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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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Delineamento de pesquisas e projetos interdisciplinares conduzidos pelo Núcleo de Estudos e
Observação de Gestão, Aprendizagem e Pessoas (NEOGAP), UFSC
Carolina Schmitt Nunes Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Maricel Karina López Torres Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Paulo Cristiano de Oliveira Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Marina Keiko Nakayama Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
1. Introdução
O Núcleo de Estudos e Observação de Gestão, Aprendizagem e Pessoas (NEOGAP) está inserido em
um contexto interdisciplinar, tendo como objetivo estudar a criação do conhecimento e o compartilhamento
do conhecimento. Os estudos do grupo têm sido conduzidos em ambientes organizacionais e educacionais,
inseridos em um contexto pedagógico, sociológico, antropológico e organizacional. Na discussão da teoria e
prática da interdisciplinaridade, torna-se oportuno conhecer qual o delineamento das pesquisas
interdisciplinares realizadas pelo NEOGAP e como está explicitado o caráter interdisciplinar? Diante disso,
este artigo tem por objetivo contribuir com o debate sobre os delineamentos adotados em pesquisas
interdisciplinares, promovendo a discussão entre a teoria e a prática.
O desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares é uma característica do NEOGAP. Nos últimos
quatro anos, foram desenvolvidos projetos de pesquisa e de extensão, de caráter interdisciplinar, que
resultaram em publicações nacionais e internacionais, teses, dissertações e outras. Os projetos receberam
financiamentos de diferentes órgãos, como o Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Estado de Santa Catarina (FAPESC). O intuito é avançar o conhecimento científico sobre as temáticas em
estudo e cumprir seu papel enquanto parte de uma universidade, proporcionando à sociedade um retorno
através de melhorias nos campos em pesquisa.
No que se refere ao delineamento das pesquisas interdisciplinares, vem sendo conduzidos estudos de
caso, destacando-se a Grounded Theory (GT) para coletar e analisar dados coletados de fontes de papel e
fornecidos por pessoas, bem como, para produzir teoria substantiva sobre os temas apresentados. As técnicas
de coleta de dados incluem entrevistas, questionários e utilização de documentos. Os dados são coletados,
codificados e analisados, com o apoio de software (LimeSurvey e o ATLAS.ti).
Notadamente, os estudos têm se inserido nas discussões da interdisciplinaridade, orientadas à gestão
do conhecimento e mídias do conhecimento, cuja ênfase reside na integração e interrelacionamentos entre as
pessoas e os processos sociais, ao encontro do proposto por Alves, Brasileiro e Brito (2004). Considera-se
que a interdisciplinaridade pode auxiliar na superação da dissociação do conhecimento produzido e dirigir a
produção de uma nova ordem de conhecimento, constituindo condição necessária para a superação da
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fragmentação do conhecimento, orientando a formação global do homem (FAVARÃO; ARAÚJO, 2004;
THIESEN, 2008). Assim, na medida em que o NEOGAP vem desenvolvendo pesquisas de caráter
interdisciplinar, isso decorre da adoção de delineamentos que se entendem adequados para a perspectiva de
promoção de reflexões que têm levado a uma compreensão mais ampla dos processos organizacionais. A
complexidade e os paradoxos que emergem dos estudos voltados à gestão do conhecimento encontram, na
interdisciplinaridade, um caminho que respeita, amplia e consolida o alcance destes estudos e, por
conseqüência, do próprio NEOGAP.
2. Referencial Teórico
Não existe apenas um conceito para interdisciplinaridade. Cada enfoque dado à interdisciplinaridade
depende da linha teórica de quem pretende defini-la (FAZENDA, 2002). O termo interdisciplinaridade pode
ser confuso e utilizado para se remeter a realidades e propósitos os mais diversos (MINAYO, 1994). Dessa
forma, o referencial teórico do artigo abordará os conceitos de interdisciplinaridade, apresentará uma visão
histórica da interdisciplinaridade, indicará os objetivos da interdisciplinaridade e contextualizará a
interdisciplinaridade no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da
Universidade Federal de Santa Catarina, no qual o NEOGAP está vinculado.
2.1 Conceito de Interdisciplinaridade
Inicia-se pela apresentação do conceitos proposto por Japiassu (1976, p.74), para quem “A
interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de
integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. Para Francischett (2005), a
interdisciplinaridade incorpora os resultados de várias disciplinas e algumas atitudes interdisciplinares
dependem da cultura, da comunicação de especialistas e que eles transcendam sua própria especialidade,
tomando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições das outras disciplinas. Já a
disciplinaridade significa a exploração científica especializada de determinado domínio homogêneo de
estudo e a multidisciplinaridade significa a gama de disciplinas ligadas principalmente pelo diálogo entre os
especialistas.
Quanto à definição de conceitos, ou de um conceito para interdisciplinaridade, isso ainda parece estar
em elaboração. Qualquer demanda por uma definição unívoca e definitiva deve ser a princípio rejeitada, por
tratar-se de uma proposta que está sendo construída (inevitavelmente) a partir das culturas disciplinares
existentes e porque encontrar o limite objetivo de sua abrangência conceitual significa concebê-la numa
óptica também disciplinar (THIESEN, 2008).
A discussão sobre a temática da interdisciplinaridade tem sido tratada a partir de duas abordagens: a
abordagem epistemológica e a abordagem pedagógica. Ambas abordagens incluem conceitos diversos e
muitas vezes complementares. Na epistemologia, toma-se como categorias para seu estudo o conhecimento
em seus aspectos de produção, reconstrução e socialização; a ciência e seus paradigmas; e o método como
mediação entre o sujeito e a realidade. Na pedagogia, discutem-se fundamentalmente questões de natureza
curricular, de ensino e de aprendizagem escolar (THIESEN, 2008).
A interdisciplinaridade pode ser entendida como composta por um grupo de disciplinas conexas e
com objetivos comuns. Ela encontra-se em um nível acima da disciplina, ou área que coordena e define
finalidades, ocorrendo intensa troca entre especialistas. O horizonte epistemológico é o campo unitário do
conhecimento, a negação e a superação das fronteiras disciplinares, a interação propriamente dita
(Francischett, 2005).
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Francischett (2005) complementa dizendo que no termo Interdisciplinaridade, pode-se identificar os
seguintes componentes linguísticos: inter = prefixo latino que significa posição ou ação intermediária,
reciprocidade, interação; disciplina = núcleo do termo; epistemé = funcionamento de uma organização, e,
dade = idade, sufixo latino com sentido de ação, resultado de ação ou qualidade.
O que poderia ser interdisciplinaridade senão a construção de um sistema complexo que visa integrar
as verdades de cada disciplina como unidades simples, aceitando suas diferenças e respeitando a
complexidade de sua própria formação, reintegrando cada disciplina em um todo que já foi um dia
naturalmente unido. A interdisciplinaridade deve perceber cada disciplina como sendo inseparável da
construção do todo do qual passa a fazer parte, distinguindo-o, porém, desse mesmo todo (PACHECO et al.,
2010).
Para Minayo (1994), torna-se praticamente impossível conceituar consensualmente a
interdisciplinaridade. De um lado há uma "interdisciplinaridade implícita" não dita, interna, própria da
racionalidade científica que, pelo avanço de conhecimentos acaba criando disciplinas. Por outro lado, há um
uso interdisciplinar constituído externamente através de campos operativos que articulam ciência, técnica e
política, sobretudo através de intervenções sociais.
Frente ao que foi apresentado até aqui, pode-se afirmar que a interdisciplinaridade, tanto em sua
abordagem epistemológica quanto pedagógica, está sustentada por um conjunto de princípios teóricos
formulados por autores que analisam criticamente o modelo positivista das ciências e buscam resgatar o
caráter de totalidade do conhecimento. Neste sentido, as abordagens teóricas construídas pela óptica da
dialética, da fenomenologia, da hermenêutica e do paradigma sistêmico são formulações que sustentam esse
movimento, produzindo mudanças profundas no mundo das ciências em geral e da educação em particular.
(THIESEN, 2008).
Para Minayo (1994), a partir da discussão sobre o conceito de interdisciplinaridade, pode-se chegar a
alguns pontos comuns, mesmo reconhecendo suas eventuais controvérsias. Esses pontos comuns são:
a interdisciplinaridade não pode ser acolhida de forma ingênua como uma “panacéia” para os
males do campo científico;
o conceito em questão, embora seja uma constante nas preocupações epistemológicas, porque
aparece em todas as épocas históricas no campo da ciência, deve receber um tratamento
diferenciado no mundo contemporâneo levando-se em conta as condições de produção do saber.
a experiência tem mostrado que temas complexos são impossíveis de serem tratados
isoladamente, pois os êxitos dependem: de reunião de pessoas capazes de dialogar e dispostas a
isso; de reunião de pessoas competentes em suas áreas disciplinares, dispostas a compreender a
problemática específica da matéria de colaboração; em conseqüência, do diálogo e competência
redundam a discussão de conceitos, triangulação metodológica e colaboração na análise dos
resultados. Além, evidentemente, da discussão do conteúdo social e ético da produção científica.
as funcionalidades cada vez mais velozes na prática científica e as controvérsias sobre inter e
transdisciplinarídade não podem escamotear um debate critico sobre o esfacelamento do
conhecimento, os encastelamentos de saber e poder, a alienação do processo de conhecimento
em relação ao mundo da vida.
A mesma autora aponta que mais do que um conceito, é importante mostrar as controvérsias, a
pluraridade de sentido e as possibilidades de pesquisa que o termo traduz. Neste sentido, a seguir, será
apresentado o histórico da interdisciplinaridade.
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2.2 Histórico da Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico ou gnosiológico surgiu na segunda
metade do século passado, em resposta a uma necessidade verificada principalmente nos campos das
ciências humanas e da educação. A necessidade de superar a fragmentação e o caráter de especialização do
conhecimento, causados por uma epistemologia de tendência positivista em cujas raízes estão o empirismo,
o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade. Sobretudo pela influência dos trabalhos
de grandes pensadores modernos como Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Darwin e outros, as ciências
foram sendo divididas e, por isso, especializando-se. Organizadas, de modo geral, sob a influência das
correntes de pensamento naturalista e mecanicista, buscavam, já a partir da Renascença, construir uma
concepção mais científica de mundo (THIESEN, 2008).
O movimento histórico que vem indicando o enfoque interdisciplinar constitui um dos pressupostos
diretamente relacionados a um contexto mais amplo e também muito complexo de mudanças, que abrange
inúmeros setores da vida social, como a economia, a política e a tecnologia. Trata-se de uma grande
mudança paradigmática que está em pleno curso. Neste sentido, a necessidade da interdisciplinaridade na
produção e na socialização do conhecimento vem sendo discutida por vários autores, principalmente por
aqueles que pesquisam as teorias curriculares e as epistemologias pedagógicas (THIESEN, 2008).
Para Francischett (2005), o movimento sobre a interdisciplinaridade surgiu na Europa (especialmente
na França e na Itália), em meados da década de 1960, como tentativa de elucidação e de classificação
temática das propostas educacionais, como compromisso de alguns professores universitários que
procuravam romper a “educação por migalhas”.
Interdisciplinaridade é tida como um ponto de vista capaz de exercer uma reflexão aprofundada,
crítica e salutar sobre o funcionamento da instituição universitária, o desenvolvimento da pesquisa e da
inovação. A pesquisa sobre interdisciplinaridade foi iniciada no Brasil, no começo da década de 1970. Em
nome da interdisciplinaridade, iniciado no final dos anos 50, passando pela década de 1960 e de 1970, estava
o “tempo do silêncio” (FRANCISCHETT, 2005).
Em 1960, a interdisciplinaridade chega ao Brasil como uma espécie de modismo ou de palavra de
ordem, como semente e produto das reformas educacionais empreendidas entre 1968 e 1971. Na década de
1970, a construção epistemológica da interdisciplinaridade, deu-se a partir da busca de uma explicitação
filosófica, da procura de uma definição para a interdisciplinaridade e de explicitação terminológica porque a
palavra era muito difícil de ser decifrada (FRANCISCHETT, 2005).
Na década de 1980 houve a explicitação das contradições epistemológicas decorrentes da construção
da década de 1970 e de uma diretriz sociológica, com tentativas de explicitar um método para a
interdisciplinaridade (FRANCISCHETT, 2005). Já na década de 1990, se buscou construir uma nova
epistemologia, como uma própria epistemologia da interdisciplinaridade em busca de um projeto
antropológico. É a fase da revisão atual do conceito de ciência, em que há exigência de uma nova
consciência, não apoiada apenas na objetividade, mas que assume a subjetividade (FRANCISCHETT,
2005).
Assim, a interdisciplinaridade, pode ser vista como um movimento contemporâneo que emerge na
perspectiva da dialogicidade e da integração das ciências e do conhecimento, vem buscando romper com o
caráter de hiperespecialização e com a fragmentação dos saberes. É um movimento que acredita na
criatividade das pessoas, na complementaridade dos processos, na inteireza das relações, no diálogo, na
problematização, na atitude crítica e reflexiva, enfim, numa visão articuladora que rompe com o pensamento
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disciplinar, parcelado, hierárquico, fragmentado, dicotomizado e dogmatizado que marcou por muito tempo
a concepção cartesiana de mundo (THIESEN, 2008).
2.3 Objetivos da Interdisciplinaridade
Quanto aos objetivos da interdisciplinaridade a literatura apresenta visões distintas. Por exemplo,
para Francischett (2005) os projetos interdisciplinares devem buscar a construção coletiva de um novo
conhecimento prático ou teórico para os problemas da educação; pesquisa práticas particulares e procura
compreender melhor a realidade das ciências.
A mesma autora complementa que a questão interdisciplinar tem como propósito superar a dicotomia
entre: teoria e prática; pedagogia e epistemologia; entre ensino e produção de conhecimento científico;
apresenta-se contra um saber fragmentado, em migalhas, contra especialidades que se fecham; apresenta-se
contra o divórcio crescente na universidade, cada vez mais compartimentada, dividida, subdividida e contra
o conformismo das situações adquiridas e das idéias recebidas ou impostas (Francischett, 2005).
Na visão de Minayo (1994), o objetivo da interdisciplinaridade pode ser combater a dispersão de
conhecimento, que corresponde à divisão de trabalho intelectual presente na disciplinaridade; ele não
deveria resultar em contradições entre os pesquisadores e o resultado de seus trabalhos. Complementando
essa ideia, a interdisciplinaridade pode auxiliar na superação da dissociação do conhecimento produzido e
orientar a produção de uma nova ordem de conhecimento, constituindo condição necessária para a superação
da fragmentação, orientando a formação global do homem (FAVARÃO; ARAÚJO, 2004).
Para que a história da ciência pudesse realizar a mencionada aproximação, ela deveria continuar a
desfrutar de seu caráter híbrido ou interdisciplinar. Ela não se resumiria, nem se restringiria à ciência ou à
história, permanecendo acima de ambas. Ao permanecer acima das duas e ao responder à necessidade de
aproximar os mundos da ciência e da sociedade, aqui compreendida em sentido amplo, a história da ciência
seria também um tipo de conhecimento transdisciplinar, na medida em que deveria ser capaz de mostrar que
a ciência sempre respondeu às necessidades e aos anseios da sociedade (VIDEIRA, 2004).
De modo geral, a literatura sobre esse tema mostra que existe pelo menos uma posição consensual
quanto ao sentido e à finalidade da interdisciplinaridade: ela busca responder à necessidade de superação da
visão fragmentada nos processos de produção e socialização do conhecimento (THIESEN, 2008).
2.4 Desafios da Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade possui muitos desafios. Segundo Gattás e Fugerato (2006), o estudo da
interdisciplinaridade não está suficientemente desenvolvido e, por isso, muitas vezes não oferece segurança
teórica para os pesquisadores. Além disso, a interdisciplinaridade não ocorre apenas envolvendo os saberes,
mas também, intersubjetividades, isto é, o processo no nível metodológico para aqueles que se sentem
atraídos para desenvolver um trabalho interdisciplinar. As autoras complementam dizendo que há falta de
compreensão do tema pois, para muitos pesquisadores, trata-se de uma abordagem difícil de ser entendida e
aplicada, envolvendo variáveis que podem fugir do controle em função de que dependem da construção de
um trabalho coletivo.
Divergências e críticas apresentadas por alguns autores têm destacado a forma como a
interdisciplinaridade é descrita na literatura (GATTÁS; FUREGATO, 2006). Neste sentido, a
interdisciplinaridade não se funda no plano metafísico, na vontade do sujeito, mas, como produto da ciência,
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cuja integração do conhecimento é processada nas estruturas internas do indivíduo, ao conhecer seu objeto
de estudo. Assim, a interdisciplinaridade pode ser vista como uma ação de transposição do conhecimento
produzido e conhecimento conhecido para as estruturas internas dos indivíduos e não apenas como um ato
voluntário que estaria associado à construção de um trabalho coletivo. Daí resulta a dificuldade para sua
operacionalização.
Vale destacar que o tema interdisciplinaridade é instigante, mas pouco conhecido na prática. Daí
também requer uma reflexão profunda por parte da academia. A adesão de pesquisadores a um projeto
interdisciplinar necessita de transformações, desconstruções e reconstruções do que é apresentado
tradicionalmente na ciência. Nisso está implícito o processo de aprender a aprender e o de aprender a
conviver com pesquisadores de outras áreas de conhecimento. Isso não deixa de ser um desafio para todos
aqueles que se sentem atraídos pela sua prática. Respeito, abertura para o outro, vontade de colaboração,
cooperação, tolerância, diálogo, humildade e ousadia são outros aspectos e desafios importantes no processo
interdisciplinar (GATTÁS; FUREGATO, 2006).
Para Francischett (2005), são muitos os desafios para que se possa trabalhar com a
interdisciplinaridade, dentre eles, a autora destaca a dificuldade para se assumir um paradigma teórico-
metodológico que admita contradições, ambigüidades e conviva com incertezas. A dificuldade para se
construir uma perspectiva crítica e reflexiva a respeito da pesquisa. A dificuldade para se construir uma
visão de realidade que vá além dos limites disciplinares, mas sem perder a especificidade. A dificuldade em
criar o conhecimento científico enquanto representação do real e a dificuldade em desinstalar as posições
acadêmicas tradicionais, das situações adquiridas e a abrir para perspectivas e caminhos novos que a
interdisciplinaridade propõe.
Já Lenoir (2006) aponta que o ensino interdisciplinar e a formação para e pela interdisciplinaridade
devem se manter indissociáveis de dimensões: sentido, funcionalidade e intencionalidade fenomenológica.
Isso deve ocorrer para que se possa preservar de toda abordagem exclusivamente fundada na prática ou na
teoria. Daí porque as diferentes perspectivas, que caracterizam a interdisciplinaridade e que procedem de
lógicas e de culturas distintas, devem ser preservadas, para evitar, que ocorra uma padronização do
conhecimento provocada por uma internacionalização, por exemplo.
Também é oportuno destacar que Pombo (2003) afirma que quanto mais interdisciplinar for o
trabalho docente, quanto maiores forem as relações conceituais estabelecidas entre as diferentes ciências,
quanto mais problematizantes, estimuladores, desafiantes e dialéticos forem os métodos de ensino, maior
será a possibilidade de apreensão do mundo pelos sujeitos que aprendem. Essas perspectivas são relevantes
para qualquer área e contexto de estudo. Para fazê-lo, a autora propõe que a pluri (ou multi) disciplinaridade
supõe o pôr em conjunto, ou seja, estabelecer algum tipo de coordenação; em uma perspectiva, colocar
pontos de vista somente em paralelo. Quando se ultrapassa a dimensão do paralelismo e se avança no
sentido de uma combinação, de uma convergência, de uma complementaridade entre as disciplinas, temos a
interdisciplinaridade. Já quando se consegue aproximar de um ponto de fusão, de unificação, quando não
fosse mais possível separar e se passasse a uma perspectiva holista, chegar-se-ia, então, à
transdisciplinaridade. Eis ai mais um importante desafio.
2.5 Interdisciplinaridade no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento
Para Gattás e Furegato (2006), a universidade, enquanto espaço de ensino precisa estar preparada
para a interdisciplinaridade. Daí é preciso promover experiências interdisciplinares que possam facilitar
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novas configurações e apresentações, criando as circunstâncias e os mecanismos que favoreçam a
compreensão dos fenômenos que nela ocorrem.
Pacheco et al. (2010), colocam que desde sua concepção, o Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) da Universidade Federal de Santa Catarina tem caracterizado
seu foco de pesquisa e formação no conhecimento e nos processos que lhe tornam fator gerador de valor na
sociedade contemporânea. Além de considerar o conhecimento enquanto produto, o EGC também trata dos
processos que o tornam gerador de valor. Sua estruturação em áreas de concentração é justamente decorrente
da atribuição de missões interrelacionadas aos processos de codificação/formalização (área de Engenharia);
planejamento e gerência (área de Gestão); e difusão, comunicação e compartilhamento (área de Mídia) do
conhecimento.
O Programa tem seu objeto de pesquisa e formação essencialmente interdisciplinar, ainda que admita
abordagens multidisciplinares para compreender e avançar no conhecimento de partes de seu objeto. Quanto
mais avançado na compreensão do conhecimento como elemento gerador de valor na sociedade contem-
porânea, mais o EGC tem a essência interdisciplinar da natureza de seu objeto e mais consciente tem ficado
da necessidade de se estruturar organizacional, metodológica e pedagogicamente para tratar adequadamente
de sua missão.
A missão do EGC é unir os desenvolvimentos científicos e tecnológicos da Engenharia, da Gestão e
da Mídia do Conhecimento, seus instrumentos de mensuração e análise e suas técnicas de ciência aplicada
para o desenvolvimento da sociedade. Essa missão tem sido buscada pelo foco no ensino, na pesquisa, no
desenvolvimento e na implementação de métodos e técnicas para a promoção da criação, da codificação, do
gerenciamento e da disseminação do conhecimento entre a universidade e os diversos segmentos da
sociedade, independentemente da localização geográfica ou temporal dos agentes desse processo
(PACHECO et al., 2010).
A vivência interdisciplinar do EGC não se propõe anular a essência de nenhuma das disciplinas com
as quais entra em contato, pelo contrário, o olhar próprio de cada disciplina continuará existindo, pois dela
são buscadas as forças que darão unidade e coerência ao novo, mas esse novo, por sua vez, alimentará
mudanças na própria disciplina, ajudando-a também a se desenvolver (PACHECO et al., 2010).
O EGC entende que ser interdisciplinar é se permitir experimentar novas técnicas e procedimentos,
indo além da visão de mundo do programa que deu origem ao pesquisador, mas respeitando os valores in-
trínsecos aos diferentes métodos e instrumentos de cada disciplina que vem lhe constituindo. Entretanto, a
dificuldade de levar a teoria à prática interdisciplinar é real, tanto pela dificuldade de estar em contato direto
e constante com colegas com visões de mundo diversas, que questionam sempre os novos caminhos e isso
pode exigir que o pesquisador esteja preparado a defender suas ideias a cada momento. Há também a
dificuldade de que o pesquisador se mantenha motivado a insistir no diálogo, não se permitindo entrar em
estado de defesa e desista do caminho novo pela dificuldade de desbravá-lo ou justamente pela dificuldade
no diálogo (PACHECO et al., 2010).
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3. Procedimentos Metodológicos
Quanto aos procedimentos metodológicos, trata-se de um estudo de caso, com o propósito de
descrever a prática da pesquisa acadêmica interdisciplinar junto a um grupo de pesquisa pertencente ao EGC
(GIL, 2011), apresentado na forma de relato de experiência da atuação do NEOGAP. O estudo está
amparado por pesquisa documental, envolvendo documentos institucionais e acadêmicos escritos que
abordam a interdisciplinaridade na perspectiva dos processos virtuais, da construção de confiança e dos
processos de gestão do conhecimento.
Foram selecionados os projetos de pesquisa e de extensão para analisar-se o seu delineamento e a
prática da interdisciplinaridade entre os sujeitos envolvidos e na abordagem da pesquisa. O critério de tempo
foi adotado para eleger os projetos que foram analisados, limitado a período entre 2009 a 2012 (quatro anos
anteriores a 2013). Além do critério de tempo, a complexidade e a abrangência deles, os projetos também
foram selecionados devido aos sujeitos envolvidos na condução deles: mestrandos, doutorandos e
professores do EGC e de outros programas e departamentos da UFSC.
Ao total foram analisados quatro projetos ao longo do período, sendo três projetos de pesquisa e um
projeto de extensão. Ambos tipos de projetos resultaram em produções científicas, incluindo teses e
dissertações.
Os projetos foram descritos quanto aos seus objetivos, recursos humanos envolvidos e alcance. Feito
isso, as teses e dissertações resultantes foram analisados quanto ao seu delineamento (pesquisa bibliográfica,
documental, experimental, ex-post-facto, levantamento de campo, estudo de campo ou estudo de caso), à luz
daqueles propostos por Gil (2008), quem aborda métodos e técnicas de pesquisa social. Por delineamento, o
autor “refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a diagramação
quanto a previsão de análise e interpretação dos dados” (GIL, 2008, p.49).
Somado a isso, discorre-se sobre a(s) principal(is) área(s) de atuação do NEOGAP e a prática da
interdisciplinaridade.
4. Projetos de Pesquisa desenvolvidos no NEOGAP
Nesta seção apresenta-se a descrição dos projetos do NEOGAP, contemplando os seguintes aspectos:
natureza, objetivo, duração, principais resultados, demandante da pesquisa e os envolvidos. No Quadro 1 é
apresentada uma visão geral de cada um dos projetos analisados, contemplando o título, classificando-os
quanto ao tipo, apresentando o seu objetivo e descrevendo os principais resultados alcançados (produtos do
projeto).
Título do Projeto de
Pesquisa
Tipo Objetivo Principais Resultados
Metodologia de
Acompanhamento e
Avaliação do Processo
de Implantação e
Implementação de
Tecnologias
Educacionais –
MEGATED
Pesquisa Elaborar uma Metodologia Geral de
Acompanhamento e Avaliação do
Processo de implantação/implementação
de Tecnologias Educacionais
(MEGATED) que estejam promovendo a
qualidade da educação básica em
instituições educacionais públicas
brasileiras, para o Processo de
Certificação referente às chamadas
Metodologia para a avaliação
do processo de implantação e
implementação de tecnologias
educacionais
Livro Ações Institucionais de
Avaliação e Disseminação de Tecnologias Educacionais
Artigos no SBIE
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públicas do Ministério da Educação.
Quadro 1 – Visão geral dos projetos de pesquisa e de extensão realizados pelo NEOGAP. (continua)
Título do Projeto de
Pesquisa
Tipo Objetivo Principais Resultados
Relações Interpessoais
e a Confiança: a
Mediação por
Ambientes Virtuais
de Ensino
Aprendizagem em
Busca da Criação e
Compartilhamento do
Conhecimento
Pesquisa Estudar e criar alternativas e
possibilidades de solução para a melhoria
nas relações interpessoais em ambientes
virtuais e semi virtuais de ensino e
aprendizagem considerando a confiança,
os níveis de confiança, a criação e o
compartilhamento do conhecimento.
Tese de doutorado: A
Confiança e as Relações
Interpessoais Assegurando o
Compartilhamento do
Conhecimento no Ambiente
Virtual de Aprendizagem.
Dissertação de mestrado: O
compartilhamento de
conhecimento entre agentes de
um curso na modalidade EaD:
Um estudo de Caso
Artigos científicos publicados
em revistas e congressos
nacionais.
Estudo da Contribuição
do Projeto Prêmio
Professores do Brasil na
Educação Básica
Pesquisa Compreender a contribuição dos
resultados obtidos com os projetos
selecionados no contexto da comunidade
escolar e da sociedade, através de
levantamento de dados, análise
documental, reuniões e visitação aos
locais de origem das experiências
pedagógicas selecionadas no Prêmio
Professores do Brasil.
III Workshop Ações
Institucionais de Avaliação e
Disseminação de tecnologias
Educacionais
Aluno Integrado Extensão Capacitar alunos a partir da nona série do
ensino fundamental da rede pública de
ensino no que se refere a manutenção de
computadores e informática básica.
II Workshop Ações
Institucionais de Avaliação e
Disseminação de tecnologias
Educacionais;
Tese: Gestão do conhecimento
e conflitos interorganizacionais
em EaD: construção de uma
teoria substantiva
Dissertação: Mapeamento da
disposição individual de
compartilhar conhecimento a
partir dos níveis de consciência
informados pela teoria e
instrumento de Loevinger.
Artigos científicos publicados
em revistas e congressos
nacionais.
Quadro 1 – Visão geral dos projetos de pesquisa e de extensão realizados pelo NEOGAP.
Fonte: dados primários.
A partir do Quadro 01, apresenta-se cada um dos projetos com mais detalhamento, enfatizando o
contexto em que surgiram e como foram conduzidos.
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4.1 Metodologia de Acompanhamento e Avaliação do Processo de Implantação e
Implementação de Tecnologias Educacionais – MEGATED
A partir da publicação do Guia de Tecnologias Educacionais, em 2009, composto pela descrição de
112 tecnologias previamente cadastradas pelo Ministério da Educação e Cultura, surgiu o questionamento
acerca de quais fatores poderiam interferir no processo de implantação ou implementação de uma tecnologia
educacional em uma escola pública brasileira de ensino básico. E, dentre os fatores, quais dimensões
poderiam ser avaliadas para a certificação de uma tecnologia educacional. Nesse contexto, nasceu o projeto
de pesquisa intitulado MEGATED em uma parceria entre o Grupo de pesquisa em Inteligência Artificial e
Tecnologia Educacional – IATE e o NEOGAP, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina.
O propósito principal dessa parceria consistia em elaborar uma metodologia geral de
acompanhamento e avaliação do processo de implantação e implementação de tecnologias educacionais que
buscam promover a qualidade da educação básica em instituições educacionais públicas brasileiras, com a
finalidade de contribuir para o Processo de Certificação das mesmas, referente às chamadas públicas do
Ministério da Educação. Para o alcance desse objetivo, a Megated empregou o conceito de
Metatriangulação. A partir dos paradigmas funcionalista, inferencial, interpretativista e de temporalidade, os
dados foram analisados pelos enfoques quantitativo, qualitativo e transversal. Na triangulação dos dados,
participaram: Coordenadores de Tecnologia da Secretaria Municipal de Educação (SME); Representantes do
Ministério da Educação; Representantes das Instituições Fornecedoras das Tecnologias Educacionais;
Diretores de escola; Professores; e Coordenadores das Tecnologias Educacionais das Instituições
Fornecedoras. O projeto foi iniciado em junho de 2009 e terminado em janeiro de 2011 e foi financiado pelo
Ministério da Educação e Cultura (MEC).
4.2 Relações Interpessoais e a Confiança: a Mediação por Ambientes Virtuais de Ensino
Aprendizagem em Busca da Criação e Compartilhamento do Conhecimento
O advento da expansão da Educação a Distância e da inclusão digital no Brasil, na última década,
provocou mudanças e desdobramentos. Dentre estas, observa-se que a confiança e as relações interpessoais,
quando mediadas por tecnologias da informação e comunicação como ambientes virtuais de aprendizagem,
apresentam especificidades diferentes daquelas já conhecidas em situações presenciais. Considerando, ainda,
a crescente necessidade do desenvolvimento do conhecimento como modo de subsistência na sociedade
atual e os problemas vivenciados pelos sujeitos envolvidos, principalmente no que se refere às relações
interpessoais neste ambiente, o projeto de pesquisa buscou investigar quais as alternativas e possibilidades
de solução para a melhoria nas relações interpessoais em ambientes virtuais de ensino e aprendizagem,
considerando a confiança e os níveis de consciência.
No que tange ao delineamento da pesquisa, foram conduzidos estudos de caso, destacando-se a
Grounded Theory (GT) para coletar e analisar dados de fontes de papel e fornecidos por pessoas através de
entrevistas. Os participantes da pesquisa foram agentes do curso de Administração na modalidade a
distância, ofertado pela Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa foi conduzida por alunos da
pós-graduação do Programa Engenharia e Gestão do Conhecimento, bem como, pela professora
coordenadora do grupo NEOGAP. O projeto teve início em 2011 e foi finalizado nos primeiros meses de
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na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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2013, com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
(FAPESC).
4.3 Estudo da Contribuição do Projeto Prêmio Professores do Brasil na Educação Básica
O Prêmio Professores do Brasil é uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura em parceria
com a Fundação Orsa e a Fundação Bunge. O prêmio foi instituído em 2005, com o intuito de acompanhar o
andamento das propostas vencedoras das edições pretéritas do prêmio e conhecer o impacto que cada qual
causou, em diferentes dimensões. O objetivo do prêmio é reconhecer o mérito de professores das redes
públicas de ensino que, através de iniciativas pedagógicas bem sucedidas, criativas e inovadoras, contribuem
para a melhoria da qualidade do ensino oferecida as crianças e jovens. Diante disso, o objetivo norteador da
pesquisa consistiu em compreender a contribuição dos resultados obtidos com os projetos selecionados no
contexto da comunidade escolar e da sociedade, através de levantamento de dados, análise documental,
reuniões e visitação aos locais de origem das experiências pedagógicas selecionadas no Prêmio Professores
do Brasil.
A condução da pesquisa se deu em dois momentos. Inicialmente, com uma abordagem quantitativa,
buscou-se coletar dados com toda a população envolvida: professores premiados, diretores da escola onde o
professor premiado trabalhava e o representante da associação de pais e professores da referida escola. Para
tal, o grupo de pesquisadores construiu um instrumento de coleta de dados e validou com uma das escolas
envolvidas na pesquisa. O questionário foi disponibilizado no software Lime Survey e através dele os dados
foram coletados, armazenados e analisados por professores do departamento de Informática e Estatística-
UFSC. No segundo momento, a abordagem predominante foi a qualitativa. Nesse momento foram realizadas
entrevistas com os participantes da pesquisa no local de trabalho deles, ou seja, na escola. Nessa
oportunidade foi possível verificar o andamento do projeto in loco e os impactos gerados naquele contexto, a
partir da premiação. As entrevistas foram realizadas por diferentes membros da equipe. A intenção ao
envolver todos os membros da equipe nessa atividade, foi poder contemplar uma maior diversidade de
olhares sobre o objeto da pesquisa. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas com o suporte do
software Atlas TI, por uma professora do Departamento de Administração – UFSC, uma professora e uma
aluna de mestrado do Departamento EGC- UFSC. O projeto teve início em outubro de 2011, com término
em dezembro de 2012 e foi financiado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).
4.4 Projeto de Extensão Aluno Integrado
O Aluno Integrado faz parte do Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia
Educacional chamado ProInfo, criado pela Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997, com o objetivo de
promover o uso pedagógico das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas redes públicas de
educação básica (ALUNOINTEGRADO, 2013).
O objetivo do Proinfo Integrado é promover o uso pedagógico das Tecnologias de Informação e
Comunicação nas redes públicas de educação básica. O programa leva às escolas computadores, recursos
digitais e conteúdos educacionais. Em contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a
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estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os estudantes e professores para o uso dos
equipamentos e tecnologias.
Para capacitar alunos da educação básica pública em matéria de informática básica, o programa criou
o curso Aluno Integrado na modalidade a distância. O foco esteve centrado na educação e tecnologia, com o
intuito de proporcionar ampliação do conhecimento nesta área, buscando explorar diferentes perspectivas na
educação básica. Esse curso foi direcionado para estudantes a partir do nono ano, matriculados em
instituições públicas federais, estaduais ou municipais, com carga horária de 180 horas e duração de
aproximadamente 4 meses. O curso foi ofertado por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e-
Proinfo. Ao longo do curso os estudantes aprenderam conceitos centrais da modalidade educacional
educação a distância, história da informática, hardware (equipamentos), manutenção de computadores e
sistemas operacionais.
Em 2010 foram ofertadas 70.000 vagas em todo Brasil, sendo que a Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) ficou responsável por 15.000 do total de vagas ofertadas nos estados do Mato Grosso do
Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O projeto foi iniciado em março de 2010 e concluído em
abril de 2011. Em 2013, uma nova edição do projeto foi colocado em prática.
5. Prática da Interdisciplinaridade nos projetos do NEOGAP
No que se refere à prática da interdisciplinaridade nos projetos do NEOGAP, entende-se que ela está
caracterizada pela participação de pesquisadores de diferentes formações e com diferentes áreas de atuação.
Segundo Francischett (2005), a interdisciplinaridade pode ser caracterizada pelas trocas intensas entre
especialistas. Nessa perspectiva, observa-se que os projetos do referido grupo primam por essa troca entre os
especialistas. É oportuno salientar que os projetos não envolvem apenas membros do grupo NEOGAP, em
geral pesquisadores de outros grupos com especialidades que o grupo não detêm participam dos projetos.
No que se refere ao delineamento das pesquisas, é recorrente a condução de estudos de caso e
estudos de campo, de cunho qualitativo ou empregando métodos mistos. Nesse sentido, não foram
identificados autores que indiquem preferência por uma ou outra forma de abordagem a ser adotada. Quiçá,
seja mais relevante considerar que a escolha por tais delineamentos permitiram a prática da
interdisciplinaridade nos contextos em que cada projeto foi desenvolvido, tendo como meta a superação da
fragmentação dos conhecimentos, ao encontro de uma abordagem de natureza interdisciplinar e superando o
risco de contradição entre pesquisador e resultados, preocupação indicada por Minayo (2004).
No projeto Estudo da Contribuição do Projeto Prêmio Professores do Brasil na Educação Básica a
condução da pesquisa se deu por professores do Departamento de Informática e Estatística da UFSC, por
professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, professores
Núcleo de Estudos em Ciências e Matemática do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense – IFSUL da
Universidade Federal de Pelotas – UFPeL, professores do departamento de educação da UFSC e do
departamento de Administração da UFSC. Ao longo do projeto, reuniões periódicas eram realizadas para a
discussão de determinados pontos como, por exemplo, para a construção do instrumento de pesquisa que foi
aplicado na primeira parte da pesquisa. A discussão entre os membros do projeto, com diferentes
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experiências e perspectivas, trouxe resultados de maior qualidade. Outra ação importante foi o esforço de
que todos os integrantes da pesquisa realizassem ao menos uma das entrevistas. A intenção ao envolver
todos os membros da equipe nessa atividade, foi poder contemplar uma maior diversidade de olhares sobre o
objeto da pesquisa e assim compreendê-lo melhor. Ao final do projeto, foi realizada uma reunião para
apresentação dos resultados com a equipe que conduz a premiação e com os representantes do MEC. Na
oportunidade, uma discussão integrada foi realizada, de forma participativa, e dessa pode-se tirar sugestões
e melhorias para futuras edições do projeto.
No projeto Aluno Integrado, a equipe gestora do projeto foi formada por professores e alunos do
departamento de Informática e Estatística, por professores e alunos do Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento, por professores e alunos do Departamento de Administração e por
professores e alunos do curso de Pós-graduação em Educação, todos da UFSC. A diversidade de formação
dos envolvidos contribuiu muito, em virtude das características do projeto. Por se tratar de um curso a
distância, a experiência dos envolvidos do Departamento de Administração e de Engenharia e Gestão do
Conhecimento em gestão de cursos de EaD foi fundamental na condução do curso, em contrapartida os
envolvidos do Departamento de Informática e Estatística contribuíram com o domínio do AVA utilizado e
dos sistemas de gestão paralelos. Destaque-se que, na condução desse projeto, as decisões foram tomadas
em forma de colegiado, sempre havendo a discussão dos impactos daquela decisão no andamento global do
projeto. Ao final do projeto, foi realizado um Workshop no qual se tratou de discutir os pontos críticos do
projeto. Essa ação ocorreu em parceria com o MEC, com algumas das secretárias estaduais de educação
envolvidas e com membros do laboratório da Universidade Federal de Goiás, que criou o ambiente virtual
utilizado.
No projeto Metodologia de Acompanhamento e Avaliação do Processo de Implantação e
Implementação de Tecnologias Educacionais – MEGATED a condução se deu por professores do
Departamento de Informática e Estatística e por professores e alunos do Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento e professores e alunos do Curso de Pós-graduação em Educação.
Neste caso, a interdisciplinaridade ficou mais evidente no procedimento metodológico adotado: a
metatriangulação dos paradigmas e das diferentes fontes de dados.
No projeto Relações Interpessoais e a Confiança: a Mediação por Ambientes Virtuais de Ensino
Aprendizagem em Busca da Criação e Compartilhamento do Conhecimento, a condução se deu por alunos
do programa EGC, por uma professora do EGC e uma do departamento de Administração. No que se
referem à formação prévia, todos os envolvidos apresentam alguma formação em administração (em nível
de graduação ou mestrado), e também apresentam experiência em gestão da EaD (que é o contexto do
projeto), muito embora essa experiência seja sob diferentes enfoques. O processo de pesquisa foi
enriquecido, pois todas as entrevistas foram realizadas em conjunto (ao menos dois dos quatro integrantes a
realizavam), o que proporcionou momento de intensa troca de perspectivas, compreensões e gerou uma
reflexão mais abrangente daquela realidade.
Além da troca intensa entre especialistas, outra característica interdisciplinar dos projetos do
NEOGAP é apresentar como campo de pesquisa a educação, seja ela na modalidade presencial ou a
distância. Segundo Francischett (2005), a interdisciplinaridade busca a construção coletiva de um novo
conhecimento, prático ou teórico, para os problemas da educação. Ou seja, ao buscar estudar e criar
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alternativas para a melhoria das relações interpessoais em ambientes virtuais (projeto Relações Interpessoais
e a confiança) ou construir uma metodologia para avaliação de tecnologias educacionais (MEGATED) ou
ainda estudar o impacto de uma premiação para professores na escola, na comunidade e na vida pessoal do
professor, o grupo está na busca por construir novos conhecimentos que visam melhorar a educação como
um todo.
As características da prática da interdisciplinaridade se constituem desafio na medida em que as
necessárias atitudes de abertura à análise e opinião de diferentes especialistas exigem reflexão, humildade,
aceitação e prontidão para mudança de crenças e até mesmo de valores durante o processo de
compartilhamento e construção de uma metodologia, teoria ou modelo.
O resultado, na maior parte das vezes, é compensador porque os pesquisadores da área das ciências
exatas passam a compreender e valorizar aspectos subjetivos e intangíveis e os pesquisadores das ciências
humanas passam a compreender e valorizar aspectos objetivos e tangíveis dos processos. Situações em que
colegas do Departamento de Informática e Estatística participaram da capacitação e foram fazer entrevistas,
transcrever e discutir os resultados e os colegas da Pedagogia discutiam e sugeriam os dados quantitativos e
de tratamento dos dados.
5. Considerações Finais
Discorrer sobre a prática da interdisciplinaridade não consiste em tarefa fácil. Porém, ao longo do
relato apresentado, entende-se que algumas decisões na condução dos projetos podem ser significativas para
integrar saberes e obter resultados que superem a especialização das áreas, ao executar projetos de extensão
e projetos pesquisa.
Se a teoria nos apresenta dúvidas, é na prática que elas se apresentam ainda mais desafiadoras. No
que se refere ao objetivo do NEOGAP, no que concerne à criação e ao compartilhamento de conhecimento,
evidenciam-se os desafios impostos na busca de comunicação respeitosa entre pessoas que possuam
opiniões divergentes, na necessária disposição (abertura) para mudar de opinião quando necessário, nas
crenças e valores inerentes a cada pessoa envolvida e respectivo aos desafios apresentados por um constante
processo de aprendizado (no contato com novos conhecimentos e saberes, inerentes às diferentes áreas
envolvidas).
Em contrapartida, esses mesmos desafios provocam diferenciais no desempenho tanto do professor,
quanto do aluno de pós-graduação, bem como, de futuros professores e pesquisadores, envolvidos em
projetos interdisciplinares. Isso decorre de uma visão mais ampla e compartilhada sobre o próprio país,
escolas, professores e alunos. Também pelo constante aprimoramento e atualização de habilidades e
conhecimentos sobre tecnologias educacionais e as necessidades reais vivenciadas por escolas municipais e
estaduais de ensino fundamental e de ensino médio, que tem sido contempladas por projetos executados pelo
NEOGAP – passando tanto no que se refere à gestão do conhecimento, quanto no que tange à mídia e
conhecimento.
Quanto ao delineamento, estamos inclinados a acreditar que a complexidade da realidade determina a
abordagem mais adequada para o alcance dos resultados desejados. E, sem dúvida, o estudo de situações
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particulares, de forma aprofundada, possibilita um panorama mais claro da realidade vivenciada. Isso nos
leva a crer que outros delineamentos poderiam condicionar as pesquisas, limitando-as a uma prática a parte
do escopo interdisciplinar.
Em pesquisas futuras, espera-se manter a motivação para a abertura de diálogo, o compartilhamento
de conhecimento e aprendizado, com a devida atenção voltada para um zeloso delineamento, a fim de
manter a prática da interdisciplinaridade.
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