Sermão: Deus espera mais de mim!

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Domingo, 21/09/2014 IBCJ Sermão: Deus espera mais de mim! Texto bíblico: Lucas 10:1 No tempo em que me dediquei no preparo deste sermão, propus-me o desafio de encontrar algo que o ser humano seja capaz de realizar sem a ajuda de outrem. Será que existe algo que o individuo possa fazer sem que ninguém tenha qualquer tipo, ainda que mínimo, de responsabilidade na contribuição do seu feito? Cheguei inclusive a pesquisar na Google a seguinte expressão: “O que o ser humano pode realizar sozinho”. Nada encontrei. Não satisfeito, repetia a pesquisa com a seguinte expressão: “Coisas que o ser humano pode fazer sozinho”. O resultado foi o mesmo, não encontrei ninguém que, uma vez inundado por todo tipo de arrogância ou auto-suficiência, fosse capaz de listar ou denominar ao menos uma coisa que nós sejamos capazes da verdadeira auto-realização. Talvez seja porque, de fato, não exista e não existe, porque na melhor das hipóteses somos interdependentes. Deus nos fez assim, provavelmente com o propósito de imprimir na sua criação um pouco daquilo que lhe é característico. Pois, até mesmo Deus, quando se propôs à realização da criação do mundo, por exemplo, o fez em três. Façamos! Lá na criação podemos identificar essa atuação tri una e perfeita: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

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Domingo, 21/09/2014 IBCJ

Sermão: Deus espera mais de mim!

Texto bíblico: Lucas 10:1

No tempo em que me dediquei no preparo deste sermão,

propus-me o desafio de encontrar algo que o ser humano seja

capaz de realizar sem a ajuda de outrem. Será que existe algo

que o individuo possa fazer sem que ninguém tenha qualquer

tipo, ainda que mínimo, de responsabilidade na contribuição do

seu feito?

Cheguei inclusive a pesquisar na Google a seguinte

expressão: “O que o ser humano pode realizar sozinho”. Nada

encontrei. Não satisfeito, repetia a pesquisa com a seguinte

expressão: “Coisas que o ser humano pode fazer sozinho”. O

resultado foi o mesmo, não encontrei ninguém que, uma vez

inundado por todo tipo de arrogância ou auto-suficiência, fosse

capaz de listar ou denominar ao menos uma coisa que nós

sejamos capazes da verdadeira auto-realização. Talvez seja

porque, de fato, não exista e não existe, porque na melhor das

hipóteses somos interdependentes.

Deus nos fez assim, provavelmente com o propósito de

imprimir na sua criação um pouco daquilo que lhe é

característico. Pois, até mesmo Deus, quando se propôs à

realização da criação do mundo, por exemplo, o fez em três.

Façamos! Lá na criação podemos identificar essa atuação tri

una e perfeita: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

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Exemplo que foi seguido por seu Filho na ocasião do

desenvolvimento do seu Ministério e, igualmente seguido pelo

Espírito Santo, quando este assumiu o governo da igreja. Mas,

hoje, quero refletir sobre a postura do Filho. Por isso, o texto

lido se justifica e, nele, podemos perceber que Jesus Cristo

tem uma percepção tão honesta da realidade e que muitas

vezes nos falta. Como precisamos aprender com o Mestre!

Lucas inicia como lemos o capítulo 10 de seu livro,

revelando que Jesus num determinado momento de seu

ministério resolveu contar com a ajuda de mais 70 homens que

foram organizados em 35 duplas e enviados à missão de

anunciar o Reino do Pai, ou seja, Jesus Cristo diante da leitura

de sua realidade já havia concluído que não dava para Ele

sozinho, então escolhera os doze.

Mais uma vez, Jesus pondera sobre sua missão, revê

suas escolhas e com essa atitude diz: “Não dá pra mim e nem

pros meus apóstolos. Aliás, meu Pai nunca quis que fosse

assim. A seara é muito grande”. Na verdade, era grande pra

Ele, mais os apóstolos e mais os setenta. Tanto que ele pediu:

“Rogai ao Senhor da seara que mande mais trabalhadores”.

Porque, já naquela época, Jesus encontrou com aqueles que

tiveram uma coragem insana de dizer “não” à sua missão, ao

seu convite, ao seu convívio. Vejam que o texto é muito claro

em nos revelar que, algo tinha acontecido e, somente depois

deste acontecido que Jesus designou sua comissão.

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Lucas 10.1a - “depois disso”. Disso o quê? Então eu

preciso voltar ao capítulo 9. 57 a 62. Ouçamos o

texto: “Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse:

"eu te seguirei por onde quer que vá". Jesus respondeu: "As

raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos,

mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça". A

outro disse: "Siga-me". Mas o homem respondeu: "Senhor,

deixa-me ir primeiro sepultar meu pai". Jesus lhe disse: "Deixe

que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém,

vá e proclame o Reino de Deus". Ainda outro disse: "Vou

seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir

da minha família". Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão

no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus".

Você já se perguntou o porquê dessas respostas de

Jesus, sobretudo, ao primeiro homem? "As raposas têm suas

tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o filho do

Homem não tem onde repousar a cabeça". Por que Jesus

responderia tão duramente para alguém que pareceu tão

altruísta e voluntarioso? Cuidado com essas pessoas:

bondosas demais, mansas demais, atenciosas demais,

sorridentes demais, preocupadas demais, interessadas demais,

presentes demais. Cuidado! Tudo o que Jesus precisava era

de obreiros e ele dá uma resposta dessas, como quem

estivesse precisando? Mateus nos ajuda a compreender essa

reação de Jesus.

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Mateus diz que, o tal homem de belas e sedutoras

palavras era um escriba. E quem eram os escribas? O escriba

era uma classe tradicional na história de Israel e muito

respeitada e admirada. Eram os doutores da lei, responsáveis

pelas cópias, interpretação e aplicação da lei. Lidavam com

alta hierarquia judaica e romana, eles também eram os

secretários dos reis. Estavam acostumados ao glamour, ao

luxo, ao conforto, à vida boa. Existiam os que não eram ricos,

mas lidavam e usufruíam da riqueza alheia. Não sabemos o

que este escriba, em particular, viu em Jesus, não sabemos

quais eram suas expectativas a respeito do Mestre, mas,

provavelmente não eram boas, tanto que interrompeu sua

jornada com Jesus. Como muitos em nossos dias! Quando

Jesus jogou a real, ele recuou.

Mateus nos diz que Jesus precisava dar saltos maiores

em seu ministério, o convite era para que atravessassem o

mar. Sair de Cafarnaum; ir à Gandara. Existem pessoas lá que

carecem de mim. Quem vem comigo? Esse escriba era

entusiasmado, mas entusiasmo não basta para seguir a Jesus.

Para seguir a Jesus, como ele espera ser seguido, é preciso

estar cônscio do alto preço que se deve pagar.

Preço esse que é cobrado por meio de cada renuncia que

se faz no decorrer da jornada, uma a uma. Pois, se não

estamos dispostos a renuncia, jamais estaremos preparados

para as batalhas que nos esperam ou que o encardido nos

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prepara. Pois, no mundo espiritual a renuncia ao conforto e aos

prazeres terrenos é a menor das guerras que enfrentamos.

O segundo cidadão, na minha concepção, criou uma

pseudo-responsabilidade com o fim de justificar sua

negativa. "Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai".

Acredito que se ele estivesse realmente preocupado ou

sofrendo com a morte de seu pai Ele estaria na sua casa ao

lado do esquife chorando e lamentando o fato de ter ficado

órfão. Radmacher sugere uma possibilidade interessante ao

dizer que ele estava mais preocupado com a sociedade do que

com ele mesmo ou com a morte em si. Afinal de contas, o que

vão pensar de mim se eu atravessar esse mar abandonando

minha família enlutada.

No fundo, esse homem não entendeu a urgência do

chamado. Mas, ainda há um terceiro elemento, e sua resposta

foi a seguinte: "Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro

voltar e me despedir da minha família". O que é isso se não

uma hesitação diante das coisas e, principalmente, das

pessoas que necessariamente ficariam para traz? Na Quinta

feira passada, o Julio e eu fomos levar o Pr. Cláudio e sua

família à Rodoviária. Eles ficaram hospedados na casa da mãe

da Jane – dona Vitória. Quando estávamos já dentro do carro,

depois de toda despedida, dona Vitória se aproximou da porta

e pediu: “-Fica mais um pouco, minha filha, não vai hoje não.”

Não teve jeito, a filha partiu.

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Todo esse diálogo de Cristo com estes três homens

aconteceu porque, no fundo, Jesus queria que eles fossem

contados entre os setenta, mas isso não foi possível. E porque

eles disseram “não”, Jesus designou outros setenta. A vida

seguiu, a missão continuou e eles não fizeram parte. Notem

que eles estavam ali. Ouviram o mestre, cantavam com o

Mestre, se alimentavam da comida que Ele provia,

testemunharam de seus milagres... No entanto, quando Jesus

apertou um pouco mais o cinto, eles pularam fora.

Como muitos em nossas igrejas, estes homens foram

eternizados na história da igreja e talvez estejam, em nossas

histórias, mais vivos do que em qualquer outro momento.

Homens e mulheres que não refletem sobre a decisão que

tomaram no passado de ser um discípulo de Jesus e, por isso,

vivem uma vida ainda que dentro da igreja, improdutiva e

distante de Deus. Homens e mulheres que uma vez

envelopados por suas próprias necessidades são incapazes de

perceberam a urgência do chamado de Cristo que antes de nós

mesmos nos convida a enxergar o outro. Homens e mulheres

que dominados pelo apego humano hesitam diante das

aparentes perdas. Quem somos nós? Estes três nos

representam ou somos contados dentre os outros setenta?

Em Cristo,

Pr. Julio Cesar.

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