvimento se cristaliza
por volta dos 30 anos de idade. No entanto, alguns estudos têm indicado que SOC é estável a
partir de meados da adolescência e que durante esta fase ele pode contribuir para moderar as
experiências de estresse de forma semelhante aos adultos1,4
.
Como a maioria dos comportamentos de saúde é formada na infância e adolescência,
esta faixa etária torna-se um grupo importante do ponto de vista da saúde. Assim, entender os
mecanismos por atrás de comportamentos de saúde dos adolescentes é importante para
explorar o processo em que os mesmos podem,ou nao, desenvolver sintomas de reações de
estresse diante de algumas situações5.
Segundo Moknes et al6, a transição para adolescência parece ser o ponto de partida
para o desenvolvimento de problemas psicológicos como depressão e ansiedade, logo se torna
um período particularmente significativo para o desenvolvimento do SOC. Tem sido relatado
que o fraco desempenho e controle em diversas situações entre os jovens está associado com
maus hábitos, problemas de saúde mentais, insucesso escolar e marginalização
Assim, investigar o SOC nas várias situações de vida do adolescente se torna
importante por ele ser um recurso individual de enfrentamento de eventos estressantes da vida
diária e de promoção à saúde, como também para a criação de estratégias preventivas neste
grupo etário. Além disso, tem havido um interesse crescente em fatores que promovem e
protegem contra problemas de saúde na adolescência1.
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo investigar o papel do SOC na saúde
do adolescente em diferentes contextos, como também os fatores que o influenciam. Para
tanto optou-se por realizar um estudo de revisão integrativa como estratégia de pesquisa para
identificar as evidências existentes na literatura nacional e internacional a respeito deste tema.
24
Esta pesquisa fundamentará o planejamento das práticas de ações direcionadas à saúde do
adolescente.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, cuja pergunta norteadora de pesquisa
foi: ”De que forma o Senso de Coerência influencia a vida dos adolescentes e como ele tem
sido estudado nesse grupo etário?”. Esta revisão foi construída mediante a análise de
publicações de artigos indexados em bases de dados que contêm grande quantidade de
pesquisas de impacto para a saúde. O estudo incluiu os artigos sobre a temática Senso de
Coerência e Adolescência disponíveis na literatura internacional e nacional indexados no
National Library of Medicine (Pubmed), Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde
(Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e na Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (Medline).
Para o refinamento adequado da pesquisa foram definidos como critérios de inclusão
os artigos nos idiomas inglês, português e espanhol, com os resumos disponíveis nas bases de
dados supracitadas, no período de janeiro de 2002 a outubro de 2012, que abordassem o tema
Senso de Coerência e Adolescência, na faixa etária de 10 a 19 anos, caracterizando a
adolescência segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Excluiu-se desta seleção os
estudos que se encontravam repetidos nas bases de dados, os estudos que se classificassem
como artigo de revisão de literatura e os que não se apresentavam em formato de artigo, como
guidelines, cartas, editoriais, teses e dissertações7.
Foi realizada também a revisão por pares como forma de assegurar mais rigor e
credibilidade na seleção dos artigos. A peer review, como também chamada, garante mais
qualidade na avaliação das pesquisas.
25
Empregou-se o formulário de pesquisa avançada e utilizou-se como estratégia de
busca os seguintes descritores do assunto: ‘’Adolescent’’, ‘’Sense of Coherence’’,
‘’Adolescente’’ e ‘’Senso de Coerência’’ reconhecidos pelo vocabulário Mesch e Desc. Em
seguida, foram feitos os cruzamentos dos descritores.
RESULTADOS
As estratégias utilizadas para o levantamento dos artigos foram adaptadas para cada
uma das bases de dados, de acordo com suas especificidades de acesso. Na Pubmed foram
encontrados 251 artigos, no Lilacs foram encontrados 3, na Scielo 9 e na Medline 21. Após a
análise, 150 pesquisas foram excluídas por não contemplarem o tema, 67 por estarem fora da
faixa etária delimitada, 33 por não se encontrarem no período definido, 01 por se apresentar
em formato de tese e 21 por estarem repetidas nas bases de dados. Após refinamento, foram
selecionados 21 artigos.
Quanto à distribuição temporal, 9,56% dos estudos foram realizados em 2005; 4,76%
foram realizados em 2006 e 2007; 14,28% em 2008, 2009 e 2010 e 19,04% dos estudos foram
realizados em 2011 e 2012. Quanto à distribuição geográfica, 4,76% das pesquisas
localizaram-se no continente africano; 9,52% no continente americano; 19,04% no continente
asiático e 66,64% das pesquisas foram realizadas no continente europeu.
Em relação ao desenho do estudo, 76,2% dos artigos apresentaram como desenho do
estudo o transversal, 19,04% longitudinal e 4,76% se caracterizavam como estudo qualitativo.
Após a análise e síntese dos dados, os artigos selecionados foram separados em
categorias temáticas, para melhor compreensão, sobre os que abordam os sintomas
psicológicos e aspectos psicossomáticos e sociais do adolescente, os que discorrem sobre
questões relacionadas ao processo saúde-doença, e por último os relacionados à exposição a
26
eventos estressantes. Os títulos dos artigos, separados por categorias, encontram-se dispostos
na tabela 1.
A tabela 2 sumariza os artigos, destacando os autores, ano, país de origem, faixa
etária, amostra e delineamento do estudo.
DISCUSSÃO
A Teoria Salutogênica e o constructo Senso de Coerência são conceitos relativamente
recentes, visto que a Salutogênese foi apresentada em 1979 por Aaron Antonovsky. Observa-
se que a distribuição temporal desta pesquisa apresenta-se de forma ascendente, evidenciando
um aumento de estudos realizados abordando temática SOC e Adolescência. Pode-se
acrescentar também uma maior atenção à saúde do adolescente, antes um pouco
negligenciada, além de uma mudança estratégica de atuação profissional dentro de um
enfoque direcionado à promoção e planejamento da saúde e não mais apenas focando o
aspecto curativo8.
Um resultado interessante neste estudo se deu quanto à distribuição geográfica.
Embora a origem do autor da Teoria que gerou o SOC seja norte-americana, percebe-se que
sua distribuição neste continente foi baixa (9,52%). Tal fato pode ser justificado pelo fato de
que Antonovsky atuou como professor de sociologia em uma universidade de Israel durante
19 anos de sua vida, o que confere um quantitativo importante de estudos neste continente
(19,04%). Porém, o grande quantitativo de pesquisas se deu no continente europeu (66,64%).
É possível verificar que dentro dos critérios de inclusão estabelecidos não houve
presença de estudos realizados no Brasil evidenciando esta temática. O único estudo que foi
realizado no referido país foi o de Freire et al9 que abordava a relação de saúde bucal e SOC,
porém apresenta-se fora do período exigido nesta revisão. Isto aponta para a necessidade de
27
produção científica nesta área como mais um recurso para o planejamento de ações que visem
a promoção da saúde.
Foi identificado que a maioria dos estudos apresenta um desenho transversal (76,2%),
revelando apenas as associações entre as variáveis e não a sua relação causal. Dessa forma, as
conclusões sobre causa e efeito devem ser consideradas com cautela. Foi evidenciada, em um
número significativo de artigos selecionados, que esta é uma importante limitação dos
estudos, sendo sugerida a importância de abordagens longitudinais, pois estas evidenciarão
melhor relações recíprocas e dinâmicas entre SOC e as variáveis estudadas.
SOC X Sintomas Psicológicos, Aspectos Psicossomáticos e Sociais
Como referido anteriormente, o Senso de Coerência é um importante contribuinte para
o desenvolvimento e manutenção da saúde das pessoas podendo haver uma variabilidade
individual que se correlaciona com a saúde física e sintomas psicológicos vivenciados por
cada um1. Assim, um SOC instável dentro de um indivíduo pode resultar em incerteza e
tensão e piorar o seu estado de saúde. Por outro lado, a existência de problemas de saúde pode
criar uma maior variação no SOC e, como consequência, levar o indivíduo a apresentar
melhores formas de enfretamento10
.
Estudos como os de Myrin e Lagerström5, Moksnes et al
6, Simonsson et al
11 e
Honkinen et al12
se enquadram dentro da categoria de sintomas psicológicos e aspectos
psicossomáticos e sociais, e alegam que problemas de origem somática, psicológicos e
psicossociais pioram conforme a criança vai chegando na adolescência, refletindo no bem-
estar geral.
Na transição da infância para a adolescência, os indivíduos começam a desenvolver
caracterizações mais abstratas de si mesmos e seu auto-conceito torna-se mais diferenciado.
28
Os adolescentes gradualmente adquirem mais autonomia e assumem mais decisões que
afetam sua saúde5.
A correlação muito forte para os determinantes da saúde mental, especialmente com as
emoções negativas, como ansiedade e depressão, levanta a questão de que SOC é uma
expressão paralela à saúde mental. Ele reflete os recursos e capacidade que uma pessoa
apresenta para gerir uma tensão, refletir sobre os recursos internos e externos, identificar e
mobilizar recursos para promover o enfrentamento efetivo e encontrar soluções que apoiem a
promoção da saúde1.
Ao longo do tempo, os indivíduos com um SOC forte irão experimentar períodos mais
curtos de tensão prejudicial à saúde, como também de experiências negativas em comparação
àqueles com SOC fraco11
. Essa afirmação corrobora com os achados de Moksnes et al6 e de
Henje-Bloom et al13
em que foi encontrada uma relação inversamente proporcional entre
depressão e ansiedade e valores de SOC. Tais resultados sugerem que a escala de SOC pode
ser usada como um recurso a mais na avaliação de transtornos de humor.
Durante a última década, estudos em diversos países têm mostrado que a proporção de
adolescentes com Problemas Psicossomáticos (PSC) aumentou. Atualmente, estima-se que
entre 5-10% dos adolescentes possuem graves problemas que afetam suas vidas diárias14
.
Simonsson et al11
em seu estudo abordando PSC e SOC comprovou que um baixo
SOC estava associado a uma maior prevalência de PSC, em que aqueles jovens com escores
mais baixos de SOC apresentaram de 10 a 15 vezes mais queixas psicossomáticas em
comparação aos adolescentes com forte SOC.
Da mesma forma, Myrin e Lagerström5 identificaram associações significativas entre
baixo SOC e insatisfação com a vida e sentimentos como depressão. Nesta pesquisa um baixo
SOC representou uma baixa auto-estima. Moksnes et al15
também reforçam o papel positivo
29
do SOC no bem estar dos adolescentes através da associação positiva entre um forte SOC e
satisfação com a vida.
Existem vários fatores sociais e estruturais que contribuem para a percepção da saúde
entre os adolescentes, como também influenciam e formam SOC do indivíduo. Condições da
infância, família, padrão sócio-econômico, relações sociais, cultura, gênero e experiência de
vida são alguns desses fatores1.
Os resultados sugerem que o ambiente familiar, bem como o apoio social, têm um
papel importante no fornecimento de experiências significativas para o desenvolvimento de
um forte SOC na adolescência16,17
. Em adolescentes que vivem com famílias de pais
divorciados, a presença de problemas psicológicos é duas vezes mais comum em comparação
com os adolescentes vivendo em famílias nucleares6,11
.
Um dado comum nas pesquisas que se enquadram nesta categoria diz respeito ao
gênero. Escores totais de SOC são normalmente mais baixos para o gênero feminino do que o
masculino. O gênero é um preditor significativo de estados emocionais, onde meninas
apresentam um menor SOC e um maior indice de depressão e ansiedade do que os meninos.
Tal evidência ainda não é clara mas pode estar relacionada ao desenvolvimento puberal,
relacionamentos familiares e pessoais, contexto escolar que podem levar a um sentimento
psicologicamente inadequado, tornando o gênero feminino mais vulnerável6,17,18
.
SOC e Processo Saúde-Doença
No que diz respeito à temática relacionada ao processo saúde-doença encontraram-se
artigos que abordavam o SOC relacionado à cardiopatia congênita, saúde bucal, tabagismo,
cefaleia e comportamentos de saúde em geral.
30
Nio19
em seu estudo abordando o SOC em adolescentes com cardiopatia congênita
revelou que os adolescentes cardiopatas apresentaram um maior SOC que aqueles sem a
patologia. Também foi apontado que os que foram hospitalizados mais vezes apresentaram
também um maior SOC do que aqueles com pouco número de hospitalizações em decorrência
da doença.
Apers et al20
e Neuner et al21
, em pesquisas cujo objetivo foi o de avaliar a associação
entre SOC e qualidade de vida em adolescentes com cardiopatia congênita, concluíram que
SOC tem uma associação positiva com bem-estar geral e qualidade de vida nestes
adolescentes.
Adolescentes portadores de doenças crônicas, como cardiopatias, sentem diariamente
o estresse da limitação provocada pela doença. Assim, em decorrência de repetidas
intervenções médicas, hospitalizações e de cuidados continuados ao longo de suas vidas,
esses adolescentes adquiriram habilidades de enfrentamento mais cedo do que o habitual, pois
têm mais tempo para desenvolvê-las e refiná-las até tornarem-se adultos. O SOC parece ser
reforçado através do processamento bem sucedido destas tensões19, 20, 21
.
Outro tema encontrado nesta categoria foi a relação entre o SOC e a escovação
dentária e a higiene oral nos adolescentes. Alguns estudos têm mostrado uma associação entre
SOC e comportamentos orais de saúde.
Ayo-Yusuf et al22
e Dorri et al23
analisaram a associação da escovação dentária e SOC
em adolescentes Sul Africanos e Iranianos e concluíram que aqueles com maior SOC, como
também os que moram com as suas mães, além de realizarem com mais frequência visitas
regulares ao dentista, apresentam o dobro da escovação diária.
Eriksson e Lindstron1, através de uma revisão sistemática sobre SOC e a relação com a
saúde, propuseram que o SOC seja um recurso de promoção da saúde, onde fatores
31
psicológicos influenciam comportamentos de promoção da saúde nas pessoas. Logo,
adolescentes com um maior SOC são mais capazes de compreender o benefício de boas
práticas de saúde como também um maior valor em prosseguir com esses hábitos22
.
Em outro estudo apresentando comportamentos de saúde mostra que escores mais
altos de SOC em adolescentes podem predizer um risco significativamente menor de fumar24
.
Sendo assim, um maior SOC poderá estar associado a uma baixa adesão ao tabagismo. Da
mesma forma, Koushede e Holstein25
apresentam uma relação entre SOC e a utilização de
medicamentos para dores de cabeça entre adolescentes, em que quanto maior o SOC menor o
uso do medicamentos.
Mattila et al26
em seu estudo abordando SOC e diferentes comportamentos de saúde
em adolescentes mostrou que um forte SOC estava associado significativamente com o leve
uso de álcool, à não adesão ao tabagismo, melhor atendimento de saúde bucal e melhor
competência social.
Por último, Sollerhed et al27
, objetivando identificar entre adolescentes a associação
de atitudes positivas para a realização de atividades físicas e o SOC, evidenciou que
experiências passadas de educação física e atividades físicas de lazer podem contribuir para o
desenvolvimento do SOC, e este pode influenciar as atitudes persistentes para o exercício
dessas atividades ao longo da vida.
O SOC pode ser considerado como um recurso útil para adolescentes na sua adaptação
às necessidades específicas da idade. No entanto, isso significa que eles devem ser capazes de
compreender os acontecimentos em sua vida, acreditar em suas habilidades como também
reconhecer os recursos necessários para lidar com os mesmos.
32
SOC e Exposição a Eventos Estressantes
Todos os artigos encontrados que se enquadram nesta categoria foram relacionados
com adolescentes que foram expostos a situações de guerra e violência política, o que
podemos definir como uma situação de estresse. Muitos destes jovens após um evento
adverso adquirem problemas de ordem psicológica que irão acompanhá-los pelo resto da vida,
entretanto, outros podem desenvolver uma maior capacidade de enfrentamento e lidar bem
com a situação28
.
Braun-Lewensohn et al28,29
realizaram dois estudos com a mesma amostra de
adolescentes israelenses expostos à segunda guerra do Líbano em 2006. Os estudos tiveram
como objetivo explorar o efeito do SOC sobre a exposição a ataques de mísseis e sua relação
com reações de estresse e como o SOC influencia as estratégias de enfrentamento. Obtiveram
como resultados que um forte SOC estava relacionado a níveis mais baixos de estresse, apesar
da exposição a ataques de mísseis. Logo, o SOC nestes estudos desempenha um papel
protetor por reduzir o impacto causado por situações adversas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Ebina e Yamazaki30
realizaram uma pesquisa
cujo objetivo foi descrever o contexto social de um forte e fraco SOC de adolescentes que
moravam nas regiões afetadas pela guerra na Croácia de 1991. Os autores observaram que o
contexto familiar estável, aceitação da identidade étnica e o manejo das incertezas surgiram
como recursos que podem influenciar o SOC de forma positiva. Logo, estratégias de
promoção à saúde podem trabalhar com as habilidades pessoais de que os adolescentes fazem
uso para exercer o controle e realizar escolhas favoráveis à saúde.
Percebe-se que uma situação conflituosa de guerra atua como um'' laboratório'' natural
para investigação, que é essencial para estudar o comportamento humano. Os resultados
dessas pesquisas se apoiam na Teoria Salutogênica de Antonovsky, no momento em que o
33
SOC influencia em como os indivíduos percebem o mundo e os eventos que acontecem com
eles, tendo assim implicações para as respostas individuais em várias situações adversas1.
CONCLUSÃO
O conhecimento do SOC é uma importante ferramenta para a prevenção de resultados
negativos à saúde, bem como para o desenvolvimento de estratégias positivas de
enfrentamento das adversidades que se pode experimentar durante o período da adolescência.
Dessa forma, a coleta de informações sistemáticas sobre esta questão é de extrema
importância para o planejamento de estratégias de promoção à saúde neste grupo
populacional.
Colaboradores
VM Coutinho trabalhou na concepção do estudo na pesquisa, na coleta, metodologia, na
análise, na interpretação dos dados e na redação. MV Heimer trabalhou na concepção e na
orientação do estudo, na metodologia, na redação e na revisão final.
34
Tabela 1- Distribuição dos artigos segundo categorias temáticas
Sintomas psicológicos, aspectos
psicossomáticos e sociais
Processo saúde-doença Exposição à eventos estressantes
Risk and protective factors
predictive of Sense of coherence
during adolescence17
Low Sense of Coherence is a
mirror of general anxiety and
persistent depressive symptoms in
adolescent girls - a cross-sectional
study of a clinical and a non-
clinical cohort13
Psychosomatic complaints and
Sense og coherence among
adolescents in a county in Sweden: a cross-sectional school survey11
Early childhood psychological
problems predict a poor sense of
coherence in adolescents: a 15-
year follow-up study12
Sense of coherence and emotional
health in adolescents6
Sense of coherence and psychosocial factors among
adolescents5
Health behaviour and sense of
coherence among pupils aged 14-
1518
The association between Sense of
coherence and life satisfaction in
adolescents15
Predictors of strong Sense of
coherence and positive attitudes to
physical education in adolescents.
Ethnicity, Sense of Coherence,
and Tobacco Use Among
Adolescents24
Sense of coherence is a predictor
of perceived health in adolescents
with congenital heart disease: A
cross-lagged prospective study20
Sense of coherence in adolescents
with congenital cardiac disease19
Predictors of strong sense of
coherence and positive attitudes to
physical education in adolescents27
Longitudinal association of
adolescents’ Sense of coherence
with tooth-brushing using an
integrated behaviour change
model22
Sense of coherence and health
behaviour in adolescence26
Sense of coherence and medicine use for headache among
adolescents25
The relationship between Sense of
coherence and toothbrushing
behaviours in Iranian adolescents
in Mashhad23
Sense of Coherence as a Predictor
of Quality of Life in Adolescents
With Congenital Heart Defects: A Register-Based 1-Year Follow-Up
Study21
Sense of coherence and coping in
adolescents directly affected by the
1991--5 war in Croatia30
Coping strategies as mediators of the
relationship between Sense of
coherence and stress reactions:
Israeli adolescents under missile attacks29
Brief report: adolescents under missile
attacks: Sense of coherence as a
mediator between exposure and stress-
related reactions28
35
Tabela 2-Apresentação dos artigos segundo autores, ano, país de origem, faixa etária, amostra, delineamento
do estudo.
Autores Ano Páis de
origem
Faixa
etária
(anos)
Amostra Delineamento do
estudo
1. Sollerhed et al27
2005 Suécia 16-19 301 Transversal
2. Glanz et al24 2005 EUA Sétimo
ano
(13)
3.438 Transversal
3. Myrin e
Lagerström18
2006 Suécia 14-15 383 Transversal
4. Marsh et al17 2007 EUA Ensino
médio
(15-19)
1619 Transversal
5. Myrin e
Lagerström5
2008 Suécia 14 383 Transversal
6. Simonsson et al 11 2008 Suécia 16-19 3998 Transversal
7. Ebina eYamazaki30 2008 Croácia 13-19 17 Qualitativo
8. Koushede e
Holstein25
2009 Dinamarca 13-15 1393 Transversal
9. Honkinen et al12 2009 Turquia 15-18 1287 Longitudinal 10. Ayo-Yusuf et al22 2009 Africa do
Sul
12-19 1025 Longitudinal
11. Nio,K19 2010 Japão 12-18 172 Transversal
12. Dorri et al23 2010 Iraque 11-16 1054 Transversal
13. Henje-Bloom et al13 2010 Suécia 14-18 139 Transversal
14. Neuner et al21 2011 Alemanha 14-17 770 Longitudinal
15. Braun-Lewensohn et
al28
2011 Israel 12-18 138 Transversal
16. Braun-Lewensohn et
al29
2011 Israel 12-18 230 Transversal
17. Mattila et al26 2011 Filândia 15 718 Transversal 18. Moksnes et al6
2012 Noruega 13-19 1229 Transversal
19. Moksnes et al15 2012 Noruega 13-18 1239 Transversal
20. Apers et al20 2012 Bélgica 15 429 Longitudinal
21. Garcia-Moy et al16 2012 Espanha 13-18 7580 Transversal
36
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the 1991—5 war in Croatia. Global Health Promotion 2008; 15(4):5-10.
40
ARTIGO II
Qualidade de vida e Adolescentes com Doença Cardíaca: Uma Revisão Integrativa de
Literatura
Quality of life and Adolescents with Heart Disease: An Integrative Review of Literature
Calidad de vida y adolescentes con enfermedad cardíaca: Una Revisión Integradora de
la Literatura
Virgínia Menezes Coutinho1
Maria Carlla Aroucha Lyra2
Mônica Vilela Heimer3
1. Mestranda do Programa de Hebiatria da Faculdade de Odontologia da Universidade de
Pernambuco. E-mail de contato: [email protected].
2. Acadêmica do curso de Odontologia da Universidade de Pernambuco.
3. Professora Adjunta da disciplona de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco3
3 Artigo adequado segundo as normas as normas da revista Cadernos de Saúde Pública (Anexo H).
41
RESUMO
O objetivo desta revisão foi investigar a qualidade de vida (QV) dos adolescentes com
doenças cardiacas, como também os fatores que a influenciam. Foram consultadas as bases
Pubmed, Scielo, Lilacs e Medline, no período de janeiro de 2006 a janeiro de 2013, nos
idiomas inglês, português e espanhol, no formato de artigo original. Após análise foram
selecionados 21 artigos. A limitação física foi umas das dimensões mais identificadas em
alterar a QV desses adolescentes por ocasionar a exclusão de atividades que requerem a
interação social. O desempenho escolar também pode ser comprometido em decorrência das
hospitalizações, consultas médicas e a fadiga ocasionada pela doença. Alguns estudos
apresentaram níveis mais elevados de depressão, solidão, estresse e baixa autoestima nos
adolescentes cardiopatas, comparado a um grupo saudável. O suporte social, o senso de
coerência e o nível de conhecimento a cerca da patologia mostraram ser um fator de proteção,
melhorando a QV. Assim, investigar a QV é importante por ser um recurso individual de
enfrentamento como também por servir de subsídio no planejamento de ações que visam à
promoção de saúde.
Palavras-chave: Adolescente, Doença Cardíaca, Qualidade de Vida.
ABSTRACT
The goal of this review is to investigate the quality of life (QOL) of adolescents with heart
disease as well as the factors that influence it. The articles in original format belonging to the
Pubmed, Sciele, Lilacs and Medline databases were consulted from January 206 to January
2013 in the English, Portuguese and Spanish idioms. We have selected 21 articles after the
preliminary analysis. The physical limitation was one of the dimensions with most influence
in the QOL of these adolescents because it excludes the adolescents from activities that
demands social interaction. The adolescents’ school performance can also be compromised as
a result of hospitalizations, physician visits, and fatigue caused by the heart disease. Some
studies have reported higher levels of depression, loneliness, stress and low self-esteem in
adolescents with heart disease, compared to a healthy group. The higher levels of social
support, sense of coherence and knowledge about the disease shown to be a protective factor
improving QOL. Thus, the investigation of QOL as an individual resource for coping with
adverse situations is an important research area to help in planning actions aimed at health
promotion.
Keywords: Quality of Life, Adolescent, Heart Disease.
42
RESUMEN
El objetivo de esta revisión fue investigar la calidad de vida (QOL) de los adolescentes con
enfermedades del corazón, así como los factores que influyen en ella. Bases de datos Pubmed
fueron consultados, Scielo, Lilacs y Medline, desde enero 2006 hasta enero de 2013, en
Inglés, Portugués y Español en el formato del artículo original. Tras el análisis de 21 artículos
fueron seleccionados. La limitación física era uno de los más dimensiones identificadas en la
calidad de vida de estos adolescentes cambio haciendo que la exclusión de las actividades que
requieren la interacción social. El rendimiento escolar también puede verse comprometida
como consecuencia de las hospitalizaciones, visitas al médico, y la fatiga causada por la
enfermedad. Algunos estudios han informado de niveles más altos de depresión, la soledad, el
estrés y la baja autoestima en los adolescentes con enfermedades del corazón, en comparación
con un grupo sano. El apoyo social, el sentido de la coherencia y el nivel de conocimiento
sobre la enfermedad demostró ser un factor de protección, la mejora de la calidad de vida. Por
lo tanto, la investigación de la calidad de vida es importante como un recurso individual para
hacer frente, así como servir de ayuda para la planificación de acciones dirigidas a promover
la salud.
Palabras clave: Adolescente, enfermedades del corazón, Calidad de Vida.
43
INTRODUÇÃO
Definir de maneira precisa o que vem a ser adolescência não tem sido uma tarefa fácil
para os inúmeros estudiosos interessados no assunto. No entanto, a determinação deste
período do desenvolvimento humano não deve estar circunscrita meramente ao critério de
idade cronológica, uma vez que envolve uma série de diversificadas transformações
biológicas, psicológicas, sociais e econômicas, as quais terão um forte impacto na definição
de comportamentos1.
Os adolescentes com doença crônica, onde se inserem as cardiopatias, requerem
grande atenção por se encontrarem neste estágio de transição2. A lesão cardíaca não é sempre
o maior problema para estes indivíduos, as questões que dizem respeito à sobrevivência,
incapacidade, tolerância ao exercício, atrasos de crescimento e desenvolvimento cognitivo,
têm grande relevância nas suas vidas. As repetidas hospitalizações, preocupações acerca das
relações sociais, como sua doença é vista, o impacto na autoestima acabam influenciando a
Qualidade de Vida (QV) desta população3.
Estudos mostram que os avanços nos recursos diagnósticos e terapêuticos, as novas
técnicas cirúrgicas, os progressos na circulação extracorpórea e na medicina intervencionista
têm levado a uma proporção maior de pacientes com Doença Cardíaca Congênita (DCC) e
Adquirida (DCA) atingirem a adolescência e idade adulta, repercutindo de forma direta na
qualidade de vida desta população4, 5,6
.
Em 1948, a OMS definiu a QV como a ‘’ percepção individual da posição do
indivíduo na vida, no contexto de sua cultura e sistema de valores, nos quais ele está inserido,
e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” 7. É definida como o
grau de satisfação com a vida em geral, influenciada por percepções individuais de
determinados aspectos da vida, relacionados ou não com a saúde8.
O conceito de QV reflete o momento histórico, a classe social e a cultura. Sua origem
se deu após a Segunda Guerra Mundial, quando a prosperidade econômica e o aumento do
poder aquisitivo associavam a satisfação, o bem-estar e a realização psicológica com vários
aspectos da vida9. Seu uso em pesquisas de saúde é relativamente recente e decorre dos novos
paradigmas que têm influenciado práticas e políticas no setor da saúde nas últimas décadas.
Atualmente definida como um constructo multidimensional, abordando o físico, o
psíquico e o social, a QV torna-se mais abrangente do que a saúde, incluindo-a na sua
44
complexidade, com aplicação e relevância para as pessoas, de todas as faixas etárias, de todas
as culturas, estatus socio-econômico ou localização geográfica 10
.
A mensuração da QV se tornou um importante indicador de saúde em testes clínicos,
estratégias de melhoria na prática clínica e pesquisa e avaliação de serviços de saúde. A
medição da QV relacionada à saúde tem uma importância crescente como um meio de avaliar
o estado de saúde dos indivíduos ao longo do tempo e detectar as principais dimensões
afetadas11
.
É crescente o interesse das diversas áreas da saúde na QV dos adolescentes tendo em
vista que esta é uma fase chave para intervenções e modificações nos hábitos de vida, por isso
eles têm sido reconhecidos como importantes facetas da saúde pública global. Adicionado a
isto, as doenças crônicas vêm despertando o interesse de pesquisadores em relação ao impacto
causado na QV dos mesmos. Assim, adotando a abordagem ligada à qualidade de vida, será
possível aumentar a compreensão e conhecimento sobre a saúde dessa população e
estabelecer políticas promotoras da sua saúde e do seu bem-estar12
.
Quando se investiga a QV de adolescentes com doença cardíaca, é importante levar
em consideração não apenas a percepção de saúde nas dimensões física, social, ambiental e
psíquica, mas também seus comportamentos de saúde, e processos psicossociais, tais como,
recursos de enfrentamento e suporte social. Estes fatores quando inseridos no contexto de
saúde podem funcionar como fatores protetores ou fatores de risco que modificarão a QV13
.
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo investigar a qualidade de vida dos
adolescentes com doenças cardiacas, como também os fatores que a influenciam. Para tanto
optou-se por realizar um estudo de revisão integrativa como estratégia de pesquisa para
identificar as evidências existentes na literatura nacional e internacional a respeito deste tema.
Esta pesquisa fundamentará o planejamento das práticas de ações direcionadas à saúde do
adolescente.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, cuja pergunta norteadora de pesquisa
foi: “Quais os fatores que afetam a qualidade de vida de adolescentes com doenças
cardíacas?” Esta revisão foi construída mediante a análise de publicações de artigos indexados
em bases de dados que contêm grande quantidade de pesquisas de impacto para a saúde. O
estudo incluiu os artigos sobre a temática Qualidade de Vida e Adolescentes Cardiopatas
45
disponíveis na literatura internacional e nacional indexados no National Library of Medicine
(Pubmed), Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic
Library Online (Scielo) e na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(Medline).
Para o refinamento adequado da pesquisa foram definidos como critérios de inclusão
os artigos nos idiomas inglês, português e espanhol, com os resumos disponíveis nas bases de
dados supracitadas, no período de janeiro de 2006 a janeiro de 2013, que abordassem o tema
Qualidade de Vida e Adolescentes Cardiopatas, na faixa etária de 10 a 19 anos, caracterizando
a adolescência segundo a OMS14
. Excluiu-se desta seleção os estudos que se encontravam
repetidos nas bases de dados, os estudos que se classificassem como artigo de revisão de
literatura e os que não se apresentavam em formato de artigo, como guidelines, cartas,
editoriais, teses e dissertações.
Foi realizada também a revisão por pares como forma de assegurar mais rigor e
credibilidade na seleção dos artigos. A peer review, como também chamada, garante mais
qualidade na avaliação das pesquisas.
Empregou-se o formulário de pesquisa avançada e utilizaram-se como estratégia de
busca os seguintes descritores do assunto: ‘’Adolescents’’, ‘Quality of life’, “ Heart Disease
no PUBMED e ‘’Adolescentes’’ , ‘’Qualidade de Vida’’ e ‘’Doenças Cardíacas’’nas demais
bases; reconhecidos pelo vocabulário Mesch e Desc. Em seguida, foram feitos os cruzamentos
dos descritores
RESULTADOS
Por meio do cruzamento dos descritores obteve-se 24 artigos na Pubmed, 155 na
Scielo, 58 no Lilacs e na Medline nenhum artigo foi encontrado, perfazendo um total de 237.
Após a análise, 210 pesquisas foram excluídas por não contemplarem o tema, 03 por não se
encontrarem no período definido, 02 por se apresentar em formato de tese e 01 por estar
repetido nas bases de dados, resultando em um total de 21 artigos para ser avaliados.
Quanto à distribuição temporal, 4,76% dos estudos foram realizados em 2006; 4,76%
foram realizados em 2007; 14,28% em 2008; 9,52% em 2009; 9,52% em 2010; 9,52% em
2011; 38,09% em 2012 e 9,52% dos estudos foram realizados em 2013.
46
Quanto à distribuição geográfica, nenhuma pesquisa localizou-se no continente
africano; 4,76% das pesquisas localizaram-se na Oceania; 38,09% no continente americano;
9,52% no continente asiático e 47,61% das pesquisas foram realizadas no continente europeu.
Atualmente existem duas formas de mensurar QV, através de instrumentos
genéricos e instrumentos específicos. 85,71% dos estudos usaram instrumentos genéricos,
enquanto que 19,04% usaram instrumentos específicos. Apenas 4,76% dos estudos foram de
caráter qualitativo e não fizeram uso de nenhum dos dois tipos de instrumentos.
Em relação ao desenho do estudo, 71,42% dos artigos apresentaram como desenho do
estudo o transversal, 23,80% longitudinal e 4,76% se caracterizavam como estudo qualitativo.
Quanto ao tipo de cardiopatia do grupo amostral dos estudos, observou-se que 71,42%
da amostra tinha doença cardiaca congênita; 14,28% de doença cardíaca adquirida; 14,28%
de tetralogia de Fallot; 4,76% de doença de Kawasaki; 4,76% de febre reumática e 4,76%
submeteram-se a um transplante cardíaco.
Após a análise e síntese dos dados, os artigos selecionados foram organizados e
dispostos na tabela 1 de acordo com o autor, ano de publicação, origem da pesquisa, faixa
etária dos adolescentes pesquisados, instrumentos utilizados para avaliar QV, delineamento
do estudo e tipo de cardiopatia.
DISCUSSÃO
A avaliação da QV em adolescentes com doenças cardíacas tem sido limitada, além de
um grande desafio, pois esta ampla faixa etária envolve uma série de transformações
biológicas, psicológicas e sociais que causarão impacto na percepção da QV destes5.
Apesar da distribuição temporal desta pesquisa se apresentar de forma ascendente,
evidenciando um aumento de estudos realizados abordando a temática Qualidade de Vida,
Adolescência e Cardiopatia, as pesquisas ainda encontram-se escassas e avaliam os
adolescentes em conjunto com crianças ou com adultos, em que se observa que a metade dos
artigos encontrados são compostos por amostras de adolescentes associadas à outra faixa
etária.
Há uma perspectiva psicobiológica bastante forte na literatura que considera os
adolescentes apenas como seres transitórios, num estágio do desenvolvimento em direção à
47
idade adulta. Negligenciar o valor da adolescência como um grupo social, inserindo-o em
outro grupo etário, é excluir as particularidades dessa fase e desconsiderar as circunstâncias
de vida15
.
Foi identificado que a maioria dos estudos apresenta um desenho transversal revelando
apenas as associações entre as variáveis e não a sua relação causal. Dessa forma, as
conclusões sobre causa e efeito devem ser consideradas com cautela. Além disso, como a
adolescência é uma época de enormes mudanças e instabilidade, um desenho longitudinal
poderia melhorar a informação sobre as variáveis do estudo e identificar os momentos críticos
no que diz respeito à passagem da infância para a adolescência.
É possível verificar que dentro dos critérios de inclusão estabelecidos foi encontrado
apenas um estudo realizado no Brasil direcionado a esta temática, em contraste com os
continentes norte americano e europeu. Dentre as cardiopatias avaliadas nos estudos
selecionados, a doença cardíaca congênita (DCC) foi a mais prevalente, em contraste com a
Doença Cardíaca Adquirida (DCA) que obteve uma baixa investigação. Considerando o fato
de que as DCA, como a Febre Reumáica (FR), encontram-se mais associadas às condições
socioeconômicas e de moradia, este pode ser o fator determinante da baixa quantidade de
investigação dessas patologias em países de primeiro mundo observada nesta pesquisa.
Antigamente a QV de pacientes cardíacos era estimada por índices relacionados à
saúde, tais como a capacidade de exercício cardiopulmonar, tolerância ao exercício ou
classificações previamente estabelecidas por protocolos, como a New York Association
(NYAH)16
. No entanto, nos últimos quinze anos, tem havido um consenso de que estes
índices funcionais não são suficientes para refletir a QV quanto as percepções subjetivas
individuais17,18
, visto que diferente do estado de saúde que reflete muitas vezes problemas e
limitações no funcionamento, a QV inclui dimensões que abrangem o físico, psicológico e
social6.
A QV pode ser medida por instrumentos genéricos ou específicos. Os primeiros
avaliam e comparam a QV entre a população em geral, ou entre a população em geral e
doentes. Os instrumentos específicos avaliam a QV em uma condição ou doença particular,
sendo mais sensível a alterações ao longo do tempo, melhor discriminador de diferenças entre
subgrupos dentro de uma doença, como também pode prever futuras mudanças e sinalizar
novos problemas5 .
48
Na presente revisão, pode-se constatar que a grande maioria dos estudos utilizaram
instrumentos genéricos, como o Medical Outcome Study Short Form (SF36), WHOQOL-
BREF e a Linear Analogue Scale (LAS). Estes apresentam a limitação de não ser específicos
para a faixa etária de adolescentes, como também apresentar sensibilidade diminuída para os
problemas específicos decorrentes da doença cardíaca, por não permitir uma distinção clara
entre os sintomas.
No entanto, pode-se afirmar que há um progresso quanto à avaliação da QV de
crianças e adolescentes com cardiopatias. Neste estudo, foi observado que recentemente o
instrumento genérico Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL) foi complementado com
um módulo cardíaco e um grande grupo de pesquisa dos EUA publicou o Pediatric Cardiac
Quality of Life Inventory (PCQLI), que além de ser autoaplicável em crianças e adolescentes
na faixa etária de 8 a 18 anos, ainda apresenta a versão para os pais. Ambos os instrumentos
apresentaram satisfatória confiabilidade em seus estudos de validação, porém ainda não foram
validados para o Brasil5,19
.
Vários fatores podem alterar e comprometer a QV dos adolescentes cardiopatas, desde
o próprio diagnóstico da doença, seu tratamento, intervenções, as limitações funcionais, até o
contexto psicossocial pode ser influenciado pela condição. Nesta perspectiva, vários autores
se propõem a investigar como essas variáveis atua na percepção da QV, o que leva a
existência de achados distintos e às vezes até contraditórios.
Dado o potencial deletério dos efeitos da doença cardíaca sobre a capacidade de
exercício e as interações entre os sistemas cardíaco e respiratório durante atividades que
demandam esforço físico, não é surpreendente que a limitação física tenha sido comumente
identificada pelos estudos em foco como responsável em alterar a QV dos
adolescentes20,21,22,23,24
. Somado a estas limitações, esses adolescentes se sentem muitas vezes
excluídos de atividades que requerem a interação social, mas que envolvam esforço físico,
podendo ocasionar um sentimento de tristeza e revolta23
.
Viver com a doença cardíaca também acarreta muitas consequências psicossociais.
Diversas pesquisas 4,13,24,25,26
revelaram que adolescentes com doença cardíaca relataram
níveis mais elevados de depressão, solidão, maior nível de estresse psicológico e baixa auto-
estima, comparado a um grupo saudável. Através de pesquisas longitudinais, verifica-se que
esses problemas permanecem por algum tempo como um preditor negativo na QV e podem
49
não ser facilmente visíveis para os observadores externos como os pais e profissionais de
saúde.
Estudos como o de Landolt et al6 e Spijkerboer et al
27 que avaliaram a QV de
adolescentes com DCC através do instrumento Child Quality of Life Questionnaire
(TACQOL) que apresenta a versão tanto para o adolescentes como também para os pais, a
respeito da QV dos seus filhos, revelou que os adolescentes relataram uma pior QV quando
comparado à avaliação dos pais. Uma possível explicação para essa diferença encontra-se no
fato de que as percepções de QV e seu significado podem variar entre indivíduos em resposta
à muitos fatores. Os adolescentes podem ainda não possuir habilidades cognitivas para
interpretar as questões vivenciadas, e seus julgamentos podem ser fortemente influenciados
por incidentes recentes, como hospitalização e cirurgias. Em contrapartida, as avaliações dos
pais quanto a QV de seu filho, embora sejam influenciadas pelos sentimentos e tensões
perante a saúde do filho, eles demonstram boas estratégias de enfrentamento e gestão desta
problemática.
A percepção da QV de adolescentes por parte dos profissionais de saúde também foi
abordada nos estudos selecionados. Fatores de natureza emocional, como ansiedade em
decorrência da separação dos pais durante internamento, medo de procedimentos ou agulhas,
dificuldade de compreender a razão do internamento foram os mais relatados. Isso decorre
porque estes profissionais limitam o contato com o paciente ao internamento hospitalar,
quando ocorrem situações estressantes e críticas que irão afetar principalmente as dimensões
de ordem psicológica. Observa-se diferença em relação aos pais que, por demandarem uma
atenção também fora do ambiente hospitalar e em outros contextos, identificam as dimensões
físicas e sociais como as mais prejudicadas20
.
Discrepâncias nas perspectivas sobre vários aspectos da QV entre os adolescentes
cardiopatas, seus pais, e seus prestadores de cuidados de saúde podem ter implicações clínica
importantes. Estudos demonstram que o suporte social demonstrou ter um impacto positivo na
QV através de uma contribuição nos componentes psicológicos e sociais, favorecendo a
adaptação à doença e até a adesão ao tratamento 6,8,13,23,24,28
.
Landolt et al6 , Mariano et al
20 e Spijkerboer et al
27 concordam em seus estudos ao
afirmarem que os adolescentes e crianças que se submeteram a cirurgia cardíaca divergem
quanto as dimensões mais comprometidas na percepção da QV, em que os primeiros elegem a
psicológica e o segundo o funcionamento escolar. Uma possível explicação para esta
50
discordância pode ser o fato que alguns problemas de neurodesenvolvimento podem se
manifestar na adolescência em interações sociais, gerando problemas adicionais de ordem
psicológica.
O desempenho escolar pode ser afetado pela doença cardíaca em decorrência das
hospitalizações, consultas médicas e a fadiga ocasionada pela patologia23
. Spijkerboer et al27
acrescenta ainda que alguns indivíduos com DCC apresentam dificuldades de compreensão
na aritmética, leitura, escrita e integração visual-motora. Segundo Landolt et al6, o by-pass
cardiopulmonar, muitas vezes inerente às cirurgias cardíacas, está associado a um baixo fluxo
sanguíneo que pode gerar lesão neurológica e consequentemente uma deficiência no
desenvolvimento neurocognitivo, ocasionando uma QV mais pobre neste domínio.
Alguns estudos observaram uma diminuição na QV de adolescentes cardiopatas
quando comparada a população geral, que pode ser, em parte, devido as limitações físicas
referidas 6,27
. No entanto, a grande maioria apresentou uma melhora na QV dos adolescentes
com cardiopatias 13,24,25,29,30,31
. Este resultado pode ocorrer em decorrência desses jovens
terem se adaptado à situação adversa provocada pela doença desde cedo, promovendo uma
melhor capacidade de enfrentamento, reforçando a hipótese de que a QV desta população não
é proporcional à gravidade da doença.
Outros fatores também podem vir a alterar a QV de adolescentes cardiopatas. Landolt
et al6 concordam com Teixeira et al
23 quando afirmam que número de cirurgias, duração da
circulação extracorpórea, tempo de internação e uso de medicações afetam significadamente a
QV. Estas variáveis refletem um maior comprometimento do estado funcional, além da
gravidade da doença. Os autores que estudaram mais de um tipo ou subtipo de cardiopatia
revelaram não haver relação desta variável com a QV 5,6,13,25,27,33,34
. Os pesquisadores
discordam quanto ao gênero, quando uns afirmam que os meninos apresentam uma melhor
QV que as meninas, alguns discorrem sobre o oposto13
e outros afirmam que não há diferença
significativa na QV entre os gêneros 4,23,25,27
.
Wang et al13,
Neuner et al 25
, Luyckx et al 26
, Apers et al 30
e Apers et al 31
ao
estudarem adolescentes cardiopatas, revelaram que um forte preditor positivo ao longo do
tempo para a QV é o Senso de Coerência (SOC) cujo conceito foi desenvolvido para explicar
por que as pessoas podem ter respostas diferentes quando confrontados com eventos
estressantes semelhantes. Aqueles com um forte SOC são geralmente mais resistentes e mais
capazes para buscar uma solução para lidar com um problema. Assim, o SOC representa um
51
fator de proteção, relacionado com o sucesso frente às adversidades diárias de um estresse
crônico, promovendo desta forma uma melhor QV.
Por último, outro fator apontado nos estudos foi a baixa compreensão acerca da
doença por parte dos adolescentes13
. Um bom conhecimento da cardiopatia pode ser
associado com menos ansiedade, complicações e um melhor funcionamento psicológico,
atuando desta forma na melhoria da QV, visto que desta forma são adotados comportamentos
saudáveis no manejo de sua patologia. Simon et al 32
em seu estudo com adolescentes
transplantados cardíacos, reforçam a necessidade do diálogo entre os transplantados e os
profissionais de saúde sobre a medicação imunossupressora, efeitos colaterais e sobre os
possíveis planos para amenizar o impacto do transplante sobre o funcionamento físico e
psicológico destes pacientes.
CONCLUSÃO
A partir desta revisão pode-se inferir que a percepção da QV dos adolescentes
apresenta-se influenciada por uma gama de fatores. Observa-se o comprometimento do
domínio físico em alguns estudos, o psicossocial em outros, como também as divergências
quanto as variáveis sociodemográficas e clínicas na influência da QV. Essas discordâncias
entre os estudos tornam a sua comparação um pouco difícil e estão associadas às diferentes
metodologias utilizadas pelos mesmos, como o desenho do estudo, critérios de inclusão e
exclusão, o tipo de instrumento, características e até tempo de acompanhamento da amostra.
Em face disso, essa revisão de literatura torna-se importante no momento em que resume as
evidências existentes no mundo acerca da QV dos adolescentes cardiopatas.
A avaliação da QV desta população pode ser usada para priorizar e identificar os
potenciais problemas, facilitar a comunicação e monitorar as mudanças ao longo do tempo ou
em resposta a um tratamento. Os profissionais de saúde, através das intervenções apropriadas,
devem incorporar e considerar as percepções de qualidade de vida do paciente e da família
com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento psicossocial e físicos destes adolescentes
cardiopatas, como também reforçar nos mesmos a capacidade de enfrentamento dos desafios
que eles irão se deparar.
52
Colaboradores
VM Coutinho e MCA Lyra trabalharam na concepção do estudo, na pesquisa, na coleta,
metodologia, na análise, na interpretação dos dados e na redação. MV Heimer trabalhou na
concepção e na orientação do estudo, na metodologia, na redação e na revisão final.
53
Tabela 1. Distribuição dos artigos quanto ao autor e ano, origem, faixa etária, instrumento para avaliação
da QV, delineamento do estudo e tipo de cardiopatia.
Autor, Ano Origem
Faixa
etária
Instrumento
QV
Delineamento
do estudo
Cardiopatia
22. Apers et al31
(2013)
Bélgica 14-18 LAS Transversal DCC
23. Wang et
al13(2013)
Austrália 12-20 PedsQL 4.0 Transversal DCC; DCA
24. Rassart et al28 (2012)
Belgica 15-20 LAS; PedsQL 4.0
Transversal DCC
25. Luyckx et al8 (2012a)
Bélgica 14-18 LAS Longitudinal DCC
26. Luyckx et al26
(2012b) Belgica 14-18 LAS
Longitudinal DCC
27. Lu et al34 (2012)
EUA 14-31 SF-36
Transversal T4F
28. González-Gil et al19(2012)
Espanha 5-18 PedsQL 4.0 Transversal DCC
29. Pike et al24 (2012)
-EUA 15-50 SF-36
Transversal DCC
30. Apers et al30 (2012)
Bélgica 14-18 PedsQL 4.0; PedsQL
cardiac module
Longitudinal DCC
31. Teixeira et al23 (2012)
Portugal 12-26 WHOQOL-BREF
Transversal DCC
32. Neuner et al25(2011)
Alemanha 14-17 KINDL-R Longitudinal DCC
33. Kwon et al22(2011)
EUA 8-18 PedsQL 4.0; PedsQL
cardiac module
Transversal T4F
34. Lu et al33(2010)
EUA 14-69 SF- 36
Transversal T4F
35. Muta et al29(2010)
Japão >16 SF-36
Transversal DK
36. Marino et at20(2009)
EUA 13-18 Grupo focal Qualitativo DCC
37. Carvalho et al21(2009)
Brasil 5-18
CHQ Transversal FR
38. Marino et al5(2008)
EUA 8-18 PCQLI Transversal DCC; DCA
39. Simons et al32(2008)
EUA 11-20,7 CHQ Transversal TC
40. Landolt et
al(2008)
Alemanha
7-16 TACQOL Transversal DCC
41. Cohen et al4(2007)
Israel 12-18 TAAQOL-CHD
Transversal DCC; DCA
42. Spijkerboer et al 27(2006)
Holanda 8-15 TACQOL Longitudinal
DCC
LAS= Linear Analogue Scale; PedsQL 4.0= Pediatric Quality of Life Inventory; SF 36= Medical Outcome Study Short Form; WHOQOL-BREF= Self-report Questionnaire; KINDL-R= Revised children’s quality of life-; CHQ = Child Health Questionnaire; PCQLI= Pediatric Cardiac Quality of Life Inventory; TACQOL= Child Quality of Life Questionnaire; TAAQOL-CHD = Quality of Life-Congenital Heart Disease questionnaire- cardiac module; DCC= Doença Cardiaca Congênita; DCA= Doença Cardíaca Adquirida; T4F= Tetralogia de Fallot; DK= Doença de Kawasaki FR= Febre Reumática; TC= Transplante cardia
54
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59
Proposição
60
3. PREPOSIÇÃO
3.1 Objetivo Geral
Avaliar a associação entre Senso de Coerência e Qualidade de Vida em adolescentes
com doenças cardíacas.
3.2 Objetivos Específicos
a) Traçar o perfil sociodemográfico e clínico da população estudada.
b) Avaliar a associação entre:
b.1 Senso de Coerência e as variáveis sociodemográficas e clínicas;
b.2 Qualidade de Vida e as variáveis sociodemográficas e clínicas;
b.3 Senso de Coerência e Qualidade de Vida.
61
Procedimentos Metodológicos
62
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO
Este estudo foi realizado no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira
(IMIP). O IMIP é uma entidade de natureza pública, não estadual, sem fins lucrativos, que
atua nas áreas de assistência médico-social, ensino, pesquisa e extensão comunitária. É
considerado centro de referência para adolescentes cardiopatas e atende rotineiramente
adolescentes de todo o Estado e de Estados vizinhos, com demanda espontânea e referenciada.
É credenciado pelo Ministério da Saúde como Centro Nacional de referência para Programas
de Assistência Integral a Saúde da Mulher e da Criança e é certificado como Hospital de
Ensino, conjuntamente pelo Ministério da Saúde e da Educação.
4.2 POPULAÇÃO DO ESTUDO
A população do estudo foi composta por adolescentes cardiopatas, de ambos os sexos e
na faixa etária de 10 a 18 anos de idade e que estavam sendo atendidos no IMIP, em nível
ambulatorial. Os diagnósticos das cardiopatias foram obtidos pelo prontuário médico do
paciente.
4.3 TAMANHO E SELEÇÃO DA AMOSTRA
Fizeram parte da amostra todos os adolescentes com cardiopatias congênita e/ou
valvular atendidos pelo IMIP em nível ambulatorial, no período de agosto de 2012 a janeiro
de 2013. A escolha destas patologias se deu em decorrência das mesmas apresentarem uma
maior prevalência no IMIP, entre adolescentes com doença cardíaca.
4.3.1 Critérios de Exclusão
63
Pacientes que apresentaram outro tipo de cardiopatia que não fossem a congênita ou
valvular, síndromes genéticas associadas, os portadores de transtornos mentais, os portadores
de comprometimento motor e/ou cognitivo que impossibilitassem a aplicação dos
instrumentos.
4.4 DESENHO DO ESTUDO
Foi realizado um estudo transversal, de caráter exploratório e censitário. As vantagens
do estudo transversal são: simplicidade, baixo custo, rapidez e a objetividade na coleta de
dados. Não demandam o seguimento das pessoas ao longo do tempo e constituem uma boa
opção para descrever as características da população (PEREIRA, 2002).
4.5 COLETA DE DADOS
A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora e por bolsistas de iniciação
científica, previamente treinados, de segunda a sexta em horário de atendimento ambulatorial.
Inicialmente foi aplicado, em forma de entrevista, um questionário sociodemográfico e
através do prontuário do adolescente foram coletadas as informações sobre a doença cardíaca.
Em seguida foram utilizados, também em forma de entrevista, os seguintes instrumentos:
Instrumento para a avaliação do Senso de Coerência (SOC 13 adaptado por Bonanato et al.,
2009b); Instrumento para a avaliação da qualidade de vida (PedsQL InventoryTM
4.0), e o
Questionário de classificação Econômica do Brasil/2011 (ABEP).
4.5.1 Questionário sociodemográfico e clínico (Apêndice A)
O Questionário sociodemográfico era composto por dados como idade, gênero, cidade
de residência, escolaridade e renda familiar aproximada. A caracterização clínica dos
adolescentes foi obtida por meio do prontuário e da entrevista e continha dados quanto ao tipo
de cardiopatia e sintomas associados.
64
4.5.2 Instrumento para a Avaliação do SOC (Anexo A)
Este instrumento foi desenvolvido por Antonovsky, originalmente escrito em hebraico
e inglês, publicado pela primeira vez em 1983. Já foi traduzido e validado em pelo menos 33
línguas diferentes e tem sido usado em 32 países (SARDU et al., 2012). A escala original, do
tipo Likert, é composta por 29 questões com sete itens cada. O valor do SOC se dá pela soma
dos itens e o intervalo possível para o total da medida varia de 29 a 203, no qual quanto maior
o valor, maior o SOC. Outras versões do instrumento foram formuladas, incluindo uma versão
mais curta com 13 questões (SOC-13), apresentada por Antonovsky em 1987, exibindo
também itens no intervalo de 1 a 7, com uma faixa possível de escore variando de 13 a 91.
Tanto a versão original quanto a curta mostraram-se válidas e consistentes.
Além do questionário SOC original composto por 29 itens e a versão mais curta de 13
itens existe uma variedade de instrumentos alternativos. Uma explicação para a existência de
versões modificadas é que a versão do SOC-29 parece ser muito longa. Outro argumento para
a alteração do instrumento é a sua adequação à população a ser estudada. (ANTONOVISKY,
1993; ERIKSSON; LINDSTRÖM, 2005).
A versão original da escala (SOC-29) foi validada para a língua portuguesa por Dantas
(2007) em uma amostra de pacientes cardíacos, obtendo uma adequada consistência interna
(alfa de Cronbach de 0,79). A versão curta da escala original (SOC-13) foi validada por Freire
em 1999 e testada em uma amostra de adolescentes e adultos, apresentando um alfa de
Cronbach de 0,81 (FREIRE; SHEIHAM.; HARDY, 2001; DANTAS, 2007).
A escala SOC-13, originalmente validada demonstrou um baixo percentual de resposta
e um elevado número de respostas extremas quando aplicada a mães de pré-escolares. Sendo
assim, Bonanato et al. (2009b) apresentaram uma nova versão para a escala de SOC-13 onde
foram feitas adaptações que envolveram a inserção de termos, diminuição das alternativas de
respostas e opções de palavras para as respostas intermediárias. Essa nova versão apresentou
um menor número de questões em branco e de respostas intermediárias, evidenciando uma
maior capacidade de compreensão quanto as suas questões. Essa versão da escala foi utilizada
para um estudo de mães de crianças pré-escolares de diferentes classes sociais e mostrou-se
consistente, apresentando um alfa de Cronbach de 0,80. (BONANATO et al., 2009b).
65
Com o objetivo de utilizar esta escala, foi realizada a sua aplicação em uma amostra de
adolescentes escolares onde foi obtida uma consistência interna de 0,74 e um Kappa
Ponderado que variou entre 0,61 e 1,00, demonstrando satisfatória confiabilidade e
reprodutibilidade.
O questionário constitui-se de 13 perguntas, respondidas em uma escala de 1 a 5
pontos tipo Likert, na qual o número 1 correspondia ao extremo negativo, e o número 5 ao
extremo positivo, variando em escores de 1 a 5 pontos. Os escores foram somados para obter
um valor absoluto correspondente ao SOC, podendo variar de 13 a 65 (BONANATO et al.,
2009b). O questionário aborda as três dimensões (compreensão, significado e manejo), mas
não permite a análise separada de cada componente (ERIKSSON; LINDSTRÖM, 2006). Os
itens 05, 08, 10, 12 e 13 são referentes à compreensão, os itens 04, 07, 09 e 11 dizem respeito
à capacidade de manejo e os demais 01, 02, 03 e 06, à habilidade de conferir sentido
emocional. Para a somatória do escore final, as respostas das questões do 04 ao 12 são
invertidas, conforme instrumento original.
4.5.3 Instrumento para a avaliação da QV (Anexo B)
Para a análise de Qualidade de Vida foi utilizado o Pediatric Quality of Life
InventoryTM 4.0 (Peds-QLTM
), composto por um conjunto de questionários genéricos
desenvolvido originalmente na língua inglesa e validado no Brasil por Klatchoian et al.
(2008). Ele é aplicável em crianças e adolescentes entre 02 e 18 anos, e aos pais quando a
criança for o foco do estudo. Os itens para cada um dos formulários são essencialmente
similares e diferem apenas em termos de linguagem adequada, ao nível de desenvolvimento e
do uso da primeira ou terceira pessoa (VARNI et al., 2001; KLATCHOIAN et al., 2008).
Nesse estudo foram utilizados apenas os instrumentos de autoavaliação dos
adolescentes e direcionados para a seguinte faixa etária: 8-18 (anexo B). Ambos os
questionários são similares e multidimensionais e possuem 23 questões que estão distribuídas
em dimensão física (8 itens), dimensão emocional ( 5 itens), dimensão social (5 itens) e
dimensão escolar (5 itens). A dimensão psicossocial é composta pela somatória dos itens
respondidos nas dimensões emocional, social e escolar.
Cada item foi respondido com base no último mês de vida do adolescente em que os
respondentes utilizaram uma escala composta de cinco níveis (0 = nunca tem dificuldade com
isso; 1=quase nunca tem dificuldade com isso; 2= algumas vezes tem dificuldades com isso;
66
3= frequentemente tem dificuldades com isso; 4=quase sempre tem dificuldades com isso).
Os itens foram pontuados inversamente e transpostos linearmente para uma escala de 0-100 (0
= 100, 1 = 75, 2 = 50, 3 = 25, 4 = 0), assim, quanto maior o escore, melhor a QV. Os escores
da escala foram computados como a soma dos itens dividida pelo numero de itens.
O questionário também foi desenvolvido em sua versão específica com abordagens
modulares para determinados tipos de doenças, tais como asma, artrite, câncer, entre outras.
Atualmente existem aproximadamente 31 versões modulares. A versão do PedsQL para
doenças cardíacas já encontra-se disponível porém não traduzida para o Brasil.
(KLATCHOIAN et al., 2008).
A escolha do PedsQL deveu-se às suas características, visto que utiliza os domínios
considerados essenciais para analisar a QV dos adolescentes, é de fácil aplicação e já foi
usado em doenças crônicas e em diversos países, demonstrando bom desempenho
psicométrico. No entanto, similar à escala de SOC e como a maioria dos instrumentos que
avaliam a QV, o PedsQL não tem pontos de corte determinados que categorizem a qualidade
de vida de um indivíduo, ou de uma população (OLIVEIRA, 2011).
4.5.4 Questionário de Classificação Econômica do Brasil -2011 (ABEP)
(Anexo C)
O Questionário de Classificação socioeconômica, segundo critério ABEP, foi
desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas com a finalidade de dividir
a população em categorias, de acordo com os padrões ou potenciais de consumo. Apresenta
uma escala ou classificação socioeconômica por intermédio da atribuição de pesos a um
conjunto de itens de conforto doméstico, além do nível de escolaridade do chefe de família. A
classificação socioeconômica da população é apresentada por meio de cinco classes,
denominadas A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E. Optou-se por tal instrumento por levar em
consideração itens de conforto familiar; utilizar indicadores simples, passíveis de serem
informados por crianças, adolescentes e adultos através de questionários de
autopreenchimento.
67
4.6 APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO DE SENSO DE COERÊNCIA EM
ADOLESCENTES
Foi realizado um estudo prévio com objetivo de testar a reprodutibilidade do
instrumento SOC-13 de Bonanato et al. (2009b) em uma amostra de adolescentes, visto que o
referido instrumento apenas foi validado em um grupo de mães. Para tal foi selecionada uma
amostra intencional de adolescentes regularmente matriculados em uma escola da rede
pública da cidade do Recife-PE e aplicado o instrumento em duas etapas. Este estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de Pernambuco sob parecer de
número 105/12 (Anexo D).
4.7 ELENCO DE VARIÁVEIS
A seguir, os quadros 1 e 2 sumarizam as variáveis estudadas de acordo com as suas
categorizações. As variáveis SOC e QV foram cruzadas com as demais variáveis.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES CATEGORIZAÇÃO
Gênero Maculino
Feminino
Idade 10 a 18
Escolaridade Fundamental completo/ incompleto
Médio completo/incompleto
Superior completo/incompleto
Renda familiar mensal Renda familiar aproximada expressa em
salários mínimos (até 1; 1-3; 3 ou mais)
Classificação Econômica (ABEP) A1,A2, B1,B2, C1,C2, D, E
Cardiopatia Congênita
Valvular
Sintomas
Dispnéia
Taquicardia
Taquipneia
Dor precordial
Artralgia
Edema
Dor abdominal
Quadro 1: Elenco de Variáveis Independentes
VARIÁVEIS DEPENDENTES CATEGORIZAÇÃO
Qualidade de vida (PedsQL) 0 -100
Senso de Coerência (SOC) 13 – 65
Quadro 2: Elenco de Variáveis Dependentes
68
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise e o processamento dos dados foram realizados com o auxílio do programa
Statistical Package for the Social Science (SPSS) – versão 17.0 As variáveis contínuas são
apresentadas como medianas, médias e desvio padrão, e as variáveis categóricas são descritas
em frequências absolutas. Para comparar as pontuações do SOC e da QV, total e por domínio
deste, e suas variáveis de interesse, utilizaram-se os testes paramétricos t de Student para
variâncias iguais e f(ANOVA) para avaliação de diferenças entre duas ou mais categorias
respectivamente, e os testes não paramétricos Mann Whitney e o Kruskal Wallis, para 2 ou
mais categorias independentes, respectivamente. Utilizou-se a correlação de Spearman para a
avaliação da associação entre as dimensões de QV e o SOC. A correlação abaixo de 0,20 é
avaliada como pobre, entre 0.20- 0,35 regular, 0,35-0,65 como moderada, 0,65-0,85 bom e,
acima de 0,85, muito boa (COHEN; MARINO, 2000). Por último, utilizou-se a regressão
linear simples para verificar o grau de influência do escore do SOC em relação aos domínios
da QV.
Com o objetivo de se medir a confiabilidade dos questionários de Senso de Coerência
e Qualidade de Vida no estudo principal, foi determinada a consistência interna através do
coeficiente Alfa de Cronbach. Conforme literatura considerou-se como aceitáveis valores
acima de 0,7. Foi utilizado o nível de significância de 5% e um intervalo de confiança de 95%
(VARNI et al., 1999).
4.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Primeiramente o presente projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em
Pesquisa em Seres Humanos da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Instituto de
Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) para análise e aprovação. Após sua
aprovação, sob protocolos de números 105/12 e 2830-12 (Anexos D e E), foram abordados os
sujeitos da pesquisa e informados sobre a metodologia deste estudo sendo solicitada a
autorização através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
(Apêndice B) antes de iniciar a coleta dos dados. Quanto aos menores de idade, foi necessária
a assinatura do TCLE pelos pais ou responsável legal, além da concordância do próprio
69
adolescente em participar da pesquisa. O TCLE informou o tipo de pesquisa, seus objetivos e
esclareceu que a participação era voluntária e que não estaria previsto qualquer tipo de
ressarcimento aos participantes, além de assegurar que tanto a participação, quanto a não-
concordância em participar da pesquisa não lhes acarretaria prejuízo de qualquer natureza. No
termo também se estabeleceu um compromisso com a privacidade de cada participante e a
utilização confidencial e sigilosa dos dados coletados. Para tanto, foi seguido os princípios
éticos e legais que regem a pesquisa em seres humanos, preconizados na Resolução do
Conselho Nacional de Saúde Nº. 196/96 (BRASIL, 1997).
Os resultados da presente pesquisa trazem benefícios tanto para o Instituto de
Medicina Integral Professor Fernando Figueira como para a sociedade em geral, por
oferecerem subsídios que conscientizem os profissionais de saúde que lidam diretamente com
os adolescentes cardiopatas a planejar e criar estratégias de ações de saúde direcionadas às
necessidades reais destes adolecentes. Além disso, os resultados aqui apresentados poderão
dar suporte para a criação de políticas públicas direcionadas à saúde do adolescente.
70
Resultados
71
ARTIGO III
Utilização da versão modificada da escala senso de coerência em adolescentes
Use of modified version of the sense of coherence scale in adolescents
Virgínia Menezes Coutinho1
Mônica Moreira Dias da Cruz2
Mônica Vilela Heimer3
1. Mestranda do Programa de Hebiatria da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected].
2. Mestranda do Programa de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco.
3. Professora Adjunta da disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco 4
4 Artigo adequado segundo as normas da Revista Ciência e Saúde Coletiva (Anexo G).
72
RESUMO
A avaliação do SOC em adolescentes pode ser considerada como um recurso útil na
adaptação às necessidades específicas dessa idade e consequentemente no planejamento de
ações direcionadas para esse grupo etário. Assim, o objetivo desta pesquisa foi realizar a
aplicação e testar a reprodutibilidade, por meio de testes psicométricos, da escala de Senso de
Coerência modificada por Bonanato et al16
em um grupo de adolescentes escolares, visto que
a mesma apenas foi validada para um grupo de mães. A amostra foi constituída por 168
adolescentes escolares, entre 11 e 18 anos, de ambos os sexos. A confiabilidade foi verificada
por meio do Alfa de Cronbach, teste-reteste através do Kappa Ponderado e correlação de
Spearman para avaliar as correlações existentes entre cada questão da escala, como também
entre cada questão e o SOC total. A consistência interna foi 0,74, o Kappa variou entre 0,61 e
1,00 e com uma concordância entre respostas de 70,8 a 100%. O coeficiente de correlação de
Spearman para cada questão foi de 0,68 a 1,00 (p <0,000) e todos os itens se correlacionaram
com o escore total do SOC, com escore variando entre 0,28 a 0,77 (p <0,001). A média do
SOC entre os adolescentes foi 44,54. Os resultados indicam que a escala adaptada de
Bonanato et al16
também é consistente e válida para adolescentes.
Palavras-chave: Senso de Coerência, Propriedades Psicométricas, Adolescentes
ABSTRACT
The evaluation of the SOC in adolescents can be considered as a useful resource in adapting
to the specific needs of this age and as a consequence in planning of actions directed to this
age group. Therefore this research goal is to apply and test the reproducibility, through
psychometric tests, of the Sense of Coherence Scale modified by Bonanato et a116
for a group
of adolescent students, since it has already been validated for a group of mothers. This
research sample consisted of 168 adolescents aged between 11 and 18 years of both sexes.
The reliability between the analyzed scales was assessed by the Cronbach's alpha, test-retest
73
through Weighted Kappa and Spearman correlation. The latter one was used to assess not
only the correlations between each issue of scale but also between each question and the
overall SOC. The internal consistency was 0.74 in the adapted scale of Bonanato et al16
. The
kappa ranged from 0.61 to 1.00 and presented a correlation between answers from 70.8% to
100%. The Spearman’s correlation coefficient for each question was 0.68 to 1.00 (p <0.000)
and all items are correlated with the total score of the SOC, with scores ranging from 0.28 to
0.77 (p <0.001). Besides the average SOC was 44.54. The results indicate that the adapted
scale of Bonanato et al16
is consistent and valid for adolescents.
Keywords: Sense of Coherence, Psychometric Properties, Adolescents.
74
INTRODUÇÃO
O Senso de Coerência (SOC) é o constructo chave da Teoria Salutogênica. O conceito
de Salutogênese (saluto = saúde; gênese = origem) foi proposto em 1979 por Aaron
Antonovsky, um sociólogo de origem norte-americana, que buscou explicar por que algumas
pessoas permanecem saudáveis apesar da ocorrência de condições extremamente difíceis,
sugerindo um modelo global para descrever o desenvolvimento e manutenção da saúde1.
O foco central da Salutogênese é o estudo dos recursos de enfrentamento, como também
dos fatores que impedem que a tensão se transforme em estresse. De acordo com essa teoria, o
SOC é um recurso que permite as pessoas gerirem a tensão, e se propõem a explicar
estratégias bem sucedidas de enfrentamento perante uma situação de adversidade2.
O SOC refere-se à capacidade de um indivíduo compreender que os estímulos
provenientes dos ambientes internos e externos são estruturados, previsíveis e explicáveis
(compreensão), ter a percepção de que os recursos estão disponíveis para que ele possa
satisfazer as demandas impostas por esses estímulos que o perturbam (manejo), e que essas
demandas são exigências merecedoras de investimentos e engajamento (significado).
Compreensão, manejo e significado são os três componentes que formam o SOC e juntos
refletem as interações de um indivíduo com os recursos disponíveis no ambiente3, 4
.
Os indivíduos com um forte SOC exibem um maior controle sobre a sua situação,
desenvolvendo melhores estratégias de resistência à situações de adversidades, apresentam
um estado positivo de saúde física e mental e consequentemente uma melhor qualidade de
vida e bem-estar3,5
.
Estudos mostram que um forte SOC está associado com uma redução da mortalidade
associada a doença cardíaca e ao câncer6, que o SOC apresenta correlação inversa com
75
depressão7, diabetes
8, e ao risco do tabagismo, uso de alcool e outras drogas entre
adolescentes9 , como também às queixas psicossomáticas
10.
O SOC é um conceito universal que pode ser encontrado no ser humano independente
da cultura, sexo, faixa etária, classe social e da religião a qual pertence, sendo atualmente
utilizado na avaliação de indivíduos em condições crônicas de saúde ou pertencentes a grupos
específicos, como idosos, adolescentes, gestantes e crianças11
.
O instrumento que avalia o SOC foi desenvolvido por Antonovsky e originalmente
escrito em hebraico e inglês. Foi publicado pela primeira vez em 1983. Já foi traduzido e
validado em pelo menos 33 línguas diferentes e tem sido usado em 32 países2. A escala
original, do tipo Likert, é composta por 29 questões com sete itens cada. O valor do SOC se
da pela soma dos itens e o intervalo possível para o total da medida varia de 29 a 203 no qual,
quanto maior o valor, maior o SOC.
O questionário aborda as três dimensões (compreensão, significado e manejo), mas não
permite a análise separada de cada componente12
. Outras versões do instrumento foram
formuladas, incluindo uma versão mais curta com 13 questões (SOC-13), apresentada por
Antonovsky em 1987, constando itens no intervalo de 1 a 7, com um escore possível variando
de 13 a 91. Tanto a versão original quanto a curta mostraram-se válidas e consistentes.
Além do questionário SOC original composto por 29 itens e da versão mais curta de
13 itens, existe uma variedade de instrumentos alternativos. Existem pelo menos 15 diferentes
versões, incluindo duas versões do senso de coerência da família, da escola e um questionário
especialmente ajustado para criança. Uma explicação para a existência de versões
modificadas encontra-se no fato da versão do SOC-29 ser muito longa. Outro argumento para
a modificação do questionário SOC é chegar a uma melhor coerência quanto à população que
se quer estudar3,11
.
76
Rivera et al13
em sua pesquisa de revisão sistemática de estudos que abordaram o SOC
em amostras de adolescentes, comparou as diferentes versões dos instrumentos utilizados e
verificou que o SOC-13 foi o mais utilizado, seguido do SOC-29.
A versão original da escala (SOC-29) foi validada para a língua portuguesa por
Dantas14
em uma amostra de pacientes cardíacos, obtendo uma adequada consistência interna
(alfa de Cronbach de 0,79). A versão curta da escala (SOC-13) foi validada por Freire em
199915
e testada em uma amostra aleatória de adolescentes e adultos, apresentando um alfa de
Cronbach de 0,81.
Bonanato et al16
apresentaram uma nova versão para a escala de SOC-13 em que
através de entrevistas cognitivas, foram feitas adaptações que envolveram a inserção de
termos, diminuição de opções de respostas e opções com palavras para as respostas
intermediárias, em vez de números. Essa versão foi utilizada para um estudo de mães de
crianças pré-escolares de diferentes classes sociais e mostrou-se consistente, apresentando um
alfa de Cronbach de 0,80. A escala SOC-13 validada por Freire15
, quando aplicada nesta
amostra de mães, demonstrou um baixo percentual de resposta e um elevado número de
respostas extremas (1 ou 7), em contraste com a adaptada por Bonanato et al16
que apresentou
menor número de questões em branco e de respostas extremas, evidenciando uma maior
capacidade de compreensão quanto as suas questões.
O referido problema da existência de respostas extremas já tinha sido apontado pelo
próprio Antonovisky em uma publicação em 1993 e como solução ele sugeriu a inserção de
uma frase de ancoragem no meio e oferecimento de instruções mais claras11
.
Embora esteja disponível na literatura um questionário validado para a língua
portuguesa que avalie o SOC de adolescentes, em decorrência das limitações anteriormente
apresentadas, evidencia-se a necessidade da aplicação e reprodução de questionários que
77
possam atender as exigências referentes à cada faixa etária. A determinação dos níveis de
reprodutibilidade e confiabilidade de um questionário representa um aspecto de grande
importância, tendo em vista que estes aspectos estão estreitamente associados à qualidade dos
dados levantados.
A avaliação do SOC em adolescentes pode ser considerada como um recurso útil na
adaptação às necessidades específicas dessa idade e consequentemente no planejamento de
ações direcionadas para esse grupo etário. Assim, entender os mecanismos envolvidos nos
comportamentos de saúde dos adolescentes é importante para explorar o processo em que os
mesmos podem, ou não, desenvolver reações de estresse diante de algumas situações17
.
Diante disso, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o grau de confiabilidade e
reprodutibilidade da escala SOC-13, adaptada por Bonanato et al16
, em uma amostra de
adolescentes.
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado em uma amostra de 168 adolescentes, com idades entre 11 e
18 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados em uma instituição da rede pública de
ensino da cidade do Recife – Pernambuco.
A inclusão dos sujeitos na amostra do estudo ocorreu pela concordância em participar
do mesmo. Para tanto, o universo de escolares matriculados nas 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino
fundamental e na 3ª série do ensino médio, que frequentavam a escola selecionada no período
da manhã, foram contactados com antecedência de 01 semana, informados quanto à natureza
da pesquisa e convidados a participar do estudo. Neste momento os alunos receberam o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sendo solicitado que o entregassem aos
pais/responsável e o trouxessem devidamente assinado. Dos 184 escolares que inicialmente se
78
interessaram em participar do estudo, 16 deles não completaram todas as etapas previstas no
delineamento do estudo, sendo, portanto excluídos da amostra.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de
Pernambuco sob parecer de número 105/12 e acompanhou as Normas da Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos18
.
Para a coleta de dados foi utilizado o questionário de Bonanato et al16
para mensurar o
SOC, previamente validado no Brasil para língua portuguesa apenas para um grupo de mães.
O referido instrumento pode ser auto-aplicável ou aplicado em forma de entrevista, é
estruturado por 13 questões cujas dimensões (compreensão, manejo e significado) estão
distribuídas aleatoriamente. As opções de respostas são codificadas mediante uma escala
Likert de cinco pontos, com somatória dos scores variando de 13 a 6516
.
A coleta foi realizada no mês de agosto de 2012 e foi dividida em 2 etapas. Na
primeira, realizou-se a aplicação da escala do SOC adaptada por Bonanato et al16
e com o
intervalo de 2 semanas foi realizada a reaplicação da referida escala em 24 adolescentes
sorteados de forma aleatória para se obter informações acerca de sua confiabilidade e
reprodutibilidade. Antes da coleta as pesquisadoras participaram de um treinamento para
definição dos padrões a serem estabelecidos quanto a realização da entrevista e
preenchimento do questionário.
As coletas sempre eram agendadas, quanto ao dia e hora, com a coordenação da
escola. Para todas as fases de aplicação dos instrumentos os adolescentes foram abordados
durante o intervalo da aula. O questionário foi aplicado em forma de entrevista em uma sala
de aula, apenas com a presença das pesquisadoras e do aluno. Aqueles adolescentes que
faltaram para alguma das fases da coleta foram desconsiderados do estudo.
79
Como não houve alteração semântica no questionário, apenas foram utilizados os
testes psicométricos. Para analisar a consistência interna utilizou-se o coeficiente Alfa de
Cronbach.
Com relação à validade e a reprodutibilidade do questionário, recorreu-se ao Kappa
Ponderado para a análise da concordância das respostas e confiabilidade do teste-reteste. Este
teste leva em consideração a discordância parcial, ao atribuir pesos diferentes aos graus
distintos de discordância. As respostas discordantes foram ponderadas pelos quadrados dos
desvios da concordância simples. O Kappa simples por considerar apenas respostas exatas,
não avaliaria as diferenças na diversidade das respostas e a distância entre as concordâncias19
.
Os critérios adotados para a interpretação do grau de concordância encontram-se na Tabela 1.
Para avaliarmos as correlações existentes entre cada questão da escala, como também
entre cada questão e o SOC total foram calculados os coeficientes de correlação de Spearman.
O tratamento estatístico foi realizado mediante o pacote computadorizado Statistical
Package for the Social Science (SPSS) – versão 17.0, adotando-se uma margem de erro de
5% e um intervalo de confiabilidade de 95,0%.
RESULTADOS
A consistência interna do questionário foi 0,74. Em relação a estabilidade do teste-
reteste foi encontrado um coeficiente Kappa Ponderado variando entre 0,61 e 1,00 e com uma
concordância entre respostas de 70,8 a 100% como observado na Tabela 2. O coeficiente de
correlação de Spearman para cada questão foi de 0,68 a 1,00 (p <0,000) (Tabela 3). O teste
de Spearman também mostrou que todos os itens se correlacionaram com o escore total do
SOC, apresentando valores de entre 0,28 a 0,77 (p <0,001) (Tabela 4). A média do SOC entre
os adolescentes neste estudo foi 44,54 (Tabela 3).
80
DISCUSSÃO
O resultado da análise sobre a confiabilidade e reprodutibilidade variou de moderada a
excelente, conforme classificação de Landis e Koch20
(Tabela 1) e com ótima concordância
das respostas no teste e reteste. A consistência interna do instrumento foi satisfatória, com o
valor de Alfa de 0,74 (superior a 0,70), considerado assim apropriado para uso em população
brasileira de adolescentes.
Pesquisa extensa realizada por Eriksson e Lindstrom3 revisou evidências de 251
estudos realizados quanto a viabilidade e confiabilidade da escala. A consistência interna
destes estudos utilizando o SOC-29 variou de 0,70 a 0,95 e o SOC-13 variou de 0,70 a 0,92.
Quando foram consideradas as escalas modificadas em 60 artigos, variou de 0.35 to 0.913.
Riveral et al13
em investigação realizada a partir de um levantamento de 68 estudos
internacionais examinando o SOC em adolescentes revelou que a consistência interna dos
estudos utilizando o SOC-29 variou de 0.81 a 0,94, em relação ao SOC-13 variou de 0,55 a
0,87 e ainda no que diz respeito à versões modificados do SOC-13, o Alfa de Cronbach variou
entre 0,72 e 0,85. O resultado encontrado na presente pesquisa em relação a este aspecto
revela que o mesmo está de acordo com estudos internacionais. O fato de uma adequada
consistência interna (α > 0,70) ter sido obtida em uma considerável variedade de populações,
em diferentes línguas e culturas é apontado como um importante resultado para a
confiabilidade do instrumento.
A validação da escala original SOC-13 para o português, realizada por Freire15
foi
realizada em uma amostra formada de estudantes de classe média com um alto nível de
educação, em contraste com a do presente estudo, aplicada em uma amostra formada por
adolescentes de escola pública e que viviam em áreas economicamente desfavorecidas. O
81
nível de escolaridade e educação de uma amostra pode ser um fator limitante na compreensão
de uma escala.
No que tange à confiabilidade do teste-reteste, medida pelo Kappa Ponderado,
constatou-se a variação entre substancial a excelente, de acordo com os critérios estabelecidos
por Landis e Koch20
. Tal resultado é superior ao encontrado por Eriksson e Lindstrom3 em
uma revisão sistemática com 458 pesquisas científicas publicadas entre 1992 e 2003, todas
internacionais, que mostraram uma correlação variando de 0,65 a 0,92 para o SOC-29 e 0,60 a
0,72 para SOC-13. Esse resultado reforça a adequada reprodutibilidade e a confiabilidade do
instrumento aqui testado.
O resultado anteriormente citado foi superior ao encontrado por Bonanato et al16
em
sua validação, que foi variou entre 0,28 a 0,76 com média de 0,49, o que exibe uma variação
considerável de uma pergunta para outra. Segundo Bonanato et al16
, isso pode ser justificado
por uma dificuldade de compreensão em algumas questões da escala.
As validações para a língua portuguesa do SOC-13, realizada por Freire15
, em uma
população de adultos e adolescentes brasileiros e do SOC-29, realizada por Dantas14
, em uma
população de adultos com doença cardíaca, não utilizaram como medida de confiabilidade o
Kappa, o que torna difícil a comparação dos resultados deste estudo com outros similares em
nível nacional.
A correlação de Spearman da presente pesquisa apresentou uma correlação positiva
entre as questões no teste e o reteste, variando de 0,68 a 1,00, como também entre cada
questão e o SOC total, variando de 0,28 a 0,77, superior ao da validação de Bonanato et al16
,
que apresentou uma correlação entre as questões variando entre 0.086 e 0.619 e entre cada
questões com o SOC total entre 0.27 a 0.61. Esse resultado aponta uma coerência entre as
82
questões e a escala como um todo, como também uma melhor compreensão por parte dos
adolescentes, comparado ao grupo de mães selecionadas por Bonanato et al16
.
O SOC médio entre os adolescentes desta pesquisa foi 44,54. O único estudo
publicado realizado no Brasil com adolescentes e que pode servir como comparação foi o
realizado por Freire et al21
quando estudou a associação entre o SOC e a saúde oral de
adolescentes, obtendo um SOC médio de 57,5. Contudo, o seu escore pode variar de 13 a 91,
visto que sua escala original apresenta uma escala tipo likert variando de 1 a 7 e a utilizada no
presente estudo varia de 1 a 5, tornando desta forma essa comparação menos fidedigna. Os
estudos que utilizaram a escala adaptada de Bonanato et al16
foram realizados em grupos de
mães e obtiveram um escore médio de 33,28 e 47,922,23
.
Evidências mostram que o SOC tende a aumentar com a idade através de todo o ciclo
de vida e que quanto maior a faixa etária da amostra maior a pontuação do SOC. O modelo
teórico da construção do SOC postula que o mesmo é estabilizado até o final da idade adulta
jovem, depois sofre apenas algumas flutuações11
. Alguns estudos têm indicado que o SOC é
estável a partir de meados da adolescência e que durante esta fase ele pode contribuir para
moderar as experiências de estresse de forma semelhante aos adultos 12,24
.
Mesmo a adolescência sendo considerada uma das fases mais importantes quanto aos
estágios de desenvolvimento e assim fundamental na formação do SOC, como também a
existência de evidências que apoiam a relação do SOC com comportamentos relacionados
com a saúde e bem estar durante essa fase, ainda são poucos estudos que abordam o SOC
nesta fase da vida, em contraste com aquelas direcionadas aos adultos 25,26
.
Apesar da ênfase da literatura atual sobre a necessidade de identificar fatores que
promovem o SOC, pouco se sabe sobre o processo de seu desenvolvimento, como também os
fatores que influenciam esse processo. Logo, ressalta-se a importância da realização de
83
pesquisas que abordem o SOC inserido no contexto da adolescência, e para tal, a existência de
instrumentos direcionados para esta faixa etária visando melhorar a qualidade dos
resultados13
.
A pequena quantidade de estudos nacionais que abordem a temática Senso de
Coerência de uma forma mais ampla, como também direcionada ao adolescente dificulta
qualquer análise mais aprofundada a respeito da utilização do instrumento. Apenas com a
disseminação do conhecimento sobre o tema se poderá chegar a uma escala mais estável e
replicável, contribuindo não apenas para o desenvolvimento metodológico, como também e,
principalmente, para o conhecimento, divulgação e promoção dos recursos necessários para
que as pessoas superem as dificuldades vivenciadas ao longo da vida.
CONCLUSÕES
A partir dos resultados encontrados no presente estudo, pode-se inferir que a escala
adaptada de Bonanato et al16
também é consistente e válida para uma amostra de
adolescentes. A validação de questionários em pesquisa torna-se uma etapa fundamental para
a compreensão do estado de saúde e a tomada de decisões em Promoção de Saúde. Essa
pesquisa possibilita a avaliação do Senso de Coerência e a utilização do instrumento para este
grupo populacional de forma efetiva.
Colaboradores
VM Coutinho trabalhou na concepção do estudo, na pesquisa, na coleta, metodologia, na
análise, na interpretação dos dados e na redação. MMD Cruz trabalhou na coleta, metodologia
e análise dos dados. MV Heimer trabalhou na concepção e na orientação do estudo, na
metodologia, na redação e na revisão final.
84
Tabela 1- Valores de referência do Kappa
Valor Índice Kappa (K) Concordância
0 Pobre
0 a 0,20 Ligeira
0,21 a 0,40 Considerável 0,41 a 0,60 Moderada 0,61 a 0,80 Substâncial
0,81 a 1 Excelente
Macclure & Willet, 1987
Tabela 2-Resultados da concordância das questões do instrumento (Kappa Ponderado)
Questões
Concordância
de respostas
(%)
Kappa P.
Intervalo de
Confiança (95%)
Aquilo que você faz diariamente (Q1) 79,2 0,81 0,67 a 0,95
Até hoje a sua vida tem sido (Q2) 100,0 1,00 1,00 a 1,00
Você tem interesse pelo que passa ao seu redor? (Q3) 87,5 0,85 0,67 a 1,00 Você acha que você é tratado (a) com injustiça? (Q4) 79,2 0,77 0,57 a 0,97 Você tem idéias e sentimentos confusos? (Q5) 92,0 0,89 0,74 a 1,00
Você acha que as coisas que você faz na sua vida têm pouco sentido? (Q6) 83,3 0,82 0,66 a 0,98
Já lhe aconteceu ter ficado desapontado(a) com pessoas em quem você confiava? (Q7)
87,5 0,85 0,69 a 1,00
Você tem sentimentos que gostaria de não ter? (Q8) 87,5 0,80 0,11 a 1,00
Você tem dúvida se pode controlar seus sentimentos? (Q9) 87,5 0,80 0,59 a 1,00
Já lhe aconteceu de ficar surpreendido(a) com o comportamento de pessoas que você achava que conhecia bem? (Q10)
958 0,96 0,88 a 1,00
Em algumas situações, as pessoas sentem-se fracassadas. Você já se sentiu fracassado(a)? (Q11)
100,0 1,00 1,00 a 1,00
Você sente que está numa situação pouco comum, e sem saber o que fazer? (Q12)
70,8 0,61 0,33 a 0,89
Às vezes acontecem coisas na vida da gente que depois achamos que não demos a devida importância. Quando alguma coisa acontece na sua vida, você acaba achando que a importância (Q13)
83,3 0,76 0,55 a 0,98
85
Tabela 3-Média, desvio padrão do SOC e Correlação de Spearman em relação à cada questão escala do
SOC
Questão Média Desvio padrão Correlação de Spearman
rs (p)
P1 3,75 1,07 0,94 (< 0,001*) P2 4,04 0,81 1,00 (< 0,001*) P3 3,92 1,06 0,84 (< 0,001)* P4 3,50 0,88 0,83 (< 0,001*) P5 3,21 0,78 0,92 (< 0,001*)
P6 3,79 0,93 0,93 (< 0,001*) P7 2,25 0,85 0,90 (< 0,001*) P8 3,17 0,64 0,81 (< 0,001*) P9 3,63 0,65 0,86 (< 0,001*) P10 2,29 0,91 0,99 (< 0,001*) P11 3,25 0,74 1,00 (< 0,001*) P12 3,67 0,76 0,68 (< 0,001*) P13 4,08 0,72 0,83 (< 0,001*) SOC 44,54 6,06 0,97 (< 0,001*)
Tabela 4- Correlações de Spearman entre SOC com as respectivas questões que o compõem
SOC P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13
SOC X
P1 0,68* X
P2 0,77* 0,75* x
P3 0,40 0,59* 0,45* X
P4 0,59* -0,46* -0,35 -0,30 x
P5 0,31 -0,23 -0,03 0,14 0,36 x
P6 0,62* -0,35 -0,48* -0,02 0,25 0,13 X
P7 0,50* -0,10 -0,27 -0,22 0,23 -0,08 0,18 X
P8 0,60* -0,59 -0,50* -0,46* 0,34 -0,02 0,51* 0,45* x
P9 0,57* -0,24 -0,23 0,01 0,39 0,35 0,39 0,20 0,49* x
P10 0,56* -0,20 -0,42* -0,41* 0,17 -0,09 0,24 0,75* 0,37 0,06 x
P11 0,32 -0,14 -0,00 0,09 0,06 0,38 0,31 0,14 0,09 0,37 -0,04 x
P12 0,28 0,19 0,02 0,12 0,05 0,48* 0,23 0,09 -0,03 0,47* 0,17 0,52* x
P13 0,58* 0,49* 0,67* 0,27 -0,54* 0,17 -0,43* -0,30 -0,53* -0,28 -0,34 0,04 0,19 X
86
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91
ARTIGO IV
Senso de coerência e qualidade de vida em adolescentes com doenças cardíacas
Sense of coherence and quality of life in adolescents with heart disease
Virgínia Menezes Coutinho
1
Mônica Vilela Heimer2
1. Mestranda do Programa de Hebiatria da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected].
2. Professora Adjunta da disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco5
5 Artigo adequado segundo as normas da Revista Ciência e Saúde Coletiva (Anexo G).
92
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar a associação entre Senso de Coerência (SOC) e
Qualidade de Vida (QV) em adolescentes cardiopatas. Foi realizado um estudo transversal,
exploratório e censitário com 164 adolescentes com cardiopatia congênita ou valvular, entre
10 e 18 anos, atendidos em um Centro de Referência localizado na cidade do Recife-Brasil.
As informações coletadas abrangeram os dados sociodemográficos, o tipo de cardiopatia, a
classificação econômica da ABEP, avaliação do Senso de Coerência e da Qualidade de Vida.
Tanto o SOC (50,09) como a QV (72,73) apresentaram valores elevados quando consideradas
as suas médias. As dimensões social e escolar da QV foram, respectivamente, as de maior e
menor escore. Por meio da análise bivariada, o SOC e a QV foram associados a sintomas
como dispneia e taquicardia (p<0,05). Através da Correlação de Spearman, o SOC apresentou
correlação positiva com todas as dimensões da QV (p<0,001), sendo a maior a dimensão
escolar e menor a física e social. O modelo de regressão linear revelou que o SOC influenciou
principalmente as dimensões escolar e emocional, e não impactou a dimensão física. Esse
estudo revelou que o SOC representa um fator de proteção na vida desses adolescentes
atuando na melhora da percepção da QV e relacionado ao sucesso frente às adversidades
diárias e estresse crônico.
Palavras-Chave: Adolescente, Senso de Coerência, Qualidade de Vida, Doenças Cardíacas
ABSTRACT
This research goal is to evaluate the association between Sense of Coherence (SOC) and
Quality of Life (QOL) in adolescents with heart disease. We conducted an exploratory cross-
sectional study with 164 adolescents with congenital or valvular heart disease, aged between
10 and 18 years, treated in a Referral Center located in the city of Recife - Brazil. The
collected information contains census data, type of heart disease, economic status identified
93
by the Brazilian Criteria for Economic Classification (ABEP), evaluation of the Sense of
Coherence and also the Quality of Life. Both SOC (50.09) and QOL (72.23) exhibited high
average values. The social and scholar dimensions of the QOL were, respectively, the highest
and lowest scores. Through the bivariate analysis, the SOC and QOL were associated with the
dyspnea and tachycardia symptoms (p<0.05). And through the Spearman Correlation, the
SOC was positively correlated with all QOL dimensions (p<0.001), having the highest
correlation with the scholar dimension and the smallest correlation with the physical and
social dimensions. The linear regression revealed that SOC has influenced the scholar and
emotional dimensions, but it has no influence in the physical dimension. This study
demonstrates that SOC is a protective factor in the life of the adolescent. It helps on the
improvement of perception of QOL and also on successfully dealing with daily adversities
and chronic stress.
Keywords: Adolescent, Sense of coherence, Quality of Life, Heart diseases.
94
INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde1, atualmente há uma tendência ao aumento da
prevalência de doenças crônicas e incapacitantes em adolescentes e jovens. Estima-se que de
7% a 10% da população juvenil possui uma doença crônica importante, como por exemplo,
uma doença cardíaca.
Estudos mostram que a doença crônica na adolescência pode trazer repercussões
negativas por ocorrer em momentos da vida em que os indivíduos convivem com fatores
estressantes próprios da faixa etária e ao mesmo tempo, por lidar com aqueles efeitos
produzidos pela doença e pela necessidade de mudanças comportamentais que o tratamento
exige. Apesar de inicialmente haver comprometimento da dimensão física, a doença e seu
tratamento também comprometem as dimensões emocional, social e escolar, influenciando
desta forma a sua qualidade de vida (QV)2,3
.
A capacidade de um indivíduo em lidar com o estresse vivenciado durante o adoecer é
um importante aspecto a ser investigado pelos profissionais de saúde4. Um dos constructos
que tem sido estudado quando se investiga a capacidade de enfrentamento ao estresse é o
Senso de Coerência (SOC), que se apresenta como um atributo individual que protege o
indivíduo contra as consequências prejudiciais das adversidades, tratando-se de uma
orientação global, um modo de olhar o mundo e de lidar com os estressores presentes na vida
cotidiana5.
O SOC é o conceito chave da Teoria Salutogênica proposta por Aaron Antonovsky em
1979, considerada na área da saúde como uma nova abordagem para a avaliação de indivíduos
em condições crônicas de saúde ou pertencentes a grupos específicos, como idosos,
adolescentes, gestantes e crianças6. Segundo esta teoria, os estressores são intrínsecos à
condição humana e quanto maior o SOC, melhor os indivíduos lidam com esses agentes,
95
apresentam uma boa percepção de sua saúde e melhor QV, como também mostram menos
fadiga, depressão, solidão e ansiedade comparado àquelas com um fraco SOC7,8
.
O SOC é avaliado através de três domínios: compreensibilidade (capacidade de
compreender um evento), maneabilidade (percepção do potencial de manipulá-lo ou resolvê-
lo) e significância (significado que se dá a esse evento) e a escala que o investiga foi
publicada pela primeira vez em 1983 e formulada para ser aplicada em várias culturas,
atravessando todas as barreiras de gênero, classe social e religião9 .
Alguns estudos como o de Nio10
, Neuner et al11
, Apers et al12
e Luyckx et al13
realizados em adolescentes cardiopatas mostraram que elevados valores de SOC nesta
população significou um maior apoio social, melhor bem-estar psicológico e melhora na auto-
estima e QV.
O amplo conceito de QV está relacionado principalmente às experiências individuais de
cada ser humano. No contexto da saúde, é considerado um conceito bem mais abrangente,
visto que aborda as definições multidimensionais de QV14
. O World Health Organization-
Quality of Life Group (WHOQOL)15
definiu QV como “uma percepção individual da posição
do indivíduo na vida, no contexto de sua cultura e sistema de valores nos quais ele está
inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. É um
conceito de grande alcance influenciado de forma complexa pela saúde física, estado
psicológico, nível de independência, relações sociais e com o meio ambiente do indivíduo.
As consequências sociais e psicológicas de uma doença crônica na infância e
adolescência podem trazer repercussões adversas na vida do adolescente e adulto. Logo, um
elevado SOC nos adolescentes cardiopatas poderia se manifestar em um sentimento dinâmico
de confiança, em sua habilidade para lidar com as variações advindas da instabilidade da
96
trajetória da doença crônica, possibilitando a adaptação à nova condição física e psicológica e
melhorando desta forma sua QV16
.
Como a maioria dos comportamentos de saúde é formado na adolescência, avaliar esta
faixa etária torna-se importante no ponto de vista da saúde. Assim, estudar o SOC do
adolescente cardiopata possibilitará uma melhor compreensão de como ele reage à doença e
ao seu tratamento, possibilitando uma ampliação das estratégias de enfrentamento da sua
situação.
Diante do exposto, este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a associação entre
Senso de Coerência e Qualidade de Vida em adolescentes com doenças cardíacas, bem como
a associação do SOC e da QV com os dados sociodemográficos e clínicos dos adolescentes.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo transversal, de caráter exploratório e censitário realizado com
164 adolescentes cardiopatas atendidos em um Centro de Referência em Cardiologia
Pediátrica entre os meses agosto de 2012 a janeiro de 2013. Os participantes foram
selecionados de acordo com os seguintes critérios: ter entre 10 a 18 anos de idade e apresentar
cardiopatia congênita e/ou valvular, segundo diagnóstico médico obtido pelo prontuário do
paciente. A escolha destas patologias se deu por serem as mais prevalentes dentre as doenças
cardíacas do Centro de Referência supracitado. Foram excluídos da pesquisa aqueles
pacientes que apresentaram outro tipo de cardiopatia que não fossem a congênita ou valvular,
síndromes genéticas associadas, os portadores de transtornos mentais e os portadores de
comprometimento motor e/ou cognitivo que impossibilitassem a aplicação dos instrumentos.
97
A coleta dos dados foi realizada de segunda a sexta em horário de atendimento
ambulatorial, por meio de entrevistas individuais e consulta aos prontuários dos participantes.
Foi composta por dados sociodemográficos (idade, cidade de residência, situação marital,
escolaridade e renda familiar aproximada) coletado através de um instrumento previamente
elaborado; a caracterização clínica dos adolescentes quanto ao tipo de cardiopatia e sintomas
associados que foram obtidos por meio do prontuário e da entrevista; o SOC, obtido pela
versão curta, adaptada e validada por Bonanato et al17
; a avaliação da QV, através do
Instrumento Peds-QL InventoryTM
4.0 e a classificação econômica, através do questionário de
classificação Econômica do Brasil/2008 (ABEP).
Apesar de existir um instrumento para avaliação do SOC já validado para adolescentes
(SOC-13), este demonstrou um baixo percentual de respostas e um elevado número de
respostas extremas. Sendo assim, optou-se pela versão adaptada de Bonanato et al17
que
apresentou menor número de questões em branco e de respostas extremas evidenciando uma
maior capacidade de compreensão quanto as suas questões. No entanto, como esta versão
havia sido validada e adaptada para mães de pré-escolares, realizou-se um estudo com uma
amostra de adolescentes escolares com o objetivo de testar a reprodutibilidade deste
instrumento. O instrumento mostrou-se consistente e válido, com um Alfa de Cronbach de
0,74 e um Kappa Ponderado variando de 0,61 a 1,00.
O instrumento constituiu-se de 13 perguntas, respondidas em uma escala Likert de 1 a 5
pontos, apresentando respostas intermediárias e limites semânticos para as respostas
localizadas nos extremos. As questões abordam os 03 domínios (manejo, compreensão e
significado), mas segundo Eriksson e Lindström18
, sua análise correta não permite separá-los.
Os escores são somados para obter um valor absoluto correspondente ao SOC, podendo variar
de 13 a 65 pontos.
98
A Qualidade de Vida foi avaliada com o auxílio do questionário PedsQL InventoryTM
4.0. Ele é composto por um conjunto de questionários genéricos desenvolvido originalmente
na língua inglesa e validado na língua portuguesa por Klatchoian et al19
em 2008. No
presente estudo foram utilizados apenas os questionários direcionados para as faixas etárias de
8 a 12 e 13 a 18. Ambos os questionários são similares e multidimensionais e possuem 23
questões divididas em 04 dimensões, a físico, emocional, social e escolar. A dimensão
psicossocial é composta pela soma das dimensões emocional, social e escolar. Cada item
contem cinco opções de respostas numa escala Likert, cujos valores são operacionalizados
posteriormente numa escala de 0-100, onde a pontuação maior representa o melhor estado19,20
Por último, o Questionário de Classificação Econômica do Brasil/2011 (ABEP)
apresenta uma escala ou classificação socioeconômica por intermédio da atribuição de pesos a
um conjunto de itens de conforto doméstico, além do nível de escolaridade do chefe de
família.
A análise e o processamento dos dados foram realizados com o auxílio do programa
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0. As variáveis contínuas são
apresentadas como medianas ou médias e desvio padrão, e as variáveis categóricas são
descritas em frequências absolutas. Para comparar as pontuações do SOC e do PedsQL, total e
por domínio deste entre a amostra e suas variáveis de interesse, utilizou-se o teste t de
Student, Mann Whitney, f(ANOVA) e o Teste Kruskal Wallis, para amostras independentes.
Utilizou-se a correlação de Spearman para a avaliação da associação entre as dimensões de
QV e o SOC. Para verificar o grau de influência do escore do SOC em relação aos domínios
da QV foi utilizada uma regressão linear múltipla.
A confiabilidade dos questionários de SOC e QV foi determinada através da
consistência interna pelo coeficiente alfa de Cronbach. Conforme literatura considerou-se
99
como aceitáveis valores acima de 0,720
. Foi utilizado o nível de significância de 5% e um
intervalo de confiança de 95%.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituo de Medicina
Integrada Professor Fernando Figueira (IMIP), sob protocolo n0 2830-12. Foram seguidos
todos os procedimentos normativos e formais, como assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) pelos participantes e pelos seus responsáveis e a pesquisa
acompanhou as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa
envolvendo seres humanos21
.
RESULTADOS
No que diz respeito aos dados sociodemográficos, destaca-se que dos 164 adolescentes
pesquisados, 85(51,8%) encontravam-se na faixa etária entre 12 e 14 anos, seguido de 49
(29,9%) nas faixas entre 10 a 11, 83(50,6%) pertenciam ao sexo masculino e 81(49,4%) ao
sexo feminino. A maioria da amostra (84,1%) encontrava-se com ensino fundamental
incompleto. Em relação à renda mensal familiar em salários mínimos, 130 (79,3%) famílias
ganhavam de 1 a 2 salários, e de acordo com a classificação econômica segundo a ABEP, 116
(70,7%) famílias apresentavam-se inseridas na classe C.
Quanto à distribuição das cardiopatias, as valvulopatias perfizeram um total de 73,2%
e as doenças cardíacas congênitas 38,4%. Dentre as valvulopatias, 76 (46,4%) foram
decorrentes da Febre Reumática (FR). As cardiopatias congênitas mais frequentes foram a
tetralogia de Fallot (20,7%), Comunicação interventricular (15,2), comunicação interatrial
(11,0%) e coactação de Aorta (1,2%). Dos sintomas mais presentes nos adolescentes destaca-
se a dispneia (51,2%), taquicardia (50,0%) seguida da dor precordial (24,4%). Vale ressaltar
que as cardiopatias e sintomas aqui apresentados se sobrepõem, ou seja, muitos adolescentes
apresentavam mais de uma doença e sintomas associados.
100
A Tabela 1 apresenta o escore total do SOC e da QV, bem como para cada domínio
deste. Nesta tabela também foi apresentado a consistência interna dos instrumentos SOC e
QV, avaliada pelo Alfa de Cronbach, com valores de 0,76 e 0,91, respectivamente,
demonstrando uma satisfatória confiabilidade na população estudada.
No que diz respeito às associações entre SOC e as variáveis de interesse, foi observada
uma diferença significativa (p<0,05) apenas quando o mesmo foi relacionado a sintomas
como dispneia e taquicardia (Tabela 2).
Observou-se associação estatisticamente significante na dimensão física da QV
quando relacionadas às variáveis faixa etária, gênero, escolaridade e a classificação ABEP.
Essas duas últimas associaram-se com todas as dimensões da QV, com exceção da emocional
(Tabela 3). Os sintomas referidos pelos adolescentes como dispneia, taquicardia e taquipneia
estão associados de forma negativa com a QV dos mesmos, visto que os que possuem esses
sintomas apresentam uma menor QV (Tabela 4).
As correlações entre as dimensões de QV e o SOC estão apresentadas na Tabela 5.
Pode-se inferir a partir destes resultados que todas as dimensões apresentam correlação
positiva com o SOC (p<0,001) a partir da análise de correlação de Spearman.
Em relação a análise de regressão linear múltipla, o SOC parece impactar
principalmente as dimensões escolar e emocional (<0,001) seguido da dimensão social (P=
0,02) (Tabela 05). Não foi possível inserir a dimensão psicossocial no modelo uma vez que a
mesma é uma somatória das dimensões emocional, escolar e social.
DISCUSSÃO
Senso de Coerência e Variáveis Sociodemográficas e Clínicas
101
A utilização do Questionário de Senso de Coerência proposto por Antonovsky para
uso em adolescentes brasileiros ainda é recente. O único estudo que abordou esta temática foi
realizado por Freire et al22
abordando a saúde oral e sua associação com o SOC em
adolescentes. Assim, não foi possível comparar os resultados obtidos no presente estudo, com
outros resultados envolvendo jovens brasileiros cardiopatas.
Os resultados desta pesquisa estão em consonância com estudos recentes. Neuner et
al11
utilizaram o instrumento na língua alemã, o SOC-L9 com 9 questões numa escala Likert
de 1 a 7, apresentando uma média de 48.9 com intervalo possível de 9 a 63. Appers et al23
,
utilizando uma versão curta e adaptada do SOC-13, cujo SOC foi medido numa escala tipo
Likert de 1 a 7 com intervalo variando de 13 a 91, apresentou uma média de 53,6.
Considerando essas médias e os intervalos referidos, pode-se considerar que esta amostra
apresentou um elevado SOC (média de 50,09 e intevalo de 35 a 62).
Diversas pesquisas revelaram que o SOC em um grupo de adolescentes com doença
cardíaca foi mais elevado que no grupo dos saudáveis10,11,12,13,23,24
. Crescer com uma doença
crônica pode influenciar positivamente o desenvolvimento do SOC, o que permite uma
melhor adaptação e criação de estratégias para lidar com a condição 17, 24,25
.
Na presente pesquisa, quando analisadas as diferenças entre as medidas do SOC
segundo o gênero, os resultados encontrados não evidenciaram diferença estatisticamente
significativa (p = 0,338). Porém pode-se observar que o SOC das meninas foi ligeiramente
inferior ao dos meninos. Em pesquisas anteriores10,11,12,23
realizadas com adolescentes
cardiopatas, foram encontradas diferenças significativas para o SOC entre o gênero
masculino e feminino, apresentando este último escores significativamente menores. Em
geral, as adolescentes experimentam níveis mais elevados de estresse interpessoal e são mais
sensíveis que os rapazes, tendendo a expor mais respostas emocionais negativas como
ansiedade e depressão 10,12,26
.
102
Britta e Mônica27
ao analisarem os comportamentos de saúde e o SOC em
adolescentes, também encontraram um SOC superior entre meninos. Outro argumento que
justifica este dado se dá em decorrência de que e a experiência da doença cardíaca levanta a
questão da imagem corporal no que diz respeito à cicatrizes decorrentes de uma
multiplicidade de procedimentos, podendo reduzir o SOC em meninas.
Não houve diferença estatisticamente significativa entre o SOC e faixa etária,
escolaridade dos participantes e a classificação econômica segundo a ABEP. Também não foi
observado associação entre renda e SOC, no entanto, pesquisas apontam que níveis
socioeconômicos mais altos estão associados com um melhor SOC. Bernabé et al25
e Freire et
al22
comprovam esta afirmação quando, em pesquisas abordando comportamento de saúde
bucal, revelaram que aqueles adolescentes mais favorecidos economicamente, apresentaram
maior SOC e adotaram melhores hábitos de saúde.
Corroborando os achados de Nio10
, os sintomas decorrentes das cardiopatias, como
dispneia e taquicardia, foram associados de forma significativa ao SOC (p<0,05), uma vez
que os que apresentaram esses sintomas possuíram um menor SOC. Levando em
consideração que o SOC nesta população apresentou-se elevado, sugere-se que ele atua como
fator de proteção nestes adolescentes, onde mesmo o SOC sendo influenciado por esses
sintomas, as restrições decorrentes da doença parecem não interferir com a habilidade dos
mesmos em lidar com as limitações de ordem física.
As doenças cardíacas aqui pesquisadas não apresentaram associação significativa com
o SOC. As valvulopatias (73,2%) obtiveram uma maior prevalência quando comparada às
doenças cardíacas congênitas (38,4%), sendo aquela principalmente decorrente da Febre
Reumática (FR).
103
Segundo Volschan28
, a FR constitui a principal causa de cardiopatia adquirida em
crianças e adultos jovens nos países em desenvolvimento, cuja sequela mais relevante é a
valvulopatia reumática. É uma patologia associada às condições socioeconômicas mais
baixas, o que corrobora com a população aqui estudada, e também está relacionada às
condições precárias de habitação e aos cuidados médicos inadequados, acometendo com
maior frequência pacientes na faixa etária de cinco a quinze anos. Dados obtidos do
DATASUS29
apontam que no Brasil, apesar da escassez de dados estatísticos confiáveis, a
incidência da FR é de 0,3 a 3,0% da população suscetível, e um terço destes casos evolui com
lesões crônicas das valvas cardíacas, correspondendo a aproximadamente seis mil novos casos
de cardiopatia crônica por ano.
Em relação às doenças cardíacas congênitas, segundo informações obtidas pelo
Sistema de Informação de Saúde (DATASUS/SINASC), no ano de 2010 ocorreram 1378
nascimentos vivos com diagnóstico de cardiopatias congênitas no Brasil30
.
Qualidade de vida e Variáveis Sociodemográficas e Clínicas
Até o momento, os estudos de QV de pacientes com doença cardíaca têm relatado
alguns resultados divergentes. Alguns observaram uma diminuição na QV de adolescentes
cardiopatas quando comparada a população geral, que pode ser, em parte, devido as
limitações funcionais referidas, relacionada com a instabilidade cardíaca ou a maior gravidade
da doença31,32,33,34,35
.
No entanto, a maioria apresentou uma melhor QV dos adolescentes com cardiopatias
quando comparado a um grupo saudável 11,12, 24, 23, 36,37,38
. Tais resultados podem refletir na
adaptação à situação por parte destes jovens, reforçando a hipótese de que a QV desta
população não é proprorcional à gravidade da doença. Teixeira et al39
ainda adiciona a esse
resultado o fato de que estes indivíduos requerem uma quantidade significativa de cuidados
104
adicionais que pode estar promovendo um ambiente protetor e coeso, o que reduziria o
estresse e promoveria a adaptação positiva.
No presente estudo, o escore médio da QV foi similar ao encontrado por Apers et al23
,
que também avaliou a QV de adolescentes cardiopatas utilizando o mesmo instrumento. Da
mesma forma que o instrumento que avalia o SOC, o PedsQL também não possui pontos de
corte determinados que categorizassem a QV de um indivíduo. Entretanto, levando em
consideração que seus escores vão de 0 a 100, pode-se inferir que a QV dos adolescentes
cardiopatas deste estudo ficou acima da média.
Dentre as dimensões apresentadas no PedsQL, a referente à escola foi a que apresentou o
menor escore. Devido à períodos de internação, com idas e vindas aos médicos para
reavaliações, bem como as dores de possíveis recidivas e a própria fadiga ocasionada pela
cirurgia, o adolescente se vê vitimado a perdas de aulas e o prejuízo escolar é praticamente
inevitável. Spijkerboer et al 32
e Landolt et al 33
acrescentam ainda que alguns indivíduos
cardiopatas apresentam uma deficiência no desenvolvimento neurocognitivo tornando o
rendimento escolar ainda mais complicado.
Estudo realizado em São Paulo com 100 pacientes portadores de FR com idades de até
18 anos, revelou que 84 pacientes perderam, desde o início da doença, 1.812 dias de aulas na
escola (média de 21,6 dias/paciente). As faltas dos alunos decorreram principalmente da
impossibilidade de ir à escola por problemas de saúde, incluindo as consultas médicas e a
realização de exames 40
. Logo, o prejuízo no âmbito escolar leva a perdas individuas e sociais,
afetando a sua QV atual e futura.
Alguns autores32,33,41
discordam dos achados quando revelam em seus estudos que os
adolescentes referem a dimensão psicossocial como a mais comprometida na percepção de
QV. Porém, não se considera um resultado tão divergente, visto que essa dimensão foi a
105
segunda mais comprometida na presente pesquisa e que abrange a dimensão escolar em sua
composição.
Corroborando com o estudo de Apers et al12
e Landol et al33
, as meninas desta pesquisa
apresentaram um escore menor em todas as dimensões da QV em relação aos meninos, sendo
a dimensão física a única estatisticamente significante. A justificativa é similar àquela referida
no SOC, em que as adolescentes tendem a apresentar níveis de estresse mais elevado e menos
mecanismos de enfrentamento, podendo refletir em respostas mais negativas.
A idade mais avançada entre os adolescentes foi associada a um maior escore de QV,
sendo estatisticamente significante na dimensão física. Spijkerboer et al32
encontraram
resultado semelhante quando estudaram a QV entre adolescentes e crianças após tratamento
invasivo de doença cardíaca congênita. Uma possível justificativa para este resultado
encontra-se no fato dos mais velhos apresentarem mais capacidade para lidar ou ajustar as
suas limitações e estarem mais adaptados à condição da doença32
.
No que diz respeito ao tipo de cardiopatia e QV, os presentes achados corroboram com
vários estudos que revelaram não haver relação desta variável com a QV 11, 32,24, 33,42
.
A QV foi significativamente afetada por sintomas como dispneia, taquicardia e
taquipnéia (p<0,05). A afecção cardiovascular observada com a presença de sintomas podem
proporcionar sequelas limitantes tanto físicas quanto psicológicas e sociais. Estas sequelas
podem restringir a realização de afazeres diários, bem como o convívio social destes
adolescentes acometidos pela doença, por não poderem participar de algumas das atividades
físicas realizadas por seus colegas de mesma faixa etária. Diante desta situação de limitação, o
ser vitimado pela doença, além do aspecto físico, vivencia um conflito psicológico, emocional
que atinge também a socialização13,43
.
106
Correlação entre SOC e QV
Semelhante a estudos recentes 11,12,13,23,24
, foi observada uma correlação positiva
(p<0,001) entre SOC e todas as dimensões de QV, o que torna esses adolescentes mais
resistentes e capazes de buscar uma solução para lidar com a sua condição. Assim, o SOC
representa um fator de proteção frente às adversidades diárias de um estresse crônico,
promovendo desta forma uma melhor QV.
Eriksson e Lindstrom6 através de uma revisão sistemática realizada com 32
publicações, cujo objetivo foi o de avaliar a relação entre SOC e QV de amostras diversas,
tais como pacientes com HIV, câncer, doenças cardíacas e respiratórias, entre outras,
verificou que quanto mais forte o SOC, melhor a QV. A magnitude da correlação foi grande
(r> 0,50) em todos os estudos com instrumentos específicos para a medição, e um pouco mais
fraca em estudos utilizando instrumentos genéricos. Assim, o presente estudo, apesar de ter
utilizado um instrumento genérico, apresentou uma boa correlação que variou entre 0,48 e
0,60. Os resultados dos estudos longitudinais também confirmaram as descobertas dos
transversais admitindo o poder da teoria Salutogênica como um fator de promoção da QV6 .
Apesar da associação significante entre o SOC e todas as dimensões avaliadas (p
<0,001), observou-se que a dimensão física apresentou uma baixa correlação, o que corrobora
com o estudo de Muller et al38
. Esse achado pode ser confirmado com o fato dos sintomas
como dispneia e taquicardia, enquadrados na dimensão física, estarem associados a um menor
escore de QV e SOC. Assim, as restrições de ordem funcional decorrentes da cardiopatia
comprometeram tanto o bem estar físico do adolescente, como sua capacidade de adaptação à
esta situação.
Ratificando os resultados provenientes da Correlação de Spearman, e ajustando os
potenciais fatores de confusão, o teste de regressão linear múltipla revelou que o SOC não
influenciou a dimensão física quanto a avaliação da QV. Resultados similares foram
107
encontrados por Erikssom e Linsdstrom5 e Muller et al
38 sobre a associação entre SOC e
saúde, revelando uma influência mais forte do SOC na saúde mental do que na saúde física,
concluindo que o SOC parece ser uma ferramenta para promoção da saúde e de
desenvolvimento de um estado subjetivo de saúde5. Esses resultados apontam para a
necessidade de desenvolvimento de intervenções que proporcionem um impacto positivo
também as limitações funcionais destes adolescentes.
Quando avaliado pelo modelo de regressão linear observou-se que o SOC apresentou
um maior impacto nas dimensões escolar e emocional. Na adolescência a escola desempenha
um papel central na vida cotidiana e considerando que a dimensão escolar foi a que obteve
menor escore quanto a percepção da QV na análise bivariada, o SOC pode ser considerado
um recurso potencial a ser trabalhado nesta população com o objetivo de capacitar o indivíduo
à lidar com as possíveis barreiras para um processo bem sucedido de adaptação.
Como já referido anteriormente, as limitações físicas decorrentes das cardiopatias
também atuam comprometendo a dimensão escolar quando considera o absenteísmo e má
rendimento escolar por motivo de doença. As restrições funcionais que estes pacientes
experimentam também os tornam incapazes de cumprir determinadas atividades que requerem
algum esforço físico, gerando uma falta de aceitação e até exclusão social, influenciando
assim a dimensão emocional quando refletida em sentimentos como solidão, depressão,
rejeição e isolamento social. Diante do exposto, pode-se afirmar que dimensão social também
é comprometida43
.
Portanto, embora seja possível a identificação das dimensões mais afetadas na
percepção da QV, como também em qual âmbito o SOC exerce maior influência, não se pode
avaliar o adolescente cardiopata de forma segregada. A QV abrange um conceito
multidimensional interligado entre si, logo requer uma avaliação global e integral.
108
Os achados do presente estudo corroboram com a Teoria Salutogênica, no momento
em que esta considera que quanto maior a capacidade de lidar com as dificuldades da vida,
mais favoráveis serão as consequências em termos de saúde, mais forte o senso de coerência e
melhor a qualidade de vida do indivíduo5. Alguns estudos relatam que um alto SOC é um dos
fatores responsáveis por uma boa QV em pacientes cardiopatas, mesmo diante de todas as
limitações por eles apresentadas23, 38
. Assim, a melhoria do SOC por meio de intervenções e
medidas de prevenção tem o potencial de melhorar a QV e a percepção da saúde pelos
adolescentes com doenças crônicas, como as cardiopatias.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que este estudo corrobora com descobertas anteriores de que o SOC
dos adolescentes cardiopatas foi encontrando como um preditor de qualidade de vida, sendo
associado de forma positiva a todas as dimensões da QV desta população, impactando
principalmente a dimensão escolar e emocional, sendo considerado também um fator de
proteção na vida desses adolescentes.
A utilização de instrumentos que avaliem o SOC e a QV de um grupo vulnerável é
uma forma de intervenção multiprofissional na identificação de problemas potenciais, cujos
resultados podem atuar como um canal de informações que subsidiariam os programas de
prevenção e intervenção que visam melhorar a QV da população, como também a adoção de
novas práticas no processo de promoção da saúde.
Limitações
Destaca-se que o delineamento transversal do estudo não permite confirmar as
relações do tipo causa e efeito entre a medida de Senso de Coerência e as variáveis aqui
abordadas, sendo necessária a realização de estudos longitudinais para confirmar a existência
dessas relações. As sequências temporais identificadas nos estudos longitudinais podem guiar
medidas de prevenção e intervenção para a melhoria da promoção à saúde.
109
Ressalta-se ainda o pequeno tamanho da amostra, justificado pela baixa demanda desta
população no Centro de Referência pesquisado, que pode ter influenciado na baixa associação
do SOC com as demais variáveis da pesquisa. Entretanto, os achados do presente estudo são
consistentes com os da literatura internacional, o que reforça a necessidade de estudos
nacionais que avaliem o SOC e a QV de adolescentes cardiopatas.
Colaboradores
VM Coutinho trabalhou na concepção do estudo na pesquisa, na coleta, metodologia, na
análise, na interpretação dos dados e na redação. MV Heimer trabalhou na concepção e na
orientação do estudo, na metodologia, na redação e na revisão final.
110
Tabela 1- Senso de Coerência e domínios da Qualidade de Vida do adolescente
Estatísticas
Instrumentos Média ± DP Mediana Mínimo Máximo Alfa de Cronbach
Senso de coerência 50,09 ± 6,24 50,00 35 62 0,76
Dimensões da QV 0,91 Físico 73,13 ± 18,33 75,00 34,38 100,00 Emocional 74,88 ± 17,64 75,00 35,00 100,00
Social 78,57 ± 19,31 80,00 15,00 100,00 Escolar 64,09 ± 16,24 62,50 25,00 100,00 Psicossocial 72,51 ± 14,69 75,00 36,67 98,33
Escore total 72,73 ± 14,96 73,91 36,96 98,91
Tabela 2- Senso de Coerência do adolescente segundo variáveis sociodemográficas e dados clínicos
Variável Média ± DP Valor de p
Faixa etária p(1) = 0,150 9 a 11 51,31 ± 6,60
12 a 14 49,20 ± 6,04 15 a 18 50,60 ± 5,99
Sexo p(2) = 0,338 Masculino 50,65 ± 5,50 Feminino 49,51 ± 6,90
Escolaridade p(2) = 0,320 Fundamental incompleto 49,88 ± 6,30
Fundamental completo/ Médio 51,17 ± 6,18
ABEB p(3) = 0,062 B 53,75 ± 4,18 C 49,90 ± 6,47 D + E 49,47 ± 5,75
Renda (salários
mínimos)
p(3) = 0,493
Menos de 1 50,94 ± 6,37 Um a dois 50,21 ± 6,14 Três ou mais 48,44 ± 6,88
Doenças
Valvulopatias p(2) = 0,463 Sim 50,25 ± 6,25 Não 49,64 ± 6,26
Cardiopatias
congênitas p(2) = 0,156
Sim 49,35 ± 6,23 Não 50,54 ± 6,23
Sintomas
Dispneia p(2) = 0,010* Sim 48,98 ± 6,17 Não 51,25 ± 6,13
Dor precordial p(2) = 0,286 Sim 49,30 ± 5,95
Não 50,34 ± 6,33
Taquicardia p(2) = 0,019* Sim 49,01 ± 5,98 Não 51,16 ± 6,35
Taquipneia p(2) = 0,573 Sim 48,80 ± 6,60 Não 50,21 ± 6,21
(*): Diferença significativa ao nível de 5,0%.
(1): Através do F(ANOVA).
(2): Através do teste Mann-Whitney..
(3): Através do teste Kruskal Wallis.
111
Tabela 3- Relação entre as dimensões de Qualidade de Vida e dados sociodemográficos do adolescente
Dimensões da qualidade de vida
Variável Físico Emocional Social Escolar Psicossocial Escore Total Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP
Faixa etária 9 a 11 69,83 ± 18,81 74,18 ± 19,16 77,45 ± 19,58 63,27 ± 15,90 71,63 ± 16,09 71,01 ± 16,30 12 a 14 72,17 ± 18,65 75,53 ± 17,39 76,88 ± 20,22 63,00 ± 16,24 71,80 ± 14,76 71,93 ± 15,20 15 a 18 81,25 ± 14,36 74,17 ± 16,25 85,17 ± 14,88 68,50 ± 16,56 75,94 ± 11,73 77,79 ± 10,74
Valor de p
p(1)
= 0,023* p(1)
= 0,875 p(1)
= 0,166 p(2)
= 0,258 p(1)
= 0,434 p(1)
= 0,165
Sexo Masculino 76,43 ± 18,04 76,39 ± 16,84 80,54 ± 18,79 63,49 ± 16,15 73,47 ± 14,48 74,50 ± 14,83 Feminino 69,75 ± 18,11 73,33 ± 18,41 76,54 ± 19,74 64,69 ± 16,40 71,52 ± 14,92 70,91 ± 14,96
Valor de p
p(3)
= 0,018* p(3)
= 0,251 p(3)
= 0,179 p(4)
= 0,638 p(1)
= 0,412 p(2)
= 0,137
Escolaridade Fundamental incompleto
71,99 ± 18,55 74,71 ± 18,03 76,67 ± 19,45 62,39 ± 15,92 71,26 ± 15,02 71,51 ± 15,27
Fundamental completo/ Médio
79,69 ± 16,64 74,79 ± 15,57 88,96 ± 15,25 73,33 ± 15,51 79,03 ± 11,01 79,26 ± 11,84
Valor de p
p(3)
= 0,050 p(3)
= 0,922 p(3)
= 0,004* p(3)
= 0,007* p(1)
= 0,022* p(2)
= 0,024*
ABEP
B 83,07 ± 18,24 (A) 77,92 ± 17,51 88,33 ± 15,72 (A) 76,67 ± 19,46 (A) 80,97 ± 13,42 81,70 ± 14,59 C 73,52 ± 18,24 (A) 75,86 ± 18,28 80,09 ± 18,81 (A) 64,87 ± 15,40 (A) 73,61 ± 14,36 73,58 ± 14,69 D + E 68,58 ± 17,65 (B) 70,69 ± 15,22 70,42 ± 19,69 (B) 57,36 ± 15,05 (B) 66,16 ± 14,15 67,00 ± 14,22
Valor de p
p(3)
= 0,041* p(3)
= 0,190 p(3)
= 0,007* p(3)
= 0,002* p(2)
= 0,003* p(2)
= 0,005*
Renda (Sm) Menos de 1 74,22 ± 22,46 75,63 ± 19,48 71,25 ± 25,98 63,13 ± 18,70 70,00 ± 20,09 71,47 ± 20,62 Um a dois 73,27 ± 18,30 75,00 ± 17,42 78,85 ± 18,52 64,15 ± 16,13 72,67 ± 14,24 72,88 ± 14,58 Três ou mais 71,18 ± 15,10 73,33 ± 18,55 83,06 ± 17,50 64,44 ± 15,61 73,61 ± 12,90 72,77 ± 12,46
Valor de p p(3)
= 0,779 p(3)
= 0,953 p(3)
= 0,385 p(3)
= 0,979 p(2)
= 0,903 p(2)
= 0,989
(*): Diferença significativa ao nível de 5,0%.
(1): Através do teste Kruskal Wallis.
(2): Através do teste F(ANOVA).
(3): Através do teste Mann-Whitney.
(4): Através do teste t-Student com variâncias iguais.
112
Tabela 4- Relação entre as dimensões de Qualidade de Vida e dados clínicos do adolescente
Dimensões da qualidade de vida
Variável Físico Emocional Social Escolar Psicosocial Escore Total Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP
Doenças
Valvulopatia Sim 74,48 ± 17,57 74,83 ± 17,26 78,25 ± 19,77 64,04 ± 16,33 72,38 ± 14,50 73,11 ± 14,55 Não 69,46 ± 20,00 75,00 ± 18,86 79,43 ± 18,18 64,20 ± 16,17 72,88 ± 15,36 71,69 ± 16,14
Valor de p
p(1)
= 0,167 p(1)
= 0,874 P(1)
= 0,817 p(1)
= 0,985 p(1)
= 0,869 p(1)
= 0,583
Cardiopatias
congênitas
Sim 69,59 ± 19,68 74,21 ± 18,01 79,92 ± 18,68 62,86 ± 16,13 72,33 ± 14,97 71,38 ± 15,88 Não 75,34 ± 17,17 75,30 ± 17,49 77,72 ± 19,74 64,85 ± 16,33 72,62 ± 14,58 73,57 ± 14,37
Valor de p
p(1)
= 0,067 p(1)
= 0,668 P(1)
= 0,479 p(2)
= 0,446 p(1)
= 0,892 p(1)
= 0,363
Sintomas
Dispneia
Sim 66,29 ± 17,09 71,49 ± 18,35 74,88 ± 19,34 61,37 ± 15,74 69,25 ± 14,49 68,22 ± 14,52 Não 80,31 ± 16,86 78,44 ± 16,24 82,44 ± 18,62 66,94 ± 16,35 75,94 ± 14,18 77,46 ± 13,99
Valor de p
p(1)
< 0,001* p(1)
= 0,018* P(1)
= 0,010* p(1)
= 0,054 p(1)
= 0,004* p(1)
< 0,001*
Dor precordial Sim 68,20 ± 16,03) 71,75 ± 15,26 80,50 ± 16,04 63,13 ± 14,31 71,79 ± 12,30 70,54 ± 12,07 Não 74,72 ± 18,80 75,89 ± 18,29 77,94 ± 20,27 64,40 ± 16,85 72,74 ± 15,42 73,43 ± 15,76
Valor de p
p(1)
= 0,040* p(1)
= 0,155 P(1)
= 0,589 p(1)
= 0,694 p(1)
= 0,543 p(1)
= 0,212
Taquicardia
Sim 65,13 ± 15,65 72,07 ± 16,70 72,99 ± 19,15 58,90 ± 14,70 67,99 ± 13,39 66,99 ± 13,03 Não 81,14 ± 17,36 77,68 ± 18,21 84,15 ± 17,91 69,27 ± 16,12 77,03 ± 14,61 78,46 ± 14,62
Valor de p
p(1)
< 0,001* p(1)
= 0,035* P(1)
< 0,001* p(2)
< 0,001* p(1)
< 0,001* p(1)
< 0,001*
Taquipneia Sim 68,75 ± 12,61 74,67 ± 16,20 68,33 ± 18,77 51,00 ± 8,49 64,67 ± 10,22 66,09 ± 9,36 Não 73,57 ± 18,78 74,90 ± 17,83 79,60 ± 19,12 65,40 ± 16,26 73,30 ± 14,86 73,40 ± 15,27
Valor de p
p(1)
= 0,196 p(1)
= 0,881 P(1)
= 0,023* p(1)
< 0,001* p(1)
= 0,021* p(1)
= 0,040*
(*): Diferença significativa ao nível de 5,0%;
(1) Através do teste Mann-Whitney
(2): Através do teste t-Student com variâncias iguais
113
Tabela 5 – Correlação e poder de impacto entre o Senso de Coerência e os domínios da Qualidade de Vida
Dimensão Correlação de Spearman Regressão Linear Múltipla
s (p)
Físico 0,484 (p < 0,001*) - 0,052 (p = 0,111) Emocional 0,515 (p < 0,001*) 0,117 (p <0,001*) Social 0,482 (p < 0,001*) 0,066 (p =0,025*) Escolar 0,505 (p < 0,001*) 0,131(p< 0,001*) Psicosocial 0,603 (p < 0,001*) -----
Escore total 0,550 (p < 0,001*)
(*): Estatisticamente diferente de zero e significativo a 5,0%.
114
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heart disease. Health Sci J 2010; 4(2):94–100.
122
Considerações Finais
123
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho aponta para a importância da teoria Salutogênica, como um novo
enfoque, tanto nas pesquisas como nas práticas de saúde. Os resultados encontrados
confirmam sua relação positiva com a qualidade de vida, sendo considerado, portanto, capaz
de subsidiar as ações de promoção a saúde direcionada ao adolescente.
É o primeiro estudo nacional a trabalhar com um grupo etário tão específico e em uma
situação crônica de saúde, abordando uma teoria que lança mão de um constructo que trabalha
em conjunto com a promoção da saúde, visto que os profissionais de saúde podem atuar junto
aos adolescentes cardiopatas no desenvolvimento de um forte SOC, no momento que os
educam sobre a cardiopatia, os ajudando a equilibrar as tensões provenientes da doença e os
incentivando a participar da tomada de decisões.
A avaliação da QV de adolescentes cardiopatas fornece uma descrição útil relativa ao
estado de saúde dessa população, o que facilita a identificação daqueles vulneráveis; e o SOC
favorece a compreensão das consequências e experiências associadas à cardiopatia, como
também o manejo desta condição. Em conjunto, o SOC e a QV facilitarão o planejamento das
intervenções, como também a avaliação da eficácia das mesmas.
A metodologia aqui empregada impede a relação de causalidade entre as variáveis
estudadas, mas proporciona alcançar associações que serão de grande utilidade no
planejamento de ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde do adolescente.
Algumas associações obtidas reforçam os resultados encontrados na literatura
internacional. Verificou-se que, embora as limitações de ordem funcional comprometam
significativamente a qualidade de vida e o senso de coerência dos adolescentes cardiopatas,
fatores de ordem psicológica, escolar e social devem ser considerados na avaliação desses
adolescentes. A partir da correlação positiva do SOC e QV em todas suas dimensões e
considerando que, a partir de uma média, ambos foram avaliados como altos, conclui-se que o
SOC pode ser um fator de proteção para as pessoas que enfrentam uma situação de estresse.
Dentro deste contexto, por meio de ações que englobem os aspectos físicos, sociais e
psicológicos, que são refletidos nos sintomas que a cardiopatia promove, no rendimento
escolar e até na exclusão social que esse adolescente está exposto em decorrência de sua
condição clínica, os profissionais de saúde, família e sociedade podem estar atuando na
melhoria da QV destes. Assim, trabalhar o SOC desta população a fim de que os mesmos
compreendam, gerenciem e superem os estressores intrínsecos à condição clínica,
124
proporcionará o desenvolvimento de sua capacidade enfrentamento das adversidades e
moldará experiências satisfatórias de vida.
125
Referências
Bibliográficas
126
REFERÊNCIAS
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with health: a systematic review. J Epidemiol Community Health,Sweden, v.60, n.5, p.376-
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ERIKSSON, M.; LINDSTRÖM, B. Antonovsky's sense of coherence scale and its relation
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Helsinki, Helsinki, Finland. 2011
129
APÊNDICES
130
APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO SÓCIO-DEMOGRÁFICO E CLÍNICO
Data: ___/ ___/ ____ Número do formulário___
DADOS DO ADOLESCENTE
Nome: _______________________________________ Idade: _________
Endereço: ___________________________________________________
Telefones: __________________
Sexo ( ) Feminino ( ) Masculino
Está estudando atualmente? SIM ( ) NÃO ( )
Grau de Instrução
( ) Analfabeto
( ) Fundamental incompleto
( ) Fundamental completo
( ) Médio incompleto
( ) Médio incompleto
( ) 3º Grau incompleto
Situação marital: ( )Solteiro ( )Casado
Ocupação: Você trabalha? SIM ( ) NÃO ( ) Em que?_______________________
Tipo de cardiopatia: ____________________________________________________
Tempo de tratamento:__________________________________________________
Sinais e Sintomas:____________________________________________________
131
APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Responsável
Pesquisadores responsáveis: Prof. Mônica Heimer CRO-PE 4765-PE e Mestranda: Virgínia Menezes Coutinho
COREN-PE 157629
Endereço: Rua Amapá N 77 Apt.206, Recife- PE, CEP 52050-390; Telefone (81) 99588258; Email:
Eu____________________________________________________________________, RG
___________________, responsável legal de ________________________________ dou o
consentimento para o menor participar da pesquisa intitulada: “Senso de Coerência e
Qualidade de Vida em adolescentes com doenças cardíacas”, que tem como objetivo avaliar a
relação entre Senso de Coerência e Qualidade de Vida em adolescentes de 10 a 18 anos de
idade, com doenças cardíacas atendidos no ambulatório do IMIP. Trata-se de uma pesquisa
do curso de Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (UPE/FOP).
Declaro que tenho pleno conhecimento dos direitos e das condições que me foram garantidas,
assim como dos riscos e benefícios relacionados abaixo:
1. O pesquisado ou responsável tem garantido o poder de perguntar a qualquer momento
da pesquisa sobre qualquer dúvida e tem garantia de receber resposta ou
esclarecimento a respeito dos procedimentos, riscos, benefícios e outras situações
relacionadas a pesquisa.
2. Existe total liberdade para retirar o consetimento e não permitir a participação no
estudo em qualquer momento, sem gerar qualquer problema.
3. O pesquisado ou responsável não será identificado em nenhum momento da pesquisa;
todas as informações pessoais serão mantidas em sigilo.
4. Todas as despesas para o desenvolvimento da pesquisa são de responsabilidade
apenas da pesquisadora.
RISCOS: Os riscos estão ligados a algum tipo de constrangimento que o pesquisado possa ter
para responder ao questionário. BENEFÍCIOS: Após conclusão da pesquisa, os pesquisados
receberão material impresso informativo. Tendo ouvido todos os esclarecimentos acima,
declaro que concordo inteiramente com todas as condições e autorizo a análise dos dados
coletados e sua publicação, em qualquer meio de divulgação.
Recife, _____ de __________________ de 2012/13.
_______________________________ __________________________
Nome da Pesquisadora Assinatura
________________________________ __________________________
Nome do Responsável Assinatura ou Impressão Digital
132
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Adolescente
Pesquisadores responsáveis: Prof. Mônica Heimer CRO-PE 4765-PE e Mestranda: Virgínia Menezes Coutinho
COREN-PE 157629
Endereço: Rua Amapá N 77 Apt.206, Recife- PE, CEP 52050-390; Telefone (81) 99588258; Email: [email protected].
Eu_________________________________________________________________________
______, RG ___________________, aceito participar da pesquisa intitulada: “Senso de
Coerência e Qualidade de Vida em adolescentes com doenças cardíacas”, que tem como
objetivo avaliar a relação entre Senso de Coerência e Qualidade de Vida em adolescentes de
10 a 18anos de idade, com doenças cardíacas atendidos no ambulatório do IMIP. Trata-se de
uma pesquisa do curso de Mestrado em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de
Pernambuco (UPE/FOP). Declaro que tenho pleno conhecimento dos direitos e das condições
que me foram garantidas, assim como dos riscos e benefícios relacionados abaixo:
5. O pesquisado tem garantido o poder de perguntar a qualquer momento da pesquisa
sobre qualquer dúvida e tem garantia de receber resposta ou esclarecimento a respeito
dos procedimentos, riscos, benefícios e outras situações relacionadas a pesquisa.
6. Existe total liberdade para retirar o consetimento e não permitir a participação no
estudo em qualquer momento, sem gerar qualquer problema.
7. O pesquisado não será identificado em nenhum momento da pesquisa; todas as
informações pessoais serão mantidas em sigilo.
8. Todas as despesas para o desenvolvimento da pesquisa são de responsabilidade
apenas da pesquisadora.
RISCOS: Os riscos estão ligados a algum tipo de constrangimento que o pesquisado possa ter
para responder ao questionário. BENEFÍCIOS: Após conclusão da pesquisa, os pesquisados
receberão material impresso informativo. Tendo ouvido todos os esclarecimentos acima,
declaro que concordo inteiramente com todas as condições e autorizo a análise dos dados
coletados e sua publicação, em qualquer meio de divulgação.
Recife, _____ de __________________ de 2012/13.
_______________________________ ___________________________
Nome da Pesquisadora Assinatura
________________________________ ___________________________
Nome do Adolescente Assinatura ou Impressão Digital
133
ANEXOS
134
ANEXO A - ESCALA DE SENSO DE COERÊNCIA (SOC-13) - QUESTIONÁRIO
ADAPTADO
Nome:
Idade: Sexo: □ Feminino □ Masculino
As perguntas a seguir são muito importantes, pois falam de você, suas idéias e sentimentos, o
que é muito importante neste estudo. Aqui estão 13 perguntas sobre vários aspectos da sua
vida. Cada pergunta tem cinco respostas possíveis. Marque com um X a opção que melhor
expresse a sua maneira de pensar e sentir em relação ao que está sendo falado. Dê apenas uma
única resposta em cada pergunta, por favor.
Um enorme
sofrimento e
aborrecimento
Um
sofrimento e
aborrecimento
Nem
aborrecimento
nem satisfação
Um
prazer e
satisfação
Um
enorme
prazer e
satisfação
01 Aquilo que
você faz
diariamente
é:
Sem nenhum
objetivo
Com poucos
objetivos
Com alguns
objetivos
Com
muitos
objetivos
Repleta
de
objetivos
02 Até hoje a
sua vida
tem sido:
Nunca Poucas
vezes
Algumas
vezes
Muitas
vezes
Sempre
03 Você tem interesse pelo que passa
ao seu redor?
04 Você acha que você é tratado (a)
com injustiça?
05 Você tem idéias e sentimentos
confusos?
06 Você acha que as coisas que você
faz na sua vida têm pouco sentido?
07 Já lhe aconteceu ter ficado
desapontado(a) com pessoas em
quem você confiava?
08 Você tem sentimentos que gostaria
de não ter?
09 Você tem dúvida se pode controlar
seus sentimentos?
10 Já lhe aconteceu de ficar
surpreendido(a) com o
comportamento de pessoas que você
achava que conhecia bem?
135
11 Em algumas situações, as pessoas
sentem-se fracassadas. Você já se
sentiu fracassado(a)?
12 Você sente que está numa situação
pouco comum, e sem saber o que
fazer?
Totalmente
errada
Errada Nem
correta e
nem
errada
Correta Totalmente
correta
13 Às vezes acontecem coisas na
vida da gente que depois
achamos que não demos a
devida importância. Quando
alguma coisa acontece na sua
vida, você acaba achando que
a importância:
136
ANEXO B - INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
(PedsQL)
PPeeddssQQLL™™
QQuueessttiioonnáárriioo ppeeddiiááttrriiccoo
ssoobbrree qquuaalliiddaaddee ddee vviiddaa
Versão 4.0 – Português (Brasil)
RELATO DO/A ADOLESCENTE (8 a 12/ 13 a 18 anos)
INSTRUÇÕES
A próxima página contém uma lista de coisas com as quais você pode ter
dificuldade. Por favor, conte-nos se você tem tido dificuldade com cada uma dessas coisas durante o ÚLTIMO MÊS, fazendo um “X” no número:
0 se você nunca tem dificuldade com isso 1 se você quase nunca tem dificuldade com isso 2 se você algumas vezes tem dificuldade com isso 3 se você muitas vezes tem dificuldade com isso 4 se você quase sempre tem dificuldade com isso
Não existem respostas certas ou erradas. Caso você não entenda alguma pergunta, por favor, peça ajuda.
137
Durante o ÚLTIMO MÊS, você tem tido dificuldade com cada uma das coisas
abaixo?
Sobre minha saúde e minhas atividades (dificuldade para…)
Nunca Quase nunca
Algumas vezes
Muitas vezes
Quase sempre
1. Para mim é difícil andar mais de um quarteirão 0 1 2 3 4
2. Para mim é difícil correr 0 1 2 3 4
3. Para mim é difícil praticar esportes ou fazer exercícios físicos
0 1 2 3 4
4. Para mim é difícil levantar coisas pesadas 0 1 2 3 4
5. Para mim é difícil tomar banho de banheira ou de chuveiro sozinho/a
0 1 2 3 4
6. Para mim é difícil ajudar nas tarefas domésticas
0 1 2 3 4
7. Eu sinto dor 0 1 2 3 4
8. Eu tenho pouca energia ou disposição 0 1 2 3 4
Sobre meus sentimentos (dificuldade para…) Nunca Quase nunca
Algumas vezes
Muitas vezes
Quase sempre
1. Eu sinto medo 0 1 2 3 4
2. Eu me sinto triste 0 1 2 3 4
3. Eu sinto raiva 0 1 2 3 4
4. Eu durmo mal 0 1 2 3 4
5. Eu me preocupo com o que vai acontecer comigo
0 1 2 3 4
Como eu convivo com outras pessoas (dificuldades para…)
Nunca Quase nunca
Algumas vezes
Muitas vezes
Quase sempre
1. Eu tenho dificuldade para conviver com outros / outras adolescentes
0 1 2 3 4
2. Os outros / as outras adolescentes não querem ser meus amigos / minhas amigas
0 1 2 3 4
3. Os outros / as outras adolescentes implicam comigo
0 1 2 3 4
4. Eu não consigo fazer coisas que outros / outras adolescentes da minha idade fazem
0 1 2 3 4
5. Para mim é difícil acompanhar os / as adolescentes da minha idade
0 1 2 3 4
Sobre a escola (dificuldades para…) Nunca Quase nunca
Algumas vezes
Muitas vezes
Quase sempre
1. É difícil prestar atenção na aula 0 1 2 3 4
2. Eu esqueço as coisas 0 1 2 3 4
3. Eu tenho dificuldade para acompanhar a minha turma nas tarefas escolares
0 1 2 3 4
4. Eu falto à aula por não estar me sentindo bem 0 1 2 3 4
5. Eu falto à aula para ir ao médico ou ao hospital 0 1 2 3 4
138
139
140
141
ANEXO C – CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL (ABEP)
142
ANEXO D - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO
143
ANEXO E - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DO INSTITUTO DE
MEDICINA INTEGRAL PROF. FERNANDO FIGUEIRA
144
ANEXO F - CARTA DE ACEITE DO ARTIGO PARA PUBLICAÇÃO
Prezado(a) colega Virginia Menezes Coutinho,
Seu artigo, Senso de Coerência e Adolescência: Uma Revisão Integrativa de Literatura,
acaba de ser aprovado pela Editoria da Revista Ciência & Saúde Coletiva.
Esta mensagem tem a finalidade de lhe pedir consentimento para divulgá-lo na
páginawww.cienciaesaudecoletiva.com.br. Sendo positiva sua aquiescência, por favor
preencha o documento abaixo e o devolva imediatamente por correio e assinado com caneta
esferográfica azul. Seu artigo será divulgado no prazo de 48 horas após a Editoria da Revista
receber sua permissão. Informo-lhe que, uma vez publicado, seu artigo poderá ser,
imediatamente, incorporado a seu currículo. Na página onde for divulgado o artigo haverá
orientação de como citá-lo. Quando seu artigo for publicado na Revista impressa,
imediatamente sairá da página e poderá ser acessado pela base scielo www.scielo.org.
Declaração de consentimento de publicação on-line
Eu, Virginia Menezes coutinho, autor do artigo cujo título é Senso de Coerência e
Adolescência: Uma Revisão Integrativa de Literatura, recém-aprovado pela
Revista Ciência & Saúde Coletiva, dou meu consentimento para sua divulgação na página
web da referida revista. Igualmente consinto que, caso seja de interesse público, o
conteúdo deste artigo seja divulgado para a mídia, contribuindo para a construção de uma
ciência que sirva à sociedade.
Data e Local:.....................................................................
Nome ou assinatura eletrônica..........................................
145
Agradeço-lhe se puder responder com a maior presteza possível a esta mensagem.
Maria Cecília de Souza Minayo
Editora científica da revista Ciência & Saúde Coletiva
146
ANEXO G - NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DA REVISTA CIÊNCIAS E SAÚDE
COLETIVA
147
148
ANEXO H - NORMAS DA REVISTA CARDERNOS DE SAÚDE PÚBLICA
Cadernos de Saúde Pública/Reports in Public Health (CSP) publica artigos originais com
elevado mérito científico que contribuam ao estudo da saúde pública em geral e disciplinas
afins.
Recomendamos aos autores a leitura atenta das instruções abaixo antes de submeterem seus
artigos a CSP.
1. CSP ACEITA TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES:
1.1 - Revisão: revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à Saúde Coletiva (máximo
de 8.000 palavras e 5 ilustrações);
1.2 - Artigos: resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual
(máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações);
1.3 - Comunicação Breve: relatando resultados preliminares de pesquisa, ou ainda resultados
de estudos originais que possam ser apresentados de forma sucinta (máximo de 1.700 palavras
e 3 ilustrações);
1.4 - Debate: artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de
diferentes instituições, convidados pelas Editoras, seguidas de resposta do autor do artigo
principal (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações);
1.5 - Fórum: seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes
autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). Os
interessados em submeter trabalhos para essa seção devem consultar o Conselho Editorial;
1.6 - Perspectivas: análises de temas conjunturais, de interesse imediato, de importância para
a Saúde Coletiva, em geral a convite das Editoras (máximo de 1.200 palavras);
1.7 - Questões Metodológicas: artigo completo, cujo foco é a discussão, comparação e
avaliação de aspectos metodológicos importantes para o campo, seja na área de desenho de
estudos, análise de dados ou métodos qualitativos (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações);
1.8 - Resenhas: resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos
últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras);
1.9 - Cartas: crítica a artigo publicado em fascículo anterior de CSP (máximo de 1.200
palavras e 1 ilustração);
2. NORMAS PARA ENVIO DE ARTIGOS
2.1 - CSP publica somente artigos inéditos e originais, e que não estejam em avaliação em
nenhum outro periódico simultaneamente. Os autores devem declarar essas condições no
processo de submissão. Caso seja identificada a publicação ou submissão simultânea em outro
149
periódico o artigo será desconsiderado. A submissão simultânea de um artigo científico a mais
de um periódico constitui grave falta de ética do autor.
2.2 - Serão aceitas contribuições em Português, Inglês ou Espanhol.
2.3 - Notas de rodapé e anexos não serão aceitos.
2.4 - A contagem de palavras inclui somente o corpo do texto e as referências bibliográficas,
conforme item 12.13.
3. PUBLICAÇÃO DE ENSAIOS CLÍNICOS
3.1 - Artigos que apresentem resultados parciais ou integrais de ensaios clínicos devem
obrigatoriamente ser acompanhados do número e entidade de registro do ensaio clínico.
3.2 - Essa exigência está de acordo com a recomendação do Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME)/Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o Registro de Ensaios Clínicos a
serem publicados a partir de orientações da OMS, do International Committee of Medical
Journal Editors (ICMJE) e do Workshop ICTPR.
3.3- As entidades que registram ensaios clínicos segundo os critérios do ICMJE são:
- Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR)
- ClinicalTrials.gov
- International Standard Randomised Controlled Trial Number (ISRCTN)
- Nederlands Trial Register (NTR)
- UMIN Clinical Trials Registry (UMIN-CTR)
- WHO International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP)
- FONTES DE FINANCIAMENTO
4.1- Os autores devem declarar todas as fontes de financiamento ou suporte, institucional ou
privado, para a realização do estudo.
4.2 - Fornecedores de materiais ou equipamentos, gratuitos ou com descontos, também devem
ser descritos como fontes de financiamento, incluindo a origem (cidade, estado e país).
4.3 - No caso de estudos realizados sem recursos financeiros institucionais e/ou privados, os
autores devem declarar que a pesquisa não recebeu financiamento para a sua realização.
- CONFLITO DE INTERESSES
5.1 - Os autores devem informar qualquer potencial conflito de interesse, incluindo interesses
políticos e/ou financeiros associados a patentes ou propriedade, provisão de materiais e/ou
insumos e equipamentos utilizados no estudo pelos fabricantes.
150
- COLABORADORES
6.1 - Devem ser especificadas quais foram as contribuições individuais de cada autor na
elaboração do artigo.
6.2 - Lembramos que os critérios de autoria devem basear-se nas deliberações do ICMJE, que
determina o seguinte: o reconhecimento da autoria deve estar baseado em contribuição
substancial relacionada aos seguintes aspectos: 1. Concepção e projeto ou análise e
interpretação dos dados; 2. Redação do artigo ou revisão crítica relevante do conteúdo
intelectual; 3. Aprovação final da versão a ser publicada. Essas três condições devem ser
integralmente atendidas.
- AGRADECIMENTOS
7.1 - Possíveis menções em agradecimentos incluem instituições que de alguma forma
possibilitaram a realização da pesquisa e/ou pessoas que colaboraram com o estudo, mas que
não preencheram os critérios para serem coautores.
- REFERÊNCIAS
8.1 - As referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acordo com a ordem em
que forem sendo citadas no texto. Devem ser identificadas por números arábicos sobrescritos
(p. ex.: Silva 1 ). As referências citadas somente em tabelas e figuras devem ser numeradas a
partir do número da última referência citada no texto. As referências citadas deverão ser
listadas ao final do artigo, em ordem numérica, seguindo as normas gerais dos ( Requisitos
Uniformes para Manuscritos Apresentados a Periódicos Biomédicos ).
8.2 - Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade
das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es).
8.3 - No caso de usar algum software de gerenciamento de referências bibliográficas (p. ex.:
EndNote), o(s) autor(es) deverá(ão) converter as referências para texto.
- NOMENCLATURA
9.1 - Devem ser observadas as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como
abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.
- ÉTICA EM PESQUISAS ENVOLVENDO SERES HUMANOS
10.1 - A publicação de artigos que trazem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos
está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declar ação de Helsinki
(1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996, 2000 e 2008), da Associação Médica
Mundial.
10.2 - Além disso, deve ser observado o atendimento a legislações específicas (quando
houver) do país no qual a pesquisa foi realizada.
151
10.3 - Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão
conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último
parágrafo da seção Métodos do artigo).
10.4 - Após a aceitação do trabalho para publicação, todos os autores deverão assinar um
formulário, a ser fornecido pela Secretaria Editorial de CSP, indicando o cumprimento
integral de princípios éticos e legislações específicas.
10.5 - O Conselho Editorial de CSP se reserva o direito de solicitar informações adicionais
sobre os procedimentos éticos executados na pesquisa.
- PROCESSO DE SUBMISSÃO ONLINE
11.1 - Os artigos devem ser submetidos eletronicamente por meio do sítio do Sistema de
Avaliação e Gerenciamento de Artigos (SAGAS), disponível em: http://cadernos.ensp
.fiocruz.br/csp/index.php .
11.2 - Outras formas de submissão não serão aceitas. As instruções completas para a
submissão são apresentadas a seguir. No caso de dúvidas, entre em contado com o suporte
sistema SAGAS pelo e-mail: [email protected] .
11.3 - Inicialmente o autor deve entrar no sistema SAGAS . Em seguida, inserir o nome do
usuário e senha para ir à área restrita de gerenciamento de artigos. Novos usuários do sistema
SAGAS devem realizar o cadastro em “Cadastre-se” na página inicial. Em caso de
esquecimento de sua senha, solicite o envio automático da mesma em “Esqueceu sua senha?
Clique aqui”.
11.4 - Para novos usuários do sistema SAGAS. Após clicar em “Cadastre-se” você será
direcionado para o cadastro no sistema SAGAS. Digite seu nome, endereço, e-mail, telefone,
instituição.
- ENVIO DO ARTIGO
12.1 - A submissão online é feita na área restrita de gerenciamento de artigos
http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/index.php. O autor deve acessar a "Central de Autor" e
selecionar o link "Submeta um novo artigo".
12.2 - A primeira etapa do processo de submissão consiste na verificação às normas de
publicação de CSP. O artigo somente será avaliado pela Secretaria Editorial de CSP se
cumprir todas as normas de publicação.
12.3 - Na segunda etapa são inseridos os dados referentes ao artigo: título, título resumido,
área de concentração, palavras-chave, informações sobre financiamento e conflito de
interesses, resumos e agradecimentos, quando necessário. Se desejar, o autor pode sugerir
potenciais consultores (nome, e-mail e instituição) que ele julgue capaz de avaliar o artigo.
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12.4 - O título completo (nos idiomas Português, Inglês e Espanhol) deve ser conciso e
informativo, com no máximo 150 caracteres com espaços.
12.5 - O título resumido poderá ter máximo de 70 caracteres com espaços.
12.6 - As palavras-chave (mínimo de 3 e máximo de 5 no idioma original do artigo) devem
constar na base da Biblioteca Virtual em Saúde BVS .
12.7 - Resumo. Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha, Cartas ou
Perspectivas, todos os artigos submetidos deverão ter resumo em Português, Inglês e
Espanhol. Cada resumo pode ter no máximo 1.100 caracteres com espaço.
12.8 - Agradecimentos. Agradecimentos. Possíveis agradecimentos às instituições e/ou
pessoas poderão ter no máximo 500 caracteres com espaço.
12.9 - Na terceira etapa são incluídos o(s) nome(s) do(s) autor(es) do artigo, respectiva(s)
instituição(ões) por extenso, com endereço completo, telefone e e-mail, bem como a
colaboração de cada um. O autor que cadastrar o artigo automaticamente será incluído como
autor de artigo. A ordem dos nomes dos autores deve ser a mesma da publicação.
12.10 - Na quarta etapa é feita a transferência do arquivo com o corpo do texto e as
referências.
12.11 - O arquivo com o texto do artigo deve estar nos formatos DOC (Microsoft Word), RTF
(Rich Text Format) ou ODT (Open Document Text) e não deve ultrapassar 1 MB.
12.12 - O texto deve ser apresentado em espaço 1,5cm, fonte Times New Roman, tamanho
12.
12.13 - O arquivo com o texto deve conter somente o corpo do artigo e as referências
bibliográficas. Os seguintes itens deverão ser inseridos em campos à parte durante o processo
de submissão: resumos; nome(s) do(s) autor(es), afiliação ou qualquer outra informação que
identifique o(s) autor(es); agradecimentos e colaborações; ilustrações (fotografias,
fluxogramas, mapas, gráficos e tabelas).
12.14 - Na quinta etapa são transferidos os arquivos das ilustrações do artigo (fotografias,
fluxogramas, mapas, gráficos e tabelas), quando necessário. Cada ilustração deve ser enviada
em arquivo separado clicando em “Transferir”.
12.15 - Ilustrações. O número de ilustrações deve ser mantido ao mínimo, conforme
especificado no item 1 (fotografias, fluxogramas, mapas, gráficos e tabelas).
12.16 - Os autores deverão arcar com os custos referentes ao material ilustrativo que
ultrapasse esse limite e também com os custos adicionais para publicação de figuras em cores.
12.17 - Os autores devem obter autorização, por escrito, dos detentores dos direitos de
reprodução de ilustrações que já tenham sido publicadas anteriormente.
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12.18 - Tabelas. As tabelas podem ter até 17cm de largura, considerando fonte de tamanho 9.
Devem ser submetidas em arquivo de texto: DOC (Microsoft Word), RTF (Rich Text Format)
ou ODT (Open Document Text). As tabelas devem ser numeradas (números arábicos) de
acordo com a ordem em que aparecem no texto.
12.19 - Figuras. Os seguintes tipos de figuras serão aceitos por CSP: Mapas, Gráficos,
Imagens de Satélite, Fotografias e Organogramas, e Fluxogramas.
12.20 - Os mapas devem ser submetidos em formato vetorial e são aceitos nos seguintes tipos
de arquivo: WMF (Windows MetaFile), EPS (Encapsuled PostScript) ou SVG (Scalable
Vectorial Graphics). Nota: os mapas gerados originalmente em formato de imagem e depois
exportados para o formato vetorial não serão aceitos.
12.21 - Os gráficos devem ser submetidos em formato vetorial e serão aceitos nos seguintes
tipos de arquivo: XLS (Microsoft Excel), ODS (Open Document Spreadsheet), WMF
(Windows MetaFile), EPS (Encapsuled PostScript) ou SVG (Scalable Vectorial Graphics).
12.22 - As imagens de satélite e fotografias devem ser submetidas nos seguintes tipos de
arquivo: TIFF (Tagged Image File Format) ou BMP (Bitmap). A resolução mínima deve ser
de 300dpi (pontos por polegada), com tamanho mínimo de 17,5cm de largura.
12.23 - Os organogramas e fluxogramas devem ser submetidos em arquivo de texto ou em
formato vetorial e são aceitos nos seguintes tipos de arquivo: DOC (Microsoft Word), RTF
(Rich Text Format), ODT (Open Document Text), WMF (Windows MetaFile), EPS
(Encapsuled PostScript) ou SVG (Scalable Vectorial Graphics).
12.24 - As figuras devem ser numeradas (números arábicos) de acordo com a ordem em que
aparecem no texto.
12.25 - Títulos e legendas de figuras devem ser apresentados em arquivo de texto eparado dos
arquivos das figuras.
12.26 - Formato vetorial. O desenho vetorial é originado a partir de descrições geométricas de
formas e normalmente é composto por curvas, elipses, polígonos, texto, entre outros
elementos, isto é, utilizam vetores matemáticos para sua descrição.
12.27 - Finalização da submissão. Ao concluir o processo de transferência de todos os
arquivos, clique em “Finalizar Submissão”.
12.28 - Confirmação da submissão. Após a finalização da submissão o autor receberá uma
mensagem por e-mail confirmando o recebimento do artigo pelos CSP. Caso não receba o e-
mail de confirmação dentro de 24 horas, entre em contato com a secretaria editorial de CSP
por meio do e-mail: [email protected] .
- ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DO ARTIGO
13.1 - O autor poderá acompanhar o fluxo editorial do artigo pelo sistema SAGAS. As
decisões sobre o artigo serão comunicadas por e-mail e disponibilizadas no sistema SAGAS.
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13.2 - O contato com a Secretaria Editorial de CSP deverá ser feito através do sistema
SAGAS.
- ENVIO DE NOVAS VERSÕES DO ARTIGO
14.1 - Novas versões do artigo devem ser encaminhadas usando-se a área restrita de
gerenciamento de artigos http://www.ensp.fiocruz.br/csp/ do sistema SAGAS, acessando o
artigo e utilizando o link "Submeter nova versão".
- PROVA DE PRELO
15.1 - Após a aprovação do artigo, a prova de prelo será enviada para o autor de
correspondência por e-mail. Para visualizar a prova do artigo será necessário o programa
Adobe Reader ou similar. Esse programa pode ser instalado gratuitamente pelo site:
http://www.adobe.com/products/acrobat/readstep2.html .
15.2 - A prova de prelo revisada e as declarações devidamente assinadas deverão ser
encaminhadas para a secretaria editorial de CSP por e-mail ( [email protected]. br ) ou
por fax +55(21)2598-2514 dentro do prazo de 72 horas após seu recebimento pelo autor de
correspondência.