Significado geologico das variaçoes dos graus de...

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ANAIS DO XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, RIO DE JANEIRO, 1984 ---- .--.. i - __ - SIGNIFICADO GEOLdGlCO DAS VARlAÇdES DOS GRAUS DE RIO PARAf6A DO SUL, (RJ) ARREDONDAMENTO DAS AREIAS HOLOCENICAS DA PLANíCIE COSTEIRA DO bee" L+ - Louis Martin ÒRSTOM (Franca) e Departamentode Geoflsica (O.N.) - Rua General Bruce. 586 - (20921) - Rio de Janeiro, RJ KenitiroSuguio Instituto de Gecciências - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 20899 - (01498) - Sb Paulo, SP Jean-Marie Flexor Departamentode Geoflsica -Observatório Nacional - Rua General Bruce, 586 - (20921) Rio de Janeiro, RJ Moyd G. Tessler Instituto Oceanogrdfico - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 9075 - (01498) -São Paulo, SP Beamk B. Eichler Instituto Oceanográfico - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 9075 - (01498) -São Paulo, SP Entidade patrocinadora:Departamentode Geof lsica do Observat6rio Nacional (CNPq) Rio de Janeiro, RJ .. ABSTRACT Sea level changes during the Late Quaternary played a very i; portant role in the construction of the extensive Paraiba do Sul river mouth coastal plain in the State of Rio de Janeiro. Great volumes of sands have been transferred from the adjacent inner shelf to the coastal plain, as a consequence of continuous and gradual sea level drop during the last 5,000 years. On the other hand, longshore currents, dominantly trending south-to-north, have been very important in the definition of the asymmetrical pattern exhibited by the coastal plain at both sides of the Paraíba do Sul river mouth. Variations in degrees of roundness showed by the beach sands at both sides of the river mouth, as well as by the Holocene beach ridges from northern and southern portions of this river, have been studied. Geological interpretation of these data have allowed us to evaluate the roles played by the sea level and river discharge fluctuations through the time, as well as by the longshore currents, in the construction of this coastal plain. INTROEUÇÃO O rio Paraíba do Sul, com extensão de cerca de 950km, possui uma bacia hidrográfica de aproximadamente 45.000km2 estendendoLse pe los Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. At6 relativa mente p o u c ~ tempo, toda a bacia hidrográfica era recoberta por uma den_ sa vegetaçao pouco favorSve1 ao transporte de sedimentos grosseiros a través do seu curso fluvial. Entretanto, o desmatamento que se seguiÜ .?i chegada dos colonizadores portugueses parece ter modificado este qua dro. Desta maneira, o volume de sedimentos grosseiros transportados a tualmente pelo rio Paraíba do Sul deve ser bem maior do que era carreã do pelo mesmo rio até recentemente. plg nície sedimentar quaternäria que forma um lobo de 60xl20km. Segundo MAE TIN et al. (19841, esta planície costeira d constituída por terraços ma rinhos arenosos de idade pleistocênica (após 120.000 anos A.€).)* e sedimentos lagunares e fluviais de idade holocênica (após 5.100 anos A. P.), Fig. 1. De acordo com MARTIN et al. (1980 e 1983), a porção central do Na desembocadura do rio Paraíba do Sul desenvolve-se uma * A.P. = Antes do Presente. ORSTOM Fonds Documentaire

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ANAIS DO XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, RIO DE JANEIRO, 1984 ---- . --.. i - __ -

SIGNIFICADO GEOLdGlCO DAS VARlAÇdES DOS GRAUS DE

RIO PARAf6A DO SUL, (RJ) ARREDONDAMENTO DAS AREIAS HOLOCENICAS DA PLANíCIE COSTEIRA DO bee" L+ - Louis Martin ÒRSTOM (Franca) e Departamento de Geoflsica (O.N.) - Rua General Bruce. 586 - (20921) - Rio de Janeiro, RJ Kenitiro Suguio Instituto de Gecciências - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 20899 - (01498) - S b Paulo, SP Jean-Marie Flexor Departamento de Geoflsica -Observatório Nacional - Rua General Bruce, 586 - (20921) Rio de Janeiro, RJ Moyd G. Tessler Instituto Oceanogrdfico - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 9075 - (01498) -São Paulo, SP Beamk B. Eichler Instituto Oceanográfico - Universidade de São Paulo Caixa Postal, 9075 - (01498) -São Paulo, SP Entidade patrocinadora: Departamento de Geof lsica do Observat6rio Nacional (CNPq) Rio de Janeiro, RJ ..

ABSTRACT

Sea l e v e l changes during the Late Quaternary played a very i; por tan t r o l e i n the construction of the extensive Paraiba do Sul r i v e r mouth coas t a l p l a i n i n t h e State of Rio de Janeiro.

Great volumes of sands have been t r ans fe r r ed from t h e adjacent inner shelf t o t h e c o a s t a l p l a in , as a consequence of continuous and gradual sea l e v e l drop during t h e l a s t 5 ,000 years. On t h e o ther hand, longshore cu r ren t s , dominantly trending south-to-north, have been very important i n t h e d e f i n i t i o n of the asymmetrical pa t t e rn exhibited by the coas t a l p l a i n a t both s ides of the Paraíba do Sul r i v e r mouth.

Variations i n degrees of roundness showed by t h e beach sands a t both s ides of the r i v e r mouth, as w e l l as by the Holocene beach ridges from northern and southern por t ions of t h i s r i v e r , have been s tudied . Geological i n t e rp re t a t ion of these da ta have allowed us t o eva lua te the r o l e s played by the sea l e v e l and r i v e r discharge f luc tua t ions through the time, as w e l l a s by the longshore cur ren ts , i n t he construction of t h i s coas t a l p la in .

INTROEUÇÃO

O r i o Paraíba do Sul, com extensão de cerca de 950km, possui uma bacia h idrográf ica de aproximadamente 45.000km2 estendendoLse pe l o s Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. At6 r e l a t i v a mente p o u c ~ tempo, toda a bacia h idrográf ica e r a recober ta por uma den_ sa vegetaçao pouco favorSve1 ao t ranspor te de sedimentos grosse i ros a t r avés do seu curso f l u v i a l . Entretanto, o desmatamento que se seguiÜ .?i chegada dos colonizadores portugueses parece te r modificado este qua dro. D e s t a maneira, o volume de sedimentos grosse i ros transportados a tualmente pelo r i o Paraíba do Sul deve ser bem maior do que era ca r r eã do pelo mesmo r i o a t é recentemente.

plg n í c i e sedimentar qua ternär ia que forma um lobo de 60xl20km. Segundo MAE TIN e t a l . (19841, esta p l an íc i e c o s t e i r a d cons t i t u ída por t e r r aços ma rinhos arenosos de idade p le i s tocênica (após 1 2 0 . 0 0 0 anos A.€).)* e dë sedimentos lagunares e f l u v i a i s de idade holocênica (após 5.100 anos A. P.), Fig. 1.

D e acordo com MARTIN e t a l . ( 1 9 8 0 e 1983), a porção c e n t r a l do

N a desembocadura do r i o Paraíba do Sul desenvolve-se uma

* A.P. = Antes do Presente. ORSTOM Fonds Documentaire

l i t o r a l b r a s i l e i r o da qual faz pa r t e a reg ião de desembocadura do r i o Paraiba do Sul , diferentemente do que acontece em outras par tes do mu: do, onde o n ive l marinho m a i s a l t o dos Ültimos milhares Be anos 6 r ep re sentatlo pelo a t u a l , f o i submetida-à submersao contínua a t6 cerca de 5 . 1 0 0 anos A . P . , seguida de emersa0 (Fig. 2 e 3). Por outro lado, nes ta pa r t e do nosso l i t o r a l , também carac te r izada por a l t a energia , as cor r en te s de der iva l i t o rânea desempenham um papel essenc ia l no t ranspor te de sedimentos grosseiros . Durante a f a se de submersao, que ocorreu a t é 5 . 1 0 0 anos A . P . , i lhas-bar re i ras formadas jun to à desembocadura f l u v i a l isolaram uI:a extensa laguna, na qual o r i o Paraiba do S u l construiu um d e l t a in t ra lagunar , que poderia ser c l a s s i f i cado como um d e l t a t i p i c o .

de ressecaçao da laguna e pe la acreçao de cordoes l i to râneos pa r t e externa das i lhas-bar re i ras .

ORIGEM DOS SEDIMENTOS GROSSEIROS DA PLANÍCIE COSTEIRA DO PAmfBP. CO SUL

A f a s e de emersã0 que s e seguiu f o i traduzida pela tendëncia

FONTES DAS AREIAS

As-duas possíveis fontes supridoras de sedimentos g r o s s e i r o s e r a a á rea sa0 o r i o Paraíba do Sul e a plataforma cont inental i n t e rna adjacente. Sabe-se que a t6 recentemente o r i o Paraiba do Sul não apre sentava condições para suprimento de grande volume de a re i a . Desta m g ne i r a , as a r e i a s que entram na construçao de grande par te dos terzaços holocënicos devem t e r provindo da plataforma in te rna . Entretanto, nao se deve esquecer que eventuais f lutuaçoes cl imdticas no decorrer do Holo ceno podem ter desempenhado o seu papel.

Um ? . i to ra l arenoso adquire um p e r f i l de equ i l íb r io que é uma função da diriâ~nica e da granulometria dos sedimentos disponiveis. A dA n h i c a costeLra, d i tada principalmente pe la amplitude das marés e pe l a a l t u r a das or.das, promove a contínua construçao e destruiçao des te p e r f i l de equ i l ib r io . Entretanto, ao se considerar um lapso de tempo suf; cientemente longo, pode-se admitir que e x i s t a um p e r f i l médio de equ& l i b r i o . Abaixamento ou elevaçao do n ive l ge l a t iyo do mar i r a o romper es t e p e r f i l de e q u i l í b r i o médio, quando entao serao acionados os mecanis- mos que levarão ao restabelecimento do e q u i l i b r i o rompido. Quando ocor r e a elevaçao do n íve l r e l a t i v o do m a r , segundo BRUUN (19621, o p e r f i l de e q u i l i b r i o será res tabelecido pela erosão da pós-praia e do contq nente e pe la acumulaçao dos sedimentos erodidos na ante-praia. O mec2 nismo inverso se rá acionado quando ocorre o abaixamento do n íve l r e l a t L vo do mar. Neste caso, a ante-praia tornar-se-á momentaneamente m a i s a l t a sendo, e m seguida, erodida e o ma te r i a l assim l iberado se ra t r a n s portado para a pós-praia. Na esca la de-um c i c l o de maré, por exemplo , que compreende uma "pequena transgressao" e uma "pequena regressao", e s ses fenômenos ficam muito evidentes . Desta maneira, somente o a b a i xamento do n ive l r e l a t i v o do mar Q capaz de propic ia r o fornecimento de grande volume de a r e i a que ser6 t ransportado para a pra ia . Naturalmente, quanto m a i s suave f o r o decl ive da plataforma in te rna maior serd a a rea exposta ao retrabalhamento e , portanto, maior se rá o volume de a r e i a de positado na pós-praia. E evidente que, para que e s t e mecanismo s e j a 5 f e t i v o , a plataforma in t e rna deve ser essencialmente arenosa.

P M E L DA DERIVA LITO-EA

O t ranspor te dos sedimentos ao longo de uma p ra i a arenosa se faz principalmente pelas correntes de der iva l i t o rânea geradas pe las op das. De f a t o , próximo Ss p r a i a s , a s ondas não-encontram profundidade su f i c i e n t e para a sua propagaçao, ocorrendo entao a arrebentaçao das 02 das. Este fenômeno 6 acompanhado pela l iberaçao de grande quantidade de energia , que será t raduzida, em p a r t e , na colocação e m suspensão das a re i a s e , parcialmente, na formação das cor ren tes de deriva l i t o rânea . Naturalmente, e s t e fenômeno ocorrer6 somente se a s ondas atingirem obl? auamente a l inha de v ra i a . A velocidade dessas correntes l en ta m a s a

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sua açã0 se faz s e n t i r e m uma zona onde a s a re i a s foram colocadas . em suspensão pe la arrebentação das ondas e , portanto, o volume de a r e i ? t ransportada por e s t e meio s e r ä considerSvel. A açã0 combinada das a guas de espraiamento das ondas de arrebentação e da corrente de der iva l i t o rânea provoca o t ranspor te pulsa tór io ziguezagueante das a re ias . E videntemente, o sentido de t ranspor te depende da direçã0 de incidência- das f r e n t e s de ondas que atingem a pra ia .

Certamente, durante um persodo de abaixamento do n iye l r e l a t i vo do mar, pa r t e da a r e i a fornecida durante o restabelecimento do peg f i l de e q u i l í b r i o i r á t r a n s i t a r ao longo de pra ia em conseqilência des te mecanismo. Este t ranspor te prosseguirá a t é que a s a re i a s sejam r e t i d a s por uma armadilha ou bloqueadas por um obsthculo. I s t o expl ica as graz des diferenças que podem e x i s t i r em uma região que tenha so f r ido um a- baixamento uniforme do n ive l r e l a t i v o do mar. Os t e r r aços arenosos s e rão pouco desenvolvidos ou mesmo ausentes nas regiões de predominância de t r â n s i t o e muito importantes-nas zonas onde uma armadilha ou um obs táculo tenha permitido a retençao das a re i a s . Estas armadilhas ou Obst5 culos podem s e r de d i fe ren tes t i p o s , t a i s como, r e e n t r k c i a s C?a l inha c o s t e i r a , i l h a s ou fundos rasos formando zonas de f r aca energia,pontÕes do embasamento rochoso const i tuindo obstáculos ao t ranspor te l i t o râneo , desembocaduras f l u v i a i s importantes, e t c .

BLOQUEIO AO TRANSPORTE L I T O m E O PELO FLUXO FLUVIAL

Em periodos de a l t a descarga f l u v i a l (enchente), o j a t o de 5 gua junto a sua desembocadura ir5 c o n s t i t u i r um obstáculo que tender5 a bloquear o t ranspor te das a re i a s , do mesmo modo que um molhe a r t i f & c i a1 em região cos t e i r a . I s t o ocasionar5 uma acumulação de a r e i a GO l a do 2 montante da corrente de der iva l i t o rânea 5 uma possivel erosao dÖ lado jusante da corrente. Entretanto, a erosao da pa r t e 5 jusante da corrente é freqilentemente compensada pelo aporte de sedimentos grosse& ros supridos pe l a próprio r i o (Fig. 4 B ) . Em periodo de estiagem. ( vaZan_ t e ) , o obsthculo representado pelo f luxo f h v i a l i r á praticameGte desg parecer e a der iva l i t o rânea provocará a construção de um espor?o areno so que tenderá a fechar a desembocadura. Do mesmo modo, ocorrera uma e rosã0 p a r c i a l do depósito formado no periodo precedente, que s e encon t rava s a l i e n t e em relaçao ao alinhamento da p ra i a (Fig. 4 C ) . S e o peri- do de f luxo mais f raco durar bastante tempo, i s t o é, ocorrer uma e s t i a gem prolongada, o esporão arenoso poderá a t i n g i r uma la rgura su f i c i en te para r e s i s t i r parcialmente ao periodo de a l t a energia subseqilente. Mu& t a s vezes, somente a extremidade do esporão arenoso será des t ru ida e a barragem provocada pelo fluxo f l u v i a l s e r 5 deslocada no sent ido da d e r i va l i t o rânea , ocorrendo uma nova acumulaçao de a re i a 2 montante da cor ren te (Fig. 4 D ) . Deste modo, pode-se v e r i f i c a r o aparecimento de uma f o r t e ass imetr ia en t re as par tes da p l an íc i e cos t e i r a s i tuadas de um 12 do e de outro da desembocadura. A pa r t e 5 montante da corrente de der& va l i t o rânea se rá formada por fa ixas de ZordÕes l i to râneos , e s s e n c i a h - t e de origem marinha, enquanto que a porção 5 jusante se rã cons t i tu ida por uma a l te rnância de cordões arenosos e de zonas baixas a rg i lo- areno sas, de origem principalmente fluvio-lagunar. Além disso , os deslocame: to s da desembocadura serão marcados por uma sucessão de degraus r ea l ça dos por discordâncias nos alinhamentos dos cordões arenosos (Fig. 4 D ) .

Por conseguinte, a s c a r a c t e r í s t i c a s das a re i a s de um lado e de outro da desembocadura devem ser d i fe ren tes ; as a re i a s f l u v i a i s seriam depositadas principalmente na pa r t e da p lan íc ie s i tuada jusante da corrente de der iva l i to rânea .

DINAMICA DA DESEMBOCADURA DO RIO P A R A ~ B A DO SUL

SENTIDO DA DERIVA L I T O m E A

Na região de desembocadura do r i o Paraíba do Sul existem duas direções de ondas. A primeira provém do S/SE e e s t á l igada 2 penetração

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de massas de a r polar a t ravés do continente sul-americanc. Ela 6 espe cialmente freqfiente no outono e inverno. P. segunda, proveniente do NE, 6 l igada aos ventos a l i s e o s . Entretanto, as ondes de S/SE são, quase sempre, m a i s f o r t e s do que as de NE e , portanto, desempenham um papel mais importante no t ranspor te l i to râneo . Por vezes, ve r i f i ca - se a s u perposição das ondas de duas diresÕes d i f e ren te s , i s t o 6 , as ondas de NE se superpoem 5s de S/SE, que sao caracter izadas por grandes comprL mentos de onda. Neste caso, s6 as ondas de S/SE desempenharão o - seu pa pe l no t ranspor te l i t o râneo e o deslocamento dos sedimentos s e processa r á principalmente do s u l para o norte . I s t o é confirmado pela geome t r i a dos cordões holocênicos (DOMINGUEZ e t a l . , 19831, que ind ica um constante t ranspor te do s u l para o norte e , também, pelo bloqueio de a r e i a s com acumulação acelerada 2 montante da corrente (porSao s u l ) de um quebra-mar perpendicular 5 cos ta , construido hd cerca de do i s anos na entrada de Barra do Furado.

CARACTERfSTICAS MORFOLdGICAS DA DESEMBOCADUW.

Examinando-se a Fig. 4 6 possível cons ta ta r os seguintes fa t o s :

a ) Exis tência de uma f o r t e ass imetr ia en t r e as regiões s i t u a das de um lado e de out ro lado da desembocadura. A pa r t e s u l , m a i s de senvolvida 6 formada pe la acreçã0 de sucessivos cordões arenosos mari nhos. A pa r t e nor te , menos desenvolvida, 6 cons t i t u ida por uma altern2E c i a de zonas arenosas separadas por zonas pantanosas, areno-argilosas.

b) Ocorrência de um-esporão arenoso (s i tuação e m 19761, cuja construção f o i acompanhada de erosao l i t o ranea acelerada, qua,ado foram des t ru idas muitas casas e m Atafona. Em 2 0 anos (1956-19761, a l inha de cos ta na k e a de Atafona recuou quase 1OOm. Em fevere i ro de 11.76, que coincidiu com uma das grandzs enchentes do r i o , o espora0 areroso f o i destruido próximo a sua " r a i z " . Em seguida, começou a ser construido 05 t r o esporão arenoso que, e m fevere i ro de 1981, t inha a t ing ido 300m de comprimento.

c ) Exis tência de n í t i d a s discorddncias e de v&ios escalonamen- t o s en t r e os fe ixes de cordoes arenosos, originados durante as fases - eros ivas que acompanham e s t e incessante embate en t r e os agentes de d ins mica cos t e i r a na área.

GRAUS DE ARREDONDAMENTO DAS FREIAS H O L O a N I C A S

a) AREIAS DAS PRAIAS ATUAIS EM TORNO DA DESEMBOCADURA

Se o modelo de dinâmica cos t e i r a aqui d i scu t ido e s t i v e r cor re t o , as a re i a s de um lado e de out ro da foz são de or igens d ive r sas , de vendo-se v e r i f i c a r c a r a c t e r í s t i c a s morfoscópicas d i f e ren te s . Foram cole tadas 2 1 amostras de a r e i a s de p ra i a en t r e Macaé ( l i m i t e s u l da planz c i e c o s t e i r a ) e Guaxindiba ( l i m i t e norte da p l an ic i e c o s t e i r a ) e 3 amos t r a s no l e i t o a t u a l do r i o . Foram estudados os graus de arredondamento de vá r i a s fraçÕes granulométricas, mas aqui são apresentados somente os resul tados da fraçã0 compreendida en t re 1 e 0 , 5 m , porque, segundo C A I L LEUX e TRICART (19591, os grãos e m torno de 0,7mm de d i k e t r o seriam mais representat ivos para detecção de eventuais diferenças ex i s t en te s . Inicialmente foram consideradas cinco c lasses de arredondamento dos graos ( 1= angulosos ; 2= subangulosos : 3= subarredondados : 4= arredonda- dos e 5 = muito arredondados).

O s resul tados, representados em histogramas (Fig. 5 1 , indicam a ex is tênc ia de dois grupos de a re i a s que apresentam graus de arredonda ~

mento muito d i f e ren te s . D e >laca6 a Grussa í , a s a r e i a s são caracter iza& pe la presença de 2 0 a 60% de grãos muitos arredondados, sendo o r e s to formado por graos arredondados e subarredondados. Da desembocadura 2 Gilaxindiba, as a r e i a s são caracter izadas pela ausência de graos muito arredondados e pela presença de graos subangulosos, que podem represe:

t a r até 35% do conjunto. Finalmente, uma comparação dos histogramas da pa r t e no r t e da p lan ic ie c o s t e i r a com as de três amostras coletadas no l e i t o a t u a l do r i o mostra uma grande semelhança. Em Atafona, muito p r e ximo .?i desembocadura, a s areias apresentam c a r a c t e r i s t i c a s intermedi&& as. Isto se deve, provavelmente, ao f a t o que durante a amostragem tenham atuado também as ondas de NE. Essas c a r a c t e r i s t i c a s sao confirmadas-- do são consideradas somente três c l a s ses de arredondamento (1 = angulo SOS; 2 = subangulosos e subarredondados; 3 = arredondados e muito arre dondados), Fig. 6. Ao s u l da desembocadura e x i s t e uma n í t i d a predominâ; cha de grãos arredondados e muito arredondados, enquanto que ao nor te sao m a i s freqlientes graos subangulosos e subarredondados. A s amostras 03 l e t adas no l e i t o a t u a l do r i o Paraiba do Sul são predominantemente SUE angulosos e subarredondados. As ou t ra s fraçÕes granulométricas es tuda das mostraram resul tados semelhantes.

ar redondamento dos graos de a r e i a da p ra i a a t u a l de um lado e de out ro da desembocadura des te r i o nos indicam que as a r e i a s t ransportadas pe l o curso f l u v i a l são depositadas quase que somente ao nor te de sua d e sembocadura.

A s d i ferenzas muito evidentes ex i s t en te s en t r e os graus de

b ) AREIAS DE TERRAçOS HOLOCENICOS DE ? B O S OS LADOS DA DESEM -

coletadas 1 2 amostras desses t e r r aços , de cada lado(nog t e e s u l ) da desembocadura do r i o Paraíba do Sul. Foram construidos os mesmos t i p o s de histogramas que os an ter iores , considerando-se i n i c i a l mente 5 classes (Fig. 7 ) e , em seguida, 3 c l a s ses de graus de arredo; damento (Fig. 8 ) .

Todas as amostras da porção s u l da p l an ic l e exibiram as m e s m a s c a r a c t e r i s t i c a s , i s t o 6 , f o r t e predomin'ância de graos arredondados e muito arredondados. Somente as amostras 1 2 0 e 1 2 1 apresentaram predomi- nância de graos subangulosos e subarredondados. Conforme pôde ser cons ta tado também nas a r e i a s da p ra i a a t u a l , nas amostras 7 0 e 71, esta s& tuaçã0 se deve ao f a t o de aquelas amostras terem sido coletadas nas p ro ximidades de an t iga desembocadura. Por outrz lado, as a r e i a s amostradas na porção nor te apresentaram grandes var iaçoes nos graus de arredonda mento. D e f a t o , foram encontrados do i s t i pos de areia: a) areias com predominância de grãos subangulosos e subarredondados (como as da p ra i a a t u a l ) , e b) areias com predominância de grãos arredondados e muito a r redondados (como as da pa r t e s u l da p l a n i c i e ) . Portanto, na pa r t e nÒrte 3a p lan ic i e c o s t e i r a , ocorre uma a l te rnância de grãos carreados pr inc i - palmente pelo r i o Paraíba do Sul ( t i p o a) e areias provenientes da p l g taforma in t e rna adjacente ( t i p o b ) . O fornecimento de um ou out ro t i p o dessas a r e i a s depende das var iaçoes de energia do r i o Paraíba do Sul.Em período de enchente ( f o r t e ene rg ia ) , o r i o t ranspor ta areias que se de positam defronte a desembocadura, sendo subseqilentemente retrabalhadas- $pelas ondas e t ransportadas pe las correntes de der iva l i t o r â n e a rumo ao lrorte, Em período de vazante ( f r a c a energ ia) , o r i o não t ranspor ta a- reias e , nes te caso, o fornecimento de sedimentos arenosos p a r a ' a por ção nor t e da p l an ic i e está predominantemente a cargo da plataforma i; te rna adjacente.

BOCADURA

Foram

CON CLUS OE s Os graus de arredondamento das a re i a s amostradas nas pra ias a

t u a i s de um lado e de outro da desembocadura do r i o Paraíba do Sul mos traram diferenças s ign i f ica t ivas . .Nas a re i a s coletadas ao s u l da desem b<xadura há uma f o r t e predominância de grãos arredondados e muito a r r g dcndados. N a s a r e i a s coletadas ao nor te da desembocadura hb uma f o r t e predominância de graos subangulosos e subarredondados, da m e s m a maneira que a s amostras do l e i t o a t u a l do r i o Paraíba do Sul . Portanto, parece evidente que as a re i a s t ransportadas atualmente pelo r i o são deposi ta das somente ao nor te de sua desembocadura, conclusão e s t a que e s t á de

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acordo com todas a s ou t ras evidências indicat iva: . do sent ido de trens porte l i t o râneo dos sedimentos.

Durante os últimos 5 . 0 0 0 anos a p l an ic i e cos t e i r a d: r i o Paraz ba do S u l esteve submetida, em ge ra l , a um processo de emersa0 tendo,em conseqìiencia, propiciado grande aporte de a r e i a s t r ans fe r idas d i r e t a mente da plataforma in te rna adjacente para a s p ra i a s . Essas a r e i a s fo ram remanejadas pelas cor ren tes de der iva l i to rânea-e contribuiram na construção de te r raços arenosos ex i s t en te s nas porçoes nor te e s u l da desembocadura a tua l . Um estudo dos graus de arredonkiamento das a r e i a s desses t e r r aços mostra que ao s u l da desembocadura c s grãos sao quase sempre arredondados e muito arredondados, como acontece com as areias da p ra i a a t u a l . Portanto, e s t a s i tuaçao parece ter perdurado, nos 6 l t L mos milhare? de anos. Por out ro lado, a s a re i a s dos te r raços holocSnA cos da porçao nor te da desembocadura sao carac te r izadas pela presença de grãos subangulosos e subarredondados, como as da pra ia a t u a l defron t e , e de a r e i a s arredondadas e muito arredondadas, como as da p ra i a a t u a 1 e da p lan íc ie da porçao su l . Esta s i tuaçao deve resul tar da a l t e z ndncia de areias fornecidas pelo r i o Paraiba do Sul e de a r e i a s proveni- en tes da plataforma in te rna adjacente. O fornecimento de a r e i a s predomA nantemente f l u v i a i s deve corresponder a f a ses de enchente ( a l t a eneg g i a ) , i s t o E , a períodos mais chuvosos. O fornecimento de a r e i a s predg minantemente marinhas deve estar l igado a períodos de vazante (baixa $ n e r g i a ) , i s t o 6 , a períodos de es t iagens m a i s prolongadas. Por tan to , e . provável que um estudo pormenorizado dos graus de arsedondamento das a r e i a s da porção n o r t e , amostrando-se por exemplo, cada cordão arenoso; acompanhado de dataçoes ao radiocarbono, permita es tabe lecer uma crong l o g i a bas tan te detalhada desses periodos de energia rais f o r t e e de e nergia m a i s f raca correspondentes, respectivamente,a veríodos m a i s chu vosos e menos chuvosos na a rea .

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125

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FIG. I - MAPA G E O L ~ G I C O DA P L A N ~ C I E COSTEIRA DA DESEMBOCADURA DO R I O P A R A ~ B A DO SUL ( R . J . ) .

I : Embasamento cristalino pré-cambriono ; 2: Depósito continent01 pliocênico (Formo$'o Barreiras) : 3 - TerraFo marinho pleistocgnìco; 4= Deptsito f lu - v i a l holocgnico [ paleodelta ) : 5 = Depósito lagunar holocênico ; 6 : Terra50 mo- r i n h o h o l o c ~ n i c o ; 7 = ~linhamento de cordões pleistocênicos i 8 =Alinhamento de cordões holocênicos; 9 = Poleocanais do r i o Paraíba do Sul.

126

. J . > c, .. I -

u Submersáo 1 , ~

m 5 7

FIG. 2 - U M EXEMPLO D E C U R V A DE F L U T U A G ~ O DO N í V E L

RELATIVO DO MAR DURANTE OS ÚLTIMOS zoo0 ANOS NA

ÁREA AO N O R T E D E SALVADOR ( E S T A D O DA 6 A H l A ) .

,,., Emersã0 3 ,.. .

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1 27

A 1 FASE I NlCl A L 1) BI PERI'ODO DE ENCHENTE

C I PERíODO DE V A Z A N T E I( D I NOVO PERíODO D E ENCHENTE

1'05'

v o o '

I

F l G . 4 - DESEMBOCADURA DO RIO PARAíBA DO SUL E MECA- NISMO D E BLOQUEIO D E AREIA SUPRIDA POR CORRENTES DE

D E R I V A LITORÂNEA D I R I G I D A S DO SUL PARA o NORTE.

128

r

., Subarredon- m A r r e d o n d o d o Muito dodo arredondado Anguloso Suba'nguloso

FIG. 5 - GRAUS DE ARREDONDAMENTO DE AREIAS DE

DO SUL MEDIDOS NO INTERVALO 0.5-1 mm (5 CLASSES). PRAIAS ATUAIS E DO LEITO FLUVIAL DO RIO P A R A ~ B A

129

m A n g u i o s o S u b a n g u l o s o a s u barredondado

Arredondado o mui- to a r r e d o n d a d o

FIG, 6 - G R A U S DE ARREDONDAMENTO DE AREIAS DE PRAIAS ATUAIS E DO LEITO FLUVIAL DO RIO PARAIBA DO S U L MEDIDOS NO I N T E R V A L O 0,5-Imm (3CLASSES).

130

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- Subanguloso Sobarredon-

Arredondado 1';.151 h$$jondado Anguloso

dado

FIG. 7 - G R A U S D E A R R E D O N D A M E N T O DE A R E I A S DE TERRACOS HOLOCÊNICOS DA PLAN~CIE COSTEIRA DO RIO PARAÍE~ DO SUL MEDI DOS NO INTERVALO 0,s-l mm ( 5 CLASSES).

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131

Fante f luvial

3

Fonte marinha Fante I luviol I \ 7-

Guaxi nd i bo vz

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0 0 0 0 0 0

L

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[;121 Subanguloso a a Arredondado o mu¡- subarredondado to arredondado

FIG. 8 - GRAUS DE ARREDONDAMENTO DE AREIAS DE TER- RAGOS HOLOCÊNICOS DA PLANíCIE COSTEIRA DO RIO PARAí- BA DO S U L MEDIDOS NO INTERVALO 0,5-Imm(3 CLASSES).

132