sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em...

138
DIMINUTO Não sei porque a conheci naquela noite chuvosa e frienta. Vi muitas donzelas passarem mas o sentimento falou mais alto. Olhamo-nos indiferentes, timidez era a palavra. Presumi que ela vinha mas orgulho era maior. Conheci seu irmão, familia. Passei a adorná-la, elogia-la e por fim a ama-la, era mesmo o amor verdadeiro. Peguei-lhe a mão, saiamos de mansinho sem lembrarmo-nos das tristezas. Ela se foi mas seu espírito para sempre ficou. SOB O CARNAVAL

Transcript of sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em...

Page 1: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

DIMINUTO

Não sei porque a conheci naquela noite chuvosa e frienta. Vi muitas donzelas passarem mas o sentimento falou mais alto. Olhamo-nos indiferentes, timidez era a palavra. Presumi que ela vinha mas orgulho era maior. Conheci seu irmão, familia. Passei a adorná-la, elogia-la e por fim a ama-la, era mesmo o amor verdadeiro. Peguei-lhe a mão, saiamos de mansinho sem lembrarmo-nos das tristezas. Ela se foi mas seu espírito para sempre ficou.

SOB O CARNAVAL

Carnaval meu desangano. Encontreia pulando, brincando mas nada falei. Parei perplexo com sua beleza, comovido com suas palavras, arrastado por seus cabelos. Julgueia t, fiquei emerária, insensata, insensivel mas tudo isto não refletia a nem sei quando isto tudo findara, a que horas, minutos nem segundos mas de lamentos nunca mas ei chorar.reali-dade visível: ela era pura, bela e terna como a mão do Senhor. Era uma flor saltitando do calvário sem sangue, sem vingança mas com amor. Era a paixão mais forte, mais densa que se estabelecia entre nós. Alegre perma-ci, trevas desapareceu, felicidade surgiu. Nada a ninguém disse e

Rio, 02/68.

Page 2: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

COISAS DA VIDA

Porque há racismo se fomos criados no mesmo universo. Porque há assassinatos se somos filhos de um só Senhor que é DEUS. Porque não temos mais amor do que guerra. Porque ser mal pagador se a toda hora estamos pedindo algo. Porque brigar se amanhã já estamos nos falando de novo. Porque rancor, porque a raiva, a ira, se estamos na comunidade para auxiliar uns aos outros. Porque se matar, se o mundo esta de portas abertas para todos. Porque temos pretensões nas coisas alheias se podemos ter melhor. Porque somos ambiciosos se nos resta a esperança, o otimismo, a fé, a caridadede, e o maior sentimento humano que é o amor - o vínculo da perfeição. Porque ser mau, orgulhoso se um dia todos voltaremos ao que erámos antes devimos á vida, isto é, Pó.

Rio, 24/05/68

Page 3: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

PESSIMISMO

O que posso dizer se já não tenho mais força para falar. O que posso pensar se minha cabeça dolorida não para. O que posso fazer para andar se meus pés não saem do chão. O que posso fazer para amar se meus sentimentos não combinam com o meu coração. Assim vou seguindo o destino, cheio de contrastes, cheio de pertubações, porções de desgosto o que me enche de tédio e vazio. Sou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões de consequencias imprevisiveis. Pai de-me forças e coragem para suportar tudo isto, de-me a sua benção de viver para morrer. Que esperança tenho eu para ser feliz se o destino me reservou uma vida pacata, dura e cruel, para nunca ver a aurora nascer, para nunca ver aonde se dilui o pensamento.

Rio, 14/10/69

Page 4: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LUA

No ar estava ela parada e fixa, com várias cores, sobressaindo o amarelo-roxo. Com sua coroa luminosa abençoava todos os recantos do mundo, uma benção que era uma dádiva infindável. Sua companheira distante a poucos metros olhava-a com olhos sutis, cheios de esperança e felicidade. A cada instante, a cada minuto, a cada segundo brilhava mais e mais como se fosse luz incandescente. Chorava nas trevas nas penumbras, ria na claridade, sorria ao por do sol. Tem protetores que a cercam de todos os lados, esta no pedestal no cume da glória. A brisa tocava-a e ela agradecia permanecendo quieta como uma estatua de plantão. Queria ser livre como ti, queria amar como ti, queria expirar em seus braços, emseus seios e nos seus lábios purificados. Partirei logo ao seu encontro para ajoelhar-me a seus pés para que voce me dê seu perdão por eu inserir estas palavras neste pequeno livreto. Um dia estarei a seu lado para sempre, para eternidade. Ó minha lua, Ó minha amada.

Rio, 01/01/70

Page 5: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

ANO BOM

Um novo ano se inicia, cheio de esperança, de fé, de otimismo, de aventuras e caridades. Para uns o ano que se foi, foi maléfico para outros boníssimo. Este que come-ça que seja bastante promissor, profícuo, frutífera e que termine com as guerras, com a fome, com o preconceitos, com as desigualdades, com a ganância, com o egoísmo, com a hipocrisia e com a medíocridade. Que se construa mais escolas, mais hospitais, mais mora- dia, e que haja trabalho e melhores condições de vida. Ano bom que a prosperidade e a feli-cidade sejam a nossa companheira durante este próximo doze meses. Que façam um mundo cheio de amores, de flores, de enamorados, que este mundo seja real e verdadeiro não fictício, utópico ou imaginário. Que o “Causas das Causas”, o Senhor, nos de força, saúde, e coragem para passarmos mais uma etapa de nossas vidas.

Rio, 01/01/70

Page 6: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

IRMÃ

Dedico estas despedaçadas linhas a minha companheira, a minha musa, a meu viver, a minha vida. A você dou o mar, a terra e se pudesse lhe daria tudo o que existe de mais belo e puro neste mundo. Tu és tão linda quanto a uma ave emplumada, és tão imaculada como a santíssi ma, tão meiga e fogosa como a branca neve. Amo-a sem pensar, adoro-a sem vacilar, quero-a só para mim. Parece que conheço-a há tempos, seus beijos ardentes e envolventes e lábios que incendeiam e lubrificam aminha boca. Não me deixes mas nas trevas, nas penumbras, livre-me dessa perigosa e cruel nostalgia que toma conta de todo o corpo meu.

Rio, 05/03/70

Page 7: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

CRISE DE ADOLESCENTE

O que estara se passando comigo. As férias escolares se fluem como um prelúdio. Sinto-me perdido no meu próprio bairro, já não vejo mas nada de novo, para mim tudo é antiquado, obsoleto, reacionário, arcáico, impróprio e sem razão de ser. Quero partir para novas terras em busca de novos relacionamentos, novas conquistas, novos clarões. Assunto não tenho para os meus vizinhos, parentes e colegas. Em minha morada parece que estou confinado: não leio jornais, revistas, não posso ver e ouvir os meus programas preferidos na tv. Aos fins de semana tenho uma mesada exígua de cr$ 5,00 (cinco cruzeiros). As vezes me dá vontade de não falar com ninguém, de ficar no isolacionismo onde eu possa ler, criar e aplicar bem o meu tempo. Para mim tédio, nostalgia já virou rotina. Essa fase sei que vai passar como passam as águas no moinho, e depois que superá-la creio que tudo há de vir de melhor para bom. Quero, preciso, necessito de novos amigos, novos colegas. Escrevo neste opúsculo ea sensação presente do momento. Perdoem-me os amigos que me cercam com carinho, dedicação, sinceridade, apoio e bondade. Tão certo como o sol se põe, voltarei como dantes, radiantes, vibrante, feliz para o convívio de todos nós.

Page 8: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 28/07/70

DEL CASTILHO

Domingo solar era um dia como outro qualquer. Repentinamente a tarde se esvai e surge a noite crepuscular. Eu saía sem destino, mas subitamente tomou conta de mim um desejo de ír a casa de minha tia. Não fiquei lá por muito tempo, um compromisso amoroso impediu-me. Depois dessa higiene mental fui convidado a comparecer numa festa de música pop. Ao chegar observei o ambiente como convém a quem não conhece o lugar a que se esta indo, o movimento feminino era dos melhores. Já se passava mais de uma hora que a música tinha começado, eis que num impulso impulsivo de meu olhar, noto uma linda mocetona encostada na parede. Fui direto ao seu encontro, confesso meio tímido. Ao jogar o meu olhar contra o dela, fiz-lhe o honroso convite da contradança o que de imediato aceitou. Dançamos uma, duas, tres vezes seguidas sem parar, conversamos muito e percebi que quando mais intensamente a notava, meu coração batia aceleradamente, meus pés tremulavam e os lábios meus imantados saltitava loucamente. Terminada a festa trocamos juras, promessas, compreensões e etc.... Levei-a ao ponto de onibus com a firme determinação de vê-la na terça-feira próxima. Até logo, até depois, até outro dia, enfim foi mais uma aventura que se iniciava.

Page 9: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 04/08/70.

HELENA

Naquela noite funesta tudo parecia fim, andava descontraído sem nada pensar. Conversava com vários colegas do colegial a beira de uma casa de pasto. Passavam muitas pessoas pelo local, mas por um instante observei que entre os transeuntes aparecia Helena. Helena acompanhada de duas virgens que a principio pareceu-me um pequeno contratempo, sendo que isto não constituíria problema para mim e sem hesitar fui seguindo seus cálidos passos e abordei-a totalmente. Tivemos pouco tempo de trocas de palavras, depois as despedidas e marcamos encontro para determinado dia. Foram-se dia após dia, numa sexta-feira de agosto a sorte sorriu-me novamente. Surgia Helena com seu mesmo gingado, com o já conhecido encanto de sereia que se traduzia em ternura, candura, e meiguice para me dar. A noite se tornou curta para tanto e satisfiz por inteiro, toda vontade em te-la em meus elásticos braços. Abriu-se uma nova flor e com ela cresce um novo amor.

Page 10: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 01/09/70

DISTÂNCIA

O que mais me dói, é saber que estou longe dos seus carinhos, distante do seu amor. Sinto, lamento de não te-la em meus braços, envolta de beijos a penetrar no todo interior seu. Não são meras palavras de um ser qualquer, mas sim dum terráqueo que ama toda a natureza que o Senhor nos deu. Não sei se esses logos vão alcançá-la, alegre ou tristonha, espero que todas as linhas que insiro agora, seja um conforto, alívio, segurança, quem sabe talvez, portadora dum sentimento profundo, terno, que só um homem apaixonado como eu pode desejar-lhe. Escrevendo tudo isto, vejo você guiar as minhas minúsculos mãos, abrindo a porta do bestunto-macro para eu entender, compreender, sentir tudo o que de mais belo e puro você transmite. Infinitamente a quero junto de mim, pode vir de qualquer lugar, contanto que todos os caminhos me levem a ti. Não sei falar de amor nem tampouco de ternura, mas o que você representa só os mares sabem.

Page 11: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 30/11/70

DISPERSÃO

Rio, 21/087/1.

Nada sinto escutar na lendária solidão noturna. Surgem os rouxinóis, vão se lá as proas, nasce as broa s. Contudo mergulhado em terno sonho, escrevo eu, as memórias do coração seu. Caí a tarde, com ela lembro-me do tempo perdido que outrora lutei, temposque marcaram nódoas indeléveis nas rochas que percorri. Tudo é calmo como a própria nostalgia, lá fora ouço sons que jamais senti ecompreendi. Só, só você é capaz de tirar-me deste fétido e fecundo lodoçal interior, queimerso estou. Chega, nada me apetece, nada me aparece, só o que guardei e trago comigo,são as ocultas sombras dos prantos seus.

Page 12: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

ARREBATAMENTO

Na súbita busca do louco desejo, navego em esquecidos saveiros dispersos nas camadas mais profundas de sua memória. Ébrio de enamorado beijos, vagueio na selva da solidão deserta, acobertado das mais tensa e arretabatadora paixão. Na raza fria da sua alma dormi no fino e denso segredo esprimido de surrupiante amores que proliferam em todo peito meu. Os canais mansos da tua voz é a descoberta viva e fecunda do meu viver. Em tudo, em ti o que mais ausculto é esse gemido sugado das ondas, dos teus seio felinos que me aportou das alheias enchentes. Assim levarei o cálice da redenção, das planícies longínquas do nosso coração para a purificação dos deuses do destino do além da vida.

Page 13: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 26/02/72

VOLTA AS AULAS

Volto as aulas com o espírito cheio de otimismo, redobrado de energias, encharcado de amor pelas novas coisas que encontrarei. O aspecto, o ambiente, a personaldade dos meus novos colegas de bancos escolares parece-me dos melhores. Talvez diga isso por que fiquei um ano afastado das atividades escolares, ser-vindo as forças armadas. No Colégio - Atheneu Brasileiro - a qual faço parte, fazem-se as novas acomodações sob o eficiente comando do ilustre e digno diretor - Celso Lisboa - a quem devo muito por ainda estar estudando,e não posso esquecer-me do colega e amigo Claudio Elias, o popular Torpedo. Participação, comunicação, diálogo são as palavras mais comumente usadas e faladas e exercerei estreita vigilância para constatar se esses “ditames” estão sendo postos em práticas. A reforma educacional começou mas poucos são os colégios que podem adotá-la integralmente, uns por falta de material didático

Page 14: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

outros por carência de pessoal especializado. Vamos deixar de ser “um país de doutores” para entramos com todo o esforço e empenho na mão de obra qualificada - área técnica - mas pertinente e real as nossas necessidades.

Rio, 20/03/72

TERRA GUARANI

O querido, ilustre e íntrego amigo Francisco Alves Buarque de Holanda, teve e foi de total felicidade ao compor a música mais badalada do ano, estou falando de “Construção”não podia ser outra. Encontro-me numa noite de segunda-feira acalorada, lua cheia, estrelas a brilhar e o amor a chamar. Há como queria ser o dono deste incomensurável universo, de poder amar todas as mulheres do mundo como diz Domingos de Oliveira. Vinicius tem razão quando fala que “na vida é preciso paixão”. Onde está meu amigo Tom, onde está Dicavalcante, Dijanira, Picasso Sartre, Jorge Amado, Vérissimo - o pai - como queria aprender a magia do “rei café “, como queria interpretar como Carvana ou mudando de sexo Fernanda Montenegro.Quanta visão tem estes, intuição, imaginação, criatividades e tanto amor pelas coisas que fazem.Porque fostes Ataufo, porque me deixaste Chopin, fugiste de mim porque Villa. Mas

Page 15: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

resigno-me com César Lattes, Sabin, Barnad, Milton, Silvio Caldas. Há Brasil querido, quanto mais te olho mais vontade tenho de amá-lo, defende-lo e de poder dizer a todos “eu sou brasileiro”. Há formosa Ipanema, há Copacabana envolvente, Mangueira, Salgueiro, Império, Portela, Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense tudo isso é Brasil e quem dizer o contrário que vá....

Rio, 27/03/72

CASO PERDIDO

Era como se houvesse desintegrado o universo nas suas menores partículas. Foi um golpe súbito que me deixou francamente sem a menor reação possí-vel. Vista como deusa, tida e havida temperamental, forçado é descrever nos seus mínimos detalhes a tragédia íntima e passional que se abateu sobre este mísero cidadão. Partiu parabem longe, muito distante dos meus pensamentos e encantos. Como a glória de possuí-lafoi efemera, talvez prenúncio da amante perdida. Tudo de belo, poetico, inspirador foi-secom ela, sangrou-me os prantos, cindiu-me o peito, desabrochou o coração ferido e maltra-

Page 16: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

tado. Há como viver neste mundo desencantado, desiludido, magoado com tudo e com todos. Não sei se outra há de haver em minha vida, mas se chamado fôr para amar novamente não hesitarei, amarei até o fim da eternidade porque não dizer até o fim de meus dias aqui na terra.

Rio, 18/04/72

QUESTIONAMENTO

Poderia afirmar, asseverar que não sei o que se passa realmente comigo. É dificil analisar, julgar sem conhecer as armas do poderoso inimigo. Penso, penso sem parar, nada há para me basear, nada existe de concreto ou provas que me sirvam de argumentos.

Page 17: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

As transformações ou sofrimentos interiores são piores de que uma operação de rescaldo. Articulo, raciocino mas nada, tento novamente mas as tentativas minhas são vãs. Deixarei o tempo passar, de espaço infinito e ilimitado, para saber a que veredito chegarei.

Rio, 04/05/72

QUESTIONAMENTO II

A quem de fato interessar. É como um redemoinho tomasse conta do meu ser.

Page 18: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Quero escapar, fugir, sair, mas não sei como vou fazer. Ah? Já tenho a idéia; é enfrentar diretamente os problemas que por hora me afligem. Passam-se dias, minutos após minutos e nada de resolver. Tenho um sentimento profundo, penetrante que arrebata os mais insensíveis corações. Pronto, agora já sei que existo, porque estou amando novamente. Sei lá se realmente estou sendo correspondido de espírito, mas vale tentar. Parece que redobrei minhas forças para a batalha de amor inquietante que jádesponta. Dizem-me: és covarde, és masoquista, só que eles não sabem como é desencanta-dor receber um senão nos seus mas puros e sinceros propósitos. Devo dizer que estou deve- ras reservado e vocês querem saber porque, eu respondo: já amei uma vez com todas asforças que um ser humano possa ter e foi o que se viu: o final desesperador, angustiante, nostálgico como o amanhecer do Outono. Acho que respondi da melhor forma possível. Sei que um capitão não pode abandonar por primeiro um navio que naufraga. Fico indeciso, inseguro, tenho medo de ser brusco, asqueroso, nauseabundo para com os meus. Acredito que todos passem pelo que estou passando, e hão de compreender o meu espírito. Seja como for, não vislumbro o decorrer do caso em apreço. Quero esquecer, apagar tudo da memória, riscar tudo o que encontrei e vi nessa miragem. Mas a bonança surge, desaparece o receio, começa a fé pura e escaldante em meu pequenino coração. Que vontade de correr por este mundo afora, e falar a todos que estou sentindo um ser bem próximo a alma minha, com os meus suspiros e tensões. As palavras que insiro parecem que saem dos prantos meus, rebentos como o próprio despertar da Primavera. Olho, observo nada há encontrar, só a remota possibilidade de vê-la, senti-la, tocá-la, acalentá-la nos abraços meus.

Rio, 10/05/72

DECLARAÇÃO

Page 19: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Como é bom enfrentarmos o dia a dia com redobradas disposições de otimismo e esperanças. Maravilhoso estar entre os íntimos e queridos amigos a quem queremos e esti-mámos muito. O estado em que vivemos depende muito do que queremos alcançar, almejar nos seus mais sadios propósitos. Amar o tônico que se apaga não se entrega e nem se perde. Amo os meus semelhantes como a natureza em todo o seu esplendor.

Rio, 31/05/72

Page 20: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

NATUREZA HUMANA

É difícil dizer que o ser humano que ama hoje, odiara amanhã a mesma pessoa que outrora amou. Creio, penso firmemente com eivada convicção que estes seres procuram, vivem em busca de auto- afirmação, talvez de sua própria identidade perdida que ainda não encontrou. Como são fáceis de notar as constantes mutações, as inconseqüentes falsidades e porque não asseverar, as freqüentes hipocrisias e leviandades. Não sou, nem quero ser o pródigo moralista ou o reformador de modos, idéias e costumes. É no momento, a simples constatação da complexa e singular natureza humana

na qual vosso escriba se inclui. Rio, 31/05/72

Page 21: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

PRAÇA PARIS

Pássaros voam, crianças correm, os peixes nadam, os cachorros pulam. Quanto aprazível é o local onde estou, parece até a ilha encantada de Éden. Lá vem ela toda de branco com seus sutis e cálidos pés como se estivesse des- filando na passarela. Aparece um indigente menino com o seu carro de pneu a rodar, senta-se ao lado de um senhor e este he entrega várias pratas. O menino cumpriu o seu objetivo e agora já pode ir embora satisfeito e é isso que ele faz. Os raios solares penetram no seio da praça dando um toque todo especial ao meio ambiente. Surgem pessoas, mais pessoas e eu completamente ligado e observando os fatos. Como gostaria de aqui ficar eternamente, sem interrupção a vaguear por estes sombrios e distantes caminhos que me levam a meu ser. Lá fora o conflito urbano, a poluição sonora, o rosário de buracos, longe de tudo isso estou vendo o jovem varão que dá os seus primeiros passos de menino. Que saudades da Praça Paris.

Rio, 01/06/72

Page 22: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

QUADRINHAS, TERCETOS

Há riso envolvente, contágio eloquente, paz servil, Brasil sutil.

Eterno amor, canção da flor, perdido coração, ferido salmão.

Outono do meu passado, amanhã cansado, olhar casado.

Vibrando estou, amando vou, infinito sou.

Rio, 02/06/72

Page 23: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

BURBURINHO

No seu regato aberto pululam brisas solventes das híbridas flores, em redor das plumagens cortejo a quietude noturna das águas; aqui eu sou eu dentro do seu eu. Nas turvas do coração confesso lanço-me em loucos cantos. No azul do seu languido pedido busquei as mais profundas vitórias. No mastro da sua melosa voz leio as sinceras recordações de gratidão que me deste. Burburinha lua, burburinha lua porque eu vi a Dalvinha nua. Aragem petrificante porque cegas o seu pobre servidor fiel.

A nostalgia me viola a tristeza me isola.

Essa menina com esta bunda vai longe, vai longe, se ela for brincar no meu quintal verá que eu sou um rapaz muito legal. Ó monte sublime que ofusca todos os movimentos, leve-me nas fecundas tranças porque sem elas perderei toda a crença no amor. A cantiga dos seus cabelos amamenta omeu sono refratário das minhas noites de vigília que passei ao descobrir o seu mais tímidoe raso sussurro.

Rio, 08/06/73

Page 24: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

NASCENTE

As fases passam, o tempo dilui e o vento volta. Tristonho fico vendo cinzas em campos perdidos do destino imponderável. Não há nada em si, tudo como era dantes, e a in-continência do tempo se vai dentro do embrião inocente. Observo olhos, sons escuto e nada fala ao meu coração. Lágrimas derramadas acorrentam as vias que tentei alcançar naquele sonho desencontrado e perturbador. Volto ao mesmo sono temporário que se fluem com tudo o que tenho e possuo. Nada direi, jamais revelarei mas se o poente nascer descerei ao nascente a busca da minha perdida liberdade.

Rio, 08/06/72

Page 25: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

CRIS

Comemoro hoje um ano que começou, ou melhor teve inicio, o colóquio, eu e Cris. Lembro-me que ao chegar onde se realizava a festa junina, não tinha pretensão nenhu-ma de ter pelo menos um flerte qualquer. Avistei-a entre tantas lindas raparigas no maiorlampejo de visão dum homem. Fitava-a mas nada de lhe falar e por meio de sinais Cris en-tendeu o brilho e o êxtase que continha meu sorriso. Sua genitora a tudo acompanhava quieta em seu lugar e de repente deu o sinal de aprovação a sua filha querida e adorada. Pensei que íamos ter um breve e condenado namoro passageiro como os demais que eu já tivera. Mas para meu engano, caminha para o adro da igreja em cujo interior havia crianças e padre a rezar. Falamos de medo, desventuras mas a fé inabalável não permitiu-me que a abandonasse e sendo assim começava o reinado de um tão curto amor. Sofria como sofria mas dela não se afastava, o encanto cresceu como cresce a chama do eterno. Pôs-se a viajar mas nem isso abalava o meu mais profundo e terno sentimento. No dia da sua ida a outra capital, prantos meus rolaram como se estivessem regando o seu formoso e lindo jardim. Voltou e eu recebi como no primeiro dia em que a conheci. Tempos fluem, dificuldades aparecem, tormentos surgem e fecundam. Não queria despistar mas concordamos ambos que o melhor seria a separação sentida e sofredora. Foram lágrimas que jamais o dia a dia apagara do meu indigente coração, porque veio ao mundo através duma mulher que me amou mais que qualquer outra. Finalmente sua presença partiu de mim, e segui outro destino que o futuro me mostrará.

Page 26: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 12/06/72

PERDIDO

Vejo-a bem lá no alto do cume disperso e entrincheirado. Ouço sons de cigarras, canto de fadas, murmúrio dos pássaros, fala das colméias. Tens a laboriosa luz que acende odesvairado rumo meu. Não, não posso chorar como as nuvens, sigo a brilhante estrela queentendia-me e juntos percorremos os mesmos pesares, os mesmos sonhos, a mesma felicidade que outrora tive e perdi. Escuto coisas que nada me diz, observo oceanos que nunca naveguei, colho flores que sempre desfiz, namoro cânticos que jamais cantei. Tudo é silencio como a própria madrugada, labaredas se vão sem terem partido, permaneço quieto e pensativo, pensando na essência que sempre existiu no amor que nuncafaliu. Quero bebê-la mas não encontro a fonte, quero vivê-la mas não busco a vida, queroliberta-me mas não sei por onde, quero deixá-la mas não sei em que monte. Não temas porque gostas. Não sofras porque amas.

Rio, 25/06/72

Page 27: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

CARTA

Perdoe-me querida amiga por ter me pronunciado indevidamente naquela fúnebre noite. Razões as quais não soube explicar no momento levaram-me a atalhar aquilo. Não que esta seja um escrito reparador mas peço-lhe de coração ferido mil per-does pelo ocorrido. Sei agora, somente agora soube, que o que se passou comigo foi fruto exclusivo de minha sôfrega solidão. Ás vezes somos bruscos, asqueroso com os outros sem notarmos, queremos ser uma coisa que não somos e nem podemos ser. Sentado a beira da penteadeira, escrevo triste nesta tarde de domingo, triste como você. Disse-lhe mas você não quis acreditar: as suas melancolias passaram a ser minhas, as nostalgias dos olhos seus passaram aos meus. Obrigado, muito agradecido pela preocupação momentânea que tiveste comigo. São essas coisas, esses emaranhados de fatos é que me faz dia após dia, noite após noite, admirá-la, estimá-la, respeitá-la, estimá-la e nunca perder a sua sincera amizade e podes ter certeza que também sei que a recíproca é verdadeira.

Page 28: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Desculpe a fidelidade de propósito com que falo mas são momentos ou fases que não conseguimos suportar, ocultar em nossos míseros corações.

Do sempre amigo, sinceramente.

Rio, 02/07/72

ILUSÃO

Na tentativa de mais um dia esperou, esperou sem nada conseguir e foi-se o ultimo adeus. Longe nas trevas das noites vagueou por dispersos caminhos, pensou nas lu-xúrias e prazeres da vida a que se entregou, tempos que não voltam mais. Meditou sobre o presente esvaecido da manhã distinta, por fim adormeceu no relento da tarde perdida. Em sonhos imaginários desintegrou-se na órbita do espaço infinito, tão grande era a sua ausência do mundo que permaneceu várias noites fechada e enclausurada sobre simesma.

Page 29: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, agosto/72.

A PREFERIDA

Entre rosas, plumas e orvalhos és a preferida de todo o meu ser. Imerso na mais turva introspecção penso em você que se foi, penso em mim fiquei, penso no mundo que partiu, penso no amanhã que chegou. És o meu eterno colibri que me acorda todas manhas prenunciando a chegada do sol nascente e infinito. Queria definir o labirinto misterioso que a cerca a atormenta, tomar-lhe as mãos proclamando ao universo a iniciação de um terno e fecundo sentimento que há tempos nos rodeia. Ter você todos os dias nos pensamentos meus é a dádiva pela qual sonho todas as noites, noites que acalento junto a madrugada companheira.

Page 30: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Por qualquer via que andasse por qualquer lugar que chegasse sempre a tinha em mim. Busquei luas afora para esquecê-la mas tudo em vão; sim perdi a noção do tempo extinto e que há de chegar, trovas, versos, contos não fiz mais porque careci da luz da inspiração guiadora dos meus olhos e mãos. Agosto veio, tristeza sumiu, prantos cessaram de rolar das cataratas imensas do peito meu. Cantos, fadas, alegrias voltaram a tomar o rumo de minha morada e com eles todo o meu perseverante e imensurável amor. Não me olhes assim, não me fales assim porque quero ajudá-la nas suas mais prementes necessidades. Não chores porque chorarei, não sintas porque sentirei, não sofrasporque sofrerei e não ames porque amarei. São simples palavras de um mísero ser, triste e perdido, que perdoa sem ser perdoado que ama sem ser amado.

Rio, 07/08/72

QUESTIONAMENTO III

Em busca de uma solução objetiva, encontro-me perdido em estranhas profun- dezas do abismo que cisma em eu ficar. Passam ares, terras e permaneço aquietado em meu mundo, despojado de pro messas das quais abomino, sigo o caminho mas lúgubre que se apresenta. Uma repentina tris tesa aparece e serve para continuar com minhas reflexões, meditações e pensamentos.

Page 31: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

O mundo é pra mim um rosário de ternas e alegres esperanças a qual já me ha bituei a esperar. Mas uma fase se passe como tantas outras que já se foram. Alcançando exílios vou quebrando lanças e pedras que se desvanecem e somem do meu coração. Vida que sempre amei, Mundo que sempre palmeei, Flores que sempre apanhei, Amores que sempre chorei.

Rio, 11/08/72

DEDICADO AS TODAS AS MÃES DO MUNDO

Mãe de todo o meu coração. Mãe que guia os meus passos, as minhas horas e orações,

Page 32: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

aquela que sempre enaltecemos.

Aquela que levanta de madrugada, e só vai dormir no fim da noite, aquela que labuta insanamente e ininterruptamente.

Se algum dia por ventura, eu vier a falar mal de ti, quero que Deus me castigue, com uma grande represália.

Mãe é o símbolo do amor. Mãe estas linhas que eu insiro, não falam tudo o que és.

Mãe eu só posso dizer-lhe, que és adorada, é santa, é bendita. Mãe, a minha alma eterna e doadora.

Rio, 15/08/72

DOCES LÁBIOS

O que falar dos seus doces lábios se já os perdi. O que falar dos seus voluptuosos beijos se já os esqueci. O que falar das suas mãos se já não as sinto.

Page 33: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

O que falar dos seus sentimentos se já não os pressinto.

O que falar dos braços meus que já foram seus. O que atalhar dos seus meigos e lindos olhos que foram meus. O que aclamar das suas aromáticas e encantadoras entranhas se já não me atraem mais. O que indagar dos seus brilhantes e sedosos cabelos que os tive jamais. O que falar das suas lânguidas e ternas coxas se já não as tenho. O que falar dos seus candentes quadris se já não os retenho. O que falar dos impulsos do seu coração se já não os contenho.

O que falar dos cantos meus se eles já não saem. O que falar da sua testa nua se ela já não me seduz. O que falar dos seus oblíquos pés se eles já não me atraem.

Rio, 17/08/72

CINZENTO

Page 34: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

De saudades ando eu de amigos que se foram e de esperança que restaram. Novas cinzas despontam do etéreo suor que se fincou nas pupilas do aman-hecer. Atordoado de emoções, recorro a erupções amorosas, nada sei do quanto devia saber de você. Você que nada escuta em seu mundo desfigurado. Sinto as quimeras voarem ao seu redor anunciando-me efêmero vale sonhado. Sorrindo de mágoas vou ao encontro do seu padecer, rindo de dores vou ao encontro de esquecer meu.

Rio, 29/08/72

RECADO

Page 35: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

A fraqueza inerme que prolífera pelo mundo é natural. Natural como a ordem das coisas químicas e orgânicas. O riso transitório que temos é sintoma perspicaz de nossa oculta personalidade. No aspecto psicológico dos fatos surgem indecifráveis enigmas que a toda hora tentamos solucionar. A comunicação e a socialização dos homens é o mais eficaz antídoto da horrenda solidão. Prantos, traumas, mágoas são fragmentos das nossas sensiveis sensibilidade: cólera, ira, raiva são instintos celerados que nós - em maior ou menor grau - possuímos.

Rio, 10/09/72.

SUPREMA BELEZA

Page 36: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Traumatizado de imaginários e impossíveis sonhos ando eu. Em pensar que um dia foste minha, toda verdadeira, toda pura, toda florida de relvas bentas. Luzia, Luzia dos meus encantos prementes, das minhas esperanças infinitas que choro convulsamente o desenlace amoroso. Não, não outros nomes não posso e nem penso em escrever, suas palavras me conduzem ao arrebatamento e o seu rosto denuncia-me a mais completa solidão. Sinto que a perdi neste turvo mundo que me entristece, mas Luzia meus traços e beijos jamais á deixara fugir. Fugir do inverno que se vai, fugir da essência que te desemparou. São linhas melosas e ardentes que trago dentro de mim tentando esquecer e suavizar as feridas do coração. Perdoe-me as pérfidas palavras que saem do meu íntimo, mas disso tenha certeza: são quentes e imaculadas como aquela manhã em que a conheci. Deixemos tudo entregue ao sabor das ondas enfezadas que por ora nos atinge, mas isso não me impede de seguir os seus passos esperando finalmente tê-la brevemente em nosso fascinante e sedutor ninho de amor.

Rio, 18/09/72

Page 37: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LIRICO DEMAIS

A minha aparente tristeza é o produto das reminiscências dos meus amores au-sentes e perdidos. Incolores regatos de orvalhos banham os meus humildes feitos que sofrem ente a inesperada perda. Saindo de um tristonho mundo, pilo em duras rochas que se esfacelam no âmagomeu. Hoje radiante de alegria encontro novamente o meu ego; um ego humilhante e deprava do subindo ventos que jamais se fizeram, descendo nuvens que sempre me satisfizeram. Não, não retorno ao lugar intransponível e imaginário, as quimeras me envolvem em devaneios lúgubres, sonhados e encantados. Desponta a tarde de um amanhã astenico e cansado, lá fora só o brilho do seu lânguido olhar a me escutar. Tudo, tudo o que me deixaste foram oferendas proibidas de um mar finito e intolerável. Ouço ninfas partirem ao encontro seus, desamparado e eloquente flores namoro de um amor abnegado que renasceu dum idílio renegado. Opacos sóis exploram sem nada sentir, sentir o soneto dentro do poema, sentir a trova imersa na estrofe. Nas minhas noturnas solidões vozes sedimentares que nada me dizem lançam-me em sonhos imponderáveis numa turva lareira amiga e benevolente. Procuro jardins de rios mansos neste classificados obscuros que ora insiro, insiro não escrevendo os bosques dos amores seu, insiro não as fontes dos sussurros seus.

Rio, 22 e 25/09/72

Page 38: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

SOLEDADE

Eivado de desencontrados amores elevo-me na cristalina turba de Cervantes. Procurando um obscuro amor, penetro em estranhas terras que me despertam da bruma noite solitária. Parafraseando um verso insentido, vi algures, negras dançarinas transpondo-me do etéreo ao ameno infinito. Ameno é os teus nós da imprevisibilidade,é o promís-cuo harém de onde infeliz e decepcionada, partiste. A luz dos teus cabelos que se entranham nos meus jamais esquecerei. Sentirei tenazmente as auras das chuvas, chuvas que rolam como cascatas den tro do tesouro meu. Soledade vais agora, portas do coração sofrido não consegue mas retê-la porque sem ti encontrarei os mistérios e segredos profundos do nosso intenso amor.

Rio, 04/10/72

Page 39: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

ADEUS CARO PAULO

Neste dia partiu do mundo uma das raras e preciosas pessoas que tive opor- tunidade de conhecer a e honra de tê-lo como amigo. Desculpe-me meu caro, por um dia pensar que foste perverso, maldoso. A vida nos traz essas vicissitudes, esses desconfortos, essas adversidades a que todos nós estamos sujeitos. Paulo escrevo essas palavras não como uma homenagem póstuma ou sequer coisa parecida, mas sim um caudaloso sentimento profundo de um semelhante que correu com você , jogou futebol na quinta da boa vista, que riu com você, que sofre a perda irreparável e lamentável de um ente querido. As divindades eternas saberão conduzi-lo ao lugar merecido, ao descanso derradeiro, ao sono eterno. Paulo, meu interior se esfalece, meu mundo se perde com o seu precoce desapa recimento, mas resigno-me com as suas reminiscências que jamais se apagarão da memoria minha. Cumpriu a sua parcela brilhantemente neste mundo de dores, risos e tristezas. Triste estou de pensar que perdi a sua amizade para sempre.

Rio, 04/10/72

Page 40: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

BENÇÃO A MÃE QUERIDA

Mas um resultado negativo entre outros tantos que já obtive. Tornou-se uma rotina falar a genitôra minha de meus insucessos, fracassos e decepções por esta vida afora. Emocionalmente abatido fico sem saber o que fazer e pensar. O que dizer a esta sagrada, beata e devotada mãe a quem tudo devo e sou; os meus estudos, o meu lazer, as min has orações, as minhas peraltices. O que dizer nesta triste hora a quem me veste, a quem me calça, que me da de comer e que me mantem e sustenta. Prantos querem desaguar em rios de lágrimas lembrando teu nome puro e inocente mãe. Meu coração ingênuo nas vezes que esta longe de ti, sente a falta de carinho, careci de tua bondade e sabedoria. Mãe perdoe-me pelo que sou e pelo que devia ser. Sei que não bastam palavras e letras para agradecer-te, por tudo o que fizeste por mim, também sei que nunca poderei retribuir as horas, os anos, as alegrias e o amor que sempre me deste. Mãe preciso de ti como preciso de ar para viver. De suas palavras, dos seus afa gos, da sua lucidez e clarividência sempre necessitarei. Não me deixes só, porque sem o seu impulso não saberei conduzir-me por este conturbado e violento mundo. Óh Senhor de todas as forças dê-me a sua benção e amparo,para que um dia possa dar a quem tanto me dá, um pouco de alegria, júbilo e conforto.

Rio, 06/10/72

Page 41: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

REFLEXÃO

Sentado entre as árvores e pedras do segredo, escrevo em você, pensando em você. O fulgurante brilho dos ciprestes mansos desmazelam-se sobre os imensos cór- regos que ora secou. Despontam névoas turvas, augurando prematuras presas de cansaço que ante o impacto das ondas sucumbe em todo o seu esplendor. Somente a tua inerte solidão, os seus desencontrados caminhos e a sua eterna aurora libertam de todos os males que viola o meu ser. Ao cair do sol, uma súbita tristeza penetra em meus sentidos profanos e leigos que se irritaram em dores. Sinto-a no cantar das águias, ouço-a no falar das águas, tomo-a no sabor das lendas que se esvaem junto a sua própria mitologia. Não, não posso parar de inserir coisas que versam sobre você, que falem de seus amores, tormentos e rancores.

Rio, 10/10/72

Page 42: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

INVISÍVEL

Perscrutando ciprestes sumidos no além, percorro apacos-fuscos que brilham no meio do corredor seus. Permaneço entediado entre as madeixas suas e observo lumes nascentes brotando do coração da aurora da vida. Amarguro o adeus singelo que deste ao pintar em seu rosto o nome que marcou a tua estrada cotidiana, essa estrada que entre desejos e aventuras consumiu todo o meu coração. Blasfemando ante o ingênuo elemento, lamento de promessas incertas e temporárias.Almejando românticas luas vôo em direção ao encontro esperado, esperado como o próprio nascer do amanhã. Nutrindo suaves canções namoro ternas gardênias que banhei e molhei de prantos meus. Murmurando de queridas dores insentidas, naveguei em rebentas montanhas vermelhas, tão vermelhas como o padecer vespertino dos cabelos teus. Inviáveis vias viram um obscuro nascer, nascer que amei amando dum puro amor, o amor inebriante e escaldante que se foi. Há sublime amanhecer porque foges do meu culto querer, ha nuvens pendentes porque partes do meu mundo ascendente.

Rio, 12/10/72

Page 43: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

A BALZAQUIANA SOLANGE

O desafio das minhas forças dispersa neste universo doirado do seu coração. O ponto de encontro de todas as fugas em que me embrenhei no orvalho dos cabelos seus. O amor perecível e feliz em que luto com todas as garras da minha imensa solidão. Ès o branco esplendor dos dias meus, és o suco eterno da minha doce esperança. As flores abrem-se ante a sua sublime passagem pelos caminhos meus, só o lírio do amor infesto é que poderá me devolver a paz perdida e conquistada. As vozes que horas a horas ouvi são os suspiros mais chamejantes que na vida pude contemplar. As minhas noites já são tão sem brilho, os meus dias tão tristes que nem o meu pequenino colibri ilumina mais o meu despedaçado coração. Lá na ribeira a fina linha imaginária da madrugada anuncia o seu mais deslum- brante desejo. Há se soubesse os seus amores, há se soubesse da cor dos seus prantos como seria os seu. lamento Mas a fronte da resignação divaga em meu pensamento como a fina brisa que perpassa todo o peito meu. O desabafo profundo e tensivo que faço são as marcas, chagas, nódoas que san- gram o meu único resquício do meu viver que é o meu másculo e pegajoso amor.

Rio, 18/10/72

Page 44: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LONGE

Ininterruptamente abrando-me em vãos pensamentos, pensamentos hostis e mordazes. Brejeando lumes estridentes alcanço as medievais alturas dum puro e divino universo. Medindo os momentos suplico perdas distantes e longiquoas como a mescla do sorriso efêmero e imponderável. Saltitantes muros viram em meu caminho perecer eivado de chagas profundas na obscuridade do seu ser. Espremido de amenas veleidades paradigo o próximo fim, o incessante e devora dor fim. Recrutando verdades no além da vida, estreitamente ausento-me dos vagalhões dos nocivos e abertos abundantes seios. Ensimesmado de remotas esperanças busco algas partidas que se feneceram ante o indelével sinal. Diligenciando devaneios antigos perdi sorte largado no horizonte desse turbante sol aparteando de escuros e estridentes mares.

Longe quanto o ausente, sentem notar as almas das mãos minhas e penetrar no seu erupto coração, esse coração a quem entreguei e dediquei todo afeto meu.

Rio, 18/10/72

Page 45: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

DESILUSÃO

Embora não sabendo o principio da desilusão, sonho de possibilidades remotas do meu passado infeliz. Não trago dentro do peito meu, as iras vencidas e distantes que o tempo se deu por levar. Nada mudarei do meu proceder e ser, habituado a assistir a esses festivais de orgias, descrenças e desconfianças. Nomearei as chuvas dos olhos meus de guardiã da forte e afetiva sensibilidade que carrego cravado no meu profundo ser. Jamais despeitarei a quem por dores me feriu, jamais ultrajarei a quem por ressen timento abnegou-me. As peripécias da famosa natureza nada já me ocultam deste mundo, outrora amei e sofri, hoje convalesço-me das grandes e imersas cicatrizes que deixas-te no peito meu. A vida fará o que sempre disse a você, é esta é o que eu acabo de desnudar; é sen tir o fresco orvalho matinal, é ir de encontro e buscar os intensos devaneios perdidos, é amar o outono primaveril do inverno, é ter o belo e o brilhante nas mãos é fazer do suave infinito seu companheiro, é fazer do sussurro das ondas sua amante, é fazer da brisa marinha a sua eterna e solitária acompanhante. Não, não choro de lágrimas desmedidas, mas sim duma amizade que se findou, amizade essa semeada pelo amor que se subjugou as suas submissas vontades. Desbravarei rios adentro, caminharei em diferentes sonhos, sofrerei de dilacera- dos rancores obstruídos pelo pequenino coração seu. Na competição hodierna querida ami- ga, só a obstinada e perseverante vontade saem vencedoras. Não mude para o que não és e nem quero que sejas; o que sobrou do minguado e efêmero amor, aglutinarei nos meus alfarrábios de ilusões sentidas.

Page 46: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 28/10/72

PRAIA DESERTA

Na praia deserta que vejo só a presença do tênue vento observo. Os salgueiros amanhecem do despertar do cativeiro forçado. As folhas balan- ceiam ante o surgimento do frenético trovão. No além-mar as ondas palmeiras buscam as desfalecidas e sensíveis goiabeiras que se dispersam no enorme e gigantesco pântano. Naquela praia deserta dançam as amazonas os cânticos do finito mar e lá no firmamento tudo é azul como a própria estrela da manhã. Nas ribanceiras das mortes previ o fim tangível das coisas. As bruscas secas que senti foram às diuturnas dores do começo amargo de meu primeiro amor. Os cálices que ora bebi já não contem e traduz toda beleza que o universo produz. Ao subir as labaredas amorosas pensei em ti que se oculta no precipício dos so- frimentos alheios, em ti que se confinou em sórdidos e secretos pensamentos. A imaginária linha dos teus seios é a luz que resplandece o meu coração, esse ins- tável e imaturo coração que te entreguei. Não cerceei a sua bendita alma porque jamais fui um satânico que ri da miséria dos pobres, que ri do desprezo da justiça para com os humilhados.

Rio, 03/01/73

Page 47: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

BAHIA

Longe lancei desejos frementes da eterna Bahia. Nos seus mais profundos lagos alcançaram as bênçãos do pai Oxalá, nas suas tenras terras namorei as sereias dos céus divino. Grandes olhos negros viram no desabrochar do orvalho baiano, esse orvalho ao qual me escravizei de tanto amor. Em suas belas canções amei as velhas igrejas de pai salvador e a suave noite lá fora lembra-me Itapoã. Formosa e distinta baiana, os seus trajes e meneios, seu cacho e passeio, levam-me a mais envolvente re cordação. Há minha ausente e estranha terra que navego por difíceis vias, deixam-me entre gue as inesperada sortes do destino. Nos teus seios, amante baiana, senti o tenso e pegajoso sentimento que me fez balbuciar palavras inexprimíveis de gemido, dor e paixão. Tudo que emana de ti, Bahia, tem sentido e natureza, e o florir dos anos põe a descoberto o encanto e a beleza que só as tuas terras tem.

Rio, 03/01/73

Page 48: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

EXÍLIO

Sumido entre as mexas do verão, vôo ao mar do seu chão penetrando nas mais densas e escuras fontes. As lamúrias dos teus olhos são os resquícios da saudade que entre prantos incessan tes eu busquei. Os vendavais amores porque passei, pisaram os febris e sensíveis caminhos que naveguei. Naveguei nas agudas grutas deste meu mundo perdiz. Ao subir a estrada do seu rio, senti o doce e afável carinho que me exilou na selva intransponível de teu coração. Meditei dia a dia em ti; de ti são os jardins sagrados da extin-ta babilônia, de ti são os meigos beijos deste dourado universo, de ti são as súplicas e clamo- res que levantaste em meu leito ajoelhada ante os joelhos meus. Na berlinda das cedras amei distantes desejos desconhecidos que cicatrizaram as minhas mais nocivas dores. Nas tranças dos lábios seus andei em diversos amores estranhos que me colocaram a dura e forte reprovação. Os bosques que em algum coração sonhei e beijei, os lírios em que em algum braço deixei e abandonei é a simples prova do botão de nosso amor.

Page 49: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 04/01/73

A CHACRETE

Na chuva cega que percebo rodeia a brisa marcante dos nossos corações. No pespontar da soledade aquieto o fulgor dos teus lábios, sedentos do inespera- do desejo de fazer o fecundo e completo amor. Dos rincões de minha alma permanece o visual da esperança que continua no leito do seu ventre no meu. Do farol do porto meneei flores isoladas de seu jardim que acalentei em prantos náufragos do desespero seu. Há quanto tempo fui em seu olhar desencantado, há quantas luas busquei o insolvente pio do teu coração. Nas águas do profundo mar escrevo os verbos desfeito dos homens, as canções, as quimeras que um dia foram minhas. Nos trópicos da sua sobriedade leio as simples e marcantes recordações que me deste naquela suntuosa noite do meu precoce sonho feliz. Na margem do regato, na fenda do destino, a lucidez que de ti saia emanava - recentemente a luz imantada da sua vida. Os estranhos e alienígenas mistérios que me sombreia são o mais puro vestígio do vagaroso leme que guio ao encontro do porto natural que é o seu pequeno e fechado coração.

Page 50: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Dos extremos parte o píncaro, o píncaro do olor dos peitos seus que alcanço tenazmente nestes brancos dias de esquecimento e tristeza que é a rotina de vida que estou levando. Até no céu não vislumbrei o guia que me levasse a você.

Rio, 09/01/73

BRONZEIA

Lembrei-me do refluxo ao longe do entardecer entorpecido. Nalgumas bolhas farejei o calejado amor disperso do horizonte. Na quietude e no gorjeio das ondas busco imaginações extintas do meu perplexo e errantes mundo juvenil. No vale só as pálpebras sofridas do meu trauma faz presença. O rouxinol me alcança nos seus mais vários caminhos, o colibri me aponta o terno sonho desfeito. Perscrutando invisíveis saveiros senti o aroma da essência fluir dos rasos e visco- sos jardins. O vento bronzeia o meu verdejante peito varonil entregue as aconchegantes profun dezas dos rios de mansas flores douradas. As pedras que desfolharam o destino seco do amanhã padecido, narram-me as es-tranhas luzes do cogumelo perdido. As redes que outrora desenhei e cravei no âmago do céu foram as primeiras dú- vidas que por ti lutei. Na sensível claridade, procuro as noites mais férteis da rosa amada que te dei.

Page 51: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 11/01/73

POEMA DO AMANHECER

As florestas cantam o presságio sentido do amanhã. Os pássaros nadam em pomares abertos ao relento do sol. Os rio murcham em vôos felizes da noite que fenece. O sopé da traição se abate ante a boca do coração. Versos amei e poetizei das mais secas solidões que em meu peito plantei.

Rio, 02/02/73

Page 52: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

PENSAMENTOS

No mar distante além, alento dum amor esquecido encontrou. Os pensamentos povoaram e voaram ao redor dos ribeiros do seu coração. Nas planícies verdejantes do teu fruto ainda resistem caatingas amorosas que tu plantaste. Na duvida do tempo e do perdão, aqueço-me em rudes grotas marcadas pela mão do destino prometido. Em amenas madruga- das, lágrimas caídas de irrelevantes prantos prenunciaram o fim do sorriso vazio cravejado de negras luzes aleatórias. Há se minhas súplicas ouvissem estrelas algozes que palmeei na minha doce e tenra infância.

Rio, 22/03/73

Page 53: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

SENSAÇÕES

Preciso esquecer o tempo extinto dos homens infelizes. As chamas do riso despido da tua alma navegam mortalmente em córregos inviáveis da falecida esperança. Há minha lúgubre e fina poesia quanto tempo andei sem ir, quantos dias enlutei o meu pobre peito violado. As sensações dos segundos aparecem-me brotados de louros. Já começou o principio da hora e novamente alcanço e permeio o louco desejo. Nada sei de teu vil mistério e nem do seu firme segredo e propósito.Porque outrora a quis na fala íntima dos meus inconcebíveis murmúrios? Lá na seara do tempo e do espaço, infinitas flores vi mas a canção relutada das prendas diversas que burlou toda a sorte de compreensão humana apontou-me o mais tênue beijo e os resquícios do acasalamento forçado.

Page 54: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 23/03/73

BARBÁRIE

Mais um bárbaro e hediondo crime acontecem nas periferias de grande cidade. Mata-se por prazer, auto-satisfação, demonstrando com isso, o sadismo que não tem nome e nem cor. A incivilização predomina: uma criança indefesa brincando em seu lugar e eis que uma bala perdida faz mais uma vítima fatal, conseguindo destruir todo um porvir, toda uma esperança de vida melhor. Até quando há de perdurar esse clima impróprio e infeliz que se abate sobre todos nós. Que se faça justiça, em seu mas amplo sentido, aonde e em qualquer lugar que haja a subversão da ordem, da paz e do direito de cada um.

Page 55: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 12/04/73

TRISTONHO

Perecendo de invisíveis sinais senti o brilho lúgubre dos lábios teus nos meus. No âmago meu só brotou dores escuras de prantos e lamentos, lamentos que se esvaeceram ante o súbito olhar desmedido, lamentos que se perderam no encanto visível do teu sorriso. Nas horas sombrias do meu destino incerto, lanço setas da solitária madrugada que eleva-me ao mais sublime e disperso desejo. Encoberto de fétidos segredos, ouço ao longe, cantatas das encantadas sereias, sereias altiplanos do meu mundo senil e inseguro, inseguro no mais tórrido e ardente desejo, Não lerei as manhas primaveris dos teus beijos melados, não sublinharei as constantes e tensas dores dos teus passos. O mar que se abateu no meu coração é só piedade e ternura, jamais cavalguei no sorriso alheio buscando estran hos e frios corações. O que oro e digo são as bentas rosas fugidas do meu meigo e terno

Page 56: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

jardim. Sairei, andarei, porque ali no horizonte vermelho dos seus lábios encontrarei os mais claros e preciosos esclarecimentos que ora povoa e massacra todas as minhas últimas fontes amorosas. O premente deslumbramento dos seus lascivos seios é como a própria aurora padecida. O riso fino e puro da sua alma fincou os mais porosos pomares do meu humilde e fumegante destino.

Rio, 16/04/73

BRUMAS

Mirando em mares que se alternam, disperso no solitário desejo de vê-la, os meus olhos reverberam o amanhã do fluido vinil. Num súbito impulso inconsequente, nos verdes beijos que te dei só alcancei a sua perdida lembrança fugaz que me trás de volta ao raso passado feliz. Meneando labaredas fenecidas ao verso do seu corpo sinto ao longe o universo do seu lânguido olhar. Ao riso itinerante do teu seio traçam-se os despidos caminhos que percorri ocultamente no principio do teu beijo juvenil. Ensimesmado em brancas nuvens abate-se o estridente sono passageiro. Aportei em cálidos bosques mas só a sublime e viscosa poesia

Page 57: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

devolve-me a paz e felicidade perdida. Nos olhos negros da amada sereia, vivifiquei cla- rões ocultos da minha passagem errante e verdadeira. Uni nas fragâncias das canções, amores desfeitos do tempo que se vão. O seco dos seus cabelos não pode enclausurar este amor que é meu. Em linhas piegas aprimoro a revolta insentida da desconhecida pessoa, pessoa esta da há muito distante do meu coração.

Rio, 23/05/73

ANDANTE

Na sombra dp presente amor os meus olhos prateados fenecem na amagura do seu abnegado desejo. Os resquícios dos prantos meus é a mais pura e cabal prova de since ridade. O amago da natureza abana a pequena cabeça desamparada. O suor da alma penetra no labirinto das emoções. As mesclas amorosas burlam toda a lei humana do desesperado

Page 58: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

espirito infeliz. Nos corregos das folhas artificias permei o mais denso misterioso seu fugaz coração. As naus inquietas prenunciam o acasalamento distante deste mundo errante. As labaredas clamam amores ardentes e os gélidos lábios perpassam o limite da sinuosa e imaginária existencia. O penoso desapontamento da aurora desponta do seu sim- ples sentimento embebido do mais agudo e fino orgulho infantil. As ansiedades dos dias, das horas foram-se com fluir do tempo. Só a inesperada visita tranquiliza o meu traumatizado coração. As quimeras povoam os sonhos de infancia, na adolescência palmeio entre retrados a mais súbita infelicidade, porque? Do sol ressurge o corcel preferido dos cavaleiros andantes da corte majestosa da sua infima alma. Vão-se os bosques, vão-se os clarins mas o que trago comigo jamais se abaterá por uma simples batalha perdida.

Rio, 17/06/73

ENSIMESMADO

Page 59: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Na celebre noite domingueira bebemorei o ser triste e profundo que se esprai em mim. Meu insular coração derrama as chamas do seu denso leito. As palavras borbulham nos meus monólogos interiores, nem as cinzas do padecido destino acalanta os gemidos do seu além. No outono das minhas recordações, no recesso dos meus sonhos o barroco por in- teiro de mim se apodera. Nos musgos das brancas canções aparece a malgrado coração. Saltita, saltita mas nem o tenso do seu lúgubre desejo pesponta do atento horizon te. Só busco o reencontro de mim mesmo que agora anda perdido e tresloucado, louco e irra- cional, por um súbito e platonico amor. Mas a sombra do presente firmamento é a afirmação pura e concreta que vencerei.

Rio, 09/07/73

SANTO ANTONIO

Foi numa bela noite de domingo, era dia do Antonio, o santo casamenteiro.

Page 60: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Parado no patamar das comemorações buscava em desencontrados olhares a súbita resposta feliz. No vai e vem dos passantes aparece bruscamente o broto perdido na multidão. Violentamente o coração reagiu no compasso dos passos da morena. Com um jogo completo de roupas azuis, olhos febris e que olhar, lábios semi-fechados ela repentinamente como aparece, desaparece para desespero meu. Na ocasião recordei-me de tantos desenganos amorosos por que já tinha passado. Nem sequer sua voz ouvi tal a distância que estava, mas só dizer sei que o pulso da celula do meu coração desordenou-se em loucas e profundas fugas. Foram-se meses, anos, eis que o tempo e o presente se encarregam de levar-me ao encontro esquecido das minhas vontades passageiras. No clube do meu coração, no clube da minha solidão, avistei-a quieta e monotona, como se ela própria ouvisse o canto, íntimo e introspectivo das coisas. Uma força interna não sei qual apodera-se e guia os passos meus em direção da pétala de rosa. Trocamos, tecemos várias considerações sobre a vida, mundo, homens e por fim sobre nós mesmos. No término acompanhei-a até a sua pequena morada, despedimo-nos com promessa mutua de vermos-nos mais amiude. As labaredas que começam a brotar dão os seus primeiros frutos, a calma perdida, o raciocinio falho, a alma sem força, os lábios secando. Ao escrever esses logos faço da minuscula caneta o fiel e digno confessor; con fesso o amor perdido em flor, confesso a dor rebuscada que se apodera do meu ser. Não sei o amanhã nem tampouco o que será, mas lendo, escutando e assistindo bons filmes penso que chegarei lá. Por enquanto aproveito a paisagem deste ameno inverno e sinto que ainda existo e por isso posso respirar mais do que isso posso amor.

Rio, 16/07/73

SENTIMENTO

Page 61: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Na essência da brisa padecida percebo o mundo distante e errado que nos sepa- ra. É o afastamento forçado, é o desesperado desvio de rotas, é a loucura inevitavel. Nas sombras do mar perdido banho-me em tenras saudades que lembrei-me ao parti de seus prementes e sedutores encantos. A pérfida nostalgia afaga os mais súbito senti- mentos da incontida revolta. Do depauperado sonho trago o denso desejo florescido que se extenua ante o negrume seco dos cabelos anlameados que beijei. Entre desenganos de ti, esqueci nas evasi vas das noites o calor fulmegante das tuas mãos. Na inodora boca da branca maresia desenhei a virgem a nascente flor que é umas das entre as outras a preferida. De dores choro ao saber da sua máligna vontade de abandonar o leito fértil e viscoso do nosso amor. O cravo dos seus olhos cindi e rasga o meu profundo silencio interior e junto com ele e nele o verdadeiro sentido de viver. A onda de chuva fina que escorrega no peito meu é o cálice rebento que embebi nos lábios seus.

Rio, 19/07/73

CLARIDADE

Page 62: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Mas um disco do luar me apatece e vai ao encontr do martírio inesperado sugan do saveiros dos mares do meu remoto desejo desfeito. No branco aloirado de meus olhos observo mundos distantes e infelizes cavados na rasura do meu ser naufragados. Não, não falo dos amores que o tempo se encarregou de levar e dar a todos eles indistintamente em destino desconhecido e estranho, mas digo e narro dos amores que me apareceram nas montanhas cobertas das brancas das flores dos rios meus. Subi claros sem fim, horizontes perdidos, mas na tua essência encontro o rejuvenescimento do meu amor. Tenras manhãs parti para lagoas douradas do seu pequenino coração feliz, nêle alcancei a reabilitação total das minhas aventuras insentidas e nebulosas. As columbinas que tracei e desenhei são inequívocas provas do fecundo e perpétuo amor que tenho apra te dar e conceber.

Agosto, 73

Page 63: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

QUINTA MORNA

Bem distante junto ao desejo sigo o híbrido destino colorido em flor. Nalguma parte deslocam-se canções por onde passei anos fios de solidão. Na beira dos meus sonhos reverbero as ribeiras de meu coração. No seio da súbita manhã desponta o sutil e denso jardim. Na quimera de minha pueril consciência alarguei o mais timido horizonte das cavidades profundas de teu ser. Buscando em reminiscência cobertas da experiência que o mundo nos ensima, alcanço o cais onde aportei todo amor meu, liberto e sensual. Os traços meros que ora planejo, caem do desfolhamento da alma contida que vivifica os semblantes malévo-los do nosso ser. No cantico das paixões gnomos sucateam os teus mais lindos murmúrios que vociferam felizes no perdão distinto dos homens sem fim. No princípio verde dos meus anos, na indole dos seus segredos guardo e oro contigo, os dias e noites que destes de puro deleite e amor. Longe dos olhos seus fiquei perdido nos lábios teus, que mais desventura pode haver a um ser, amante e apaixonado, que no seu ingênuo contentamento arrebatou o doce e mais nobre sentimento seu. Na tarde amena duma quinta morna dos nossos corações.

Rio, 23/08/73

Page 64: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

INCONTINÊNCIA

Com inspiração nem tampouco perdão, levo á solidão distante ologo preciso. Nas fendas do enfermo córrego navego em noturnas dunas que se foi. Longe do manifesto infeliz, disperso do desejo febril trepida o coração. A fina chuva que cai anuncia o súbito destino perdiz das brechas amorosas semeados em ti; em ti que esprai o amis tenso inverno que o meu peito mergulhou. Nas garras das manhãs busquei encontrar o sino das eternas noites ilusórias. No silêncio profundo do orgulho namoro só canticos das taças nuas que embebi. Na perspicácia do olhar reverbero o colorido e denso jardim das minhas luas infantis. No além da extrema convicção cantos ouço não sei de onde e nem de quem. Subindo o cume da vida descubro a felicidade extinta das almas vis. Não sei porque nem do agora, mas o que sinto em ti são os resquícios doirados do verdadeiro, puro e sincero amor; esse amor que aliena e profuna os meus mais firmes pensamentos. Da revoada que brotou só o que restou foram os seus sublimes e salientes gor- jeios. Lá onde o canto fenece abre-se a sofrega estrela guia companheira. No simples caminhar apercebo o duro e rochoso semblante que a incontinência da paisagem me indica.

Rio, 29/08/73

Page 65: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

DEUS

DEUS á a luz e a verdade. É o único caminho que meus olhos vêem. É o único brilho que do meu ser aparece. É o único destino que da minha vontade transparente.

É a essência das coisas infinitas. É a voz clara e imperecivel. É o pouso e conforto dos flagelos. É o refúgio dos fracos e oprimidos.

Rio, 09/73

Page 66: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

DESALENTO

Na vontade imperiosa de escrever sinto a necessidade premente de comunicar-se com o meu próximo. Depois de uma entre tantas batalhas perdidas, a repentina derrota aquebranta todo o meu brado de vitória prematura. No labirinto de minhas emoções povoam as mais lúgubres recordações. Não é um canto a tristeza nem tampouco uma alegria oportuna, ma sim o traço percorrido das constantes fugas do meu viver. O puro e sincero coração já não cabe das bondades alheias dos amigos discretos e retos que possuo. Num semblante sequioso de desesperança e amargura, prantos sucumbem ante o indelével e fino perdão. Nas calçadas da vida que ora caminho, marca a mansa paisagem da minha via- gem sem fim. Tudo que se esvai do meu olhar no presente é só dor e paixão. No precipitado horizonte ausculto o borbulhar das flores que se embrenham nos olhos meus. Nem a batida das marés é mas forte que a batida do meu louco e fecundo amor. As horas submersas em meu peito prenunciam a passagem do tempo passando nos colóquio da minha infância perdida. Sigo as palavras do amanhã que se identificam com as sombras em que um dia perdoei.

Rio, 18/10/73

Page 67: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LUENE

Há tempos que não escrevo o amor, há dias que esqueci da flor, há horas que perdi o olor. Das mãos surge uma necessidade inevitavel de escrever, do coração aparece secas fontes que senti. Parto ao destino do meu ser intropectivo e cioso. Num olhar longin-quo apercebo a voz das solitárias brumas que um dia foram belas. No meu amago a quietude e tristeza predomina, os conflitos evidenciam-se a momentos interminaveis de orgia e prazer. O hermético rosto esfacelado, as chagas profundas que sinto do meu tempo extinto, as nau- séas profanas do recente encontro, tudo isso alugado ao aquilo, saem da enfreada luta que travo desde o dia em que nasci. Não percorro mais os meus verdes sonhos pueris, o súbito desponta do seio do mar desfolhado, o silencio cada vez mais aquebranta a estrada em que caí. No mar da comtemplação reavejo o presente passado das rochas oleosas dos lábios seus Perdão quando não quis ouvi-la, hoje o lamento do tédio prolifera e proclama o ausente desejo. As fugas permanentes e constantes que sigo são o puro sentimento da aliena- ção que ainda não vingou. A resistencia aquece o riso da amargurosa rua que morei, rua tão efemera como o próprio beijo que me deste naquela tenebrosa noite carnal. O grito ao longe aparece na janela pequenina de minha vida, os passos dos seus fascinantes encantos pedi-os ne decadencia da quebra do pérfido horizonte. Corri da cora-gem desprovida, fuji da viagem comprometida. Os sinos cantantes que observo em ti, namo- rei-os na mais tensa dos do brando destino infeliz que exacrou tudo o que o amor me deu. Quanta sobriedade chorei no seu incluso jardim. Na análise critica e serena do ser, vejo na ponta do cigarro aceso as chamas da sordida magalomania. O acompanho do seu riso, o adverbio do cotidiano são as simples ligações do me- dievo tempo. O desanimo, a insensatez, o descrédito das relações são os créditos preferen-cias da atual existencia humana. O verbo existe em meu peito como existe a esperança que um dia na imaturidade neguei. Do nascente desejo concitei o vil e dismedido segredo que esvaiu-se na palma da mão sentida. Ao rolar do cenho bento das horas, das pessoas violo e firme e inquebrantavel murmúrio, apossado tenasmente de minha alma. Agora volto a paz antiga e com ela perco todas as sensações infelizes que oras atrás sonhei nos seios amantes de Luene querida.

Page 68: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 18/10/73

RECOMEÇAR

É a segunda vez que depois de um afastamento forçado pelas circunstancia do tempo, que pego a pena e sinto que ela caminha ao compasso de minha mão. Como se sai do dia e se entra na noite, reencontro risos e olhares bem próximo do meu. O preambulo do tempo urge na opaca sombra despercebida da vaidade e vingança. No infinito suspiroinauguro o sublime lirio desbotado do seu pegajoso seio. Assim como o canto passado, o febril devaneio sarandeia ante o dilúvio ben- vindo a necessidade premente de escrever e narrar, benvindo a irresistivel fecundidade de readiquirir o mundo transitoriamente abandonado como aquela amada que de olhares entre olhares esqueceu de seu primeiro amor. Na inconsciência do amante relegado, a razão apro- funda-se no íntimo precocemente amadurecido do enamorado tenas, em te sonhador. No regato da ferina solidão paraliza a ribeira do meu coração. Ao solto gemi- do o meu aplauso, o aplauso, refratário da lavada alma embranquecida. Sentir-se só, como só são os humanos, e sofrento imensamente perco-me dentro das fundas do teu ser.

TEMPO

Depois da permanente saudade volto ao porto antigo das enfandonhas noites. O abraço dos seus braços trancam-se nos meus com um leve beijo recomeça- mos o colóquio. Localizo a mudança da personalidade nos seus lábios mas contínuo lenta- mente caminhado. Ao passar dos dias a razão prepondera ao coração e como num adorme- cido desengano reavejo os mais belos dias. Vagamente o pássaro desperta e calmamente se apercebe do mundo ao seu redor. Os rinões dos anos aparecem, lá no campo os veleiros passantes adornam o falante cisne abatido da saudade imorredoura da terra natal.

Page 69: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

O relicario que leguei transparece pensativamente nas folhas do horizonte que beijei. Se falasse e cantasse em ti, os pergaminhos que saissem dos meus passos seriam a sublime renuncia do meu coração.

Rio, 12/12/73

MOMENTOS

Reencontro o caminho perdido daquele passado vazio. O amarelo da tarde rola em meus olhos, tristezae cansados. Na perseverança da vida escrevo da súbita felicidade em reve-la. O borbulhar das vozes bloqueia a minha mente dispersa e evaziva. Outubro se vai, passou passando de passagem. Não, a magoa não vai vencer o adiante; o adiante vem, vem pequeno e de man- sinho. As palavras fogem ao inculto desejo, desejo que não consigo divisar nesta rua enla- meada de solidão. No vai e vem do horizonte sigo o caminho que perigo há tanto tempo, tempos que aquelas montanhas, aqueles bosques que jamais esqueci. Há minha realidade começou quanto a divisei na minha vida; não foi uma simples presença mas sim o marcar das paisa- gens, das horas de amor que passei a seu lado.

Rio, 31/10/77

Page 70: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LONGOS ANOS

Encontro-me na mais profunda inércia trabalhalista ou melhor dizendo, não dis- ponho no momento de nenhuma atividade remuneradora em que possa exercer minha habili- dade profissional. Apesar de manter inúmeros contatos, até a presente data nada de novo aconteceu, embora estive quase perto de trabalhar na Embratur ainda que fosse somente atuar sob forma de contrato durante os tres meses vindouros. Sendo isto um fato consumado, não posso dizer que ainda perdi totalmente a esperança de lá me encontrar nos próximos meses. Tinha plena certeza de que lá iria trabalhar mas por um acaso do destino ou falha de alguém não o conseguiaté agora. Não desisto facilmente das boas empreitadas sempre espero o me-lhor, o mais positivo, persigo insistentemente o caminho da vitória mesmo que custe apare- cer, mas sei que esta situação é coisa de dia, porque alguma força superior e infinita indica-me que estou bastante perto de superar mais um obstáculo que se me apresenta, mesmo que esse obstáculo já dure coisa de alguns anos. Reafirmo os meus propósitos de fé, persistência e inalavel confiança que conse guirei transpor este empecilho. O importante é buscar um significado na vida, é a constante luta com nós mesmo de superar-mo-nos, é ser destemido e corajoso ante as dificuldades é saber enfrentar de frente e cabeça levantada os dissabores pelos quais passamos para num amanhã que já chega termos todas as condições e responsabilidades de guiarmos o futuro des te país, o qual já é grande mas ficará maior na medida em que os seus representantes lhe pre- pararem e traçaram um melhor porvir. Creio firmemente na vitória iminente, pois esta é de quem a persegue e não se abate com os desvios de percuso, é para quem sempre acreditou em si mesmo, para quem sempre confia em Deus para quem sempre confia na vida e nos homens.

Rio, 27/04/78

Page 71: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

COPA 78

Clima de euforia domina os quatro cantos do país. Sob uma imensa ansiedade espera-se a bola rolar, partida em que o seleciona- do brasileiro tentara por em prática os vários anos de preparação e treinamento com vistas a copa do mundo de futebol. São milhões de pessoas a orar, chorar logo em que a bola comece a rolar. Embora certa parte da crítica - e eu me coloco ao lado desta - não vê com bons olhos o exercicio teorico feito pelo treinador, esperamos que a técnica e o preparo físico do jogador brasileiro supere todas as adversidades que certamente irão encontrar em gramados argentinos. Ruas avenidas, bairros estão enfeitados para comemorar jubilosamente a conquis ta de mais um troféu para as cores de nossa pátria querida. O congraçamento, a irmandade de espírito se transforma na corrente pra frente que Miguel Gustavo tão bem descreveu em 70. Jovens, velhos, crianças todos estão voltados para um só pensamento e comungam na mesma oração. A camisa, as cores nacionais faz com que todos sintam orgulho da terra em que nascemos e vivemos. As diferenças regionais ces- sam ante a partida internacional e todos estão sufocados até que o espontaneo gol surja e co- mece a alegria e os festejos para ruidosamente comemorarmos mais uma vitória da seleção canarinho. Isto não é uma estórias ou uma oração sim uma sintese - que humildemente tentei fazer - sobre a coisa mais importante e que é a religião oficial do brasileiro que é o futebol com toda a sua paixão.

Rio, 02/06/78

Page 72: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

EXPLENDOR

O sol explendoroso que se abate sobre mim prenuncia o formoso dia que terei. As correntes aéreas não se apercebem, o ruído matinal característico não se faz presente, só o úmido frio enrijece os músculos meus. Queria estar num fluido outono extenso para beber todas as delicias dessa chu- va fina que bate tenasmente nas vidraças de meu pensamento. Como ontem sonhei, como amanhã pensei em vê-la enfeitada, adornada de to- dos os colares possíveis e imaginários que inudam e abrandam a alma minha. Há se as trêmulas ondas fizessem essas nuvens voltarem ao meu coração, se fizessem essas trepidantes luzes iluminarem novamente os fertéis caminhos seus. Mansas montanhas falam-me, ouro expectro anuncia-me que hoje, agora come- çamos uma nova era, começamos um novo mundo, juntos descobriremos deslubrantes hori- zontes, enfim de mãos dadas só o infinito nos espera.

Rio, 08/08/72

Page 73: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

SILVINHANDO

Fui a a sua casa pensando que era um hodierno e luxuoso apartamento mas para minha surpresa era um domus modesto, humilde, simples como eu. Por isso agora sei, o porque da sua candura, o porque de sua ternura e da sua infinita docilidade d’alma. Os seus olhos tristes por natureza sempre me convenceram que jamais tinha errado na escolha da mulher amada. Aquelas grandes tranças da arvore postada no quintal pareceu-me como uma “boa vindas “ ou melhor dizendo, uma feliz estada. Na sua pequenina casa vi refletido o espelho fiel da minha alma, da minha compreensão e sensibilidade. Aos poucos, a passos a passos, tomo ciência do seu maravilhoso mundo inte- rior, esse mundo fascinante e deslumbrante que sempre procurei. Não me importa as suas roupas, os seus sapatos, os seus hábitos mas acima de tudo me importo com você. Amar a vida, gozar a vida é tê-la todos os dias em meus braços, é percorrer os imensuráveis caminhos de seu coração.

Rio, 18/08/72

Page 74: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

IMAGENS

Eis-me aqui novamente sonhando acordado no leito das nuvens dos rios meus. Como corro a percorrer a esses uivantes ventos que quebram ondas que ceifam as marés dos nossos ninhos. Há tenue pássaroque desabrocha o seu ser nesse marasmo leviano e inconse- sequente venha ao seu encontro rúbrico e senil, porque juntos, eu e tu, tu e eu, navegaremos as belas montanhas que a natureza brotou. Como queria ser aquela distante e linda flor que se ausenta e se perde no hori- zonte, indefeza e inocente das mórbidas das sortes que o cotidiano oferece. Prasma-me tê-la junto aos lábios meus, sinceros e sentidos, que jamais desfi- zeram a ausencia dos minusculos bosques dos seios teus. Mundo andante que me aparece, salto errante que me arrefece, dores perdidas que estristece-me, cantos paranhos que envaidece-me.

Rio, 21/08/72

Page 75: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

LUZ

Hoje estou tão feliz que nem sei como essa infinita alegria apossou-se de mim. È o reencontro da felicidade perdida, é a descoberta do meu novo viver é o florescimento do meu novo ser. Oh grato amigo como lhe agradeço por tudo que és. Somos todos um grávido passarinho inocente que burla a bolsa matriarcal para vir ao mundo, com a sua luz, sua vida. Caminhemos unidos porque coesos o mundo sera bem melhor e bem mais agradável do que parece ser.

Rio, 22/08/72

Page 76: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

PIEDADE

Apiedo-me de um amor enclausurado, ocultado sobre seu ventre casto que se desfez ante o virgem beijo da humildade. Perdi chuvosas tardes fitando-a entre as brancas rosas que desciam do meu leito paterno de dor. Cantando primaveras esquecidas colhi rebentas flores que brotaram do cantico meu. Mal amado dum mundo mal amado ou sem amor, rolei nuvens afora embrenhando-me poe espessas miragens na ansiedade de encontrá-la dentro das bromélias do antigo leito meu. Tentei noutras terras busca-la mas entre as terras que busquei só senti o umido beijo da terra molhada que te dei. Relembrando tempos passados que o próprio tempo levou, desfiz dívidas esque- cidas que marcaram tempo no relógio do meu coração. Ante a sua sublime presença tive lampejos de outrora que só agora compreendo ao lado do seu penetrante e dismedido olhar. Sonhei clareiras escuras das ribaltas labaredas dos seios seus, ribaltas que esvae ceram da lamuria dos sonhos teus. Quisera outros sonhos sonhar entre tantos sonhos que sonhei. Tramitando entre amantes desejos, busco a absolvição suprema da corte majesto- sa do seu coração.

Page 77: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 03/11/72

SAUDADES

Saudades, saudades porque fugiste dos meus apelos prementes, porque subjugaste os ardentes e sinceros desejos. Rindo do teu riso sem riso, aclamado por lábios sem lábios, chorando de lágrimas vou partindo de tristezas desamparadas do sublime orvalho do mundo seu. Rosas, rosa é o teu intimo doirado esmaecido de sofregas repulsas do íbrido cora ção. Surrupiado de amores tresloucados canto versos lagos sem terras, decoro fúrias dos sonhos sem fim, derramo brumas do destino enfim. Não, não reverbero o seu amarelo aloirado, não altero o seu amante adorado. Transitando entre corações adversos recebi secos campos de bosques empobre- cidos das alheias bondades. Ruas, ruas das minhas lembranças infantis que choro de dor ao deixa-la. Tempos busquei na infância infeliz do desprezo sentido dos zigue-zagues dos passos meus. Morro subi de verdejantes esperanças do futuro porvi. Cavalguei renhidas pueri- dades da minha tenra memória de criança desafogada. Quantas estórias deixei de encontrar e contar do meu planeta menino, menino que lamente a perda brusca de amizades que fluiram e fugiram com o passar dos tempos.

Page 78: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 13/11/72

CAMINHOS

Caminhei por pedras marcadas entre os frágeis fixos bretados. Aternei vagas aleatorias retornando de imprevistas criações , criações como o próprio nascer padecido. Em planícies marítimas trnasei com sereias malditas abondonadas ao relento de luzes nascentes como o próprio fulgor da esperança. O meu íntimo desejo resplandece de ternras manhãs, manhãs construidas do fun do do ósculo seu. Ao saber do seu precoce sentimento masturbei-me de segredos recentes das minhas reminiscencias esquecidas. Pulei áridos morros desfeito da sua brisa transitória, transitória como o amor passageiro. Sucumbi diferentes paisagens mortas unindo ao elo do seu meio o mais livre momento. Enriquecendo de cálidos sorrisos permeio estralas ilusórias arrancadas do prostibulo da soledade infinita. A sua candida voz é o meu predileto sofrer alcançado. Amanheci cantando “alegros” tristes, tão tristes, e murchos quanto os lábios seus que eu beijei e perdi. A azul distante que encontro nas suas mãos são as marcas revolvidas das fugas minhas.

Page 79: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Amei alienos mundos dispersos das longas fronteiras do meu ser. Entre os pon- tos extremos do imensuravel destino vi despontar a alegria descoberta do viver, esse viver que sempre qualifiquei. Nalgum lugar pequei chorando de desencontros passados planteando amores que jamais os vi. Perdi-me no brejo da sua alma sedutora percorrendo orlas cativas das minhas marolas de amor.

Rio, 13/11/72

CICATRIZ

Do fundo das terras virgens colei ao distante vento jasmins coloridos de dores das sombras das águas bentas. Nas profundezas do mundo estranho molhei as mais perfidas rosas de amores loucos do meu desatinado coração. No cume das almas vaidosas deitei-me ao relento das flores passageiras, acordei ao sino bento da recordação dispersa da consciencia perdida. As algemas da brisa fez-me ir ao deserto das cidades, errantes do horizonte sem fim que rasguei ao beijar os seus cálidos e ternos seios. O amarelo noturno incandescente supriu-me o amis sólido desejo conhecido das laranjeiras ocultas dos lábios seus, seus que foram tão meus que já os venci, venci da subli- me e nobre paixão devoradora que cicatrizou o amago do meu fecundo amor. Beijei estrelas e cometas, planetas e metéoros mas não vi em nenhum a essência do divino perdão imerso no túmulo dos peitos feridos. Nos bosques dos teus pés desabrocharam as cálidas sereias do meu amaro e dis- tinto sacrifício.

Page 80: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Ao luar do amanhã esvaecido lancei as sementes da tarde felina dos puros de sen- timentos frustados.

Rio, 17/01/73

O AMOR

Muito se fala sobre o amor mas dificilmente as pessoas sabem definir o que se- ja o verdadeiro amor ou melhor dizendo sabem versar sobre o bom amor. O amor não é feitode palavras mas sim de gestos afetivos, carinhosos e meigos. Nele encontramos todas as branduras do puro universo, nele se guarda as mais tensas dores e paixões ocultas que todosnós trazemos no íntimo purificado de nossos corações. Não há lugar para vaidades nem tam-pouco para afeneras leviandades que nós humanos temos em reserva. Sim o amor do que escrevo é mais alto e forte do que o próprio horizonte maísculo, é mais elástico e resistente do que a solidão noturna das trevas, é mais flexivel e branco do que as espumas esvaecidas do mar plebeu.

Page 81: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Daquele que um dia me tornei condenado, amante inseparável, companheiro constante, digno camarada, este sim, é o que eu considero o verdadeiro e puro amor de todos nós, sensiveis ou não, côrtes ou não, puros ou não. Assim pretendi num pequeno ensaio e oração falar sobre o que considero o gran- de propósito de nossas vidas: o amor sempre o amor.

Rio, 01/02/73

COMPANHEIRA

As lágrimas rolam nos córregos dos meus olhos, a tristeza brota do meu coração,

Page 82: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

a solidão pesponta no meu denso e tenue perdão. No relampejo das brilhantes noites só escu-tei e ouvi o murmúrio do seu meigo cabelo, só alcancei as flores dos teus seios, só bebi o cálice do teu despido beijo. Ao passar das horas senti a tua súbita presença não no meu festi- vo mas sim no furtivo e platônico desejo. Nas manhãs primaveris busquei o mais profundo e razo destino. Na incerteza do incerto dia compreendo os ilícitos e profundos gorjeios que exalam de todo o corpo seu. É poesia minha o meu único e verdadeiro refúgio, a minha eterna e indissoluvelcompanheira. Talvez das cantantes sereias apareça a paz pura e renovadora do meu sofridocoração. Ao entrar da noite a chuva escorrega por mim, lá no firmamento só o pensamento ati volta como volta o irreversível e perpétuo amor.

Rio, 18/06/73

ESQUECIMENTO

Page 83: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Adeus ao nosso inesperado e involuntário mundo apodrecido. a incivilização predomina entre todos os campos da vaidade e orgulho. A compreensão, a humildade da hámuito sumiu de nosso meio ambiente. Os preambulos que todos os dias percorremos são opuro negrume flor. Longe tão quanto o amr só o brilho dos seus perfidos cabelos merinos. Aportando da essência celeste que brota em mim, nevego em pueris sonhos. Nem o seu chamado distante me alcança nas canções amorosas que desenhei. Na espontaneidade do ser o amor maior dos nosso desejos ainda que fossem vis. A margarida tão elementar que um dia banhei no campo florido do teu coração e leva-meao mais remoto e antigo devaneio que haja são simplesmente cinzas. Há humanidade esquecida das coisas e dos homens porque criaste o mito do re- pudio a nós mesmos. Na aurora estrelada lanço brumas dum desfeito e nostalgico amor. Nos rincões dos horizontes carrego o mais sublime e perdiz perdão, não o can- to pequeno e insignificante que outrora acolhi no verde incenso feliz. As palavras as quais pude um dia dizer-te são as agudas relíquias que levo do tenso e frutífero encontro. Na selva dos meus olhos, nas estradas do meu caminho, no rio dos meus pran- tos o que ficou foi somente a efemera e voluptuosa saudade. Seremos os entes perdidos dosdesencontrados destinos. No chão dos seus lamentos ouço o sincero e firme desejo infantil. Na galáxia nasce o esperado momento, momento este, que espero que surja do supremo desejo desconhecido.

Rio, 07/ 07 /73

Page 84: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

RIBALTAS

Longe das ribaltas adormecidas dentro do peito meu escuto batidas vazias como o aprimoramento do outono pueril do nosso ingenuo mundo desiludido de criança. No horizonte abre-se brechas que jamais selaram o sublime desejo do profano amor; o amor que desconhecido e fugaz tento encontrar. Nos córregos solitários alentos tive que prasmaram-me o súbito caminho da re-volta infeliz. Nas zonas do mar vermelho, grutas perambulei prenhado de dores passados cantando canções que se desintegraram ante o misero pedido desse servo que ora lhe serve. Ao caminhar no seio perdido das sonhadas nuvens vivifiquei amores imensos naslongas noites de vigilia que brotei do meu úmido afeto amado. Ao relento dos dias vis que acordei, percebi as inintelígiveis memórias que cla-rearam-me as pupilas do segredo almejado e cercearam-me as mais puras recordações deliberdade. Meneando saudades naufragadas do destino, lancei flores das ribaltas dos teuspurificantes olhos.

Rio, 19/07/73

Page 85: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

BENEVOLENCIA

Nos primeiros encontros do desejo á espera, só fiquei labutando de dores ante a dolorida consciência. Não voltei ao mergulho passado na essência de nós mesmos ou comodiriam no superego dos seres vivos. As imagem das espumas brancas naufragava do sublime despertar dos olhos verdes do mar meu. A estória continua sem ter sequer chegado ao fim da novela que já começava a se esboçar. Cheguei a primavera e nela percebo os encantos dormentes da natureza. Na vaidade de Helena assisti a frágil, flácida face da desilusão. Posso chegar as linhas finais do opúsculo em andamento mas o tema que ia narrando começa a despontar do subconsciente da esperança e vejo os amigos presentes, os campos verdes, as brancas nuvens, o róseo dos seus cabelos, o negro dos seus lábios, o caramelo da sua língua, tudo, tudo elevado ao meu grande e benevolente perdão.

Rio, 13/03/74

Page 86: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

ALMAS VAZIAS

Num amanhecer disperso do meu alcance, corro linhas das saudades distantes. No quebranto das rochas percorro desejos lúgubres do meu amor que se foi. O firme e efusivo olhar, o súbito e loquaz gorjeio marcam ruas por onde jamais ca-minhei, caminhos que se fluiram ante a indelevel despedida. Nos labirintos da vida que pontilhei no meu vago destino, relembro sonhos, quime-ras perdidas que tracei nas híbridas flores que apanhei. O tênue sorriso que se aproxima da solida noite que dormi ao relento dos lábios seus, prenunciam os cálidos passos solitários que chorei ao despertar dos seios seus. O borbulhar das ondas abre-se ao breve horizonte. Nas almas vazias lanço cançõestediosas como são as intrusas. As imersas dores que encobri no simples passatempo de escrever ap ponto tortuoso da partida. Quero devaneios, quero desejos, quero o aamor ausente da minha lembrança, quero a amiga libertina das boêmias noites que vagueei, quero o eterno lirismo dos poetas quero odoce e afável perdão dos deuses, quero o simples e sincero afeto da amada discreta que es-queci. Na decaída dos meus dias aportei á solidão dos bosques do seu semblante que hojeimploro na fecunda aliança em que naveguei.

Page 87: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Sinto a tua presença mesmo que ela se feneça nos jardins transparentes do meu coração. A calma e inebriante fuga que tive, foi o resquício do meu infeliz abatimento que sobreveio-me ao perde-la eternamente no outono da minha mocidade. Ao longe a voz amedontrada, o diálogo frouxo dos oceanos, o murmúrio pétrio dos lagos, o esvaecimento completo do meu ser. Desponta lá fora goticulas dágua, o conceito fertil da existencia repentinamente floresce, como floresce a seca musa que escolhi.

Rio, 10/04/74

PERDÃO

No murmúrio presente do vazio, o córrego desponta da abafada voz do meu pensamento. Ao rebuscar o sorriso perdido, percorri a ingenua e feliz consciência dos homens. Do solitário saveiro percebi o triste adeus da minha vila. No entendimento frustado das coisas aquieto o sublime e desesperado olhar,corro sotãos do forçado exílio da separação. O dia aquebranta na primavera dos meus sonhos, sonhos que se flui do meuafetivo coração infeliz. O clamor das ondas violam o meu desejo, o desejo que ainda procuro encon-trar no semblante fechado da amiga minha. Flocos do etéreo aparece. Luzes do firmamento fenece. Cânticos dos prantos esvaece Nas entrelinhas dos meus alfarrábios só a súbita lembrança das noites escal- dantes em seus pensamentos me apetece.

Page 88: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Ao luar do seu horizonte bate loucamente o perdão cioso de minhas súplicas ante a nostalgica e inevitavel separação. O ruido das folhas que senti ao descobrir as curvas da sua eleva-me lógica doencantamento.

Rio, 17/04/74

DIA A DIA

A independente e comprometida introspecção guia os tortuosos amores desfalecidos, desfalecidos tanto quanto a fecunda inveja dos covardes. A descrença do meio torna-se cada vez mais aguda, os pensamentos subjetivos cada vez maisegoísta. Como encontrar nas gesticulações á valvula de escape para os problemasque todos temos que enfrentar. As opiniões veriam como varia as personalidades daspessoas. O ser busca o isolamento embora conviva diariamente com multidões. Sentado tão firme quanto a maissólida rocha, escuto vozes frias que bro-tam dos olhares gélidos dos homens. No grupo, na associação, o raciocinio lança-mea uma profunda meditação tento descobrir as linhas do meu interior tão petrificado eestranho a mim mesmo. Surgem deduções tão inócuas que encontro no perdido caminhoa razão do meu viver; escrevendo, escutando, sentindo, procurando tudo o que me toca, tudo o que me toca, tudo o que me fascina, tudo o que de mais pequeno me envolve. O dedilhar das imagens, o riso traiçoeiro, a promessa do lugar esperado,nada, nada desponta no cenário da cantina neste espelho aberto de infinitas vontades.

Page 89: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Rio, 17/04/74

ABONDONO

Parte-se o raio, sucumbe o espanto. No sertão das noites minhas só lembro o abondono a que fui relegado. Os agrestes caminhos por onde andei, guardam em seu leito os prantos derramados das ilusórias noites que passei. No recanto dos sóis traiu-se a dor, dor que a cada instante penetra no seio d’alma, dor que a cada momento desemboca nos eixos da minha existência. Orgulhoso no infinito vai-se o mar. Os entrechoques da consciência, o fugidio desejo, o ausente amor, o distante perdão, o canto esquecido, a fascinante cor tudo são meras quimeras que as faiscas elétricas queimaram.

Rio, 25/04/74

Page 90: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

NEVOA SECA

O sonho esvai-se do pensamento e com ele todo o fluido de amor. Na visita matinal da saudade o resplandecer dos olhos meus loucamente cede a repentina brisa passageira. O perfume da esperança vagueia ante a nebulosa partida dos teus seios, dos seus beijos que foram tão meus, das mãos que minha foram. A essência da realidade mergulha-se na mais vaga idéia de separação. Não há mais solução para um amor que naufragou. As minhas mãos rasgam as lembranças do seu inseguro pensamento por onde várias noites passei lendo as belas letras dos eu porto amado - amado e sublime - como o despertar vivificante dos seus languidos lábios.

Page 91: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Ao ressugir do semblante fechado da sua existência, adormeci em negras dores no solitário desejo de tê-la. A minha silibação é triste, tão triste que palavras vãs pululam em minha boca. O saudosimo, a nostalgia abrem brechas profundas no meu ser. O orvalho quando aparece, o sopro dos pingos, o lago quando ventila em meu lado é o puro resquício do rosto espinhoso de seu coração.

Rio, 06/06/74

AUSENCIA DA ESCRITA

Afastado de minhas atividades literárias há algum tempo não muito distante, volto ao reencontro do espaço perdido. Busco nos espaços dispersos a razão e o significado de todo o meu viver. Lá não muito longe ouço relâmpagos, salpicos que anunciam o prenuncio do amanhã. As relvas ficam mais verdes, os bosques mais mansos os jardins mais jovens quan- do a chuva fina aponta do horizonte. No crepúsculo das trevas relembro do passado deixado para longe, das noites boemias que vagueei nos seus lindos olhos, nos longíquos rincões que juntos caminhamos. Nalgum lugar, em algum tempo acariciei você, você que me purificaste tantas noites, você que me seduziste em tantos sonhos, você que me cativaste em tantos

Page 92: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

prantos; prantos que narram a passagem dum tempestuoso amor, amor que sucumbiu ante o mísero desfolhar da primavera. O ruido passa ante mim sem ao menos notar a minha presença neste pequenino mundo. O uivar das ondas me eleva ao canto das sereias que partem em busca da solidão maior que é o luar.

Rio, 17/02/78

RIO

O vento passa sobre mim, rola sobre o meu peito e desaba no meu coração. As folhas de outono caem como chuvas de pétalas na minha lembrança distante que nem o passar do tempo se encarrega de levar. O pássaro, o intenso olhar e a brusca leveza do rio desagua no abismo perigo- so da solidão. As águas descem rio, sobem rio, nele quero encontrar o meu destino, nele despertar minhas origens sondando possibilidades antigas e profundas do meu viver.

Page 93: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

O sorriso inconstante, a intempérie do tempo, o canto perdido no além, a espe- rança que renasce no coração marca dia da humildade, o dia de fé, o dia que há de vir e que finalmente chegou. O aperto das mãos, os passos medidos, a fuga despreocupada estabelece o principio do fim das coisas. A quietude que transparece no horizonte penetra no lusco-fusco do teu olhar. Eu o reverbero, eu o afago dentro da brisa umidecida que lacrimeja ante a súbita e infeliz despedida. Lentamente a vida passa, o sentido perfeito das coisas tambem eis que abrup- tamente inclino o semblante para um imaginário deserto, o deserto das ilusões perdidas. A suavidade do mar transparece no tormento prematuro dos bosques. As fontes permanecem em seu entendiado lugar lá ao longe apercebo o bem comum que nos une, aqui ao lado só o perfume íntimo dos teus seios.

Rio, 26/10/78

DIVAGANDO

As reminiscências de alguém permanecem na labaredas das frustações, persegue o consolo do desejo inconcebido e busca a quimera que jamais retornara. A relva abraça a paisagem somente os pingos celebram em teus quebradiços cabelos. Reencontro o tempo da oração, o tempo dos nossos corações após uma longa e turbulenta paixão. O abismo em que me envolvi era uma passagem obrigatória do meu

Page 94: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

ama- durecimento. percorri vida afora dissabores, constrangimentos, como qualquer outra pessoa porque além desses percalços, em minha mente jorrava a brilhante canção da esperança que jamais e em tempo algum me abondonou. As promessas pérfidas que encontrei foi fruto da minha imaturidade, ocasionado pela pouca idade, mas mesmo assim não se emtreguei nas trevas da derrota. Somente a prese verança em sadios ideais apontou-me o caminho da sabedoria, da bondade e do amor. O natural equilibrio, a clarividência da vida aporta em minha alma e nela navego para uma nova realidade. Sim, sim a tenascidade esta em mim, nasceu comigo e permanecera comigo. Ela é fruto da minha existência, ela é produto da resistência dos fortes; porque só os fortes sabem superar as adversidades, só os fortes suplatam os adversários sem desmerecer os vencidos e teem o dom natural do perdão. Abre-se um novo mundo, uma nova era começa e dentro de ti as vibrações posi- tivas de um novo porvir. A brisa adocicada que parte de ti penetra na barreira da razão, já perdi o controle das emoções e cedo totalmente ao convite das suas aromaticas mãos.

Rio, 26/10/78

UM SERVIÇO OU UM EMPREGO

Page 95: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

Numa retrospectiva sobre os meus dias de trabalho na nova empresa, posso dizer que numa primeira apreciação ela está sendo positiva, positiva na medida em que novos conhecimentos são adquiridos, tanto sobre pessoas como sobre apredizagem. No inicio prevalecia uma imensa vontade e entusiasmo em aprender algo novo. Mas com o passar dos dias, com o diminuto salário percebido, aos poucos o otimismo desapareceu ficando só a sobriedade e seriedade em serviço. Estando exercendo uma profissão totalmente diferente de minhas atividades anteriores, ela se torna benéfica na medida em que medito e reflito sobre os acontecimentos e as pessoas que fazem parte da seção. O salário em si não constitui, para mim um motivo de negligência e pouca produção em serviço, mas sim o ambiente de trabalho na qual se mede a responsabilidade, a compe- tência, o bom senso e a produção de cada um, e acima de tudo o ambiente fraterno tem que ser colocado em evidência e num plano superior. Quando vemos que atitudes arbritárias e irresponsáveis ganham adeptos, sinto um pouco de mim e de meu mundo se esfacelandocontra a dura realidade que é o cotidiano, o dia a dia de cada um. Para enxafurdar-me nesta mediocridade ou não ir contra isto tudo, tenho que tomar uma posição rígida e segura e ser mais frio e duro como a maioria das pessoas hoje em dia. Mas isso creio que durara pouco, pois a supremacia da razão e da justiça tarda mas não falha. Estou completando os meus últimos dias no serviço noturno, como habituei-me a esperar pelo melhor, brevemente terei boas notícias e a falsidade como a leviandade, cedera vez ao talento, criatividade e a verdade estabelecidade sobre o meu ser. Ninguém julga a si mesmo, embora todos nós tenhamos autocrítica. É que é mais fácil julgar o alheio do que a si próprio, mas assim mesmo farei uma análise superficial de cada um dos colegas em serviço. E espero que consiga superar todos esses obstáculos que ora se me apresenta.

Rio, 22/11/ 78

LIVRO FRAGÂNCIA

AUTOR SERGIO ALVES DE SOUZA

Page 96: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

TÍTULO DATA ÍNICIO FIM DIMINUTO 02/68 NÃO FICOUSOB O CARNAVAL 02/68 CARNAVAL CHORAR COISAS DA VIDA 24/05/68 PORQUE PÓPESSIMISMO 14/10/69 O PENSAMENTO LUA 22/10/69 NO AMADA ANO BOM 01/10/70 UM VIDASIRMÃ 05/03/70 DEDICO MEUCRISE DE ADOLESCENTE 28/07/70 O QUE NÓSDEL CASTILHO 04/08/70 DOMINGO INICIAVAHELENA 01/09/70 NAQUELA AMORDISTÂNCIA 30/10/70 O QUE SABEMDISPERSÃO 21/08/71 NADA SEUSARREBATAMENTO 26/02/72 NA VIDAVOLTA AS AULAS 20/03/72 VOLTO NECESSIDADETERRA GUARANI 27/03/72 O QUERIDO VÁCASO PERDIDO 18/04/72 ERA TERRAQUESTIONAMENTO 04/05/72 PODERIA CHEGAREIIDEM I 10/05/72 A QUEM MEUSDECLARAÇÃO 31/05/72 COMO EXPLENDORNATUREZA HUMANA 31/05/72 É DIFICIL INCLUIPRAÇA PARIS 01/06/72 PÁSSAROS PARISQUADRINHAS, TERCETOS 02/06/72 HÁ SEUBURBURINHO 08/06/73 NO SUSSURRONASCENTE 08/06/72 AS LIBERDADECRIS 12/06/72 COMEMORO MOSTRARÁPERDIDO 25/06/72 VEJO-A AMASCARTA 02/07/72 PERDOE-ME SINCERAM.ILUSÃO 08/72 NA MESMOA PREFERIDA 07/08/72 ENTRE AMADOQUESTIONAMENTO III 11/08/72 EM CHOREIMÃES DO MUNDO 15/08/72 MÃE DURADOURADOCES LÁBIOS 17/08/72 O QUE ATRAEMCINZENTO 29/08/72 DE MEURECADO 10/09/72 A FRAQUEZA POSSIMOSSUPREMA BELEZA 18/09/72 TRAUMATIZADO AMORLIRICO DEMAIS 25/09/72 A MINHA SEUSSOLEDADE 04/10/72 EIVADO AMORADEUS C. PAULO 04/10/72 NESTE SEMPREBENÇÃO A MÃE 06/10/72 MAIS CONFORTOREFLEXÃO 10/10/72 SENTADO RANCORESINVÍSIVEL 12/10/72 PERSCRUTANDO ASCENDENTE

Page 97: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

BALZAQUIANA SOL 18/10/72 O DESAFIO AMOR

LONGE 18/10/72 ININTERRUP. MEU DESILUSÃO 28/10/72 EMBORA SENTIDAS PRAIA DESERTA 03/01/73 NA PRAIA HUMILHADO S BAHIA 03/01/73 LONGE TEEM EXÍLIO 04/01/73 SUMIDO AMORA CHACRETE 09/01/73 NA CHUVA VOCÊ BRONZEIA 11/01/73 LEMBREI-ME DEIPOEMA AMANHECER 02/02/73 AS PLANTEIPENSAMENTOS 22/03/73 NO MAR INFÂNCIASENSAÇÕES 23/03/73 PRECISO FORÇADOBARBÁRIE 12/04/73 MAIS UMTRISTONHO 16/04/73 PERECENDO DESTINOBRUMAS 23/05/73 MIRANDO CORAÇÃOANDANTE 17/06/73 NA SOMBRA PERDIDAENSIMESMADO 09/07/73 NA CÉLEBRE VENCEREISANTO ANTONIO 16/07/73 FOI AMORSENTIMENTO 19/07/73 NA ESSÊNCIA SEUSCLARIDADE 08/73 MAIS CONCEBERQUINTA MORNA 23/08/73 BEM CORAÇÕESINCONTINÊNCIA 29/08/73 COM INDICA DEUS 09/73 DEUS OPRIMIDOSDESALENTO 18/10/73 NA VONTADE PERDOEILUENE 18/10/73 HÁ QUERIDARECOMEÇAR 12/12/73 É SERTEMPO 12/12/73 DEPOIS CORAÇÃOMOMENTOS 31/10/77 REENCONTRO LADOLONGOS ANOS 27/04/78 ENCONTRO-ME HOMENSCOPA 78 02/06/78 CLIMA PAIXÃOEXPLENDOR 08/08/72 O SOL ESPERASILVINHANDO 18/08/72 FUI CORAÇÃOIMAGENS 21/08/72 EIS-ME ENVAIDECELUZ 22/08/72 HOJE SERPIEDADE 03/11/72 APIEDO-ME CORAÇÃO

Page 98: sergioalvesdesouzariodejaneiro.files.wordpress.com…  · Web viewSou um passarinho andante em busca de uma pousada, de ninho que se possa traduzir em amor. Vivo num mundo de incompreensões

SAUDADES 13/11/72 SAUDADES TEMPOSCAMINHOS 13/11/72 CAMINHEI AMORCICATRIZ 17/01/73 DO FUNDO FRUSTADOSO AMOR 01/02/73 MUITO AMORCOMPANHEIRA 18/06/73 AS AMORESQUECIMENTO 07/07/73 ADEUS DESCONH.RIBALTAS 19/07/73 LONGE OLHOS BENEVOLÊNCIA 13/03/74 NOS PERDÃOALMAS VAZIAS 10/04/74 NUM ESCOLHIPERDÃO 17/04/74 NO ENCANTAM.DIA A DIA 17/04/74 A INDEP. VONTADESABONDONO 25/04/74 PARTE-SE QUEIMARAM NEVOA SECA 03/06/74 O SONHO CORAÇÃOAUSENCIA 17/02/78 AFASTADO LUARRIO 26/10/78 O VENTO SEIOSDIVAGANDO 26/10/78 AS RE MINISC. MÃOSUM SERVIÇO 22/11/78 NUMA APRES.