SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA E A SEGURANÇA … · agressão militar, a espionagem, as operações...

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Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) CECÍLIA GUIMARÃES LOPES DE OLIVEIRA SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA E A SEGURANÇA NACIONAL: a CIA e os atentados terroristas de 11/09/2001. Belo Horizonte 2010

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Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)

CECÍLIA GUIMARÃES LOPES DE OLIVEIRA

SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA E A SEGURANÇA NACIONAL: a CIA e os atentados terroristas de 11/09/2001.

Belo Horizonte

2010

CECÍLIA GUIMARÃES LOPES DE OLIVEIRA

SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA E A SERGURANÇA NACIONAL:

a CIA e os atentados terroristas de 11/09/2001.

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Rafael Oliveira de Ávila1

Belo Horizonte

2010

1 Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Dedico este trabalho aos meus pais, por acreditarem em mim e na

minha capacidade, e por sempre estarem ao meu lado sonhando

comigo, mesmo quando esses sonhos pareciam impossíveis. À minha

família e aos meus amigos, pela fonte inesgotável de amor, carinho,

apoio e compreensão. Dedico também a todos que de alguma forma

contribuiram para a realização deste projeto.

Agradeço a Deus, por seu infinito amor, sua graça, e por ter me

capacitado na realização deste trabalho. Agradeço também ao meu

orientador, Rafael, pela confiança em mim depositada e por me

orientar, no sentido literal da palavra. Aos meus demais professores ao

longo desses 4 anos de curso, por tudo que fizeram e representaram

nessa etapa da minha vida.

“And ye shall know the truth, and the truth shall make you free.”

(John 8:32). Citação Bíblica gravada no hall de entrada da sede da

CIA em Washington.

RESUMO:

Em 1947 a Central Intelligence Agency foi criada para servir como uma fonte de

informação para os presidentes norte-americanos sobre o que acontece no mundo. O objetivo

por trás disso era o de auxiliar o governo na manutenção da segurança da nação e da sua

população, além de evitar o acontecimento de ataques surpresas, como os ataques a Pearl

Harbor, em 7 de dezembro de 1941. Porém, com o passar dos anos, a CIA não conseguiu

exercer plenamente sua função. Os erros cometidos pela agência, através dos anos, custaram

dinheiro e a vida de muitos agentes. A maior prova do fracasso no cumprimento de sua

função, foi o sucesso dos ataques terroristas no dia 11 de setembro de 2001. Nesses ataques,

cerca de três mil americanos morreram, e outras centenas ficaram feridos. Diante disso, o

objetivo deste trabalho é analisar os erros da CIA que levaram a este acontecimento. Para

alcançar este objetivo, será trabalhado ao longo desse artigo, o que significa segurança

nacional, o que é um serviço de inteligência e seu papel na segurança nacional de um Estado,

além de ser feito um breve histórico sobre a Central Intelligence Agency e sobre os

acontecimentos do dia 11 /09/2001.

PALAVRAS-CHAVE: 11 de setembro. Ataques terrorista. Serviço de Inteligência.

Terrorismo.

ABSTRACT:

In 1947, the Central Intelligence Agency was created to serve as a source of

information for the presidents of the United States on whatever happens in the world. The

objective was to assist the government in maintaining the security of the nation and its people,

and to avoid the occurrence of suprise attacks, like the ones on Pearl Harbor on December 7,

1941. But over the years, the CIA failed to fulfill its function. The mistakes made by the

agency over the years cost money and the lives of many agents. The biggest proof of the

failure of the complement of its function, was the success of the terrorist attacks on September

11, 2001. In these attacks, over three thousand Americans died and hundreds were injured.

Therefore, the aim of this study is to analyze the errors of the CIA that led to this event. To

achieve this goal, will be worked over this article, what means national security, what is an

intelligence service and its role in the national security, and a brief history of the Central

Intelligence Agency and of the events of 09/11/2001.

KEYWORDS: September 11. Terrorist attacks. Intelligence Service. Terrorism.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Sequência de fotos mostrando o momento que a Torre sul foi atingida ................ 31

Figura 2 - Momento em que a Torre sul desaba ..................................................................... 32

Figura 3 - Sequência de fotos que mostra o momento que a Torre norte desabou ................. 32

Figura 4 - Pentágono após ser atingido pelo avião ................................................................. 33

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

1. SERVIÇO DE INELIGÊNCIA E A SEGURANÇA NACIONAL ...................................... 2

1.1 Definição de Segurança Nacional ........................................................................................2

1.1.1 Definição da Política de Segurança Nacional dos Estados Unidos ................................. 3

1.2 O que é um Serviço de Inteligência? .................................................................................. 5

1.2.1 Como age e quais são as ferramentas usadas por um serviço de inteligência .................. 8

1.3 O papel de um serviço de inteligência na segurança nacional de seu Estado.................... 17

2. CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY ........................................................................... 19

2.1 Breve Histórico ................................................................................................................. 19

2.2 O papel da CIA diante da Segurança Nacional dos EUA ................................................. 23

3. OS ATAQUES TERRORISTAS DE 11/09/2001 E A CIA ............................................... 30

3.1 Os acontecimentos do dia 11/09/2001 .............................................................................. 30

3.2 A CIA e os atentados de 11/09/2001: as falhas da agência .............................................. 36

4 . CONCLUSÃO ................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 44

ANEXOS ................................................................................................................................ 47

INTRODUÇÃO

Os Serviços de Inteligência foram criados para auxiliar na manutenção da

segurança do Estados. Foi com esse intuito que a Central Intelligence Agency foi criada. O

governo norte-americano sabia que uma nação que deseja proteger seu território, seus

cidadãos e seu poder para além de suas fronteiras, precisava enxergar além do horizonte,

precisava saber o que pode estar se aproximando, e impedir ataques a seu povo. Sabendo

disso, esse trabalho se propôs a pesquisar se, na ocasião dos atentados terroristas em

11/09/2001, ocorreram falhas da CIA, e, se essa falhas realmente existiram, quais foram

estas?

Para se chegar a uma conclusão bastante precisa, foram utilizadas obras de autores

como Marco Cepic, Abram Shulsky, Jeffrey Richelson, etc. Após a pesquisa ser feita, chegou-

se a conclusçao de que realemente a CIA falhou na ocasião dos atentados terroristas de

11/09/2001. Essas falhas são expostas e explicadas neste trabalho.

Devido a conclusão deste trabalho, é desejo da autora prosseguir pesquisando

nesta área a necessidade de descentralização no trabalho de coleta e análise de informações

dos serviços de inteligência, e a necessidade de uma reconstrução da CIA.

1. Serviço de Inteligência e a Segurança Nacional

1.1 Definição de segurança nacional.

Segurança é, basicamente, a proteção através da neutralização de ameaças contra a

existência, contra a vida de alguém, ou contra alguma coisa, como pode ser confirmado em

Cepik (2003). Buzan, Waever e Wilde (1998, apud Ávila e Rangel, 2009:17) afirmam que

“segurança é sobrevivência”. Para Buzan (1998), segurança é o movimento que leva a política

para além das regras do jogo estabelecidas e enquadra o assunto tanto como um tipo especial

de política, como um conjunto de ações que se executam acima dela. Ele completa dizendo

que “um tópico se torna de segurança não necessariamente por causa da existência de uma

ameaça real, mas porque ele é apresentado como uma ameaça” (p. 24).

Já Oliveiros Ferreira (2004) diz que “a segurança foi inicialmente vista como a

defesa do território continental contra qualquer ataque de adversários presumidos ou, então,

contra manobras de facções que pudessem colocar em risco as instituições da nova

República”2. Logo, podemos afirmar que segurança nacional seria a neutralização das

ameaças contra a sobrevivência do Estado? De acordo com Cepik (2003) segurança nacional é

uma condição relativa de proteção coletiva e individual dos membros de uma sociedade contra ameaças à sua sobrevivência e autonomia. Nesse sentido, o termo refere-se a uma dimensão vital da existência individual e coletiva no contexto moderno de sociedade complexas, delimitadas por Estados nacionais de base territorial. No limite, estar seguro nesse contexto significa viver num Estado que é razoavelmente capaz de neutralizar ameaças vitais através da negociação, da obtenção de informações sobre capacidades e intenções, através do uso de medidas extraordinárias e do leque de opções relativas ao emprego de meios de força (Cepik, 2003:139).

Já Shulsky e Schimitt (2002) dizem que segurança nacional é a proteção do

Estado contra ameaças, principalmente militares, vindas de outros Estados. Cepik (2003) vai

além desta definição e diz que, além das ameaças externas à segurança nacional, existem

também ameaças internas, ou seja, que emanam de dentro do próprio Estado, e as

transnacionais, como o crime organizado e o terrorismo. Sobre esses três tipos de ameaça à

segurança nacional, Cepik (2003) afirma que

2 Fonte: http://www.oliveiros.com.br/cgi-bin/index.cgi?c=artigo&id_artigo=87, acessado dia 10/06/2010, às 16:30 horas.

a grande maioria dos ordenamentos constitucionais conteporâneos reconhece a agressão militar, a espionagem, as operações encobertas, a invasão territorial e o bloqueio econômico como ameaças externas vitais, capazes de engendrar respostas dissuasórias proporcionais por parte dos Estados ameaçados. Ameaças internas seriam, caracteristicamente, os apoios internos àquelas ameaças externas, acrescidas da problemática noção de “subversão” (uso sistemático da violência para forçar mudanças sociais, políticas e legais). Nas últimas décadas, foi acrescentada uma nova categoria de ameaças transnacionais ou transestatais à segurança nacional, tais como o crime organizado, o narcotráfico e o terrorismo (Cepik, 2003:139)

De acordo com o próprio Cepik (2003), a razão para que o Estado tenha a

primazia como objeto de segurança, está ligada ao fato que sua existência, e logo sua

sobrevivência, é fundamental para a manifestação de valores individuais e coletivos. É por

isso, afirma Cepik (2003), que sua sobrevivência, sua integridade territorial, sua

independência, além da manutenção dos valores de sua população, são preocupações

fundamentais do Estado. “Daí que o direito internacional público identifique a segurança

nacional como a segurança estatal” (Cepik, 2003:142).

Para fins deste artigo, segurança nacional será entendida como a capacidade do

Estado de garantir a sobrevivência e a autonomia de seus cidadãos de ataques externos e/ou

internos. Ou seja, será entendida como a possibilidade de um indivíduo viver em um Estado

que seja capaz de neutralizar as ameaças contra sua vida.

1.1.1 Definição da Política de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

O primeiro e fundamental comprometimento do Governo Federal americano com

o país é a segurança da nação contra qualquer ameaça possível. O National Strategy Forum

define a polítca de segurança nacional dos EUA da seguinte forma:

American national security policy is derived from the “inalienable rights” described in the Declaration of Independence: life, liberty and the pursuit of happiness. In national security terms, these are personal security, civil liberties, and economic prosperity3.

3 Fonte: http://nationalstrategy.com/Portals/0/documents/Winter%202009%20NSFR/Executive%20Summary.pdf, acessado dia 24/04/2010, às 12:00 horas.

Já a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos é definida, pelo

National Strategy Forum, como

a comprehensive description and discussion of the foreign policy worldwide commitments and national defense capabilities of the United States; the proposed short-term and long-term uses of the elements of national power required to protect and promote the interests and achieve the stated goals and objectives; and to provide an assessment of the capabilities of the United States to implement its national security strategy4.

Para se alcançar esses objetivos, o National Security Act of 1947, cuja função era

“prover um programa abrangente para a futura segurança dos Estados Unidos”5, criou o

National Security Council. Sua função é:

Advise the President with respect to the integration of domestic, foreign, and military policies relating to the national security so as to enable the military services and the other departments and agencies of the Government to cooperate more effectively in matters involving the national security6.

Além de aconselhar, fazer recomendações e entregar relatórios ao presidente, é

dever do National Security Council coordenar as políticas e funções dos departamentos e das

agências do Governo relacionadas à área de segurança nacional.

O National Security Act of 1947 também definiu que, para os EUA, “inteligência

nacional” ou “inteligência relacionada com a segurança nacional”, está relacionada a toda

inteligência, independentemente da fonte, ou se foram recolhidas dentro ou fora dos EUA,

que contenha:

o Threats to the United States, its people, property, or interests; o The development, proliferation, or use of weapons of mass destruction; or o Any other matter bearing on United States national or homeland security

7.

Podemos concluir então que, nos Estados Unidos, a política de segurança nacional

é formulada a partir da derivação dos direitos inalienáveis de todo cidadão (direito a vida, a

liberdade e a busca de felicidade)8. Diante disso, a inteligência serve para coletar informações

4 Fonte: http://nationalstrategy.com/Portals/0/documents/Winter%202009%20NSFR/Executive%20Summary.pdf, acessado dia 24/04/2010, às 12:00 horas. 5 Fonte: http://intelligence.senate.gov/nsaact1947.pdf, acessado dia 24/04/2010, às 11:00 horas. Tradução Livre. 6 Idem. 7 Idem. 8 Fonte: http://nationalstrategy.com/Portals/0/documents/Winter%202009%20NSFR/Executive%20Summary.pdf, acessado dia 24/04/2010, às 12:00 horas.

que contenham qualquer tipo de ameaça contra a segurança do país ou dos cidadãos norte-

americanos.

1.2 O que é um Serviço de Inteligência?

Nas mentes daqueles que gostam de um filme de agentes secretos, como James

Bond, a palavra inteligência é sinônimo de carros importados e equipados com tudo que se

possa imaginar, equipamentos surreais e uma licença para matar (Shulsky e Schimitt, 2002).

Porém, o conceito da palavra inteligência vai muito além do que é passado nos cinemas.

Segundo Shulsky (1992, apud Cepik, 2003:28),

intelligence is concerned with that component of the struggle among nations that deals with information. Intelligence seeks to learn all it can about the world. But intelligence can never forget that the attainment of the truth involves a struggle with human enemy who is fighting back and that truth is not the goal but rather only a means toward victory (Shulsky, 1992:197).

Inteligência, então, lida com informações, de maneira a saber e entender os

acontecimentos no mundo. Richelson (1999) diz que

intelligence can be defined as the “product resulting from collection, processing, integration, analysis, evaluation and interpretation of avaiable information concerning foreign countries or areas.” Collection can be defined as the purposeful acquisition of any information that might be desired by an analyst, consumer, or operator (p. 2).

Outra definição para inteligência é dada por Marco Cepik (2003). De acordo com

Cepik

para a ciência da informação, inteligência é uma camada específica de agregação e tratamento analítico em uma pirâmide informacional, formada, na base, por dados brutos e, no vértice, por conhecimentos reflexivos. (...) Nessa acepção ampla, inteligência é o mesmo que conhecimento ou informação analisada (p. 27 e 28).

Ele completa dizendo que

uma definição mais restrita diz que inteligência é a coleta de informações sem o consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento por parte dos alvos da ação. Nessa acepção restrita, inteligência é o mesmo que segredo ou informação secreta (p. 28).

Tendo em vista o objetivo deste artigo, inteligência será entendida como o

resultado da coleta e da análise de informações com o intuito de entender o que acontece para

além das fronteiras do Estado, auxiliando, assim, no processo de tomada de decisão nos

assuntos que concernem a segurança nacional.

Shulsky e Schimitt (2002) vão além dessas conceituações. Eles dizem que a

palavra inteligência pode se referir à informações, atividades e organizações:

Intelligence refers to information relevant to a government’s formulation and implementation of policy to further its national security interests and to deal with threats from actual or potential adversaries (p. 1).

As an activity, intelligence involves the collection and analysis of intelligence information. It also includes activities undertaken to counter the intelligence of adversaries, either by denying them access to information or by deceiving them about facts or their significance. Intelligence thus comprises a wide range of activities. For example, there are various methods of collecting information, such as espionage, aerial photography, interception of communications, and research using publicly available documents, radio and television broadcasts, and the Internet. (p. 2)9.

Finally, the term “intelligence” also refers to an organization that carries out these activities. One of the most notable characteristics of such organizations is the secrecy with which their activities must be conducted. Many of their methods of operation, such as the use of undercover agents or strict rules concerning access to information, derive from this requirement. Since intelligence agencies are organized to enhance their capacity for secrecy, they also may be given, along with their information functions, the responsibility if undertaking secret activities to advance their governments’ foreign policy objectives more directly (p. 2).

Então, de acordo com Shulsky e Schimitt (2002), a inteligência é vista como

informação quando for relevante ao governo para formulação e implementalção de políticas

referentes à segurança nacional. Porém, para fins deste trabalho, as definições de Shulsky e

Schimitt (2002) sobre inteligência como atividade e como um tipo de organização são mais

importantes.

Segundo eles, quando se tratar da coleta e da análise das informações, a

inteligência é vista como uma atividade. Os autores também dizem que inteligência também

se refere a tipo de organização. As organizações que fazem parte dessa categorização de

Shulsky e Schimitt (2002) são aquelas que conduzem a coleta e a análise das informações, e

9 Não é intenção deste trabalho explicar mais detalhadamente os métodos de coleta de informação citados por Shulsky e Schimitt. Para uma compreensão maior dos mesmos, ver Shulsky e Schimitt (2002) “Silent Warfare: understanding the world of intelligence”.

são chamadas de Serviços de Inteligência. Nas palavras de Cepik (2003), serviços (ou

agências) de inteligência, seriam

agências governamentais responsáveis pela coleta, pela análise e pela disseminação de informações consideradas relevantes para o processo de tomada de decisões e implementação de políticas públicas nas áreas de política externa, defesa nacional e provimento de ordem pública. Essas agências governamentais também são conhecidas como serviços secretos ou serviços de informação (p. 13).

Serviços de inteligência são órgãos do Poder Executivo que trabalham prioritariamente para os chefes de Estado e de governo e, dependendo de cada ordenamento constitucional, para outras autoridades na administração pública e mesmo no Parlamento. São organizações que desempenham atividades ofensivas e defensivas na área de informações, em contexto adversariais onde um ator tenta compelir o outro à sua vontade. Nesse sentido, pode-se dizer que essas organizações de inteligência formam, juntamente com as Forças Armadas e as polícias, o núcleo coercitivo do Estado contemporâneo (p. 85).

Talvez, os serviços de inteligência mais conhecidos sejam a Central Intelligence

Agency, ou CIA, dos Estados Unidos, e a Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti, ou KGB, da

extinta União Soviética. Porém, existem muitos outros, como, por exemplo, o Secret

Intelligence Service (popularmente conhecido como MI6), do Reino Unido, o Canadian

Security Intelligence Service, do Canadá, e o Foreign Intelligence Service, da Rússia.

Esses “serviços de inteligência estão voltados para a compreensão de relações

adversárias, e por isso a maioria de seus alvos e/ou problemas é principalmente internacional

e ‘difícil’” (Cepik, 2003:29). Para conseguir alcançar essa compreensão, “as atividades dos

serviços de inteligência são mais amplas do que a espionagem, e também são mais restritas do

que o provimento de informações em geral sobre quaisquer temas relevantes para a decisão

governamental” (Cepik, 2003:28).

É interessante ressaltar que os serviços de inteligência são mais conhecidos como

serviços secretos. Isso se deve ao grande número de filmes, livros e séries de televisão que

falam sobre esse assunto. Porém, apesar de muitas pessoas saberem da existência desse tipo

de organização, poucas realmente sabem o que verdadeiramente seja um serviço de

inteligência. De acordo com o própio Cepik (2003), apesar de pessoas conhecerem siglas

como CIA ou KGB, “o conhecimento médio sobre suas atividades e estruturas

organizacionais restringe-se a alguns fatos pitorescos ou imagens distorcidas pela mídia e pela

literatura ficcional” (Cepik, 2003:15).

Tendo isto em vista, será analisado na próxima seção deste artigo as ferramentas

que um serviço de inteligência utiliza e como este tipo de serviço age.

1.2.1 Como age e quais são as ferramentas usadas por um serviço de inteligência.

Como já foi visto, os serviços de inteligência devem fazer a coleta, a análise e a

disseminação de informações consideradas importantes para o processo de tomada de decisão

nos assuntos referentes à segurança nacional (Cepik, 2003). O processo de coleta das

informações pode ser feito através de “plataformas, sensores e sistemas tecnológicos de coleta

e processamento de informações, especialmente os satélites” (Cepik, 2003:35). Já a análise

seria, de acordo com Shulsky e Schimitt (2002), “the process of transforming the bits and

pieces of information that are collected in whatever fashion into something that is usable by

policy makers and military commanders” (Shulsky e Schimitt, 2002:41). Richelson (1999)

completa dizendo que o processo de análise

involves the integration of collected information – that is, raw intelligence from all sourcers – into finished intelligence. The finished intelligence product might be a simple statement of fact, an evaluation of the capabilities of another nation’s military forces, or a projection of the likely course of political event in another nation (p.3) .

Assim como Richelson (1999), Cepik (2003) afirma que é durante a análise que

a inteligência é de fato produzida. Os resultados dessa análise “vão desde sumários

diários/semanais sobre temas correntes até estudos mais aprofundados sobre tendências e

problemas delimitados a partir de critérios espacias ou funcionais” (Cepik, 2003:55). Após a

coleta e a análise, é preciso passar os resultados aos respnsáveis pelo processo de tomada de

decisão (Cepik, 2003). É importante ressaltar que a coleta e a análise das informações devem

sempre ser feitas, segundo Richelson (1999), com o propósito de responder as exigências e

necessidades dos tomadores de decisão, ou seja, para serem coletadas e analisadas, as

informações necessitam de demandas específicas.

O processo de coleta de informações, segundo Cepik (2003), acaba por definir

disciplinas bastante generalizadas em inteligência. Estas são designadas pelos acrônomos

derivados do uso norte-americano (Cepik, 2003:35)10:

Humint (human intelligence) para as informações obtidas a partir de fontes humanas, sigint (signals intelligence) para as informações obtidas a partir da interceptação e decodificação de comunicações e sinais eletromagnéticos, imint (imagery intelligence) para as informações obtidas a partir da produção e da interpretação de imagens fotográficas e multiespectrais, masint (measurementand signature intelligence) para as informações obtidas a partir da mensuração de outros tipos de emanações (sísmicas, térmicas, etc.) e da identificação de ‘assinaturas’, ou seja, sinais característicos e individualizados de veículos, plataformas e sistemas de armas. Além dessas disciplinas, que envolvem tanto fontes clandestinas quanto ostensivas, quando a obtenção de informações ocorre exclusivamente a partir de fontes públicas, impressas ou eletrônicas, essa atividade de coleta é então chamada osint (open source intelligence). (p. 36)

• Humint

Como o própio termo diz, humint é quando o próprio homem é a fonte de

informação. Sobre esse tipo de fonte, Cepik (2003) diz que

A fonte de informações mais antiga e barata consiste nas próprias pessoas que têm acesso aos temas sobre os quais é necessário conhecer. O acrônomo em inglês que designa essa disciplina (humint) é um eufemismo tipicamente norte-americano, incorporado ao jargão internacional porque evita o uso do termo espionagem, muito mais pesado do ponto de vista legal e político. O acrônomo também é utilizado para indicar que a inteligência obtida a partir de fontes humanas está longe de resumir-se aos arquétipos da espionagem (p. 36).

É preciso diferenciar basicamente dois tipos de atores nessa área: os oficiais de inteligência, ou seja, aqueles funcionarios de carreira que trabalham para um serviço de inteligência e são responsáveis pelas operações de coleta de informações, e suas fontes, algumas das quais são agentes. Uma confusão bastante comum acontece porque tende-se a chamar que ambos os atores relevantes de espiões. Embora a espionagem seja considerada crime grave em qualquer ordenamento jurídico contemporâneo, as penalidades para um oficial de inteligência estrangeiro dirigindo operações em território nacional são muito diferentes do que a pena por traição, aplicada a um cidadão ou residente permanente que esteja passando informações classificadas (secretas) para uma potência estrangeira (p. 36).

Esse tipo de fonte é de extrema importancia para esse trabalho devido a sua

grande utilização por parte da CIA. Prova disto é o fato do diretor da agência ser chamado,

desde 2003, de National Humint Maneger11.

10 Apesar de falar um pouco de todos os acrônomos citados por Cepik, não será feito um aprofundamento no estudo dos mesmos. Para uma discussão mais detalhada, ver Cepik (2003) “Espionagem e Democracia”, especialmente páginas 36 à 52.

Sobre esse tipo de fonte, Cepik (2003) ainda diz que

É preciso diferenciar duas categorias básicas de oficiais de inteligência no exterior: aqueles que operam com “cobertura especial” e os demais (p. 38).

Cobertura especial refere-se à integração dos oficias de inteligência ao corpo diplomático da embaixada ou consulado, disfarçados de adido cultural, conselheiro político, técnico, assistente de adido militar, representante de Ministério da Agricultura, secretário ou qualquer outro cargo governamental que dê ao oficial uma desculpa para estar naquele país e também garanta imunidade diplomática em caso de detecção de suas verdadeiras atividades, pois a lei internacional obriga que esses oficiais sejam declarados personae non gratum e expulsos do país (p.38).

Durante a Guerra Fria a CIA utilizou desta ferramenta para conseguir informações

sobre os soviéticos. Um exemplo é Tom Polgar, um refugiado húngaro, que era uma linha

direta da CIA com a sede da inteligência soviética em Karlshorst, Berlim Oriental (Weiner,

2008). Ele conseguia informações sobre as ações soviéticas na Alemanha e as repassava para

a sede da CIA em Washington. De acordo com Weiner (2008), ele entregou informações

cruciais que chegaram à Casa Branca. Weiner (2008) diz também que, para conseguir essas

informações, Polgar contava com a colaboração do amante de sua irmã, que era um teletipista

da seção soviética de comunicação na sede da polícia de Berlim.

• Sigint

Sigint é o termo usado para a atividade de coleta de inteligência através de

interceptação de sinais de comunicação entre pessoas ou máquinas. De acordo com Cepik

(2003),

sigint originou-se de interceptação, decodificação, tradução e análise de mensagens por uma terceira parte além do emissor e do destinatário pretendido. Com o uso cada vez mais intenso de comunicações escritas para fins militares ou diplomáticos no mundo moderno, desenvolveram-se igualmente as disciplinas da criptografia (uso de códigos e cifras para garantir a inviolabilidade do conteúdo das mensagens) e de criptologia (decifração e/ou decodificação de mensagens interceptadas) (p. 40).

Já o Comitê de Inteligência do Congresso norte-americano, define o Sigint como

sendo

a “bridge” between imagery’s ability to observe activity and HUMINT’s ability to gauge intentions. With its current global reach and multiple sources of collection,

11 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/press-releases-statements/press-release-archive-2005/fs10132005.html, acessado dia 17/06/2010, às 13:50 horas.

SIGINT provides a hedge against strategic deception and can be extremely useful for the tipping of other collection assets12.

Na atualidade, essa disciplina é dividida em duas categorias: a communications

intelligence (COMINT) visa a análise da fonte e do conteúdo do tráfego de mensagens; e a

eletronic intelligence (ELINT), que é dedicada à análise de transimissões eletrônicas que não

sejam de comunicação13.

Países, como os Estados Unidos, utilizam “satélites de vigilância eletrônica e

interceptação de comunicações” (Cepik, 2003:42). Dois dos principais satélites americanos

são:

• Os satélites para intercepção de sinais eletrônicos não-comunicacionais, lançados em órbitas circulares de baixa altitude, que são conhecidos como ferrets.

• Os satélites de interceptação de comunicações, que utilizam órbitas geossíncronas e ângulos de inclinação do plano orbital em relação ao equador próximos de zero grau14. (Cepik, 2003:42).

Durante a Segunda Guerra o Sigint foi muito utilizado pelos EUA.

During World War II the US made extensive use of electronic intercept devices in both the Pacific and European Theatres of Operation. Special USAF and Navy planes equipped with ELINT receivers ferreted out the secrets of German and Japanese antiaircraft radar and aircraft warning devices. From the use of such planes the word "ferret" was coined, a term presently applied to aircraft equipped to investigate enemy electronic radiations. Among the most deadly weapons directed against the Eighth Air Force were the German antiaircraft guns which were equipped with extremely accurate radar directors known as "Wurzbergs." The close formations of American aircraft made a juicy target for the more than 16,000 German antiaircraft guns. By use of radar intercept equipment (ELINT equipment) information was obtained which permitted the use of jamming devices, and thus the one-billion dollar investment of the Germans in their Wurzberg radars was literally ruined by the countermeasures made possible through ELINT. Knowing we had this capability, the Germans began a frantic search for non-jammable radar equipment, but the war was over before they succeeded.15

12 Fonte: http://www.gpo.gov/congress/house/intel/ic21/ic21005.html, acessado dia 29/09/2010, às 14:50 horas. 13 Fonte: http://www.fas.org/spp/military/program/sigint/overview.htm, acessado dia 23/04/2010, às 18:28 horas. Tradução livre. 14 As órbitas geossíncronas são atingidas a uma altidude de 35.875km. Como o período orbitual aumenta dependendo da altitude, ao atingir aquela altitude o período orbital do satélite será de 1.436 minutos, próximo ou igual ao da Terra. Isso significa basicamente que um satélite em órbita geossíncrona parece estar estacionário sobre um ponto fixo acima do planeta, tornando-o ideal para a interpretação de sinais comunicacionais (Cepik, 2003:43). 15Fonte:https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/kent-csi/vol2no1/html/v02i1a06p_0001.htm, acessado dia 29/09/2010, às 14:36 horas.

De acordo com o site da CIA, nesta área, a agência se interessa, principalmente,

em fazer novas descobertas científicas e não ser surpreendida pela evolução eletrônica do

inimigo.16

• Imint

Essa disciplina é a mais recente na área de coleta de informações. Aqui são

utilizadas imagens de camêras em satélites ou radares. Estes podem fotografar objetos no

chão a milhares de quilômetros de distância. Além disso, as imagens produzidas são de alta

qualidade17. A respeito dessa disciplina, Marco Cepik (2003) reitera que mesmo que imagens

visuais fossem usadas como fonte de informação mesmo antes da criação da fotografia, o

desenvolvimento dessa disciplina deu-se quando do uso associado de camêras fotográficas e

satélites. Sobre a importância desses dois para a disciplina, Cepik (2003) afirma que o

desenvolvimento desses foram fundamentais para a atual importância que a disciplina imint

tem para o processo de coleta de inteligência na atualidade.

Os satélites de imagens podem sobrevoar o território de um país sem que isso seja considerado pela lei internacional uma violação do espaço aéreo nacional (p. 46).

Vale esclarecer que a importância crescente da coleta de imagens para a produção de inteligência é determinada também pelo aperfeiçoamento tecnológico das câmaras, lentes, sensores e sistemas utilizados numa variedade de plataformas, especialmente os satélites. Aperfeiçoamentos ópticos nas lentes e câmaras fotográficas aumentaram enormemente a precisão e a amplitude das fotografias analógicas e digitais, que hoje abarcam centenas de quilômetros quadrados de área e têm resolução definida na escala de contímetro (p. 47).

De acordo com o Comitê de Inteligência do Congresso norte-americano, imint

será um grande amparo para a Comunidade de Inteligência (CI) no século 21. Isso porque, de

acordo com o próprio Comitê, o número e tipos de imagens utilizadas vai continuar a crescer

muito nos próximos anos, inclusive em áreas ainda não imaginadas. Além disso, ainda de

acordo com este Comitê, a Imint Community (IMC) é hoje composta por diversos usuários,

incluindo militares e civis18.

16 Fonte: https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/kent-csi/vol2no1/html/v02i1a06p_0001.htm, acessado dia 29/09/2010, às 14:36 horas. 17 Fonte: http://www.fas.org/spp/military/program/sigint/overview.htm, acessado dia 23/04/2010, às 18:28 horas. Tradução livre. 18 Fonte: http://www.gpo.gov/congress/house/intel/ic21/ic21006.html, acessado dia 17/06/2010, às 14:30 horas.

Um exemplo do uso de Imint pela CIA é a Crise dos Mísseis de 196219:

Ao amanhecer do dia 14 de outubro, um U-220 pilotado pelo major da força aérea Richard D. Heyser, do Comando Aéreo Estratégico, sobrevoou o oeste de Cuba, tirando 928 fotografias em seis minutos. Vinte e quatro horas depois, os analistas da CIA contemplavam imagens das maiores armas comunistas que já tinham visto. Durante todo o dia 15 de outubro, eles comparam as fotografias tiradas pelo U-2 com outras de mísseis soviéticos num desfile nas ruas de Moscou, que acontecia a cada Dia do Trabalho. Além disso, checaram manuais de especificações técnicas fornecidas ao longo do ano anterior por Oleg Penkovsky, um coronel do serviço de inteligência militar soviético (...).

As fotos do U-2 foram levadas ao escritório do procurador-geral às 9h15 de 16 de outubro (Weiner, 2008: 227 – 228).

Foi na sala do procurador-geral, que o então presidente John F. Kennedy viu as

fotos tiradas pelo U-2 e ficou sabendo da situação em Cuba21.

• Masint

Área de coleta de inteligência denominada Measurement and Signature

Intelligence. De acordo com Cepik (2003), fazem parte dessa área,

desde a coleta e o processamento técnico de imagens hiperespectrais e multiespectrais até a interceptação de sinais de telemetria de mísseis estrangeiros sendo testados, passando pelo monitoramento de fenômenos geofísicos (acústicos, sísmicos e magnéticos), pela medição dos níveis de radiação nuclear na superfície terrestre e no espaço, pelo registro e análise de radiações não-intencionais emitidas por equipamentos eletrônicos e radares e, para ficar por aqui, pela coleta e análise físico-química de materiais (efluentes, partículas, resíduos, partes de equipamentos estrangeiros etc.) (p. 49).

MASINT can provide specific weapon system identifications, chemical compositions and material content and a potential adversary's ability to employ these weapons22.

19 The Cuban Missile Crisis was the first and only nuclear confrontation between the United States and the Soviet Union. The event appeared to frighten both sides and it marked a change in the development of the Cold War (Fonte: http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/COLDcubanmissile.htm, acessado dia 29/09/2010, às 13:56 horas). The Cuban Missile Crisis began on Oct. 16, 1962 -- the first of the "Thirteen Days of October." On that day, President John F. Kennedy was informed that a U-2 mission flown over western Cuba two days before had taken photographs of Soviet nuclear missile sites (Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/2007-featured-story-archive/a-look-back-remembering-the-cuban-missile-crisis.html, acessado dia 29/09/2010, às 13:30 horas). 20 The US Air Force U-2 high-altitude reconnaissance aircraft first flew in 1955 and was developed by Lockheed Martin at the famous Skunk Works site. The aircraft provides continuous surveillance day and night and in all weathers. The aircraft can gather surveillance and signals intelligence data in real time and can be deployed anywhere in the world. The U-2, which is known as the Dragon Lady, can loiter at 70,000ft (21,336m) over the area of operations for several hours and is often described as a glider due to its flight characteristics (Fonte: http://www.airforce-technology.com/projects/u2/, acessado dia 29/09/2010, às 14:25 horas). 21 Não é intenção deste trabalho explicar o que aconteceu após a análise das fotos. Para uma compreensão completa da Crise dos Mísseis de 1962, conferir https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/2007-featured-story-archive/a-look-back-remembering-the-cuban-missile-crisis.html.

Measurement and Signature Intelligence (MASINT) is technically derived intelligence (excluding traditional imagery and signal intelligence) which when collected, processed, and analyzed, results in intelligence that detects, tracks, identifies, or describes the signatures (distinctive characteristics) of fixed or dynamic target sources. MASINT includes the advanced processing and exploitation of data derived from IMINT and SIGINT collection sources. MASINT sensors include, but are not limited to, radar, optical, infrared, acoustic, nuclear, radiation detection, spetroradiometric, and seismic systems as well as gas, liquid, and solid material sampling systems23.

Dentro das funções da área de masint, está a coleta de assinaturas, ou seja,

características singulares de um objeto, um fenômeno ou um equipamento, como por exemplo

sistemas de armas, veículos de combate, aeronaves, etc, o que pode ser confirmado em Cepik

(2003).

No caso norte-americano, as informações coletadas pela área de masint devem ser

repassadas para a CIA e outros departamentos e agências apropriados do governos dos EUA,

pois são eles os responsáveis pelas análises. As informações coletadas devem ser em em favor

da segurança nacional, ou de acordo com o direcionamento do Diretor Central de

Inteligência24.

No ano de 2003, especialistas na área de masint ajudaram a NASA no caso da

perda da Space Shuttle Columbia.

The National Aeronautics and Space Administration (NASA) requested assistance in the investigation of the catastrophic loss on 1 February 2003 of Space Shuttle Columbia. NGA analysts conducted detailed analysis of launch camera imagery of the debris strike that occurred soon after launch. NASA also requested assistance in analyzing some 140 videotapes (including amateur tapes) of the Columbia's break-up over Texas. NASA was looking for expertise that would help differentiate burning debris from burning propellant and plasma (ionized gas). Analysts at the National Air and Space Intelligence Center (NASIC) provided their expertise in Measurement and Signature Intelligence (MASINT) and crash investigations in a joint exploitation effort with the National Motion Imagery Operations Center25.

• Osint

Open Sources Intelligence consiste na coleta e seleção de informações e fontes

disponíveis publicamente, ou seja, informações que toda a população tem acesso. Osint é

definida, tanto pelo Diretor Central de Inteligência, como pelo Departamento de Defesa dos

22 Fonte: http://www.gpo.gov/congress/house/intel/ic21/ic21007.html, acessado dia 29/09/2010, às 14:55 horas. 23 Idem 24 Fonte: http://www.fas.org/irp/doddir/dod/dodmas.htm, acessado dia 17/06/2010, às 14:45 horas. 25 Fonte: https://www.cia.gov/library/reports/archived-reports-1/ann_rpt_1998/overview.html, acessado dia 20/09/2010, às 15:13 horas.

EUA, como sendo “produced from publicly avaiable information that is collected, exploited,

and disseminated in a timely manner to an appropriate audience for the purpose of

addressing a specific intelligence requirement”, de acordo com a lei National Defense

Authorization Act for Fiscal Year 200626.

Information does not have to be secret to be valuable. Whether in the blogs we browse, the broadcasts we watch, or the specialized journals we read, there is an endless supply of information that contributes to our understanding of the world. The Intelligence Community generally refers to this information as Open Source Intelligence (OSINT). OSINT plays an essential role in giving the national security community as a whole insight and context at a relatively low cost.27

De acordo com Cepik (2003), os analistas tem a função de coletar informações

das fontes públicas (como jornais, revistas, televisão, etc), analisa-las e produzir relatórios

para serem repassados para os tomadores de decisões. Esse tipo de coleta, esclarece questões

diárias para todo tipo de analista, e também, para os tomadores de decisões28. Tanto a coleta, a

produção e a divulgação de inteligêcia produzida apartir de fontes osint, é de responsabilidade

da CIA29.

OSC (Open Source Center ) and its worldwide network of partners have the skills, tools, and access necessary to produce high-quality open source intelligence. These capabilities include translations in over 80 languages; source, trends, and media analyses; specialized video and geospatial services; and rare cultural and subject matter expertise.30

O diretor do OSC, Douglas Naquin diz que a importância do osint está no fato

que, com essa ferramenta, o acesso a informações sobre diversos grupos ao redor do mundo é

mais fácil. Ele diz que osint pode ser usado, “por exemplo, para sabermos como vários grupos

estrangeiros reagiram a um discurso do presidente”, e completa dizendo que “nós não temos

que nos contentarmos com os pareceres ‘oficiais’, mas podemos nós mesmos, avaliar as

percepções de diferentes grupos, bem como acompanhar as tendências ao longo do tempo”.31

26 Fonte: http://frwebgate.access.gpo.gov/cgi-bin/getdoc.cgi?dbname=109_cong_public_laws&docid=f:publ163.109, acessado dia 23/04/2010, às 19:39 horas. 27 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/2010-featured-story-archive/open-source-intelligence.html, acessado dia 29/09/2010, às 15:22 horas. 28 Fonte: https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/csi-studies/studies/vol48no3/article05.html, acessado dia 17/06/2010, às 14:50 horas. 29 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/2010-featured-story-archive/open-source-intelligence.html, acessado dia 29/09/2010, às 15:22 horas. 30 Idem. 31 Idem.

Após a coleta e a análise das informações é que o serviço de inteligência pode

agir. De acordo com Richelson (1999), “strictly speaking, intelligence activities involve only

the collection and analysis of information and its tranformation into intelligence; however,

conterintelligence (CI) and covert action are intertwined with intelligence activit”y (p. 3). Ele

define counterintelligence (contra-inteligência em português), como todas as informações

adquiridas e as atividades que têm como objetivo avaliar a inteligência estrangeira e os

serviços de segurança, além de neutralizar serviços inimigos. Para isso,

these activities involve clandestine and open source colletion as well as analysis of information concerning the structure and operations of foreign services. Counterintelligence may also involve the direct penetration and disruption of hostile intelligence activities (Richelson 1999:3).

Já covert action, Richelson (1999) define da seguinte forma:

Covert action, as known as “special activities”, includes any operation designed to influence foreign governments, persons, or events in support of the sponsoring government’s foreign policy objectives, while keeping the sponsoring government’s support of the operation secret. There are several distinct types od covert action: black propaganda (propaganda that purports to emanate from a source other than the true one); gray propaganda (in which true sponsorship is not ackowledged); paramilitary or political actions designed to overthrow, undermine, or support a regime; paramilitary or political actions designed to couteract a regime’s attempts to procure or develop advanced weaponry; support (aid, arms, training) of individuals or organizations (government components, political parties, labor unions, and publishing concerns); economic operations; desinformation; and assassination (p. 3).

O National Security Act de 1947 também define covert action. Segundo este,

covert actions seriam ações do governo americano para influenciar condições políticas,

econômicas ou militares no exterior, desde que essas ações não sejam reconhecidas

publicamente.

The National Security Act of 1947, as amended, defines “covert action” as “activities of the United States Government to influence political, economic, or military conditions abroad, where it is intended that the role of the United States Government will not be apparent or acknowledged publicly.” Covert action does not include activities whose primary purpose is to acquire intelligence; traditional diplomatic or military activities; traditional law enforcement activities; or routine support to these activities or the activities of other government agencies abroad (p. 331)32.

32 Fonte: http://intelligence.senate.gov/107351.pdf, acessadi di 22/04/2010, às 15:00 horas.

A definição de covert action é muito importante pois apesar de não ser sua

principal função, a CIA utilizou diversas vezes a mesma. Isso será mostrado na próxima seção

deste artigo.

Visto as ferramentas utlizadas pelos serviços de inteligência e como estes operam,

será discutido na próxima seção qual é o papel de um serviço de inteligência diante da

segurança nacional.

1.3 O papel de um serviço de inteligência na segurança nacional de seu Estado.

Discutido o que é um serviço de inteligência e as ferramentas que este utiliza,

podemos chegar a algumas conclusões sobre seu papel na segurança nacional de um Estado.

A existência desse tipo de serviço está ligada, segundo Cepik (2003), à vontade de

maximização de poder por parte dos governantes. Ele diz ainda, que existem oito razões para

a existência desse tipo de serviço.

De acordo com Cepik (2003), em primeiro lugar, está a contribuição para o

processo da tomada de decisão em áreas importantes (como política externa, defesa nacional e

ordem pública). Em segundo lugar, a interação entre tomadores de decisão e oficiais de

inteligência produzindo efeitos cumulativos a ponto de aumentar o conhecimento dos

tomadores de decisões. Em terceiro lugar, o apoio a inteligência diretamente na aquisição de

sistemas de armas, bem como o planejamento de capacidades defensivas. Em quarto lugar, o

apoio as negociações diplomáticas na área de política externa, com o provimento de

informações táticas. Em quinto lugar, o auxilio ao planejamento militar e à elaboração de

planos de guerras. Em sexto lugar, a capacidade de alertar civis e militares contra ataques

surpresas, crises políticas e problemas diplomáticos. Em sétimo lugar, sistemas de inteligência

monitorarando alvos externos a fim de diminuir a incerteza e aumentar a confiança e o

conhecimento. Por último, sistemas de inteligência protegendo contra adversários, fontes,

fluxos, métodos e técnicas de inteligência, além do segredo sobre as necessidades

informacionais.

De acordo com esses oito pontos, podemos concluir que o papel de um serviço de

inteligência é auxiliar os tomadores de decisão, assim como outras organizações envolvidas,

na defesa da segurança nacional. Sobre a importância desse papel dos serviços de inteligência,

Richelson (1999) diz que

the decisionmankers need for intelligence in order to make sound decisions is summed up in the report of the Rockefeller Commission33:

Intelligence is information gathered for policymakers which illuminates the range of choices avaiable to them and enables them to exercise judgment. Good intelligence will not necessarily lead to wise policy choices. But without sound intelligence, national policy decisions and actions cannot effectively respond to actual conditions and reflet the best national interests or adequately protect... national security (p.8).

Cepik (2003) conclui esse pensamento, afirmando que

embora possa ser decisiva em certos momentos especiais na guerra e na paz, em geral os governos contam com a inteligência para reduzir a incerteza nas decisões sobre política externa, defesa nacional e ordem pública, para aumentar a segurança nacional e para posicionarem-se melhor no sistema internacional (Cepik, 2003:67).

Nesta primeira seção, vimos que, para fins deste artigo, segurança nacional será

entendida como a capacidade do Estado de proteger a sobrevivência e a autonomia de seus

cidadãos contra os ataques externos e/ou internos, e que inteligência será entendida como o

resultado da coleta e da análise de informações com o intuito de entender o que acontece para

além das fronteiras do Estado. Essa coleta, a análise e a própria disseminação das informações

são de responsabilidade dos serviços de inteligência, que assim, auxiliam os tomadores de

decisão. Para isso, estes serviços utilizam diversas ferramentas, como o humint, o sigint, o

imint, o masint, e o osint. Foi visto também, que a política de segurança nacional dos EUA é

formulada a partir da derivação dos direitos inalienáveis de todo cidadão. Todas essas

definições vistas são importantes para se entender a Central Intelligence Agency e seu papel

dentro dos Estados Unidos, assuntos que serão discutidos na próxima seção.

33 Prior to the so-called Church Committee, the President's Commission on CIA Activities Within the United States was formed by President Gerald Ford. Headed by Vice-President Nelson Rockefeller, this body came to be known as the Rockefeller Commission. Fonte: http://www.history-matters.com/archive/contents/church/contents_church_reports_rockcomm.htm, acessado dia 12/08/2010 às 12:32 horas.

2. Central Intelligence Agency

2.1 Breve Histórico.

“The United States has carried out intelligence activities since the days of George

Washington, but only since World War II have they been coordinated on a government-wide

basis34.” Como já foi dito, as atividades de inteligência são feitas por intituições

governamentais conhecidas como serviços de inteligência. No caso norte-americano, foi após

a Segunda Guerra Mundial que esse tipo de serviço foi ligado ao governo. O ex-presidente

Dwight D. Eisenhower descreveu o tipo de ação realizada por esses serviços como “uma

necessidade detestável, mas vital.” (Weiner, 2008). De acordo com Weiner (2008), as ações

secretas dos serviços de inteligência tem como objetivo entender ou até mudar o que acontece

no exterior dos Estados. A Central Intelligence Agency, ou CIA, nasceu para este objetivo:

informar ao presidente norte-americano o que acontece no mundo, para que se pudesse evitar

ataques supresas, evitar um segundo Pearl Harbor35 (Weiner, 2008).

In the wake of the attack on Pearl Harbor on December 7, 1941, the nation was in a state of shock and horror. The day after the attack, the United States officially declared war on Japan, with Nazi Germany declaring war on the United States three days later. President Franklin D. Roosevelt realized that to win the war, the country needed an organization to gather important intelligence from around the world. The president’s advisors knew just the man to lead such an outfit — Gen. William J. Donovan, also known as “Wild Bill” Donovan

36.

Então, em 1941, o presidente Franklin D. Roosevelt criou a primeira agência de

inteligência dos EUA, o Office of the Cordinator of Information, que em 1942 passaria a se

chamar Office of Strategic Service (OSS), tendo Donovan a frente de ambas as agências

(Richelson, 1995). A partir desse momento, Donovan passou a ser conhecido como o “Pai da

Inteligência Americana”37.

34 Fonte: https://www.cia.gov/about-cia/history-of-the-cia/index.html, acessado dia 24/04/2010, às 16:00 horas. 35 Pearl Harbor é uma base norte-americana que foi atacada pela Marinha Imperial Japonesa no dia 7 de dezembro de 1941. O ataque danificou e/ou destruiu 11 navios, 188 aviões e matou 2403 militares estado-unidenses e 68 civis. Entre os navios destruídos, estava o USS Arizona, que ardeu em chamas durante dois dias antes de afundar completamente. (Fonte: http://www.pearlharbor.org/, acessado dia 18/06/2010, às 14:00 horas.) 36 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/gen.-william-j.-donovan-heads-oss.html, acessado dia 10/06/2010, às 11:10 horas. 37 Idem.

Durante o período da II Guerra, o OSS proveu os tomadores de decisão com fatos

e estimativas de inteligência que, muitas vezes, ajudavam diretamente à campanhas

militares38. Weiner (2008) diz que “Donovan disse ao presidente que poderia descobrir a

‘capacidade, as intenções e as atividades de nações estrangeiras’ realizando ‘operações

subversivas no exterior’ contra inimigos dos EUA”.

The OSS consisted of men and women from many areas and backgrounds — lawyers, historians, bankers, baseball players, actors, and businessmen. Their assignment was to conduct espionage, sabotage, and morale operations against the Axis powers, and conduct in-depth research and analysis on the nation’s enemies and their capabilities

39.

O papel que o OSS desempenhava era de importância crucial. De acordo com

Richelson (1999), suas funções incluiam espionagem tradicional, coleta e análise de

informações, contra-inteligência e covert action.

OSS functions included traditional espionage, covert action (ranging from propaganda to sabotage), counterintelligence, and intelligence analysis. The OSS represented a revolution in United States intelligence, not only because of the varied functions performed by a single, national agency, but because of the breadth of its intelligence interests and its use of scholars to produce finished intelligence (p. 16).

Já Shulsky e Schimitt (2002), afirmam que o OSS,

whose purposes included the collection, analysis, and correlation of national security and data (...), set up a research and analysis branch that was to analyze “all the relevant information, that was overtly avaible as well as that secretly obtained” (p. 161).

Durante o período da II Guerra, o OSS teve um grande crescimento. No seu

início, em 1941, quando ainda se chamava Office of the Cordinator of Information, a agência

tinha um orçamento de $10 milhões de dólares e 600 funcionários40.

At its peak in late 1944, OSS employed almost 13,000 men and women. In relative terms, it was a little smaller than a US Army infantry division or a war agency like the Office of Price Administration, which governed prices for many commodities and products in the civilian economy. General Donovan employed thousands of officers and enlisted men seconded from the armed services, and he also found military slots for many of the people who came to OSS as civilians. US Army (and Army Air Forces) personnel comprised about two-thirds of its strength, with civilians from all walks of life making up another quarter; the remainder were from the Navy, Marines, or Coast Guard. About 7,500 OSS employees served overseas,

38 Fonte: http://www.fas.org/irp/cia/ciahist.htm, acessado dia 03/06/2010, às 15:10 horas. 39 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/gen.-william-j.-donovan-heads-oss.html, acessado dia 10/06/2010, às 11:10 horas. 40 Fonte: https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/books-and-monographs/oss/art03.htm, acessado dia 10/06/2010, às 15:50 horas.

and about 4,500 were women (with 900 of them serving in overseas postings). In Fiscal Year 1945, the office spent $43 million, bringing its total spending over its four-year life to around $135 million (almost $1.1 billion in today’s dollars)41.42

Porém, como Weiner (2008) diz, a “imaginação ilimitada” de Donovan e a

inexperiência de seus agentes, causaram muitos problemas para o OSS.

A OSS havia desenvolvido um grupo americano único de analistas de inteligência, mas Donavan e seu funcionário de maior destaque, Allen W. Dulles, eram fascinados por espionagem e sabotagem, habilidades em que os americanos eram amadores. Donavan dependia da inteligência britânica para treinar seus homens nas artes escusas. Os homens mais corajosos da OSS, aqueles que inspiraram lendas, eram os que saltavam sobre as linhas inimigas, brandindo armas, explodindo pontes, conspirando contra os nazistas juntamente com os movimentos de resistência da França e dos Balcãs. No último ano da guerra, com forças espalhadas pela Europa, África do Norte e Ásia, Donovan quis despejar seus agentes diretamente na Alemanha. Ele o fez, e eles morreram. Das 21 equipes de dois homens que entraram no país, só se ouviu falar novamente de uma. Era esse tipo de missão que o general Donavan sonhava diariamente – às vezes missões ousadas, às vezes equivocadas (p. 22-23).

Em 1945, “o presidente Roosevelt ordenou ao seu principal assessor militar na

Casa Branca, o coronel Richard Park Jr., que fizesse uma investigação secreta sobre as

operações secretas do OSS durante a guerra” (Weiner, 2008:23). Em seu relatório final,

o coronel Park reconheceu que os homens de Donavan haviam realizado algumas bem-sucedidas missões de sabotagem e resgate de pilotos americanos derrubados. Disse que o setor de pesquisas e análises do OSS fizera “um trabalho excepicional” e concluiu que os analistas poderiam encontrar lugar no Departamento de Estado depois da guerra. Mas o resto do OSS teria que acabar. “O compromentimento quase inútil do pessoal do OSS”, advertiu, “torna inconcebível seu uso como agência de inteligência secreta no mundo pós-guerra” (p. 25-26).

O relatório de Park mostrou os erros e falhas que o OSS havia cometido durante a

guerra, não relatando nenhum exemplo de ajuda da agência para a vitória na guerra (Weiner,

2008). Ele atacava o general Donovan pessoalmente. Park relatou que “a contratação e a

promoção de altos oficiais por Donovan se baseavam não em mérito, mas numa rede de

conexões com antigos companheiros da Wall Street e do Registro Social43” (Weiner,

2008:25). De acordo com Weiner (2008), Donovan ainda tentou salvar seu serviço de

inteligência, mas era tarde demais.

41 Fonte: https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/books-and-monographs/oss/art03.htm, acessado dia 10/06/2010, às 15:50 horas. 42 Em anexo encontra-se um diagrama com a estrutura burocrática do OSS em 1944. 43 Lista de nomes importantes da sociedade americana.

Após a morte do presidente Roosevelt44, seu sucessor, Harry Truman, viu a

necessidade de um novo tipo de serviço, uma organização centralizada de inteligência45.

Em 20 de setembro de 1945, seis semanas depois de lançar bombas atômicas americanas sobre o Japão, o presidente dos Estados Unidos demitiu Donovan e ordenou que o OSS fosse dissolvido em dez dias. O serviço de espionagem americano foi abolido (Weiner, 2008: 26).

In October 1945, the OSS was abolished and its functions transferred to the State and War Departments. But the need for a postwar centralized intelligence system was clearly recognized46.

A vontade do novo presidente americano, de acordo com Weiner (2008), era de

criar um novo serviço para que ele pudesse ter acesso à informação necessária para poder

utilizar de seu poder.

Quando a nova Agência Central de Inteligência surgiu de suas cinzas (OSS), Truman desejava que lhe servisse somente como um serviço de notícias internacionais, produzindo boletins diários. “Não havia a intenção de ser uma ‘Unidade de Espionagem!’”, escreveu ele. “O objetivo era ser simplesmente um centro para manter o presidente informado sobre o que acontecia no mundo.” Ele insistiu que nunca quis que a CIA “agisse como uma organização de espiões. Esta nunca foi a intenção que ela foi organizada” (p. 21).

Porém não foi isso que aconteceu. Com o fim do OSS em 1945, a necessidade de

organizar uma nova agência de inteligência fez com que uma disputa política fosse travada

em Washington. De acordo com Weiner (2008), o Estado-Maior Conjunto desejava um

serviço que permanecesse debaixo de sua autoridade. A marinha e o exército exigiam um

serviço de inteligência próprio. Já o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, queria que sua agência

fosse a responsável pelo trabalho de espionagem internacional.

In response to this policy debate, President Harry S. Truman established the Central Intelligence Group in January 1946, directing it to coordinate existing departmental intelligence, supplementing but not supplanting their services. This was all to be done under the direction of a National Intelligence Authority composed of a Presidential representative and the Secretaries of State, War and Navy47.

Segundo Weiner (2008), em junho de 1947 uma comissão do Congresso

Americano realizou audiências secretas que levaram a criação formal da CIA algumas

semanas depois. Sua oficialização ocorreu em 26 de julho do mesmo ano, com a assinatura do

National Security Act, que concedeu a CIA uma funcionabilidade como uma serviço de

43 O presidente Franklin Roosevelt morreu no dia 12 de abril de 1945 após sofrer uma hemorragia cerebral. 45 Fonte: https://www.cia.gov/about-cia/history-of-the-cia/index.html, acessado dia 24/04/2010, às 16:00 horas. 46 Fonte: http://www.fas.org/irp/cia/ciahist.htm, acessado dia 03/06/2010, às 15:10 horas. 47 Idem.

inteligência completa: “The National Security Act charged the CIA with coordinating the

nation’s intelligence activities and correlating, evaluating and disseminating intelligence

affecting national security48”.

Under the provisions of the National Security Act of 1947 (which became effective on 18 September 1947) the National Security Council and the Central Intelligence Agency were established. Most of the National Security Act's specific assignments given the CIA - as well as the prohibitions on police and internal security functions, closely follow both the original 1944 Donovan plan and the Presidential directive creating the Central Intelligence Group49.50

Em 1949, no Congresso norte-americano, foi aprovada a Lei da CIA. De acordo

com Weiner (2008), esta lei deu à agência amplos poderes:

a lei deu à agência a capacidade de fazer tudo que ela queria, contando que o Congresso fornecesse dinheiro num pacote anual. (...) Agora a CIA tinha rédeas livres: fundos não-declarados – dinheiro que não podia ser rastreado, enterrado sob itens falsos do orçamento do Pentágono – significavam licença ilimitada (p. 60 e 61).

In 1949, the Central Intelligence Agency Act was passed supplementing the 1947 Act by permitting the Agency to use confidential fiscal and administrative procedures and exempting CIA from many of the usual limitations on the expenditure of federal funds. It provided that CIA funds could be included in the budgets of other departments and then transferred to the Agency without regard to the restrictions placed on the initial appropriation. This Act is the statutory authority for the secrecy of the Agency's budget. In order to protect intelligence sources and methods from disclosure, the 1949 Act further exempted the CIA from having to disclose its "organization, functions, names Officials, titles, salaries, or numbers of personnel employed."51

A CIA agora tinha amplos poderes de atuação, e os EUA tinham, pelo menos

teóricamente, um serviço de inteligência, um serviço capaz de informar aos tomadores de

decisão aquilo que estava acontecendo no exterior. Tendo isto em vista, será analisado na

próxima seção qual era o papel esperado que a CIA desempenhasse diante da segurança

nacional norte-americana.

2.2 O papel da CIA diante da Segurança Nacional dos EUA.

48 Fonte: https://www.cia.gov/about-cia/history-of-the-cia/index.html, acessado dia 24/04/2010, às 16:00 horas. 49 Fonte: http://www.fas.org/irp/cia/ciahist.htm, acessado dia 03/06/2010, às 15:10 horas. 50 Em anexo encontra-se diagrama com a estrutura burocrática da CIA. 51 Fonte: http://www.fas.org/irp/cia/ciahist.htm, acessado dia 03/06/2010, às 15:10 horas.

Como foi dito na primeira seção deste artigo, o primeiro e fundamental papel do

Governo dos Estados Unidos com o país e sua população, é a segurança da nação contra

qualquer ameaça possível. Para isso,

the United States government includes a substantial number of officials – individuals who make policy as well ones who implement it – who require foreign intelligence to perform their duties. Only if those individuals are sufficiently informed about the state of the world and the likely consequences of policies and actions can they be expected to make intelligent decisions. The individuals and institutions with the most prominent need for foreign intelligence are those concerned with making and implementing national security policy (Richelson 1999: 1).

Diante disso, a CIA foi criada para auxiliar o Governo Federal norte-americano a

alcançar esse objetivo.

At the beginning of the Cold War, looking back to the lessons of Pearl Harbor, Congress and President Harry S. Truman approved the creation of a peacetime intelligence service. This new organization, deliberately fashioned to be independent of all the Cabinet departments and military services, was to provide senior U.S. policymakers with comprehensive judgments on political and military issues and to coordinate clandestine activities overseas.

Washington thus created an agency dedicated to collecting and analyzing the secrets of actual or potential adversaries. Intelligence had become an essential permanent component of America’s national security structure52.

De acordo com Richelson (1995), a CIA tinha, desde sua criação, uma função

específica: avaliar e fazer uma conexão entre as informações recebidas de outras agências.

Além disso, a CIA poderia, também, exercer outras funções relacionadas com a área de

inteligência, de acordo com o direcionamento do National Security Council.

According to the National Security Act of 1947 the CIA’s principal function was to be the correlation and evaluation of intelligence colected by others departments (i.e., the military). However, other provisions of the act authorized it to peform services of “comom concern” as well as “other functions and duties related to intelligence affecting the national security as the National Security Council may from time to time direct.” The later provision (...), also permitted the new agency to engage in foreign espionage. The legislation also explicitly prohibited the CIA from exercising any domestic police powers (Richelson, 1995: 216).

Segundo Richelson (1999), o National Security Act of 1947 além de estabelecer a

agência como sendo independente, delegou a CIA cinco funções:

The act established the Central Intelligence Agency as an independent agency. According to the act, the CIA was to have five functions:

52 Fonte: https://www.cia.gov/news-information/featured-story-archive/2008-featured-story-archive/creating-the-cia.html, acessado dia 10/06/2010, às 14:50 horas.

1) to advice the National Security Council in matters concerning such intelligence activities of the government departments and agencies as relate to national security;

2) to make recommendations to the National Security Council for the coordination of such intelligence activities of the departments and agencies of the government as relate to national security;

3) to correlate and evaluate the intelligence relating to national security, and to provide for the appropriate dissemination of such intelligence within the Government, using, where appropriate, existing agencies and facilities;

4) to perform for the benefit of exiting intelligence agencies such additional services of common concern as the National Security Council determines can be more effectively accomplished centrally;

5) to perform other such functions and duties related to intelligence affecting the national security as the National Security Council may from time to time direct (Richelson 1999:17).

Então, podemos ver que o National Security Act instruía a CIA a correlacionar,

avaliar e disseminar inteligência no que diz respeito à segurança nacional norte-americana,

além de realizar outras funções e tarefas relacionadas à inteligência que digam respeito à

segurança nacional (Weiner 2008). O National Security Act também determinava que a

agência desse conselhos ao NSC em assuntos referentes à segurança nacional. Weiner (2008)

diz ainda que “a missão declarada da CIA era fornecer ao presidente informações secretas

essenciais para a segurança nacional dos Estados Unidos” (P. 51).

The 1947 Act charged the CIA with coordinating the nation's intelligence activities and correlating, evaluating and disseminating intelligence which affects national security. In addition, the Agency was to perform such other duties and functions related to intelligence as the NSC

53 might direct

54.

Já Shulsky (2002) complementa dizendo que o National Security Act colocou a

CIA debaixo da autoridade do NSC e do presidente ao invés do Departamento de Estado ou

Defesa, e que, fazendo isso, garantiu que a agência “permaneceria próxima aos tomadores de

decisões política de alto nível e iria acompanhar e coordenar o trabalho de outros,

departamentos, agências de inteligência em seu favor” . Diante desse arranjo, podemos

perceber que a CIA foi criada para desenvolver um importante papel diante da segurança

nacional norte-americana.

53 O National Security Council, Conselho de Segurança Nacional na sigla em inglês. De acordo com Weiner (2008), em 1947, esse Conselho era formado pelo presidente Truman, o secretário de Defesa, o secretário de Estado e os chefes militares. 54 Fonte: http://www.fas.org/irp/cia/ciahist.htm, acessado dia 03/06/2010, às 15:10 horas.

Apesar disso, a CIA acabava fazendo, fundamentalmente, covert actions, ações

que não estavam em suas funções primárias. Dois exemplos disso, foram o golpe no Irã, em

1953, e o assassinato do presidente da Guatemala, em 196155.

Em 1953, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill queria que a CIA

ajudasse a Grã-Bretanha a derrubar o primeiro-ministro iraniano, Mohammad Mossadeq

(Weiner, 2008), mas como o governo norte-americano apoiava Mossadeq a CIA agiu por

conta própria.

Como disse Frank Wisner56 quando a conspiração estava no auge, em alguns momentos “a CIA faz política por conta própria”. A política externa oficial dos EUA era apoiar Mossadeq. Mas a CIA estava se preparando para depô-lo sem permissão da Casa Branca (Weiner, 2008:105).

Porém, como Weiner (2008) relata, a CIA não agiu por meio de sigilo, discrição e

esperteza. Mas sim por meio de suborno, coerção e força bruta.

Roosevelt57 começou uma campanha de suborno e subversão. Os oficiais da agência e seus agentes iranianos compraram a lealdade de políticos influentes, autoridades religiosas e gângsteres. Contrataram os serviços de gangues de rua que dissolviam comícios do Tudeh58 usando os próprios punhos e de mulás que criticavam Mossadeq em mesquitas. A CIA não tinha décadas de experiência no Irã como os britânicos, e nem de perto a quantidade de agentes iranianos recrutados. Mas tinha mais dinheiro para desembolsar: pelo menos US$ 1 milhão por ano, uma fortuna grande num dos países mais pobres do mundo (Weiner, 2008:106).

Além disso, os agentes contratados pela CIA também fizeram distúrbios, atacaram

o escritório do telégrafo, o ministério de Propaganda e as sedes da polícia e do exército

(Weiner. 2008). Nesse mesmo dia, a CIA dirigiu a Guarda Imperial do xá à casa de

Mossadeq. O primeiro-ministro escapou, mas acabou se rendendo no dia seguinte (Weiner,

2008).

Weiner (2008) completa dizendo que “a CIA se saiu muito bem criando uma

situação em que, nas circunstâncias e atmosfera apropriadas, uma mudança pôde ser

realizada” (p. 113).

55 Não é intenção deste trabalho explicar mais detalhadamente esses dois casos. Para uma compreensão maior dos mesmos, conferir Weiner (2008) “Legado de Cinzas: uma história da CIA”. 56 Diretor das operações secretas da CIA entre 1948 e 1958. 57 Agente da CIA que atuava no Irã com operações políticas, de propaganda e paramilitares para combater uma tentativa de invasão do Irã pelos soviéticos. 58 Pequeno e ilegal partido comunista iraniano.

Ray Cline, um dos mais destacados analistas da CIA, disse que “aquilo não

provava que a CIA poderia derrubar governos e colocar governantes no poder; foi um caso

único em que se forneceu a quantidade exata de assistência marginal, da maneira certa e na

hora certa” (Weiner, 2008:114).

Já em 1961, a CIA obteve o aval do então presidente norte-americano, John F.

Kennedy, para agir na República Dominicana. As relações diplomáticas com este país haviam

sido cortadas em 196059, entretanto o cônsul-geral Henry Dearborn foi colocado como o

encarregado da embaixada americana em Santo Domingo. O então diretor da CIA Richard

Bissell pediu a Dearborn que atuasse como chefe em exercício do posto da CIA na República

Dominicana e o cônsul-geral aceitou (Weiner, 2008).

Em janeiro de 1961, Dearborn foi notificado que carregamentos de armas

pequenas estava a caminho de Santo Domingo e seriam entregue a um grupo de conspiradores

dominicanos que pretendia assassinar o presidente Rafael Trujillo (Weiner, 2008). As armas

mais pesadas que haviam sido mandadas, como metralhadoras, ficavam, de acordo com

Weiner (2008), guardadas no consulado americano em Santo Domingo, pois os EUA não

queriam que o mundo ficasse sabendo que o país estava enviando armas para um assassinato.

Dias depois, Dearborn recebeu um telegrama aprovado pessoalmente pelo

presidente Kennedy que dizia

“Não nos importamos se os dominicanos assassinarem Trujillo, isto está certo. Mas não queremos nada que nos implique nisso”. E nada implicou. Quando os assassinos de Trujillo o mataram duas semanas depois, não se podia provar a participação da Agência. Não havia qualquer impressão digital. Mas este crime era o mais próximo que a CIA já tinha chegado de cometer um assassinato por ordem da Casa Branca (Weiner, 2008:200).

Então, quando analisamos as atuações da agência no decorrer dos anos, podemos

concluir que, apesar de alguns sucessos em certas ações envolvidas com a coleta e análise de

informações relacionadas com a seguranças nacional norte-americana, função primordial da

CIA, a Central Intelligence Agency não cumpriu, plenamente, seu propósito. Weiner (2008)

confirma isso dizendo que

59 Segundo Weiner (2008), o ditador Rafael Trujillo que tinha o apoio dos EUA, começou a ser pressionado por grupos de direitos civis, grupos políticos de vários países, devido as atrocidades que cometia. O governo norte-americano, então, retirou seu apoio a Trujillo, rompeu as relações diplomáticas com o país e decidiu que alguma coisa deveria ser feita em relação àquele homem.

os anais da Agência Central de Inteligência estão cheios de estupidez e infortúnios, juntamente com atos de coragem e astúcia. Estão repletos de sucessos passageiros e fracassos duradouros no exterior. Internamente, estão marcados por batalhas políticas e lutas pelo poder. Os acertos da agência pouparam algum sangue e dinheiro. Seus erros desperdiçaram as duas coisas. Provaram ser fatais para legiões de soldados americanos e agentes estrangeiros; para cerca de três mil americanos que morreram em Nova York, Washington e Pensilvânia em 11 de setembro de 2001; e para outros três mil que morreram desde então no Iraque e no Afeganistão. O único crime de consequências duradouras tem sido a incapacidade da CIA de cumprir sua missão central: informar ao presidente o que está acontecendo no mundo (Weiner, 2008:14).

Como o próprio Weiner (2008) diz, desde sua criação, a CIA obteve mais falhas

do que sucessos. Suas ações serviram mais para gastar milhares de dólares do que para

proteger os Estados Unidos. Por causa disso, milhares de pessoas morreram em ações

equivocadas da agência e nos atentados que ela não foi capaz de evitar.

Weiner (2008) complementa dizendo que os EUA fracassaram “na criação de um

serviço de espionagem de primeira linha”. De acordo com ele, “esse fracasso constitui um

perigo para a segurança nacional dos Estados Unidos”. Isso devido ao fato da CIA ser a

principal responsável por produzir inteligência para os tomadores de decisão. Então, se ela

não consegue produzir essa inteligência necessária, as medidas que precisariam ser tomadas

em prol da segurança nacional dos Estados Unidos não o serão.

No fim do século, a agência já não era um serviço de espionagem independente e em pleno funcionamento. Tornava-se um escritório de campo de segundo escalão para o Pentágono, determinando táticas para batalhas que nunca aconteceram, e não estratégias para iminentes conflitos. Não teve poder para impedir o segundo Pearl Habor (Weiner, 2008: 16).

Ainda de acordo com Weiner (2008), a CIA fez com que os Estados Unidos

fossem “privados da inteligência que necessitarão nos próximos anos” (P.17). Segundo ele, se

os EUA não encontrarem olhos para ver as coisas no mundo como elas são, o que foi um dia a

missão da CIA, o país pode não durar muito como uma potência.

Nesta segunda seção foi visto que, durante a Segunda Guerra Mundial, o OSS,

Office of the Cordinator of Information, foi responsável por prover os tomadores de decisão

norte-americanos com inteligência que, muitas vezes, ajudavam diretamente à campanhas

americanas. Porém, em 1945, o relatório do coronel Park ao presidente Roosevelt mostrou

erros e falhas que o OSS havia cometido durante a guerra. O OSS foi então dissolvido, mas

havia o reconhecimento da necessidade de se ter um serviço de inteligência para tempos de

paz, com o intiuto de se coletar e analisar os segredos dos adversários atuais ou em potêncial.

O então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, percebeu que a inteligência tinha se

tornado um componente essencial da estrutura de segurança nacional do país. Esse

reconhecimento levou a criação da Central Intelligence Agency em 1946.

Como também foi visto nesta seção, a CIA foi criada com a função de auxiliar na

manutenção da segurança nacional dos EUA e de ajudar na prevenção contra ataques

supresas. Para isso, ela deveria avaliar e fazer uma conexão entre as informações recebidas de

outras agências, além de passar as informações recebidas para aqueles responsáveis em fazer

e implementar políticas de segurança nacional. Além disso, a CIA também poderia exercer

outras funções relacionadas à área de inteligência que dissessem respeito à segurança

nacional, de acordo com o direcionamento do National Security Council. Seu objetivo, de

acordo com Weiner (2008), seria entender ou até mudar o que acontece no exterior.

Porém, como também foi visto nesta seção, a CIA falhou em cumprir suas

funções. Ao invés de trabalhar como um serviço de informações para o presidente, a agência

executou ações que não eram suas funções, como o envolvimento da agência com o golpe no

Irã, em 1953, e o assassinato do presidente da República Dominicana, Rafael Trujillo, em

1961. A agência também não foi capaz de perceber que os islãmicos que apoiava logo se

voltariam contra os Estados Unidos. E, quando finalmente teve essa percepção, falhou em agir

(Weiner, 2008).

Na próxima seção, será exposto, mais detalhadamente, como a agência de

inteligência norte-america falhou e, consequentemente, não conseguiu evitar o maior ataque

ao país em tempos de paz.

3. Os ataques terroristas de 11/09/2001 e a CIA

3.1 Os acontecimentos do dia 11/09/2001.

No dia 11/09/2001 três acontecimentos marcaram para sempre a história, não

apenas dos EUA, mas do mundo. Quatro aviões foram sequestrados por integrantes do grupo

chefiado por Osama bin Laden, Al-Qaeda. Desses quatro aviões, dois foram “atirados” contra

as torres norte60 e sul61 do Word Trade Center (WTC), em Nova York e um contra o

Pentágono62, em Arlington, Virginia, nos arredores de Washington. O quarto avião63, que

estaria indo em direção a cidade de Washington, caiu na Pensilvânia depois que os

passageiros e tripulantes tentaram retomar o controle do mesmo. Zarembka (2006) narra os

acontecimentos daquela manhã da seguinte forma:

The official/simple story goes something like this: Osama bin Laden assembled together an Arab group of hijackers willing to commit suicide (apparently, with few accomplices), who booked cross-country flights on four heavily fueled planes, somehow got past airport security with knives, overhelmed the crew of the planes in mid-flight, surprised air traffic controllers and air defenses, and then, with steeled and coordinated determination, skillfully guided three planes into World Trade Center (WTC) 1 and 2 (both soon to collapse64) and the Pentagon. Due to passanger heroism, the hijackers only failed on the last flight which went down in a Pennsylvania field. The nation as a whole was suprised, to say the least, as Condolezza Rice65 exploited in her initial statement. Doubts and concerns began to

60 Às 8:48 horas, o vôo 11 da American Airlines atingiu a torre norte do WTC. Era um Boeing 747, que iria, originalmente, de Boston para Los Angeles. O avião atingiu a torre entre o 95° e 103° andar. Neste vôo estavam 92 pessoas, incluindo a tripulação e os pilotos ( Willians, 2004: 1). Tradução livre. 61 Às 9:03 horas, cerca de 15 minutos após o primeiro avião atingir a torre norte, o vôo 175 da United Airlines atingiu a torre sul do WTC. Esse vôo tinha saído de Boston e tinha, como destino original, a cidade de Los Angeles. O avião atingiu a torre mais ou menos no 80° andar. Estavam no vôo 65 pessoas, incluindo tripulação e pilotos (Willians, 2004: 2). Tradução livre. 62 Às 9:40 horas, o vôo 77 da American Airlines atingiu o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O avião, um Boeing 747, iria de Washington para Los Angeles. Estavam na aeronave 64 pessoas, incluindo tripulação e pilotos (Willians, 2004: 3). Tradução livre. 63 O vôo 93 da United Airlines caiu às 10:03 horas na Pensilvânia. No avião, um Boeing 757, estavam 45 pessoas, incluindo tripulação e pilotos (Willians, 2004: 4). Tradução livre. 64 Ambas as torres do WTC desabaram. A torre sul desabou às 10:05 horas. Depois de um andar haver derretido, o colapso se tornou inevitável, já que cada novo andar que desabava aumentava a pressão exercida no andar de baixo. Pouco mais de uma hora após o segundo ataque, a torre sul, que tinha sido a segunda torre a ser atingida, ruiu no chão. Vinte e quatro minutos depois, às 10:29 horas, da queda da torre sul, a torre norte se juntou sua “irmã gêmea”. O piso foi "achatado" e esmagou as muitas pessoas que permaneceram no interior do prédio. Uma nuvem de pó agora revestia a cidade de Nova York (Willians, 2004: 5 e 6). Tradução livre. 65 Secretária de Estado no governo de George W. Bush, presidente dos EUA quando ocorreu os atentados.

be expressed about various elements of the story, but then the bi-partisan 9-11 Comission66 (2004) confirmed the story (p. 50).

Figura 1: Sequência de fotos mostrando o momento que a Torre sul foi atingida.

Fonte: http://www.september11news.com/WTCPhotoSequenceReuters.jpg, acessado dia 14/10/2010, às 14:107 horas.

66 The National Commission on Terrorist Attacks Upon the United States (also known as the 9-11 Commission), an independent, bipartisan commission created by congressional legislation and the signature of President George W. Bush in late 2002, is chartered to prepare a full and complete account of the circumstances surrounding the September 11, 2001 terrorist attacks, including preparedness for and the immediate response to the attacks. The Commission is also mandated to provide recommendations designed to guard against future attacks. (Fonte: http://www.9-11commission.gov/, acessado dia 13/10/2010, às 15:59 horas)

Figura 2: Momento em que a Torre sul desaba.

Fonte: http://c.photoshelter.com/img-get/I0000_s83mtG_knw/s, acessado dia 14/10/2010, às 14:10 horas.

Figura 3: Sequência de fotos que mostra o momento que a Torre norte desabou.

Fonte: http://www.september11news.com/WTCTowe2sequence.jpg, acessado dia 27/10/2010, às 14:33 horas.

Figura 4: Pentágono após ser atingido pelo avião.

Fonte: http://www.september11news.com/CNNPentagon6.jpg, acessado dia 27/10/2010, às 14:27 horas.

Os ataques as torres do World Trade Center ficaram mais conhecidos, seja por ter

sido um ataque de maiores proporções do que o ataque ao Pentágono, ou pelo número de

vítimas. O WTC ardeu em chamas por cem dias (Wright, 2007). Muitos corpos das pessoas

que morreram nos ataques nunca foram encontrados.

Às 9:30 horas daquela manhã, dez minutos antes do terceiro avião atingir o

Pentágono, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez seu primeiro

pronunciamento sobre os atentados. Neste pronunciamento o presidente Bush confirmou que

dois aviões aviam atingido o WTC no que parecia ser um ataque terrorista.

A grim-faced President Bush declared, “we had a national tragedy. Two airplanes have crashed into the World Trade Center in a apparent terrorist attack on our country. Ladies and gentlemen, this is a difficult time for America. Two airplanes have crashed into the World Trade Center in a apparent terrorist attacks on out our country, I am going to conduct a full scale investigation and hunt down and find those folks who committed this act. Terrorism against our nation will not stand” (Willians, 2004: 5).

O grau de alerta militar foi mudado, pelo próprio presidente, para o nível mais

alto67. Além disso, os aeroportos norte-americanos foram fechados. De acordo com o

presidente, todas as medidas necessárias haviam sido tomadas para que o povo norte-

amercano fosse protegido.

I’ve bee in regular contact with the Vice President, the Secretary of Defense, the national security team and my Cabinet. We have taken all appropriate security precautions to protect the American people. Our military at home and around the world is on high alert status, and we have taken the necessary security precautions to continue the functions of your government68.

Naquela noite, o presidente Bush se dirigiu mais uma vez à nação. Em seu

discurso, feito da Sala Oval da Casa Branca, Bush se solidarizou com as famílias das vítimas

e disse que, mesmo depois dos ataques, os Estados Unidos permaneceriam firmes. Ele

também disse que os serviços de inteligência da nação estavam trabalhando para encontrar os

responsável pelos ataques.

“These acts of mass murder were intended to frighten our nation into chaos and retreat. But they have failed. Our country is strong. A great people has been moved to defend a great nation. Terrorist attacks can shake the foundations of our biggest buildings, but they cannot touch the foundation of America. These acts shatter steel, but they cannot dent the steel of American resolve. (...)

Immediately following the first attack, I implemented our government’s emergency response plans. Our military is powerfull, and it’s prepared. Our emergency teams are working in New York City and Washington, D.C., to help with local rescue efforts. (...)

The search is underway for those who are behind these evil acts. I've directed the full resources for our intelligence and law enforcement communities to find those responsible and bring them to justice. We will make no distinction between the terrorists who committed these acts and those who harbor them. (...)

This is a day when all Americans from every walk of life unite in our resolve for justice and peace. America has stood down enemies before, and we will do so this time. None of us will ever forget this day, yet we go forward to defend freedom and all that is good and just in our world”69.

Ao redor do mundo, líderes políticos de várias nações condenaram os ataques aos

Estados Unidos e ofereceram ajuda aquele país. O então presidente russo, Vladimir Putin

disse que os ataques foram um “desafio estrondoso contra a humanidade”, enquanto o então

primeiro ministro alemão, Gerhard Schroeder declarou que os atentados foram “não somente

67 Fonte: http://www.september11news.com/PresidentBush.htm, acessado dia 25/10/2010, às 15:00 horas. 68 Idem. 69 Idem.

contra o povo dos Estados Unidos, nossos amigos americanos, mas também contra todo o

mudo civilizado, contra nossa liberdade, contra nossos valores, valores estes que

compartilhamos com nossos companheiros norte-americanos. Nós não deixaremos esses

valores serem destruídos”. O então primeiro ministro canadense Jean Chretien permitiu que

centenas de aviões americanos e de outros países, pousassem em aeroportos de seu país,

devido ao fato dos aeroportos americanos terem sido fechados70.

A ONU também se manifestou através do então Conselheiro Geral, Kofi Annan,

que disse “não haver dúvidas que os ataques foram atos deliberados de terrorismo,

cuidadosamente planejados e coordenados e como tais eu os condeno. O terrorismo deve ser

combatido onde quer que ele apareça”71.

Mesmo países que não mantinham boas relações com o governo dos Estados

unidos, repudiaram os ataques. O Ministro do Exterior cubano abriu seu espaço aéreo e seus

aeroportos para aviões norte-americanos. O então líder palestino, Yasser Arafat, o governo da

Coréia do Norte, o então presidente iraniano, Mohammad Khatami, entre outros, também

condenaram os ataques72.

Porém, a reação pública foi dividida. O líder do grupo islãmico Hamas, disse que

os ataques foram “sem dúvida o resultado da injustiça praticada pelos Estados Unidos contra

os fracos no mundo”. Da mesma forma, pessoas em diferentes países disseram acreditar que

os atentados foram uma consequência da hegemonia cultural norte-americana, da ingerência

política no Oriente Médio e ao intervencionismo nas relações mundiais73.

De acordo com o Relatório da Comissão de Inteligência do Senado e da Câmara

dos Estados Unidos para os ataques de 11/09/200174, os ataques de “11 de setembro de 2001,

70 Fonte: http://www.history.com/topics/international-reaction-to-9-11#a1, acessado dia 26/10/2010, às 9:30 horas. Tradução Livre. 71 Fonte: http://www.september11news.com/InternationalReaction.htm, acessado no dia 25/10/2010, às 16:00 horas. Tradução Livre. 72 Fonte: http://www.history.com/topics/international-reaction-to-9-11#a1, acessado dia 26/10/2010, às 9:30 horas. Tradução Livre. 73 Idem. 74 Fonte: http://intelligence.senate.gov/107351.pdf, acessado dia 22/04/2010, às 15:00 horas.

são inapagáveis de nossa memória coletiva75”. (p. 35). A CIA tinha agora em suas costas o

trauma de não ter impedido a tragédia que sabia ser imente.

3.2 A CIA e os atentados de 11/09/2001: as falhas da agência.

Como foi visto na segunda seção deste trabalho, a CIA foi criada para auxiliar os

tomadores de decisão norte-americanos em assuntos referentes à segurança nacional daquele

país. Além disso, foi visto que, de acordo com Richelson (1995), é função específica da CIA

avaliar, correlacionar e disseminar inteligência no que diz respeito à segurança nacional dos

Estados Unidos, fazendo ainda, uma conexão entre as informações recebidas com outras

agências. Além disso, ela deveria ajudar na prevenção de ataques surpresas contra aquele país.

Porém, quando a agência precisou fazer isso, ela falhou.

A primeira falha da CIA foi não compartilhar com o FBI e as demais agências da

Comunidade de Inteligência (CI) norte-americana, as informações que tinha sobre Mihdhar76

e Hazmi77.

A CIA, já dispunha dos nomes de Mihdhar e Hazmi. Saeed Badeeb, o principal analista do príncipe Turki na inteligência saudita, já havia alertado os colegas americanos, numa das reuniões mensais entre eles, de que eram membros da Al-Qaeda (WRIGHT, 2007: 341).

A CIA sabia também que esses dois integrantes da Al-Qaeda iriam se reunir na

Malásia, numa suposta reunião com outros integrantes da Al-Qaeda, e que, pelo menos um

deles, já tinha visto de entrada para os Estados Unidos. Porém, mais uma vez, a agência não

compartilhou dessas informações com as demais agências da CI. O Relatório da Comissão de

75 Tradução Livre. 76 Khaled al-Mihdhar: Membro de uma família eminente do Hadramaut cuja linhagem remonta ao profeta Maomé, Mihdhar cresceu em Meca. Chegou ao EUA em janeiro de 2000; afastou-se por um período, supostamente para orientar os outros sequestradores de avião vindo da Arábia Saudita; depois retornou aos EUA em 4 de julho de 2001. Morreu no choque do vôo 77 da American Airlines contra o Pentágono, em 11 de setembro de 2001. Tinha 26 anos (Wright, 2007: 411). 77 Nawaf al-Hazmi: Terrorista que morreu aos 25 anos no vôo 77 da American Airlines, que se chocou com o Pentágono no 11 de setembro. Saudita abastado que cresceu em Meca, Hazmi treinou em campos da Al-Qaeda no Afeganistão e combateu na Bósnia e na Chechênia antes de participar da conspiração do 11 de setembro. Compareceu a reunião na Malásia em janeiro de 2000 e ingressou nos Estados Unidos em 15 de janeiro de 2001 (Wright, 2007: 412).

Inteligência do Senado e da Câmara dos Estados Unidos para os ataques de 11/09/200178, diz

que

by early January 2000, CIA knew al-Mihdhar’s full name and that it was likely Nawaf’s last name was al-Hazmi, knew that they had attended what was believed to be a gathering of al-Qa’ida associates in Malaysia, was aware that they had been traveling together, and had documents indicating that al-Mihdhar held a U.S. B-1B- 2 multiple entry visa that would allow him to travel to and from the United States until April 6, 2000 (p. 44).

Apesar de conter a informação de que Mihdhar, um integrante da Al-Qaeda, tinha

visto de entrada para os Estado Unidos, e que estava viajando acompanhado de Hazmi, a CIA

não adicionou seus nomes na lista do U.S. Customs Service79, o que impedira a entrada deles

nos Estados Unidos. Como não fez isso, a agência permitiu que os terroristas entrassem

livremente no país.

Despite having all this information, CIA did not add the names of these two individuals to the State Department, INS, and U.S. Customs Service watchlists that are used to deny individuals entry into the United States. (...) The CIA did not advise the FBI about al-Mihdhar’s U.S. visa and the very real possibility that he would travel to the United States. (Relatório da Comissão de Inteligência do Senado e da Câmara dos Estados Unidos para os ataques de 11/09/200180, p. 44).

Em março de 2000, a CIA recebeu informações que afirmavam que Hazmi havia

entrado nos Estados Unidos em janeiro daquele mesmo ano. De acordo com o Commission

Report (2010), “Hazmi e Mihdhar foram para os Estados Unidos para aprender inglês, ter

aulas de vôo, e se tornarem pilotos o mais rápido possível”. Porém, mais uma vez a agência

falhou em não compartilhar dessa informação com as demais agências da CI.

On March 5, 2000, CIA Headquarters received a cable from an overseas CIA station indicating that Nawaf al-Hazmi had traveled to Los Angeles, California on January 15, 2000. The following day, March 6, CIA Headquarters received a message from another CIA station noting its “interest” in the first cable’s “information that a member of this group had traveled to the U.S.” The CIA did not act on either message, again did not watchlist al-Hazmi or al-Mihdhar, and, again, did not advise the FBI of their possible presence in the United States. (Relatório da Comissão de Inteligência do Senado e da Câmara dos Estados Unidos para os ataques de 11/09/200181, p. 48).

78 Fonte: http://intelligence.senate.gov/107351.pdf, acessadi di 22/04/2010, às 15:00 horas. 79 In 2003 the U.S. Customs Service was renamed to U.S. Customs and Border Protection. CBP is one of the Department of Homeland Security’s largest and most complex components, with a priority mission of keeping terrorists and their weapons out of the U.S. It also has a responsibility for securing and facilitating trade and travel while enforcing hundreds of U.S. regulations, including immigration and drug laws. Fonte: http://www.cbp.gov/, acessado dia 09/11/2010, às 18:20 horas. 80 Fonte: http://intelligence.senate.gov/107351.pdf, acessadi dia 22/04/2010, às 15:00 horas. 81 Idem.

A CIA soube que Hazmi havia voado para Los Angeles em 15 de janeiro de 2000. Se tivesse checado a lista de passageiros, teria observado que Mihdhar viajava com ele. A agência não informou ao FBI nem ao Departamento de Estado que pelo menos um membro conhecido da Al-Qaeda estava no País (Wright, 2007: 342).

De acordo com Wright (2007), “a CIA era é o único órgão do governo americano

que sabia quem eram Hazmi e Mihdhar e que eles estavam nos Estados Unidos”. Devido a

isso, a CIA estava deixando de cumprir sua função de compartilhar com os outros órgãos da

CI suas informações e de disseminar inteligência relacionada a segurança nacional dos

Estados Unidos.

Wright (2007) questiona a omissão dessas informações por parte da CIA: “Por

que a CIA – sabendo que Mihdhar e Hazmi eram membros da Al-Qaeda, que tinham visto de

entrada nos EUA e que pelo menos um deles já havia chegado em solo americano – negaria

essas informações aos demais órgãos do governo?”. Ao não repassar as informações que tinha

sobre Mihdhar e Hazmi para o FBI, a CIA faz parecer, de acordo com Turner (2005), que

existia uma certa “rixa” entre as agências. A verdade é que, ao omitir a informação da

presença desses dois terroristas em solo americano, a CIA impediu que o FBI pudesse agir:

uma vez dentro dos EUA, (Mihdhar e Hazmi) estavam sob alçada do FBI. (...) Eles chegaram dezenove meses antes do atentado de 11 de semtembro. O FBI dispunha de toda a autoridade necessária para investigar aqueles homens e descobrir o que estavam tramando, mas, como a CIA deixou de divulgar a presença de dois membros ativos da Al-Qaeda, os sequestradores de avião ficaram livres para desenvolver sua conspiração até que fosse tarde demais para detê-los (Wright, 2007: 343 - 446).

Por já existir um indiciamento de Bin Laden em Nova York, e Mihdhar e Hazmi serem seus parceiros, o FBI estava autorizado de antemão a seguir os suspeitos, gravar conversas em seu apartamento, interceptar suas comunicações, clonar seus computadores, investigar seus contatos – passos essenciais que poderiam ter impedido o 11 de setembro (Wright, 2007: 362).

De acordo com Weiner (2008), a CIA recebia informações de várias partes do

mundo sobre possíveis ataques aos Estados Unidos.

As advertências vinham da Arábia Saudita e dos países do Golfo, da Jordânia e de Israel, e de toda Europa. Os circuitos desgastados da CIA estavam perigosamente sobrecarregados. Os avisos continuavam chegando. Vão atacar Boston. Vão atacar Londres. Vão atacar Nova York. “Quando esses ataques acontecerem, como provavelmente acontecerão”, disse Clarke82 num e-email a Condolezza Rice em 29 de maio, “vamos imaginar o que mais poderíamos ter feito para impedi-los” (p. 525).

82 Richard A. Clarke, um dos conselheiros do presidente Bush sobre terrorismo.

Griffin (2004) também diz que a CIA recebeu informações de vários serviços de

inteligência ao redor do mundo. Segundo ele, as informações chegavam da Rússia, Jordânia,

Israel, Egito e do Golfo Pérsico.

Former CIA agent Robert Baer reportedly told the CIAs Counter-Terrorism Center that he had learned from a military associate of a Persian Gulf prince that a "spectacular terrorist operation" was about to take place. Some warnings, furthermore, were reportedly given by several foreign intelligence agencies. For example, Russian President Putin later stated that in August, "I ordered my intelligence to warn President Bush in the strongest terms that 25 terrorists were getting ready to attack the US, including important government buildings like the Pentagon." The head of Russian intelligence also said: "We had clearly warned them" on several occasions, but they "did not pay the necessary attention." Warnings were also reportedly given by Jordan, Egypt, and Israel, with the latter country warning, a few days before 9/11, that perhaps 200 terrorists linked to Osama bin Laden were "preparing a big operation" (p. 163).

Essa foi a segunda falha da CIA: não levar em consideração as informações sobre

possíveis atentados nos Estados Unidos, que chegavam de agências do exterior, e não passar

para as demais agência da CI essas informações recebidas.

De acordo com Hulnick (2004), para se defender de ataques, é necessário

conhecer e entender o inimigo.

In order to defend the homeland against terrorism as well as the other threats that plague us, we need to identify and understand exactly who these enimies are (p. 21).

A verdade era que, mesmo que tivesse um grande número de pessoas trabalhando

coletando informações sobre a Al-Qaeda, a CIA não conseguia entender, a fundo, esta

organização e não conseguia montar um relatório para o presidente com informações sobre o

que estava pra acontecer.

O total de pessoas da CIA concentradas na Al-Qaeda chegava a 400. A maioria delas ficava diante de computadores na sede, isolada da realidade do mundo externo por suas tecnologias de informação antiquadas. Esperar que elas protegessem os Estados Unidos de um ataque era no mínimo uma crença equivocada (Weiner, 2008: 524).

A agência nunca respondeu a uma pergunta apresentada a ela pelo presidente Bush: poderia haver um ataque dentro dos Estados Unidos? Agora era hora de responder: em 6 de agosto, o informe diário ao presidente começava com a manchete “Bin Laden Determinado a Atacar Dentro dos EUA”. A avertência que estava abaixo da manchete era uma reportagem muito fraca. As informações mais frescas que continha datavam 1999. Era um artigo de história, e não um boletim de notícias (Weiner, 2008: 526).

Mais uma vez a CIA falhou. Não foi capaz de auxiliar o presidente em questões

relativas à segurança nacional dos Estados Unidos. Não foi capaz de exercer a função para a

qual foi criada.

Como vimos, a CIA cometeu falhas que facilitaram o acontecimento dos

atentados de 11/09/2001. Sobre as falhas da CIA, o Relatório da Comissão de Inteligência do

Senado e da Câmara dos Estados Unidos para os ataques de 11/09/200183, diz que

the U.S. foreign intelligence agencies paid inadequate attention to the potential for a domestic attack. The CIA’s failure to watchlist suspected terrorists aggressively reflected a lack of emphasis on a process designed to protect the homeland from the terrorist threat. As a result, CIA employees failed to watchlist al-Mihdhar and al-Hazmi (p. 27).

O Relatório completa dizendo que a agência falhou em compartilhar as

informações que eram importantes sobre os atentados. Por causa disso, a CI não teve a

oportunidade de impedir a entrada dos terroristas nos Estados Unidos, ou então de, pelo

menos, tentar desmontar o esquema montado por eles quando já estavam em território norte-

americano. O Relatório conclui dizendo que não se pode saber o que teria acontecido se essas

informações que a CIA continha tivessem sido compartilhadas, se a CI tivesse a oportunidade

de tantar impedir esses ataques.

The CIA failed to capitalize on both the individual and collective significance of available information that appears relevant to the events of September 11. As a result, the Intelligence Community missed opportunities to disrupt the September 11th plot by denying entry to or detaining would-be hijackers; to at least try to unravel the plot through surveillance and other investigative work within the United States; and, finally, to generate a heightened state of alert and thus harden the homeland against attack.

No one will ever know what might have happened had more connections been drawn between these disparate pieces of information. We will never definitively know to what extent the Community would have been able and willing to exploit fully all the opportunities that may have emerged. The important point is that the Intelligence Community, for a variety of reasons, did not bring together and fully appreciate a range of information that could have greatly enhanced its chances of uncovering and preventing Usama Bin Ladin’s plan to attack these United States on September 11, 2001 (p. 27).

A CIA falhou no momento em que foi mais necessitada. Ela falhou em impedir o

acontecimento dos atentados. Betts (2009) diz que os ataques terroristas de 11/09/2001 contra

83 Fonte: http://intelligence.senate.gov/107351.pdf, acessado dia 22/04/2010, às 15:00 horas.

o WTC e o Pentágono foram um segundo Pearl Habor. Ou seja, o 11/09/2001 foi o Pearl

Harbor que a CIA tinha sido criada para previnir.

4. Conclusão

Na segunda seção deste trabalho vimos que a CIA foi criada para auxiliar na

manutenção da segurança nacional dos Estados Unidos, além de ajudar na prevenção de

ataques surpresas contra aquela nação. Para alcançar estes objetivos, a CIA deveria avaliar e

fazer uma conexão entre as informações coletadas e/ou recebidas de outras agências (tanto

dos Estados Unidos, como de outros países), além de passar essas informações para as demais

agências da CI e para aqueles responsáveis em fazer e implementar políticas de segurança

nacional nos Estados Unidos.

Já na terceira seção vimos que no momento em que mais se precisou da CIA, ela

não agiu. Ela falhou em não enviar para as demais agências da CI as informações que tinha

sobre Hazmi e Mihdhar. A CIA sabia que os dois tinham ligações com a Al-Qaeda e que

ambos estavam nos Estados Unidos, porém a agência optou por ocultar essas informações

tanto da CI como dos responsáveis por fazer e implementar políticas de segurança nacional.

A outra falha da agência foi desprezar os avisos e as informações que chegavam

de serviços de inteligência de outros países sobre a possibilidade de um atentado contra os

Estados Unidos. Essas informações chegavam de Israel, Egito, Rússia, e outros países, mas a

CIA os ignorava. Além disso, também não compartilhava com as demais agências da CI sobre

esses avisos.

Essas falhas da Central Intelligence Agency resultaram no desastre que a agência

tinha sido criada para evitar: os atentados terrorista de 11/09/2001. Nesses atentados, quase

3000 pessoas84, entre americanos e de outras nacionalidades, morreram.

Diante disso, deve-se pensar se apenas um serviço de inteligência pode ser capaz

de dar conta de uma grande quantidade de informação. Talvez fosse necessário uma

descentralização no trabalho de coleta e análise das informações, ou seja, no processo de

produção de inteligência. Além disso, há uma pergunta que precisa ser respondida: o que

fazer com a CIA? Seria necessário reconstruí-la? Se sim, seria uma reconstrução total ou

84 Fonte: http://edition.cnn.com/SPECIALS/2001/memorial/index.html, acessado dia 27/10/2010, às 13:30 horas.

parcial? E como essa reconstrução deveria ser feita? Esses são elementos para se aprofundar

em pesquisas posteriores.

A verdade, e o mais importante, é que alguma coisa precisa ser feita pois os

Estados Unidos tem nas mãos um serviço de inteligência que, quando necessário, não soube

agir, permitindo que o país sofresse o maior ataque em tempos de paz em toda a história dos

Estados Unidos.

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ANEXO A – Organização burocrática do OSS em 194485.

85 Fonte: https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/books-and-monographs/oss/art03.htm, acessado dia 10/06/2010, às 15:50 horas.

ANEXO B – Estrutura burocrática da CIA (Richelson, 1999: 19).