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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no DF Filiado à CUT/FENAJUFE Ano XVI - nº 52 Outubro de 2008

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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciárioe do Ministério Público da União no DF

Filiado à CUT/FENAJUFE

Ano XVI - nº 52Outubro de 2008

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Independênciaou vida!Ouviram do batuque às margens da Esplanada. A festa da Cultura Popular no último 7 de setembro nosdevolveu a legitimidade do sentimento patriótico sem o aspecto dos combates militares. Uma pátria, ou apátria com cheiro de suor, festa, trabalho e celebração de sons e imagens, com participação direta doscomuns que fazem a pátria cotidiana reveladora desse inesgotável projeto universal com o nome Brasil.

Uma festa para mostrar que pátria não é só o conquistar de fronteiras (embora manter a soberania do soloseja fundamental); não é só o conjunto das normas de segurança (embora a disciplina e o respeito à leisejam básicos para a convivência coletiva). A pátria ampla, geral e irrestrita desse 7 de setembro de 2008mostrou que lutamos e temos chances de vitória contra “inimigos” sutis na dependência que anula a auto-estima das nações: o achatamento globalizado das culturas. Ao proclamarmos a diversidade cultural brasi-leira nessa mestiçagem cívica, fizemos uma independência pela vida de uma utopia sem autópsias.

No próximo 15 de novembro acontece, aqui em Brasília, o encerramento do Terceiro Encontro Nacional dePontos de Cultura (já são 820 em todo o país). O evento, chamado Teia, programou uma Re-Proclamaçãoda República pela Cultura, com um cortejo pela Esplanada e um abraço na Praça dos Três Poderes. Enfim acidadania é celebrada nas festas cívicas!

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como fator decisivoA nossa vida se compõe de mui-

tas marchas. É natural do ser huma-no caminhar olhando para frente, embusca de seus sonhos e de dias me-lhores. Agora mesmo iniciamos umagrande marcha rumo à construção,aprovação e viabilização de um Pla-no de Carreira que contemple as nos-sas reivindicações e nos insira, de for-ma adequada, no processo de mo-dernização do Poder Judiciário e doMinistério Público. Em paralelo a essamarcha, que precisa contar com aparticipação de todos, caminhamos

na luta pela efetivação da licença maternidade de seismeses e pela ratificação da Convenção 151.

Desde já começamos a nos preparar para uma grandemarcha, que vai abraçar muitos de nossos interesses e tam-bém dos que estão relacionados ao desenvolvimento doBrasil. É a V Marcha Nacional da Classe Trabalhadora, promo-

vida pela CUT, que acontecerá no início de dezembro. As-sim como nos outros anos, somos convidados a empunharnossas bandeiras e a nos somar a muitos outros trabalha-dores. A união é, a cada dia, um fator mais decisivo para ofortalecimento da nossa luta junto aos poderes Legislativoe Executivo, responsáveis por analisar e aprovar nossasdemandas. Portanto, vivemos um momento muito impor-tante, onde a união será a palavra de ordem dentro danossa categoria e na classe trabalhadora em geral.

O apoio da CUT será de grande valia para a sensibi-lização dos congressistas em relação ao nosso Plano deCarreira. Afinal, a marcha se propõe a mobilizar, a pressi-onar e a negociar em prol de uma agenda que contemplenossos interesses. Não podemos esquecer que uma in-tensa luta, em razão da aprovação da nossa carreira, nosespera no Congresso. Estamos chegando à reta final de2008 e é fundamental que cheguemos, mais do que nun-ca, unidos. As estradas e as portas de 2009 começam aser sedimentadas e abertas agora. Daí a importância deatendermos ao chamado e marcharmos juntos.

Roberto PolicarpoCoordenador-geraldo Sindjus

Começamos anos prepararpara uma gran-de marcha: a VMarcha Nacio-nal da ClasseTrabalhadora,promovida pelaCUT. Ela se pro-põe a mobilizar,pressionar enegociar emprol de umaagenda quecontemple nos-sos interesses.

AO LEITOR

A uniãoARTHUR MONTEIRO

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CARTAS

O meu futuroSem dúvida, o Plano de Carreira deve fazerparte do nosso dia-a-dia. Eu participei dosseminários e respondi ao questionário sobre aatribuição. Quero estar presente em todos osmomentos da construção dessa carreira, que éa minha vida, o meu futuro.Carlos Henrique – TSE

Crescer na carreiraRespondendo à capa da última edição, euquero a minha carreira fortalecida e valoriza-da. Quero ter uma remuneração justa, mastambém quero ter meios de crescer dentro dacarreira. Quero poder olhar para o meu filho edizer, com muito orgulho, que eu sou servidorde carreira do Judiciário e que se ele quisertrilhar o meu caminho, terá todo o meu apoio.Fernando Soares - STJ

PlanejamentoMuito esclarecedora a entrevista sobre plane-jamento com o especialista em políticaspúblicas Gilberto Guerzoni Filho. É triste verque ainda falta muito para o serviço públicobrasileiro, em geral, conquistar carreirasfortes. No entanto, é gratificante saber quenós, servidores do Judiciário, estamos nocaminho certo. No caminho da profissionali-zação, da valorização.Eugênia Canto - TJDFT

PatriotismoEu sou brasileiro e não desisto nunca. A maté-ria sobre a identificação cotidiana dos brasilei-ros com sua pátria, por meio de símbolosnacionais, é um convite à reflexão. Acho difícilencontrar outro país com um ufanismo tão àflor da pele como o nosso. É uma pena quemuitos daqueles que estão no comando destaPátria prefiram empunhar a bandeira do patri-otismo próprio.Ricardo Sousa – MPDFT

ValorizaçãoÉ importante que os servidores compreendamque a atualização salarial não é o bastantepara garantir a nossa valorização. Precisamosde outros instrumentos. Não podemos ficarde braços cruzados enquanto carreiras deponta do Executivo e do Legislativo se orga-nizam e se fortalecem. Nós não podemosficar para trás.Rosana Alves - TST

Sindicato dos Trabalhadores doPoder Judiciário e do MPU no DF

SDS, Ed. Venâncio V, Bl. R, s. 108 a 114CEP 70393-900 - Brasília-DFPABX (61) 3224-9392www.sindjusdf.org.br

Coordenadores-geraisAna Paula Barbosa Cusinato (MPDFT)Roberto Policarpo Fagundes (TRT)Wilson Batista de Araújo (TRE/DF)

Coordenadores deAdministração e FinançasBerilo José Leão Neto (STJ)Cledo de Oliveira Vieira (TRT)Jailton Mangueira de Assis (TJDF)

Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasEliza de Souza Santos Ávila (STF)José de Oliveira Silva (TJDF)Newton José Cunha Brum (TST)

Coordenação de Formaçãoe Relações Sindicais Carlos Alberto de Araújo Costa (TJDF)Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF)Raimundo Nonato da Silva (STM)

Coordenadores de Comunicação,Cultura e LazerOrlando Noleto Costa (TSE)Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDF)Valdir Nunes Ferreira (MPF)

Roteiro das ArtesA revista acertou em cheio com a publicação daseção Roteiro das Artes. A edição passada, falan-do de Di Cavalcanti, além de didática foi motiva-dora. Eu não sabia que a via-sacra da Catedralde Brasília era obra dele. Fui ver de perto, leveimeus filhos e valeu muito a pena. Espero que asdicas culturais continuem.Fátima Duarte - PGR

Corrida do JudiciárioEu fui um dos 340 corredores da edição 2007 daCorrida do Judiciário. Não cheguei entre osprimeiros, mas foi muito gratificante correr pelasruas de Brasília ao lado de colegas de trabalho.Foi a primeira vez que participei e espero estarpresente em todas as edições. Ao somarmos abeleza da capital com atividade física temos umresultado extremamente saudável.Edson Lima – STJ

Olimpíadas SindjusRecebi a notícia sobre as Olimpíadas do Sindjuscom muito otimismo. Pratico vôlei quase todofinal de semana, além de natação. Gosto muitode esporte. Assistindo pela televisão os jogos dePequim, fiquei com muita vontade de estar lá,participando. E não é que agora vou poder parti-cipar de uma Olimpíada? Espero que muitagente entre nessa onda e a gente possa fazer umevento nota 10.Cláudia Santana – TJDFT

Mergulho nos livrosEducação não é só alfabetizar. Educação é impul-sionar o gosto pela leitura. É motivar o mergulhono mundo dos livros. Só seremos um país desen-volvido, de verdade, depois que elevarmos amédia vergonhosa de que cada brasileiro lêapenas um ou dois livros por ano. Faço faculdadede letras e espero poder contribuir para o au-mento dessa média. Ah! Parabéns, Sindjus, pelaparceria cultural com o T-Bone.Carlos Augusto – TRF

PARTICIPE!Envie seuscomentários ousugestões depauta [email protected]

Coordenação editorialTT Catalão - Reg. Prof. 685-DFEdiçãoUsha VelascoReportagem e redaçãoDaniel CamposThais AssunçãoRevisãoPatcha ComunicaçãoProjeto gráfico e arteUsha VelascoTiragem12.000 exemplares

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o momento em que se encerrava a consulta àcomunidade universitária para a reitoria da UnB,

na qual obtivemos uma expressiva vitória com 51,61%dos votos paritários de estudantes, servidores técni-co-administratrivos e professores, é preciso destacara confiança recebida na escolha do nosso projeto deuniversidade, após o amplo debate democrático pro-porcionado pelas eleições.

Importante também salientar o desempenho doscandidatos participantes do pleito, especialmente osque souberam preservar a identidade de suas propo-sições e a autenticidade de seus projetos e que ofe-receram à comunidade universitária alternativas con-cretas para a superação da crise em que se viu lan-çada a nossa instituição.

Agora, comprometidos com uma gestão compar-tilhada da universidade, pretendemos realizar um diá-logo permanente com os estudantes, professores e ser-vidores, de modo a garantir a excelência na produçãodos saberes acadêmicos, a responsabilidade social, aagenda ambiental na administração pública dos cam-pi, tendo como eixo transversal a ética e o respeitoaos direitos humanos e liberdades fundamentais.

Aos estudantes, cujo grito de campanha temsido justamente o que dá título a este texto – Vai Nas-cer uma Nova UnB! – é preciso reconhecer sua cora-gem e ousadia diante das irregularidades administra-tivas existentes na UnB e a afirmação e defesa da edu-cação superior como bem público, implementada comregras democráticas e participativas. Os estudantesmais prontamente souberam se colocar em oposiçãoao desvio de objetivos de uma gestão que perdeu adimensão da política e se isolou num burocratismosem finalidade. Foram eles os principais responsáveispelo reencantamento do projeto acadêmico da UnB,num idealismo desinteressado, pronto a resgatar autopia de um conhecimento humanizado, apto a rea-lizar a ciência com consciência. Os servidores técni-co-administrativos merecem solidariedade com o apri-moramento da carreira como instrumento de gestão eo compromisso com uma política de valorização per-manente, para que cada vez mais assumam o exercí-cio responsável de suas atribuições administrativas e

gerenciais. E os professores, mais que nunca devemresponder à confiança de que podem, efetivamente,construir uma universidade aberta à interlocução en-tre a cultura científica e a cultura das humanidades edas artes, orientadas por uma política pedagógica pau-tada no diálogo criativo e na formação cidadã.

A eleição passa a ser um ponto de partida parainstaurar, com a mediação do congresso universitárioparitário e o fortalecimento dos colegiados deliberati-vos da instituição, um modo republicano, solidário edemocrático de gerir a universidade, para garantir agestão compartilhada, a reestruturação e expansãocom qualidade, o ensino com compromisso social, apesquisa de excelência, a extensão inclusiva e a assis-tência à comunidade universitária.

Este é o caminho que aponta, conforme salienteiem texto nesta revista do Sindjus, Para uma universi-dade popular com gestão compartilhada da educação(Ano XVI, nº 49, junho de 2008), que, na tradição daslutas dos trabalhadores, deve ser uma “universidadecrítica, comprometida com a classe trabalhadora e coma sociedade e, portanto, instrumento de transforma-ção social” (Carta Aberta da CUT sobre as eleiçõespara a Reitoria da UnB, encaminhada aos candidatosem disputa no 2º turno das eleições).

Tendo como referência a fundação da Uni-versidade de Brasília comprometida com um novoprojeto de sociedade a partir da mediação das ciên-cias, das humanidades e das artes, voltadas para odesenvolvimento econômico, social, político e cultu-ral do país, trata-se de inaugurar na UnB um campode reflexão sobre as questões de nosso tempo, demodo a construir respostas teóricas e práticas aosdilemas do mundo contemporâneo.

Com este projeto, pode-se finalmente manter aesperança de que a comunidade universitária e asociedade podem garantir a configuração de uma novauniversidade solidária e participativa, consciente do seupapel no mundo dos saberes, comprometida com odesenvolvimento do país e voltada para a construçãode parcerias e a implementação de ações que permi-tam reconstruir o presente e inaugurar o futuro.

OPINIÃO

José Geraldo deSouza JúniorProfessor e ex-diretorda Faculdade de Direito daUnB, coordena o projeto“O Direito Achado na Rua”

Comprometidos comuma gestão compar-tilhada, pretende-mos realizar umdiálogo permanentecom os estudantes,professores e servi-dores, de modo agarantir a excelênciana produção dossaberes acadêmicos,a responsabilidadesocial e a agendaambiental.

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ENTREVISTA • ALCIDES DINIZDIRETOR-GERAL DO STF

É preciso estar convicto de sua caminhada para fa-zer o que esse homem, um funcionário público, fez.Nunca abandonou sua carreira. Ao contrário, ele apos-tou todas as suas fichas nela. Começou como auxiliarjudiciário e, com muita determinação, chegou ao cargode analista. Hoje é diretor geral de um dos órgãos maisimportantes da Justiça brasileira, o Supremo TribunalFederal. Atuando entre a administração e a base, Alci-des da Silva Diniz sonha com o fortalecimento da car-reira dos servidores do Poder Judiciário. Como dirigen-te e servidor de carreira, fala da necessidade de criar

instrumentos de valorização do quadro de pessoal. Deforma consciente, argumenta que a nossa carreira nãoestá estruturada de forma adequada. Disposto a aju-dar o Sindjus nesta caminhada, considera que um dosprincipais focos deve ser o desenvolvimento na carreira.De forma simpática, serena e inteligente, Alcides esmiú-ça muitos pontos do plano que está em discussão e indi-ca a mobilização como o melhor caminho para conse-guirmos um Plano de Carreira de sucesso. Vale a penaconferir esta entrevista, que pode ser considerada comoum grande estímulo à nossa caminhada.

BRUNO PERES

Daniel Campos

este é o caminhoMobilização:

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Passo a passo, rumo ao novo plano

Depois da aprovação de trêsPCSs, como o senhor enxerga a lutapor um plano de carreira?

Em primeiro lugar, gostaria de dizerque me orgulho de ser um servidor dacarreira judiciária. E, como servidor decarreira, não posso deixar de registrarmeu apoio às iniciativas do Sindjus, nosentido de promover um amplo debatesobre o assunto e de formular propos-tas para a elaboração de um Plano deCarreira que atenda às necessidades dosservidores, sobretudo no que se refereao reconhecimento do mérito funcional.

O objetivo do sindicato é aténovembro ter esse projeto no pa-pel. De que forma o STF vai cola-borar no trâmite desse projeto?

Participei da abertura do semináriosobre o Plano de Carreira, recentemen-te, no STF, a convite do coordenador-geral do Sindjus, Roberto Policarpo,quando tive a oportunidade de mani-festar o meu apoio à iniciativa do Sin-dicato e a um trabalho conjunto comos demais órgãos do Poder Judiciárioda União, com vistas à elaboração deum novo Plano de Carreira. Na últimareunião de diretores e secretários-ge-rais desses órgãos, deliberou-se, porunanimidade, pela instituição de umacomissão interdisciplinar com o objeti-vo de debater o tema e apresentar pro-jeto de um novo Plano de Carreira paraos servidores.

Os servidores vão poder parti-cipar dessa comissão?

O Sindjus e a Fenajufe já foram con-vidados a participar da comissão, quecontará, também, com representantesdo CNJ, STF, Tribunais Superiores, CJF,CSJT e TJDF.

Mais de 800 servidores partici-param dos seminários. O senhoracredita que essa sensibilização fa-cilitará a jornada até a aprovaçãodo projeto?

Não tenho dúvida de que a mobili-zação é o melhor caminho. A participa-

ção de todos é essencial para o aprimo-ramento da proposta, que deve nascerda base, e não ser construída de cimapara baixo. E uma proposta completa,com qualidade, que pode se aproximarmais dos anseios da categoria, só podenascer de um debate amplo com o ser-vidor. Afinal, o Plano de Carreira é a pró-pria vida do servidor, é a profissão deleque está em jogo, a vida dele, da famí-lia. Não há uma forma melhor do queessa para elaborar uma proposta séria,adequada e consistente.

Então, o Sindjus está no cami-nho certo?

É evidente que está. No próximomês de dezembro será implementadaa última etapa do plano vigente (PCSIII). Outras carreiras públicas, principal-mente do Poder Executivo, têm sidomuito ativas nesse processo de mobili-zação, visando o seu fortalecimento.Muitos são os exemplos. E nós temos

Durante todo o mês de agosto oSindjus realizou uma série de debatescom servidores do Juciário e do Ministé-rio Público, para tratar do novo Planode Carreira. Foram formados grupos detrabalho em cada órgão. As propostasforam analisadas e consolidadas numconjunto de onze pontos de consenso,que vão desde a definição das atribui-ções dos cargos em lei até a melhoriada remuneração.

Na reunião desses grupos, no finaldo mês, foi eleita uma comissão de ser-vidores que defendeu as propostas deBrasília na reunião da Fenajufe nos dias30 e 31 de agosto. O tema da carreirafoi destaque nas discussões.

Em setembro foi criada uma comis-são interdisciplinar para aprofundar asdiscussões sobre o assunto. A comis-

são, proposta pelos diretores gerais epelos secretários gerais do CNJ, CSJT eCJF, além do TJDFT, terá a participaçãodo Sindicato.

O Sindjus mandou a todos os asso-ciados, por e-mail, um questionário comdez perguntas que focam as atribuiçõesda carreira. As questões foram desen-volvidas pelo professor Angelino Rabe-lo dos Santos, especialista no assunto.Elas formarão a base das cinco ofici-nas que definirão as atribuições de ana-listas, técnicos e auxiliares. As oficinasserão montadas a partir dos grupos detrabalho formados nas reuniões deagosto. “Todos os órgãos estarão re-presentados”, afirma o coordenador-geral do Sindjus, Roberto Policarpo.“Queremos ter um texto definido atéo final do ano”, explica.

que fazer o mesmo, ou seja, precisamosda participação de todos os colegas nes-te trabalho. Não podemos ficar brincan-do de fazer planos. Vamos elaborar umque seja o mais próximo possível das ne-cessidades dos servidores.

Dentro do debate que vem sen-do feito com a categoria, há pon-tos em destaque. O senhor pode-ria comentar alguns deles? Porexemplo, a definição de critérios deseleção para ocupação de FunçãoComissionada?

A recente decisão do STF em rela-ção ao nepotismo fortalece o processode valorização funcional, isto é, aumen-tam as expectativas dos servidores dascarreiras em relação à ocupação dosCargos em Comissão e Funções Comis-sionadas. Podemos, por exemplo, au-mentar os percentuais assegurados aosservidores nas nomeações para tais fun-ções. Esta é uma medida no contexto

A participação de todos é essencial para o aprimoramento da proposta,que deve nascer da base e não construída de cima para baixo.‘ ‘ ‘ ‘

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da valorização do servidor. Como o senhor vê a questão da

atualização de atribuições?Essa questão merece ampla discus-

são. A definição mais precisa das nos-sas atribuições é uma medida de forta-lecimento da carreira, pois contribuirápara eliminar ou pelo menos diminuir oschamados desvios funcionais e, conse-qüentemente, contribuirá para melhorara performance dos servidores no desem-penho dos seus misteres. Servirá, de ou-tro lado, para conter um mal presenteno serviço público, que é a terceirização,muitas vezes admitida de forma confli-tante com as atribuições de determina-das especialidades da carreira judiciáriae, portanto, contrariando a ordem legal.

Outra reivindicação é o apri-moramento do Adicional de Qua-lificação...

O AQ é uma novidade, veio como ins-trumento de valorização. Um instrumen-to, no meu modo de ver, absolutamentenecessário para estimular a preparaçãoe a qualificação do servidor, garantindoqualidade maior no trabalho. O AQ pre-cisa ser discutido de forma permanentepara definirmos que níveis de qualifica-ção nós desejamos e para aprimorarmosos nossos regulamentos sobre o tema, afim de darmos um tratamento mais uni-versal possível aos servidores, evitandotratamentos diferenciados, frustração deexpectativas e injustiças.

E em relação ao desenvolvimen-to na carreira?

Sou de uma época em que a ascen-são funcional era permitida pela Consti-tuição Federal. Fui beneficiado por esseinstrumento de valorização. Iniciei minhacarreira como auxiliar judiciário e che-guei a técnico judiciário, hoje analista,por meio de ascensão funcional. Infeliz-mente, a CF de 88 eliminou esse institu-to, que precisa ser resgatado pelo servi-dor. Trata-se de instrumento muito im-portante no processo de desenvolvimen-

to na carreira e, conseqüentemente, desua valorização. Para conseguir isso, serápreciso sensibilizar os parlamentares,pois a mudança dependerá de uma PEC.

A carreira precisa ser renova-da?

Nós precisamos ter instrumentos queaprimorem o sistema e ofereçam ao ser-vidor as condições necessárias para que,durante sua vida funcional, ele possa ca-minhar e encontrar oportunidades deacesso. Precisamos de uma estrutura decarreira que assegure ao servidor não sóa progressão funcional, dentro da pró-pria categoria, mas que lhe ofereça opor-tunidades de transpor-se para uma ca-tegoria dita superior. Nós temos queconstruir uma estrutura que permita maisflexibilidade, mais movimentação, maisestímulo, até para evitar o desinteressedo servidor em permanecer no Judiciá-rio, onde há uma rotatividade muitogrande, devido à existência de carreirasmais atrativas em termos de remunera-ção e de valorização do servidor. Muitossequer esperam o cumprimento do es-tágio probatório. A freqüência de con-cursos públicos leva o servidor a procu-rar novas oportunidades, e com razão.Os prejuízos são grandes para o Judiciá-rio e para o cidadão, pois tal situaçãocontribui para a menor efetividade daprestação jurisdicional.

O que isso significa?Isso significa que nossa carreira não

está estruturada de forma adequada.Que não satisfaz o servidor. Esse é umponto fundamental sobre o qual deve-mos nos debruçar. O Sindjus tem umpapel muito importante no debate des-sa questão. O servidor só vai permane-cer no Judiciário se este dispuser de ins-trumentos que efetivamente valorizem oservidor, seja permitindo que caminhe nacarreira, seja oferecendo-lhe mais opor-tunidades na ocupação das FunçõesComissionais e Cargos em Comissão,seja ampliando suas possibilidades de

qualificação, seja assegurando-lhe remu-neração mais compatível com as suasresponsabilidades. Significa, ainda, queos prejuízos para o Judiciário e para oscidadãos poderão ser muito grandes,pois tal situação contribui, de certa for-ma, para a menor efetividade da presta-ção jurisdicional, não obstante o espíri-to público e a consciência funcional dosnossos servidores.

E como o senhor avalia a ques-tão da política salarial?

Somos criticados sempre que formu-lamos propostas dessa espécie. Falamque no Judiciário se ganha muito bem,que temos maiores remunerações queos demais Poderes da República. Mas oque dizem não corresponde à realidade.Sabemos disso. Há carreiras públicas,principalmente aquelas ditas de Estado,que são bem organizadas e fortes, quepossuem remuneração mais elevada doque as nossas. Precisamos ter compe-tência para mostrar essa realidade e sen-sibilizar os nossos dirigentes e o Legis-lativo quanto à necessidade de reestru-turação da carreira judiciária.

Isso sem falar que se extingui-ram as vantagens pessoais...

Todas as vantagens pessoais que ha-víamos conquistado desapareceram apartir de 1997. Foram extintos o adicio-nal por tempo de serviço e os quintos. Aincorporação de gratificação nos proven-tos de aposentadoria deixou de existir.Na verdade, a remuneração do servidordo Judiciário não mais corresponde àssuas atribuições e responsabilidades.

E o que devemos fazer para re-verter isso?

Nós temos que saber conduzir essaquestão com inteligência e firmeza. Te-mos que mostrar à sociedade que a nos-sa realidade é outra, não aquela que pro-curam passar. Temos uma responsabili-dade muito grande com o cidadão, como bom desempenho da prestação juris-dicional. Precisamos oferecer qualidade

ENTREVISTA

Temos que construir uma estrutura que permita mais flexibilidade,até para evitar o desinteresse em permanecer no Judiciário.‘ ‘ ‘ ‘

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no atendimento ao jurisdicionado, ga-rantir celeridade no processamento e jul-gamento das causas. Os magistradosprecisam de servidores motivados, dedi-cados e cada vez mais amantes das cau-sas da Justiça.

Depois da Medida Provisóriaque reajustou os salários de diver-sas carreiras no Executivo, a dis-tância salarial da carreira do Judi-ciário aumentou muito. Há algumachance de resolver isso até o fimdo ano?

Essa é uma questão política e nãome cabe avaliar, porque todo processode reestruturação funcional depende delei. Ao Legislativo cabe examinar e con-ferir atenção e agilidade à proposta.

O que o senhor poderia dizerpara tranqüilizar os servidores?

Que estaremos empenhados no cum-primento desse objetivo, não obstanteas dificuldades decorrentes do processopolítico vigente. Afinal, estamos em umperíodo eleitoral. Por ser ano de eleição,o processo legislativo não é tão ágil.

Alguns pontos sugeridos pelosfiliados fazem parte do PL 319,que está há onze meses na Co-missão de Finanças. A demora sedeve em razão de o Ministério doPlanejamento não dar sinal ver-de para aprovação. O que o STFtem feito para ajudar a desenro-lar essa matéria?

Todos nós temos trabalhado paraa aprovação deste PL. Infelizmente, háobstáculos na tramitação que fogemao nosso controle e ao nosso poderde decisão. O Executivo entende quedo ponto de vista orçamentário a apro-vação desse projeto não é viável paraeste ano. Tem-se notícia de um pare-cer da SOF recomendando a transfe-rência das discussões sobre o PL para2009, compatibilizando-o com as pos-sibilidades de alocação de recursos or-çamentários.

Isso não seria uma questão po-lítica?

É o que parece, já que outras cate-gorias têm sido beneficiadas por me-didas provisórias, o que de certo modorevela uma incoerência de atitudes. Oargumento da dificuldade orçamentá-ria deve valer para todos, não só parao Judiciário.

E qual é o caminho para apro-varmos o PL 319/07?

A mobilização dos servidores. Temosque sensibilizar os parlamentares paraa importância da aprovação do PL. Afi-nal, ele resgata pontos do PCS III queforam vetados, entre os quais o que de-fine melhor o conceito de carreira, con-ceituando-a, inclusive, como de Esta-do. Ainda, o que amplia os percentuaisde ocupação dos CJs e FCs pelos servi-dores de carreira, bem como o queamplia a possibilidade de concessão doadicional de qualificação, no caso aproposta que vai permitir ao técnicojudiciário graduado a incorporação doAQ, além de outros pontos.

Daí a necessidade dele ser apro-vado o mais rápido possível...

Após as eleições de cinco de outu-bro, os servidores precisam retomar essaluta. Ainda que venha a vigorar a partirde 2009, como quer o Executivo, não de-vemos adiar sua aprovação para alémdeste exercício.

É preciso que todos tenhamconsciência de que é preciso apro-var o PL 319 antes de enviar o pro-jeto do Plano de Carreira...

Evidentemente que é melhor apro-var o PL 319/07 antes de apresentarmosuma nova proposta de Plano de Carrei-ra ao Congresso.

O PL 319 vai fortalecer a nossaluta pela carreira em muitos pon-tos. Um deles é referente à redis-tribuição. O senhor pode falar umpouco sobre isso?

A regulamentação proposta no PL

para a redistribuição é necessária aosinteresses do próprio Poder Judiciário,cujos órgãos poderão valer-se delapara, reciprocamente, acomodar seusquadros, liberando cargos que, se esti-vessem vagos, poderiam ser providospor candidatos concursados. A redistri-buição é um instituto que está previstona Lei nº 8.112/90. O que o PL propõeé a regulamentação devida desse insti-tuto. Não há porque impedir uma re-distribuição entre servidores da mesmacategoria. Por exemplo: um servidor queconseguiu ser cedido para outro órgãodo Judiciário, que foi para outro lugar,permaneceu lá por muitos anos, cons-tituiu família e, assim, fica impossibili-tado de retornar à origem, ficaria me-lhor se fosse redistribuído.

E se o servidor perde a função,como ele fica?

Obriga-se a voltar, deixando uma es-trutura de vida para trás. Que perspecti-va de crescimento terá sua família? Ondefica o princípio constitucional de prote-ção à família?

Como servidor, se fosse para osenhor sugerir ou frisar um pontoque precisa estar presente no pla-no de carreira, qual seria?

São muitos os pontos, mas destacoo desenvolvimento na carreira como umdos nortes para a satisfação funcional,segundo penso.

A criação de instrumentos de fi-xação do servidor seria o pontofundamental?

Não é só a remuneração que fixao servidor no órgão. Vários são os ins-trumentos de valorização do servidor,entre os quais destaco o desenvolvi-mento na carreira, a garantia de ocu-pação das funções gerenciais, as pos-sibilidades de qualificação profissio-nal, o oferecimento de planos de saú-de que lhe assegurem tranqüilidade ea certeza de que estará protegido emocasiões difíceis.

O argumento da dificuldade orçamentária devevaler para todos, não só para o Judiciário.‘ ‘ ‘ ‘

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12 Revista do Sindjus Out/2008

Os seminários setoriais, realizadosem agosto, atestaram que são muitasas bandeiras em torno da construçãode um Plano de Carreira. São muitoscaminhos, muitas propostas, muitassugestões; porém, para termos êxitoprecisamos empunhar o melhor pro-jeto. Um projeto que atenda nossas rei-vindicações estruturais, organizacio-nais e econômicas. No entanto, comofazer isso no menor tempo possível, ecom a consciência de que vivemos umuniverso de muitas transformações,vindas da globalização, da evoluçãotecnológica, da competitividade, dagestão de informação?

O Sindjus, na expectativa de bus-car o melhor para a nossa categoria,contratou a assessoria de um “arqui-teto de carreiras”. Embora sua forma-

ção seja outra, o professor AngelinoRabelo dos Santos é um arquiteto nosentido realizador da expressão, dan-do subsídios e formas aos nossos so-nhos. “Como educador de MBAs emGestão de Pessoas tenho a oportuni-dade de debater o ‘estado da arte’dos seus planos de carreiras, que es-tão focados na forma mais tradicio-nal de remuneração fixa funcional”,afirma Angelino.

O Sindicato trouxe até você ummestre em Administração pela UnB,professor de cursos de especializaçãoe MBAs nas áreas de recursos huma-nos e gestão de pessoas, nas últimasduas décadas, do UNILEGIS, do ICAT/UniDF entre outras organizaçõescomo o BACEN e a ENAP. Ele é res-ponsável pela arquitetura da carreira

de entidades como SINDIRECEITA,SINTBACEN, FENASPS e seus Sindica-tos, CNTSS, ASBRAPP, entre outras en-tidades de classes de servidores daUnião e do GDF.

Viveremos um outubro intenso, noqual as oficinas irão discutir esses eoutros temas de interesse de toda acategoria. A modernização, a atuali-zação e a adequação da nossa carrei-ra às nossas reivindicações passa pelasua participação. Afinal, com o refor-ço do professor Angelino em nossotime, temos todas as condições de fa-zer um plano de carreira que valorizeo nosso trabalho e nos possibilite maissatisfação e qualidade de vida. Paraentrar no clima das oficinas, vamosmergulhar em um artigo do professorAngelino. Vale a pena ler.

Um outubro intenso

CARREIRA

Plano de Carreira começa a ser lapidado em oficinas

Seminário no TSE:levantando bandeiras

ARTHUR MONTEIRO

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13Revista do Sindjus Out/2008

Um bom planejamento Na prática, poucos são os planos de cargos,

carreiras e remuneração de organizações públi-cas, até mesmo no Poder Judiciário, em que severifica esse criterioso e essencial planejamentodo processo. Da mesma forma, fala-se também emuito nos aludidos princípios de comunicação,participação, transparência e imparcialidade, po-rém, na maioria das vezes, o que se verifica étambém uma grande retórica. A meia verdade é,em muitos casos, pior do que nenhuma verdade.Quem cria expectativas e as gerenciam de ma-neira equivocada, administra ansiedade.

O êxito de um consistente Plano de Carreiraestá, entre outros aspectos relevantes, diretamen-te relacionado com um bom diagnóstico da situ-ação atual. Quais são os pontos fortes e fracosdo plano de cargos, carreiras e remuneração atu-al? Assim procedendo, certamente, trabalha-secom mais fundamentação técnica e conhecimentoda realidade e necessidades estratégicas da or-ganização e legítimos interesses dos servidores.

Estruturação dos cargos Depois de cumprir a etapa essencial de pla-

nejamento, à etapa subseqüente é o delineamen-to dos cargos. Com isso, pode-se idealizar os car-gos essenciais às organizações e descrevê-los eespecificá-los em função das atribuições princi-pais e requisitos essenciais. O que agrega valor édescrever o que as pessoas devem fazer para quesuas unidades organizacionais alcancem suas fi-nalidades e facilitem o cumprimento dos objeti-vos estratégicos das organizações.

Concluído o processo de estruturação de car-gos, que tem como produtos cargos descritos,especificados, avaliados e classificados de formaconsistente, a etapa seguinte é a estruturação

de salários, seja em forma de vencimento ou sub-sídios, com vistas a assegurar o equilíbrio exter-no com as organizações do mercado de trabalho.

Política salarial O instrumento que assegura esse almejado

equilíbrio é uma consistente pesquisa salarial,contemplando os fundamentos técnicos na esco-lha dos cargos e das organizações a serem pes-quisadas, na coleta, na tabulação e na análisedos resultados nela obtidos, com vistas à elabo-ração das novas tabelas ou matrizes salariais, emconformidade com as necessidades estratégicasdas organizações e não menos importante, osinteresses dos servidores.

A conclusão do trabalho se dá com o esta-belecimento de uma adequada e estratégica po-lítica de remuneração, que deve consubstanciarem normas inerentes a: estrutura ocupacional,critérios de provimento, progressão, promoção,entre outros.

Por Angelino Rabelodos Santos

Mestre em Administraçãopela Universidade deBrasília, professor decursos de especializaçãoe MBAs nas áreas derecursos humanos egestão de pessoas

Uma prática emconsolidação ouuma retórica a serdesmistificada?

Gestão estratégica

ARTIGO

CLÁUDIO REIS

de cargos, carreirae remuneração

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14 Revista do Sindjus Out/2008

Thais Assunção

aumento da expectativa de vida, nas últi-mas décadas, marcou também o aumento

do período em que as pessoas vivem aposenta-das. A idéia é viver bem nessa nova fase da vida.Mas isso depende da preparação dos aposenta-dos. Na verdade, para a sociedade moderna, a apo-

sentadoria representa claramenteum afastamento do trabalho. Issopode causar uma ruptura identitá-ria, e implica uma reorganização deprojetos de vida.

“Ocorrem as mais diversas rea-ções. Chefes perdem os comanda-dos; os senhores perdem os compa-nheiros de trabalho; as senhoras fi-cam mais distantes das amigas econfidentes; a rotina muda. Pode sur-gir um vazio difícil de preencher”,explica Isolda Gunther, doutora emPsicologia do Desenvolvimento Hu-

mano e pesquisadora da UNB nas áreas de ado-lescência e envelhecimento.

A realidade do aposentado no Brasil está mu-dando. De acordo com o Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), cerca de 20% dosaposentados brasileiros trabalham. Principalmenteos homens, entre os quais esse índice é de 28,9%.Entre as mulheres, o percentual é mais baixo:11,5%. Os dados são de setembro de 2007.

Segundo Isolda Gunther, a aposentadoria é umdos marcos do envelhecimento, mas traz em sigrande ambigüidade: “É fundamental ter consci-

ência de que a ambigüidade entre a segurança eo risco faz parte da nossa vida. É evidente que ésempre bom evitar, na escolha de hoje, o arrepen-dimento de amanhã. Por isso, decisões importan-tes como aposentar-se devem ser acompanhadasde uma preparação anterior”, explica.

As reações tanto à idéia de aposentar-se quan-to ao fato consumado variam muito: “Constata-se uma gradação, desde aqueles que esperam aaposentadoria com um grande entusiasmo até osque sucumbem psicologicamente e até mesmodefinham fisicamente”, diz Isolda.

A pesquisadora afirma que os aposentadosdevem procurar atividades tanto intelectuaisquanto físicas para abrandar os problemas quepodem surgir com a aposentadoria: “As pessoasdevem se dedicar a uma atividade suplementar.Podem ser leituras, passeios, música, enfim, ati-vidades que proporcionem um dia-a-dia melhor,uma vida mais interessante.”

A estabilidade financeira e a melhoria da qua-lidade de vida promoveram uma mudança radicalna visão sobre o idoso. Antes tido como um pesopara a família e desprezado pelo mercado, ele atu-almente representa um consumidor valorizado pordiversos segmentos da economia, avalia Isolda.

Com disponibilidade para viajar durante asemana e o dinheiro da aposentadoria garanti-do, clientes da terceira idade ganham mais aten-ção do turismo. Para eles, foram criados des-contos, programações especiais e parcelamen-tos a perder de vista. Com a facilidade nos pa-gamentos, a participação desse público em via-gens só vem aumentando.

APOSENTADORIA

NA ATIVA

dos aposentados brasileiroscontinuam trabalhando. Entreos homens, o percentual é de

20%

Entre as mulheres, é de

28,9%.

11,5%.

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Para não causar estresse, oafastamento do trabalho demandauma reorganização de projetos de

vida. Mas os aposentados aproveitamcada vez melhor essa nova fase

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15Revista do Sindjus Out/2008

Maria das Graças Chaves, analista aposentada do TJDFT,resolveu conhecer o mundo e ir a lugares com os quais sem-pre sonhou: “Depois que me aposentei, viajei para Paris, Es-panha, Argentina, Áustria, Londres. E também para vários es-tados brasileiros. Tenho um grupo de quatro amigas, somosinseparáveis e viajamos sempre. Queremos curtir a vida.”

Há dez anos, desde que se aposentou, Maria das Graçasnão pára. Sempre ativa, concluiu um curso de Teologia, outrosonho que estava guardado. Agora faz aulas de espanhol. “Nãome aposentei para aguardar a morte chegar. Aproveito meutempo com cursos e viagens. Quero aprender cada vez mais.Estou satisfeita e animada com a aposentadoria”, alegra-se ela.

Aposentada há quatro anos do TJDFT, Maria da GlóriaSchmall começou a fazer natação e, em seguida, hidrogi-nástica. “Me sinto como uma garota durante as aulas; ado-ro fazer exercícios na água”, conta ela. Mas as atividadesnão param por aí. Ela também faz um curso sobre saúde,tem aulas de iquebana, inglês e meditação. “Agora tenhomais tempo para me dedicar ao que realmente gosto”, ex-plica. Questionada sobre a quantidade de atividades, Mariaé incisiva: “Adoro ter minha agenda cheia. Faço aquilo quequero, sou aposentada e muito feliz.”

Agenda cheia

Maria da Glória:meditação, iquebana,inglês e hidroginásti-ca lotam a agenda

Maria das Graças: conhecendo o Brasil e o mundo

FOTOS: ANDERSON BRASIL

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16 Revista do Sindjus Out/2008

As mudanças permanentes domundo impõem às pessoas a necessi-dade de desaprender, aprender e rea-prender constantemente. A verdadei-ra aprendizagem implica uma mudan-ça na relação da pessoa consigo mes-ma, com os outros e com a vida. Queo diga Manuel de Jesus Lima, aposen-tado do TJDFT. Ele nasceu em MinasGerais, mas foi criado na cidade deGoiás Velho. Desde cedo foi amigo evizinho de Cora Coralina. Manuel jádatilografou e revisou livros da premi-ada autora, por causa do portuguêsarcaico que ela utilizava. “Sempre fuium ótimo estudante de gramática; eume destacava nas aulas. Cora Corali-na utilizava um português antigo. Eudatilografei um livro para ela, mas vique aquela linguagem já havia caídoem desuso. Para ela, era complicado

mudar a escrita; então eu ajudei. ACora Coralina era uma figura humanainigualável”, conta ele.

A infância e adolescência de Ma-nuel foram repletas de livros; ele liamuito e também escrevia bastante.Ainda jovem mudou-se para Brasília efoi aprovado num concurso do TJDFT.Porém, nunca deixou de lado a paixãopela literatura. Sem tempo para escre-ver, devido à dedicação ao trabalho eaos dois filhos, ele interrompeu o so-nho por algum tempo. Quando se apo-sentou, dedicou-se inteiramente ao seulivro. “Coloquei uma meta na minhavida: se aos 50 anos não tivesse pu-blicado meu livro, não publicaria mais.E consegui. Quando completei 50 anoscoloquei o ponto final na minha his-tória”, conta.

O título é A Guerra de Juquinha

e outras guerras, e o livro foi premi-ado no Concurso Cora Coralina deGoiânia. Porém, devido à falta de pa-trocínio, Manuel quase desistiu delançar a segunda edição. Acabou ti-rando do próprio bolso os recursos;publicou anúncio no jornal, chamoua imprensa. O esforço deu resulta-do: o livro vendeu bem e Manuelteve seu trabalho reconhecido. Masa jornada ainda não acabou. Ele pre-tende publicar a terceira edição elevá-la, futuramente, para a telona.“Quero continuar a história e desen-volver um roteiro para cinema. Seique é um projeto ambicioso, mas seeu não tentar não vou saber se darácerto”, explica ele.

Para Manuel, os sonhos se torna-ram realidade após a aposentadoria.“Eu me aposentei na hora certa. Esta-va precisando me dedicar à minha re-alização pessoal, e sinto que isso estáacontecendo agora”, comemora.

Um sonho realizado

Manuel:livro trouxerealizaçãopessoal

ANDERSON BRASIL

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17Revista do Sindjus Out/2008

Apoio à cultura

A terceira edição do livro de Ma-nuel de Jesus teve o apoio do Sind-jus. “Fiquei muito feliz quando oRoberto Policarpo (coordenador ge-ral do Sindicato) me ofereceu ajuda.Acho que a cultura deve receber maisapoio e incentivo das instituições”,afirma o escritor.

O Sindjus promoveu o 1° Encontroda Maturidade, em agosto, e consta-tou a vontade e o ânimo dos servido-res aposentados. Para incentivá-los, etambém para conhecer mais históriascomo as de Maria das Graças, Mariada Glória e Manuel de Jesus, o Sindi-cato realizará, no próximo ano, o Con-curso de Talentos da Maturidade Sind-jus. O concurso premiará trabalhos deservidores aposentados, nas áreas deliteratura, artes plásticas e música.

“Quem não tem doença não é saudável”, afirma o médico geriatra Mar-celo de Faveri. Não há idoso que não tenha osteoporose ou artrite. Mas to-dos devem se manter ativos e produtivos, garante ele. Durante o 1º Encontroda Maturidade, realizado pelo Sindjus em agosto, Marcelo fez uma palestrasobre a saúde dos idosos e deixou algumas dicas para os aposentados:

Diminuição da massa magra,aumento da porcentagem degordura corporal e aumento damassa corporal são mudançasnormais.Cuidado: o baixo peso em idosospode ser pior que o sobrepeso.Deve-se evitar o excesso degorduras saturadas.Deve-se manter o peso e osparâmetros nutricionais commetas estabelecidasindividualmente.As metas estabelecidas para asaúde e a alimentação devem serrealistas.Restrições alimentares X

qualidade de vida: a resposta aessa questão depende decaracterísticas individuais.Avalie o prognóstico e o realimpacto das restrições.Exercícios aconselhados: aeróbica,alongamentos, treino de equilíbrio.Não é preciso ser atleta para tersaúde.É preciso pensar a saúde comobem-estar global.É preciso conhecer e respeitar aspróprias limitações; porém, deve-setambém desafiar os própriospreconceitos.É preciso exercitar a funcionalidadee a autonomia para mantê-las.

Encontro daMaturidade:palestra sobresaúde do idoso

Dicas para manter a saúde

ARTHUR MONTEIRO

17Revista do Sindjus Out/2008

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18 Revista do Sindjus Out/2008

ENQUETE

“Hoje dedico todo o meutempo à vida familiar. Antes

eu não tinha tempo; crieimeus oito filhos praticamenteà distância, porque o meu dia

era dedicado somente aotrabalho. Agora quero

acompanhar de perto ocrescimento dos meus 23

netos e dois bisnetos.Adoro brincar com eles, isso

me faz muito bem.”

Benedita de Oliveira dosSantos, aposentada do MPT

“Faço muitas caminhadas,além de várias outrasatividades. Procuro

preencher os meus diascom tarefas que medeixem mais atento,

mais informado.Não tenho problemas

de saúde, por issotambém me sinto

pronto para realizarqualquer trabalho.”

Carlos Alberto de Aquino,aposentado do TJDFT

“Fiz karatê por algumtempo; agora

dedico-me a caminhadase uso o tempo livre

para cuidar também daminha alimentação, que

procuro manter saudável.A minha aposentadoriame proporciona isso:

momentos dedivertimento,

lazer e conforto.”

Manoel Alves Brandão,aposentado do STF

F OTOS : ARTHUR MONTE IRO

“Eu me aposentei comsaúde e sempre procureiatividades. Desde 1981,antes de me aposentar,

construí uma loja de cama,mesa e banho. Hoje vendooutros artigos para casa.

Tenho tempo para mededicar melhor à minha

loja, acompanho todas ascompras e artigos novos

que chegam.”

Teresa do Lago Oliveira,aposentada do MPF

e água frescaTrabalho

Vida de aposentado não é sinônimo de sombra, água fresca e pijama. Quando a saúdeestá boa e a motivação em dia, a aposentadoria é uma glória. Alguns transformam a neces-sidade de continuar trabalhando num prazer. O tempo livre e a vontade de ter uma vidanova e uma rotina diferente são os principais elementos motivadores da aposentadoria. Oumesmo ficar em casa e curtir a família e os filhos. Para conhecer a rotina dessas pessoas emsua nova fase da vida, ouvimos alguns servidores aposentados durante o 1° Encontro daMaturidade, realizado pelo Sindjus.

Boa parte delespassa longe darotina de pijamae chinelos. Veja oque fazem algunsaposentados doJudiciário e MPU

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19Revista do Sindjus Out/2008

“Adoro fazer ginástica e ir aoclube. Tenho minhas amigasde final de semana... Antesnão tinha tempo para me

divertir; agora posso retomaras atividades que tanto gosto.

Eu me divirto muito. Tentoesquecer a rotina estressantedo dia-a-dia, que me irritava.

Agora me sinto mais leve.Tenho 78 anos, mas com a

cabeça de 30.”

Maria da Glória Oliveira,aposentada do TJDFT

“Acho que a minhaaposentadoria é uma

maravilha. Tenho tempopara tudo, até para nãofazer nada, se eu quiser.Tenho me dedicado à

minha família e aolazer, mas tambémgosto de colocar a

leitura em dia,especialmente com a

revista do Sindjus.

Francelino Ferreira,aposentado do TJDFT

“Sou um homem quefaz de tudo: praticoexercícios, freqüento

a academia, viajobastante e ainda sou

delegado do Sindicato.Procuro estar sempreatualizado e atuante

nas atividades doSindjus. Na verdade,

encaro isso comoum trabalho.”

Reginaldo Pereira Lima,aposentado do TJDFT

“Estou aposentada há vinteanos. Nesse intervalo realizei

muito, mas meu sonho éajudar outros aposentados.Quero construir um institutopara abrigar aqueles que nãotêm onde morar. Gostaria de

contar com o apoio do Sindicatonesse projeto. Minha vida é bem

agitada: por gostar de ajudaros outros, nem tenho tempode sentir o peso da idade.”

Euri de Castro,aposentada do TJDFT

“Adoro a vida de aposentado.Nunca parei de trabalhar;

sou ativo, adoro exercíciosfísicos e agora tenho mais

tempo para me dedicar a isso.Tenho 64 anos, mas sinto ter20. Não tenho problemas desaúde e acredito que isso se

deve aos esportes, que praticohá muito tempo. Tambémposso me informar melhor

sobre as ações do Sindicato.”

Antônio Costa, aposentado doMPM e delegado do Sindjus

“Sou um aposentado ativo,gosto de ajudar as pessoas.Desenvolvo um trabalho na

igreja há algum tempo;agora que tenho maistempo livre, estou me

dedicando muito mais aomeu projeto de

voluntariado. Ajudo pessoascarentes a construir suascasas. É um sonho que

estou realizando agora.”

Valdir Emerick,aposentado do TRE

“Minha saúde ficou debilitada,por isso não pude aproveitarmuito o tempo livre. Mas nãofiz disso um drama; encarei

com maturidade. Minhaesposa me ajudou muito. Nós

formamos uma bela dupla.Vamos ao médico e depois aoshopping passear, não temospressa. Adoro a vida agora,porque, como aposentado,posso aproveitá-la melhor.”

José Luiz Barros Dias,aposentado do TSE

“Eu me aposentei em1992 e até agora não tivetempo nem para pensarem parar totalmente asminhas atividades. Commais tempo livre, eu me

dedico às atividadesfísicas. Nunca me

desvinculei do Sindicato,porque acho importante

estar ciente das ações emprol da minha categoria.”

Messias Batista Silva,aposentado do TST

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22 Revista do Sindjus Out/2008

ROTEIRO DAS ARTES

Brasília é um museu acéu aberto. Poucas

cidades no mundo têmesse privilégio. Nas ruas,

nos gramados, nasfachadas, no interior e

no exterior dos prédiosestão expostos trabalhos

dos maiores artistasmodernos brasileiros. Sãotantos que, muitas vezes,

estão ao nosso lado e nemnotamos. A cada edição,

esta seção mostrará otrabalho de um artista.

Este mês você vai conhecerMarianne Peretti.

“Marianne Peretti é umaartista que compreendeo sentido da invençãonas artes.” A frase, deOscar Niemeyer, explicao encantamento do ar-quiteto pela obra dessacolaboradora, a quem eleencomendou dezenas devitrais e esculturas para

prédios de Brasília. Pela sua contribuiçãoao panorama das artes visuais na cidade,Marianne recebeu, em 2006, o título decidadã brasiliense honorária.

Filha de pai pernambucano e mãe fran-cesa, ela foi registrada no consulado bra-sileiro, mas nasceu e cresceu em Paris, en-tre artistas e escritores. Estudou desenhoe pintura e fez sua primeira exposição ain-da na França, em 1952. Em seguida, via-jou pela Europa e decidiu morar no Brasil.Em São Paulo, realizou uma série de ex-posições e ganhou o prêmio de melhorcapa na 5ª Bienal de São Paulo, com olivro As Palavras, de Sartre.

Em 1964, após expor no 1º Salão deBrasília, Marianne conheceu seu principalparceiro profissional, o arquiteto Oscar Ni-

Invençõesno concreto

Obras de Peretti dão vida e leveza aos prédios da cidade

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23Revista do Sindjus Out/2008

emeyer. Responsável pelo traçado dos prédi-os da nova capital, Niemeyer encomendou aela enormes vitrais e gigantescos painéis devidro para a Câmara dos Deputados, o Sena-do Federal, o Palácio do Jaburu (residência ofi-cial do vice-presidente da República) e o Me-morial JK, além da escultura em bronze poli-do em forma de pássaro, que enfeita o foyerda Sala Villa Lobos, no Teatro Nacional.

Entretanto, foi após 1980 que Marianne re-alizou seus maiores trabalhos em Brasília: osvitrais do Panteão da Pátria, com 340 metrosquadrados, e da Catedral, com dois mil metros

quadrados. Para o Superior Tribunal de Justiça,criou uma obra monumental: a fachada em con-creto e vidro, com dez metros de altura, que for-ma um conjunto com 840 metros quadrados emvão livre. Na sala do Tribunal Pleno do STJ fica ovitral escultural A Mão de Deus.

Versátil, ao longo dos seus 80 anos de vida(comemorados em janeiro deste ano), Marian-ne fez desenhos, pinturas, ilustrações e capasde livros e revistas, esculturas, vitrais e painéiscom as mais diversas técnicas e materiais. Re-alizou mais de quatro dezenas de exposiçõescoletivas e individuais, no Brasil e no exterior.

Tem esculturas empraças públicas emParis e em Turim,na Itália, além deuma série de obrasem residências,instituições parti-culares e prédiospúblicos em váriascidades brasileiras.

Escultura embronze no TeatroNacional (acima)e a imensa fachadado STJ, em concretoe vidro (abaixo,à esq.): belezasbrasilienses

Detalhe da fachadado Panteão daDemocracia: 340metros quadradosde vitrais

FOTOS: ARTHUR MONTEIRO

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24 Revista do Sindjus Out/2008

HISTÓRIA

Usha Velasco

ervásio Baptista é repórter fotográfico na Agência Brasile no Supremo Tribunal Federal. A dupla jornada exige

dele cerca de 14 horas diárias de expediente. Nesse país ondetodos (bem, quase todos) têm que suar um bocado para ga-nhar a vida, isso não é tão incomum. A não ser por um deta-lhe: ele tem 85 anos de idade.

Miúdo, magrinho, anda para cima e para baixo carregandoseu pesado equipamento. Não demonstra cansaço. “A máquinaé como uma amante, quer sempre mais”, brinca ele. Esse caso

de amor com a fotografia é antigo, mas nãodá sinais de arrefecer. Gervásio começou atrabalhar aos nove anos de idade, num la-boratório fotográfico.

“Meu pai me arrumou esse emprego por-que eu brincava o dia todo de fotografar, pe-gava qualquer caixinha e dizia que era mi-nha câmera”, conta ele. Aos doze anos viroufotógrafo do jornal O Estado da Bahia, emSalvador, onde foi descoberto por Assis Cha-teaubriand e levado para o Rio de Janeiro.

Foi o começo de uma carreira que já dura76 anos e tem rendido muitos e bons fru-tos. Além da coleção de casos que tem paracontar (todos impagáveis), Gervásio tam-bém coleciona História. Com H maiúsculo,

porque armazenou na memória e no papel fotográfico a histó-ria do Brasil e do mundo nas últimas seis décadas.

“A fotografia me deu um canal de conhecimento. Fiz a voltaao mundo umas três vezes”, relembra. Nessas andanças, conhe-ceu Nixon, Fidel Castro, Che Guevara, De Gaulle, a rainha Eliza-beth II, o fotógrafo Cartier Bresson, sua referência máxima, e tan-tas outras pessoas famosas que é difícil lembrar. Ficou amigo devárias delas, como Jacqueline e John Kennedy, que intercederampara que Gervásio fizesse um tratamento de saúde nos EstadosUnidos, e Evita Perón, que lhe deu um salvo-conduto quando elese queixou de que, todas as vezes que desembarcava em Buenos

ocularTestemunha

FENÔMENO

anos de carreira: esta é amarca do fotógrafo GervásioBaptista, que atualmente dá

76

14horas diárias de expediente, em

dois empregos. Ele está com

85anos de idade, e se declara

“completamente apaixonado”pela fotografia

As peripécias do fotógrafoGervásio Baptista, que já rodou o

mundo “umas três vezes”, viue registrou os mais importantes

fatos das últimas décadas

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Aires, acabava na cadeia.Não que ele estranhasse. “Só du-

rante o governo militar, aqui no Brasil,eu fui em cana onze vezes”, lembraGervásio. Sem contar as prisões pré-64; dessas ele perdeu a conta. Jorna-lismo, naquela época, era uma aven-tura – na qual o apaixonado fotógra-fo embarcou sem reservas.

Dono da credencial de imprensa nº001 do Palácio do Planalto, ele rece-beu, este ano, a medalha da Ordem

do Mérito do Rio Branco, em homena-gem ao seu trabalho. Gervásio foto-grafou todos os presidentes brasilei-ros desde Getúlio, “não só em soleni-dades, mas também em situações es-peciais”, explica, porque ficou amigode vários: JK, Jango, Tancredo e Sar-ney. É dele a famosa foto de TancredoNeves no hospital, pouco antes demorrer, em 1985.

“Fiquei muito sentido, muito cho-cado, quando disseram que aquela fo-

tografia era uma armação”, queixa-se:“Eu nunca me prestaria a um papeldesses.” Para Gervásio, o reconheci-mento de seu trabalho é importante,mas melhor que a condecoração do Ita-maraty é o respeito e o carinho dos co-legas – o que ele tem de sobra. Naspáginas seguintes, veja um pouco dahistória do país, nas fotos de Gervásio,e um pouco da história de Gervásio, nacrônica escrita por seu colega, o repór-ter fotográfico André Dusek.

Gervásio, semprebrincando: “A máquinaé como uma amante,quer sempre mais”

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26 Revista do Sindjus Out/2008

André Dusek

A mula estava linda, toda vestida epreparada com os arreios. No chão, nãomenos lindo, com colete de vaqueiro e cha-péu de couro, o poderoso dono dos Diári-os Associados, Assis Chateaubriand. Qua-tro homens o levantaram e o colocaramem cima da mula. Atento, um menino decalças curtas com uma câmara Netel dechapa de vidro 9x12 disparou a foto. Al-guém viu e contou para Chateaubriand,que, nervoso, gritou: “Ei, menino, você fi-cou maluco? Eu venho à Bahia receber aComenda do Vaqueiro e você me fotogra-fa nessa situação! Você é de onde?” Ofe-

gante, o meninorespondeu: “Soudo jornal O Estadoda Bahia, o doutorOdorico Tavares memandou fazer afoto do doutor As-sis recebendo a co-menda.”

Irani, assessorde Chatô, partiupara cima: “Meu fi-lho, venha cá, euquero essa chapa!”

O menino se esquivou: “Essa chapa o se-nhor vai pegar com o Dr. Odorico Tavares.”E foi fotografar a entrega da comenda. Afi-nal ele ainda tinha onze chapas para gas-tar. Durante a solenidade, Chateubriand nãotirava o olho do menino fotografando, e co-mentou em voz alta: “Olha o menino, essemenino é gênio, olha como ele sabe fazer‘bunitinho’, pega ele, pega ele...” O meni-no correu, entrou no carro do jornal e saiuvoando de Feira de Santana.

Já em Salvador, revelaram as chapas econstataram que as fotografias ficaram lin-das. Assis Chateaubriand foi à cidade visi-tar o jornal O Estado da Bahia, que perten-cia aos Diários Associados. Foi logo pergun-tando: “Cadê o menino, o fotógrafo de cal-ças curtas? Odorico Tavares apresentou-oa Chateaubriand: “Este é Gervásio Baptis-ta, esse menino trabalha aqui faz um anoou dois, mas ele tem tino. Aprendeu a reve-lar e a fotografar com o José Brito (princi-

pal fotógrafo do jornal) e faz as fotos deesporte. A página de esporte de domingogeralmente quem faz é ele”. Chateaubri-and falou: “Gostei de você, você vai embo-ra para o Rio de Janeiro, eu vou te levar”.

Chatô continuou dando ordens: “Pro-videncia aí para levar esse menino para oRio. Odorico, providencia para comprarumas calças compridas, esse rapazinhomerece.” No dia seguinte, Odorico mandoucomprar roupas novas. No primeiro dia queGervásio usou calças compridas levou umaqueda, a boca da calça era maior e o feztropeçar. E a foto de Chateaubriand carre-gado pelos quatro homens? “Ficou ótima,mas a que publicaram foi ele recebendo acomenda. Nunca mais soube o fim que de-ram à tal chapa. Eu não imaginava que fos-se virar história”, lamenta hoje Gervásio.

Esse episódio se passou no final da dé-cada de 40. Demorou alguns anos até queum dia Irani, secretário de Chatô, mandouuma passagem de avião para Gervásio irao Rio. Eles queriam o menino, agora comcalças compridas, trabalhando na principalrevista de reportagens da época, O Cruzei-ro. “Eu fiquei num verdadeiro come-dorme,não fazia nada. Ia para a redação todos osdias. Me jogaram num verdadeiro butantã,cheio de cobras: Jean Manzon, Ed Keffel,José Medeiros, Luiz Carlos Barreto (o cine-asta) e Luciano Carneiro”, conta. Os “co-bras” não deixavam nenhuma pauta paraGervásio fazer, mas lá ele aprendeu a tra-balhar com a câmara Rolleiflex, entre mui-tas outras coisas sobre fotografia.

Gervásio ficou por ali, até que um diaencontrou o jornalista Hélio Fernandes(hoje dono da Tribuna da Imprensa), se-cretário de redação da Manchete, que iaser lançada (até então só existia a BlochGráfica, especialista em talões do jogo dobicho). Hélio disse: “Estamos fazendo aManchete. Quanto você ganha no Cruzei-ro?” Gervásio respondeu: “Estão me pa-gando 12 “mérreis”. Hélio atirou: “entãoeu dou 15”. Gervásio perguntou: “E eu voutrabalhar?” Hélio disse: “Vai.” Gervásionão teve dúvidas: “Então é comigo mes-mo.” Largou o Cruzeiro e foi fazer partedo grupo que fundou a revista Manchete.

Quando Getúlio Vargas se matou, em

HISTÓRIA

De calças curtas

“Chateaubriandfalou: ‘Providenciaaí para levar essemenino para o Rio.Providencia paracomprar umascalças compridas,esse rapazinhomerece’.”

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27Revista do Sindjus Out/2008

Bonde puxado por burros, em SantoAmaro da Purificação (BA), na década de40; JK inaugura Brasília, em 1960; opresidente eleito Tancredo Neves, em1985, pouco antes de morrer; e estátua daJustiça na Praça dos Três Poderes

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28 Revista do Sindjus Out/2008

1954, Gervásio foi enviado para cobrir ofuneral em São Borja (RS). Naquela época,não era simples viajar. Ele foi de avião decarreira até Porto Alegre e de ônibus paraSão Borja. Era agosto, um frio de lascar.Na confusão do enterro, Gervásio conhe-ceu o então ministro do Trabalho, Tancre-do Neves. Gervásio estava em cima de umtúmulo, agarrado num anjo, quando Os-valdo Aranha começou a falar, inflamado.Ele fotografava agarrado no anjo quandoTancredo puxou seu dedão e disse: “Ô, ra-paz, você cai daí, tome cuidado!” Gervá-sio respondeu: “Qualquer coisa o senhorme ampara, ministro.” Em 1985, já presi-dente eleito, Tancredo lembrou essa histó-ria numa entrevista coletiva.

Num momento emocionado do discur-so de Osvaldo Aranha, Tancredo botou a

mão no rosto e co-meçou a chorar.Essa foto ficou fa-mosa (veja aolado). Quando ter-minou o sepulta-mento, Gervásio ti-nha que voltar paraPorto Alegre e pe-gar um avião parao Rio. O trajeto le-varia três dias. Eleresolveu ir para oaeroporto de SãoBorja. Chegandolá, viu o C46 daPresidência, oavião que trouxe o

corpo de Getúlio. Gervásio pensou: “Vouentrar e me esconder.” Foi chegando per-to do cabo de polícia, na porta, e disse:“Cabo, tudo bem aí? Está um frio lasca-do...” O cabo perguntou: “Usted vai via-jar?” E Gervásio: “Sim, eu sou da comiti-va. Se eu pudesse entrar nesse avião, olhacomo eu estou, morrendo de frio...” O caborespondeu: “Olha, não chegou ninguémnão, mas você pode entrar.”

Gervásio entrou e se trancou no ba-nheiro. Horas depois, começou a chegar acomitiva. Logo ouviu-se o ronco do motor.O avião decolou com destino ao Rio. De-pois de uns 40 minutos de vôo, alguém foiao banheiro, forçou a porta e viu que es-tava trancada. Ele começou a pensar emcomo sair dali sem que notassem que eraclandestino. Entreabrindo a porta, viu to-

dos os passageiros sentados de costas, maspercebeu que um soldado que servia caféa bordo se aproximava. Fechou a porta denovo, mas sem trancar. De repente, alguémabriu a porta. Era o general Caiado deCastro, ministro chefe da Casa Militar, quedisse: “O que você está fazendo aí? É ofotógrafo... Rapaz, você está querendocausar um desastre no avião!” E Gervá-sio: “Eu sou o lastro, o avião não tem car-ga...” O general retrucou: “Você está pre-so!” Gervásio concordou: “Sim senhor.”

O general mandou que ele sentasse noúltimo banco, e ficou se gabando de ser oherói que prendeu um fotógrafo clandes-tino. Após algum tempo, um sujeito sen-tou ao lado de Gervásio: era Samuel Wei-ner, o dono do jornal Última Hora: “Me dáos filmes que eu livro sua barra.” Gervásiose recusou: “Isso nunca, prefiro ir preso.”Weiner disse: “Mas quando você chegar,a gente toma os filmes do mesmo jeito.”Lá pelas três horas da tarde o avião pou-sou no aeroporto Santos Dumont e foi ta-xiando pela pista. O soldado abriu a portapara ventilar, ainda com o avião em movi-mento. Gervásio pensou: “É agora ou nun-ca.” Pegou a Rolleiflex e jogou dentro dabolsa. Olhou para o flash Mecablitz , des-ses enormes, e resolveu abandoná-lo noavião. Agarrou na bolsa e pimba: deu umpulo, caiu na grama e saiu rolando.

Levantou-se, saiu correndo agarrado àbolsa, e as pessoas ficaram gritando doavião: “Pega! Pega!” Quanto mais grita-vam, mais ele corria. Atravessou o prédiodo aeroporto Santos Dumont, entrou numtáxi e foi para a sede da Manchete. Chegouna redação esbaforido, direto para o labo-ratório. Todos perguntaram: “Já voltou? Nãoviajou, não?” Ele não podia nem falar, poiso coração saía-lhe pela boca. Nisso encon-trou Adolpho Bloch (dono da Manchete) nocorredor: “Eu não mandei você cobrir o en-terro do Getúlio, p*%#!” Ao que ele res-pondeu: “Já voltei, já fiz o enterro, entreino avião da comitiva escondido, vim comoclandestino, o general Caiado de Castro meprendeu, eu pulei do avião, caí na grama,fugi e estou aqui. O senhor quebra meugalho?” Adolpho perguntou: “Cadê os fil-mes?” Gervásio entregou cinco rolos. Adol-pho Bloch gritou: “Pára tudo, edição espe-cial amanhã!” Fizeram uma edição especi-al sobre o sepultamento de Getúlio, antesdas revistas concorrentes e até dos jornais.

HISTÓRIA

Pulou do avião,levantou, agarradoà bolsa com osfilmes, e as pessoasficaram gritando:“Pega! Pega!”Atravessou oaeroporto SantosDumont, entrounum táxi e correupara sede daManchete.

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29Revista do Sindjus Out/2008

Enterro de Getúlio Vargas(esq.): o ministro OswaldoAranha discursa, emocionado;no canto, Tancredo Neves,e no centro, João Goulart.Acima, auto-retrato nocenário de uma antigacadeira em Fernando deNoronha. Abaixo, Gervásioem Saigon; ao lado, militaresdesmontam armadilhas nosubsolo, no Vietnã.

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30 Revista do Sindjus Out/2008

Do alto dos seus 91 anos,

o poeta Manoel de Barrosensina que o ser humanoé incompleto, e que isso não

é defeito; é qualidade.Assim como ele, muitas outraspessoas precisam ser Outras.

E são. Esta coluna publicarámensalmente histórias de genteque concilia o serviço público

com as mais diversasatividades. São atletas, chefesde cozinha, professores,

pintores, mágicos, mecânicos,músicos... A lista não tem fim.

OUTROS EUS

A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não agüento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.

Manoel de Barros

30 Revista do Sindjus Set/2008

Músicapara vencer a rotina

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31Revista do Sindjus Out/2008

upla vida: assim o agente de segu-rança do Foro de Taguatinga, Paulo

Anderson Lerbach, define sua jornada detrabalho. Vocalista do grupo musical Triplo20, ele encara com seriedade e responsa-bilidade os compromissos assumidos pelabanda, que, para ele, é um outro emprego.

Desde cedo Paulo mostrava interessepela música. Aos 16 anos, com quatroamigos e os instrumentos velhos que guar-

davam, formou uma banda. “Tocávamosna garagem mais próxima e éramos odia-dos pelos vizinhos”, brinca.

As influências musicais são inúmeras.Paulo Anderson está sempre se reciclan-do e se atualizando sobre novas bandase novos sons. “Escuto música o dia todo,menos no trabalho. Tenho quase cem gi-gabytes de músicas no meu computador.Escuto desde Beatles até Caetano Velo-

so”, conta ele.A banda acaba de fazer seu primeiro

CD, A vida cotidiana, que chegou da gra-vadora em agosto. O som é uma espéciede rock nacional, ou melhor, “música bra-sileira com guitarra elétrica”, como defi-ne Paulo Anderson. O show de lançamen-to será no próximo dia 24 de outubro, noBlues Pub, em Taguatinga. Segundo Paulo,a divulgação será boca a boca. Os fãs po-derão acessar as músicas pelo site da ban-da (www.triplo20.com.br). “Mesmo quea pessoa não tenha condições de com-prar o CD, terá a possibilidade de obteras músicas, baixando pela internet, nonosso site”, explica.

Paulo Anderson acredita que todos de-vem ter uma espécie de válvula de escape.“Não dá para ficar só no ambiente de tra-balho, isso é estressante. Acho que as pes-soas devem procurar outras atividades paranão cair na rotina”, imagina ele.

Seus colegas de trabalho são fãs doTriplo 20. “Isso ficou claro durante a ela-boração do CD. Estava preocupado com ailustração da capa, quando meu colegaHélio Luz, que é artista plástico, se ofere-ceu para ajudar. Ele fez a arte, achei muitoboa. Fiquei feliz com essa ajuda.”

Paulo conta que decidiu ser agente desegurança do Judiciário para se manter emanter a banda: “Os equipamentos sãocaros, não dá para se sustentar com músi-ca. Conheço muitos músicos que encaramuma dupla jornada de trabalho para con-seguir pagar as contas.” Mas a música temoutra função na vida desse agente de se-gurança: “Quando toco, me sinto mais levee tranqüilo. Isso reflete positivamente nomeu trabalho.”

Paulo concluirá o curso de Filosofia,na Universidade de Brasília, ainda este ano.Ele diz que a curiosidade e a paixão pelaciência surgiram por influência da música.“Eu também sou compositor; para melho-rar meus textos, leio muitos livros e letrasde música. Muitas falam sobre filosofiamesmo, e daí nasceu a vontade de apro-fundar os estudos e compreender melhoressa ciência.”

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ARTHUR MONTEIRO

Grupo Triplo 20: daesquerda da direita, WernerBob Sheldon, Victor Tozetti,Henrique Lerbach eAnderson Lerbach

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32 Revista do Sindjus Out/2008

Constituição Federal de 1988 não re-conhece o cerrado como patrimônio

nacional. Não há nada que indique discri-minação dos autores da Carta com a vege-tação, que é a segunda maior formação ve-getal do Brasil. Mas o aspecto exótico, asárvores retorcidas e a ausência de folhasno período da seca certamente contribuí-ram com o estigma de que não é importan-te preservá-lo. Era uma cultura antiga, queaos poucos começa a ser desmontada.

Há mais de doze anos, organizaçõesnão-governamentais e setores do gover-

MEIO AMBIENTE

no se unem para garantir a preservaçãodo cerrado, que ocupa 24% do territórionacional (cerca de dois milhões de metrosquadrados). Estudos recentes indicam querestam 61,2% desse total, no PlanaltoCentral e no Nordeste.

A pressão para a preservação do cer-rado tem provocado efeitos práticos. Em1995, o deputado Pedro Wilson (PT/GO)apresentou a Proposta de Emenda Cons-titucional nº 115/95, para incluir o cerra-do e a caatinga entre os biomas conside-rados patrimônio nacional. Durante esses

doze anos, a PEC 115/95 ficou praticamen-te parada. Em meados de setembro, o pre-sidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, afir-mou que a PEC do Cerrado, como é cha-mada, está pronta para deliberação do Ple-nário e é considerada uma das priorida-des de votação da Casa até o fim do ano.

A matéria, entretanto, enfrenta resis-tências. Alguns parlamentares da banca-da ruralista são contra. O deputado ValdirColatto (PMDB-SC), por exemplo, temerestrições à agropecuária e defende umestudo mais aprofundado sobre o tema.

Um pedido de

socorro PEC propõe quecerrado sejapatrimônio nacional.Se a devastaçãoatual não forcontida, esse biomapode desapareceraté 2030

Manifestação no Congresso:pela aprovação da PEC 115/95

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No dia 11 de setembro, Dia do Cerrado,integrantes de ONGs de defesa do meioambiente fizeram uma manifestação em fren-te ao prédio do Congresso Nacional paracobrar a aprovação da PEC 115/95. A biólo-ga Renata Nunes, que participou do encon-tro, ressaltou a necessidade de preservaçãodo bioma. “É preciso proteger o cerrado. Avegetação é diferente, mas é muito rica eprecisa ser preservada”, afirmou.

Integrante do Movimento Viva Cerra-do, Paulo Fiúza disse que o ritmo de de-vastação desse bioma é três vezes maiorque o da Amazônia. “Estamos no PlanaltoCentral, e a água que nasce aqui vai abas-tecer a Floresta Amazônica, o rio São Fran-cisco, o Pantanal. Temos um impacto emquase todos os biomas, porque o cerradoé um elo entre eles”, destacou.

O Instituto Brasília Ambiental (Ibram)também organizou um evento para cele-brar o Dia do Cerrado, o Viva O CerradoVivo, nos dias 10, 11 e 12 de setembro, noCentro de Convenções Ulysses Guimarães.O Ibram lançou o material educativo Pro-jeto Multimeios em Educação Ambiental epromoveu a mostra de filmes do FestivalInternacional do Cinema Ambiental (Fica),produzido anualmente pelo governo doestado de Goiás. Também houve a exposi-ção Artistas do Cerrado.

A diretora de Educação Ambiental eDifusão de Tecnologias do Ibram, MariaBeatriz Maury, destacou a importância deconscientizar a população para a preser-vação do bioma. Para isso, foram distribu-

Viva o cerrado vivoídos materiais informativos para professo-res da rede pública de ensino. “As crian-ças já começam a ter consciência da im-portância de preservar o meio ambiente.Também distribuímos cartilhas para alunosdas escolas públicas”, destacou.

Falta legislação - A falta de legisla-ção atrapalha a preservação do cerrado. Oúnico artigo da Constituição que fala so-bre o meio ambiente, o art. 225, diz quetodos têm direito “ao meio ambiente eco-logicamente equilibrado” e que é dever dopoder público e da coletividade defendê-lo e preservá-lo. No entanto, o parágrafo4º do art. 225 estabelece que “a FlorestaAmazônica brasileira, a Mata Atlântica, aSerra do Mar, o Pantanal Mato-Grossensee a Zona Costeira são patrimônio nacio-nal, e sua utilização far-se-á, na forma dalei, dentro de condições que assegurem apreservação do meio ambiente, inclusivequanto ao uso dos recursos naturais”. Ocerrado e a caatinga ficaram de fora.

Um levantamento do Instituto de Es-tudos Socioeconômicos (Inesc) afirma quea produção de soja em Roraima, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Mara-nhão, Goiás, Minas, Bahia e Piauí está de-vastando a flora e a fauna nativas doscerrados e as plantações de agricultoresfamiliares. O bioma do cerrado é um dosque mais sofrem com o desmatamento ile-gal. De acordo com estudos recentes, se oatual ritmo de devastação não for contidoo cerrado poderá desaparecer até 2030.

Flora rica

O cerrado é a segunda maior for-mação vegetal brasileira depois daAmazônia. Sua flora é considerada amais rica entre as savanas do mun-do, com mais de seis mil espécies ca-talogadas. Seis das oito grandes ba-cias hidrográficas brasileiras têm nas-centes no cerrado, entre elas a Ama-zônica e a do rio São Francisco. O cer-rado concentra nada menos que umterço da biodiversidade nacional e5% da flora e da fauna do mundo.(Fonte: Embrapa)

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CIDADANIA

uiz Amorim chegou em Brasíliaem 1973, aos sete anos de ida-

de. Veio de Salvador com a mãe e oscinco irmãos. “Éramos retirantes. Dossete aos doze anos trabalhei em subem-pregos. Fui engraxate, vendedor de pi-colé, essas coisas”, conta. Aos trezeanos começou a trabalhar num açou-gue na 312 norte – do qual, uma déca-da e meia depois, ele se tornaria dono.

Só essa trajetória bem-sucedidabasta para tornar incomum a sua his-tória. Mas isso não é nada. Sua pri-meira providência ao comprar a lojafoi colocar ali uma estante com dezlivros. Assim nasceu o Açougue Cul-tural T-Bone, em 1994. Em pouco tem-po, os dez volumes se transformaramem dez mil. Em 2002 Luiz inauguroua biblioteca comunitária T-Bone, na

712/713 norte, com45 mil livros, em-prestados sem buro-cracia a qualquerpessoa.

Luiz conta que sóaprendeu a ler aosdezesseis anos. O pri-meiro livro “de ver-dade” ele leu aos de-zoito. Aí, não paroumais. Como moravanos fundos do açou-gue e não tinha aon-de ir, à noite ele fe-chava a loja e lia –ou melhor, devorava

– de dez a quinze livros por mês.“O Brasil não é um país que não lê.

É um país onde o livro é caro e ondequase não existem bibliotecas”, quei-xa-se Luiz. Ele montou a sua bibliote-ca, mas não ficou satisfeito. Queria os

livresLivros

Único no mundo, o projeto Parada Cultural colocabibliotecas nos 35 pontos de ônibus da W3 norte

livros ainda mais perto das pessoas.Dessa necessidade nasceu, em junho de2007, um projeto surpreendente: as pa-radas culturais. Os livros migraram paraestantes instaladas nas paradas de ôni-bus da W3 norte. Em um ano, todas as35 paradas ganharam sua biblioteca,com cerca de 600 livros cada.

Qualquer pessoa pode pegar umvolume e levar para casa. Ninguémtoma conta. E os livros não somem;ao contrário, só aparecem. “Mesmosem campanhas de doação, estão sem-pre chegando livros. As pessoas tra-zem para o açougue ou deixam nasparadas de ônibus”, conta Luiz.

Luiz Amorim na porta do seuAçougue Cultural: “A leituratransforma o homem num ser livre.O livro nos põe em contato como que há de melhor no pensamentomundial. É o livro que levao homem ao questionamento.”

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ARTHUR MONTEIRO

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“Adoro ler. Quando tinha tempo,visitava a biblioteca da UnB.Toda semana um ônibus quebra,e tenho que esperar pelo rebo-que. Desde que as bibliotecasapareceram, passo o meu tempocom boas leituras. Um dia fiqueidas 19h às 24h lendo em umaparada, enquanto esperava ummecânico. Adorei a iniciativa doT-Bone, mas acho que o projetodeve ser ampliado. Sinto falta doslivros na L2 e no Eixinho.”

Kleber Bezerra Dantas,motorista

ARTHUR MONTEIRO

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CIDADANIA

Para a assessora de imprensa daONG T-Bone, Francisca Azevedo, a Pa-rada Cultural é “um projeto já consoli-dado, em termos de intervenção urba-na. Todos os dias emprestamos cercade dois mil livros.” O cálculo é de umformando em Biblioteconomia da UnB,João Henrick Macêdo, que em julho fezuma monografia sobre o assunto. “Eleentrevistou os usuários e concluiu que88% devolvem os livros; 8% devolvemeventualmente e 4% não devolvem”,diz Francisca. “Um dado curioso é os4% que não devolvem emprestam oslivros para outras pessoas lerem, desem-penhando um papel de multiplicado-res e levando o projeto além dos seus

limites”, afirma ela.A experiência de

Luiz Amorim confir-ma essa idéia. Ele

faz questão de limpar e arrumar pesso-almente as estantes nas paradas de ôni-bus, todas as segundas, quartas e sex-tas. “Há pouco um rapaz encontrou umlivro que procurava há muito tempo, enão devolveu. Ele doou trinta livros, nãodevolveu aquele, mas fez questão devir me contar, para não ficar com a cons-ciência pesada”, diverte-se Luiz.

A presença dos livros na rua estáensinando ao brasiliense, na prática,o que é um bem público. “Essas bibli-otecas são um elemento de discussãoda cidadania”, acredita Luiz. Uma dis-cussão que imediatamente rendeu fru-tos: não há roubo nem vandalismo; háquem vá às paradas só para arrumaras estantes, espontaneamente; e, se-gundo contam os usuários, as pesso-as até pararam de urinar nas paradas,em respeito à presença dos livros.

Com a simplicidade característicadas idéias geniais e com o carinhosoacolhimento dos usuários, as paradasculturais emocionaram intelectuais, es-critores, educadores. Saíram nos prin-cipais jornais, revistas e TVs do país. Arepercussão pode ser conferida no siteda ONG (www.t-bone.org.br) e noblog (www.t-bone.org.br/blog).

Luiz Amorim, entretanto, rejeita oslouros: “Eu não inventei nada. Não in-ventei o livro, não inventei as paradasde ônibus. Só fui lá e fiz. Todo mundopode ser criativo, é só colocar as idéiasem prática.” Para ele, todo conhecimen-to tem que ser transformado em reali-dade: “Goethe disse que a missão dohomem é combater a mediocridade nodia-a-dia, e é nisso que eu acredito. Amaior crítica que você pode oferecer aoEstado é fazer, não é falar.”

Sem roubo, sem vandalismo

Aula de cidadania:livros na rua ensinam

na prática o que éum bem público

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Voluntários

A ONG T-Bone dedica-se principalmente aoincentivo da leitura,

mas também à inclusãosocial, arte e educaçãoambiental. Quem quiserser voluntário pode se

inscrever no sitewww.t-bone.org.br

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“Procurei um livro deportuguês para estudarpara uma prova eencontrei aqui. Fiqueimuito feliz. Acho esseprojeto maravilhoso,não parei mais de pegarlivros emprestados.”

Renato José da Silva,15 anos, vendedor

“Gosto de escreverpoemas e redações. Seique preciso ler bastantee me enriquecer cominformações. Essasbibliotecas me ajudammuito. Já peguei seislivros emprestadose não pretendo parartão cedo.”

Josué Martins,atendente detelemarketing

FOTOS: ARTHUR MONTEIRO

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CIDADANIA

Mas nem só de livros (ou de carne)vive o Açougue Cultural T-Bone. Transfor-mado em ONG, para abarcar as crescen-tes idéias e colaborações, o projeto abreespaço para diferentes faces da culturabrasiliense e brasileira.

Em 2008 comemoram-se os dez anosdo projeto Noite Cultural T-Bone. Desde1998, mais de 150 mil pessoas já passa-ram pela entrequadra norte 312/13. Os ar-tistas participantes foram mais de quinhen-tos; nomes como Moraes Moreira, ChicoCésar, Guilherme Arantes, Célia Porto, TomZé, João Donato, Flávio Venturine, GeraldoAzevedo, Jorge Mautner, Nelson Jacobina,

Dez anos de noites culturaisFernando e Osmair, Geraldo Azevedo, Bel-chior, Erasmo Carlos, Alceu Valença.

A Noite Cultural T-Bone é uma refe-rência em Brasília; faz, inclusive, parte docalendário cultural oficial do DF. Duranteo evento, que acontece duas vezes porano, a rua é fechada aos carros e abertaa um público de aproximadamente oitomil pessoas. “É uma noite única, integrapessoas de todas as classes sociais, de to-das as idades. Sempre é muito tranqüilo,muito sossegado, uma verdadeira celebra-ção da arte”, orgulha-se Luiz.

Sete vezes por ano o T-Bone promoveo Encontro com os Escritores, um bate-papo para troca de idéias entre um escri-tor de reconhecimento nacional e outro dacidade. O encontro, que está na 19ª edi-ção, reúne um público de aproximadamen-te 200 pessoas. Já passaram por lá nomescomo Ziraldo, Marina Colassanti, Donal-do Schiller, Dad Squarisi, Nicolas Behr, Afon-so Romano de Sant’Anna, Moacir Scliar “eescritores fantásticos de Brasília, que cola-boram com o nosso projeto”, conta Luiz.

Arte e inclusão

Aos sábados, a ONGT-Bone promove os proje-tos Brincando com Arte eSede de Leitura (esteúltimo faz parte do Pra-zer em Ler, do InstitutoC&A). As iniciativas aten-dem sessenta jovens desete a catorze anos, divi-didos em três turmas,com um encontro sema-nal cada, na CidadeEstrutural. O objetivo éaproximar as crianças daliteratura. "É um trabalhode inclusão social pormeio da arte e da educa-ção ambiental, voltadopara crianças e adoles-centes", explica a asses-sora de imprensaFrancisca Azevedo.

Alceu Valença: rua lotadana noite de 25 de setembro,

mesmo debaixo de chuva

ARTHUR MONTEIRO

ParceriaEm agosto o Sindjus tornou-se parceiro da ONG T-

Bone, no jornal Parada Cultural, distribuído nospontos de ônibus. O Sindicato contribui com dicassobre os direitos do cidadão. “A informação é a

melhor arma na luta por nossos direitos”, afirma ocoordenador geral do Sindicato, Roberto Policarpo.

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