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Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015
Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015
SEVERIDADE DE SECAS NA BACIA DOS SERTÕES DE CRATEÚS - ÍNDICE DE
ANOMALIA DE CHUVA (IAC)
JULIANA ALCÂNTARA COSTA1*, DJANE FONSECA DA SILVA
2
1 Graduanda em Agronomia, UFCA, Crato-CE. Fone: (88) 9633-3669, [email protected]
2 Drª. Professora UFCA, Crato-C. (88) 9246-1566 [email protected]
Apresentado no
Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015
15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil
RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de apresentar um estudo da variação temporal quantitativa da
precipitação pluviométrica na Bacia hidrográfica dos Sertões de Crateús, utilizando para tanto o Índice
de Anomalia de Chuvas (IAC). Foram utilizados dados de precipitação diária, obtidos pela ANA
(Agência Nacional das Águas), para o período compreendido entre 1911 a 2008. O IAC foi empregado
para a estação pluviométrica situada no município de Crateús. Verificou-se que a bacia hidrográfica
dos Sertões de Crateús apresenta um “ponto de inflexão” na distribuição da precipitação. Até o ano
1960 foram observados mais anos secos do que após esse ano, quando houve uma maior presença de
anos chuvosos. Os períodos que apresentaram consecutivos anos secos foram de 1951 a 1956 e de
1978 a 1983, ambos com seis anos, e o ano mais seco de toda a série foi 1919 com IAC -3,7. O mês
mais seco do ano é setembro com uma média de 1,2 mm.
PALAVRAS–CHAVE: IAC, Eventos climáticos, Variabilidade pluviométrica.
SEVERITY OF DRY IN BOWL OF SERTÕES DE CRATEÚS - RAINFALL ANOMALY
INDEX (RAI)
ABSTRACT: This study aimed to present a study of quantitative temporal variation of rainfall in the
Basin hydrography of the Sertões of Crateús, using both Rainfall Anomaly Index (IAC). Daily rainfall
data were used, obtained by ANA (National Water Agency), for the period from 1911 to 2008. The
IAC was used for rainfall station in the municipality of Crateús. It was found that the watershed
Sertões of Crateús features a "turning point" in the distribution of rainfall. By the year 1960 were
observed more dry years than after this year, when there was a greater presence of wet years. Periods
presented consecutive dry years were 1951-1956 and 1978-1983, both with six, and the driest year in
the entire series was in 1919 with IAC -3.7. The driest month of the year is September with an average
of 1.2 mm.
KEYWORDS: RAI, Weather events, Rainfall variability.
INTRODUÇÃO A seca é um fenômeno que ocorre com frequência na região semiárida. Um evento prolongado
de seca pode causar vários efeitos dependendo de sua duração, intensidade e condições
socioeconômicas e culturais locais (Freitas, 1998).
É característica geral das regiões semiáridas, a sua aridez climática, caracterizada pela
deficiência de água, precipitações pluviométricas sem previsão e com solos geralmente pobres em teor
de matéria orgânica. A aridez sazonal é caracterizada pelo período seco do ano onde ocorre a elevação
da temperatura local (Ab’Sáber, 1999).
Segundo Da Silva (2009), o monitoramento de períodos de seca ou chuvosos pode ser
efetuado pelo emprego de índices. Com base neles, pode-se desenvolver um sistema de
acompanhamento das características dos períodos extremos, assim como as diferenciadas medidas a
serem efetivadas de acordo com os valores atingidos por tais parâmetros.
Desenvolvido por Rooy (1965), o Rainfall Anomaly Index (RAI) ou Índice de Anomalia de
Chuva (IAC) é utilizado para classificar as severidades positivas e negativas nas anomalias de
precipitações. É um índice considerado muito simples (Fernandes et al., 2009; Da Silva, 2009; Freitas,
2004), necessitando de dados somente de precipitação. Segundo Rooy (1965), o índice visa tornar
viável a comparação entre desvios de precipitação diversas regiões.
Desta forma, objetivou-se neste trabalho apresentar um estudo da variação temporal
quantitativa da precipitação pluviométrica na bacia hidrográfica dos Sertões de Crateús, utilizando
para tanto o Índice de Anomalia de Chuvas (IAC).
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo compreende o território da bacia hidrográfica dos Sertões de Crateús.
Localizada no estado do Ceará, esta possui uma área de 10.821 Km², compreendendo a rede de
drenagem do Rio Poti. Esta Bacia é composta por 09 municípios. O clima é semiárido, ocorre o
predomínio de embasamento cristalino da depressão sertaneja, onde a deficiência hídrica é a
característica mais marcante, juntamente com solos de pouca profundidade, com vegetação de
Caatinga, típica dos sertões nordestinos (SRH, 2013).
Foram utilizados dados de precipitação diária, obtidos pela ANA (Agência Nacional das
Águas), para o período compreendido entre 1911 a 2008, totalizando 97 anos. O índice de anomalia de
chuva (IAC) foi empregado para a estação pluviométrica situada no município de Crateús (latitude: -
5,2°; longitude: -40,67°; altitude: 297m).
Para analisar a frequência e intensidade dos anos secos e chuvosos na área estudada
empregou-se o IAC (Índice de Anomalia de Chuva) desenvolvido por Rooy (1965) e adaptado para o
Nordeste do Brasil por Freitas (2005):
IAC = 3 𝑁− 𝑁
𝑀 − 𝑁 , para anomalias positivas (1)
IAC = - 3 𝑁− 𝑁
𝑀 − 𝑁 , para anomalias negativas (2)
Em que:
N = precipitação anual atual, ou seja, do ano que será gerado o IAC (mm);
𝑁 = precipitação média anual da série histórica (mm);
𝑀 = média das dez maiores precipitações anuais da série histórica (mm);
𝑋 = média das dez menores precipitações anuais da série histórica (mm); e anomalias positivas são
valores acima da média e negativas, abaixo da média.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra o IAC do Sertão de Crateús, onde os valores positivos representam anos
chuvosos ou úmidos e os valores negativos, os anos secos. Pode-se observar, que durante todo o
período, houveram 47 positivos e 50 negativos.
Até o ano 1960, ocorreram no Sertão de Crateús 21 anos chuvosos e 28 anos secos; após esse
ano, foram 24 anos chuvosos e 22 anos secos, tonando-se dessa forma mais úmido que o período
anterior a 1960, o que pode representar um “ponto de inflexão” de uma possível modificação no
padrão de precipitação local. Da Silva et al. (2005), Araújo et al. (2007 e 2009) e Da Silva (2009)
também observaram tal “ponto de inflexão” em seus trabalho com IAC.
Os períodos que permaneceram por mais tempo com índices negativos (secas) foram de 1951
a 1956 e de 1978 a 1983 (Figura 1). Esse último período mencionado, segundo Antunes (2014), foi
marcado por umas das secas mais prolongadas da história do Nordeste, deixando um rastro de miséria
e fome, havendo grandes perdas na agricultura, pecuária e saques às feiras e armazéns pela população
desesperada. Calcula-se que em torno de 3,5milhões de pessoas morreram de desnutrição, sendo a
maioria crianças.
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250
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Pre
cip
itação
(m
m)
Meses
Figura 1. Índice de Anomalia de Chuva anual para a Bacia do Sertão de Crateús.
A Figura 2 demonstra que a precipitação média na região é de aproximadamente 60 mm, com
o período chuvoso tendo início no mês de janeiro e findando no mês de abril. O mês de março
apresentou o valor máximo de precipitação, em torno de 210 mm. O período do ano de julho a
outubro se mostrou como o mais seco do ano, tendo como precipitação mínima 1,2 mm, em média, no
mês de setembro.
Figura 2. Médias climatológicas das precipitações na bacia dos Sertões de Crateús.
CONCLUSÕES
A bacia hidrográfica do Sertão de Crateús apresenta um “ponto de inflexão” na distribuição da
precipitação. Até o ano 1960 foram observados mais anos secos do que após esse ano, quando houve
uma maior presença de anos chuvosos. Os períodos que apresentaram consecutivos anos secos foram
de 1951 a 1956 e de 1978 a 1983, ambos com seis anos, e o ano mais seco de toda a série foi 1919
com IAC de –3,7. O mês mais seco do ano é setembro com uma média de 1,2 mm.
REFERÊNCIAS Ab’Sáber. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. In: ESTUDOS AVANÇADOS. Dossiê
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<http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n36/v13n36a02.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2014.
Antunes, L. O 10 maiores períodos de seca no Brasil. Super Interressante. Editora: Abril S. A. Agosto
de 2014. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/os-10-maiores-periodos-de-
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UFPE, Recife-PE, vol.1, 2007.
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1995
1999
2003
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Acesso em: 20 mar. 2015.