Ser Professora: do sonho à realidade RELATÓRIO DE ESTÁGIO ... · Relatório de Estágio...
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III
Ser Professora: do sonho à realidade
RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL
Relatório de Estágio Profissional, apresentado com
vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao
grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006
de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de
Fevereiro)
Orientadora: Professora Paula Maria Leite Queirós
Susana Gonçalves Berenguer
Porto, julho de 2017
V
FICHA DE CATALOGAÇÃO
Berenguer, S. (2017). Ser professora: do sonho à realidade. Relatório de
Estágio Profissional. Porto: S. Berenguer. Relatório de Estágio Profissional
para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, PROFESSOR, EDUCAÇÃO
FÍSICA, ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS, DANÇA
VII
“Sem sonhos a vida não tem brilho. Sem metas os sonhos não têm alicerces.
Sem prioridades os sonhos não se tornam reais. Por isso sonhe, trace metas,
estabeleça prioridades e corra riscos para executar os seus sonhos. Melhor é
errar por tentar do que errar por omitir!”
Augusto Cury
VIII
IX
DEDICATÓRIA
Dedico este documento aos meus pais, por terem lutado sempre para que,
tanto eu como a minha irmã alcançássemos os nossos sonhos.
À minha irmã por todo o apoio, ajuda e motivação dada sempre que
necessário e por ser um dos meus exemplos.
À minha avó, muito do que sei hoje, devo-lhe a si.
Obrigada pelo apoio incondicional que me dão, por acreditarem sempre em
mim, vocês são o meu porto de abrigo.
X
XI
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a todas as entidades que contribuíram de forma direta ou
indireta, tornando possível a realização deste estágio profissional na escola, o
qual revelou ser uma oportunidade excecional para crescer em termos
pessoais, profissionais e académicos, onde para além de ter aprofundado
conhecimentos foi possível desenvolver competências em diversos níveis.
Sendo assim, gostaria de deixar um especial agradecimento:
Gostaria de agradecer aos meus pais, à minha irmã e avó, pois são a
razão do meu viver. Sister, és um dos meus exemplos de vida, se sou hoje a
pessoa que sou também devo a ti. Sinto a tua falta todos os dias.
Às minhas manas do coração, Inês e Andreia, que me conhecem desde
sempre e estão sempre disponíveis quando mais preciso. Em especial à Inês,
pelas mil e uma histórias partilhadas, se fosse para as descrever nunca mais
acabava, por teres sempre uma palavra amiga para dizer, insultar (que é o
mais frequente) e chamar à razão.
Aos meus familiares mais próximos por estarem sempre presente,
apoiando-me em tudo e incentivando-me quando mais precisei. Ao meu avô, o
meu anjo da guarda, por me acompanhar e estar sempre presente quando
mais preciso.
Aos meus “migos”, que me acompanharam uns de mais perto, outros de
mais longe esta etapa da minha vida, por me apoiarem das mais variadas
maneiras. Em especial à Ariana, por estares sempre presente e por seres a
minha parceira. Que continuemos a criar muitos momentos para estarmos
todos juntos. Estou sempre aqui para vocês! As verdadeiras amizades nascem
do nada e acabam sendo tudo!
À Professora Paula Queirós que se manteve sempre disponível para me
apoiar e esclarecer quaisquer dúvidas, dando o seu feedback sempre que tinha
XII
disponibilidade para tal, demonstrando compreensão e disponibilidade para o
diálogo.
Ao meu Professor Cooperante João Carvalho por todo o tempo
despendido para me ajudar e acompanhar ao longo do estágio. Assim como ao
Diretor da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco, Sr. Rui Caetano, por
ter aceite a minha solicitação para estagiar na escola em questão.
A todos os docentes da escola, pelo companheirismo e amizade, bem
como todos os ensinamentos e ajuda disponibilizada, especialmente à
professora Daniela Nunes, por me ter deixado colaborar no desporto escolar
com ela, e ao professor Nuno Cruz por toda a ajuda disponibilizada quer para
a elaboração do torneio 4 estações, quer por me deixar lecionar as aulas ao 2º
ciclo numa das suas turmas.
Ao quarteto fantástico, da licenciatura, que apesar de ter tomado rumos
diferentes no mestrado, partilhámos momentos inesquecíveis. À Daniela que
foi novamente minha colega de turma, vivemos tanto aqui no Porto, passamos
por altos e baixos, mas conseguimos ultrapassá-los juntas, obrigada pela
partilha. Oss! À Sílvia pelos desabafos, cafés, as nossas histórias, não me
esquecerei. À Cristina por todos os nossos encontros que tivemos quando
vinhas ao Porto e pelos que partilhámos na nossa ilha.
À minha jammer unicórnio, Vânia, nada acontece por acaso, entrei
naquele ginásio na altura certa. Foste tão importante no ano em que estive a
viver no Porto. Não me vou esquecer do que fizeste por mim, das vezes que
sem te aperceberes, com a tua boa disposição e energia contagiantes eras o
meu “porto de abrigo” e me reconfortavas nos momentos menos bom.
Obrigada por todas as aulas que partilhámos, que venham mais, porque quem
dança é mais feliz!
XIII
Às minhas nortenhas, Andreia e Mafalda, por todos aqueles jantares, por
me receberem de braços abertos na invicta, por me mostrarem a vossa linda
terra, pela partilha de bons momentos, boa disposição, risadas, por todas as
vezes que jogamos ao UNO até às tantas, porque, em praticamente todos os
jantares houve uma história associada.
Às minhas turmas do mestrado, principalmente ao Bacalhau, ao Cunha, à
Margarida, à Guedes, à Sofia, à Liliana, ao Rúben e ao Alexandre, por
estarem sempre prontos a ajudar-me no que foi necessário, pelo
companheirismo e amizade.
Aos meus alunos do 10º ano pela partilha de momentos bons e menos
bons, foi um crescimento mútuo, deixei um bocadinho de mim em vós, e vocês
deixaram um bocadinho de vós em mim, foram a minha primeira turma de
sempre. Não vos esquecerei! Aos restantes alunos no qual tive o privilégio de
dar aulas, 5º ano e as três turmas de 12º ano, obrigada por me terem
recebido tão bem. A pessoas como vocês, vale a pena dar aulas.
Um muito obrigada a todos!
XIV
XV
ÍNDICE GERAL
DEDICATÓRIA .................................................................................................. IX
AGRADECIMENTOS ........................................................................................ XI
ÍNDICE DE TABELAS ..................................................................................... XIX
ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................... XXI
ÍNDICE DE ABREVIATURAS........................................................................ XXIII
ÍNDICE DE ANEXOS ..................................................................................... XXV
RESUMO ...................................................................................................... XXVII
ABSTRACT ................................................................................................... XXIX
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2. ENQUADRAMENTO PESSOAL ..................................................................... 5
2.1. Um Sonho de Criança .............................................................................. 6
3. ENQUADRAMENTO FUNCIONAL ................................................................. 9
3.1. A Escola Enquanto Instituição ................................................................ 10
3.2. A Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco ................................... 11
3.3. O Fictício Núcleo de Estágio .................................................................. 13
3.4. A Minha Turma ....................................................................................... 14
4. ESTÁGIO PROFISSIONAL: DA COMPREENSÃO ÀS EXPETATIVAS ....... 19
4.1. O Que é o Estágio Profissional? ............................................................. 20
4.2. As Minhas Expetativas para o Estágio Profissional ................................ 22
5. ESTÁGIO: DA TEORIA À PRÁTICA ............................................................. 25
5.1. Início do Novo Desafio ............................................................................ 26
5.2. Os Primeiros Passos na Escola/Turma .................................................. 28
5.3. O Planeamento ....................................................................................... 31
5.3.1. Planeamento Anual .......................................................................... 33
5.3.2. Planeamento das Unidades Didáticas ............................................. 36
5.3.3. Planos de Aula ................................................................................. 38
5.4. Chegou ao Fim... Qual o Meu Contributo para os Alunos? .................... 42
XVI
5.5. Dificuldades e Potencialidades ............................................................... 46
5.5.1. A Disciplina na Aula ......................................................................... 46
5.5.2. A Instrução ....................................................................................... 48
5.5.3. O Feedback ...................................................................................... 51
5.5.4. A Avaliação ...................................................................................... 54
5.5.5. Passagem pelo 2º Ciclo ................................................................... 56
5.6. Direção de Turma ................................................................................... 58
5.7. Participação na Escola e Relação com a Comunidade Escolar ............. 62
5.7.1. Participação e Dinamização de Atividades Escolares ..................... 62
5.7.1.1. Torneio de Voleibol .................................................................... 62
5.7.1.2. Dia da Educação Rodoviária ..................................................... 63
5.7.1.3. Torneio das 4 Estações ............................................................. 64
5.7.1.4. Atividades de Mar e Geocaching ............................................... 67
5.7.1.5. Demonstração de Dança no dia do Eco-Ecolas ........................ 68
5.7.1.6. Atividades 1º Ciclo ..................................................................... 70
5.7.2. Desporto Escolar – Dança ............................................................... 70
6. AS ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS: O TABU DA EDUCAÇÃO
FÍSICA? ............................................................................................................. 73
6.1. RESUMO ................................................................................................ 75
6.2. ABSTRACT ............................................................................................. 77
6.3. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 79
6.4. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................. 81
6.4.1. As Atividades Rítmicas e Expressivas como Matéria de Ensino ..... 81
6.4.2. Dança-Educação .............................................................................. 82
6.4.3. Composição em Dança .................................................................... 83
6.5 OBJETIVOS ................................................................................................ 85
6.5.1. Objetivos Gerais ............................................................................... 85
6.5.2. Objetivos Específicos ....................................................................... 85
6.6. METODOLOGIA ..................................................................................... 87
6.6.1. Caracterização da Amostra .............................................................. 87
6.6.2. Instrumento ...................................................................................... 87
6.6.3. Procedimentos Estatísticos .............................................................. 87
XVII
6.7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................... 90
6.8. CONCLUSÕES ..................................................................................... 109
6.9. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 113
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 115
ANEXOS ...................................................................................................... XXXII
XVIII
XIX
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Número de aulas por modalidade, distribuídas pelos 3 períodos. .. 36
Tabela 2 – Motivação dos alunos para as aulas de dança. ............................. 92
Tabela 3 – Análise das diferenças entre género com a variável “gostas de
dançar?” com “qual a motivação para estas aulas?”. ................................ 93
Tabela 4 – Importância em lecionar na escola dança e os motivos apontados.
................................................................................................................... 94
Tabela 5 – Diferenças entre género relacionando o facto de ter tido dança na
formação académica com “dá dança nas suas aulas?”. ............................ 99
Tabela 6 – Motivos apontados pelos professores para não darem dança nas
aulas. ........................................................................................................ 100
Tabela 7 – Relação entre ter dança na formação académica com a procura de
formação além da faculdade. ................................................................... 101
Tabela 8 – Análise se os professores que procuraram formação além da
faculdade usaram esses conhecimentos nas suas aulas. ....................... 101
Tabela 9 – Importância de a modalidade de dança estar inserida no PNEF e de
estes lecionarem esta modalidade. .......................................................... 103
XX
XXI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Ano letivo mais frequente da amostra. ............................................. 90
Figura 2 – Percentagem de alunos que gostam de dançar. ............................. 91
Figura 3 – Estilos de dança praticados fora das aulas de EF. .......................... 91
Figura 4 – Estilos de dança favoritos dos alunos. ............................................. 95
Figura 5 – Dificuldades que os alunos possam sentir nas aulas de dança. ...... 96
Figura 6 – Motivos para os professores não lecionarem dança em EF. ........... 96
Figura 7 – “O que significa para ti dança?” ....................................................... 97
Figura 8 – Anos de serviço dos docentes. ........................................................ 98
Figura 9 – Ciclos de Ensino dos professores. ................................................... 98
Figura 10 – Atitude dos alunos em relação à modalidade de dança. ............. 102
Figura 11 – Estilos de dança mais usados pelos docentes. ........................... 102
Figura 12 – Motivos para a dança constar no PNEF. ..................................... 103
Figura 13 – Motivos apontados pelos docentes, ao não lecionarem esta
modalidade, de poderem estar a privar os alunos de experienciarem as
potencialidades do corpo. ........................................................................ 104
XXII
XXIII
ÍNDICE DE ABREVIATURAS AD – Avaliação Diagnóstica
AF – Atividade Física
ARE – Atividades Rítmicas e Expressivas
DE – Desporto Escolar
EBSGZ – Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
EE – Encarregados de Educação
EF – Educação Física
EP – Estágio Profissional
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
FB – Feedback
MEC – Modelo de Estruturação do Conhecimento
PA – Plano de Aula
PEE – Projeto Educativo de Escola
PNEF – Programa Nacional de Educação Física
UD – Unidade Didática
UMa – Universidade da Madeira
XXIV
XXV
ÍNDICE DE ANEXOS
ANEXO I: Planeamento Anual ................................................................... XXXIV
ANEXO II: Estrutura do Plano de Aula ...................................................... XXXVI
ANEXO III: Cartaz Torneio 4 Estações .................................................... XXXVIII
ANEXO IV: Questionário Aplicado aos Alunos referente ao Tema de
Investigação .............................................................................................. XL
ANEXO V: Questionário Aplicado aos Professores referente ao Tema de
Investigação ............................................................................................ XLII
XXVI
XXVII
RESUMO
O presente documento reflete um conjunto de vivências tidas ao longo do
Estágio Profissional, inserido no 2º ciclo de estudos conducente ao grau de
Mestre em Ensino da Educação Física nos ensinos Básico e Secundário, da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O Estágio Profissional
decorreu na Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco, uma escola onde
abrange o 2, 3º ciclo e secundário, situada na Região Autónoma da Madeira,
sob a orientação de uma professora orientadora da Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto e um professor cooperante da escola. Neste espaço é
possível conhecer um pouco aquilo que foi o meu percurso enquanto
professora-estagiária, desde as minhas fragilidades, às suas superações, a
minha evolução, aos momentos mais felizes. O relatório é elaborado na
primeira pessoa, e em termos de estrutura encontra-se segmentado em 5
capítulos: 1) No enquadramento pessoal, é feita uma apresentação sobre o
meu percurso de vida e os motivos para ter escolher esta profissão; 2) No
enquadramento funcional, é apresentado o contexto onde ocorreu o Estágio
Profissional, e algumas influências durante o processo; 3) Estágio profissional:
da compreensão às expetativas, onde é feito um enquadramento teórico sobre
o que é o Estágio Profissional, e ainda apresento as expetativas que tinha no
início desta caminhada; 4) Estágio: da teoria à prática, onde são focadas as
dificuldades sentidas e formas de superação; 5) As Atividades Rítmicas e
Expressivas: o tabu da Educação Física – estudo realizado na Escola Básica e
Secundária Gonçalves Zarco da Região Autónoma da Madeira, que retrata o
estudo de investigação elaborado.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, PROFESSOR, EDUCAÇÃO
FÍSICA, ATIVIDADES RÍTMICAS EXPRESSIVAS, DANÇA
XXVIII
XXIX
ABSTRACT
This document incorporates a set of experiences throughout the Professional
Training, inserted in the 2nd cycle of studies leading to the Master's degree in
Physical Education Teaching in Basic and Secondary Education, Faculty of
Sport of the University of Porto. The Professional Internship was held at the
Gonçalves Zarco Elementary and Secondary School, located in the
Autonomous Region of Madeira, under the guidance of a Faculty of Sport of the
University of Porto teacher and a cooperating teacher from Gonçalves Zarco
Elementary and Secondary School. In this document it is possible to know a
little about what my trajectory was as a trainee teacher from overcoming my
weaknesses, my evolution, to the most memorable moments. The report is
written in the first person, in terms of structure is segmented into 5 chap ters: 1)
Personal framing, a presentation is made on my reasons for chosing the life
course as a profession; 2) Functional framework, it is regarding the professional
placement, and the influences gained during the process; 3) Professional
internship: understanding to expectations, a theoretical framework is made on
the Professional Internship undertaken; 4) Internship: from theory to practice,
focuses on the difficulties experienced and ways of overcoming these; 5) The
rhythmic and expressive activities: the taboo of Physical Education - a study
carried out in the Gonçalves Zarco Elementary and Secondary School of the
Autonomous Region of Madeira, which portrays the research study undertaken.
KEYWORDS: PROFESSIONAL INTERNSHIP, TEACHER, PHYSICAL
EDUCATION, EXPRESSIVE RHYTHMIC ACTIVITIES, DANCE
XXX
1
1. INTRODUÇÃO
2
1. INTRODUÇÃO
O presente documento, foi elaborado no âmbito da unidade curricular
Estágio Profissional (EP), integrado no segundo ano do segundo ciclo de
estudos congruente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física (EF) nos
Ensinos Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto (FADEUP).
O meu estágio foi realizado na escola Básica e Secundária Gonçalves
Zarco (EBSGZ), situada na Região Autónoma da Madeira, mais precisamente
na cidade do Funchal.
O EP tem como intuito orientar de forma progressiva o professor-estagiário
na construção da sua identidade, através do contacto com o contexto real, no
qual põe à prova as suas competências profissionais. Através das mesmas
deve ser capaz de desenvolver um desempenho crítico e reflexivo, para
superar as exigências e os desafios impostos pela profissão1.
Este relatório é o culminar de uma longa etapa, marcada por alguns altos e
baixos, no qual a procura pelas melhores soluções a tomar para superar os
mais variados desafios, foi uma constante.
A docência é uma área exigente, pois é uma profissão com a qual estamos
em constante contacto direto com um conjunto de seres humanos, em que o
principal foco é ensiná-los, alertá-los e prepará-los para o futuro. Cada
indivíduo é portador de uma personalidade, que é diferente do outro, isto
porque é influenciado pela educação que lhes é dada desde que nasceram. O
professor deve ter a capacidade de atender aos mais variados perfis que
constituem a turma, ao mesmo tempo que tenta fazer um ensino homogéneo
deve também particularizá-lo, isto é, deve tratar os alunos da mesma forma
(igualdade de oportunidades, forma como se relaciona com eles, regras, etc),
no entanto deve individualizar o ensino de acordo com as suas capacidades.
Enquanto uns alunos são mais aptos em determinada modalidade, pode haver
1Documento interno da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, designado “NormasOrientadorasdoEstágioProfissional”,elaboradoparaaunidadecurricularEstágioProfissional,noanoletivo2016-2017.
3
outros que não, pode ser dado um exercício igual para os dois níveis, no
entanto com um grau de complexidade diferenciado.
Acrescentando a estes aspetos, a EF é uma disciplina peculiar devido ao
facto de ser a única que ensina através do corpo (Graça, 2014), integrando um
conjunto de valores transmitidos pelo desporto, tais como a cooperação,
partilha, competição, aceitação, superação, esforço, empenho, dedicação, o
saber ganhar e perder, a não desistir perante as dificuldades e a lutar pelos
objetivos pessoais, ou seja, assume um papel preponderante na criação do
“eu” ao longo da vida. Desta forma, a EF concebe uma noção de
desenvolvimento integral e integrado, ensina a lidar com o próprio corpo,
desenvolve noções de superação, de partilha, de trabalho em equipa e
cooperação, promove a autoconfiança e autoestima (Batista & Queirós, 2015).
A caminhada pelo EP foi acompanhada pelo Professor Cooperante (PC) e
pela professora orientadora, assim como pelos dois colegas que estavam
também a estagiar pela Universidade da Madeira (UMa).
Em suma, neste relatório o leitor irá deparar-se com algumas das vivências
tidas ao longo do ano letivo, algumas dificuldades e formas de superação,
algumas inseguranças e momentos que me deixaram feliz.
Em termos de estrutura, o presente relatório encontra-se dividido em cinco
capítulos, que pretendem apresentar, de forma organizada e refletida, as
vivências enunciadas anteriormente.
No primeiro capítulo (Enquadramento Pessoal) é realizada uma
apresentação sobre mim, o meu percurso académico e desportivo, como forma
de perceber qual o motivo que me levou a escolher esta profissão.
O segundo capítulo (Enquadramento Funcional) diz respeito ao contexto
em que ocorreu o EP, tal como algumas influências neste processo, o fictício
núcleo de estágio e a turma onde lecionei as aulas. Este ponto inicia-se com
um enquadramento teórico sobre a escola enquanto instituição, com intuito de
expor a minha opinião em relação a esse assunto.
No terceiro capítulo (Estágio Profissional: da Compreensão às Expetativas)
faço um enquadramento teórico sobre o que é o EP, e ainda apresento as
expetativas que tinha no início desta caminhada.
4
No quarto capítulo (Estágio: da Teoria à Prática) encontrará uma descrição
reflexiva da prática desenvolvida, focando nas dificuldades sentidas em cada
ponto e de que maneira foram superadas. Os textos são baseados em
episódios ocorridos no EP, como: início do novo desafio, os primeiros passos
na escola/turma, os três tipos de planeamento (anual, das Unidades Didáticas
(UD) e Planos de Aula (PA)), chegou ao fim... qual o meu contributo para os
alunos? Dificuldades e potencialidades (a disciplina na aula, a instrução, o
feedback, a avaliação e a passagem pelo 2º ciclo); a direção de turma, torneio
de voleibol, a prevenção rodoviária, o torneio 4 estações, as atividades de mar
e Geocaching, a demonstração de dança no Eco-Escolas, as atividades do 1º
ciclo e o Desporto Escolar (DE). Estes textos foram fundamentados por
pequenos excertos de reflexões feitas durante o EP.
O quinto e último capítulo (As Atividades Rítmicas e Expressivas: o Tabu
da EF?), corresponde ao estudo realizado na EBSGZ da Região Autónoma da
Madeira, como forma de desenvolver as minhas capacidades de investigação.
5
2. ENQUADRAMENTO PESSOAL
6
2. ENQUADRAMENTO PESSOAL
A vida só tem sentido a partir do momento em que o coração começa a
bater, quando tudo começa a se transformar, onde tudo começa a ganhar
sentido, quando contactamos com o mundo real, moldamos a nossa
personalidade e os sonhos ganham vida.
Desta forma, este documento só fará sentido quando fizer uma breve
apresentação de quem sou eu, quais as influências e motivos que me levaram
a escolher esta profissão.
2.1. Um Sonho de Criança
O meu nome é Susana Gonçalves Berenguer, nasci a 15 de novembro de
1993, sou natural da ilha da Madeira, mais precisamente do concelho do
Funchal.
A minha ligação com o desporto iniciou-se desde cedo, tenho vagas
memórias de estar de férias na ilha de Porto Santo com os meus pais e a
minha irmã. Todos os dias a ida à praia era obrigatória, o contacto com o mar
fez-se de forma natural, adorava a água, não tinha medo das ondas, muito pelo
contrário era aventureira. Aprendi a nadar com 5 anos, estive na natação
durante um verão para aperfeiçoamento, que é como quem diz, deixar de
nadar “à cãozinho”.
Recordo-me de ser uma criança ativa, de ir para a rua brincar à bola com
os meus vizinhos ou andar de bicicleta, eu adorava fazer desporto. Era uma
“maria-rapaz”, assim a minha mãe o dizia e “temia” que nunca viesse a usar um
vestido ou saltos altos, pois não apresentava alguns comportamentos típicos
de menina.
Desde o 1º ciclo do ensino básico até ao 2º/3º ciclo contava os minutos
para que chegasse ao intervalo para ir a correr para os campos jogar à bola,
para conseguir uma mesa de ténis de mesa para jogar ou então para ir jogar às
apanhadas.
Participei ao longo do 3º e 4º ano nas competições do DE,
independentemente de qual fosse a modalidade, já sabia que ia ser a
escolhida. Ficava toda contente, e foi nesta altura que surgiu o sonho de ser
7
professora de EF. A empatia criada com as professoras nesses dois anos foi
tão grande, os momentos partilhados não só nas aulas, mas também durante
as competições do DE, foram de tal maneira marcantes que eu só pensava
“quando for grande quero ser igual às minhas professoras de EF”.
Sempre tive um gosto especial pelo futebol, foi então que durante umas
férias de verão os meus pais colocaram-me num clube (Clube Desportivo
Nacional) que tinha treinos durante essas férias como forma de ocupar as
crianças.
Apesar de nunca ter sido uma atleta de alto rendimento, no 8º ano fui
novamente parar ao futebol, estive no Club Sport Marítimo a treinar. Tínhamos
treinos três vezes por semana, mas um dos dias não conseguia ir, porque a
hora que saia da escola coincidia com a hora de início do treino. Depois
comecei a questionar as minhas capacidades, achava que não conseguia
conciliar o desporto com os estudos, mera estupidez e acabei por desistir uns
meses depois.
No 10º e 11º ano participei no DE em basquetebol. No primeiro ano a
equipa teve uma baixa de última hora e o professor acabou por ligar-me para
ocupar o lugar da atleta. No ano a seguir participamos novamente, por
divertimento, pois nunca tivemos um treino juntas antes das competições.
A vontade de ser professora de EF, poderia ter ficado por um simples
“sonho de criança”, que muitas vezes nessa fase ambicionam um dia ser uma
coisa, no outro já mudam de ideias, mas comigo não foi assim. Sempre quis
que a minha profissão fosse ligada a esta área. A partilha de conhecimentos e
as vivências com os diferentes professores de EF que tive, fomentaram ainda
mais este sonho. Sentia que todos eles adoravam aquilo que faziam e isso era
notório no método de ensino que utilizavam, a forma e o dinamismo que
colocavam nos exercícios, a relação que estabeleciam com os alunos era sem
dúvida muito diferente dos outros professores, e isto também é possível, pois a
disciplina de EF permite isso. É a única disciplina que ensina através do corpo,
onde integra um conjunto de valores transmitidos pelo desporto, tais como a
cooperação, partilha, competição, aceitação, superação, esforço, empenho,
dedicação, o saber ganhar e perder, a não desistir perante as dificuldades e a
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lutar pelos objetivos pessoais, que assumem um papel preponderante na
criação do “eu” ao longo da vida.
Apesar de saber que o desporto é a minha área de eleição, sempre adorei
crianças, esta profissão é, basicamente, a junção das duas coisas que mais
gosto. Dar aulas a crianças e incidir-me mais sobre o 2º ciclo é o meu maior
desejo.
No que diz respeito ao meu percurso académico, no 10º ano o
agrupamento que escolhi foi o de Ciências e Tecnologias, e posteriormente
formei-me em EF e Desporto pela UMa. Durante o segundo ano da licenciatura
abracei um projeto de voluntariado na escola MAIS Desportiva Salesianos e dei
aulas de natação a crianças dos 6 aos 15 anos. Foi uma experiência
enriquecedora, pois estes vinham de bairros sociais onde as carências
monetárias são grandes, existiam casos de violência doméstica, filhos
monoparentais, entre outros. Eram crianças que necessitavam de atenção,
carinho, além de ser “professora”, muitas vezes era também uma amiga. Houve
uma miúda, que me intitulou de madrinha, sem dúvida que isso faz-nos sentir
bem, por sabermos que estamos a contribuir para que aquela criança seja
melhor.
O sonho ainda não tinha sido atingido, como tal em 2015 ingressei no
Mestrado em EF nos ensinos Básico e Secundário pela FADEUP. Poderia ter
ficado pela minha ilha e ter feito o mestrado lá, mas senti a necessidade de ir
em busca de novos conhecimentos, ouvir outras mentalidades, abrir horizontes
e crescer mais a nível pessoal e profissional.
9
3. ENQUADRAMENTO FUNCIONAL
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3. ENQUADRAMENTO FUNCIONAL
3.1. A Escola Enquanto Instituição
Na minha visão, a escola enquanto instituição deve certificar-se que todas
as crianças e jovens têm acesso à educação, na qual deve constar a formação
pessoal do indivíduo, intelectual, social, cultural e física. Deve ter em conta as
dificuldades de cada um, para que todos sejam presenteados com
aprendizagens enriquecedoras fruto de um trabalho de exploração das
potencialidades e capacidades dos alunos ao máximo.
Um dos direitos do Ser Humano é precisamente o direito à educação. “A
Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada e proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, constitui o documento que
consagra, entre outros, o direito à educação” (Declaração dos Direitos
Humanos, s.d.). Logo este deve ser atendido, para que todos os cidadãos
tenham o privilégio de o usufruir, através da instituição escola. A educação é
assumida pelo Governo como um serviço público universal e defende como
princípios a disciplina, o esforço e a autonomia.
Muitas vezes ouvimos a expressão “os jovens de hoje são os adultos do
amanhã”. Esta deve estar bem presente no entendimento dos responsáveis
das entidades competentes, partindo da instituição com maior poder (Ministério
da Educação), de modo a que o analfabetismo seja colmatado. São os jovens
que vão determinar o futuro do país, e para que este não se desmorone, é
fundamental que ocorra uma cooperação entre os Encarregados de Educação
(EE), professores e alunos criando um ambiente propício para a aprendizagem,
privilegiando a exigência de forma controlada, para formar adultos
responsáveis e cultos.
Frequentar uma escola deve ser vista como uma oportunidade única, os
jovens têm acesso a uma base cultural sólida comum, capaz de conciliar as
diferentes dimensões (cognitiva, expressiva e valorativa) do desenvolvimento
do Ser Humano, que são indispensáveis para saber viver em comunidade e em
equilíbrio com a natureza (Azevedo, 2006).
11
Valentim (s.d.) cit. por Batista et. al, (2015), refere que a escola deve
atender às individualidades dos alunos, dispondo de apoios pedagógicos que
vão ao encontro das dificuldades dos alunos, garantindo que os seus
progressos sejam reais.
Nos dias que correm, para além de termos uma escola de massas, com
alunos espalhados pelas distintas classes sociais, o Estado em conjunto com a
sociedade alerta para que a entidade escola seja um local onde se verifique a
inclusão social, albergando dos diferentes grupos sociais, grupos étnicos, as
crianças com necessidades educativas especiais e crianças portadoras de
doenças graves (Cunha, 2008). Para que esta ideia seja cumprida é necessário
o aparecimento de uma nova conceção de professor. Ao professor letrado,
bem formado, bondoso, adiciona-se o professor seletivo, que é capaz de
distinguir os alunos mais capacitados, dos menos capacitados, distribuindo
maior atenção a estes últimos (Cunha, 2008). O professor cada vez mais não
deve ser encarado exclusivamente como um perito das matérias que leciona,
mas também como um ser altamente qualificado nas diferentes áreas do saber
(Ruivo, 1997 cit. por Cunha, 2008).
3.2. A Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
A EBSGZ foi inaugurada a 9 de setembro de 1968, com a designação de
Escola Preparatória de Gonçalves Zarco. Esta foi a primeira instituição com o
ciclo preparatório, como anexo às Escola Secundária Francisco Franco e
Escola Secundária Jaime Moniz (Projeto Educativo de Escola (PEE), 2010-
2014). No ano 1989 criou-se um edifício próprio na freguesia de São Martinho
(onde se encontra até então), abrangendo alunos desde o 2º ciclo até ao
ensino secundário, inclusive.
A missão desta instituição escolar passa pela promoção de
desenvolvimento harmonioso do aluno, através do sucesso educativo e
valorização social e pessoal do mesmo, num fio condutor da educação para a
cidadania, da potencialização das práticas colaborativas, da promoção da
12
inovação e formação e da preservação da identidade e cultura escolar (PEE,
2014-2018).
A EBSGZ foca o aluno no centro do processo educativo, onde as
estratégias, atividades e metodologias de ensino têm de ir ao encontro de um
ensino com qualidade, direcionado para o sucesso dos jovens e bem-estar de
toda a comunidade escolar.
O foco na Educação Física As infraestruturas desportivas da escola abrangem um pavilhão
polidesportivo, que contém quatro balneários (dois femininos e dois
masculinos), uma sala de aula anexa (com mesas e cadeiras) e uma sala com
três mesas de ténis de mesa (movíveis). Dois campos exteriores (um de
reduzidas dimensões e outro com quatro campos com 40x20m) e seis mesas
de ténis de mesa no exterior (amovíveis). Além destes espaços, há a
possibilidade de utilizar outras áreas informais para as aulas de EF, como o
espaço circundante do pavilhão e a varanda do mesmo, a sala de EF
(necessita marcação prévia), a sala no pavilhão e o pátio.
As instalações desportivas e respetiva gestão estão a cargo do diretor de
instalações que organiza e distribui a ocupação dos espaços.
Segundo o Regulamento Interno definido pelo grupo disciplinar de EF, a
abordagem de algumas matérias de ensino é condicionada em alguns espaços
desportivos, particularmente o badminton, o voleibol e a ginástica, que só
podem ser lecionadas no pavilhão polidesportivo, com intuito de preservar os
materiais desportivos e a integridade física dos estudantes.
Em relação aos projetos de âmbito desportivo presentes na escola,
destaca-se: a) DE, que abrange modalidades como: andebol, badminton,
basquetebol, ginástica aeróbica, dança (apenas ensaios para a participação na
cerimónia de abertura), futsal, ténis de mesa, voleibol e atletismo; b) desporto
GZ, referente ao Clube Escola Gonçalves Zarco e que culmina na abordagem
de modalidades como o voleibol e ténis de mesa.
No meu entendimento, a escola devia apostar na compra de materiais
desportivos, como bolas de futebol, raquetes de ténis de mesa, equipamento
13
de som, redes de ténis de campo e colchões para ginástica. Apesar da escola
dispor de espaldares no pavilhão, estes não estão bem situados, o que faz com
que não lhes seja dada utilidade. Estes deviam ser removidos e colocados num
local onde não existisse problema de os alunos os utilizarem para a ginástica.
Outro problema que se coloca é o pavimento dos campos exteriores que
se encontra em alcatrão. Este constitui-se como um perigo para a integridade
física dos alunos, pois caso caiam o risco de escoriações é grande. Apesar da
escola não ter muitas verbas deveria tentar arranjar uma parceria ou patrocínio
com alguma entidade no sentido de ajudar na alteração do piso para algo mais
seguro que o presente.
3.3. O Fictício Núcleo de Estágio
A partir do momento em que tomei a decisão e verifiquei a possibilidade de
ir estagiar para a ilha da Madeira, sabia que à partida não ia ter núcleo de
estágio constituído por colegas do mestrado, pois os outros dois madeirenses
quiseram ficar a estagiar no Porto. Todavia, a escola onde escolhi estagiar faz
parceria com a UMa no mesmo mestrado, logo tive dois colegas de estágio,
mas de outra universidade.
Assim sendo, o núcleo de estágio da EBSGZ é constituído por 3
estagiários. Já conhecia os dois colegas antes de ingressar para esta
faculdade, pois a rapariga foi da minha turma em algumas disciplinas da
licenciatura na UMa, e o rapaz era do ano anterior a mim na licenciatura, ou
seja, quando entrei na universidade ele estava no 2º ano e praxou-me.
Eu e o rapaz já tínhamos frequentado esta escola, o que facilitou a nossa
integração. Como a colega não conhecia a escola, acabamos por ajudá-la e
levámo-la a conhecer as instalações.
Posso referir que o grupo inicialmente era um pouco mais individualista,
mas com o tempo isso foi-se desmoronando dando lugar a uma cooperação e
entreajuda.
O facto de nós irmos observar as aulas uns dos outros ajudou a apurar o
nosso sentido crítico construtivo, apontando as falhas uns dos outros como
forma de melhorar e crescer na nossa prestação enquanto professores.
14
Notei uma evolução em ambos, desde as primeiras aulas até agora,
embora existam aspetos que ainda têm que ser melhorados, mas este é um
processo contínuo e, não é só em um ano que vamos chegar ao patamar que
pretendemos.
O núcleo de estágio da escola EBSGZ foi orientado pelo mesmo PC da
escola, diferindo apenas na professora orientadora, no meu caso foi uma da
professora da FADEUP, no deles por uma professora da UMa. Contei com o
apoio de ambas a entidades no processo de orientação e coordenação nesta
etapa.
O PC, ajudou-nos a evoluir no que diz respeito à capacidade de tomada de
decisão, onde através da liberdade dada para experimentação, pudéssemos
vivenciar o erro, refletir sobre o mesmo e alterar o que achássemos necessário.
A orientadora foi fundamental neste processo de orientação sobre todo o
planeamento necessário ao longo do estágio, assim como alertar sobre
algumas eventualidades que possam surgir e como lidar com elas.
3.4. A Minha Turma
A turma na qual lecionei as aulas de EF era de 10º ano do Curso de
Ciências e Tecnologias dos Cursos Científico-Humanísticos. Era constituída
por, inicialmente 18 alunos, 10 raparigas e 8 rapazes. No entanto, um dos
alunos não estava inscrito na disciplina (por ser repetente e ter ficado com a
nota do ano anterior) inicialmente ia às aulas e deixou de ir. Outros dois alunos
foram transferidos de curso no 2º período, por não se identificarem com o
mesmo. Nesse mesmo período veio um aluno transferido do continente. A
turma terminou o ano constituída por 16 alunos. A média de idades da turma
situava-se nos 15 anos.
A ficha biográfica foi preenchida no início do ano letivo pelos alunos como
ferramenta que nos permitiu conhecer com maior detalhe cada um deles.
Quando o professor faz o planeamento do ano letivo, selecionando as
matérias a serem lecionadas na turma, devem ter em conta as preferências e
as modalidades em que os alunos sentem maior dificuldade (Bento, 2003).
15
Assim sendo, na primeira aula foi aplicado um questionário para saber
quais as suas preferências e maiores dificuldades ao nível das matérias de
ensino, perceber se na turma existiam alunos federados ou não, se praticam
Atividade Física (AF) fora das aulas e se tinham problemas de saúde. O modo
como estes aspetos condicionaram o planeamento, será abordado mais à
frente, no capítulo 5.3.1 Planeamento anual.
Estilo de vida, Atividade Física e Historial Desportivo
Para entender as capacidades e potencialidades dos alunos na disciplina
de EF é imprescindível perceber todo o contexto desportivo dos mesmos, tanto
no passado como atualmente.
Historial Desportivo Atualmente dois alunos estão ligados a um clube desportivo na modalidade
de Futebol e Andebol.
Curiosamente a maioria da turma (13 alunos) já participou no DE em
diferentes modalidades e inclusive em mais do que uma. A modalidade mais
procurada foi o voleibol (6 alunos), futebol e basquetebol (3 alunos em cada),
andebol, dança (2 alunos em cada) e badminton e atletismo (1 aluno em cada).
Atividade Física Os níveis de AF estão associados aos estilos de vida saudáveis, que são
adotados pelos alunos no dia-a-dia. Os alunos da turma na sua maioria são
sedentários, visto que para além das aulas de EF não fazem nenhum tipo de
AF.
Atualmente apenas dois elementos encontram-se associados a um clube
na modalidade de futebol e andebol, um frequenta um ginásio e outra faz
exercício físico em casa.
Limitações na Prática Desportiva
De forma a que a prática letiva decorra de forma segura, é fundamental
consciencializar-se das limitações dos alunos, percebendo as condicionantes
16
na prática e em que sentido terá que haver uma alteração da sua atividade nas
aulas de EF.
A aluna ACF2 tem síncope neurocardiogénica, síncope é a perda transitória
de consciência e tónus postural (desmaio), oriunda da ativação inapropriada do
nervo vago. O distúrbio básico na origem do desmaio é a redução súbita da
oxigenação cerebral derivado da diminuição do fluxo sanguíneo nessa região.
A CS3 tem diabetes (não é insulinodependente) e asma usando a bomba
sempre que necessário. É necessário certificar-se se toma sempre o pequeno-
almoço.
A FN4 tem dermatite atópica e tiroidite de ashimoto auto-imune, necessita
de ter cuidados com o sol, não podendo apanhar em excesso.
A aluna LR 5 tem um desvio na coluna. A JH 6 tem problemas no
crescimento ósseo, pelo que por vezes sente dores principalmente nas
articulações, deve evitar todo o tipo de impactos.
No momento de realização dos PA o principal cuidado foi encontrar
exercícios alternativos para os alunos que não conseguiam fazer o que era
pretendido. O objetivo foi tentar mantê-los também em AF.
Preferências Desportivas O estabelecimento das matérias de ensino a abordar, poderá sofrer
alguma influência de acordo com as modalidades eleitas pelos alunos como
favoritas, assim como as que apresentam mais dificuldades e/ou que gostam
menos. Esta informação é pertinente, para que consigamos ser influentes e
incutir o gosto pela prática de AF dos alunos, não só no presente, mas também
que esta seja levado em diante e faça parte da rotina dos mesmos.
As raparigas preferem o voleibol, enquanto os rapazes o futebol. Contudo,
a diferença entre estas duas modalidades na junção dos dois géneros é
mínima (1). No que refere à matéria com maiores dificuldades a maioria da
2Siglafictíciaparaonomedaaluna3Siglafictíciaparaonomedaaluna4Siglafictíciaparaonomedaaluna5Siglafictíciaparaonomedaaluna6Siglafictíciaparaonomedaaluna
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turma respondeu a ginástica. Estes dados serão alvo de uma reflexão no
momento do planeamento anual para a turma (5.3.1 Planeamento anual).
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4. ESTÁGIO PROFISSIONAL: DA COMPREENSÃO ÀS
EXPETATIVAS
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4. ESTÁGIO PROFISSIONAL: DA COMPREENSÃO ÀS EXPETATIVAS
4.1. O que é o Estágio Profissional?
“Aprender a ser professor é uma viagem longa e complexa, repleta de desafios
e de emoções.” (Arends, 1995)
O EP é o culminar de toda a etapa universitária, é o ano em que
colocamos à prova tudo aquilo que retivemos.
A intenção do estágio, consiste não só no ganho de experiência, como
também se espera que sejam aplicados os conhecimentos adquiridos ao longo
desta etapa. Desta forma, e do meu ponto de vista, o estágio é fundamental
pelos motivos referidos anteriormente, mas também pelo facto de ser um ponto
de partida para nos inserirmos no mercado de trabalho. Borko (1986), encara a
fase de iniciação como um tempo de tensões e aprendizagens intensivas, em
contextos normalmente desconhecidos, no qual os professores principiantes
devem desenvolver os conhecimentos profissionais e, simultaneamente,
conseguir manter um certo equilíbrio pessoal.
“O professor começa a construir-se desde o momento que decide abraçar
a carreira” (Campos, 1995), apesar de que, esta acaba por ir se construindo à
medida que o tempo passa, sem nos apercebermos, por influência das
experiências que tivemos como alunos e através de outros contactos. Porém o
período inicial é fundamental para criar bases para o futuro, estimulando por
exemplo, as práticas reflexivas de autoaprendizagem, manter-se atualizado e
modernizar no que confere à atividade educativa (Campos, 1995). Ser um
profissional ativo, crítico com as situações que acontecem, seja preocupado
com os valores humanos e o desenvolvimento integral dos alunos (Estrela,
Esteves & Rodrigues, 2002).
A fase inicial de estágio é muito trabalhosa, é uma nova realidade para os
estagiários, pelo que a forma como são recebidos na escola, o tipo de
acompanhamento que lhe é cedido, a partilha de experiências com os colegas
mais experientes, são essenciais no processo de socialização. O início de
carreira é o momento que nos dedicamos de corpo e alma ao que estamos a
21
fazer graças ao grande entusiasmo e dedicação, mas “é também um momento
de grande responsabilidade, de incertezas e de inseguranças, que pode
resultar em descontentamentos face à profissão” (Matiz & Lopes, 2009).
O professor principiante encontra inúmeros constrangimentos quando se
depara com a realidade, podendo representar um ponto crítico e,
frequentemente difícil no desenvolvimento profissional, em que poderá ocorrer
o que Muller Fohbrodt et al., (1978) cit. por Veenman, (1984), intitulam de
“choque com a realidade” (reality schock) (Marques, 2011). Torna-se pertinente
entender o porquê, enumerando as causas, para se poder estabelecer
estratégias de intervenção, com vista à sua minimização ou irradicação, tendo
em conta que os fatores que desencadeiam o choque são variados, podem
apresentar-se nas instituições de formação, nas escolas e nos próprios
professores.
Existem outras expressões que têm surgido na literatura, como é o caso do
“choque de transição” elegido por Corcoran (1981) cit. por Marques (2011), que
defende que este pode conduzir a um estado de paralisia, que torna os
professores incapazes de transferirem para a sala de aula os conhecimentos
que aprenderam e desenvolveram ao longo do estágio curricular.
Através do EP os futuros professores adquirem uma maior noção da
realidade com que se deparam, das perspetivas de carreira e o que se passa
no mundo de trabalho (Cole & Knowles, Jardine & Field, kuzmic). Os níveis de
maturidade e de autoconfiança dos alunos aumentam, normalmente durante o
EP (Amaral et al., Kuzmic; Simões & Ralha Simões, Sprinthall & Sprinthall).
O estágio deve trazer um leque de experiências significativas, com intuito
de fomentar competências imprescindíveis ao desempenho de forma autónoma
e eficaz dos futuros profissionais (Caires & Almeida, 2000).
Após o EP, sinto que evolui, sinto que estou mais autoconfiante e capaz de
liderar de forma satisfatória uma turma. Na minha forma de pensar e agir
perante os alunos, a capacidade de me adaptar às imprevisibilidades que
acontecem. Acredito que se não fosse o EP, iria ter, o que foi mencionado
anteriormente, um “choque com a realidade” de forma mais pronunciada.
22
A minha passagem pela escola enquanto estagiária inicialmente foi um
pouco atribulada, no sentido em que fomos alvos de uma série de informações
e tarefas a serem cumpridas, facto que me fez colocar em causa se tinha
capacidade de dar resposta ao que era pretendido. Tudo o que fazia, UD, PA
demorava o dobro ou triplo do tempo do que na fase final. As dificuldades que
mais sentia ao dar aulas, controlo da turma na totalidade, dar Feedbacks (FB)
específicos e individualizar os exercícios, foram sendo superadas ao longo do
tempo.
4.2. As Minhas Expetativas para o Estágio Profissional
Após o primeiro ano do mestrado, que se centrou fundamentalmente em
aspetos teóricos durante primeiro semestre, passando para o segundo com
uma maior ligação à componente prática, a verdade é que todas as aulas
lecionadas foram dadas em grupo. Seguramente foi fundamental para ter
algumas noções do que iria acontecer no estágio, mas quando chegamos à
realidade e estamos sozinhos as coisas mudam. Dar aulas de EF, foi o que
sempre ambicionei, portanto não questionei esse aspeto. O que me deixava
insegura era saber se era capaz de adaptar adequadamente os exercícios
perante o contexto, e se saberia avaliar e classificar da forma mais correta.
As minhas expetativas passavam por ser uma professora motivada a
lecionar aquilo que adoro, de tal forma que os alunos se sentissem igualmente
motivados e viessem com uma boa pré-disposição para as aulas.
Em relação à turma, o que lhe disse desde início foi que, não queria criar
muitas expetativas em relação ao que ia acontecer ao longo do ano letivo,
apenas pedi que fossem compreensivos, empenhados e acima de tudo
respeitadores.
Um dos meus objetivos era que a turma evoluísse quer ao nível motor,
cognitivo e socioafetivo, como em questões relacionadas com a pontualidade
que foi um dos aspetos que mais batalhei ao longo do ano letivo, pelo facto de
ser a primeira aula da manhã e terem uma tolerância de atraso superior às
restantes aulas, o que se tornou mais complicado contrariar. A questão das
23
meninas e os cabelos amarrados foi outra batalha, que me deparei, no entanto
já cumprem com a regra sem ter que andar sempre a relembrar.
No início do ano letivo a turma era formada por grupos com alunos vindos
de diferentes turmas, com o passar do tempo, a turma foi criando uma maior
empatia entre eles, havendo também alguns conflitos pelo meio entre algumas
raparigas, que foram sendo atenuados o que fez com que atualmente já sejam
amigas. Com a entrada e saída de alunos, os grupos também foram sofrendo
alterações. De uma forma geral, na turma, apesar de haver grupos, dão-se
todos bem, nunca houve uma situação em que tivesse que me aborrecer muito,
o que é uma mais valia e confirmação de que é uma boa turma.
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5. ESTÁGIO: DA TEORIA À PRÁTICA
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5. ESTÁGIO: DA TEORIA À PRÁTICA
5.1. Início do Novo Desafio
Nos dias que correm, independentemente qual seja a área que estamos
inseridos, é fundamental a existência de um estágio, pois cada vez mais, um
dos requisitos exigidos pelas entidades para contratação das pessoas é a
experiência. Este é um assunto debatível, pois existem cursos que não têm
estágio, e a probabilidade desses alunos conseguirem emprego na sua área,
sem formação poderá ser menor, ou não.
Contudo, vou apenas centrar-me na nossa área que é a da EF. O estágio
para os futuros professores é imprescindível, porque é a primeira vez que
contactam com o mundo real, que trabalham com os jovens e estão em
contacto com profissionais experientes. Tudo isto revela-se uma mais valia, o
professor-estagiário tem a oportunidade de inserir-se numa cultura escolar,
onde imergem diversos valores, normas, hábitos, costumes e práticas que
influenciam a forma de pensar, sentir e agir dessa comunidade específica
(Batista & Queirós, 2015), tendo sempre a orientação do PC.
Borko (1986), cit. por Marques, (2011) analisa a fase de iniciação como
uma fase de tensão e aprendizagens constantes, em ambientes normalmente
anónimos, no qual é pretendido que os professores-estagiários desenvolvam
conhecimentos profissionais, ao mesmo tempo que encontrem um certo
equilíbrio pessoal.
Outros aspetos contextuais como uma formação inicial desadequada ou
pouco adaptada às competências que a docência exige, a falta de
equipamentos, a excessiva pressão social e da escola e a sobrecarga de
trabalho poderão conduzir ao “choque com a realidade”, como já foi referido
anteriormente.
Vonk (1989), cit. por Marques, (2011) fez um estudo que permitiu
identificar os problemas mais mencionados pelos docentes. Os problemas com
que mais se deparam durante o primeiro ano são: a falta de conhecimentos
que possuem, as capacidades e atitudes do docente no controlo da aula, no
relacionamento com os alunos, gestão dos comportamentos de indisciplinas, o
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relacionamento com a administração, com colegas e com os pais na
participação nas atividades escolares. O mesmo autor divide os problemas a
dois níveis: micro (oriundos da sala de aula) e macro (relação com os colegas,
direção da escola e responsáveis dos alunos). No que diz respeito ao nível
micro os principais problemas são:
• Organização das atividades de ensino e aprendizagem (organização
das atividades para grupos heterogéneos, instrução,
individualização das tarefas para os alunos);
• Controlo, disciplina na aula e estabelecimento de regras;
• Motivação e participação dos alunos;
• Sentimentos em relação à sua prestação (stress, sentimentos de
fracasso);
• Relação com os alunos.
Relativamente ao nível macro, são identificadas as seguintes:
• Problemas relacionados com a organização e funcionamento da
escola;
• Problemas no relacionamento com colegas docentes e direção da
escola;
• Complicações no relacionamento com os responsáveis dos alunos.
Durante o meu estágio, em relação ao nível macro posso afirmar que não
tive problemas. Relativamente ao nível micro serão abordados alguns dos
problemas mais à frente nos pontos 5.3.3 Planos de Aula e 5.5.1 A
Disciplina na Aula.
É através do contacto diário com os docentes experientes, onde ocorre
uma partilha de conhecimentos e vivências, que os futuros docentes vão ao
longo do tempo entender todos os acontecimentos e responsabilidades
envolvidas na atividade do professor (Keay, 2007, cit. por Batista & Queirós,
2015) e com isto adquirir as competências que são precisas para dar resposta
aos requisitos ligados à sua profissão.
Durante o primeiro ano de docência os professores passam por dois
períodos diferenciados: o período limiar que ocorre nos primeiros cinco/seis
meses, onde são representados o isolamento e o primeiro contacto com a
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escola e a turma (para a maioria é a primeira vez que estão responsáveis por
um grupo grande de crianças, logo traduz-se num período de insegurança). O
segundo período é o do crescimento ou maturação que acontece nos seis
meses subsequentes e é determinado pela aceitação do docente por parte dos
colegas de profissão e dos alunos. Os níveis de confiança e segurança
aumentam o que o leva a experimentar novas coisas e pôr os conhecimentos
adquiridos na sua formação inicial em prática (Vonk 1983 cit. por Marques
2011). Apesar do autor fazer referência ao primeiro ano de docência, enquanto
estagiária eu revejo-me nesta condição. Parti de uma fase onde reinava
alguma insegurança e confiança para atualmente estar mais segura daquilo
que faço.
As atitudes do professor, podem ser influenciadas consoante o tipo de
alunos que temos à frente. Se temos alunos motivados e empenhados será
mais fácil nós atuarmos, porém se temos alunos mal-educados e preguiçosos a
nossa atitude será completamente diferente.
5.2. Os Primeiros Passos na Escola/Turma
A partir do momento em que o PC me contactou a informar-me a data de
início do estágio comecei a “cair na real”, estava para breve o início do meu
sonho, mas com ele surgiram algumas incertezas. Serei capaz de corresponder
com sucesso a este desafio? Serei capaz de controlar uma turma? Ter que
lidar com o início da adolescência, (fase em que os meus alunos se
encontram), seria uma problemática? Os exercícios que irei aplicar serão os
mais adequados aos alunos?
Mesmo já estando ambientada à escola, fiquei ansiosa para a primeira
reunião do ano letivo com os colegas professores do departamento de EF.
Entretanto passou, pois reencontrei professores que ainda estão na escola
desde a época em que a frequentei como aluna, alguns deles tinham-me dado
aulas desta disciplina e reconheceram-me. Rapidamente a curiosidade em
saber o que estava lá a fazer foi grande, quando explicado o motivo
receberam-me de braços abertos e dispuseram-se a ajudar no que precisasse.
29
Nesta reunião foi distribuído os horários com as turmas aos professores.
Ao meu PC foram atribuídas quatro turmas, três de 12º ano e uma de 10º ano.
Fui a primeira estagiária a escolher, visto que o processo de estágio da UMa
ainda não tinha iniciado, tomei a liberdade de escolher a turma de 10º ano. A
minha preferência seria lecionar aulas no 2º ciclo, por ser a faixa etária que
mais me fascina, por os alunos estarem mais predispostos a fazer as aulas e
gostarem de EF. Não tendo essa possibilidade, a minha escolha recaiu sobre o
10º ano, pois a faixa etária dos alunos é mais baixa, ainda existem muitos
alunos que gostam de EF e por estarem numa fase de transição de ciclo. O
facto de se encontrarem no início da adolescência era algo que me preocupava
um pouco, pois passei por essa fase há pouco tempo, tenho as memórias bem
presentes e sei como são os alunos nessa fase, mais “chatos”, nunca estão
satisfeitos com nada, mais irritadiços, etc. Entendi que tinha capacidades de
corresponder a este desafio e assumi o cargo de professora dessa turma.
Estas reuniões iniciais servem então para transmitir informações relevantes
sobre o decorrer da prática pedagógica, a forma de funcionamento do grupo de
EF e também da escola.
Durante esses primeiros dias, o reencontro com outros docentes de outras
disciplinas foi constante, alguns ainda se lembravam de mim outros nem tanto.
A apresentação feita a todos os membros da direção executiva foi também
fundamental, para saber a quem tinha de dirigir-me caso fosse necessário.
A verdade é que a forma como fui recebida por todos deixou-me mais
confortável e pronta para começar.
Os Primeiros Passos na Turma Chegou o primeiro dia de aulas, 19 de setembro de 2016, a primeira aula
do ano letivo foi de EF. Estava ansiosa, foi a primeira vez que estive em
contacto com os meus alunos, na aula de apresentação. Esta começou com
uns percalços, a sala de EF não estava limpa e continha alguns materiais de
construção, não estando em condições para dar aulas, tivemos que ir para a
sala de ténis de mesa, não tínhamos retroprojetor lá, tive que adaptar-me às
condições que tinha.
30
Diante o olhar atento dos alunos à espera de perceber o que se passava, o
porquê de ter supostamente um professor de EF e também estar outra pessoa
lá. Comecei por apresentar-me como estagiária, falei sobre o meu percurso
académico e desportivo, dos meus objetivos, grelhas de avaliação e regras a
serem implementadas. Como nem todos os alunos se conheciam devido à
transição de ciclo (3º ciclo para o secundário), acabei por fazer dinâmicas de
grupo para que todos se conhecessem minimamente. Sendo que a primeira
era colocarem-se por ordem da lista, obrigando-os assim a perguntar o nome
uns aos outros e também uma forma de perceber se estavam todos os alunos.
Posteriormente cada um apresentava-se, dizendo o nome, idade, se eram
atletas federados ou se já tinham sido, qual a modalidade preferida, a que
tinham mais dificuldades e ainda se já tinham alguma ideia do que queriam
seguir futuramente.
Apesar de nem todas as dinâmicas de grupo terem sido realizadas devido
à mudança de instalação, o balanço feito da primeira aula foi positivo, e senti-
me à vontade nesse primeiro momento de partilha com a turma.
“A turma apesar de ainda estar muito introvertida e pouco participativa,
aparenta ser acessível, os alunos são respeitadores e educados.” (Reflexão
aula nº 1 de apresentação, 19-09-16)
Em síntese, os alunos receberam-me bem, demonstraram algum
entusiasmo por terem a oportunidade de colaborar no processo de estágio,
como também pelo facto de normalmente associaram professores estagiários à
probabilidade de experienciarem modalidades ou exercícios mais
diversificados.
Terminei assim a primeira aula satisfeita, a primeira impressão da turma foi
muito positiva, o que fez com que a minha vontade de passar à parte prática
fosse ainda maior.
Estrela (s.d.) cit. por Oliveira, (2002) refere que o primeiro impacto que
temos perante a turma, a exposição e definição das regras para as aulas, as
recomendações, a curiosidade recíproca entre professor e aluno e a empatia
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gerada, são acontecimentos importantes para o arranque de um bom ano
letivo.
Foi também a partir desta fase que comecei a pensar nas modalidades a
abordar em cada período, dado que o roulement de instalações já estava
definido para os períodos. Como tal, o planeamento anual começou a ser
construído.
5.3. O Planeamento
“Trata-se de prever possíveis cursos de ação de um fenómeno e plasmar de
algum modo as nossas previsões, desejos, aspirações e metas num projeto
que seja capaz de representar, dentro do possível, as nossas ideias acerca das
razões pelas quais desejaríamos conseguir, e como poderíamos levar a cabo,
um plano para se concretizar.”
(Zabalza, 1994)
O planeamento de acordo com Ilg cit. por Bento, (2003, p. 13) é “um meio
de reconhecimento antecipado e de regulação do comportamento atuante,
assumindo as funções de: motivação, estimulação, orientação e controlo,
transmissão de vivências e experiências, racionalização da ação. Entre estas, o
ponto fulcral reside nas funções de orientação e controlo e na de
racionalização.”
Isto significa que, o planeamento passa por uma antecipação, onde o
professor deverá prever algumas situações que possam surgir e como as
contornar. A orientação e controlo da atividade, requer uma atenção redobrada
para verificar eventuais falhas que possam existir e que não foram projetadas
previamente, devem rapidamente ser corrigidas para não se reproduzir em
impactos negativos na aprendizagem dos alunos. Quando mais detalhado for o
planeamento da sua ação, maior é a eficácia na transmissão dos
conhecimentos, e consequentemente maior é a interiorização por parte dos
alunos.
Assim sendo, o planeamento acarreta uma pertinência elevada, no modo
como a aprendizagem dos alunos será conduzida. Rink (1996) advoga que o
32
planeamento se define como um esboço em que consta uma sequência lógica
de aprendizagem, devidamente justificados por objetivos a serem seguidos.
É essencial salientar que um bom planeamento não é sinónimo de uma
boa aula, pois nesta estão diversos fatores em jogo, no entanto pode garantir
uma melhor dinamização da aula, porque este conduz a nossa prestação
(Vieira, 1993). No entanto, uma má preparação é um fio condutor para que a
aula não seja bem conseguida.
A planificação envolve várias etapas, primeiramente é feita uma pesquisa,
onde serão selecionadas algumas ideias, ideias essas que terão que ser
exequíveis. Após estes passos segue-se a conceção da ação e a
reformulação, caso seja necessário.
No decorrer da preparação para o ensino, solicita-se a produção de três
níveis de planeamento distintos: o planeamento anual, as UD e os PA.
De salientar que no planeamento anual e das UD foi aplicado o Modelo de
Estrutura do Conhecimento (MEC), (Vickers, 1990). A autora defende que este
é um instrumento de trabalho que facilita a distribuição da informação. O intuito
da utilização do MEC é poder demonstrar como uma matéria é estruturada e
organizada que servirá de guião para o processo de ensino, tal como a
possibilidade de ligar essa mesma à metodologia e às estratégias para o
ensino. O MEC apresenta 8 módulos divididos por três fases: a primeira é a
análise, onde estão presentes os módulos 1 (caracterização da modalidade e
conteúdos programáticos), 2 (análise do envolvimento) e 3 (análise dos
alunos). A segunda é a decisão, onde consta os módulos 4 (determinação da
extensão e sequência dos conteúdos), 5 (definição dos objetivos), 6
(determinação da avaliação) e 7 (criar progressões de ensino). Por fim a
aplicação, módulo 8 (a informação é sintetizada e reportada dos planos de
aula; progressões individuais para a prática).
A escolha das modalidades a serem abordadas ao longo do ano letivo, foi
feita de acordo com o Programa Nacional de Educação Física (PNEF), com as
preferências dos alunos e as instalações atribuídas para cada período.
Já tinha uma ideia inicial das modalidades que queria abordar, no entanto
a distribuição ao longo do ano letivo foi um processo mais complicado. O facto
33
de não saber bem o número de aulas ideal para lecionar uma modalidade,
deixou-me um pouco desorientada. Para que chegasse a um acordo
questionei-me “O que é que eu pretendo com estes alunos? Onde e como
posso fazer a diferença enquanto docente?”. A minha ideia foi então não dar
muitos conteúdos para que os que fossem dados conseguissem ficar
consolidados. No término de cada período o plano foi fazer uma aula diferente,
podendo ser a critério do docente ou do aluno.
O planeamento é um processo contínuo, que pode ser reestruturado à
medida que o tempo vai passando, ou seja, é flexível, e de acordo com a
situação que nos encontramos, e a evolução que os alunos obtiveram é feito
um ajustamento.
5.3.1. Planeamento Anual
Através do plano anual o docente obtém uma perspetiva geral onde está
presente um programa de ensino para a sua turma. Este documento é
generalizado, ou seja, não tem muitos pormenores ao nível da ação, necessita
de uma preparação quer ao nível da reflexão a longo prazo como da análise.
Sendo este o ponto de partida, as singularidades surgem com outro nível de
planeamento, das UD e nos PA, daí este documento ser de âmbito mais global
e flexível (Bento, 2003).
O objetivo da criação destes documentos é sintetizar toda a informação
necessária para que a nossa atuação, enquanto professores, seja facilitada e
executável de elaborar um processo de ensino-aprendizagem coerente.
O planeamento anual foi desenvolvido individualmente dentro no núcleo de
estágio, visto que as ideologias defendidas por alguns docentes da UMa, são
diferentes das que foram ensinadas pela FADEUP. O PC apenas nos deu
algumas ideias gerais para alguns aspetos em comum, como a caracterização
da turma e do envolvimento (módulo 2 e 3), que fossem aplicáveis em ambos
os modelos.
34
O módulo 4 (extensão e sequência dos conteúdos) foi baseado nas minhas
preferências ao nível das modalidades a lecionar e nas dos alunos, e a
sequencialização das mesmas ficou a meu cargo.
O PC não impôs qualquer restrição na escolha das modalidades, no
entanto salientou que o departamento de EF tem estabelecido para os
diferentes ciclos de ensino, as modalidades a serem lecionadas nos diferentes
períodos, que servem de guia para o diretor de instalações distribuir os
espaços pelas turmas. Referiu que as modalidades poderiam ser as mesmas
ou diferentes, tendo em conta a instalação atribuída. A troca de informações
com os colegas de estágio fez-me perceber que a entreajuda nesse ponto não
seria muita, pois eles iam fazer exclusivamente uma UD para todo o ano,
podendo dar diferentes modalidades durante as semanas e não só as mesmas
durante um período.
A minha decisão para o planeamento teve por base vários aspetos: as
preferências e as dificuldades da turma; as minhas preferências; os recursos
materiais disponíveis; o mapa das instalações e as matérias a abordar no 10º
ano de acordo com o PNEF (2 Desportos Coletivos, Ginástica ou Atletismo,
Dança e 2 outras: Desportos de Raquetes, Combate, Natação, Patinagem,
Atividades de Exploração da Natureza, entre outros) (Jacinto et al., 2001).
Desta forma as escolhas recaíram sobre:
• Para os Desportos Coletivos, as preferências dos alunos recaíram sobre
o futebol e o voleibol. Sendo ainda mencionado o andebol, por dois
alunos, um deles é atleta federado e a outra já foi. A primeira ideia que
me ocorreu foi a possibilidade de aplicar o Modelo de Educação
Desportiva, utilizando-os como treinadores;
• Em relação à ginástica e ao atletismo, a ginástica foi apontada como
uma das modalidades com maiores dificuldades, então pensei na
possibilidade de dar uma parte de ginástica acrobática misturado com a
de solo. Inicialmente o atletismo não fez parte dos meus planos, porém
no decorrer das aulas alguns alunos demonstraram interesse em
abordar esta modalidade, logo introduzi-a no 3º período;
35
• A dança foi das modalidades que sempre fez parte dos meus planos,
pois foi uma modalidade que não tive na escola e tinha curiosidade em
tê-la, apesar de saber que existe pouca aceitação dos alunos numa fase
inicial;
• A escolha das outras 2 modalidades foram duas de desportos de
raquetes, badminton e ténis de campo;
• Durante o 1º período, às segundas-feiras, foi atribuído à minha turma o
pavilhão sul (4S), onde foi dado voleibol. E às quartas-feiras os campos
do polidesportivo sul (2S), onde foi lecionado o futebol. No 2º período às
segundas-feiras continuei com o pavilhão, mas desta vez com a parte
norte (4N), onde foi dado a dança e ginástica acrobática. Às quartas-
feiras fiquei com o polidesportivo norte (2N), onde foi lecionado o
andebol. Para o 3º período, as instalações foram iguais às do 1º
Período, nos mesmo dias, às segundas-feiras dei então badminton e às
quartas-feiras ténis de campo e atletismo;
• No que diz respeito às avaliações do FitnessGram, em conjunto com o
PC decidiu-se que seriam feitas duas avaliações, uma durante o 1º
período (16 de novembro de 2016) e posteriormente no 2º período (22
de março de 2017);
• É importante salientar que algumas aulas definidas inicialmente na UD
não foram realizadas devido às condições climatéricas adversas que se
fizeram sentir durante o 1º, 2º e 3º período. O que acabou por ser feito
foi utilizar esse PA para a aula seguinte e partir para o plano alternativo
realizado para estas eventualidades.
Por último, o plano anual foi idealizado tendo em conta o calendário
escolar, no que diz respeito aos módulos 4 e 8 do MEC (Anexo I). Através da
tabela que se segue (tabela 1), é possível visualizar a quantidade de aulas
lecionadas por modalidade, distribuídas pelos 3 períodos. Durante a última
semana de aulas de cada período as aulas são livres, ou seja, acabei por dar
modalidades diferentes ou então deixava a critério dos alunos escolherem o
que queriam fazer.
36
Tabela 1 – Número de aulas por modalidade, distribuídas pelos 3 períodos.
5.3.2. Planeamento das Unidades Didáticas
Este tipo de planeamento é mais pormenorizado do que o planeamento
anual, este procura sequencializar de forma lógica a matéria de ensino. É
também um método de organização das atividades para as aulas (Bento,
2003).
Consiste essencialmente em ajustar a matéria ao nível e características
dos alunos e às condições do ensino que temos.
A estruturação de cada UD é feita tendo em consideração os objetivos, o
planeamento anual e o PNEF (Bento, 2003).
Desta forma, enquanto no planeamento anual estão apenas referenciadas
quais as modalidades que tencionava abordar ao longo do ano letivo e o
respetivo número de aulas, nas UD estão especificados os conteúdos a serem
lecionados numa parcela representativa do planeamento anual.
Na visão de Bento (2003, p. 60), “a duração de cada unidade depende do
volume e da dificuldade das tarefas de ensino e aprendizagem, de princípios
psicopedagógicos e didático-metodológicos, acerca da organização e
estruturação do processo pedagógico, do estado de desenvolvimento da
personalidade dos alunos”.
A duração de cada UD variou entre 4 a 11 aulas, dependendo da extensão
do período, é possível visualizar na tabela 1 referente ao planeamento anual
(5.3.1. – Planeamento Anual). Na modalidade em que o número mínimo de
aulas foi igual a 4 (3º período – atletismo) defini que em cada aula seria dado
um novo conteúdo, ou seja, acabariam por se tornar em aulas mais isoladas.
Por outras palavras, cada aula dada seria direcionada para uma disciplina do
atletismo, e na aula seguinte já não dava ênfase ao mesmo. Já as modalidades
em que o número máximo de aulas era igual 11, tentei não dar muitos
conteúdos para atingir as competências que pretendia.
37
Esta foi das fases em que senti mais dificuldades em realizar, pois para
além de não saber bem quais os conteúdos que deveria abordar, também a
sequencialização dos mesmos nas aulas revelou ser algo que me deixou
preocupada numa fase inicial. Apesar de nós na nossa formação académica
termos feito o planeamento de uma UD, foi em grupo, tínhamos a opinião de
mais do que uma pessoa para a sua execução. Além do mais, esta era fictícia,
ou seja, não foi aplicada em nenhuma turma.
A escolha da matéria a ser colocada nas UD começou um pouco por ser
uma incógnita, em que queria lecionar tudo num espaço de tempo reduzido,
acabando por às vezes tocar em pontos de uma forma mais generalizada. Ao
longo dos períodos a quantidade de informação a ser transmitida foi mais
ponderada, onde os poucos aspetos a ser lecionados, eram dados mais
profundamente.
Cada UD encontra-se repartida em três domínios: psicomotor, cognitivo e
socioafetivo. Dentro destes módulos estão definidos objetivos gerais e
específicos (módulo 5) para cada modalidade dada.
No domínio psicomotor estão integradas as habilidades motoras, que são
ligadas à modalidade lecionada (a serem escolhidas após a Avaliação
Diagnóstica (AD)) e a condição física (capacidades condicionais: resistência,
força, velocidade e flexibilidade; capacidades coordenativas: ritmo, equilíbrio,
diferenciação cinestésica, orientação espacial).
O domínio cognitivo reportou-se às regras de cada modalidade, conteúdos
técnico-táticos e à terminologia utilizada, que dizem respeito à cultura
desportiva. Estas matérias foram abordadas no decorrer das aulas, e
relembradas sempre que foi preciso.
Em relação às habilidades motoras (técnica e tática) de cada modalidade,
formulava uma ideia do que poderia vir a abordar, no entanto, esta decisão só
era finalizada após lecionar a AD, com intuito de perceber se era adequado ao
nível dos alunos. As propostas que se encontram no PNEF para o 10º ano,
grande parte do tempo não foram cumpridas, pois os conteúdos estavam
desajustados às reais capacidades dos alunos. Os alunos encontravam-se
num nível inferior ao que era referido no PNEF para diferentes modalidades.
38
Costa, (1998) defende que “cada turma tem o seu ritmo de aprendizagem e
que dentro desta, cada aluno tem o seu próprio ritmo”.
Os aspetos integrantes no domínio socioafetivo, foram transversais
durante todo o ano letivo.
Assim como o planeamento anual, o das UD’s é um processo que pode
sofrer alterações, tendo em conta a evolução e desempenho dos alunos
através da avaliação formativa realizada durante as aulas.
O ajuste nas UD’s foi evidente durante o 2º período. Inicialmente tinha
estipulado que metade do período lecionava ginástica acrobática e a outra
metade ginástica de solo/aparelhos. No entanto, não correu como o esperado,
os alunos não conseguiram montar o esquema coreográfico no prazo
pretendido e tive que o alargar.
“Na quarta aula de ginástica acrobática, era esperado que os grupos
estivessem numa fase mais avançada do esquema coreográfico, contudo ainda
estão numa fase mais inicial de construção (...). Dado o atraso de alguns
grupos, foi alargado o prazo para a apresentação do esquema (...).” (Reflexão
da aula nº 4 de ginástica acrobática, 30-01-17)
“Na sétima aula de ginástica acrobática, estava previsto começar a lecionar a
parte de ginástica de aparelhos, tal não aconteceu, pois, um dos grupos está
muito atrasado e caso introduzisse esta disciplina da ginástica, estes não
fariam mais nada da acrobática e não era isso que pretendia.” (Reflexão da
aula nº 7 de ginástica acrobática, 20-02-17)
5.3.3. Planos de Aula
Os PA são o reflexo da fusão entre o pensamento e a ação do professor
(Bento, 2003). O mesmo autor refere que “antes de entrar na aula, o professor
já tem um projeto da forma como ela deve decorrer, uma imagem estruturada,
naturalmente, por decisões fundamentais”, ou seja, isto ir-lhe-á dar maior
segurança e satisfação com o seu trabalho. Uma aula bem estruturada deverá
conter objetivos, o que é que se pretende que os alunos atinjam, de acordo
39
com a matéria destinada para aula, que consta na UD. Escolher exercícios que
vão ao encontro dos objetivos, que deve seguir uma progressão pedagógica
coerente. A descrição do próprio exercício, a sua duração (pode ou não incluir
o tempo de instrução), os critérios de êxito para executar a tarefa com sucesso,
e ainda a organização didática metodológica, isto é, como será organizado o
exercício (disposição dos alunos, do material, etc.).
A construção dos PA não foi uma novidade, esta tarefa foi realizada
durante o primeiro ano do mestrado, nas diferentes modalidades em que
tivemos a oportunidade de dar aulas nas escolas. Ou seja, foi algo que até tive
alguma facilidade em fazer, apenas algumas vezes aconteceu ficar indecisa na
escolha dos exercícios que mais se adequavam às diferentes situações e
enunciar quais os critérios de êxito.
Os PA realizados para as escolas foram realizados em grupos, assim
como aplicados nas aulas em grupos, o que por vezes, era uma mais valia,
pois partilhávamos opiniões sobre os exercícios a usar.
Para que não houvesse muita discrepância nem variação na estrutura dos
PA, acabei por me basear num plano, de entre os que foram feitos no ano
anterior, e que achei que era o mais indicado para me orientar, e que fosse de
fácil consulta.
No cabeçalho dos PA encontram-se as seguintes informações: nome do
docente, modalidade, data, ano, turma, nº alunos, nº da aula, duração,
material, função didática, objetivos da aula e observações.
Em seguida apresenta-se uma tabela com as seguintes divisões: parte da
aula (inicial, fundamental e final), duração (desde o início do exercício até ao
término, inclui a instrução e algumas transições), situações de aprendizagem
(descrição dos exercícios), organização didática (como é que os alunos estão
distribuídos pelo espaço), critérios de êxito (o que é que os alunos têm que
cumprir para fazer a tarefa correta) e objetivos específicos dos exercícios
(ANEXO II).
Ainda em relação às diferentes partes da aula, a inicial destina-se à
ativação geral dos alunos, onde normalmente eram propostas atividades
lúdicas, com características que fossem ao encontro da modalidade abordada,
40
para que os níveis de pré-disposição para a aula aumentassem e assim
“despertar a disponibilidade dos alunos para a aprendizagem e exercitação, de
os preparar psicologicamente para assumirem as tarefas da aula, de adaptar
funcionalmente o seu organismo às cargas sequentes” (Bento, 2003, p. 153-
154).
O facto de os alunos terem os dois blocos de EF à primeira hora da manhã
tornou-se um desafio, de modo a que as caras de sono rapidamente fossem
alteradas para a boa disposição, e desta forma se justificava a utilização de
atividades lúdicas.
A parte fundamental, como o próprio nome indica é a mais importante da
aula, deve ser a parte em que ocupa o maior tempo da aula. É nesta que são
abordados através dos exercícios, os conteúdos programáticos destinados na
UD. A minha principal preocupação foi dar uma maior diversidade de
exercícios, para que não se tornasse rotineiro e eles percebessem que através
de diferentes exercícios podemos trabalhar o mesmo objetivo. “A hipótese da
variabilidade das condições de prática prediz que o aumento da variabilidade
das experiências motoras vividas pelo sujeito durante a prática contribui para a
construção e o fortalecimento de esquemas de resposta mais genéricos.”
(Godinho, Mendes, Barreiros & Melo, 2007)
A parte final da aula era reservada para o jogo formal da modalidade em
questão, e em seguida o retorno à calma, onde eram feitos os alongamentos e
uma conversa final, que por vezes servia para enunciar o que seria dado na
aula seguinte, dar informações pertinentes, ou até fazer uma revisão sobre
conteúdos abordados.
Apesar de ter referenciado que, na elaboração do PA senti algumas
facilidades em fazê-lo, isto aconteceu após ganhar alguma prática em
executar, pois numa fase inicial, despendia muito tempo na sua elaboração.
Sentia dificuldades em, não só elucidar os objetivos que pretendia para a
aula, mas também para os próprios exercícios.
“O objetivo da aula não estava adequado aos exercícios realizados, pois
apesar de adotarem uma posição defensiva, a defesa estava em desvantagem,
41
ou seja, o ataque estava a ser beneficiado e não era isso que pretendia.”
(Reflexão da aula nº 3 de futebol, 12-10-16)
Outra dificuldade sentida foi na seleção dos exercícios. Nas modalidades
em que me sentia mais à vontade tinha um leque de exercícios mais variado, e
por vezes queria fazer todos, por achar que eram motivantes. Nas que me
sentia menos à vontade acabava por ir à procura dos que fossem ajustadas
aos objetivos.
O meu objetivo era planear aulas em que os alunos se sentissem
motivados e com vontade de realizar a aula, pois quando um docente faz um
bom planeamento e vê que os seus alunos estão a cumpri-lo e a evoluir o
professor sente-se concretizado (Bento, 2003). Foram vários os momentos em
que senti isso, e em algumas situações foram esses momentos que me deram
ainda mais força para continuar.
É importante não esquecer que o PA é apenas um guia para a aula, e por
vezes ocorrem algumas situações, como o desinteresse, cansaço ou os alunos
não estão a atingir os objetivos definidos, havendo a necessidade de fazer
adaptações aos exercícios. Visto que os alunos são todos diferentes e alguns
sentem mais dificuldades em cumprir com os exercícios, estes também foram
adaptados para situações menos complexas.
Ainda sobre a escolha dos exercícios para as aulas, uma das
consequências da quantidade de exercícios que tinha, era querer fazer por
vezes muitos exercícios que acabavam por ter uma duração reduzida. No
entanto, apercebi-me que isto nem sempre era viável, porque os alunos
ficavam com pouco tempo de exercitação e acabavam por não cumprir com o
objetivo pretendido.
“Uma dificuldade sentida nesta etapa foi que duração atribuir a cada
exercício para que se estabeleça o tempo regulamentar de aula.” (Reflexão da
aula nº 2 de futebol, 28-09-16)
42
Numa fase inicial tinha que “religiosamente” acabar à hora prevista para
não atrasar os outros, e assim todos os exercícios fossem feitos. Bento, (2003)
defende que o tempo estipulado para os exercícios, não deve ser encarado
com exatidão. Ao longo do tempo acabei por concordar com o autor e a mudar
de exercício quando achasse que era necessário.
Comecei então a aperceber-me que as coisas não poderiam continuar
como estavam, defini que a parte fundamental não deveria exceder os 3/4
exercícios que fossem ao encontro com o objetivo da aula. O que acabou por
ter uma eficácia superior.
O PA no início era consultado muitas vezes, pelos motivos acima
mencionados, mas ao fim de determinado período, esta tendência foi
diminuindo cada vez mais, e por iniciativa própria, comecei a ir alterando os
exercícios, principalmente da parte da inicial, do aquecimento e condição física,
como forma de ir me libertando deste auxiliar. Já no 3º período foram poucas
as vezes que imprimi o PA o que revela que a segurança a dar aulas estava
muito superior.
Em síntese, comparativamente ao que inicialmente fazia, senti que evolui
na construção deste documento. A minha capacidade de adaptação é superior,
no entanto é um aspeto que ainda devo continuar a melhorar. Sou capaz de
criar um PA com maior facilidade e rapidez, o que ao nível de tempo disponível
para outras atividades é superior.
5.4. Chegou ao Fim... Qual o Meu Contributo para os Alunos?
Nós enquanto professores-estagiários é normal que inicialmente nos
sintamos mais inseguros, pela responsabilidade obtida em liderar um grupo
grande de alunos.
Neste ponto do relatório, farei uma reflexão sobre o comportamento dos
alunos durante o ano letivo, a relação estabelecida com os mesmos, assim
como divulgarei algumas informações presentes no questionário que lhes foi
aplicado no último dia de aula, acerca das aulas de EF, mais concretamente
sobre o que mais gostaram das aulas, o que menos gostaram, o que
43
mudariam, como foi a minha intervenção como professora e qual foi o meu
contributo para o conhecimento deles.
No início do ano letivo os alunos não se conheciam todos, a timidez por
parte dos mesmos era grande, por ser uma mudança de ciclo (3º ciclo para o
secundário) e por serem oriundos de diferentes turmas.
Durante o ano letivo, posso assegurar que não tive grandes problemas em
relação ao comportamento dos alunos, de uma forma geral, apresentavam um
comportamento aceitável, demonstrando-se motivados para as aulas e
empenhados nas tarefas propostas. Todavia, havia um grupo de alunos que
eram brincalhões e pouco pontuais, que com o passar do tempo foram
melhorando.
Com o passar do tempo a turma tornou-se mais unida, estabelecendo-se
laços de amizade entre eles. Alguns exercícios utilizados essencialmente no 1º
período, para quebrar o gelo foram úteis para que os alunos se aproximassem
e fossem se conhecendo melhor.
A ideia inicial da primeira aula, foi que a turma era calma e acessível.
“A turma apesar de ainda estar muito introvertida e pouco participativa,
aparenta ser acessível, os alunos são respeitadores e educados.” (Reflexão
aula de apresentação, 19-09-16)
Porém, assim o foi até começarem a ganhar alguma confiança e a
conhecerem-se melhor, o que por vezes, levou a alguns comportamentos
desvio, que não eram previstos para a tarefa e, consequentemente, deram
origem a chamadas de atenção.
Durante o 1º período foi recorrente alguns alunos não realizarem as aulas,
a maioria por motivos pontuais, ou faltavam à mesma, o que me levava a ter de
ajustar os PA.
Sempre que os alunos estavam dispensados da parte prática da aula
tinham que realizar relatório da aula. Isto é algo que eles normalmente não
gostam de fazer, e foi também mais uma razão para começarem a fazer as
aulas mais frequentemente.
44
No final do 3º período posso referir que as coisas mudaram e raramente os
alunos ficavam em fazer aula.
No início do ano letivo a turma situava-se entre o nível inicial e intermédio
em praticamente todas as modalidades. Praticamente todos os alunos
evoluíram, no entanto, a evolução foi mais visível nos alunos que se situavam
no nível inicial. Os exercícios eram dados de igual forma para os níveis
diferindo apenas no grau de dificuldade.
Tendo em conta que na minha turma havia muitos alunos com problemas
de saúde, não ocorreu nenhum episódio grave durante as aulas.
Em relação às questões apresentadas aos alunos, na primeira “o que é
que gostaste mais nas aulas de EF?”, sete alunos responderam das aulas de
dança e cinco das aulas de andebol e quatro da condição física.
À pergunta “o que gostaram menos nas aulas de EF?”, todos os rapazes
responderam que foram as aulas de dança, já as raparigas de andebol e
futebol. Estes alunos são muito envergonhados e apesar de não terem gostado
das aulas, cumpriram com sucesso os objetivos estabelecidos para os mesmos
e ainda atuaram na demonstração de dança no eco-escolas (5.7.1.5
Demonstração de Dança no Eco-Escolas) ultrapassando assim algumas
inseguranças que tinham.
“O que mudariam nas aulas de EF?” onze alunos responderam nada, os
outros cincos tirariam a dança das modalidades abordadas.
Na pergunta “como é que achas que foi a minha intervenção enquanto
professora? Justifica”, as opiniões dividiram-se entre boa (6 alunos) e muito
boa (igualmente 6 alunos).
“Foi boa, intervinha sempre que necessário e ajudava quando era preciso.”
(IP7, questionário final)
“Foi muito boa, pois é uma boa professora, compreensiva, empenhada e
organizada.” (BF8, questionário final)
7Siglafictíciaparaonomedaaluna8Siglafictíciaparaonomedaaluna
45
Por fim, “qual foi o meu contributo para o teu conhecimento ao longo deste
ano?” todos afirmaram ter contribuído, uns em mais itens do que outros.
“Contribuiu no sentido em que aprendi coisas novas como a dança, algumas
formações em andebol, na ginástica e no badminton.” (FD9, questionário final)
“Contribuiu para o meu conhecimento, pois houve modalidades que nunca
tinha praticado, e agora já sei como as realizar, e também passei a saber mais
acerca dos desportos que já tinha praticado.” (IP10, questionário final)
“Contribuiu, porque a professora explicava-me como melhorar para conseguir
evoluir.” (AF11, questionário final)
A relação que mantive com a minha turma foi próxima e saudável, não foi
sempre a ideal, existiram altos e baixos, como é normal, visto que estão numa
fase delicada, a adolescência e muitas vezes não pensam na forma como
estão a agir ou a falar.
Foi um ano marcado pelo crescimento mútuo, onde tanto eu aprendi como
eles aprenderam comigo, o que é sem dúvida gratificante.
9Siglafictíciaparaonomedoaluno10Siglafictíciaparaonomedaaluna11Siglafictíciaparaonomedaaluna
46
5.5. Dificuldades e Potencialidades
5.5.1. A Disciplina na Aula
A disciplina no contexto da educação é uma temática que é trabalhada ao
longo dos anos, sendo um dos principais focos dos docentes, pois quando não
existe disciplina na aula, esta acaba por ficar comprometida. A disciplina está
relacionada com as regras implementadas no contexto de aula por parte dos
professores e com o cumprimento das mesmas por parte dos alunos.
A EF é uma disciplina peculiar devido ao facto de ser a única que ensina
através do corpo, quebrando assim a rotina das aulas nas quais os alunos
passam todo o tempo sentados. Como durante estas aulas estão em
constantes atividades que exigem cooperação ou oposição, há uma grande
interação entre eles e há possibilidade de ocorrer contacto físico, logo os
professores de EF devem dar especial atenção a este parâmetro, porque estas
aulas são muito propícias ao aparecimento de comportamentos desviantes.
O primeiro dia de aulas é a altura ideal para se estabelecer as regras a
serem usadas nas aulas, esclarecendo algumas dúvidas que possam surgir em
relação a este assunto, que vão permitir criar um clima favorável à
aprendizagem dos alunos, onde é visível que existe disciplina.
Qualquer comportamento desajustado deve ser logo corrigido, para que os
alunos percebem que as regras são para serem cumpridas e não foram criadas
só para estarem no papel (Oliveira, 2002).
O mesmo autor refere ainda que, apesar de nos primeiros dias de aulas
não haver grande variação no modo como correm as aulas, a partir da terceira
semana, se o docente não teve a preocupação de estabelecer as regras de
funcionamento das aulas e, respetivas punições, caso não sejam cumpridas, o
comportamento dos alunos acaba por ser cada vez pior.
Com a minha turma fiz o que foi ao encontro ao que foi referido
anteriormente. No primeiro dia de aulas, fiz questão de enunciar quais eram as
regras estabelecidas para o bom funcionamento da aula, deixei-os à vontade
para opinarem em relação às mesmas e saber se acrescentariam outras e
esclareci algumas dúvidas que foram surgindo.
47
Durante as primeiras semanas fui exigente em relação às regras,
relembrando-lhes sempre que necessário.
De uma forma geral não considero que a minha turma fosse indisciplinada,
no entanto não quer dizer que tenham sido sempre disciplinados. A turma
sofreu algumas alterações ao longo dos tempos, dois alunos mudaram de
curso, o que foi uma mais valia para a turma ficar mais calma, no sentido em
que as brincadeiras nas aulas foram menores. Para combater esta
“problemática” acabei por separar esses alunos, quando necessário, porém
nem sempre esta foi a solução mais benéfica para eles. Não considero que as
brincadeiras fossem excessivas, nem que destabilizassem a turma, pelo
contrário, apesar de estarem “nessa onda” faziam o que era pedido. Nos
momentos em que foram separados a prestação deles diminuiu
significativamente. Assim sendo, quando via que havia muita risota acabava
por ameaçar que ia separá-los e rapidamente voltavam a trabalhar com maior
seriedade.
Inicialmente algumas meninas não cumpriam com a regra dos cabelos
amarrados, sendo várias vezes chamadas à atenção, foi dito que na aula
seguinte se não o fizessem acabariam por ter que fazer um exercício de
condição física extra 100 vezes. Quando ocorrem maus comportamentos nas
aulas, o docente deve tentar entender qual a origem dessa atitude, para que a
nossa reação seja coerente (Oliveira, 2002).
A escola deve ser um local de aprendizagem, e não de valorização de
aspetos negativos. Esta deve atuar previamente para precaver a
desobediência (Oliveira, 2002).
Eu defendo que a educação se traz de casa, no entanto é importante
perceber que, por vezes as más companhias com que os alunos andam na
escola acabam por influenciar e alterar o seu comportamento nesta instituição,
como forma de se imporem e mostrarem aos outros “quem é que manda”. Por
isso, cabe também aos professores ajudar e orientar nesse sentido os alunos,
pois algumas vezes os problemas que existem nas escolas estão relacionados
com a própria instituição. De acordo com Nizet cit. por Oliveira, (2002, p. 92)
“as manifestações de agressividade, mal-estar e violência na escola por parte
48
de alguns alunos podem verificar-se por eles não encontrarem naquele espaço
o que os satisfaça ao nível dos conteúdos de aprendizagem, interação e
organização.” Apesar de que na minha turma não ter ocorrido este tipo de
situações mais graves, era visível alguma desmotivação dos alunos durante as
aulas, por não se enquadrarem no curso em que estão.
5.5.2. A Instrução
A instrução diz respeito à transmissão de informações aos alunos em
relação aos objetivos dos exercícios e critérios de êxito das tarefas propostas.
É através desta que vamos clarificar os conhecimentos de uma forma
simplificada, de modo a que os alunos a entendam e a executem bem na
prática (Godinho et al., 2007a). Reforçando esta ideia, Rosado & Mesquita,
(2011) referem que a comunicação é um dos requisitos essenciais da docência,
pois apresenta uma grande importância no processo de aprendizagem.
Esta temática foi uma das mais desafiantes, pois a forma como é dada a
informação, na minha opinião, é fundamental. Desde o princípio sabia que não
devia gastar muito tempo na comunicação, no entanto tinha receio de que as
informações dadas não fossem suficientes para que os alunos entendessem
aquilo que era pretendido.
“A minha comunicação deve ser mais precisa e coerente com os exercícios
e os critérios de êxito pretendidos, para que os alunos experienciam mais o
sucesso (...)” (Reflexão aula nº 6 de futebol 09-11-16)
O PC apercebeu-se deste problema e chamou-me à atenção e sugeriu-me
que encurtasse o tempo de instrução, focando-me apenas em dois ou três
pontos essenciais, porque o que fazia era dizer toda a informação importante e
os alunos acabavam por se perder pelo meio.
“A minha comunicação foi a maior parte do tempo reduzida, porque o que
aqui se pretendia era que houvesse muita exercitação.” (Reflexão da aula nº 9
de dança 13-03-17)
49
Isto aconteceu com as aulas no secundário, mas também no 2º ciclo, que
foi ainda mais desafiante, pois quanto mais tempo usarmos a falar mais
facilmente estes se distraem e não ouvem aquilo que queremos, ficando depois
com dúvidas. Em muitas ocasiões tive que voltar a repetir a explicação do
exercício. Por vezes entre o que os professores pretendem “dizer e aquilo que
efetivamente dizem pode haver uma diferença, que aquilo que o praticante
ouve não é, necessariamente, o que compreende e aquilo que compreende
não é, também, muitas vezes, o retido ou, finalmente executado” (Rosado &
Mesquita 2011, p. 72).
“Uma das falhas que tenho vindo a evidenciar é em relação à forma de
comunicação dos exercícios. Apercebi-me que apesar de explicar de forma
concisa, quando questionados se havia dúvidas disseram que não, no entanto
no momento de passar à prática já não sabiam o que era para fazer. A solução
para combater esta falha poderá ser expor o exercício ao mesmo tempo que
seja exemplificado.” (Reflexão aula nº 1 de voleibol 26-09-16)
“As estratégias utilizadas para a instrução dos exercícios nem sempre foi a
mais adequada, pois o facto de explicar com os alunos no sítio onde estavam e
sem demonstrar resultou numa perda de tempo, pois tive que voltar a explicar
novamente o exercício.” (Reflexão aula nº 1 de futebol, 2º ciclo, 16-01-17).
Como tal, comecei a refletir e a questionar-me: qual a melhor maneira de
instruir para os meus alunos? Quais são as componentes às quais devo dar
prioridade? Devo-me alongar nas explicações ou conciliar com a demonstração
daquilo que pretendo? A verdade é que comecei a explicar os exercícios ao
mesmo tempo que demonstrava ou pedia a um grupo de alunos para o
fazerem (consoante o que pretendia), e apercebi-me que eles mais
rapidamente entendiam o que era para fazer. Quando eram exercícios que os
alunos já tinham conhecimento apenas fazia referência e não era necessário
estar a perder tempo com a demonstração.
50
“A minha comunicação, comparativamente à aula passada foi melhorada,
nos exercícios foi utilizada a demonstração o que facilitou a compreensão dos
alunos neste aspeto.” (Reflexão da aula nº 4 de futebol, 2º ciclo, 06-02-17)
Através da instrução damos informações aos alunos sobre o objetivo da
tarefa e os seus critérios de êxito, enquanto que através da demonstração
fornecemos uma imagem visual da realização da tarefa a realizar. “A instrução
e a demonstração têm funções complementares na condução do sujeito, em
particular nas fases de aprendizagem iniciais, para níveis de desempenho
superiores.” (Godinho, Mendes, Melo & Barreiros, 2007, p. 123)
Inicialmente apercebi-me também que a minha instrução era focada muito
nos objetivos da tarefa e fazia pouca referência aos critérios de êxito. Acabava
por dar maior ênfase quando surgiam os erros e os corrigia. Com o passar do
tempo, defini que aquando a instrução explicava em que consistia o exercício e
o que pretendia com o mesmo e fazia referência a três ou quatro componentes
críticas do exercício.
Antes de cada aula voltava a relembrar os critérios de êxito enumerados
para os exercícios, para que durante a aula fosse capaz de corrigir os alunos
nesses pontos.
Algumas das vezes a minha comunicação foi auxiliada através de vídeos,
pois era importante para que os alunos ficassem com uma imagem mental do
gesto a realizar de forma correta.
“Para além das habituais estratégias de comunicação adotadas, hoje inclusive
durante a aula foi mostrado um vídeo em slow motion de como se executa o
remate em voleibol (...)” (Reflexão aula nº 7 de voleibol, 07-11-16)
“A minha comunicação hoje foi auxiliada de pequenos vídeos que
demonstravam como executar as técnicas ensinadas. Este é um ponto positivo,
pois dá a possibilidade de os alunos criarem uma imagem mental do que se
51
pretende e terem mais sucesso no exercício.” (Reflexão da aula nº 2 de
badminton, 08-06-17)
Apesar de ter a noção de que tive uma evolução em relação à instrução,
sei que ainda poderei melhorar, principalmente quando lecionadas as aulas ao
2º ciclo, pois por vezes entendemos que estamos a transmitir a informação da
forma mais simplificada possível, e, mesmo assim eles têm dificuldades em
compreender o que se pretende. Daí que, principalmente nesta fase seja
pertinente a utilização da demonstração.
Todos os recursos utilizados (verbalização, demonstração, meios
audiovisuais) foram importantes para transmitir aos alunos, de maneira mais
simples e clarificada, aquilo que era exigido e que se traduzisse de forma
positiva no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
5.5.3. O Feedback
O FB designa-se por informação de retorno. Este é instruindo quando
detetamos que os alunos não estão a realizar a tarefa pretendida, isto é, são
encontrados erros na sua realização, como tal o docente deve intervir através
do FB para os corrigir. Este também pode ser utilizado, caso os alunos estejam
a fazer bem a tarefa como informação de retorno positiva, de reforço à tarefa
realizada.
O FB varia de acordo com a capacidade de processamento de informação
do sujeito: a quantidade de informação que o FB contém, a precisão dessa
informação e o tempo em que é disponibilizada registam grandes alterações
com a fase de aprendizagem e com a idade (Godinho, Mendes, Melo &
Barreiros, 2007).
Este tema é um dos quais sabia que ia ter dificuldades, pois não me sentia
muito à vontade em fazê-lo, pelo facto de estar presente na minha memória o
quanto achava maçador determinados docentes estarem sempre a dar FB a
aula quase toda, ao fim de algum tempo os alunos deixam de estar atentos às
correções dadas, assim como ficam aborrecidos.
52
Então não queria que os meus alunos ficassem dessa maneira. A minha
intervenção numa fase inicial era escassa, pelo que o PC me alertou para que
começasse a fazê-lo com maior frequência.
“A minha intervenção na turma, ao nível dos FB dos acontecimentos das aulas
continua a ser precária, ainda fico muito tempo a observar em vez de estar a
intervir mais frequentemente.” (Reflexão aula nº 8 de voleibol 14-11-16)
Com o passar do tempo fui melhorando nesse aspeto, assim como no
acompanhamento do fecho do ciclo do FB, por outras palavras, após o aluno
realizar uma tarefa proposta pelo professor, este deve-lhe dar informações
associadas à sua atuação como foi executada. Estas indicações são úteis para
uma melhor prestação por parte dos alunos, e podem ser de carácter corretivo
ou positivo.
“Ao nível da quantidade de FB deveria ser superior, no entanto os que
ocorreram foram específicos, essencialmente corretivos, os alunos entenderam
e tentavam corrigir. O ciclo de FB foi uma preocupação a ter, para que não
houvesse uma quebra, assim como foi importante para saber se os alunos
estavam a corrigir o que faziam.” (Reflexão da aula nº 1 de futebol, 2º ciclo, 16-
01-17)
Para que este ciclo seja realizado com sucesso, é fundamental que o aluno
esteja atento ao que lhe é indicado no FB, e que esteja motivado e recetivo a
corrigir e aprender. Não se pode esquecer de que a capacidade de
diagnosticar esses erros e a forma como o professor emenda o aluno são
importantes para que a repetição seja eficaz (Rosado & Mesquita, 2011;
Godinho et al, 2007).
O professor deve intervir logo após a concretização dos alunos e quando
há a repetição da ação nós devemos fazer nova observação e avaliação. A isto
denomina-se o ciclo do FB. Este ciclo é constituído por várias fases: 1) o
docente faz observação do aluno na realização da tarefa; 2) ocorre o
53
fornecimento do FB em relação a essa execução; 3) nova observação do aluno
na tarefa, com intuito de compreender se o FB foi aproveitado pelo aluno e
causou alterações na sua realização.
Este ciclo pode ser repetido várias vezes, com a aquisição de novas
informações no FB, até o docente considerar que a realização está num nível
aceitável de acordo com o objetivo pretendido.
Este último ponto foi o que mais falhava, pois não concluía este ciclo. Após
dar o FB não via se o aluno o tinha tido em conta, prestava logo atenção a
outro aluno ou observava a turma no geral.
Por este motivo, as minhas intervenções não geravam melhorias
significativas no desempenho dos alunos. A desvantagem das turmas grandes
e a minha pouca experiência neste ramo levaram a que cometesse este erro
muitas vezes numa fase inicial. O PC viu que era um erro recorrente, por isso
interveio e alertou-me para este aspeto. As minhas intervenções eram muito
precárias e sentia que por vezes, acaba por dar maior atenção a um aluno do
que outro, daí que também foi aconselhado a ficar mais tempo em observação
da turma e só intervir quando necessário.
É também importante perceber que cada aluno segue o seu ritmo de
aprendizagem e como tal, existem alunos que demoram mais tempo a
aprender do que outros, então a informação dada aos mesmos deverá ser
diferenciada, no sentido em que, por exemplo, a quantidade de critérios de
êxito a ter em conta seja inferior numa fase inicial e ir acrescentando à medida
que ocorra a evolução. “A estruturação do ensino segue a par e passo o ritmo
e o sentido de desenvolvimento característico da criança” (Bento, 1987). No
momento do FB devemos ter em conta este aspeto.
Apesar de ter sentido uma evolução na minha intervenção, sei que este é
um ponto no qual devo melhorar ainda mais, por ainda haver, por vezes alguns
erros e escapar a não concretização do ciclo de FB.
54
5.5.4. A Avaliação
“Aprender implica uma modificação estrutural que se reflete geralmente numa
alteração do comportamento como resultado da prática do indivíduo.”
(Godinho, Barreiros, Melo & Mendes, 2007).
O processo de avaliação diz respeito à recolha e interpretação de
informações acerca dos alunos, onde posteriormente estas são utilizadas para
as tomadas de decisões em relação à estruturação e organização do processo
de ensino-aprendizagem (Miras e Solé, cit. por Mesquita, 2012).
Esta tarefa é uma das mais importantes da docência e, também uma das
mais difíceis de ser realizadas. Bento (2007), enuncia que é fundamental
entender e analisar o motivo de uma aula bem-sucedida, de um trabalho bem
realizado, ou pelo contrário o porquê de uma tarefa com menos sucesso. Por
outras palavras, esta ferramenta é importante quer para o aluno, quer para o
professor, porque é através dela que os dois têm a noção das suas
capacidades e possíveis dificuldades em relação ao que foi realizado.
Assim sendo, e para que o processo de avaliação seja de qualidade, os
docentes dispõem de diferentes tipos de avaliação: a AD, a formativa e a
sumativa, que podem ser desempenhadas formalmente ou informalmente.
A AD é realizada no princípio de um procedimento de aprendizagem, tendo
como função obter informações sobre o nível dos alunos em relação aos seus
conhecimentos, aptidões e competências, para que posteriormente sejam
definidos os objetivos para o processo de ensino e aprendizagem, tendo em
conta as informações adquiridas (Mesquita, 2011).
Devo confessar que, foi uma das tarefas mais difíceis no início do estágio
por vários motivos: um deles foi que ainda não conhecia os alunos e não sabia
o nome deles, o outro foi tentar controlar a aula ao mesmo tempo que era
atribuída uma classificação e por fim o tempo que despendia para a avaliação.
Com o tempo, fui melhorando o meu modo de atuação e avaliação,
também o facto de já ir conhecendo os alunos ajudou imenso, pois acabava
por já prever possíveis dificuldades nas diferentes modalidades em que era
possível fazer um transfer (essencialmente nos desportos coletivos).
55
Em conversa com o PC, foi decidido que esta avaliação era feita na
primeira aula de cada modalidade, porque para mim era mais fácil para depois
fazer uma sistematização e sequencialização da matéria a ser abordada nas
aulas, do que realizar todas as avaliações das modalidades no início do ano
letivo e chegar ao momento de lecionar essa modalidade, por exemplo no 3º
período e já não me lembrar bem de alguns pormenores importantes para a
construção da UD.
A avaliação formativa serve para o professor e os intervenientes no
processo educativo sobre a qualidade do processo educativo, assim como
permite que o professor entenda se existe a necessidade de fazer adaptações
no método de ensino. Eu recorri a este tipo de avaliação, de forma individual,
todas as aulas, de forma a ter sempre presente se ocorreu uma evolução ou
não dos alunos. Esta forma de avaliar auxiliou também, na realização da
avaliação sumativa, pois partia para esta com uma ideia mais formulada sobre
o nível de cada aluno.
É através da avaliação sumativa que o docente vai refletir sobre as
aprendizagens dos alunos, onde os conhecimentos, as competências, as
capacidades e atitudes dos alunos se foram expandidas (Mesquita, 2012). Há
uma reflexão e verificação do alcançar ou não dos objetivos planeados no
início de cada UD (Londoño, 2007).
Este tipo de avaliação foi igualmente difícil de executar. Atribuir uma nota a
cada aluno é um processo muito delicado. Não é fácil avaliar, contudo fui
rigorosa e tentei que fosse sempre feita justiça, ouvindo também o lado dos
alunos através de uma autoavaliação para entender se havia muita
discrepância ou não nas notas atribuídas. Na autoavaliação o aluno deve
refletir e avaliar a sua prestação, comparando com as avaliações anteriores
(Ribeiro, 1997).
As avaliações realizadas ao longo do ano letivo foram auxiliadas por
grelhas de observação criadas por mim. Procurei que os itens a avaliar fossem
o mais sucintos possível, para não perder tempo a perceber o que estava
escrito, e de fácil observação. No entanto as primeiras grelhas de avaliação
56
foram muito extensas, e dificultou-me ainda mais a tarefa de observação, não
conseguindo terminar no tempo estipulado para tal.
“Um aspeto menos positivo, foi não ter conseguido fazer a AD de todos os
alunos. Apesar de antecipadamente ter estudado o instrumento de observação
e ter determinado uma estratégia de atuação, no devido momento acabei por
perder muito tempo e não o apliquei tal como gostaria e acabei por não o
terminar.” (Reflexão aula nº 1 de voleibol 26-09-16)
Os conceitos psicossociais são também avaliados, como tal a presença
nas aulas de EF são uma mais valia, pois o professor desempenha um papel
importante na fomentação e desenvolvimento de todo o tipo de valores.
Através da oferta de um conjunto de exercícios e atividades variadas, o
docente é capaz de desenvolver diferentes competências e aprendizagens
acopladas ao espírito desportivo, de solidariedade com os colegas da turma e
do trabalho em equipa.
Em relação à componente cognitiva, esta foi avaliada através de testes
escritos, de verdadeiro e falso, escolha múltipla e de perguntas de resposta
rápida, sendo que nos dois primeiros períodos foi aplicado. No terceiro foi
através de um relatório de uma atividade realizada (5.7.1.4. Atividades de Mar
e Geocaching).
Em suma, a avaliação não deve ser somente focada na atribuição de uma
classificação aos alunos, mas também deve servir de ferramenta de reflexão
em relação ao trabalho que o docente efetua durante a sua atividade, e como
busca constante da excelência.
5.5.5. Passagem pelo 2º Ciclo
Durante a infância, os brinquedos e os jogos fazem parte do quotidiano
das crianças, sendo o jogo visto como uma das formas mais usuais do
comportamento destes seres (Neto, 2003).
57
O jogo é então um meio potenciador para o desenvolvimento da criança, “é
uma atividade séria em que o fingir, as estruturas ilusórias, o geometrismo
infantil, a exaltação, têm uma importância considerável” (Jean Chateau, s.d. cit.
por Almeida & Gouveia, s.d.). Froebel (s.d.) cit. Almeida & Gouveia, (s.d.)
considera que “o jogo é o espelho da vida e o suporte da aprendizagem”.
Todavia, as sociedades contemporâneas, devido ao avanço da tecnologia,
estão a perder o hábito da prática de AF, estão cada vez mais sedentárias, o
consumo de comidas processadas é cada vez maior e as pessoas apresentam
níveis superiores de stress. Estes acontecimentos levam a que os pais ocupem
os filhos cada vez mais com aparelhos tecnológicos e não optem por fazerem
desporto.
Neto, (2003) declara que a AF e o jogo nesta etapa do desenvolvimento,
são determinantes na criação de hábitos de vida saudáveis e ativos.
As crianças que se encontram no 2º ciclo do ensino, na sua maioria ainda
gostam de fazer as aulas de EF, pelo que os docentes devem ter um papel
importante em incutir o gosto pela prática contínua de AF. Nesta fase, o jogo é
algo que os miúdos anseiam por fazer, a motivação para as aulas é muito
superior às etapas subsequentes da vida.
A minha passagem pelo 5º ano, foi muito boa. Apesar de considerar que
este ciclo é mais trabalhoso do que o secundário, no sentido em que, os alunos
se distraem com maior facilidade e são mais faladores, resultando num maior
número de chamadas de atenção.
“Este ciclo é o oposto do secundário, os alunos são mais ativos, mais
facilmente se distraem, querem é brincadeira, coisas típicas da idade e é uma
coisa que me fascina nesta fase.” (Reflexão aula nº1 de futebol, 2º ciclo, 16-01-
17)
Ao nível da instrução é necessário ter cuidado na forma como expomos os
conteúdos, pois podem não entender aquilo que pretendemos, e assim
perdemos mais tempo de aula do que o suposto. Por outras palavras, a nossa
atuação deve ser de tal forma o mais simplificada possível, com uma
58
linguagem acessível a estas idades e a utilização da demonstração deve ser
um recurso sempre disponível para utilização.
“A minha comunicação não foi a mais clara, às vezes aquilo que achamos que
é de fácil compreensão revela-se o difícil para eles, então acabo por perder
muito tempo na explicação dos exercícios.” (Reflexão aula nº 3 de futebol, 2º
ciclo, 30-01-17)
A pré-disposição dos mesmos, a vontade de colaborar e realizar a aula é
muito superior ao ensino secundário, o que faz com que a nossa motivação
para lecionar as aulas seja superior à do secundário.
“Os alunos estavam envolvidos e muito empenhados nas tarefas, havendo
competição saudável na parte final, podendo referir que houve um bom clima
de aprendizagem.” (Reflexão aula nº 2 de atletismo, 2º ciclo, 25-01-17)
Normalmente, eles não reclamam porque vamos fazer este ou aquele
exercício, querem é fazer a aula, e quando acaba ficam com a impressão de
que passou rápido a aula.
Reforcei a ideia de que, os alunos nestas idades são mais facilmente
influenciados, o que nos leva a crer que, se conseguirmos captar a atenção de
todos os alunos, somos capazes de fazer tudo aquilo que pretendemos fazer
com eles.
Esta foi das melhores experiências que tive no estágio, era uma das coisas
que mais ambicionei fazer e das que mais gostei. Foi também uma confirmação
de que, quando exercer a profissão gostaria que fosse neste ciclo.
5.6. Direção de Turma
A função do Diretor de Turma (DT) é extremamente relevante em todo o
processo educativo, de forma transversal, assim como nas relações e
interações que se devem estabelecer entre os diferentes agentes educativos,
“assegurar a articulação entre os professores da turma e com os alunos, pais e
59
encarregados de educação...” (Decreto Regulamentar nº 10/99 de 21 de julho –
artigo 7º).
O DT acumula assim uma função tripla, estabelecem uma relação entre os
alunos, os Encarregados de Educação (EE), e os professores da turma.
Neste sentido ao DT compete a coordenação de todos os intervenientes no
processo educativo do aluno, estimulando uma colaboração eficiente entre a
escola e a família, de modo a aproximar os EE da vida escolar dos seus
educandos. Isto só será possível se o DT for capaz de compreender as
diferenças culturais, individuais, atuando de forma diferenciada, consoante as
características sociais dos alunos e das suas famílias.
Em relação ao EE, este é responsável pelo acompanhamento da vida
escolar da criança/jovem em causa. É com este agente que o DT estabelece
todos os contactos necessários, devendo procurar envolvê-lo no processo
educativo do seu educando e não somente informá-lo. Marques (1997a) diz
que “para educar uma criança é preciso toda uma aldeia”. Daí que as relações
e comunicações entre este “triângulo educativo” (DT – EE – aluno) devem ser
fortes e colaborativas de forma a promover um clima de diálogo, abertura e
apoio.
Para muitos isto pode parecer óbvio e fácil de se ver executado, porém isto
não é verdade, os obstáculos nesta colaboração são significativos e
limitadores. Na generalidade os professores querem acompanhamento por
parte dos EE dos alunos, querendo simultaneamente a independência e
liberdade relativamente às famílias, criando então conceções negativas e
desconfianças parte a parte. Estes têm por vezes atitudes culpabilizantes
perante os EE, ao invés de procurar soluções com e para os EE e os seus
educandos. Outro obstáculo à colaboração é também a incompatibilidade de
horários dos EE, que é muitas vezes usada para desculpar as ausências
constantes dos EE na escola.
A escola é vista pelos EE como uma estrutura burocrática, com rituais
formais e com linguagem demasiado técnica, em que os contactos são
abusivamente negativos, achando que só são procurados se os seus
60
educandos têm problemas e dificuldades e nunca com vista a promover
estratégias facilitadoras do processo de aprendizagem.
Por último vemos o perfil do corpo docente e dos DT como um obstáculo à
colaboração, dado que o cargo é atribuído por conveniência de horários e
nunca pela apropriação do perfil do professor, sendo a função encarada como
uma obrigação e até um enviesamento rotineiro e burocrático, ao invés da
profícua função que este toma na vida escola do aluno. Já o corpo docente
reclama a sua autonomia pedagógica tomando a relação com os EE com
grande insegurança, procurando até repelir a ação dos mesmos da sua
disciplina.
Abordando agora a temática das reuniões individuais entre os EE e o DT,
como estratégia de solução para os EE que vêem os seus horários
incompatíveis com as reuniões gerais por algum motivo, estas devem ser
encaradas como um momento de troca sentimentos, crenças, conhecimentos e
informações entre o meio familiar e o meio escolar, percebendo o educando
como uma mensagem, um vaivém com papel ativo e consciente na
comunicação escola/família. Este mesmo educando deve fazer-se presente
nestes mesmos atendimentos, colaborando na definição de objetivos, evitando
distorção de mensagens, promovendo sentimentos de valorização do “eu
aluno” e do “eu familiar/pessoal”, estando mais implicados no processo
educativo e motivados para a colaboração com o corpo docente por este
responsável. Outro aspeto favorecido pela presença do educando é a
possibilidade de haver continuação de diálogo em casa sobre as estratégias
definidas, facilitando a aplicação das mesmas quer na escola, quer em casa se
assim decidido.
Este foi um enquadramento que permitiu reconhecer o DT enquanto gestor
pedagógico responsável por estabelecer uma relação com os alunos e com os
EE, além da interação estabelecida com os demais professores da turma. O DT
não surge apenas como um professor, mas como um elemento posicionado
numa estrutura pedagógica de gestão intermédia da escola, particularmente
centrado nos alunos e na orientação dos mesmos, estabelecendo um trabalho
61
cooperativo entre os diferentes professores da turma, no intuito de promover o
desenvolvimento intelectual e pessoal dos alunos.
Através do resultado da proximidade que se estabelece entre o DT e os
alunos da sua direção de turma, desenvolve-se muitas vezes uma relação de
empatia, que pode, em muitos casos, potenciar a confiança do aluno. Esta
dinâmica pode apresentar um papel estruturante no atender de uma situação
de desconforto emocional, sofrimento físico e psicológico, levando-o à partilha
desses problemas e à procura de ajuda para a sua resolução. Todavia, uma
boa relação com os alunos é também uma oportunidade de contribuir para o
bom funcionamento e para um bom clima de turma.
A disponibilidade, a capacidade de comunicação e de liderança, a
experiência refletida, a tolerância e a dedicação, são algumas das
caraterísticas que se destacam de toda experiência vivenciada neste estágio
pedagógico. Perante toda a complexidade envolvente, denota-se a
necessidade que o professor tem em sair da sua zona de conhecimento
específico para, numa dimensão humana, atender às necessidades dos seus
alunos e da turma em geral. Desta forma, é representativa a preponderância da
inteligência emocional na intervenção do DT.
O meu acompanhamento com a DT não foi durante muito tempo, quer
dizer que, a minha comunicação com a mesma prendeu-se mais com a troca
de informação via e-mail, para perceber algumas atitudes manifestadas por
alguns alunos e presencialmente quando nos encontrávamos nas reuniões de
avaliação. Nestas reuniões aproveitava para partilhar a minha opinião sobre
alguns comportamentos dos alunos em EF, por se comportarem de forma um
pouco diferente das outras disciplinas.
O meu papel prendeu-se assim, mais por uma intervenção pedagógica
junto dos alunos, através da comunicação com os mesmos fora das aulas de
EF, para saber se estava tudo bem, em vez das questões mais burocráticas.
Em suma, percebi que o DT constitui uma peça fundamental na relação
interna entre o grupo – turma e o grupo – professores, bem como na relação
externa que estabelece com os EE. Para responder a esta função, necessita
62
de estar preparado, ou seja, de ter aprendido e de continuar a aprender, no
intuito de cumprir todas as tarefas que são da sua responsabilidade.
5.7. Participação na Escola e Relação com a Comunidade Escolar
5.7.1. Participação e Dinamização de Atividades Escolares
Com o intuito de procurar estabelecer uma maior ligação e interação entre
os alunos e a escola na disciplina de EF, este departamento organiza um Plano
Anual de Atividades, onde se encontra uma diversidade de atividades para os
alunos no sentido de incutir o gosto pela prática desportiva.
Esta preocupação é importante, pois muitas das vezes é através destas
pequenas iniciativas que os alunos saem da sua rotina de aulas e praticam
uma modalidade que gosta. É também importante, pois promove a socialização
e aproximação entre alunos e docentes, fora do contexto de aulas.
Assim sendo, durante o estágio participei em várias atividades,
desempenhando um papel mais ativo numas e noutras menos ativo, no entanto
este foi fundamental nas mesmas.
As atividades na qual participei foram: Torneio de Voleibol, Dia da
Educação Rodoviária, Torneio 4 Estações, Atividades de Mar e Geocaching,
Demonstração de Dança no dia do Eco-Escolas e nas Atividades para o 1º
Ciclo.
De uma forma geral todas as atividades contribuíram para o
enriquecimento pessoal, e na construção da minha identidade enquanto
professora, porque, através delas foi possível tirar ideias para futuras
atividades, caso necessário, perceber a dinâmica e organização dos torneios, a
procura dos alunos por este tipo de atividades e acima de tudo, perceber que
quando estamos perante um grupo de EF onde a colaboração e entreajuda
estão presentes é um passo fundamental para que as coisas corram bem.
5.7.1.1. Torneio de Voleibol
No final do 1º período, mais precisamente no dia 13 de dezembro de 2016,
decorreu um torneio de voleibol. Este faz parte do Plano Anual de Atividades
da Coordenação da Atividade Interna da Escola.
63
Esta atividade para além de ser mais uma forma de promover a AF entre
os jovens, vai também ao encontro do interesse dos alunos, sendo esta uma
das modalidades mais procuradas aqui na escola, para participação.
O torneio contou com a inscrição de nove equipas, com um total de 75
alunos envolvidos.
O balanço feito foi muito positivo, a atividade correu dentro dos horários
estipulados, os alunos estavam envolvidos na tarefa e apresentavam níveis de
motivação e satisfação elevados.
A minha participação no torneio passou por tirar fotos no decorrer do
mesmo, para que ficasse registada a sua realização. E ainda apontar o registo
dos resultados dos jogos no placard, para que todos os participantes tivessem
conhecimento dos jogos dos adversários, dos seus e da tabela classificativa.
Esta foi assim a primeira atividade na qual eu estive envolvida na escola.
Foi positiva, pois foi também uma maneira de socializar com os docentes e
demonstrar o meu interesse e disponibilidade na participação deste tipo de
iniciativas.
5.7.1.2. Dia da Educação Rodoviária
A escola onde estive inserida no estágio está integrada no Projeto
Regional de Educação Rodoviária, onde todos os anos nas escolas são
realizadas duas provas, uma de orientação rodoviária, onde em cada posto que
os alunos passem têm uma questão ou um enigma a decifrar relacionado com
o tema. A outra é uma prova prática com bicicletas, na qual antes de passarem
para o percurso, os alunos respondem a um questionário sobre as regras e os
sinais de trânsito, posteriormente fazem um percurso durante um determinado
tempo, onde passam por várias estações, respeitando a sinalização. Cada erro
cometido, desrespeitando as regras é assinalado pelo professor que está a
acompanhar esse aluno, este também deve assinalar se passou por todas as
estações ou não.
A primeira prova, de orientação rodoviária, ocorreu no dia 16 de janeiro de
2017, contou com a participação de 94 alunos, dos quais 22 pertenciam ao 2º
ciclo e 72 ao 3º ciclo.
64
A segunda prova prática com as bicicletas, realizou-se no dia 23 de janeiro
de 2017, contou com a participação de 43 alunos, 25 do 2º ciclo e 18 do 3º
ciclo.
Os dois melhores alunos de cada ciclo e de cada prova representaram a
escola na final regional que se disputou no Parque de Santa Catarina, no
Funchal, no dia 31 de março de 2017.
Foi solicitada a minha colaboração para as provas na montagem do
material, controlo dos grupos, no registo e acompanhamento dos alunos em
relação à prova de bicicletas.
Estas atividades, na minha ótica são importantes, pois quanto mais cedo
os alunos estiverem alertados para este tipo de regras, mais cuidadosos se
podem tornar. Principalmente para aqueles que frequentemente andam de
bicicleta na rua saibam e respeitem a sinalização do código da estrada e não
sejam, no caso dos mais novos, apenas seguidores dos pais a ter
determinados comportamentos sem saber o seu motivo.
5.7.1.3. Torneio das 4 Estações
Considerando que nos dias que correm a maioria dos desportos são pagos
e sabendo que nem todas as famílias têm a possibilidade de colocar os seus
filhos num clube, a escola dá a possibilidade aos alunos de treinarem diversas
modalidades durante o período letivo, pelo DE. Estes apenas terão que se
inscrever junto dos treinadores responsáveis, podendo os alunos treinarem e
participarem em torneios. Esta promoção é um motor para incutir o gosto pela
prática de desporto fora do contexto de aula de EF e que esta se torne uma
rotina e não um evento pontual.
O departamento de EF tendo conhecimento destas situações e, sendo esta
também uma escola que abarca muitas famílias com problemas nos mais
variados campos (económico, social, familiar), durante o ano letivo organiza
vários torneios de diferentes modalidades com intuito de oferecer aos alunos a
possibilidade, de uma forma mais simplificada, de não só vivenciar a disputa de
um torneio, mas também de promover a AF no contexto escolar.
65
No dia 29 de março, estava programado um torneio um pouco diferente do
habitual, intitulado de “Torneio das 4 estações” (Anexo III). Os alunos jogaram
Andebol (5x5), basquetebol (3x3), voleibol (4x4) e ténis de mesa (1x1).
No processo de estágio, de acordo com as suas normas orientadoras os
professores-estagiários devem promover pelo menos uma ação no âmbito das
atividades desportivas, originando sinergias com a comunidade escolar.
Organizar uma atividade de raiz dá-nos a possibilidade de adquirir as
bases necessárias para a organização de qualquer atividade futuramente,
tendo em consideração todos os aspetos nos quais devemos ter em conta,
como a(s) modalidade(s) que serão escolhidas, público alvo, duração dos
jogos, sistemas de pontuação e competição, constituição das equipas, local de
realização, data da conceção, horário (início e término, previsão), dispensas
das aulas (se necessário), patrocínios (caso consiga ou seja necessário para a
atividade), divulgação, inscrições, etc.
Partindo de uma ideia lançada por um docente, e sendo esta a primeira
vez que é realizada na escola, fiquei responsável por organizar o torneio na
sua íntegra.
Esta tarefa foi muito trabalhosa, inicialmente senti algumas dificuldades,
não sabia bem por onde começar, não tinha bem a noção de quantas equipas
devia perspetivar para o projeto, de como as organizar e quantos elementos
cada equipa devia ter no mínimo.
Este torneio era aberto a toda a comunidade escolar. Contabilizou-se um
total de 26 turmas inscritas (total de 257 alunos envolvidos), o que me deixou
em pânico, não sabendo bem como iria gerir tantas turmas. Pedi a colaboração
de um docente que está habituado a organizar torneios na escola para me
ajudar na distribuição e calendarização das provas.
Após a sua realização os pontos fortes apontados foram: a grande adesão
das turmas a este torneio, a colaboração dos professores de EF foi também
uma mais valia, na montagem prévia do material, na sua distribuição pelos
espaços, supervisão dos jogos e a anotação dos resultados dos jogos.
66
A arbitragem ficou a cargo de uma turma que se encontra no curso de
desporto da escola. Ter contado com esta participação foi fundamental, pois a
questão de procurar árbitros em caso de não poderem ficou resolvida.
Os espaços da escola foram todos rentabilizados para as modalidades,
tendo sido distribuídos três campos para o andebol, dois campos para
basquetebol (jogando-se em dois meios campos), três campos de voleibol e
três mesas de ténis de mesa.
Foram também apontados alguns pontos fracos na realização do torneio
que vieram em consequência da adesão em massa das turmas, pois tivemos
que optar por executar sistema de eliminatórias, ou seja, as equipas que logo
no primeiro jogo são eliminadas já não jogam mais essa modalidade. Para que
a atividade também não se alongasse, devido aos compromissos já existentes
no período letivo da tarde o tempo de jogo para os ciclos com maior número de
equipas teve que ser reduzido para metade. Uma solução para esta
problemática seria numa próxima edição, o torneio realizar-se durante um dia,
havendo a possibilidade de fazer repescagem dos perdedores fazendo-se
jogos entre eles, assim como o tempo de jogo ter a mesma duração para todos
os ciclos de ensino.
A hora combinada para início do torneio deverá ser mais cedo para que
seja feito um briefing da atividade, ou então marcar previamente uma reunião
com os capitães das equipas, para não existir muitos atrasos no início.
As afixações das tabelas dos jogos devem ficar num local visível a todos,
como foi feito após o início do torneio. Os resultados dos jogos deviam também
ser anotados nesse placard, para que todos soubessem como estavam a correr
os jogos.
De uma forma geral, tirando os percalços ocorridos no torneio, sendo esta
a primeira vez que ocorre uma atividade desta dimensão, onde estão
envolvidas quatro modalidades diferentes, o resultado final foi positivo, foi
visível que os alunos gostaram e notou-se alguma tristeza por não poderem
jogar mais (principalmente de quem foi logo eliminado nos primeiros jogos).
67
Esta atividade foi sem dúvida uma mais valia, pois adquiri conhecimentos
fundamentais para organizar de raiz um torneio. Quais os pontos principais que
são necessários ter em consideração.
Percebi também a importância que é ter um planeamento prévio do que é
pretendido fazer, ou seja, estabelecer desde cedo os objetivos da atividade,
descrição, escolha do público alvo, recursos materiais e humanos, previsão de
possíveis acontecimentos e solução para os mesmos, são um meio
potenciador para que a construção da atividade seja um sucesso.
5.7.1.4. Atividades de Mar e Geocaching
No programa de estágio do mesmo mestrado lecionado pela UMa, dos
meus colegas de estágio/escola, encontra-se uma atividade de extensão
curricular, onde estes devem dinamizar uma atividade na qual os alunos saiam
do contexto escolar, por outras palavras, uma atividade outdoor.
A escolha foi feita de acordo com as solicitações dos alunos, na
abordagem de matérias diferentes, que permitem conjugar a AF e recreativa, o
mar e a relação do homem com o meio natural, bem como a capacidade de
concentração e adaptação a um novo ambiente. Assim sendo foram escolhidos
a Stand Up Paddle, a Canoagem e o Geocaching. Estas matérias promovem o
despertar e o desenvolvimento de um conjunto de competências que se
diferenciam das atividades ditas convencionais, contudo estas são
fundamentais para o desenvolvimento integral dos alunos.
Nos dias que correm, a procura por sensações diferentes, em algo que nos
traga emoção, sentimento, partilha e prazer, novas atividades, outras
motivações que ultrapassem o ritmo do nosso quotidiano têm sido mais
frequentes.
O núcleo de estágio da UMa, pretendia sensibilizar e reforçar o gosto pela
prática regular de AF e desportivas, promover a familiarização com as
atividades náuticas como a Canoagem (preparar-se para a prática, entrada na
água, pegas, tamanho do remo e coordenação da movimentação da remada) e
o Stand Up Paddle (equilíbrio em cima da prancha, pagaiada). No Geocaching,
através da caminhada conhecer vários pontos de interesse do Funchal
68
(consolidação dos conhecimentos adquiridos sobre o GPS, nas aulas de EF e
utilização do telemóvel como instrumento de orientação).
Tinha também como meta promover o desenvolvimento da tomada de
decisão estratégica, a inclusão dos alunos, o espírito de equipa e a entreajuda.
Esta atividade foi direcionada aos alunos das quatro turmas pertencentes
ao PC.
Tendo em conta que eu e a minha turma fomos convidadas para participar
nesta atividade, a minha intervenção passou mais pela organização dos grupos
dentro da turma para serem distribuídos pelas estações postas, auxiliar os
alunos nas entradas e saídas dos caiaques/pranchas e garantir que não
ocorressem brincadeiras para que não houvesse estragos do material.
O balanço final foi positivo, de uma forma geral os alunos adoraram a
atividade e manifestaram interesse em fazê-la novamente.
“Acho que esta atividade foi muito boa. Ter o contacto com outro tipo de
desportos que não são realizados nas aulas de EF foi uma mais valia. Também
termos comunicado com outros colegas e professores foi um aspeto positivo.”
(Relatório das Atividades Náuticas e Geocaching, LR12, 10º ano)
5.7.1.5. Demonstração de Dança no dia do Eco-Ecolas
Ao longo dos anos tem existido um dia dedicado ao Eco-Escolas, onde os
alunos expõem alguns trabalhos realizados nas diferentes disciplinas,
relacionados com o meio ambiente, a reciclagem/reutilização de materiais e
energias alternativas.
Para que o gabinete de EF fosse representado nesta iniciativa, o PC
sugeriu que apresentasse uma ou mais do que uma dança com as suas quatro
turmas. Abracei esta atividade de início, e ainda sugeri que fosse feito um
flashmob, visto que tínhamos um número considerável de alunos e daria um
efeito interessante.
Inicialmente foi proposta uma dança às turmas. Uma das minhas alunas
depois de ter visto essa dança, sugeriu que alterássemos para a coreografia
12Siglafictíciaparaonomedaaluna
69
que construí para a UD de dança lecionada na minha turma. Tive em
consideração a ideia, e depois de ter falado com os colegas estagiários e o PC
foi então alterada.
Cada turma contou com dois ensaios nas respetivas aulas de EF, e ainda
um ensaio geral que contou com todas as turmas. Este teve como intuito dar a
conhecer aos alunos as suas posições, previamente já planeadas por mim,
atribuir os números para uma das partes da música, e ainda definir o momento
de entrada de cada fila.
No dia do Eco-Escolas, eu e o PC quisemos zelar para que houvesse
espaço para todos os alunos, então tivemos que delimitar a zona com uma fita,
o que por si só e com a música, fez surgir alguma curiosidade por parte dos
alunos. À medida que os alunos foram chegando entraram para essa zona,
para não ter que andar a saltar na parte que entravam na música. A
coordenadora do Eco-Escolas fez questão de anunciar ao microfone o que iria
acontecer, ou seja, o pouco efeito surpresa que ainda havia deixou de existir e
acabou por ser uma demonstração de dança e não um flashmob.
Os alunos estavam nervosos para atuarem, alguns na hora recusaram-se
a dançar, outros nem apareceram, todavia, ainda estavam bastantes alunos, e
a atividade acabou por correr bem.
A demonstração de dança foi algo que me deu prazer em fazer, pois fiz
uma das coisas que mais gosto, dançar e ensinar os alunos. Esta iniciativa
envolveu algum trabalho por detrás da sua concretização, desde os ensaios
com cada turma, tentar que todos os alunos estivessem minimamente à
vontade com a coreografia e definir as posições dos estudantes das quatro
turmas quer no xadrez inicial, quer quando faziam a separação por géneros.
Pode até parecer coisas simples, mas que demoraram algum tempo a
concretizar, embora no fim a recompensa tenha sido boa.
Em suma, esta foi mais uma experiência que ficou no estágio, e considero
que graças a ela, não tive uma, mas sim quatro turmas, o que é uma mais
valia, porque tive a oportunidade de lecionar a um público alvo diferente e gerir
grupos distintos.
70
5.7.1.6. Atividades 1º Ciclo
Durante todos os anos a escola perto do término do ano letivo, agenda
dois dias com atividades destinadas aos alunos do 4º ano do 1º ciclo das
escolas situadas na mesma freguesia do que a nossa escola. O intuito desta
realização é dar a conhecer a escola, ao mesmo tempo que seja destinada a
captação de um maior número de jovens que fiquem com interesse em
continuar o ciclo de estudos nela.
Como tal, são realizadas duas provas uma de orientação pela escola toda,
com o objetivo de explorarem a escola e na outra são montadas várias
estações no pavilhão onde os alunos podem experienciar alguns jogos
tradicionais como os saltos dentro de uma saca, atira ao alvo, um aparelho de
ginástica (minitrampolim), contorno de pinos com controlo de uma bola de ténis
em cima da raquete, corrida de barreiras e basquetebol.
Estive a auxiliar o grupo de professores envolvido na montagem do
material das estações no pavilhão, orientar os grupos, ajudar os alunos nos
saltos no minitrampolim e ainda estive a tirar fotos durante a atividade.
Apesar de achar que esta atividade é positiva, no sentido em que
conseguisse mobilizar uma grande quantidade de alunos das diversas escolas
da freguesia, tenho a sensação de que não é através desta atividade que se irá
determinar se os alunos virão para esta escola ou não. Muitas vezes os pais já
têm uma ideia definida para que escola quer que os seus filhos vão continuar
os estudos muito antes destas atividades acontecerem, quer seja através de
conhecimentos, opiniões partilhadas por outras pessoas, influência de amigos
ou familiares etc.
5.7.2. Desporto Escolar – Dança
A minha colaboração e participação no DE foi na modalidade de Dança.
Apesar de esta não entrar em competições, conta com vários ensaios para a
abertura oficial do DE que se realizou no Estádio dos Barreiros, no Funchal, no
dia 23 maio de 2017.
Os ensaios passam por três fases: a primeira na própria escola, onde o
professor responsável por esta modalidade ensina aos praticantes as
71
coreografias que irão fazer no dia da abertura. Na segunda algumas escolas
reúnem-se numa escola designada previamente, e é onde se começa aos
poucos a formar um grupo maior nos ensaios. Por fim os ensaios no Estádio do
Marítimo que antecedem a festa, estão presentes todas as entidades
envolvidas na abertura (escolas, ginásios, associações, etc).
Os alunos que quiserem participar neste evento têm que se inscrever no
gabinete de EF no início do ano letivo. Após a junção das inscrições a docente
vê os horários dos alunos, para que possa definir quais os dias e horas em que
os alunos estão disponíveis para ensaiar.
O gabinete de coordenação do DE, reúne-se com todos os responsáveis
pela dança nas escolas, no início do ano letivo, a fim de divulgar o tema da
abertura, informar as datas dos ensaios parciais e gerais e ainda cede os
vídeos das coreografias que têm que ensinar aos alunos.
A distribuição das escolas durante a festa é influenciada pela forma
como atuaram no ensaio parcial, ou seja, as escolas que estavam mais bem
ensaiadas ficam mais à frente do público, enquanto as outras ficam mais atrás.
A nossa escola encontrava-se na primeira fila na ponta esquerda, virada para
os camarotes. Este posto tem sido uma constante há uns anos para cá, deve-
se ao bom trabalho realizado pela docente.
O nosso grupo da dança era constituído por 23 alunos, sendo 2 deles
rapazes. Esta é uma problemática que segunda a docente tem sido recorrente,
arranjar rapazes para as coreografias, o que acaba por acontecer é algumas
raparigas assumirem o papel de rapazes. Os alunos pertenciam ao 6º/7º/8º/9º
e 10º ano de escolaridade. Tivemos alunas que acompanharam a coreografia,
apanhando-a com alguma facilidade, e que têm muito jeito para a dança,
mas também tivemos outras com alguma dificuldade, no entanto eram
esforçadas para conseguirem aturar no dia da festa, pois normalmente apenas
20 alunos de cada escola podem atuar. A professora costuma não limitar o
número de inscrições, porque o grupo vai sofrendo alterações ao longo do ano,
alguns desistem, e assim garante ter o número de alunos suficiente. Os alunos
"suplentes", caso outra escola não tenha alunos suficientes, poderão vir a
ocupar esses lugares.
72
Desde início que soube que tínhamos que ter um contacto com o DE e a
minha escolha recaiu na dança, esta é uma das minhas grandes paixões e
poder ensiná-la a outras pessoas é algo que me deixa muito feliz.
Quando falei com a docente responsável, curiosamente já tinha sido minha
professora de EF, esta não hesitou em aceitar. Numa primeira fase acabei por
ir aos ensaios e apenas fazia observação, para perceber que metodologia esta
utilizava, aos poucos fui-me integrando no grupo, dando a minha opinião e
começando a ensinar parte de uma coreografia. O grupo tinha que saber duas
danças principais, sendo a primeira foi dada pela professora, e a segunda por
mim. Apesar de esta ter sido a mais complexa, acho que era aquela com a qual
me identificava também mais. O grupo quando viu a coreografia pela primeira
vez ficou muito reticente, questionando se iam ser capazes de a concretizar. A
verdade é que, à medida que fui desconstruindo a coreografia, e apenas
avançava quando já todas soubessem minimamente, foi uma mais valia para o
sucesso do grupo.
No dia da abertura, estava ansiosa para que tudo corresse bem, e acabou
por correr. Valeu a pena todo o trabalho que foi feito, terminei assim este
capítulo de coração cheio e feliz.
73
6. AS ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS: O
TABU DA EDUCAÇÃO FÍSICA?
74
75
6. AS ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS: O TABU DA
EDUCAÇÃO FÍSICA?
6.1. RESUMO
O presente estudo contou com a colaboração de alunos e professores da
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco, a fim de apurar se as Atividades
Rítmicas e Expressivas são ainda um tabu na Educação Física ou não.
A amostra é constituída por 61 alunos (39 do sexo feminino e 22 do sexo
masculino) e 20 professores (6 do sexo feminino e 14 de sexo masculino).
Os instrumentos utilizados para a recolha dos dados foram dois questionários,
um dirigido aos alunos e outro aos professores, elaborados pela autora e
controlados por peritos da área. O tratamento estatístico foi efetuado no SPSS
versão 24.0. Recorreu-se ao uso do teste Qui-Quadrado para analisar se
existiam associações entre as diferentes variáveis nominais e ordinais.
A maioria dos alunos acha que é importante lecionar dança nas escolas, por
ser uma modalidade diferente das que estão habituados e por ser divertida, no
entanto outros acreditam que não deve ser lecionada, por ser pouco
interessante e os alunos não aderirem.
Os docentes apesar todos acharem que é importante a dança estar inserida no
Programa Nacional de Educação Física, pois é uma forma de expressão
corporal e criativa, 40% não lecionam estas aulas, apontando como motivos a
falta de jeito e a falta de espaços ou material, e 15% já deu, mas deixou de dar,
pois não consta no plano anual e por ter sido obrigatório quando lecionavam
nos cursos profissionais.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL; ATIVIDADES RÍTMICAS E
EXPRESSIVAS; PROFESSORES; ALUNOS; DANÇA NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA.
76
77
6.2. ABSTRACT
The present study had the collaboration of students and teachers of the
Primary and Secondary School Gonçalves Zarco, in order to determine if
Rhythmic and Expressive Activities are still taboo in Physical Education, or not.
The sample consists of 61 students (39 females and 22 males) and 20 teachers
(6 females and 14 males). The instrument used to collect the data were two
questionnaires, one addressed to the students and another to the teachers,
prepared by the author and supervised by experts of the area. The statistical
treatment was performed in SPSS version 24.0. The Qui-Quadrado test was
used to analyze if there were associations between the different nominal and
ordinal variables. Most students think that it is important to teach dance in
schools because it is different from the usual lessons and because it is fun,
alternatively there are others who believe that it should not be taught because
it´s not interesting and students do not participate. The teachers think that it is
important for the dance to be included in the National Program of Physical
Education since it is a form of body and creative expression, 40% do not teach
these classes due to the lack of style, spaces or materials, and 15% taught in
professional courses but stopped because it is not included in the annual plan
as also it is not mandatory.
KEYWORDS: PROFESSIONAL INTERNSHIP; RHYTHMIC AND
EXPRESSIVE ACTIVITIES; TEACHERS; STUDENTS; DANCE IN PHYSICAL
EDUCATION CLASSES.
78
79
6.3. INTRODUÇÃO
As crianças quando transitam para o primeiro ciclo escolar, deparam-se
com uma grande mudança em relação ao pré-escolar, onde as
responsabilidades começam a surgir, o tempo de brincadeira é inferior, a
aprendizagem de diferentes matérias é diversificada e a exigência é maior.
Uma das disciplinas, de carácter obrigatório, que consta no currículo escolar é
a Educação Física (EF).
A EF abarca um conjunto de Atividades Físicas (AF) e Desportivas que são
devidamente planeadas e estruturadas de forma a explorar as capacidades
físicas, motoras e cognitivas através do movimento, com o intuito de melhorar a
condição física e a saúde dos alunos (Tanabe, 2012). Assim sendo esta deverá
contribuir para a formação da cidadania, tendo como meio os conteúdos
específicos da cultura corporal do movimento (Diniz, Manso & Pereira, s.d.).
Normalmente, as AF mais lecionadas são as ligadas aos desportos
coletivos como, futebol, basquetebol, andebol, voleibol, e aos desportos
individuais como ginástica, atletismo, ténis de campo, badminton entre outros.
As atividades que necessitam da utilização de música, expressão corporal,
emoção e criatividade muitas vezes são colocadas de lado, por entrarem por
caminhos que causam alguma insegurança aos professores, pois acabam por
estar expostos (Pizzatto, s.d.).
Na maioria das vezes as Atividades Rítmicas e Expressivas (ARE) são
usadas na EF somente como meras atividades lúdicas com a finalidade de
divertir, entreter e passar o tempo. Assim sendo e, como refere Queirós, (2000)
cit. por Pizzatto, (s.d.) esta conceção deve ser revista pelos profissionais da
área, no sentido de compreender os conteúdos inerentes, o significado e os
valores enquanto manifestação corporal. Contudo, nem sempre é a falta de
conhecimento por parte dos professores acerca desses benefícios, até pelo
contrário usualmente até podem os conhecer, requer-se sim é compreender
qual o motivo que os leva, mesmo sabendo qual a importância da dança a não
lecionar esta modalidade na escola.
Como tal, foi realizado um estudo na escola onde fiz o estágio profissional,
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco (EBSGZ), com intuito de
80
entender qual a opinião dos docentes em relação a este tema e perceber se
estes dão dança nas suas aulas e por sua vez qual a atitude dos alunos em
relação a esta modalidade, se gostam ou não, se na sua formação académica
já tiveram o contacto com a dança ou não.
Consequentemente, este tema de investigação será estruturado da
seguinte forma: enumeração dos objetivos gerais e específicos; um
enquadramento teórico onde será abordado os seguintes temas: As Atividades
Rítmicas e Expressivas como matéria de ensino; Dança-Educação e
Composição em Dança). De seguida será apresentada a metodologia
(caracterização da amostra, os instrumentos e os procedimentos estatísticos);
e a apresentação dos resultados e discussão dos mesmos. Por fim,
apresentaremos as ilações finais e a bibliografia utilizada.
81
6.4. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
6.4.1. As Atividades Rítmicas e Expressivas como Matéria de Ensino
O objetivo da EF não é formar atletas ou bailarinos, é sim oferecer um
leque de possibilidades corporais e conhecimentos a partir de assuntos
diferenciados, não apenas ligados à coreografia, mas também com o objetivo
de ensinar (Pereira & Hunger, 2006, cit. por Amorim, Guimarães, Soares, &
Machado, 2012).
Darido (2001), cit. por Pizzatto, (s.d.) defende que a EF não significa
apenas ensinar o gesto motor correto, é muito mais do que isso, cabe ao
docente problematizar, interpretar, relacionar, compreender os alunos nas suas
diversas manifestações da cultura corporal, onde os alunos compreendam os
sentidos e significados impregnados nas práticas corporais.
Neste sentido, a construção do movimento expressivo e rítmico, as danças
populares, as manifestações e as coreografias, são aspetos histórico-sociais
das danças, que se constituem em temas a serem explorados pelos
professores nas aulas de ARE.
A dança pode ser considerada como uma das formas de manifestação
humana mais antigas, que surgiu a partir dos movimentos, da linguagem e dos
gestos que os antecessores expressavam em relação ao que sentiam, em
relação ao mundo e aos acontecimentos em seu redor como: o nascimento, a
morte, a guerra, a paz, cerimónias religiosas tendo, portanto, uma conotação
mais ritualística (Gonçalves, 2006, cit. por Pizzatto, s.d.).
Por outras palavras, a dança existia para expressar a corporeidade dos
homens, e graças à sua evolução ao longo dos tempos, nos dias que correm
podemos usufruir dos seus movimentos, da sua magia, da sua expressão e
plasticidade (Verderi, 2000, cit. por Pizzatto, s.d.).
Cada tipo de dança possui características étnicas e culturais variadas que
influenciam o pensamento, o sentimento e o modo de agir das respetivas
localidades.
É através da forma expressiva de se movimentar que as crianças são
estimuladas a comunicar os seus pensamentos, sentimentos e ideias
(Galhahue e Donnelly, 2008, cit. por Pizzatto, s.d.).
82
O que se pretende com as ARE enquanto modalidade da EF é que
enfatizem movimentos com sons e música, para inspirar vivências e uma
diversidade de experiências, no sentido de possibilitar a expressão corporal e a
educação rítmica, desenvolvendo simultaneamente o domínio motor, cognitivo
e socioafetivo (Pizzatto, s.d.).
O principal objetivo é estimular e desenvolver o ritmo físico, educar o ritmo
emocional e proporcionar conhecimentos indispensáveis do ritmo musical.
Estas atividades quando prazerosas estimulam a criatividade e as relações
socioafetivas (Pizzatto, s.d.), em que a técnica não é o principal elemento, tal
como não queremos formar bailarinos, mas, sim, indivíduos que se sintam
felizes em se movimentar, devendo ser este o objetivo exclusivo da escola
(Gonçalves, 2006, Pizzatto, s.d.).
A dança necessita de ser desenvolvida na escola de forma recreativa e
lúdica, da mesma maneira que as outras atividades da cultura corporal, a
metodologia a adotar no ensino da dança deve ser lúdica (Marques, 1993, cit.
por Pizzatto, s.d.).
6.4.2. Dança-Educação
O ensino da dança visa o processo criativo que de acordo com Saraiva
(2003), cit. por Pizzatto (s.d.) permite que os alunos elaborem os seus
pensamentos e sentimentos a seu respeito e das pessoas que os cercam,
possibilitando-lhes o entendimento das suas relações com a natureza, com o
meio social, na reestruturação dos seus valores e, na elaboração das ações de
movimentos significativos, permitindo assim, que os alunos, de forma geral,
trabalhem em grupo independentemente das suas diferenças e limitações.
Existe um grande leque de estilos de dança na nossa sociedade, desde a
dança mais voltada para o lazer, como as coreografias de carnaval, as danças
de salão, às danças ditas teatrais ou artísticas (reportórios de ballet, dança
folclórica, moderna, contemporânea) (Marques, 1997, cit. por Pizzatto, s.d.).
À vista disso, é o contexto escolhido que orienta, juntamente com as
informações e experiências que temos junto ao grupo de alunos (conhecimento
da faixa etária, das habilidades físicas, das características emocionais, dos
83
conteúdos em dança trabalhados anteriormente), a escolha do estilo de dança
a ser ensinado (Pizzatto, s.d). No entanto o professor não deve também limitar-
se apenas a um estilo de dança, mas sim a mais do que um.
6.4.3. Composição em Dança
As crianças precisam de desenvolver as habilidades e conhecimentos
requeridos para criar, modelar e estruturar os movimentos em forma de dança
expressiva. Estas utilizam muitas vezes movimentos espontâneos, variando os
seus gestos e dinâmicas para expressar os seus sentimentos e ideias. Com um
pouco de encorajamento e auxílio, elas irão brincar e improvisar com esses
padrões básicos de movimento. Sendo este então um objetivo da dança-
educação, nos primeiros anos, oferecer oportunidades para as crianças criarem
simples sequências, através da improvisação, podendo interagir com os
colegas, sendo orientadas por um professor. Após a aquisição dessas
capacidades elas poderão ser capazes de criar danças com um cariz mais
complexo, no qual será evidenciado uma estrutura clara, onde inclui aspetos
interessantes da composição.
As crianças mais pequenas possuem um vasto reportório de movimentos
naturais e habilidades expressivas. Muitas adquiriram um sentido estético do
movimento, de forma consciente, com prazer e consciência da fluência e do
ritmo. Nesta fase inicial, deve ser aproveitado essa forma de se expressar
como uma oportunidade de aprendizagem para desafiar e desenvolver todo
esse potencial.
Deve ser clarificado à criança de que a dança é uma forma de expressão e
comunicação. Também carecem de estar preparadas para serem capazes de
olhar e ouvir nitidamente, e com imaginação, tal como interpretar e avaliar a
dança atendendo às suas características específicas do trabalho (Freire e
Rolfe, 1999, cit. por Freire, 2001).
O recurso ao vídeo deve ser usado no processo de ensino-aprendizagem
da dança, por qualquer professor que dê esta modalidade, como forma de
encorajamento para tentar realizar o movimento para si mesmas, adaptando-o
84
e refinando-o, de modo a alargarem o próprio vocabulário do movimento (Rolfe,
1999, cit. por Freire, 2001).
Quando pronunciamos a palavra dança, cada um de nós poderá pensar
em diversos tipos de dança, por exemplo: danças de salão, samba, jazz, ballet
clássico, afro, contemporâneo, entre outros.
A observação e análise do movimento de Laban (North, 1990 e Sherborne,
1995), podem ser explicitadas da seguinte forma:
I) O corpo: que parte do corpo é que se move? Uso do corpo de
maneira mais ampla ou restritiva. Ter consciência da parte do corpo
que está a se mover; uniformidade entre as partes superiores e
inferiores do corpo; conformidade entre o centro e as extremidades
do corpo; movimentos do tronco iniciados em diferentes partes;
formas do corpo e destreza manual.
II) A qualidade ou “esforço”: como é que o corpo se move? Habilidades
rítmicas, movimentos mecânicos ou métricos; resistência; reações
imediatas ou demoradas. Elementos presentes no movimento:
Atitude da pessoa relativamente: ao seu peso; ao tempo; à fluência
do movimento; ao espaço. Combinação de três elementos
apresentados ao mesmo tempo: (a) peso, tempo e fluência; (b)
peso, espaço e fluência; (c) espaço, tempo e fluência. Combinação
de dois elementos apresentados ao mesmo tempo: (1)
fluência/tempo; (2) peso/fluência; (3) peso/tempo; (4) peso/espaço;
(5) tempo/espaço; (6) espaço/fluência.
III) O espaço: onde é que o corpo se mexe? Gestos; localização das
formas; planos de movimento; níveis de espaço que são utilizados
pelo indivíduo.
IV) Relações: com o quê ou quem o corpo se move? Relações do
indivíduo em movimento com objetos ou com outros indivíduos são
notadas em associação com um particular movimento que está
sendo observado.
O contributo de Laban para este trabalho diz respeito à forma permanente
com que ele apresenta a educação no contexto da dança. O autor considera o
85
movimento como sendo um aspeto central tanto para a educação em geral,
quanto para a educação por meio da Arte em particular (Preston-Dunlop, 1998,
cit. por Freire 2001).
O instrumento essencial que se pode oferecer a um educador em relação à
dança moderna é uma perspetiva universal sobre os princípios do movimento.
Um impulso inato das crianças em realizar movimentos similares com a dança
é uma forma inconsciente de os introduzir no mundo da fluidez e expressão
(Preston-Dunlop, 1998, cit. por Freire, 2001).
Se implementarmos um dos princípios da “dança criativa” ou “dança-
educação” de que “todas as crianças/adolescentes têm direito a dançar”,
encontra-se a justificação da inclusão da dança como disciplina obrigatória nos
currículos escolares, em que a “dança criativa” seria para todos, por direito
humano (Preston-Dunlop,1998, cit. por Freire, 2001).
6.5 OBJETIVOS
6.5.1. Objetivos Gerais
Com intuito de entender qual a opinião quer dos docentes quer dos alunos
em relação às ARE, foi realizado um estudo na EBSGZ a fim de perceber se,
os docentes lecionaram dança nas suas aulas, qual a atitude dos alunos em
relação a esta modalidade, se gostam ou não, se na sua formação académica
já tiveram o contacto com a dança ou não. Relativamente aos alunos, perceber
se gostam de dançar ou não, quais as principais dificuldades sentidas, que
estilos de dança preferem e o que significa a dança para eles.
6.5.2. Objetivos Específicos
A realização do presente trabalho teve por base o esclarecimento de
algumas relações que pudessem existir entre as variáveis em estudo, para isso
definiram-se um conjunto de objetivos específicos que vão ao encontro das
dúvidas que são pretendidas ver esclarecidas, dos quais são exemplos:
86
Para os alunos:
1. Saber se existe alguma associação entre os géneros, em relação ao se
gostam de dançar com a motivação que têm para as aulas;
2. Relacionar os alunos que já tiveram dança em EF se gostaram ou não,
com a importância em fazer esta modalidade em EF;
3. Relacionar se gostam de dançar com a importância em lecionar dança
em EF;
4. Analisar se acham importante ser lecionada esta modalidade na escola
e o porquê;
5. Analisar a frequência das dificuldades mais sentidas pelos alunos neste
tipo de aulas, assim como o que significa dança para eles;
6. Examinar quais os principais motivos para os professores não darem
dança nas aulas.
No caso dos professores:
1. Relacionar se no ano de estágio deu dança, em caso afirmativo
perceber se continua a dar ou não, e o motivo;
2. Saber se existe alguma associação entre os géneros, em relação a ter
dança na formação académica, a continuar a dar ou não, ou se já deu e
deixou de dar e perceber o motivo;
3. Relacionar se teve dança na sua formação académica com a procura de
formação além da faculdade;
4. Se eventualmente procurou formação além da faculdade se utiliza os
conhecimentos adquiridos;
5. Analisar os professores que lecionam dança nas suas aulas qual a
atitude dos alunos quando lecionam esta modalidade, com a ideia que
ficam no final da UD;
6. Relacionar se é importante esta modalidade estar presente no PNEF
com se dão dança nas suas aulas;
7. Analisar a frequência dos motivos apontados pelos professores sobre ao
não lecionarem esta modalidade não estarão a privar os alunos de
experienciar as potencialidades do corpo.
87
6.6. METODOLOGIA
6.6.1. Caracterização da Amostra
A amostra é constituída por 61 alunos (39 do sexo feminino e 22 do sexo
masculino), sendo que o intervalo das idades mais frequente é entre os 15 e os
17 anos do qual fazem parte 38 indivíduos e por 20 professores (6 do sexo
feminino e 14 do sexo masculino), sendo que o intervalo das idades mais
frequente é entre os 41 e os 50 anos do qual fazem parte 10 indivíduos.
6.6.2. Instrumento
Foram aplicados dois questionários (Anexos IV e V) de carácter anónimo,
aos alunos pertencentes às turmas do professor cooperante da EBSGZ, e aos
docentes da referida escola. Estes questionários foram elaborados pela autora
e sancionados por especialistas da área.
6.6.3. Procedimentos Estatísticos
Para a análise dos dados recorremos à utilização do software SPSS
versão 24.0 com o nível de significância de 0,05. Foram realizados os
seguintes passos:
1. Realização de uma base de dados;
2. Introdução dos dados por dupla entrada;
3. Verificação e correção das características das variáveis (controlo e
qualidade dos dados);
Posteriormente procedemos:
1. Ao cálculo das frequências para caracterizar a amostra de alunos;
2. Análise das diferenças entre género relacionando com a variável “qual a
motivação para as aulas de dança?”;
3. Análise das diferenças entre género com a variável “gostas de dançar?”
com “qual a motivação para estas aulas?”;
88
4. Análise das relações associativas existentes entre os alunos que já
tiveram dança, se gostaram ou não, com importância que estes
conferem em lecionar esta modalidade em EF;
5. Associação entre “gostas de dançar?” e a importância em lecionar esta
modalidade em EF;
6. Análise entre a importância em lecionar dança na escola e os motivos
associados;
7. Cálculo das frequências dos estilos de dança favoritos dos alunos; das
dificuldades que os alunos possam sentir nas aulas de dança; dos
motivos para os professores não darem dança e “o que significa para ti
dança?”;
8. Caracterização da Amostra de Professores;
9. Diferenças entre género relacionando o facto de ter tido dança na
formação académica com “dá dança nas suas aulas?”, quais os motivos;
10. Relação entre ter dança na formação académica com a procura de
formação além da faculdade;
11. Os professores que procuraram formação além da faculdade usaram, ou
não, esses conhecimentos nas suas aulas;
12. Análise dos professores que dão dança, qual a atitude dos alunos
perante esta modalidade e qual a ideia que ficam no término da UD;
13. Cálculo das frequências dos estilos de dança mais usados pelos
docentes;
14. Relação entre a importância de a modalidade de dança estar inserida no
PNEF e se dão esta modalidade nas suas aulas, quais os motivos;
15. Frequência dos motivos mais apontados pelos docentes ao não
lecionarem esta modalidade de poderem estar a privar os alunos de
experienciarem as potencialidades do corpo.
Procedimentos Estatísticos
Diferenças Entre os Géneros: para descobrir se existem diferenças entre
os géneros nos indicadores enunciados anteriormente, foi necessário ir aos
89
dados e ativar a função dividir arquivos por comparação de grupos, que neste
caso foi entre o género.
Teste do Qui-Quadrado: recorremos a este teste sempre que precisamos
analisar a associação entre uma variável nominal e outra variável nominal ou
ordinal.
Para a elaboração deste teste é necessário a formulação de duas
hipóteses:
H0: não existe associação estatisticamente significativa entre as variáveis
a estudar;
H1: existe associação estatisticamente significativa entre as variáveis a
estudar.
Se o valor do número de significância (Sig) p£0,05 aceita-se a hipótese H1,
ou seja, existe associação entre as variáveis em estudo. Caso contrário,
p>0,05 aceita-se a hipótese H0, isto é, não existe associação entre as variáveis
em questão.
90
6.7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste segmento do trabalho, apresentam-se os resultados estatísticos
obtidos através dos dados em estudo, sendo que estão subdivididos em dois
grupos, o dos alunos e dos professores. No fim será feita uma confrontação
dos dados obtidos nos dois grupos. Assim e de modo a facilitar a leitura dos
dados, os resultados apresentam-se em forma de quadro ou de gráfico como
poderemos observar mais abaixo.
Caracterização da Amostra de Alunos
A amostra é constituída por 61 alunos (39 do sexo feminino e 22 do sexo
masculino), sendo que o intervalo das idades mais frequente é entre os 15 e os
17 anos (38 indivíduos).
Os alunos que responderam ao questionário frequentam maioritariamente
o 11/12º ano de escolaridade (74%) e os restantes 9/10º ano de escolaridade
(26%) (fig.1).
Figura 1 – Ano letivo mais frequente da amostra.
Em relação à questão “gostas de dançar?”, 67% dos alunos afirma que sim
e 33% diz que não (fig. 2). Dos que gostam de dançar 31 são do sexo feminino
e 10 são do sexo masculino.
Verificou-se que quase metade dos alunos que gostam de dançar (48,8%),
já dançaram fora das aulas de EF.
26%
74%
AnoEscolaridade
9/10ºano 11/12ºano
91
Figura 2 – Percentagem de alunos que gostam de dançar.
O estilo de dança mais procurado foi o Zumba (8 alunos), como é possível
verificar na fig. 3.
Figura 3 – Estilos de dança praticados fora das aulas de EF.
Análise das diferenças entre género relacionando com a variável “qual a
motivação para as aulas de dança?”
Para descobrir se existia associação entre o género e a motivação que os
alunos sentem para realizar as aulas de dança em EF, recorreu-se ao teste qui-
quadrado, pois estamos perante uma variável nominal (género) e a outra
ordinal (motivação).
O resultado do teste mostrou que c2=7,450; p=0,19, ou seja, p>0,05 logo,
não existe associação entre as variáveis, género e motivação para as aulas de
dança. Isto quer dizer que, independentemente do género dos alunos não
0123456789
EstilosdedançapraticadosforadasaulasdeEF
67%
33%
Gostasdedançar?
Sim
Não
92
existe uma associação à motivação que estes têm para dançar. No entanto, e
segundo consta na tabela 2, observa-se que 71,8% das raparigas apresentam
muita motivação para estas aulas, e 40,9% dos rapazes igualmente.
Tabela 2 – Motivação dos alunos para as aulas de dança.
Género
Feminino Masculino Total
Qual a
motivação
para as aulas
de dança?
Nenhuma Contagem 1 4 5
Percentagem 2,60% 18,20% 8,20%
Pouca Contagem 10 9 19
Percentagem 25,60% 40,90% 31,10%
Muita Contagem 28 9 37
Percentagem 71,80% 40,90% 60,70% Total 100% 100% 61/ 100%
Análise das diferenças entre género com a variável “gostas de dançar?”
com “qual a motivação para estas aulas?”
Para descobrir se existia associação entre o género no que diz respeito ao
“gostar de dançar?” e a motivação que os alunos sentem para realizar as
aulas, recorreu-se ao teste qui-quadrado, visto que estamos perante uma
variável nominal (“gostas de dançar?”) e a outra ordinal (“qual a motivação para
estas aulas?”).
O resultado do teste mostrou que, em relação ao género feminino
c2=1,372; p=0,257, ou seja, p>0,05 logo, não existe associação entre as
variáveis, gosta de dançar com a motivação para as aulas de dança.
Já no género masculino o resultado foi oposto, c2=7,252; p=0,008, ou seja,
p£0,05, logo existe associação entre o gostar de dançar com a motivação para
as aulas de dança. O que quer dizer que, os rapazes que gostam de dançar,
apresentam uma grande motivação para as aulas (70%). Os que não gostam
de dançar, apresentam pouca (50%) ou nenhuma (33,3%) motivação para
estas aulas (tabela 3).
93
Tabela 3 – Análise das diferenças entre género com a variável “gostas de dançar?” com “qual a
motivação para estas aulas?”.
Análise das relações associativas existentes entre os alunos que já
tiveram dança, se gostaram ou não, com importância que estes conferem
em lecionar esta modalidade em EF
Para descobrir se existia associação entre os alunos que já tiveram dança
em EF em anos anteriores, se gostaram ou não, com a importância que estes
atribuem em lecionar esta modalidade em EF, recorreu-se ao teste qui-
quadrado, visto que estamos perante duas variáveis nominais.
O resultado do teste mostrou que, c2=10,286; p=0,01, ou seja, p£0,05 logo,
existe associação entre as variáveis, ou seja, os alunos que gostaram de ter
dança em EF disseram que era importante lecionar esta modalidade na escola
(85,7%).
Associação entre “gostas de dançar?” e a importância em lecionar esta
modalidade em EF
Para descobrir se existia associação entre os alunos que gostam de
dançar com a importância em lecionar esta modalidade em EF, recorreu-se ao
teste qui-quadrado, visto que estamos perante duas variáveis nominais.
O resultado do teste mostrou que, c2=7,781; p=0,005, ou seja, p£0,05 logo,
existe associação entre as variáveis, ou seja, os alunos que gostam de dançar
acham importante lecionar esta modalidade na escola (75,5%).
94
Análise entre a importância em lecionar dança na escola e os motivos
associados
Para percebermos quais os motivos associados às respostas positivas ou
negativas acerca da importância em lecionar dança na escola dança, foi
necessário analisar a frequência.
Para os alunos que responderam que sim, os principais motivos apontados
foram: porque é uma modalidade diferente (28,6%), é divertida (18,4%) e
porque aprendem a dançar (12,2%).
Para os alunos que responderam não, os motivos apontados foram: é
pouco interessante (41,7%), há pouca adesão dos alunos e acham as outras
modalidades mais importantes (com 25% cada parâmetro respetivamente).
É de salientar que 5 alunos não apontaram nenhum motivo (tabela 4).
Tabela 4 – Importância em lecionar na escola dança e os motivos apontados.
Para que fossem apurados os dados que se seguem, foi necessário
recorrer ao cálculo das frequências referente às diferentes variáveis.
Estilos de dança favoritos dos alunos
De acordo com a fig. 4, os estilos de dança favoritos dos alunos são: hip
hop (67,2%), o kizomba (47,5%) e as danças latinas (45,9%). O hip hop é um
estilo de dança mais urbano, e que normalmente a maioria dos alunos gosta
muito, no entanto é uma modalidade muito técnica, não descurando as
restantes, podendo ser um pouco mais difícil para os alunos a aprenderem em
95
pouco tempo. O kizomba, na minha opinião foi apontado como a segunda
favorita, pois “está na moda”, e principalmente as raparigas tendem a gostar
muito deste estilo de dança por ser mais sensual e feminino.
Figura 4 – Estilos de dança favoritos dos alunos.
Dificuldades que os alunos possam sentir nas aulas de dança
As dificuldades mais mencionadas pelos alunos foram: vergonha (30%),
nenhuma (21%), timidez e falta de coordenação (16% cada um
respetivamente). É curioso perceber que a maioria dos alunos irá sentir
vergonha em realizar esta modalidade perante os colegas, pois usualmente
não são expostos nestas situações que lhes causa alguma insegurança e
instabilidade, por não ser algo que estejam muito à vontade. Alguns alunos
também têm consciência de que não têm coordenação, o que me faz
questionar se o papel dos professores de EF está a ser bem realizado, dado
que esta componente não está só ligada à dança, mas também às restantes
modalidades.
Segundo um estudo realizado por Amorim, Guimarães, Soares & Machado
(2012) alguns alunos sentem-se inseguros, por considerarem que esta
modalidade é muito peculiar.
28 1841
6 929
8 7 2 1 1
22 329
44 4121
42 43 48 49 49
0% 20% 40% 60% 80%
100%
Estilosdedançafavoritos
Sim Não
96
Figura 5 – Dificuldades que os alunos possam sentir nas aulas de dança.
Motivos para os professores não darem dança
Os principais motivos referidos pelos alunos para os docentes não
lecionarem dança em EF são: os alunos não gostam (51%), falta de tempo
(18%) e pouco à vontade com a modalidade (15%). Isto quer dizer que poderá
servir como um argumento a favor dos alunos, ou seja, como muitos dos
alunos não gostam desta modalidade é-lhes dado quase como garantia que
não vão ter. No entanto, também é curioso alguns alunos (15%) se
aperceberem que o motivo pelo qual os professores não lecionam está
relacionado com a falta de à vontade com a dança.
Figura 6 – Motivos para os professores não lecionarem dança em EF.
2% 30%
15% 16%
16%
21%
Dificuldadesnasaulasdedança
Medo
Vergonha
Poucoàvontade
Faltadecoordenação
Timidez
13% 15%
51%
18% 3%
MotivosparaosprofessoresnãolecionaremdançaemEF
Faltadecondições
Poucoàvontade
Alunosnãogostam
Faltadetempo
Faltadeinteresse
97
“O que significa para ti dança?”
A maior parte dos alunos (65%) referiu que a dança para eles é uma forma
de expressar os sentimentos, é linguagem corporal (15%), enquanto que para
outros (8%) é uma atividade que não gostam de realizar.
Um estudo feito por Amorim, Guimarães, Soares & Machado (2012), refere
que se os alunos fossem a escolher as matérias a lecionar em EF alguns
alunos responderam que não utilizariam a dança por não considerarem uma
modalidade muito importante.
Figura 7 – “O que significa para ti dança?”
Caracterização da Amostra de Professores
A amostra de professores é constituída por 20 elementos (6 do sexo
feminino e 14 do sexo masculino), sendo que o intervalo das idades mais
frequente entre os 41 e os 50 anos (10 indivíduos).
Os professores daquela escola encontram-se empregados em média entre
os 10 e os 20 anos de serviço (45%), seguindo-se uns mais antigos entre os 20
e os 30 anos no ativo (35%).
65% 5% 2%
15%
8% 5%
Oqueéparatidança?Formadeexpressarsentimentos
Libertaçãodeenergia
Nãorespondeu
Linguagemcorporal
Atividadequenãogostadefazer
98
Figura 8 – Anos de serviço dos docentes.
A maioria dos professores que trabalham na EBSGZ lecionam aulas no 3º
ciclo (34%), seguindo-se o ensino secundário (25%) (fig. 9). É importante
salientar que 8 professores estão a dar aulas em ciclos diferentes, por exemplo
3º ciclo e cursos profissionais.
Figura 9 – Ciclos de Ensino dos professores.
Destes professores, apenas 40% (2 do sexo feminino e 6 do sexo
masculino) não teve dança na sua formação académica, e 60% (4 do sexo
feminino e 8 do sexo masculino) afirmou que teve.
10%
45% 35%
10%
AnosdeServiço
1- 10anos
10- 20anos
20a30anos
Mais30anos
16%
34% 25%
6% 16%
3%
CiclosdeEnsino
2ºCiclo
3ºCiclo
Secundário
CEF's
CursosProfissionais
PCA's
99
Diferenças entre género relacionando o facto de ter tido dança na
formação académica com “dá dança nas suas aulas?”, quais os motivos
Tendo em consideração a tabela 5, vemos que 4 das professoras que
tiveram dança na sua formação académica continuam a lecionar esta
modalidade. Uma apesar de não ter tido dança na sua formação académica,
leciona esta modalidade e outra nunca deu nem teve na sua formação.
Em relação aos professores, 2 afirmam que tiveram dança na sua
formação e continuam a lecionar, 4 nunca lecionaram apesar de terem tido na
sua formação académica e outros 2 também tiveram na sua formação
académica, já lecionaram, mas depois deixaram de o fazer. Dois professores
não tiveram formação de dança, mas lecionam esta modalidade, outro 3 nunca
tiveram o contacto com a dança e 1 apesar de não ter tido dança na formação
académica, já lecionou e depois deixou de o fazer.
Num estudo realizado por Pizzatto (s.d.) afirma que, a maioria dos
professores analisados, (90%), não leciona ARE. Cardozo (2005) citado por
Pizzatto (s.d.) confirma que a dança ainda não é integrada nas aulas de EF
com muita frequência, pois muitos docentes ainda não reconhecem a sua
importância e os benefícios associados.
Tabela 5 – Diferenças entre género relacionando o facto de ter tido dança na formação
académica com “dá dança nas suas aulas?”.
Dos professores que tiveram dança na sua formação académica e não
continuaram a lecionar esta modalidade, vemos que os motivos associados
são: pouco à vontade (50%), a falta de jeito (25%) e outras áreas prioritárias a
abordar (25%).
100
Os que não tiveram dança na sua formação académica apontam como
motivos para não lecionarem: a falta de jeito (50%) e a falta de espaços ou
material (50%).
Dos docentes que já deram e depois deixaram de o fazer, os motivos
apontados foram: não consta no plano anual (66,7%) e por ser obrigatório nos
cursos profissionais (33,3%).
Os fatores apontados por Betti (1999) citado por Pizzatto (s.d.) para os
professores não lecionarem dança são: a insegurança dos professores no que
diz respeito a conteúdos que não dominam (falta de conhecimento), a falta de
espaços e material adequado da escola e por suporem que os alunos não
estão recetivos a aprender conteúdos diferentes. Por outras palavras, o
docente acomoda-se nestas justificações para não lecionar as ARE. No
entanto estes fatores não deveriam ser motivo para tal, pois através de alguns
sons corporais, para além de terem um grande valor educativo, constituem
instrumentos úteis para atingir os objetivos que constam no Programa Nacional
de Educação Física (PNEF).
Tabela 6 – Motivos apontados pelos professores para não darem dança nas aulas.
Relação entre ter dança na formação académica com a procura de
formação além da faculdade
Para descobrir se existia associação entre ter tido dança na formação
académica com a procura de formação para além da faculdade, recorreu-se ao
teste qui-quadrado, visto que estamos perante duas variáveis nominais.
O resultado do teste mostrou que, c2=1,250; p=0,373, ou seja, p>0,05 logo,
não existe associação entre as variáveis, ou seja, o facto de terem tido dança
101
na sua formação não implica que também tenham ido procurar outras
formações no exterior.
Apercebemo-nos de que, 50% dos professores que tiveram dança na sua
formação também procuraram formação fora da faculdade, já os que não
tiveram dança na sua formação 75% procuraram fazer formação depois de
terminarem o curso (tabela 7).
Tabela 7 – Relação entre ter dança na formação académica com a procura de formação
além da faculdade.
Os professores que procuraram formação além da faculdade usaram, ou
não, esses conhecimentos nas suas aulas
Observando a tabela 8, verificamos que 75% dos professores que tiveram
formação para além da faculdade, utilizaram esses conhecimentos nas suas
aulas, enquanto os outros 25% não deram uso ao que aprenderam.
Tabela 8 – Análise se os professores que procuraram formação além da faculdade usaram
esses conhecimentos nas suas aulas.
Análise dos professores que dão dança, qual a atitude dos alunos perante
esta modalidade e qual a ideia que ficam no término da UD
As opiniões dos docentes em relação às atitudes dos alunos dividem-se
em uma atitude de reprovação (34%), de aceitação (33%), entusiasmo (22%) e
desinteresse (11%). A diferença entre a reprovação e a aceitação é mínima,
pelo que acredito que esta em geral deve partir dos rapazes, que de uma forma
geral são os que menos gostam desta modalidade.
102
Contudo, com o término da UD todos os professores confirmaram que a
atitude dos alunos foi positiva.
Figura 10 – Atitude dos alunos em relação à modalidade de dança.
Cálculo das frequências dos estilos de dança mais usados pelos
docentes
O estilo de dança mais usados pelos nas aulas de dança são: estilo livre
(29%), danças latinas (24%) e exploração de movimentos mais básicos (23%).
Figura 11 – Estilos de dança mais usados pelos docentes.
Relação entre a importância de a modalidade de dança estar inserida no
PNEF e dar esta modalidade nas suas aulas, quais os motivos
Curiosamente todos os docentes acham que é importante esta modalidade
estar incluída no PNEF, todavia 40% da amostra não leciona e 15% já deu e
34%
11% 22%
33%
Atitudedosalunosemrelaçãoàmodalidadededança
Reprovação
Desinteresse
Entusiasmo
Aceitação
23%
29% 24%
18% 6%
EstilosdedançaExploraçãodemovimentosmaisbásicos
Estilolivre
Dançaslatinas
Folclore
Dançassociais
103
deixou de dar. Sabendo que as ARE estão presentes no PNEF desde o 1º
ciclo, leva-me a questionar se não será por falta de vontade de aprender novas
coisas e ultrapassar as suas dificuldades, que os professores realmente não a
lecionam.
Tabela 9 – Importância de a modalidade de dança estar inserida no PNEF e de estes
lecionarem esta modalidade.
Os docentes referem que é importante a dança estar no PNEF, pois é uma
forma de expressão corporal e criativa (34%), permite uma maior variedade no
reportório das modalidades habitualmente lecionadas (28%) e é mais uma
forma de desenvolver a coordenação (17%).
Figura 12 – Motivos para a dança constar no PNEF.
7% 14%
34% 28%
17%
MotivosparaadançaconstarnoPNEF
Promoveainteraçãosocial
Formadesedesinibir
Expressãocorporalecriativa
MaiorvariedadenoreportóriodasmodalidadesDesenvolveacoordenação
104
Frequência dos motivos mais apontados pelos docentes, ao não
lecionarem esta modalidade, de poderem estar a privar os alunos de
experienciarem as potencialidades do corpo
30% dos docentes refere que este é um complemento das potencialidades
do corpo usadas nas diferentes modalidades, 29% diz que é um fornecimento
de novas vivências e aprendizagens, 25% maior relação com o corpo e o
espaço.
Temos ainda 4% das opiniões de que os professores são forçados a
colmatar as dificuldades presentes em outras modalidades, que o facto de não
constar no plano curricular é um motivo para não lecionarem e ainda algumas
dificuldades em o docente lecionar esta modalidade.
Confrontando o que foi anteriormente dito, os docentes devem-se desafiar,
procurar adquirir novos conhecimentos, para que as suas aulas não sejam
descontextualizadas, podendo ser um motivo para os alunos se desmotivarem
(Amorim, Guimarães, Soares, & Machado, 2012).
Figura 13 – Motivos apontados pelos docentes, ao não lecionarem esta modalidade, de
poderem estar a privar os alunos de experienciarem as potencialidades do corpo.
O intuito da utilização desta modalidade em EF não é formar atletas nem
bailarinos, mas sim “oferecer um leque de possibilidades corporais e
conhecimentos a partir de assuntos diferenciados, não apenas ligados à
4%
30%
25% 4% 4%
29%
4%
ForçadosacolmatarasdificuldadesdosalunosComplementodaspotencialidadesdocorpousadasnasdiferentesmodalidadesMaiorrelaçãocomocorpoeoespaço
Aumentodacriatividade
Nãoconstanoplanocurricular,motivoparanãolecionaremFornecimentodenovasvivênciaseaprendizagensDificuldadesdodocenteemlecionar
105
coreografia, mas também com o objetivo de ensinar” (Pereira & Hunger, 2006,
cit. por Amorim, Guimarães, Soares & Machado, 2012).
Após o testemunho tanto dos alunos como dos docentes, já enunciados
anteriormente, foi necessário fazer uma confrontação dos dados adquiridos.
Apercebemo-nos de que mais de metade dos alunos (67%) que
responderam ao questionário gostam de dançar, desses 48,8% já teve aulas
de dança fora do contexto de aula de EF.
Grande parte das raparigas (71,8%) apresenta muita motivação para este
tipo de aulas e 40,9% dos rapazes idem.
Os professores que dão dança nas suas aulas quando confrontados com a
questão da atitude dos alunos perante esta modalidade, revelam que existe
uma pequena diferença entre a reprovação (34%), talvez proveniente dos
alunos saberem que vão fazer algo que não se sentem à vontade, que têm
vergonha (30%) em fazê-lo. Em contrapartida temos os alunos que apresentam
uma atitude de aceitação (33%), independentemente de gostarem ou não, pois
é uma modalidade obrigatória como qualquer uma das outras. Contudo,
qualquer que seja a atitude inicial dos alunos, no término da UD há uma
unanimidade entre os docentes referindo que os alunos acabam com uma ideia
positiva daquilo que foi feito.
De acordo com estes dados e apercebendo-me de que a grande maioria
dos alunos gosta de dançar, que motivos levam os professores a não
lecionarem dança? Esta questão poderá ser respondida mais à frente no texto.
Dos alunos que acham que é importante lecionar esta modalidade
(80,33%), os fundamentos mencionados foram: por ser uma modalidade
diferente do que estão habituados a fazer nas aulas (28,6%) e por ser divertida
(18,4%). Contrariamente, os alunos que não acham importante (19,67%)
referem que esta é uma modalidade pouco interessante (41,7%) e que os
alunos não gostam (25%). Estas opiniões são provenientes na sua maioria dos
alunos que não gostam de dançar, justificando de certa maneira a sua
reprovação à modalidade.
Ainda sobre este assunto, mas no que diz respeito à opinião dos docentes,
todos eles acham fundamental esta modalidade estar incluída no PNEF, isto é,
106
têm a noção de que é importante lecioná-la tal como outra modalidade
qualquer. Alguns (28%) ainda referem que é importante, porque aumenta a
variedade do reportório de modalidades a lecionar, é uma forma dos alunos
conseguirem se expressar e desenvolver a criatividade (34%) e ainda
desenvolver a coordenação (17%). Porém 40% não leciona e 15% já lecionou
e deixou de o fazer, por referirem que não consta no plano anual, e por já não
se encontrarem a dar aulas nos cursos profissionais (onde está modalidade é
obrigatória).
Os alunos foram questionados sobre o que significava a dança para eles,
65% disse que era uma forma de expressar os sentimentos, 15% é linguagem
corporal e 8% é uma atividade com a qual não se identificam. Os alunos
tocaram em aspetos essenciais que caracterizam a dança, e sabem
minimamente do que falam.
Temos aqui uma contradição, e o levantamento de uma possível questão:
se os professores estão conscientes dos benefícios associados à dança, se
temos alunos motivados para dançar, por que é que ainda têm esta atitude
reticente em relação à mesma?
Uma possível justificação encontra-se na confrontação dos motivos pelo
qual os professores não lecionam estas aulas, que passam pela falta de jeito,
pouco à vontade e a falta de material.
Em relação à falta de jeito e ao pouco à vontade, não é exigido que sejam
realizadas coreografias muito complexas, através de passos e combinações
simples é possível construir coisas giras. Podem ainda pedir a colaboração dos
alunos e em todas as aulas eleger duas ou três pessoas para trazer uma
sequência de passos a ensinar aos colegas, ou então pedir auxílio a alguém
externo e que esteja à vontade com a dança. A questão do material, não é
justificação, pois é possível recorrer aos sons corporais, às contagens, utilizar
outras estratégias que, apesar de poderem ser menos apelativas para os
alunos (ou não), sejam úteis para alcançar os objetivos pretendidos.
De acordo com um estudo elaborado por Paccout (1991), citado por Lee,
J.; Lee, H.; Ko & Boswell (2013), a fala tem uma pequena importância (7%) na
comunicação, seguindo-se os gestos (38%) e outros comportamentos não
107
verbais (55%), o que quer dizer que, 93% da comunicação estabelece-se por
meio de comportamentos não verbais. Através destes dados é possível
reconhecer a potencialidade que as experiências em dança podem
desenvolver na expressão da comunicação. “Uma das conclusões a que
chegaram foi que a expansão na autoexpressão incluindo o uso do corpo
promotor da comunicação, foi fundamental no aumento da confiança para
expressar as suas emoções. Estes resultados sugerem que a criatividade
desenvolvida através da dança pode agir como um poderoso estimulante para
os alunos se autoexpressarem através da linguagem corporal (Lee, J; Lee, H.;
Ko & Boswell, 2013).
Também há a possibilidade de os professores realizarem formações em
dança para colmatar as lacunas que possam existir, mais de metade dos
professores (12), independentemente de terem tido dança na sua formação
académica, optaram por fazer formações, contudo apenas 75% utiliza os
conhecimentos adquiridos nas aulas.
Os alunos por sua vez, acham que a maioria dos professores não dá
dança, porque os alunos não gostam (51%), os professores não têm tempo
para criar coreografias (18%) e por apresentarem pouco à vontade com a
modalidade (15%).
Quando questionados sobre a possibilidade de estarem a privar os alunos
de experienciarem as potencialidades do corpo, os que responderam que sim
apontaram como razões: sim, porque é a dança ajuda a complementar as
potencialidades usadas nas diferentes modalidades (30%), há um fornecimento
de novas vivências e aprendizagens (29%) e ainda há um desenvolvimento da
relação entre o corpo e o espaço.
O movimento ao ser trabalhado, tem como consequência aprimorar o ritmo
que é utilizada nas outras modalidades, pois na ótica de Retondar, (2001) cit.
por Amorim, Guimarães, Soares & Machado (2012), “a competência rítmica
auxilia os alunos a conhecer melhor o seu mundo, os objetos, o mundo dos
outros e a realidade à qual pertence.” “Além disso, as atividades rítmicas
estimulam a coordenação, o desenvolvimento das habilidades motoras,
auxiliam na concentração, na atenção, na postura, na perceção auditiva, visual
108
e corporal, despertando a criatividade e a expressão do corpo” (Queirós, 2003;
Muller & Tafner, 2007; Borges; Souza & Pereira, 2008, cit. por Amorim,
Guimarães, Soares & Machado, 2012)
Os que responderam afirmativamente, mas tinham como inconvenientes a
dança não constar no plano curricular, daí não terem lecionado. São forçados a
colmatar as dificuldades dos alunos presentes nas outras modalidades (não
pensando na possibilidade de a dança ajudar nesse sentido) e ainda as
dificuldades sentidas pelos docentes em lecionar dança.
Em suma, Marques (1999) citado por Freire (2001) afirma que nós como
seres humanos, temos “a capacidade biológica de mover os nossos corpos e
expressarmos criativamente os nossos sentimentos e ideias através deles”.
Acreditamos que é fundamental valorizar, ambos os géneros, destacando
não só a dança, mas também “o movimento, o ritmo, a expressão corporal, o
brinquedo cantado, pois todos estes conteúdos fazem parte da disciplina de
rítmica e dança.” (Amorim, Guimarães, Soares & Machado, 2012).
Quando há a ausência do desenvolvimento desta modalidade, ocorre uma
interferência significativa do desenvolvimento psicomotor das crianças e
jovens. A partir da emoção estas são estimuladas na afetividade, adequando a
utilização destes elementos para o investimento quer pessoal quer social, além
de que aumenta os níveis de criatividade, da expressão corporal manifestando
as dificuldades e habilidades dos alunos (Santos 2003, cit. por Amorim,
Guimarães, Soares & Machado, 2012).
109
6.8. CONCLUSÕES
Esta investigação fez-me perceber que, acredito que estamos perante uma
sociedade onde ainda existe um pouco o tabu de que “a dança é para
meninas”. Que proporcionar aos alunos um maior número de experiências
através das mais variadas modalidades existentes para muitos professores
com muitos anos de serviço, sair da sua “zona de conforto”, muitos deles dado
a quantidade de anos de serviço que possuem não é algo que seja pensável,
logo a dança só será lecionada caso estejam ligados aos cursos profissionais.
A ausência da procura por novos conhecimentos, talvez seja um motivo
para vermos, muitas vezes, os alunos um pouco desmotivados, por todos os
anos aprenderem as mesmas modalidades, fazerem os mesmos exercícios, e
deixaram de gostar da disciplina a cada ano que passam.
Apercebemo-nos de que, se a dança fosse obrigatória, tal como nos
cursos profissionais, os professores acabariam por ter que a dar, mas como
alguns referem que não consta no plano anual, acabam por ter essa desculpa
para não a ter que a lecionar, independentemente de terem conhecimentos da
importância que isto acarreta. Por outras palavras, os responsáveis pela
elaboração do plano anual teriam que proceder a algumas alterações e incluir
esta modalidade, sendo obrigatória lecionar em todos os anos, tal como consta
no PNEF. Todavia, quando temos responsáveis que não gostam de lecionar
dança, isso poderá influenciar a decisão na escolha das modalidades.
O facto de os docentes terem tido dança na sua formação académica
parece ser um fator determinante na continuação da lecionação da dança nas
aulas, pelo que devem ser mantidas estas aulas nos mestrados da nossa área.
É importante referir que estas ilações não podem ser generalizadas, visto
que a população alvo foi apenas da EBSGZ.
A elaboração deste tema de investigação foi também uma mais valia, pois
ao saber que existe uma grande quantidade de alunos que gostam de dançar,
e tendo em conta que irei fazer estágio profissional na mesma escola, pelo
Clube Escola, poderá ser uma hipótese de criar uma aula ou um núcleo de
dança na escola, para além daquele que existe ligado ao DE.
110
Seria interessante se um estudo similar ao que realizei fosse aplicado em
grande escala, ou seja, onde abrangesse um maior número de escolas da
região para ter uma noção em grande escala da opinião, quer dos alunos, quer
dos professores em relação a esta temática e realmente perceber se as ARE
são apenas um tabu na EF na escola onde foi aplicada, ou se é num contexto
geral.
111
6.9. BIBLIOGRAFIA
Amorim, D., Guimarães, A., Soares, A., & Machado, Z. (2012). Rítmica e Dança
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112
113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi num abrir e fechar de olhos. É assim que classifico o término do
estágio e deste documento.
Esta foi uma das melhores experiências que tive na minha vida, estou com
um sentimento de missão cumprida, com um sorriso no rosto, grata pelo que
passei e orgulhosa do que consegui alcançar.
Foram diversas experiências e vivências passadas durante o EP, cada
momento foi uma aprendizagem, independentemente de ter sido bom ou
menos bom. Os bons foram incentivos para continuar e saber que estava no
caminho certo, os menos bons serviram de lições, foram úteis para crescer,
aprender e melhorar.
Devemos estar cientes que a capacidade para a função de professor vai-
se aperfeiçoando e desenvolvendo ao longo dos anos (Marques, 2011), e este
é apenas o início de um longo caminho a percorrer.
O estágio fez-me perceber que ser professor não é apenas dar aulas, é
entregar-se à turma de braços abertos, pronto a demonstrar todo o seu
conhecimento e sabedoria, onde através de métodos mais lúdicos e apelativos
é ensinado ao grupo aquilo que é pretendido. É despender muito do seu tempo
dedicado à construção das aulas da melhor maneira, é manter-se sempre em
constante atualização para que a informação chegue aos alunos nas melhores
condições possíveis e na versão mais recente.
Ser professor é sinónimo de lidar com pessoas com características e feitios
diferentes a toda a hora, onde a imparcialidade e entrega deve ser igual e ao
mesmo tempo distinta por sermos todos diferentes. É estabelecer relações
afetivas com os alunos, pois irá promover um bom clima na aula, aliado à
exigência, quanto basta, e ao entusiasmo.
É ter uma participação na escola e a relação com a comunidade ativa,
porque são fundamentais para que o docente se integre na escola e construa
ferramentas de gestão e organização.
Eu mudei, eu cresci com este estágio, quer em termos pessoais, quer em
termos profissionais. Houve uma grande evolução na forma de atuar perante
as adversidades, quer ao nível das aulas quer ao nível relacional, e no modo
114
de pensar. Estou crítica em relação a diversas situações, assim como a minha
capacidade de reflexão está mais avançada em relação ao início do estágio.
Já começo a sentir uma pequena nostalgia, vou sentir saudades de todas
as pessoas que de forma direta ou indireta estiveram envolvidas no meu EP, os
meus alunos, professores, funcionários, ambiente vivido no gabinete de EF,
entre outros.
E assim foi... O sonho de criança está praticamente realizado. Estou
convicta que um dia vou voltar à docência, e fazer aquilo que mais gosto,
porque nós somos do tamanho daquilo que sonhamos, por isso temos que ser
grandes.
115
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XXXII
ANEXOS
XXXIII
XXXIV
ANEXO I: Planeamento Anual
XXXV
XXXVI
ANEXO II: Estrutura do Plano de Aula
XXXVII
XXXVIII
ANEXO III: Cartaz Torneio 4 Estações
XXXIX
XL
ANEXO IV: Questionário Aplicado aos Alunos referente ao Tema de Investigação
XLI
XLII
ANEXO V: Questionário Aplicado aos Professores referente ao Tema de Investigação
XLIII